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PROC. DE TRAB. EM SERV. SOC. I

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PROCESSO DE TRABALHO
 AS AULAS 2, 4, 6 NÃO PUDERAM SER COPIADAS.
Aula 1:
 A Categoria Trabalho na Perspectiva Marxista
Vamos começar a aula com uma pergunta: O que é trabalho?
Essa é uma pergunta interessante e a resposta, ao contrário do que se pode pensar imediatamente, não é simples ou óbvia. Vamos compreender a origem da palavra trabalho. Essa é uma pergunta interessante e a resposta, ao contrário do que se pode pensar imediatamente, não é simples ou óbvia. Vamos compreender a origem da palavra trabalho.
 A palavra trabalho tem sua origem na palavra latina tripalium, que dizia respeito a instrumentos de tortura que eram utilizados para subjugar tanto escravos quanto animais à realização de determinadas tarefas. Podemos compreender que daí decorre o sentido negativo do conceito trabalho. Essa compreensão está correta, mas não é suficiente, porque, como veremos, o conceito trabalho não possui apenas um sentido negativo, possui também um sentido positivo.
O sentido negativo do trabalho pode ser atestando se pensarmos nessa atividade como algo que de fato submete um homem, ou um coletivo de homens, à obrigação de realizar atividades determinadas para a satisfação de necessidades de outros homens.
Entretanto, na perspectiva marxista, ou seja, nas obras de Karl Marx, o trabalho é compreendido como atividade essencial do ser humano, genérica para a satisfação de suas necessidades. O trabalho é um processo inerente ao ser humano e que constitui a sua especificidade.
É a mediação na relação entre homem e natureza, porque é o trabalho que cria valor de uso, como trabalho útil. De acordo com esta perspectiva crítica, o trabalho é assumido como condição da existência social do sujeito (MARX, 2010). Podemos afirmar que esta definição corresponde a/ao dimensão/sentido positivo do trabalho.
Para Marx, o homem se afirma como um ser humano genérico e diferencia-se dos outros animais precisamente pela sua capacidade de construir e transformar coisas para atender demandas que extrapolam suas necessidades básicas. A natureza constitui-se em fonte de valor de uso tanto quanto o trabalho. O trabalho constitui-se como a atividade ou o processo prático, ativo de transformação da natureza para a satisfação de finalidades.
A existência humana está condicionada à relação com a natureza. Não há possibilidade conhecida até o momento de apartação entre homem e natureza. A própria reprodução dos homens possui essencialmente uma determinação que é biológica. O que significa afirmar que, por mais desenvolvida que seja a sociedade, ela não pode prescindir de sua base natural (LESSA, 2006). “Sem a transformação da natureza pelos homens – e sem a reprodução biológica – não há história humana” (LESSA, 2006, p. 1).  Por que o ser social é diferente do mundo natural?
magine-se um náufrago sozinho numa ilha distante da civilização. Pense em quais seriam as suas prioridades. Possivelmente, elas estariam atreladas às necessidades de primeira ordem para sua sobrevivência imediata (alimentação, hidratação, vestes para proteção da pele, entre outras coisas). Como você faria para atender a essas necessidades?
Você então encontra cocos que, além de servirem como alimento, são ótimos para hidratação. Você encontra-se diante de uma necessidade que é abrir o coco. Imediatamente pensa em alternativas possíveis para quebrá-lo.  
Dentre as alternativas que imaginou, escolha uma como prioritária: decide construir um instrumento que sirva para abrir o coco. Você então visualiza um pedaço de madeira e uma pedra pontiaguda. Utiliza um cipó para amarrá--los e produz um machado para quebrar o coco e satisfazer sua necessidade, alcançando assim o seu objetivo.
De acordo com o exemplo citado, temos o seguinte entendimento:
O homem possui uma necessidade e a identifica (por exemplo: alimentar-se – encontra o coco).
Para satisfazer a sua demanda, precisa quebrar o coco.
Age teleologicamente, ou seja, projeta na consciência o resultado final de sua ação e identifica as possibilidades disponíveis para alcançá-lo.
Deste ato resulta que o homem transforma a natureza e a si próprio.
É preciso destacar que, diferente dos animais, o ser humano, antes de realizar uma ação qualquer, projeta antecipadamente em sua consciência o resultado final de sua ação. Ou seja, considerando o exemplo, a produção do machado para quebrar o coco ocorre tendo o homem consciência do que quer construir para qual finalidade. A isso se atribui o nome de teleologia ou prévia-ideação.
Entre outras coisas, é a capacidade teleológica que vai distinguir a atividade humana das atividades dos animais. Estes últimos agem por instinto. A abelha possui a capacidade de construir uma bela colmeia, mas é o engenheiro que consegue antecipar em sua consciência o resultado final do prédio que deseja construir antes mesmo de começar a obra (MARX, 2010).
Engels (2004) fornece outro exemplo ilustrativo dessa diferença. Sinaliza que tanto uma manada de macacos, quanto uma matilha de lobos não realizam trabalhos.
Os macacos contentam-se em devorar os alimentos de uma determinada área e prosseguir para outra que lhe fornecesse alimentação, ainda que para isso tivessem que disputar esta nova área geográfica com outra manada.
Os lobos não identificam que é a cabra que devoram que lhe proporcionaria possivelmente a alimentação do ano posterior.
Vamos agora complementar a nossa compreensão sobre a definição crítica de trabalho: já sabemos que o trabalho é a fonte fundamental da vida humana e constitui-se como processo de transformação da natureza para a satisfação de necessidades, sendo este processo (de trabalho) composto pela prévia-ideação (ou teleologia) e pela objetivação.
O trabalho assume importância central uma vez que se constitui, entre outras coisas, como atividade necessária a toda práxis e essa última é fundamental para a transformação da realidade.
A práxis pode ser entendida como uma atividade real de transformação do mundo e não apenas como práxis teórica (VAZQUEZ, 2007). Disso podemos concluir que se em toda práxis há trabalho, nem todo trabalho se constitui como práxis. Isso porque na sociedade capitalista o trabalho deixa de se realizar como atividade criativa, criadora e libertadora do homem e se transforma em uma mercadoria vendida ao capitalista em troca de determinada remuneração.
Esse tipo de trabalho (chamado por Marx de trabalho estranhado ou alienado) constitui-se a segunda (e negativa) dimensão do trabalho.
Na perspectiva marxista, o trabalho é compreendido como mediação de primeira ordem, cujo principal objetivo está atrelado à manutenção das necessidades vitais tanto do indivíduo quanto da sociedade (ANTUNES, 1999).
As funções vitais de mediação de primeira ordem podem ser elencadas num universo que vai:
“da necessidade mais ou menos espontânea de regulação da atividade biológica reprodutiva; regulação do processo de trabalho; o estabelecimento de trocas compatível com as necessidades requeridas (...) a constituição e organização de regulamentos societais designados para a totalidade dos seres sociais, em conjunção
com as demais determinações e funções de mediação primárias” (MÈSZÁ, 1995, p. 138).
É relevante atentar para o fato de que nenhuma das demandas acima necessita de mecanismos de hierarquia e/ou dominação/exploração para se realizarem. Essa característica é o que diferencia as mediações de primeira ordem das mediações de segunda ordem.
Vamos recordar novamente que, na elaboração marxista, o trabalho é concebido como mediação de primeira ordem. Vale registrar ainda que estas funções vitais de mediações de primeira ordem acompanham a humanidade desde os tempos mais remotos.
Em contrapartida, as mediações de segunda ordem emergem num determinado momento do desenvolvimento da história humana, momento que corresponde à constituição do sistema do capital.
O surgimento do sistema de mediações de segunda ordem afeta profundamente o sistema de mediações de primeira ordem e demanda, segundo Mèszáros (1995), de condições específicas que garantam a sua vigência.
Esse autor destacaquatro elementos através dos quais essas condições são encontradas:
1. A separação e alienação entre o trabalhador e os meios de produção;
2. a imposição dessas condições objetivadas e alienadas sobre os trabalhadores, como um poder separado que exerce o mando sobre eles;
3. personificação do capital como um valor egoísta (...) voltada para as necessidades expansionistas do capital;
4. a equivalentes personificação do trabalho, isto é, a personificação dos operários como trabalho, destinado a estabelecer uma relação de dependência com o capital historicamente dominante: essa personificação reduz a identidade do sujeito desse trabalho a suas funções produtivas fragmentárias (MÈSZÁROS, 1995, p. 617).
Apesar da necessidade de esclarecer como se constituem as mediações de primeira ordem e de segunda ordem, nesse momento interessa-nos prioritariamente entender o sentido do trabalho na abordagem marxista e sua  importância do trabalho como mediador das necessidades de primeira ordem.
Sendo assim, vamos recorrer a uma esclarecedora citação de Karl Marx sobre trabalho para nos ajudar a compreender seu significado:
Um processo que emancipa o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza de seu corpo, braços e pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a ao mesmo tempo modifica sua própria natureza. Desenvolve as potencialidades nela adormecidas e submete ao seu domínio o jogo das forças naturais (MARX, 2005, p.1)
Para Marx, os homens são produtos históricos das relações sociais e a história dos homens é a história da origem e do desenvolvimento das formas de organização social.
Essa assertiva corresponde  à sua concepção (materialista) de natureza humana (que aparece em diversas obras produzidas ao longo de sua vida). Mas precisamos nos lembrar de que nem Marx nem Engels negam a determinação biológica (natural/natureza) do homem. Portanto, para o marxismo, os homens são naturalidade transformada historicamente. A dimensão natural (biológica) do homem, enquanto determinação, pode ser menos ponderável quanto mais historicizado formos, mas ela é insuprimível.
Na citação anterior, Marx afirma a natureza do homem na sua relação corpórea. E mais, afirma que ao modificar a natureza externa (através do seu trabalho) o homem modifica ao mesmo tempo a sua própria natureza, transformando a si próprio.
Vamos retornar ao exemplo do coco e do machado...
 Ao construir o machado (um instrumento necessário para a objetivação do trabalho do homem), o homem adquire conhecimentos e habilidades que despossuía. Da próxima vez que tiver a necessidade de quebrar o coco, saberá, por exemplo, que tipo de madeira ou formato de pedra são mais indicados para a realização da tarefa.
É preciso lembrar sempre que, ao final de qualquer processo de trabalho, o homem terá transformado a natureza (pedra e madeira que viraram machado, mas não deixaram de ser pedra e madeira) e a si próprio. É o que nos diz Sérgio Lessa:
Todo ato de trabalho, sempre voltado para o atendimento de uma necessidade concreta, historicamente determinada, termina por remeter para muito além de si próprio. Suas consequências objetivas e subjetivas não se limitam à produção do objeto imediato, mas se estendem por toda a história da humanidade (LESSA, 1999, p. 4).
Vamos relembrar o que aprendemos nesta aula.
Vimos que existem necessidades vitais do homem e das formas de organização social que precisam ser respondidas. O trabalho é um dos meios pelos quais se consegue responder às necessidades vitais. É por essa razão que é considerado mediação de primeira ordem. Aqui, o trabalho aparece como fundamento, sendo este o seu sentido principal.
Observamos que no processo histórico do desenvolvimento humano emerge o sistema de mediação de segunda ordem. Observamos que a principal distinção entre o sistema de primeira ordem e de segunda é que neste último há a necessidade de todo um complexo estrutural hierárquico de subordinação e dominação. No que tange às mediações de primeira ordem isso não é necessário.
Compreendemos que o trabalho, como mediação de primeira ordem, é o ato de transformação da natureza (matéria-prima) para a satisfação de necessidades. É através do trabalho que se realiza o metabolismo entre homem e natureza.
Na tentativa de atender às suas necessidades, os homens realizam processos de trabalho (para se alimentar havia a necessidade de quebrar o coco. Foi preciso utilizar um instrumento para se chegar ao resultado final).
Para exercitar um dos conceitos estudados nesta aula, proponho as seguintes atividades: Pesquise na sua família ou entre um grupo de amigos a ideia que cada um possui sobre o que é o trabalho.
Ao final, faça uma lista destacando a definição de cada um. Neste momento, você também deve incluir a sua definição sobre trabalho (aquela que foi pedida para registrar no início desta aula). Compare as definições com o conteúdo estudado. Registre as diferenças entre as definições de trabalho que você encontrou. Verifique se alguma delas corresponde ao sentido crítico (ontológico) de trabalho que estudamos. 
Aula 2:
O homem, em sentido genérico, sempre possuiu e sempre possuirá necessidades...Parte inferior do formulário
Aula 3:
Processo de Trabalho: Significado
Vamos começar esta aula tomando como ponto de partida uma importante citação de Karl Marx:
A utilização da força de trabalho é o próprio trabalho. O comprador da força de trabalho a consome ao fazer trabalhar o vendedor dela. O último torna-se, desse modo, actu [de fato], força de trabalho realmente ativa, o que antes era apenas potentia [em potencial]. 
Para representar seu trabalho em mercadorias, ele tem de representá-lo, sobretudo, em valores de uso, em coisas que sirvam para satisfazer a necessidade de alguma espécie. É, portanto, um valor de uso particular, um artigo determinado, que o capitalista faz o trabalhador produzir. 
A produção de valores de uso ou bens não muda sua natureza geral por se realizar para o capitalista e sob seu controle. Por isso, o processo de trabalho deve ser considerado de início independentemente de qualquer forma social determinada (MARX, 1983, p.149). 
No caso dos homens, o trabalho é distinto do trabalho realizado por outras espécies. O que os distingue é que, no caso dos animais, o que existe nada mais é do que uma operação baseada nos seus impulsos naturais/biológicos, enquanto no caso dos homens esta ação não advém exclusivamente de seus impulsos biológicos, mas fundamentalmente de sua capacidade de antecipar mentalmente a sua ação antes de executá-la. 
O uso da capacidade teleológica é elemento distintivo do trabalho dos homens, que é determinado pela satisfação de suas necessidades sociais, que por sua vez são criadas e recriadas. O ato do trabalho está sempre voltado para atingir finalidades. 
Encontramos ainda na citação vista anteriormente  a afirmação de que as mercadorias devem atender a determinadas necessidades, para isso precisam possuir valor de uso. Um quilo de peixe ou uma bolsa são mercadorias que atendem a determinadas necessidades do homem. 
Sem valor de uso não há valor de troca, embora o valor de uso não seja o único determinante para o valor de troca. Não obstante, para a produção de valor de uso o trabalho dos homens é indispensável. 
Por fim, o autor sinaliza que a produção de valor de uso não tem alterada a sua essência quando está ocorrendo sob o jugo do capitalista. Mesmo nessas condições, a essência do processo de trabalho se mantém. 
É por isso que o processo de trabalho deve ser o ponto de partida de nossas análises, “independentemente de qualquer forma social determinada”.
Vamos compreender agora o que quer dizer a expressão processos de trabalho?
O conceito de processo de trabalho foi originalmente desenvolvido por Karl Marx em sua obra O Capital e diz respeito à totalidade do processoque envolve o ato de produção e transformação das coisas. 
O processo de trabalho é constituído pelos seguintes elementos:
1 - O trabalho (energia vital empregada pelos homens).
2 - O objeto de trabalho, ou seja, a matéria sobre a qual se aplica o trabalho.
 
3 - Os meios ou instrumentos necessários para a realização do trabalho (para quebrar o coco, o homem precisou construir um machado – meio/instrumento para atingir a sua finalidade). 
Já definimos exaustivamente o que é trabalho. Mas por que o trabalho é um elemento constitutivo do processo de trabalho? 
Como vimos anteriormente, sem trabalho não há produção de valor de uso. É através dele que o homem pode transformar as coisas (natureza/matéria-prima). Sendo assim, seguimos para o segundo elemento constitutivo dos processos de trabalho.
2) Objeto de trabalho e/ou matéria-prima:
O objeto de trabalho é aquilo sobre o qual incidirá o ato do trabalho e tanto pode ser a matéria em seu estado natural (terra, pedra, madeira) como objetos resultantes do trabalho anterior, aquilo que Marx denominou de matéria-prima. Para o referido autor, existem objetos de trabalho que já existem por natureza, ou seja, sua existência independe (a priori) da ação ou da vontade do homem, por exemplo: a terra, peixes e a água. 
E existem ainda os objetos de trabalho que são resultado de uma intervenção anterior do homem, de um trabalho anterior. Esses objetos são denominados de matéria-prima. “Toda matéria-prima é objeto de trabalho, mas nem todo objeto de trabalho é matéria-prima. O objeto de trabalho apenas é matéria-prima depois de já ter experimentado uma modificação mediada pelo trabalho” (MARX, 1983, p.152). 
Meios/instrumentos:
Os meios ou instrumentos de trabalho são os objetos ou um complexo de coisas que possibilitam que o homem atinja seu objetivo (para quebrar o coco, o homem precisou construir um machado). Os meios de trabalho podem ser encontrados em estado natural ou necessitam ser produzidos pelo homem, dependendo do patamar de desenvolvimento do processo de trabalho. A possibilidade de usar e criar instrumentos para o seu trabalho caracteriza o processo de trabalho humano. Os tipos de instrumentos utilizados nos processos de trabalho e a forma como são utilizados caracterizam os distintos períodos econômicos, indicando condições sociais específicas e inerentes a cada período (MARX, 1983).  
Vamos observar um exemplo para tentar tornar nossa discussão mais inteligível: um artesão cuja finalidade é a construção de um objeto de madeira para o acondicionamento de alimentos (este é seu objetivo, sua necessidade).
 Ele então realiza o seu trabalho sobre a madeira (objeto de trabalho). Para construir o armário terá de utilizar, além de seus conhecimentos e habilidades, instrumentos específicos que o auxiliem na produção (meios/instrumentos). 
Como resultado final de seu trabalho, ele terá a produção do armário. Observe que neste exemplo o nosso trabalhador conhece, controla e domina todo o processo necessário para a construção do armário. Observe ainda que o resultado final do seu trabalho lhe pertence. Como trabalhador, o nosso artesão se reconhece no produto final do seu trabalho.
Pelo processo de trabalho o ato humano trabalho realiza uma intervenção sobre um determinado objeto a partir da utilização de meios/instrumentos de trabalho, operando sobre ele uma transformação voltada a produzir valores de uso. 
Vimos que todo trabalho possui finalidades, o que significa dizer que a transformação operada no objeto durante o processo de trabalho não é ocasional, ao contrário, é intencional, foi pretendida desde o seu início. Tem-se aqui a objetivação do trabalho. 
Por processo de trabalho simples, Marx concebe aquele voltado para as necessidades do próprio trabalhador. Sinaliza, como vimos na citação apresentada no início da aula, que sua natureza não se modifica quando, ao invés de ser realizado para atender o trabalhador mesmo, é realizado pelo trabalhador para atender às necessidades do capitalista.
Não obstante, quando o processo de trabalho encontra-se sob o controle do capitalista (é assim no sistema capitalista), o homem trabalhador perde o domínio da totalidade do processo de produção e, principalmente, perde o domínio do resultado do seu trabalho, que fica sob controle dos capitalistas. 
No sistema capitalista, o processo de trabalho se configura como um processo entre coisas, entre mercadorias que são de posse do capitalista, pois foram por ele compradas (inclui-se aqui a força de trabalho) (MARX, 1983).
Enquanto no processo de trabalho simples o principal objetivo é a produção de valores de uso, no sistema capitalista o objetivo principal é a produção de mercadorias voltadas para a venda, portanto o que interessa fundamentalmente é o seu valor de troca. No processo de trabalho capitalista, a lógica de produção está voltada para produção de valores de uso, de forma que condensem valores de troca. Através disso, alcança seu objetivo que é a produção de valor (condensado na mercadoria) e de mais-valia (MARX, 1983).
Em suma, vimos que:
O trabalho é mediador da relação do homem com a natureza e dos homens entre si.
Todo trabalho porta intencionalidade e atende a determinadas finalidades. 
Na sociedade capitalista, o processo de trabalho não está voltado exclusivamente para a produção de valor de uso, mas principalmente para a produção de valor de troca com objetivo de extração de mais-valia e manutenção da expansão capitalista.
Os resultados dos trabalhos e processos de trabalho possuem consequências que ultrapassam a necessidade imediata que os motivou, proporcionando o desenvolvimento de capacidades e potencialidades humanas, assim como das forças produtivas e das relações sociais. Trata-se de um processo que é tanto contraditório quanto complexo, fundado pelo trabalho, e é denominado reprodução social (LESSA, 1994).
O conceito de reprodução social diz respeito à (re)produção da totalidade da vida social, em seus mais distintos aspectos, incluindo a reprodução da vida material, espiritual, do modo de produção, das necessidades sociais. Ou seja, diz respeito à forma como as relações sociais em sua totalidade são constantemente (re)produzidas. É na esfera da reprodução social que, pelo trabalho, são criadas novas necessidades e possibilidades que vão originar novas relações sociais.
A fala, o Direito, o Estado, a ideologia, os costumes etc... são complexos sociais que surgem para atender às novas necessidades e possibilidades, postas pelo trabalho, para o desenvolvimento dos homens. Estes novos complexos sociais não se confundem com o trabalho, embora com ele se relacionem constantemente. Enquanto o trabalho visa à transformação da realidade para a produção dos bens necessários à reprodução material da sociedade, os outros complexos sociais buscam ordenar as relações entre os homens (LESSA, 1999, p.26). 
Se os homens são produtos da história e ao mesmo tempo fazem essa história, por que não construíram um mundo melhor, com menos desigualdades e sem exploração?
No livro O Dezoito Brumário de Louis Bonaparte, de Karl Marx, há uma passagem em que ele afirma que “os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem como sob circunstâncias de sua escolha, mas sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas do passado” (Marx, 1852, p.1). 
O que o autor quer dizer é que os homens são sujeitos da história, mas não conseguem determiná-la porque não detêm o controle dos elementos que determinam as suas circunstâncias. Parte destes elementos e/ou circunstâncias é herdada de seus antecessores (do passado). 
Precisamos ainda lembrar que a realidade material da vida dos homens não pode ser negligenciada ou pormenorizada, porque ela possui uma dimensão objetiva determinante na vida dos homens. Isso que dizer que a ação dos homens sofre, em geral, influência direta da sua realidade material.
Evidentemente os grupos dominantes da sociedade também possuem consciência disso e utilizam mecanismos e estratégias para garantirema manutenção das posições de classe estabelecidas, ou seja, para garantir o status quo da sociedade. 
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Em outras palavras, para garantir que os donos de capital continuem como grupos dominantes e que a classe trabalhadora continue se sujeitando (e desejando) a exploração da venda de sua força de trabalho.
Se a reprodução social inclui a reprodução das relações sociais, quais são as possibilidades concretas de rompimento com o status quo da sociedade capitalista? Não estaríamos fadados à reprodução destas mesmas condições?
Vamos lembrar que o trabalho é o fundamento da reprodução social e que neste movimento de reprodução da totalidade das relações sociais novas demandas e novas possibilidades podem surgir.
De acordo com a perspectiva marxista, não há estruturas permanentes. Ao concordarmos com isso, reconhecemos a possibilidade que as transformações aconteçam. Vamos lembrar que o trabalho (sentido positivo) constitui a práxis e que as transformações podem ocorrer através de uma práxis transformadora.
Atividade:
Assista ao filme “Pão e Rosas”, de Ken Loach, e construa um texto crítico sobre ele tentando articular os conhecimentos e conceitos aprendidos. 
Aula 4:
Aula 4: A Formulação de Hipóteses/Questões de Estudo
Aula 5:
A crise capitalista da década de 1970, seu significado e as respostas capitalistas para a crise. Parte inferior do formulário
Para compreendermos o atual momento do cenário mundial, precisamos voltar à conjuntura dos anos 1970 e aos fatos que se processaram naquele momento.
Foi no período entre1960 e 1970, que as economias industrializadas começaram a mostrar alguns indícios de esgotamento e maior declínio do crescimento econômico.
Estas economias vinham de um extenso período de crescimento baseado no modo de organização da produção taylorista/fordista e do padrão de regulação keynesiano.
Relembre qual foi o período de intenso crescimento econômico que antecede à crise.
O sistema capitalista viveu no pós Segunda Guerra Mundial um período marcado pelo crescimento econômico e pelo “pacto” (de certa forma) com a classe trabalhadora. Foi o período que se estendeu de 1945 a 1969, em que as concepções liberais deixavam de ser hegemônicas e começam a dar lugar a uma concepção de Estado mais preocupado com a justiça social.
Do ponto de vista econômico, esse período ficou conhecido como “anos de ouro” ou “trinta anos gloriosos” do capitalismo. Muitos acadêmicos que viveram esse momento chegaram a considerar, diante da combinação crescimento econômico/justiça social, que a revolução em busca de uma sociedade mais justa e verdadeiramente democrática jamais se realizaria.
Leia uma breve definição do sistema de organização da produção taylorista/fordismo e do modo de regulação keynesiano:
O taylorismo foi um modo de organizar a produção cujo objetivo era  potencializar ao máximo a capacidade produtiva do trabalhador através de um rigoroso controle do ritmo, dos gestos e do tempo do trabalhador. A ideia central de um sistema de organização como este é realizar ao máximo a divisão (especialização) das atividades para potencializar a produção do trabalho sob controle da gestão.
O fordismo caracteriza-se como um modo de organização da produção que aprimorou as inovações inauguradas pelo taylorismo, inclusive no que diz respeito à forma de gestão do trabalho. A ideia básica era elevar ao máximo a produção com intuito de barateá-la e torná-la acessível a maior parte da população (consumo em massa).
Um conceito fundamental atrelado a este modo de organização é a noção de rigidez, que estava presente em todo processo, desde contratos de trabalho até a alocação de recursos (entre outros). E, para que desse certo, presumia um crescimento estável.
A expansão da organização do tipo taylorista/fordista deu-se ao longo da Primeira e Segunda Guerra Mundial (PINTO, 2007) e sua lógica estava baseada no binômio produção/consumo em massa.
Só para termos ideia do que isso significa, vale a leitura de uma frase dita por Ford, bastante ilustrativa:
“Você pode escolher a cor do carro que quiser, desde que ele seja preto”.
Não obstante, o período dos “Trinta anos gloriosos” também foi marcado por um padrão de regulação específico do Estado denominado Keynesianismo.
O keynesianismo constitui-se numa teoria econômica consolidada por John M. Keynes que consiste numa organização político-econômica onde o Estado é assumido como um agente indispensável.
Tudo ia bem até os anos finais da década de 1960 e início dos anos 1970, quando desponta uma crise econômica de grande porte. Houve uma importante estagnação da economia capitalista que colocou em xeque a viabilidade do binômio fordismo/Keynesianismo.  
Na época, todos os discursos oficiais apontavam que as motivações da crise eram, por assim dizer, externas à lógica capitalista. Ou seja, apontaram como grandes vilões para a crise (ora como causas, ora como elementos que potencializaram a crise): o Estado de bem-estar social (que foi considerado muito dispendioso), a organização política da classe trabalhadora e a rigidez do processo produtivo.
Entretanto, sabe-se que a crise de 1970 e as seguintes caracterizam um movimento específico e inerente ao próprio sistema capitalista, não sendo causada por fatores externos (embora esses possam de fato potencializá-la).  
Sobre isso, Mandel afirma que as crises “não são nem o resultado do acaso, nem o produto de elementos exógenos (...), elas correspondem, ao  contrário, à lógica imanente do sistema, embora fatores exógenos e acidentais desempenhem evidentemente um papel nas particularidades de cada ciclo” (1990:1).
Tal crise – que se constitui como crise do capital (e não do estado!) – acaba evidenciando o movimento de retração da atividade econômica em todos os países de capitalismo central. É uma crise estrutural do capital (MÉSZARÓS, 2002) e algumas tendências foram adotadas como respostas do próprio capital à crise. Estas tendências são: a reestruturação produtiva, a implantação da ideologia neoliberal e mundialização do capital.
Voltaremos mais detalhadamente à essas tendências à frente. Por ora, temos de registrar que ao longo da década de 1970 e 1980, expande-se de forma progressiva o programa de reforma impulsionado pela nova ideologia liberal na América Latina (baseado nas duas tendências citadas).
Nos anos de 1980, a economia passa novamente por um ciclo recessivo, num momento semelhante à crise vivida na década anterior. Diante destes episódios, o grande capital tem iniciativas de reestruturação produtiva com base na “reorganização do papel das forças produtivas na recomposição do ciclo de reprodução do capital, tanto na esfera da produção como na das relações sociais”. (MOTA, 2000: 65).
A crise dos anos 1980 - a crise do capital - se configura como uma crise eminentemente econômica, ou seja, com determinação econômica, mas que imprime profundas consequências no âmbito social.
Diante desses ciclos sucessivos de crise que poderiam ter consequências que trariam riscos ao próprio sistema, as classes dominantes tomam um conjunto articulado de medidas que se caracterizam numa verdadeira ofensiva burguesa (BEHRING, 2011).
Dentre estas ofensivas burguesas, a reestruturação produtiva como a implementação do neoliberalismo e a mundialização da economia são expressões (citados anteriormente).
Vamos agora entender um pouco o que significam estas duas “respostas”: Reestruturação produtiva e Neoliberalismo
Vimos que a crise que eclode nos meados dos anos 1970 acaba colocando em xeque a organização do modo de produção até então hegemônico. É um momento em que a economia mundial encontra-se estagnada, com altos índices inflacionários e algumas modificações na distribuição do poder no cenário mundial. Os EUA não são mais o único protagonista quanto ao poderio econômico e Japão e a Alemanha começam a dividir com ele a cena.
Neste contexto, a organização temporal do modo de produção - fordista/taylorista -  com sua produção em série e em massa para o consumo e com uma rígida divisão de tarefas e a formaçãodo “operário-massa” não atendiam mais da mesma forma às necessidades de acumulação do capital.
Uma das “saídas” adotadas para a superação da crise foi a reestruturação da produção com a substituição do modelo hegemônico baseado na rigidez, por outro, baseado na flexibilidade. Tem início, neste momento, o período conhecido pelo predomínio da noção de acumulação flexível (HARVEY, 2003) – que perdura até os dias atuais.
As medidas tomadas para a contenção da crise e reversão das suas consequências (para o capital) tiveram por base: a racionalização, a reestruturação da produção e a intensificação do controle do trabalho.  A palavra de ordem a partir de então passa a ser a flexibilização, que é aplicada não somente na produção, mas também nas formas de contratação e dos direitos da força de trabalho.
Qual a origem do projeto de flexibilização?
Na verdade, ele diz respeito a uma experiência que já existia no Japão que, devastado no pós Segunda Guerra Mundial, precisou de racionalidade para se reconstruir. O toyotismo foi ainda o caminho utilizado para consolidação do capitalismo monopolista no Japão. Esse modo de organização da produção foi criado na fábrica Toyota e é considerado até os dias atuais a experiência mais expressiva da lógica da flexibilização.
Em contraposição à lógica fordista, o toyotismo caracteriza-se pela flexibilidade da produção (antes em massa e agora dirigida a demandas específicas). Enquanto “paradigma produtivo” (ANTUNES, 2001), o toyotismo não substituiu totalmente o padrão fordista, mas tem presença expressiva, expansiva e avassaladora. Em sua forma de organização, existe uma  incompatibilidade com as características do fordismo. A especialização flexível recusa a produção em massa, característica do fordismo (pois após a crise, já não havia consumo em massa).
Sendo assim, as formas toyotistas de organização da produção estão presentes em diversos países de capitalismo globalizado, desde países de capitalismo avançado até o terceiro mundo industrializado.  Este modo de produção possui algumas características que necessitam ser sinalizadas para que se possa compreender as transformações que ocorrem no mundo do trabalho.
Entretanto, quase três décadas depois, no início dos anos de 1970, países capitalistas considerados de capitalismo central como os da Europa, Estados Unidos e Canadá, entram em crise, como vimos anteriormente. Obviamente que, diante do cenário de crise, os argumentos neoliberais que antes não eram priorizados ganham força.
Pode-se dizer que, no ano de 1979,  é marcada essa mudança político-econômica: na Inglaterra o governo de Margaret Thatcher inicia a implementação da programática neoliberal. No ano seguinte é vez dos EUA com o então presidente Ronald Reagan.
No Brasil, a implementação do neoliberalismo ocorre a partir dos anos de 1990 com o governo Fernando Collor de Melo e é aprofundado nos governos seguintes (Fernando Henrique Cardoso, Luís Inácio Lula da Silva e, atualmente, pelo governo Dilma Rousseff). A partir de então, o neoliberalismo passa a ditar as regras e sugerir as “condutas” mais acertadas (diz que há uma programática neoliberal), fazendo diversas recomendações, tanto nos países capitalistas centrais como nos demais países.
De acordo com esta programática, a intervenção do Estado passa a ser vista como nociva. Preconiza-se a ideia do Estado mínimo, um Estado enxuto no que tange especificamente ao âmbito socioassistencial. O que norteia esta conduta é a ideia de que este tipo de intervenção deve ser dispensado mais pela sociedade civil e menos pelo Estado.  Este deve ser benevolente para o mercado, devendo ajudá-lo a seguir seu fluxo ‘natural’.
De acordo com esta programática, a intervenção do Estado passa a ser vista como nociva. Preconiza-se a ideia do Estado mínimo, um Estado enxuto no que tange especificamente ao âmbito socioassistencial. O que norteia esta conduta é a ideia de que este tipo de intervenção deve ser dispensado mais pela sociedade civil e menos pelo Estado.  Este deve ser benevolente para o mercado, devendo ajudá-lo a seguir seu fluxo ‘natural’.  
Então, com o neoliberalismo, o Estado deixa de ser caracterizado como um Estado forte, intervencionista e passa a ser um Estado fraco e enxuto para investimentos e intervenções no campo social. Em outras palavras, o neoliberalismo prevê um estado fraco para o social, mas forte e robusto para o econômico, ou seja, que esteja apto e disponível para “tirar do sufoco” os grupos capitalistas. Você consegue enumerar quantas vezes leu ou ouviu em reportagens que o país (leia-se Estado) A, B ou C estava injetando dinheiro em bancos para “salvá-los?”.
Diante do que foi visto até aqui, vamos sintetizar algumas das principais premissas do neoliberalismo, ou seja, das ideias que são defendidas por esta doutrina:
As desigualdades são positivas e saudáveis. Estimulam a competitividade e fazem os indivíduos se aperfeiçoarem;
O mercado é a esfera mais indicada para conduzir a organização da vida, proporcionando a manutenção de uma harmonia natural.
A organização política da classe trabalhadora (leia-se sindicatos) é nociva, pois, na medida em que o mercado é a esfera privilegiada e que não há necessidade de nenhuma regulação ou controle.
Os direitos universais devem ser combatidos. Os indivíduos devem buscar no mercado (ou seja, comprar) os serviços que atendam às suas necessidades (aí se incluem educação e saúde, por exemplo).
Mundialização do Capital
A mundialização do capital pode ser compreendida como um novo momento do desenvolvimento capitalista, que se inicia a partir dos anos de 1980 na sua busca contínua por valorização e expansão. Trata-se de um novo regime de acumulação capitalista (CHESNAIS, 1996; ALVES, 1999) que possui características próprias em comparação aos períodos anteriores.
Esta nova fase foi caracterizada por István Mészáros (1997) como “produção destrutiva”, por David Harvey (2003) por “Acumulação flexível” e por Chesnais (1997) de “Regime de acumulação predominantemente financeira”.
Para Chesnais (1996), esta nova fase do capitalismo apresenta as seguintes características: baixas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB); deflação; instabilidade no cenário mundial, desemprego estrutural e recrudescimento da concorrência internacional.
A mundialização do capital altera significativamente a organização do Estado, mas não suprime suas funções que passam a ser desempenhadas sob a vigilância das grandes instituições financeiras (IAMAMOTO, 2008). 
O que isso quer dizer exatamente?
Quer dizer que as condições e necessidades da nova fase do desenvolvimento capitalista passam a requerer um Estado forte para salvaguardar continuamente os interesses econômicos.
Bélgica salva banco para depois vendê-lo à custa de trabalhadores
Principal banco da Bélgica, respondendo por 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, o Dexia Bank Belgium foi o primeiro banco a ser estatizado em decorrência da crise da Grécia, em processo de moratória das dívidas com instituições financeiras da região.
O Dexia tem uma exposição a risco de crédito global de US$ 700 bilhões, mais de duas vezes o PIB grego. Com ativos poderes estimados, inicialmente, em 90 bilhões de euros (US$ 121 bilhões), o Dexia foi dividido em duas partes. 
Numa delas, foram concentrados os papéis tóxicos, com dívidas da Grécia e de outros países também prestes a entrar em moratória. A parte boa foi estatizada. A conta será paga pelos contribuintes de Bélgica, França e Luxemburgo.
O governo belga bancou a maior parte dos recursos destinados a impedir a quebra do banco: 54 bilhões de euros (60,5% do total). O francês entrou com 32,85 bilhões de euros (36,5%); e o luxemburguês, com 3,15 bilhões de euros (3%).
A Bélgica desembolsará mais 4 bilhões de euros para assumir o controle acionário da parte saudável do Dexia. Com isso, a dívida pública belga, que já representa 96% do PIB, deve dar novo salto.
Além de usar dinheiro dos contribuintes, o ministro das Finanças da Bélgica, Didier Reynders, quer que a estatização seja temporária."Em cinco anos ou mais, talvez ainda estejamos dentro do Dexia", previu.
Foi a segunda vez, em menos de três anos, que o Dexia recebe dinheiro público para não ir à breca. A primeira foi em 2008, após o estouro da crise global de 2008.
Naquele ano, França, Bélgica e Luxemburgo destinaram 6,376 bilhões de euros para salvar a instituição. Agora, com o rombo 14,2 vezes maior, o Dexia acabou estatizado.
Ele deve ser apenas o primeiro banco a ser transferido para as mãos do Estado. Em estimativa extremamente conservadora, o FMI prevê que o sistema financeiro da Europa tenha um buraco de cerca de 200 bilhões de euros.
Disponível  em:  
<http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=2&id_noticia=166122>.
Acesso em: 15/01/2012.
A matéria que acabamos de ver ilustra, de forma introdutória, as funções atuais imputadas ao Estado capitalista. O dinheiro público não é usado para “finalidades públicas” ou para o tão polêmico bem comum, mas para que o sistema econômico se estabilize, uma vez que, como a própria reportagem informa, a estatização será temporária, ou seja, após a intervenção do Estado, o banco deverá voltar à esfera privada.
De tudo que vimos até aqui, podemos afirmar que a combinação reestruturação produtiva + neoliberalismo + mundialização do capital atinge de forma agressiva e direta o núcleo da organização política da classe trabalhadora e dilacera seus direitos.
Foi mencionado anteriormente que a flexibilização é a palavra de ordem atualmente, lembra? Na esfera da regulamentação de direitos sociais ela também tem sido aplicada. É o que se chama de desregulamentação dos direitos do trabalho, por exemplo. Desregulamentação, flexibilização, terceirização atingem os direitos dos trabalhadores.
Se no período do modo de regulação keynesiano e modo de organização fordista (era de ouro do capitalismo) registrou-se expansão de direitos sociais e, mais especificamente nos países de capitalismo central, uma realidade de quase pleno emprego, o que temos atualmente é a inversão desta situação: realidade de altas taxas de desemprego e precarização dos vínculos (terceirizações, contratos temporários, perda de direitos, entre outros) que penalizam a classe trabalhadora. Por outro lado, tem-se a retração da intervenção do Estado no campo social com impacto direto na sua capacidade de oferecer proteção social aos sujeitos.
Vários estudiosos reconhecem que estamos diante de um cenário bastante desalentador para a classe trabalhadora, um cenário que merece atenção e cuidado, mas que nem por isso exíguo de possibilidades reais.
Recapitulando ...
- Ocorrem nos anos finais da década de 1960 os primeiros indícios de problemas atrelados ao modo de produção fordista e ao padrão de regulação keynesiano (“prenúncio da crise”). 
- No ínicio dos anos 1970 tem-se o esgotamento e declínio do crescimento econômico e “estrangulamento” do modo de organização fordista-keynesiano (“em crise”).
- Rigidez do fordismo e a o Estado de Bem-Estar Social são apontados como grandes vilões (“em crise”).  
- A década de 1970 registra a perda do poder dos EUA e o enfraquecimento do dólar (“em crise”).
- Os discursos oficiais sobre a crise afirmavam que ela foi causada e potencializada por fatores externos (“em crise”).
- A saída para a crise foi baseada na racionalização, reestruturação da produção e intensificação do controle do trabalho (“a saída para crise”).
- Três estratégias principais são tomadas: reestruturação produtiva, a implementação do neoliberalismo e mundialização do capital (“a saída para crise”).
- Estas duas estratégias correspondem às respostas da classe burguesa à crise do sistema capitalista e penalizam a classe trabalhadora.
Aula 6: Transformações societárias do final do século XX
Aula 7:
Transformações Realizadas no Universo do Trabalho nos Marcos da Reestruturação Produtiva
Considerado como uma forma de trabalhar e viver bem americana, o fordismo, na segunda metade do século XX, já havia se espalhado pelas diversas regiões do globo, mesmo sofrendo adequações nas várias partes do mundo em que se instalava.
Segundo nos conta Druck, em seu livro Terceirização: (des)fordizando a fábrica, é nos EUA, local onde este padrão havia sido gestado, que os primeiros sinais da crise dessa forma de regulação começam a se manifestar. Segundo ela, a queda de produtividade no trabalho que vai se verificar é o principal indicador da crise.
Tal fato, para a economia norte-americana, tinha como consequência uma crescente perda de competitividade junto ao mercado internacional. E isso representava uma forte ameaça à hegemonia dos EUA, pois essa perda de competitividade poderia significar uma perda de seus mercados para outros países produtores, como o Japão, que nesse período já dava sinais de um crescimento econômico vigoroso, sustentado em altos índices de produtividade do trabalho.
As causas para a queda da produtividade do trabalho estavam relacionadas a uma série de fatores. Segundo Druck, no âmbito do processo do trabalho, verificava-se um amplo movimento de resistência, expresso nos índices de absenteísmo, de turn over, nos defeitos de fabricação e na diminuição do ritmo de produção. A ação dos sindicatos mostrava a sua força ao exigir a continuação da incorporação dos ganhos de produtividade aos salários.
As práticas sindicais e as manifestações nos locais de trabalho recusavam continuar contribuindo com a gestão taylorista-fordista, que impunha um trabalho por parcelas, repetitivo, fragmentado, rotinizado, e havia desqualificado e mesmo destruído o saber daqueles trabalhadores de ofício, que tinham um determinado controle e autonomia no seu trabalho. Tratava-se, na realidade, de uma resistência, cujo conteúdo político era manifestado num certo esgotamento dessa forma de controle do capital sobre o trabalho (DRUCK, 1999, p. 68).
A autora nos diz que as manifestações não se limitariam aos locais de trabalho e logo se generalizariam para outros setores da sociedade.
Os jovens e estudantes, por exemplo, iriam questionar firmemente o modo americano de viver, bem como as formas de uso social de seu saber, de suas qualificações, etc.
“Há uma onda de protestos que não se limita à sociedade americana, mas que ali toma a forma de movimento de ‘indisciplina social’”, diz ela. Nesse sentido, o ano de 1968 foi marcante tendo em vista o fato de o mundo inteiro ter sido sacudido por greves, manifestações de rua, ocupações de fábrica, etc. (DRUCK, 1999, p. 69).
Eventos como o maio francês, a primavera de Praga, ou a luta contra a guerra do Vietnã indicavam uma recusa aos padrões dominantes de organização econômica, social e política. “Era uma luta contra formas institucionalizadas de poder e, centralmente, contra o autoritarismo presente nessas instituições, bem como as formas de controle social predominantes” (DRUCK, 1999, p. 69).
A situação vai se agravar ainda mais nos anos 70. Segundo Druck, a expansão do mercado de eurodólar e a perda da referência única do dólar nas transações internacionais iriam indicar uma nova regulação do sistema financeiro internacional. O excedente de petrodólares iria aumentar a instabilidade dos mercados financeiros mundiais.
Novas regiões competitivas são criadas nos países do Terceiro Mundo – no Sudeste Asiático e na América Latina – sobretudo através das multinacionais.
Esta crise, portanto, que vai se manifestar entre os anos 1967 e 1974, na opinião de alguns especialistas, seria uma crise de rentabilidade, diferente da crise de 1929, que teria sido de superprodução. “Esta crise de rentabilidade vem com desaceleração da produtividade, ao mesmo tempo que os salários continuam com aumentos reais (resultado das lutas sindicais)”. A reação então era aumentar as margens de lucro, que se refletiam nos preços de venda, gerando uma inflação nos custos. Segundo Druck:
“[...] mesmo que esta elevação de preços redundasse em elevação de salários, em vários momentos não aconteceu na mesma proporção (principalmente nos anos 70), resultando em perda de poder aquisitivo, diminuindo a demanda e, consequentemente, determinandosituações recessivas (DRUCK, 1999, p. 70).
O que estava sendo posto em xeque era todo o “compromisso fordista”. A queda da taxa de lucro baixava e, por consequência, se diminuía o investimento que, cada vez mais, criava menos empregos – acréscimo de capital fixo em substituição ao trabalho humano. A diminuição dos aumentos de salário real para compensar as quedas das taxas de lucros implicava uma diminuição do consumo, de modo que toda essa situação provocava um aumento do desemprego.
Contudo, a “rede de segurança” típica do fordismo – auxílio-
-desemprego, programas de auxílio social – foi o que impediu um desmoronamento da demanda interna nos países centrais – diferença em relação aos anos 30. Essas transferências sociais, no entanto, pesavam significativamente sobre as taxas de lucro, haja vista o fato de seu financiamento ser realizado via impostos e cotizações, e isso implicava numa diminuição do lucro dos investimentos. De maneira que o que foi posto em xeque foi a própria legitimidade do Estado -providência e das transferências sociais, ou resumindo, todo o “compromisso fordista”.
Druck nos diz que nos desdobramentos da crise vão se colocando possibilidades de saída. A chamada terceira Revolução Industrial, as mudanças nas políticas de organização e gestão do trabalho, bem como as mudanças no perfil dos mercados dos produtos vão se constituindo como alternativas para o enfrentamento da crise.
A mudança na forma da concorrência intercapitalista com a qualidade e a diversificação dos produtos assumindo papel determinante vai fixar as novas bases de competitividade. “Estas mudanças tendem a questionar os sistemas rígidos de produção tipicamente fordista, procurando substituí-los por esquemas mais flexíveis de produção” (DRUCK, 1999, p. 71).
A autora afirma que,  pelo fato das manifestações que haviam ocorrido no final dos anos 60 não terem sido capazes de impor uma alternativa, o capital, aproveitando o enfraquecimento do movimento dos trabalhadores, impôs sua saída ao iniciar a implementação de um processo de reestruturação produtiva. Este se apoiava justamente na crescente adoção da base tecnológica microeletrônica, nas novas políticas de gestão e organização do trabalho baseadas na “cultura da qualidade” e numa estratégia de cooptar e neutralizar as formas de organização e resistência dos trabalhadores. De acordo com Druck, são políticas que, por um lado, “incluem” uma elite no novo padrão que está sendo gestado e, por outro, “excluem” – através do desemprego e das formas precárias de contratação e subcontratação – grandes parcelas de trabalhadores assalariados (DRUCK, 1999, p. 72).
Especialização flexível
O termo “flexível” vai surgir em contraposição à rigidez do período fordista anterior. Se antes tínhamos a produção em série, produtos padronizados e os produtores reunindo esforços para controlar as variações do mercado em relação aos produtos padronizados, o regime da especialização flexível vai na direção oposta.
A diversificação da produção e a sua realização observando as variações do mercado, sem mais visar o seu controle, vão ser a marca dessa nova forma de gerir a produção engendrada no bojo da crise dos anos 70. Segundo Sennett (2005), de forma sintética, a especialização flexível vai tentar pôr, de forma cada vez mais rápida, produtos mais variados no mercado – em contraste com o período anterior.
Segundo esse autor, a especialização flexível é a “antítese do sistema de produção incorporado no fordismo”, diz ele. “E – continua – de uma forma muito específica; na fabricação de carros e caminhões hoje, a velha linha de montagem quilométrica observada por Daniel Bell foi substituída por ilhas de produção especializada” (SENNETT, 2005, p. 59).
Analisando as proposições dos autores Piore e Sabel, Graça nos diz que motivados pelo fato de que, diferente dos EUA, países como França, Itália e Alemanha Ocidental apresentavam índices de crescimento econômico, esses autores se lançaram na tarefa de verificar a razão desse contraste – isto é, uma economia em crise (no caso, a americana), enquanto outras cresciam e conquistavam novos mercados.
Analisando as regiões da chamada Terceira Itália, os autores verificaram que havia ocorrido um surto de crescimento industrial baseado num processo de descentralização da produção, com o aparecimento de uma rede de pequenas empresas. Os pesquisadores constataram que o tamanho médio das empresas varia, mas em cada uma destas oficinas há uma especialização muito grande, “com mão-de-obra qualificada e ágeis para atender a mudanças na demanda” (DRUCK, 1999, p. 74).
Ainda segundo a pesquisa, embora essas empresas produzam em grande parte para as grandes corporações, elas gozam de significativa autonomia (muitas delas seriam cooperativas). Muitas dessas empresas teriam sido formadas por operários qualificados e ex-militantes sindicais demitidos em greves passadas. Portanto, é a partir desse estudo que Piore e Sabel apresentam “o novo paradigma da especialização flexível” (DRUCK, 1999, p. 75).
A alternativa à produção em série (em crise) estaria na descentralização da produção, mudança que seria fundamental para o redirecionamento do crescimento. Segundo os autores, nessa alternativa “a pequena produção ocupa um papel central, como revitalizadora e como forma de romper com a rigidez típica do modelo anterior”. A flexibilização – afirma Druck– seria o elemento-chave, ou crucial, para responder às constantes variações de demanda e à diversidade do mercado.
Dessa forma, então, a autora explica o modelo apresentado pelos autores:
“[...] o modelo defendido pelos autores seria constituído por uma estratégia industrial em que as pequenas e médias empresas ocupam um papel central na reestruturação. [...] estas empresas utilizam uma tecnologia avançada, mas combinada com um trabalho de tipo artesanal que exige uma mão-de-obra qualificada e muito treinada. No âmbito da organização do trabalho, realizam a integração entre concepção e execução, estabelecendo tarefas multiespecializadas.
Ao mesmo tempo, as relações hierárquicas na empresa devem ser mudadas, superando a sua rigidez e transformando-a numa organização mais informal, que aproxime os vários níveis e cargos (DRUCK, 1999, p. 75).
Outro questionamento do autor – segundo nos narra Druck – diz respeito à ideia de mão de obra multiespecializada e estável. Vejamos:
Outras pesquisas já demonstraram que existe muita diferenciação nos níveis de qualificação dos trabalhadores, até mesmo na Terceira Itália, onde o setor artesanal apresenta uma ampla variedade de trabalhos e de trabalhadores, mesmo no que se refere às condições de trabalho e de salários (DRUCK, 1999, p. 76).
E continua: O trabalho ocasional, por exemplo, é frequentemente utilizado, em geral realizado por mulheres, com menor nível de qualificação e mal pago. Há também as indústrias de fundo de quintal, onde impera o trabalho irregular, sem contratos formais, e que são, muitas vezes, até clandestinas (SCHMITZ, 1989, p. 164 apud DRUCK, 1999, p. 76).
Piore e Sabel havia assinalado para uma capacidade inovadora muito grande na rede de empresas, numa combinação de trabalho artesanal e inovação tecnológica. Segundo eles, esse processo de industrialização havia proporcionado uma diminuição no desemprego, assim como uma melhora no padrão de vida na região. A atuação dos governos locais teria sido fundamental, por meio de investimentos em infraestrutura e em políticas sociais de saúde, segurança e regulamentação dos salários (DRUCK, 1999, p. 74). Os autores completam ainda que no plano institucional, ao invés da centralização e regulamentação típicas do sistema keynesiano (de caráter nacional e multinacional), a instituição da descentralização por intermédio dos poderes locais poderia gerar um efeito mais efetivo, ao agirem estes com o intuito de fundir competição e cooperação.
Sobre a questão da “inovação permanente” e o seu lugar central nas investigações de Piore e Sabel, Schmitz contesta e diz – amparado em uma pesquisa realizada sobre a produção de redes no Nordestebrasileiro – que nos países menos desenvolvidos essa questão é diferente. Neles, o excedente de mão de obra tem um papel mais decisivo, e acaba empurrando para o plano secundário a questão da inovação. Segundo o autor, em países como o Brasil, embora invistam em inovação tecnológica, indústrias como a de confecção e malharia localizadas em Petrópolis (RJ) e Juiz de Fora (MG) utilizam o recurso da subcontratação de trabalhadores sem registro, com má remuneração e submetidos a péssimas condições de trabalho.
Essa situação era possibilitada pela operação de microempresas, de propriedade de trabalhadores assalariados mais qualificados que, para estabelecerem seu próprio negócio, e na falta de capital para investir em maquinaria, recorriam às formas precárias de subcontratação e até mesmo ao trabalho familiar sem remuneração e sem especialização, como estratégia de sobrevivência no mercado (DRUCK, 1999, p. 78).
A diferença desse papel do excedente de mão de obra com relação aos países desenvolvidos, segundo ele, estaria no fato de que nestes existe o atenuante do seguro-desemprego – uma das políticas centrais do Estado de bem-estar.
Veja abaixo a matéria sobre greve dos trabalhadores da Prest Perfuração, empresa prestadora de serviços (terceirizada) à Petrobras.
Trabalhadores da Prest Perfuração em greve por tempo indeterminado
23/11/2007
“Desde a noite da última quarta-feira, 21, os trabalhadores da Prest Perfuração em Carmópolis decidiram entrar em greve por tempo indeterminado. Cansados de serem enrolados pela direção da empresa, os companheiros agora estão decididos a só voltarem ao trabalho após o atendimento de todas as reivindicações.
Na lista de reivindicações consta reajuste real de salário de 7,42%, adicional noturno sobre o salário base, pagamento dos feriados a 100%, cesta básica, pagamento de hora-extra, lavagem do EPI (administrativo), dentre outras. A proposta de reajuste de 5,5% oferecida pela empresa já foi rejeitada.
A PREST perfuração desenvolve atividades de exploração e produção de petróleo em sondas de produção. Com a greve, 9 sondas, todas da Petrobrás, mas operadas pela PREST, estão paradas. A direção do Sindipetro AL/SE alerta a Petrobrás sobre a responsabilidade das mesmas, já que os trabalhadores não estão nelas.
A greve entra no segundo dia e a tendência do movimento é endurecer visto que, ao invés de negociar, a empresa optou por reagir pela via da truculência, cortando o alojamento, a alimentação e o transporte dos trabalhadores. Não vamos arredar o pé até que nossas reivindicações sejam plenamente atendidas.”
Fonte: (Adaptado) http://sindipetroalse.org.br/site/tercerizados/trabalhadores_da_prest_perfuracao_em_greve_por_tempo_indeterm.html.
Veja abaixo a matéria sobre greve dos trabalhadores da Georadar, empresa especializada na prestação de serviços onshore e offshore de levantamentos geofísicos, diagnósticos ambientais e geotécnicos para a indústria petrolífera e mineral.
Trabalhadores da Georadar denunciam irregularidades
06/12/2007
“A greve na Georadar continua. Hoje pela manhã o movimento ganhou novos adeptos com a chegada de trabalhadores que vieram da Bahia. A empresa tem feito de tudo para enfraquecer a parede, mas não tem tido sucesso nas tentativas. Ontem, em visita ao campo, os trabalhadores puderam observar cenas absurdas, como a de companheiros submetidos aos olhares dos vigias da Brava, como verdadeiros pistoleiros.
Segundo um companheiro de base, a greve atinge a todo programa de Carmópolis. Mas, em Riachuelo, alguns trabalhadores, inclusive em situação irregular, continuam desenvolvendo atividades sísmicas.
O suposto representante da empresa continua desaparecido. O Sindipetro AL/SE exigiu que ele apresentasse uma procuração de preposto da Georadar, mas, até agora, o mesmo não retornou. Toda essa pressão dos trabalhadores, apesar da greve continuar, já fez a empresa promover mudanças. A empresa que fornece a alimentação, que antes era totalmente incompatível com a atividade desenvolvida, foi substituída. O regime de trabalho foi modificado para 30x15, apesar de mantida a proporção 2x1.
O movimento segue firme e o sentimento de crença na vitória é crescente. À luta, companheiros! Até a vitória!”
Fonte: SINDIPETRO - AL/SE. Disponível em: http://sindipetroalse.org.br/site/tercerizados/trabalhadores_da_georadar_denunciam_irregulari.html. 
Aula 8: 
O Debate no Serviço Social Frente às Transformações Ocorridas
Buscando entender as raízes da radicalização da “questão social” nos dias atuais, Marilda Iamamoto, no texto intitulado “O Serviço Social na cena contemporânea”, vai afirmar que o processo de financeirização indica um modo de estruturação da economia global.
Citando o trabalho de Husson, a autora nos diz que tal processo não se trata de uma mera preferência do capital por aplicações financeiras em detrimento do investimento produtivo.
O fetichismo dos mercados, segundo ela, apresenta as finanças como potências autônomas diante das sociedades nacionais, escondendo “o funcionamento e a dominação operada pelo capital transnacional e pelos investidores financeiros, que contam com o efetivo respaldo dos Estados Nacionais e das grandes potências internacionais” (IAMAMOTO, 2009, p. 17-18).
De acordo com a autora, a esfera das finanças por si mesma não cria nada. Na verdade, continua, ela se nutre da riqueza que é gerada pelo investimento capitalista produtivo junto com a ação da força de trabalho no seu interior.
Embora pareça capaz de gerar dinheiro em seu próprio circuito (na esfera das finanças), o capital-dinheiro não pode prescindir da retenção que faz do lucro e dos salários criados na produção.
Segundo Iamamoto, o fetichismo causador dessa impressão “só é operante se existe produção de riquezas, ainda que as finanças minem seus alicerces ao absorverem parte substancial do valor produzido” (IAMAMOTO, 2009, p. 18).
O capital dinheiro aparece, para Iamamoto, como “coisa autocriadora de juro”, como dinheiro que gera dinheiro (D – D’), obscurecendo as fontes de sua origem, “as cicatrizes" desta última. Segundo ela, essa forma coisificada do capital é denominada por Marx como capital fetiche. “O juro aparece como se brotasse da mera propriedade do capital, independente da produção e da apropriação do trabalho não pago”. 
A circulação do capital como mercadoria teria na forma de empréstimo a sua peculiaridade. Esta forma constitui-se na diferença específica do capital portador de juro. Assim, como o juro faz parte da mais-valia, diz ela, a mera divisão dela em lucro e juro “não pode alterar sua natureza, sua origem e suas condições de existência” (IAMAMOTO, 2009, p. 18).
No exemplo da dívida pública, Iamamoto nos diz que o Estado tem que pagar aos seus credores o juro referente ao capital emprestado. Embora os títulos da dívida pública sejam objetos de compra e venda, como a soma emprestada ao Estado já foi despendida – não como capital –, e portanto já não mais existe, tem-se então um capital ilusório e fictício.
No exemplo da dívida pública, Iamamoto nos diz que o Estado tem que pagar aos seus credores o juro referente ao capital emprestado. Embora os títulos da dívida pública sejam objetos de compra e venda, como a soma emprestada ao Estado já foi despendida – não como capital –, e portanto já não mais existe, tem-se então um capital ilusório e fictício.
E – diz ela – “uma vez que esses títulos se tornem invendáveis desaparece a aparência de capital” (IAMAMOTO, 2009, p.19). Só que para o capitalista credor, no entanto, a parte que lhe será destinada dos impostos representa o juro do seu capital. “O credor possui o título de dívida contra o Estado, que lhe dá direitos sobre as receitas anuais do Estado, produto anual dos impostos” (IAMAMOTO, 2009, p.18). Na esteira do que está sendo dito, a autora afirma:
A crescente elevação da taxa de juros favorece o sistema bancário e instituições financeiras, assim como a ampliação do superávit primário afeta as políticas públicas com a compressão dos gastos sociais, além do desmonte dos serviços da administração pública.Ela combina-se com a desigual distribuição de renda e a menor tributação de rendas altas, fazendo com que a carga de impostos recaia sobre a maioria dos trabalhadores (IAMAMOTO, 2009, p. 19).
Segundo Iamamoto, os principais agentes do processo de financeirização são os grupos industriais transnacionais e investidores institucionais, como bancos, companhias de seguros, sociedades financeiras de investimentos coletivos, fundos de pensão e fundos mútuos.
Estes tornam-se proprietários acionários das empresas e passam a atuar de modo independente delas. “Por meio de operações realizadas no mercado financeiro, interferem no ritmo de investimentos dessas empresas, na repartição de suas receitas e na definição das formas de emprego assalariado e gestão da força de trabalho, no perfil do mercado de trabalho” (IAMAMOTO, 2009, p. 19).
A autora assinala que a base onde estão sustentados os dois pilares das finanças, isto é, o mercado acionário das empresas e as dívidas públicas, só se mantém firme graças à decisão política dos Estados e às políticas fiscais e monetárias.
Segundo ela, esses dois braços de sustentação das finanças se encontram, na verdade, “na raiz de uma dupla via de redução do padrão de vida do conjunto dos trabalhadores, com o efetivo impulso dos Estados Nacionais”.
A respeito dela, se escreve: [...] por um lado a privatização do Estado, o desmonte das políticas públicas e a mercantilização dos serviços, a chamada flexibilização da legislação protetora do trabalho; por outro lado a imposição da redução dos custos empresariais para salvaguardar as taxas de lucratividade, e com elas a reestruturação produtiva centrada menos no avanço tecnológico e fundamentalmente na redução dos custos do chamado “fator trabalho” com elevação das taxas de exploração (IAMAMOTO, 2009, p. 20).
De acordo com a nossa autora, disso se explicaria o motivo de fechamento de empresas que não conseguiriam se manter na concorrência com a abertura comercial, a chamada desindustrialização, culminando em desemprego, diminuição dos postos de trabalho, intensificação do trabalho daqueles que continuam no mercado, ampliação das jornadas de trabalho, clandestinidade e invisibilidade do trabalho não formalizado etc.
O capital financeiro – segundo ela – avança sobre o fundo público, cujo financiamento é constituído tanto pelo lucro do empresariado como pelo trabalho necessário dos assalariados, apropriados pelo Estado sob a forma de impostos e taxas. Segundo Iamamoto, os investimentos especulativos nas ações de empresas no mercado financeiro esperam ter, baseados na extração da mais-valia presente e futura dos trabalhadores, a garantia de lucratividade das futuras empresas.
Com isso, interferem silenciosamente nas:
[...] políticas de gestão e de enxugamento da mão de obra; na intensificação do trabalho e no aumento da jornada; no estímulo à competição entre os trabalhadores num contexto recessivo, dificultando a organização sindical; na elevação da produtividade do trabalho com tecnologias poupadoras de mão de obra; nos chamamentos à participação e consentimento dos trabalhadores às metas empresariais, além de uma ampla regressão dos direitos, o que se encontra na raiz das metamorfoses do mercado de trabalho (IAMAMOTO, 2009, p. 20-21).
O referido processo atinge a cultura ao gerar mercantilização universal e descartabilidade, além de superficialidade e banalização da vida. A sugestão da autora é que a mundialização financeira unifica no interior de um mesmo movimento diferentes processos que tendem a ser tratados pelos intelectuais de forma isolada e autônoma, como se os mesmos não fossem interligados entre si – “reforma” do Estado, reestruturação produtiva, a “questão social”, a ideologia neoliberal e concepções pós-modernas.
A “questão social” nesse contexto
A hipótese que Iamamoto defende é que na raiz da “questão social” na atualidade se encontram as políticas governamentais que favorecem a esfera financeira e o grande capital produtivo. Segundo ela, há uma estreita relação entre as políticas monetárias e fiscais praticadas pelos governos e a liberdade dada aos movimentos do capital transnacional para atuar sem controle e sem regulamentação, “transferindo lucros e salários [ideia de conceber salário como juro e a força de trabalho como capital que proporciona esse juro] oriundos da produção para se valorizarem na esfera financeira”. Este processo, portanto, em sua opinião, redimensiona a “questão social”, radicalizando suas múltiplas manifestações.
“Parece ser esse o malabarismo que se atualiza hoje com os ‘fundos de pensão’ que fazem com que a centralização das poupanças do trabalho assalariado atue na formação de capital fictício, como capitalização” (IAMAMOTO, p. 19).
O capital financeiro ao subordinar toda a sociedade impõe-se em sua lógica de incessante crescimento, de mercantilização universal. Ele aprofunda desigualdades de toda a natureza e torna paradoxalmente invisível o trabalho vivo que cria a riqueza e os sujeitos que o realizam. Nesse contexto, a “questão social” é mais do que pobreza e desigualdade.
Ela expressa a banalização do humano, resultante de indiferença frente à esfera das necessidades das grandes maiorias e dos direitos a elas atinentes. Indiferença ante os destinos de enormes contingentes de homens e mulheres trabalhadores submetidos a uma pobreza produzida historicamente (e, não, naturalmente produzida), universalmente subjugados, abandonados e desprezados, porquanto sobrantes para as necessidades médias do capital (IAMAMOTO, 2009, p. 22).
Iamamoto afirma que sob a órbita do capital, as múltiplas manifestações da “questão social” transformam-se em objeto de ações benemerentes e filantrópicas, bem como de “programas focalizados de combate à pobreza”. Estes acompanham a mais ampla privatização da política social pública, cuja implementação fica a cargo agora de organismos privados da sociedade civil, o chamado “terceiro setor”.
A desregulamentação das políticas públicas e dos direitos sociais tem deslocado a atenção da pobreza para a iniciativa privada ou individual, que é impulsionada por questões de solidariedade e benemerência, ambas submetidas ao arbítrio do indivíduo isolado e ao mercado, e não à responsabilidade pública do Estado – são feitos, nesse sentido, claros chamamentos à sociedade civil.
As conquistas sociais acumuladas têm sido transformadas em causa de “gastos sociais excedentes” que se encontrariam na raiz da crise fiscal dos Estados. A contrapartida tem sido a difusão da ideia liberal de que o “bem-estar social” pertence ao foro privado dos indivíduos, famílias e comunidades. A intervenção do Estado no atendimento às necessidades sociais é pouco recomendada, transferida ao mercado e à filantropia, como alternativas aos direitos sociais que só têm existência na comunidade política. Como lembra Yazbek (2001), o pensamento neoliberal estimula um vasto empreendimento de “refilantropização do social”, e opera uma profunda despolitização da “questão social” ao desqualificá-la como questão pública, questão política e questão nacional (IAMAMOTO, 2009, p. 22-23).
A atuação do assistente social
A reprodução do modo de vida no interior da sociedade capitalista implica, segundo Iamamoto, duas contradições básicas: na primeira, a igualdade jurídica dos cidadãos livres é indissociável da desigualdade econômica, resultante do caráter cada vez mais social da produção e da apropriação privada do trabalho alheio. Na segunda, ao crescimento do capital corresponde a crescente pauperização relativa do trabalhador – diz a autora. “Essa é a lei geral da produção capitalista, que se encontra na gênese da ‘questão social’ nessa sociedade” (IAMAMOTO, 2009, p. 11).
Dessa forma, o processo de reprodução das relações sociais não pode ser mera reposição do instituído. Isto porque ele gera novas necessidades, novas forças produtivas sociais do trabalho são criadas “em cujo processo aprofundam-se desigualdades e são criadas novas relações sociais entre os homens na luta pelo poder e pela hegemonia entre as diferentesclasses e grupos na sociedade”.
Destarte, verifica-se a dimensão contraditória das requisições sociais postas ao profissional do Serviço Social, “expressão das forças sociais que nelas incidem”. Segundo Iamamoto, estas corresponderiam tanto ao movimento do capital quanto aos direitos, valores e princípios que fazem parte das conquistas e do ideário dos trabalhadores. Seriam essas forças contraditórias inscritas na própria dinâmica do processo social que criam as bases reais para a renovação do estatuto da profissão conectadas à intencionalidade de seus agentes.
O projeto profissional beneficia-se tanto da socialização da política conquistada pelas classes trabalhadoras quanto dos avanços de ordem teórico-metodológica, ética e política acumulados no universo do Serviço Social a partir dos anos de 1980 (IAMAMOTO, 2009, p. 11).
Nesse sentido, o exercício profissional é necessariamente perpassado pela trama de suas relações e interesses sociais. Ele participa tanto dos mecanismos de exploração e dominação quanto, ao mesmo tempo e pela mesma atividade, da resposta às necessidades de sobrevivência das classes trabalhadoras. “Isso significa que o exercício profissional participa de um processo que tanto permite a continuidade da sociedade de classes quanto cria as possibilidades de sua transformação”.
Nas últimas três décadas, a América Latina passou por inúmeras transformações na face do capitalismo. A mundialização do capital que vai repercutir no âmbito das políticas públicas, além de redimensionar as requisições dirigidas aos assistentes sociais, afeta as condições de vida e de trabalho de distintos segmentos de trabalhadores em função da radicalização das desigualdades. Verifica-se isso num contexto de retração das lutas sociais diante dos dilemas “do desemprego, da desregulamentação das relações de trabalho e da (re)concentração da propriedade fundiária aberta ao grande capital internacional”.
ssa investida [investida ideológica por parte do capital e do Estado] é acentuada pela “assistencialização” da pobreza contra o direito ao trabalho, transversal às políticas e programas sociais focalizados, dirigidos aos segmentos mais pauperizados dos trabalhadores, com marcantes incidências na capacidade de mobilização e organização em defesa dos direitos. Como as competências profissionais expressam a historicidade da profissão, elas também se preservam, se transformam, redimensionando-se ao se alterarem as condições históricas de sua efetivação (IAMAMOTO, 2009, p. 15).
As expressões da “questão social”, que é indissociável à sociabilidade capitalista, condensam múltiplas desigualdades que são mediadas por disparidades nas relações de gênero, características étnico-raciais, relações com o meio ambiente e formações regionais.
Segundo Iamamoto, como dispõe de uma dimensão estrutural – isto é, está enraizada na produção social contraposta à apropriação privada do trabalho –, a “questão social” atinge diretamente a vida dos indivíduos “numa luta aberta e surda pela cidadania (IANNI, 1992), no embate pelo respeito aos direitos civis, políticos e sociais” (IAMAMOTO, 2009, p.16). Para a autora, esse é um processo permeado por conformismo e rebeldia, e é nele que o profissional do Serviço Social irá atuar.
É na tensão entre produção da desigualdade, da rebeldia e do conformismo que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido por interesses sociais distintos, os quais não é possível abstrair – ou deles fugir –, pois tecem a trama da vida em sociedade (IAMAMOTO, 2009, p.16). 
Iamamoto afirma que foram as lutas sociais que romperam o domínio privado na relação entre capital e trabalho, extrapolando a questão social para a esfera pública, exigindo a intervenção do Estado no reconhecimento e a regulação de direitos e deveres dos sujeitos sociais envolvidos. Estes serão “consubstanciados nas políticas e serviços sociais, mediações fundamentais para o trabalho do assistente social”.
Aula 9: 
Breve história da organização capitalista do trabalho no Brasil (taylorismo, fordismo) e legislação trabalhista
Num trabalho em que se propõe discutir a gênese e a difusão do Taylorismo no Brasil, Nilton Vargas se interpela sobre a pertinência de se discutir o referido tema diante de estudos que afirmam ser a questão do aumento da produtividade e da intensificação do trabalho. É uma questão não central entre o empresariado brasileiro, bem como um despreparo deste último em propor mudanças técnicas que se afinassem com um capitalismo eficiente, dada a sua tradição patrimonialista. 
Argumentos mais antigos, como o fato de sermos um país tropical com uma mão de obra indolente, ou a ausência de um projeto burguês autêntico desde o nosso primeiro surto de industrialização nos anos vinte até então (referência ao ano em que o texto fora escrito), tentavam justificar o nosso atraso. 
No entanto, alguns fatos como o grau de competitividade que algumas empresas nacionais vão alcançar em relação às empresas estrangeiras dentro e fora de nosso território vão, conforme argumenta Vargas, lançar dúvidas sobre a veracidade dos argumentos supramencionados.
Explicando o sentido da utilização do termo Taylorismo, Vargas afirma que tanto ele como o fordismo estavam empenhados na criação de um novo tipo de trabalhador, que se submetesse às exigências da disciplina fabril necessária ao aumento da intensidade do ritmo de trabalho. Segundo o autor:
“ambos propunham a criação de um corpo técnico para programar o trabalho. E também a negociação de salários mais altos, já que a pura coerção não era eficaz, como fazem questão de ressaltar em suas obras, embora essa negociação fosse individual, negando originalmente a intermediação do sindicato ou do Estado” (VARGAS, 1985, p. 157).
Citando Gramsci e um texto que se tornara clássico – Americanismo e fordismo –, Vargas lembra que o fordismo não se limitava à disciplina no interior da fábrica; ele fazia parte de um movimento que tinha em vista a “adequação da força de trabalho às novas exigências da produção”, diz ele. Para o estudo do caso brasileiro, o autor propõe que o seu entendimento na história da nossa industrialização seja contextualizado; no entanto, defende que se faz necessário entender o seu surgimento nos EUA. De acordo com Vargas, a crise política e econômica que o capitalismo atravessara no final do século XIX e a Revolução de Outubro exigiam do capital uma resposta não apenas no âmbito da gestão da força de trabalho e a nível de modo de acumulação, “mas também a nível de hegemonia sobre a sociedade”. “O Taylorismo e, posteriormente, o Fordismo foram algumas das respostas que o capitalismo americano ofereceu às sociedades industrializadas”.
Ambiente de trabalho
A questão do saber no projeto e na produção de mercadorias assume uma nova dimensão. Seria desnecessário citar o grande número de invenções que foram realizadas a partir das descobertas científicas, principalmente nos setores químico e elétrico.
Contudo, se na Revolução Industrial essa tecnologia surgia apoiada no conhecimento técnico da classe operária, nesse novo momento ela se libertava dessa limitação, “incorporando novo tipo de transformação da natureza, com alto conteúdo de conhecimento científico”. De acordo com Vargas, no entanto, enquanto a ciência se pautava pela ampla divulgação, a tecnologia se portava de maneira diversa: “o seu conhecimento era orientado para a produção de mercadorias e para o monopólio do saber industrial” (VARGAS, 1985, p. 158).
A tecnologia passou a articular conhecimento científico com conhecimento produtivo, isto é, “a articular as leis da natureza com as leis do capital”. Esse movimento iria se esbarrar no conhecimento técnico que possuía a classe operária. “Se os engenheiros haviam transformado a natureza, sob as determinações do capital, por que não proceder da mesma forma com os trabalhadores?”, indaga. De acordo com Vargas, tratava-se de reequacionar o “fator humano” de suporte dessa nova tecnologia.
Criar normas de trabalho e coordenar o conhecimento técnico do trabalhador, para

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