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Intervenção e defesa do Estado

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DIREITO CONSTITUCIONAL I
PROF. BERNARDO CAMPINHO
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
INTERVENÇÃO FEDERAL
DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
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INTERVENÇÃO FEDERAL
Natureza: ato político que consiste na incursão da entidade federada interventora nos negócios da entidade federada que terminar por suportar a intervenção. É um mecanismo excepcional de suspensão da autonomia política do ente federado e, dado sua excepcionalidade, só pode ocorrer nas hipóteses previstas na Constituição.
Objetivo: manutenção do pacto federativo e da integridade nacional.
Características: a) ato político e discricionário; b) oposto da autonomia; c) excepcionalidade.
Trata-se de ato político porque somente o Presidente da República tem autoridade para decretar intervenção federal nos Estados.
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INTERVENÇÃO FEDERAL
É discricionário porque o Presidente da República realiza um juízo de conveniência e oportunidade sobre a decretação da intervenção.
Os limites da intervenção estão contidos no decreto interventivo.
Pressupostos: a) materiais: casos de intervenção; b) formais: fases do processo interventivo.
Pressupostos materiais:
Defesa do Estado: art. 34, incisos I e II: manutenção da integridade nacional e defesa contra invasão estrangeira.
Defesa do princípio federativo: art. 34, incisos II a IV
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INTERVENÇÃO FEDERAL
Neste caso, a intervenção visa repelir a invasão de uma unidade federada por outra, pôr termo a grave comprometimento da ordem pública e garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades federadas.
3) Defesa das finanças estaduais: art. 34, V. Reorganização das finanças da unidade da Federação que suspender o pagamento da dívida fundada (art. 98, Lei 4320/1964) por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior, que deixar de entregar aos Municípios as receitas tributárias que lhe cabem segundo a Constituição, nos prazos da lei. 
4) Defesa da ordem constitucional: art. 34, incisos VI e VII. Para promover a execução de lei federal, ordem ou execução judicial e a observância dos princípios constitucionais sensíveis
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INTERVENÇÃO FEDERAL
Princípios constitucionais sensíveis:
Forma republicana, sistema representativo e regime democrático: alternância de poder, eletividade dos cargos políticos, voto secreto, periódico e universal, observância do Estado de Direito e da vontade popular.
Direitos da pessoa humana
Autonomia municipal
Prestação de contas da Administração Pública direta e indireta
Aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a transferência, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
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INTERVENÇÃO FEDERAL
Pressupostos formais: modos de efetivação, limites e requisitos.
Intervenção federal se efetiva por decreto do Presidente da República, que especifica sua amplitude, prazo e condições, se couber, nomeando o interventor.
Interventor será necessário se atingir o Poder Executivo estadual ou se atingir o Executivo e o Legislativo ao mesmo tempo.
Espécies de intervenção:
a) Espontânea: iniciativa ex officio do Presidente da República. Ato inserido no seu juízo político-discricionário.
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INTERVENÇÃO FEDERAL
Fases da intervenção espontânea: a) iniciativa; b) oitiva dos Conselhos da República e de Defesa Nacional (sem caráter vinculante); c) decreto interventivo
Cabimento: art. 34, incisos I a III e V
Intervenção provocada: pode ser por solicitação ou por requisição. Na última, o ato do Presidente seria vinculado à requisição, não haveria discricionariedade.
Provocada por solicitação: art. 34, IV. Iniciativa sempre será do poder coacto.
Provocada por requisição: quando o coacto for o Poder Judiciário. A requisição ao Presidente deve ser feito pelo STF, pelo STJ ou pelo TSE, de acordo com a jurisdição afetada. Neste caso, a oitiva dos Conselhos é desnecessária.
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INTERVENÇÃO FEDERAL
No caso de descumprimento de lei federal, a iniciativa do Pedido cabe ao Procurador Geral da República (fase judicial). Se a ação for julgada procedente, dá-se a requisição ao Presidente da República. Decreto interventivo: suspende o ato contrário à lei federal e, se necessário, determina a intervenção no autogoverno da unidade federada.
Quando se trata do descumprimento de ordem judicial, a requisição se dá no âmbito administrativo.
Ação direta interventiva: defesa dos princípios constitucionais sensíveis. Base normativa: Lei 2271/1954, Lei 4337/1964 e Regimento Interno do STF. Iniciativa: Procurador Geral da República. Fase judicial: STF. Se julgar procedente, expede ofício ao Presidente, requisitando a intervenção.
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INTERVENÇÃO FEDERAL
Finalidade do decreto interventivo no caso de intervenção decorrente de ação direta interventiva: sustar o ato inconstitucional da unidade federada e, se necessário, decretar a intervenção, com a nomeação do interventor. 
Se a intervenção federal recair sobre o Poder Legislativo, o Executivo passa a exercer a função legislativa. Não há necessidade de interventor.
Consequências da intervenção federal: art. 36, parágrafo 4º, e art. 60, parágrafo 1º, da CRFB.
Controle político: Congresso Nacional. Art. 49, V, CRFB. Realizado por meio de decreto legislativo. Negada a intervenção, deve cessar imediatamente, com efeitos ex nunc.
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INTERVENÇÃO FEDERAL
Se o Presidente se negar a fazer cessar a intervenção, pratica crime de responsabilidade. Controle político é posterior e não ocorre nas hipóteses do art. 34, incisos VI e VII.
Descabe controle judicial, salvo se a intervenção não cessar mediante o ato do Congresso ou naquilo que exceder os limites constitucionais e do decreto interventivo.
Renúncia do Chefe do Poder Executivo não impede a intervenção federal. RE 94252-PB.
Intervenção no Município: art. 35 da CRFB. Será realizada pelo Estado-membro do qual o Município faz parte, exceto quando se tratar de Município em Território Federal, quando a intervenção será levada a cabo pela União. Ato político a cargo do Governador ou do Presidente.
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INTERVENÇÃO FEDERAL
Suspensão temporária da autonomia municipal. Hipóteses:
Intervenção espontânea: incisos I a III do art. 35. Iniciativa ex officio do Chefe do Poder Executivo.
Intervenção provocada: art. 35, IV, CRFB. Quando o Município não der provimento de ordem ou decisão judicial. 
Quando não der cumprimento à lei ou para garantir o cumprimento dos princípios constitucionais sensíveis indicados na Constituição Estadual: ação direta interventiva estadual. Iniciativa do Procurador Geral de Justiça e fase judicial no Tribunal de Justiça do Estado. Súmula 614 do STF. 
No caso dos incisos I a III do art. 35, Assembleia Legislativa realiza controle político. Interventor é nomeado pelo Governador.
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INTERVENÇÃO FEDERAL
“O instituto da <intervenção> federal, consagrado por todas as Constituições republicanas, representa um elemento fundamental na própria formulação da doutrina do federalismo, que dele não pode prescindir – inobstante a expecionalidade de sua aplicação –, para efeito de preservação da intangibilidade do vínculo federativo, da unidade do Estado Federal e da integridade territorial das unidades federadas. A invasão territorial de um Estado por outro constitui um dos pressupostos de admissibilidade da <intervenção> federal. O Presidente da República, nesse particular contexto, ao lançar mão da extraordinária prerrogativa que lhe defere a ordem constitucional, age mediante estrita avaliação discricionária da situação que se lhe apresenta, que se submete ao seu exclusivo juízo político, e que se revela, por isso mesmo, insuscetível de subordinação à vontade do Poder Judiciário, ou de qualquer outra instituição estatal. Inexistindo, desse modo, direito do Estado impetrante à decretação, pelo chefe do Poder Executivo da União, de <intervenção> federal, não se pode inferir, da abstenção presidencial quanto à concretização dessa medida, qualquer situação de lesão jurídica passível de correção pela via do mandado de segurança.” (MS 21.041, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 12-6-1991, Plenário,DJ de 13-3-1992.)
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INTERVENÇÃO FEDERAL
"O descumprimento voluntário e intencional de decisão transitada em julgado configura pressuposto indispensável ao acolhimento do pedido de <intervenção> federal. A ausência de voluntariedade em não pagar precatórios, consubstanciada na insuficiência de recursos para satisfazer os créditos contra a Fazenda Estadual no prazo previsto no § 1º do art. 100 da Constituição da República, não legitima a subtração temporária da autonomia estatal, mormente quando o ente público, apesar da exaustão do erário, vem sendo zeloso, na medida do possível, com suas obrigações derivadas de provimentos judiciais. Precedentes." (IF 1.917-AgR, Rel. Min. Presidente Maurício Corrêa, julgamento em 17-3-2004, Plenário, DJ de 3-8-2007.)
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INTERVENÇÃO FEDERAL
“O Tribunal, por maioria, julgou improcedente pedido de <intervenção> federal no Distrito Federal, formulado pelo Procurador-Geral da República, por alegada violação aos princípios republicano e democrático, bem como ao sistema representativo (CF, art. 34, VII, a). Na espécie, o pedido de <intervenção> federal teria como causa petendi, em suma, a alegação da existência de esquema de corrupção que envolveria o ex-Governador do DF, alguns Deputados Distritais e suplentes, investigados pelo STJ, e cujo concerto estaria promovendo a desmoralização das instituições públicas e comprometendo a higidez do Estado Federal. Tais fatos revelariam conspícua crise institucional hábil a colocar em risco as atribuições político-constitucionais dos Poderes Executivo e Legislativo e provocar instabilidade da ordem constitucional brasileira. Preliminarmente, a Corte, por maioria, rejeitou requerimento do Procurador-Geral da República no sentido de adiar o julgamento da causa para a primeira data do mês de agosto em que a Corte estivesse com sua composição plena. Ao salientar a ansiedade da população por uma resposta pronta da Corte quanto ao pedido de <intervenção> e a proximidade do início formal do período eleitoral, reputou-se estar-se diante de questão importante que demandaria decisão o mais célere possível. (...) No mérito, entendeu-se que o perfil do momento político-administrativo do Distrito Federal já não autorizaria a decretação de <intervenção> federal, a qual se revelaria, agora, inadmissível perante a dissolução do quadro que se preordenaria a remediar. Asseverou-se que, desde a revelação dos fatos, os diversos Poderes e instituições públicas competentes teriam desencadeado, no desempenho de suas atribuições constitucionais, ações adequadas para por fim à crise decorrente de um esquema sorrateiro de corrupção no Distrito Federal. Observou-se, assim, que os fatos recentes não deixariam dúvida de que a metástase da corrupção anunciada na representação interventiva teria sido controlada por outros mecanismos institucionais, menos agressivos ao organismo distrital, revelando a desnecessidade de se recorrer, neste momento, ao antídoto extremo da <intervenção>, debaixo do pretexto de salvar o ente público.” (IF 5.179, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 30-6-2010, Plenário, Informativo 593.)
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INTERVENÇÃO FEDERAL
Não cabe recurso extraordinário contra acórdão de Tribunal de Justiça que defere pedido de intervenção> estadual em Município." (Súmula 637)
    “O Tribunal julgou parcialmente procedente pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Governador do Estado de Sergipe contra diversos dispositivos da Constituição estadual. (...). (...) declarou a inconstitucionalidade dos incisos V e VI do art. 23, que preveem a possibilidade de <intervenção> no Município em caso de corrupção na administração municipal ou de não se recolherem à Previdência Social, por seis meses consecutivos ou alternados, valores descontados em folha de pagamento de seus servidores e parcelas devidas pela Prefeitura. Considerou-se que referidos incisos estariam a ampliar o rol taxativo dos casos de <intervenção> do Estado em seus Municípios apresentado pelo art. 35 da CF, também de observância obrigatória pelos Estados-membros.” (ADI 336, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 10-2-2010, Plenário, Informativo 574.)
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INTERVENÇÃO FEDERAL
"Constitucional. Administrativo. Mandado de segurança. Município do Rio de Janeiro. União Federal. Decretação de estado de calamidade pública no sistema único de saúde no Município do Rio de Janeiro. Requisição de bens e serviços municipais. Decreto 5.392/2005 do Presidente da República. Mandado de segurança deferido. Mandado de segurança, impetrado pelo Município, em que se impugna o art. 2º, V e VI (requisição dos hospitais municipais Souza Aguiar e Miguel Couto) e § 1º e § 2º (delegação ao Ministro de Estado da Saúde da competência para requisição de outros serviços de saúde e recursos financeiros afetos à gestão de serviços e ações relacionados aos hospitais requisitados) do Decreto 5.392/2005, do Presidente da República. Ordem deferida, por unanimidade. Fundamentos predominantes: (...) (ii) nesse sentido, as determinações impugnadas do decreto presidencial configuram-se efetiva <intervenção> da União no Município, vedada pela Constituição; (iii) inadmissibilidade da requisição de bens municipais pela União em situação de normalidade institucional, sem a decretação de Estado de Defesa ou Estado de Sítio. Suscitada também a ofensa à autonomia municipal e ao pacto federativo. Ressalva do Ministro Presidente e do Relator quanto à admissibilidade, em tese, da requisição, pela União, de bens e serviços municipais para o atendimento a situações de comprovada calamidade e perigo públicos." (MS 25.295, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 20-4-2005, Plenário, DJ de 5-10-2007.)
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INTERVENÇÃO FEDERAL
“Cabe exclusivamente ao Supremo Tribunal Federal requisição de <intervenção> para assegurar a execução de decisões da Justiça do Trabalho ou da Justiça Militar, ainda quando fundadas em direito infraconstitucional: fundamentação. O pedido de requisição de <intervenção> dirigida pelo Presidente do Tribunal de execução ao STF há de ter motivação quanto à procedência e também com a necessidade de <intervenção>.” (IF 230, Rel. Min. Presidente Sepúlveda Pertence, julgamento em 24-4-1996, Plenário, DJ de 1º-7-1996.)
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DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
Estado de defesa: art. 136 da CRFB. 
Conceito: legalidade extraordinário, por tempo certo, em locais restritos e determinados, mediante decreto do Presidente da República, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, para preservar a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções
Pressupostos materiais:
a) Existência de grave e iminente instabilidade que ameace a ordem pública ou a paz social
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DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
b) Calamidade natural
Pressupostos formais:
Prévia manifestação dos Conselhos previstos na Constituição (audiência obrigatória, de caráter consultivo).
Decretação pelo Presidente da República
Prazo não superior a trinta dias, prorrogáveis uma vez, por igual período
Especificação das áreas abrangidas pelo estado de defesa
Indicação das medidas coercitivas dentre as indicadas no art. 136, parágrafo 1º, devendo respeitar os limites legais.
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DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
Medidas do estado de defesa:
Restrição à liberdade de reunião e dos sigilos de correspondência e comunicação
Ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos
Prisão por crime contra o Estado, nunca superior a dez dias, salvo autorização do Poder Judiciário e vedada a incomunicabilidade do preso.
Controle político: Congresso Nacional. Apreciação do estado de defesa e, se rejeitado ou quando cessar, apreciação das medidas aplicadas em sua vigência. Mesa do Congresso acompanha a execução das medidas.
Controle jurisdicional
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DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
Estado de sítio: legalidade extraordinária, por tempo determinado e em certa área, objetivando preservarou restaurar a normalidade constitucional, perturbada por motivo grave de repercussão nacional ou beligerância com Estado estrangeiro.
Pressupostos materiais: art. 137, incisos I e II. Pode se adotado diante da ineficiência do estado de defesa.
Pressupostos formais: 
Audiência prévia (obrigatória e consultiva) dos Conselhos
Autorização pelos votos da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional
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DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
c) Decreto presidencial
d) Se o Congresso estiver em recesso, Presidente do Senado o convoca para que em cinco dias, no máximo, aprecie a solicitação presidencial.
Congresso permanece em funcionamento no estado de sítio.
Prazo de duração: art. 137 c/c art. 138, caput, inciso I: 30 dias, não podendo ser prorrogado por prazo superior. No caso do inciso II: pelo tempo que durar a beligerância.
Conteúdo do decreto: prazo; normas necessárias a sua execução; garantias constitucionais que ficarão suspensas
Controle político prévio do Congresso Nacional
Controle jurisdicional
Art. 139: restrições ao estado de sítio do art. 137, I. Art. 141: responsabilidade na vigência do estado de sítio.
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