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PSICOTERAPIA-E-SEUS-FUNDAMENTOS

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1 
 
1 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 
2 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS ............................................ 3 
2.1 Aproximações e distâncias entre as psicoterapias ............................... 5 
3 PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA/PSICODINÂMICAS ............................ 6 
3.1 Conceito ............................................................................................... 6 
3.2 Conceitos técnicos em psicodinâmica ................................................ 10 
3.3 A psicoterapia de apoio ...................................................................... 13 
3.4 A psicoterapia de orientação psicanalítica ......................................... 14 
4 A TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC) .......................... 15 
4.1 Quando o TCC é indicado .................................................................. 26 
4.2 Psicoterapia de grupo......................................................................... 26 
5 TERAPIA EXISTENCIAL/HUMANISTA (CENTRADA NA PESSOA E A 
PSICOTERAPIA BREVE) ..................................................................................... 29 
5.1 Psicoterapia breve .............................................................................. 30 
5.2 O manejo técnico do enquadre psicoterápico .................................... 39 
5.3 Primeira Entrevista ............................................................................. 40 
5.4 Segunda Entrevista ............................................................................ 41 
5.5 Terceira Entrevista ............................................................................. 41 
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 43 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
2 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS 
Fonte: https:google.com 
 
A psicoterapia pode ser compreendida como um conjunto heterogêneo de 
abordagens terapêuticas baseadas em diversos conceitos teóricos e técnicos, visando 
influenciar o paciente e ajudá-lo a enfrentar seus conflitos emocionais, cognitivos e 
comportamentais. Tendo em vista essa compreensão, os objetivos da nossa 
exposição são os seguintes: 
a) Mostrar como se dá a utilização de fundamentos teóricos e técnico-
conceituais oriundos das investigações psicanalíticas e cognitivos comportamentais 
que tenham relevância para a psicoterapia. 
b) Apontar para a especificidades da psicoterapia de grupo, diferenciando-a da 
psicoterapia individual, com a finalidade de tornar este material uma referência para 
iniciantes na área, bem como para outros profissionais em diferentes áreas 
relacionadas ao campo da saúde. 
c) Apresentar aspectos das formas de psicoterapia existentes e mais utilizadas 
na atualidade, passando pelas psicologias de caráter psicodinâmico, existencial, 
métodos neurolinguísticos, cognitivos e pela psicanálise. 
 
4 
 
De acordo com Roudinesco e Plon (1997), o termo psicoterapia vem das 
palavras gregas Psykê (mente) e Therapeuein (cura), e foi usado, a partir do século 
XIX, para designar um conjunto amplo de formas de tratamento e intervenção 
psicológica, que buscavam tratar sintomas psicopatológicos e comportamentais; 
designando, assim, formas variadas de terapia, tais como a psicodinâmica, a 
musicoterapia, a hipnoterapia e formas diversas de aplicação de teorias da psicologia 
no campo da psicoterapia. 
A psicoterapia, tal como a entendemos atualmente, encontra suas origens, na 
prática do hipnotismo, especialmente nos trabalhos do médico e fisiologista austríaco 
Josef Breuer (1842 – 1925), que começou a usar o hipnotismo como tratamento 
catártico para pacientes histéricos e no livro Hipnotismo, Sugestão e Psicoterapia de 
Hippolyte Bernheim, publicado em 1891. Sigmund Freud (1856 – 1939), enquanto 
neurologista e interessado nas pesquisas e resultados obtidos por esse método, 
também começou a utilizá-lo; mas percebeu seus efeitos de curta duração, e diversas 
vezes, o insucesso do tratamento, passando, assim, a valorizar e investigar a 
importância da relação médico-paciente para a eficácia da técnica psicoterápica, no 
caso de Freud, da psicanálise que começava a nascer (ROUDINESCO; PLON, 1997). 
A origem da psicanálise e da concepção de psicoterápica moderna se configura 
na obra Estudos sobre histeria (1893 – 1895) escrita através da parceria de Sigmund 
Freud e (1856 – 1939) J. Breuer (1842 – 1925), onde o método hipnótico é descrito, 
mas começa a ser questionado, especialmente por Freud. A configuração do campo 
psicanalítico, se inicia, portanto, através do abandono por Freud da técnica hipnose-
catarse e pelo uso de estratégias de associação livre, interpretação de sonhos e uso 
de divindades e representações mitológicas para interpretar experiências relatadas 
pelos pacientes. 
Atualmente, a psicoterapia pode ser conceituada como um conjunto amplo e 
variado de abordagens terapêuticas baseadas em conceitos teóricos e técnicos, 
devendo, ainda, ser realizadas por profissionais qualificados e preocupados com o 
estudo e prática de sua técnica de modo empreendor, ou seja, pelo enfrentamento 
cotiana da questão psicoterápica. Ao utilizar princípios de análise psicológica, 
comunicação verbal e relação terapêutica, a psicoterapia (ou as psicoterapias) tem 
como principal objetivo influenciar o paciente para ajudá-lo a compreender e superar 
 
5 
 
seus conflitos emocionais, cognitivos e comportamentais, como já dissemos 
anteriormente (CORDIOLI, 2008) 
2.1 Aproximações e distâncias entre as psicoterapias 
Embora as modalidades e os conceitos da psicoterapia variem amplamente, 
pode-se dizer que eles têm alguns pontos em comum e compreender essa 
convergência é extremamente importante. São eles: 
 a) Consideram que todo processo depende de uma relação de confiança 
emocional do paciente com o terapeuta, como também da capacidade do terapeuta 
de manejar sua afetividade diante as demandas colocadas pelo paciente. Nesse caso, 
é preciso que seja posta uma estrutura relacional onde o paciente se sinta à vontade 
para confiar no terapeuta e acreditar que ele o ajudará a transformar e entender seus 
conflitos práticos e existênciais, que se traduzem em sofrimento emocional. Entende-
se, assim, que um dos objetivos do processo psicoterápico, partilhado pelas diversas 
tendêncais e abordagens, é de que a terapia deve ajudar o paciente a diminuir seu 
sofrimento. 
 c) Consideram, assim, a necessidade de se ater a modelos conceituais que 
forneçam explicações para os sintomas/ problemas, bem como possam ajudar na 
constituição de procedimentos de resolução de problemas colocados como demanda 
pelo paciente. As psicoterapias surgem de uma confluência entre teoria e prática, já 
que precisam de estabelecerestratégias a partir de teorias já existentes, mas 
necessitam de ordenar e desenvolver estratégias analíticas a partir da prática clínica. 
Em relação às características técnicas, as formas de psicoterapia se 
diferenciam em seus objetivos, objetos focais e recursos utilizados (interpretação, 
exposição, psicoeducação), relacionados à frequência e duração da terapia, ao 
cenário (grupo, família, individual), à formação exigida pelo terapeuta, aos requisitos 
do paciente antes da terapia, escopo e resultados a serem alcançados (CORDIOLI, 
2008). 
 
6 
 
3 PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA/PSICODINÂMICAS 
 
Fonte: https://psicomednet.com 
O termo psicodinâmico é empregado geralmente para indicação e 
entendimento dos fenômenos mentais, tendo sua origem em investigações de origem 
psicanalítica. Nesse sentido, pode-se desenvolver uma compreensão psicodinâmica 
dos fenômenos mentais de comportamento considerandos casos clínicos estudados 
e desenvolvidos no âmbito das análises psicanalíticas; tendo em vista que uma visão 
psicodinâmica da experiência psicológica e do comportamento pode, assim, se 
configurar em uma psiquiatria e psicologia psicodinâmicas; e até mesmo testes e 
experimentos psicológicos, inclusive com seres não humanos, podem ser 
interpretados de acordo com referenciais teóricos psicodinâmicos. 
3.1 Conceito 
O ponto de partida para a psicanálise, como sugerimos anteriormente, foram 
as investigações de Freud e Breuer acerca do fenômeno histérico. Todavia, a 
psicanálise toma relevo na obra A interpretação dos sonhos, publicada em 1900, que 
Freud considerava como sua obra mais importante. Para Freud, os sonhos dariam 
acesso à dimensão inconsciente da vida psíquica, expressando os desejos mais 
íntimos dos seres humanos e também os mecanismos de censura utilizados para 
 
7 
 
encobrir esses desejos, a saber, o que ele identificará através dos processos de 
repressão e sublimação próprias ao aparelho psíquico. 
Ainda que o conceito de inconsciente tenha se expandido e se transformado ao 
longo da evolução da teoria psicanalítica, o inconsciente, tal como entendido por 
Freud, tornou-se o “lugar” de maior impacto de sua investigação sobre o ser humano 
moderno; pois, a partir de sua compreensão, as formas de agir, escolher e 
compreender o mundo são fundadas em uma subjetividade que não é mais dona de 
si mesma, no sentido em preconizado nas teorias filosóficas da modernidade clássica, 
tal como a compreensão cartesiana, por exemplo. 
A concepção de subjetividade freudiana tem seu conteúdo vinculado, 
fundamentalmente, às pulsões (representantes mentais da vida instintual) e às 
primeiras práticas sexuais infantis, deslocando a questão da subjetividade para além 
de uma compreensão tratada unicamente pela suposição de racionalidade como 
fundamento da experiência, mas pondo em cena aspectos relevantes do corpo 
enquanto ser desejante, na qual a existência humana se estrutura. Segundo Mabilde 
(2014), Freud estabelece o inconsciente, como sistema, marcado por um 
funcionamento, de acordo com leis específicas, desprovidas de lógica temporal, 
espacial e causalidade, indicando, assim, que os processos primários do aparelho 
psíquico não se reduzem a objetividade das normas e leis do mundo natural, onde a 
objetividade se dá em termos de temporalidade, espacialidade objetiva e causalidade 
enquanto explicação dos fenômenos (MABILDE, 2014). 
De acordo com Roudinesco e Plon (1997), o primeiro modelo mental totalmente 
psicanalítico, proposto por Freud, foi denominado como a primeira tópica. Na 
perspectiva deste modelo, se estabeleceu que a vida mental é dividida em sistemas 
conscientes, pré-conscientes (onde o comportamento mental ainda não é consciente, 
mas pode se tornar) e inconscientes. Na perspectiva da primeira tópica, o movimento 
do aparelho psíquico se dá pelo esforço do conteúdo reprimido nas formações do 
inconsciente de retornar aos sistemas conscientes e pré-conscientes; possível 
somente através da deformação posta em movimento pelos processos de censura 
(oriundos das relações entre ego e superego) e transformação dos conteúdos e 
dimensões inconscientes da psiquê humana em conteúdos suportáveis pela dimensão 
consciente da experiência da psique (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001). 
 
8 
 
Em 1914, Freud estabeleceu em Memória, Repetição e Elaboração que os 
conteúdos reprimidos são "lembrados" no comportamento (manifestações, sintomas) 
mesmo que não sejam lembrados, pois são repetidos e vivenciados em outro 
horizonte conforme as capacidades de elaboração do sujeito e a dinamicidade do 
aparelho psíquico. Através da repetição, o sujeito reedita também 
importantes relações passadas em seu presente, determinando suas formas 
presentes e futuras de relacionamento com os outros e consigo, inclusive com o 
terapeuta. Nesse sentido, essa repetição será responsável, se bem manejada pelo 
terapeuta, por construir empatia necessária no âmbito da psicoterapia, enquanto 
tentativa de recuperar o que precisa ser elaborado e ressignificado pelo paciente; 
sendo também uma forma de resistência, pois favorece a continuidade dos atos 
comportamentais atuados, isto é, a sedimentação da experiência em uma série de 
complexos e sintomas (FREUD, 2010) 
Atendo-se à experiência clínica e os resultados de pesquisa que desenvolveu 
entre 1900 e 1923, Freud começou a especular sobre uma nova divisão do aparelho 
psíquico, considerada por ele estruturalmente mais dinâmica e possivelmente mais 
próxima ao funcionamento do psiquismo; capaz, portanto, de englobar as 
complexidades do funcionamento mental e ampliando nossa compreensão do mesmo. 
Em 1923, então, ele dividiu o órgão mental em três instâncias: ego, superego e id: 
este modelo ficou conhecido como segunda tópica. 
Em “O ego e o id” (1997), Freud definiu três instâncias do que constitui o órgão 
mental, identificando o id como a parte pulsional/instintiva (por exemplo, com 
conteúdo libidinal e agressivo) e a dimensão mais primitiva do aparelho psíquico, parte 
da qual diferirá devido à influência do mundo exterior, que será chamado de ego. 
O ego é dotado das funções de percepção, atenção, movimento, memória e 
pensamento, e essa instância é influenciada pelo id. Já o superego é classicamente 
definido como uma instância com função normativa onde limites e regras são 
estabelecidos internamente. 
Sob um pensamento freudiano, é a interação entre estas instâncias, que 
determinará o funcionamento mental de uma pessoa: a batalha entre o id e o mundo 
exterior pode resultar em uma estrutura de personalidade psicótica, conforme a vida 
pulsional do id é imposta ao sujeito perante a realidade, influenciando suas 
 
9 
 
habilidades adaptativas, podendo levar a reconstruir e vivenciar a realidade por meio 
de seus sintomas que, no caso da experiência psicótica, pode se caracterizar por 
delírios e alucinações. Por outro lado, a neurose é o resultado de um conflito entre o 
id e o ego: quando a liberação de poderosos impulsos é bloqueada pelo ego e pelas 
forças repressivas (superego), surgindo então os sintomas neuróticos (por exemplo, 
fobias, pensamentos obsessiva-compulsivos). Hoje, essa formação é entendida como 
característica de todo funcionamento psíquico individual, no sentido de que os 
próprios traços de caráter são representativos desses comprometimentos neuróticos 
do sujeito com seu mundo, que apresentam variantes patológicas nos sintomas 
neuróticos, mas se constitui como base para o entendimento do sujeito moderno, já 
que se admite que a represão e sublimação de certas ‘pulsões’ determina todo o 
sugimento da civilizção, pelo menos em uma pespectiva psicanalítica freudiana 
(GABBARDI, 2016). 
Atualmente, com o avanço do pensamento psicanalítico e das ciências do 
comportamento, a compreensão da neurose e da psicose continua a se expandir e 
mesmo se modificar. Bion (1897-1979), um dos grandes expoentesdo pensamento 
psicanalítico trata destes temas no âmbito de uma terapia em grupo, baseada nos 
conceitos e práticas da psicanálise. Desta maneira, seu trabalho contribuiu para 
formação de um campo de conceitos para a psicodinâmica, conforme o qual, entende-
se que todos os indivíduos, em aspectos mais primitivos, tendem a responder com 
uma reduzida tolerância à frustração, com ódio à verdade, e apresentam pouco 
domínio de impulsos agressivos e destrutivos. 
Assim, considera-se, que os mecanismos de defesa são processos de extrema 
importância dentro da prática psicodinâmica e teoria psicanalítica, já que são eles que 
se manifestam nessa esfera mais primitiva da experiência humana. Já que 
socialmente impulsos instintivos não podem ser colocados em prática, uma vez que a 
gratificação do mesmo também geraria problemas adaptativos ao ego, entende-se; 
como forma de neutralizar essas forças, a experiência da transformação e 
deslocamento de tais impulsos. Os mecanismos de defesa agem a favor da repressão, 
influenciando o Ego a se proteger das exigências instintuais do Id (FREUD, 1997), na 
perspectiva de Freud e Bion. O entendimento sobre esses mecanismos de defesa é 
 
10 
 
de grande importância para a prática clínica, orientando o raciocínio diagnóstico 
psicodinâmico e o planejamento terapêutico (GABBARD, 2016). 
Os mecanismos de defesa podem ser organizados em hierarquia, desde os 
mais primitivos, como a negação (aspectos difíceis da realidade) e a somatização 
(transformar a dor emocional em sintomas físicos), até os mais maduros, como o 
humor (procurar um elemento cômico), e sublimação (dar ao impacto 
inaceitável/inadequado um destino socialmente aceitável). 
Ao longo dos anos de desenvolvimento teórico, os modelos mentais de Freud 
foram sendo transformados e ampliados, culminando em várias "escolas 
psicanalíticas" das quais se destacam Melanie Klein (1882-1960) e, como indicamos, 
acima, também Wilfred Bion (1897-1979). Com base nas contribuições de Melanie 
Klein, a psicanálise infantil avançou muito, e os brinquedos e jogos tornaram-se 
ferramentas importantes no trabalho psicanalítico e, portanto, objetos expressivos em 
uma abordagem psicodinâmica do desenvolvimento infantil. Klein reformulou e 
expandiu ainda mais vários conceitos freudianos de psicanálise, e sua influência se 
reflete no trabalho de vários autores posteriores. 
Ao contrário de Freud, que não dava credibilidade ao trabalho psicanalítico 
sobre psicopatas, outra contribuição relevante de Bion é sua proposta em analisar a 
vida psicológica desses pacientes, fazendo importantes descobertas que orientam o 
pensamento clínico psicanalítico atual. Além disso, Bion enfoca a função analítica, 
estabelecendo conceitos e vértices para facilitar uma melhor compreensão do 
funcionamento do par analítico paciente-analista, estabelecendo novos parâmetros 
para o desenvolvimento da própria função psicanalítica, tendo em vista a criação de 
um clinica não apenas dos indivíduos, mas dos grupos. 
3.2 Conceitos técnicos em psicodinâmica 
Entende-se, assim, que as técnicas psicanalíticas foram desenvolvidas (e 
continuam a evoluir) para permitir o acesso ao estado inconsciente do paciente e, na 
perspectiva, aberta por Bion, para a estruturação da experiência inconsciente ao nível 
grupal ou, se quisermos, intersubjetivo. Para facilitar esse processo, a associação livre 
foi estabelecida como regra fundamental da psicanálise, e o paciente tinha que relatar 
 
11 
 
espontaneamente tudo o que lhe vier à mente durante a sessão. Esse aspecto se 
manifesta tanto na expressão verbal (a escolha das palavras) quanto na forma como 
se expressa, de modo que a liberdade de expressão permite ao terapeuta acessar o 
conteúdo contido da dimensão inconsciente da mente. 
A transferência é um dos principais conceitos e focos da técnica psicanalítica, 
e reflete a situação onde ocorre os conflitos na terapia psicanalítica. Quando acontece 
uma encenação, pelo paciente, através da relação com o psicoterapeuta, considera-
se que no âmbito da análise está sendo expresso as formas mais primitivas de relação 
do paciente com seu passado, criando-se, assim, uma possibilidade para o 
surgimento das fantasias, desejos e impulsos emocionais que se encontram imergidos 
na psicoterapia, devendo ser compreendidos e analisados, pois manifestam o 
inconsciente do paciente, e a maneira como ele viveu até aquele momento 
(GABBARD, 2006) 
Na perspectiva de Freud (1966), a contratransferência se apresenta, por outro 
lado, como um conjunto de reações inconscientes do analista para com a pessoa do 
analisando e, mais especificamente, à transferência do sujeito em análise. Hoje, a 
contratransferência também é compreendida como uma dimensão de comunicação 
original entre o paciente e o terapeuta, podendo ser um potente instrumento a favor 
da transferência. Tanto a transferência quanto a contratransferência são conceitos 
que se estenderam até a atualidade e seus significados podem variar de acordo com 
cada escola psicanalítica, porém, eles indicam fenômenos que existem nas relações 
interpessoais e devem ser observados, especialmente nas relações de cuidado. 
O termo, atividade interpretativa, preconizado por Zimerman, em seu livro 
Manual de técnica psicanalítica: uma revisão (2008)), fornece um parâmetro 
importante para a compreensão da complexidade dos fenômenos da transferência e 
da contratransferência na relação psicanalítica. O autor sugere que mais do que um 
desmembramento analítico do conflito pulsional, o método da interpretação, em 
relação à transferência e à contratransferência, se dá pela construção de novos 
sentidos, significados e pela nomeação de padrões sedimentados de comportamento 
linguístico, bem como das novas e conflituosas experiências emocionais que podem 
surgir em análise (ZIMERMAN, 2004). É por meio dessa interpretação que se pode 
refazer conexões entre pensamentos, comportamentos ou sintomas e seus 
 
12 
 
significados inconscientes no contexto da relação instituída entre o paciente e o 
terapeuta através dos processos de transferência e contratransferência. 
O contexto da transferência e da contratransferência diz respeito às regras que 
permeiam o engajamento psicoterápico, no sentido de que abrange desde o número 
de sessões semanais, horários e custos até o uso de divindade ou locais presenciais, 
entre outros protocolos que buscam regular o processo psicoterápico. O próprio 
ambiente já constitui um importante fator terapêutico, permitindo que surja um espaço 
para projetar os aspectos inconscientes do paciente; e o terapeuta pode, com o 
paciente, construir a realidade terapêutica por meio de regras pactuadas de acordo 
com os processos de transferência e contratransferência. 
Esses aspectos técnicos existem nos diversos tipos de psicoterapia 
psicodinâmica, em um continuo que vai da psicoterapia de apoio à expressiva. No que 
tange à psicoterapia de apoio, ela se apresenta como enquanto um modelo eclético, 
certamente o mais usual tanto em instituições públicas como em consultórios privados 
(CORDIOLI et al., 2008). Ela é muito utilizada em situações de crise ou descompen-
sações temporárias, pois seu objetivo é restaurar ou reforçar as defesas do paciente 
em relação ao mundo e as hostilidades de um ambiente no qual ele está inserido, 
entendendo as determinações pelas quais ele entra em formas específicas de relação. 
Busca-se, portanto, integrar as capacidades que foram prejudicadas (CORDIOLI et 
al., 2008). 
A terapia expressiva, por outro lado, é aquela que utiliza de meios expressivos 
tais como pintura, música, literatura, entre outras, para colocar o paciente em um 
processo de significação e ressignificação da sua experiência, conforme situações de 
crise ou mesmo no âmbito de atividades e objetivos reparadores e preventivos. As 
terapias expressivas também são chamadas de terapias artísticase encontram suas 
primeiras formulações nos trabalhos de Jung (1875-1961). No Brasil, um dos casos 
fundamentais e fundadores desta abordagem, foi realizado pela psiquiatra e 
psicanalista Nize da Silveira (1905-1999), que utilizou dos trabalhos de Jung, mas em 
uma perspectiva inovadora, descrevendo sua abordagem prática e teórica da terapia 
artística e ocupacional em obras de grande importância tais como Imagens do 
inconsciente (1981), Casa das Palmeiras (1986), O mundo das imagens (1982), 
Terapêutica ocupacional: teoria e prática (s/d). 
 
13 
 
A terapia artística, ou psicoterapia expressiva, ou ainda arteterapia, na 
perspectiva de Jung e Nise, tem a função de mediar a produção e a expressão de 
símbolos do inconsciente através da atividade artística, contribuindo para ampliação 
da imagem e da compreensão que os pacientes têm seus conflitos e personalidade 
(CRUZ JUNIOR, 2015). Embora as questões teóricas e técnicas discutidas até agora 
tenham se concentrado na exposição psicoterapêutica individual, cabe destacar que 
essas dimensões também estão presentes em outras modalidades, como a terapia de 
grupo onde também se pode utilizar técnicas psicoterapias ocupacionais e artísticas. 
 
2.3 Espécies de psicoterapias psicodinâmicas 
 
Entre a vasta gama de técnicas psicoterapêuticas que trabalham com quadros 
psicodinâmicos, há um amplo espectro, desde o apoio/orientação à terapia 
expressiva, voltada para visão que pressupõe uma elaboração cuidadosa e 
reconstrução da personalidade. 
O termo psicanálise define tanto o arcabouço teórico para o desenvolvimento 
da psicoterapia psicodinâmica quanto uma modalidade específica de tratamento 
localizada como o maior representante da intervenção expressiva: a análise 
psicanalítica. 
Nos tópicos abaixo, serão expostos alguns modelos de psicoterapia 
psicodinâmica que se destacam. Importante relatar, que como ressaltado por Gabbard 
(2006), esses extremos são intercambiáveis no processo psicoterapêutico, segundo 
as demandas e tipos de pacientes, sendo, portanto, possível que em determinado 
momento, por exemplo, os pacientes que se iniciaram em uma forma terapia, precise 
se deslocar para uma outra abordagem (GABBARD, 2006) 
 
3.3 A psicoterapia de apoio 
 
De acordo com Fiorini (2013), a psicoterapia de apoio é projetada para reduzir 
a ansiedade em tempos de crise e reduzir ou até suprimir os sintomas. Segundo autor, 
 
14 
 
nesta abordagem, o terapeuta está em uma posição mais desenvolvida do contexto, 
exercendo uma postura mais instrutiva e tranquilizadora, visando não estimular 
vínculos que possam dificultar o diálogo entre terapeuta e paciente. A terapia é voltada 
para os aspectos conscientes e centrada nas dificuldades práticas do paciente 
(FIORINI, 2013) 
Além do limite de tempo fixado desde o início, a postura mais ativa do terapeuta 
se reflete na postura face a face que o paciente assume e em uma sessão de 
tratamento menos frequente, que pode ser semanal, quinzenal ou mesmo mensal, 
desenvolvida, normalmente, algumas semanas, mas podendo se estender por anos. 
3.4 A psicoterapia de orientação psicanalítica 
Assim como na análise psicanalítica, na psicoterapia de orientação 
psicanalítica, o objetivo é o alcance da visão, por meio do qual, o paciente terá a 
possibilidade de elaborar os conflitos inconscientes que estão na origem de seus 
sintomas; porém, na psicoterapia de orientação psicanalítica, busca-se um foco 
(relacionado à fonte da dor e motivação mudar), explicando que o trabalho muda a 
partir dele. Nessa modalidade de psicoterapia, o ambiente possuí algumas 
características que se assemelham à psicoterapia de apoio, como a posição face a 
face do paciente com o terapeuta. No entanto, são utilizadas mais sessões (uma a 
três sessões por semana) e o acompanhamento pode durar meses ou até anos 
(MONDRZAK, 2014.) 
Outra importante ferramenta da psicoterapia de orientação psicanalítica é o uso 
da transferência, e embora sua profundidade de exploração seja diferente daquela da 
análise psicanalítica, é a partir desse auge que a interpretação se orienta para o foco 
escolhido do trabalho psicoterapêutico. Nesta modalidade de psicoterapia, mesmo 
predominando o uso de técnicas como a validação empática, também se estimula à 
elaboração, esclarecimento, e a explicação. 
A análise psicanalítica é a principal representante do extremo "expressivo", e 
como um modo de tratamento difere entre os modos psicodinâmicos, especialmente 
do ponto de vista técnico, o eixo inicial não é necessário em primeiro lugar, devendo 
a psicoterapia, através do uso da divindade, estimular o paciente a associar um maior 
 
15 
 
retorno ao nível inconsciente e promover uma relação empática mais profunda. 
(MONDRZAK, 2014.) 
Facilitada por um ambiente psicanalítico, a projeção de conteúdos subliminares 
traz um melhor entendimento da realidade interna que vive o paciente, e facilita sua 
mudança psicológica. 
Na análise psicanalítica são utilizadas mais sessões durante a semana, três a 
cinco vezes, predominando as interpretações transferenciais, por meio das quais se 
busca uma elaboração do conflito primário. Este último, pode ser compreendido como 
as experiências iniciais essenciais na vida de um paciente (figuras parentais ou os 
substitutos deles) e que estabelecem seus padrões de relacionamentos, a habilidade 
de lidar com sentimentos, suas fantasias e a maneira de ver o mundo (EIZIRIK, 
HAUCK, 200). 
Até aqui tratamos das psicoterapias de caráter psicodinâmica, fundamentadas 
nas diversas manifestações da tradição psicanalítica. Na próxima sessão trataremos 
da terapia cognitivo-comportamental (TCC), uma abordagem muito presente no 
mundo contemporânea, sendo também uma das mais estudadas nos cursos de 
graduação em psicologia. 
4 A TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC) 
A abordagem cognitivo comportamental (TCC) se compreende como uma 
terapia baseada em evidências científicas e se baseia em indicadores que 
demonstram sua eficácia (NEUFELD e CARVALHO, 2017). A TCC integra conceitos 
das psicologias cognitivas e comportamentais e tem como principal finalidade 
compreender a função e a estrutura dos aspectos cognitivos, que seriam a capacidade 
dos indivíduos de atribuir significados as suas experiências e sua relação com a 
maneira como sujeito responde as situações vivenciadas. 
Ao longo do tempo, a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) expandiu seu 
desenvolvimento sobre os modelos conceituais e teóricos da tradição comportamental 
e cognitiva, com um objetivo de melhorar a compreensão do funcionamento 
psicológico humano e ampliar a eficácia dos tratamentos realizados. Atualmente, foi 
dividida a história da terapia cognitiva e comportamental em três momentos – 
 
16 
 
conhecidos também como "ondas", tendo com base nas formas de intervenção e 
conceitos desenvolvidos em cada um dos momentos. 
O primeiro momento ou primeira onda, se caracterizou-se por uma fusão de 
múltiplas modalidades de terapias comportamentais destinadas a excluir 
comportamentos e emoções inadequados, com base em princípios experimentais que 
antecederam a revolução cognitiva da década de 1960, trata-se do momento clássico 
em que a cientificidade era buscada em explicações de caráter fisiológico para 
conduta humana, ainda que o tema do comportamento estive no centro de todas as 
abordagens e teorizações e ela apresentasse também as bases para uma abordagem 
descritiva em psicologia. 
Com o surgimento dos modelos cognitivos, no final da década de 1950 e início 
de 1960, principalmente com as teorias de Aaron Beck (1921-2021) e Albert Ellis 
(1912-2007), surge a ‘segunda onda’, com um novo paradigma cognitivo e novas 
formas de intervenção clínica que hoje são chamadas especificamente de Terapia 
Comportamental Cognitivo (TCC). Portanto, a (TCC) atual é caracterizada por um 
conjunto de abordagens teóricas e intervenções clínicasbaseadas na lógica dos 
modelos cognitivos. 
A “terceira onda” retoma e transforma a perspectiva externalista da primeira 
onda, continuando a focar no modelo cognitivo oriunda da Terapia Cognitiva 
Comportamental (TCC) tal como ela se forma na segunda onda, mas passando do 
conteúdo para o contexto, para a compreensão e aceitação de sensações e 
sentimentos como elas se desdobram no ambiente, integrando tecnologias de 
diferentes abordagens para esse fim. 
É importante frisar que esta é uma história da composição das ondas norte-
americanas, apresentada várias vezes em publicações nacionais e internacionais, 
mas não é a única possível, ainda que seja extremamente didática e útil para 
compreender a formação desta abordagem. No Brasil temos uma "cronologia 
invertida", pois, nos Estados Unidos o surgimento da terceira onda foi necessária para 
popularizar a terapia focada no externalismo, enquanto no Brasil tal terapia 
representada pela Terapia Analítica Comportamental já estava em andamento desde 
a década de 1970 (LEONARDI, 2015) 
 
17 
 
Ademais, é importante destacar a ausência de superioridade entre os trabalhos 
e teorias desenvolvidos em cada um dos momentos que caracterizam o 
desenvolvimento da psicologia comportamental. A divisão entre elas, atualmente está 
mais vinculada a uma organização didática e histórica das ideias, como já frisamos. 
 
O primeiro momento da abordagem comportamental (A primeira onda) 
 
O termo Terapia Comportamental foi introduzido por pelo menos três grupos de 
pesquisa diferentes. Lindsley, Skinner e Solomon (1953), utilizaram esse termo pela 
primeira vez nos Estados Unidos, para se referir a uma intervenção baseada no 
condicionamento operante realizada em psicopatas hospitalizados para reduzir suas 
alucinações. Em 1959, Hans Eysenck (1916-1997) na Inglaterra propôs uma nova 
modalidade de tratamento caracterizada pela aplicação da teoria da aprendizagem ao 
tratamento de distúrbios psicológicos através do uso de condicionamento e 
modelagem operante e clássico. E por fim, Richard Lazarus (1922-2002) desvendou 
o termo em 1958 para se referir à incorporação de procedimentos laboratoriais 
objetivos à psicoterapia, tratando a terapia comportamental como parte do 
procedimento característico de suas propostas de intervenção, conhecido como 
Terapia Multimodal (FRANKS,1996) 
Mesmo com a existência de diversas intervenções abarcadas pelo termo 
Terapia Comportamental durante a primeira onda, é comum encontrar algumas 
características compartilhadas por estas propostas. Seu principal objetivo é eliminar 
respostas indesejadas e emocionais que são julgadas inadequadas pela tecnologia, 
elas se baseiam, portanto, em uma concepção de relação de estímulo-resposta entre 
meio e organismo. Além disso, esse grupo de terapias caracteriza-se pelo rigor 
experimental, o que, segundo alguns autores, limita o estudo de problemas humanos 
menos objetivos e relegados a tradições menos empíricas, mas que, por outro lado, 
torna possível a inserção da psicologia em campos amplos da pesquisa experimental 
(BARBOSA, 2006) 
Uma das origens do modelo comportamental se encontra no final do século 
XIX, quando o trabalho de fisiologista russo Pavlov (1849-1946) que estudava a 
digestão em cães, descrevendo um processo que veio a ser conhecido como teoria 
 
18 
 
do condicionamento clássico (ocorre mediante a associação de um estímulo inicial) 
ou respondente. O condicionamento, tratado por Pavlov em muitos de seus trabalhos, 
é o processo de eliciar, na forma de ser de um organismo, uma resposta 
topologicamente similar a um estímulo previamente neutro em resposta a um reflexo 
específico que, após várias apresentações semelhantes, torna-se um estímulo 
incondicionado para aquela resposta. 
Outros trabalhos, como os de Watson e Mary Cover Jones, Skinner também 
foram necessários para o desenvolvimento de intervenções conhecidas como Terapia 
Comportamental e para torná-la uma modalidade de psicoterapia. A obra de Watson 
deu origem ao chamado behaviorismo metodológico, que surge em oposição às 
propostas psicológicas de caráter introspeccionista e propõe o estudo do 
comportamento observável por meio de métodos científicos experimentais para prevê-
lo e controlá-lo. Desta perspectiva, entende-se, que a introspecção fora abandonada 
como método de abordagem da subjetividade, e o aspecto subjetivo não faz mais 
parte da ciência do comportamento, ou psicologia, porque ainda não há uma maneira 
confiável de abordar a experiência interior, isto é, a estrutura descritiva e fenomenal 
dos eventos psíquicos. O behaviorismo de Watson não é isento a constatação da 
esfera psíquica, ele simplesmente propõe deixar de lado os aspectos internos até que 
a ciência possa efetivamente acessá-los (COSTA, 2002) 
Muitas das técnicas responsivas usadas pelos principais terapeutas vieram não 
apenas das ideias de Pavlov e Watson, mas também do neobehaviorista (1930), que 
é uma escola de pensamento que propõe que o estudo da aprendizagem através do 
foco em métodos observacionais e descritivos. Trata-se, de uma tendência, que 
também enfatiza o papel do ambiente no processo de aprendizagem e a importância 
dos métodos de controle do comportamento e tarefas como base do processo 
psicoterápico. Exemplos desta última dimensão são dessensibilização sistêmica, 
exposição ao vivo/imaginada e a exposição de prevenção de respostas (WOLPE, 
1973) 
A proposta de Skinner, denominada Behaviorismo Radical, introduziu como 
inovação as ideias do monismo materialista e construção social do mundo subjetivo. 
O conceito de comportamento operante refere-se ao que um organismo faz, ou seja, 
seu comportamento, que tem impacto no mundo ao seu redor e tem efeito 
 
19 
 
retrospectivo sobre o organismo, alterando a probabilidade de que o comportamento 
ocorra novamente. As consequências de reforço são aquelas consequências que 
aumentam a probabilidade de sua ocorrência futura após uma resposta. Uma 
consequência punitiva é aquela que tem o efeito direto de suprimir a resposta, além 
dos efeitos colaterais. Segundo Skinner, é o comportamento do tipo operante que dá 
origem à maioria dos problemas humanos. Um exemplo típico, no contexto da terapia, 
é o chamado capricho infantil. Este é um comportamento operante que aumenta em 
frequência quando uma consequência reforçadora (como atenção) está presente. 
Outro exemplo é a resposta de evitar do medo, na qual os pacientes aliviam os 
sintomas de ansiedade evitando situações que o causam (por exemplo, lugares 
fechados e lotados) (SKINNER, 1953/1970). 
A extinção, outro conceito desenvolvido por Skinner (1953/1970), envolve 
pausar o reforço produzido pela resposta eliciada, ou quebrar a relação contingente 
entre a resposta e a consequência, fazendo com que a frequência da resposta retorne 
ao seu nível operacional. Este conceito é amplamente utilizado em clínicas 
comportamentais para reduzir comportamentos indesejados. No caso da birra de uma 
criança, essa resposta pode ser eliminada desfazendo as consequências de reforço 
após a ocorrência da reação de birra. 
Além de uma redução na frequência das respostas, esse processo leva a fortes 
respostas emocionais, o que levou recentemente os clínicos a usá-lo. (ABREU, 2004) 
No início da década de 1970, as práticas comportamentais foram muito 
questionadas por serem consideradas muito rígidas. Essa situação acabou levando a 
tentativas de adicionar componentes cognitivos às tecnologias existentes, o que levou 
ao surgimento de abordagens cognitivas. No âmbito desta abordagem, a pesquisa 
sobre aprendizagem social enfatiza a mudança de comportamento dos indivíduos por 
meio da interação e observação com os outros. Para Skinner (1953/1970), a 
aprendizagem pode ocorrer através da exposição do indivíduo a contingências sociais 
(vínculo de dependência entre variáveis do organismo e do ambiente social), comotambém, sem que o indivíduo tenha sido diretamente exposto às situações, ou seja, 
indiretamente, por meio da observação das contingências às quais outros indivíduos 
foram expostos. Segundo ele, a maioria dos comportamentos humanos é aprendido 
observando os outros, um processo chamado de modelagem (SKINNER, 1953/1970). 
 
20 
 
Após os importantes trabalhos de Antonio Bandura (1977) e os avanços do 
estudo dos processos cognitivos posto por suas investigações, trouxe aspectos novos 
que passaram a ser utilizados pelas abordagens cognitivas-comportamentais, abrindo 
espaço para o que foi chamado de segunda onda. 
 
O segundo momento da psicologia comportamental ( A segunda onda) - TCC 
 
A segunda onda da Terapia Cognitiva Comportamental (TCC ) surgiu com 
modelos cognitivos. Os modelos cognitivos propõem que os transtornos psicológicos 
surgem de uma forma distorcida/disfuncional de perceber a si mesmo, aos outros, ao 
mundo e ao futuro, conhecida como (tríade cognitiva). Nesse sentido, essas 
distorções da mente afetam e são influenciadas pelo humor e comportamento. 
As abordagens da segunda onda podem ser divididas em racionalistas e 
construtivistas. A abordagem racionalista pressupõe ideias sobre emoções. Assim, a 
atividade cognitiva desencadeia respostas emocionais, fisiológicas e 
comportamentais subjacentes. A abordagem construtivista enfatiza o papel da 
emoção nas atividades cognitivas (BECK, 1997). Ambas as abordagens são 
consideradas abordagens de terapia cognitiva, pois se baseiam no conceito da 
interação entre razão e emoção. 
Alguns principais autores da segunda onda, são Albert Ellis, teórico da Terapia 
Racional Emotivo-Comportamental; Aaron Beck, autor da Terapia Cognitiva; e Michael 
Mahoney, autor da Terapia Cognitiva construtivista. Os métodos de Baker e Ellis são 
considerados métodos racionalistas porque visam reformular padrões de pensamento 
disfuncionais responsáveis por mudanças de humor e comportamento (BROWN, 
2011). Por outro lado, a abordagem Construtivista de Mahoney prioriza as emoções 
como ponto central do entendimento do funcionamento mental (ABREU; VALLE; 
ROSO, 2001) 
Na segunda onda da Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), o foco será na 
terapia cognitiva (TC), por ser a mais estudada e ter o maior número de opções de 
tratamento testadas e validadas. A Terapia cognitiva (TC) é uma prática de 
psicoterapia baseada em evidências desenvolvida por Aaron T. Beck, originalmente 
 
21 
 
desenvolvida para tratar a depressão. Dentre os pressupostos básicos da terapia 
cognitiva (TC) tem-se que: 
 a) a cognição afeta as emoções e comportamentos; 
 b) a atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada; e 
 c) alterando as cognições pode-se modificar as emoções e comportamentos 
subjacentes (BECK, 1997) 
Conforme a abordagem cognitiva e comportamental, não são os fatos, mas a 
interpretação dos fatos que causa as patologias e o sofrimento da pessoa humana. 
Entende-se, assim, que é a maneira como vivenciamos os eventos que nos rodeiam 
e se expressam na forma de pensamento automático (PA) que levam a 
comportamentos que podem causar sofrimento. 
Nesse caso, o entendimento de como se dá o pensamento automático é 
importante nos avanços do cliente, pois possibilita o reconhecimento de sua situação 
e, enquanto suporte para uma compreensão de sua vida comportamental e cognitiva, 
fomenta estratégias capazes de se desdobrar em comportamentos que possam 
substituir ou neutralizar comportamentos disfuncionais. 
O pensamento Automático (PA), de caráter disfuncional, é comum em vários 
fenômenos psicopatológicos, os quais se apresentam carregados de distorções 
cognitivas que podem ser resumidas da seguinte maneira: 
 
➢ Prospectivo preditivo: o cliente em seu sofrimento tende de antecipar o futuro, 
considerando que naturalmente, todo futuro possível será sempre terrível e 
insuportável. Ele, nesse caso, é orientado, por uma crença de que a realidade 
só pode ser uma coisa má e ruim, a qual ele está destinado como ser sofredor 
e impotente. 
➢ Desqualificando: nestes momentos, o paciente é tomado por atitudes e 
palavras a partir das quais ele desqualifica e desvaloriza experiências e 
eventos com caráter positivo, insistindo que eles não são importantes no 
conjunto de sua vida. 
➢ Leitura de mente (O cliente apresenta-se quase sempre tomado pela ideia de 
que consegue vivenciar diretamente os pensamentos das pessoas, enquanto 
 
22 
 
esses pensamentos ou intenções de outro, o visam constantemente; ele se vê 
carregado por essa crença sem ter evidência nenhuma (BECK, 1997) 
 
A origem do Pensamento Automático (PA) está nas crenças centrais do 
indivíduo. Essas crenças constituem os padrões mais profundos da estrutura 
cognitiva, consistindo em ideias rígidas e globais sobre si mesmo, os outros, o mundo 
e o futuro. Essas crenças se desenvolvem na infância como tentativas de organizar o 
mundo interno e externo. Quando essas crenças são formadas a partir de experiências 
favoráveis, os indivíduos desenvolvem conceitos positivos sobre si mesmos, tais 
como: “eu sou capaz”, “eu sou adequado”. Caso contrário, serão desenvolvidas 
crenças negativas, tais como: “sou incompetente”, “não sou amável”. Tais crenças 
permanecem convincentes na idade adulta, mesmo após novas experiências que 
desafiam as crenças centrais. Eles influenciam como os indivíduos interagem com o 
mundo, levando-os a escolher detalhes sobre o ambiente e lembrar de dados 
relevantes que possam confirmar as crenças pelas quais eles ordenam seu mundo e 
também seu sofrimento. 
Iniciando com as crenças centrais, outras categorias de crenças 
chamadas intermediárias (também chamadas de condicionais ou crenças de regras) 
são desenvolvidas. Essa categoria intermediária não se apesenta diretamente 
relacionada à situação e geralmente se expressa na forma de suposições do tipo 
“se… então…” ou regras de “deve” ou “deveria”. Elas se revelam também como 
estratégias compensatórias, atitudes por meio dos quais o indivíduo imagina que suas 
crenças centrais negativas serão encobertas ou não se manifestarão. Por exemplo, 
se uma pessoa com a crença central ‘eu sou incompetente’ ativada e associada à 
crença intermediária ‘se eu sou incompetente então tenho que me empenhar ao 
máximo’, pode engajar-se em tarefas extremamente difíceis (estratégia 
compensatória) para encobrir a crença central ‘sou incompetente’. 
As crenças intermediárias refletem ideias ou entendimentos mais resistentes 
à mudança que os pensamentos automáticos (BECK, 1997) 
Segundo a Terapia cognitivo (TC), as distorções cognitivas não são o único 
fator associado aos transtornos mentais. Outros fatores como suscetibilidade 
 
23 
 
genética, alterações bioquímicas e conflito interpessoal também estão associados aos 
transtornos mentais e as distorções cognitivas podem agravá-los ou mantê-los. 
 
O terceiro momento da TCC 
 
A abordagem da terceira onda foi desenvolvida no início da década de 1990, 
quando analistas comportamentais norte-americanos propuseram um modelo de 
tratamento baseado em análise comportamental para se diferenciar dos terapeutas 
comportamentais ecléticos, resultando na clínical behavior analysis (HAYES, 2004). 
Surgiu, assim, um abordagem voltada a valorização do caráter externo próprio as 
dimensões comportamentais, preocupada com a modulação das emoções e dos 
processos cognitivos tais como eles se desdobram em práticas e condutas. 
As Terapias Comportamentais Cognitivas (TCCs), ao aceitá-las, ao invés de 
modificar ideias acerca dos fenômenos comportamentais e de sentimento/cognição, 
que são características da primeira e segunda ondas, respectivamente, passaram, 
ainda mais, a enfatizar a relação entre os indivíduos e seu meio, mediando o mundo 
psicológico pela sua aparição nas formas de comportamento, baseando-se na ideia 
de que os pensamentos não devem controlar diretamentea ação, mas sim os valores 
pelos quais indivíduos orientam suas condutas (VANDENBERGHE, 2006) 
Outra característica marcante da terceira onda é a utilização de diferentes 
conceitos e tecnologias na prática terapêutica. A maioria desses métodos compartilha 
os pressupostos dos métodos cognitivos ou comportamentais tradicionais, mas é uma 
tendência da terceira se apropriar de princípios práticos e teóricos oriundos de outras 
abordagens, perspectivados, obviamente, de acordo com as bases epistemológicos 
que orientam a abordagem comportamental e cognitiva. Assim, é possível, em uma 
abordagem TCC, utilizar-se de mindfulness, técnicas de Gestalt terapia, princípios de 
terapia aceitação e até da psicanálise. Alguns exemplos desses modelos integrativos 
são: 
 
➢ Terapia de Aceitação e Compromisso, 
➢ Psicoterapia, 
➢ Analítica Funcional, 
 
24 
 
➢ Terapia do Esquema, 
➢ Terapia Comportamental Dialética, e 
➢ Terapia Cognitiva Processual 
 
A Terapia Comportamental Cognitiva(TCC), em muitos casos, pode se dar 
como uma intervenção psicoterapêutica breve , utilizando-se de 10 a 25 sessões, 
que se concentram em abordar a demanda atual do cliente. Em casos específicos, 
como certos transtornos de personalidade, a duração do processo de tratamento pode 
ser estendida de dois a três anos, já que são colocadas demandas mais complexas 
que necessitam de um aprofundamento maior na história pessoal e cognitiva do 
cliente (BECK, 1977) 
Em suas ações de intervençao, ao adotar a abordagem cognitiva e 
comportamento, o psicológo desenvovolve uma prática colaborativa e psicoeducativa 
com seu ciliente. O terapeuta se esforça, assim, para ensinar ao cliente modelos 
cognitivos a partir dos quais ela possa entender sua maneira de acessar e 
compreender o mundo , como também a estrutra dos seus sintomas, avaliando 
também, junto com terapeuta, o curso do tratamento e a prevenção de recaídas 
conforme as demandas apresentadas. Além disso, com objetivo de abreviar os efeitos 
do tratamento, são usadas tarefas em casa, que se dão na forma de experimentos e 
exercícios. As sessões de psicoterapia possuem, nesta abordgem, uma estrutura em 
que o cliente participa de sua construção. Na estrutura das sessões alguns objetivos 
e estratpegias são colocadas como base de todo processo terapeútico. Elas são: 
a) avaliação do humor, ou seja, como o paciente sente-se naquele dia e 
semana anterior; 
 b) discussão da agenda para a sessão, isto é, organziação dos assuntos e 
problemas a serem conversados na sessão do dia; 
c) feedback da sessão anterior, investigando se a sessão anterior ajudou o 
paciente; 
d) revisão da tarefa de casa, buscando reconhecer e sanar as dificuldades e 
aprendizados com a tarefa de casa; 
 
25 
 
e) discussão dos itens da agenda e planejamento de nova tarefa de casa (o 
cliente elabora ativamente sua tarefa de casa baseando-se nos assuntos tratados na 
sessão); 
f) resumo da sessão e feedback (no início do tratamento o terapeuta faz o 
resumo da sessão, posteriormente o cliente faz o resumo). A estruturação da 
sessão visa o aprendizado do cliente na forma da terapia em que esta envolvido e a 
otimização do tempo da sessão (BECK, 1997) 
O cliente, portanto, no decorrer das sessões, é treinado para reconhecer e 
registrar o que acontece com suas emoções, pensamentos e comportamentos 
disfuncionais, começando assim a desenvolver suas conceituações cognitivas. Neste 
percurso, outras técnicas cognitivas podem ser utilizadas. Algumas delas são as 
seguintes: 
 
➢ Questionamento socrático, 
➢ Descatastrofização, 
➢ Significado idiossincrático, 
➢ Avaliação de vantagens e desvantagens, 
➢ Reatribuição, 
➢ Identificação de distorções cognitivas, 
➢ Registro diário de pensamento disfuncional, 
➢ Continuum cognitivo, 
➢ Cartões de enfrentamento, 
➢ Seta descendente, 
➢ Resolução de problemas e tomada de decisão, etc. 
 
Dentre as técnicas utilizadas no ambito terapia comportamental, podemos 
destacar ainda, o treino de respiração diafragmática e o treino de relaxamento, 
exposição (in vivo e cognitiva; gradual ou inundação), intenção paradoxal, distração, 
exposição e prevenção de resposta, reversão de hábito, modelação, modelagem, role-
play, ensaio comportamental e treino de habilidades sociais. 
 
26 
 
4.1 Quando o TCC é indicado 
Originalmente, a Terapia Comportamental Cognitiva(TCC) foi desenvolvida 
para tratar a depressão. Atualmente existem vários estudos mostrando que ela atua 
positivamente em diferentes tipos de transtornos mentais como: 
 
➢ Transtornos de caráter depressivo, 
➢ Transtorno de ansiedade generalizada, 
➢ Transtorno de ansiedade social, 
➢ Transtorno do pânico, 
➢ Tabagismo, 
➢ Transtorno obsessivo-compulsivo, 
➢ Fobias específicas, 
➢ Transtornos alimentares, 
➢ Disfunção sexual, 
➢ Esquizofrenia, 
➢ Personalidade desordens, 
➢ Problemas de relacionamento interpessoal 
 
Por se tratar de uma abordagem que defende a participação ativa do paciente, 
pressupõe-se que ela possa provocar alta motivação, treinando o paciente, para o 
desenvolvimento de razóaveis habilidades antiansiedade, o que se torna possível 
quando se consegue uma boa aliança terapêutica. 
Por outro lado, a Terapia Comportamental Cognitiva(TCC) é contraindicada em 
pacientes com alta ansiedade, dificuldade de vínculo, falta de motivação, psicose 
aguda e deficiência mental grave (nestes casos, é necessário ajuste da técnica) 
(RANGÉ; BORBA, 2008). 
4.2 Psicoterapia de grupo 
O interesse pela pesquisa em psicoterapia comportamental e de grupo remonta 
ao século XX, onde se destacou as contribuições de Bion (1975) e Freud (2011), entre 
 
27 
 
outros, baseando-se sobre o entendimento da influência dos fenômenos 
sociais/grupais na composição do sujeito e sua singularidade subjetiva. 
Os primeiros relatos do uso da psicoterapia de grupo ocorreram nos Estados 
Unidos no início de 1900, com as experiências de Lazel e Marsh. Em 1908, o médico 
americano Joseph Platt (atualmente considerado um pioneiro da psicoterapia de 
grupo) usou esses grupos para tratar pacientes com tuberculose por razões 
econômicas e práticas. 
Duas vezes por semana, ele realizava reuniões com cerca de 20 a 30 pacientes 
para discutir aspectos de saúde e condições de vida (por meio de aconselhamento, 
orientação e apoio), e tem observado melhorias significativas nessas áreas, 
principalmente pelo reconhecimento do paciente de que não tem uma experiência 
única, e, portanto, pode compartilhar e acolher (BECHELLI, 2004) 
 Lazell publicou um artigo na Psychoanalytic Reviews em 1921 intitulado "The 
Collective Therapy of Early-Onset Dementia", relatando que ele estava gerenciando 
um grupo de pacientes com demência (agora conhecido como esquizofrenia) em 
pacientes internados, onde diferentes tópicos são discutidos com métodos 
psicanalíticos. Ele destaca que a participação do paciente em grupos é benéfica para 
o avanço do tratamento da doença. 
Marsh (1935), se apropriando destas experiências prévias, iniciou uma 
atividade de grupo com pacientes psicóticos internados, reunindo cerca de 200 a 400 
deles, três vezes por semana com o objetivo de integrar a mente, a emoção e a 
atividade motora. Posteriormente estendeu este tipo de trabalho aos familiares dos 
pacientes, trazendo esta contribuição inovadora (BECHELLI, 2004) 
Com o tempo, a prática foi adotada por outros psiquiatras para o tratamento de 
pacientes internados hospitais e, posteriormente, também ambulatórios. Ressaltando 
a enorme expansão desta modalidade de tratamento durante e após a Segunda 
Guerra Mundial, principalmente no âmbito do que foi se convencionou chamar de 
traumas guerras. Semelhante ao que acontece na psicoterapia individual, as 
psicoterapias de grupo são realizadas por meio de diferentes abordagens teóricas e 
técnicas, e com diversos objetivos, entre eles: 
 
➢ Alívio desintomas, 
 
28 
 
➢ Informação, 
➢ Autoajuda, 
➢ Reestabelecimento do funcionamento psicossocial (intervenção em crise), 
➢ Acolhimento, 
➢ Treinamento de habilidades sociais e manejo de situações/ doenças médicas 
específicas (CORDIOLI, 2008). 
 
Do ponto de vista técnico, os grupos podem ser fechados ou abertos (número 
fixo ou não fixo de membros), homogêneos ou heterogêneos (em termos de queixas, 
características clínicas e sociodemográficas, etc.), com ou sem duração 
predeterminada. O número e frequência de visitantes (diários, mensais) variam. A 
escolha de qualquer uma dessas especificidades está diretamente relacionada aos 
objetivos terapêuticos do grupo e às características da população-alvo (MELLO, 2000) 
Os grupos terapêuticos são vistos como um contexto privilegiado para o 
aprendizado do relacionamento humano. Segundo Bechelli e Santos, os grupos 
“facilitam a identificação, a revelação de particularidades e intimidades, o oferecimento 
de apoio ao semelhante, o desenvolvimento de um objetivo comum, e a resolução das 
dificuldades e dos desafios que se assemelham” (BECHELLI, SANTOS, 2004, p.6). 
Nesse sentido, os grupos apresentam fatores terapêuticos específicos e únicos 
conforme apontado brilhantemente na obra de Vinogradov e Yalon, intitulada Manual 
de Psicoterapia de Grupo (1991). Estes autores destacaram a presença de 10 fatores 
terapêuticos grupais, tais a seguir; 
 
➢ Instilação de esperança, 
➢ Universalidade, 
➢ Oferecimento de informação, 
➢ Altruísmo, 
➢ Desenvolvimento de técnicas de socialização, 
➢ Comportamento imitativo, 
➢ Catarse, 
➢ Reedição corretiva do grupo primário, 
➢ Fatores existenciais, 
 
29 
 
➢ Coesão e aprendizagem interpessoal (VINOGRADOV S; YALON ID 
VINOGRADOV , 1992). 
 
Inúmeros estudos também demonstraram a eficácia da psicoterapia de grupo, 
cuja aplicação consolida o espaço terapêutico, principalmente para 
sintomas/transtornos mentais como terapia primária ou adjuvante. Destacam-se 
também os fatores econômicos associados à implantação desta modalidade de 
tratamento, onde a relação custo/benefício é quase sempre favorável. 
5 TERAPIA EXISTENCIAL/HUMANISTA (CENTRADA NA PESSOA E A 
PSICOTERAPIA BREVE) 
Na década de 1950, também como alternativa à psicanálise, surgiu uma técnica 
centrada na pessoa, que focava em aspectos não específicos da psicoterapia, como 
a pessoa do terapeuta, a empatia, o calor humano e a autenticidade, trata-se de uma 
tendência e uma abordagem representada e desenvolvida por Carl Rogers (1902- 
1987). 
Enquanto isso, Viktor Frankl (2005) propôs uma forma de psicoterapia 
humanista existencialista inspirada no existencialismo, enfatizando o valor da 
liberdade de escolha. Frankl, que foi mantido em um campo de concentração durante 
a Segunda Guerra Mundial, estabeleceu que o objetivo de sua psicoterapia 
(logoterapia) era descobrir o sentido da vida, argumentando que mesmo nas 
condições mais adversas, devemos encontrar motivos para satisfação pessoal. 
Para ele, o desespero e o suicídio se constituem como alternativas para quem 
não consegue encontrar sentido na vida. Frankl se opôs a Sartre, que acreditava que 
a vida era absurda e deveria ser suportada heroicamente. Em uma entrevista, 
concedida a Revista Manchete, em 1984, o próprio Frankl (1997) explicou os 
princípios de sua abordagem, tornando-se no Brasil um autor conhecido pelo grande 
público. 
Apesar de seu apelo do ponto de vista filosófico, a psicoterapia existencial e 
centrada na pessoa teve pouco sucesso como uma abordagem eficaz, tanto no Brasil 
quanto na sociedade norte-americana, ainda que atualmente seja uma tendência que 
 
30 
 
se mescla a muitas outras e transforma o cenário de aplicação e estudo da psicologia 
e do comportamento humano. Por exemplo, a terapia de "terceira onda", conhecida 
como terapia cognitivo-comportamental, passou a utilizar em seu vocabulário muitos 
conceitos que buscam descrever a singularidade do sujeito, o que é um impacto da 
psicologia existencial nos postulados das correntes que se autodenominam como 
científicas. Além disso, essa abordagem, abriu espaço para considerações sobre o 
que se chama atualmente de psicoterapia breve, na qual muitas abordagens podem 
ser utilizadas, mas volta para a vida concreta do sujeito, algo que se herda da 
psicologia humanista/existencial. 
5.1 Psicoterapia breve 
 
Fonte: https:google.com 
 
Segundo Gilliéron (1986), a psicoterapia breve é aquela que se baseia e se 
define pela possibilidade de realização de um satisfatório processo de psicoterapia. 
Através de uma intervenção ativa de focalização e de modo igualmente favorável. 
Nessa perspectiva são considerados três aspectos: 
 (a) é possível desenvovler uma psicoterapia breve através de um método mais 
diretivo; 
(b) é possivel realizar terapia breve em qualquer abordagem teórica: 
psicanalítica, junguiana, rogeriana, behaviorista, entre outras, mas adotando um 
 
31 
 
aspecto diretivo e considerando as relaçoes dialéticas existentes em qualquer 
situação humana. 
c) o que caracteriza a psicoterapia breve é o manejo técnico do enquadre 
psicológico. 
Uma das metodologias, atualmente, muito utilizadas, nesse tipo de terapia, é 
a neurolinguística, que apesar ter sido concebida por dois pesquisadores, sendo, um 
deles, psicólogo, não é considerada um método ou prática de intervenção psicológica 
pelos Conselhos Federal e Regional de cada Estado no Brasil; tendo, assumido, 
apesar de sua utilização por muitos profissionais da psicologia, o caráter de ‘prática 
charlatã', próxima aos manuais de auto-ajuda onde muitas vezes é descrita e 
celebrada. 
Enquanto campo de investigação, a neurolinguística propõe se tratar de uma 
área de conhecimento que partilha da descoberta da neurociência com a linguística, 
dando como base metodológica a ideia de que o comportamento pode ser modificado 
e a treinado pelo condicionamento do pensamento através da fala e do discurso. Seu 
objetivo prático é a intervenção terapêutica e preventiva no intuito de aprimorar o bem-
estar das pessoas, conforme a utilização de práticas que devem ser adotadas pelos 
clientes como exercícios, o que pode resultar em ganhos em poucos meses, quando 
identificada a situação que o cliente visa superar. 
No entanto, geralmente, de fato, a neurolinguística se tornou uma ciência do 
“aprendizado do sucesso”. Ou seja, baseia-se em uma concepção de “sucesso” e 
procura estudar quais as variáveis envolvidas no alcance do que na sociedade atual 
se entende como ‘ser humano bem sucedido’. Por isso, ela busca desenvolver através 
de sua base ‘linguística’ e ‘neurológica’, as mais diferentes áreas da vida pessoal, 
prometendo por suas técnicas a superação de problemas que em outras abordagens 
são visualizados de modo muito mais sério e grave. 
A técnica empregada pela neurolinguística representa, portanto, o estudo da 
vida daquela pessoas consideradas, de acordo com um conjunto de critérios, como 
bem-sucedidas na vida (como eficiência em acumular bens materiais, desenvolver-se 
bem nas relações afetivas, desenvolver-se espiritualmente, cultivar pensamentos 
positivos, dentre outros). O conceito de eficiência é indispensável nessa atuação, a 
partir do qual ela replica em seu inteiror valores de um mundo adminsitrado, 
 
32 
 
controlado, nos quais o corpo e a mente devem ser disciplinados tendo em vista 
adptação e felicidade, concebendo a felicidade como isso que se identifica 
diretamente com os valores do consumo próprios a uma sociedade burguesa e 
capitalista. 
A importância de descrever sucintamente sobre a neurolinguística, se dá 
porque essa ciência ou pseudociência tem se apresentado com 
tamanha popularidade atualmente e sendo compreendida como uma forma de 
trabalhar para alcançar resultados satisfatórios rapidamente, participando, assim, do 
campo do quese chama psicoterapia breve, que pode em muitos casos, estar próxima 
de uma auto-ajuda do que de uma intervenção psicológica de alcance duradouro. O 
foco da neurolinguística é ajudar as pessoas a resolver de forma rápida e prática até 
mesmo problemas graves e melhorar suas vidas. 
Avaliando a técnica executada pela neurolinguística para alcançar resultados 
rápidos, identifica-se o seguinte: geralmente, as atividades de neurolinguística 
abarcam em entrevistas individuais, palestras motivacionais e exercícios de 
condicionamento (assemelhados com as técnicas de condicionamento operante), com 
a finalidade de promover no “paciente/cliente” uma categoria satisfatória de 
pensamento positivo 
A concepção é a de reformular os pensamentos por meio de comandos verbais 
altamente instrutivos, de modo que o paciente/cliente pare de realizar pensamentos 
negativos e inicie (apenas) pensamentos positivos. 
As práticas de intervenção neurolinguísticas operam com o conceito de 
inconsciente, compreendido como uma dimensão psicológica onde elaborações 
psíquicas para o sucesso ou o fracasso podem se estabelecer, obtendo resultados 
funcionais ou disfuncionais acerca do comportamento do indivíduo respectivamente. 
Os resultados obtidos pela neurolinguística são “quase imediatos” por meio de 
atividades fortemente instrutivas fundamentadas na conjectura ideológica do sujeito: 
sempre pensar positivo, desenvolver a “inteligência emocional”, dissociar os 
preconceitos e culpabilização contra o sucesso, etc. 
A neurolinguística tem sido muito criticada por ser considerada como 
“pseudociência” que cultiva uma ideologia imediatista e uma enaltação do sucesso, 
baseada no sentido neoliberal, advindo da classe burguesa dos países desenvolvidos 
 
33 
 
Portanto, este é um assunto que basicamente não estimula a reflexão ou a 
consciência social (mesmo ineficaz) e, do ponto de vista da psicologia), e em termos 
psicológicos, não atinge a essência da psique, mas tem tido grande alcance popular 
e adesão por psicoterapeutas das mais diversas tendências. 
 Por outro lado, não podemos esquecer, que intervenções em que se usa 
apenas a neurolinguística, para tentar resolver problemas e melhorar a qualidade de 
vida das pessoas, alcançam resultados muito superficiais e de curta duração (mesmo 
que esta seja uma maneira rápida e prática para as neurolinguísticas justificarem suas 
ações). 
Na verdade, os indivíduos podem repentinamente se sentir estimulados pelo 
pensamento positivo e podem obter algumas melhorias muito rápidas em seus 
padrões de vida. No entanto, se o processo de autoconhecimento não for 
desenvolvido, os resultados não se estabilizarão, por exemplo, durante o processo 
terapêutico, porque as variáveis subjacentes que causam sintomas exposto do 
paciente / cliente ainda não foram submetidos a qualquer intervenção ou construção. 
É necessário salientar que o uso especializado, sistemático e extenso de 
técnicas instrucionais não é o melhor método para buscar abreviar o tempo de 
tratamento de qualquer tipo de intervenção, incluindo principalmente um procedimento 
psicoterapêutico. Pelo motivo que, métodos ostensivamente instrutivos, certamente, 
só alcançarão resultados superficiais e não duradouros, e ainda por cima, podem 
superar ao livre-arbítrio do paciente, desconsiderando a liberdade na individualidade 
como conjetura básica de todo processo psicoterapêutico, motivo pelo qual Freud e 
Jung deixaram de lado a hipnose, enquanto técnica de intervenção psicoterápica. De 
acordo com Jung, o tratamento por sugestão (hipnose,) não foi abandonado 
levianamente, mas porque os seus resultados eram insatisfatórios. Na verdade, a sua 
aplicação era razoavelmente fácil e prática; possibilitava, por exemplo, que um clínico 
desenvolto tratasse de vários pacientes ao mesmo tempo, aparentando ser o começo 
oportuno de uma metodologia verdadeiramente válida. 
Entretanto, resultados verídicos de cura eram tão dispersos e transitórios, que 
nem mesmo a promessa de possibilidades de tratamento que podem ser aplicadas ao 
público ao mesmo tempo possibilitou salvar o tratamento por sugestão. Caso 
contrário, os clínicos e os fundos de previdência fariam o possível para manter essa 
 
34 
 
abordagem, muito embora tenha sido abandonado devido a sua própria carência em 
relação a constância dos sintomas dos pacientes. 
 Vale ressaltar que, não se fala aqui somente da hipnose, mas de toda técnica 
sugestiva ou diretiva, quando aplicada de maneira exclusiva. Em contrapartida, 
alguns pesquisadores insistiram em estudar o uso e o aprimoramento da tecnologia 
da hipnose sem fazer dos comentários de Jung a última palavra e, eventualmente, 
formaram vários métodos de desenvolvimento e evolução, que foram estabelecidos 
na psicologia moderna, firmados numa posição sólida, ainda que controversa. 
 A exemplo, a escola Eriksson que é uma escola privada, que se tornou uma 
das escolas mais notórias no campo das hipnoses. Normalmente, a hipnose é 
caracterizada por utilizar de técnicas de relaxamento, que variam da simples 
introspecção a imersão em um “estado alterado de consciência” ou de “transe 
hipnótico”, que possibilita investigar mais diretamente níveis mais profundos da 
psique , permitindo desde o surgimento desse conteúdo à concretização de uma 
“reformulação” dos mesmos conteúdos pelo paciente, dependendo dos propósito e 
do equipamento técnico da escola teórica de hipnoterapia utilizada. 
A hipnoterapia é empregada em algumas escolas, até mesmo, para denvolver 
o que se denomina “Terapias de Vidas Passadas”. Todos esses desenvolvimentos 
recentemente fizeram a Comissão Federal de Psicologia reconhecer que a hipnose é 
uma técnica complementar que pode ser usada em psicoterapia, contudo, ainda é 
contraindicada como único método de trabalho. 
A hipnose, assim como a neurolinguística, se mostrou uma ferramenta para 
alcançar respostas mais rápidas através de uma técnica de sugestão qualificada pelo 
ingresso num estado alterado de consciência (“transe hipnótico”). Utilizadas 
exclusivamente, ambas as técnicas mostraram resultados frustrantes. 
A Psicoterapia Breve, por sua vez, não se baseia em nada dessas coisas. 
Embora muitos autores caracterizem a psicoterapia breve pelo uso da focalização e 
da técnica ativa, processos diretivos, essa não é a real fundamentação, tão pouco a 
razão da eficiência de uma psicoterapia breve. 
A eficácia da psicoterapia de curto prazo ainda é amplamente questionada. 
Jung, em particular, possuía um olhar ligeiramente pessimista sobre os benefícios 
sociais de um processo curto, 
 
35 
 
... toda psicoterapia moderna que pretende ser responsável do ponto de vista 
médico e respeitada por sua seriedade científica, já não pode ser de massas, 
mas depende do interesse amplo e sem reservas dispensado a cada paciente 
individualmente. O procedimento é necessariamente muito trabalhoso e 
demorado. É certo que se fazem muitas tentativas no sentido de abreviar ao 
máximo a duração do tratamento, mas não se pode afirmar que os resultados 
tenham sido animadores. Porque quase sempre as neuroses são produto de 
uma evolução defeituosa, que demorou anos e anos para se formar, e não 
existe processo curto e intensivo que a corrija. O tempo é, por conseguinte, um 
fator insubstituível na cura (JUNG, 1957, n.p.). 
Gilliéron (1986) questionou ousadamente a "lentidão das profundas mudanças 
psicológicas" e a "eternidade" do processo inconsciente; com suas pesquisas em 
Lausanne, buscou demonstrar que só é possível realizar psicoterapia breve com o 
uso de metodologia mais diretiva, ativa ou “focalizada”. Assim, se preocupou em 
mostrar que mudanças duradouras podem ser obtidas por meio de psicoterapia de 
curto prazo, e que essas mudanças são acompanhadas por transformações 
estruturais na personalidade, por meio de uma técnica na qual, sem desprezar a 
introdução de hipótesespsicodinâmicas no decorrer da fase de investigação, 
possibilitasse o livre curso às associações do paciente, sem predeterminar o problema 
consciente a ser trabalhado e sem requisitar do terapeuta uma postura 
essencialmente ativa. . 
Em sua pesquisa Gilliéron (1986), apresentou que, sob a ótica epistemológica, 
o campo da Psicoterapia Breve corresponde a uma série de estudos com o objetivo 
deinvestigar como o manejo técnico do ambiente psicológico afeta a maneira como o 
paciente ordena seus conteúdos e concepções psíquicas, tal como os exprime ou 
declara no setting terapêutico; investiga, assim, a forma como o manejo do enquadre 
influi sobre a ordenação técnica e mental do psicoterapeuta, como também no vínculo 
paciente-terapeuta, complementando com suas considerações e intervenções a 
fundamentação e a razão da eficiência da terapia breve. 
Tendo o terapeuta compreensão que essas são as evidências que respaldam 
um trabalho de psicoterapia breve, utilizará da mesma em qualquer abordagem teórica 
(comportamental, psicanalítica, fenomenológica, etc.), aplicando qualquer 
combinação de técnicas (ativas, não-ativas, focalizada, não-localizada, etc.). Como 
reitera Gilliéron (1986) é o enquadre que garante a existência de um processo. Sem 
um enquadre, nós teríamos um simples diálogo informal entre duas pessoas, num 
procedimento não científico, ainda que com algum valor terapêutico. 
 
36 
 
Seja qual for o entendimento procedente do psicólogo seria uma simples 
observação como em qualquer diálogo. A interpretação só pode obter validade e 
qualidade do tratamento na dinâmica interna do ambiente, e isso se tornou um 
parâmetro que distingue a psicoterapia das conversas entre amigos. 
Portanto, nas duas situações, os atributos técnicos e humanos do terapeuta se 
preservam constantes, no sentido de serem características específicas do mesmo. No 
entanto, modificar ou adotar um ou outro tipo de enquadre será o suficiente para 
capacitá-lo a lidar com essas qualidades de modo diferente em cada situação. A 
exemplo, em psicoterapia por tempo indeterminado, o psicoterapeuta pode demandar 
mais tempo na elaboração do diagnóstico, do que na psicoterapia breve. 
Nesse último caso, o terapeuta necessitará de condições para elaborar um 
raciocínio mais ágil para o desenvolvimento do diagnóstico, que será mais alusivo, 
pouco detalhado e conclusivo do que na psicoterapia por tempo indeterminado. Como 
exemplo, ao longo do processo de terapia breve, o profissional pode se sentir mais 
intimado a elaborar um raciocínio mais sucinto ou a sustentar um olhar globalizado do 
processo. Além da necessidade de manter habilidades de raciocínio rápido, para que 
ele possa diagnosticar rapidamente as nuances dos padrões de fala do paciente, é 
necessário também que ele se equipe para atuar com intervenções breves de modo 
mais eficiente (motivo pelo qual, a psicoterapia breve se transformou também numa 
área de estudos dos métodos mais efetivos verificados na ciência clínica psicológica). 
A maneira como o terapeuta acolhe também pode ser tratada de forma 
diferente, são indicativos que as características técnicas e humanas permanecerão 
inalteradas após a mudança da estrutura do espaço-tempo, portanto, as mudanças 
nas tendências temporais e espaciais ou estruturas psicológicas requerem que o 
cliente e o terapeuta façam ajustes de resposta diferentes, assim é necessário 
treinamento das técnicas específicas para psicoterapia breve. Para tanto, é 
necessária a oferta de treinamentos e cursos profissionalizantes para os profissionais 
da área. 
Como relata Lowenkron (1993), o estudo de conceitos fundamentais de alguma 
teoria de psicologia profunda, como a psicanálise ou outra, conjugado à supervisão 
de casos é indispensável à sedimentação da experiência do clínico em psicologia 
breve. 
 
37 
 
Na “situação clínica-experimental imaginada”, vimos que a situação real gerada 
por um ou outro tipo de enquadre eleito (terapia por tempo indeterminado ou 
psicoterapia breve) estimulará esta demanda. É como se o enquadre, nesse cenário, 
carregasse “vida própria”, praticando natural e espontaneamente uma pressão num 
sentido de estruturação ou outro. 
Se de um lado; 
 (1) o paciente precisa se adaptar a cada situação de enquadre de uma forma, 
(2) o terapeuta necessita desenvolver um manejo novo de suas qualificações 
pessoais e técnicas (no último caso, desponta a necessidade de uma capacitação 
técnica específica). Os fatores iniciais se localizam no registro íntimo de cada pessoa, 
tanto no paciente quanto no terapeuta. 
Havendo ainda um terceiro fator que se localiza na espera do interpessoal, e 
remete-se; 
 (3) à interação paciente-terapeuta, que é então manejada de forma diferente 
em um ou outro tipo de enquadre (breve ou prolongado). 
Nos três tópicos se dispõe a chave para a atuação de uma psicoterapia breve 
eficiente ou trágica, da mesma forma que os recursos que diferem a psicoterapia breve 
dos demais formatos de procedimento que buscam minimizar o tempo de tratamento 
do paciente, bem como a hipnoterapia ou a neurolinguística. 
Essas terapias se embasam em métodos básicos de sugestão, ao passo que 
psicoterapia (breve ou não) não se embasa em sugestão, mas na procura e 
evidenciação sistemática das significações psíquicas do paciente, principalmente para 
o próprio paciente. 
Importante ressaltar que as alterações no enquadre espaço-temporal referidas 
provocou a retificação dos propósitos de uma psicoterapia breve, assim como dos 
parâmetros de avaliação quanto aos seus resultados alcançados. Isto é, um terapeuta 
não pode ter os mesmos objetivos na psicoterapia breve, que mantém na psicoterapia 
por tempo indeterminado. 
Ademais, não é viável avaliar os resultados obtidos em psicoterapia breve 
tendo como parâmetro o objetivo esperado na análise clássica, pois se isso for feito, 
o psicoterapeuta sempre concluirá que seu trabalho de psicoterapia breve alcançou 
resultados inferiores ao esperado, ou isso é um fracasso. Diante da necessidade de 
 
38 
 
atender às exigências do novo modelo de enquadre breve, os psicoterapeutas da 
terapia breve buscaram desenvolver técnicas interventivas mais objetivas e 
focalizadas, portanto, que para vários autores, a terapia breve é por vezes chamada 
de “terapia focal” (MELO, 1998). 
A focalização, o ecletismo técnico, e a intervenção ativa se espalhou de tal 
maneira, que diversos autores consideraram (erroneamente) essas variações como o 
“fundamento” e/ou como a própria “definição” do que seja a psicoterapia breve. 
Gillierón (1986) em suas pesquisas, alcançando resultados positivos com a 
psicoterapia breve sem recorrer a essas técnicas, explicitou que a base metodológico 
e epistemológico nada mais é do que o manejo espaço-temporal do enquadre 
psicológico, sendo concebível alcançar resultados apropriados com quaisquer 
combinações de métodos, contanto que se compreenda a necessidade da preparação 
do princípio mais estruturante do enquadre. 
A condição para realizar de mudanças estruturais da personalidade em terapia 
breve, manifestou-se previamente com os trabalhos de David Malan, que inspiraram, 
bem como os trabalhos de Balint, as pesquisas de Gilliéron. 
 No entanto, à Gilliéron, coube o préstimo de identificar que tais mudanças 
podem ser alcançadas prescindindo a utilização de métodos diretivos (técnica ativa, 
focalização, etc.), ao passo que lhe coube o préstimo de posicionar a importância do 
manejo técnico do enquadre psicológico, como instrumento essencial para explanar a 
efetividade da psicoterapia breve, e conceder a sua matriz de fundamentação 
metodológica. 
Dessa forma, a técnica de Gilliéron, sob a ótica filosófica, respeita e embasa 
para o pressuposto existencialista da “Liberdade na Personalidade”, ou da prevenção 
da autonomia do paciente no processo psicoterapêutico, contingente a seu ato de 
individuação

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