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1 
 
 
FUNDAMENTOS DE INVESTIGAÇÃO E 
CRIMINALÍSTICA 
CONHECENDO A DISCIPLINA 
Caro aluno, você tem nas mãos um manual introdutório que tem como finalidade abordar 
os fundamentos iniciais da criminalística para que você trilhe seus primeiros passos no 
conhecimento da temática. 
A criminalística, conforme a literatura especializada (BITTAR, 2020) pode ser 
conceituada como uma disciplina autônoma (uma vez que tem princípios e métodos 
próprios) que se vale, porém, dos aportes de múltiplas ciências, tais como a química, a 
física, a biologia, a medicina e a toxicologia para reconhecer e interpretar os indícios 
materiais extrínsecos do delito ou identificar o seu autor. 
Assim, o conhecimento dos fundamentos básicos da criminalística é essencial não só ao 
perito criminal (profissional que exerce esta disciplina por excelência), mas também ao 
profissional do direito que atua perante a justiça criminal, seja ele advogado, delegado de 
polícia, promotor de justiça, defensor público ou juiz de direito, tanto para conhecer o 
substrato teórico necessário para questionar erros evidentes em laudos que sejam feitos 
em desfavor do seu cliente, no contexto dos advogados, quanto para perseguir, de forma 
científica, a identificação da autoria e da materialidade das infrações como fazem 
profissionais encarregados da persecução penal. 
Com este objetivo, apresentaremos, em quatro unidades, os fundamentos básicos da 
criminalística. A primeira unidade apresentará um resumo do direito penal com os 
fundamentos da teoria do crime e comparação dos tipos penais mais importantes para a 
atividade da criminalística. A segunda analisará a lei processual penal, abarcando os 
princípios processuais, as prisões e a teoria geral da prova. A terceira unidade entrará na 
criminalística de fato, com o tema balística forense, armas de fogo e exames periciais 
sobre armas e munições. A quarta unidade analisará a medicina legal nos temas 
traumatologia, toxicologia forense e exames de corpo de delito. 
O estudo atento, com resolução de todas as questões, lhe dará os fundamentos básicos e 
os caminhos necessários para que você desenvolva o interesse na matéria e possa entrar 
em contato com os grandes autores da área. 
Bons estudos! 
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2 
 
UNIDADE I, SESSÃO 1 
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL 
 
Fonte: Shutterstock. 
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CONVITE AO ESTUDO 
O conhecimento dos fundamentos básicos do direito penal é essencial ao profissional da 
criminalística. Não só é necessário conhecer as elementares dos tipos penais mais icônicos 
para a perícia criminal, como também é preciso ter o conhecimento dos substratos que 
compõem o conceito analítico de crime, bem como os princípios penais que limitam e 
condicionam o correto exercício do poder punitivo. Este será o objetivo desta unidade, 
que começará apresentando os conceitos gerais do direito penal e desaguará na análise 
das mais importantes normas incriminadoras para a perícia criminal. 
Ao longo da unidade, realizaremos, na primeira seção, um voo panorâmico pelos mais 
importantes institutos do direito penal brasileiro. Estudaremos os conceitos de crime ao 
longo da história, normas, regras e princípios que limitam e norteiam o poder punitivo do 
Estado, bem como as fontes do direito penal. 
Na segunda seção, mergulharemos especificamente no conceito analítico de crime, isto é, 
no estudo do fato típico, da ilicitude e da culpabilidade, uma vez que uma firme 
compreensão destes temas é absolutamente essencial para qualquer profissional que opera 
direta e indiretamente no sistema de justiça criminal, seja como perito, delegado de 
polícia, promotor de justiça, juiz, defensor ou advogado. 
3 
 
Na terceira e última seção da unidade, analisaremos o conteúdo jurídico dos crimes em 
espécie mais relevantes para o profissional da criminalística. Estudaremos o homicídio e 
suas qualificadoras (principalmente o feminicídio), os mais importantes crimes contra o 
patrimônio (furto e roubo) e, finalmente, veremos alguns tipos penais previstos na 
legislação extravagante, tais como posse e porte ilegal de armas e embriaguez ao volante. 
Ao final, teremos um conhecimento geral de direito penal material que é necessário como 
base para o conhecimento técnico-científico que perfaz o núcleo central deste material. 
Esperamos que você goste da caminhada e aproveite os conhecimentos expostos. 
PRATICAR PARA APRENDER 
Prezado aluno, estudaremos, nesta seção, os fundamentos do direito penal que são 
pressupostos necessários para o estudo da criminalística, tendo em vista que, conforme 
exposto na introdução da unidade, o perito criminal precisa conhecer a estrutura do crime 
cujas bases empíricas investigará por meio do método científico. Por isso, estudaremos 
aqui os fundamentos básicos do direito penal, o conceito de crime, seus princípios, regras 
e fontes. 
Imagine que você seja tenha sido recentemente aprovado no concurso para perito criminal 
da polícia civil de seu Estado e acaba de participar da sua primeira reprodução simulada 
dos fatos para que o delegado de polícia encarregado possa tipificar corretamente a 
conduta em um delito que aparentemente é de homicídio doloso. 
Na reprodução, todas as testemunhas afirmaram que o agente, Lúcio, foi abordado 
violentamente pela vítima, Antônio, que, anunciando um crime de roubo, apontou uma 
arma de fogo para Lúcio. Após uma luta corporal, Lúcio desarmou Antônio e disparou 
contra ele enquanto este tentava recuperar sua arma. Neste momento, testemunhas se 
evadiram do local, mas Lúcio afirmou que Antônio permaneceu de pé e continuou 
tentando recuperar sua arma, o que forçou Lúcio a atirar uma segunda vez na cabeça de 
Antônio. 
Contudo, ao finalizar o exame de balística, você concluiu que o segundo disparo não foi 
feito quando a vítima estava de pé. O projétil penetrou o crânio do ofendido em um ângulo 
de 45º, quando ele estava deitado, denotando uma execução. 
Assim, você começou a concatenar seus conhecimentos de direito penal para deduzir a 
correta capitulação jurídica do crime. 
Responda: qual dos substratos do conceito analítico de crime está presente no caso 
narrado? Houve legítima defesa? 
Ao final, você verá o quão é fascinante o mundo da criminalística. Ao trabalho! 
CONCEITO-CHAVE 
Caro aluno, nesta seção desenvolveremos um tema essencial à compreensão dos 
fundamentos de criminalística. Apesar do fato de que a criminalística é uma disciplina a 
partir da qual se aplica o método científico para desvendar a materialidade e autoria das 
infrações penais, é importante reconhecer que o conceito de crime é, antes de tudo, 
jurídico. É o estudo do direito que, por meio da dogmática (estruturação sistêmica dos 
institutos presentes na lei) nos traz a definição do objeto daquilo que será investigado pelo 
perito por meio dos instrumentos científicos. Assim, é fundamental que tanto o 
profissional do Direito quanto o investigador da polícia judiciária tenham o conhecimento 
4 
 
de quais são os elementos que compõem o conceito de crime. 
Tendo isso em mente, é relevante ressaltar que a doutrina penal nem sempre foi pacífica 
ao conceituar juridicamente o crime, por isso é possível destacar pelo menos 3 concepções 
básicas ao longo dos últimos dois séculos: o conceito formal, material e analítico do 
delito. 
Para o conceito formal de delito, o crime pode ser definido como a conduta humana 
formalmente proibida pela lei penal, isto é, trata-se do comportamento humano ao qual a 
lei comina sanções penais. Assim, o conceito formal se limita a definir o delito com base 
na previsão legal, focando, assim, em suas consequências jurídicas. Esta definição tem a 
capacidade de orientar os órgãos encarregados da persecução penal a identificar, dentre a 
imensa pluralidade de infrações previstas no ordenamento jurídico, quais delas são 
infraçõespenais. 
Já o conceito material de crime supera o formalismo para se concentrar na essência do 
comportamento. Assim, em sua definição material, o crime é a conduta que ofende ou 
que oferece perigo de ofensa aos bens jurídicos mais importantes para o desenvolvimento 
da vida em sociedade. É um conceito importante para limitar a atividade do legislador 
que deve criminalizar apenas atividades potencialmente lesivas aos bens jurídicos de 
terceiros. 
Porém, é relevante reconhecer que os dois conceitos supracitados são insuficientes, pois 
não concedem ao profissional do direito os atributos necessários para dar previsibilidade 
às decisões judiciais e afastar a existência da infração penal quando ausente um de seus 
elementos. 
Finalmente, o conceito analítico ou dogmático de crime é o mais aceito dentre os juristas. 
Criado no final do século XIX pelo doutrinador alemão Von Liszt e aprimorado durante 
todo o século XX, o conceito analítico define o delito a partir de sua decomposição em 
três substratos: o fato típico, a antijuridicidade (ou ilicitude) e a culpabilidade (LISZT, 
1959 apud BUSATO, 2018). Três substratos analisados em sucessiva ordem para que o 
operador do direito possa conhecer o principal objeto do direito penal e para que as 
decisões judiciais sejam mais técnicas e previsíveis. 
Resumidamente, podemos dizer que o fato típico é composto pela conduta, pelo resultado, 
pelo nexo de causalidade e pela tipicidade formal e material. 
A ilicitude, por sua vez, pode ser definida como a contrariedade entre o fato típico o 
ordenamento jurídico. Contrariedade esta que está relativamente presumida pela 
tipicidade, mas que pode ser afastada pela presença das causas de justificação: estado de 
necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever legal e exercício regular do 
direito. 
Por fim, a culpabilidade é definida por ser um juízo de reprovação pessoal, composto pela 
imputabilidade, pela potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta 
diversa. 
ASSIMILE 
Para o conceito formal, crime é a conduta que a lei define como criminosa. Para 
o conceito material, crime é a conduta que viola ou oferece perigo de violação aos bens 
jurídicos mais importantes para o desenvolvimento do indivíduo na sociedade. Já para 
o conceito analítico, crime é fato típico, ilício e culpável. 
É também importante compreender que o Brasil adotou um conceito dicotômico de 
infração penal. Isto porque o crime (entendido como sinônimo de delito) e a contravenção 
penal são as duas espécies de infração penal. Costuma-se dizer, doutrinariamente, que 
não há diferenças ontológicas (no plano da essência) entre crime e contravenção. A 
5 
 
diferença é axiológica (está no plano dos valores), pois o crime tem uma consequência 
jurídica mais pesada do que a contravenção. A distinção objetiva está prevista no artigo 
1º da Lei de Introdução do Código Penal (Decreto-Lei nº 3.914/41): ao crime, a lei comina 
pena de reclusão ou detenção (aliada ou não à pena de multa) enquanto à contravenção, a 
lei comina a pena de prisão simples (aliada ou não à pena de multa) ou multa isolada. 
Finalmente, também cumpre ressaltar que parte da doutrina jurídica brasileira adere a um 
conceito bipartite de delito, ou seja, define o crime como fato típico e ilícito, de forma 
que a punibilidade seria um mero pressuposto para aplicação da pena. O argumento desta 
corrente, oriunda da doutrina do professor Damásio de Jesus, se concentra no fato de que 
a culpabilidade diz respeito a um juízo negativo de censura, realizado a posteriori pelo 
julgador, existindo, pois, na mente do juiz e não do réu. Ademais, quando o código quer 
apresentar uma excludente de culpabilidade utiliza a expressão “é isento de pena”, 
enquanto as exclusões da ilicitude são anunciadas por meio da expressão “não há crime”, 
o que denotaria que somente a ilicitude seria substrato do crime (ESTEFAM; 
GONÇALVES, 2017). Contudo, tal entendimento é amplamente minoritário e não tem 
qualquer penetração na doutrina estrangeira (principalmente alemã) na qual é baseada 
toda a nossa ciência penal. 
REFLITA 
Se a ilicitude e a culpabilidade são, ambos, pressupostos para a aplicação da pena (uma 
vez que, faltando qualquer um deles, o agente não poderá receber punição) existe qualquer 
razão ou utilidade em afirmar que ilicitude e culpabilidade têm natureza distinta? 
Prezado aluno, passaremos, agora a estudar, ainda que sinteticamente, cada um 
dos substratos que perfazem o conceito analítico de crime. 
O primeiro substrato do conceito de crime se inicia pela própria conduta humana. Este 
já é, sem dúvida, um dos temas mais complexos de toda a teoria do delito. Quando se 
formou o conceito analítico de crime, a conduta era definida como o movimento corporal 
voluntário que causa um resultado naturalístico no mundo exterior. Tratava-se da 
teoria causalista, inspirada no positivismo científico e que era inadequada para explicar 
os crimes omissivos. Com a chamada abertura neokantista, a conduta passou a ser 
definida como um comportamento humano voluntário causador de um resultado 
juridicamente relevante. 
Contudo, nosso Código Penal adota a perspectiva da teoria finalista da ação, que define 
a conduta como um comportamento humano voluntário finalisticamente orientado. 
Assim, os elementos subjetivos outrora localizados na culpabilidade (dolo e culpa) foram 
deslocados para o fato típico, formando o conceito de crime conforme é mais aceito pela 
doutrina contemporânea. Este é o conceito que será utilizado neste material. 
Note agora que o resultado é o segundo elemento do fato típico. Ele é classicamente 
definido como o evento naturalístico consistente na modificação do mundo exterior 
causado pela conduta. Contudo, a doutrina moderna tende a afirmar que, embora nem 
todo crime apresente um resultado material, todo delito deve apresentar um resultado 
jurídico ou normativo, concernente à violação ou perigo de violação do bem jurídico 
tutelado pela norma incriminadora (o que condiciona a tipicidade material do delito), 
embora só os delitos materiais possuam resultado naturalístico. 
Tradicionalmente, os delitos são divididos quanto à presença de resultado naturalístico 
em materiais, formais e de mera conduta. 
Nos crimes materiais, o tipo penal descreve um resultado naturalístico do qual depende a 
consumação. Como exemplo podemos citar o homicídio (art. 121 do CP) e o roubo (art. 
157 do CP). 
6 
 
Nos crimes formais, a norma incriminadora descreve um resultado buscado pelo agente 
que é, porém, desnecessário para a consumação. Temos como exemplo a extorsão (art. 
158 do CP) no qual a consumação independe da obtenção da vantagem econômica por 
parte do agente. 
Já nos crimes de mera conduta, o tipo penal descreve apenas uma ação ou omissão, sendo 
desnecessário qualquer tipo de resultado. Exemplos comuns são os crimes de violação de 
domicílio (art. 150 do CP) ou porte ilegal de arma (artigos 14 e 16 da Lei nº 10.826/03). 
Há ainda uma distinção necessária. Os crimes materiais dependem de resultado 
naturalístico, mas não necessariamente deixam vestígios duradouros. Quanto aos 
vestígios, os crimes se classificam em transeuntes (delicta facti transeuntes), que não 
deixam vestígios duradouros, tais como os crimes contra honra (artigos 138, 139 e 140 
do CP), e não transeuntes (delicta facti permanentis), que deixam vestígios que podem 
ser periciados, como os delitos de homicídio (art. 121 do CP) e estupro (art. 213 do CP). 
O perito criminal, profissional da criminalística, normalmente se ocupa dos crimes não 
transeuntes, uma vez que, para estes, o Código de Processo Penal, em seu art. 158, impõe 
a obrigatoriedade do exame de corpo de delito, de forma que nem mesmo a prova 
testemunhal poderá suprir sua falta. “Art. 158: Quando a infração deixar vestígios, será 
indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, nãopodendo supri-lo a 
confissão do acusado” (BRASIL, 1941). 
Já nexo causal pode ser definido como o vínculo de causa e efeito entre a conduta e o 
resultado material do qual depende a consumação do crime. Assim, a investigação do 
nexo de causalidade é bastante cara ao profissional da criminalística, uma vez que é 
muitas vezes o método científico próprio desta disciplina que vai definir se a conduta do 
agente foi a causadora do resultado criminoso ou se este deve ser creditado à conduta de 
outrem ou até mesmo ao acaso, o que mudaria de sobremaneira toda a criminalização da 
conduta. 
Como conceito de causa juridicamente relevante, nosso Código Penal, em seu artigo 13, 
adota a teoria da equivalência dos antecedentes causais, também chamada de conditio 
sine qua non, de Von Buri (BURI apud BITENCOURT, 2020, p. 336). Para esta teoria, 
causa é toda a ação ou omissão sem a qual a conduta não teria ocorrido. “Art. 13 – O 
resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu 
causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”. 
Assim, não se diferencia causa e condição e não se distingue hierarquicamente as causas 
de um crime. Ademais, para se investigar os antecedentes causais de um delito, esta teoria 
nos impõe um método: o juízo hipotético de eliminação, que consiste na eliminação 
mental das condutas sobre as quais recaem suspeita de terem sido a causa do resultado e, 
caso este seja logicamente eliminado, poderemos concluir que a ação é sua causadora. 
Caso o resultado não desapareça (ou não se modifique em tempo e intensidade) será 
forçoso concluir que a conduta não causou e o agente poderá responder, no máximo, pela 
tentativa (BITENCOURT, 2020, p. 337). 
Por fim, cumpre ressaltar que, quando existir concausa relativamente independente 
superveniente, a relação de causalidade será regrada pelo art. 13 § 1º do Código Penal: “a 
superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si 
só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou” 
(BRASIL, 1940). 
Assim, quando ocorre um evento alheio à conduta, porém desta dependente, o agente só 
responderá pelo resultado quando este se encontrar no desdobramento natural da ação, ou 
seja, na linha de desdobramento anatomopatológico desta. Caso contrário, será necessário 
concluir que a concausa produziu o resultado por si só e o agente somente responderá 
pela tentativa ou pelo resultado que causou anteriormente, a depender do seu dolo. A 
7 
 
função do parágrafo primeiro do artigo 13 é justamente impedir a imputação nos 
desdobramentos causais extraordinários (GRECO, 2018). 
EXEMPLIFICANDO 
No clássico exemplo no qual o agente dispara contra a vítima e esta é atendida por uma 
equipe de socorristas que a leva para o pronto-socorro. Caso a ambulância se choque com 
um caminhão e a vítima do disparo morra por esmagamento em função do abalroamento, 
o agente não responderá pelo resultado, mas apenas pela tentativa, pois a concausa terá 
produzido o resultado por si só. Entretanto, caso a vítima morra por conta da infecção do 
ferimento, o agente responderá pelo homicídio consumado, pois a infecção está no 
desdobramento natural da ação. 
A tipicidade foi, historicamente, o último substrato a ser adicionado ao conceito analítico 
de crime. Concebida em 1906 por Ernst Von Beling, a tipicidade penal costuma ser 
conceituada como “o juízo de subsunção entre a conduta e os elementos que definem 
o tipo penal” (BELING, 1906 apud BITENCOURT, 2020, p. 357). O tipo penal, por sua 
vez, é o modelo abstrato de conduta proibida sob ameaça de pena. O Código Penal, a 
partir de seu artigo 121, apresenta um verdadeiro catálogo de tipos penais. 
Importante compreender que a adequação típica pode se dar por subordinação imediata, 
na qual a conduta de subsome diretamente ao tipo penal, ou por subordinação mediata, 
na qual a conduta não se subsome diretamente ao tipo, porém a tipicidade é satisfeita por 
uma norma de extensão do tipo penal, tal qual ocorre na tentativa ou na responsabilidade 
de partícipe, conforme consta nos artigos 14, II e 29 do Código Penal, respectivamente. 
Há ainda a tipicidade material, que consiste na violação ou perigo concreto de violação 
do bem jurídico tutelado pelo tipo penal. A ausência da tipicidade material resultará na 
aplicação do princípio da insignificância. 
Analisemos, agora, o segundo substrato do conceito de crime. A antijuridicidade ou 
ilicitude pode ser definida como o juízo de contrariedade entre o fato típico e o 
ordenamento jurídico. No direito brasileiro, prevalece a teoria da ratio cognoscendi, 
segundo a qual a presença da tipicidade é indiciária da ilicitude, isto é, o fato típico 
estabelecerá a presunção de que a conduta também é ilícita. Presunção esta que poderá 
ser afastada a partir da presença de uma das causas de justificação, também chamadas de 
excludentes de ilicitude. O Código Penal lista quatro destas causas no artigo 23. 
A primeira das excludentes de ilicitude é o estado de necessidade, descrito no artigo 24 
do Código Penal e caracterizado pelo conflito entre interesses lícitos, no qual o agente 
precisa sacrificar bem jurídico para salvar outro, de igual ou maior valor, de uma situação 
de perigo atual inevitável por outros meios e que não foi causada por sua vontade. 
Estado de necessidade 
Art. 24 – Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo 
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio 
ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. 
§ 1º – Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o 
perigo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 2º – Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser 
reduzida de um a dois terços. 
A legítima defesa, a mais conhecida das descriminantes, ocorre quando o agente repele 
injusta agressão, atual ou iminente, utilizando moderadamente dos meios necessários. 
Entende-se que agressão é qualquer ataque, proveniente da conduta humana, que visa 
8 
 
lesionar bens jurídicos. A agressão será injusta quando for contrária ao ordenamento 
jurídico em sentido amplo e deve ser atual (estar acontecendo no presente momento) ou 
iminente (estar acontecendo no presente momento) e o meio é considerado necessário 
quando for o menos lesivo dentre aqueles capazes de afastar a agressão e que está à 
disposição do agente (GRECO, 2018, p. 452). 
Legítima defesa 
Art. 25 – Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios 
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. 
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se 
também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco 
de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes. 
A doutrina afirma que quando o meio utilizado é flagrantemente desnecessário, haverá 
excesso intensivo, quando os meios defensivos são mantidos para além da atualidade ou 
iminência da agressão, haverá excesso extensivo. 
Cumpre ressaltar ainda que o pacote anticrime acrescentou um parágrafo único ao artigo 
25 para, supostamente, ampliar as hipóteses de legítima defesa por parte do agente de 
segurança pública quando uma vítima é mantida refém. Contudo, segundo a maior parte 
da doutrina especializada, a redação pobre do parágrafo atendeu a fins mais políticos do 
que jurídicos e a nova norma apresenta apenas um exemplo de legítima defesa que já 
estaria abarcado pela descriminante sendo completamente desnecessária e irrelevante 
(BITENCOURT, 2020). 
As duas últimas causas de justificação não estão descritas pelo Código Penal, mas apenas 
listadas no artigo 23 e serão aqui resumidas. 
O estritocumprimento de dever legal está presente quando o agente pratica um fato 
típico em razão de uma obrigação prevista em normas geral. Como exemplo, há a 
obrigação da autoridade policial em prender quem estiver em flagrante delito, conforme 
previsto no artigo 301 do CPP. 
Por fim, o exercício regular de direito se aplica quando o agente pratica fato típico em 
razão de uma atividade permitida ou até fomentada pelo ordenamento jurídico. Como 
exemplo, há a prática de esportes violentos, a realização de cirurgias estéticas ou a prisão 
em flagrante praticada por qualquer do povo, uma vez que o flagrante facultativo pode 
ser realizado por qualquer um. 
A culpabilidade, por sua vez, é o terceiro substrato do conceito analítico de crime e é 
modernamente conceituada como o juízo de reprovação pessoal que incide sobre quem 
pratica um fato típico e ilícito. Trata-se de um juízo normativo de censura que recai sobre 
o injusto penal. 
Quanto aos seus elementos, a culpabilidade é composta da imputabilidade, da potencial 
consciência da ilicitude e da exigibilidade de conduta diversa. 
A imputabilidade é a capacidade biopsicológica de compreender o caráter ilícito do fato 
ou de agir de acordo com este entendimento. No Código Penal brasileiro, os artigos 26, 
27 e 28 tratam da imputabilidade, que estará afastada em caso de doença mental (ou 
desenvolvimento mental incompleto), menoridade e embriaguez involuntária completa. 
A potencial consciência da ilicitude é o conhecimento culturalmente condicionado da 
antijuridicidade que recai sobre a conduta. Sua ausência levará ao erro de proibição, 
regulamentado no artigo 21 do Código Penal. 
Finalmente, a exigibilidade de conduta diversa consiste na análise da capacidade concreta 
que o agente possui, dadas as circunstâncias do caso concreto, de se comportar de acordo 
com o direito. O Código Penal apresenta duas causas de inexigibilidade de conduta 
diversa no artigo 22: a obediência hierárquica e a coação moral irresistível. 
9 
 
Passamos agora ao estudo das normas, regras e princípios do Direito Penal. O próprio 
direito pode ser definido como um conjunto escalonado e hierarquizado de normas 
jurídicas. Neste contexto, a norma pode ser conceituada como o próprio conteúdo 
proibitivo, mandamental, permissivo, explicativo ou complementar contido na lei (ou em 
qualquer outro diploma normativo. Em termos mais simples, a norma jurídica é composta 
de princípios e regras. 
As regras visam normatizar situações concretas, são aplicadas por meio da subsunção, 
isto é, encaixam-se no caso concreto ou não são aplicadas, permanecendo dormentes, e o 
conflito entre regras se dá a partir do afastamento de uma em detrimento da outra. 
O princípio, por sua vez, é uma norma estruturante do ordenamento jurídico, 
estabelecendo os limites e objetivos que as normas devem buscar. O conflito entre 
princípios pode ser resolvido com uma ponderação de valores, no qual se aplica o que for 
possível de cada um deles. 
EXEMPLIFICANDO 
O artigo 121 do Código Penal (crime de homicídio) contém uma regra. Porém, o assunto 
é estruturado da forma como ele se apresenta em razão do princípio da legalidade. 
O ordenamento jurídico brasileiro possui uma série de princípios constitucionais, 
explícitos e implícitos, que limitam e racionalizam o poder de punir. Listaremos os mais 
importantes: 
• Princípio da intervenção mínima: a intervenção penal, por ser a mais gravosa 
das respostas do Estado, deve ter aplicação subsidiária quanto aos outros ramos 
do direito e fragmentária quanto ao bem jurídico que visa proteger. 
• Princípio da fragmentariedade: o direito penal só deve proteger os bens 
jurídicos mais importantes contra as ofensas intoleráveis. 
• Princípio da subsidiariedade: o direito penal deve ser a última ratio, isto é, deve 
ser secundário a todas as outras formas de controle social. 
• Princípio da insignificância: as condutas que não violam ou que não trazem 
perigo de violação ao bem jurídico tutelado pelo tipo penal serão materialmente 
atípicas. 
• Princípio da adequação social: o direito penal não deve punir as condutas que 
se mostram adequadas à ordem social historicamente condicionada. 
• Princípio da pessoalidade da pena: a pena não pode ultrapassar a pessoa do 
condenado. 
• Princípio da individualização da pena: a pena deve ser individualizada ao crime 
e ao criminoso. Desde a cominação, até a aplicação e cominação. 
• Princípio da legalidade: não há crime sem lei anterior que o define, não há pena 
sem prévia cominação legal. Toda norma incriminadora deve ser precedida de lei 
escrita, estrita, prévia e certa. 
Ainda nos falta o estudo de um tema fundamental. Trata-se da resposta à pergunta: mas, 
afinal, de onde vem o direito? A fonte do direito pode ser conceituada como seu local de 
procedência ou a forma por meio da qual ele se materializa e pode ser conhecido pela 
população. 
A doutrina penal costuma dividir as fontes em fontes materiais (ou de produção) e fontes 
formais (ou de cognição) que analisemos. 
10 
 
• Fonte material ou de produção: diz respeito à entidade competente para 
produzir a norma. No Brasil, a única fonte material da norma penal é a União, por 
meio da Lei Federal, conforme artigo 22, I da Constituição Federal. 
• Fonte formal ou de conhecimento ou cognição: é a forma através da qual a 
norma se apresenta para a sociedade. Divide-se em: 
o Fonte formal imediata: tem aplicabilidade direta na resolução de casos 
concretos. Prevalece que a única fonte formal imediata do direito penal é 
a lei (ordinária ou complementar) em nome do princípio da legalidade. 
o Fonte formal mediata: serve como instrumento de interpretação da 
norma penal e é, segundo entendimento majoritário, a doutrina, o costume 
e os princípios gerais de direito. 
Encerramos aqui a primeira seção. Continuaremos tratando sobre o conceito analítico de 
crime com um olhar mais profundo aos seus substratos na próxima seção. Até lá! 
FAÇA VALER A PENA 
Questão 1 
O conceito jurídico de delito sempre foi um conjunto de sentidos a partir da qual o jurista 
pode compreender a estrutura e os limites da ordem jurídica. Uma gramática, a partir da 
qual pode-se limitar racionalmente o poder de punir e dar previsibilidade às decisões 
judiciais. 
Marque a alternativa que representa um dos substratos do conceito analítico de crime ou 
dos elementos que os definem. 
a. Antijuridicidade. 
b. Punibilidade. 
c. Responsabilidade civil. 
d. Razoabilidade. 
e. Proporcionalidade. 
Questão 2 
O princípio é a uma norma estruturante que limita e racionaliza o ordenamento jurídico 
estabelecendo o norte para o qual o sistema jurídico deve rumar. Trata-se de normas 
jurídicas lastreadas no texto constitucional. 
Considere as seguintes assertivas acerca dos princípios penais fundamentais. 
I. Segundo o princípio da legalidade, a criminalização deve preceder de lei escrita, 
estrita, prévia e certa. 
II. O princípio da insignificância serve como causa de redução de pena quando o 
prejuízo gerado pelo crime é muito pequeno. 
III. O princípio da pessoalidade da pena apregoa que a sanção penal deve ser 
individualizada ao crime e ao criminoso, proibindo-se a pena padronizada. 
IV. O princípio da individualização da pena afirma que a sanção penal não deve 
ultrapassar a pessoa do condenado. 
a. Estão corretas apenas as assertivas I e II. 
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11 
 
b. Estão corretas apenas as assertivas III e IV. 
c. Está correta apenas a assertiva I. 
d. Está correta apenas a assertiva III. 
e. Está correta apenas a assertiva II. 
 
Questão 3 
As fontes do direito penal são o local de proveniência da norma jurídica. Representam os 
entes competentes para a produção dos princípios e regras que compõem o ordenamento 
jurídico e a forma por meio das quais as normas se apresentam para a população em geral. 
Associe as colunas: 
I. Fonte material do direito penal. 
II. Fonte formal imediata do direito penal. 
III. Fonte formal mediata do direito penal. 
1. A lei federal em sentido estrito. 
2. Os princípios gerais de direito. 
3. A União. 
a. I- 1/ II-2/ III-3. 
b. I- 2/II-1/III-3. 
c. I-3/ II-1/ III-2. 
d. I-1/ II-3/ III- 2. 
e. I-3/ II- 2/ III-1. 
REFERÊNCIAS 
BITENCOURT, C. R. Tratado de direito penal: parte geral. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 
2020. 
BITTAR, N. Medicina legal e noções de criminalística. 9. ed. Salvador: Juspodivm, 
2020. 
BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível 
em: https://bit.ly/3xPf5sM. Acesso em: 1 jul. 2021. 
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. 
Disponível em: https://bit.ly/3r7b1BQ. Acesso em: 07 de julho de 2021. 
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.914, de 9 de dezembro de 1941. Lei de Introdução do 
Código Penal. Disponível em: https://bit.ly/2U81j6b. Acesso em: 1 jul. 2021. 
BUSATO, P. C. Direito penal: parte geral volume 1. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2018. 
ESTEFAM, A. Direito penal esquematizado: parte geral. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 
2017. 
GRECO, R. Curso de direito penal: parte geral, volume I. 20. ed. Niterói: Impetus, 
2018. 
PRADO, L. R. Tratado de direito penal brasileiro: parte geral. 3. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2019. 
Bons estudos! 
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3914.htm
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FOCO NO MERCADO DE TRABALHO 
 
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SEM MEDO DE ERRAR 
No caso narrado, você terá acertado se concluir que Antônio iniciou a execução do crime 
de roubo, praticando fato típico, ilícito e culpável. Lúcio, até o momento em que 
desarmou seu atacante e disparou nele pela primeira vez, estava em excludente de 
ilicitude, especificamente, a legítima defesa. Isso porque Antônio, ao iniciar o crime de 
roubo, estava exercendo agressão injusta atual contra Lúcio, assim, o uso moderado dos 
meios necessários para afastar a injusta agressão é alcançado pela legítima defesa. Desse 
modo, por haver excludente de ilicitude, a conduta de Lúcio é típica, porém não é ilícita. 
Contudo, forçoso que você reconheça que, a partir da perícia, houve excesso extensivo 
de legítima defesa, uma vez que o último disparo denota execução. 
AVANÇANDO NA PRÁTICA 
A SUBTRAÇÃO DE COISA ALHEIA MÓVEL E A PERÍCIA 
Prezado aluno, na última situação-problema acompanhamos as suas aventuras fictícias 
como um recém-concursado perito criminal em uma reconstituição simulada dos fatos de 
legítima defesa de homicídio. Imaginemos agora que, em um processo-crime pelo crime 
13 
 
de furto, Lucas fez a subtração de um telefone celular que, ao ser periciado, constatou ser 
um aparelho já previamente estragado, de maneira que eventual conserto é impossível. 
Neste caso, após o resultado da perícia, você se pergunta: há algum princípio penal 
fundamental que poderia ser aplicado? 
RESOLUÇÃO 
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14 
 
UNIDADE I, SESSÃO 2 
ELEMENTOS DO CRIME 
 
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PRATICAR PARA APRENDER 
Na última seção estudamos alguns conceitos referentes à teoria da norma penal. Vimos o 
conceito do crime, os princípios penais fundamentais e as fontes do direito penal. Porém, 
as investigações introdutórias necessárias ao conhecimento da criminalística ainda não 
terminaram. Nesta seção, daremos um mergulho mais profundo na teoria do delito e 
investigaremos os substratos que perfazem o conceito analítico de crime. 
Perceba que este é o núcleo duro do próprio direito penal e, por isso, absolutamente 
essencial para todos aqueles que trabalham de forma direta ou indireta com o sistema de 
justiça criminal, afinal, de que adiantaria um conhecimento específico tangente aos 
crimes em espécie ou às táticas de investigação quando se desconhece o próprio conceito 
de crime? 
Nosso objetivo aqui será resumir, de forma objetiva e voltada para os conhecimentos 
necessários ao profissional da criminalística, o fato típico, a ilicitude e a culpabilidade, 
ou seja, os elementos que perfazem o conceito de crime tal qual aceito hoje pela maior 
parte da doutrina jurídica (BITENCOURT, 2020). Por isso, daremos ênfase àqueles que 
serão essenciais para as funções que queremos fundamentar, como o conceito de conduta 
15 
 
ou o nexo de causalidade. 
Continuaremos a acompanhar a história do recém-concursado perito criminal João 
enquanto este auxilia a polícia judiciária a desvendar a materialidade e autoria de diversos 
delitos. Desta vez, João participou da reprodução simulada dos fatos de um caso 
interessante e complexo. Após uma briga de torcida, dois indivíduos, Márcio e Otávio, 
foram gravemente feridos. O primeiro com um ferimento por arma de fogo disparada à 
queima-roupa na região torácica e o segundo por um instrumento perfuro-cortante que o 
penetrou na região abdominal. Ambos foram atendidos por socorristas que chegaram em 
ambulâncias diferentes. O veículo que levava Márcio sofreu um acidente a caminho do 
hospital e abalroou um caminhão em uma batida frontal. Márcio morreu em função do 
acidente. 
A ambulância que atendeu Otávio, por sua vez, chegou emsegurança ao hospital, porém, 
ele faleceu em virtude de uma infecção generalizada que se instalou a partir do ferimento, 
uma vez que seu intestino grosso foi perfurado. 
A partir destas informações, João recordou o que aprendera em direito penal e se 
perguntou: os autores das agressões contra Márcio e Otávio poderão responder pelos 
respectivos resultados fatais? 
Saiba que o conhecimento desta seção irá fundamentar todo o resto de nosso livro. Mãos 
à obra! 
CONCEITO-CHAVE 
Caro aluno, nesta seção, mergulharemos, de forma mais verticalizada, no núcleo essencial 
da dogmática jurídico-penal: estudaremos os substratos do conceito analítico de crime, 
isto é, analisaremos o fato típico, a ilicitude e a culpabilidade. 
A doutrina jurídica, a partir do século XIX, concebeu um conceito de crime a partir da 
divisão de seus substratos ou elementos. O novo conceito analítico de crime, construído 
primariamente por juristas alemães como Franz Von Liszt e Ernst Von Beling e 
desenvolvido por toda a doutrina jurídica a partir de então, se transformaria na principal 
ferramenta do profissional do direito para compreender o mais importante objeto do 
sistema punitivo (o crime) e para a necessária previsibilidade das decisões judiciais. Para 
este conceito, o delito é definido a partir de sua decomposição em seus substratos básicos: 
o fato típico, a ilicitude e a culpabilidade (BITENCOURT, 2020). 
Estudemos agora, com mais atenção e densidade, cada um destes elementos. 
O primeiro elemento do fato típico (e o mais essencial dos elementos que perfazem o 
conceito de crime) é a conduta humana, que sempre foi o eixo ao redor do qual giram 
todos os outros elementos do conceito de crime. A definição de conduta, entretanto, 
sempre sofreu constantes mutações baseadas nos múltiplos sistemas jurídicos a partir dos 
quais compreendemos os elementos do crime, afinal, o delito só existe enquanto produto 
da ação ou da omissão humana. 
A teoria causal-naturalística, cujo principal expoente foi Von Liszt, inaugurou a fase 
científica da teoria do crime, definindo a conduta como o movimento corporal voluntário 
causador de uma modificação no mundo exterior. Tal teoria se fundamentava em um 
positivismo cientificista (bem característico da segunda metade do século XIX) e 
propunha um conceito de ação incompatível com qualquer processo de valoração além 
daqueles referentes à observação empírica, além de ser incapaz de explicar a omissão e 
os delitos desprovidos de um resultado material (PRADO, 2019). 
No início do século XX, surge a teoria neokantista, ou causal-valorativa, que buscou 
afastar o pensamento jurídico da base cientificista, adotando um método próprio 
16 
 
relacionado a valores. Seus principais expoentes foram Frank, Radbruch e Mezger. Para 
o neokantismo, o direito é necessariamente permeado por valores culturais extrajurídicos, 
o que demanda categorias jurídicas que permitem estes processos de valoração, afinal, 
enquanto que nas ciências da natureza o sujeito cognoscente apenas explica o objeto 
cognoscível, nas ciências da cultura, o sujeito cognoscente compreende o objeto 
cognoscível, interrelacionando-se com este. Na perspectiva neokantiana, a conduta passa 
a ser definida como um comportamento humano voluntário por alguns dos autores, 
enquanto outros (como Radbruch) chegam a adotar uma perspectiva aberta, segundo a 
qual a conduta não precisaria (ou não poderia) ser conceituada a priori (BUSATO, 2018). 
Durante a década de 1930 do século XX, um prestigiado autor alemão criou o sistema 
teórico no qual se baseia o Código Penal brasileiro. Para o finalismo de Hans Welzel, a 
ação não pode ser simplesmente definida pela causação de um resultado naturalístico, 
pois o fato natural e a conduta humana apresentam um ponto fulcral de diferenciação na 
finalidade que dirige ação. Sim, pois, a conduta humana inicia-se com a proposição do 
fim desejado pelo agente, seguida da seleção dos meios de ação para realizar este fim e 
da representação dos efeitos colaterais necessários ou possíveis dos meios escolhidos. 
Desta forma, para Welzel, a conduta também não é definida axiologicamente, isto é, por 
valores, mas, sim, por sua base ontológica, ou seja, pela essência da conduta que é 
definida pela finalidade humana. Portanto, a conduta passa a ser definida como um 
comportamento humano voluntário voltado à realização de uma atividade final. Como 
consequência, os elementos subjetivos antes creditados à culpabilidade (dolo e culpa) 
passam a ser analisados no próprio fato típico. Como dito anteriormente, esta teoria é a 
mais aceita como aquela que nosso estatuto repressivo adotou a partir da reforma de 1984 
proporcionada pela Lei nº 7.209 (SANTOS, 2017). 
Por sua vez, a teoria social da conduta, construída por Eb Schmidt, define a conduta como 
um comportamento humano socialmente relevante ou, ainda, a manifestação externa da 
vontade com relevância social. Nesta ordem de ideias, haveria relevância social na ação 
que afeta a relação do indivíduo para com o seu meio. A doutrina tende a criticar esta 
teoria afirmando que o conceito de relevância social é por demais amplo e abstrato 
(PRADO, 2019). 
Cumpre apresentar agora duas das mais modernas teorias da conduta. 
Para a teoria personalista da ação, de Claus Roxin, a conduta é definida como a 
manifestação da personalidade do indivíduo, isto é, tudo o que pode ser atribuído a uma 
pessoa como centro de atos anímico-espirituais. Esta definição, bastante abrangente, 
exclui apenas os comportamentos que não são dominados ou domináveis pela 
voluntariedade do indivíduo e, com isso, Roxin endereça um problema atribuído à teoria 
finalista no sentido de que esta não se adequa às condutas culposas (BUSATO, 2018). 
ASSIMILE 
Principais teorias acerca do conceito de conduta: 
• Teoria causal-naturalística: movimento corporal que causa um 
resultado no mundo exterior. 
• Teoria neokantista: comportamento humano voluntário. 
• Teoria finalista: comportamento humano voluntário finalisticamente 
orientado à uma atividade final. 
• Teoria social: comportamento humano socialmente relevante. 
• Teoria personalista: a manifestação da personalidade do indivíduo, isto 
é, tudo o que pode ser atribuído a uma pessoa como centro de atos 
anímico-espirituais. 
17 
 
Agora passaremos ao próximo elemento, o nexo causal, que pode ser conceituado como 
a relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado do qual depende a existência do 
crime. Para o profissional da criminalística, a relação de causalidade é um elemento 
extremamente importante do fato típico, tendo em vista que o método científico aplicado 
à elucidação dos delitos tem como precípua finalidade o apontamento da autoria delitiva 
e, para isso, é preciso concluir qual conduta deu causa aos resultados materiais da infração 
penal. 
Primeiramente, é importante compreender que o ordenamento jurídico-penal prevê 
delitos formais cujos tipos penais descrevem resultados buscados pelo agente, porém 
desnecessários para a consumação. Também apresenta crimes de mera atividade, nos 
quais a norma incriminadora não descreve qualquer resultado, mas uma mera ação ou 
omissão. Para estas duas categorias, a investigação do nexo de causalidade não é 
necessária. Este elemento do fato típico se torna relevante nos crimes materiais, isto é, 
nas infrações em que a norma prevê um resultado perceptível no mundo dos fatos. O 
homicídio (art. 121 do CP), a lesão corporal (art. 129 do CP) e o roubo (art.157 do CP) 
são exemplos de crimes materiais. A extorsão (art. 158 do CP) e a corrupção ativa (art. 
333 do CP) são delitos formais. Por fim, a violação de domicílio (art. 150 do CP) e o porte 
ilegal de arma (art. 14 Lei nº 10.826/03) são crimes de mera atividade. 
Para a definição do importante conceito de causa, duas teorias disputam espaço na 
doutrina. A primeira é a teoria da equivalência dos antecedentes causais,também 
chamada de conditio sine qua non, cujos precursores foram John Stuart Mil e Von Buri 
(GRECO, 2018). Para esta teoria, causa é toda ação ou omissão sem a qual o resultado 
não teria ocorrido. A praticidade da teoria é manifesta, uma vez que não estabelece 
qualquer diferença entre causa e condição e determina um método lógico para investigar 
a relação da causalidade: o juízo hipotético de eliminação. Devemos, assim, suprimir 
mentalmente as condutas que fazem parte desdobramento causal de determinado ilícito, 
possivelmente. Se, perante este exercício, o resultado desaparecer, a óbvia conclusão é de 
que a conduta foi sua causa. Contudo, caso o resultado permaneça, será forçoso afirmar 
que a conduta não foi sua causa, de forma que o agente não poderá responder pelo 
resultado. 
EXEMPLIFICANDO 
Imaginemos que João empreste arma para que Maurício mate Pedro. No entanto, no 
momento do ato ilícito, Maurício entrou em luta corporal com Pedro e o matou através 
da asfixia por esganadura. Neste contexto, mesmo que João tenha emprestado a arma com 
a intenção de colaborar para o homicídio, não poderá responder pelo crime, uma vez que, 
mesmo sem o auxílio por meio da cessão do armamento o delito teria ocorrido. 
Esta teoria foi adotada pelo Código Penal no caput do artigo 13: “O resultado, de que 
depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se 
causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido” (BRASIL, 1940). 
A doutrina tende a apontar ao menos dois problemas da equivalência dos antecedentes 
causais. O primeiro diz respeito à regressão ao infinito. Se causa é toda ação ou omissão 
sem a qual o resultado não teria ocorrido, o empréstimo da arma é causa do homicídio, 
mas também o é sua fabricação. O direito brasileiro contorna este problema por meio da 
tipicidade subjetiva, ou seja, observando-se a presença de dolo ou culpa, já que o artigo 
18 do CP afirma que todo crime é punido a título de dolo (vontade consciente) ou, quando 
previsto expressamente em lei, ao menos a título de culpa (inobservância de dever de 
cuidado: imprudência, negligência ou imperícia). Assim, o fabricante da arma não agiu 
com dolo ou culpa quanto ao homicídio praticado com o armamento, portanto, não 
18 
 
responderá pelo crime. 
O segundo problema da teoria diz respeito aos desdobramentos causais extraordinários, 
que são percebidos nas concausas relativamente independentes supervenientes que serão 
explicadas a seguir. Mas, antes, analisemos a segunda teoria que, segundo parte da 
doutrina, foi adotada pelo Código para solucionar este último problema. 
A teoria da causalidade adequada, de Von Bar e Von Kries, afirma que causa não é toda 
conduta sem a qual o resultado não teria ocorrido, mas, sim, aquela conhecida como capaz 
de produzir o resultado por si só de acordo com os conhecimentos experimentais 
disponíveis ao agente nas circunstâncias do caso concreto. A teoria tem o mérito de afastar 
a imputação nos desdobramentos causais imprevisíveis ou extraordinários: caso o agente 
dispare contra uma vítima e esta morra porque o hospital no qual foi atendida pegou fogo, 
aquele que disparou não responderá pelo homicídio, mas, no máximo, pela tentativa, uma 
vez que o incêndio não era a causa idônea previsível da morte no momento da conduta. 
A causalidade adequada apresenta, porém, duas inconveniências: ela dificulta a punição 
de partícipes que colaboram com condutas que não possuem, em si, qualquer lesividade, 
mas que se demonstram como essenciais ao resultado criminoso. Ademais, é perceptível 
o alto grau de indefinição acerca dos parâmetros valorativos necessários para medir o 
resultado como adequado ou previsível (BITENCOURT, 2020). 
Teceremos, neste momento, alguns comentários sobre as concausas. Estas são eventos 
alheios à conduta, porém relevantes para a produção do resultado. Para investigar a 
existência de nexo causal perante a presença de uma concausa, é necessário observar se 
esta produz o resultado de forma autônoma ou se trabalha em conjunto com a conduta. 
As concausas absolutamente independentes são aquelas que produzem o resultado de 
forma autônoma, sem o auxílio da conduta e, por isso, quebram o nexo causal de forma 
que não haverá imputação do resultado, mesmo quando são antecedentes, concomitantes 
ou supervenientes à conduta, afinal, a causa é toda ação ou omissão sem a qual o resultado 
não teria ocorrido. 
EXEMPLIFICANDO 
Na concausa absolutamentente independente, o resultado é produzido de forma autônoma 
com relação à conduta, de maneira que o elemento propulsor do resultado pode ser 
preexistente, concomitante ou superveniente ao comportamento do agente. Nos três 
casos, o nexo causal estará ausente e, portanto, o sujeito ativo só poderá responder pela 
tentativa. 
Preexistente: o agente dispara uma arma de fogo contra a vítima, mas esta morre em 
função de complicações respiratórias causadas pela COVID-19 pela qual já havia sido 
infectada e cujo quadro clínico não foi piorado pelo ferimento. 
Concomitante: o agente envenena o copo da vítima que morre de um ataque cardíaco não 
relacionado com a substância enquanto bebe. 
Superveniente: a vítima é envenenada, mas, enquanto dorme, morre soterrada nos 
escombros de sua casa quando esta é destruída pelo vazamento de uma barragem de 
rejeitos. 
Já nas concausas relativamente independentes, conduta e concausa se conjugam para 
produzir o resultado. Aqui, tendo em vista que a teoria da equivalência dos antecedentes 
causais foi a adotada pelo caput do art. 13 do Código Penal, existirá nexo de causalidade 
nas concausas relativamente independentes preexistentes ou concomitantes. No entanto, 
nas supervenientes, para evitar a imputação do resultado de desdobramentos causais 
extraordinários, o § 1º do art. 13 adotou interessante redação: “A superveniência de causa 
relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; 
19 
 
os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou” (BRASIL, 1940). 
Para parte da doutrina brasileira, o citado parágrafo adotou a teoria da causalidade 
adequada, de forma que, quando existe concausa relativamente independente 
superveniente, para se evitar a atribuição de desdobramentos causais extraordinários ou 
imprevisíveis, passam a ser considerados como produtores do resultado por si só. Assim, 
caso o resultado, conforme as regras gerais de experiência, seja um desdobramento 
normal da conduta, o agente responderá por ele. Contudo, caso o resultado surja a partir 
de um desdobramento que não está na linha de desenvolvimento físico previsível do 
comportamento, o agente responderá, no máximo, pela tentativa. 
EXEMPLIFICANDO 
Na concausa relativa independente, existe uma conjugação entre conduta e concausa para 
a produção do resultado. Ela pode ser preexistente, concomitante ou superveniente à 
conduta. 
Preexistente: o agente perfura a vítima com um instrumento perfuro-cortante querendo 
matá-lo, mas a morte surge apenas porque o ofendido é portador de hemofilia. Caso exista 
previsibilidade, o agente responderá pelo resultado, pois, sem sua conduta este não teria 
ocorrido. 
Concomitante: o agente dispara contra a vítima, mas erra o alvo. Porém, o ofendido 
morre devido a um ataque cardíaco causado pelo susto do disparo. Caso exista 
previsibilidade, o agente responderá pelo resultado, pois, sem sua conduta este não teria 
ocorrido. 
Superveniente que produz o resultado por si só: a vítima recebe um disparo de arma 
de fogo, mas morre em virtude de acidente de trânsito envolvendo a ambulância que o 
socorreu. Aqui, por força do artigo 13, § 1º, o agente não responderá pelo resultado pois 
o acidente não é um desdobramento ordinário do ferimento por arma de fogo. 
Superveniente que não produz o resultado por si só: a vítima recebe um disparo de 
arma de fogo e morre em virtude de infecçãogeneralizada que se iniciou a partir do 
ferimento. O agente poderá responder pelo resultado, uma vez que a infecção é um 
desdobramento adequado e previsível da conduta. 
A tipicidade penal foi criada por Ernst Von Beling em 1906 e pode ser definida como um 
“juízo de subsunção entre a conduta e os elementos que definem o tipo penal” (CUNHA, 
2020, p. 297). Este juízo de adequação pode se dar de forma imediata ou direta (quando 
a conduta está diretamente inscrita no tipo) ou de maneira mediata ou indireta, quando a 
tipicidade depende de uma norma de extensão, tal qual a tentativa (art. 14, II do CP) ou o 
concurso de pessoas (art. 29 do CP). 
O tipo penal, por sua vez, é definido como o modelo abstrato de conduta proibida sob a 
ameaça de pena. O Código Penal, a partir do artigo 121, apresenta um vasto repositório 
de tipos penais, mas estes também estão presentes na legislação extravagante, como a lei 
antidrogas, o Código de Trânsito Brasileiro ou o Estatuto do Desarmamento. Os tipos 
penais são formados por elementos objetivo-descritivos, normativos e subjetivos. Os 
elementos descritivos são aqueles percebidos pela mera constatação sensorial, ou seja, 
descrevem condutas, meios, modos, objetos e circunstâncias perceptíveis no mundo dos 
fatos, tais como o núcleo (verbo), sujeito ativo (agente ou omitente), sujeito passivo 
(titular do bem jurídico protegido e objeto material (pessoa ou coisa sobre a qual recai a 
conduta). Os elementos normativos são aqueles cuja compreensão depende de um juízo 
de valor, como a expressão “ato obsceno” contida no artigo 233 do Código Penal. Enfim, 
a partir da adoção da teoria finalista da ação, o tipo penal também contém elementos 
subjetivos que são aqueles que descrevem o estado psíquico do agente. Via de regra, todo 
20 
 
tipo penal exige um elemento subjetivo geral, que é o dolo (vontade consciente de realizar 
os elementos descritivos do tipo), mas alguns deles têm elementos subjetivos especiais 
que denotam um especial fim de agir (como a finalidade de obter vantagem como preço 
do resgate previsto no artigo 159 do Código Penal). 
Vamos agora ao segundo substrato do conceito de crime. A ilicitude pode ser conceituada 
como o juízo de contrariedade entre o fato típico e o ordenamento jurídico, isto é, o fato 
ilícito é aquele contrário ao direito. Com a presença da tipicidade penal, a ilicitude é 
presumida, pois o ordenamento brasileiro adotou a teoria da ratio cognoscendi, que, 
resumidamente, afirma que a tipicidade estabelece uma presunção relativa de ilicitude, 
que pode ser afastada pelas causas de justificação, também chamadas de excludentes de 
ilicitude. O Código Penal, no artigo 23, enumera quatro delas: estado de necessidade, 
legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito. 
O estado de necessidade se caracteriza pelo conflito entre interesses lícitos, no qual uma 
situação de perigo atual, inevitável por outros meios, obriga o agente a sacrificar um bem 
jurídico para salvar outro de igual ou maior valor. A descriminante está prevista no art. 
24 do Código Penal: “considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para 
salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo 
evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável 
exigir-se” (BRASIL, 1940). 
O exemplo mais comumente encontrado de estado de necessidade está na disputa pela 
tábua de salvação em um naufrágio, mas podemos citar o pisoteio de pessoas para se 
escapar de uma boate em chamas ou até mesmo do furto famélico. 
Como requisitos, extraídos do citado artigo, há, primeiramente, a existência de uma 
situação de perigo atual não provocada dolosamente pelo agente, que pode ser definida 
como a exposição de um bem jurídico a uma probabilidade de lesão, provocada por um 
desastre natural, ou pela conduta humana não intencional. Ademais, a tal situação deve 
ser inevitável por outros meios, isto é, o sacrifício em estado de necessidade deve ser a 
última ratio. 
Também se apresenta como requisito legal a razoabilidade do sacrifício, ou seja, o bem 
jurídico sacrificado deve ser de valor igual ou inferior ao bem jurídico salvo. 
O Código Penal também exige, no § 1º do art. 24, a ausência do dever legal de enfrentar 
o perigo. Assim, caso o agente seja um bombeiro militar, não poderá utilizar-se do estado 
de necessidade para deixar de combater uma situação perigosa que está dentro da 
expectativa do seu dever. 
Já a legítima defesa compreende a reação que visa repelir uma agressão injusta, que seja 
atual ou iminente, a direito próprio ou de terceiro, por meio do uso moderado dos meios 
necessários. Trata-se de uma forma de autotutela na qual a lei permite que alguém utilize 
dos próprios meios para afastar uma agressão contrária ao direito. O instituto é descrito 
pelo artigo 25 do Código Penal: “entende-se em legítima defesa quem, usando 
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a 
direito seu ou de outrem” (BRASIL, 1940). 
Como requisitos, a legítima defesa exige, primeiramente, a presença de uma agressão 
injusta. Entende-se injusta a agressão contrária ao direito, isto é, ilícita. Conclui-se que 
não cabe legítima defesa contra ações que estão protegidas por alguma causa de 
justificação. Assim, não cabe legítima defesa contra outra legítima defesa, a não ser que 
ocorra excesso desta última. Ademais, a agressão deve ser atual (estar acontecendo no 
presente momento) ou iminente (estar para ocorrer no desdobramento imediato dos fatos), 
não cabendo legítima defesa contra agressões passadas ou localizadas em um futuro 
remoto. 
A lei também exige o uso moderado dos meios necessários. Considera-se necessário o 
21 
 
meio menos lesivo dentre aqueles capazes de repelir uma agressão. Assim, quando 
policiais utilizam a força contra uma multidão que se tornou violenta em um protesto, 
fazem uso de armamento não letal, mas, para impedir um roubo armado, é possível que o 
uso de força letal seja necessário. O uso moderado é determinado por dois fatores: a 
finalidade defensiva e a existência de uma agressão atual ou iminente. Assim, quando a 
agressão cessar de forma clara, a continuidade da agressão será imoderada. 
A doutrina considera um excesso intensivo aquele no qual o meio defensivo é claramente 
desnecessário e um excesso extensivo aquele no qual o uso é imoderado. O Código Penal, 
no artigo 23, parágrafo único, estabelece que qualquer excesso, doloso ou culposo, em 
qualquer descriminante, pode ser objeto de punição. 
Cumpre ressaltar que o pacote anticrime (Lei nº 13.964/19) acrescentou um parágrafo 
único ao artigo 25, que passou a, supostamente, ampliar as hipóteses de legítima defesa 
no que diz respeito à ação de agente de segurança perante uma vítima feita refém 
“observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em 
legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a 
vítima mantida refém durante a prática de crimes” (BRASIL, 1940). 
Parte da doutrina penal critica imensamente esta nova regra. Primeiro, porque ela não 
elimina a obrigatoriedade de satisfazer todos os requisitos da legítima defesa previstos no 
caput e, por isso, trata-se de um exemplo de legítima defesa e não de uma nova hipótese 
de descriminante. Segundo porque não há qualquer razão para limitar uma pretensa 
expansão de uma causa de justificação aos agentes de segurança. Tratou-se, pois, de um 
mero aceno para uma classe política, ou seja, um direito penal simbólico sem qualquer 
real significado jurídico (BITENCOURT, 2020, p. 356). 
Importante dizer que existe alguma doutrina que afirma que o mencionado parágrafo 
único trouxe uma mudança efetiva, embora tímida: permite a reação perante o risco de 
agressão, que se diferencia da agressão iminente, pois o risco é contingente,isto é, 
apresenta alguma aleatoriedade, enquanto a agressão iminente é certa. 
O estrito cumprimento de dever legal, por sua vez, é apenas listado no Código Penal, 
no seu artigo 23, cabendo à doutrina conceituá-la. Tal descriminante compreende a prática 
de fatos típicos em virtude de uma obrigação prevista em norma geral. Assim, podemos 
exemplificar a ação de um oficial de justiça que, para cumprir um mandado de busca, 
viola um domicílio ou a ação da autoridade policial que, para prender em flagrante, vence 
a resistência passiva de alguém que acaba de praticar crime. 
Trata-se de excludente de ilicitude que compreende a prática de fatos típicos em virtude 
de uma atividade permitida ou fomentada pelo ordenamento jurídico. Normalmente não 
diz respeito à ação do funcionário público, mas à conduta do cidadão comum ao praticar 
condutas que são permitidas por lei, como a prática de um esporte violento ou a 
realização, por parte do médico, de uma cirurgia estética. 
O último elemento do conceito analítico de crime é aquele que sofreu a maior modificação 
ao longo do último século. Atualmente, é definida como um juízo de reprovação pessoal, 
composta de elementos normativos que refletem um juízo de censura que recai sobre 
aquele que pratica um fato típico e ilícito. Neste contexto, a culpabilidade é composta por 
3 elementos: a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de 
conduta diversa. 
A imputabilidade é a capacidade biopsicológica de compreender o caráter ilícito do fato 
ou de agir de acordo com este entendimento. No Brasil, tal capacidade é presumida, mas 
sua ausência pode ser reconhecida pelo juiz três situações. 
A primeira é a doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, 
conforme previsto no artigo 26 do Código Penal. Para que a imputabilidade seja afastada 
por força do artigo 26, normalmente, se faz um incidente de insanidade mental, previsto 
22 
 
no artigo 149 do Código de Processo Penal e, caso o inimputável seja perigoso, é possível 
aplicar medida de segurança, conforme previsto no artigo 96 e seguintes do Código Penal. 
A segunda hipótese é a menoridade e, aqui, o legislador optou por adotar um critério 
meramente biológico, de forma que o menor de 18 anos será inimputável, não importa se 
compreende de forma concreta ou não o caráter ilícito do fato, conforme se depreende da 
leitura do artigo 27 do Código Penal. 
Por fim, a embriaguez (intoxicação causada pela ação do álcool ou substância de efeitos 
análogos) pode afastar a imputabilidade, mas apenas quando for involuntária ou acidental, 
isto é, causada por caso fortuito (eventos imprevisíveis) ou força maior (evento previsível, 
porém inevitável, conforme redação do artigo 28 § 1º e 2º do Código Penal. 
Agora que já conhecemos com mais profundidade os elementos que definem o conceito 
analítico de crime e, tenha certeza, como um profissional que atuará no sistema jurídico-
penal você utilizará estes conhecimentos todos os dias. Contudo, lembre-se, este material 
deve ser o princípio e não o fim de seus estudos. 
FAÇA VALER A PENA 
Questão 1 
O delito é, sem dúvida, o objeto sobre o qual se debruça o direito penal. É um verdadeiro 
centro gravitacional do estudo jurídico-penal. Como todo objeto de estudo, o delito 
também pode ser abordado de várias formas. É possível considerar o delito como fato 
social, verificar suas condicionantes e suas consequências na relação social em que se vê 
inserido, é possível considerá-lo a partir de uma perspectiva criminológica dentro da ideia 
dos processos de criminalização, observando o modo pelo qual se determina o que vai ser 
crime e como reage o sistema penal ao fato concreto que se pretende incriminar. 
(BUSATO, 2020, p. 191) 
Marque a alternativa que elenca todos substratos do conceito de crime conforme 
entendimento que prevalece na doutrina brasileira. 
a. Fato típico, antijuridicidade e culpabilidade. 
 
b. Fato típico, nexo de causalidade e legítima defesa. 
 
c. Fato típico, culpabilidade e punibilidade. 
d. Estado de necessidade e estrito cumprimento do dever legal. 
e. Imputabilidade, punibilidade e potencial consciência da ilicitude. 
Questão 2 
No direito penal, a controvérsia sobre o conceito de ação também é intensa, mas limitada 
a definições de ação específicas da dogmática penal, cuja existência é restrita à ciência 
do direito penal – com exceção do modelo teleológico de ação e do modelo comunicativo 
de ação desenvolvidos pela sociologia. 
(SANTOS, 2017, p. 92) 
Assinale a alternativa que corresponde corretamente ao conceito de conduta adotado pelo 
Código Penal segundo a doutrina contemporânea. 
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23 
 
a. Causalista. 
 
b. Finalista. 
c. Neokantista. 
 
d. Teoria social. 
e. Teoria personalista. 
 
Questão 3 
O assunto nexo causal ganha ainda mais importância quando se verifica que o resultado 
não é efeito de um só comportamento, representado produto final de uma associação de 
fatores, entre os quais a conduta do agente aparece como seu principal (mas não único) 
elemento desencadeante. 
 (CUNHA, 2020, p. 300) 
Assinale a alternativa que elenca corretamente a teoria adotada pelo Código Penal para 
resolver as questões referentes às concausas relativamente independentes supervenientes. 
a. Equivalência dos antecedentes causais. 
b. Imputação objetiva. 
c. Teoria finalista. 
d. Causalidade adequada. 
e. Ubiquidade. 
REFERÊNCIAS 
BITENCOURT, C. R. Tratado de direito penal. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. 
BITTAR, N. Medicina Legal e noções de criminalística. 9 ed. Salvador: Juspodivm, 
2020. 
BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível 
em: https://bit.ly/3B8vuuK. Acesso em: 1 jul. 2021. 
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. 
Disponível em: https://bit.ly/2ULYasv. Acesso em: 07 de julho de 2021. 
BUSATO, P. C. Direito Penal. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2018. 
CUNHA, R. S. Manual de direito penal. 8. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. 
ESTEFAM, A. Direito penal esquematizado. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2017. 
GRECO, R. Curso de direito penal. 20 ed. Niterói: Impetus, 2018. 
PRADO, L. R. Tratado de direito penal brasileiro. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. 
SANTOS, J. C. Direito penal. 7. ed. Florianópolis: Empório do direito, 2017. 
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm
24 
 
 
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SEM MEDO DE ERRAR 
A situação-problema diz respeito a um dos principais temas desenvolvidos: o nexo de 
causalidade ou relação de causalidade, que pode ser definido como a relação de causa e 
efeito entre a conduta e o resultado material do delito. 
O Código Penal brasileiro, em seu artigo 13, caput, estabelece o conceito de causa 
definido pela teoria da equivalência dos antecedentes causais (Art. 13: o resultado, de que 
depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se 
causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido) ( BRASIL, 1940). 
A teoria nos obriga, quando da investigação do nexo de causalidade, a fazer uma 
eliminação hipotética dos antecedentes causais, de forma que, aparentemente, os agentes 
de ambos os ilícitos citados responderão pelos resultados. Porém, a situação-problema 
apresenta um complicador. Os desdobramentos causais descritos apresentam uma 
concausa relativamente independente superveniente, sendo necessária a aplicação da 
regra prevista no artigo 13, § 1º do Código Penal (§ 1º – A superveniência de causa 
relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; 
os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou) (BRASIL, 1940). 
Percebe-se, portanto, que o Código adota, aqui, a teoria da causalidade adequada, de 
forma que a eliminação hipotética dos antecedentes causais não é o bastante. É necessário 
verificar se o resultado é um desdobramento adequado da conduta e, caso não seja, a 
conclusão forçosa é o de que produziu o resultado por si só. 
25 
 
Assim, percebe-se que o agente que praticou a conduta contra Márcio não responderá 
pelo resultado, mas, no máximo, pela tentativa, pois o acidente produziu o resultado por 
si só. No enquanto, o agente que praticou a conduta contra Otávio poderá responder por 
homicídio, uma vez que a infecção é desdobramento ordinário do ferimento. 
AVANÇANDO NA PRÁTICA 
IMPUTABILIDADE E SUA EXCLUSÃO 
Intrigado pelo caso narrado anteriormente, João começou a acompanhar o futuro da 
investigação e da ação penal. Durante o inquérito policial, o delegado de polícia, no 
momento de colher os depoimentos pessoais e os interrogatórios, desconfiou da higidez 
mental daquele que esfaqueou Otávio. Ele se mostrava instável e contava uma versão 
completamente fantasiosa sobre o que ocorreu. João, pensando naquilo que aconteceria 
nos próximos momentos do procedimento investigatório e futuro processo penal, lembrou 
mais uma vez do que estudara: o possível transtorno mental do agente traz quais 
consequências jurídicas? 
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26 
 
UNIDADE I, SESSÃO 3 
CRIMES EM ESPÉCIE 
 
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PRATICAR PARA APRENDER 
Prezado aluno, nas seções anteriores, estudamos aspectos propedêuticos do direito penal, 
isto é, introdutórios e fundamentais para as ciências criminais. Na primeira seção, vimos 
quais são os princípios penais fundamentais, as fontes do direito penal e as diversas 
definições de crime. Na segunda seção, estudamos os substratos que perfazem o conceito 
analítico de crime, o que corresponde ao núcleo fundamental do direito penal. 
Acompanhamos o fato típico, a ilicitude e a culpabilidade, analisando seus principais 
elementos. Estes conhecimentos nos serviram de base para que, agora, possamos estudar 
os tipos penais que são essenciais à função do profissional da criminalística. 
Nesta seção, estudaremos aquelas normas incriminadoras cuja investigação mais depende 
do método científico empregado pela criminalística: o homicídio e suas qualificadoras, o 
furto, o roubo a posse e o porte irregular de arma e a embriaguez ao volante. Os temas 
ainda são jurídicos, porém imprescindíveis para que o perito criminal possa cumprir seu 
trabalho de forma completa e fundamentada. 
Prezado aluno, assim como fizemos nas duas primeiras seções, nesta situação-problema 
você vai se colocar na posição de um perito criminal recentemente concursado em uma 
27 
 
de suas atuações profissionais. 
Pois bem, imagine que você esteja acompanhando outra reprodução simulada de crime, 
desta vez de um delito patrimonial: César entrou em uma mercearia e, munido de uma 
arma de fogo, anunciou um roubo ameaçando a vida de Sônia, funcionária da loja. 
Contudo, Lúcio, policial militar, estava nas proximidades e, apesar de estar de folga, 
portava legalmente sua arma e entrou na mercearia para evitar o crime. César 
imediatamente disparou contra Lúcio, matando-o. Voltou-se para Sônia, mas, ao perceber 
que esta acabava de retirar uma arma de fogo de baixo do balcão, saiu correndo da loja 
sem nada levar. Sônia era a responsável pelo estabelecimento comercial e estava com o 
certificado de registro da arma de fogo de uso permitido, contudo, não tinha autorização 
para o porte da arma. 
Pensando então sobre as consequências jurídicas do fato em questão, você tenta acessar 
os conhecimentos sobre a matéria. Qual foi o crime praticado por César? Ele está 
consumado ou tentado? E quanto à Sônia? 
Estudemos, então, as mais relevantes normas penais para a prática jurídico-penal. 
CONCEITO-CHAVE 
HOMICÍDIO E FEMINICÍDIO 
Prezado aluno, a parte especial do Código Penal tem seu início no artigo 121. É nela que 
o nosso estatuto repressivo apresenta os delitos em espécie, criminalizando, pois, as 
condutas que violam os bens jurídicos que o direito penal existe para resguardar. 
Estudaremos alguns deles, importantes para o trabalho do profissional da criminalística, 
mas também analisaremos alguns constantes em leis penais especiais. Comecemos pelo 
crime de homicídio. (“Homicídio simples Art. 121. Matar alguém: pena – reclusão, de 
seis a vinte anos”) (BRASIL, 1940). 
Primeiramente, quanto à objetividade jurídica, trata-se de um delito que protege o mais 
importante dos bens jurídicos: a vida humana extrauterina. No que concerne à tipicidade 
objetiva, o homicídio é um delito de forma livre, isto é,não há um meio que o sujeito 
ativo deve seguir para obter o resultado material descrito no tipo. Este último, no entanto, 
deve ser definido em temos jurídicos e físico-biológicos, por isso, juristas e médicos 
tendem a marcar a cessação irreversível das funções celebrais como o fenômeno que 
marca este resultado. Assim, o homicídio consiste na conduta que, de qualquer forma, 
põe fim às atividades encefálicas de alguém (PRADO, 2018). 
Quanto ao sujeito ativo, o homicídio é crime comum, ou seja, pode ser praticado por 
qualquer pessoa, pois o tipo penal não exige qualquer qualidade ao agente. Como sujeito 
passivo pode figurar qualquer ser humano já nascido e com vida (a destruição da vida 
humana intrauterina é crime de aborto). 
No que diz respeito à tipicidade subjetiva, o homicídio depende de dolo em sua 
modalidade simples (art. 121, caput, CP), privilegiada (art. 121, § 1º, CP) e qualificada 
(art. 121 § 2º, CP), porém, há modalidade culposa no art. 121 § 3º e no Código Brasileiro 
de Trânsito, no art. 302. 
Quanto à consumação, o homicídio é delito material, consumando-se a partir da morte 
encefálica. 
A ação penal do homicídio é pública incondicionada. E a competência é do tribunal do 
júri para as modalidades dolosas e do juiz singular para as modalidades culposas. 
O crime de homicídio também apresenta modalidade privilegiadas e qualificadas (“§ 1º 
28 
 
Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou 
sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz 
pode reduzir a pena de um sexto a um terço”) (BRASIL, 1940). 
O relevante valor moral é considerado aquele de ordem individual, como a misericórdia. 
Assim, a eutanásia, na qual o agente que antecipa a morte de um paciente terminal para 
diminuir-lhe o sofrimento, resulta em homicídio privilegiado por relevante valor moral. 
Contudo, é bom lembrar que a ortotanásia, na qual o agente apenas oferece cuidados 
paliativos ao doente terminal deixando que sua condição evolua para o óbito, é 
regulamentada pela Resolução nº 1.805/06 do CFM. 
REFLITA 
A eutanásia é proibida no Brasil, uma vez que a vida é vista como bem jurídico 
indisponível. Porém, reflita, deveria ser assim independentemente da condição e da 
vontade do paciente? Se quiser ler mais sobre o assunto, leia Autonomia para morrer, 
eutanásia, suicídio assistido e diretivas antecipadas de vontade, de Maria Fátima Freire 
de Sá. 
O relevante valor social é aquele ligado aos interesses da coletividade, como o assassinato 
de um criminoso especialmente violento em determinada coletividade. Já o domínio de 
violenta emoção logo em seguida à injusta provocação da vítima depende de uma conduta 
ilícita por parte da vítima que retira a capacidade de autocontrole do sujeito ativo do 
crime. 
O tipo penal de homicídio também apresenta uma série de qualificadoras, em que a pena 
de reclusão é de 12 a 30 anos. Estudemos os principais elementos destas circunstâncias. 
§ 2° Se o homicídio é cometido: 
I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; 
II – por motivo fútil; 
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou 
cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou 
torne impossível a defesa do ofendido; 
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: 
Pena – reclusão, de doze a trinta anos. 
A paga e promessa de recompensa denota o chamado homicídio mercenário, 
prevalecendo na jurisprudência que a qualificadora não é automaticamente aplicada ao 
mandante, a não ser que a motivação deste também seja torpe (informativo 625 do 
STJ). Motivo torpe é aquele que apresenta um alto grau de reprovação ou censura e a lei 
utiliza, quanto a ele, uma técnica legislativa conhecida como interpretação analógica. 
Motivo fútil é conceituado como a razão desproporcional, pequena, insignificante. Tal 
qualidade é analisada normalmente a partir da comparação entre a conduta da vítima e a 
reação do homicida. 
O inciso III reflete os meios, ou seja, os instrumentos a partir dos quais o resultado morte 
pode surgir. Destacando os mais relevantes, considera-se veneno toda substância capaz 
de matar quando ministrada no organismo da vítima e a asfixia é todo meio que bloqueia 
a função respiratória. 
O inciso IV trata dos modos por meio dos quais o homicídio é facilitado. Considera-
se traição o ataque pelas costas ou com quebra de confiança depositada no agente. 
A emboscada ocorre com a ocultação do sujeito ativo, enquanto a dissimulação é o meio 
29 
 
de enganar ou incutir falsa percepção da realidade. 
O inciso V, por sua vez, expõe as hipóteses de conexão, em que o homicida pratica o 
crime para esconder ou facilitar outro. Importante dizer que quando o crime contra a vida 
é praticado para viabilizar a execução de crime futuro será qualificado mesmo que o crime 
em questão não venha a ser praticado. 
Em 2015, duas leis modificaram o § 2º do artigo 121 acrescentando duas qualificadoras 
ao homicídio. 
A Lei nº 13.104 positivou a polêmica circunstância do feminicídio, após uma comissão 
parlamentar de inquérito que concluiu que uma parte muito significativa dos homicídios 
contra as mulheres ocorriam no contexto doméstico ou familiar. Assim, o feminicídio, 
que não é um crime autônomo, mas sim uma qualificadora do homicídio, é mais uma ação 
afirmativa para o combate da violência contra a mulher e consiste na morte de mulher por 
razões da condição do sexo feminino. 
EXEMPLIFICANDO 
Ações afirmativas podem ser conceituadas como medidas governamentais, políticas 
públicas ou até atitudes da iniciativa privada para criar discriminações positivas dirimindo 
desigualdades em determinado setor da sociedade. Um famoso exemplo está nas cotas 
para afrodescendentes em universidades públicas ou vagas de emprego. No campo penal, 
podemos citar a lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) ou a própria qualificadora do 
feminicídio que aqui estudamos. 
Quanto à inclusão das transexuais femininas no elemento “mulher”, a doutrina se divide 
em pelo menos três correntes. A primeira afirma por um critério meramente biológico, 
não incluindo transexuais. A segunda apregoa um critério psicológico, incluindo as 
transexuais unicamente pela identidade de gênero. Por fim, o critério jurídico, que tende 
a ser majoritário, afirma que é o gênero constante no registro civil que deve prevalecer, 
seja este um reflexo do sexo biológico ou não (GRECO, 2018). 
As razões da condição do sexo feminino são conceituadas na norma penal explicativa 
constante no artigo 121, §2-A do CP (“§ 2o-A Considera-se que há razões de condição 
de sexo feminino quando o crime envolve: I – violência doméstica e familiar II – 
menosprezo ou discriminação à condição de mulher”) (BRASIL, 1940). 
A violência doméstica, por sua vez, está conceituada desde 2006 no artigo 5º da Lei nº 
11.340 
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher 
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento 
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: 
I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio 
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente 
agregadas; 
II – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que 
são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade 
expressa; 
III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido 
com a ofendida, independentemente de coabitação. 
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação 
sexual. 
30 
 
Avancemos para os mais icônicos dos crimes contra opatrimônio: furto e roubo. 
O crime de furto está previsto no artigo 155 do Código Penal. (“Art. 155 – Subtrair, para 
si ou para outrem, coisa alheia móvel: pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa”) 
(BRASIL, 1940). 
A objetividade jurídica do delito é a proteção do patrimônio, na figura da propriedade e 
da posse. 
Quanto à tipicidade objetiva, o verbo núcleo “subtrair” significa retirar, obter 
diretamente, no sentido de inverter o título da posse de uma coisa alheia móvel. Assim, 
caso o agente já tenha a posse de um item e decida se apoderar dele clandestinamente o 
crime será de apropriação indébita ou estelionato. No que concerne ao objeto material do 
furto, a coisa alheia móvel é aquela que pode ser transportada sem perder sua unidade 
equiparando-se a esta as energias que tenham valor econômico (art. 155, § 3º, CP). 
No diz respeito ao sujeito ativo, o furto é um crime comum, praticável por qualquer 
pessoa, enquanto o sujeito passivo é o proprietário da coisa e, segundo alguns 
doutrinadores, também o possuidor. 
O tipo subjetivo é o dolo, mas também é necessário a vontade de se apoderar do bem 
definitivamente, isto é, o furto apresenta um especial fim de agir (subtrair a coisa para si 
ou para outrem) de forma que o chamado furto de uso será fato atípico. 
Quanto à consumação, há grande divergência doutrinária, prevalecendo o entendimento 
que o furto se consuma a partir da inversão da posse da coisa alheia móvel, mesmo que 
por um curto período, sendo prescindível qualquer detenção mansa ou pacífica. 
A ação penal no furto é pública incondicionada e a competência é do juiz singular, 
geralmente estadual. 
O furto tem uma majorante no § 1º, uma figura privilegiada no § 2º e qualificadoras nos 
parágrafos 4º, 4º-A e 5º (“§ 1º – A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado 
durante o repouso noturno”) (BRASIL, 1940). 
Entende-se que repouso noturno não se confunde com noite, mas é definido pelos 
costumes locais. Prevalece também que o local do furto não precisa ser residencial e nem 
é necessário que existam pessoas repousando em seu interior “(§ 2º – Se o criminoso é 
primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão 
pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa”) 
(BRASIL, 1940). 
Furto privilegiado exige que a coisa furtada seja de pequeno valor, o que não se confunde 
com valor insignificante, que pode levar à atipicidade material a depender da presença 
dos demais requisitos do princípio da insignificância. Ademais, o agente ainda deve ser 
primário, isto é, não deve haver reincidência cuja definição está no artigo 63 do CP. 
Furto qualificado 
§ 4º – A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: 
I – com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; 
II – com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; 
III – com emprego de chave falsa; 
IV – mediante concurso de duas ou mais pessoas. 
§ 4º – A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de 
explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. 
§ 5º – A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor 
que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. 
Os 4 incisos do § 4º tipificam 7 qualificadoras ao crime de furto. Analisemos os elementos 
das mais relevantes. Obstáculo é tudo aquilo que serve para proteger a coisa que se quer 
subtrair, sendo necessário a destruição total ou parcial do obstáculo demonstrada por 
31 
 
perícia para se aplicar o inciso I. No inciso II há 4 qualificadoras. Abuso de 
confiança pressupõe um vínculo pessoal entre autor e vítima no qual aquele aproveita do 
crédito depositado por esta. Importante notar que a confiança deve ser demonstrada e não 
presumida por mera relação de trabalho ou amizade. Fraude é qualquer meio utilizado 
para enganar a vítima, diminuindo a vigilância para com o bem. Escalada é qualquer 
meio de entrada anormal, que exige esforço incomum e destreza é a habilidade manual 
que permite a subtração sem que a vítima perceba. Entende-se por chave falsa qualquer 
instrumento que simule a função a função da chave verdadeira, tendo ou não formato de 
chave. O concurso de pessoas qualificará o furto quando dois ou mais agentes colaboram 
para a subtração, incluindo-se na conta os inimputáveis, sendo desnecessário que todos 
participem diretamente da subtração. Por fim, a Lei nº 13.654/18 incluiu a modalidade 
qualificada mais gravosa do furto até então, a subtração utilizando-se de artefato 
explosivo, em uma clara tentativa de aumentar a pena do crime nas famosas subtrações 
de valores em caixas eletrônicos por meio do uso de dinamite ou substância semelhante. 
Segundo o anexo III do decreto nº 10030/19, explosivo é: “tipo de matéria que, quando 
iniciada, sofre decomposição muito rápida, com grande liberação de calor e 
desenvolvimento súbito de pressão” (BRASIL, 2019). 
O crime de roubo, por sua vez, representa um tipo penal mais amplo e grave do que o 
delito de furto e é previsto no artigo 157 do CP (“Art. 157 – Subtrair coisa móvel alheia, 
para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-
la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: pena - reclusão, de 
quatro a dez anos, e multa”) (BRASIL, 1940). 
A objetividade jurídica do roubo é a proteção do patrimônio, na figura da propriedade e 
da posse, mas também a integridade física e psíquica e até mesmo a vida da vítima. 
Quanto à tipicidade objetiva, o verbo núcleo “subtrair” significa retirar, obter 
diretamente, no sentido de inverter o título da posse de uma coisa alheia móvel. Como 
modo de execução, o roubo possui a violência, que significa aplicação de força física, 
potencialmente causadora de lesão (vis corporallis) ou a grave ameaça, que se refere à 
promessa de um mal grave, iminente e inevitável (vis compulsiva). Há ainda um terceiro 
modo, que é o recurso que reduz a vítima à incapacidade de resistência (violência 
imprópria), como quando ingere um sonífero. 
No diz respeito ao sujeito ativo, o roubo é um crime comum, praticável por qualquer 
pessoa, enquanto o sujeito passivo é o proprietário da coisa e, segundo alguns 
doutrinadores, também o possuidor, bem como a vítima da violência e da grave ameaça. 
O tipo subjetivo é o dolo, mas também é necessário a vontade de se apoderar do bem 
definitivamente, isto é, o roubo tem um especial fim de agir (subtrair a coisa para si ou 
para outrem). Contudo, o roubo de uso não será conduta atípica, mas sim crime de 
constrangimento ilegal do artigo 146 do Código Penal. 
Quanto à consumação, assim como no crime de furto, há grande divergência doutrinária, 
prevalecendo o entendimento que o roubo se consuma a partir da inversão da posse da 
coisa alheia móvel, mesmo que por um curto período, sendo prescindível qualquer 
detenção mansa ou pacífica (teoria da amotio). Aliás, esta posição foi positivada na 
súmula 582 do STJ. 
A ação penal no roubo é pública incondicionada e a competência é do juiz singular, 
geralmente estadual. 
Os §§ 2º e 2º-A do artigo 157 abordam uma série de majorantes, enquanto o § 3º do art. 
157 estabelece duas qualificadoras relacionadas ao resultado do possível uso de violência 
para viabilizar a subtração. 
32 
 
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: 
I – (revogado); 
II – se há o concurso de duas ou mais pessoas; 
III – se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal 
circunstância. 
IV – se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro 
Estado ou para o exterior; 
V – se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. 
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou 
isoladamente, possibilitemsua fabricação, montagem ou emprego. 
VII – se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca; 
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): 
é exercida com emprego de arma de fogo; 
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou 
de artefato análogo que cause perigo comum. 
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso 
restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. 
(BRASIL, 1940) 
Você deve ter percebido que boa parte das majorantes do roubo aparecem no crime de 
furto enquanto qualificadoras, mas algumas se destacam. O inciso I do § 2º continha a 
causa de aumento relativa ao emprego de arma (de fogo ou branca), na violência ou grave 
ameaça até ser revogado pela Lei nº 13.654/18 que acrescentou o § 2º –A que hoje está 
presente no tipo, estabelecendo uma causa de aumento de 2/3 para o emprego de arma de 
fogo (cujo conceito veremos a seguir). Então, por algum tempo, o roubo feito com 
emprego de arma branca permaneceu simples por ausência de previsão legal, o que gerava 
muitas críticas pela doutrina. Assim, o pacote anticrime endereçou a questão, criou o 
inciso VII do § 2º e novamente positivou a majorante no caso de emprego de arma branca 
(o que não pode retroagir, por força do princípio da legalidade). A Lei nº 13.964/19 
também acrescentou um § 2º-B incrementando ainda mais a pena em caso de arma de 
fogo de uso restrito ou proibido. Já o § 3º prevê que se em decorrência da violência 
ocorrer: a) lesão corporal grave, a pena será de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e 
multa; b) morte, a pena será de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. 
Quanto ao roubo qualificado, as modalidades dependem de violência enquanto modo de 
execução e, quando esta violência, utilizada para instrumentalizar a subtração, resulta na 
morte, a doutrina jurídica chama o crime resultante de latrocínio. Existem alguns pontos 
relevantes neste crime qualificado. Primeiramente, o resultado qualificador não 
necessariamente surgirá a partir do preterdolo (dolo na conduta e culpa no resultado), mas 
o crime também aceita o dolo no resultado qualificador. Ademais, a vítima morta não 
precisa necessariamente ser aquela que possui o patrimônio subtraído, sendo possível que 
um terceiro morra no contexto e ainda assim o latrocínio permanecerá tipificado. Aliás, 
há entendimento no STF no sentido de que a pluralidade de mortos nem mesmo 
desvirtuará a unidade do crime (informativo 855 do STF). Importante compreender que 
o latrocínio se consuma a partir do momento em que a vítima morre, independentemente 
do sucesso da subtração (súmula 610 do STF). Assim, é possível que o latrocínio fique 
na modalidade tentada quando o resultado morte é desejado pelo agente, bastando que 
este não se consume. Não haverá latrocínio, entretanto, caso a violência não tenha a 
subtração como finalidade (CUNHA, 2019). 
EXEMPLIFICANDO 
33 
 
• Caso o agente mate a vítima para subtrair-lhe a carteira, o latrocínio estará 
consumado ainda que a subtração não se concretize. 
• Caso o agente tente matar a vítima para subtrair-lhe a carteira, mas não 
consiga por circunstâncias alheias à sua vontade, haverá latrocínio 
tentado, ainda que a subtração seja bem-sucedida. 
Avançando pelas leis penais especiais, vamos para o estatuto do desarmamento que 
apresenta vários tipos penais relevantes para a função do profissional da criminalística. 
Estudaremos, então, as diferenças entre os crimes de posse e porte irregular de arma de 
fogo 
Posse irregular de arma de fogo de uso permitido 
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso 
permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua 
residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o 
titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: 
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 
Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido 
Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda 
que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de 
fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com 
determinação legal ou regulamentar: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Inicialmente, quanto à objetividade jurídica, os crimes do estatuto do desarmamento 
protegem a incolumidade pública, bem jurídico coletivo. Quanto à tipicidade objetiva, a 
diferença dos crimes de posse e porte está no fato de que a posse ocorre intramuros, isso 
é, no interior da residência (ou suas dependências) ou local de trabalho do agente, 
enquanto o crime de porte ilegal ocorre (no verbo portar) em qualquer lugar alheio a estes 
locais. Ademais, o crime de porte ilegal apresenta vários outros verbos núcleos que 
incluem até mesmo a cessão ou empréstimo da arma. 
Quanto ao objeto material, os crimes dos artigos 12 e 14 se referem às armas de fogo, 
acessórios ou munições de uso permitido, cujas características determinantes constam em 
vários decretos federais que regulamentam o estatuto do desarmamento. 
No que tange à tipicidade subjetiva, são crimes dolosos, que prescindem de qualquer 
finalidade específica. Quanto ao momento de consumação, são infrações de mera 
conduta e de perigo abstrato, ou seja, não é necessário comprovar sequer que a arma 
portada estava municiada (embora deva ser capaz de realizar disparos, caso contrário, o 
crime é impossível por absoluta impropriedade do objeto). 
São crimes de ação penal pública incondicionada e de competência do juiz singular. 
ASSIMILE 
Segundo o Decreto nº 10.030/2019: 
Arma de fogo: arma que arremessa projéteis empregando a força expansiva dos gases, 
gerados pela combustão de um propelente confinado em uma câmara, normalmente 
solidária a um cano, que tem a função de dar continuidade à combustão do propelente, 
além de direção e estabilidade ao projétil. 
Acessório de arma de fogo: artefato que, acoplado a uma arma, possibilita a melhoria 
do desempenho do atirador, a modificação de um efeito secundário do tiro ou a 
modificação do aspecto visual da arma. 
34 
 
O Estatuto do Desarmamento também criminaliza de forma diferente a posse e o porte de 
arma de fogo de uso restrito ou proibido em seu artigo 16, com um § 1º que resume várias 
figuras equiparadas. É também importante compreender que as características que fazem 
a arma de fogo ser de uso restrito ou proibido encontram-se descritas no Decreto nº 
10030/19. 
Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito 
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, 
ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou 
ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso restrito, sem autorização e em 
desacordo com determinação legal ou regulamentar: 
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. 
(BRASIL, 2003) 
Para concluir os comentários sobre o Estatuto do Desarmamento, ressaltemos o artigo 15 
que criminaliza autonomamente o delito de disparo de arma de fogo. 
Disparo de arma de fogo 
Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas 
adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como 
finalidade a prática de outro crime: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
(BRASIL, 2003) 
Perceba que o delito é expressamente subsidiário, isto é, só haverá crime de disparo de 
arma de fogo quando este não servir para a prática de outro crime, como acontece no 
disparo que instrumentaliza um homicídio. 
Finalizemos o nosso voo panorâmico pelos crimes em espécie que são relevantes para o 
trabalho do criminalista com o estudo do crime de embriaguezao volante, previsto no 
artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro. 
Embriaguez ao volante e posse irregular de arma 
Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da 
influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: 
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a 
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. 
(BRASIL, 1997) 
A objetividade jurídica do tipo é a segurança viária, bem jurídico transindividual 
tutelado por todo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O sujeito ativo é qualquer 
pessoa, sendo um crime comum. O sujeito passivo é a própria coletividade, tratando-se 
de um crime vago. Quanto à tipicidade objetiva, o verbo núcleo é conduzir, o que 
pressupõe a direção de um veículo automotor terrestre, cujo conceito se encontra no anexo 
1 do CTB. Tal condução deve ser feita com a capacidade psicomotora alterada em razão 
da influência de álcool ou substância análoga, o que pode ser provado por uma série de 
maneiras previstas no § 1º do artigo. 
§ 1º As condutas previstas no caput serão constatadas por: (Incluído pela Lei nº 12.760, 
de 2012) 
I – concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual 
ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou 
II – sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade 
35 
 
psicomotora. 
§ 2º A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia 
ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de 
prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. 
§ 3º O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia ou 
toxicológicos para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. 
§ 4º Poderá ser empregado qualquer aparelho homologado pelo Instituto Nacional de 
Metrologia, Qualidade e Tecnologia – INMETRO – para se determinar o previsto 
no caput. 
A forma mais segura de comprovação da capacidade psicomotora alterada é o exame de 
sangue, mas o teste em aparelho de ar alveolar pulmonar (popularmente conhecido como 
bafômetro) é permitido por lei. É extremamente importante notar, entretanto, que, devido 
ao princípio da não autoincriminação (resumido no brocardo latino nemo tenetur se 
detegere), presente no Pacto de San José da Costa Rica, internalizado pelo Decreto Nº 
678/92 ninguém está obrigado a participar de tais exames nem a recusa pode ser 
interpretada em seu desfavor (STF, HC 93.916/PA). Todavia, a partir da reforma operada 
pela Lei nº 12.760/12, permite-se a prova testemunhal ou exame de corpo de delito 
indireto ou supletivo, o que foi corroborado pela Lei nº 12.971/14 que acrescentou o § 2º 
citado (LIMA, 2020). 
FAÇA VALER A PENA 
Questão 1 
Infelizmente, inúmeras infrações penais são praticadas no interior dos lares, no seio das 
famílias. Desde agressões verbais, ofensivas às honras subjetiva e objetiva das pessoas, 
passando por ameaças, lesões corporais, crimes contra o patrimônio, violências sexuais, 
homicídios e tantos outros. Esses fatos passaram a merecer uma atenção especial dos 
criminólogos, que identificaram os chamados broken homes. (lares desfeitos ou 
quebrados) como fonte de delitos dentro, e também fora deles. 
(GRECO, 2018, p. 38) 
Marque a alternativa que sintetiza o crime de feminicídio. 
a. O homicídio de mulher praticado por motivo torpe. 
b. O homicídio de mulher por razões da condição do sexo feminino. 
c. O homicídio de mulher por motivo fútil. 
d. O homicídio de mulher por meio cruel. 
e. O homicídio de mulher por meio que dificulta a defesa da vítima. 
 
Questão 2 
Em referendo realizado em outubro de 2005, 63% dos brasileiros votaram favoravelmente 
à comercialização de armas de fogo, acessórios e munições. Conquanto mantida a 
comercialização, a Lei nº 10.826/13 impôs rígido controle de armamento, adotando uma 
política de desarmamento da população civil, restringindo ao máximo a possibilidade de 
as pessoas possuírem e portarem armas de fogo e munições (LIMA, 2020, p. 168). 
Associe os seguintes enunciados referentes ao Estatuto do Desarmamento. 
https://conteudo.colaboraread.com.br/202102/INTERATIVAS_2_0/FUNDAMENTOS_DE_INVESTIGACAO_E_CRIMINALISTICA/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-1%20.item-1
https://conteudo.colaboraread.com.br/202102/INTERATIVAS_2_0/FUNDAMENTOS_DE_INVESTIGACAO_E_CRIMINALISTICA/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-1%20.item-2
https://conteudo.colaboraread.com.br/202102/INTERATIVAS_2_0/FUNDAMENTOS_DE_INVESTIGACAO_E_CRIMINALISTICA/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-1%20.item-3
https://conteudo.colaboraread.com.br/202102/INTERATIVAS_2_0/FUNDAMENTOS_DE_INVESTIGACAO_E_CRIMINALISTICA/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-1%20.item-4
https://conteudo.colaboraread.com.br/202102/INTERATIVAS_2_0/FUNDAMENTOS_DE_INVESTIGACAO_E_CRIMINALISTICA/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-1%20.item-5
https://conteudo.colaboraread.com.br/202102/INTERATIVAS_2_0/FUNDAMENTOS_DE_INVESTIGACAO_E_CRIMINALISTICA/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-1%20.item-5
36 
 
I. Arma de fogo. 
II. Acessório de arma de fogo. 
III. Disparo de arma de fogo. 
IV. Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido. 
V. Posse irregular de arma de fogo. 
a. Crime expressamente subsidiário. 
b. Crime que ocorre intramuros. 
c. Crime que ocorre extramuros. 
d. Artefato que, acoplado a uma arma, possibilita a melhoria do desempenho do 
atirador, a modificação de um efeito secundário do tiro ou a modificação do aspecto 
visual da arma. 
e. Arma que arremessa projéteis empregando a força expansiva dos gases, gerados pela 
combustão de um propelente confinado em uma câmara, normalmente solidária a 
um cano, que tem a função de dar continuidade à combustão do propelente, além de 
direção e estabilidade ao projétil. 
a. I-a; II-b; III-c; IV-d; V-e. 
b. I-e; II-d; III-c; IV-a; V-b. 
c. I-e; II-d; III-a; IV-c; V-c. 
d. I-c; II-b; III-c; IV-a; V-e. 
 
e. I-d; II-e; III-c; IV-a; V-b. 
Questão 3 
O tipo subjetivo está sedimentado no dolo, que, no caso, é a vontade livre e consciente de 
subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. O elemento subjetivo do injusto está 
consubstanciado no especial fim de agir, propósito de assenhoramento da coisa subtraída 
(delito de intenção), de fazê-la definitivamente sua e de outrem, independentemente da 
intenção de lucrar, uma vez que a conduta pode ter sido realizada por mero capricho ou 
vingança e nem por isso deixa de configurar o furto. 
(PRADO, 2018, p. 465). 
Considere as seguintes assertivas e marque a alternativa correta. 
I. Considerando que o tipo penal de furto possui um especial fim de agir, o chamado 
“furto de uso” é conduta atípica. 
II. A prática de furto feita em repouso noturno tem a pena majorada. Tal majorante é 
aplicada a todo crime de furto praticado entre às 18h e 6h. 
III. O furto praticado através de chave falsa é qualificado. Considera-se chave falsa 
qualquer instrumento capaz de simular a função da chave verdadeira, ainda que não 
tenha formato de chave. 
IV. Quando praticado por meio do emprego de explosivos, o crime de furto recebe 
qualificadora mais significativa em termos de aplicação de pena do que as outras 
modalidades de furto qualificado. 
a. Apenas I, II e IV são verdadeiras. 
b. Apenas I, II e III são verdadeiras. 
c. Apenas II e IV são verdadeiras. 
d. Apenas III e IV são verdadeiras. 
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37 
 
e. Apenas II e III são verdadeiras. 
REFERÊNCIAS 
BITENCOURT, C. R. Tratado de direito penal. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. 
BITTAR, N. Medicina legal e noções de criminalística. 9. ed. Salvador: Juspodivm. 
2020. 
BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível 
em: https://bit.ly/2U9lxfH. Acesso em: 1 jul. 2021. 
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. 
Disponível em: https://bit.ly/3ibbnDA. Acesso em: 07 de julho de 2021. 
BRASIL. Decreto 10.030, de 30 de setembro de 2019. Disponível 
em: https://bit.ly/2UFUhp6. Acesso em 7 de julho de 2021. 
BRASIL. Lei 9434/97. Lei de Transplante de Órgãos. Disponível 
em: https://bit.ly/3xEFGJ1. Acesso em 7 de julho de 2021. 
BRASIL. Lei 9.503/97. Código de Trânsito Brasileiro. Disponível 
em: https://bit.ly/3efwIdD. Acesso em: 7 de julho de 2021. 
BRASIL. Lei 10.826/03. Estatuto do desarmamento. Disponível 
em: https://bit.ly/2TYnDze. Acesso em: 7 de julho de 2021. 
BUSATO, P. C. Direito Penal. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2018. 
CUNHA, R. S. Manual de direito penal. Salvador: Juspodivm, 2019. 
ESTEFAM, A. Direito penal esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. 
GRECO, R. Curso de direito penal, volume II. 15. ed. Niterói, RJ: Impetus, 2018. 
LIMA, R. B. Legislação criminal especial comentada. Salvador: Juspodivm, 2020. 
PRADO, L. R. Curso de direito penal brasileiro. 16. ed. São Paulo: Thomson Reuters, 
2018. 
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FOCO NO MERCADO DE TRABALHO 
 
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Decreto/D10030.htm#art6
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9434compilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503compilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.826.htm
38 
 
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SEM MEDO DE ERRAR 
Na situação-problema descrita anteriormente, César anunciou um roubo em uma 
mercearia e acabou matando Lúcio, policial militar à paisana que tentou impedir o assalto. 
Após a morte, César fugiu sem levar nada, pois, Sônia, funcionária do estabelecimento 
que seria roubado, sacou a arma que tinha embaixo do balcão. 
Neste contexto, César responderá por um único crime de latrocínio consumado, previsto 
no artigo 157 § 3º do Código Penal. 
Roubo 
Art. 157 – Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou 
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade 
de resistência: 
Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa. 
§ 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018) 
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; 
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. 
Conforme pacificado na jurisprudência, no crime de latrocínio, a vítima morta não precisa 
coincidir com a vítima patrimonial. Ademais, o crime se consuma a partir da morte 
independentemente do sucesso da subtração (súmula 610 do STF). 
Sônia, não praticou crime algum, pois possuía a arma intramuros, com certificado de 
registro, não se aplicando, pois o crime do artigo 12 da Lei nº 10.826/13. 
Posse irregular de arma de fogo de uso permitido 
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso 
permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua 
residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o 
titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: 
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 
AVANÇANDO NA PRÁTICA 
DIREITO A NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO 
Imagina que você, como policial civil, se deparou com um inquérito policial no qual um 
motorista, após se envolver em um acidente sem vítimas lesionadas, apresentava claros 
sinais de que estava sob a influência de substâncias psicoativas: olhos vermelhos, fala 
desconexa, irritabilidade e hálito etílico. Porém, ele se recusou a fazer o teste de 
alcoolemia e só existe a palavra do policial rodoviário atestando estes efeitos nos autos. 
Neste momento, você acessa seus conhecimentos para responder à pergunta: o agente 
ainda poderá ser indiciado e, eventualmente, punido? 
39 
 
RESOLUÇÃO 
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UNIDADE II, SESSÃO 1 
PROCESSO PENAL: INTRODUÇÃO 
 
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CONVITE AO ESTUDO 
Prezado aluno, na unidade anterior, você revisou temas essenciais de direito penal 
material. Estudamos os princípios e as normas penais, os conceitos de crime e seus 
substratos, o fato típico, a ilicitude e a culpabilidade e, por último, alguns interessantes 
tipos penais da parte especial do Código Penal e da legislação penal especial. Todos estes 
temas são essenciais ao exercício de qualquer profissão ligada ao sistema penal, mas são 
especialmente importantes ao profissional da criminalística. 
 
A partir desta seção, estudaremos os temas de direito processual penal que também são 
essenciais ao exercício cotidiano do perito criminal. Isso porque a perícia construirá, por 
meio do método científico, a prova técnica que instrumentalizará a ação penal, 
fundamentando condenações de culpados e garantindo a absolvição de inocentes. 
Por isso começaremos, na primeira seção, pela introdução ao processo penal, com os 
conceitos introdutórios e os princípios processuais penais fundamentais. 
 
Na segunda seção, estudaremos a modalidade de prisões processuais, incluindo a prisão 
em flagrante, preventiva e a temporária. 
41 
 
 
Na terceira e derradeira seção da unidade, estudaremos o mais importante dos temas de 
direito processual penal para o profissional da criminalística: a teoria geral da prova. 
PRATICAR PARA APRENDER 
Prezado aluno, quando imaginamos um profissional da criminalística, é inevitável 
reconhecer a importância do direito processual penal para seu dia a dia. O perito criminal 
utiliza o método científico para produzir a prova técnica que instrumentalizará o processo 
penal. 
 
Neste contexto, o conhecimento dos conceitos fundamentais do processo penal e dos 
princípios que o limitam e norteiam é essencial para o bom desempenho de seu trabalho. 
Afinal, a prova deve ser construída com a observância dos princípiosconstitucionais, caso 
contrário, a eventual ilicitude da prova prejudicará o processo como um todo. 
 
Assim, começaremos estudando o que é o processo, o procedimento, quais são seus 
princípios constitucionais e seus limites. 
 
 
Continuaremos as nossas situações-problema imaginando que você se encontra em um 
contexto típico do desempenho da carreira profissional na seara penal, seja como 
autoridade policial, advogado ou, principalmente, perito criminal. 
 
Imaginemos que você seja recém-concursado como delegado de polícia e, em seu 
primeiro plantão, se depare com dois presos por um crime de roubo majorado. O primeiro, 
João, afirma que não tem advogado e que não precisa de um, nem agora e nem em 
eventual processo, pois, embora não seja formado em direito, sabe muito bem quais são 
seus direitos e prerrogativas. Contudo, Artur, seu comparsa, afirmou que não falará nada 
sem a presença de seu advogado que acaba de chegar na delegacia. 
 
Neste momento, você acessa os seus conhecimentos sobre direito processual penal 
envolvendo o inquérito policial e os princípios processuais penais. Assim, responda: 
você, como advogado, poderia dar prosseguimento ao interrogatório sem a presença do 
advogado de João? Se a resposta for positiva, poderia João continuar sem seu advogado 
em eventual processo penal? Poderia você negar acesso ao advogado de Artur para 
conduzir o interrogatório mais rapidamente? 
Ao trabalho! 
CONCEITO-CHAVE 
Prezado aluno, o direito processual penal é o ramo jurídico que estuda as normas 
instrumentais para aplicação da lei penal. Isto é, trata-se do estudo sistêmico de princípios 
e regras que regulam a aplicação jurisdicional do direito penal, mas também as atividades 
investigativas da polícia judiciária e sua estruturação. Porém, não se engane. Não se trata 
de uma mera ciência acessória ou auxiliar. Nas palavras de Aury Lopes Jr. (2018, p. 33), 
42 
 
“o processo penal é um caminho necessário para alcançar-se a pena e, principalmente, um 
caminho que condiciona o exercício do poder de penar (essência do poder punitivo) à 
estrita observância de uma série de regras que compõe o devido processo legal”. Em 
outras palavras, a Constituição Federal condiciona a legitimidade da punição ao exercício 
da jurisdição: uma vez que ninguém pode ser considerado culpado antes do trânsito em 
julgado da sentença condenatória (conforme art. 5º LVII da CF) e que a sentença depende 
da correta observância das fases do processo, não poderá haver aplicação do direito penal 
sem os institutos processuais. Em palavras mais simples, o direito penal não tem qualquer 
realidade concreta fora do processo penal. 
 
Estabelecida a importância desta matéria, vamos expor seu objeto, escopo e limites, bem 
como os direitos fundamentais que a fundamentam. O direito processual penal estuda as 
normas ligadas aos processos e procedimentos que instrumentalizam a jurisdição penal, 
o que inclui a ação penal, os procedimentos comuns e especiais, a competência, os 
recursos e as medidas cautelares como as prisões processuais. Porém, a persecução 
começa antes do processo, de forma que este ramo do direito estuda também o inquérito 
policial e as atividades investigativas da polícia judiciária. 
 
A doutrina jurídica atribui ao processo penal pelo menos três características: a 
autonomia, uma vez que tem regras e princípios próprios e não é hierarquicamente 
inferior ao processo penal, a instrumentalidade, pois é um instrumento para aplicação da 
lei penal e normatividade, já que se trata de ciência normativa que atende a uma 
codificação específica: o Código de Processo Penal (CPP). 
 
Quanto à função ou finalidade, a doutrina costuma elencar uma finalidade imediata e 
outra mediata para a disciplina (ALVES, 2016). A finalidade imediata ou direta do 
processo, além de instrumentalizar o direito penal, permitindo a aplicação de pena a quem 
praticou o crime, consiste na preservação de direitos fundamentais do cidadão contra a 
arbitrariedade estatal. Assim, o processo justo é condição necessária para o exercício da 
jurisdição penal e o direito processual convive com a difícil tarefa de equilibrar a eficácia 
da lei penal com o respeito aos direitos e garantias do acusado. No que tange à finalidade 
mediata ou indireta, este ramo jurídico tem a mesma função do direito material penal: 
proteger os bens jurídicos resguardados pelas normas incriminadoras. 
ASSIMILE 
O processo penal é o ramo do direito que estuda os procedimentos pelos quais o Estado 
instrumentaliza seu poder-dever de punir. Suas características são a autonomia, 
instrumentalidade e normatividade. Sua função imediata é resguardar direitos enquanto 
possibilita a aplicação da lei penal. Sua finalidade mediata é proteger bens jurídicos. 
Como o processo penal tem a finalidade de preservar direitos enquanto garante a 
eficiência na aplicação da lei penal, vejamos agora os princípios que orientam o direito 
processual penal. 
 
Primeiramente, cabe lembrar que os princípios são mandamentos nucleares do sistema 
jurídico. São normas estruturantes do próprio sistema jurídico e estabelecem os limites e 
os objetivos do sistema jurídico. Servem de base para a integração, interpretação e 
aplicação do direito positivo (NUCCI, 2018). Vejamos, então, os mais importantes 
princípios constitucionais do processo penal. 
Comecemos com o princípio da ampla defesa, previsto explicitamente pelo artigo 5º, 
43 
 
LV, da Constituição Federal: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e 
aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e 
recursos a ela inerentes”. 
 
O princípio da ampla defesa garante que o réu possa se utilizar de todos os meios legais 
para se defender da imputação feita pela acusação. Este postulado constitucional 
reconhece a hipossuficiência do réu perante os amplos recursos e estruturas dos órgãos 
encarregados da persecução penal e, por isso, o acusado tem vários direitos exclusivos 
oriundos deste princípio: a garantia de autodefesa acompanhada da defesa técnica, a 
possibilidade de ajuizamento de revisão criminal (o que só pode acontecer em favor do 
réu), bem como a verificação da eficiência da defesa pelo magistrado que poderá 
desconstituir o advogado escolhido pelo réu caso perceba que este está indefeso. A 
doutrina costuma elencar dois desdobramentos deste princípio. O primeiro é o direito 
à autodefesa, que é aquela promovida diretamente pelo réu, normalmente em seu 
interrogatório. A Constituição, em seu artigo 5º, LXIII, garante o direito ao silêncio e, 
consequentemente, a possibilidade de que o réu minta em seu favor. Prevalece que esta 
última prerrogativa, no entanto, não permite que o réu acuse um inocente ou falseie a 
própria identidade, isso porque a parte da doutrina, a exemplo de Leonardo Barreto Alves 
(2016), defende que o réu não pode se calar perante o juiz na primeira fase do 
interrogatório judicial (art. 187, § 1º do CPP) que se refere às perguntas sobre sua 
qualificação pessoal. 
ASSIMILE 
STJ, SÚMULA 522: a conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial 
é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa. 
É preciso ainda diferenciar o direito à autodefesa do direito de audiência, pois este diz 
respeito à prerrogativa que o réu tem de ser ouvido no processo perante o juiz, o que 
também não se confunde com o direito de presença, que se refere à prerrogativa do réu 
de estar presente nos atos processuais da ação penal em que é julgado. Quanto a este 
último direito, discute-se se a ausência do réu gera nulidade quando seu defensor estava 
presente no ato, principalmente quando não existir prejuízo no que tange ao resultado do 
processo. 
 
O segundo desdobramento da ampla defesa consiste no direito à defesa técnica, que é 
aquela promovida por um defensor técnico, bacharel em direito, previamente aprovado 
em examede aptidão (advogado ou defensor público) e indisponível no processo. 
Havendo ausência de defensor constituído, o juiz deverá intimar o acusado para nomear 
outro advogado e, caso o réu permaneça inerte, deverá o juiz nomear um defensor dativo 
(Art. 263 do CPP). A defesa técnica redigirá todas as peças processuais imprescindíveis 
para o desenrolar da ação penal, o que incluirá a resposta à acusação, as alegações finais 
eventualmente realizadas sobre a forma de memoriais e eventuais recursos e petições. 
O princípio do contraditório, por sua vez, também é extraído do artigo 5º, LV da CF, e, 
segundo a doutrina mais aceita (DEZEM, 2020), apregoa que ambas as partes têm o 
direito de se manifestar sobre qualquer prova produzida ou fato alegado pela parte 
contrária. O princípio garante a ambas as partes o direito de ser intimado sobre fatos e 
provas, de se manifestar sobre fatos e provas e, acima de tudo, de efetivamente influenciar 
na decisão do juiz, ou seja, o contraditório não pode ser uma mera formalidade de troca 
de petições, devendo cada parte ter oportunidade genuína de manifestação de suas razões, 
teses e argumentos. 
44 
 
Cumpre ressaltar que o contraditório não tem incidência absoluta, apresentando pelo 
menos duas limitações segundo a doutrina. A primeira diz respeito ao inquérito policial 
que estudaremos ainda nesta seção. A segunda é referente às medidas que, por sua 
natureza, são incompatíveis com um contraditório prévio, como a interceptação 
telefônica. Contudo, o contraditório nestas últimas será apenas diferido, ou seja, adiado 
para um momento posterior quando a defesa terá acesso a tudo o que foi produzido e 
poderá arguir o que entender de direito (DEZEM, 2020). 
 
No processo penal, existem pelo menos duas importantes súmulas do Supremo Tribunal 
Federal com relação ao contraditório. 
STF, súmula 523: No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas 
a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu. 
(FAGA, 2014, p. 324) 
STF, súmula 701: No mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público contra 
decisão proferida em processo penal, é obrigatória a citação do réu como litisconsorte 
passivo. 
(FAGA, 2014, p. 844) 
O princípio da isonomia também é conhecido como o princípio da igualdade ou da 
paridade de armas, embora parte da doutrina afirme a paridade de armas é uma 
consequência da isonomia e não seu sinônimo (DEZEM, 2020). Este princípio é 
desdobramento do próprio artigo 5º da Constituição Federal que garante o direito de 
igualdade a todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país. 
 
No processo penal, o princípio da isonomia garante que os sujeitos processuais não terão 
desequilíbrios injustificados. Isso não quer dizer que o tratamento de acusação e defesa 
será absolutamente equivalente, mas que qualquer diferenciação siga critério razoável e 
lógico, que vise retirar as partes de seu natural estado de desigualdade e equipará-las no 
mesmo plano, conforme já dito no princípio da ampla defesa, pelo qual o acusado recebe 
prerrogativas em comparação ao órgão acusador, para que se trate os desiguais 
desigualmente na medida da sua desigualdade. 
EXEMPLIFICANDO 
Como exemplos de consequências práticas do princípio da isonomia, a a defesa técnica 
deve ser feita necessariamente por meio de bacharel em direito devidamente habilitado 
na OAB ou defensor público concursado, afinal a acusação necessariamente o será (art. 
263 do CPP). Ademais, deve haver igual possibilidade de manifestação entre acusação e 
defesa durante os atos processuais. 
Já o princípio do juiz natural é que afirma que ninguém deve ser julgado por um juiz que 
não seja previamente competente. Este princípio tem tripla previsão em nosso 
ordenamento jurídico. As duas primeiras estão na própria Constituição Feral, artigo 5º, 
incisos XXXVII e LIII, que preveem que “não haverá juízo ou tribunal de exceção” 
(BRASIL, 1988, n.p.) e que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela 
autoridade competente”, respectivamente. Já a terceira se encontra no Pacto de São José 
da Costa Rica, art. 8º, 1, cuja previsão é a seguinte: 
Art. 8º. [...] 1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro 
de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, 
45 
 
estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada 
contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, 
fiscal ou de qualquer outra natureza. 
(BRASIL, 1994, n.p.) 
Há pelo menos três garantias que se desdobram a partir do princípio do juiz natural. A 
primeira é o direito de ser julgado apenas por um juiz competente. A segunda é a de que 
somente os órgãos instituídos pela Constituição Federal possam exercer legitimamente a 
jurisdição. A terceira é a de que não podem existir tribunais de exceção, isto é, não se 
pode criar um juízo para julgar fato passado (DEZEM, 2020). Afinal, todo tribunal de 
exceção tem o viés da força política que o criou. 
REFLITA 
O tribunal de exceção mais significativo do século XX é, com certeza, o tribunal de 
Nuremberg que julgou os militares e políticos da Alemanha depois da segunda guerra 
mundial. Reflita: em que pese os horrores praticados pelos nazistas na Europa, é legítimo 
que os Estados vencedores na guerra organizem um tribunal de exceção para julgar os 
vencidos? 
Para satisfazer este princípio, a Constituição Federal estabelece a estrutura básica da 
competência jurisdicional da Justiça Federal e dos Estados. O Código de Processo Penal 
complementa, estabelecendo a competência em razão do local e da matéria. 
 
Estudemos agora, um dos mais importantes princípios do processo penal: o princípio da 
presunção da inocência ou do estado de inocência ou da situação jurídica de 
inocência ou da presunção de não culpabilidade encontra-se no art. 5º, LVII, da CF: 
“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal 
condenatória” (BRASIL, 1988, n.p.). 
 
Preferimos a expressão situação jurídica de inocência, do jurista Eugênio Pacelli de 
Oliveira (2015), uma vez que a inocência não depende de previsão legal, ela existe até 
que seja desmentida por sentença penal transitada em julgado. 
Há três importantes consequências do princípio do estado de inocência. Primeiramente, o 
ônus da prova cabe, em regra, à acusação, uma vez que o art. 156 do CPP estabelece que 
a prova incumbirá a quem fizer a alegação. Assim, deve a parte acusadora provar a 
materialidade e a autoria (fato típico) do crime objeto da imputação. A defesa, contudo, 
ainda deve provar a causa de exclusão de ilicitude e culpabilidade que eventualmente 
alegar. 
 
A segunda consequência está na excepcionalidade das prisões cautelares. A razão é 
simples: se o réu é inocente até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, sua 
prisão, antes deste marco, só pode se justificar por graves razões de cautela. Assim, as 
duas prisões cautelares do sistema penal brasileiro têm rígidos requisitos que devem ser 
demonstrados pela parte ou autoridade que requer ou representa a prisão; são elas: a prisão 
preventiva e a prisão temporária. A preventiva tem pressupostos estabelecidos no artigo 
312 do Código de Processo Penal (CPP). 
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão 
preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou 
do assistente, ou por representação da autoridade policial. 
46 
 
 
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da 
ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação 
da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e 
de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. 
(BRASIL, 1994, n.p.)Já os requisitos da prisão temporária se encontram na Lei nº 7.960/89, em seu artigo 1º. 
Estudaremos estes requisitos e todas as hipóteses das prisões processuais nas seções 
seguintes. 
 
Por fim, a terceira garantia oriunda do princípio da situação jurídica de inocência é a de 
que toda medida restritiva de direitos individuais deve ser decretada excepcionalmente. 
Isso inclui as medidas previstas no artigo 319 do CPP, que são alternativas à prisão 
preventiva, bem como as medidas investigativas como a quebra de sigilo fiscal, bancário 
e telefônico, a busca e apreensão domiciliar, dentre outras. Neste sentido, o artigo 282 do 
CPP estabelece a necessidade de se observar, como fundamento das medidas cautelares 
pessoais no processo penal, a necessidade de razões de cautela. 
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-
se a: 
 
I – necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, 
nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; (Incluído 
pela Lei nº 12.403, de 2011). 
 
II – adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições 
pessoais do indiciado ou acusado. 
(BRASIL, 1994, n.p.) 
Dediquemos um pouco de atenção para a persecução penal em si, que, normalmente, se 
inicia com a investigação do delito. 
 
O inquérito policial é um procedimento administrativo preparatório para a ação penal, 
conduzido por uma autoridade de polícia judiciária, que tem como objetivo a colheita 
preliminar de provas da materialidade e de autoria da infração penal para formação da 
convicção da parte acusadora, além da colheita de provas urgentes que podem 
desaparecer. 
O inquérito não um procedimento processual, ou seja, não se reveste das mesmas 
garantias e características do processo penal propriamente dito. Resumindo 
as características do inquérito, percebemos que se trata de um 
procedimento inquisitivo, uma vez que não há contraditório e ampla defesa durante o 
inquérito, mas apenas na fase processual. É bem verdade que a Lei nº 13.245/16 mitigou 
um pouco esta característica ao acrescentar o inciso XXI ao art. 7º do Estatuto da OAB, 
que passou a permitir que o advogado apresente razões e quesitos no inquérito, porém, a 
doutrina ainda aponta a inquisitividade como ínsita a este procedimento, pois a presença 
do advogado, embora não possa ser negada pelo delegado, sob pena de viciar os atos 
como o interrogatório, não é estritamente necessária no inquérito. 
A inexistência de nulidades é a segunda característica, pois tratando-se de um 
procedimento meramente informativo, seus eventuais vícios não maculam o processo, 
devendo acarretar apenas na ineficácia do ato em si. O inquérito é um procedimento 
escrito, conforme estabelecido no próprio artigo 9º do CPP, os atos orais são reduzidos a 
47 
 
termo. O sigilo é a quinta característica, pois suas peças informativas não são abertas ao 
público, uma vez que é necessário preservar a reputação do investigado de eventuais 
sensacionalismos. Contudo, o sigilo não é absoluto e, por isso, não é aplicável ao juiz, ao 
Ministério Público e ao advogado do investigado. No entanto, podem existir algumas 
diligências que, por sua própria natureza, não teriam eficácia caso o defensor a elas tivesse 
acesso desde que fossem deflagradas. A interceptação telefônica é um óbvio exemplo. 
Porém, uma vez documentada nos autos do inquérito, a diligência deverá ser 
integralmente revelada ao advogado, conforme apregoa o próprio Estatuto da OAB, Lei 
nº 8.906/94, no art. 7º, XIV e § 11, bem como na súmula vinculante 14 do STF. 
Art. 7º São direitos do advogado: 
 
XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo 
sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em 
andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar 
apontamentos, em meio físico ou digital; 
§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá delimitar o acesso 
do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda 
não documentados nos autos, quando houver risco de comprometimento da eficiência, da 
eficácia ou da finalidade das diligências. 
STF, Súmula vinculante 14: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso 
amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório 
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício 
do direito de defesa. 
(BRASIL, 1994) 
Também são características do inquérito policial a oficialidade, uma vez que é 
procedimento presidido pela polícia judiciária que é órgão oficial do Estado, 
a autoritariedade, já que o delegado de polícia que o preside é autoridade pública, 
a indisponibilidade, pois, conforme artigo 17 do CPP, uma vez instaurado, não pode a 
autoridade policial simplesmente determinar o arquivamento do inquérito. Este somente 
poderá ser arquivado mediante requerimento do Ministério Público e homologação do 
juiz. Finalmente, a oficiosidade é a característica perceptível nos crimes de ação penal 
pública, pois, nestas, a autoridade policial tem o dever de instaurar o inquérito de ofício. 
ASSIMILE 
São características do inquérito policial: inquisitividade, inexistência de nulidades, 
escrito, sigilosidade, oficialidade, autoritariedade, oficiosidade e indisponibilidade. 
O inquérito policial pode ser iniciado de ofício pela autoridade policial, por requerimento 
do ofendido, por delação de terceiro, por requisição da autoridade competente (MP ou 
juiz de direito, por exemplo) conforme consta no artigo 5º do CPP. É sempre bom lembrar 
que, nos crimes de ação penal pública condicionada à representação, sem esta o inquérito 
não pode se iniciar (art. 5º, § 4º) e nos crimes de ação penal privada, apenas quem tem 
qualidade para iniciar a ação poderá autorizar o inquérito (art. 5º, § 5º). 
 
Durante o procedimento, o delegado e seus agentes farão diversas diligências em prol de 
desvendar a materialidade e autoria da infração. Elas estão descritas nos artigos 6º e 7º do 
CPP, que merecem ser lidos integralmente. 
O prazo para finalizar o inquérito é de 30 dias (prorrogáveis) quando o investigado está 
48 
 
solto e 10 dias (improrrogáveis) quando o investigado está preso preventivamente. O 
inquérito terminará com um relatório no qual delegado poderá concluir ou não pelo 
indiciamento do investigado (art. 10, §§ 1º e 2º do CPP) a partir do qual o Ministério 
Público poderá requisitar novas investigações (art. 16 do CPP) ou oferecer a denúncia, 
iniciando o processo penal propriamente dito. 
É sempre bom lembrar que a opinião do delegado não vincula o promotor de justiça e que 
o próprio inquérito policial é procedimento dispensável para o início da ação penal, 
pois os pressupostos de admissibilidade desta podem ser angariados de outras formas. 
 
Falemos agora dos sistemas processuais. 
 
Por meio da história dos processos penais ao longo dos últimos milênios, é possível 
perceber 3 grandes sistemas de persecução penal: o sistema inquisitivo, o acusatório e o 
misto (NUCCI, 2018). 
 
O sistema inquisitivo originou-se em Roma e é caracterizado, precipuamente, pela 
concentração de poderes e de funções processuais nas mãos do juiz, que também atua 
como acusador e defensor. Ademais, em um sistema inquisitivo, a confissão do réu é 
considerada a “rainha das provas” e, por isso, mais valiosa que qualquer outra, sendo 
permitido até mesmo a tortura para obtê-la. O procedimento normalmente se dá de forma 
secreta e não é marcado pelo contraditório ou pela ampla defesa. 
 
O sistema acusatório nasceu na Grécia e tem clara separação entre acusação, defesa e 
julgador. Os procedimentos apresentam mais oralidade e publicidade, há contraditório e 
ampla defesa, um sistema de livre convencimento motivadona produção de provas e 
isonomia entre as partes. 
 
Um sistema misto é aquele que combina elementos de ambos os sistemas ou que tem 
uma fase processual inquisitiva seguida de uma fase processual acusatória. 
Em que pese haver doutrina que afirme que o sistema brasileiro é misto, uma vez que 
existe o inquérito policial, prevalece que a Constituição Federal estabelece os contornos 
de um sistema acusatório, que é nitidamente mais democrático e cujas características 
compõem boa parte dos princípios processuais penais constitucionais. 
FAÇA VALER A PENA 
Questão 1 
O termo inicial da prescrição da pretensão executória é a data do trânsito em julgado da 
sentença condenatória para a acusação, ainda que pendente de apreciação recurso 
interposto pela defesa que, em face do princípio ________________, impeça a execução 
da pena. Isso porque o art. 112, I, do CP (redação dada pela Lei 7.209/1984) dispõe que 
a prescrição, após a sentença condenatória irrecorrível, começa a correr “do dia em que 
transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação [...]”. (FAGA, 2014, p. 734) 
Complete a alternativa que apresenta um princípio Processual Penal. 
a. Presunção da inocência. 
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49 
 
b. Individualização da pena. 
c. Legalidade. 
d. Ofensividade. 
e. Subsidiariedade. 
Questão 2 
"Deve a acusação ser portadora de elementos – geralmente extraí¬dos da investigação 
preliminar (inquérito policial) – probatórios que justifiquem a admissão da acusação e o 
custo que representa o processo penal em termos de estigmatização e penas processuais. 
Caso os elementos probatórios do inquérito sejam insuficientes para justificar a abertura 
do processo penal, deve o juiz rejeitar a acusação.” 
(JUNIOR, 2021, p. 62) 
Considere as seguintes assertivas sobre o inquérito policial e marque quais estão corretas: 
I. É procedimento necessário para o oferecimento da denúncia. 
II. É procedimento que deve ser feito de forma escrita. 
III. É inquisitivo, isto é, não haverá, de regra, ampla defesa e contraditório. 
IV. O sigilo do inquérito, que se aplica ao advogado do investigado, serve para que o 
criminoso não se antecipe à acusação e fuja de sua responsabilidade. 
a. Estão corretas I e II. 
b. Estão corretas II e III. 
c. Estão corretas II e IV. 
d. Estão corretas I e III. 
e. Estão corretas I e IV. 
Questão 3 
Historicamente, há, como regra, três sistemas regentes do processo penal: a) inquisitivo; 
b) acusatório; c) misto. Entretanto, convém, desde logo, mencionar que, na atualidade, 
eles jamais conseguiram ser adotados, integral e individualmente, por um único 
ordenamento jurídico. Há vantagens de um que, associadas aos aspectos positivos de 
outro, constroem o mais apurado método de persecução penal (NUCCI, 2021, p. 38). 
Quanto aos sistemas processuais ao longo da história, o sistema _________ é marcado 
pelo cúmulo de funções nas mãos de um único agente processual. Já no sistema _______ 
as funções são plenamente distribuídas. Ademais, no sistema ________ a tortura para 
obtenção da confissão e a sigilosidade do procedimento eram a regra, enquanto que no 
sistema ________ o livre convencimento motivado e a publicidade costumam reinar. No 
Brasil, embora alguns autores afirmem que adotamos um sistema ______, tende a 
prevalecer que a Constituição Federal adotou os contornos de um sistema _________. 
Marque a alternativa que corresponde aos espaços na assertiva: 
a. Acusatório, inquisitivo, acusatório, inquisitivo, inquisitivo, acusatório. 
b. Inquisitivo, acusatório, inquisitivo, misto, misto, acusatório. 
c. Inquisitivo, acusatório, inquisitivo, acusatório, misto, acusatório. 
d. Acusatório, inquisitivo, inquisitivo, acusatório, misto, acusatório. 
e. Acusatório, inquisitivo, acusatório, acusatório, inquisitivo, acusatório. 
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50 
 
REFERÊNCIAS 
ALVES, L. B. M. Processo penal, parte geral. 6. ed. Salvador: Juspodivm, 2016. 
 
BITENCOURT, C. R. Tratado de direito penal. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. 
 
BITTAR, N. Medicina legal e noções de criminalística. 9. ed. Salvador: Juspodivm, 
2020. 
 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível 
em: https://bit.ly/3nfGRws. Acesso em: 5 jul. 2021. 
 
BRASIL. DECRETO No 678, de 6 de novembro de 1992 (Pacto de São José da Costa 
Rica). Disponível em: https://bit.ly/2YsyP8T. Acesso em 07 set 2021. 
 
BRASIL. DECRETO-LEI Nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo 
Penal). Disponível em: https://bit.ly/3hftN6b. Acesso em: 7 set. 2021 
 
BRASIL. LEI Nº 8.906, DE 4 DE JULHO DE 1994 (Estatuto da Advocacia e a Ordem 
dos Advogados do Brasil (OAB)). Disponível em: https://bit.ly/3hgnD5T. Acesso em 07 
Set. 2021 
 
BUSATO, P. C. Direito Penal. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2018. 
 
CUNHA, R. S. Manual de direito penal. Salvador: Juspodivm, 2020. 
DEZEM, G. M. Curso de processo penal. 6 ed. São Paulo: Thomson Reuteurs Brasil, 
2020. 
 
ESTEFAM, A. Direito penal esquematizado. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2017. 
 
FAGA, T. R. T. (Org.). Vade Mecum de Jurisprudência: STF e STJ. Rio de Janeiro: 
Forense; São Paulo: MÉTODO: 2014. Disponível em: https://bit.ly/38XcxxX. Acesso 
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GRECO, R. Curso de direito penal: parte especiaI. 15 ed. Niterói: Impetus, 2018. 
 
JUNIOR, A. C. L. L. Fundamentos Processo Penal. (7th edição). Editora Saraiva, 2021. 
Disponível em: https://bit.ly/3BRgFfx. Acesso em 8 set. 2021. 
 
 
 
LIMA, R. B. Legislação criminal especial comentada. Salvador: Juspodivm, 2020. 
 
LOPES JR., A. Direito processual penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. 
 
NUCCI, G. S. Curso de direito processual penal. 18.ed. Grupo GEN, 2021. Disponível 
em: https://bit.ly/3DYBYxr. Acesso em 8 set. 2021. 
 
OLIVEIRA, E. P. Curso de processo penal. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2015. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d0678.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8906.htm
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/978-85-309-5724-7/epubcfi/6/2%5b%3Bvnd.vst.idref%3Dcapa.xhtml%5d!/4/2/2%5b14ad176e-5783-4ae4-ad39-ece03ec43aa6%5d%4051:41
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9786555593020/epubcfi/6/2%5b%3Bvnd.vst.idref%3Dcapa2-0.xhtml%5d!/4/2/2%5b6c6c130b-2d44-40b4-f9d2-9377bf85a68b%5d%4047:1
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788530993627/epubcfi/6/2%5b%3Bvnd.vst.idref%3Dcover%5d!/4/2/2%5bb51178c9-baee-400b-ae91-a9df0741348b%5d%4051:45
51 
 
PRADO, L. R. Curso de direito penal brasileiro. 16. ed. São Paulo: Thomson Reuters, 
2018. 
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SEM MEDO DE ERRAR 
Prezado aluno, a situação-problema se refere às características do inquérito policial e aos 
princípios processuais penais. 
 
No caso em tela, o interrogatório poderia ser feito sem a presença do advogado de João 
sem maiores problemas. Isso porque o inquérito é um procedimento administrativo 
preparatório para a ação penal, conduzido por uma autoridade de polícia judiciária, que 
tem como objetivo a colheita preliminar de provas da materialidade e de autoria da 
infração penal para formação da convicção da parte acusadora. Por não ser um processo 
propriamente dito, os princípios da ampla de defesa e do contraditório não vigoram no 
inquérito, ou seja, ele é inquisitivo. Contudo, o Estatuto da OAB, Lei Federal nº 8.906/94, 
concede ao advogado o direito de acompanhar o seu cliente em interrogatório sob pena 
de invalidação do ato. 
52 
 
Art. 7º São direitos do advogado: 
 
XXI – assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de 
nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de 
todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou 
indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração: (Incluído pela Lei 
nº 13.245, de 2016) 
 
a) apresentar razões e quesitos; 
 (BRASIL, 1994, n.p.) 
Portanto, embora não seja estritamente necessário, o advogado presente não pode ser 
negado pelo delegado de polícia. Entretanto, João não conseguirá seguir sem advogado 
no processo penal uma vez que a inicial acusatória tenha sido oferecida, já que o processo 
penal se reveste de princípios constitucionais como a ampla defesa que exige a defesa 
técnica de todos os processados. Conforme dispõe o artigo 5º, LV da Constituição 
Federal: "aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral 
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” 
(BRASIL, 1988, n.p.). 
 
 
Ademais, o princípio da isonomia também exige a paridade de armas entre acusação e 
defesa e, como o promotor de justiça ou o advogado que oferece a queixa-crime para o 
ofendido será sempre bacharel em direito, o acusado também deve ter um profissional 
com as mesmas credenciais para protegê-lo. 
AVANÇANDO NA PRÁTICA 
INQUÉRITO POLICIAL E SUA FINALIZAÇÃO 
Acompanhamos anteriormente uma situação-problema na qual você, enquanto delegado 
de polícia, ponderava sobre decisões pertinentes ao interrogatório de dois indivíduos 
presos em flagrante: Artur e João. Imaginemos que o inquérito chegue ao final e você 
tenha chegado à conclusão de que os dois investigados não são os autores do fato: as 
vítimas, que prestaram depoimento logo após o ocorrido, afirmaram que não foram eles 
os criminosos que perpetraram o crime de roubo. Disseram que a polícia militar, depois 
de chamada, fez uma busca e prendeu os dois investigados que disseram ser os 
“criminosos de sempre” daquele bairro. Os verdadeiros criminosos não foram 
encontrados e, embora várias testemunhas tenham sido entrevistadas, nenhuma delas foi 
útil para descobrir a autoria delitiva. Não há câmeras de segurança e as possíveis 
diligências se esgotaram 
 
Neste contexto, você, mais uma vez, acessa seus conhecimentos de processo penal, afinal, 
trata-se de seu primeiro inquérito policial. Pergunta-se: você, como delegado, poderá 
simplesmente arquivar o inquérito policial? Caso a resposta seja negativa, o que deverá 
fazer? Sua opinião vinculará o promotor de justiça? 
RESOLUÇÃO 
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UNIDADE II, SESSÃO 2 
PRISÕES PROCESSUAIS E MEDIDAS 
CAUTELARES DIVERSAS 
 
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PRATICAR PARA APRENDER 
Prezado aluno, praticamente todos os dias somos bombardeados por notícias envolvendo 
o direito processual penal. Quase todas elas envolvem as prisões processuais e suas 
hipóteses. Porém, muito mais do que um simples conteúdo para aplacar sua curiosidade 
acerca da correção dos noticiários, esta seção trará conteúdo técnico-jurídico essencial 
para o profissional do direito ou da criminalística. Estudaremos a prisão em flagrante, a 
preventiva, temporária e as medidas cautelares alternativas da prisão. 
Neste momento você já deve estar acostumado com a lógica de nossas situações-
problema! Abordamos aqui uma experiência profissional fictícia envolvendo você em 
uma função investigativa na polícia judiciária. Imagine-se delegado de polícia 
participando da reconstituição simulada dos fatos: você se depara com um fato curioso: 
um crime de latrocínio, no qual o agente praticou um crime de latrocínio, extremamente 
violento, que deixou 2 mortos. Tamanha foi a comoção na cidade que, para a garantia da 
ordem pública, o juiz competente decretou a prisão preventiva de Tício, único criminoso 
reconhecido pela vítima, de ofício, ou seja, sem qualquer provocação. Com mais 
investigações, você, como delegado, identifica Mévio, segundo autor do delito e que está 
55 
 
foragido. Neste momento, você começa a acessar seus conhecimentos de direito 
processual penal para deduzir o futuro daquela prisão ou inquérito policial. 
 
Assim, responda: a prisão preventiva do agente descrita foi legal? Se não, o que ocorrerá? 
E mais: se a prisão de Tício for ilegal e Mévio ainda estiver foragido, por qual medida o 
delegado de polícia poderá representar, tendo em vista que Tício é um criminoso 
extremamente perigoso e Mévio está se evadindo da polícia. 
Esta será uma das mais importantes seções quanto aos seus estudos de processo penal. 
Vamos em frente! 
CONCEITO-CHAVE 
1. PRISÕES PROCESSUAIS: FLAGRANTE, AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA 
Olá, aluno, nós já estudamos, nas seções anteriores, que o processo penal democrático é 
marcado pelo princípio da presunção de inocência (ou estado de inocência) segundo o 
qual qualquer indivíduo deve ser considerado inocente até o trânsito em julgado de 
sentença condenatória. Vimos que uma das consequências destes princípios é a 
excepcionalidade das medidas que restringem direitos do pretenso criminoso. Nesta 
seção, estudaremos justamente estas medidas e, para melhor compreensão da temática, é 
ideal entender que os dispositivos do Código de Processo Penal (CPP) acerca do tema 
estão constantemente equilibrando dois interesses: a proteção da sociedade contra ações 
potencialmente perigosas de um possível criminoso e o direito individual de todo o 
cidadão à presunção de sua inocência. 
 
No processo penal, as medidas cautelares podemser reais (medidas assecuratórias, 
como o sequestro, o arresto e a hipoteca legal) probatórias (medidas que tangenciam à 
produção de provas) e pessoais. As últimas são as prisões ou medidas substitutivas da 
prisão e serão o objeto desta seção. 
Inicialmente é necessário apontar a diferença entre prisão penal e processual penal. A 
primeira é devida a partir de uma sentença penal transitada em julgado, sua aplicação é 
regulada pelo Código Penal e sua execução é regrada pela Lei de Execuções Penais. Já a 
segunda é aquela que se dá por razões de cautela, decretada antes do trânsito em julgado 
da sentença condenatória e regulada pelo Código de Processo Penal. Trata-se de prisões 
processuais ou provisórias no Brasil: a prisão em flagrante, a prisão preventiva e 
a prisão temporária. 
ASSIMILE 
As prisões penais são aquelas aplicadas a partir de uma sentença penal transitada em 
julgado e são reguladas pelo Código Penal e Lei de Execuções Penais. 
 
As prisões processuais são aquelas aplicadas a partir de razões de cautela e são as prisões 
em flagrante, preventiva e temporária. 
56 
 
Antes de falarmos sobre a prisão em flagrante e seus regramentos, cumpre ressaltar que 
para respeitar o princípio constitucional da proporcionalidade e o já citado princípio da 
presunção de inocência, o Código de Processo Penal estabeleceu, a partir da Lei nº 
12403/11, dois requisitos para aplicação de qualquer cautelar pessoal: a necessidade para 
aplicação da lei penal, para instrução ou investigação criminal ou, nos casos previstos, 
para evitar a prática de crimes (art. 282, I) e adequação da medida à gravidade do crime, 
circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado (art. 282, II). A 
primeira é chamada de periculum libertatis e a segunda de fumus comissi delicti e serão 
mais bem estudadas, no que tange às prisões objeto desta seção, conforme analisamos os 
requisitos específicos para cada espécie. 
 
Comecemos pela prisão em flagrante. 
Preceitua o art. 5.º, LXI, que “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem 
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de 
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei”. A regra, pois, é que 
a prisão, no Brasil, deve basear-se em decisão de magistrado competente, devidamente 
motivada e reduzida a escrito, ou necessita decorrer de flagrante delito, neste caso 
cabendo a qualquer do povo a sua concretização. Os incisos LXII, LXIII, LXIV e LXV, 
do mesmo artigo, regulam a maneira pela qual a prisão deve ser formalizada. 
(NUCCI, pág. 649, 2021) 
A prisão em flagrante é aquela na qual o agente é interrompido durante a prática da 
infração penal enquanto ela está ocorrendo, quando acaba de ocorrer ou ainda quando o 
agente é perseguido ou encontrado logo após a infração com os instrumentos que o fazem 
presumir ser o autor da infração. Conforme apregoa Aury Lopes (2018), esta prisão tem, 
na realidade, natureza precautelar e não é uma verdadeira medida cautelar pessoal, uma 
vez que não serve para garantir o resultado do processo, mas acontece como uma espécie 
de prelúdio ou instrumento da prisão preventiva. A evidência de tal natureza, para o autor, 
está na precariedade da prisão em flagrante, uma vez que esta durará apenas até a 
audiência de custódia, na qual o juiz, presentes os requisitos legais, deverá converter a 
prisão em preventiva, relaxá-la ou conceder liberdade provisória com ou sem fiança 
(LOPES, 2018). 
Importante ressaltar que esta posição não é unânime. Guilherme de Souza Nucci (2018) 
afirma que o flagrante tem natureza de prisão administrativa e é autorizado pelo texto 
constitucional, tendo em vista que seria ilógico, inaceitável e incompreensível se o 
ordenamento jurídico não aceitasse que o criminoso pudesse ser interrompido durante a 
prática de crimes. 
Adotando-se uma ou outra corrente, certo é que a Constituição Federal autoriza a prisão 
em flagrante no artigo 5º, inciso LXI, afirmando ainda que o juiz deve relaxar prisões 
ilegais no inciso LXV do mesmo artigo. Respectivamente: “ninguém será preso senão em 
flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, 
salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei” 
e “a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária” (BRASIL, 
1988, n. p.). 
 
O artigo 301 do Código de Processo Penal (CPP) autoriza qualquer do povo a prender 
quem estiver em flagrante delito e obriga a autoridade policial a fazê-lo. Assim, podemos 
dizer que, segundo a lei processual penal, o flagrante é facultativo para qualquer do povo 
e obrigatório para a autoridade policial, portanto, quando qualquer pessoa prende em 
flagrante estará em exercício regular de direito, enquanto que o policial faz a prisão em 
57 
 
estrito cumprimento de dever legal: “ art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades 
policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante 
delito” (BRASIL, 1941. n. p.). 
 
As modalidades da prisão em flagrante se encontram no artigo 302 do CPP. Examinemos 
uma a uma: “Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: I - está cometendo a 
infração penal; II - acaba de cometê-la” (BRASIL, 1941. n. p.). 
 
As modalidades dos incisos I e II refletem o flagrante próprio, isto é, a situação 
flagrancial propriamente dita, quando o agente está praticando a infração penal, caso em 
que a interrupção do crime levará à responsabilidade pela tentativa, ou quando esta acaba 
de ser praticada naquele momento, permitindo-se a punição pelo crime consumado: “III 
- é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em 
situação que faça presumir ser autor da infração”(BRASIL, 1941. n. p.). 
 
O inciso II traz o flagrante impróprio, também chamado de imperfeito ou quase 
flagrante. A doutrina se preocupa bastante com o significado da expressão “logo após”, 
costumando-se afirmar que a perseguição deve se iniciar em ato contínuo à execução do 
delito (ou no tempo necessário para que a polícia chegue ao local e comece a perseguir o 
agente), devendo ainda ser ininterrupta. Lembrando que a lei não impõe um prazo 
máximo de duração da perseguição, podendo esta durar por horas ou até dias, contanto 
que não seja interrompida e transformada em uma investigação. A ausência de duração 
máxima afasta um mito comum na consciência popular de que o flagrante só está presente 
nas primeiras 24 horas (ALVES, 2016). Vejamos o inciso IV: “é encontrado, logo depois, 
com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração”. 
 
O inciso IV aborda o flagrante presumido, ficto ou assimilado que, conforme explica 
Nucci (2018), é bastante comum em crimes patrimoniais quando o agente é encontrado 
pela polícia logo depois do furto ou roubo detendo a coisa alheia móvel que foi subtraída. 
Ademais, a expressão “logo depois” do inciso IV merece ser interpretada de forma mais 
restrita do que o “logo após” do inciso III, tendo em vista que, quando não há perseguição, 
existe maior fragilidade probatória. Assim, não cabe prisão em flagrante quando, através 
de diligências investigatórias, muitas horas após o ocorrido, a autoridade policial chega 
ao autor do delito, ainda que este esteja de posse do instrumento do crime (NUCCI, 2018). 
EXEMPLIFICANDO 
O sujeito ativo da infração é surpreendido enquanto esfaqueia a vítima para subtrair-lhe 
a carteira. O flagrante será próprio. 
 
Após matar a vítima, o agente é perseguido pela polícia por vários quarteirões até se 
entregar. O flagrante será impróprio. 
 
Minutos depois de furtar um carro, o agente é parado pela polícia na via pública em um 
bloqueio fiscalizatório que identifica que o automóvel foi subtraído. O flagrante 
será presumido. 
O Código de Processo Penal ainda afirma que, nos crimes permanentes,o flagrante é 
possível enquanto durar a permanência: “art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se 
o agente em flagrante delito enquanto não cessar a permanência” (BRASIL, 1941. n. p.). 
 
58 
 
É bom lembrar que crime permanente é aquele cuja consumação se prolonga no tempo 
por vontade do agente. Os exemplos mais comuns são a extorsão mediante sequestro e o 
tráfico de drogas na modalidade “ter a droga em depósito”. 
 
Ainda há três modalidades de flagrante que se ligam à atividade policial. 
 
O flagrante preparado ou provocado é aquele no qual o agente é induzido pela polícia 
a praticar o delito de determinado modo para que possa ser preso em flagrante, como no 
caso em que a polícia estaciona um carro de significativo valor de mercado para que 
alguém tente subtrair. Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, 
consubstanciado pelo enunciado 145 de sua súmula, tal prática gera crime impossível por 
absoluta ineficácia do meio (art. 17 do CP) e, portanto, a prisão será ilegal devendo ser 
relaxada. O motivo é simples: se a execução do delito só se iniciou por causa do 
induzimento policial em um contexto controlado no qual a prisão em flagrante 
necessariamente impedirá a consumação, esta é impossível e, por isso, a tentativa é 
impunível nos termos do artigo 17 do Código Penal. Nos termos da súmula 145 do STF: 
“não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua 
consumação” (COAD, 1963). 
 
O flagrante esperado, por sua vez, é aquele no qual a autoridade policial aguarda a 
prática espontânea de delito para prender em flagrante. Trata-se de prisão completamente 
válida e representa a boa atividade policial investigativa. 
 
Já o flagrante forjado é aquele que ocorre quando a polícia simula a prática de crime, 
colocando provas falsas ou objetos materiais de delitos na cena do crime, tais como armas 
ou drogas, para incriminar alguém ilegalmente. A conduta, além de levar ao relaxamento 
da prisão e à ilicitude da prova, ainda é criminosa e os policiais podem responder por 
abuso de autoridade (art. 23 da Lei nº 13.869/19) e/ou denunciação caluniosa (art. 339 do 
CP). 
Por fim, temos o flagrante diferido ou retardado, também chamado de flagrante 
virtual ou ação controlada que nada mais é do que a permissão legal para que a 
autoridade policial não prenda em flagrante obrigatoriamente, com finalidade de que a 
prisão se dê no melhor momento sob o ponto de vista probatório. O instituto está no artigo 
8º da Lei nº 12.850/13: 
Art. 8º Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa 
relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida 
sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento 
mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações. 
 
§ 1º O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente 
comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e 
comunicará ao Ministério Público. 
 
§ 2º A comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter informações 
que possam indicar a operação a ser efetuada. 
 
§ 3º Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao 
Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das 
investigações. 
59 
 
 
§ 4º Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado acerca da ação 
controlada. 
(BRASIL, 2013, n. p.) 
Uma vez constatada uma de suas modalidades, as formalidades da prisão em flagrante se 
encontram no artigo 304 e 305 do CPP, enquanto seu controle jurisdicional se encontra 
regulado nos artigos 306 a 310 do mesmo estatuto. O preso deve ser apresentado ao 
delegado de polícia (civil ou federal) que deve lavrar o auto de prisão em flagrante delito 
(APFD), ouvindo duas testemunhas (que podem ter presenciado o fato ou não, neste 
último caso serão testemunhas apenas numerárias) e interrogando o preso ao qual será 
entregue a nota de culpa com os dados dos responsáveis pela sua prisão, bem como a 
razão desta. O juiz e o Ministério Público devem ser imediatamente comunicados, bem 
como a família do preso ou pessoa por ele indicada. Em 24 horas após a prisão, o APFD 
deverá ser encaminhado ao juiz competente e à defensoria pública caso o preso não tenha 
advogado. 
Após a lavratura e encaminhamento dos autos, o Código de Processo Penal hoje apregoa 
ser necessária a realização de audiência de custódia. Tal procedimento, no Brasil, nasceu 
no ano de 2015 e foi inicialmente estabelecido pela Resolução nº 213/2015 do CNJ com 
base na Ação Declaratória de Preceito Fundamental 347 e da Ação Direta de 
Inconstitucionalidade 5.240. Contudo, muito antes já estava previsto no Pacto de San Jose 
da Costa Rica, em seu art. 7º, item 5: 
Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de 
um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais e tem o direito 
de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade, sem prejuízo de que 
prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o 
seu comparecimento em juízo. 
(BRASIL, 1992, n. p.) 
Assim, resumidamente, a audiência de custódia é aquela feita em 24 horas da prisão com 
finalidade de garantir que os presos em flagrante serão apresentados a um juiz de direito 
que, após ouvir o Ministério Público e a defesa técnica, deve decidir sobre o destino da 
prisão em flagrante, convertendo-a em preventiva, relaxando-a, em caso de ilegalidade, 
ou concedendo ao preso liberdade provisória caso a prisão seja ilegal, mas os requisitos 
da preventiva não estejam presentes. Após o Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19), o 
Código de Processo Penal passou a prever, em seu artigo 310, a realização da audiência 
de custódia como um procedimento padrão. Os parágrafos 3º e 4º de tal dispositivo ainda 
dispõem sobre consequências 
Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e 
quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia 
com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública 
e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, 
fundamentadamente: 
 
I – relaxar a prisão ilegal; ou 
 
II – converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos 
constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as 
60 
 
medidas cautelares diversas da prisão; ou 
III –conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. 
(BRASIL, 1941, n. p.) 
Examinemos a prisão preventiva, pois trata-se da prisão processual por excelência. 
 
A prisão preventiva é a medida de constrição da liberdade, que pode ser decretada durante 
o inquérito ou processo por razões de cautela, em requisitos previstos nos artigos 311 a 
313 do CPP. Ao contrário da prisão em flagrante, a preventiva depende de decisão judicial 
e perdurará até ser revogada ou relaxada, isto é, não tem prazo máximo previamente 
estipulado. 
O momento de decretação desta cautelar pessoal encontra-se no art. 311 do CPP: em 
qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva 
decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, 
ou por representação da autoridade policial. 
É extremamente importante perceber que o CPP, após reforma operada pelo Pacote 
Anticrime e em respeito ao sistema acusatório, proíbe a atividade de ofício (sem 
provocação) do juiz na decretação da prisão preventiva, uma vez que esta dependente, 
necessariamente, de requerimento por parte do Ministério Público, querelante, assistente 
ou representação do delegado de polícia. 
 
As condições para decretação da prisão preventiva se encontram no art. 312 do CPP e 
as hipóteses para talse encontram no artigo 313. Analisemos tais normas: 
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da 
ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação 
da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e 
de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. 
(BRASIL, 1941, n. p.) 
A doutrina costuma afirmar que o artigo 312 elenca 3 requisitos para a prisão preventiva. 
O primeiro é a prova da materialidade, que significa que as evidências colacionadas no 
inquérito ou no processo devem apontar para a certeza do cometimento de um fato típico. 
O segundo diz respeito aos indícios suficientes de autoria que apontam que o indivíduo 
que se quer prender é o provável praticante do fato típico cuja existência se provou. 
Também são chamados de pressupostos positivos da prisão preventiva. 
O terceiro requisito representa a razão de cautela que fundamenta o periculum libertatis, 
também chamado de fundamentos da prisão preventiva. Pelo menos um deles deve estar 
presente. A garantia da ordem pública está presente quando a prisão é necessária para 
a manutenção da ordem social que pode ser abalada pela continuidade da prática do delito 
(ALVES, 2016). Guilherme Nucci (2018) lista alguns fatores que propiciam este 
requisito: a gravidade concreta da infração penal + repercussão social + periculosidade 
do agente (NUCCI, 2018). Os tribunais, contudo, têm fundamentado decretos de prisões 
preventivas neste requisito de forma bastante aberta. Guilherme Dezem (2020) elenca as 
principais aplicações jurisprudenciais que variam entre a probabilidade de reiteração de 
condutas criminosas, a periculosidade do agente, a gravidade em concreto do crime, a 
finalidade de fazer cessar a atuação criminosa. 
REFLITA 
61 
 
Embora se reconheça jurisprudencialmente que a prisão preventiva para garantia da 
ordem pública é um importante instrumento de defesa social, alguns autores criticam o 
instituto o acusando de inconstitucionalidade, uma vez que violaria o princípio da 
presunção de inocência, configurando-se como verdadeira antecipação de pena (LOPES, 
2018). O que você pensa sobre o assunto? 
A garantia da ordem econômica foi acrescida pela Lei nº 8.864/94. É espécie do gênero 
garantia da ordem pública que se aplica aos crimes econômicos tais como lavagem de 
capitais ou crimes contra o sistema financeiro nacional. A conveniência da instrução 
criminal está relacionada a abalos tangentes ao suborno ou coação de jurados, 
testemunhas ou peritos, o que deve sempre ser atestado em concreto não bastando meras 
suspeitas. Finalmente, assegurar a aplicação da lei penal é o fundamento invocado 
quando existe risco concreto de fuga, o que não pode ser presumido por mera capacidade 
econômica do acusado. 
Os requisitos devem se aliar às hipóteses da prisão preventiva, que estão elencadas no art. 
313 do CPP: 
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão 
preventiva: 
 
I – nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 
(quatro) anos; 
 
II – se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, 
ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940 – Código Penal; 
III – se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, 
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das 
medidas protetivas de urgência; 
(BRASIL, 1941, n. p.) 
Por fim, o artigo 314 apresente requisitos negativos, ou seja, que não podem estar 
presentes para que a prisão seja legítima. São causas de exclusão da ilicitude que, quando 
evidentes, impedem que a preventiva se dê. 
 
Uma vez declarada a prisão preventiva, esta perdurará enquanto houver as razões que a 
justificam (art. 316 CPP), porém, deve-se observar a razoável duração do processo e, 
quando os prazos para as diligências e fases processuais são inobservados, a prisão pode 
se tornar ilegal. 
Resta ainda a prisão temporária “é uma modalidade de prisão cautelar, cuja finalidade é 
assegurar uma eficaz investigação policial, quando se tratar de apuração de infração penal 
de natureza grave” (NUCCI, 2018, p. 765). A Lei nº 7.960/89, que foi criada para 
substituir a velha prisão para averiguação, é a que prevê esta espécie de medida cautelar. 
Quanto aos requisitos para sua decretação, previstos no artigo 1º do citado diploma, é 
necessária a presença do pressuposto trazido no inciso III em combinação com o inciso I 
ou inciso II: 
Art. 1° Caberá prisão temporária: 
 
I – quando imprescindível para as investigações do inquérito policial; 
62 
 
 
II – quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao 
esclarecimento de sua identidade; 
 
III – quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na 
legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes: 
 
a) homicídio doloso; 
 
b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°); 
 
c) roubo; 
(...) (BRASIL, 1989, n. p.) 
Recomendamos a leitura da lista completa que hoje tem 15 delitos. Uma vez decretada a 
partir da provocação do delegado de polícia ou Ministério Público (jamais de ofício), a 
prisão temporária durará 5 dias, sendo prorrogável em caso de necessidade comprovada 
por mais 5 dias, sendo 30 + 30 em caso de crime hediondo ou equiparado. Finalizado o 
prazo, o preso deve ser automaticamente liberado, não sendo necessário uma decisão 
judicial, ao contrário do que ocorre com a prisão preventiva. 
 
Finalmente, para esgotarmos o capítulo, é interessante verificarmos que o CPP, a partir 
da Lei nº 12.403/11 estabeleceu uma série de cautelares diversas da prisão que são, 
conforme consta expressamente do art. 282 § 6º do CPP, medidas primárias à prisão 
preventiva. Isto é, prender preventivamente só é uma opção quando as medidas cautelares 
diversas da prisão são insuficientes para sanar as razões de cautela. 
 
A lista de medidas cautelares diversas da prisão se encontra no art. 319 do CPP e todas 
devem preceder de decretação judicial com observância dos já mencionados requisitos do 
artigo 282 do CPP: 
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: 
 
I – comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para 
informar e justificar atividades; 
II – proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias 
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para 
evitar o risco de novas infrações; 
III – proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias 
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; 
IV – proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou 
necessária para a investigação ou instrução; 
 
V – recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado 
ou acusado tenha residência e trabalho fixos; 
 
VI – suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou 
financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações 
penais; 
VII – internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência 
ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 
63 
 
26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; 
VIII – fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do 
processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à 
ordem judicial; 
IX – monitoração eletrônica. 
(BRASIL, 1941, n. p.) 
Das medidas cautelares diversas da prisão destaca-se a fiança, que pode servir ainda comocontracautela a ser aplicada para que a liberdade provisória seja concedida a alguém. Suas 
regras estão nos artigos 321 a 350 do CPP que merecem ser lidos. Importante notar ainda 
que, conforme previsto no artigo 322 do CPP, o próprio delegado de polícia pode 
conceder a fiança quando a pena máxima cominada ao crime não ultrapassa 4 anos. 
 
Com isso, encerramos a seção sobre prisões processuais e, na próxima, estudaremos a 
teoria geral da prova. 
FAÇA VALER A PENA 
Questão 1 
Flagrante significa tanto o que é manifesto ou evidente, quanto o ato que se pode observar 
no exato momento em que ocorre. Neste sentido, pois, prisão em flagrante é a modalidade 
de prisão cautelar, de natureza administrativa, realizada no instante em que se desenvolve 
ou termina de se concluir a infração penal. 
(NUCCI, 2018, p. 711) 
Assinale a alternativa correta: 
a. Flagrante preparado. 
b. Flagrante próprio. 
c. Flagrante presumido. 
d. Flagrante Impróprio. 
e. Quase-flagrante. 
Questão 2 
A garantia da ordem pública é a hipótese de interpretação mais ampla e flexível na 
avaliação da necessidade da prisão preventiva.62 Entende-se pela expressão a 
indispensabilidade de se manter a ordem na sociedade, que, como regra, é abalada pela 
prática de um delito. Se este for grave, de particular repercussão, com reflexos negativos 
e traumáticos na vida de muitos, propiciando àqueles que tomam conhecimento da sua 
realização um forte sentimento de impunidade e de insegurança, cabe ao Judiciário 
determinar o recolhimento do agente. (NUCCI, 2021, p. 690) 
Considere as seguintes assertivas acerca dos requisitos, condições, hipóteses e limites da 
prisão preventiva e em seguida, marque a alternativa correta. 
I. A prisão preventiva jamais é cabível de ofício. 
II. A prova da existência do crime não é requisito da prisão preventiva. 
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64 
 
III. Dentre os fundamentos da prisão preventiva está a conveniência da instrução 
criminal, que está presente, por exemplo, quando a prisão é conveniente para induzir 
à colaboração premiada. 
IV. A prisão preventiva é possível nos crimes cuja pena máxima ultrapassa 3 anos. 
a. Somente é verdadeira a assertiva II. 
b. Somente são verdadeiras as assertivas I e III. 
c. Somente são verdadeiras as assertivas I e IV. 
d. Somente são verdadeiras as assertivas III e IV. 
Somente é verdadeira a assertiva I. 
Questão 3 
Não é segredo a ninguém do universo jurídico que muitas prisões cautelares foram 
decretadas com o único propósito de pressionar o preso a se tornar um delator. Somos 
levados a contrariar tal medida, pois o uso da custódia provisória como instrumento de 
pressão é completamente avesso aos seus requisitos, claramente expostos no art. 312 do 
CPP. (NUCCI, 2021, p. 688) 
No que tange às prisões processuais, considere as alternativas e, então, as relacione. 
I. Tem cabimento quando 
imprescindível às investigações do 
inquérito policial. 
II. Possui como fundamento a garantia 
da ordem econômica. 
III. Ocorre quando, logo após praticar a 
infração, o agente é perseguido em 
situação que faça presumir ser o 
autor da infração. 
IV. Ocorre quando a autoridade policial 
simula a prática de crime para 
prender. 
1. Prisão preventiva. 
2. Flagrante forjado. 
3. Prisão temporária. 
4. Flagrante impróprio. 
a. I-4; II-2; III-3; IV-1. 
b. I-2; II-1; III-3; IV-2. 
c. I-3; II-1; III-4; IV-2. 
d. I-3; II-4; III-1; IV-2. 
e. I-4; II-2; III-4; IV-3. 
REFERÊNCIAS 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal 26. ed. São Paulo: Saraiva, 
2020. 
 
BITTAR, N. Medicina legal e noções de criminalística. 9 ed. Salvador: Juspodivm, 
2020. 
 
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65 
 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível 
em: https://bit.ly/2X6F6XE. Acesso em: 5 jul. 2021. 
BRASIL. Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013. Disponível em: https://bit.ly/3A9R80R. 
Acesso em: 5 jul. 2021. 
 
BRASIL. DECRETO No 678, de 6 de novembro de 1992 (Pacto de São José da Costa 
Rica). Disponível em: https://bit.ly/3zWj4oJ. Acesso em 07 set 2021. 
 
BRASIL. DECRETO-LEI Nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo 
Penal). Disponível em: https://bit.ly/3henIXP. Acesso em: 7 set. 2021 
 
BRASIL. DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940 (Código Penal). 
Disponível em: https://bit.ly/3BUUmWo. Acesso 7 set. 2021. 
 
BRASIL. LEI Nº 7.960, DE 21 DE DEZEMBRO DE 1989 (Prisão temporária). 
Disponível em: https://bit.ly/3ntC7DB. Acesso em 7 set. 2021. 
 
 
 
 
 
BUSATO, P. C. Direito penal. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2018. 
 
COAD. Súmula 145 STF. 1963. Disponível em: Link. Acesso em: 8 set. 2021. 
 
CUNHA, R. S. Manual de direito penal. Salvador: Juspodivm, 2019. 
DEZEM, G. M. Curso de processo penal. 6. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 
2020. 
 
LOPES JR., A. Direito processual penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. 
 
NUCCI, G. S. Curso de direito processual penal. 18. ed. Grupo GEN, 2021. Disponível 
em: https://bit.ly/3lapPNx. Acesso em 8 set. 2021. 
 
 
 
OLIVEIRA, E. P. Curso de processo penal. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2015. 
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FOCO NO MERCADO DE TRABALHO 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d0678.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7960.htm
http://www.coad.com.br/busca/detalhe_16/464/Sumulas_e_enunciados
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788530993627/epubcfi/6/2%5b%3Bvnd.vst.idref%3Dcover%5d!/4/2/2%5bb51178c9-baee-400b-ae91-a9df0741348b%5d%4051:4566 
 
 
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SEM MEDO DE ERRAR 
Prezado aluno, vamos agora relembrar a situação problema? 
 
Você, como delegado de polícia, se contemplou com um crime bastante grave: um 
latrocínio que gerou duas mortes e aterrorizou uma pequena cidade. A comoção foi 
tamanha que o juiz declarou a prisão de um dos autores de ofício. Com o avançar das 
investigações, o delegado chegou à identidade do segundo autor. Pergunta-se: a prisão do 
primeiro agente é legal? Se não, o que ocorrerá? O que o delegado poderá fazer tendo em 
vista que Tício é extremamente perigoso? 
 
 
 
A prisão de Tício é ilegal deverá ser relaxada. Isso porque o artigo 311 do CPP proíbe 
qualquer prisão de ofício na fase investigativa: “em qualquer fase da investigação policial 
ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do 
Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade 
policial” (BRASIl, 1941, n. p.). 
 
 
 
A prisão é, pois, ilegal e deve ser relaxada. Contudo, poderá o delegado de polícia 
67 
 
representar pela prisão preventiva, uma vez que os requisitos do artigo 312 estão 
preenchidos, já que a prisão de Tício é necessária para a garantia da ordem pública e de 
Mévio é necessária para garantir a aplicação da lei penal: 
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da 
ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação 
da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e 
de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. 
Ademais, o crime por eles praticados se encaixa na hipótese do artigo 313 do CPP: 
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão 
preventiva: 
 
I – nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 
(quatro) anos; 
 
II – se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, 
ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940 - Código Penal; 
 
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, 
criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a 
execução das medidas protetivas de urgência. 
(BRASIL, 1941, n. p) 
AVANÇANDO NA PRÁTICA 
FLAGRANTE PREPARADO 
Imagine-se delegado de polícia, titular de sua primeira delegacia no interior. No seu 
primeiro dia de trabalho você se depara com uma investigação na qual a polícia 
posicionou um valioso carro em uma via pública para prender um furtador quando ele 
tentasse subtrair o veículo. Acessando seus conhecimentos de direito processual penal, 
responda: tal expediente é válido? 
RESOLUÇÃO 
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68 
 
UNIDADE II, SESSÃO 3 
PROVAS: NOÇÕES GERAISS 
Francisco de Aguilar Menezes 
 
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PRATICAR PARA APRENDER 
Prezado aluno, até aqui, estudamos, na unidade 2, os princípios e caracteres básicos do 
direito processual penal, bem como as hipóteses de prisão processual, suas espécies e 
fundamentos. Contudo, ainda existe um importante tópico a ser estudado nesta unidade: 
a teoria geral da prova. 
 
Isso porque o profissional da criminalística trabalha diretamente com a produção 
probatória e a sorte de qualquer processo penal dependerá da prova produzida em 
contraditório judicial. 
Além disso, é cada vez mais comum ouvir notícias de processos inteiros anulados por 
conta de uma prova ilicitamente coletada. 
 
Assim, entender os princípios e as regras que versam sobre a produção probatória é mais 
69 
 
do que essencial a todo profissional que opera direta e indiretamente com os mecanismos 
de persecução penal. 
Prezado aluno, imagine que você está exercendo sua futura profissão como profissional 
que opera na administração da justiça criminal. Especificamente, imagine que você seja 
um defensor público recém-concursado que se depara com um processo no qual a 
produção probatória encontra-se um tanto quanto viciada. No processo, notou-se que 
Tício, o líder de uma perigosa organização criminosa, teve suas comunicações telefônicas 
interceptadas pela polícia civil. Durante uma conversa, revelou que Mévio, jovem pobre 
de periferia, agora atua como “office boy” da organização, transportando recados, 
documentos, itens e armas. Com isso, o delegado de polícia representou pela obtenção de 
um mandado de busca para o domicílio da Mévio e conseguiu o documento. Foram 
encontrados, na casa deste, diversos documentos que levam não só a sua incriminação, 
como também à identificação de Caio e Júlio, dois outros membros da organização. 
Ocorre que você percebeu que, após 15 dias de interceptação telefônica, esta não foi 
devidamente renovada por decisão judicial, conforme ordena a Lei nº 9.296/96. Ademais, 
você percebe que a conversa na qual Tício entrega a identidade de Mévio foi gravada no 
38º dia de interceptação. 
Imediatamente, você acessa seus conhecimentos referentes à teoria geral da prova. 
Considerando que Mévio é seu assistido, o que você pode requerer com relação à prova 
produzida até este momento do processo? 
Vamos em frente! 
CONCEITO-CHAVE 
Agora estamos adentrando o último tema de direito processual penal: a teoria geral da 
prova. 
O tema é fundamental para a ciência processual penal por vários motivos: a atividade 
probatória é central para a demonstração de um fato que atestará a existência do direito 
material (no caso da persecução penal, a materialidade e a autoria delitiva), mas aquilo 
que é aceito em matéria de fontes e meios de prova atesta o quão garantista é um dado 
sistema. Ademais, a iniciativa probatória (se nas mãos do juiz ou nas mãos das partes) e 
a previsão de contraditório na produção da prova e na instrução processual ajuda-nos a 
medir se o sistema processual é inquisitório ou acusatório em sua essência. 
Comecemos, contudo, com acepções do termo “prova”. Encontramos, na doutrina 
processual penal, pelo menos três concepções para o vocábulo. Primeiramente, prova 
pode ser a demonstração da verdade de determinados fatos. Em segundo lugar, significa 
atividade ou procedimento destinado a verificar a correção de uma hipótese. Finalmente, 
pode ser considerada um desafio ou condição a ser superada para o reconhecimento de 
certas qualidades ou aptidões (DEZEM, 2020). 
Embora todas estas concepções sejam aplicáveis à relação em processual em contextos 
distintos, a principal denominação que utilizaremos neste trabalho é a primeira, ou seja, 
prova é tudo aquilo que pode comprovar uma verdade. Assim, a prova tem estreita ligação 
com o princípio da busca da verdade real (por mais combalido que este postulado esteja) 
e é necessária, enquanto instrumento de revelação da verdade dos fatos, para que o juízo 
condenatório seja provido. 
 
70 
 
Neste momento, é importante compreender que, na história do direito processual, há três 
sistemas de avaliação da prova. O primeiro é o sistema da íntima convicção ou da 
certeza moral do juiz, pelo qual o julgador está livre para valorar, da forma que entender 
mais adequado, a prova produzida no processo, não sendo obrigado a fundamentar sua 
decisão. Apesar de ser um sistema próprio de realidades inquisitoriais, ainda é o sistema 
adotado no direito brasileiro, porém apenas para as decisões do conselho de sentença do 
tribunal do júri, uma vez que os jurados votam em segredo e não são obrigados a justificar 
suas decisões (NUCCI, 2018). 
 
O segundo sistema é o da prova tarifária, prova legal, sistema tarifário ou da certeza 
moral dolegislador, pelo qual a valoração da prova já é feita previamente pela lei que 
preestabelece um valor determinado para cada espécie de prova, restringindo as 
prerrogativas do julgador em sua capacidade de valoração. Atualmente, existem 
resquícios deste sistema no ordenamento brasileiro no artigo 158 do CPP, nos seguintes 
termos: “quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de 
delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado” (BRASIL, 1941, 
n. p). Assim, percebe-se que, nos crimes não transeuntes, isto é, naqueles em que há 
resultados materiais duradouros, o exame de corpo de delito será a única prova adequada. 
Por fim, temos o sistema adotado, geralmente, pelo Código de Processo Penal (CPP). 
Trata-se do sistema da persuasão racional ou convencimento racional ou livre 
convencimento motivado ou apreciação fundamentada ou prova fundamentada. Por 
este sistema, o juiz é livre para apreciar a prova, contanto que fundamente a suas decisões 
na prova produzida em contraditório judicial, o que vai ao encontro do art. 93, inciso IX, 
da Constituição Federal, que exige a fundamentação de todas as decisões judiciais. Nos 
termos do artigo 155 do CPP: “o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da 
prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão 
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as 
provas cautelares, não repetíveis e antecipadas” (BRASIL, 1941, n. p). Este sistema 
também consagra os princípios da ampla defesa e do contraditório, uma vez que exige 
que o magistrado aprecie apensa a prova produzida na instrução, respeitando-se as 
garantias processuais constitucionais, com a exceção das provas cautelares, não repetíveis 
e antecipadas, que serão estudadas por nós nesta seção. É também importante destacar 
que este sistema também foi adotado pelo Código de Processo Civil, porém, em 2015, a 
expressão “livre” foi suprimida pelo novo código, deixando-nos com o sistema do 
convencimento motivado. Parte da doutrina já afirmou que esta modificação pode 
repercutir no processo penal, pois reforça a ideia de que, conquanto o juiz tenha liberdade 
na apreciação da prova, ele encontra limites, não podendo fundamentar sua decisão em 
argumentos que não encontram respaldo no ordenamento jurídico (ALVES, 2016). 
ASSIMILE 
Vamos assimilar os sistemas de valoração da prova? 
 
Sistema da íntima convicção: o juiz é livre para valorar a prova não sendo necessário 
motivar suas decisões. É adotado no tribunal do júri com relação ao conselho de sentença. 
 
Sistema da prova tarifária: a lei determina previamente o valor de cada espécie de prova 
não dando liberdade ao juiz. É o que ainda existe no CPP, mas apenas para os crimes que 
geram resquícios, uma vez que o exame de corpo de delito se torna imprescindível, 
conforme artigo 158. 
Sistema da persuasão racional ou livre convencimento motivado: o juiz pode valorar 
71 
 
livremente a prova produzida em contraditório judicial, contanto que fundamente as duas 
decisões. Foi adotado como regra geral pelo art. 155 do CPP. 
Embora pareçam idênticas, as expressões do art. 155 do CPP têm sentidos 
distintos. Provas cautelares são aquelas cujos elementos precisam ser produzidos com 
urgência, caso contrário serão perdidas. Provas não repetíveis são aquelas que por pura 
impossibilidade material podem ser produzidas de forma inquisitiva, mas devem ser 
debatidas em um contraditório diferido ou postergado, oportunidade na qual as partes 
terão a chance de impugnar a prova ou produzir uma contraprova. Já as provas 
antecipadas são aquelas produzidas em um incidente pré-processual perante o juiz, com 
a participação das partes processuais, preservando-se o contraditório (ALVES, 2016). 
EXEMPLIFICANDO 
Como exemplo de prova cautelar temos a interceptação telefônica, regrada pela Lei nº 
9296/96, ou a busca e apreensão domiciliar regulamentada pelo CPP. Como exemplo de 
provas não repetíveis, há o exame de corpo de delito realizado nos ferimentos causados 
por uma lesão corporal, que não podem ser novamente feitos pois as equimoses, cortes e 
escoriações se regeneram. Por fim, como exemplo de prova antecipada imaginemos o 
testemunho de alguém que está sofrendo de doença grave em fase terminal e que precisa 
ser ouvida antes de falecer. 
São meios de prova todos os recursos e fontes utilizados, direta e indiretamente, para se 
demonstrar a verdade dos fatos sobre os quais versam o processo. Segundo a doutrina, há 
meios de prova nominados e inominados. Os primeiros são identificados pela própria lei, 
tal qual a prova pericial ou testemunhal. Os últimos são aqueles sobre os quais inexiste 
designação legal, tal como a inspeção judicial (NUCCI, 2018). 
 
Conforme estabelecido pelo CPP, no artigo 155, parágrafo único, todos os meios de prova 
são permitidos no processo penal, contanto que lícitos, isto é, compatíveis com a lei e 
com a Constituição Federal. A exceção fica com o estado das pessoas, em que devem ser 
observadas as restrições estabelecidas na lei civil. 
A prova ilícita, contudo, é vetada pelo CPP, no artigo 157, que as define como aquela que 
viola normas legais ou constitucionais e apregoa, em seu § 3º, que estas devem ser 
declaradas nulas e desentranhadas dos autos, em decisão irrecorrível que, no entanto, pode 
ser combatida por meio de habeas corpus ou mandado de segurança em matéria criminal 
a depender do direito que esteja em jogo. Parte da doutrina critica a postura do CPP, uma 
vez que uma prova considerada ilícita (tal como um documento) pode compor o corpo de 
delito de um crime de falsidade e sua destruição pode eliminar a prova da materialidade 
deste crime (ALVES, 2016). 
 
Cumpre ressaltar que parte da doutrina ainda considera a prova ilícita como espécie do 
gênero prova proibida, do qual também pertence a prova ilegítima. Esta última seria 
aquela obtida em violação a um direito processual, enquanto a prova ilícita viola um 
direito material (DEZEM, 2020). 
EXEMPLIFICANDO 
A prova obtida por meio de tortura ou por meio de falsificação documental é ilícita, uma 
vez que viola norma de direito penal. Já a leitura de um documento em plenário do 
72 
 
tribunal do júri que não tenha sido juntado com três dias de antecedência, conforme exige 
o art. 479 do CPP, será uma prova ilegítima. 
Em que pese a divisão ainda ser defendida pela doutrina, o Código de Processo Penal não 
a adotou, estabelecendo a mesma consequência (inutilização e desentranhamento) para as 
provas ilícitas e ilegítimas, com a diferença de que a eventual produção destas últimas 
não gerará crime e, normalmente, sequer entrará nos autos (LOPES, 2018). 
 
Quanto ao juiz que decida pelo desentranhamento da prova, a doutrina processual penal 
há muito já afirmava pela sua contaminação, uma vez que a retirada e inutilização da 
prova ilícita não poderia apagar o viés que a prova ilícita é capaz de criar na mente do 
julgador (DEZEM, 2020). Para atender a estas reivindicações, uma das modificações ao 
CPP operadas pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19) adicionou o § 5º ao art. 157 que 
hoje diz: “o juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá 
proferir a sentença ou acórdão” (BRASIL, 1941, n. p). Assim, quando o juiz de direito ou 
desembargador ordena a inutilização de uma prova, ficará impossibilitado de decidir o 
destino da ação penal, devendo outro juiz fazê-lo. 
Outro importante instituto acerca da prova ilícita diz respeito à teoria dos frutos da árvore 
envenenada (fruits of the poisonous tree doctrine) ou prova ilícita por derivação. Trata-
se de teoria importada do direito americano e que já era adotada pelo STF antes mesmo 
de o Código de Processo Penal passar a trazê-la no art. 157 § 1º (DEZEM, 2020). O 
mencionado parágrafo dispõe que: “são também inadmissíveis as provas derivadas das 
ilícitas, salvoquando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou 
quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras” 
(BRASIL, 1941, n. p). Assim, a teoria basicamente atesta que as provas ilícitas acabam 
por contaminar as demais provas que dela sejam consequência, de forma que todas elas 
devem ser inutilizadas e retiradas dos autos. A árvore envenenada contamina seus frutos, 
ainda que estes pareçam apetitosos. 
EXEMPLIFICANDO 
Imaginemos que, em uma interceptação telefônica, a polícia federal entre em contato com 
a identidade de um coautor importante para o crime que está sendo investigado. A partir 
desta informação, o delegado representa pela concessão de um mandado de busca, o que 
é deferido pelo juiz. Na residência deste novo coautor, o delegado encontra várias provas 
documentais que atestam não só a materialidade do crime investigado como a identidade 
de vários partícipes. Contudo, a defesa argumenta que a interceptação telefônica foi 
mantida por mais de 15 dias sem autorização judicial e a informação acerca do coautor 
foi ouvida no 21º dia. Assim, não há opção a não ser declarar a ilicitude de todas as provas 
documentais cuja descoberta dependeu da interceptação ilegal. 
Há, contudo, alguns mecanismos que mitigam ou até mesmo afastam a prova ilícita por 
derivação. Especificamente, três teorias foram desenvolvidas no direito americano, todas 
já admitidas em precedentes do Superior Tribunal de Justiça. A primeira delas é a teoria 
da fonte independente, pela qual, quando há duas fontes das quais pode ser obtida a 
prova, sendo uma admissível e outra ilícita, o juiz pode considerar apenas a admissível e, 
portanto, não estará contaminada a prova derivada. A segunda é a exceção de descoberta 
inevitável ou exceção da fonte hipotética independente: quando demonstrado que a 
prova derivada seria descoberta de qualquer maneira, com ou sem a prova ilícita que deu 
origem a sua descoberta, não há que se falar em contaminação da prova derivada. Por 
fim, há a teoria do nexo causal atenuado ou teoria da contaminação expurgada ou conexão 
73 
 
atenuada, que se aplica quando a ligação entre a prova ilícita e a dela derivada for muito 
tênue. Imaginamos que o agente “A” seja preso ilegalmente e, sob tortura, delate “B”. 
Após sua regular intimação, “B” resolve confessar voluntariamente seu crime, mesmo 
após a prisão de “A” ter sido relaxada, posto que ilegal. Neste exemplo, a ligação entre o 
interrogatório ilegal de “A” e a confissão de B é muito tênue, portanto, esta ilicitude por 
derivação pode ser afastada (DEZEM, 2020). 
 
Em que pese o fato de todas as teorias já terem sido aplicadas pelo STJ, o CPP, em seu 
artigo 157, § 1º e § 2º, adotou, supostamente, apenas a teoria da fonte independente, com 
a seguinte redação, respectivamente: 
são também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado 
o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas 
por uma fonte independente das primeiras. Considera-se fonte independente aquela que 
por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução 
criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. 
(BRASIL, 1941, n. p). 
Não é preciso muito esforço para perceber que o Código de Processo Penal chama de 
fonte independente o que a doutrina, como vimos, chama de descoberta inevitável. Assim, 
esta última é a teoria que o código verdadeiramente adotou. 
 
As mitigações da teoria dos frutos da árvore envenenada são bastante criticadas por parte 
da doutrina. Primeiro porque a prova ilícita por derivação é um importante instituto para 
frear eventuais tendências abusivas dos órgãos encarregados da persecução penal e, por 
isso, importar teorias do direito americano para mitigar a força deste instituto parece 
temerário, pois os EUA têm uma democracia muito mais madura do que a nossa. Segundo 
porque quando se permitem mitigações na teoria dos frutos da árvore envenenada, abre-
se a possibilidade de exclusões de prova a la carte, permitindo que juízes admitam provas 
ilícitas por motivos populistas e não jurídicos (LOPES, 2018). 
 
Ademais, importante notar que, em matéria de prova ilícita, o Brasil vem adotando a 
teoria da proporcionalidade, também chamada de teoria da razoabilidade ou teoria do 
interesse predominante. De origem alemã, a teoria tem o objetivo de equilibrar os 
interesses individuais com os interessas da sociedade, de forma que a vedação irrestrita 
do uso da prova ilícita é rejeitada. Embora muito criticada quando utilizada em prejuízo 
do réu, tal teoria tem sido utilizada no direito brasileiro apenas em benefício do réu 
inocente que não tinha outra forma de provar a sua inocência a não ser por uma prova 
ilícita. Imaginemos que a prova documental que isentará o réu de responsabilidade pelo 
crime se encontra no domicílio do verdadeiro autor do crime e não exista indícios o 
bastante para autorizar um mandado de busca. Neste contexto, caso o réu injustamente 
acusado viole domicílio para resgatar esta prova, a ilicitude desta poderia afastada pelo 
juízo. A doutrina afirma que haverá, em casos como este, estado de necessidade ou 
legítima defesa (excludentes de ilicitude) ou inexigibilidade de conduta diversa 
(excludente de culpabilidade) (ALVES, 2016). 
REFLITA 
Alguns doutrinadores, a exemplo de Aury Lopes Jr., embora defendam a admissibilidade 
da prova ilícita pro reo, temem a banalização desta admissibilidade para outras hipóteses, 
74 
 
pois esta é uma tendência autoritária em nome do princípio da verdade real (LOPES, 
2018). Qual é a sua opinião sobre o tema? 
A doutrina utiliza, ainda, 4 critérios para classificar as provas. Primeiramente, quanto 
ao objeto, a prova será direta quando se refere ao fato que a acusação quer provar, como 
acontece quando há prova testemunhal presencial sobre o ato criminoso. A prova, no 
entanto, será indireta quando se refere a um fato que faz inserir o fato principal. 
Os indícios, conceituados pelo artigo 239 do CPP como “a circunstância conhecida e 
provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de 
outra ou outras circunstâncias”, constituem o exemplo mais ventilado de provas indireta 
(TAVORA; ALENCAR, 2015, p. 564). 
 
Já quanto ao efeito ou valor, as provas se dividem em: plena, quando suficientes para a 
condenação, concedendo ao julgador a certeza da materialidade e autoria, e não plena, 
quando é limitada quanto à profundidade, permitindo, no máximo, medidas protetivas de 
urgência (ALVES, 2016). 
 
No que diz respeito à causa ou ao sujeito a prova será real quando emergir do próprio 
fato, por exemplo, um vídeo ou fotografia do ocorrido. Será pessoal quando decorre do 
conhecimento de alguém sobre o fato, como a confissão ou a prova testemunhal 
(TAVORA; ALENCAR, 2015). 
 
Finalmente, quanto à forma ou aparência: esta é a classificação que diz respeito à 
maneira como a prova se revela no processo. Será testemunhal quando produzida pela 
manifestação de uma pessoa. Documental quando um fato estiver condensado 
graficamente, com em um contrato ou título. Será material quando consubstanciada por 
algum elemento ou vestígio, como o exame de corpo de delito ou os instrumentos do 
crime (ALVES, 2016). 
 
Por fim, tratemos das espécies probatórias. O CPP versa sobre várias provas nominadas 
a partir do artigo 158. A saber: da prova pericial (art. 158 a 184), do interrogatório (art. 
185 a 196), da confissão (art. 197 a 200), das perguntas do ofendido (art. 201) das 
testemunhas (art. 202 a 225), do reconhecimento de pessoas e coisas (art. 226 a 228), da 
acareação (art. 229 a 230), dos documentos (art. 231 a 238), dos indícios (art. 239) e da 
busca e apreensão (art. 240 a 250). Recomenda-se a leitura atenta de todos estes 
dispositivos, porém, para as finalidades deste livro didático, terminaremosa seção com 
comentários acerca da prova pericial. 
 
O exame de corpo de delito e a perícia podem ser conceituados como o exame feito por 
pessoas com conhecimentos técnicos, artísticos, científicos ou práticos em relação às 
circunstâncias, aos fatos ou condições de pessoas apurados no processo (DEZEM, 2020). 
Enfim, a perícia é a prova técnica que pretende demonstrar a existência de fatos cuja 
certeza somente seria possível a partir de determinados conhecimentos (ALVEZ, 2016). 
 
É importante atentar para a terminologia: corpo de delito é expressão que se refere ao 
conjunto de elementos físicos, materiais, contidos no tipo penal (são os ferimentos que 
consubstanciam a violação à integridade corporal ou o documento fraudado). Exame de 
corpo de delito é a verificação levada a cabo pelos peritos acerca dos vestígios da 
infração penal. Laudo de exame de corpo de delito é a peça que resulta do trabalho do 
perito (DEZEM, 2020). 
75 
 
Como já dissemos, o Código de Processo Penal, em seu artigo 158, reputa 
como obrigatória a realização do exame de corpo de delito em todo crime que gera 
vestígios, dando-se prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar 
de violência doméstica e familiar contra a mulher ou violência contra criança, 
adolescente, idoso ou pessoa com deficiência (art. 158, parágrafo único). O artigo 159 
ainda afirma que o exame deve ser feito por um perito oficial ou, na falta, duas pessoas 
idôneas portadoras de diploma de curso superior. 
O Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19) felizmente inseriu tal instituto no direito 
processual penal brasileiro a partir do art. 158-A a 158-F, os quais recomendamos a 
leitura. A cadeia de custódia é “o conjunto de todos os procedimentos utilizados para 
manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas 
de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o 
descarte” (BRASIL, 1941, n. p.) e compreende etapas como reconhecimento, isolamento, 
fixação, coleta, transporte, recebimento, processamento, armazenamento e descarte da 
prova. O descumprimento de tais regras pode levar à nulidade da prova coletada. 
FAÇA VALER A PENA 
Questão 1 
O processo penal é um instrumento de retrospecção, de reconstrução aproximativa de um 
determinado fato histórico. Como ritual, está destinado a instruir o julgador, a 
proporcionar o conhecimento do juiz por meio da reconstrução história de um fato. Nesse 
contexto, as provas são os meios através dos quais se fará essa reconstrução do fato 
passado (crime). 
(LOPES JR., p. 341) 
No que tange à classificação das provas, analise as assertivas e, em seguida, relacione 
uma a outra. 
I. Prova plena. 
II. Prova direta. 
III. Prova testemunhal. 
IV. Prova material. 
1. É aquela que demonstra o próprio fato que se quer provar. 
2. É aquela que imprime no julgador o juízo de certeza para a condenação. 
3. É aquela que se expressa pela afirmação de uma pessoa. 
4. É aquela que simboliza qualquer elemento que corporifica a demonstração do fato. 
a. I-1; II-2; III-3; IV-4. 
b. I-2; II-1; III-3; IV-4. 
c. I-4; II-2; III-3; IV-1. 
d. I-4; II-3; III-1; IV-2. 
e. I-1; II-3; III-2; IV-4. 
Questão 2 
“Quando se fala em sistemas de apreciação das provas está-se a pensar na relação entre o 
julgamento da causa pelo magistrado e as provas produzidas em juízo. Em outras 
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76 
 
palavras, procura-se investigar qual a relação entre a prova produzida e o ato decisório do 
juiz” 
(DEZEM, 2020, p. 622). 
Marque a alternativa que dispõe o sistema de avaliação da prova no qual cada espécie de 
prova tem um valor predeterminado no ordenamento jurídico. 
a. Livre convicção. 
b. Persuasão racional. 
c. Livre convencimento motivado. 
d. Certeza moral do juiz. 
e. Prova tarifada. 
Questão 3 
A Constituição Federal proclama a inadmissibilidade das provas obtidas por meios 
ilícitos. Trata-se de norma geral e abstrata que só produz efeito quando aplicada pelo juiz. 
Em outros termos, para que se faça valer a norma constitucional que dispõe que a prova 
ilícita é inadmissível, é necessário um dizer do juiz a respeito, é preciso decisão judicial 
que produza a norma individual e concreta que ordena a expulsão da prova do processo, 
isto é, que determina o seu desentranhamento. 
(TAVORA, 2015, p. 584) 
Considere as assertivas abaixo e depois marque a alternativa que apresenta apenas as 
verdadeiras. 
I. O direito brasileiro adotou a teoria dos frutos da árvore envenenada, também 
chamada de prova ilícita por derivação, proveniente do direito alemão. 
II. A prova ilícita por derivações não encontra exceções em nosso Código de Processo 
Penal, mas apenas na doutrina jurídica. 
III. A teoria da fonte independente, a exceção de descoberta inevitável e teoria do nexo 
causal atenuado são mitigações à inadmissibilidade da prova ilícita por derivação. 
a. Apenas I e II são verdadeiras. 
b. Apenas II e III são verdadeiras. 
c. Apenas III é verdadeira. 
d. Apenas II é verdadeira. 
e. Apenas I e III são verdadeiras. 
REFERÊNCIAS 
ALVES, L. B. M. Processo penal. Salvador: Juspodivm, 2016. 
 
BITTAR, N. Medicina legal e noções de criminalística. 9 ed. Salvador: Juspodivm, 
2020. 
 
BITENCOURT, C. R. Tratado de direito penal. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. 
 
BRASIL. DECRETO-LEI Nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo 
Penal). Disponível em: https://bit.ly/3z0aFPz. Acesso em: 7 set. 2021. 
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm
77 
 
 
BRASIL. LEI Nº 9.296, DE 24 DE JULHO DE 1996 (Regulamenta o inciso XII, parte 
final, do art. 5° da ConstituiçãoFederal). Disponível em: https://bit.ly/3l18aaW. Acesso 
em 7 set. 2021. 
 
BUSATO, P. C. Direito penal. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2018. 
 
CUNHA, R. S. Manual de direito penal. Salvador: Juspodivm, 2019. 
DEZEM, G. M. Curso de processo penal. 6. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 
2020. 
 
LOPES JR., A. Direito processual penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. 
 
NUCCI, G. S. Curso de direito processual penal. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. 
 
OLIVEIRA, E P. Curso de processo penal. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2015. 
 
TAVORA, N.; ALENCAR, R. R. Curso de direito processual penal. 10. ed. Salvador: 
Juspodivm, 2015. 
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SEM MEDO DE ERRAR 
Vamos à resposta da situação-problema. 
 
Primeiramente, vale relembrar as principais informações do enunciado. Tício, líder de 
uma organização criminosa, tem suas comunicações telefônicas interceptadas e, durante 
uma das conversas, entrega que Mévio exercia uma função menor na organização. Após 
um mandado de busca, a polícia encontrou diversas provas e documentos no domicílio de 
Mévio, o que levou à incriminação de mais dois indivíduos. Ocorre que a interceptação 
foi ilegal, uma vez que mantida por mais de 15 dias sem autorização judicial. Importante 
notar ainda que a informação relativa à participação de Mévio foi registrada no 38º dia, 
não havendo dúvida sobre a ilicitude da prova. 
 
Para responder o contexto narrado, é importante notar que prova ilícita é aquela que viola 
uma norma legal ou constitucional. Assim, a ilicitude da prova é patente, uma vez que o 
art. 5º da Lei nº 9.296/96 foi frontalmente vulnerada, uma vez que ele diz: “a decisão será 
fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a forma de execução da 
diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo 
uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova” (BRASIL, 1996, n. p.). 
No caso em questão não houve renovação do período de interceptação. Logo, percebe-se 
que a interceptação era ilegal no dia em que a conversa de seu assistido foi ouvida. Porém, 
qual é a consequência da ilicitude? Conforme se percebe, de acordo com o artigo 157, 
caput e § 1º do CPP: 
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, 
assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. 
 
§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não 
evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem 
ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. 
Assim, a prova ilícita deve ser inutilizada e desentranhada dos autos. E há mais. O CPP 
também apregoa, como vimos, a ilicitude de todas as provas que derivam da prova ilícita. 
Desse modo, todas as evidências obtidas a partir da interceptação ilegal deverão ser 
desentranhadas dos autos. Ademais, conforme artigo 157, § 5º, o juiz que decidir pela 
nulidade da prova sequer poderá julgar o processo principal, pois estará contaminado. 
AVANÇANDO NA PRÁTICA 
TEORIA DA FONTE INDEPENDENTE 
Imagine que você seja um promotor de justiça que ajuizou uma ação penal baseada em 
um inquérito policial cujas provas foram declaradas nulas perante uma interceptação 
telefônica ilegal, na qual se descobriu a localização de documentos importantes para a 
demonstração da autoria delitiva. Ocorre que o delegado de polícia responsável já havia 
79 
 
representado pelo mandado de busca antes mesmo de se descobrir, por meio da 
interceptação, a localização dos importantes documentos. Há algo que o Ministério 
Público pode fazer para reverter esta decisão? 
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80 
 
UNIDADE III, SESSÃO 1 
BALÍSTICAA 
 
 
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CONVITE AO ESTUDO 
Você já deve ter se deparado, em algum momento de sua vida, com o termo “balística 
forense”, seja por meio de séries de TV, filmes ou até mesmo em algum noticiário 
policial. 
 
No nosso programa de estudo, você terá a oportunidade de descobrir o significado dessa 
expressão e todas as suas implicações práticas. 
 
O escopo principal desta unidade é propiciar o conhecimento sobre armas de fogo, 
munições e seus efeitos no campo do Direito, trafegando pelos caminhos traçados pela 
Medicina Legal na elucidação de crimes, mediante a produção de exames e provas. Mas 
não apenas isso. É importante que você esteja apto a aplicar os conhecimentos adquiridos 
nesta disciplina no dia a dia profissional da área de atuação que escolher. 
Para exemplificar, caso escolha trabalhar na advocacia criminal, você deve estar 
capacitado a compulsar laudos periciais sobre armas de fogo produzidos pelos peritos, 
adotando as medidas judiciais cabíveis em favor do seu cliente; caso decida se enveredar 
pelas carreiras policiais, na posição de delegado, deverá ser capaz de elaborar seu relatório 
81 
 
com base nos documentos mencionados; enquanto magistrado, tem a mesma incumbência 
de sopesar as provas periciais produzidas, formando seu convencimento, etc. 
 
Para tanto, iniciaremos nosso estudo (Seção 3.1) com a conceituação de balística forense, 
sua função, a relação que estabelece com o Direito Penal e Processual Penal, quais os 
princípios que regem o tema e a principal classificação utilizada (balística interna e 
balística externa). Além disso, analisaremos o disparo de armas de fogo e seus efeitos, 
identificação do instrumento, impressões digitais, comparação balística e distância do 
tiro. 
 
Na Seção 3.2, examinaremos as armas de fogo e os projéteis para compreender suas 
características, classificações, espécies, funcionamento e efeitos. 
 
Finalmente, na Seção 3.3 do nosso material, teremos a oportunidade de revisitar e 
aprofundar alguns assuntos já compreendidos sob a ótica do Direito Penal e Processual 
Penal, esmiuçando a cadeia de custódia e armas, assim como as perícias que envolvem a 
matéria, como o exame de eficiência dos instrumentos, inspeção do local do fato, exame 
de comparação balística, exame residuográfico, identificação da arma de fogo, 
papiloscopia e laudo pericial. 
PRATICAR PARA APRENDER 
A balística é um dos mais intrigantes temas da Medicina Legal e da Investigação e 
Criminalística. É por meio dela que se desvenda boa parte dos crimes contra a vida, 
especialmente aqueles que geram comoção nacional e aparentam não ter solução, como 
os que encontramos nos romances policiais de Agatha Christie e Sidney Sheldon. 
 
Além desses, outros delitos podem ser resolvidos ou melhor explicados a partir da 
balística, tais como: disparo de arma de fogo, lesão corporal mediante uso de arma de 
fogo, dano ao patrimônio por meio de arma de fogo, etc. 
 
Em nossos estudos, conheceremos um pouco mais sobre esses instrumentos letais e suas 
munições, a fim de entendermos os efeitos decorrentes do disparo. 
 
Há uma intrínseca relação entre a balística e os ramos do Direito, especialmente o Direito 
Penal e o Direito Processual Penal, visto que, por meio do exame dos objetos citados 
anteriormente, podem-se traçar os contornos das condutas descritas nos tipos 
incriminadores, promovendo-se a devida persecução criminal, com o objetivo de elucidar 
os fatos. 
 
Mas para que isso aconteça, é fundamental a compreensão dos princípios que regem a 
matéria, assim como a sua principal subdivisão em balística interna, balística externa e 
balística terminal. 
 
Com o exame adequado e a apurada interpretaçãodele, pode-se, por exemplo, determinar 
o tipo de armamento utilizado, qual a munição, a distância do tiro, a trajetória do projétil 
e até mesmo quem foi o autor do disparo. 
 
Nesta seção você também passará a entender como se dá o acionamento da munição e 
82 
 
quais os possíveis resultados do disparo. 
 
Assim como ocorre nos filmes, as impressões digitais são vestígios importantes na 
investigação criminal da vida real. Mediante a sua colheita, pode-se individualizar o autor 
de um tiro ou até mesmo afirmar se ele atuou sozinho ou em coautoria com outrem, por 
exemplo. 
 
Lançando-se mão da comparação balística, torna-se possível definir quantos balaços 
foram proferidos, quantos deles atingiram a vítima, qual armamento disparou 
determinado projétil, se a arma apreendida pela polícia foi utilizada para atingir a vítima, 
entre outros aspectos de suma importância na perscrutação penal. 
 
Imagine a seguinte situação: após uma briga de bar com Beltrano, Fulano é encontrado 
morto em sua residência por ferimento de tiro. Teria sido ele assassinado pelo seu 
desafeto? Por terceira pessoa? Ou teria se suicidado? As respostas a essas indagações 
podem ser encontradas por intermédio da balística. 
 
Já deu para perceber a importância da matéria a ser estudada para a sua vida estudantil e 
profissional? 
Você deve ter ficado curioso com a situação-problema levantada superficialmente na 
introdução desta seção, certo? Vamos enriquecê-la com mais detalhes a fim de que, no 
momento adequado, possamos solucionar o fato. 
 
Em uma tarde de domingo, Fulano se dirige ao bar que costuma frequentar e lá encontra 
Beltrano, pessoa com quem não tem boa relação. Depois de algumas bebidas, os dois 
acabam discutindo e se agredindo fisicamente. Apaziguada a contenda, cada um segue 
embora às suas casas. 
 
No dia seguinte, Fulano é encontrado morto em sua residência por sua sobrinha, Cicrana, 
que resolveu forçar sua entrada no local após chamar diversas vezes, telefonar e não ser 
atendida. 
 
Notificada do fato, a polícia se dirige à casa e encontra Fulano na seguinte situação: 
deitado no banheiro, embaixo do chuveiro, vestido, todo ensanguentado, repleto de 
hematomas e escoriações, com uma marca de tiro na testa e um revólver calibre 38 jogado 
no chão, próximo ao corpo. 
 
Dentre as medidas investigatórias cabíveis, você, Delegado de Polícia recém-aprovado 
em concurso público, responsável pelo Departamento de Homicídios da cidade, 
determina que se proceda ao depoimento Cicrana e de Beltrano, que se faça o exame de 
corpo de delito no cadáver, no projétil a ser extraído, na arma e nos dois sujeitos citados, 
ocasião em que são colhidas suas impressões digitais, alguns vestígios de suas mãos e 
outros dados reputados importantes. 
 
O resultado dos exames revela duas feridas perfurocontusas: um orifício de entrada, 
arredondado, maior que o projétil, contendo zona de tatuagem; além de um orifício de 
saída um pouco maior, por onde o sangue foi espirrado na parede e nas roupas do falecido. 
 
Apesar disso, foram encontradas apenas as digitais de Fulano e Cicrana na arma, assim 
83 
 
como as da sobrinha e de Beltrano sobre o corpo do morto. Em depoimento, após laudo 
que constatou a presença de traços pólvora e outras substâncias em sua mão direita, 
Cicrana alega ter tocado em seu tio e no revólver, pois se viu desesperada com a situação, 
afirmando, inclusive, ter tentado reanimá-lo. 
 
Diante desses fatos, Sr. Delegado, com relação à morte de Fulano, houve crime? Em caso 
positivo, qual o crime praticado e quem foi o autor do delito? Qual a distância do disparo? 
Justifique. 
Balística forense é um dos temas mais recorrentes em concursos públicos das carreiras 
policiais. Portanto, dominando o assunto, você pode gabaritar as questões referentes a ele 
e, com isso, garantir sua aprovação. 
 
Por isso, força, foco e determinação! Seu sucesso só depende das suas atitudes! 
CONCEITO-CHAVE 
Acompanhando o noticiário, ou até mesmo na sua vida profissional, caso já esteja 
envolvido com a prática do Direito, você já deve ter ao menos ouvido falar do termo 
“balística forense”. Pela própria acepção das palavras, é possível identificar que se está a 
tratar de balas (munição) e que há uma relação direta disso com o Fórum (leia-se: Justiça 
e os tribunais). 
 
Dica: em provas e concursos, é muito comum o aluno/candidato não se lembrar de 
determinados conteúdos da matéria (dado o grande volume de informações solicitadas). 
Um macete para tentar se chegar à resposta correta, ou até mesmo para compreender 
melhor a origem e o significado de algumas expressões durante o estudo, é tentar decifrar 
o seu significado literal, palavra por palavra. 
 
Embora o escopo da balística seja o conhecimento acerca do movimento de corpos 
lançados ao ar livre, interessa-nos, especificamente, apenas os disparos de projéteis de 
armas de fogo. 
 
Segundo Croce e Croce Júnior (2012), a balística “estuda os mecanismos de disparo do 
projétil e seus vários movimentos dentro do cano da arma e no exterior”. 
 
Logo, a balística forense corresponde ao estudo do movimento dos projéteis, das forças 
envolvidas nesse processo (ex.: gravidade), das suas trajetórias e dos seus efeitos no alvo 
(HERCULES, 2011), mas com finalidade jurídica (tanto civil quanto penal). 
 
Trata-se de um tema comumente estudado em Medicina Legal e que, na prática forense, 
se presta a produzir provas destinadas a trazer à tona a materialidade do fato, seus 
contornos e, principalmente, sua autoria. É nesse contexto que se justifica a sua íntima 
relação com o Direito Penal e com o Direito Processual Penal – sem descartar a ligação 
com os demais ramos do Direito. 
 
Dessa forma, a balística forense é um tópico do campo da investigação e criminalística 
de suma importância no desenvolvimento da persecução penal e no enquadramento do 
crime, com reflexos também na seara cível. 
A redação do caput do art. 158 do Código de Processo Penal deixa clara essa 
84 
 
interdependência entre as ciências, quando aduz que “quando a infração deixar vestígios, 
será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a 
confissão do acusado” (BRASIL, 1941, [s. p.]). 
 
Ora, nos crimes que contam com o disparo de arma de fogo, os projéteis, o corpo da 
vítima, os estilhaços de objetos e até mesmo o próprio atirador (em virtude de eventuais 
resquícios de pólvora) configuram corpos de delito, ou seja, os vestígios deixados pela 
infração. 
 
Dica: para a perfeita compreensão do conteúdo debatido nesta seção, recomenda-se o 
estudo da Seção 3.2 desta unidade, que destrincha as armas de fogo e seu funcionamento. 
Além disso, é importante que o aluno tenha conhecimento sobre o tema “provas” do 
Direito Processual Penal. 
 
A balística forense materializa o Princípio da Verdade Real, informador do Processo 
Penal, haja vista que os exames periciais empreendidos nesse contexto se destinam à 
apuração científica da realidade dos fatos. 
 
São aplicáveis ao assunto em tela os preceitos gerais que regem as provas no Direito 
Processual Penal, quais sejam: o princípio da comunhão da prova; o princípio da liberdade 
das provas; o princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos 
(RANGEL, 2015). 
 
Ainda que não seja o objeto do nosso estudo no Direito, vale destacar, a título de 
esclarecimento, que a balística se alicerça em princípios e leis da Física, tais como: 
gravidade, inércia, pressão, dinâmica, ação e reação, termodinâmica, entre outros. 
 
Como bem definem Croce e Croce Júnior (2012, p. 343), 
Interessa ao perito conhecer Balística para solucionar questões referentes às armas de 
fogo, permitindo-lhe esses conhecimentos determinar qual a arma de que proveio um 
projétil conhecido ou, apresentados o bullet e várias armas, apontar com certeza qual 
dentre elas o disparou. 
No entendimentoda maior parte da doutrina, a balística se divide em: 
• Balística interna; 
• Balística externa; 
• Balística terminal. 
A primeira (balística interna) analisa a arma, seus mecanismos e funcionamento, a 
munição, bem como o evento balístico, desde o municiamento até a saída da bala pelo 
orifício do cano. 
 
Já a segunda (balística externa) estuda o movimento do projétil desde o orifício de saída 
da arma até o impacto. 
 
Por fim, a balística terminal se ocupa das deformações sofridas pelo projétil após o 
impacto e os efeitos produzidos no ponto de colisão (anteparo). 
ASSIMILE 
85 
 
Os objetos de estudo de cada subdivisão do tema “balística forense” podem ser 
sintetizados no quadro a seguir. Observe: 
Quadro 3.1 | Subdivisões da balística forense 
Balística interna Balística externa Balística terminal 
Substâncias que promovem a 
combustão, estrutura da munição e 
maquinário das armas 
Trajetórias Efeitos produzidos no alvo 
ou anteparo 
Fonte: elaborado pelo autor. 
REFLITA 
Mesmo que em nossos estudos nós adotemos a definição clássica de Hygino de Carvalho 
Hercules e da maior parte dos escritores, é importante que o aluno conheça a subdivisão 
trazida por Delton Croce e Delton Croce Júnior em: 
• Balística interior: estuda os movimentos do projétil no interior do cano, 
a pressão dos gases, a velocidade inicial do bullet e a sua relação com a 
velocidade de recuo, a natureza da carga empregada e a sua influência 
quanto ao peso da bala, quanto ao calibre e o comprimento do cano; 
• Balística externa: estuda a origem da trajetória, a trajetória, a linha e o 
plano de tiro, o ângulo de tiro, a linha de mira, a linha e o ângulo de sítio, 
o alcance, os movimentos do projétil no espaço e a influência que sobre 
ele exercem a força viva, a gravidade e a resistência do ar (CROCE; 
CROCE JÚNIOR, 2012, p. 343). 
Qual das duas você acha mais adequada? 
Conforme estudaremos na Seção 3.2, a arma é composta, essencialmente (existem outras 
partes), de: aparelho arremessador (arma em si) e cartucho (carga de projeção e projétil). 
Quando a arma é disparada, ocorre o arremesso do projétil, que se dá em virtude da força 
expansiva dos gases gerados pela combustão de um propelente (usualmente, pólvora), 
confinado no cartucho. 
Com o acionamento do gatilho, o percutor (da arma) se choca com a cápsula da espoleta 
(do cartucho), as substâncias da munição se expandem, forçando seu estojo (cartucho) 
por todos os lados, mas, em virtude da resistência do material da câmara de combustão 
(arma), o único caminho de escape dos gases é a base do projétil (cartucho). 
 
Essa explosão impulsiona o projétil, com giros em torno do seu próprio eixo longitudinal 
pelo cano da arma (que, geralmente, é raiado), em direção à saída (boca). 
Por conta do disparo, os cheios da raiação ocasionam sulcos no projétil e se prestam a 
fazê-lo girar, pois, não fosse isso, ele teria uma trajetória mais curta do final do cano ao 
ponto de impacto e/ou atingiria o alvo com a sua base ou lateral (e não com a sua ponta). 
 
É importante observar que nem sempre os canos são raiados, como é o caso da espingarda 
calibre 12, que em vez de enviar um projétil a uma longa distância por vez, pode lançar 
vários (como se fossem bolinhas de chumbo) a uma distância mais curta e de forma menos 
concisa. 
86 
 
 
Em síntese, há uma combustão dentro da arma que expele a ponta da munição para fora 
do cano, girando e com força, fazendo-a atingir o alvo ou algum obstáculo. 
 
Desse caminho da munição pelo interior do cano e, consequentemente, dele até o ponto 
de impacto, podemos extrair alguns efeitos: marcação dos projéteis com sulcos 
provenientes do contato com o cano; deformação do estojo, pelo impacto do acionamento 
da munição; deformação do projétil ao atingir algum obstáculo ou o alvo, etc. Todos esses 
objetos devem ser alvo de perícia criminal, como a comparação balística (a ser abordada 
na sequência). 
 
As lesões causadas por armas de fogo têm as seguintes causas: homicida, suicida ou 
acidental. 
 
Qualquer um dos casos mencionados gera repercussões físicas no autor do tiro, sendo a 
principal delas a presença de substâncias decorrentes da combustão na mão que empunha 
a arma (chumbo, cobre, pólvora incombusta) e nas suas vestimentas (nitrato de potássio, 
nitrito de potássio, sulfeto de potássio, sulfeto de chumbo e outros) – que devem ser objeto 
de perícia. 
 
Além disso, a própria arma pode – e deve, quando possível – ser analisada pericialmente, 
haja vista que em seu cano e câmaras são depositadas as mesmas substâncias elencadas 
anteriormente. Contudo, dentre os efeitos do disparo das armas de fogo, os mais 
importantes são aqueles produzidos na vítima. 
Os projéteis de arma de fogo geram feridas perfurocontundentes (como estudaremos em 
Traumatologia, na Unidade de Ensino 4 – Medicina Legal). 
O estudo dessas lesões compreende o exame da ferida de entrada, do trajeto (no 
interior do corpo) e da ferida de saída, além da forma dessas chagas, sua dimensão e 
elementos que, via de regra, as acompanham (ex.: resíduos da combustão). 
 
Laboratorialmente, é possível simular esse quadro com o auxílio de uma substância 
especial chamada gelatina balística, a qual, graças à sua viscosidade e coloração 
translúcida, ilustra todo o caminho percorrido pelo projétil e seus efeitos. 
 
No corpo humano – mais precisamente na pele –, o projétil causa o orifício de entrada e 
os elementos de vizinhança (também chamados de zona de contornos). Alguns desses 
últimos sempre se farão presentes em qualquer disparo, enquanto outros não. 
 
Você certamente já ouviu falar dos tiros à queima-roupa, que são aqueles proferidos à 
curta distância. Nesses casos, são formadas, além da orla de contusão e halo de enxugo, 
a zona de tatuagem ou a zona de esfumaçamento (a depender de quão perto), que, por sua 
vez, não estarão presentes nos tiros de longa distância. 
 
O orifício de entrada tem as seguintes variações de forma: 
Quadro 3.2 | Variações de forma do ofício de entrada 
87 
 
Tiros perpendiculares (em cheio) Ferida circular/redonda O 
Tiros inclinados ou em superfície com 
depressão 
(em cheio) 
Ferida oval/linear/fenda () 
Tiro de raspão Apenas escoriações ------ 
Fonte: elaborado pelo autor. 
Nos tiros à queima-roupa, a forma da ferida pode ser circular ou oval, a depender da 
incidência, mas haverá sempre a presença dos elementos de vizinhança. 
 
O “efeito de mina” é formado nos tiros apoiados (em que o agente encosta a arma na 
pele da vítima), decorrente dos gases do disparo, que acabam rompendo os tecidos moles, 
“arrepiando-os”. Nesse tipo de disparo não são observados a zona de tatuagem e o negro 
de fumo. 
 
Com relação à dimensão, os ferimentos se apresentam da seguinte maneira: 
Quadro 3.3 | Dimensão de ferimentos 
Tiros à distância Orifício geralmente menor do que o calibre da munição (esticam 
a pele – efeito “dedo de luva”) 
Tiros à curta distância 
ou encostados 
Orifício de entrada maior do que o calibre da munição (impacto) 
Tiros com projétil 
esférico 
Orifício geralmente maior que o calibre da munição 
Fonte: elaborado pelo autor. 
Além da ferida principal, por onde penetra a bala, como vimos, são gerados efeitos 
secundários, chamados de elementos de vizinhança: 
Quadro 3.4 | Elementos de vizinhança 
Elementos sempre presentes 
Elementos nem 
sempre presentes 
- Orla de contusão – área minúscula que circunda o orifício de 
entrada (ajuda na determinação da direção do tiro). 
 
- Halo de enxugo/limpeza – área escura, formada pelos resíduos de 
pólvora, tecido, graxa, etc. 
 
OBS.: Quanto ao formato, seguem a sorte do orifício de entrada. 
- Zona de tatuagem 
verdadeira – é um 
chamuscado de 
pólvora, nunca 
presente no orifício 
de saída, que aparece 
nos disparos à 
queima-roupa ou 
apoiados. 
 
- Zona de tatuagem 
falsa – assemelha-se 
à anterior, mas pode 
ser removidafacilmente com água 
(grânulos 
incombustos de 
pólvora). 
 
88 
 
Elementos sempre presentes 
Elementos nem 
sempre presentes 
- Queimaduras 
(chamuscamento) – 
produzidas pelas 
chamas dos tiros 
produzidos à curta 
distância ou 
encostados. 
 
- Zona de 
esfumaçamento (ou 
negro de fumo) – 
foligem resultante da 
pólvora no entorno 
do orifício de 
entrada, que 
transborda a zona de 
tatuagem. 
 
- Auréola 
equimótica – círculo 
violeta, causado pela 
ruptura de vasos 
sanguíneos ao redor 
do orifício de 
entrada. 
Fonte: elaborado pelo autor. 
O trajeto, como já mencionado, é o curso percorrido pela bala dentro do alvo. Quando 
há orifício de saída, é chamado de aberto e encontra-se a bala fora do corpo da vítima; 
quando não há, é chamado de em fundo cego ou em fundo de saco, restando o projétil 
alojado, comumente, na extremidade final do corpo alvejado. 
 
Nesse percurso, muita coisa pode acontecer, como o projétil se espalhar (trajeto único 
transformado múltiplo) ou ir ricocheteando dentro do corpo, sendo encontrado longe do 
orifício de entrada. 
EXEMPLIFICANDO 
Nesses casos de disparos com trajeto em fundo cego/de saco, pode ocorrer de o orifício 
de entrada se situar no abdômen da vítima e a bala ser encontrada em seu pulmão. 
ASSIMILE 
Não se deve confundir trajeto com trajetória. Trajeto indica o percurso seguido pelo 
projétil dentro do alvo, enquanto trajetória é o caminho descrito pelo projétil desde o 
disparo até o alvo. 
Seguindo a lógica, o orifício de saída é aquele por onde a bala deixa o alvo. Ele não 
contempla as lesões produzidas no orifício de entrada e, em se tratando de pessoas e 
animais, costumeiramente produz secreção (vazamento de sangue, órgãos dilacerados e 
89 
 
outros). Por óbvio, não existe no trajeto em fundo cego. 
 
A identificação da arma utilizada na prática de um delito é um procedimento que tende 
a definir sua identidade, valendo-se das suas características e registro (identificação 
direta/imediata) ou das características que a distinguem das demais (identificação 
indireta/mediata), quais sejam: marca, modelo, país de fabricação, calibre, tambor, cano, 
acabamento, mecanismos, eventuais modificações, sentido das raias, tipo de alma, 
número de série. 
 
Observação: Esses atributos serão explicados detalhadamente na Seção 3.2 de nossos 
estudos. 
 
Em outras palavras, isso pode ocorrer da maneira mais simples, como um policial 
descrevendo o material apreendido no Termo de Apreensão, ou da mais complexa, 
mediante laudo pericial. 
 
Para tanto, a Portaria nº 07, de 28 de abril de 2006, do Departamento Logístico do 
Exército Brasileiro do Ministério da Defesa, define alguns critérios para a fabricação de 
armas no Brasil, com base em diretrizes internacionais. 
EXEMPLIFICANDO 
Alguns critérios definidos pela Portaria nº 07/06 – MD são: obrigatoriedade de nome ou 
marca do fabricante, nome ou sigla do país, calibre, número de série impresso nos 
elencados, ano de fabricação. 
O número de série é o principal elemento individualizador do aparato bélico (como se 
fosse seu DNA), podendo ser encontrado comumente na armação, no cano e na culatra, 
em caracteres alfanuméricos ou apenas numéricos. 
Por sua vez, o logotipo da marca tende a vir gravado na empunhadura, com inscrições no 
monobloco e no cano. A título de ilustração, a brasileira Taurus possui como emblema 
um touro; a americana Colt, uma víbora no “c” do nome e, às vezes, um cavalo ao lado; 
a italiana Beretta, três flechas apontando para cima. 
Já o número de montagem aparece na armação, no cano, no suporte do tambor ou no 
extrator. 
 
No entanto, o processo de identificação pode encontrar obstáculos, como armas com a 
identidade removida ou estrutura alterada. 
 
Os métodos mais usuais de mascaramento ou remoção das gravações são: agentes 
mecânicos (abrasão mecânica, puncionamento, limagem, regravação, brocagem, 
soldagem); agentes químicos; ferrugem; ação do tempo. 
 
Contudo, analisando-se laboratorialmente a estrutura do material, é possível se constatar 
a fraude e revelar as características originais da arma, permitindo-se, assim, o seu 
reconhecimento. 
 
Para deslinde do crime, porém, não bastam os meios de identificação da(s) arma(s), sendo 
imprescindível se desvendar sua autoria, inclusive por intervenção desse(s) objeto(s) 
utilizado(s) e do(s) projétil(eis) disparados. Duas importantes ferramentas desse trabalho 
pericial são a papiloscopia e a comparação balística – cujo estudo pormenorizado se 
90 
 
dará na Seção 3.3 desta unidade. 
 
Basicamente, a primeira, também chamada de datiloscopia por alguns autores, estuda as 
impressões digitais depositadas nos objetos (vidro de um carro, caneta, copo, arma, etc.). 
Cuida-se da análise das papilas existentes nos dedos das mãos e dos pés, a fim de se 
apontar o autor do delito por meio de comparação. 
EXEMPLIFICANDO 
Como exemplo de um processo de papiloscopia, podemos citar o confronto entre as 
marcas deixadas por um assassino em uma faca e os dedos de um suspeito preso pela 
polícia. 
Por outro lado, a segunda observa as características marcantes dos projéteis (sinais de 
raias do cano de uma pistola, deformações, calibre, inscrições, marca, entre outros 
atributos), na intenção de determinar a arma utilizada no disparo (e, consequentemente, 
seu autor). 
 
Como você pôde perceber ao longo de nossos estudos, a balística forense é um tema 
intimamente ligado às ciências criminais, igualmente importante na apuração do fato 
delituoso. Conhecer seus elementos e nuances faz toda a diferença na qualidade da 
atuação profissional do operador do Direito. 
FAÇA VALER A PENA 
Questão 1 
Hercules (2011, p. 234) conceitua a Balística com os seguintes dizeres: “é a parte da 
Mecânica que estuda o movimento dos projéteis e as forças envolvidas na sua impulsão, 
trajetória e efeitos finais. No caso particular dos projéteis de arma de fogo (PAF), abrange 
o conhecimento dos propelentes e do mecanismo das armas (___________), das 
trajetórias (__________) e dos efeitos produzidos no alvo (______________)”. 
Assinale a alternativa que apresenta corretamente o conteúdo que deve ser inserido nos 
parênteses do texto acima, acerca das subdivisões da Balística, na ordem em que 
aparecem. 
a. balística externa; balística terminal; balística interna. 
b. balística dos fenômenos; balística dos movimentos; balística do impacto. 
c. balística interna; balística externa, balística do impacto. 
d. balística interna; balística externa; balística terminal. 
e. balística dos fenômenos; balística dos movimentos; balística terminal. 
Questão 2 
Considere a seguinte lição de Croce e Croce Júnior (2012) acerca do estudo das lesões 
produzidas por projéteis de armas de fogo: 
 
“Na pele o projétil ocasiona o orifício de entrada e elementos de vizinhança ou zona de 
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91 
 
contornos, alguns constantes, qualquer que seja o tipo de tiro, como a orla de contusão e 
o halo de enxugo, e outros que podem faltar, condicionados à distância do disparo, como 
a tatuagem, as queimaduras e o negro de fumo.” (CROCE; CROCE JÚNIOR, 2012, p. 
344) 
Assinale a alternativaque contém uma característica (elemento de vizinhança ou zona de 
contornos) singular dos tiros apoiados (encostados) – ou seja, que não ocorre nos tiros à 
distância e à queima-roupa. 
a. Zona de tatuagem verdadeira. 
b. Negro de fumo. 
c. Efeito “de mina” ou câmara de mina de Hoffmann. 
d. Halo de enxugo ou de limpeza. 
e. Zona de tatuagem falsa. 
Questão 3 
Quando alguém dispara uma arma de fogo, recebe uma parte da descarga dos gases que 
escapam da câmara de combustão por minúsculas brechas, que variam de uma arma para 
a outra.” 
(HERCULES, 2012, p. 241) 
“[...] estuda as impressões digitais, que são vestígios e marcas deixadas pelas polpas dos 
dedos graças à substância gordurosa secretada pelas glândulas sebáceas em quase todos 
os locais de crime e em objetos os mais variados, como a superfície lisa de vidros, 
espelhos, copos, móveis, louças e faianças, armas, facas, frutas, folhas de plantas, luvas. 
(CROCE; CROCE JÚNIOR, 2012, p. 108) 
Acerca dos textos acima, avalie a pertinência das afirmações a seguir: 
I. O primeiro texto guarda relação com o exame chamado de prova de Iturrioz ou “luva 
de parafina; 
II. O primeiro texto se refere ao exame que revela a zona de tatuagem nas mãos do 
atirador; 
III. O segundo texto trata do exame conhecido como datiloscopia ou papiloscopia; 
IV. O segundo texto conceitua o exame de comparação balística. 
Com base nos textos, pode-se afirmar que: 
a. Está correto o que se afirma em I e III. 
b. Está correto o que se afirma em I e II. 
c. Está correto o que se afirma em II e IV. 
d. Está correto o que se afirma em III e IV. 
e. Nenhuma afirmação está correta. 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. 
Brasília, DF: Presidência da República, 1941. Disponível em: https://bit.ly/3DgmHYG. 
Acesso em: 27 mar. 2021. 
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92 
 
 
BRASIL. Ministério da Defesa. Portaria n° 07-D Log, de 28 de abril de 2006. Aprova 
as Normas Reguladoras para Definição de Dispositivos de Segurança e Identificação das 
Armas de Fogo Fabricadas no País, Exportadas ou Importadas. Brasília, DF: Ministério 
da Defesa, 2006. Disponível em: https://bit.ly/3ylKMJQ. Acesso em: 27 mar. 2021. 
 
CROCE, D.; CROCE JÚNIOR, D. Manual de medicina legal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 
2012. Disponível em: https://bit.ly/2WqjG7f. Acesso em: 4 jul. 2021. 
 
HERCULES, H. de C. Medicina legal: texto e atlas. São Paulo: Atheneu, 2011. 
 
RANGEL, P. Direito processual penal. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2020. Disponível 
em: https://bit.ly/3my2qYI. Acesso em: 4 jul. 2021. 
 
TOCCHETTO, D. Balística forense: aspectos técnicos e jurídicos. 11. ed. São Paulo: 
Millennium. 2021. 
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93 
 
SEM MEDO DE ERRAR 
Você se lembra da situação-problema apresentada? Caso não se recorde, não se preocupe. 
Faremos, a seguir, uma síntese dos fatos. 
 
Fulano é encontrado morto em sua residência por sua sobrinha, Cicrana, na seguinte 
situação: deitado no banheiro, embaixo do chuveiro, vestido, todo ensanguentado, repleto 
de hematomas e escoriações, com uma marca de tiro na testa e um revólver calibre 38 
jogado no chão, próximo ao corpo. 
 
Os exames por você determinados revelam duas feridas perfurocontusas: um orifício de 
entrada, arredondado, maior que o projétil, contendo zona de tatuagem; além um orifício 
de saída um pouco maior, por onde o sangue foi espirrado na parede e nas roupas do 
falecido. 
 
Apesar disso, foram encontradas apenas as digitais de Fulano e Cicrana na arma, assim 
como as da sobrinha e de Beltrano sobre o corpo do morto. Em depoimento, após exame 
que constatou a presença de traços pólvora e outras substâncias em sua mão direita, 
Cicrana alegou ter tocado em seu tio e no revólver, pois se viu desesperada com a situação, 
afirmando, inclusive, ter tentado reanimá-lo. 
 
Diante desse contexto, pode-se afirmar que houve crime. Isso porque, embora as digitais 
encontradas na arma sugiram tanto suicídio como homicídio, outros efeitos devem ser 
levados em consideração. 
 
Como estudamos, o buraco de entrada da bala em formato arredondado (e não ovalado) 
indica um tiro perpendicular (difícil de ser produzido por um suicida). Além disso, o 
orifício de entrada maior que o projétil e os elementos de vizinhança encontrados deixam 
claro que se trata de um tiro à queima-roupa (curta distância), comum em homicídios. 
 
A chave para desvendar o mistério é, então, a pólvora encontrada na mão direita da 
mulher. Somente quem efetua o disparo absorve esses efeitos. 
 
Portanto, houve crime de homicídio. Nesse contexto, pode-se afirmar que ele foi praticado 
por Cicrana, por um tiro à queima-roupa (curta distância). 
AVANÇANDO NA PRÁTICA 
ABSOLVIÇÃO PELA BALÍSTICA FORENSE (PAPILOSCOPIA) 
Vamos reaproveitar a situação-problema já apresentada, mas com duas mudanças radicais 
de curso: não fora encontrada pólvora na mão direita de Cicrana; você não é o Delegado, 
e sim o advogado de defesa de Beltrano. 
 
Diante disso, vamos relembrar o caso, mas com as devidas modificações: 
 
No dia seguinte a uma briga de bar com Beltrano (agressões físicas), Fulano é encontrado 
morto em sua residência por sua sobrinha, Cicrana, na seguinte situação: deitado no 
94 
 
banheiro, embaixo do chuveiro, vestido, todo ensanguentado, repleto de hematomas e 
escoriações, com uma marca de tiro na testa e um revólver calibre 38 jogado no chão, 
próximo ao corpo. 
 
Os exames determinados pelo Delegado de Polícia revelam duas feridas perfurocontusas: 
um orifício de entrada, arredondado, maior que o projétil, contendo zona de tatuagem; 
além um orifício de saída um pouco maior, por onde o sangue foi espirrado na parede e 
nas roupas do falecido. 
 
Apesar disso, foram encontradas apenas as digitais de Fulano e Cicrana na arma, assim 
como as da sobrinha e de Beltrano sobre o corpo do morto. Emdepoimento, Cicrana 
alegou ter tocado em seu tio e no revólver, pois se viu desesperada com a situação, 
afirmando, inclusive, ter tentado reanimá-lo. 
 
Na condição de advogado, contratado por Beltrano, qual estratégia de defesa você usaria 
em favor do seu cliente? 
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95 
 
UNIDADE III, SESSÃO 2 
ARMAS DE FOGO E PROJÉTEIS E SEUS EFEITOS 
S DE FOGO E PROJÉTEIS E Lorenzo Grill
 
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PRATICAR PARA APRENDER 
O assunto “armas de fogo” é daqueles que empolgam os aficionados e chamam a atenção, 
sobretudo, dos aspirantes às carreiras policiais. 
 
Trata-se, na verdade, de um tema que desperta o interesse da humanidade desde a 
elaboração dos primeiros instrumentos rústicos de caça e de combate. 
 
Isso se deve à ânsia do homem pelo poder e pela dominação de outros povos, que pode 
ser obtida por meio da força, além da necessidade de caça e de autodefesa. 
 
Nos dias atuais, essa dominação e subjugação humana acontece, em muitos casos, por 
meio do poderio bélico, ou seja, pela simples ostentação ou uso das armas de fogo – em 
guerras, assaltos, homicídios, torturas, etc. 
 
Não devemos nos esquecer, entretanto, que certos mecanismos letais podem ter 
finalidades muito mais nobres, como a caça para subsistência ou controle de pragas, a 
96 
 
prática de esportes e, até mesmo, a autodefesa. 
 
Por esse breve contexto, já se pode deduzir a relação das armas de fogo com o Direito, 
principalmente com as Ciências Criminais. 
 
Como se sabe, o Direito Penal e o Processo Penal se ocupam, respectivamente, da 
repressão de fatos eleitos como antissociais (criminosos) e sua investigação/persecução 
processual. Ocorre que boa parte dessas condutas delituosas é praticada mediante o uso 
de armas de fogo. 
 
Dentre esses delitos, podemos citar: homicídios, latrocínios, roubos, alguns tipos de 
tortura, tentativas de suicídio, disparos de arma de fogo na via pública, entre outros. 
 
Já estudamos na seção anterior (3.1) a importância das perícias criminais, com destaque 
à Balística Forense e suas ramificações na elucidação de crimes. Vimos também que ela 
debruça seus estudos sobre a arma e a munição, tais quais a trajetória do projétil e seus 
efeitos. 
 
Portanto, para a perfeita compreensão da Balística Forense, é indispensável que você 
conheça as armas de fogo, seu funcionamento, características, espécies, classificação e 
tipos de munição. 
 
Por meio do conteúdo desta seção, você será apresentado aos mecanismos que compõem 
as armas de fogo e permitem a realização do disparo da munição. 
 
Você poderá analisar, ainda, as principais características desses instrumentos, as 
classificações e as espécies existentes. 
Suponha que você seja um promotor de justiça atuante na cidade de São Paulo (SP) e 
recebe em seu gabinete os autos de um inquérito policial envolvendo a apreensão de uma 
arma, assim descrita em um dos quesitos da perícia realizada: trata-se de uma arma de 
fogo, com mecanismo da marca Colt, dissimulada como uma bengala, com potencial de 
disparo, carregada, com capacidade de quatro tiros. 
 
O relatório do delegado de polícia responsável e os demais documentos juntados atestam 
que a arma foi encontrada na posse de Fulano, que já tem passagem pela polícia por tráfico 
de drogas, numa blitz policial realizada em seu estabelecimento comercial (bar). 
 
Levando-se em conta a classificação da arma e o fato de que os autos estão em seu poder 
para a adoção de providências, você denunciaria o investigado ou propugnaria pelo 
arquivamento do feito? Justifique. 
Como mencionado anteriormente, as armas e a munição são a base do estudo da Balística 
Forense – um dos temas mais recorrentes em concursos de provas e títulos das carreiras 
policiais, bem como da prática do Direito Penal. 
 
Então, fique atento às explicações do professor, leia o material e resolva os exercícios 
para treinar o conhecimento adquirido. Isso garantirá a você o diferencial necessário para 
se destacar no mercado de trabalho. 
97 
 
CONCEITO-CHAVE 
Como já aprendemos na Seção 3.1, as armas de fogo e seus projéteis compõem o núcleo 
de estudo da Balística – tema da unidade de estudo desta seção. 
 
Para que possamos compreender melhor o quer são “armas de fogo”, faz-se necessário 
entender o que são “armas” para o Direito. 
 
É claro que você já tem uma definição, em sua mente, de ambos os termos, mas neste 
momento, em que nos preparamos academicamente para ingressar no mercado de 
trabalho futuramente, precisamos construir um conceito técnico. 
 
Para isso, nos valemos da explicação de Nucci (2010, p. 761, grifo nosso) do que vem a 
ser arma: 
é o instrumento utilizado para defesa ou ataque. Denomina-se arma própria, a que é 
destinada, primordialmente, para ataque ou defesa (ex.: armas de fogo, punhal, espada, 
lança etc.). Logicamente, muitas outras coisas podem ser usadas como meios de defesa 
ou de ataque. Nesse caso, são as chamadas armas impróprias (ex.: uma cadeira atirada 
contra o agressor; um martelo utilizado para matar; uma ferramenta pontiaguda servindo 
para intimidar). Quando o tipo penal se refere apenas a arma, devem-se admitir as próprias 
e as impróprias. Afinal, quando quer, o legislador deixa claro tratar-se de arma de fogo. 
REFLITA 
Croce e Croce Júnior (2012), ao tratar de “energias de ordem mecânica”, classificam as 
armas do seguinte modo: 
1) armas naturais — mãos, pés, cotovelos, joelhos, cabeça, dentes, 
unhas; 
2) armas propriamente ditas — armas de fogo, punhal, soco-inglês, 
cassetete, pejeuzeira, peixeira, tacape, borduna; 
 
3) armas eventuais — navalha, lâmina de barbear, canivete, faca, 
barra de ferro, balaústre, bengala, tijolo, foice, facão de mato, podão 
[...]. (CROCE; CROCE JÚNIOR, 2012 
Qual definição você acha mais completa, a de Guilherme de Souza Nucci ou a de Delton 
Croce e Delton Croce Júnior? 
 
OBS.: Em provas e concursos, opte pela definição do professor Nucci, pois é adotada pela 
maior parte dos autores e, consequentemente, pelas bancas examinadoras. 
As armas e seus processos de fabricação acompanharam a tecnologia e a própria evolução 
social humana, de modo que fomos desde a “pedra lascada” à nova versão do Tomahawk 
(míssil de cruzeiro de longo alcance subsônico). 
 
Com base no que foi exposto anteriormente e nas ideias já absorvidas da seção anterior, 
podemos, então, afirmar que as armas de fogo são armas próprias (fabricadas para o fim 
específico de ataque/defesa) e que causam ferimentos perfurocontusos. 
 
98 
 
Sua origem remonta ao descobrimento da pólvora, na China, no século IX, mas de forma 
rudimentar. A difusão desses instrumentos pelo mundo ocorreu apenas no século XIII, 
com a criação de canhões de madeira com cinta de ferro, pelos árabes. Os canhões de 
bronze (mais seguros) apareceram apenas no século XIV e abriram caminho para os mais 
diversos incrementos (QUAL..., 2018). 
 
Como você já deve ter estudado em Direito Penal (mais especificamente, em Legislação 
Penal Especial), o registro, a posse e a comercialização de armas de fogo e munição no 
Brasil são disciplinados pelo Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826, de 22 de 
dezembro de 2003), que, por sua vez, é complementado por decretos e regulamentos. 
 
Com a revogação do art. 3º do Decreto nº 3.665, de 20 de novembro de 2000, que deu 
nova redação ao Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados – R-105, a 
definição legal de arma de fogo fica, atualmente, a cargo do “Glossário” (Anexo III) do 
Decreto nº 10.030, de 30 de setembro de 2019: 
[...] Arma de fogo: arma que arremessa projéteis empregando a força expansiva dos gases, 
gerados pela combustãode um propelente confinado em uma câmara, normalmente 
solidária a um cano, que tem a função de dar continuidade à combustão do propelente, 
além de direção e estabilidade ao projétil [...]. 
(BRASIL, 2019, [s. p.]) 
ASSIMILE 
O Decreto nº 10.030, de 30 de setembro de 2019, frequentemente utiliza a sigla PCE, que, 
segundo o caput do seu art. 2º, significa “Produto Controlado pelo Comando do Exército”, 
gênero do qual é espécie a arma de fogo. 
Compõem as armas de fogo o aparelho arremessador (arma em si) e o cartucho, que é 
formado pela carga de projeção (pólvora e outras substâncias que permitem a propulsão) 
e o projétil. 
 
Ainda sobre a definição e as características desses mecanismos letais, é importante 
conhecer outros tipos de armas, inclusive para que possamos traçar um conceito por 
exclusão. 
 
Você já deve ter ouvido falar em “arma branca”, mas o que vem a ser isso? O Decreto nº 
3.665/00 descrevia esse objeto como “artefato cortante ou perfurante, normalmente 
constituído por peça em lâmina ou oblonga” (BRASIL, 2000, [s. p.]). 
 
Ocorre que, por conta da sua revogação e do fato de o Decreto nº 10.030/19 (em vigor) 
silenciar acerca da matéria, não temos mais uma conceitualização legal, restando-nos 
utilizar a definição revogada ou qualquer outra trazida pela doutrina ou jurisprudência – 
o que já é suficiente para a distinguirmos do tema principal desta seção. 
 
O Decreto vigente, contudo, traz, em seu Anexo III, a definição de dois objetos 
relacionados às armas de fogo, mas que delas se distanciam em alguns pontos: 
Arma de pressão: arma cujo princípio de funcionamento é o emprego de gases 
comprimidos para impulsão de projétil, os quais podem estar previamente armazenados 
em uma câmara ou ser produzidos por ação de um mecanismo, tal como um êmbolo 
99 
 
solidário a uma mola. 
 
[...] 
 
Réplica ou simulacro de arma de fogo: para fins do disposto no art. 26 da Lei nº 10.826, 
de 22 de dezembro de 2003, é um objeto que, visualmente, pode ser confundido com uma 
arma de fogo, mas que não possui aptidão para a realização de tiro de qualquer natureza 
[...]. 
(BRASIL, 2019b, [s. p.]) 
EXEMPLIFICANDO 
São exemplos de armas de pressão: armas de paintball (atiram cápsulas de tinta), armas 
de airsoft (atiram bolinhas de plástico ou metal) e armas de nerf (atiram dardos de 
espuma). Geralmente são identificadas com uma ponteira laranja, para que não sejam 
confundidas com as armas reais, em virtude da sua similitude meramente estética. 
Tocchetto (2021) classifica as armas de fogo: quanto à alma do cano; quanto ao sistema 
de carregamento; quanto ao sistema de inflamação; quanto ao funcionamento; quanto à 
mobilidade e ao uso (de uso permitido, de uso restrito e de uso proibido). 
 
Já Croce e Croce Júnior (2012) se valem de outra estrutura, mas que define basicamente 
os mesmos conceitos, com palavras diferentes ou em posições diversas. 
 
Você, enquanto delegado de polícia, perito criminal, promotor de justiça, advogado, juiz 
de direito, etc., esbarrará com questões envolvendo a distinção dos instrumentos por meio 
de perícias, ou, até mesmo, da mera identificação ocular. 
 
Quanto à alma do cano, as armas de fogo podem ser lisas ou raiadas. As características 
de cada tipo eram descritas pelo Decreto nº 9.493/18, também revogado pelo Decreto nº 
10.030/19. Logo, resta-nos a definição da doutrina: 
As armas de cano curto têm a alma do cano raiada, o mesmo ocorrendo com as de cano 
longo de precisão, como as carabinas esportivas empregadas no tiro ao alvo. As raias 
imprimem ao ball bullet movimento rotatório sobre o seu próprio eixo, no sentido 
dextrogiro ou levogiro, consoante sejam helicoidalmente espiraladas, respectivamente, 
para a direita ou para a esquerda. As espingardas de caça têm geralmente a alma do cano 
liso e excepcionalmente raiada. As armas de caça modernas, tipo Hammerless, além do 
cano liso, possuem um outro, esquerdo, chokebored, que, a certa distância da boca, tem 
o diâmetro menor, porém ainda liso e regularmente cilíndrico, que, diminuindo a 
dispersão dos grãos de chumbo, aumenta consideravelmente o seu poder de alcance. 
(CROCE; CROCE JÚNIOR, 2012) 
Assim, as raias do cano produzem impressões em alto relevo, enquanto que os cheios 
geram sulcos nos projéteis. 
 
Já estudamos, na seção anterior (3.1), os efeitos da presença ou ausência de raias no 
interior do cano das armas na trajetória do projétil, mas algumas características e 
subclassificações merecem a nossa atenção. Por exemplo, os canos de alma lisa são 
comuns em espingardas, enquanto os canos estriados são usualmente encontrados em 
fuzis, e os canos com estriamento poligonal, nos canhões. 
 
100 
 
Passo significa a distância a ser percorrida pela bala para que realize uma volta completa 
em torno do seu eixo. Pode ser simples, quando os giros são sempre uniformes, ou misto, 
se houver variação de distância em qualquer um deles. 
 
O sentido de rotação do projétil é denominado orientação, que pode 
ser dextrogira (sentido horário ou para a direita) ou sinistrogira (sentido anti-horário ou 
para a esquerda). 
 
Aqui vale uma dica de memorização: sinistro significa esquerdo; “dextro” lembra direito. 
 
A quantidade de sulcos pode ser par ou ímpar, a critério do fabricante. 
 
Perceba que todas essas peculiaridades são importantíssimas à Balística Forense, mais 
especificamente ao exame de comparação balística. 
 
Em relação ao sistema de carregamento ou modo de municiamento, as armas de fogo 
podem ser de: a) retrocarga – aquelas em que a munição é inserida pela parte posterior 
do cano (pente, tambor, câmara especial); b) antecarga – aquelas cuja munição (bucha, 
pólvora, projétil) é inserida e socada pela boca do cano (como os canhões e espingardas 
de desenhos animados). 
 
Vale dizer que a segunda modalidade caiu em desuso por conta da evolução tecnológica 
dos aparatos. 
 
No que diz respeito ao sistema de inflamação, os instrumentos, esses letais, se dividem 
em: a) haste de ferro; b) mecha; c) atrito; d) percussão; e e) elétrica. 
 
As primeiras armas de fogo eram acionadas por uma haste de ferro incandescente, 
carvão em brasa ou chama, que eram inseridos em algum orifício ou diretamente na 
câmara de combustão. Já dá para perceber que isso não era nada prático e seguro, não é? 
 
Em seguida surgiu a mecha, que nada mais era do que uma corda pela qual a chama 
passava e entrava na câmara de combustão (como o pavio de uma bomba). O principal 
problema desse sistema era o tempo da queima, que impedia o controle do disparo, 
principalmente de modo instantâneo (sem mencionar as falhas decorrentes do mau 
armazenamento das mechas). 
 
Como substituição do anterior, surge o sistema de atrito, composto por: a) roda; ou 
b) ignição/pederneira. 
 
A primeira foi criada na Alemanha, com base nos relógios de Nuremberg, e consistia em 
um círculo que recebia corda e girava, causando atrito e produzindo faíscas que 
incendiavam a pólvora, ocasionando a explosão necessária para a liberação da bala. Pela 
primeira vez, as armas se tornaram, de fato, portáteis (não precisavam de um conjunto de 
acessórios). 
 
O snaphaunce, o miquelet e o flintlock são variações do sistema de ignição e foram 
criados na Europa em substituição ao atrito por roda, que era caro e engenhoso demais. 
A combustão ocorria por causa de uma espécie de pinça acoplada ao cão, com couro e 
substâncias inflamáveis, que golpeava um anteparo e produzia faíscas, as quais entravam 
101 
 
em contato com a pólvora por meio de um buraco, efetuando o disparo. 
 
Aqui vale uma observação: alguns autores chamam o sistema de ignição ou pederneira 
de miquelete, porém, como vimos, o miquelet é apenas a variante de origem espanhola do 
sistema. 
 
O sistema de percussão se divide em: a) percussão extrínseca; b) percussão 
intrínseca. 
O primeiro consistia em um sistema em que a espoleta era separadada carga de pólvora 
e do projétil. Por sua vez, o segundo, utilizado nos dias de hoje, é aquele em que a espoleta 
é parte do cartucho de munição. 
 
Podemos, ainda, elencar mais duas subdivisões do sistema de percussão intrínseca: 
armas de percussão radial, que são aquelas cujos cartuchos apresentam a mistura 
explosiva nas extremidades do estojo; e de percussão central, que possuem cartuchos 
com espoleta instalada no centro da base. 
De seu turno, nas armas de percussão direta, o percussor está localizado no cão ou é um 
prolongamento dele (ex.: revólver); enquanto nas de percussão indireta, o percussor é 
uma peça externa, que recebe o impacto do cão (ex.: pistola). 
 
Algumas peças de artilharia pesada possuem o sistema de inflamação elétrico, como é 
o caso das bazucas e lança-foguetes. 
 
Analisando seu funcionamento, as armas de fogo podem ser de tiro unitário, ou seja, de 
carregamento manual, com carga para um tiro, chamado de simples (ex.: espingarda de 
um cano), ou com tiros múltiplos, apesar de se comportarem como as primeiras (ex.: 
espingardas de cano duplo). 
Podem, ainda, ser: a) automáticas; b) de repetição ou não automáticas; 
c) semiautomáticas. Os significados para essas palavras são encontrados no Anexo III 
do Decreto nº 10.030/19: 
[...] Arma de fogo automática: arma em que o carregamento, o disparo e todas as 
operações de funcionamento ocorrem continuamente enquanto o gatilho estiver sendo 
acionado. 
 
Arma de fogo de repetição: arma em que a recarga exige a ação mecânica do atirador 
sobre um componente para a continuidade do tiro. 
 
Arma de fogo semiautomática: arma que realiza, automaticamente, todas as operações de 
funcionamento com exceção do disparo, exigindo, para isso, novo acionamento do 
gatilho. 
(BRASIL, 2019, [s. p.]) 
Com relação à sua mobilidade, os instrumentos letais em questão podem ser: a) não 
portáteis; b) de porte; e c) portáteis. 
Essa definição constava do art. 3º, do Decreto nº 3.665/00, o qual, mesmo que tenha sido 
revogado, merece ser usado a título elucidativo já que as normas que o sucederam não 
trouxeram nova conceituação: 
Art. 3º Para os efeitos deste Regulamento e sua adequada aplicação, são adotadas as 
seguintes definições: 
102 
 
 
[...] 
XIV - arma de porte: arma de fogo de dimensões e peso reduzidos, que pode ser portada 
por um indivíduo em um coldre e disparada, comodamente, com somente uma das mãos 
pelo atirador; enquadram-se, nesta definição, pistolas, revólveres e garruchas; 
 
[...] 
 
XX - arma não-portátil: arma que, devido às suas dimensões ou ao seu peso, não pode ser 
transportada por um único homem; 
 
[...] 
 
XXII - arma portátil: arma cujo peso e cujas dimensões permitem que seja transportada 
por um único homem, mas não conduzida em um coldre, exigindo, em situações normais, 
ambas as mãos para a realização eficiente do disparo [...]. 
 
(BRASIL, 2000, [s. p.]) 
Quanto ao uso, podem ser de uso individual, quando apenas uma pessoa for suficiente 
para a sua utilização, e de uso coletivo, quando exigirem a participação de mais de uma 
pessoa nesse processo. 
 
Há outra classificação, mais importante, que também envolve a utilização das armas de 
fogo, mas que diz respeito à legalidade desse ato. Com base nela, as armas de fogo podem 
ser: a) de uso permitido; b) de uso restrito; c) de uso proibido. 
Nesse sentido, o Decreto nº 9.847, de 25 de junho de 2019, afirma: 
Art. 2º. Para fins do disposto neste Decreto, considera-se: 
 
I - arma de fogo de uso permitido - as armas de fogo semiautomáticas ou de repetição 
que sejam: 
 
a) de porte, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, não atinja, na 
saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil 
seiscentos e vinte joules; 
 
b) portáteis de alma lisa; ou 
 
c) portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, 
não atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé 
ou mil seiscentos e vinte joules; 
 
II - arma de fogo de uso restrito - as armas de fogo automáticas, semiautomáticas ou de 
repetição que sejam: 
 
a) não portáteis; 
 
b) de porte, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, atinja, na saída 
do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e 
vinte joules; ou 
103 
 
 
c) portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, 
atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou 
mil seiscentos e vinte joules; 
 
III - arma de fogo de uso proibido: 
 
a) as armas de fogo classificadas de uso proibido em acordos e tratados internacionais dos 
quais a República Federativa do Brasil seja signatária; ou 
 
b) as armas de fogo dissimuladas, com aparência de objetos inofensivos [...]. 
(BRASIL, 2019a, [s. p.], grifo nosso) 
É importante ressaltar que existem autores que trazem classificações distintas (ex.: armas 
de fogo quanto ao seu tamanho) ou mais divisões dos agrupamentos aqui apresentados 
(ex.: quanto ao uso, em coletivas fixas, móveis ou semiportáteis). 
 
As armas de fogo mais comuns em nosso país são: 
Quadro 3.5 | Armas de fogo mais comuns 
Revólver Arma curta, de porte, de repetição, com cano de alma raiada, 
composta, basicamente, de armação, tambor, cano e mecanismo. 
Ex.: Taurus RT838/8 (Cal. 38). 
Pistola Arma curta, de porte, automática ou semiautomática (pode ser de 
um tipo ou outro), raiada, composta de massa de mira, cano, 
ferrolho, alça de mira, cão, trava de segurança, cabo, guarda mato, 
gatilho, pente, etc. Ex.: Colt 45 (Cal. 45). 
Espingarda Arma longa, portátil, de repetição ou semiautomática (pode ser de 
um tipo ou outro), com cano de alma lisa, dotada de um ou mais 
canos (paralelos ou sobrepostos). Ex.: Boito A/681 Standard (Cal. 
20). 
Escopeta Possui as mesmas características da espingarda, diferenciando-se 
apenas por ter calibre mais grosso e cano curto. Ex.: Escopeta 
Pump CBC ST12 (Cal. 12). 
Carabina Arma longa, portátil, de repetição, com cano longo, porém mais 
curto que o dos rifles, de alma raiada. Ex.: Winchester 1892 (Cal. 
40). 
Rifle Arma longa, portátil, de repetição, com cano longo de alma raiada, 
dotada de um ou mais canos. Ex.: Smith & Wesson MP15-22 (Cal. 
22). 
Fuzil Arma longa, portátil, automática, com cano longo de alma raiada 
e alto poder de fogo. Ex.: Avtomat Kalashnikova AK-47. 
Mosquetão Arma longa, portátil, de repetição, com cano longo de alma raiada. 
Ex.: Mauser 1908. 
Embora não sejam objeto direto do nosso estudo nesta seção, é importante termos pelo 
menos uma noção geral acerca das munições, afinal de contas, em um conceito amplo, 
elas integram as armas de fogo. 
 
Como sabemos, esses objetos são utilizados no disparo e uma parte deles (projétil) é 
responsável diretamente pelas lesões causadas na vítima (perfurocontusas) ou danos no 
104 
 
alvo/anteparo, o que justifica a sua relevância para a Balística Forense. 
 
Os elementos que compõem o cartucho para arma de alma raiada (mais comum) são: 
• Estojo: componente externo, feito de metal, plástico, teflon ou até mesmo papelão; 
• Espoleta: possui a carga de inflamação (mistura que inicia a “explosão”); 
• Pólvora; 
• Projétil: parte da munição que é arremessada contra o alvo. 
EXEMPLIFICANDO 
O projétil pode ter o formato de uma ogiva, como nas munições de revólveres e pistolas, 
ou até mesmo de pequenas esferas, como nos cartuchos de espingardas. 
Você deve estar achando que há muita coisa a se memorizar sobre as armas de fogo, 
certo? De fato, a quantidade de classificações é extensa, mas o conteúdo desta seção é de 
grande valia para a sua formação acadêmica e profissional. Como pode notar, a Balística 
Forense não existe sem o amplo conhecimento das armas de fogo, projéteis e seus efeitos. 
FAÇA VALER A PENA 
Questão 1 
Considereos textos a seguir: 
Texto I: 
Os agentes dessa classe produzem, no organismo, lesões características, representadas 
por orifício de entrada, semelhante ao produzido por instrumentos perfurantes, mas com 
os bordos contundidos e mortificados, o trajeto e o orifício de saída, que eventualmente 
pode faltar, agindo, em geral, mais pela força propulsora de que são dotados, com 
predominância nítida da ação perfurante sobre a contundente. 
(CROCE; CROCE JÚNIOR, 2012) 
Texto II: 
São instrumentos contundentes: as armas naturais (mãos, pés, cabeça, joelhos), as armas 
ocasionais (bengala, barra de ferro, tijolo, balaústre, mão de pilão) [...]. 
(CROCE; CROCE JÚNIOR, 2012) 
Os textos acima se referem, respectivamente, a: 
a. Armas impróprias e armas próprias. 
b. Armas de uso individual e armas de uso coletivo. 
c. Armas próprias e armas impróprias. 
d. Armas de uso restrito e armas de uso proibido. 
e. Armas portáteis e armas não portáteis. 
Questão 2 
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105 
 
As diferentes classificações das armas de fogo são primordiais para o seu completo 
conhecimento, o que, por via de consequência, terá impacto sobre o seu correto manuseio, 
classificação pelo profissional do direito militante na seara criminal e, principalmente, 
realização de exames periciais destinados à sua identificação, com vistas à apuração de 
crimes. 
Analise as assertivas a seguir, comparando-as com conceitos que podem ser encontrados 
no Decreto nº 10.030, de 30 de setembro de 2019: 
I. Arma de fogo automática: arma que realiza, automaticamente, todas as operações de 
funcionamento com exceção do disparo, exigindo, para isso, novo acionamento do 
gatilho. 
II. Arma de fogo de repetição: arma em que a recarga não exige a ação mecânica do 
atirador sobre qualquer componente para a continuidade do tiro. 
III. Arma de pressão: arma cujo princípio de funcionamento é o emprego de gases 
comprimidos para impulsão de projétil, os quais podem estar previamente 
armazenados em uma câmara ou ser produzidos por ação de um mecanismo, tal 
como um êmbolo solidário a uma mola. 
Com base no Decreto nº 10.030, de 30 de setembro de 2019, pode-se afirmar que: 
a. Está correto o que se afirma em I e II. 
b. Está correto o que se afirma em II e III. 
c. Está correto o que se afirma em I e III. 
d. Está correto o que se afirma apenas em III. 
e. Nenhuma das assertivas está correta. 
Questão 3 
Com a revogação do famoso Decreto nº 3.665/2000, alguns tipos de armas de fogo, 
munições e outros instrumentos ficaram sem definição legal. No entanto, atualmente 
alguns deles são explicados pelos Decretos nº 9.847/2019 e 10.030/2019. 
Correlacione as classificações de armas de fogo (coluna à esquerda) e os seus conceitos 
(coluna à direita), conforme o estatuído pelos Decretos nº 9.847/19 e 10.030/19: 
1. Arma de pressão A. arma que arremessa projéteis 
empregando a força expansiva dos gases, 
gerados pela combustão de um propelente 
confinado em uma câmara, normalmente 
solidária a um cano, que tem a função de dar 
continuidade à combustão do propelente, 
além de direção e estabilidade ao projétil. 
2. Arma de fogo B. arma cujo princípio de funcionamento é 
o emprego de gases comprimidos para 
impulsão de projétil, os quais podem estar 
previamente armazenados em uma câmara 
ou ser produzidos por ação de um 
mecanismo, tal como um êmbolo solidário a 
uma mola. 
https://conteudo.colaboraread.com.br/202102/INTERATIVAS_2_0/FUNDAMENTOS_DE_INVESTIGACAO_E_CRIMINALISTICA/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-3%20.item-1
https://conteudo.colaboraread.com.br/202102/INTERATIVAS_2_0/FUNDAMENTOS_DE_INVESTIGACAO_E_CRIMINALISTICA/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-3%20.item-2
https://conteudo.colaboraread.com.br/202102/INTERATIVAS_2_0/FUNDAMENTOS_DE_INVESTIGACAO_E_CRIMINALISTICA/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-3%20.item-3
https://conteudo.colaboraread.com.br/202102/INTERATIVAS_2_0/FUNDAMENTOS_DE_INVESTIGACAO_E_CRIMINALISTICA/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-3%20.item-4
https://conteudo.colaboraread.com.br/202102/INTERATIVAS_2_0/FUNDAMENTOS_DE_INVESTIGACAO_E_CRIMINALISTICA/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-3%20.item-5
106 
 
3. Arma de uso proibido C. as armas de fogo dissimuladas, com 
aparência de objetos inofensivos. 
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. 
a. 1-B; 2-A; 3-C. 
b. 1-A; 2-B; 3-C. 
c. 1-C; 2-A; 3-B. 
d. 1-A; 2-C; 3-B. 
e. 1-C; 2-B; 3-A. 
REFERÊNCIAS 
AMAZONAS. Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas. Manual de armamento e 
manuseio seguro de armas de fogo. Manaus: TJAM, 2012. Disponível 
em: https://bit.ly/3ycKdSt. Acesso em: 3 abr. 2021. 
 
BRASIL. Decreto nº 3665, de 20 de novembro de 2000. Dá nova redação ao 
Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados (R-105). Brasília, DF: 
Presidência da República, 2000. Disponível em: https://bit.ly/3DiAcHd. Acesso em: 3 
abr. 2021. 
 
BRASIL. Decreto nº 9.847, de 25 de junho de 2019. Regulamenta a Lei nº 10.826, de 
22 de dezembro de 2003, para dispor sobre a aquisição, o cadastro, o registro, o porte e a 
comercialização de armas de fogo e de munição e sobre o Sistema Nacional de Armas e 
o Sistema de Gerenciamento Militar de Armas. Brasília, DF: Presidência da República, 
2019a. Disponível em: https://bit.ly/3khNOtu. Acesso em: 3 abr. 2021. 
 
BRASIL. Decreto nº 10.030, de 30 de setembro de 2019. Aprova o Regulamento de 
Produtos Controlados. Brasília, DF: Presidência da República, 2019b. Disponível 
em: https://bit.ly/3ygJnnX. Acesso em: 3 abr. 2021. 
 
COSTA, K. R. Samuel Colt. Brasil Escola, [s. d.]. Disponível 
em: https://bit.ly/3BdSHdY. Acesso em: 3 abr. 2021. 
 
CROCE, D.; CROCE JÚNIOR, D. Manual de medicina legal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 
2012. Disponível em: https://bit.ly/3jgwVAf. Acesso em: 4 jul. 2021. 
 
NUCCI, G. de S. Código penal comentado. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense. 2010. 
 
PAULA NETO, C. Sistemas de ignição em armas de fogo. Portal do Tiro, 2 set. 2009. 
Disponível em: https://bit.ly/3koYAhN. Acesso em: 3 abr. 2021. 
 
 
 
QUAL é a origem das armas de fogo? Superinteressante, 27 nov. 2018. Disponível 
em: https://bit.ly/38hVHti. Acesso em: 3 abr. 2021. 
 
https://conteudo.colaboraread.com.br/202102/INTERATIVAS_2_0/FUNDAMENTOS_DE_INVESTIGACAO_E_CRIMINALISTICA/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-2%20.item-1
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https://www.tjam.jus.br/phocadownloadpap/manuseio_seguro_arma_fogo-mar_2012.pdf
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3665.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D9847.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D10030.htmhttps://brasilescola.uol.com.br/biografia/samuel-colt.htm
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502149533/cfi/0
https://www.portaldotiro.com/artigos-tecnicos/484-sistemas-de-ignicao-em-armas-de-fogo
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/qual-e-a-origem-das-armas-de-fogo/
107 
 
TOCCHETTO, D. Balística forense: aspectos técnicos e jurídicos. 11. ed. São Paulo: 
Millennium. 2021. 
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FOCO NO MERCADO DE TRABALHO 
 
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SEM MEDO DE ERRAR 
Antes de solucionarmos o caso apresentado anteriormente, vamos recordar alguns fatos 
importantes. 
 
Você é promotor de justiça em São Paulo (SP) e recebe os autos de um inquérito policial, 
no qual foi realizada a apreensão, no bar de Fulano, de uma arma de fogo, com mecanismo 
da marca Colt, dissimulada como uma bengala, com potencial de disparo, carregada, com 
capacidade de quatro tiros. 
 
Cabe a você decidir se denunciará Fulano ou requererá o arquivamento do inquérito 
policial, justificando o motivo que ensejou a escolha. 
108 
 
 
 
 
Resposta: A medida correta, nesse caso, é denunciar Fulano, pois a arma de fogo em 
questão se amolda ao conceito legal de arma de uso proibido, segundo o art. 2º, III, “b”, 
do Decreto nº 9.847, de 25 de junho de 2019: “as armas de fogo dissimuladas, com 
aparência de objetos inofensivos” (BRASIL, 2019, [s. p.]). 
AVANÇANDO NA PRÁTICA 
IDENTIFICAÇÃO DA ARMA DE FOGO APREENDIDA E POSTURA DO 
ADVOGADO 
Você, recém-aprovado no Exame da OAB, acaba de ser contratado para atuar como 
advogado júnior em um renomado escritório de advocacia de Brasília. 
 
Como seu primeiro caso, você recebe um hyperlink de acesso a um processo eletrônico 
que narra a prisão de Robson Clodoaldo, um jovem de classe média, residente em uma 
república estudantil da cidade. 
 
Na data dos fatos, a polícia militar foi acionada a se dirigir a uma festa na residência de 
Robson por conta do barulho. Os policiais presentes tiveram sua entrada franqueada pelo 
próprio acusado, mas acabaram encontrando, sobre a mesa da sala, uma arma assim 
descrita nos autos: se cuida de uma arma cujo princípio de funcionamento é o emprego 
de gases comprimidos para impulsão de projétil, os quais podem estar previamente 
armazenados em uma câmara ou ser produzidos por ação de um mecanismo, tal como um 
êmbolo solidário a uma mola. 
 
 
 
Você foi notificado por um dos sócios do escritório onde trabalha para conduzir uma 
reunião amanhã com os pais do jovem preso. Nessas circunstâncias, você diria a eles que 
há ou não chances de soltura de Robson? Por quê? 
RESOLUÇÃO 
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109 
 
UNIDADE III, SESSÃO 3 
EXAMES PERICIAIS SOBRE AS ARMAS E AS 
MUNIÇÕES 
 
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PRATICAR PARA APRENDER 
Conforme já mencionado no estudo das seções anteriores, o tema desta unidade é 
Balística Forense, que, fazendo uma breve síntese, corresponde ao estudo do projétil, sua 
trajetória e efeitos. 
 
Nesta seção, você entenderá quando e como ocorrem os exames periciais que se alicerçam 
em tais teorias. 
 
Por meio do conteúdo que será apresentado, trabalharemos o conceito e a finalidade das 
principais perícias relacionadas aos disparos de arma de fogo ainda não analisadas nas 
seções anteriores desta unidade, como: exame de eficiência, exame de comparação 
balística, exame residuográfico, identificação da arma de fogo e papiloscopia. 
 
Fique atento às nomenclaturas e à sistemática do exame papiloscópico ou datiloscópico, 
110 
 
visto que o tema é frequentemente abordado em provas e concursos. 
 
Caso queira se enveredar pela carreira de Perito Criminal, não deixe de consultar a 
bibliografia indicada, a fim de se aprofundar em assuntos que não interessam ao público 
geral, mas são exigidos do profissional da área. 
 
No entanto, antes disso, você terá contato com uma matéria que está em voga no Direito, 
dada a sua recente incorporação ao Código de Processo Penal: a cadeia de custódia. Ela 
explica por que muitos crimes acabam impunes e como evitar que isso aconteça, por meio 
da preservação dos vestígios da infração penal. 
Você, Investigador da Polícia Civil do Estado de São Paulo, está jantando com a sua 
esposa quando recebe uma ligação do Delegado de Polícia responsável pela delegacia 
onde trabalha, solicitando que você se dirija até o local onde ocorrera um homicídio, pois 
o restante da equipe se encontra em uma diligência num bairro afastado da cidade. 
 
Sua missão é garantir que o estado das coisas não se altere até a chegada do chefe da 
investigação e, principalmente, do Perito Criminal. 
 
Acontece que você é inexperiente, recém-aprovado em concurso público, e, nesse 
intervalo, acaba cometendo o erro de permitir o ingresso da mãe da vítima no local dos 
fatos. Para piorar a situação, não percebe que a mulher subtrai, da cena do crime, o 
moletom de seu falecido filho. 
 
No dia seguinte, se vem a saber que a genitora do indivíduo assassinado, acometida por 
grave abalo psicológico, ateou fogo na vestimenta, que continha perfurações de bala, 
sangue, digitais, etc. 
 
Questionado sobre sua conduta, tanto em sede administrativa como criminal, você 
pretende alegar ausência de responsabilidade pelo fato, afinal de contas quem deveria 
preservar a cena do crime era o Delegado de Polícia, enquanto titular da investigação 
criminal. 
 
Baseando-se nos fatos narrados, sua justificativa merece ser acolhida? Por quê? 
Preste muita atenção aos conceitos e classificações dos exames periciais, pois eles são 
fundamentais à sua atuação profissional, além de serem muito frequentes em concursos. 
Decore as dez etapas que compõem a cadeia de custódia. Feito isso, você estará a um 
passo de gabaritar as questões que envolvem esses assuntos. 
Estude com afinco e você estará sempre, no mínimo, um passo à frente da média! 
CONCEITO-CHAVE 
Você já estudou em Direito Penal e Processual Penal que o corpo de delito é um conjunto 
de vestígios deixados pelo crime (por exemplo, o estojo de uma munição, encontrado no 
solo, próximo à vítima fatal de um homicídio), ou, como prefere Nucci (2021, p. 362), “é 
a prova da existência do crime (materialidade do delito)”. 
 
111 
 
Logo, o exame de corpo de delito é a perícia realizada sobre esses elementos. 
 
A cadeia de custódia possui íntima associação com o corpo do delito e com as perícias 
que o analisam, pois garantirá a qualidade e fidedignidade desses exames ou, até mesmo, 
permitirá que eles aconteçam. Isso justifica a necessidade de estudar, em livros e salas de 
aula, as três matérias de forma conjunta, integrada. Pelo mesmo motivo, os três temas 
integram o mesmo Capítulo (II) do Código de Processo Penal, que define cadeia de 
custódia como: 
Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos 
utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais 
ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu 
reconhecimento até o descarte 
(BRASIL, 1941, [s. p.]). 
Nas palavras de Lima (2020, p. 625), cadeia de custódia “[...] consiste, em termos gerais, 
em um mecanismo garantidor da autenticidade das evidências coletadas e examinadas, 
assegurando que correspondem ao caso investigado, sem que haja lugar para qualquer 
tipo de adulteração”. 
 
 
 
O tema foi regulamentado no Livro de Processo Penal pelo Pacote Anticrime (Lei nº 
13.964/19), em seus arts. 158-A a 158-F. Entretanto, antes disso, os julgados do Supremo 
Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça já contemplavam a ideia,sob pena, 
inclusive, de nulidade da perícia, no caso desobediência a essa sequência. Ou seja, o 
Pacote apenas trouxe o entendimento jurisprudencial para o texto da Lei, detalhando 
alguns aspectos. 
 
Imagine que você seja um Perito Policial e, ao chegar a um determinado local de crime, 
se depare com a seguinte cena: duas pessoas mortas a tiros, estiradas no solo; um policial 
comendo um lanche sobre um dos cadáveres; transeuntes passando pelo local e 
tirando selfies. Por fim, o delegado vem recebê-lo e entrega a você os cartuchos das 
munições encontrados, sem qualquer invólucro. 
 
Não precisamos de conhecimentos avançados em ciências criminais para nos darmos 
conta de que está tudo errado. 
 
Por isso, conforme reza o §1º do art. 158-A do Código de Processo Penal, uma das 
funções da cadeia de custódia (e também seu início) é a preservação do local do crime ou 
procedimentos investigativos policiais (ex.: reconhecimento e isolamento) ou periciais, 
nos quais se detecte a presença de vestígios (registro). 
 
O § 2º determina que o responsável pela preservação dos vestígios é o agente público que 
reconhecer determinado elemento como de potencial interesse para a investigação. 
ASSIMILE 
O art. 158-A, § 2º do Código de Processo Penal faz referência ao agente 
público (qualquer um). Em outras palavras, não é apenas o delegado, o policial, o perito, 
etc. Igualmente, não é qualquer cidadão. 
112 
 
Divide-se a cadeia de custódia em dez etapas (organizadas pelo art. 158-B do “Codex” de 
Processo Penal), a saber: I – reconhecimento; II – isolamento; III – fixação; IV – coleta; 
V – acondicionamento; VI – transporte; VII – recebimento; VIII – processamento; IX – 
armazenamento; X – descarte. 
 
A primeira fase da sequência apresentada é o reconhecimento, ou seja, a recognição 
visuográfica do conteúdo existente na cena do crime, distinguindo-se tudo aquilo que 
pode ser de interesse à produção de prova pericial. Pode ser feito por qualquer agente, e 
não apenas pelo perito. Decorre das providências estabelecidas pelos arts. 6º e seguintes 
do CPP. 
 
O isolamento também é medida consectária dos artigos mencionados e corresponde ao 
ato de isolar o ambiente imediato e mediato do crime, a fim de evitar que se altere o estado 
das coisas. 
 
Você certamente estudou em Direito Processual Penal que o nosso Código Penal adota 
a teoria da ubiquidade (ou mista), segundo a qual lugar do crime é aquele onde são 
praticadas a ação ou omissão, no todo ou em parte, assim como onde se produziu ou 
deveria produzir-se o resultado (art. 6º). 
 
No entanto, o estudo da cadeia de custódia, especificamente no que diz respeito à etapa 
de isolamento, traz uma nova classificação acerca do local do fato: local imediato e local 
mediato. 
 
Para Lima (2020), a área imediata é o local onde ocorreu o evento alvo da investigação 
(ex.: quarto onde o feminicídio foi cometido), enquanto a área mediata compreende as 
adjacências do local do crime (ex.: jardim da casa onde foi descartado o instrumento do 
crime). 
REFLITA 
Como bem ilustra Lima (2020), a Portaria nº 82/2014 da Secretaria Nacional de 
Segurança Pública divide o local do crime em área imediata e área mediata (assim como 
boa parte da doutrina), porém sugere uma nova definição: 
 
 
área relacionada: é todo e qualquer lugar sem ligação direta com o local do crime e que 
possa conter algum vestígio ou informação que propicie ser relacionado ou venha auxiliar 
no contexto do exame pericial (v.g., casa do agente em que foi localizada uma camisa 
suja de sangue) 
(BRASIL, 2014, p. 42, grifo nosso) 
Será que essa terceira classificação é englobada pelo art. 158-B, II? Certamente que sim, 
pois há menção expressa ao “ambiente relacionado aos vestígios e local de crime” 
(BRASIL, 1941, [s. p.]). 
Para nossos estudos, vamos considerar, então, a classificação tripla. 
 
O ingresso no local do crime antes da liberação do perito configura o crime de fraude 
processual (art. 158-C, § 2º), desde que haja dolo. O exame do local é providenciado pela 
autoridade, a fim de que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos (art. 
113 
 
169). 
 
Fixação é a descrição detalhada do vestígio encontrado no local do crime ou no corpo de 
delito, podendo ser feita mediante fotografias, croquis, desenhos, filmagens, etc. Deve 
constar do laudo pericial. 
 
Aqui merece destaque o art. 164 do CPP, segundo o qual os cadáveres devem sempre ser 
fotografados na posição em que forem encontrados, assim como as lesões externas 
e vestígios do crime, na medida do possível. 
REFLITA 
Mas para que isso se já há o isolamento? Pode ocorrer de, mesmo não sofrendo influência 
de pessoas, o local do crime se alterar. Exemplos disso são os delitos praticados em locais 
abertos ou cujos vestígios são depositados nesses ambientes, que podem sofrer a ação do 
sol, das chuvas, da neve, corrosivos, entre outros fatores. 
Coleta é a recolha do vestígio feita, preferencialmente, pelo perito oficial, para que seja 
futuramente periciado – art. 158-C-CPP. Excepcionalmente, pode ser realizada por 
qualquer agente na falta do perito oficial. 
 
Perceba que são realizadas duas ou mais perícias – ao menos uma no local dos fatos, pelo 
perito oficial; e outra(s) na central de custódia. 
 
Acondicionamento equivale ao procedimento por meio do qual cada vestígio é embalado 
de forma individualizada, de acordo com as suas características físicas, químicas e 
biológicas, para posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem o fez. 
Devem ser obedecidas as seguintes regras: 
Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela 
natureza do material. 
 
§ 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada, 
de forma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte. 
 
§ 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas características, impedir 
contaminação e vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço para registro de 
informações sobre seu conteúdo. 
 
§ 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e, 
motivadamente, por pessoa autorizada. 
 
§ 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de acompanhamento 
de vestígio o nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a finalidade, bem como 
as informações referentes ao novo lacre utilizado. 
 
§ 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente. 
(BRASIL, 1941, [s. p.]) 
Transporte nada mais é do que a transferência do vestígio de um local (do fato) para o 
outro (central de custódia), de forma adequada (regras do Código), a fim de se assegurar 
114 
 
a manutenção das suas características originais e o controle da sua posse. 
 
Consequentemente, o recebimento é o ato de transferência da posse do vestígio. 
 
Todo esse processo deve ser documentado (número de procedimento, unidade judiciária 
relacionada, local de origem, identificação do transportador, código de rastreio, natureza 
do exame, tipo de vestígio, protocolo, assinatura e identificação do recebedor). 
A fase de processamento corresponde ao exame pericial em si (o segundo que é feito), 
de acordo com as características do vestígio (ex.: projétil – exame de comparação 
balística; cadáver – exame necroscópico). 
 
Já etapa de armazenamento significa a guarda adequada do vestígio, a fim de que seja 
realizada contra perícia, descarte ou transporte. 
Por fim, o descarte é a liberação do vestígio, respeitando-se a Lei e após autorização 
judicial, quando for o caso. 
Perceba que boa parte das etapas da cadeia de custódia se referem à condução dos 
vestígios do crime à central de custódia (desde a coleta até o descarte), que, situada nos 
Institutos de Criminalística, é o local onde ficam armazenados os vestígios. 
 
Vale ressaltar, ainda, quetoda essa sequência deve ser devidamente documentada para 
garantir fidedignidade às provas produzidas. 
 
A essa altura você pode estar se perguntando: mas qual a relação disso tudo com a 
Balística Forense e com as armas de modo geral? 
Nos crimes praticados mediante uso de arma de fogo, se não fosse o respeito à cadeia de 
custódia, quem poderia garantir que o estojo da munição encontrado na cena do crime 
corresponderia, de fato, ao delito (ou seja, de que não foi “plantado” ali)? 
 
Caso ainda não tenha notado, essa sequência de atos permite, inclusive, a realização de 
exames mais complexos nos projéteis, arma do crime, estojo ou qualquer outra evidência 
encontrada. 
EXEMPLIFICANDO 
Imagine um feminicídio praticado em local ermo, afastado da cidade, em meio a várias 
árvores. Os procedimentos previstos na cadeia de custódia são de incontestável relevância 
para garantir que os vestígios não se percam (ex.: cartuchos e projéteis de munição sendo 
tragados pela terra após forte chuva) e, principalmente, para que se realizem as perícias 
adequadas à identificação da arma de onde partiu o eventual disparo, bem como seu autor. 
Já estudamos, nas Seções 3.1 e 3.2 desta unidade, que o disparo de armas de fogo causa 
uma combustão que expele gases e partículas sólidas, os quais acabam se impregnando, 
principalmente, nas vestimentas e na pele de quem aperta o gatilho. 
 
O Exame Residuográfico é, portanto, a perícia realizada para detectar a presença de 
vestígios de pólvora e outras substâncias decorrentes do tiro nas roupas da vítima e do 
autor, no estojo de munição utilizado, em partes da arma e, sobretudo, nas mãos que a 
empunharam. 
 
Aliás, com relação à última hipótese, a perícia recebe o nome específico de Luva de 
Parafina ou Prova de Iturrioz, pois é feito um molde de parafina nas mãos do suspeito de 
115 
 
ter efetuado o disparo com o objetivo de aprisionar as partículas mencionadas nas linhas 
anteriores para análise laboratorial. 
 
Atualmente, contudo, essa prova tem sido feita de modo simplificado, utilizando-se tiras 
de esparadrapo para colher (grudar) os resquícios de pólvora, chumbo e outros elementos 
depositados pelo tiro. 
 
De acordo com Croce e Croce Júnior (2012, p. 346-347): 
Os produtos residuais da combustão de explosivos (nitrato de potássio, nitrito de potássio, 
sulfeto de potássio, sulfeto de chumbo, hidrogênio-
sulfeto,sulfidreto, tiocianato de potássio, carbonato de potássio, carvão, fulminato de 
mercúrio, estifinato de chumbo) podem ser ainda encontrados no corpo da vítima, nas 
vestes desta e do atirador, no estojo vazio, no cano e nas câmaras do tambor das armas de 
fogo. 
EXEMPLIFICANDO 
É importante destacar que a eficácia do exame em epígrafe é posta em xeque quando o 
autor utiliza luvas ou outro método para cobrir suas mãos, ou, até mesmo, quando 
consegue lavar as suas vestimentas e/ou as da vítima. 
Por sua vez, o exame de eficiência é o teste realizado com a finalidade de verificar se a 
arma de fogo é eficaz para efetuar disparos, bem como se a munição tem aptidão para ser 
disparada e ferir alguém. 
 
Caso se verifique que o instrumento beligerante em questão não é eficiente, é importante 
que o perito aponte a causa (ex.: se trata-se de um simulacro, se há algum defeito, entre 
outras circunstâncias). É possível dizer o mesmo da munição, pois pode se tratar de bala 
de festim, haver falha na carga de projeção, na espoleta, além de outras conjunturas. 
 
Atestando-se que determinada arma apreendida na posse do suspeito é ineficaz, pode ser 
que ocorra até mesmo sua absolvição. 
 
Outro método de identificação de quem efetuou o tiro é a papiloscopia ou datiloscopia – 
como preferem alguns autores, como Croce e Croce Júnior (2012). 
 
A última expressão tem origem grega (daktilos – dedos e scopein – examinar), enquanto 
a primeira é a fusão de uma palavra latina (papila – papila) com outra grega (scopein – 
examinar). 
 
Esse exame consiste em comparar as impressões digitais (vestígios) deixadas sobre 
objetos na cena do crime (cadáver, copo de vidro, revólver, facão, etc.) com as papilas 
dérmicas – saliências e sulcos situados na superfície da derme dos seres humanos. 
 
Por meio desse método, podem-se analisar desenhos únicos formados pelos dedos nos 
objetos, graças à gordura excretada pela pele. Com isso, é possível traçar, inclusive, um 
padrão dos poros. 
 
Conforme teorizam Croce e Croce Júnior (2012), as impressões possuem as seguintes 
características: a) perenidade – aparecem após o sexto mês de vida da pessoa e perduram 
116 
 
além da sua morte (desde que a pele esteja preservada); b) imutabilidade – nem mesmo 
limagem, queimaduras e outros processos químicos conseguem apagar essas marcas; c) 
variedade – cada indivíduo tem um desenho característico em seus dedos, não havendo 
duas ou mais pessoas com o mesmo padrão gráfico. 
 
O estudo das papilas dos dedos segue o Sistema de Vucetich, segundo o qual as linhas 
papilares se agrupam de modo basilar, marginal e nuclear ou central, formando o delta 
(triângulo): a) arco – ausência de delta; b) presilha interna – o delta fica à direita do 
observador; c) presilha externa – o delta se situa à esquerda do observador; d) verticilo – 
é a figura que tem dois deltas, com as linhas papilares descrevendo círculos concêntricos 
no centro da falange. 
Figura 3.1 | Tipos fundamentais do Sistema Vucetich 
 
Fonte: Croce e Croce Júnior (2012). 
Diante disso, se na arma do crime for encontrada a impressão de um polegar em arco e o 
suspeito de um crime possuir presilha externa nesse dedo, pode-se concluir que não foi 
ele que empunhou o instrumento (desde que isso obviamente seja corroborado por outras 
provas). 
 
A individual datiloscópica (também chamada de fórmula datiloscópica) se vale de letras 
maiúsculas para os polegares (A, I, E e V) e números para os demais dedos da mão (1, 2, 
3 e 4), simbolizando a presença e a posição dos deltas, como exprime a relação a seguir: 
arco 
presilha interna 
presilha externa 
 
verticilo 
A (polegar) ou 1 (demais dedos) 
 
I (polegar) ou 2 (demais dedos) 
 
E (polegar) ou 3 (demais dedos) 
 
V (polegar) ou 4 (demais dedos) 
Fonte: elaborado pelo autor. 
Quando o desenho papilar for indecifrável, devido a deformações, cicatrizes ou outro 
motivo, utiliza-se X. Em casos de amputação, utiliza-se 0 (zero). 
 
A formula é composta, finalmente, por “série” (marcas de todos os dedos da mão direita) 
– numerador – sobre “seção” (marcas de todos os dedos da mão esquerda) – 
denominador. 
 
117 
 
 
 
 
Logo, a “série” contempla o “fundamental” (letra do polegar direito) e a “divisão” 
(números dos demais dedos destros). Já a “seção” engloba a “subclassificação” (letra do 
polegar esquerdo) e a “subdivisão” (números dos demais dedos canhotos). 
 
Existem outras subclassificações e pontos característicos das impressões digitais que, em 
razão de sua baixa ou nula incidência em provas e concursos da área do Direito, não serão 
abordados em nossos estudos. Para o aprofundamento do assunto a título de curiosidade 
ou necessidade profissional (ex.: Perito Criminal), sugerimos que você consulte a 
bibliografia desta seção. 
 
Além dos exames realizados no suspeito (direta ou indiretamente), como é o caso do 
residuográfico e da papiloscopia/datiloscopia, existem também as análises que são 
operacionalizadas na arma ou na munição. 
 
De acordo com o documento Procedimento operacional padrão: perícia criminal, do 
Ministério da Justiça (Secretaria Nacional de Segurança Pública), comparação 
balística ou confronto balístico é o 
procedimento que consiste em comparar inicialmente de modo 
macroscópio e em seguida microscopicamente, elementos questionados de muniçã
o (projéteis ou estojos), contra elementos padrões de munição (projéteis e estojos), 
coletados a partir de armas questionadas, buscando identificar as deformaçõesnormais 
características de cada arma questionada que são impressas de forma única e identificável 
em seus elementos de munição, com o propósito de correlacionar cada elemento de 
munição questionado com sua respectiva arma questionada. 
(BRASIL, 2013, p. 38) 
Já aprendemos, na Seção 3.1 desta unidade, que a identificação da arma de fogo é um 
procedimento que tende a definir sua identidade, valendo-se das suas características e 
registro (identificação direta/imediata) ou das características que a distinguem das 
demais (identificação indireta/mediata), por meio do confronto desses atributos 
(paradigma) com as deformações sofridas pelo instrumento letal ou munição periciadas. 
Ou seja, um dos métodos de identificação da arma de fogo é o exame de comparação 
balística (identificação indireta). 
 
Essa conferência leva em consideração características tênues e marcantes em projéteis, 
estojos e armas, mediante análises microscópicas, com o auxílio de computadores 
modernos e bancos de dados. 
 
Note que tanto as perícias como a cadeia de custódia se prestam a garantir a escorreita 
persecução penal. Enquanto as primeiras se dedicam a desvendar fatos por meio da 
118 
 
ciência, a última, também com base na ciência, dita procedimentos destinados à 
conservação dos vestígios. 
FAÇA VALER A PENA 
Questão 1 
O Código de Processo Penal define a cadeia de custódia nos seguintes termos: 
Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos 
utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais 
ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu 
reconhecimento até o descarte. 
 
§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com 
procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio. 
 
§ 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a 
produção da prova pericial fica responsável por sua preservação. 
 
§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, 
que se relaciona à infração penal. 
(BRASIL, 1941, [s. p.]) 
E, no artigo subsequente, elenca as etapas que compõem essa sequência de atos. 
Utilizando os conceitos absorvidos nesta seção, assinale a alternativa que contém uma ou 
mais etapas que não pertence(m) à cadeia de custódia. 
a. Armazenamento, isolamento e coleta. 
b. Acondicionamento, transporte e fixação. 
c. Isolamento, fixação e processamento. 
d. Transporte, manuseio e descarte. 
e. Reconhecimento, recebimento e processamento. 
Questão 2 
Logo após a prática de um latrocínio, as autoridades foram acionadas e prenderam um 
indivíduo que se encontrava próximo ao local do crime, com as características descritas 
por testemunhas. 
 
Para ter certeza da autoria, o Delegado de Polícia requereu a realização do exame 
papiloscópico em uma arma deixada no interior do veículo subtraído da vítima. 
 
O exame concluiu que o revólver calibre 38 continha tais impressões digitais da mão 
direita de quem o empunhou: polegar – verticilo; indicador – arco; médio – presilha 
interna; anelar – cicatriz; mindinho – amputação. 
Assinale a alternativa que representa a fórmula datiloscópica correspondente ao resultado 
da perícia. 
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119 
 
a. A 2130 
b. V 12X0 
c. V 31X4 
d. A 120X 
e. E 1234 
Questão 3 
A cadeia de custódia é o registro da concatenação de atos realizados desde o encontro do 
vestígio no local do fato, passando pela perícia – que pode ocorrer por meio dos exames 
residuográfico, de comparação balística, papiloscópico, entre outros –, até o seu descarte. 
Levando-se em consideração a inter-relação existente entre os temas desta seção (cadeia 
de custódia e perícias relacionadas às armas de fogo), analise as asserções a seguir e 
marque a opção correta: 
• O ingresso de pessoas no local do crime antes da liberação do perito pode gerar 
nulidade processual, relativa ou absoluta (a depender do caso), mas jamais crime. 
• Exame papiloscópico é o nome que se dá à perícia que compara as impressões 
digitais deixadas sobre o corpo vítima. 
• Chama-se de exame residuográfico a perícia realizada para detectar a presença de 
vestígios de pólvora e outras substâncias decorrentes do tiro nas roupas da vítima e 
do autor, no estojo de munição utilizado, em partes da arma e, sobretudo, nas mãos 
que a empunharam. 
Após a análise das asserções, pode-se afirmar que: 
a. Está correto o que se afirma nas asserções I e II. 
b. Apenas a asserção I contém informações verdadeiras. 
c. Apenas a asserção II contém informações verdadeiras. 
d. Nenhuma das asserções contém informações corretas. 
e. Apenas a asserção III contém informações verdadeiras. 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. 
Brasília, DF: Presidência da República, 1941. Disponível em: https://bit.ly/38bePJJ. 
Acesso em: 15 abr. 2021. 
 
BRASIL. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Portaria nº 82, de 16 de julho de 
2014. Estabelece as Diretrizes sobre os procedimentos a serem observados no tocante à 
cadeia de custódia de vestígios. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, n. 136, 18 
jul. 2014. Disponível em: https://bit.ly/2WraLCf. Acesso em: 4 jul. 2021. 
 
BRASIL. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Procedimento operacional 
padrão: perícia criminal. Brasília: Ministério da Justiça, 2013. Disponível 
em: https://bit.ly/3jhC5fn. Acesso em: 3 jul. 2021. 
 
https://conteudo.colaboraread.com.br/202102/INTERATIVAS_2_0/FUNDAMENTOS_DE_INVESTIGACAO_E_CRIMINALISTICA/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s3.html#accordion-2%20.item-1
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm
https://sintse.tse.jus.br/documentos/2014/Jul/18/diario-oficial-da-uniao-secao-1/portaria-no-82-de-16-de-julho-de-2014-estabelecehttp://politec.mt.gov.br/arquivos/File/institucional/manual/procedimento_operacional_padrao-pericia_criminal.pdf
120 
 
CROCE, D.; CROCE JÚNIOR, D. Manual de medicina legal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 
2012. Disponível em: https://bit.ly/3yhjzbg. Acesso em: 4 jul. 2021. 
 
LIMA, R. B. de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 
2020. 
 
NUCCI, G. de S. Manual de processo penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. 
Disponível em: https://bit.ly/38cDvBp. Acesso em: 4 jul. 2021. 
Bons estudos! 
Lorenzo Grillo
 
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SEM MEDO DE ERRAR 
Primeiramente, vamos relembrar a situação-problema apresentada: você é Investigador 
de Polícia e foi designado para preservar a cena de um homicídio pelo Delegado de Polícia 
titular até a chegada dele e do Perito Criminal ao local. Porém, em virtude da sua 
inexperiência, você permite o ingresso da mãe da vítima, que subtrai um vestígio e o 
destrói. Agora você tenta se esquivar de punições, alegando que o responsável legal pelas 
diligências era a autoridade policial. Sua justificativa merece ser acolhida? Não, porque 
o § 2º do art. 158-A do Código de Processo Penal dispõe que “o agente público que 
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https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559640119/cfi/6/2!/4/2@0.00:0.00
121 
 
reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial 
fica responsável por sua preservação” (BRASIL, 1941, [s. p.]). Ou seja, embora o 
Delegado de Polícia seja o titular da investigação, qualquer agente que tiver contato com 
a cena do crime deve impedir que seu estado seja alterado. 
AVANÇANDO NA PRÁTICA 
EXAMES PERICIAIS EM CRIME PRATICADO COM ARMA DE FOGO 
Adson Carlos, Promotor de Justiça atuante na comarca de Alfenas (MG), recebeu 
conclusos os autos de um inquérito policial envolvendo a prática do crime de feminicídio, 
ocorrido há seis meses. 
 
Segundo os documentos, na cena do crime – uma casa – foram encontrados apenas 
projéteis e estojos provenientes dos disparos de arma de fogo e o corpo da vítima (com 
suas vestimentas), além dos demais objetos que compunham o cenário da residência 
(copos, estante, mesa, televisão, etc.). 
 
Diante do conjunto de elementos, o membro do Ministério Público verificou que os 
vestígios são insuficientes para compor uma denúncia robusta contra o investigado. Por 
outro lado, o crime é evidente e não se trata de caso de arquivamento. 
 
É importante mencionar que a balística forense (análise do disparo, trajetória e trajeto da 
bala) já foi concluída. 
 
Suponha que você seja estagiário de Adson e ele lhe procure dizendo que está em dúvida 
entre solicitar a realização de exame datiloscópico, residuográfico ou de comparação 
balística. Qual(is) desses você indicaria? Justifique. 
RESOLUÇÃO 
Bons estudos! 
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122 
 
UNIDADE IV, SESSÃO 1 
TRAUMATOLOGIA 
 
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CONVITE AO ESTUDO 
Ao longo das sessões anteriores da nossa disciplina você já se deparou, diversas vezes, 
com a expressão “Medicina Legal”. Também já deve ter notado que ela está presente em 
todos os campos das ciências jurídicas. 
Por meio do conteúdo que será apresentado nesta unidade teremos, então, a oportunidade 
de aprofundar o nosso estudo nessa arte tão cara ao Direito e à Medicina, compreendendo 
seu significado e função, principalmente no que se refere à sua utilização nas mais 
diversas profissões ligadas à prática forense. 
Com efeito, esmiuçaremos as energias produtoras das lesões investigadas pelo Direito 
Penal e pelo Direito Processual Penal. 
Caso ainda não tenha se dado conta disso, você compreenderá, nesta unidade, que os 
vestígios deixados no local do crime verdadeiramente narram as etapas e contornos da 
infração. 
Conheceremos, ainda, as drogas e outras substâncias tóxicas, bem como seus efeitos e 
papel no cometimento de determinados delitos. 
Por fim, serão analisados os exames relacionados aos crimes de trânsito e que envolvem 
123 
 
violência, tudo isso com o objetivo de garantir a você o aprimoramento acadêmico e 
profissional. Bons estudos! 
PRATICAR PARA APRENDER 
É possível indicar com precisão o momento em que alguém morreu? O instrumento 
utilizado em um homicídio? Os contornos que envolvem determinado crime? 
Respostas a perguntas como essas são fornecidas pela Medicina Legal, especialmente 
pela Traumatologia, que estuda as energias de ordem mecânica e seus desdobramentos 
no âmbito jurídico. 
Nesta seção, teremos um contato mais profundo com a única ciência biológica que integra 
os cursos de Direito. 
Estudaremos a abrangência do termo Medicina Legal e, principalmente, a sua função 
social. 
Abordaremos boa parte das energias – não sem antes sabermos o que isso significa para 
a seara jurídica –, bem como suas implicações nas lesões corporais e morte. 
Assim como um Perito Criminal, examinaremos as feridas produzidas por cada tipo de 
instrumento, a fim de assegurar a compreensão e o desvendamento do crime. 
Você, Promotor de Justiça da comarca de Jacarezinho do Sul, recebe em seu gabinete os 
autos de um inquérito policial referente ao óbito de um pescador local. O exame 
necroscópico acostado aos autos detectou a presença, concomitante, de eritemas e 
flictenas, o que foi confirmado pelo relatório da autoridade policial. 
Baseado nos seus conhecimentos em Medicina Legal, mais precisamente das energias 
estudadas pela Traumatologia, identifique a causa mortis que irá subsidiar sua denúncia 
ou pedido de arquivamento. 
Como sempre, prepare-se com muita dedicação, pois os temas desenvolvidos farão de 
você um Delegado, um Promotor, um Magistrado, um Advogado, um Perito Criminal 
mais qualificado e capaz de fazer a diferença em um país tão necessitado de bons 
profissionais. 
CONCEITO-CHAVE 
Como se pode deduzir a partir da simples leitura do termo, Medicina Legal é um tema 
que habita dois mundos: o da Medicina e o do Direito. A partir dessa ideia já se extrai a 
conclusão de que tal temática estabelece íntima relação com os conteúdos aprendidos nas 
seções e unidades anteriores. 
A Medicina Legal também é conhecida como Medicina Legal Forense, Medicina 
Criminal, Medicina Judiciária, Biologia Legal, Jurisprudência Médica, entre outras 
nomenclaturas. No entanto, a denominação mais acertada, do ponto de vista técnico, 
parece ser de fato a primeira. 
O conceito de Medicina Legal, como veremos a seguir, depende do ângulo sob o qual ela 
é vista. 
Hercules (2011) destaca a conceituação de Paré como “a arte de fazer relatórios na 
Justiça” e a definição de Tourdes como “[...] a aplicação dos conhecimentos médicos às 
questões que concernem aos direitos e aos deveres dos homens reunidos em sociedade”. 
Em seu Manual de medicina legal, Delton Croce e Delton Croce Júnior elencam diversas 
124 
 
definições, dentre elas a de Fávero (1958 apud CROCE; CROCE JÚNIOR, 2012), que 
entende a Medicina Legal como “a aplicação dos conhecimentos médico-biológicos na 
elaboração e execução das leis que deles carecem”. 
REFLITA 
Como bem sintetiza Hercules (2011), para alguns, trata-se de uma ciência autônoma 
(Hoffman); para outros, de uma arte (Lacassagne). “Arte, porque a realização de uma 
perícia médica requer habilidade na prática do exame e estilo na realização do laudo. 
Ciência, porque, além de ter um campo próprio de pesquisas, vale-se de todo o 
conhecimento oferecido pelas demais especialidades médicas.” (HERCULES, 2011, p. 
10). 
Ciência ou arte – ou, ainda, ambas ao mesmo tempo –, fato é que a Medicina Legal se 
alicerça em diversos conhecimentos científicos (médicos,paramédicos e biológicos) para 
auxiliar a Justiça, tanto em questões judiciais práticas como na elaboração de leis. 
Mas como ocorre esse auxílio? Utilizam-se conhecimentos provenientes das áreas da 
Patologia, Fisiologia, Traumatologia, Psicologia, Psiquiatria, Física, Química, Anatomia, 
Radiologia, além de outras pertencentes ao Direito e às ciências criminais (ex.: Balística 
Forense). 
Como se pode perceber, a Medicina Legal serve mais ao Direito do que à própria 
Medicina. 
No Direito Penal, ela tem a função de elucidar os homicídios, infanticídios, feminicídios, 
lesões corporais, etc. Já no Direito Civil, aparece nos casos de exame de paternidade, nos 
impedimentos matrimoniais, nos incidentes de incapacidade das pessoas, entre outras 
circunstâncias. Serve o Direito do Trabalho nas questões que envolvem o ambiente de 
trabalho (insalubridade, periculosidade, higiene, etc.), prevenção de acidentes 
profissionais, além de outras hipóteses. 
Diversos outros ramos do Direito igualmente se utilizam da Medicina Legal, como o 
Direito Previdenciário, o Direito Constitucional, o Direito Penitenciário, o Direito do 
Desporto, o Direito Canônico, entre outras vertentes. 
Ainda que seja uma disciplina, não é uma especialidade médica – até porque é formada 
por outras ciências. 
Nesse sentido, qualquer médico pode exercê-la? Quanto à atuação prática, os exames 
requerem conhecimentos específicos (da área da Medicina ou de outras). 
EXEMPLIFICANDO 
É o caso do exame de DNA em crimes, que pode ser realizado até por biólogos e 
biomédicos, mas exige formação especializada e/ou experiência do profissional na área. 
A determinação de aspectos relacionados ao tiro (conforme estudamos na seção anterior) 
também requer conhecimentos especializados do médico legista. 
Quem está habilitado a lecionar essa matéria nos cursos de graduação e pós-graduação? 
Embora seja aconselhável experiência de campo, qualquer profissional da área das 
ciências biológicas ou do Direito que detiver conhecimentos teóricos poderá ministrar 
aulas sobre a matéria. 
EXEMPLIFICANDO 
125 
 
É comum que Médicos Legistas, Peritos Criminais e até Delegados lecionem Medicina 
Legal nos cursos de graduação e pós-graduação. 
A importância dessa matéria no curso de Direito pode ser facilmente constatada com uma 
simples “passada de olhos” pela sua grade curricular, pois é a única ciência biológica ali 
existente. Nos cursos de Medicina, atua como a maior ligação entre eles e a área de 
humanas, trazendo aos estudantes conhecimentos específicos relacionados à prática 
forense. 
Pode-se dizer que se trata de uma ferramenta de trabalho de boa parte dos profissionais 
das áreas jurídicas, mesmo que, lamentavelmente, venha sendo extirpada de diversos 
cursos de Direito por todo o país. 
Ao longo do estudo da Unidade 3 (Balística forense), você deve ter notado a 
imprescindibilidade do tema às perícias que envolvem os crimes praticados com armas 
de fogo. 
Portanto, ao advogado criminalista é primordial o domínio dessa matéria, a fim de que 
possa interpretar corretamente os exames e promover a melhor defesa ao seu cliente. O 
mesmo se pode dizer dos representantes do Ministério Público, porém com foco 
direcionado à acusação. Quanto ao Delegado de Polícia, a interpretação dos exames e 
situações que lhe são apresentadas também deve passar pelo crivo da Medicina Legal. Os 
Peritos Criminais, de seu turno, são os profissionais que operam diretamente essa área do 
conhecimento. 
Segundo Croce e Croce Júnior (2012), a Medicina Legal se divide em uma parte geral, 
na qual os profissionais da medicina estudam a jurisprudência médica (Deontologia) e 
normas técnicas relativas à sua atuação profissional (Dicetologia Médica); e uma parte 
especial, composta pelos conhecimentos detalhados a seguir: 
Antropologia forense: debruça-se sobre a identidade e a identificação médico-legal e 
judiciária, seus métodos, processos e técnicas. 
Traumatologia forense: estuda as lesões corporais e as energias que ocasionam o dano. 
Sexologia Forense: analisa a sexualidade normal, patológica e criminosa. 
Asfixiologia forense: como o próprio nome sugere, ocupa-se das asfixias 
(estrangulamento, esganadura, soterramento, inalação de gases irrespiráveis, etc.) que têm 
importância para o Direito (suicídios, homicídios, feminicídios, acidentes e outros). 
Tanatologia: analisa a morte (em grego, thánatos) e o indivíduo morto, empreendendo 
esforços para identificar o tempo do falecimento, verificar se as lesões foram praticadas 
em vida ou pós-morte, entre outros aspectos, mediante exumação, necropsia, etc. 
Toxicologia: por meio de exames laboratoriais, estuda os cáusticos e venenos, o álcool e 
as drogas e os processos de intoxicação que tenham relevância jurídica. 
Psicologia judiciária: observa o psiquismo normal e seus transtornos, que geram 
reflexos jurídicos, debruçando-se sobre o comportamento do delinquente, da vítima, da 
testemunha (ex.: capacidade de compreensão) e dos demais atores dos feitos cíveis e 
criminais. 
Psiquiatria forense: ocupa-se dos transtornos mentais e seus reflexos nas relações 
jurídicas, como capacidade civil e imputabilidade penal. 
Policiologia científica: compreende as técnicas empregadas pela polícia no 
desvendamento dos crimes, por meio dos vestígios deixados. 
Criminologia: estuda o conjunto de conhecimentos acerca do crime, da criminalidade e 
suas causas, da vítima e do criminoso (personalidade e ressocialização). 
Vitimologia: direciona o foco de seus trabalhos à análise específica da vítima e seu papel 
no crime. 
Infortunística: empreende esforços para a compreensão das moléstias profissionais, dos 
126 
 
acidentes de trabalho, bem como do local de trabalho no que tange à higiene e à 
insalubridade laborativa. 
Como vimos, um dos objetos de estudo da Medicina Legal é a Traumatologia Forense, 
que inspeciona as energias – grandezas da Física capazes de produzir ação ou movimento 
nos corpos (calor, eletricidade, etc.) – e seus desdobramentos jurídicos. 
Essas energias são capazes de modificar, desarranjar o corpo humano, causando-lhe 
lesões corporais que vão desde as mais leves até as que culminam em morte. 
Croce e Croce Júnior (2012) classificam as energias em: a) de ordem mecânica; b) de 
ordem física; c) de ordem química; d) de ordem físico-química; e) de ordem bioquímica; 
f) de ordem biodinâmica; g) de ordem mista. Já Hercules (2011) adota uma subdivisão 
mais sucinta: a) de ordem física; b) de ordem química; c) de ordem físico-química. 
Por questões didáticas e de incidência em provas e concursos, trabalharemos apenas com 
as energias de ordem mecânica, de ordem física, de ordem físico-química e de ordem 
química – de modo que a última será abordada na Seção 4.2. 
As energias de ordem mecânica são aquelas capazes de lesionar o corpo humano 
mediante a utilização de instrumentos de ação simples (cortantes, contundentes e 
perfurantes) ou complexa (perfurocortantes, perfurocontundentes e cortocontundentes). 
Isso ocorre por meio de pressão (ex.: punhal), deslizamento (ex.: estilete) ou 
trauma/impacto (ex.: marreta). 
Os instrumentos cortantes agem por pressão e deslizamento linear (ex.: bisturi, estilete, 
navalha). Ocasionam feridas incisas que possuem bordas nítidas e regulares, geralmente 
com hemorragia abundante e corte perfeito dos tecidos moles. Não há presença de outros 
traumas ao redor da região (ferida “limpa”), como costuma ocorrer em lesões por disparos 
de arma de fogo. 
Nesses casos, costuma-se detectar a presença de linhas de escoriação, que são sinais 
deixados antes e depois da ferida, os quais permitem identificar a direção do golpe. 
As consequências mais corriqueiras do uso desses instrumentos são o esquartejamento 
(decepamento dos membros), decapitação (separação da cabeça do corpo), esgorjamento 
(corte na região frontal do pescoço), degolamento (corte na região de trás do pescoço)e 
espostejamento (picar ou fatiar a vítima em postas). Muitas vezes, nesses casos, é 
detectada a presença de lesões nas mãos e membros superiores, indicando ação de 
defesa (bloqueio) da vítima. 
Instrumentos contundentes são aqueles que agem de modo traumático sobre a pessoa 
ou objeto (ex.: automóvel em colisão veicular, pé no chute, punho no soco, taco de 
beisebol, martelo). Eles podem ser sólidos (pedra, cabo de vassoura, 
marreta), líquidos (impacto com a água em um salto de altura elevada, jato d’água com 
pressão excessiva), gasosos (jato de ar, elevada pressão atmosférica, 
explosão), naturais (punhos, pés) ou ocasionais (bengala, tijolo, pedaço de pau). 
Produzem contusões – ou seja, derramamento de sangue entre os tecidos, sem a ruptura 
da pele e seus anexos (pelos, cabelos, unhas e glândulas) – ou feridas contusas – 
contusões abertas (continuidade da ação traumática), isto é, com derrame sanguíneo 
externo. Ambas possuem forma, fundo e vertentes irregulares, com bordas escovadas e 
aspecto retorcido (trabéculas). 
Da mais leve à mais grave, as contusões se dividem em: a) rubefação – vermelhidão, 
com dilatação momentânea da pele (ex.: tapa); b) bossa sanguínea ou edema – inchaço 
da pele por derramamento de plasma sanguíneo entre os tecidos (ex.: “galo” na testa após 
uma martelada); c) escoriação – remoção traumática da epiderme e formação de 
serosidade (sangue e crostas) (ex.: paulada de raspão, que rala); d) equimose – 
derramamento de sangue entre os tecidos, com invasão e coagulação (ex.: chute nas 
costas); e) hematoma – derramamento de sangue entre os tecidos, com invasão e 
127 
 
coagulação, porém em maior vulto que na equimose e sem fase de coloração preto-
arroxeada; f) luxação – deslocamento de uma das extremidades de um osso da 
articulação, provocando lesão nos ligamentos e inchaço, sem fratura (ex.: torção de 
tornozelo em jogo de futebol); g) fratura – quebra de ossos (ex.: atropelamento em que 
há ruptura de ossos do corpo da vítima). 
Quanto à ação, os instrumentos ou meios contundentes podem ser: a) ativos – quando 
estiverem em movimento em relação à vítima (ex.: pedrada); b) passivos – quando 
estiverem parados e a vítima em movimento (ex.: pessoa empurrada da sacada de um 
prédio, a qual colide com o pavimento); c) mistos – quando ambos estiverem em 
movimento (ex.: vítima que atravessa a rua sem olhar e se choca com um veículo em 
tráfego). 
Já os instrumentos perfurantes são pontiagudos e possuem forma alongada e cilindro-
cônica, atuando por pressão (ex.: punhal, alfinete, garfo, lança). Produzem lesões 
punctórias, ou seja, perfurações (em virtude da sua ponta), afastando as fibras do corpo 
humano. 
Por sua vez, os instrumentos perfurocortantes geram lesões perfuroincisas (ex.: faca 
enfiada no corpo); os perfurocontundentes, ferimentos perfurocontusos (ex.: chifre de 
boi, dente de cão, projétil de arma de fogo); e os cortocontundentes, feridas 
cortocontusas (ex.: serra elétrica, facão). 
Ao contrário do que ocorre nos manuais e cursos de Medicina Legal, não nos 
aprofundaremos acerca das lesões perfurocontusas, provocadas por armas de fogo, pois 
esse assunto já foi estudado na Unidade 3 (Balística forense). 
Na classificação por nós utilizada, o segundo tipo de energia é a de ordem física, que 
também altera o estado físico do corpo humano, desorganizando-o por meio de 
temperatura, pressão, eletricidade, radioatividade, luz e som. 
São chamadas de termonoses as lesões causadas por alta temperatura e 
de geladuras (pés de trincheira) os ferimentos causados por baixas 
temperaturas (ausência de calor). 
As geladuras podem ser de 1º grau (palidez), de 2º grau (eritemas e flictenas), de 3º grau 
(necrose com costas negras) ou de 4º grau (gangrena). 
Da mesma forma, as termonoses apresentam quatro graus: 1º grau (rubefação/eritema), 
2º grau (flictenas), 3º grau (escarificação) e 4º grau (carbonização). Podem ocorrer por 
insolação (exposição direta aos raios solares) ou intermação (confinamento em 
ambientes fechados ou pouco ventilados). 
ASSIMILE 
Note que tanto as termonoses quanto as geladuras de 1º grau produzem eritemas. No 
entanto, as flictenas, que aparecem nas termonoses de 1º grau, somente estão presentes 
nas geladuras de 2º grau. 
ASSIMILE 
Nas termonoses, os eritemas se apresentam como vermelhidão na pele; as flictenas 
caracterizam-se por bolhas; na escarificação, ocorre o desprendimento das camadas 
superiores da pele; e a carbonização é a torra completa do tecido. 
Ainda com relação às energias de ordem física, a pressão que lesiona é a atmosférica, 
visto que interfere nos movimentos respiratórios (nível de oxigênio), causando 
poliglobulia/“mal das montanhas” (baixa pressão) ou tromboembolia/”mal dos caixões” 
(alta pressão). 
128 
 
ASSIMILE 
Alta altitude → Baixa pressão → Queda de O² e outros gases 
Baixa altitude → Alta pressão → Aumento exacerbado de O² e outros gases 
A eletricidade pode ser natural/espontânea (ex.: raios), causando fulguração (lesão 
não letal) ou fulminação (lesão letal); ou artificial/industrial (ex.: fio desencapado), 
gerando eletroplessão (lesão não fatal) ou eletrocussão (lesão letal). 
É importante não confundir eletropressão (efeito da eletricidade artificial sobre o corpo 
humano) com eletroplessão (lesão não letal gerada pela eletricidade artificial). O Quadro 
4.1, a seguir, apresenta a diferença quanto ao aspecto de lesões causadas por acidentes 
com eletricidade natural e artificial: 
Quadro 4.1 | Diferença entre eletricidade natural e eletricidade artificial 
Eletricidade natural Eletricidade artificial 
Sinal/Marca de Lichtenberg de Jellinek 
Fonte: elaborado pelo autor. 
Os ferimentos causados por radioatividade podem ter causa natural (ex.: isótopos 
encontrados na natureza) ou artificial (ex.: usina nuclear), cuja ação pode 
ser local (úlcera de Roentgen e mãos de Roentgen) e geral (mutações genéticas que 
perduram por anos, atingindo as futuras gerações). 
Finalmente, a luz danifica o corpo humano por intermédio da visão (lesões nos 
componentes dos olhos); enquanto o som, por meio da audição (fere o aparelho auditivo). 
As energias de ordem físico-química interferem no processo físico-químico da 
respiração. Em outras palavras, estão intimamente ligadas às asfixias (falta de oxigênio 
por obstrução das vias respiratórias). 
As asfixias podem ocorrer de duas formas: 
• Por alteração do meio: a) afogamento (inspiração de líquido); 
b) soterramento (inspiração de partículas sólidas); c) confinamento (enclausuramento 
em ambiente sem oxigênio); d) sufocação direta (interna – obstrução de boca e narinas; 
externa – engasgamento ou obstrução da glote); e) sufocação indireta (mau 
funcionamento da caixa torácica, por constrição do seu movimento); 
f) intoxicação (inalação de gases tóxicos). 
• Por ação mecânica: a) enforcamento (enlaçamento do pescoço e constrição passiva 
pelo peso do próprio corpo da vítima); b) estrangulamento (enlaçamento do pescoço e 
constrição ativa por obra do agente, de terceiros ou da vítima); c) esganadura (constrição 
do pescoço da vítima pelas mãos do agente). 
O enforcamento somente admite a hipótese de suicídio e produz sulco 
ascendente descontínuo. Por sua vez, o estrangulamento ocorre tanto no suicídio como 
no homicídio (e seus congêneres, como o feminicídio), ocasionando sulco transversal 
contínuo. A esganadura, de seu turno, pode apenas ocorrer no homicídio (além de outros 
delitos não praticados pela vítima) e não produz sulcos. 
EXEMPLIFICANDO 
Alergias podem causar sufocação indireta (intoxicação alimentar). 
Como se pôde notar, a compreensão da Medicina Legal, sobretudo em relação à 
Traumatologia, é condição essencial ao desenvolvimento do futuro operador do Direito, 
visto que por meio dessa área do conhecimento se pode indicar com precisão o tempo do 
crime, suas circunstâncias, local e outros elementos que levam ao deslindamentoda 
129 
 
autoria e materialidade. Além disso, torna possível a conclusão pela tipicidade ou 
atipicidade do fato. 
FAÇA A VALER A PENA 
Questão 1 
Texto-base: 
Discorrendo sobre o disparo de arma de fogo, Croce e Croce Júnior (2012) afirmam que 
“Os agentes dessa classe produzem, no organismo, lesões características, representadas 
por orifício de entrada, semelhante ao produzido por instrumentos perfurantes, mas com 
os bordos contundidos e mortificados, o trajeto e o orifício de saída, que eventualmente 
pode faltar, agindo, em geral, mais pela força propulsora de que são dotados [...]” (p. 335). 
Com base em seus conhecimentos e no texto apresentado, assinale a alternativa que 
apresenta corretamente o tipo de lesão causada pelos projéteis de arma de fogo. 
a. Lesão perfurocontusa. 
b. Lesão perfurocontundente. 
c. Lesão contusa. 
d. Lesão perfurocortante. 
e. Lesão contundente. 
Questão 2 
Ao discorrer acerca da Traumatologia Forense, França (2019) explica o seguinte: 
“Cogumelo de espuma – É formado de uma bola de finas bolhas de espuma que cobre a 
boca e as narinas e se continua pelas vias respiratórias inferiores [...]” (p. 149). 
O sinal descrito acima é característico da seguinte espécie de energia de ordem físico-
química (embora não seja exclusivo dela): 
a. Termonose. 
b. Geladura. 
c. Eletrocussão. 
d. Asfixia por afogamento. 
e. Asfixia por esganadura. 
Questão 3 
Croce e Croce Júnior (2012, p. 393), ao tratar das energias de ordem físico-químicas, 
afirmam que “as ________________ são equimoses viscerais nos pulmões dos 
afogados”. 
Amparado nos conhecimentos absorvidos nesta seção, assinale a alternativa que completa 
corretamente a lacuna da frase acima, indicando o sinal ao qual o autor se refere. 
a. Sinais de Jellinek. 
b. Manchas de Paltauf. 
c. Sinais de Lichtenberg. 
d. Rubefações. 
e. Flictenas. 
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130 
 
REFERÊNCIAS 
CROCE, D.; CROCE JÚNIOR, D. Manual de medicina legal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 
2012. Disponível 
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502149533/cfi/0. Acesso em: 
4 jul. 2021. 
HERCULES, H. de C. Medicina legal: texto e atlas. São Paulo: Atheneu, 2011. 
FRANÇA, G. V. Medicina legal. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. 
Disponível 
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527732284/cfi/6/2!/4/2/2@0
:0. Acesso em: 4 jul. 2021. 
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FOCO NO MERCADO DE TRABALHO 
 
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SEM MEDO DE ERRAR 
O problema apresentado relata o caso de um pescador que faleceu, segundo a perícia, em 
virtude de eritemas e flictenas concomitantes. Na qualidade de Promotor de Justiça do 
caso, você foi incumbido, com base em elementos do exame pericial, de identificar a 
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causa mortis. 
As lesões encontradas, do modo como foram avistadas (concomitantemente), nos 
permitem concluir que se trata de uma geladura de 2º grau, pois os “eritemas” e as 
“flictenas” somente aparecem em casos como esse e nas termonoses (ambas energias de 
ordem mecânica). Ocorre que nas termonoses os eritemas aparecem em um momento 
diferente das flictenas (em 1º grau e 2º grau, respectivamente), o que nos permite descartar 
a hipótese ligada ao excesso de calor. 
AVANÇANDO NA PRÁTICA 
ENERGIAS DE ORDEM FÍSICO-QUÍMICA POR AÇÃO MECÂNICA 
Hibson Souza foi encontrado morto na sala de estar de sua residência, com o seguinte 
sinal em seu pescoço: “sulco ascendente descontínuo” – conforme o laudo do Perito 
Criminal. 
Klébisson, companheiro homoafetivo do falecido, foi indiciado pela prática do crime de 
homicídio do seu parceiro, visto que foram encontradas impressões digitais dele pelo 
corpo da vítima e em diversos objetos do local do crime, sem mencionar que ele foi a 
última pessoa a ter contato com o finado. 
O investigado procurou seus serviços como Advogado Criminalista. Qual a estratégia de 
defesa a ser utilizada no caso? 
RESOLUÇÃO 
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132 
 
UNIDADE IV, SESSÃO 2 
TOXICOLOGIA FORENSE 
Grillo 
 
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PRATICAR PARA APRENDER 
É muito comum, nos filmes e novelas, nos depararmos com cenas de envenenamento. Na 
vida real, a situação não é muito diferente, embora a ocorrência desses delitos seja, 
felizmente, baixa nos dias atuais. 
Por meio desta seção, entenderemos os contornos médico-legais dessas práticas, assim 
como da vitriolagem (arremesso de cáusticos), comumente ligada a crimes passionais ou 
perpetrados por ciúmes. 
Trataremos, portanto, das energias de ordem química, as últimas faltantes na classificação 
por nós adotada. 
Em seguida, iniciaremos o estudo das toxicomanias, passando pela identificação das 
substâncias tóxicas nas investigações criminais – tema que assola as delegacias de nosso 
país. 
Por último, compreenderemos o significado de embriaguez – algo diferente de 
alcoolismo, por exemplo –, bem como seus impactos nos crimes de trânsito. 
Se alguém está dirigindo sob a influência do álcool e é abordado pela polícia, é obrigado 
133 
 
a realizar o exame chamado popularmente de “teste dobafômetro”? Existem outras 
provas? A declaração do agente público supre o exame? As respostas a essas e outras 
perguntas serão encontradas nesta seção. Bons estudos! 
Tânia é juíza de direito da comarca de Jaboticabal (SP) e, no exercício de suas funções, 
se deparou com os autos de um processo criminal envolvendo vitriolagem. 
Segundo consta da denúncia formulada pelo Ministério Público, Adysson teria atirado 
ácido no rosto do seu ex-companheiro Jalysson, motivo pelo qual lhe foi imputada a 
prática de homicídio doloso. 
Ocorre que o advogado de defesa sustenta a tese de que Jalysson tenha falecido de causas 
naturais, de modo que o veneno teria sido lançado após a morte. 
O exame pericial realizado obteve a seguinte conclusão: “[...] trata-se de lesão enrugada, 
com tonalidade marrom-escura”. 
Com base nos dados apresentados, Tânia deve absolver ou condenar Adysson por prática 
de homicídio doloso, crime pelo qual foi denunciado? Justifique. 
O aprendizado das energias de ordem química, da toxicomania, das drogas e da 
embriaguez é dos mais “leves” (principalmente quando comparado aos assuntos das 
seções anteriores), em virtude da sua proximidade com o nosso cotidiano e da constante 
veiculação nos telejornais. Mas não por isso se trata de temas irrelevantes; ao contrário, 
são assuntos muito frequentes em provas e que ocorrem diariamente no mundo todo. 
Então, use isso ao seu favor para conseguir a tão almejada aprovação na Ordem dos 
Advogados do Brasil (OAB) e em outros concursos! 
CONCEITO-CHAVE 
Já estudamos, na Seção 4.1, boa parte das energias (de ordem mecânica, de ordem física 
e de ordem físico-químicas) que compõem a Traumatologia Forense. 
Neste módulo, tomaremos para análise as energias de ordem química, toxicomania, a 
embriaguez e a relação dessas substâncias com alguns crimes. 
De acordo com Croce e Croce Júnior (2012), energias de ordem química são aquelas 
“[...] que, entrando em contato interno ou externo com o organismo, são capazes de 
provocar danos à saúde ou à vida, como os cáusticos, produtores das lesões viscerais e 
cutâneas denominadas vitriolagem, e os venenos” (p. 383). Portanto, elas se subdividem 
em cáusticos e venenos. 
Vitriolagem é o nome que se dá à lesão produzida pelos cáusticos, substâncias capazes 
de lesionar tecidos humanos em grau mais leve ou mais profundo. 
De acordo com França (2019), essas substâncias podem resultar em: efeitos 
coagulantes – desidratação dos tecidos e formação de feridas enrijecidas, de diversas 
colorações (ex.: nitrato de prata); efeitos liquefacientes – formação de feridas úmidas, 
transparentes e moles (ex.: soda). 
A importância do estudo das características das lesões reside na possibilidade de 
identificação das substâncias utilizadas, bem como de se apontar o momento em que 
ocorreram os ferimentos. 
Em casos de vitriolagem criminosa, esses dados auxiliam no deslinde da materialidade e 
autoria do delito. 
ASSIMILE 
134 
 
Vale ressaltar que, via de regra, a vitriolagem ocorre de forma dolosa ou culposa. Em 
hipóteses muito raras, o lançamento de cáusticos sobre a própria pele ou outros tecidos 
ocorre voluntariamente. 
Dolosamente, a vitriolagem geralmente se manifesta por ciúmes ou vingança. Nesses 
casos, as áreas mais afetadas são a face, o pescoço, as genitálias, bem como os seios (no 
caso das mulheres). A modalidade culposa costuma se dar em acidentes com invólucros 
contendo as substâncias cáusticas. 
Quando empregados após a morte, os cáusticos não provocam escaras, como em vida, 
mas sim lesões enrugadas, com tonalidade marrom-escura. 
Acerca dos venenos, a maior parte da doutrina se queixa da dificuldade em conceituar 
tais substâncias, pois até mesmo um alimento ou medicamento ministrado em doses 
excessivas, ou circunstâncias específicas (ex.: penicilina, para quem é alérgico), pode se 
tornar veneno. Paralelamente, certa substância venenosa, consumida em baixas 
concentrações, pode servir como fármaco. 
EXEMPLIFICANDO 
A estricnina, veneno utilizado para matar ratos, já foi utilizada em doses reduzidas como 
anabolizante para aumentar a contração muscular dos atletas (VASCONCELOS, 2018). 
Logo, veneno é toda substância que, introduzida por qualquer via, ocasione danos à saúde 
ou morte. 
REFLITA 
As substâncias ministradas em dosagens extremamente baixas, com alta diluição, podem 
ser consideradas veneno? Se essa concentração for suficiente para lesionar a saúde ou 
causar a morte, sim! É o que concluem Croce e Croce Júnior (2012) e França (2019). 
Segundo França (2019), os venenos são classificados: 
• Quanto ao estado físico: líquidos, sólidos e gasosos. 
• Quanto à origem: animal, vegetal, mineral e sintético. 
• Quanto às funções químicas: óxidos, ácidos, bases e sais (funções inorgânicas): 
hidrocarbonetos, álcoois, acetonas e aldeídos, ácidos orgânicos, ésteres, aminas, 
aminoácidos, carboidratos e alcaloides (funções orgânicas). 
• Quanto ao uso: doméstico, agrícola, industrial, medicinal, cosmético e venenos 
propriamente ditos. (p. 143, grifo nosso) 
O envenenamento apresenta as seguintes fases, conforme a 
doutrina: penetração, absorção, fixação, transformação, distribuição e eliminação. 
A penetração, como o próprio nome indica, é o modo como o veneno ingressa no corpo 
humano. Acontece por qualquer via, como vimos; ou seja, pela via oral (mais comum), 
gástrica, retal, inalatória, cutânea, subcutânea, intramuscular, intraperitoneal, intravenosa, 
intra-arterial e intratecal. 
Já a absorção é o processo por meio do qual o veneno penetra nos tecidos para causar-
lhes danos. Pode ocorrer pelas mucosas, pelo pulmão, pelo sistema gastrointestinal, etc. 
Por sua vez, a fixação é o momento em que o veneno se aloja em determinado órgão, de 
acordo com a afinidade. 
Dá-se o nome de transformação à etapa em que o corpo, na tentativa de eliminar ou 
neutralizar a substância nociva, a transmuta em outra. 
O próprio termo distribuição já indica que essa é a fase em que o veneno é partilhado no 
135 
 
organismo aos tecidos, com o auxílio do sangue e de outros fluidos corporais. 
Na eliminação, a peçonha é excretada pelo corpo das mais diversas formas (urina, suor, 
vômitos, ar expirado e, até mesmo, unhas, cabelos, entre outros elementos). 
EXEMPLIFICANDO 
A maneira mais comum e eficaz de eliminação de veneno é pela urina. Em um caso 
envolvendo o envenenamento de uma família no interior de São Paulo, foram encontrados 
10.000 microgramas de arsênico nas urinas das irmãs (bastam 1.500 microgramas para 
levar uma pessoa a óbito) (POLÍCIA..., 2008). 
REFLITA 
Em que fase(s), então, o veneno pode ser detectado? Como pudemos notar, a substância 
peçonhenta pode ser encontrada em todas as etapas do envenenamento, inclusive sob 
outra forma (transmutação). 
Croce e Croce Júnior (2012) afirmam que a Toxicologia Forense “estuda os cáusticos, os 
envenenamentos e a intoxicação alcoólica e por tóxicos, pelo emprego de processos 
laboratoriais” (p. 37). 
Boa parte do seu escopo já foi por nós estudada nesta seção ao abordarmos as energias de 
ordem química. Restam, então, os aprendizados relativos à toxicomania e à embriaguez. 
O termo toxicomania advém das palavras “tóxico” e “mania”, significando, portanto, a 
utilização aguda (curto espaço de tempo) ou crônica (longa duração) de drogas. 
Atualmente, porém, para a Organização Mundial de Saúde (1974), a expressão mais 
adequada é farmacodependência, que corresponde ao “estado psíquico e, às vezes, físico 
causado pela interação entre um organismo vivo e um fármaco” (OMS, 1974, p.15), de 
modo que “fármaco” ou “droga” é “toda substância que, introduzida no organismo vivo, 
pode modificar uma ou mais de suas funções” (OMS, 1974, p.15). 
Mas o que vêm a ser drogas? O parágrafo único do art. 1º, da Lei nº 11.343, de 11 de 
agosto de 2006, define drogas como “as substâncias ou os produtos capazes de causar 
dependência, assim especificadosem lei ou relacionados em listas atualizadas 
periodicamente pelo Poder Executivo da União” (BRASIL, 2006, [s. p.]). 
Trata-se de uma lei penal em branco em sentido estrito, que encontra seu complemento 
na Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998 (as substâncias proibidas são 
elencadas nesse documento legal). 
França (2019) explica “tóxico” ou “droga” como “um grupo muito grande de substâncias 
naturais, sintéticas ou semissintéticas que podem causar tolerância, dependência e crise 
de abstinência” (p. 389). 
Tolerância é a necessidade de doses cada vez maiores de droga, em virtude do 
consumo. Dependência é a relação de sujeição entre o viciado e o tóxico/fármaco. Por 
sua vez, crise de abstinência é a reação ou síndrome causada pela supressão da droga do 
indivíduo, caracterizada por perda do sono, vômitos, náuseas, inquietação, irritação, 
compulsão, etc. 
A identificação da substância é imprescindível para fins de classificação da infração penal 
perpetrada ou até mesmo para afirmar se há ou não crime (materialidade). 
Por isso, a Lei nº 11.243, de 23 de agosto de 2006, impõe a realização de dois exames 
sobre a substância apreendida: 1º - laudo de constatação da natureza e quantidade, por 
perito oficial ou, na falta dele, por qualquer pessoa idônea, no momento da lavratura do 
auto de prisão em flagrante (art. 50, § 1º); 2º - laudo definitivo, por perito oficial ou, na 
sua ausência, por duas pessoas idôneas portadoras de diploma de curso superior 
136 
 
preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica 
relacionada com a natureza do exame (art. 50, § 2º combinado com o art. 152 do Código 
de Processo Penal). 
O primeiro exame consiste em averiguação provisória da natureza e quantidade da droga 
para que se possa subsidiar a investigação e a própria ação penal (indícios de autoria e 
materialidade). Cuida-se, portanto, de condição de procedibilidade, que não tem o condão 
de embasar a condenação, nos termos dos precedentes do STJ (HC 457.466/SC). 
O laudo em epígrafe poderia, por exemplo, ser elaborado pela própria autoridade policial 
ou pelo agente que tivesse contato com a substância, com base unicamente na sua 
experiência. Porém, visando conferir mais credibilidade à instrução criminal, a legislação 
tratou de dar contornos mais complexos à análise, mas sem atravancar as investigações. 
Melhor explicando a sua operação prática, Silva (2016, p. 196) teoriza que “no laudo de 
constatação são empregados reagentes químicos, que deixam o objeto de determinada cor 
quando se trata de droga. Os meios e métodos empregados são extremamente simples e, 
por isso, não necessita ser elaborado por perito”. 
Mesmo quando for realizada uma prova com testes pré-fabricados (prontos), é 
conveniente que a pessoa que os aplique saiba identificar a substância por meio das suas 
características. Por isso, o aluno e o profissional do Direito, de modo geral, devem 
conhecer as qualidades e classificações das drogas mais consumidas – até porque a 
incidência desses temas é alta em provas e concursos. 
São Paulo (2021) divide esses tóxicos em: a) depressores da atividade do sistema 
nervoso central (SNC); b) estimulantes da atividade do SNC; e c) perturbadores da 
atividade do SNC. 
De acordo com o documento, o primeiro grupo de drogas (depressores), também chamado 
de psicolépticos, deprime/diminui a atividade cerebral, fazendo com que o usuário fique 
com o raciocínio lento, distraído e desinteressado pelas coisas. Como exemplos, podemos 
citar: álcool, opiáceos (heroína, morfina, ópio), barbitúricos (anticonvulsivos, sedativos), 
ansiolíticos (calmantes), solventes (cola de sapateiro, respingo de solda, lança-perfume), 
etc. 
Os estimulantes do SNC, conhecidos 
como psicoanalépticos, nooanalépticos ou timolépticos estimulam o cérebro, 
aumentando sua atividade e, consequentemente, deixando a pessoa “ligada”, agitada, sem 
sono. Algumas substâncias dessa classe são: cafeína, nicotina, anfetamina e cocaína. 
Por último, os perturbadores do SNC, alucinógenos, psicodélicos, 
psicoticomiméticos, psicodislépticos, psicometamórficos ou alucinantes são tóxicos 
que perturbam, ou seja, alteram qualitativamente o funcionamento do cérebro, deixando 
a pessoa confusa, com a percepção alterada da realidade e, em alguns casos, com 
alucinações. Exemplos dessas drogas são: maconha, LSD, cogumelo, cacto, 
anticolinérgicos, êxtase, etc. 
Perceba que as classificações mencionadas contêm substâncias lícitas (ex.: nicotina) e 
ilícitas (ex.: cocaína). Algumas delas permanecem na condição de lícitas ainda que o seu 
consumo seja exagerado (ex.: cafeína); outras, de acordo com o modo como são usadas, 
podem se tornar ilícitas (ex.: anfetaminas sem prescrição médica ou em alta dosagem). 
Desse modo, para constatar a presença ou ausência de crime, deve-se levar em conta a 
natureza do material encontrado, sua quantidade (em alguns casos) e as circunstâncias 
fáticas que envolveram sua apreensão, confrontando esses dados com a Lei. 
ASSIMILE 
Para fins médico-legais, o álcool e os remédios são drogas, contudo a Lei nº 11.343/06, 
complementada pela Portaria SVS/MS nº 344/98, não os enquadra como drogas ilícitas. 
137 
 
As restrições ao álcool são trazidas por outros diplomas legais, que punem a direção sob 
a sua influência (Código Brasileiro de Transito – CTB) e proíbem o seu comércio a 
menores (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA), por exemplo. O mesmo ocorre 
com os remédios, cuja prescrição e uso devem respeitar regras, sob pena de crime. 
Acerca do laudo definitivo, Silva (2016) elucida que 
Esta perícia é denominada de exame químico toxicológico, que será materializado pelo 
laudo de exame químico toxicológico, denominado pela Lei de Drogas simplesmente de 
laudo toxicológico ou laudo definitivo em contraposição ao laudo de constatação, que 
também é comumente chamado de laudo provisório. 
 (SILVA, 2016) 
Não podemos nos esquecer da importância da cadeia de custódia, estudada na Seção 3.3 
da terceira unidade, na preservação dos vestígios encontrados (no caso, drogas) e, 
principalmente, na qualidade do exame em questão. Vale destacar, aqui, a fase de 
acondicionamento, em que a substância tóxica deve ser embalada de forma 
individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, para 
posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o 
acondicionamento (art. 158-B, V do CPP), respeitando-se, ainda, as regras do art. 158-D 
do mesmo diploma legal. 
Outra forma de intoxicação por substância capaz de causar tolerância, dependência e crise 
de abstinência é a embriaguez alcoólica, que, nos dizeres de França (2019, p. 407), “é 
um conjunto de manifestações neuropsicossomáticas resultantes da intoxicação etílica 
aguda de caráter episódico e passageiro”. 
Trata-se de um estágio (esporádico) que não se confunde com alcoolemia (concentração 
de álcool por litro de sangue) ou com alcoolismo (dependência do álcool – tratada como 
doença, segundo a Organização Mundial de Saúde). 
O Código Penal, em seus arts. 28 e 60, elenca boa parte das espécies de embriaguez: a) 
culposa; b) voluntária; c) acidental; d) decorrente de caso fortuito; e) decorrente de 
força maior; f) preordenada; h) habitual. Além dessas, há, ainda, a embriaguez 
patológica. 
A ação tóxica do álcool no organismo causa manifestações físicas (congestão das 
conjuntivas, taquicardia, taquipneia, taquisfigmia, hálito alcoólico-
acético), neurológicas (falta de equilíbrio, marcha prejudicada, problemas de 
coordenação motora) e psíquicas (alteração de humor, de senso ético, de atenção, da 
sensopercepção, falta de concatenação de ideias). 
Ainda que alguns autores apresentem um número maior de fases da embriaguez, 
prevalece em provas e concursos a classificação tripartida, adotada por França (2019). 
Em ordem de incidência, as fases são: 
1. Excitação:momento em que o sujeito se mostra alegre, bem-humorado, gracejador, 
falante (até demais, em alguns casos), com olhar animado; 
2. Confusão: fase em que o indivíduo começa a demonstrar as perturbações psíquicas e 
motoras (ex.: andar cambaleante), fica irritado e com tendência à agressividade, com 
olhos “baixos”; 
3. Sono ou comatose: o embriagado tem dificuldade para se manter em pé, caminhando 
escorado nas pessoas ou obstáculos, é acometido por vômitos, náusea, sudorese 
abundante, relaxamento intestinal e, finalmente, quando cai ou é colocado deitado, não 
costuma levantar, “apagando” em sono profundo. 
Constata-se a embriaguez pela coleta da urina, da saliva (não recomendada), pelo líquor, 
pelo exame clínico (de maior valor probante) e pelo ar alveolar (etilômetro/”bafômetro”). 
138 
 
França (2019) aponta que a alcoolemia se apresenta em três graus: 1º) intoxicação 
aparente – 5 decigramas por litro de sangue; 2º) distúrbios tóxicos – de 5 a 20 decigramas 
por litro de sangue; 3º) embriaguez completa – acima de 20 decigramas por litro de 
sangue. 
Contudo, é importante destacar que o art. 276 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) 
(Lei nº 12.760/12) sujeita o condutor às penalidades previstas no art. 165 do mesmo 
documento legal, caso seja constatada qualquer concentração de álcool por litro de 
sangue ou por litro de ar alveolar (tolerância zero). 
Nos casos envolvendo os crimes de trânsito, o condutor pode se recusar a realizar o 
“bafômetro” (meio mais usual e prático de aferição da alcoolemia) ou qualquer outro 
exame, em virtude do princípio/garantia segundo o qual ninguém está obrigado a produzir 
prova contra si mesmo (nemo tenetur se detegere) – regra materializada pelo § 2º do art. 
277 da Lei nº 12.760/12. 
No entanto, caso faça essa escolha, a infração poderá ser caracterizada mediante a 
obtenção de outras provas em direito admitidas (ex.: testemunhas), pelo agente de trânsito 
acerca dos notórios sinais de embriaguez, excitação ou torpor, resultantes do consumo de 
álcool ou entorpecentes, apresentados pelo condutor – por conta da fé pública dos atos do 
servidor (art. 277, § 2º do CTB). 
Os crimes de trânsito que envolvem a embriaguez são assim elencados pelo Código de 
Trânsito Brasileiro: homicídio culposo na direção de veículo automotor, sob a influência 
do álcool (art. 302, § 3º); lesão corporal culposa na direção de veículo automotor, sob a 
influência do álcool (art. 303, § 2º); e condução de veículo sob a influência do álcool (art. 
306). 
Como estudamos, para qualquer um desses delitos, basta que se detecte a alcoolemia 
(sangue, ar alveolar, etc., suprida por qualquer outra prova em direito admitida). Tal 
critério é alvo de críticas, pois não leva em consideração as características de cada 
indivíduo (ex.: tolerância), afinal estar alcoolizado não é o mesmo que estar embriagado 
(ex.: posso ter ingerido um copo de cerveja e estar perfeitamente apto a conduzir um 
automóvel, sem causar acidentes; por outro lado, minha tia, que faz uso de medicamentos 
“tarja preta”, pode, com o mesmo copo de cerveja, ter sua percepção totalmente alterada 
e estar inapta a dirigir). 
Como pudemos constatar a partir do conteúdo estudado nesta seção, é importante que o 
operador do Direito tenha domínio dos conceitos médico-legais e jurídicos inerentes às 
energias de ordem química, venenos, fases de envenenamento, toxicomania, identificação 
das substâncias tóxicas e embriaguez, para que atue com primor no deslinde dos crimes 
que envolvem esses assuntos – diga-se de passagem, muito comuns no dia a dia forense 
(e, por isso, frequentemente cobrados em provas). 
FAÇA A VALER A PENA 
Questão 1 
França (2019) afirma que “a Organização Mundial da Saúde definiu toxicomania ou 
toxicofilia ‘como um estado de intoxicação periódica ou crônica, nociva ao indivíduo ou 
à sociedade, produzida pelo repetido consumo de uma droga natural ou sintética’” (p. 
389). 
Pautando-se no texto apresentado, assinale a alternativa que apresenta corretamente as 
três consequências do consumo de drogas. 
139 
 
a. Intolerância, dependência e abstinência. 
b. Intolerância, dependência e crise de abstinência. 
c. Tolerância, dependência e crise de abstinência. 
d. Tolerância, dependência e abstinência. 
e. Tolerância, agitação e abstinência. 
Questão 2 
França (2019) descreve a maconha do seguinte modo: 
Também denominada marijuana, diamba, liamba, fumo-de-angola, erva maldita, erva-do-
diabo, canábis, birra, haxixe e maria-joana, é conhecida na China e na Índia há 9 mil anos. 
É extraída decertas partes das folhas da Cannabis sativa, planta dioica, erecta, de cheiro 
acre e inflorescência verde-escura. Seu odor é forte e quando em forma de planta seca se 
parece com o orégano ou com o chá grosseiramente picado. Nativa das regiões equatoriais 
e temperadas, é a droga mais consumida no mundo inteiro [...]. 
(p. 390) 
Com base no conteúdo apreendido na presente seção, assinale a alternativa que contém a 
classificação correta da droga em questão com relação aos seus efeitos no sistema nervoso 
central. 
a. Depressora da atividade do sistema nervoso central, causando distração e 
desinteresse pelas coisas. 
b. Depressora da atividade do sistema nervoso central, ocasionando percepção 
alterada da realidade e, em alguns casos, alucinações. 
c. Estimulante da atividade do sistema nervoso central, causando agitação e 
falta de sono. 
d. Perturbadora da atividade do sistema nervoso central, ocasionando 
percepção alterada da realidade e, em alguns casos, alucinações. 
e. Perturbadora da atividade do sistema nervoso central, causando agitação e 
falta de sono. 
Questão 3 
Croce e Croce Júnior (2012) afirmam que “um veneno é uma substância que, quando 
introduzida no organismo em quantidades relativamente pequenas e agindo 
quimicamente, é capaz de produzir lesões graves à saúde, no caso do indivíduo comum e 
no gozo de relativa saúde” (p. 386). 
De posse da definição apresentada, assinale a alternativa que apresenta uma afirmação 
correta acerca das fases do envenenamento. 
a. A penetração é o processo pelo qual o veneno adentra os tecidos para causar-
lhes danos. 
b. A distribuição é o momento em que o veneno se aloja em determinado órgão, 
de acordo com a afinidade. 
c. A eliminação é a etapa em que o corpo, na tentativa de eliminar ou 
neutralizar a substância nociva, a transmuta em outra. 
d. A transformação é a fase em que o veneno é partilhado no organismo aos 
tecidos com o auxílio do sangue e de outros fluidos corporais. 
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140 
 
e. A penetração é o modo como o veneno ingressa no corpo humano. 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, DF: 
Presidência da República, 1940. Disponível em: https://bit.ly/2XlSfM7. Acesso em: 17 
maio 2021. 
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. 
Brasília, DF: Presidência da República, 1941. Disponível em: https://bit.ly/3A8sttv. 
Acesso em: 17 maio 2021. 
BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Código de Trânsito Brasileiro. 
Brasília, DF: Presidência da República, 1997. Disponível em: https://bit.ly/3hsM2p5. 
Acesso em: 17 maio 2021. 
BRASIL. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas 
Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, 
atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para 
repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá 
outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2006. Disponível 
em: https://bit.ly/3tEFCrR. Acesso em: 17 maio 2021. 
CROCE, D.; CROCE JÚNIOR, D. Manual de medicina legal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 
2012. Disponível em: https://bit.ly/3z3ughT. Acesso em: 4 jul. 2021. 
FRANÇA, G. V. Medicina legal. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. 
Disponível em: https://bit.ly/3tBhDK5. Acesso em: 4 jul. 2021. 
HERCULES, H. de C. Medicina legal: texto e atlas. São Paulo: Atheneu, 2011. 
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Comité de expertos de la OMS en 
farmacodependencia (20º informe). Genebra: OMS, 1974. Disponível em: 
https://bit.ly/3z7nCYe. Acesso em: 20 maio 2021. 
POLÍCIA faz reconstituição da morte de família envenenada em Campinas. G1, São 
Paulo, 20 maio 2008. Disponível em: https://glo.bo/3hvzqgJ. Acesso em: 17 maio 2021. 
SÃO PAULO. Secretaria da Justiça e Cidadania. Classificação das drogas. IMESC – 
Instituto de Medicina Legal e de Criminologia, 20 maio 2019. Disponível 
em: https://bit.ly/3hvJdDH. Acesso em: 17 maio 2021. 
SILVA, C. D. M. Lei de drogas comentada. 2. ed. São Paulo: APMP - Associação 
Paulista do Ministério Público, 2016. 
VASCONCELOS, Y. Qual é o veneno mais venenoso do mundo? Superinteressante, 4 
jul. 2018. Disponível em: Linkhttps://super.abril.com.br/mundo-estranho/qual-e-o-
veneno-mais-venenoso-do-mundo/. Acesso em: 17 maio 2021. 
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FOCO NO MERCADO DE TRABALHO 
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SEM MEDO DE ERRAR 
Adysson foi denunciado pelo MP por homicídio doloso contra seu ex-companheiro, 
Jalysson, porque teria atirado ácido no rosto do último. Seu advogado, porém, sustenta a 
tese de que Jalysson tenha falecido de causas naturais, de modo que o veneno teria sido 
lançado após a morte. 
O exame pericial realizado obteve a seguinte conclusão: “[...] trata-se de lesão enrugada, 
com tonalidade marrom-escura”. 
Coube a você apontar se a juíza deve absolver ou condenar o acusado, com base nas 
informações apresentadas. 
A lesão descrita pelo laudo pericial (lesão enrugada, com tonalidade marrom-escura) é 
característica do lançamento de ácido após a morte. Nesse caso não há escaras, como no 
contato da pele com o cáustico em vida. 
Diante disso, Tânia deve absolver Adysson do crime de homicídio. 
AVANÇANDO NA PRÁTICA 
EMBRIAGUEZ AO VOLANTE E “TESTE DO BAFÔMETRO” 
142 
 
Você é policial militar e, durante uma blitz rotineira, acaba se deparando com um famoso 
empresário local, visivelmente embriagado, na condução de um veículo automotor. Ele 
se recusa a realizar o famigerado “teste do bafômetro”. 
Nesse caso, a escusa do condutor deve ser aceita? Qual a providência a ser adotada? 
RESOLUÇÃO 
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143 
 
UNIDADE IV, SESSÃO 3 
EXAMES DE CORPO DE DELITO: ESPÉCIE DE 
EXAMES EM CRIMES DE TRÂNSITO E 
VIOLÊNCIA 
Grillo 
 
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PRATICAR PARA APRENDER 
Após o estudo de todos os conteúdos que apresentamos sobre Medicina Legal e perícias 
de modo geral, você já deve estar apto a responder questões acerca dos exames realizados 
em quaisquer tipos de crimes. 
De qualquer modo, nesta seção, investigaremos o exame de corpo de delito e a necropsia 
operacionalizados nos crimes de trânsito envolvendo violência, por meio da análise das 
lesões provocadas. 
Aprofundaremos nosso estudo acerca da alcoolemia e embriaguez ao volante, atentando-
se para a solução de problemas de ordem prática, como a recusa ao teste do “bafômetro”, 
consequências desse ato, outras espécies de prova, etc. 
Observaremos a cadeia de custódia sob a ótica das infrações constantes do Código de 
144 
 
Trânsito Brasileiro e sua relação com o local do crime, tudo isso para que você, enquanto 
Delegado de Polícia, Perito Criminal, Advogado, membro do Ministério Público, 
Magistrado ou profissional de outra área que vier a escolher, esteja apto a desempenhar 
um trabalho de qualidade. E antes disso, na qualidade de aluno, você poderá galgar seu 
caminho para a aprovação na carreira almejada por meio dos conteúdos apresentados. 
Bons estudos! 
Você é Policial Militarna cidade de Itapevi do Norte e, numa noite chuvosa de quarta-
feira, é chamado pelo rádio para atender a uma ocorrência. Trata-se de um acidente 
automobilístico na rodovia envolvendo vítimas fatais e algumas pessoas feridas. 
No local, você constata que um automóvel, em alta velocidade, havia se chocado com 
uma motocicleta. O piloto do veículo de duas rodas faleceu no local, enquanto o “carona” 
e o motorista do carro tiveram ferimentos graves e foram imediatamente levados ao 
hospital por uma ambulância que já havia se retirado antes da sua chegada. 
Supondo que você seja o único agente na cena da colisão, qual a primeira medida a ser 
adotada? Por quê? 
Estamos na reta final! Sua atenção aqui é muito importante. Aproveite para sanar todas 
as dúvidas acumuladas ao longo da unidade com o professor para que você termine essa 
etapa com louvor, preparado para os desafios da vida profissional. 
CONCEITO-CHAVE 
Neste módulo, consolidaremos alguns conhecimentos adquiridos no estudo de outras 
seções desta unidade, aprofundando nosso entendimento acerca de alguns temas 
intrínsecos aos crimes de trânsito envolvendo violência. 
Antes de mais nada, é importante saber quais são os crimes de trânsito. Eles estão 
previstos nos arts. 302 a 312 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. 
Ao nosso estudo, direcionado principalmente às lesões provocadas pelas práticas 
delituosas e seus exames, interessam, porém, apenas: o homicídio culposo na direção de 
veículo automotor (art. 302); a lesão corporal culposa na direção de veículo automotor 
(art. 303); e a participação, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, 
disputa ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia 
em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente, gerando 
situação de risco à incolumidade pública ou privada, desde que ocasione lesão corporal 
ou morte (art. 308, §§ 1º e 2º). 
Tal recorte foi feito porque esses são os crimes que possuem resultado violento, 
demandando a realização de exames de corpo de delito sobre lesões e necrópsia. 
Nucci (2021, p. 381) afirma que 
Exame de corpo de delito: é a verificação da prova da existência do crime, feita por 
peritos, diretamente, ou por intermédio de outras evidências, quando os vestígios, ainda 
que materiais, desapareceram. O corpo de delito é a materialidade do crime, isto é, a prova 
da sua existência. 
Conforme já estudamos, o caput do art. 158 do Código de Processo Penal explicita que 
“quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto 
ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado” (BRASIL, 1941, [s. p.]). 
Logo, nos delitos mencionados (assim como nos demais que deixem vestígios), é 
essencial a realização de perícia. Mas quais exames devem ser operacionalizados pelo 
145 
 
expert, afinal? 
Preliminarmente, é importante estabelecer que estamos diante de crimes cujos resultados 
são lesões corporais e morte. 
Conforme estudamos em Traumatologia forense (mais especificamente nas energias de 
ordem mecânica), na Seção 4.1 desta unidade, os acidentes automobilísticos costumam 
causar contusões ou feridas contusas, pois trata-se de agentes contundentes. 
Estamos falando de instrumentos sólidos, de ação simples (via de regra), que, como dito, 
provocam contusões – derramamento de sangue entre os tecidos, sem a ruptura da pele e 
seus anexos (pelos, cabelos, unhas e glândulas) – ou feridas contusas – contusões abertas 
(continuidade da ação traumática), isto é, com derrame sanguíneo externo. Ambas 
possuem forma, fundo e vertentes irregulares, com bordas escovadas e aspecto retorcido 
(trabéculas). 
REFLITA 
As lesões são sempre contusas? 
Em regra sim, por conta da natureza do agente causador do dano, mas é claro que, em 
virtude da colisão, outros efeitos (secundários) podem surgir, como uma peça afiada do 
automóvel ser arremessada e acertar a vítima, cortando-a (ferida incisa); ou, 
hipoteticamente, a pessoa sofrer perfurações por colidir com algum obstáculo pontiagudo 
(ferida punctória). 
Para não perdermos o foco, o nosso estudo se aterá aos ferimentos característicos 
(contusões e chagas contusas). 
Da mais leve à mais grave, as contusões se dividem em: a) rubefação – vermelhidão, 
com dilatação momentânea da pele (ex.: tapa); b) bossa sanguínea ou edema – inchaço 
da pele, por derramamento de plasma sanguíneo entre os tecidos (ex.: “galo” na testa após 
uma martelada); c) escoriação – remoção traumática da epiderme e formação de 
serosidade (sangue e crostas) (ex.: paulada de raspão, que rala); d) equimose – 
derramamento de sangue entre os tecidos, com invasão e coagulação (ex.: chute nas 
costas); e) hematoma – derramamento de sangue entre os tecidos, com invasão e 
coagulação, porém em maior vulto que na equimose e sem fase de coloração preto-
arroxeada; f) luxação – deslocamento de uma das extremidades de um osso da 
articulação, provocando lesão nos ligamentos e inchaço, sem fratura (ex.: torção de 
tornozelo em jogo de futebol); g) fratura – quebra de ossos (ex.: atropelamento em que 
há ruptura de ossos do corpo da vítima). 
Nos crimes de trânsito, quanto à ação os meios podem ser: a) ativos – quando o veículo 
estiver em movimento em relação à vítima e ela parada (ex.: atropelamento); ou 
b) mistos – quando ambos estiverem em movimento (ex.: condutor embriagado lança sua 
motocicleta em direção a outro carro em movimento). Não podem ser passivos porque a 
Lei nº 9.503/97 exige a condução (atividade) do automotor nos tipos penais que resultam 
em lesões ou morte. 
De acordo com França (2019), a ferida contusa geralmente tem forma estrelada 
(raramente retilínea), com bordas irregulares e retraídas, fundo irregular (mostrando 
vasos, nervos e tendões), vertentes irregulares com dois ou mais ângulos e menos 
sangrantes que as lesões cortantes. 
Ainda segundo o autor, as lesões por cinto de segurança são classificadas de acordo com 
os tipos existentes: 1) cinto pelviano ou subabdominal – mantém a pélvis presa ao assento, 
porém, em choques mais severos, não impede que a cabeça e o tronco sejam projetados 
para frente, causando traumatismos craniofaciais, rompimento de vísceras internas e 
fraturas na cervical; 2) cinto toracodiagonal – trava o tronco ao assento, mas, numa 
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colisão forte, não impede que o corpo deslize para baixo, ocasionando lesões nos joelhos, 
pernas e coluna; 3) cinto combinado ou “de três pontos” (usado atualmente) – é uma 
combinação dos modelos anteriores (mais seguro), contudo, em colisões mais violentas, 
não evita traumas na coluna, do queixo sobre o tórax, com luxação da mandíbula e/ou 
ferimentos na língua pelos dentes. Nas necropsias, em casos mais graves, costumam 
aparecer fraturas e luxações das vértebras cervicais e, às vezes, rompimento total ou 
parcial da medula. 
Nos passageiros, as lesões tendem a ser mais graves porque, por reflexo, o motorista 
tende a desviar ou tentar se esquivar do obstáculo (fixo ou móvel), girando o volante para 
o seu lado (o que costumeiramente acaba colocando o “carona” em rota de colisão). 
Assim como os passageiros, os condutores, em choques violentos, quase sempre sofrem 
traumas no crânio/face (para-brisa), no tórax (volante), nos joelhos/pernas (painel) e nos 
pés (pedais). França (2019) afirma que nessas situações muitas vezes se afigura a 
“tatuagem traumática” (impressão do volante no tórax). 
Os airbags, ainda que salvem inúmeras vidas diariamente, quando acionados causam 
ferimentos na área da face, nos ouvidos (surdez, em alguns casos), no tórax e em outros 
pontos de contato com esses dispositivos infláveis – que vão desde a rubefação à fratura 
(comum no nariz). 
Nos atropelamentos, é comum que a vítima seja atingida na região das pernas, na altura 
do para-choque do veículo, ou até mesmo abaixo desse limiar (ex.: frenagem), tendo 
fraturas. Mas pode acontecer

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