Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SEMIOLOGIA MÉDICA Resumo parte 1 e 3 do Livro Semiologia Médica - Porto ELIARA ORLANDO FISIOTERAPEUTA E ESTUDANTE DE MEDICINA 1. SEMIOLOGIA E O ENSINO, APRENDIZAGEM DA MEDICINA 2. RELAÇÃO MÉDICO PACIENTE SEMIOLOGIA E O ENSINO, APRENDIZAGEM DA MEDICINA - parte 1 pág 41 1. Princípios e bases da prática médica ● Hipócrates representa a sistematização do método clínico a partir da observação clínica; a medicina é o desenvolvimento de um método diagnóstico e prognóstico de situações ligadas ao processo saúde doença para que seja possível fazer intervenções; ○ não se aceita fragmentação do indivíduo, ele adoece como um todo ● OMS → Saúde é o estado do completo bem estar físico, mental e social e não a mera ausência de enfermidade; ○ considerar apenas a ausência de doenças tende a organizar o sistema de saúde com objetivos restritos ao tratamento de doenças; ○ quando é definida como bem estar amplia a atuação médica , estabelecendo novos compromissos com a saúde ○ a biologia básica é essencial m as não suficiente para que o adoecimento seja entendido ● determinantes de saúde Marc Lalonde → informe Lalonde 1974 ○ estudou os determinantes para a predominância de doenças crônico degenerativas: biologia humana, serviços de saúde, meio ambiente e estilo de vida ■ porém constatou-se que problemas relacionados ao meio ambiente e estilo de vida tinham maior impacto do que os primeiros no processo de adoecimento; ○ após isso o Canadá e outros países como o Brasil passaram a priorizar promoção da saúde e prevenção de doenças ● determinantes sociais do processo saúde doença ○ 1986 - 8 conferencia conferencia nacional de saúde, que contou com a participação popular: relatório final apresentou conceito de saúde ampliado que estabelece que determinantes sociais se relacionam com o nível de saúde da população, denunciando que diferenças no bem estar entre pessoas estão ligadas às desigualdades dos níveis de vida; ■ saúde é resultante de condições de: alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso, posse da terra e acesso à saúde; ○ o médico deve ter uma visão ampliada do conceito de saúde; ○ desmedicalização: valer-se de outros recursos terapêuticos como atividade física, alimentação educação em saúde, atendimento interdisciplinar; ● Modelo Leavell e Clark de história natural da doença ○ conhecer a história natural das doenças é importante para intervir cada vez mais cedo, rompendo com a dicotomia entre medicina preventiva e curativa ○ Período pré patogênico: equilíbrio instável entre o ser suscetível ao adoecimento, o meio ambiente e os agentes agressores; interação de agentes, fatores genéticos e fatores ambientais que produzem estímulo a doença; ■ PREVENÇÃO PRIMÁRIA: o médico deve atuar preferencialmente nessa fase com promoção de saúde e prevenção de doenças ○ Período patogênico: a capacidade de agressão dos agentes nocivos pode superar a capacidade de defesa, podendo acontecer o desequilíbrio e início de alterações teciduais e evoluindo para doença; ■ PREVENÇÃO SECUNDÁRIA: diagnóstico precoce, tratamento adequado e limitação da invalidez; ■ PREVENÇÃO TERCIÁRIA: se dá no final do processo com reabilitação ■ PREVENÇÃO QUATERNÁRIA: identificação precoce de efeitos adversos, principalmente os que põe em risco a vida do paciente; princípio hipocrático de não maleficência; ● Etica e bioetica ○ ética é estudo do comportamento moral, conduta do homem ○ Beneficência: produzir benfeitorias, equilíbrio risco-benefício ○ Não maleficência: médico tem obrigação de evitar danos ao paciente; ○ Autonomia: paciente tem o direito de tomar decisões em tudo que se refere ao processo saúde doença; ○ Justiça: distribuição justa, equitativa, e universal de bens e benefícios no que se refere à saúde; ■ igualdade: direito de acesso igual para todos: ■ diferença: existindo desigualdade social e econômica, é necessário que se garanta a maior vantagem possível aos menos favorecidos; ● Método clínico: anamnese continua sendo insubstituível para: ○ formular hipóteses diagnósticas ○ estabelecer uma boa relação médico paciente ○ tomar decisões ● Qualidade humanas para o ato médico: componente científico, ética, empatia (compaixão e compreensão do sofrimento) e relação médico paciente; ● SUS regulamentado em 1990 pela lei 8080 e 8142; ○ PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS: ■ Universalidade: deve atender a todos; ■ Equidade: tratar cada um conforme as suas necessidades; ■ Integralidade: compreender o ser humano nas suas necessidade afetivas, emocionais, mentais, físicas e sociais; ações que contemplem promoção da saúde, prevenção de doenças, recuperação da saúde e reabilitação (atenção básica, secundária e terciária); ○ DIRETRIZES ORGANIZACIONAIS: ■ Hierarquização: níveis de assistência que devem funcionar de modo articulado; ● atenção básica deve ter resolutividade de 80%; garantindo a formação de vínculo, garantindo a continuidade da atenção ■ Descentralização: permite melhor gestão, com planejamento local ■ Participação popular: permite que tenha controle da sociedade sobre o sistema ■ Complementaridade: setor privado participa do SUS 2. Diagnostico e prognostico ● fatores que contribuem para o diagnóstico: ○ conhecimento médico ○ obtenção de dados da história clínica, exame físico, linguagem corporal, humor, sinais de sofrimento, estado geral; ■ faça sempre a sua avaliação clínica, evite usar a avaliação de outros profissionais para agilizar seu trabalho; ○ registros organizados em prontuário médico ○ tempo necessário para obtenção de um excelente prontuário, média 30 a 50 minutos ○ capacidade de integrar dados, raciocínio clínico ○ lista dos achados em ordem de importância e com linguagem semiótica ○ uso racional e criterioso de exames complementares ○ diagnóstico e revisão do diagnóstico ● SINTOMA → sensação subjetiva relatada pelo paciente; dor, náusea, dormência, insônia, má digestão; ● SINAL → dado objetivo observado pelo examinador através de exame clínico ou complementar; tosse, edema, hematúria, condensação pulmonar no raio-x; ● SÍNDROME → conjunto de sinais e sintomas associados que podem ter diferentes causas; ○ síndrome febril: hipertermia, taquicardia, taquisfigmia, sudorese, tremores, mialgias, artralgias → pode estar relacionada com infecção bacteriana, viral, fúngica, neoplasias malignas; ○ síndrome diarreica, síndrome dolorosa, síndrome consumptiva; ● ENTIDADE NOSOLÓGICA → doença bem definida ● Raciocínio diagnóstico: raciocínio clínico mais baseado em probabilidade do que em certezas, pensamento crítico, reconhecimento de padrões ● caminhos para definição diagnóstica ○ reconhecimento de padrões: olho clínico, o'que já foi visto, fruto do conhecimento, experiência, vivência e frequência ○ fluxograma: definido por consensos, protocolos, guidelines ○ raciocínio fisiopatológico: baseado na história da evolução temporal do quadro clínico ○ limitar o número de hipóteses diagnósticas a serem testadas ■ se tiver várias hipóteses inicie pelas mais frequentes e prevalentes TIPOS DE DIAGNÓSTICOS 1. Diagnóstico Sindrômico: conjunto de sinais e sintomas semelhantes que reduz o número de possibilidades e orienta as investigações que devem ser realizadas; 2. Diagnostico Anatomico: 3. Diagnóstico Funcional Ou Fisiopatológico: 4. Diagnóstico Etiológico: 5. Diagnóstico Histopatológico: 6. Diagnóstico Anatomopatológico: 7. Diagnostico Radiologico, Tomografico, Ultrasonografico: 8. Diagnóstico Diferencial: Comparação De Enfermidades Com Quadro Clínico Semelhante 9. Diagnóstico Principal E Comorbidades (Diagnóstico Secundário) ● fatores que dificultam o diagnóstico: ○ estágio inicial, sintomas inespecíficos ○ manifestações atípicas ○ doença psiquiátrica ○ doença mascarada ○ desconhecimento da doença ○ multimorbidades ○ vícios de raciocínio clínico ● PROGNÓSTICO: prevê a evolução e as possíveis consequências a vida, a invalidez e a cura; é fruto de um exercício deconhecimento, vivências, experiências e singularidades de cada indivíduo; 3. Semiologia baseada em evidências e interpretação dos exames complementares ● ACURÁCIA: capacidade de acerto de um teste, positivo quando existe a doença e negativo quando não existe; para determinar a acurácia de um teste é preciso compará-lo com o procedimento diagnóstico considerado padrão ouro; ○ a escolha do exame ao se dá apenas pela sua precisa, mas também pelo custo financeiro, custo-benefício e custo-efetividade; ○ ex. um paciente que chega com dor torácica na emergência inicia-se o rastreio pelo ECG e não pela angiocoronariografia; ● SENSIBILIDADE: é a proporção de testes positivos quando há a doença, capacidade de detectá-la quando ela está presente ○ testes com elevada sensibilidade quando negativos são úteis para afastar as doenças ○ ex VDRL (alta sensibilidade) para SÍFILIS quando positivo é confirmado pelo FTA-Abs (alta especificidade) ● ESPECIFICIDADE: é a proporção de testes negativos na ausência da doença, capacidade do teste confirma-la ○ testes com elevada especificidade quando positivos são úteis para confirmar a doença RELAÇÃO MÉDICO PACIENTE - parte 2 pág 68 Relação médico paciente: 1. Médico ativo - paciente passivo: característico da medicina de urgência e emergência; o paciente aceita passivamente os cuidados do médico, quanto mais ativo e seguro o médico, mais seguro e tranquilo ficará o paciente; 2. Médico direciona - paciente colabora: característico do regime hospitalar; 3. Médico age - paciente participa ativamente: profissional define caminhos e procedimento em conjunto com o paciente, o paciente assume a responsabilidade no processo estabelecem uma aliança terapêutica Principais fenômenos psicodinâmicos da relação médico paciente: 1. Transferência: são sentimentos inconscientes vividos no âmbito de seus relacionamentos primários com os pais, irmãos e outros membros da família; é nele que o paciente se ampara para aceitar procedimentos diagnósticos e terapêuticos, mesmo quando provocam incômodos; a. se o médico consegue propiciar a oportunidade de se apoiar emocionalmente nele, é imediata a transferência positiva; b. porém se o paciente reviver fatos desagradáveis de relações anteriores acontece então a transferência negativa o'que vai resultar na resistência; 2. Resistência: qualquer mecanismo psicológico inconsciente que comprometa ou atrapalhe a relação médico paciente; problemas de comportamento do médico, na apresentação, pressa, indiferença, uso de palavras difíceis, ou seu jeito de ser que lembra outra pessoa; o profissional deve identificar e neutralizar essas manifestações; a. ex esquecer horário, adiar, recusar fazer exames, uso irregular ou abandono do tratamento, não seguir regimes alimentar; 3. Contratransferência a. passagem de aspectos afetivos do médico para o paciente; sentimentos já vividos em relação anteriores com seus pais, filhos, cônjuges ou outras pessoas da família; é a própria transferência do médico para o paciente; b. é útil e importante para o tratamento de pacientes com doenças crônicas e incuráveis; c. quando é negativo o médico normalmente rotula o paciente de chato, irritante, enjoado; O MÉDICO ➔ A parte mais importante do exercício profissional do médico é o exame clínico; baseia-se na essência e no encontro com o paciente; ➔ na primeira consulta, uma palavra ou um gesto inadequado pode deteriorar a relação médico-paciente; compete ao profissional direcionar o encontro a fim de torná-lo o menos angustiante possível; ➔ não deve guardar para si seus preconceitos, sua posição política-filosofia, religião, para que nada interfira no seu julgamento clínico; ➔ quem tem a doença é o paciente, e suas queixas devem sempre ser respeitadas e valorizadas; ➔ médico deve assumir o papel de cuidador: vestimenta adequada, higiene, vocabulário, atitudes firmes, capacidade de compreensão e possibilidade de orientação; ➔ IDEAL: tem uma personalidade amadurecida, domina mecanismos psicológicos envolvidos na relação médico-paciente, dispõe de conhecimentos adequados da ciência médica e sabe aplicá-los dentro de uma visão humanística; O PACIENTE ★ deve-se ter empatia e compaixão pois se trata de um ser humano com identidade, história e personalidade individual; ★ o doente busca efetivar uma relação com o médico semelhante a relação mãe-filho em suas funções mais primitivas; ★ Padrões de comportamento dos pacientes: ○ Paciente ansioso: inquietude, voz embargada, mãos frias, suadas, taquicardia, dispneia, boa seca; esfregar as mãos, tremer, bocejar repetidamente, fumar um cigarro seguido do outro; ■ além de reconhecer o médico deve estar preparado para lidar com a situação; saber escutar é mais importante do que saber perguntar; ○ Paciente deprimido: humor triste, tende a isolar-se, permanece calado, descuida, irritado, entediado, apático, face exprimindo tristeza, choro fácil e imotivado; redução capacidade de trabalho, dificuldades sexuais, perda da vontade de viver (ideação suicida); ■ não há problemas no paciente chorar, muitas vezes é para aliviar tensões; ■ melhor a fazer é deixar chorar sem indagações e sem querer consolá-lo com palavras vazias; pequenos gestos como um leve toque na mão, palavras de compreensão ou apenas um silêncio respeitoso podem ajudar o paciente a sair da situação; oferecer um lenço para enxugar as lágrimas ■ ao atender é necessário avaliar o tipo de depressão e sua gravidade por conta do risco de suicidio; pode ser uma das fases do transtorno bipolar, causa ou consequência do uso ou dependência de drogas lícitas ou ilícitas, associação a outras doenças como HAS, CA mama, DM2; ○ Paciente Hostil: pode ser percebida à primeira vista ou pode ser velada, insinuação mal disfarçadas; ■ pacientes com doenças incuráveis, estigmatizantes, operações malsucedidas, complicações terapêuticas, decisões errôneas, etilismo crônico, uso drogas ilícitas, pacientes levados ao médico contra a vontade (idosos e adolescentes), estudantes; ○ Paciente sugestionável: tem excessivo medo de adoecer, vive procurando médicos e fazendo pesquisa em sites relacionados à saúde; quando vê uma campanha sobre sintomas de uma doença já começa a sentir; ○ Paciente Hipocondríaco: Paciente que nao tem nada mas está sempre se queixando de diferentes sintomas; muda com frequência de médico e não acredita nos diagnósticos ■ nao adianta contradizer, é preciso ouvi-lo com paciência e compreensão e expressar opiniões claras e seguras para aliviar a ansiedade; é preciso reconhecer que existe um transtorno emocional que deve ser investigado; ○ Paciente Euforico: exaltação do humor, fala e movimenta-se demasiadamente, sente-se forte e saudável, fica fazendo referência às suas qualidades, tem pensamento rápido e muda de assunto inesperadamente (fuga de ideias); ■ pode ter comportamento inadequado ○ Paciente inibido: não encara o médico, senta-se na beira da cadeira e fala baixo; nao esta a vontade naquele lugar e naquele momento; ○ Paciente psicótico: vive um mundo fora da realidade, alucinações, delírios, pensamentos desorganizados, posição de difícil acesso → esquizofrenia! ■ Percepção delirante, alucinação auditiva: vozes que comentam ou comandam as ações do paciente; ■ sonorização do pensamento ou difusão do pensamento: sensação de que outras pessoas podem ouvir seus pensamentos ■ roubo de pensamentos e vivência de influências: sensação de que um ser externo está atuando sobre o corpo do paciente ○ Paciente surdo: não fala e nao escuta; médico-paciente que não sabe libras; a família faz o papel e intérprete; ○ Pacientes especiais: inteligência reduzida ou vítimas de alienação, péssimas condições socioeconômicas; usar linguagem simples ao nível de compreensão do paciente; ou pacientes com altas habilidades intelectuais que podem dificultar a relação médico paciente, os médicos ficam intimidados; ○ Paciente em estado grave: não deseja ser perturbado, exame físico apenas o necessárioe de forma objetiva; perguntas simples, diretas, objetivas, capacidade de colaboração diminuída; paciente fica ansioso e demonstra que quer o médico ao seu lado (pelo olhar, ou segurando a mão quando se aproxima); ○ Paciente fora das possibilidades terapêuticas: é aquele que sofre de uma doença incurável em fase avançada; não confundir paciente em estado grave com paciente terminal; por mais grave que o paciente esteja, se tem possibilidade de reversão os mecanismos psicodinâmicos são diferentes; ■ Fases de Kubler-Ross: 5 fases que os pacientes terminais passam ao terem noção que vão caminhar para a morte: 1. NEGAÇÃO: o paciente usa todos os meios para nao saber oque esta acontecendo com ele; procura outros médicos ou refaz exames; família esconde do paciente informações; médico da falsa ideia otimista do seu estado; a. nessa fase é conveniente calar-se e deixa-lo vivenciar a frustração, falando apenas o essencial e respondendo de forma serena e clara; 2. RAIVA: começa aceitar a realidade como concreta; passa a agredir familiares e profissionais; se revoltam contra deus; a. dificuldade médico paciente grau máximo; médico pode ser alvo de palavras de desespero e raiva; 3. NEGOCIAÇÃO: procura solução para o seu problema; promete mudar de vida, se reconciliar, busca Deus; 4. DEPRESSÃO: o paciente questiona toda sua vida, valores, aspirações, desejos, ambições, sonhos; manifesta a vontade de ficar só em silêncio; tem sentimento de grande perda 5. ACEITAÇÃO: perceber que a realidade não é desistir da luta ou sentir-se derrotado; é plena consciência de um fato; ● Criança e adolescentes: implica na relação com toda a família o'que torna a relação complexa;crianças normalmente têm medo dos médicos e aparelhos, pois temem o desconhecido; conquistar a confiança da criança é mais do que um ato profissional, é um ato de amor; ○ peça documentação do acompanhante, veja como ela se comporta com o acompanhante, se demonstra medo, choro, aparência assustada; veja se tem marcas de violência; ● Idosos: precisa sentir desde o primeiro momento que está recebendo atenção e sendo respeitado; costuma ter certa amargura, dose de pessimismo diante das coisas da vida, é indiferente e arredio; compreendê-lo aceitando suas manias com paciência e delicadeza; ○ alguns veem suas doenças como filhos rebeldes
Compartilhar