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Sistemática R l e d iç ã o d o l iv r o lM rmk)i < :Âo A T id l o g ia 3 s i i \ íá n c .\ 1 EOLOGIA S ist em á t ic a E u r i c o B e r g s t e n cm Todos os direitos reservados. Copyright © 1999 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina. Preparação dos originais: Marcus Braga Revisão: Kleber Cruz Capa e projeto gráfico: Rafael Paixão Editoração: Marlon Soares CDD: 230 - Teologia Sistemática ISBN: 85-263-0601-4 As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 1995, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário. Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.br Casa Publicadora das Assembléias de Deus Caixa Postal 331 20001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 10* impressão: 2011 Tiragem 1.000 .Su m á rio INTRODUÇÃO GERAL....................................................................7 1. T eologia — Definição..................................................................... 7 2. A Fonte do Estudo da T eologia....................................................7 CAPÍTULO 1 — BIBLIOLOGLA— As Sagradas Escrituras..................9 1. Origem da Bíblia.............................................................................. 10 2. A Inspiração Plenária das Escrituras Entrou....................... 11 3. A Estrutura da Bíblia.................................................................. 14 4. A A utoridade da Bíblia S agrada................................................16 CAPÍTULO 2 — TEOLOGIA — A Doutrina de D eus................... 19 1. A Existência de Deus...................................................................... 20 2. Deus É Revelado através dos A tributos da sua Divindade............................................................................. 22 3. Deus se Manifesta através dos seus A tributos em Relação à sua C riação ........................................................... 30 4. Deus se Manifesta através dos A tributos da sua N atureza..............................................................................36 5. O Poder C riador do Deus Eterno............................................... 40 CAPÍTULO 3 — CRISTOLOGIA — A Doutrina de Cristo ......... 47 1. A Preexistência Eterna de Jesu s.................................................. 48 2. A Encarnação de Jesus..................................................................48 3. Jesus — O Verdadeiro De u s ......................................................... 50 4- Jesus — O Verdadeiro Homem......................................................53 5. Jesus U niu na sua Pessoa as Duas N aturezas Perfeitas........57 T EOLOCiA Sistemática 6. Os Mistérios de C risto, o U ngido.............................................. 59 7. A s Obras de Jesus C risto.............................................................64 CAPÍTULO 4 — PNEUMATOLOGIA — A Doutrina do Espírito Santo .............................................................................. 79 1. Introdução.......................................................................................80 2. O Espírito S anto É Deus................................................................82 3. O Espírito Santo É uma Pessoa...................................................83 4. O Espírito S anto através dos seus N omes................................ 84 5. S ímbolos do Espírito S a n to ......................................................... 87 6. A s Obras do Espírito S anto ........................................................ 88 7 .0 Batismo no Espírito S a n to ...................................................... 96 8 .0 Espírito S anto T ransmite o Poder e a S abedoria de Deus através dos Dons Espirituais.....................................102 9. O Espírito S anto Opera também pelos M inistérios.............. 115 10 .0 Espírito Santo Opera na Ressurreição.............................119 11. A Operação do Espírito S anto É C ondicional...................120 CAPÍTULO 5 — ANTROPOLOGIA A Doutrina do Homem .................................................................. 125 1. Deus É a Origem do Homem........................................................ 126 2. O Homem Foi C riado à Imagem e S emelhança de Deu s........127 3. O Homem É C omposto de C orpo, A lma e Espírito..................129 4 .0 Homem D iante da Morte e da Eternidade.........................133 CAPÍTULO 6 — HAM ARTIOLOGIA A Doutrina do Pecado..................................................................... 143 1. Origem do Pecado .........................................................................144 2. De que Maneira Entrou o Pecado no Mundo? ...................... 145 3. A Definição do Pecado à Luz da Q ueda do Homem...............147 4. A s C onseqüências do Pecado..................................................... 148 CAPÍTULO 7 — SOTERIOLOGIA — A Doutrina da Salvação .... 153 1. Introdução..................................................................................... 154 2. A S alvação.....................................................................................161 S umário 3. A C erteza da S alvação...............................................................164 4. O Arrependimento.........................................................................168 5. A C onversão..................................................................................171 6. A Regeneração.............................................................................. 174 7. A Justificação............................................................................... 180 8. A S antificação............................................................................. 186 9. O C rescimento Espiritual............................................................193 10. A Preservação da S alvação............................................... 197 CAPÍTULO 8 — ECLESIOLOGIA — A Doutrina da Igreja........ 209 1. A Origem da Igreja ......................................................................210 2. A Estrutura da Igreja................................................................ 213 3. A Propósito de Deus para com a Igreja..................................217 4. O G overno da Igreja .................................................................. 228 5. A Disciplina na Igreja................................................................. 234 6. As Ordenanças da Igreja .................................................... ......240 7. As Finanças da Igreja................................................................. 249 8. A Igreja só Poderá C umprir a sua Finalidade pelo Poder do Espírito Sa n to .....................................................254 CAPÍTULO 9 — ANGELOLOGIA — A Doutrina dos A njos..... 269 1. Introdução.....................................................................................270 2. Diferentes C ategorias de A njos................................................ 270 3. A Origem, a N atureza e o C aráter dos A n jo s ......................274 4. O Anjo da Face do S enhor......................................................... 277 5. A G rande Missão dos A n jo s ......................................................278 6. A Queda de Lúcifer no C é u ........................................................ 284 7. A Organização S atânica........................................................... 288 8. Os Métodos de Luta de S atanás e dos Demônios.................289 9. A V itória de Jesus sobre Satanás.............................................. 291 CAPÍTULO 10 — ESCATOLOGIA A Doutrina das Ultimas C oisas.................................................... 293 1. A Palavra Profética.................................................................... 294 2. A Profecia-chave..........................................................................2993. S inais dos T empos..........................................................................302 5 T EOLOGiA Sistemática 4. O A r r e b a t a m e n t o d a Ig r e j a ..........................................................................317 5. O T r i b u n a l d e C r i s t o .......................................................................................... 326 6. As B o d a s d o C o r d e i r o ....................................................................................... 334 7. A G r a n d e T r i b u l a ç ã o ....................................................................................... 337 8. A V o l t a d e J e s u s em G l ó r i a ........................................................................... 348 9. O M i l ê n i o .......................................................................................................................354 10. O J u l g a m e n t o F in a l — O Juízo d o G r a n d e T r o n o B r a n c o ........................................................................................................362 fi T~njtr or>i ir ãq G erai 1 . T e o l o g i a — D e f i n i ç ã o Teologia (da palavra grega Théos — Deus e logos — ciência, tra- tado, isto é, “tratado sobre Deus” ) é uma exposição da ciência de Deus e as relações entre Deus e o universo. Deus existe. Ele criou os céus e a terra, e o homem conforme a sua imagem (cf. Gn 1.26). Deus quer ter relações com o homem. O homem, criado por Deus, tem condições de ter contato com Ele. A Teologia é a ciência que tem por objetivo fazer-nos conhecer a pessoa de Deus, isto é, Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, e a sua vontade para com os homens. Teologia Sistemática significa a exposição de conhecimentos e da dos sobre Deus, postos em ordem sistemática e progressiva, descreven do-os por sua ordem, desde o princípio (cf. Lc 1.3). 2 . A F o n t e d o E s t u d o d a T e o l o g i a A fonte verdadeira para o estudo da doutrina de Deus é a sua Pala vra, a Bíblia. Esse compêndio completo, divinamente inspirado pelo T m u h . ia .Si.stumAtica Espírito Santo (cf. 2 Tm 3T6; 2 Pe 1.21), dá-nos condições de ficar “inteirados” (cf. 2 Tm 3.14) e “sábios para a salvação” (cf. 2 Tm 3.15). É necessário um verdadeiro esforço para estudar a Palavra de Deus: “Medita estas coisas, ocupa-te nelas” (1 Tm 4.15) e: “Persiste em ler” (1 Tm 4.13). Precisamos entrar no santuário da revelação de Deus para que tenhamos compreensão dos seus mistérios (cf. Ef 3.2-4). O homem natural tem grande limitação para compreender as coi sas de Deus (cf. 1 Co 2.14). A profundidade de riquezas, tanto da sabedoria como da ciência de Deus, é insondável (cf. Rm 11.33), e por isso carecemos da ajuda divina para penetrar nesses mistérios. E esse auxílio de que precisamos é Deus quem nos oferece. O Espírito de sabedoria e de revelação é dado (cf. Ef 1.17), e tem por finalidade iluminar os olhos do nosso entendimento para que saibamos qual seja a esperança da nossa vocação e quais as riquezas da sua herança (cf. Ef 1.18). Afinal, seremos “corroborados com poder pelo seu Es pírito no homem interior; para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento” (Ef 3.16-18). E verdade! “A sua unção vos ensina” (1 Jo 2.27). Porém, apesar de todo o nosso esforço e da ajuda do Espírito Santo, experimentaremos, enquanto estivermos neste mundo, que o nosso conhecimento das coisas de Deus sempre será limitado. “Porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos” (1 Co 13.9). Jó chegou a ter profundas experiências com Deus, e mesmo assim disse: “Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido dele!” (Jó 26.14) Sempre, mesmo depois de termos aprendido bastante, Jesus nos diz: “Coisas maiores do que estas verás” (Jo 1.50). Mas um dia — e esse dia vem breve — virá “o que é perfeito” e o que é em parte será aniquilado (cf. 1 Co 13.10). E então “conhecerei como também sou conhecido” (1 Co 13.12). Amém! Venha breve aquele grande dia! 8 C . A P Í T T Í Í O I B ib l io l o g ia As Sagradas Escrituras Já observamos que a fonte verdadeira para o estudo da T eologia é a Palavra de Deus, as Sagradas Escrituras. Portanto, começaremos ESTE LIVRO ESTUDANDO SOBRE A PALAVRA DE DEUS, SUA ORIGEM, INSPIRAÇÃO, ESTRUTURA E AUTORIDADE. T eologia Sistemática ? - r ; í .í;' -íí.......... 1 . O r i g e m d a B íb l i a L L A B íb l ia é u m a d á d iv a d e D e u s - “O S enhor deu a palavra” (S l 6811) Deus, que antigamente falou “muitas vezes e de muitas maneiras aos pais”, queria que sua Palavra não ficasse guardada pelos homens apenas através da experiência com Ele ou pela tradição falada, isto é, os pais contando para os seus filhos, etc. Deus queria que as verdades reveladas fossem conservadas em um autêntico documento. Por isso, Ele mesmo tomou as providências para que suas palavras, revelações e aconteci mentos — maravilhas operadas em meio ao seu povo — fossem escritos, 1.2. A B í b l i a f o i r e g i s t r a d a p o r o r d e m d e D e u s Deus ordenou a Moisés: “Escreve isto para memória num livro” (Ex 1714). Essa mesma ordem foi repetida ao longo de 1,600 anos para cerca de 45 homens escolhidos por Deus, e assim surgiu “o livro do Senhor” (Is 3416), a “Palavra de Deus” (Ef 6.17; Mc 713), as “Santas Escrituras” (Rm 1.2), que nós chamamos de Bíblia. A palavra portu guesa “Bíblia” vem do grego biblia, que é o plural de biblion — “livro”. Essa palavra deriva-se originalmente da cidade fenícia de Biblos (no Antigo Testamento, Gebal), que era um dos antigos e importantes centros produtores de papiro, o papel antigo. Com o tempo, esse vocá bulo acabou sendo usado para designar as Sagradas Escrituras. A pala vra grega biblos significa um livro, um escrito qualquer, tendo mesmo servido para indicar o livro da vida, como se vê em Apocalipse 3.5, isto é, uni livro sagrado. Estritamente falando, biblos era um livro, e biblion um livrinho. A palávra “Bíblia”, mediante um desenvolvimento histórico di vinamente dirigido, veio a designar o Livro dos livros, as Escrituras Sagradas, contendo 66 livros — 39 do Antigo Testamento e 27 do Novo. 1*3, Os h a g ió g r a f o s Os hagiógrafos (do grego hagiógraphos — autor inspirado dos livros da Bíblia) que escreveram os 66 diferentes livros das Sagradas Escrituras rece- 10 Bibuotocia - As Sagradas Escrituras beram a mensagem de diferentes maneiras. Às vezes Deus disse: “Escreve num livro todas as palavras que te tenho dito” (Jr 30.2; 36.2; Hc 2.1,2, etc.). Muitas vezes os autores escreveram: “Veio a mim a palavra do Senhor” (Jr 1.4; Mq 1.1; Is 1.2, etc.). A Bíblia diz a respeito de Moisés: “Recebeu as palavras da vida para no-las dar” (At 7.38). Isaías menciona 120 vezes que o Senhor lhe falou, Jeremias 430 vezes e Ezequiel 329 vezes. Outros registra ram acontecimentos, assim como se escreve memória histórica (Ex 17.14). Outros examinaram minuciosamente aquilo sobre o qual receberam a dire ção para escrever (Lc 1.3). Outros receberam a mensagem por revelação (At 22.14-17; G 1 1.11,12,15,16; Ef 3.1-8; Dn 10.1, etc.), e alguns recebe ram sonhos e visões (Dn 7.1; Ez 1.1; 2 Co 12.1-3), mas todos escreveram o que receberam pela inspiração do Espírito Santo, e podiam dizer: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei” (1 Co 11.23; 15.3). 2 . A In s p i r a ç ã o P l e n á r i a d a s E s c r i t u r a s Deus deu a Palavra e providenciou o modo de garantir a autenticida de daquilo que os homens de Deus haveriam de escrever. 2.1 . D eus não escreveu nenhuma parte da B íblia Uma só vez Ele escreveu com o seu dedo os Dez Mandamentos em tábuas de pedra (cf. Ex 32.15,16). Porém, Moisés,quando viu o bezer ro de ouro que os israelitas haviam feito, arremessou as tábuas, que brando-as ao pé do monte (cf. Ex 32.19). Jesus escreveu uma só vez na terra, mas os pés que andaram por cima daquele lugar apagaram aquela escrita (cf. Jo 8.8). 2.2. A ESCOLHA DIVINA Quando Deus quis dar aos homens o Livro Divino, escolheu e prepa rou para isto servos seus, aos quais deu uma plena inspiração pelo Espíri to Santo (1 Pe 1.10-12; 2 Pe 1.21; 1 Tm 3.16; Jó 32.18-20, etc.). Cada autor escreveu conscientemente conforme o seu próprio estilo e voca bulário e a sua maneira individual de se expressar, mas todos sob a influ- II T 1:0 lo cia .Sistemática ência e inspiração do Espírito Santo. Assim, as palavras com que regis traram o que receberam de Deus foram-lhes ensinadas pelo Espírito Santo (cf. 1 Co 2.13). Davi, que era rei e profeta, disse: “O Espírito do Senhor falou por mim, e a sua palavra esteve em minha boca” (2 Sm 23.2). Dessa maneira foi toda a Bíblia inspirada pelo Espírito Santo. E real mente um milagre! O mesmo Espírito que inspirou Moisés a escrever os primeiros cinco livros da Bíblia (Ex 24*1-4; Nm 33.2), cerca de 1.550 anos antes de Cristo, inspirou o apóstolo João a escrever o seu evange lho, as suas três epístolas e o Apocalipse, no ano 90. 2.3* A INSPIRAÇÃO PLENÁRIA Esta inspiração plenária atinge as palavras usadas, inclusive a sua forma gramatical. Temos vários exemplos na Bíblia que mostram como a forma gramatical adequada, que os autores aplicaram, serviu para explicar grandes e importantes doutrinas. Veja, por exemplo, Mateus 22.32, onde Jesus empregou o verbo “ser” na forma do presente: “Eu sou o Deus de Abraão”, para provar a real existência de vida após a morte. Em Gálatas 3.16, vemos como a forma singular do substanti vo “posteridade” foi usada para dar um importante ensino sobre como a promessa, dada a Abraão, se cumpriu na pessoa de Jesus. O mesmo podemos ver também em Hebreus 12.27, João 8.57 e em muitos ou tros exemplos. 2.4* A INSPIRAÇÃO PLENÁRIA É SINÔNIMO DE INFALIBILIDADE A teologia modernista não aceita a doutrina sobre a inspiração ple nária da Bíblia. Eles concordam em aceitar que as idéias ou pensamen tos da Bíblia podem ser inspirados, mas que as palavras usadas no texto são um produto dos autores, os quais estavam sujeitos a erros. Outros concordam em reconhecer a Bíblia como autoridade em assuntos mera mente espirituais; porém, em tudo que se relaciona com ciência, biolo gia, geologia, história, etc., a Bíblia não pode ser considerada uma auto ridade. Eles dizem abertamente: “Errar é humano”. Para dar uma apa rência de piedade e respeito às coisas de Deus, eles dizem: “A Bíblia contém a palavra de Deus, mas não é a Palavra de Deus”. Infelizmente, 12 Bibliologia - A s Sagradas Escrituras essa crítica materialista contra a veracidade da Bíblia tem se espalhado muito, e onde ela chega, leva consigo mortandade — como a geada com as plantas. A falsamente chamada “ciência” faz que aqueles que a pro fessam se desviem da fé (1 Tm 6.20,21). 2.5. A INSPIRAÇÃO PLENÁRIA TEM BASE NA PRÓPRIA BÍBLIA Para os crentes convictos da sua salvação, que vivem a comunhão com Deus e sentem a operação do Espírito Santo em suas vidas, aquela crítica não gera problemas. Eles simplesmente rejeitam terminantemente qualquer afirmativa contrária à Bíblia. Eles o fazem com convicção. A base dessa rejeição é segura. Vejamos: 2.5.1. O TESTEMUNHO DE JESUS Em primeiro lugar, rejeitam toda a crítica contra a Palavra de Deus, porque Jesus considerou as Escrituras como “a Palavra de Deus” (Mc 7.13). E o apoio dEle vale mais que as idéias e afirmativas de quem quer que seja. 2.5.2. A EVIDÊNCIA INTERNA Rejeitam a crítica modernista contra a veracidade da Bíblia, porque seria uma ofensa contra Deus, que é perfeito (Mt 5.48), afirmar que a sua Palavra contém erros e mentiras. A Bíblia afirma: “A Lei do Senhor é perfeita” (SI 19.7). “É provada” (SI 18.30), e “fiéis, todos os seus man damentos” (SI 111.7). 2.5.3. A c iê n c ia A palavra da “ciência” também nunca é a “última palavra”. O que hoje se afirma em nome da ciência, amanhã outros o desfazem. Um grande teólogo alemão, A. Luescher, constatou em uma de suas obras que, no ano de 1850, os críticos contra a Bíblia apresentaram setecentos argumentos científicos contra a veracidade da mesma. Hoje, seiscentos destes argumentos já foram deixados por descobertas mais atualizadas. Mas o que a Bíblia afirma é como uma rocha — que não muda por causa das ondas do mar que se lançam contra ela. T eologia Sistemática 2.5.4. A EVIDÊNCIA DA FÉ Não queremos trocar a nossa fé na Palavra de Deus por consideração a homens que consideram a sua sabedoria mais do que a de Deus. Que remos que a nossa fé se apoie, não na sabedoria humana, mas no poder de Deus (1 Co 2.5). 3 . A E s t r u t u r a d a B í b l i a A Bíblia é, como já observamos, um conjunto de 66 livros escritos por cerca de 45 autores sob a inspiração do Espírito Santo, dentro de um período de 1.600 anos. 3.1. A s DUAS ALIANÇAS A Bíblia se divide em duas partes distintas: o Antigo Testamento, que contém 39 livros, e o Novo Testamento, que contém 27 livros. A palavra “testamento” tem duas significações. Em primeiro lugar, ela significa uma aliança, um pacto, um concerto. No Antigo Testamento, achamos como tema central o pacto que Deus fez com Israel no Sinai, pacto este selado com sangue (Êx 24.3-8; Hb 9.19,20). No Antigo Testa mento, achamos também a profecia de uma melhor aliança que haveria de ser feita pelo Messias, o Prometido, o Esperado (Jr 31.31-33; Hb 8.10- 13). No Novo Testamento se fala da nova aliança pelo sangue de Jesus, pela qual podemos chegar a Deus (Mt 26.28; Ef 2.13). Glória a Jesus! Testamento significa também a última vontade de alguém, quanto a seus bens, entrando em vigor com a morte do testador. Tanto o A n tigo Testamento quanto o Novo Testamento falam das riquíssimas bên çãos prometidas e vinculadas à morte do Messias, cujo testamento entrou em vigor com a morte de Jesus no Calvário (G1 3.15-17; Hb 9.17; Rm 8.17, etc). 3 .2 . D ivisões do A ntigo T estamento O Antigo Testamento contém 39 livros, os quais se podem subdivi dir em 4 grupos: 14 Bibliologia - A s Sagradas Escrituras 3.2.1. Livros da lei Os cinco livros de Moisés, isto é, Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. 3.2.2. Livros históricos De Josué até o livro de Ester, isto é, 12 livros. 3.2.3. Livros poéticos São cinco— Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão. 3.2.4. L ivros proféticos São 17 — Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel e Daniel (chama dos profetas maiores) e os restantes 12 livros, de Oséias até Malaquias (chamados profetas menores). 3 .3 . D ivisões do N ovo T estamento O Novo Testamento contém 27 livros, os quais podem subdividir-se em 4 grupos: 3.3.1. L iv r o s b io g r á f ic o s d e J e s u s Os quatro evangelhos. 3.3.2. L iv r o h i s t ó r ic o Atos dos Apóstolos, que contém a história inicial da Igreja Primitiva. 3.3.3. L iv r o s d e e n s in o a p o s t ó l ic o As 21 epístolas, de Romanos até Judas. 3.3.4. L iv r o p r o f é t ic o O Apocalipse. 3.4. A revelação A Bíblia é uma revelação completa e definitivamente concluída. Al guns têm procurado afirmar que Deus ainda tem dado outras revelações 15 T eologia Sistemática nk * www-iísisart«!.;,..: •>=■■ . « inspiradas, as quais podem se comparar com a Bíblia. Entre eles existe o Livro de Mónmon, ao qual os seguidores da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Igreja Mórmon) dão um valor “divino”, e o livro das “revelações divinas” da Sr3. Ellen G. White — maior expoente da Igreja Adventista do Sétimo Dia — que consideram de valor divino. Vez por ou tra aparecem os que desejam afirmar que Deus lhes tem dado revelações para os últimos tempos, revelações estas que têm o mesmo valor que a Bí blia. Esse problema, porém, já foi resolvido definitivamentee para sempre pela própria Palavra Revelada, quando afirma terminantemente que não se pode acrescentar coisa nenhuma ao que está escrito nela e não se pode tirar coisa nenhuma da sua mensagem (Ap 22.18,19; Pv 30.6; Dt 4.2). 4 . A A u t o r i d a d e d a B í b l i a S a g r a d a 4.1. A utoridade interna Um livro que é inteiramente inspirado pelo Espírito Santo e que centenas de vezes repete: “Assim diz o Senhor” impõe autoridade divi na e exige respeito e reverência, devendo ser obedecido (SI 119.4). Se for tirada a inspiração divina da Bíblia ela também perde a sua autori dade, e fica como uma arma de fogo sem munição. Mas a Bíblia é a Palavra de Deus. 4.2, A utoridade plena A Bíblia é qualificada, por aqueles que creêm nela, como a autorida de máxima. Eles não aceitam nenhuma imposição contrária à Bíblia, seja de que fonte for. Dizem como o apóstolo Pedro: “Mais importa obe decer a Deus do que aos homens” (At 5.29). 4*3. A utoridade reconhecida Jesus deu, quando aqui vivia como homem, um grande exemplo de respeito à autoridade das Escrituras, sendo classificadas por Ele como “A palavra de Deus” (Mt 15.3,6), e tendo afirmado também, conforme a 16 Bibliolocia - As Sagradas Escrituras aimts* XJMM palavra profética: “Eis aqui venho; no rolo do livro está escrito de mim: Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está den tro do meu coração” (SI 40.7,8). Essa profecia cumpriu-se quando Jesus disse: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4.34). Sempre citava as Escrituras nas suas prega ções e palestras (Mt 12.3; Lc 10.26; Jo 10.34; Mt 21.16,42, etc.). Dos 1.800 versículos usados para registrar as pregações de Jesus, 180 contêm citações das Escrituras. 17 C . A P f T T T T O 2 I E O L O G I A A Doutrina de Deus T EOLOGiA Sistemática mmmmmmmmmmÊfflmmÊmMmm- 4 1 . A E x i s t ê n c i a d e D e u s 1.1. O D eus único A existência de Deus é um fato incontestável. A Bíblia não se preo cupa em provar essa existência, mas começa o seu primeiro versículo falando de Deus, mostrando-o como o principal personagem em todo o universo. “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Deus existe desde a eternidade e Ele é a origem de tudo, aquEle que tudo governa e sustenta. Uma conseqüência do pecado é a cegueira característica dos incré dulos — ocasionada pelo príncipe deste século, para que não vejam a glória de Deus (cf. 2 Co 4-4). Nessa cegueira espiritual, os homens se fizeram deuses e senhores. A Bíblia afirma: “Há muitos deuses e muitos senhores” (1 Co 8.5). Porém, no meio desses deuses que estão espalha dos sobre o vasto campo deste mundo, como pedrinhas de todo tama nho, ergue-se o Deus verdadeiro como uma grande colina que se distin gue dessas pequenas pedras pela sua incomparável grandeza. A Bíblia afirma: “O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Dt. 6.4) e “Nenhum outro há, senão ele” (Dt 4.35; Is 42.8 e 44-6,8). Verdadeiramente, “Só o Senhor é Deus” (1 Rs 18.39). Daí a necessidade de que “conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (cf. Os 6.3). A Bíblia diz: “Porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe” (Hb 11.6). Os que crerem em Deus e o buscarem legitimamente experimentarão “que ele existe e que é galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6). 1.2. Evidências que provam a existência de D eus O inimigo das nossas almas tem procurado completar a desgraçá causada pelo pecado, fazendo que os homens cheguem ao ponto de negar a existência de Deus. Negar a Deus é tolice — tanto como al guém querer negar a existência do Sol, porque não o vê, por estar coberto por nuvens. A Bíblia diz: “Disseram os néscios no seu coração: Não há Deus” (SI 14.1), e ainda: “Por causa do seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus” (SI 10.4). 2 0 TEOLOGiA - A Doutrina de Deus Existem, porém, várias evidências para os que desejarem “investigar”, para que tenham certeza de que há um Deus. 1.2.1. A CRENÇA UNIVERSAL EM UM SER SUPREMO Não existe nenhuma raça humana que não tenha alguma noção de um ser supremo e que, através das suas religiões, procure se aproximar dele e agradar-lhe, retratando-se com ele por meio de sacrifícios, inclu sive de sangue... Muitas vezes é realmente um “deus desconhecido” e, na sua cegueira, estão tateando para achá-lo (cf. A t 17.23,27). A Bíblia diz: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta” (Rm 1.19). Realmente, o homem foi criado por Deus conforme a sua imagem (cf. Gn 1.26). Ele tem em si partículas dessa sua origem divina, e por isso existe nele uma necessidade de um contato com a sua origem — Deus. 1.2.2. A CONSCIÊNCIA A consciência, que no íntimo do homem dá uma sentença moral sobre os seus atos praticados, sejam bons ou maus, fala da existência de uma origem superior que no homem fez registrar os princípios da lei divina. “Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem natural mente as coisas que são da lei... os quais mostram a obra da lei escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” (Rm 2.14,15). A consciência universal nos faz compreender que o Ser supremo é um Ser moral. 1.2.3. A REVELAÇÃO GERAL A criação do mundo e tudo o que nele há fala da existência de um Criador. “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (SI 19.1). “Tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas” (Rm 1.20). Como um relógio fala da existência de um relojoei ro, assim a criação fala de um Criador que é poderoso. 21 T EOLOGiA Sistemática 1.2.4. A REVELAÇÃO ESPECIAL A Bíblia, a revelação divina escrita, revela claramente a exis tência de Deus. N a Bíblia temos um documento autenticado, que nos faz conhecer a Deus através da sua própria revelação. Assim como alguém que quiser conhecer História, C iência ou qualquer outra matéria, procura estudar a literatura adequada para conseguir o conhecimento desejado, assim também aquele que verdadeira mente quer fazer a vontade de Deus conhecerá se essa doutrina é de Deus ou não. 1.2.5. Deus entre nós Jesus, o Filho de Deus, cuja existência e vida nesse mundo estão historicamente comprovadas, veio para revelar Deus aos homens (cf. Lc 10.22) e o fazer conhecer (cf. Jo 1.16). Jesus disse: “Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14.9). O caminho mais curto para conhecer a Deus é aceitar a Jesus como seu Salvador, porque Ele é o caminho para o Pai (cf. Jo 14.6). 1.2.6. A EVIDÊNCIA PESSOAL A experiência pessoal da salvação, por meio do sangue de Jesus Cristo, faz com que nos aproximemos de Deus (cf. Ef 2.13), e te mos, então, absoluta certeza da existência dEle, porque o Espírito do seu Filho clama em nós: “Aba, Pai” (G1 4-6), e nós podemos, com toda a tranquilidade, orar no coração: “Pai nosso, que estás nos céus” (M t 6.9). 2 . D e u s É R e v e l a d o a t r a v é s d o s A t r i b u t o s d a s u a D i v i n d a d e Atributo é uma característica essencial de um ser, aquilo que lhe é próprio. Os atributos de Deus são singulares e perfeitos. Só Ele os tem de modo absoluto. 2 2 T eolocia - A Doutrina de Deus 2.1. D eus é vivo! 2.1.1. “ E l e m e s m o é o Deus v iv o ” (Jr 10.10) A vida é uma expressão de existência, seja terrestre ou eterna... Quem tem vida, tem condições de se comunicar com outros que têm vida. Enquanto os “deuses” feitos por mão dos homens “têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não vêem; têm ouvidos, mas não ouvem; nariz tem, mas não cheiram” (SI 115.4-8). “Mas o nosso Deus está nos céus e faz tudo o que lhe apraz” (SI 115.3). Por isso, os homens são convidados pelo Evangelho a se converterem dos ídolos para o Deus vivo e verdadeiro (cf. 1 Ts 1.9; At 14.15). E os que assim fazem pertencem à Igreja do “Deus vivente” (cf. 2 Co 6.16). 2.1.2. D eu s é t a m b é m a f o n t e d a v id a Ele tem a vida em si mesmo (cf. Jo 5.26), e “dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas” (At 17.25) no sentido terrestre. “E a todos que o conhecerem por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo a quem ele enviou, Ele dá a vida eterna” (cf. Jo 17.3; 1 Jo 5.20). E essa vida é a luz do mundo (cf. Jo 1.4). 2.2. D eus tem personalidade “Personalidade é o conjunto de características cognitivas, afetivas, volitivas e físicas de um indivíduo, distinguindo-o de outro indivíduo e da vida animal”. A Bíblia fala da “pessoa de Deus”. Retrata Jesus como “sendo o res plendor da sua glória e a expressa imagem da sua pessoa [de Deus]” (cf. Hb 1.3; Jó 13.8). Enquanto várias filosofias agnósticas — entre elas o panteísmo — afirmam que Deus é somente uma “força impessoal” ou que “Deus é a natureza” e se identifica com a sua criação, isto é, onde está a criação, aí está Deus, a Bíblia revela Deus como uma Pessoa divina que possui to das as características de uma individualidade. Se Deus não tivesse personalidade com a qual pudesse comunicar-se, os homens não teriam jamais a sua sede do Deus vivo saciada (SI 42.2), porque jamais entrariam em contato com Ele. Mas o nosso Deus é vivo e tem personalidade. 2 3 T EOLOCiA Sistemática 2.2.1 Jesus revela o Pai Jesus veio revelar aos homens o Pai (cf. Lc 10.22) e fazê-lo conheci do (cf. Jo 1.14). Vejamos alguma coisa que Jesus revelou a respeito da personalidade de seu Pai. • Jesus falou de Deus muitas vezes como sendo o seu Pai: Ele disse: “Meu Pai e vosso Pai” (Jo 20.17). Foi Jesus que nos ensinou a orar: “Pai nosso” (Mt 6.9). Quem é Pai possui uma personalidade. • Jesus usou, quando centenas de vezes falou de seu Pai, um prono me pessoal: Ele disse: “E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas... vou para ti” (Jo 17.10,11). O uso de pronomes pessoais subentende a sua personalidade. • Jesus falou de atividades de seu Pai que só são atribuídas a uma pessoa: Ele disse: “Meu Pai trabalha” (Jo 5.17); “o Pai ama” (Jo 3.35); “a obra de Deus é esta: que creiais naquele que ele enviou” (Jo 6.29); “o Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo o que faz” (Jo 5.20). Falou da vontade de seu Pai (cf. Jo 6.39,40), expressão que só se atribui a uma pessoa. Assim, necessariamente, Ele é uma Pessoa. Jesus disse: “Meu Pai é o lavrador” (Jo 15.1), nome que só é atribuído a uma pessoa com personalidade. 2.2.2. A PERSONALIDADE REVELADA Deus falou muitas vezes de si mesmo, usando vários nomes, que por si revelam a sua perfeita personalidade. Quando Moisés questionou so bre qual seria o seu nome, Deus respondeu-lhe: “EU SO U O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós” (Ex 3.14). E impossível imaginar uma expressão mais forte de uma per sonalidade do que essa! 2.3. D eus é eterno “Mas o Senhor Deus é a verdade; ele mesmo é o Deus vivo e o Rei eterno” (Jr 10.10). Em Romanos 16.26, lemos a respeito do “Deus eterno”. Abraão plantou um bosque em Berseba e invocou ali o nome do Senhor — Deus eterno (cf. G n 21.33). Quando 24 T eoeogia - A Doutrina de Deus Moisés, despedindo-se, abençoou as tribos de Israel, usou o nome de “Deus eterno” (cf. Dt 33.27). V 2.3.1. D e u s é in a l t e r á v e l Eternidade é o infinito quando aplicado ao tempo. Deus não tem início. “De eternidade a eternidade, tu és Deus” (SI 90.2; 1 Cr 29.10; Hc 1.12) . Ele tem auto-existência, um atributo do eterno Deus. Não deve sua existência a ninguém, porque Ele é o princípio e o fim, o Alfa e o Omega (cf. Ap 1.8; Is 44.6). Ele é Jeová (nome usado 6.437 vezes) — “a eterna auto-existência do único Deus”. ^ 2.3.2. D e u s n ã o e s t á s u je it o a o t e m p o Para Ele o passado, o presente e o futuro são um eterno presente. O domínio e o poder pertencem ao único Deus, “antes de todos os séculos, agora e para todo o sempre” (cf. Jd 25). Por isso é “que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos, como um dia” (2 Pe 3.8). Os anos de Deus nunca terão fim (cf. SI 102.27). Ele é o Rei dos séculos (cf. 1 Tm 1.17). Deus habita na eternidade (cf. Is 57.15) e o seu trono é desde a eternidade (cf. SI 92.2). O eterno Deus não se cansa (cf. Is 40.28). Este eterno Deus é o nosso Deus. '/ 2.3.3. D e u s é im o r t a l ( c f . 1 T m 1.17; 6.16) É por isso que Ele pode ser eterno. Ele permanece para sempre (cf. SI 102.12) . Os sacerdotes foram impedidos pela morte de permanecer no seu serviço (cf. Hb 7.23), mas Deus é para sempre. Os deuses deste mun do tiveram um princípio e um fim, mas Deus é imortal — Ele é para sempre. v 2.3.4. D e u s é im u t á v e l ( c f . S l 102.27; M l 3.6; T g 1.17; Hb 1.12; 6.17,18) O Senhor é o mesmo (cf. Hb 13.8). Nunca pode mudar. Deus não pode melhorar, porque sempre foi perfeito. Ele jamais pode tomar atitu des que não se harmonizem com a sua perfeita personalidade. Ele não pode negar a si mesmo (cf. 2 Tm 2.13). 25 T EOLOGIA Sistemática 2.4. D eus é espírito Jesus veio para revelar Deus aos homens, afirmando que Ele é espíri to (cf. Jo 4.23). Não disse: Deus é “um espírito”, mas “espírito”. Que significa isso? 2.4.1. A ESSÊNCIA Sendo Deus espírito, Ele não tem um corpo de substância material, com sangue, carne, etc. Ele tem um corpo espiritual (cf. 1 Co 15.44). Embora o corpo espiritual tenha forma, porque Jesus veio em “forma de Deus” (cf. Fp 2.6) e foi a expressa imagem da sua pessoa (cf. Hb 1.3; 2 Co 4-4; C l 1.15), não podemos imaginar qual seja esta forma! Embora a Bíblia fale do rosto de Deus (cf. Êx 33.20) e de sua boca (cf. Nm 12.8) e de seus lábios (cf. Is 30.27), olhos (cf. SI 11.4 e 18.24), ouvidos (cf. Is 59.1), mãos e dedos (cf. SI 8.3-6), pés (cf. Ez 1.27), etc., não devemos por isso procurar materializar Deus e em nossa mente criar uma imagem divina correspondente a essas expressões, comparando-a com um corpo humano! A Bíblia diz que nós não devemos nos preocupar se a divinda de deve possuir a forma que lhe é dada pela imaginação dos homens (cf. A t 17.29). E por isso que Deus adverte: “Para que não vos corrompais e vos façais alguma escultura, semelhança de imagem, figura de macho ou de fêmea” (Dt 4.16). Essa tentação provém do desejo de procurar mate rializar Deus. Deus é espírito e a sua natureza é essencialmente espiritual. Ele ja mais está sujeito à matéria. Nós também não devemos procurar chegar a alguma imagem ou visão física de Deus, mas esperar aquele grande dia quando nós o veremos como Ele é (1 Jo 3.2; 1 Co 13.12). 2.4.2. D e u s é in c o m e n s u r á v e l Incomensurabilidade é o infinito quando aplicado ao espaço. Assim como é impossível imaginar a forma de Deus, também é impossível me dir, pesar ou fazer algum cálculo a respeito de Deus. Não existem núme ros ou expressões que possam nos fazer compreender Deus (Sl 71.15; 40.5 e 139.6,17,18). Medida nenhuma pode dar uma idéia da sua gran deza (Jó 11.9; 1 Rs 8.27). Nenhum cálculo de peso pode fazer-nos com TEOLOGiA - A Doutrina de Deus preender o seu “peso de glória” (2 Co 4-17). Deus é espírito, e na sua imensidade não está sujeito ao espaço. 2.4.3. Deus é invisível (cf. Rm 1.20; C l 1.15) Sendo Deus espírito, a matéria não pode vê-lo. Isto não impede que Ele esteja presente no meio do seu povo. Não somente Noé (Gn 5.29) ou Enoque (G n 5.24) andavam com o Deus invisível. E o privi légio de cada crente (C l 2.6; 1 Ts 4.1), “Porque andamos por fé e não por vista” (2 C o 5.7). v 2 .5 . D eus é uma triunidade Esta é uma das grandes doutrinas da Bíblia. A palavra “triunidade” ou “Trindade” não existe na Bíblia, mas a verdade sobre o único Deus, que é o Pai, o Filho e o Espírito, se encontra em toda a Escritura, desde os primeiros versículos (Gn 1.1-3) até o último capítulo (Ap 22.3,17). Nos últimos tempos surgirão falsos ensinamentos que negarão essa dou trina (cf. 1 Jo 2.18-23), motivo por que devemos conhecer bem o que a Bíblia ensina sobre isso. 2.5.1. AB íb l ia a f ir m a q u e h á u m s ó D e u s A Bíblia fala que “O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6.4). Jesus disse: “Deus é o único Senhor” (Mc 12.29). A doutrina monoteísta (crença em um só Deus) é intocável na Bíblia. Aparece como o primeiro mandamento da Lei (Ex 20.2,3). Existem muitos deuses e muitos senhores, mas um só Deus (cf. 1 Co 8.5,6). A Bíblia usa, em Gênesis 1.1 e em mais 2.700 outras passagens, a palavra Elohim para expressar Deus. Elohim é um substantivo na forma plural, isto é, que inclui uma pluralidade de personalidades em uma só pessoa. Também a palavra “único”, ligada a Deus (Dt 6.4), vem da palavra hebraica achad, que indica uma unidade composta (quando essa pa lavra é usada no sentido absoluto, é empregada a palavra yacheed). Quando Deus fala de si, em várias ocasiões, usa a forma plural. “Fa çamos o homem” (Gn 1.26); “Eia, desçamos” (Gn 11.7); “Quem há de ir por nós?” (Is 6.8) 27 T EOLOCiA Sistemática 2.5.2. T rês Pessoas na Bíblia são chamadas de “Deus” Três Pessoas são chamadas “Deus”: o Pai é chamado Deus (1 Co 8.6; Ef 4.6); o Filho (1 Jo 5.20; Is 9.6; Hb 1.8); o Espírito Santo (At 5.3,4). Para todos três são usados pronomes pessoais: para Deus Pai (cf. Is 44.6), para Deus Filho (cf. Mc 9.7) e para Deus Espírito Santo (cf. Jo 16.13). Os três são mencionados em João 14.16. A todos três são atribuídas características que só pessoas podem ter. Os três falam, amam, sentem, chamam, ouvem, etc. A todos três são referidos atributos divinos: • Eternidade: Pai (SI 90.2); Filho (C l 1.17); Espírito Santo (Hb 9.14). • Onipresença: Pai (Jr 23.24); Filho (M t 28.19); Espírito Santo (SI 139.7). • O nisciência: Pai (1 Jo 5.20); Filho (Jo 21.17); Espírito Santo (1 Co 2.10). • Onipotência: Pai (G n 17.1); Filho (M t 28.18); Espírito Santo (1 Co 12.11). • Santidade: Pai (1 Pe 1.16); Filho (Lc 1.35); Espírito Santo (E f430). • Amor: Pai (1 Jo 4-8,16); Filho (Ef 3.19); Espírito Santo (Rm 15.30). • Verdade: Pai (Jr 10.10); Filho (Jo 14.6); Espírito Santo (Jo 16.13). 2.5.3. A s três Pessoas divinas são um só Deus A Bíblia afirma que os três são um (1 Jo 5.7). Ensina que estas três Pessoas estão unidas reciprocamente. A união entre o Pai e o Filho (Jo 10.30; 14-11; 17.11,22,23; 2 Co 5.19). A união entre o Pai e o Espírito Santo, expressado em “Espírito de Deus” (Rm 8.9). A união entre o Filho e o Espírito Santo: Espírito de Cristo (Rm 8.9; G 14.6). As três Pessoas são mencionadas de uma só vez como Pessoas distintas: • Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19). • Um só Espírito, ...um só Senhor, ...um só Deus” (Ef 4.4-6). • “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo” (2 C o 13.13). ?8 TEOLOciA - A Doutrina de Deus • “O Espírito... o Senhor... é o mesmo Deus” (1 Co 12.4-6). • “Porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espíri to” (Ef 2.18). • “Eleitos segundo a presciência de Deus, em santificação do Espíri to, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo” (1 Pe 1.2). 2.5.4. A UNIDADE ABSOLUTA DAS TRÊS PESSO AS NÃO DESFAZ A SUA INDIVIDUALIDADE Todas três são mencionadas no mesmo momento em lugares diferen tes: o Filho foi batizado, o Espírito veio sobre Ele, enquanto o Pai falava dos céus (cf. Mt 3.16,17). Estêvão estava cheio do Espírito Santo, e viu Jesus à destra de Deus (cf. A t 7.55,56). As três Pessoas são mencionadas como Testemunhas. Conforme prescreve a Lei, eram necessárias duas ou três testemunhas (Dt 19.15,16). Embora as três Pessoas na realidade sejam apenas um (1 Jo 5.7,8), são apresentadas como Testemunhas, por que numericamente são três: o Pai testifica (Rm 1.9), o Filho testifica (Jo 18.37), o Espírito Santo testifica (1 Jo 5.6). 2.5.5. A B íb l ia m e n c i o n a a s t r ê s P e s s o a s d iv in a s o p e r a n d o n a MESMA OBRA, MAS DE DIFERENTES MODOS • A criação. O Pai criou (cf. G n 1.1; Jr 10.10-12; SI 89.11 e 102.25), pelo Filho (cf. Jo 1.2; 1 Co 8.6; Hb 1.2), no poder do Espírito Santo (cf. Gn 1.2; SI 104.30; Jó 33.4 e 26.3). • A salvação. Deus predeterminou a salvação por Jesus (cf. Ef 1.4), enviou o seu Filho (cf. Jo 3.16; G l 4.6), o gerou (cf. Sl 2.7), estava em Cristo, reconciliando o mundo consigo (cf. 2 C o 5.19) e ressuscitou a Jesus (cf. A t 13.30-32). O Filho se ofereceu desde a fundação do mundo (cf. Ap 13.8), veio ao mundo (cf. Hb 10.7) aniquilando a sua glória (cf. Fp 2.7) e morreu na cruz (cf. Jo 19.30). O Espírito Santo operou pela palavra profética (cf. 1 Pe 1.10), na concepção de Jesus (cf. Lc 1.35) e com Jesus no seu ministério (cf. Lc 3.22; 5.17, etc.); operou quando Jesus se ofereceu (cf. Hb 9.14), na sua ressurreição (cf. Rm 8.11) e na sua ascensão (cf. Ef 1.19,20). Agora Ele aplica a obra de Jesus na vida dos homens (Jo 16.15). 2 9 T EOLOCiA Sistemática • O batismo. Jesus ordenou que fosse ministrado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (cf. Mt 28.19). O fato mencionado em Atos dos Apóstolos — que os apóstolos batizavam em nome do Se nhor (A t 2.38; 8.16; 10.48; 19.5) — é aproveitado pelos inimigos da doutrina da Trindade como “prova verídica” de que os apóstolos não acreditavam na doutrina trinitariana, mas “só em Jesus”. (Esta seita nega a existência da Pessoa do Pai e do Espírito Santo, e só aceitam a Pessoa de Jesus. A origem desta doutrina é o espírito do anticristo (cf. 1 Jo 2.22-24). E a explicação deste fato é simples! Quando os apósto los batizavam em nome de Jesus, é porque eles foram enviados com autoridade para representarem a Pessoa de Jesus (cf. Lc 24*47). Cura vam em nome de Jesus (cf. A t 3.6; Mc 16.17) e executavam a discipli na da Igreja em nome de Jesus (cf. 1 Co 5.4'9,13; 2 Ts 3.6). Assim também batizavam em nome de Jesus. Porém, no ato do batismo, o ministravam conforme a ordem de Jesus: em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. • N a vida ministerial. Deus predetermina a chamada para o ministé rio antes de a pessoa ter nascido (cf. G l 1.15; Jr 1.5; Ef 2.10) e a chama (cf. Is 6.8) e a envia (cf. Jr 26.5). Jesus se revela para o chamado (cf. G l 1.16), constrangendo-o a ir (cf. 2 Co 5.14), separando-o para a obra (cf. Ef 4.11), preparando e enviando-o (cf. Mt 10.1,5) e operando com ele (cf. Mc 16.20). O Espírito Santo é o poder que capacita (cf. A t 1.8), opera na chamada (cf. A t 13.1,2) etc. • N a vinda de Jesus. Deus levará os crentes para si (cf. 1 Ts 4.14). Jesus virá nas nuvens para buscar os crentes (cf. 1 Ts 4.16) e o Espírito Santo operará na ressurreição (cf. Rm 8.11). 3 . D e u s s e M a n i f e s t a a t r a v é s d o s s e u s A t r i b u t o s e m R e l a ç ã o à s u a C r i a ç ã o Deus é uma Personalidade divina que pode e quer se comunicar com a sua criação. A Bíblia manifesta os três atributos absolutos de T eologia - A Doutrina de Deus Deus nessa sua comunicação, isto é, sua onipresença, sua onisciência e sua onipotência. 3 .1 . D eus é onipresente 3.1.1. Q u e s ig n i f ic a a o n ip r e s e n ç a d e D e u s ? Deus disse: “Não encho eu os céus e a terra?” (Jr 23.24; cf. SI 72.19) O rei Salomão disse na sua inspirada oração: “Eis que os céus e até o céu dos céus te não poderiam conter” (1 Rs 8.27). Isso fala da onipresença de Deus, a qual é possível porque Ele é espírito (cf. Jo 4.24). Ele não está sujeito à matéria! Para Ele não existe espaço nem tempo. Deus se move com a mesma facilidade do nosso pensamento, que em um dado mo mento pode estar em um lugar e no instante seguinte em outro. Assim como o centro de uma circunferência está à mesma distância de qual quer ponto da periferia, assim também Deus está perto de qualquer pon to do universo. A Bíblia diz a respeito de Deus: “Seus olhos passam por toda a terra” (2 Cr 16.9). Não existe portanto “um Deus nacional” ou “Deus local”, porque Ele é o Deus do universo. Por isso está escrito que Ele “não está longe de nenhum de nós” (A t 17.27; cf. Rm10.6-8). 3.1.2. A ONIPRESENÇA É VOLITIVA A onipresença de Deus não é uma obrigação imposta a Ele, que o acompanha, queira ou não, assim como a nossa respiração nos acompa nha enquanto vivermos. Deus está onde Ele quiser! Nem tampouco significa a sua onipresença que Ele está presente na matéria, como os panteístas afirmam. Se Deus estivesse na matéria, ela então seria divina. Deus é o Criador e é Senhor sobre a sua criação. Ele habita nos céus, e está onde quer. A onipresença também não significa que enquanto uma parte de Deus está em um lugar, outra parte está em um outro. Deus é indivisível. Onde Ele estiver, ali está em toda a sua plenitude. 3.1.3. Q u a l é a a p l i c a ç ã o p r á t ic a d a o n ip r e s e n ç a d e D e u s ? Deus está em todo lugar. “Os olhos do Senhor estão em todo lugar” (Pv 15.3). “E está vendo a todos os filhos dos homens” (SI 33.13). Por 31 T EOLOCIA Sistemática isso, não é possível alguém se esconder de Deus. “Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja?” (Jr 23.24; cf. Jr 16.17; Am 9.2,3; SI 139.7-10) Deus vê e está presente, ainda que alguém diga: “O Senhor não vê” (Ez 9.9; cf. Hb 4.13). Deus está presente em todo lugar, e por isso podemos chamá-lo para ser nossa testemunha (cf. Rm 1.9). A Bíblia diz: “A testemunha no céu é fiel” (SI 89.37). Nos caminhos do Senhor, a sua presença irá conosco (cf. Ex 33.14,15) e na sua presença há abundância de alegria (cf. SI 16.11). Deus também está presente na hora da angústia (cf. SI 46.1 e 86.15). Por isso a angústia do seu povo é também a angústia dEle (cf. Is 63.9). A ajuda de Deus está perto (cf. SI 121.1-5). A onipresença de Deus explica por que Ele se manifesta, quando os crentes se reúnem. “Ele é a plenitude daquele que cumpre tudo em to dos” (Ef 1.23). Ele habita na sua igreja (cf. 1 Co 3.16; 2 Co 6.16). “Os retos habitarão na tua presença” (SI 140.13). “Eis que eu estou convosco” (Mt 28.20). A manifestação de Deus na vida de oração é explicada também quando nos lembramos da sua onipresença. Ele está perto dos que o invocam (cf. SI 145.18; Is 57.15). Ele sabe o que precisamos antes de pedirmos (cf. Is 65.24). “Que gente há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o Senhor, nosso Deus, todas as vezes que o chamamos?” (Dt 4-7) 3.2. D eus é onisciente Nem pensamento nem cálculo algum podem fazer-nos compreender a onisciência de Deus (cf. SI 139.6; Jó 11.7-9 e 42.2). 3.2.1. A ONISCIÊNCIA É UM ATRIBUTO QUE SÓ D eU S POSSUI “Deus... conhece todas as coisas” (1 Jo 3.20). “O seu entendimento é infinito” (SI 147.5). A sua onisciência não é um resultado de seu esforço de aprender, ou coisa que alguém tenha lhe favorecido. Não existe ne nhum que tenha dado algo para aumentar o saber de Deus (cf. Rm 11.35; Jó 41.11). Até o mais alto grau da sabedoria ou da ciência que um ho mem possa atingir, tem em Deus a sua origem (cf. 1 Co 4.7). 32 TEOLOGiA - A Doutrina de Deus 3.2.2. A ONisciÊNCiA de Deus abrange t o d o o passado Não existe mistério nenhum no passado que para Deus já não esteja revelado (cf. Mt 10.26; 1 Co 4.5; Lc 8.17). Até todos os pecados ocultos “manifestam-se depois” (1 Tm 5.24). A única maneira de evitar esta “manifestação” é, em tempo, reconciliar-se com Deus através do sangue de Jesus (cf. 1 Jo 1.7,9). 3.2.3. A ONisciÊNCiA de Deus abrange tudo no presente Deus conhece tudo a respeito de todo homem. Davi disse: “Tu conheces bem a teu servo, ó Senhor Jeová” (2 Sm 7.20). Deus sabe o nosso nome e a nossa morada (cf. Ap 2.13). Ele conhece a nossa estrutura (cf. SI 103.14) e os nossos corações (cf. A t 15.8; Lc 16.15), pois os esquadrinha (cf. 1 Cr 28.9) e conhece todo o segredo (cf. SI 44.21). Conhece os nossos pensamentos (cf. SI 139.1-3) e as nossas palavras (cf. SI 139.4), e os nossos caminhos estão perante os olhos do Senhor (cf. Pv 5.21; Jó 34.21). Ele até conhece o número dos nossos cabelos (cf. Mt 10.30). Assim, o Senhor conhece as nossas necessidades (cf. Mt 6.32; Lc 12.30), e tem a solução para todos os nossos problemas. Deus também conhece tudo sobre a natureza. Sabe os nomes de to das as estrelas, coisa que astrônomo nenhum jamais foi capaz (cf. Is 40.26; SI 148.1-3). Até os passarinhos são conhecidos, e “nenhum deles está esquecido diante de Deus” (Lc 12.6; cf. Mt 10.29). 3.2.4. A ONISCIÊNCIA de Deus abrange também o futuro Esta parte da sua onisciência é também chamada “presciência” (cf. A t 2.23). Deus previu desde a eternidade a queda do homem, e providenciou no seu amor a solução para salvá-lo. Por isso está escrito: “O Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8). N a sua presciên cia, Deus viu na eternidade o seu Filho entregue para ser crucificado (cf. A t 2.23; 1 Pe 1.18-20). Ele também vislumbrou a Igreja se edificando, como fruto da morte de Jesus no Gólgota (cf. Ef 3.1-10). 3 3 T EOLOCiA Sistemática Nessa previsão, Deus também conheceu os homens e os predestinou para serem salvos por Jesus (cf. Rm 8.29; Ef 1.4,5) — por nenhum outro meio, mas só por Jesus (cf. A t 4.12). Assim, somos eleitos segundo a presciência de Deus para obediência e aspersão do sangue de Jesus (cf. 1 Pe 1.2). Os que não aceitarem esse único meio de salvação estão, por causa da sua rejeição a Cristo, predestinados ao julgamento e castigo. “Mas quem não crer será condenado” (Mc 16.16). Porém, ainda que Deus na sua presciência possa conhecer o futuro dos que rejeitarem o seu amor, isso não interfere no livre-arbítrio do homem. Em tudo que depender de Deus, Ele está sempre a favor de todos os homens. Deus também, na sua onisciência, prevê os acontecimentos do futuro. Profecia é uma revelação do que Deus na sua previsão já sabia (cf. Is 48.5). Temos no passado muitos exemplos em que Deus previu e revelou o que haveria de acontecer. Conforme 1 Reis 13.2, um jovem profeta va ticinou no ano 975 a.C., e aquilo se cumpriu no ano 641 (cf. 2 Rs 23.16, isto é, 334 anos depois). Também em Isaías 45.1-7, o profeta predisse no ano 712 a.C. algo que se cumpriria no ano 536 a.C. (cf. Ed 1.1,2, isto é, 176 anos depois). Vivemos às vésperas de grandes acontecimentos. Deus tem estabele cido todos eles pelo seu próprio poder (c f A t 1.7), e são conhecidos desde a eternidade (c f A t 15.18). Nada acontece por acaso, mas porque Deus assim determinou. 3.3. D eus é onipotente Para os homens, que são limitados, é difícil compreender ou calcular a onipotência de Deus (c f Jó 37.2; 36.14; 26JL4; 5.9 e 9.10). 3.3.1. Deus é onipotente e tem poder ilimitado O próprio Deus disse: “Eu sou o Deus Todo-poderoso” (Gn 17.1). “Haveria coisa alguma difícil ao Senhor?” (Gn 18.14) “Eu sou o Se nhor que faço todas as coisas” (Is 44.24). A Bíblia afirma: “O poder pertence a Deus” (SI 62.11). Jesus chamou a seu Pai de “o Poder” (Mt 26.64, A R C 1969) e disse: “A Deus tudo é possível” (Mt 19.26), TEOLOGiA - A Doutrina de Deus e “as coisas que são impossíveis aos homens, são possíveis a Deus”(Lc 18.27). O anjo Gabriel disse: “Para Deus nada é impossível” (Lc 1.37). Jó falou de Deus: “Bem sei eu que tudo podes” (Jó 42.2). A onipotência de Deus significa que o poder dEle é ilimitado. 3.3.2. C omo se manifesta a onipotência de Deus? Deus não pode ser impedido por ninguém, quem quer que seja! (cf. Is 43.13; 14-27; Jó 11.10; Pv 21.30; Rm 9.19,20) As leis da natureza não podem limitar a onipotência de Deus. Ele é soberano e faz o que quer (cf. SI 135.6; 115.3). Ele está acima de todas essas leis (cf. N a 1.3-6). Vejamos alguns exemplos em que os milagres de Deus foram contrários às leis da natureza: Deus fez as águas do mar ficarem como um muro (cf. Ex 14.22), e as águas do rio Jordão como um montão (Js 3.13-16). Ele fez com que o ferro do machado flutuasse (cf. 2 Rs 6.1-6) e que o Sol se detivesse no meio do céu (cf. Js 10.13). Também livrou Daniel do poder dos leões (cf. Dn 6.22,27). Mandou uma grande tempestade (cf. Jn 1.4) e fez com que cessasse (cf. Jn 1.15; SI107.29), etc. Deus é poderoso para cumprir as suas promessas (cf. Rm 4.21), e até ' “chama as coisas que não são como se j á fossem” (Rm 4.17). Deus, que é o Criador, tem ainda o seu poder em pleno vigor. Por isso, não existem limites no seu poder de operar maravilhas de cura, em casos sem nenhu ma esperança humana. 3.3.3. A onipotência de Deus opera harmoniosamente conforme a SUA VONTADE Jamais existe contradição entre a sua natureza perfeita e o seu poder ilimitado. Deus jamais faria coisa que fosse contrária à sua perfeita san tidade. Ele que tudo pode (cf. Jó 42.2) só faz o que lhe apraz (cf. SI 115.3). “Tudo o que o Senhor quis, ele o fez” (SI 135.6). Porém, existem coisas que o Onipotente não pode fazer: Ele não pode mentir (cf. Hb 6.18; Nm 23.19; Tt 1.2), não pode negar-se a si mesmo (cf. 2 Tm 2.13) e não pode fazer injustiça (cf. Jó 8.3; 34.12). Ele é sempre santo em todas as suas obras (cf. SI 145.17). Deus também não pode fazer acepção de pessoas (cf. Rm 2.11; 2 Cr 19.7). 3 5 T EOLOCiA Sistemática Deus também limita a sua onipotência, ao respeitar o livre-arbítrio do homem. Somente os que querem, bebem de graça da Água da Vida (cf. Ap 22.17). Deus deixa ao homem a oportunidade de livremente se humilhar diante da sua potente mão (cf. 1 Pe 5.6). 4 . D e u s s e M a n i f e s t a a t r a v é s d o s A t r i b u t o s d a s u a N a t u r e z a Deus é infinitamente perfeito (cf. Mt 5.48; Dt 18.13). Por isso a sua obra é perfeita (cf. Dt 32.4) e também os seus caminhos o são (cf. SI 18.30). Todas as características da sua Pessoa e da sua natu reza não são apenas expressões de algumas atitudes que demonstra ou tem, mas constituem a própria substância, a essência da sua di vindade. Vamos agora estudar três características da natureza de Deus, que de modo perfeito expressam a excelsa Pessoa do etemo Deus. 4.1. D eus é a verdade! 4.1.1. “Deus é a v e r d a d e ” (Jr 10.10; cf. Dt 32.4; S l 31.5) Deus não somente pratica a verdade e tem atitudes e palavras que perfeitamente condizem com a verdade, mas Ele é a própria Verdade. A verdade é a substância da sua Pessoa. Por isso Ele é chamado “verdadei ro Deus” (1 Jo 5.20; cf. Jo 17.3). Esta substância — a verdade — caracteriza não somente o Deus Pai, mas também o Deus Filho (cf. Jo 14.6) e o Deus Espírito Santo (cf. Jo 16.13; l j o 5.6). 4.1.2. Deus é também a fonte da verdade Por isso Ele é chamado “Deus da verdade” (S l 31.5). Toda a verda de que existe no universo tem em Deus a sua origem. As suas obras e a sua palavra são sempre a verdade (cf. S l 119.160). “Sempre seja Deus verdadeiro” (Rm 3.4). O etemo Deus é luz perfeita e, portanto, é in- T EOLOGiA - A Doutrina de Deus teiramente impossível que nEle haja trevas (cf. 1 Jo 1.5), isto é, que Deus possa negar a si mesmo (cf. 2 Tm 2.13) ou minta (cf. Hb 6.18). 4-1.3. “A VERDADE DO SENHOR É PARA SEMPRE” (Sl 117.2) Assim como Deus é eterno, são também eternos os atributos da sua na tureza. A sua verdade é para sempre (cf. Sl 146.6) e “estende-se de geração a geração” (Sl 100.5). Essa é a segurança que temos em confiar nas suas promessas. Deus jamais pode revogar a sua Palavra (cf. Mt 5.18; Nm 23.20). “A palavra de nosso Deus subsiste etemamente” (Is 40.8). “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar” (Mt 24 35). 4.1.4. Deu séh el! Essa qualidade, que de modo absoluto caracteriza Deus, é uma expressão da verdade que Ele imutavelmente executa sem cessar. A fidelidade de Deus nunca falha. Repetidamente, a Bíblia fala dessa sua fidelidade vinculada a várias experiências e necessidades do homem. Vejamos: Deus é fiel na sua chamada (cf. 1 Co 1.9); é fiel quando o pecador atender, confessando o seu pecado (cf. 1 Jo 1.9); é fiel para guardar (cf. 2 Ts 3.3); é fiel ao sermos tentados (cf. 1 Co 10.13) eé fiel quanto às suas promessas (cf. Hb 10.23), as quais são sim e sim (cf. 2 Co 1.18-20). Ele também é fiel quando o crente padece (cf. 1 Pe 4.19) e a sua fidelidade chega até as mais altas nuvens (cf. Sl 36.5), ou seja, quando Jesus vier! Graças a Deus por sua verdade e por sua fidelidade. “A sua verdade é escudo e broquel” (cf. Sl 91.4). 4.2. D eus é santo A Bíblia denomina Deus de “santo” (cf. Sl 99.3). Ele é chamado “o Santo de Israel” (cf. Sl 89.18). Só no livro de Isaías esse nome é usado trinta vezes (cf. Is 1.4). Deus diz: “Assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é Santo” (Is 57.15). Realmente, “san to e tremendo é o seu nome” (Sl 111.9). 4.2.1. Essência da santidade A santidade é uma substância da própria natureza de Deus, e não somente expressão de um procedimento santo. Deus diz: “Eu sou santo” 3 7 T eolocia Sistemática (1 Pe 1.16; cf. Lv 19.2; 20.7; SI 99.6,9). Ele é a fonte de toda a santida de. Assim como a luz é caracterizada pelo seu brilho, assim também Deus, que é a Luz (cf. 1 Jo 1.5), emite raios do brilho da sua santidade. A Bíblia diz que “Deus é glorificado na sua santidade” (cf. Ex 15.11). A glória de Deus são raios da sua santidade, e nós o adoramos na beleza dessa santidade (cf. SI 29.2; 96.8,9). Não somente Deus é santo mas também o Deus Filho (cf. Is 6.3; 1 Jo 2.20; Ap 3.7) e o Deus Espírito Santo (cf. Ef 4.30) o são. Essa santidade, que é um atributo das três Pessoas da Santa Trindade, é evidenciada no clamor dos serafins: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Is 6.3; cf. Ap 4.8). 4.2.2. A SANTIDADE DE ÜEUS EM RELAÇÃO AOS HOMENS Deus quer que os homens vivam em íntima comunhão com Ele. Porém, isso só é possível quando eles aceitam as condições impostas por Deus. Ele diz: “Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pe 1.16). Deus tem, na sua santidade, decretado leis e normas que expressam a sua vontade, às quais os homens têm de se sujeitar e obedecer. Ele quer conduzir os homens no caminho da santidade, porque deseja que “sir vamos a Deus agradavelmente, com reverência e temor” (Hb 12.28, Versão Revisada, IBB). Deus, porém, na sua santidade, sente tristeza quando sua vontade não é respeitada pelos homens — Deus ama a justiça e aborrece a iniqüidade (cf. Hb 1.9). Ele não pode tolerar o pecado (cf. Hc 1.13). Por isso, “as vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Is 59.2). 4.2.3. A justiça de Deus é uma expressão da sua santidade A justiça é a santidade de Deus em ação, relativamente aos homens. Deus é justo (cf. Rm 1.17; 10.3; Jo 17.25; SI 116.5; 2 Tm 4.8). N a sua justiça, Ele zela pelo cumprimento das suas leis e normas dadas aos ho mens. Na sua santidade e verdade, Deus não pode revogar a sua própria Palavra, nem a sentença imposta aos transgressores, porque elas são imu táveis como Ele o é. TEOLOCiA - A Doutrina de Deus A justiça de Deus leva o homem, que vive em pecado, ao juízo divi no (cf. Dt 1.17). 4.3. D eus é amor 4.3.1. Deus é a m o r ! A Bíblia não somente diz que Deus ama os homens (cf. Ef 2.4; 2 Ts 2.16; 2 Co 9.7, etc.), mas que Ele é amor (cf. 1 Jo 4-8,16), isto é, que o amor é a própria substância do eterno Deus. O seu amor é como um rio que emana dEle mesmo, que é a fonte perene desse sentimento. Assim, a Bíblia fala do “Deus de amor” (2 Co 13.11) e também do “amor de Deus” (2 Co 13.13). Não somente Deus é amor. Toda a Trindade é uma expressão do amor divino. A Bíblia fala de Jesus, o Filho de Deus, “do seu amor que excede todo entendimento” (Ef 3.19). Fala também do amor do Espírito Santo (cf. Rm 15.30). Quando Jesus quis mostrar a profundidade do amor de Deus para com os seus discípulos, Ele disse: “[Tu] tens amado a eles como me tens amado a mim” (Jo 17.23). Deus é amor! E esse seu sentimento é de caráter imu tável. O mesmo amor com que Deus amou seu Filho, a quem chamou “meu Filho amado” (Mt 3.17), também derrama aos que crerem nEle. O amor de Deus não se pode medir (cf. Jó 5.9; 9.10; SI 139.17,18). É maior queo amor de uma mãe por seu próprio filho! (cf. Is 49.15) 4.3.2. O amor de Deus para com os pecadores A Bíblia diz que Ele nos amou primeiro (cf. 1 Jo 4.19). Amou-nos quando éramos pecadores (cf. Ef 2.4,5; Rm 5.8). O seu amor se expressa em desejar o melhor para nós, e possuir em íntima comunhão consigo. Ele, que aborrece o pecado (Hb 1.9), ama o pecador! 4.3.3. O GRANDE PREÇO QUE O AMOR DE Ü EU S PAGOU! Estamos agora diante da maior e mais insondável profundidade do amor de Deus. Enquanto Deus na sua santidade não pode tolerar o pecado, e conforme a sua soberana justiça tem de executar o juízo para castigar quem vive no pecado, de forma paradoxal ama o pecador! Parece que estamos diante de uma inexplicável contradição. Porém, não há nada disso. 3 9 T EOLOGiA Sistemática O amor de Deus está em pleno acordo com a retidão e a justiça das exigências de castigo para o pecador. Mas no seu “muito amor com que nos amou” (Ef 2.4), Deus resolve pagar o mais alto preço jamais retribu ído (cf. 1 Co 6.20), dando o seu próprio Filho para ser o sacrifício pelo resgate dos homens. Jesus foi dado como Mediador entre a justiça de Deus e os homens (cf. 1 Tm 2.5,6), e morreu na cruz do Calvário, pa gando a sentença que a justiça de Deus havia decretado sobre o pecador (cf. 2 Co 5.21; 1 Pe 3.18). Assim, a justiça de Deus permanece respeitada e executada, e atra vés do seu amor, os pecadores são perdoados e salvos (cf. Jo 3.16). 4.3.4. A g r a ç a d e D e u s ( c f . 2 C o 6.1; 8.1; G l 2.21, e t c .) é u m a EXPRESSÃO DO AMOR DIVINO Graça significa um favor imerecido que Deus, na sua perfeita justiça, manifestou por intermédio do sacrifício do seu Filho (cf. 2 Tm 1.9; 2 Co 8.9), trazendo salvação a todos os homens (cf. Tt 2.11). A Bíblia diz: “Por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Rm 5.18), e ainda: “Onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Rm 5.20). “Graças a Deus, pois, pelo seu dom inefável” (2 Co 9.15). 4.3.5. A MISERICÓRDIA E A LONGANIMIDADE DE Ü EU S SÃO EXPRESSÕES DO SEU AMOR Deus é chamado “o Pai das misericórdias” (2 Co 1.3 ), e a Bíblia diz que Ele é “riquíssimo em misericórdia” (Ef 2.4). A misericórdia que Ele mostra perdoando o pecador é concedida pelos méritos de Jesus Cristo (cf. T t 3.5; 1 Pe 1.3). Pelo seu amor, Ele se mostra longânimo (cf. 1 Pe 3.20), esperando com paciência que o pecador aceite o seu convite (cf. Rm 2.4). 5 . 0 P o d e r C r i a d o r d o D e u s E t e r n o Temos já visto que Deus é Todo-poderoso (cf. Gn 17.1), e deixou que as “coisas que estão criadas” manifestem para todos o seu eterno poder e a sua divindade (cf. Rm 1.19,20). O ensino da Bíblia sobre a TEOLOGiA - A Doutrina de Deus criação do mundo constitui um protesto contra as filosofias pagãs (entre elas o panteísmo), as quais apresentam Deus como um ser impessoal, inativo ou passivo. A Bíblia apresenta Deus como um Ser divino e ati vo, que trabalha (cf. Jo 5.17; C l 1.16; A t 14-17; 17.28). A sua criação testifica da grandeza do seu poder (cf. Jr 10.12; 32.17; 51.15), sendo uma expressão da sua divina vontade (cf. Ap 4.11). O problema da origem de todas as coisas tem preocupado muita gente. Filósofos e cientistas têm pesquisado e feito declarações sobre o resultado das suas pesquisas, as quais diferem de modo impressionante entre si. A Bíblia nos dá uma definição autorizada sobre este assunto. Foi Deus que, através de uma revelação, deixou a Moisés a incumbência de escre ver sobre a criação do céu e da terra. Ela expressa afirmativamente: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Nos três primeiros versículos da Bíblia temos, de modo concentrado, um relato verídico, que abrange um enorme período de tempo e acontecimentos da maior relevância. 5.1. N o p r i n c í p i o c r i o u D e u s o s c é u s e a t e r r a (G n 1.1) 5.1.1. N o PRINCÍPIO Aqui Deus não dá nenhuma definição sobre o tempo. Foi quando o tempo pela primeira vez apareceu no espaço da eternidade. Pode ser que tenham se passado milhões de anos desde aquele momento. Vemos, as sim, que não existe nenhuma contradição por parte da Bíblia com os cálculos que os geólogos têm apresentado sobre a idade da Terra. 5.1.2. C riou Deus Deus se apresenta como a única origem de todas as coisas. Quando a Bíblia expressa “criar”, é usada uma palavra hebraica, bara, que significa “fazer algo do nada”. Foi isso que aconteceu! (SI 33.9; 148.1-5; Hb 11.3) Tudo surgiu do nada, criado apenas pela Palavra de Deus. 5.1.3. Foi Deus — Elohim — Quem criou! Já observamos que Elohim é a palavra hebraica que designa um plu ral majestático de Deus, mostrando-nos a Trindade operando na cria 41 T EOLOGiA S istemática ção! Deus criou (cf. G n 1.1; Hb 1.10); o Filho, Jesus, também criou (cf. C l 1.16; Jo 1.1-3; Hb 1.2) e o Espírito Santo também operou (cf. G n 1.2; S l 104.30). 5.1.4. A B íb l ia f a l a p o u c o d e s s a c r i a ç ã o o r ig i n a l Ela diz que Deus não criou a Terra vazia (cf. Is 45.18). Vemos algu mas referências a essa criação em Provérbios 8.22-31 e Jó 38.4-7. 5.2. “ A terra era sem forma e vazia” (G n 1.2) Alguma coisa aconteceu! A Terra que Deus não “criou vazia” ficou sem forma e vazia... em caos! 5.2.1. “A TERRA ERA” “A terra era” (Gn 1.2) pode ser traduzido “se tomou”. Várias tradu ções usam essa palavra desse modo. N a Bíblia Hebraica é utilizado o termo “ficou”, no sentido de “tomou-se assim”. Como exemplo, veja os termos utilizados em Gênesis 2.7; 19.26; 20.12, etc. 5.2.2. “ S e m f o r m a e v a z ia ” Essa expressão, em hebraico, tohu vbohu, aparece três vezes na Bí blia, sempre com relação ao castigo de Deus (cf. Gn 1.2; Jr 4.23; Is 34.11). Houve uma catástrofe que destruiu a criação original, conforme tam bém lemos em 2 Pedro 3.5. Não se deve confundir essa catástrofe com o dilúvio. Após o dilúvio, não houve a necessidade de Deus restaurar nada, porém aqui a terra ficou em caos, e toda a vida, seja vegetal ou animal, foi desfeita. 5.2.3. A B íb l ia n ã o r e v e l a a c a u s a d e s s a c a t á s t r o f e Existe um pensamento generalizado entre muitos teólogos de que há uma simultaneidade entre essa catástrofe e a queda celestial de Lúcifer, o querubim protetor (cf. Ez 28.11-17; Is 14-12-14; Lc 10.19), ocasiona da pela cobiça de tomar-se semelhante ao Altíssimo (cf. Is 14.13). Po rém, a Bíblia silencia sobre os detalhes. T EOLOGiA - A Doutrina de Deus 5.3. “ D isse D eus: h a j a luz. E houve luz” (G n 1.3) A Bíblia não revela qual o intervalo de tempo que existiu entre a catástrofe destruidora da criação original e o início da obra restauradora de Deus pela sua Palavra. 5.3.1. A P a l a v r a c r ia d o r a A restauração do mundo foi executada através da mesma Palavra de poder com que foi gerada a criação original (cf. 2 Pe 3.7). Começou com a Palavra de Deus: Haja luz. Em todo o primeiro capítulo de Gênesis apare cem expressões como: “E disse Deus”, “e viu Deus”, “chamou Deus”, etc. 5.3.2. A P a l a v r a r e n o v a d o r a Quando Deus restaurou a Terra, aproveitou coisas que já existiam. Por isso é usada para “fez Deus” a palavra hebraica asah. Asah significa “fazer de coisas que já existem”. Porém, quando se trata do aparecimen to dos animais, etc. (cf. Gn 1.21), é usada de novo a palavra bara, isto é, “criar do nada”. Deus criou as grandes baleias, etc. Quando se trata do homem, Deus “fez” (asah), porque o formou do pó da terra (cf. Gn 1.26 e 2.7) e a mulher da costela de Adão (cf. Gn 2.21,22), mas também “criou” (bara, cf. G n 1.27), porque assoprou em seus narizes o fôlego da vida e, assim, o homem foi feito alma vivente (cf. Gn 2.7). Em Isaías 43.7, vemos essas duas expressões: “Os que criei para a minha glória; eu os formei, sim, eu os fiz” . 5.3.3. A RESTAURAÇÃO A Terra foi restaurada em seis dias, e no sétimo Deus descansou, isto é, a obra estava consumada e não houve necessidade demais trabalho. Isso não significa que Deus continuou a descansar em todo o dia sétimo. Aqui é retratado um período de seis dias literais de 24 horas, e não de seis fases de tempo. Isso se vê em Êxodo 20.9,11. Ali encontramos o seguinte registro: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra... Porque em seis dias fez [tisah] o Senhor os céus e a terra”. Se fossem fases de tempo, não se poderia explicar a expressão: “Foi a tarde e a manhã: o dia primeiro”, etc. (cf. Gn 1.5,8,13,19,23,31) 43 T EOLOCiA S istemática 5.3.4. A HARMONIA DA CRIAÇÃO Vemos assim, no primeiro capítulo, as coisas restauradas: separação entre céu e água, entre terra e mar, a produção de erva conforme a sua espécie, a restauração do sistema solar, a criação dos animais e, por fim, a criação do homem. E Deus viu tudo quanto tinha feito, e eis que tudo era muito bom (cf. G n 1.26). 5 .4 . A NARRAÇÃO DA BÍBLIA SOBRE A CRIAÇÃO DO MUNDO DESFAZ AS DOUTRINAS MATERIALISTAS SOBRE ESSE ASSUNTO 5.4.1. O p in iõ e s s e c u l a r e s Existem filósofos e cientistas que têm combatido o ensino da Bíblia sobre a origem de todas as coisas. Já na antiguidade, filósofos gregos como Heráclito, Aristóteles, etc., afir maram que o mundo apareceu por meio de uma eterna e impessoal energia. Já naquele tempo, essa semente materialista era lançada pelo Inimigo. N o século XIX, surgiu um naturalista, Charles Darwin (morto em 1882, aos 73 anos de idade), que lançou a teoria da evolução, afir mando que as espécies existentes são resultado de uma gradual evo lução de espécies inferiores, iniciando por um “protoplasma” até che gar ao homem. 5.4.2. E v o l u c io n is m o As teorias evolucionistas são totalmente falsas e sem fundamento científico. Se, como os evolucionistas afirmam, toda vida existente começou por um “protoplasma”, de onde ele veio — e quem o fez? Não existem provas, somente suposições infundadas. A afirmativa de que a vida surgiu da matéria em alta rotação e movi mento é completamente infundada. Jamais a ciência comprovou que a vida tenha surgido da matéria. Deus é o Senhor da vida e a sua única fonte (cf. A t 17.25). A afirmativa de que espécies inferiores evoluíram para espécies su periores é também inteiramente falsa. Isso jamais aconteceu. Todo ser vivo se reproduz e se desenvolve dentro da mesma espécie. Cavalos T eologia - A Doutrina de Deus sempre geram cavalos e jamais girafas. Além disso, a afirmativa de que as espécies com o tempo venham a progredir, também não é real. Um fato conhecido é que tudo aquilo que for entregue à sua própria sorte, finda por degenerar. 5.4.3. C iê n c i a v e r s u s e v o l u c io n is m o As teorias evolucionistas estão sendo rejeitadas pela ciência mais avançada. Muitos cientistas atuais falam abertamente dessa teoria como uma coisa sem fundamento. O próprio Darwin se converteu a Deus. Ele lamentou o grande estrago que as suas teorias infundadas causaram no meio universitário e na teologia. Ele sofreu no fim da vida de um “mal psicossomático”. Seu médico, o Dr. Ralf Colp Jr., denominou sua doença de “mal de Darwin” — uma consciência ator mentada. 5.4.4. Q u a l é o a l v o d a t e o r ia e v o l u c i o n i s t a ? A teoria evolucionista é um combate organizado contra Deus. Spencer afirma: “A evolução é puramente mecânica e anti-sobrenatural. Não existe lugar para Deus nessa teoria”. É como diz a Bíblia: “Mudaram a verdade de Deus em mentira e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador” (Rm 1.25). O evolucionismo procura dissolver a existência de Deus como um ser divino e perfeito. Deus afirmou ter feito o Céu e a Terra e a vida que nela há (cf. Is 42.5 e 45.12). Ele se chama “o Criador” (cf. Ec 12.1). Deus tem apresentado a criação como prova da sua existência (cf. Rm 1.20; Sl 8.3 e 19.1-6), e declara: “Os deuses que não fizeram os céus e a terra desaparecerão” (Jr 10.11,12). Quem nega que Deus é o Criador o faz mentiroso, e um Deus que mente não pode existir. Mas, diz a Bíblia: “Ele fez a terra pelo seu poder” (Jr 10.12). Essa doutrina é um ataque contra a veracidade da Bíblia. Se fosse possível provar que os primeiros capítulos da Escritura estão destituídos de fundamento, estaria anulado todo o valor da mesma. Vemos que os teólogos que aderiram a essa doutrina evolucionista também não crêem nas doutrinas básicas da Bíblia. T EOLOGiA Sistemática 5.4.5. O CRENTE JAMAIS PODE FICAR NEUTRO De cabeça erguida proclamamos, em qualquer lugar e diante de qual quer auditório, que Deus é o Criador. Jamais nos colocamos contra a verdadeira e bem informada ciência, mas a Bíblia diz que devemos ter horror às oposições da ciência falsificada, porque aqueles que a profes sam se desviam da fé (cf. 1 Tm 6.20,21). Nós estamos na mesma fileira que o apóstolo Paulo se encontra, na “defesa e confirmação do evange lho” (Fp 1.7). C a PITT IT o 3 Crist o lo a a A Doutrina de Cristo T EOLOGiA Sistemática L A PREEXISTÊNCIA E T E R N A DE JE S U S 1.1. Jesus também é eterno “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1.1). “E ele é antes de todas as coisas” (Cl 1.17); “Desde os dias da eternidade” (Mq 5.2) e antes que o mundo existisse, possuía glória junto com o Pai (cf. Jo 17.5). Jesus disse: “Antes que Abraão existisse, eu sou” (Jo 8.58). Em Provérbios 8.22-31, lemos sobre o prin cípio dos seus caminhos, antes de suas obras. 1.2. Antes da fundação do mundo, Jesus planejou junto com o Pai A SALVAÇÃO DA HUMANIDADE Deus na sua onisciência viu, desde a eternidade, que o homem a ser criado cairia em pecado, ficando sujeito à perdição eterna. Ele então preparou um caminho de salvação, por meio do sacrifício de seu próprio Filho. Jesus participou e concordou e, desde então, já estava disposto a dar a sua vida por nós. Por isso, a Bíblia se expressa a respeito do “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8). A vida eterna é assim prometida “antes dos tempos dos séculos” (T t 1.2), quando Deus nos elegeu para, em Jesus, sermos santos e irrepreensíveis (cf. E f 1.4). 1.3. J esus participou da criação do mundo “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3). “Todas as coisas subsistem por ele” (C l 1.17). 2 . A E n c a r n a ç ã o d e J e s u s Jesus, o “Deus bendito etemamente” (Rm 9.5), fez-se homem. Esse mistério chama-se “encarnação” . A Bíblia diz: “Grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne” (1 Tm 3.16). A doutrina da encarnação de Jesus excede tudo que o entendimento humano possa C ristoloíja - A Doutrina dk C risto compreender; porém, desse milagre depende a substância do Evangelho da salvação e a doutrina da redenção. 2.1 . J esus se fez homem por meio de uma virgem, através de concep ção SOBRENATURAL Quando Deus, no dia da queda, prometeu o Redentor, revelou tam bém de que maneira Ele viria ao mundo. Disse à serpente: “Porei ini mizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descen dência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15, Versão Revisada, IBB). O profeta Isaías profetizou: “Uma virgem con ceberá e dará à luz um filho e será o seu nome Emanuel” (Is 7.14). Quando na plenitude dos tempos (G 14.4), o anjo Gabriel comunicou a Maria que ela seria o instrumento da encarnação de Jesus, disse-lhe: “Em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus” (Lc 1.31). Maria respondeu: “Como se fará isto, visto que não conheço varão?” (Lc 1.34) E Gabriel lhe revelou como este mila gre aconteceria. Ele disse: “Descerá sobre ti o Espírito Santo e a virtu de do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra, pelo que também o San to, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35). Com a palavra: “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim segun do a tua palavra” (Lc 1.38), Maria aceitou, e o milagre aconteceu! Ela estava grávida! É impossível explicar este milagreem termos biológicos. O médico Lucas registrou este milagre no seu evangelho com fé e convicção, sem deixar uma sombra de dúvida. “Pela fé entendemos” (Hb 11.3). 2 .2 . J esus veio a este mundo por meio de um nascimento natural Ele nasceu exatamente nove meses após Maria haver concebido de modo sobrenatural, quando “se cumpriram os dias em que ela havia de dar à luz” (Lc 2.6). Jesus nasceu, conforme a profecia, em Belém (cf. Mq 5.2), e para isso Deus providenciou que o alistamento decretado pelo imperador Augusto obrigasse José e Maria a locomoverem-se de Nazaré, na Galiléia, até Belém, exatamente na época de Maria dar à luz. Jesus nasceu como os demais homens nasceram. Houve, porém, 4<) T EOLOGiA Sistemática uma manifestação sobrenatural: Uma multidão de anjos cantou, dian te de um grupo de pastores de ovelhas, louvores ao Messias que havia nascido (cf. Lc 2.8-14). 2.3. O VERDADEIRO DEUS VEIO AO MUNDO COMO UM VERDADEIRO HOMEM Foi por meio desse milagre que “o verbo se fez carne” (Jo 1.14), que Deus introduziu no mundo o Primogênito (cf. Hb 1.6), que Jesus veio em semelhança de carne (cf. Rm 8.3), que participou da carne e do sangue (Hb 2.14) e foi feito “descendência de Abraão” (Hb 2.16), “em tudo... semelhante aos irmãos” (Hb 2.17). Foi assim que Ele desceu do Céu (cf. Jo 6.33,38,41,42,51,58), e Deus lhe preparou um corpo (cf. Hb 10.5). A encarnação deu a Jesus condições de ser o Mediador entre Deus e os homens (cf. 1 Tm 2.5), e ser misericordioso e fiel sumo sacerdote, para expiar o pecado do povo (cf. Hb 2.17). Sendo homem, podia fazer reconciliação pelos homens; sendo Deus, a sua reconciliação fica com um inédito valor. 3 . J e s u s — O v e r d a d e i r o D e u s Não é somente desde a eternidade que Jesus é Deus (cf. Jo 1.1-3). Ainda depois que Ele “aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo” (Fp 2.7), e “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14), continua sendo Deus verdadeiro, revelando “a glória do Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). As Escrituras, que incontes tavelmente provam a sua deidade, foram escritas para que todos creiam que Jesus é o Cristo (cf. 1 Jo 5.10). Vamos mencionar algumas evidências que provam que Jesus é Deus verdadeiro. 3 .1 . J esus é chamado “D eus” 3.1.1. Deus Pai chamou-o “Deus” “Do Filho, diz: O Deus, o teu trono subsiste” (Hb 1.8). Duas vezes Ele o chamou: “Meu Filho amado” (M t 3.17; Mc 9.7). Todo aquele, pois, que nega que Jesus é Filho de Deus, faz o próprio Deus mentiro 50 Cristolocia - A Doutrina de Cristo so, “porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu” (1 Jo 5.10). 3.1.2. O ANJO, ENVIADO POR D EU S, CHAMOU JESU S DE “ FlLHO DE D EU S” (Lc 1.35) “ E ele será chamado pelo nome de E m a n u e l ” ( E m a n u e l traduzido é : Deus conosco. Mt 1.23). Quando Jesus nasceu, os anjos cantaram lou vores a “Cristo, o Senhor” (Lc 2.11). 3.1.3. O p r ó p r io J e s u s s e c h a m o u “ D e u s ” Quando os seus inimigos lhe perguntaram: “Es tu o Cristo, Filho do Deus Bendito?”, Ele respondeu: “Eu o sou” (Mc 14.61,62). Ele chamou Deus de meu Pai (cf. Mt 10.32; Jo 2.16; 10.37; 15.24). Ele se chamou também “o Filho unigénito que está no seio do Pai” (Jo 1.18) e disse: “Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14.9). Para a mulher samaritana, Ele disse que era o Messias (Jo 4.25,26), notícia que se espalhou em toda a cidade (Jo 4.29). Ele se chamou: “o Alfa e o Omega, o Princípio e o Fim, o Primeiro e o Derradeiro” (cf. Ap 22.13) e “Eu sou” (Jo 8.24,28,58; 13.59; compare com Ex 3.14). Aquele que nega a deidade de Jesus rejeita o próprio testemunho de Jesus, e mostra assim que é inspirado pelo espírito do Anticristo (cf. 1 Jo 2.22,23). Se Jesus fosse, como os teólogos modernistas afirmam, um pro duto da união entre Maria e José ou com qualquer outro homem, o mundo não teria nenhum Salvador, e Jesus seria um homem mentiroso, porque afirmou ser o Filho de Deus. Mas glória a Jesus! Ele é Deus bendito etemamente (Rm 9.5). 3 .1 .4 .T odos os apóstolos afirmaram que J esus é D eus João Batista disse que Jesus era Filho de Deus (cf. Jo 1.34). Pedro testificou: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16), chamou-o de “o Santo” (At3.14) e “nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 1.1), e disse que Jesus Cristo é o Senhor de todos (cf. At 10.36). Paulo disse que Jesus era o próprio Filho de Deus (cf. Rm 8.32) e falou da glória do “gran de Deus e nosso Senhor Jesus Cristo” (Tt 2.13), dizendo que Cristo, se 51 T eologia Sistemática gundo a came, é Deus bendito etemamente (cf. Rm 9.5). João escreveu que Jesus era o Verbo eterno (cf. Jo 1.1), o Unigénito do Pai (cf. Jo 1.14), e “verdadeiro Deus”( l Jo 5.20). Tomé o chamou “Senhor meu, e Deus meu” (Jo 20.28). E todos os que em todos os tempos receberam a salvação têm dado o mesmo testemunho que os samaritanos: “Sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo” (Jo 4 42). 3.2. J esus possui atributos divinos • Jesus é onipotente (cf. Lc 4.35,36,41), tem poder sobre os demônios (cf. Mt 8.16; 10.1), tem poder sobre as doenças (cf. Mt 10.8) e tem poder para guardar (cf. Mt 28.18). • Jesus é onisciente (cf. Jo 2.24; 4.16-19;6.64; Mc 2.8; Lc 22.10-12; 5.4-6). • Jesus é onipresente (cf. Mt 28.20; 18.20; 2 Co 13.4; Ef 1.23). • Jesus é imutável (cf. Hb 13.8; Hb 1.12). • Jesus é eterno (cf. C l 1.17; Jo 1.1; Mq 5.2; Is 9.6). • Jesus deve ser adorado. Ele que afirmou: “A o Senhor, teu Deus, adorarás” (Mt 4.10) e aceitou adoração (cf. Mt 28.9-17; 14.33; 15.25; Lc 24.52). Veja também Hebreus 1.6. 3.3. As SUAS OBRAS DIVINAS PROVAM A SUA DEIDADE Jesus tomou parte na criação do mundo (cf. Jo 1.3; C l 1.16; 1 Co 8.6; Hb 1.2,10), e por Ele todas as coisas subsistem (At 17.28); realizou obras divinas (cf. Jo 5.36; 10.25,37,38; 14.10,11; 15.24; 17.4) e ressuscitou mortos (cf. Lc 7.14,15; 8.54,55; Jo 11.39-44). Ele mesmo é a “Ressurrei ção e a Vida” (cf. Jo 11.25; 5.25); também perdoou e perdoa pecados (cf. Mt 9.5; Lc 5.20; 7.47-50; At 10.38). 3.4. A SUA NATUREZA DIVINA PROVA A SUA DEIDADE 3.4.1. J e su s é sa n t o Era chamado “santo” (cf. A t 2.27; 3.14; 4-27). Ele fez sempre o que era agradável a Deus (cf. Jo 8.29). Amava a justiça e aborrecia a iniqüi- dade (cf. Hb 1.9). Ele não conhecia pecado (cf. 2 Co 5.21), era imaculado (cf. Hb 7.26), sem mancha (cf. 1 Pe 1.19) e puro (cf. 1 Jo 3.3). 52 C ristolocia - A Doutrina de C risto 3 .4 .2 . J e s u s é a m o r O seu amor excede todo o entendimento (cf. Ef 3.19). “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (Jo 15.13). Cristo mostrou o seu amor para com o Pai (cf. Jo 14-31), querendo em tudo obedecê-lo e fazer a sua vontade (cf. Jo 6.38; SI 40.9; Jo 4.34). Ele amou o mundo, entregando-se por nós em sacrifício (cf. Ef 5.2), sendo nós ainda pecadores (cf. Rm 5.6,8). Cristo amou a sua igreja (cf. Ef 5.25) e os seus seguidores: “Como havia amado os seus que esta vam no mundo, amou-os até ao fim” (Jo 13.1). Ele ama os pecadores (cf. Lc 19.10), e até os seus inimigos (cf. Lc 23.34). 3.4.3. J e s u s é a v e r d a d e ( c f . J o 14.6; 1.14,17; 8.32; 15.1; 18.37) “Cristo foi ministro da circuncisão, por causa da verdade de Deus, para que confirmasse as promessas feitas” (Rm 15.8). Por isso, todas as promessas de Deus são nele “sim” (cf. 2 Co 1.20,21). Ele é o ver dadeiro (cf. 1 Jo 5.20). 4 . J e s u s — O V e r d a d e i r o H o m e m Cristo, “sendo em forma de Deus... aniquilou-se a si mesmo, toman do a forma de servo” (Fp 2.6,7). Assim, “Cristo... Deus bendito etema- mente” (Rm 9.5), renunciou voluntariamente à glória perfeita que pos suía nos céus (cf. Jo 17.5) e a tudo aquilo que Ele na sua glória divina podia gozar, para ser o Redentor da humanidade, sujeito às limitações de um verdadeiro homem. Jesus viveu neste mundo não somente como Deus verdadeiro, mas também como homem verdadeiro. 4.1 . A B íblia chama Jesus “ homem” QuandoPedro falou de Jesus, disse: “Jesus Nazareno, varão aprovado por Deus” (At 2.22). Pilatos disse a respeito de Jesus: “Eis aqui o ho mem” (Jo 19.5). Jesus disse, falando de si mesmo: “Nem só de pão viverá o homem” (Mt 4.4). Ele também afirmou: “Mas, agora, procurais matar- me a mim, homem que vos tem dito a verdade” (Jo 8.40). Paulo escre 5 3 T EOLOCiA Sistemática veu que a graça (cf. Rm 5.15 -18) e a ressurreição vieram por um homem (cf. 1 Co 15.21) e que há “um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem” (1 Tm 2.5). O nome “Filho do homem”, freqüentemente usado por Ele mesmo (69 vezes nos evangelhos), expressava tanto a sua humilhação e sofri mento como sua representação legal por toda a humanidade (cf. Mt 8.20; 11.19; 20.28; Mc 8.31; Jo 8.28; 12.23, 24, etc.), como também a grande glória com que Ele há de se manifestar quando voltar para julgar o mundo e para reinar (cf. Mt 16.27; 24.30; 26.64; Mc 13.26, etc.). 4 .2 . Jesus nasceu como qualquer outro homem Embora Maria houvesse concebido de modo sobrenatural pelo Es pírito Santo (cf. Lc 1.35), Jesus nasceu como todos os homens nas cem (cf. Lc 2.7). Deus lhe preparou um corpo (cf. Hb 10.5), e Ele “veio em carne” (cf. 1 Jo 4.2), e se fez carne (cf. Jo 1.14), e como outro homem qualquer participou “da carne e do sangue” (cf. Hb 2.14). Assim, Ele teve corpo (cf. Mt 26.12; Lc 24 39), alma (cf. Mt 26.38) e espírito (cf. Jo 11.33). Ele estava sujeito ao crescimento e ao amadurecimento naturais (cf. Lc 2.40,52), e aprendeu a obediên cia (cf. Hb 5.8). 4 .3 . Jesus integrou-se completamente na sociedade de sua época 4.3.1. J e s u s e r a m e m b r o d e u m a f a m íl ia Quando Maria concebeu pelo Espírito Santo, era noiva de José. Por revelação de um anjo, ele tomou conhecimento disso e resolveu aceitar Maria como a sua esposa. Todavia, não a conheceu antes de ela haver dado à luz a Jesus (cf. Mt 1.18-25). Assim, nasceu Jesus, não de uma mãe solteira, mas em uma família. O povo falava dEle: “Não é este Jesus, o filho de José?” (Jo 6.42) Jesus, como filho, sujeitou-se aos seus pais (cf. Lc 2.51). 4.3.2. J e s u s t e v e u m n o m e , c o m o q u a l q u e r o u t r o h o m e m O nome que Maria lhe deu foi aquele que o anjo havia dito que lhe dessem: “E lhe porás o nome de Jesus” (Mt 1.21; cf. Lc 1.31). 5 4 C ristologia - A Doutrina de C risto 4.3.3. J e s u s t e v e , c o m o q u a l q u e r o u t r o h o m e m , a s u a g e n e a l o g ia A Bíblia até registra duas genealogias, a primeira do lado de José, o pai adotivo de Jesus, o cabeça da família, que definia a sua posição jurídica (cf. Mt 1.1-17), e a segunda genealogia do lado de Maria, a sua mãe, que definia a sua posição biológica (cf. Lc 3.23-38). Nas genealogias judaicas não se registravam nomes de mulheres e, por isso, Maria não aparece em Lucas 3.23 como filha de seu pai Eli, mas em lugar dela, José, seu marido, como “filho de Eli” (José era genro de Eli! O pai de José era Jacó [cf. Mt 1.16]) (Scofield). Por meio dessas genealogias podemos provar o cumprimento exato de tudo que “Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas” (At 3.21) a respeito da procedência de Jesus como homem. Segundo as profecias, o Messias viria de Sem, filho de Noé (cf. Gn 9.26,27 - cumprimento: Lc 3.36), da semente de Abraão (cf. Gn 17.19; 12.3; G1 3.16 - cumprimento: Lc 3.34), descendente de Jacó (cf. Gn 18.13-15, veja Lc 3.34), da tribo de Judá (cf. A t 13.22,23; Hb 7.14; Ap 5.5, veja Lc3.34), da família de Davi (cf. SI 132.11; Jr 23.5; Rm 1.3; A t 13.22,23, veja Lc 3.32). Observamos assim que todos esses nomes constam da genealogia de Jesus. 4.3.4. J e s u s t e v e a s u a p r o f is s ã o s e c u l a r O seu pai adotivo era carpinteiro (cf. Mt 13.55). Jesus aprendeu a mesma profissão, e por isso era chamado de “carpinteiro” (cf. Mc 6.3). Jesus, como o primogênito de Maria, ficou com a responsabili dade da família após o falecimento de José, motivo por que Ele, na cruz, entregou essa responsabilidade a João, o seu discípulo (Jo 19.26,27). 4.3.5. J e s u s c u m p r iu o s e u d e v e r p a r a c o m a s o c ie d a d e Pagou o tributo (cf. Mt 17.24-27). Com sabedoria, evitou entrar em uma armadilha que os inimigos lhe haviam preparado, para o jogar con tra o governo romano ou contra o seu povo, os judeus (cf. Mt 22.15-21). Nunca agitou as multidões (cf. Mt 12.19-21). O governador Pilatos dis se a seu respeito: “Nenhum crime acho nele” (Jo 19.6). 5 5 T EOLOGiA Sistemática 4.4. J esus, como verdadeiro homem, estava sujeito às limitações HUMANAS Jesus sentia cansaço (cf. Mt 8.24; Jo 4 4). Tinha fome (cf. Mt 4.2) e sede (cf. Jo 4.7; 19.28). Ele se alegrava (cf. Lc 10.21), e também sentia tristeza e perturbação (cf. Mc 3.5; Jo 12.27). Até chorou (cf. Hb 5.7; Lc 19.41; Jo 11.35). Ele sofreu (cf. Mc 8.31; Lc 9.2), até o ponto que o seu suor ficou como sangue (cf. Lc 22.44). Morreu (Fp 2.8; Jo 19.30,34). Jesus, como homem, foi tentado em tudo (cf. Hb 4.15; Mt 4.1-11). Toda tentação que um homem pode sofrer, Jesus sofreu (cf. Hb 2.17; Lc 22.28). Como Deus, jamais podia ser tentado (cf. Tg 1.13). Como homem, Jesus dependia da ajuda de Deus. Por isso Ele orava constantemente (cf. Mt 14.23), para que de Deus recebesse poder (cf. Lc 5.16,17), direção para o seu trabalho (cf. Lc 6.12,13; Lc 4-42,43) e vitória sobre os demônios (cf. Mc 9.29, etc.). Ele orou até pelos inimi gos (cf. Lc 23.34). Por isso, as ameaças e maldades dirigidas contra Ele jamais podiam alterar a sua íntima comunhão com Deus. Em tudo Ele nos deu exemplo (cf. 1 Pe 2.23), abrindo pelas suas pisadas o caminho que nos conduz à vitória (cf. SI 85.13). Jesus, como homem, se distinguiu de todos os demais homens em um só ponto: jamais sofreu uma fraqueza moral. Embora tenha vindo em “semelhança da carne” (Rm 8.3), Ele jamais conheceu o pecado na sua própria experiência (cf. Hb 4 .15 ;2C o5.21). Ele era santo (cf. Hb 7.26), incontaminado e imaculado (cf. 1 Pe 1.19). NEle não havia pecado (cf. 1 Jo 3.5); era justo (cf. 1 Jo 3.7). Podia desafiar a todos: “Quem dentre vós me convence de pecado?” (Jo 8.46) Quando entrou na luta final, Ele disse: “...se aproxima o príncipe deste mundo e nada tem em mim” (Jo 14.30). Ele que orou: “Pai, perdoa-lhes” (Lc 23.34). Nunca precisa va pedir: “Pai, me perdoa!” 4.5. J esus, homem verdadeiro eternamente O “Verbo se fez carne” (Jo 1.14) e assim permanece etemamente (cf. Hb 7.24), para sempre (cf. Hb 7.28,25). Após a ressurreição, Jesus rece beu um corpo glorioso (cf. Fp 3.21; Lc 24.39), isto é, um corpo espiritual (cf. 1 Co 15.44), e foi exaltado soberanamente (cf. Fp 2.9). Ele assim 5 6 C ristologia - A Doutrina de C risto está no céu, com o seu corpo que recebeu como homem, embora glorifi cado. Estêvão (cf. A t 7.56) e João (cf. Ap 1.13) o viram após a sua ascensão como Filho do Homem. Assim Ele também há de voltar (cf. Mt 26.64). Quando Ele subiu, os anjos testificaram: “Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (At 1.11). Aleluia! 5 . J e s u s U n i u n a s u a P e s s o a a s D u a s N a t u r e z a s P e r f e i t a s 5.1. J esus teve, no seu nascimento, duas naturezas distintas Pela concepção sobrenatural de Maria, Jesus herdou do seu Pai, pela operação do Espírito Santo (cf. Lc 1.35), a natureza divina com todas as suas características. De Maria Ele recebeu a natureza humana. As suas naturezas divina e humana se uniram na constituição de sua pessoa de modo perfeito. As duas naturezas não se misturam, isto é, Jesus não fi cou com a sua divindade “humanizada” ou com a sua natureza humana “divinizada”. Em Caná, quando Jesus transformou a água em vinho, a água deixou de ser água e passou a ser integralmente vinho (cf. Jo 2.8- 10). Quando, porém, Jesus se fez homem, continuou sendo Deus verda deiro, mesmo estando sob a forma de homem verdadeiro. As duas naturezas operavam assimsimultânea e separadamente na sua pessoa. Jamais houve conflito entre as duas naturezas, porque Je sus, como homem, seja nas suas determinações ou autoconsciência, sempre conforme a direção do Espírito Santo, sujeitava-se à vontade de Deus, de acordo com a sua natureza divina (cf. Jo 4.34; 5.30; 6.38; SI 40.8; Mt 26.39). Assim, Jesus possuía duas naturezas em uma só personalidade, as quais operavam de modo harmonioso e perfeito, em uma união indissolúvel e eterna. Essa realidade tem um símbolo maravilhoso na arca do tabernáculo. A arca era feita de madeira de cetim, coberta com ouro (cf. Ex 25.10- 5 7 T eolocia S istemática 22). A tampa da arca, chamada de propiciatório, era o lugar onde o sangue da expiação era aspergido. A arca é um símbolo de Jesus como “o nosso Mediador”, que revestido de glória está no santuário do céu, onde entrou com o sangue da expiação (cf. Hb 9.5-7,11,12,24). Assim como a madeira da arca (símbolo da humanidade de Cristo) não se misturava com o ouro (símbolo da divindade de Cristo), assim também as duas naturezas de Jesus permanecem juntas, formando a nossa arca perfeita. Glória a Jesus! 5.2. As DUAS NATUREZAS OPERAVAM LADO A LADO NA VIDA DE JESU S Essa operação prova sempre que Ele era homem verdadeiro e tam bém Deus verdadeiro. Vejamos aqui alguns exemplos: • Jesus nasceu em toda a humildade (cf. Lc 1.12; 2 Co 8.9, natureza humana), mas o seu nascimento foi honrado por uma multidão de an jos, que o exaltaram como Messias (cf. Lc 2.9-14, natureza divina). • Jesus foi batizado como outros seres humanos, sujeitando-se à jus tiça divina (cf. Mt 3.15, natureza humana), porém Deus falou naquela ocasião: “Este é o meu Filho” (Mt 3.17, natureza divina). • Jesus foi tentado, como todos os demais homens (cf. Lc 4.1-13; Hb 4.15, natureza humana), mas, tendo Ele vencido, os anjos o serviram (cf. Mt 4.11, natureza divina). • Jesus dormiu de cansaço no barco, apesar da grande tempestade (cf. Mt 8.24, natureza humana), mas depois levantou-se e repreendeu o vento e as ondas (cf. Mt 8.26, natureza divina). Se Ele tivesse sido só Deus, jamais ficaria cansado (cf. SI 121.4,5). • Jesus, cansado de andar, assentou-se junto à fonte para descansar (cf. Jo 4.6, natureza humana), porém ali Ele descobriu a situação espiri tual da mulher, e lhe revelou o caminho da salvação (cf. Jo 4.7-29, natu reza divina). • Diante da morte do seu amigo Lázaro, Jesus chorou (cf. Jo 11.33- 35, natureza humana), mas ali orou ao seu Pai, e mandou Lázaro sair da sepultura (cf. Jo 11.32-43, natureza divina). • N o jardim Jesus foi preso por homens ímpios (cf. Jo 18.1-3,12,13, KH C ristolocia - A Doutrina de C risto natureza humana). Porém, quando Ele disse: “Sou eu”, todos os solda dos caíram por terra (cf. Jo 18.6, natureza divina), e curou a orelha do servo do sumo sacerdote, que Pedro havia cortado (cf. Lc 22.51, natu reza divina). 5.3. Jesus, às vezes, deixou voluntariamente de fazer uso das vir tudes DA NATUREZA DIVINA Para fazer a vontade de seu Pai e cumprir as Escrituras (cf. Mt 26.54), Jesus se sujeitou à limitação humana, que havia aceitado. Por exemplo, não quis chamar 12 legiões de anjos para o livrar (cf. Mt 26.53). 5 .4 . A DOUTRINA SOBRE AS DUAS NATUREZAS OPERANDO EM UMA SÓ PERSONALIDADE Esse assunto tem sido uma pedra de tropeço da teologia, através dos séculos. Se olharmos esse assunto unilateralmente, dando destaque só à divindade de Jesus, então a sua humanidade fica irreal e simulada. Des tacando demasiadamente o lado da sua humanidade, a sua condição de Deus verdadeiro fica ofuscada. 6. Os M i s t é r i o s d e C r i s t o , o U n g i d o As profecias no Antigo Testamento revelaram, com muitos séculos de antecedência, que Jesus, o Redentor prometido, seria o Ungido de Deus (cf. SI 2.2; 45.7; 89.20; Is 61.1; Dn 9.25,26), e que Ele ocuparia os ministérios de profeta (cf. Dt 18.15), de sacerdote (cf. SI 110.4; Zc 6.13) e de rei (cf. SI 110.2; 72.1-19; 2 Sm 7.4-17, etc.). Essas profecias coincidem com os três ministérios que Deus estabeleceu no tempo do Antigo Testamento. A separação para esses ministérios era através da unção. (Veja profeta: 1 Rs 19.16; sacerdote: Lv 4.3-5; 6.22, e rei: 1 Sm 10.1; 16.13.) Quando Jesus veio, na plenitude dos tempos (cf. G14 4), foi home nageado pelo coro dos anjos como Cristo (cf. Lc 2.11), nome usado 5 9 T EOLOCiA Sistemática 577 vezes no Novo Testamento. Simeão (cf. Lc 2.26-30) e Pedro (cf. Jo 1.41; Mt 16.16) o reconheceram como Cristo. A palavra Cristo (grego) significa o mesmo que Messias (hebraico), e ambas, traduzidas em português, significam “o ungido”. Isso mostra que Jesus foi enviado por Deus e ungido para exercer tudo aquilo que através dos profetas havia sido prometido. Logo depois de iniciar o seu ministério com cerca de trinta anos de idade, Jesus recebeu revestimento de poder pelo Espírito Santo, que em forma corpórea veio sobre Ele (cf. Lc 3.22), sendo assim, pela unção divina, investido no ministério de profeta (cf. Jo 7.40), sacerdote (cf. Hb 3.1) e rei (cf. Jo 18.37). Jesus podia dizer em verdade: “O Espírito do Senhor é sobre mim, pois me ungiu” (Lc 4.18). Glória a Jesus! Vamos agora ver Jesus no exercício destes três ministérios. 6.1 . Jesus — o Profeta 6.1.1. J e s u s c h a m o u -s e a s i m e s m o “ P r o f e t a ” ( c f . Mt 13.57; 23.37; Lc 13.33) Muitos outros também o chamaram assim (cf. Mt 21.11; Mc 6.15; 8.28; Lc 7.16; 24.19; Jo 4.19; 9.17). 6.1.2. C o m o p r o f e t a , J e s u s t r a n s m it iu a o p o v o a m e n s a g e m d e D e u s • Ele falou através da sua vinda ao mundo! Deus falou pelo Filho (cf. Hb 1.1), isto principalmente a respeito do cumprimento exato de todas as profecias concernentes à vinda do Redentor. (Veja Lc 4 21.) • Jesus falou pelo seu grande exemplo, através do qual mostrou de que modo Deus quer que os homens vivam (cf. 1 Pe 2.21). Ele abriu o caminho pelos seus passos (cf. SI 85.13). • Jesus transmitiu, pelo seu ministério profético, a doutrina de Deus. Veja o sermão da montanha, em Mateus 5— 7. Ele mesmo disse: “A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou” (Jo 7.16). • Jesus também profetizou sobre acontecimentos que ainda hão de acontecer. Vários capítulos nos evangelhos transcrevem estas precio sas profecias. 6 0 C ristolocia - A Doutrina de Cristo 6.1.3. O DESEMPENHO DO MINISTÉRIO PROFÉTICO O exercício do ministério profético de Jesus refere-se principalmen te ao período que vai do começo do seu ministério público até o Gólgota. Entretanto, ainda no céu Ele continua como profeta, porque o “teste munho de Jesus é o espírito de profecia” (Ap 19.10). Ele continua falan do por meio da sua igreja, que é o seu corpo (Ef 1.22,23), e através dos dons do Espírito Santo (1 C o 12.7-11), e dos ministérios dados por Ele (Ef 4.11,12) e pela sua santa Palavra. 6.2. Jesus — o Sumo Sacerdote 6.2.1. O SACERDOTE ETERNO Os profetas prediziam que Jesus viria como um sacerdote eterno (cf. SI 110.4). Quando Ele veio, foi identificado como o sumo sacerdote prometido (cf. Hb 2.17; 3.1; 4.14,15; 5.6,10; 8.1; 10.21). 6.2.2. S u m o s a c e r d o t e d a o r d e m d e Melquisedeque Que significa a expressão: Jesus, sumo sacerdote conforme a or dem de Melquisedeque (Hb 6.20), em cumprimento da profecia em Salmos 110.4? • Quem era Melquisedeque? Ele era um crente cananeu, que como Jó havia crido no Deus Altíssimo (cf. Jó 1.8). Ele era rei da cidade de Salém (cf. Hb 7.1). Deus o havia chamado para exercer o sacerdócio (cf. Hb 7.1). Ele vivia no tempo de Abraão (por volta de 1900 a.C.). • Jesus, como sacerdote conforme a ordem de Melquisedeque, evi dencia que o seu sacerdócio era não da Lei, mas sim de uma nova dispensação. Conforme aquela dispensação, Jesus jamais poderia ser sa cerdote, porque estes eram todos da tribo de Levi (cf. Nm 18.27; 1 Cr 23.13), enquanto Jesus era da tribo de Judá (cf. Hb 7.13,14). Assim, Ele foi sacerdotechamado por Deus. “Jurou o Senhor: “Tu és sacerdote eter namente, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 7.21). • Jesus, sacerdote conforme a ordem de Melquisedeque, chama aten ção para o fato de que Ele, assim como Melquisedeque, era tanto rei como sacerdote. Assim como Melquisedeque foi chamado “rei de justi 61 T EOLociA Sistemática ça” (Hb 7.2), Jesus também o foi (cf. A t 22.14; Jr 23.6; 1 Jo 2.1). Assim como Melquisedeque foi chamado “rei de paz” (cf. Hb 7.2), Jesus tam bém o foi (cf. Is 9.6). Nenhum dos sacerdotes levíticos foi sacerdote e rei. Mas Jesus era tanto sacerdote como Rei (cf. Zc 6.13). • O fato de que a genealogia de Melquisedeque não foi citada, nem foi feita referência ao tempo do seu nascimento nem da sua morte (cf. Hb 7.3), é usado pelo Espírito Santo como uma figura de Cristo, que é de eternidade a eternidade (cf. SI 90.2; Ap 1.8), e cuja procedência divina não era conhecida pelo povo. Jesus não precisava ser substituído, como os sacerdotes levíticos; porque eles, pela morte, foram impedidos de permanecer (cf. Hb 7.23), mas Jesus permanece etemamente (cf. Hb 7.24), e tem um sacerdócio perpétuo (cf. Hb 7.28). 6.2.3. Q u a i s s ã o o s o f íc io s d o s a c e r d ó c i o d e J e s u s ? Os encargos do sumo sacerdote no Antigo Testamento são uma ver dadeira figura que mostra com exatidão a obra que Jesus, o nosso Sumo Sacerdote, fez e está fazendo. Vamos agora distinguir três grandes encar gos no serviço do sumo sacerdote, que se cumpriram na vida e no minis tério de Jesus. • O sumo sacerdote sacrificava junto ao altar do holocausto. Levava o sacrifício ao pé do altar, onde degolava e sacrificava a vítima (cf. Lv 4.24-27; 9.18; SI 118.27). Isso se cumpriu na vida do nosso Sumo Sacer dote, Mediador e Substituto, quando Ele subiu ao Gólgota, não com um sacrifício de animais, mas com a oferta e sacrifício da sua própria vida, que entregou a Deus em cheiro suave (cf. Ef 5.2). Ele pôs a sua alma por expiação do pecado (cf. Is 53.10), quando se tomou para nósoCordeiro de Deus para tirar o pecado do mundo (cf. Jo 1.29; Is 53.7). Esse seu sacrifício foi feito uma vez por todas (cf. Rm 6.10). Jamais se repetirá. Essa parte do encargo do nosso Sumo Sacerdote, aqui na terra, está para sempre consumada (cf. Jo 19.30). Glória a Deus para sempre! • Depois de o sumo sacerdote haver sacrificado a oferta junto ao altar, tomava o sangue, no dia da grande expiação (uma vez por ano, cf. Ex 30.10; Hb 9.7), e o levava para dentro do véu, no lugar santíssimo, 6 2 Cristolocia - A Doutrina df. Cristo onde era aspergido por cima do propiciatório, entre os dois querubins, fazendo assim a expiação pelos pecados do povo diante de Deus (cf. Lv 16.15-17; Êx 25.22; Nm 7.89). O nosso Sumo Sacerdote também en trou no Santíssimo — no céu, com o seu próprio sangue (cf. Hb 9.24), e está agora ali exercendo continuamente o seu ministério sacerdotal, à destra de Deus. Os sinais eternos da cruz — as suas santas feridas (cf. Ap 5.6) — mostram para sempre que a expiação por Ele feita dura para sempre. Jesus é, assim, o nosso Propiciatório (cf. Rm 3.25), a nossa propiciação (cf. 1 Jo 2.2). Ele é a garantia do perdão de todos os peca dos, para todos que crerem em seu nome. • O sumo sacerdote, depois de ter levado o sangue para dentro do véu, saía até o povo que estava esperando (cf. Lc 1.21; comp. Ex 28.35), para abençoá-lo e orar por ele. Assim Jesus, o nosso Sumo Sacerdote, vive para sempre, intercedendo por nós (cf. Hb 7.25) e abençoando aqueles que receberam a expiação pelo seu sangue. Após ter consumado a redenção na cruz, Deus enviou a promessa do Espírito Santo (cf. G 13.13,14). 6.3. J esus — o R ei Jesus chamou-se a si mesmo “Rei” (cf. Jo 18.37), e disse que o Pai havia-lhe destinado o reino (cf. Lc 22.29). Os profetas haviam profeti zado que Jesus viria como Rei (cf. SI 2.6-8; 8.6; 110.6; Is 9.7; Jr 23.5). Quando Ele nasceu, foi adorado como Rei (cf. Mt 2.2,11). Antes de subir ao Gólgota, Ele entrou triunfante em Jerusalém, conforme as pro fecias (cf. Zc 9.9,10; Mt 21.1-11), e foi então aclamado como Rei (cf. Lc 19.38). Voltando ao céu, após a sua ressurreição, foi aclamado como o Rei da Glória (cf. SI 24.8-10). Graças a Deus! Após a ressurreição de Jesus, Deus exaltou-o soberanamente (cf. Fp 2.9), e coroou-o de honra e de glória (cf. Hb 2.7), glorificando-o com “aquela glória que tinha” antes que o mundo existisse (cf. Jo 17.5) e que Ele havia deixado para ser homem (cf. Fp 2.6-8). Ele foi agora feito Senhor e Cristo (cf. A t 2.36), Príncipe e Salvador (cf. A t 5.31), Juiz dos vivos e dos mortos (cf. A t 10.42), e assentou-se à direita de Deus nos céus (cf. Ef 1.20). Deus entregou tudo nas suas mãos (cf. Jo 3.35), e Ele tem agora todo o poder no céu e na terra (cf. Mt 28.18). 63 T eologia Sistemática Porém, a plenitude desse ministério Jesus mostrará quando voltar ao mundo como Rei, para restaurar tudo que os profetas têm predito (cf. At 3.21). Então Ele, como descendente de Davi, se assentará no trono real e estabelecerá o milênio (cf. Lc 1.32,33; Mt 19.28; 25.31). Então a sua querida Igreja reinará com Ele (cf. 2 Tm 2.12; Ap 20.4), e o seu reino não terá fim (cf. Is 9.7). Vamos, portanto, orar como Jesus nos ensinou: “Venha o teu Reino” (Mt 6.10). 7. As O b r a s d e J e s u s C r i s t o Jesus fez muitos sinais e maravilhas (cf. A t 10.38; Hb 2.4). Ele curou enfermos (cf. Mt 9.35; 8.16,17), ressuscitou mortos (cf. Lc 7.11-16; Jo 11.41-45), acalmou tempestades (cf. Mt 8.24-26) e multiplicou o pão (cf. Mt 14.13-20). Fez tantos milagres que, se tudo fosse escrito, “nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem” (Jo 21.25). Porém, entre todas as suas obras, a maior continua sendo, para sempre, a sua morte, ressurreição e ascensão. 7.1. A morte de Jesus A morte de Jesus tem sido o tema central de eternidade a eterni dade. Desde a eternidade, antes da fundação do mundo, a morte de Jesus já era o tema central do céu. Deus, que na sua onisciência pre viu a queda do homem e as tristes conseqüências da mesma, determi nou, no seu grande amor, dar seu Filho unigénito como sacrifício pelo pecado do povo (cf. Ap 13.8; Ef 1.4; 3.11; 1 Pe 1.19,20). A graça foi dada já antes dos séculos (cf. T t 1.9). Também no presente tempo, milhões de salvos no mundo inteiro estão louvando a Deus pelo Cordeiro, que deu a sua vida por eles. A Bíblia revela que tam bém no futuro, através de toda a eternidade, os remidos louvarão ao Senhor, que derramou o seu sangue por eles (cf. Ap 5.9,10; 7.14; 15.3). Por isso, digno é o Cordeiro de receber ações de graças para sempre. Amém! 6 4 C ristolocia - A Doutrina de C risto 7.1.1. A morte de C risto — o tema principal das Escrituras “Jesus morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras” (1 Co 15.3). A maioria das profecias na Bíblia trata dos “sofrimentos que a Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir” (1 Pe 1.11). Desde a primeira profecia, quando Deus falou da “semente da mulher” que esmagaria a cabeça da serpente (cf. Gn 3.15,16), até quando João Batis ta falou do “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29), vemos Jesus no centro das profecias. Jesus mesmo ensinou aos seus discí pulos sobre o que dEle se achava em todas as Escrituras (cf. Lc 24.27), e disse então que “convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos” (Lc 24.44). Através das profecias podemos conhecer muitos detalhes da morte de Jesus. Já antes de Jesus vir ao mundo era possível, por meio das profe cias, levantar uma história quase completa dos acontecimentos relacio nados à morte de Jesus: • Antes de morrer, Jesus entraria em Jerusalém, montado em um jumento (cf. Zc 9.9; Mt 21.1-6). • Jesus seria traído por um discípulo (cf. SI 41.9; 55.12-14; Mc 14.10,11), o qual o venderia por trinta moedas (cf. Zc 11.12; Mt 26.15). Após a devolução, esse dinheiro seriausado para a compra do campo de um oleiro (cf. Zc 11.13; Mt 27.5-10). Jesus seria também abandonado pelos demais discípulos (Zc 13.7; Mt 26.31,56). • Jesus seria caluniado (cf. SI 69.4,12; Lc 23.5). Tanto gentios como judeus se levantariam contra Ele (cf. SI 2.1,2; Lc 23.12; At 4.27). Ele, porém, ficaria calado (cf. Is 53.6,7; Mt 26.63; 27.12-14). Seria cuspido (cf. Is 50.6; Sl 22.8; Mt 26.67), ferido no rosto (cf. Mq 5.1; Mt 27.30). O seu parecer ficaria transfigurado (cf. Is 52.14; 53.3; Jo 19.5). • Jesus seria crucificado (cf. S l 22.1-16; Zc 12.10; Jo 19.18,20- 25; A t 3.13-15) junto com os malfeitores (cf. Is 53.12; Mt 27.38). Jesus oraria pelos seus crucificadores (cf. Is 53.12; Lc 23.34). Ele seria blasfemado (cf. S l 22.8,9; Mt 27.39-44). Vinagre ser-lhe-ia oferecido (cf. S l 69.12; Mt 27.34). Os seus vestidos seriam reparti dos e sobre a sua túnica seria lançada sorte (cf. S l 22.18; Mt 27.35; 6 5 T EOLOGiA Sistemática Lc 23.34). Ele se sentiria abandonado por Deus (cf. SI 22.1; Mt 27.46) e, ao morrer, entregaria o seu espírito a Deus (cf. SI 31.5; Lc 23.46) . Morto, o seu lado seria traspassado com uma lança (cf. Zc 12.10; Jo 19.34), porém os seus ossos não seriam quebrados (cf. SI 34.19,20; Jo 19.33,36). • Jesus seria sepultado entre os ricos (cf. Is 53.9; Mt 27.57-60). O testemunho uniforme das Escrituras sobre a morte de Jesus desfaz as doutrinas erradas a esse respeito. Satanás foi derrotado pela morte de Jesus. Por isso Ele procura, através da teologia modernista, desfazer os efeitos poderosos da morte de Cristo. Vejamos algumas considerações errôneas sobre este assunto: • A morte de Jesus foi somente a morte de um mártir. Dizem que Jesus somente morreu pelas suas idéias, às quais foi fiel e intransigente. Porém, a Bíblia afirma que Jesus morreu dando a sua vida em resgate de muitos (cf. Mt 20.28). Se Ele fosse somente um mártir, outros mártires mostraram muito mais alegria e disposição para morrer do que Jesus, que até se sentiu abandonado por Deus (cf. Mt 27.46). Não, Ele sofreu, não pelas suas idéias, mas porque levou em seu corpo o nosso pecado (cf. 1 Pe 2.24). • Jesus morreu acidentalmente, porque a força dos inimigos era supe rior. A Bíblia mostra, porém, que Jesus era mais forte do que os seu inimi gos. Quando foi preso, todos os soldados caíram por terra, e Jesus podia ter-se retirado, sem que alguém o impedisse (cf. Jo 18.5,6). Ele mesmo disse que poderia ter pedido a seu Pai doze legiões de anjos, para a sua defesa (cf. Mt 26.53). Ele contudo não o fez, porque deu a sua vida volun tariamente (cf. Jo 10.17,18). • Jesus morreu para dar um elevadíssimo exemplo de sujeição, hu mildade e resignação diante do sofrimento. E bem verdade que Jesus, também na sua morte, foi um exemplo inigualável, mas a sua morte significava muito mais. A Bíblia diz que é pelas suas feridas que o peca dor é sarado (cf. Is 53.5) e recebe poder para salvação e, como salvo, receberá graça para seguir o exemplo que Jesus nos deixou (cf. 1 Pe2.21). 66 Cristolocia - A Doutrina de Cristo 7.1.2. Jesus foi aceito por Deus como o representante de toda a HUMANIDADE Jesus é chamado na Bíblia “o segundo homem” (1 Co 15.47) ou “o último Adão” (1 Co 15.45). Deus determinou que, assim como “por um homem entrou o pecado no mundo” (Rm 5.12) e “a ofensa, por um só que pecou” (Rm 5.16), e por um só veio o juízo sobre todos (cf. Rm 5.17,18), e pela desobediência de um só, todos foram feitos pecadores (cf. Rm 5.15), assim também Deus determinou que por um só, Jesus Cristo, viesse o dom gratuito (cf. Rm 5.15) e a abundância da graça (cf. Rm 5.17), e por um ato de justiça viesse a graça para justificação da vida (cf. Rm 5.18), e pela obediência de um, muitos fossem feitos justos (cf. Rm 5.19). Para Deus só existe um Mediador entre Deus e os homens (cf. 1 Tm 2.5,6), um fiador (cf. Hb 7.22; Jó 16.19). Assim como o cordeiro pascal, no Egito, foi degolado em favor de todos os que estavam em uma casa (cf. Ex 12.13,23), assim também Jesus, o nosso Cordeiro Pascal (cf. 1 Co 5.7), foi sacrificado por nós (cf. 1 Pe 3.18). Jesus é assim o nosso substituto, que se apresentou em nosso favor, e morreu em nosso lugar. Glória a Jesus (cf. Rm 5.6-8; 8.32; 14.5; G12.20; 3.13; Ef 5.25; 1 Ts 5.10; 1 Tm 2.6; T t 2.14). 7.1.3. C omo o nosso substituto, Jesus tomou sobre si os nossos PECADOS Todos os homens estavam debaixo do pecado (cf. Rm 3.23) e, por isso, também debaixo da ira de Deus (cf. Rm 1.18; Ef 5.6), marchando para a ira futura e para a perdição (cf. Rm 2.5). Mas Jesus se manifestou para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo (cf. Hb 9.28). Para isso foi necessário que levasse em seu corpo os nossos pecados (cf. 1 Pe 2.24). Na lei do sacrifício pelo pecado temos um detalhe que, de modo maravilhoso, serve de figura para esse assunto. Antes que o sacrifício fosse degolado junto ao altar, o culpado deveria pôr a sua mão sobre o mesmo, confessando os seus pecados, passando assim, simbolicamente, a sua culpa para a vítima (cf. Lv 4.4,24). Exatamente assim aconteceu quando Jesus orava no Getsêmani. Foi-lhe então entregue o cálice que continha todo o pecado da humanidade. Com a palavra: “Seja feita a tua vontade” (cf. Mt 26.39; SI 40.7,8), Jesus o aceitou e, desde aquele 6 7 T EOLOciA Sistemática momento, estavam sobre Ele os nossos pecados (cf. Is 53.4,5; Rm 3.25; 1 Pe 2.24). Uma profecia expressa uma palavra do Messias naquele mo mento: “Restituí o que não furtei” (S l 69.4). Que grande amor! Aceitando Jesus essa carga tão pesada, Ele se identificou com o peca do de tal modo que a Bíblia diz: “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós” (cf. 2 Co 5.21). Assim, Jesus “foi contado com os transgressores” (Is 53.12) e expulso da sociedade, “padeceu fora da por ta” (Hb 13.12). 7.1.4. Jesus morreu para livrar o homem do pecado e das suas CONSEQUÊNCIAS Jesus abriu, pela sua morte na cruz, o caminho para a solução do problema dos homens em relação ao seu pecado, à sua culpa diante da lei de Deus, e à sentença divina que pairava sobre eles. Vejamos aqui três expressões, que definem algo que aconteceu quando Jesus sofreu na cruz até o momento quando exclamou: “Está consumado” (Jo 19.30). • Expiação. A palavra significa remissão da culpa através de paga mento ou cumprimento da pena. Todos os homens pecaram (cf. Rm 3.23) e sobre eles pairava a sentença, a morte (cf. Gn 2.17; Rm 2.8, 9, 12, etc.). Jesus aceitou essa sentença e, morrendo na cruz pelos pecado res Ele a cumpriu (cf. Hb 2.17). “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele” (Is 53.5). “Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pe los injustos, para levar-nos a Deus” (1 Pe 3.18). Por isso, Ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades (cf. Is 53.5), quando a sua alma se pôs por expiação do pecado (cf. Is 53.10; Dn 9.24) para “remir os que estavam debaixo da lei, a fim de que recebam a ado ção de filhos” (G1 4-5). • Redenção. Essa palavra significa recurso capaz de salvar alguém de uma situação aflitiva. A Bíblia diz: “Nenhum deles, de modo algum, pode remir a seu irmão ou dar a Deus o resgate dele (pois a redenção da sua alma é caríssima, e seus recursos se esgotariam antes)” (Sl 49.7,8). Jesus, porém, pagou o maior resgate que jamais foi pago. Ele deu a sua própria vida em resgate por nós (cf. Mt 20.28), em “preço de redenção” 6 8 C ristolocia - A Doutrina de C risto (1 Tm 2.6). Não foi com ouro nem prata que fomos resgatados, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um Cordeiro imaculado e incontaminado (cf. 1 Pe 1.18,19; Mt 26.28; Lc 24-46,47; Hb 9.22). As sim, Jesus comprou-nos por “bom preço” (1 Co 6.20). Deus pode agora, por causa da morte de Cristo, dizer diante das exigências da Lei e da Justiça divina, a respeito de todos os que nEle crerem: “Livra-os, porque já achei o resgate” (cf. Jó 33.24). • Propiciação. A palavra significa aquilo que propicia, isto é, toma favorável. Opecado separa o homem de Deus (cf. Is 59.2) e o faz sujeito à sua ira (cf. Rm 2.4; Ef 2.3), porém Jesus, o nosso Cordeiro, morreu para tirar o pecado (cf. Jo 1.29; 1 Jo 3.5) e, por causa dessa propiciação de Jesus (cf. 1 Jo 2.2; 4.10), a ira de Deus se retirou (cf. Is 12.1-3) e aquele que crer em Jesus é livre de toda a sua culpa diante da Lei. Aleluia! • Propiciatório. A mesma palavra grega hilasterion, que em Romanos 3.25 é traduzida por “propiciação”, é também usada em Hebreus 9.5, e ali traduzida por “propiciatório”. Deus propôs a Jesus como “propiciatório” pela fé no seu sangue (cf. Rm 3.25). Essa expressão mostra que o propiciatório no Antigo Testamento era uma figura real da morte de Cristo. No lugar santíssimo, no interior do Tabernáculo, estava a arca com as tábuas da Lei (cf. Ex 25.10-22). A tampa da arca, feita de ouro puro, chamava-se propiciatório (cf. Ex 25.17-21), a qual tinha dois querubins com as suas asas estendidas sobre a mesma e cujos rostos esta vam virados para o propiciatório (cf. Ex 37.9), exatamente para o lugar onde o sumo sacerdote aspergia o sangue do sacrifício, no Dia da Expia ção (cf. Lv 16.15). Assim, o sangue simbolicamente cobria a arca onde estava a Lei contra a qual o povo havia transgredido, como um sinal externo de perdão que Deus havia concedido por causa do sangue do sacrifício. Assim, Deus não via mais a iniqüidade, mas sim o sangue! “Não viu iniqüidade em Israel” (Nm 23.21). Por isso disse o salmista: “Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada” (SI 32.1). Jesus é o nosso propiciatório. Ele entrou no santuário do céu, di ante de Deus, com o seu próprio sangue (cf. Hb 9.11,12,24), para garantir perdão a todos que nEle crerem. Conforme o novo concerto (cf. Jr 31.33,34; Hb 8.9-13), Deus não se lembra mais dos pecados, e 69 T EOLOciA S istemática fez com que os reconciliados se tomassem “povo seu”. Deus conce deu um sinal palpável da sua aprovação a essa propiciação. N a hora da morte de Jesus, o próprio Deus fez um milagre: o véu do Templo se rasgou de alto a baixo (cf. Mt 27.51). Assim, Deus mostrou que Jesus havia aberto um novo e vivo caminho, que Ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne (cf. Hb 10.20). O caminho está agora aberto até o interior do Santíssimo, onde todos os que crerem poderão se encontrar com o nosso Propiciatório (cf. Rm 3.25), que é Jesus, o nosso Salvador. 7.1.5. Jesus morreu para nos reconciliar com Deus Pela sua morte, Jesus não somente nos resgatou da culpa e fez a expiação e propiciação dos nossos pecados, mas pelo seu sangue tam bém nos reconciliou com Deus (cf. C l 1.20-23). Éramos inimigos de Deus, mas fomos reconciliados pela morte de seu Filho (cf. Rm 5.10), e assim chegamos até Ele pelo sangue de Jesus (cf. Ef 2.13). A parede de separação ruiu (cf. Ef 2.14). Jesus, o nosso Mediador (cf. 1 Tm 2.5), nos revestiu da sua justiça (cf. Is 61.10; Ap 19.7,8; 2 C o 5.21), e assim temos paz com Deus (cf. Rm 5.1). Jesus é o nosso Emanuel, isto é, Deus conosco (cf. Mt 1.23). Pela morte de Jesus podemos agora viver juntamente com Deus (cf. 1 Ts 5.10), e de coração nos sujeitar a Ele como o nosso Senhor (cf. Rm 14.9). Tudo que Deus preparou para os homens (cf. 1 Co 2.9) está agora ao alcance de todos os que aceitarem o sacrifício de Jesus. Aleluia! 7.2. A RESSURREIÇÃO DE JESUS “Não está aqui, mas ressuscitou” (Lc 24.6). A doutrina da ressurreição de Jesus é uma das doutrinas básicas da Bíblia (cf. 1 Co 15.3,4), e é mencionada 104 vezes no Novo Testamen to. “Lembra-te de que Jesus Cristo, que é da descendência de Davi, res suscitou dos mortos” (2 Tm 2.8). 7.2.1. A RESSURREIÇÃO É PREANUNCIADA • Foi predita pela palavra profética (cf. SI 16.10). 7 0 Cristologia - A Doutrina de Cristo • O próprio Jesus falava muitas vezes da sua ressurreição (cf. Mt 12.40; 16.21; 17.22,23; Lc 9.22; Jo 2.19-21; 10.17,18). 7.2.2. A RESSURREIÇÃO — UM GRANDE MILAGRE • O milagre. O mesmo Jesus que foi cravado na cruz e cujo corpo morto foi tirado e envolto em panos (cf. Jo 19.40) e sepultado no sepul cro de José de Arimatéia (cf. Mt 27.59,60), ressuscitou no terceiro dia, deixando o seu sepulcro vazio (cf. Lc 24.1-3). Ele foi visto e reconheci do pelos seus discípulos. Os sinais dos cravos nas suas mãos e da lança no seu lado (cf. Jo 20.27; Lc 24.39) serviram para provar que a sua ressur reição era inteiramente corporal. No momento em que apareceu aos discípulos, Jesus afirmou não ser um espírito, mas que era Ele mesmo, que havia ressuscitado (cf. Lc 24.39) com um corpo espiritual (cf. 1 Co 15.44), o qual não mais estava sujeito às leis da natureza. Leia João 20.19. • Foi Deus quem o ressuscitou (cf. A t 2.24,32; 10.40; 13.30; C l 2.12). Quando Deus planejou a salvação por meio de seu Filho, mostrou a sua grande sabedoria (cf. 1 Co 1.24; 3.10). Quando Ele deu o seu Filho para ser o nosso Salvador, mostrou seu grande amor (cf. Jo 3.16). Quando Ele ressuscitou a Jesus, mostrou o seu grande poder (cf. Ef 1.19,20). Deus ressuscitou a Jesus pelo poder do Espírito Santo (cf.Rm 8.11; 1 Pe3.18; Rm 1.4; 1 C o 15.45). 7.2.3. Muitos têm negado a veracidade da ressurreição de Jesus Os sacerdotes em Jerusalém foram os primeiros. Quando a notícia da ressurreição de Jesus se espalhou, os próprios sacerdotes entenderam que ela era verídica. Se eles não tivessem acreditado, teriam imediatamente instau rado um inquérito rigoroso, exigindo o corpo de Jesus, para provar a todos que Ele ainda era morto. Mas, em lugar de exigir a punição dos guardas, ofereceram-lhes “muito dinheiro” (Mt 28.12), recomendando-lhes divul gar a seguinte mentira: “Vieram de noite os seus discípulos e, dormindo nós, o furtaram” (Mt 28.13). Essa mentira se espalhou entre os judeus. Com um pouco de raciocínio, os mesmos judeus poderiam ter pensado: “Como foi possível que quatro soldados dormissem ao mesmo tempo e ainda soubes sem que foram os discípulos que haviam roubado o corpo de Jesus?” 71 T EOLOGiA Sistemática A teologia modernista também nega a ressurreição de Jesus, e procu ra (através de “explicações”) eliminar qualquer vestígio de milagre des se acontecimento. Eles dizem: “A ressurreição é contra a lei da natureza e, portanto, é impossível”. Vejamos algumas dessas “explicações”: • Jesus não morreu, mas foi sepultado em estado de coma. Depois que Ele acordou e recuperou as suas forças, saiu da sepultura, e mostrou- se aos seus discípulos, afirmando que havia ressuscitado. Logo depois Ele morreu, com febre causada por infecção das feridas, e desapareceu. Um absurdo como este só é possível entrar na cabeça de um moder nista, totalmente destituído do temor de Deus. Ele prova, pelas suas idéias, que a Bíblia é verdadeira quando diz: “A sabedoria deste mundo é loucura” (1 C o 3.19). Essa teoria cai imediatamente diante das provas, absolutamente verídicas, sobre a morte real de Jesus. O próprio carras co, o centurião, afirmou diante do governador Pilatos que Jesus havia morrido (cf. Mc 15.44,45). Também os soldados viram que Jesus já era morto, e para ainda confirmar este fato furaram-lhe o seu lado (cf. Jo 19.34). Se Jesus tivesse sido sepultado em estado de coma, como então agüentaria, depois de ter acordado, remover a pedra para sair do sepul cro (cf. Mt 27.66; Mc 16.3) e isso sem chamar a atenção da guarda? (Cf. Mt 27.65) E como poderia Ele, ensangüentado, fraquíssimo e meio mor to, conseguir convencer os seus discípulos de que havia ressuscitado? Jesus não precisava de nada disso, pois ressuscitou pelo poder de Deus. • Outros afirmam (Renan e Strauss) que Jesus realmente morreu, mas ressuscitou somente na idéia dos seus discípulos. Eles estavam tão impressionados com a promessa de que Ele haveria de ressuscitar, que começaram a enxergar Jesus em visões, até o ponto de ficarem com uma impressão tão forte que chegaram à conclusão de que Ele havia ressusci tado. Assim, eles não queriam enganar o mundo com a notícia de que Jesus havia ressuscitado,mas a notícia que espalharam era resultado da sua fé auto-sugestionada. Também essa teoria cai por total carência de lógica e de provas. Não houve nenhum vestígio na atitude dos discípu- 7 2 C ristoloqa - A Doutrina de C risto los que desse motivo à auto-sugestão. Pelo contrário, eles não acredita vam na possibilidade da ressurreição (cf. Mc 16.11,13). Jesus até os cen surou por causa da sua incredulidade (cf. Mc 16.14). A ressurreição de Jesus foi para eles uma verdadeira surpresa, e as suas dúvidas só desapa receram quando viram o seu Mestre ressuscitado. • Outros “teólogos” explicam que Jesus realmente foi sepultado no túmulo de José de Arimatéia. Porém, por motivo de algumas conveniências, o seu corpo foi depois mudado para um outro sepulcro, de onde Ele, pelo tempo, normalmente desapareceu. Essa teoria está também totalmente destituída de provas. Como poderia alguém transferir o corpo de Jesus, sem que a guarda o observasse? E por que José de Arimatéia não informou aos apósto los que ele havia mudado o seu corpo? E como é possível eliminar as provas de tantas pessoas que afirmam ter visto Jesus ressuscitado? • Ainda há outros que afirmam que Jesus realmente subiu em espíri to ao céu, e fez com que o seu corpo desaparecesse do sepulcro. Depois Ele se manifestou aos seus discípulos em seu corpo celestial, afirmando que havia ressuscitado. Essa teoria não merece a nossa atenção, porque tenta apresentar a Jesus como um mentiroso. Jesus mesmo havia falado da sua ressurreição corporal, mostrando em figura que o mesmo corpo que desceria para o “seio da terra” ressuscitaria (cf. Mt 12.39,40). Outra vez Ele falou figuradamente a respeito do seu corpo, dizendo: “Derriba rei este templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2.19-21). Jesus ressusci tou corporalmente e vive hoje e etemamente. Aleluia! 7.2.4. O FATO DA RESSURREIÇÃO DE JESU S É CONFIRMADO COM PROVAS IRREFUTÁVEIS “Ressuscitou, verdadeiramente, o Senhor” (Lc 24.34). Quando alguém afirma que uma coisa aconteceu e encontra outro que o contesta, negando que tal coisa tenha acontecido, então a decisão da questão está na prova das testemunhas. A ressurreição de Jesus é um fato histórico, comprovado tanto como qualquer outro fato de importância. Testemunhas viram Jesus ressuscitado. Lucas escreve em Atos 1.3 que Jesus, “depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas”. Vejamos aqui as testemunhas que de modo harmoni 7 3 T EOLOGiA Sistemática oso, simples e sem nenhuma contradição, deram o seu testemunho uni forme: Jesus ressuscitou! • Maria Madalena. Quando ela estava junto ao sepulcro vazio, viu Jesus, mas imaginou que era o hortelão. Quando porém Jesus lhe disse: “Maria”, ela o reconheceu (cf. Jo 20.11-18). • As mulheres que voltavam do sepulcro (cf. Mt 28.9,10). • Pedro. Ouviu-se entre os discípulos a notícia: “Já apareceu a Si- mão” (cf. Lc 24.34; 1 Co 15.5). • Os dois discípulos a caminho de Emaús. Eram Cleofas e talvez Lucas que encontraram Jesus no caminho. Não o conheciam. Mas quando Ele, em sua casa partiu o pão, eles o reconheceram. Era realmente Jesus! (Cf. Lc 24.13-35; Mc 16.12,13) • Os 11 discípulos menos Tomé (cf. Jo 20.19-24). • Os 11 discípulos junto com Tomé (cf. Jo 20.26-29). • Pedro com mais seis discípulos, os quais haviam ido pescar (cf. Jo 21.1-23). • Mais de quinhentos crentes, dos quais muitos ainda viviam quan do Paulo, no ano 59, escreveu a sua Primeira Epístola aos Coríntios (cf. 1 Co 15.6). • Tiago (cf. 1 Co 15.7), o filho de José e Maria (cf. Mc 6.3). Antes da morte de Jesus não era crente, mas agora havia crido em Jesus. • Os discípulos que foram para Galiléia, conforme o convite que Jesus havia feito antes da sua morte (cf. Mt 26.32) e logo após a sua ressurreição (cf. Mt 28.10). • Os discípulos que assistiram à ascensão de Jesus (cf. Lc 24.50-53; A t 1.9-14). • Paulo (cf. A t 9.3-6; 1 Co 9.1). O encontro com Jesus vivo fez do maior perseguidor o maior apóstolo. A grande transformação que a ressurreição de Jesus causava na vida dos apóstolos prova que eles verdadeiramente estavam convic tos de que Jesus vivia. O desespero e desânimo que dominavam to dos os seguidores de Cristo após a crucificação deu agora lugar a uma alegria e ousadia que ninguém mais podia dominar. Por toda parte 74 Cjustolocia • A Doutrina de Cristo davam testemunho da ressurreição de Jesus (cf. A t 2.24-27,32,33; 3.15; 4.10,33; 5.30,31, etc.). Se a história da ressurreição não fosse verídica, jamais produziria essa tão grande transformação nas suas vidas. O uso espontâneo do domingo como o dia de adoração a Deus e descanso semanal prova que os crentes que começaram a se reunir no domingo para darem glórias por sua ressurreição (cf. 1 Co 16.2; A t 20.7), realmente estavam convictos desse fato. 7.2.5. A RESSURREIÇÃO DE JESUS É A BASE DE VÁRIAS DOUTRINAS IMPORTANTES • Pela ressurreição, Jesus é declarado Filho de Deus em poder (cf. Rm 1.3,4). Assim, Deus confirmou tanto Jesus como seu Filho quanto a obra que Ele havia realizado. • A ressurreição de Jesus prova que a sua morte foi expiatória. Jesus era absolutamente sem pecado (cf. Hb 4-15). Por isso, a morte, que veio pelo pecado, jamais poderia vencê-lo. Mas Jesus tomou sobre si os nos sos pecados, levando-os para a cruz (cf. 1 Pe 2.24). Quando Ele rendeu o seu espírito, já havia feito a expiação pelos pecados e, assim, entrou na morte, sem nenhum pecado. Dessa maneira a morte não tinha nenhu ma força para retê-lo (cf. A t 2.24) e, assim, ressuscitou, vindo a ser a causa da eterna salvação (cf. Hb 5.9). • A ressurreição é a base da nossa fé em Jesus Cristo (cf. 1 Pe 1.21). O pecador vivia debaixo do pecado (cf. Ef 2.1,2), sem recursos para se libertar. Deus provou, pela ressurreição de Jesus, que Ele havia cumpri do as suas promessas de salvação (cf. A t 13.32,37,38). Assim, quando o pecador crê em Deus, que o ressuscitou, recebe a salvação (cf. Rm 10.9), experimenta a regeneração (cf. 1 Pe 1.3) e é justificado (cf. Rm 4.25). • A ressurreição de Jesus é também uma fonte de vitória para o cren te. Quando recebe a salvação, ele experimenta o poder da morte de Cristo (cf. 2 Co 5.14,15). Mas ele pode também, pela fé, participar do poder da ressurreição de Jesus (cf. Fp 3.10), isto é, gozar da realidade de que Cristo vive nele (cf. G1 2.20; C l 3.4; 1.27). “Porque, se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito T EOLOCiA Sistemática mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida” (Rm 5.10). Jesus disse: “Eu vivo, e vós vivereis” (Jo 14.19). • A ressurreição é também a garantia de que Jesus continua como o nosso Representante e Sumo Sacerdote diante de Deus. “Quem os conde nará? pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mor tos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós” (Rm 8.34). • A ressurreição é uma garantia de que Jesus tem poder para curar os doentes. O poder da ressurreição vivificou o corpo de Jesus que estava morto (cf. Rm 8.11). Pela ressurreição, Jesus venceu a própria morte (cf. 1 Co 15.54,57). Assim, também Ele pode vencer a doença que leva o homem à morte (cf. Mt 8.17). • A ressurreição de Jesus é também a garantia da nossa própria res surreição (cf. 2 Co 4-14; 1 Co 15.21,22). Pela ressurreição de Jesus foi quebrado o aguilhão da morte (cf. 1 Co 15.55-57). Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, sabemos também que Deus tomará a trazer com Ele aqueles que em Cristo dormem (cf. 1 Ts 4.14). Isso acontecerá na segunda vinda de Jesus, quando os que morreram em Cristo ressuscita rão primeiro e depois, os que ficarem vivos, serão arrebatados (cf. 1 Ts 4.16,17). Glória a Jesus! 7.3. A ascensão de Jesus “Vendo-o eles, foi elevado às alturas” (At 1.9). 7.3.1. A ASCENSÃO d e J e s u s fo i p r e a n u n c ia d a A palavra profética preanunciou que Jesus, depois de ter descido, também subiria ao alto (cf. SI 68.18;47.5; 110.1) e seria recebido em glória (cf. SI 24.7-10). Jesus também falou várias vezes da sua ascensão. Ele disse: “Vou para aquele que me enviou” (Jo 7.33). “Vou para o Pai” (Jo 14.28; 16.5; 17.11. Veja também Jo 13.33 e 6.62). Jesus disse que se assentaria à direita de Deus (cf. Mc 14.62). 7.3.2. A ASCENSÃO Foi Deus quem, pelo seu poder, o fez subir (cf. Ef 1.20). Quarenta dias após a ressurreição (cf. A t 1.3), à vista de seus discípulos (cf. Mc 7 6 ( ' .K i s r o u x i iA - A Doutrina de C risto 16.19; Lc 24.51), enquanto os abençoava (cf. Lc 24.50), Ele subiu numa nuvem (cf. Lc 24.51) e foi recebido em cima (cf. A t 1,3) como o Rei da glória (cf. SI 24-7'10). Ele subiu como “Filho do homem" (cf. Mc 14.62), isto é, com o seu corpo humano glorificado. Glória a Jesus! 7 .3 .3 . J e s u s n o s c é u s Jesus, ao voltar para o céu, foi coroado de honra e de glória (cf. Hb 2.7). Recebeu a glória que possuía antes que o mundo existisse (cf. Jo 17.5), cujo esplendor Ele aniquilou para vir a esta terra (cf. Fp 2.6-8). Ele foi exaltado soberanamente (cf. Fp 2.9). Como se expressou esta exaltação? • Jesus se assentou à destra de Deus (cf. Mc 16.19; At 2.33; 1 Pe 3.22; Rm 8.34; Mt 22.43-45; C l 3.1; Hb 1.3; 8.1; 10.12; 12.2). Ele disse: “Venci e me assentei com meu Pai no seu trono” (Ap 3.21). • Deus lhe deu poder e domínio sobre todo o principado, poder, potestade e domínio (cf. Ef 1.21), e sujeitou todas as coisas aos seus pés (c f.E fl.22 ). • Deus lhe deu um nome que é sobre todo o nome (cf. Fp 2.9,10). O mesmo nome “Jesus”, que Ele recebeu quando nasceu como homem (cf. Mt 1.21; Lc 1.31), foi agora elevado para ser sobre todo o nome. Deus ligou ao nome de Jesus o poder de toda a obra redentora na cruz. Agora a salvação é oferecida aos que invocarem o nome de Jesus (cf. A t 4.12; Lc 24.47; Rm 10.13). Quando Jesus subiu, levou “cativo o cativeiro” (cf. SI 68.18; Ef 4.8). Aqui se fala dos crentes, desde Abel até o tempo de Cristo, os quais morreram na fé, sem ainda terem recebido a promessa (cf. Hb 11.13). Eles haviam crido em Deus através do sacrifício do pecado. Embora os tais sacrifícios não tirassem o pecado (cf. Hb 9.13; 10.4), Deus, contu do, na sua paciência, os aceitou por conta da remissão que Cristo have ria de fazer na consumação dos tempos (cf. Hb 9.15; Rm 3.25,26). Por isso, até que essa remissão fosse consumada, todos eles estavam cativos por Satanás na parte do Hades chamada “seio de Abraão” (parte reser 77 T EOLOGiA Sistemática vada para os espíritos dos crentes). Mas, quando Jesus consumou a sal vação na cruz, resgatou toda a dívida, inclusive a dos tempos do Antigo Testamento. Assim, aniquilou o que tinha o império da morte, o Diabo (cf. Hb 2.14), e colocou os crentes do Antigo Testamento em pé de igualdade com os do Novo Testamento. Agora Ele os levou para o Para íso nos céus, também chamado “o terceiro céu” (cf. 2 Co 12.1-3). Quando Jesus foi elevado, foi constituído cabeça da Igreja (cf. Ef 1.22,23). A Igreja é a casa de Deus, a coluna e firmeza da verdade (cf. 1 Tm 3.15). Assim, Jesus, do céu, cuida da sua Igreja. Ele lhe dá os dons do Espírito Santo (cf. 1 Co 12.7-11). Ele dá também os ministérios (cf. Ef 4.11-13), pelos quais dirige e edifica a sua Igreja. Ele também confir ma a palavra que os seus servos falarem em seu nome (cf. Mc 16.20; At 14.1-3), e dirige-os na evangelização do mundo (cf. Mt 28.18-20; Mc 16.15). Ele intercede pelos crentes (cf. Hb 7.25; Rm 8.34). Subindo ao céu, Jesus recebeu do Pai a promessa do Espírito Santo (cf. A t 2.32,33). De acordo com a sua promessa, após a sua glorificação mandou o Espírito Santo (cf. Jo 7.38,39; 16.7-15; Lc 24-49). Derramou então o seu poder sobre os discípulos, que no cenáculo buscavam o ba tismo no Espírito Santo (cf. A t 2.1-4). Mas a Palavra de Deus assegura que essa bênção é para “tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar” (cf. A t 2.39). N a sua ascensão foi confirmada a promessa da sua vinda (cf. A t 1.11). Jesus voltará da mesma maneira que subiu ao céu. 7 8 C. A P f T T T . T . O 4 Pneumat o lo a a A Doutrina do Espírito Santo T EOLOGiA S istemática 1. Introdução E absolutamente necessário conhecer o que a Bíblia ensina so- bre o Espírito Santo. A falta de conhecimento desta doutrina tem causado grande prejuízo espiritual na vida de muitos. Jesus disse: “Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (M t 22.29). Muitos hoje dizem a respeito do Espírito Santo: “Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo” (A t 19.2). Paulo escreveu acerca dos dons espirituais: “N ão quero, irmãos, que sejais ignoran tes” (1 C o 12.1). Por que é tão necessário que conheçamos também o Espírito Santo? 1.1. Porque o Espírito Santo é D eus A Palavra de Deus diz: “Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor” (Os 6.3). Jesus disse que o conhecer a Deus também deve in cluir o conhecer a Jesus Cristo, a quem Deus enviou (Jo 17.3), e Ele falou do “Espírito Santo que o Pai enviará...” (Jo 14.26). Conhecer a Deus é conhecer toda a Trindade, porque o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um (1 Jo 5.7). 1.2. Porque estamos em sua dispensação Devemos aprender a conhecer o Espírito Santo porque vivemos na dispensação do Espírito (cf. 2 Co 3.6-8). Assim como Deus é eterno (cf. SI 90.2) e o Filho é eterno (cf. Jo 1.1), também o Espírito o é (cf. Hb 9.14). Ele sempre tem existido ao lado de Deus e do Filho, cooperando na grande obra que Deus tem feito e continua a fazer. Podemos distin guir três diferentes dispensações, nas quais Deus tem operado de modo diferente em cada uma. 1.2.1. A DISPENSAÇÃO DO PAI Em todo o tempo do Antigo Testamento, vemos de modo nítido que o próprio Deus sempre estava à frente de tudo. Sempre lemos: Deus falou, Deus fez, Deus viu, etc. A o lado dEle operava também o Filho (cf. C l 1.18) e o Espírito Santo (cf. G n 1.2; 6.3; Ne 9.20). 8 0 Pneumatolocia - A Doutrina do Espírito Santo 1.2.2. A D1SPENSAÇÃO DO FlLHO Começou quando Jesus se fez homem e apareceu no cenário des te mundo. Deus então falou pelo Filho (cf. Hb 1.1; Jo 3.2; 14.9 etc.). Ele lhe entregou todo o juízo (cf. Jo 5.22) e pôs tudo nas suas mãos (cf. Jo 3.35). Ensinou ao Filho o que devia falar ao mundo (cf. Jo 8.28; 12.50). N a cruz do Calvário, Jesus consumou a obra para a qual havia sido enviado (cf. Jo 19.30; Hb 2.9), e tornou para o céu (cf. Jo 16.28; 13.3), onde está “à destra de Deus, interceden do por nós” (cf. Hb 7.25; Rm 8.34). Durante essa dispensação tam bém o Pai opera, porque a Bíblia diz: “Deus estava em Cristo re conciliando consigo o mundo” (2 C o 5.19). O Espírito operava com Jesus como sendo o poder pelo qual Ele, como homem, podia reali zar a sua obra (cf. Hb 9.14). 1.2.3. A DISPENSAÇÃO DO ESPÍRITO Começou quando Jesus chegou ao céu, após a sua ascensão, e enviou o Espírito San to ao mundo (cf. A t 2 .32,33) para ficar conosco (cf. Jo 14.16), e não como no tempo do Antigo Testamen to, quando o Espírito Santo somente se manifestava esporadica mente (cf. 1 Sm 10.10; 16.13; Nm 11.25; M q3 .8 , etc.). Ele anun cia as coisas de Deus (cf. Jo 16.15). Nessa dispensação, tanto Deus quanto o Filho operam através do Espírito Santo (cf. A t 14.27; 21.19; 14.3, etc). A própria Bíblia focaliza três fases: • No Antigo Testamento vemos Deus agindo, falando, guiando e operando. • Os Evangelhos focalizam Jesus como o Salvador que ensinou o caminho da salvação e, depois, com a sua vida entregue à morte, ga nhou a eterna salvação. • Nos Atos dos Apóstolos e nas epístolas a atenção é fixada no Espí rito Santo, quando Ele é aplicado à obra de Cristo e faz com que a vida espiritual se aperfeiçoe. 81 T eolocia Sistemática 1.3. Porque nos últimos dias D eus derramará o Espírito Santo SOBRE TODA A CARNE (A t 2.17) Embora o Espírito Santo venha operando desde o dia de Pentecostes, a palavra profética prevê um derramamento ainda maior nos últimos tempos. Quando o apóstolo Pedro,no dia de Pentecostes, explicou o milagre do derramamento do Espírito Santo, disse: “Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne” (At 2.16,17). Enquanto o profeta Joel profetizou: “Derramarei o meu Espírito”, Pedro disse no dia de Pentecostes: “do meu Espírito”, revelando assim o que a palavra profética prevê: um derramamento ainda mais poderoso e pleno. E esse derramamento coincide com a restauração de Israel e a sua remissão como povo de Deus (cf. Rm 11.12). Isso acontecerá quando Cristo voltar em glória, para estabelecer o seu reino milenar (cf. Ap 19.11-15; 20.1-4). Então o Espírito Santo operará de modo absoluto e pleno e a terra se encherá da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar (cf. Hc 2.14; Is 11.2; 32.15; 59.19; 44.3; Zc 12.10, etc.). E uma coisa digna de observar que, exatamente quando o Espírito Santo, no início do século passado, começou a operar o cumprimento da profecia sobre a restauração nacional de Israel (cf. Ez 37.4-8), deu-se início o maior derramamento do Espírito da história da Igreja. Como resultado desse derramamento, existem hoje dezenas de milhões de cren tes pentecostais espalhados pelo mundo inteiro. Diversas evidências falam que Deus ainda tem muitas bênçãos para o seu povo. Uma renovação espiritual maior está por vir! E, portanto, indispensável conhecer a doutrina sobre o Espírito Santo. Que o estudo aqui apresentado possa aumentar o conhecimento tanto da pessoa do Espírito Santo como das suas diferentes operações e manifestações! 2. O Espírito S anto É Deus O Espírito Santo não é simplesmente uma influência benéfica ou um poder impessoal. É uma pessoa, assim como Deus e Jesus o são. 8 2 Pneumatolocia - A Doutrina do Espírito Santo 2 .1 .0 Espírito Santo é chamado D eus (A t 5 .3 ,4) e Senhor (2 C o 3.18) Quando Isaías viu a glória de Deus (cf. Is 6.1-3), escreveu: “Ouvi a voz do Senhor,... vai e diz a este povo” (Is 6.8,9). O apóstolo Paulo citou essa mesma palavra e disse: “Bem falou o Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaías dizendo: Vai a este povo” (cf. A t 28.25,26). Com isso, Paulo identificou o Espírito Santo com Deus. 2.2. O E spírito S anto faz parte da Santíssima T rindade Ele é mencionado junto com o Pai e o Filho (cf. Mt 28.19; 2 Co 13.13) e a Bíblia afirma que os três são um (1 Jo 5.7). Assim, há “um só Espírito” (Ef 4-4); “um só Senhor” (Ef 4 5); e “um só Deus e Pai de todos” (Ef 4.6). O Espírito é chamado “Espírito de Deus” (Rm 8.9); “Espírito do Pai” (Mt 10.20); “o Espírito de Cristo” (Rm8.9; 1 Pe 1.11); “o Espírito de Jesus” (At 16.7), indicando assim que Ele os representa e também age por Eles; quando o Espírito Santo opera, o Cristo vivo está presente (Jo 14.18). 2.3. A o Espírito Santo são atribuídas obras exclusivas da divin dade Ele tomou parte ativa na criação em geral (cf. SI 104.30), na restaura ção do mundo após o caos (cf. Gn 1.2) e na criação especial do homem (cf. Jó 33.4). Ele inspirou a Palavra de Deus (cf. 1 Pe 1.11; 2 Pe 1.21). 2 .4 . A o Espírito Santo são atribuídas as características essen ciais DA DIVINDADE Ele possui eternidade (cf. Hb 9.14), é onisciente (cf. 1 Co 2.10,11), onipresente (cf. SI 139.7-10) e onipotente (cf. Lc 1.35; 1 Co 12.11). 3. O Espírito S anto É uma Pessoa 3.1. A B íblia usa pronome pessoal em relação ao Espírito Santo “Quando Ele vier...” (cf. Jo 16.8,13; 14.26). 8 3 T EOLOGiA Sistemática 3.2. A B íblia dá ao Espírito Santo atributos de personalidade Ele tem vontade: “O mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer” (1 Co 12.11; cf. Jo 3.8). Ele tem conhecimento: “Ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” (I Co 2.11). Ele tem sentimento: “Não entristeçais o Espírito Santo de Deus” (Ef 4-30). Ele ama: “Rogo-vos... pelo amor do Espírito” (Rm 15.30). 3 .3 . A B íblia atribui ao E spírito Santo atividades pessoais “Ele vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar” (Jo 14.26, grifo nosso); “O Espírito penetra todas as coisas” (1 Co 2.10, grifo nosso); “O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito” (Rm 8.16, grifo nos so); “O Espírito diz às igrejas” (Ap 2.7; 3.6, grifo nosso). A Bíblia fala dos que foram “enviados pelo Espírito Santo” (A t 13.4, grifo nosso) e dos que “são guiados pelo Espírito de Deus” (Rm 8.14, grifo nosso). 3.4. A B íblia descreve atitudes de homens para com o E spírito Santo Usando expressões que se usam nas relações entre pessoas: “Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo?” (At 5.3, grifo nosso); “Se alguém falar contra o Espírito Santo” (Mt 12.32, grifo nosso); "... fizer agravo ao Espírito Santo” (Hb 10.29). O Espírito Santo é uma pessoa, é Deus; portanto, sejamos santos como Ele é santo. 4 . 0 E s p í r i t o S a n t o a t r a v é s d o s s e u s N o m e s A Bíblia registra vários nomes do Espírito Santo, os quais expressam algumas das diferentes características que Ele possui. Por meio desses no mes, podemos penetrar no conhecimento sobre a sua natureza e também compreender algo da obra que Ele quer fazer em nós e por nós. 4 .1 . N omes que expressam a natureza do E spírito Santo 4.1.1. Espírito Santo (cf. Ef 1.13) Assim como Deus é santo (cf. 1 Pe 1.16) e Jesus é santo (cf. At 2.2 7), 84 Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo também o Espírito o é. Por isso, lemos em Isaías 6.3 a respeito do Deus três vezes santo: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos”. O Espírito Santo revela a santidade de Deus (cf. Êx 3.5) e transmite aos homens o poder santificador (cf. Rm 1.4; 2 Ts 2.13). 4.1.2. E s p ír it o d a v e r d a d e ( c f . Jo 16.13) Assim como Deus é a verdade (cf. Jr 10.10) e Jesus é a verdade (cf. Jo 14.6), também o Espírito o é (cf. 1 Jo 5.6). Ele veio para nos guiar em toda a verdade (cf. Jo 16.13). Ele revela a verdade sobre Jesus (cf. Jo 16.14) e também sobre nós (cf. SI 51.6; Jo 16.8-10). 4.1.3. E s p ír it o d e a m o r ( c f . 2 T m 1.7) Assim como Deus é amor (cf. 1 Jo 4.8) e Jesus é amor (cf. Ef 3.19; Jo 15.13), também o Espírito o é (cf. Rm 15.30). Ele transmite o amor de Deus aos nossos corações (cf. Rm 5.5). 4.1.4. E s p ír it o d e p o d e r (2 T m 1.7, V e r s ã o R e v is a d a ) “O poder pertence a Deus” (Sl 62.11). Por meio de Cristo esse poder está ao alcance dos que crêem (cf. 1 Co 1.24). Por meio do Espírito Santo esse poder nos é dado (cf. A t 1.8), e ficamos em contato com aquEle que diz: “Eu sou o Senhor que faço todas as coisas” (Is 44.24), e para quem “nada é impossível” (Lc 1.37). 4.1.5. E s p ír it o d e s a b e d o r ia e d e r e v e l a ç ã o ( E f 1.17) A onisciência do Espírito Santo (cf. 1 Co 2.10,11) é também mani festada através do seu nome. Ele nos une a Cristo, em quem estão escon didos todos os tesouros da sabedoria e da ciência (cf. Cl 2.2,3). Jesus foi feito sabedoria por nós (cf. 1 Co 1.30), e pelo Espírito Santo nos é dado conhecer até as profundezas de Deus (cf. 1 Co 2.10-12). 4.2 . N omes que expressam a obra do Espírito Santo A Bíblia diz: “O Espírito ajuda as nossas fraquezas” (Rm 8.26). Ele está com o povo de Deus para, através dos méritos de Jesus, ajudar-nos em todos os transes da vida, bem como em tudo que Deus quer que façamos em sua obra. 8 5 T EOLOGiA Sistemática 4.2.1. Espírito da graça ( c f . H b 10.29; Zc 12.10) O Espírito apresenta Jesus Cristo como crucificado (cf. G16.14), glo- rificando-o (cf. Jo 16.14) e testificando da sua graça (cf. Hb 10.14,15; Rm 3.24; T t 3.5-7). 4.2.2. Espírito d a vida ( c f . Rm 8.2) Quando o Espírito Santo nos leva a Cristo e à sua graça, então o homem experimenta o grande milagre da sua vida: nasce de novo pelo Espírito (cf. Jo 3.6) e poderá agora reinar em vida, por um só Jesus Cristo (cf. Rm 5.17). 4.2.3. Espírito d e a d o ç ã o d e filhos (cf. Rm 8.15) Quando o pecador recebe a Jesus e nascede novo (cf. Jo 1.11-13), recebe, pelo Espírito Santo o espírito de adoção de filhos, pelo qual cla ma “Aba, Pai” (cf. Rm 8.15; G 14.6). 4.2.4. Espírito d a fé ( c f . 2 C o 4.13) O Espírito Santo é quem opera avivando a nossa fé e transmitindo ao nosso coração “a palavra da fé” (cf. Rm 10.8), fazendo com que a nossa fé não se apóie na sabedoria humana, mas no poder de Deus (cf. 1 Co 2.5). Quando o crente é corroborado pelo poder do Espírito Santo no seu inte rior, experimenta que Cristo habita pela fé no seu coração (cf. Ef 3.16,17). E assim que fica cheio de fé (cf. At 6.5; 11.24; Nm 14-24 etc.) 4.2.5. Espírito de súplicas (cf. Zc 12.10) O Espírito Santo purifica maravilhosamente as nossas orações. Ele tanto ora em nós (cf. Rm 8.26,27) como também é a força da nossa oração. Podemos, assim, orar em espírito (cf. 1 Co 14-15; Jd 20). Como o fogo fazia o incenso subir em cheiro agradável ao Senhor (cf. Ex 30.7), assim o fogo do Espírito Santo faz com que a nossa oração suba ao Se nhor com poder (cf. SI 141.2; Tg 5.15). 4.2.6. E s p ír it o d a g l ó r i a d e D e u s ( c f . 1 P e 4.15) O Espírito Santo é uma expressão da glória celestial (cf. 2 Co 3.18). Ele também revela a glória que se há de seguir (cf. 1 Pe 1.11), e as riquezas da 8 6 Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo glória da sua herança nos santos (cf. Ef 1.17,18; Cl 1.27). O Espírito Santo faz abundar a esperança (cf. Rm 15.13) da vinda de Jesus, que é “o apareci mento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo” (Tt 2.13). 4.2.7. C o n s o l a d o r ( c f . Jo 14.26; 15.26; 16.7) Esse nome expressa que o Espírito Santo transmite aos homens a consolação da parte de Deus, “o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação” (2 Co 1.3). 4.2.8. E spírito da promessa (cf. Ef 1.13; A t 1.4,5) Esse nome traz aos nossos corações a certeza de que tudo que o Espírito Santo realiza é oferecido a todos, pois “a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar” (At 2.39). Jesus deseja batizar todos com o Espírito Santo, para que sejam beneficiados com a plenitude das operações do Espírito. 5. S ímbolos d o Espírito S anto Um símbolo é um tipo, um elemento importante que representa al guma coisa por semelhança, e sobre ela traz esclarecimentos. 5.1. N a B íb l ia e x is t e m v á r io s s ím b o l o s d o E s p ír it o S a n t o Jesus usou, no ensino sobre o Espírito Santo, vários símbolos. Ele falou de “rios de água viva” (Jo 7.37-39); disse: “Vim lançar fogo na terra” (Lc 12.49), “O vento assopra onde quer” (Jo 3.8). Falando da sua experiência com o Espírito Santo, afirmou: “O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu” (Lc 4.18). Falou ainda da necessidade de levar azeite nas vasilhas (Mt 25.2-4). Quando Jesus foi batizado nas águas, o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea de uma pomba (cf. Lc 3.22; Jo 1.33). O médico Lucas, autor dos Atos dos Apóstolos, usou, quando escre veu sobre o milagre do Pentecostes, dois símbolos: o vento (cf. A t 2.2) e as “línguas de fogo” (cf. A t 2.3). 87 T eolocia Sistemática O profeta Joel, quando profetizou sobre o derramamento do Es pírito, usou como símbolo a chuva (cf. J1 2.23). Quando o rei Davi profetizou sobre o derramamento do Espírito Santo na Igreja, o corpo de Cristo, usou dois símbolos: “o óleo precioso” e “o orvalho” (cf. SI 133.2,3). 5.2. A FINALIDADE DO USO DOS SÍMBOLOS Por meio dos símbolos do Espírito Santo podemos focalizar importan tes detalhes sobre sua pessoa e sua obra. Através desses símbolos vemos salientadas a limitação humana e a absoluta dependência que temos da operação do Espírito Santo, enxergamos o seu modo de ação, registramos a sua natureza inalterável, sua plenitude e, principalmente, as diferentes manifestações e maneiras de agir do Espírito sobre a vida de cada um. O espaço limitado deste livro não permite estudo mais profundo des se assunto maravilhoso. A Bíblia, porém, está aberta para quem deseja estudar mais essa doutrina tão rica. 6. A s O bras do Espírito S anto As obras do Espírito Santo provam a sua divindade, assim como as obras que Jesus realizou como homem comprovam que Ele é o Filho de Deus (cf. Jo 5.36; 10.25,38; 14.11). O Espírito Santo sempre opera em conjunto com a Trindade, pois é o ativador de todas as coisas. Veja mos aqui somente algumas dessas obras, pois é inteiramente impossí vel estudar todas. 6 .1 . A o b r a d o E s p ír it o S a n t o n a p e s s o a d e J e s u s • O Espírito Santo renovou e vivificou, através dos séculos, a pro messa de Deus de enviar o Messias (cf. Gn 3.15; 1 Pe 1.9-11). • O Espírito Santo operou ativamente na encarnação de Jesus (cf. Lc 1.35; Mt 1.20). • O Espírito Santo guardou, por meio de uma divina revelação, a vida de Jesus quando Herodes queria matá-lo (cf. Mt 2.12). 8 8 Pneumatolocia - A Doutrina do Espírito Santo • O Espírito Santo revelou a Simeão que Jesus era o Messias (cf. Lc 2.25-29). • O Espírito Santo revestiu Jesus com poder para que exercesse o seu ministério (cf. Lc 3.22), selando-o (cf. Jo 6.27) e ungindo-o (c f Lc 4-18). Guiou-o (c f Lc 4.14) e operou maravilhas e sinais por meio dele (c f Lc 5.17; 6.19; Mt 12.28). • O Espírito Santo operou na vida de Jesus uma renúncia total (c f Hb 9.14), dando-lhe força para, voluntariamente, se oferecer em sacrifí cio (c f Ef 5.2). • O Espírito Santo operou na ressurreição e ascensão de Jesus (c f Rm 8.11; Ef 1.20). 6.2 . O Espírito Santo opera, aplicando a obra de C risto para RESTAURAÇÃO DO HOMEM Toda a Trindade operou e opera na salvação do homem. Deus Pai deu o seu Filho unigénito (c f Jo 3.16), e “estava em Cristo, reconci liando o mundo consigo” (c f 2 C o 5.19). O Filho deu-se a si em sacrifício (c f Ef 5.2), sendo a causa de eterna salvação (c f Hb 5.9). O Espírito Santo aplica essa salvação na vida dos homens. Jesus dis se: “Há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (Jo 16.15). Assim, o Espírito Santo opera no sentido de que, por meio da salva ção, haja uma total restauração de todo o estrago que o pecado cau sou na vida do homem, seja no seu espírito, na sua alma ou no seu corpo. 6.2 .1 .0 Espírito S anto vivifica o espírito do homem Pelo pecado o homem é separado de Deus (c f Is 59.2) e o seu espírito é morto (c f Ef 2.1-3; Lc 15.32; C l 2.13), completamente destituído de poder para exercer a função de ser o meio de contato com Deus. O Espí rito Santo chama o pecador (c f Ap 22.1) despertando o seu espírito (cf. Ed 1.1), dando-lhe a certeza da salvação (cf. Rm 8.16), a qual faz com que ele agora clame “Aba, Pai” (Rm 8.15; cf. G1 4-6). O espírito do homem, agora iluminado, pode ver a glória de Deus (cf. 2 Co 4-6; Mt 5.8) e experimentar a santificação (cf. 2 Co 3.18). 8 9 T EOLOGiA Sistemática 6.2 .2 .0 E s p ír it o S a n t o o p e r a p a r a a s a l v a ç ã o d a a l m a A alma do homem ficou também sob a influência do pecado. O seu sentimento ficou obscurecido (cf. Ef 4.18), a sua vontade tomou-se má (cf. Jo 3.19), e o seu sentimento angustiado, sem paz (cf. Rm 7.24; Is 57.21). Porém, pela lavagem e renovação do Espírito Santo (cf. T t 3.5) e vivificação da Palavra (cf. Jo 6.63), a sua alma é salva (cf. Tg 5.20). O seu entendimento ficou esclarecido (cf. 2 Co 4.6), a sua vontade, incli nada a fazer a vontade de Deus (cf. Hb 13.21; Mt 6.10), e o seu senti mento, cheio de júbilo e alegria (cf. SI 51.12; Rm 2.10). 6.2.3. O E s p í r i t o S a n t o o p e r a a r e s t a u r a ç ã o d o c o r p o d o h o m e m Ele proporciona a salvação para o corpo. Pelo pecado o corpo ficou contaminado (cf. Tg 3.6) e se tomou um instrumento de iniqüidade (cf. Rm 6.13). Pela operação do Espírito Santo na regeneração (cf. Jo 3.8), o homem se tomou uma nova criatura, e tudo ficou novo (cf. 2 Co 5.17). O corpo não serve mais ao pecado (cf. Rm 6.16,18,19), masserve ao Senhor no espírito (cf. Fp 3.3), como instrumento de justiça (cf. Rm 6.13). O Espírito Santo opera, ainda, transmitindo poder para a cura do corpo. Pelo pecado entrou a morte no mundo (cf. Rm 5.12; Gn 3.19), e com a morte veio a doença e a dor, que constituem o início da morte. Muitas doenças são originadas pelo pecado (cf. Jo 5.14; SI 38.1-10; Pv 14.30). Jesus levou as nossas enfermidades na cruz (cf. Is 53.4; Mt 8.14- 17; 1 Pe 2.24). O Espírito Santo opera transmitindo esse poder para a cura das enfermidades, bênção que faz parte da salvação completa! Quando o Espírito Santo operou no ministério de Jesus, então mui tos doentes foram curados (cf. Lc 5.17; 6.19). Aconteceu também nos dias dos apóstolos (cf. A t 4.30,31; 5.12-16, etc.). Jesus ainda hoje é o mesmo (cf. Hb 13.8), e o Espírito Santo também (cf. 1 Co 12.4) e, por isso, opera da mesma maneira também. 6.3. O Espírito Santo transmite a natureza divina pelo fruto do Espírito Uma das grandes obras do Espírito Santo é a de transmitir ao homem toda a plenitude de Deus (cf. Ef 3.16-19). A natureza per 9 0 Pneumatolocia - A Doutrina do Espírito Santo feita de Deus faz parte dessa plenitude. Pelo fruto do Espírito, essas virtudes se manifestam na vida do crente. 6.3.1. O fr u t o do E sp ír it o é u m a m a n ifest a ç ã o d a n a tu r ez a de C r ist o O alvo da salvação é restaurar o homem à imagem de Cristo (cf. Rm 8.29; C l 3.10). Pelo pecado, ele perdeu a glória da imagem de Deus (cf. Rm 3.23), e ficou escravizado debaixo do poder da carne, isto é, da sua velha natureza, a qual se manifesta pelas “obras da carne” (cf. G 15.19-21). A carne afasta o homem da vontade de Deus (cf. Rm 8.5-8) e o faz obedecer ao Inimigo (cf. Ef 2.1-3). A salvação faz o ho mem participante da natureza divina (cf. 2 Pe 1.4), porque Cristo ago ra é a sua vida (cf. C l 3.4), e a “sua velha natureza” foi crucificada com Cristo, que agora vive nele (cf. G1 2.20). “O molde” dessa nova vida é o exemplo que Jesus nos deixou registrado na Bíblia (cf. 1 Pe 2.21; Jo 13.15; 1 Jo 2.6; 1 Co 11.1). O Espírito Santo faz que, por meio do fruto do Espírito, as virtudes de Cristo apareçam “para que a vida de Jesus se manifeste também em nos sos corpos” (cf. 2 Co 4.10), “até que Cristo seja formado em vós” (G1 4.19). A Bíblia mostra que quando há abundância da operação do Espí rito, então os frutos infalivelmente aparecem (cf. Jr 17.8; SI 1.3). Quan do o Espírito Santo glorifica a Jesus (cf. Jo 16.14) na vida do crente e a sua comunhão com Ele se tomar mais íntima, então se cumpre a palavra de Jesus: “Quem está em mim, e eu nele, este dá muito fruto” (Jo 15.5). É o fruto do Espírito que então aparece, e a natureza e as virtudes de Cristo se reproduzem na vida do crente. 6 .3 .2 .0 fr u to do Espírito produz sa n tific a ç ã o O Espírito Santo ajuda o crente a entregar-se inteiramente ao Senhor, para assim dominar a sua velha natureza (cf. G15.16,17). O fruto do Espí rito se manifesta, então, livremente na sua vida, para que “todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis” (1 Ts 5.23); “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus” 91 T EOLOGiA Sistemática (cf. Mt 5.16). É o fruto da santificação que se manifesta (cf. Rm 6.22). Assim, “não são as boas obras que fazem o homem bom, mas o homem bom faz as boas obras” (Lutero). O Senhor espera frutos na nossa vida (cf. Ct 6.11; 7.13). Que os tenhamos para lhe oferecer (cf. Ct 4.16). 6.3.3. A B íblia fala “do fr u to ” e n ã o “ dos fr u to s” do Espírito O fruto do Espírito representa nove diferentes valores. Em Gálatas 5.22, encontramos essas nove virtudes: caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e temperança, todas elas dentro do fruto do Espírito. O mesmo fato aparece em 1 Coríntios 13.4-8, onde se fala de várias virtudes espirituais, todas vinculadas à caridade. “A carida de é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; a caridade não trata com leviandade”, etc. Aqui se esconde uma realidade muito importante. Todas as virtudes espirituais têm na caridade a sua origem. A Bíblia diz: “Deus é caridade” (1 Jo 4.8), isto é, a caridade constitui a própria essência do eterno Deus. Dessa maneira podemos compreender que as virtudes apresentadas em Gálatas 5.22 e 1 Coríntios 13.4-8 têm, todas elas, a sua origem na caridade. São como uma laranja composta de dife rentes gomos, os quais, juntos, formam a laranja. Não se trata de diferen tes flores (virtudes) que, juntas, formam um ramalhete, mas de uma só flor, com nove pétalas distintas e desiguais, mas que constituem uma mes ma flor. Assim, o fruto é a caridade, mas as outras virtudes são reflexos dela, isto é, uma caridade de gozo, cheia de paz, com muita longanimidade, bondade e fidelidade; uma caridade cheia de mansidão e benignidade e controlada com temperança. Graças a Deus! 6.3.4. U m a s ín t e s e so b r e a s v ir t u d e s q u e co m põ em o f r u t o do E sp ír it o • Caridade. E a fonte divina de onde manam todas as virtudes espiri tuais. Deus é caridade (cf. 1 Jo 4.8). Quando Ele ama, há um transborda- mento da sua pessoa (cf. Ef 2.4; 2 Ts 2.16; 2 Co 9.7; Jo 13.1). Nós o amamos porque Ele nos amou primeiro (cf. 1 Jo 4.19). A salvação infla mou a chama do amor (cf. Lc 7.47), que vai aumentando (cf. 1 Ts 3.12; 4-9,10; 2 Ts 1.3). Assim, o amor se toma uma evidência da salvação (cf. 9 2 Pneumat01.0CIA - A Doutrina do Espírito Santo 1 Jo 3.14; 4-7). Pela operação do Espírito, esse amor aumenta (cf. Rm 5.5; Ef 3.16,18,19; 2 Tm 1.7) e aparece como “fruto”, pelo qual amamos a Deus (cf. 1 Pe 1.8). Como a noiva ama o noivo e faz a sua vontade (cf. Jr 2.2; C t 1.4), nós queremos fazer a vontade de Deus (cf. Jo 14.15,23; 15.10,14; 1 Jo 5.2,3), para cumprir a lei da liberdade (cf. Tg 1.25; Rm 8.4; 13.7-10), agradando a Deus em tudo (cf. 2 Co 5.9; Rm 14.18). Esse amor leva o homem a fazer como Jesus fez (cf. Ef 5.2; Jo 3.16), entregan- do-se a si mesmo a Deus (cf. 1 Jo 3.16; Jo 21.15-17) para salvação dos pecadores (cf. 2 Co 5.14,15; 1 Co 9.19-23; Rm 10.1,2) e conservação dos crentes (cf. 1 Ts 2.8-11; 2 Co 12.15). O amor é um rio que liga as relações entre os crentes para os aperfeiçoar (cf. Cl 3.14; 2.2; G1 5.13; Fp 2.4), estreitando o seu relacionamento até com os que são inimigos (cf. Lc 23.34; At 7.60; Lc 6.27-30; Rm 12.20). • Gozo. Faz parte da perfeição divina. Deus é bem-aventurado (cf. 1 Tm 1.11); Jesus se alegrou (cf. Lc 10.21; Hb 12.2). O Reino de Deus é alegria (cf. Rm 14.17). Essa alegria nasce no crente como uma obra da graça (cf. 2 Co 8.1,2). A salvação traz alegria (cf. A t 8.8; 16.34), porque a ira de Deus cessou e os nossos nomes estão escritos no livro da vida (cf. Lc 10.20). O Espírito Santo aumenta esse gozo através do fruto do Espírito (cf. G15.22), porque o gozo e o Espírito Santo andam juntos (cf. A t 13.52; 1 Ts 1.6; Hb 1.9; SI 16.11). Permanecendo em comunhão com Jesus, esse gozo se toma completo (cf. Jo 15.11) econs- titui a base que forma a maravilhosa comunhão entre os crentes (cf. Rm 12.15; 1 Co 12.26). • Paz■ O Reino de Deus é paz (cf. Rm 14.17) porque Deus é “Deus de paz” (Fp 4-9; cf. 2 Ts 3.16). É Ele quem nos dá “a paz de Deus” (cf. Cl 3.15). Jesus, o Príncipe da paz (cf. Is 9.6), comprou essa paz na cruz (cf. Ef 2.14; C l 1.19,20). Por isto a graça e a paz andam juntas (1 Co 1.3; 2 Co 1.2; T t 1.4). O Espírito Santo faz aumentar essa paz (Rm8.6; Ef4 3). A paz pode ser um rio (Is 48.18), e ser multiplicada (1 Pe 1.2; Jd 2), uma paz que excede todo entendimento (Fp 4.7). E pela salvação que a paz entra na vida do crente (Rm 5.1; Mt 11.29; Ef 2.14). Confiando no Senhor (Is 26.3) e andando conforme a Palavra (G1 6.16), essa paz permanecerá. A paz dá ao crente condição de viver em paz com todos 93 T EOLOCiA S istemática (1 Ts5.13; Hb 12.14), pois ele é dominado pela paz (C l 3.15). A paz na igreja (At 9.31) é um segredo do progresso (SI 122.6,7). A paz faz do crente um pacificador (Mt 5.9; Pv 15.18; 16.14). • Longanimidade. E possuir “ânimo longo”, apesar das circunstâncias adversas, em lugar de ter “ânimo precipitado” (Pv 14.29), seu antônimo. Deus é longânimo (cf. Nm 14.18). A Bíblia fala “da longanimidade de Deus” (cf. 2 Pe 3.15; 1 Pe 3.20) e das “riquezas da sua longanimidade” (cf. Rm 2.4). Deus é também chamado “o Deus de paciência” (Rm 15.5). Jesus mostrou toda a longanimidade para salvar Saulo (cf. 1 Tm 1.16). E dessa fonte que o Espírito Santo transmite a longanimidade como fruto, pois “o amor de Deus está derramado em nossos corações” (Rm 5.5), e o amor nunca falha (cf. 1 Co 13.8). Essa virtude ajuda o crente tanto nas suas comunicações com os irmãos (cf. Ef 4.2), como no seu serviço (cf. 2 Co 6.6; 2 Tm 4.2; Pv 15.18). É uma expressão do domínio próprio (cf. Pv 16.32) na hora do sofrimento (cf. Rm 12.15). Jesus experimentou isso (cf. 1 Pe 2.21-23). Paulo também era um exemplo (cf. 2 Tm 3.10). • Benignidade. É uma virtude que nos dá condições de tratar os ou tros com carinho e meiguice. Deus é benigno (cf. Lc 6.35), isto é, a benignidade faz parte da sua própria substância. Por isso a Bíblia fala das riquezas (cf. Rm 2.4) e da grandeza (cf. SI 5.7) da sua benignidade, que se elevam até os céus (cf. SI 108.4). A Bíblia fala da benignidade de Jesus (cf. 2 Co 10.1). É dessa fonte que o Espírito Santo transmite a benignidade como fruto. Lemos em 2 Coríntios 6.6: “Na benignidade no Espírito Santo”. O Espírito Santo nos quer revestir dessa benignida de (cf. Cl 3.12,13) para uma vitória completa. • Bondade. Deus é a fonte da bondade, porque Ele é bom (cf. N a 1.7; Ed 3.11), e toda dádiva dEle é boa (cf. Tg 1.17). O Espírito Santo trans mite essa virtude como um fruto, para que cada um, do bom tesouro do seu coração, possa tirar o bem (cf. Lc 6.45). Bamabé foi cheio do Espíri to Santo e, por isso, se tomou um homem bom (cf. A t 11.24). Ele dei xou um brilhante exemplo de como esse fruto se manifesta. O seu cora ção era aberto para ofertar (cf. A t 4 37; 2 Co 8.1-3). Ele viu a graça de Deus em operação (cf. A t 11.23) e, por isso, conseguiu ajudar a Saulo (cf. A t 9.26-28; 11.25,26). Todo aquele que possui esse fruto é feliz (cf. 9 4 Pneumatologia - A Doutrina do LspIrito Santo Pv 1414), pois pode ser uma bênção para outros (cf. Rm 15.14) e até deixa uma herança para os seus descendentes (cf. Js 44.3), sendo capaz de sentir o favor de Deus (cf. Pv 12.2). Diante da eternidade será mani festado o fato de que Deus dá valor à bondade (cf. Mt 25.23). • Fidelidade. Deus é fiel (cf. 1 Co 1.9; 1 Ts 5.24; 2 Co 1.18) como também Jesus o é (cf. Ap 19.11). A sua fidelidade sempre permanece (cf. 2 Tm 2.13) na chamada (cf. 1 Co 1.9), no perdão (cf. 1 Jo 1.9), nas tenta ções (cf. 1 Co 10.13) e na santificação (cf. 1 Ts 5.23,24). Alcançamos misericórdia para sermos fiéis (cf. 1 Co 7.25). Pela operação do Espírito Santo essa virtude aparece como fruto que penetra até o nosso espírito (cf. Pv 11.30). Deus busca esse fruto entre o seu povo (cf. SI 101.6). A fidelidade é uma força nas nossas relações com Deus (cf. 2 Co 11.2) e com a sua Palavra (cf. 1 Tm 4.6; A t 5.29; Jo 14 23). A fidelidade é indispensá vel nas nossas atitudes para com a Igreja (cf. Hb 3.5) e os irmãos (cf. 2 Jo 5,6), e no nosso serviço (cf. 1 Co 4.2; 1 Tm 1.12; At 20.24). Sejamos fiéis até a morte para alcançarmos a coroa da vida (cf. Ap 2.10). • Mansidão. E uma virtude amorosa, pela qual nos conservamos pa cíficos, com serenidade e brandura, sem alterações, quando nos con frontamos com coisas desagradáveis. Jesus, como homem, foi manso. A Bíblia fala da “mansidão de Cristo” (cf. 2 Co 10.1). Os profetas profeti zaram sobre a sua mansidão (cf. Is 53.7; Mt 21.5). Ele se conservava manso até diante de seu traidor (cf. Mt 26.50), e curou o moço que foi enviado para o prender (cf. Lc 22.51). Ele disse: “Aprendei de mim, que sou manso” (cf. Mt 11.29). Ele ensinou mansidão (cf. Lc 6.27-29). O Espírito Santo faz com que a mansidão apareça como fruto, sempre que o amor de Deus é derramado em nossos corações (cf. Rm 5.5). Então, “o espírito de mansidão” se manifesta (cf. 1 Co 4.21). Principalmente os servos de Deus devem possuir esse fruto (cf. Tg 3.13), revestindo-se de mansidão (cf. C l 3.12), pois é útil no serviço (cf. 2 Tm 2.25; T t 3.2; Ef 4.2; G 16.1; 1 Pe 3.15). • Temperança ou domínio próprio. Serve como “freio” (cf. Tg3.2), quan do a nossa própria vontade — ou egoísmo— quer prevalecer em oposição à vontade de Deus. Jesus “morreu por todos, para que os que vivem, não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 T eologia Sistemática "imnTi riiiiwTiiríUTimiiiiiiirmin------------- ----- r ....................... Co 5.15). Ele mesmo deu exemplo disso, pois “não agradou a si mesmo” (Rm 15.3). O Espírito Santo faz aparecer essa virtude como fruto. Deus nos deu o espírito de moderação (cf. 2 Tm 1.7), que aparece como uma força contra a carne (cf. G15.17), fazendo o crente submeter-se à direção do Espírito (cf. G1 5.25). Assim, o crente subjuga o seu corpo (cf. 1 Co 9.27) e governa o seu espírito (cf. Pv 16.20), disciplinando o seu coração (cf. Pv 23.12) para andar em Espírito (cf. G1 5.25). A temperança traz ricas bênçãos, pois ajuda o crente a rejeitar o mal (cf. SI 141.4; Dn 1.8) e lhe dá domínio próprio para não permitir que algo contra a vontade de Deus o domine (cf. 1 Co 6.12; 10.23). Com isso, o crente de tudo se abstém para alcançar uma coroa incorruptível (cf. 1 Co 9.25). 7. O Batismo no Espírito S anto O Reino de Deus consiste em virtude (cf. 1 Co 4.20), pois é o domí nio do Deus Todo-poderoso (cf. Gn 17.1). Deus é a fonte de poder (cf. 1 Cr 29.11; SI 62.11). Quando Deus, para libertar os homens do poder de Satanás (cf. A t 26.18) e da potestade das trevas (cf. C l 1.13), deu o seu Filho unigénito, esse, pela sua vitória na cruz do Gólgota (cf. C l 2.14,15), foi feito poder de Deus (cf. 1 Co 1.24). O Evangelho, que fala dessa salvação, é também poder de Deus (cf. Rm 1.16). Quando alguém aceita a Jesus e crê na sua Palavra, recebe poder para ser feito filho de Deus (cf. Jo 1.12-14). A Bíblia revela que Deus tem preparado para os seus uma bênção de poder, a qual oferece a todos — o batismo no Espí rito Santo (cf. Lc 24-48,49; A t 1.4,5,8). 7.1. O b a t is m o n o E s p ír it o S a n t o é a p r o m e s s a d o P a i Jesus comunicou aos seus discípulos, antes da sua morte, que recebe riam poder pelo batismo no Espírito Santo, que o Pai havia de enviar (cf. Jo 14.16,17,26; 15.26; 16.7,13). Por isso é uma bênção chamada “a promessa do Pai” (At 1.4,5; Lc 24.49). Essa bênção prometida distingue-se da experiência da salvação. De vemos observar que Jesus ordenou aos seus discípulos que buscassem o «ffl 96 Pneumatolocia - A Doutrina do EspIrito Santo revestimento de poder pelo batismo no Espírito Santo (cf. Lc 24-49). Eles já eram crentes. Todas as vezes que a Bíblia fala sobre o recebimen to dessa bênção, menciona que os que a receberam eram crentes. Vemos as cinco referências nos Atos: • Atos 2.1-4 — Todos os discípulos que estavam no cenáculo eram crentes. • Atos 8.14,17 — Os que foram batizados no Espírito Santo eram novos crentes que acabavam de ser batizados nas águas. • Atos 9.17 — Saulo era novo convertido, pois Ananias o chamou “irmão”. • Atos 10.43-46 — Os que na casa de Comélio foram batizados no Espírito Santo eram novos na fé, cujos corações haviam sido purificados (cf. A t 15.9). • Atos 19.1-6 — Os que em Efeso foram batizados no Espírito Santo eram crentes que antes não conheciam nem a doutrina sobre o batismo nas águas nem sobre o Espírito Santo. Logo depois de terem sido batizados nas águas, Jesus os batizou com o Espírito. Vemos assim que o batismo no Espí rito Santonão é uma coisa que automaticamente acompanha a salvação, nem algo que necessariamente acompanha o batismo nas águas (cf. At 8.16; 19.5,6; 2.38), mas uma bênção distinta que Deus oferece aos crentes. A Bíblia usa diferentes nomes sobre essa experiência. Vejamos: 7.1.1. Batismo no Espírito Santo (cf. Mt 3.11; A t 1.5; 11.16) A palavra “batismo” tem o sentido de mergulho, imersão, o que real mente condiz com a maravilhosa experiência de submergir na plenitude do Espírito. 7.1.2. S er cheio do Espírito S anto (cf. A t 2.4; 4.8,31; 9.17) O Espírito Santo já “habita” no crente, mas através do batismo “es tará nele” (cf. Jo 14.17). E a vida abundante (cf. Jo 10.10) que Jesus prometeu. Todo o templo do Espírito (cf. 1 Co 6.19,20) fica agora ocu pado. Leia 2 Crônicas 7.1-6. 97 T EOLOCiA Sistemática 7.1.3. R eceber a unção (cf. 1 Jo 2.20,27; Lc 4.18; A t 10.38; 2 Co 1.21) Essa expressão nos faz lembrar o ato da consagração dos sacerdotes (cf. Êx 40.13-15), dos profetas (cf. 1 Rs 19.16) e dos reis (cf. 1 Sm 10.1; 16.13) através da santa unção (cf. Ex 30.23-33), no período do Antigo Testamento. O crente neotestamentário é sacerdote e rei (cf. 1 Pe 2.9; Ap 1.6), e, para ele, Deus tem preparado uma unção especial: o batismo no Espírito Santo (cf. 2 Co 1.20). 7.1.4. Revestimento de poder (cf. Lc 24.49) Essa é a principal finalidade do batismo: o recebimento de poder (cf. A t 1.8). Aqui não se trata de poder intelectual ou físico, mas de poder de Deus. Isso nos faz lembrar o pedido que Eliseu fez a Elias, que lhe desse porção dobrada do seu espírito (cf. 2 Rs 2.9). 7.1.5. S elo da promessa (cf. Jo 6.27; 2 Co 1.22; Ef 1.13; 4.30) A palavra “selo” é aplicada em vários sentidos, que também expli cam a bênção do batismo no Espírito Santo: • O selo fala de propriedade. Jesus sela a propriedade que comprou (cf. I C o 6.19,20; Ef 1.13). • Um documento selado tem o seu valor autenticado. O decreto da salvação (cf. Ef 4 30) e o valor das promessas divinas estão selados pelo Espírito Santo (cf. 2 Co 1.20-22). • O selo de proteção. Pilatos o usou (cf. Mt 27.66). O rei Dario também (cf. Dn 6.17; Ap 7.3 e 9.4). O selo do Espírito Santo é um sinal de proteção por parte daquEle que nos selou (cf. 2 Co 1.22). • Um anel com sinete é um sinal de autoridade (cf. Gn 41-42; Et 8.2; 1 Rs 21.8). Simbolicamente fala da autoridade celestial que o ba tismo no Espírito Santo proporciona (cf. A t 1.8; 4.8,20; 7.51-59). 7.2. A EVIDÊNCIA DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO Antes do Pentecostes, o Espírito Santo já havia descido sobre al guns: João Batista (cf. Lc 1.17), Isabel (cf. Lc 1.41), Zacarias (cf. Lc 9 8 Pneumatolocia - A Doutrina do EspIrito Santo 1.67), Simeão (cf. Lc 2.25), etc. Porém, em nenhum momento é menci onada uma manifestação especial ligada à experiência. No dia de Pentecostes, a descida do Espírito Santo foi acompanhada de um sinal externo. A Bíblia diz: “E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2.4). Foi realmente um milagre. Embo ra essas línguas fossem desconhecidas por eles, o povo que os ouviu dis se: “Como pois os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?” (At 2.8) Havia acontecido aquilo que Jesus dissera: “Falarão novas línguas” (Mc 16.17). Alguns procuram explicar esse mi- lagre afirmando que essas “outras línguas” significavam um vocabulário destituído de xingamentos ou zombarias, ou seja, uma “linguagem san ta”. Mas não foi isso que aconteceu. O falar em línguas deu aos discípulos a certeza de que haviam recebido aquilo que o Pai prometera. Todas as outras evidências que acompanharam o batismo no Espírito Santo — alegria, zelo pelas almas, conhecimento da Palavra, etc. — não lhes podiam ter dado tal certeza, porque várias vezes antes do batismo já as haviam experimentado. A mesma evidência conti nuou a acompanhar todos os que recebiam o batismo no Espírito Santo. Podemos verificar isso observando as referências registradas em Atos: • Atos 2.4 — Todos falaram línguas. • Atos 8.17 — Todos receberam o sinal, pois Simão viu que “pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo” (At 8.18). • Atos 9.17 — Paulo disse: “Falo mais línguas do que vós todos” (1 Co 14.18). • Atos 10.45,46 — Todos falaram em línguas na casa de Comélio. • Atos 19.6 — Todos falaram em línguas. O falar em novas línguas não é somente uma evidência, é também uma grande bênção. A Bíblia diz: “O que fala em língua estranha edifica-se a si mesmo” (1 Co 14.4), pois “o que fala em língua estranha não fala aos homens, senão a Deus” (cf. 1 Co 14.2). Até Pedro falou do “refrigério pela presença do Senhor” (At 3.20). Aqui se trata do 9 9 T EOLOCIA Sistemática descanso, do refrigério que Deus prometeu (cf. Is 28.11,12). As novas línguas constituem uma “linha direta” com Deus! Além disso, são uma força extraordinária para a vida de oração (cf. 1 C o 14.15). O crente, então, ora em espírito (cf. Rm 8.26). O que fala em línguas “dá bem as graças” (cf. 1 C o 14.17). Devemos observar o ensino bíblico de que falar línguas não é falar aos homens, senão a Deus (cf. 1 Co 14 2). Porém, se houver interpretação, a Igreja é edificada (cf. 1 Co 14.5,27). 7 .3 . A FINALIDADE DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO A finalidade principal do batismo no Espírito Santo é o relacionamento de poder. Foi sobre esse poder que Jesus falou antes de deixar os seus discípu los (cf. Lc 24-49). Esse poder era a maior necessidade deles (cf. At 1.8). O batismo no Espírito Santo solucionou problemas que surgiram na vida dos apóstolos com a morte de Jesus: • O medo que se havia apoderado deles, a ponto de evitarem o pú blico e ficarem atrás de portas fechadas (cf. Jo 20.19,26), desapareceu. • A fraqueza que se apoderara deles também desapareceu. Recebe ram uma coragem maravilhosa para resistir às perseguições e proibições que encontraram (cf. A t 4.16-21,33; 5.29-33,41,42). • A inatividade em que se achavam, desde a morte de Jesus, acabou. O Espírito Santo os impulsionou de modo irresistível a evangelizar. Não cessavam mais (cf. A t 4.33; 5.42). A experiência do batismo no Espírito Santo era absolutamente comum no meio dos crentes no período apostólico. Não era raridade que alguém fosse batizado. No livro de Atos, podemos observar que em todas as ocasiões em que se fala sobre o recebimento do batismo no Espírito Santo, sempre se diz que todos o receberam (cf. At 2.4; 8.14-17; 9.17; 10.41-46 e 19.1-6). Pelo exposto fica evidente que o plano de Deus é que todos os crente recebam o batismo no Espírito Santo, pois Deus prometeu essa bênção a “tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar” (At 2.39). Quando Jesus ensinou sobre o recebimento dessa bênção usou uma parábola. Disse que, assim como um pai dá pão para o seu filho, assim também dará “o 100 Pneumatolocia - A Doutrina do EspIrito Santo Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem” (Lc 11.13). Essa bênção é tão necessária como o pão! Não pode haver dúvidas sobre a vontade de Deus de nos dar o batismo no Espírito Santo. O batismo no Espírito Santo é a maior necessidade do Cristianismo atual. A maior necessidade de cada homem do mundo é receber Jesus como o seu Salvador. Mas a maior necessidade de cada crente é receber o batismo no Espírito Santo e viver nesse poder. E essa bênção pertence a todos os crentes, em todos os tempos. A Bíblia diz: “Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar” (At 2.39). Se no tempo dos apósto los havia necessidade de receber poder, a situação não mudou em nada: • A bênção é para todos, pois a Palavra de Deus não mudou! As promessas de Deus são válidas para todos os tempos, sejam promessas de salvação, de perdão ou de resposta às orações. Por isso, está em pleno vigor a promessa do batismo no Espírito Santo: “Porque eu, o Senhor,não mudo” (Ml 3.6). • O batismo no Espírito Santo é para todos, pois os homens de hoje são iguais aos daquele tempo. As suas necessidades, fraquezas e proble mas são iguais. Como o batismo no Espírito Santo lhes forneceu ajuda ontem, ainda hoje ajuda aos que o recebem. • Essa bênção é necessária, pois o poder do maligno também não mu dou, nem ficou brando. Pelo contrário, a Bíblia diz que nos últimos dias o Inimigo terá “grande ira, sabendo que já tem pouco tempo” (Ap 12.12). Nos tempos do fim, o poder das doutrinas dos demônios aumentará (cf. 1 Tm 4-1). Assim como os discípulos, pelo poder do batismo no Espírito Santo e dos dons espirituais que os acompanhavam, resistiram e vence ram as forças do mal (cf. A t 8.9-12; 18.23; 13.8-12; 16.16-18; 19.13-17), assim os crentes de hoje têm a mesma necessidade de poder. • Precisamos desse poder hoje, pois os Atos dos Apóstolos e toda a história da Igreja afirmam que onde quer que o Espírito Santo tenha sido derramado, aí tem se manifestado despertamento para salvação de muitas almas. É essa necessidade que predomina no nosso tempo. É por isso que a única solução para hoje é ser cheio do Espírito Santo. T eologia Sistemática Essa bênção deve ser conservada através de contínua renovação. A Bíblia fala da possibilidade de a bênção do batismo no Espírito Santo permanecer sobre os crentes. João viu que o Espírito Santo desceu sobre Jesus e repousou sobre Ele (cf. Jo 1.32-34). Jesus rece beu esse poder (cf. Lc 3.22) e logo passou quarenta dias no deserto, onde foi tentado pelo Diabo (cf. Lc 4.1-13). Mesmo assim, voltou cheio do Espírito Santo (cf. Lc 4.14). Paulo não somente recebeu o batismo (cf. A t 9.17), mas experimentou também a renovação con tínua do Espírito Santo (cf. A t 9.22; 13.4; 27.33). A mesma coisa se deu com o apóstolo Pedro, que até o fim da sua vida (cf. 2 Pe 1.12- 15; 3.1) permaneceu aquecido pela bênção que recebera no dia de Pentecostes (cf. A t 2.4). A Palavra de Deus, em Levítico 6.13, se cumpre também nesse sentido: “O fogo arderá continuamente sobre o altar; não se apagará!” A renovação é uma operação do Espírito Santo. O mesmo Espírito que acendeu o fogo é também poderoso para mantê-lo aceso (cf. Ef 4.23; 2 Co 416; Rm 12.2). Importa somente sentir a necessidade de renova ção e pedir: “Aviva, ó Senhor” (Hc 3.2). A Bíblia promete: “Os que esperam no Senhor renovarão as suas forças” (Is 40.31). Deus renova (cf. SI 103.5; Jó 33.25). As mãos do Senhor se estendem e notaremos que “raios brilhantes saíam da sua mão” (Hc 3.4). O júbilo é renovado (cf. SI 51.12; 85.6). As forças consumidas são renovadas. 8 .0 Espírito S anto T ransmite o Poder e a S abedoria de Deus através dos Dons Espirituais 8.1. A santificação dos dons espirituais 8.1.1. Definição Os dons espirituais são meios pelos quais o Espírito revela o poder e a sabedoria de Deus através de instrumentos humanos, que os recebem e bem usam (cf. 1 Co 12.7,11). 102 Pneumatolocia - A Doutrina do EspIrito Santo 8.1.2. O QUE SÃO DONS ESPIRITUAIS (CF. 1 C o 12.7,8,11) A palavra “dom” vem do grego charisma, que significa “um dom pela graça”. Como o batismo no Espírito Santo é um dom (cf. A t 2.38), também os dons espirituais são dádivas. Não se trata aqui de mera capacidade ou de dotes naturais que tenham sido melhorados ou aperfeiçoados pela operação do Espírito Santo. N ão se trata de merecimento humano, mas da manifestação de um milagre. É uma dádiva. 8 .2 . A FINALIDADE DA OPERAÇÃO DOS DONS NA IGREJA Pelo ensino do Novo Testamento vemos a grande importância que os dons espirituais representam no plano de Deus (cf. 1 Co 12.1). O portador de um dom não o recebe para proveito próprio ou para usá-lo quando ou como achar melhor. São dados aos mem bros do corpo de Cristo para que sejam usados conforme a direção de Jesus, que é a cabeça da Igreja (cf. 1 Co 12.12,27). Quando os dons são usados desse modo, o poder do Espírito se manifesta na Igreja capacitando-a a cumprir sua alta missão na Terra. Vejamos, agora, a finalidade dos dons e sua manifestação nas diferentes fases da vida da Igreja. 8.2.1. A Igreja é o lugar de edificação e crescimento espiritual dos crentes (cf. Ef 2.18-22; 4.12,14,15) Todos os dons são para edificação da Igreja (cf. 1 Co 14-3,4,5,12,26) e para o aperfeiçoamento dos crentes, pois, quando os dons operam, manifestam-se para edificação, exortação e consolação (cf. 1 Co 14.3). Os dons manifestam a presença de Deus na Igreja (cf. 1 Co 14.25) tra zendo abundância de alegria (cf. SI 16.11). 8.2.2. A Igreja é o lugar onde os ministérios espirituais têm a sua ação (cf. 1 C o 12.28; Ef 4.11) Todos os ministérios têm, através dos dons espirituais, o seu prepa ro sobrenatural (cf. 1 Co 3.5,6; Ef 1.17-19; Rm 15.18,19; Cl 1.29; 1 Co 12.4-6). T EOLOGiA S istemática 8.2.3. A Igreja é o lugar onde cada crente, como sacerdote (cf. 1 Pe 2.9; A p 1.6), TEM A SUA FUNÇÃO “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores, depois, milagres, depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas” (1 Co 12.28). Fica ex plicado que, assim como o olho precisa de visão, o ouvido de audição e a mão do tato, também cada crente, como membro do corpo de Cristo, precisa do dom de Deus para que possa exercer aquilo que Ele tem deter minado para cada um (cf. 1 Co 12.11; 14.26; 1 Pe 4.10). 8.2.4. A Igreja é o instrumento principal de Deus para a evangeli zação do mundo Jesus deu a ordem de evangelizar (cf. Mt 28.18-20; Mc 16.15-20) e disse que a finalidade da vinda do Espírito Santo era receberem poder para ser testemunhas (cf. A t 1.8). Porém Deus proporcionou, como uma preparação divina para o cumprimento dessa tão grande tarefa, os dons espirituais pelos quais Ele mesmo confirma a prega ção do Evangelho (cf. A t 14.1-3; 4.29,30; 5.12,14; 8.6,7,12; Mc 16.20; Hb 2.3,4; A t 9.32-42). Pelos dons é manifestada uma sabedoria so brenatural que convence o pecador (cf. 1 Co 2.1-5), e faz com que comece a entender o sentido da Palavra de Deus (cf. A t 16.14; Lc 24.45). Jesus afirmou que é a verdade que nós conhecemos que nos liberta (cf. Jo 8.32). Os dons fazem “os segredos do coração dos infi éis ficarem manifestos, e assim, lançando-se sobre seus rostos, eles adorarão ao Senhor, publicando que “Deus está verdadeiramente entre vós” (1 C o 14.25). Os dons espirituais constituem um poder sobrenatural, uma autori dade que vence as forças malignas que procuram impor o seu domínio sobre o povo. Principalmente nos últimos tempos, essa força do mal tem aumentado (cf. 1 Tm 4.1). A superioridade do Cristianismo dian te de todas as outras religiões, filosofias e movimentos demoníacos se manifesta através do poder sobrenatural. Lemos em Atos 8 que em Samaria o mágico Simão fazia as suas artes a ponto de ser considerado “uma grande personagem” (v. 9). Todavia, quando os dons começaram 104 Pnf.umatoi.ogia - A Doutrina do EspIrito Santo a se manifestar no ministério de Filipe, concomitantemente com a sua pregação, a atenção do povo foi atraída para o lado do Senhor, e mui' tidões se converteram (cf. At 8.6-8,12,17). O mesmo aconteceu em Efeso: o movimento dos exorcistas foi desfeito quando o poder de Deus se manifestou pelos dons, e, assim, Jesus foi grandemente glorificado (cf. A t 19.13-17). Como esses, existem vários outros exemplos. Se o Cristianismo de hoje somente se basear no poder de sua própria sabe doria, argumentos e psicologia, vários opositores se acharão com con dições de combatê-lo. Porém, quando o poder sobrenatural pelos dons se manifesta, então se cumprirá a palavra de Jesus: “As forças do infer no não prevalecerão” (Mt 16.18). 8.2.5. A Igreja é também a coluna e a firmeza da verdade (cf. 1 T m 3.15) Essa é uma grande missão que a Igreja deve cumprir para que “ago ra, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos prin cipados e potestades” (Ef 3.10). Para isso, a Igrejaprecisa da infra- estrutura que é a manifestação dos dons espirituais, os quais fazem par te do modelo (cf. 2 Tm 1.13) que devemos reter até que Ele venha (cf. Ap 2.25 e 3.11). 8.2.6. Os dons são oferecidos à Igreja Convém, portanto, que sejam usados na Igreja. Assim, a igreja pode rá exercer a sua influência espiritual de modo constante. • Todos os dons cabem no trabalho da Igreja (A t 5.12-16; 6.7,8; 14.7-10). Alguns acham que, tendo recebido um dom, toma-se mais conveniente exercê-lo em um trabalho particular, isto é, desvinculado da Igreja. A Igreja não precisa de nenhum trabalho “especializado” à parte dela, como, por exemplo, um trabalho profético, ou de cura, ou de discernimento de espíritos e de revelação. Não, mas todos os dons po dem e devem funcionar na Igreja, no seu trabalho normal. • Deus colocou os ministros na direção da Igreja. Os dons são dados aos membros da Igreja, para que sirvam de ajuda e como uma confirma ção da parte de Deus para a pregação do Evangelho (cf. Mc 16.20). !(>' T EOLOGiA Sistemática Porém, a direção da igreja continua na mão dos ministros, pois nin guém, por possuir um dom espiritual, toma-se “líder da igreja”. 8 .3 . O s DONS ESPIRITUAIS E O FRUTO DO ESPÍRITO ANDAM JUNTOS Quando o apóstolo Paulo escreveu aos coríntios, observou que a irre gularidade ali existente no uso dos dons era a falta do firuto do Espírito entre os crentes. Por isso, intercalou entre os capítulos 12 e 14, onde fala a respeito do uso correto dos dons, um capítulo inteiro — o 13 — , que contém ensino substancial sobre a evidência maior do fruto do Espírito, a caridade (ou amor, versão revisada da IBB, cf. G 15.22). Primeiro enfati zou que o uso de qualquer dom é inútil se não houver caridade (cf. 1 Co 13.1-3). Depois descreveu as qualidades da caridade (cf. 1 Co 13.4-8). Com isso, evidenciou que foi exatamente a falta da manifestação do fruto do Espírito, isto é, da caridade, que trouxe problemas no uso dos dons. 8 .3.1.0 fruto do Espírito tem influência no uso dos dons O fruto do Espírito domina o portador do dom. “A caridade é benig na, tudo espera, tudo crê, tudo suporta, não se ensoberbece, não se porta com indecência” (ou conforme a Versão Revisada, “não se porta incon venientemente”). O amor jamais permite que o uso do dom venha a produzir confusão (1 Co 13.4-7 e 14.33). O fruto do Espírito também domina os sentimentos. Importa que haja no homem controle próprio (cf. Pv 16.32). A Bíblia diz: “Como a cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não pode conter o seu espírito” (Pv 25.28). A caridade não é invejosa, não se irrita, não suspeita mal, não trata com leviandade, precipitadamente (cf. 1 Co 13.4,5). O fruto do Espírito conserva o portador do dom em humildade, pois a caridade “não se ensoberbece” (1 Co 13.4). Um dos maiores perigos que cercam os que usam os dons é a soberba. “O homem é provado pelos louvo res” (Pv 27 21). A humildade sempre dá a Jesus toda honra e glória, e nunca faz o crente procurar o primeiro lugar para si (cf. Mt 18.1; 19.25-28). O fruto do Espírito impede que os dons sejam usados por interesse próprio, pois a caridade “não busca os seus interesses” (cf. 1 Co 13.5). 106 Pneumatologia - A Doutrina do EspIrito Santo Isso caracterizou Paulo no uso dos dons (cf. 1 Co 10.33; Rm 12.16; Fp 2.3,4). Foi nesse ponto que o Diabo procurou tentar a Jesus: transformar pedras em pães para saciar a fome. Jesus, porém, nfio aceitou a insinua ção de Satanás (cf. Lc 4.1-4). 8.3.2. Fruto do Espírito versus maturidade espiritual Quando falta o fruto do Espírito na vida do crente, ele se apresenta num estpdo de imaturidade^espiritual (cf. 1 Co 3.1-3), e o uso do dom é prejudicado. Foi isso ique o apóstolo reclamou em Corinto: “Não sejais meninos” (1 Co 14.20). Em que sentido a imaturidade espiritual preju dica os dons? Paulo respondeu (em 1 Co 13.11) aplicando no sentido espiritual a sua experiência de menino: • “Quando eu era menino, falava como menino”. Um menino age rápida e impensadamente. Chora, grita e ri com a mesma facilidade. • “Sentia como menino”. Um menino deixa-se levar pelos seus sen timentos. As vezes fica zangado, outras sente-se importante e sonha com grandezas. Gosta mais de doces que de comida. • “Discorria como menino”. Um menino esquece facilmente de que maneira deve comportar-se. As vezes se isola com seus amiguinhos. Nem sempre quer ouvir os conselhos dos pais. • Paulo findou sua palavra comparativa com a solução do problema, dizendo: “Logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de meni no”. Que bênção! Isso que é necessário na vida de cada crente! Quando o fruto do Espírito aparece na vida, acompanhando o uso do dom, então o dom é usado com maturidade e prudência. 8 .4 . A P a l a v r a d e D e u s é a a u t o r id a d e , o c ó d ig o p a r a o u s o d o s d o n s 8.4.1. Os dons são limitados pela Palavra A Palavra nos mostra que, no uso dos dons, devemos aprender a “não ir além do que está escrito” (1 Co 4 6). As manifestações dos dons não podem entrar em choque com a Palavra de Deus, porque jamais poderá haver contradição entre a manifestação do Espírito Santo na Palavra 1(1/ T eologia S istemática (cf. 2 Pe 1.21) e a sua manifestação pelos dons (cf. 1 Co 12.7). Por isso, cada portador de um dom deve conservar-se como vaso de barro (cf. 2 Co 4.7), que, com humildade, aceita a Palavra de Deus, que “é provei tosa para ensinar, para redargüir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeitamente instruído para toda a boa obra” (cf. 2 Tm 3.16,17). 8.4.2. Os DONS NÃO SÃO FONTES DE DOUTRINAS Os dons jamais podem trazer doutrinas ou práticas para a Igreja que não estejam na Palavra de Deus. A Palavra de Deus é a verdade (cf. Jo 17.17), é perfeita (cf. SI 19.7-11; 119.96), constitui uma revelação completa e con cluída, à qual não é permitido acrescentar coisa alguma, nem dela tirar coisa nenhuma (cf. Ap 22.18,19). Paulo era decidido diante dessa exigência: “Ainda que nós mesmos ou um anjo do céu voz anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema” (G11.8). A advertência paulina e o terrível exemplo registrado em 1 Reis 13, de um profeta caído que adulterou a Palavra de Deus, servem para todos os tempos! 8.4.3. OS DONS SEMPRE SÃO SEGUNDO A PALAVRA Quando o uso dos dons em tudo segue a Palavra de Deus, então o Espírito Santo tem liberdade de ação (cf. 2 Co 3.17). Sim, quando cre mos, “como diz a Escritura, rios de água viva correrão” (Jo 7.38). Na obediência à Palavra de Deus está o segredo do crescimento e do ama durecimento espiritual da Igreja de Deus (cf. A t 9.31; 5.32; G1 5.25). 8 . 5 . A I g r e j a d e h o j e d e v e c o r r e r n o s t r i l h o s d o s t e m p o s APOSTÓLICOS 8.5.1. N ada pode substituir o valor dos dons na Igreja Muitas coisas melhoraram para a Igreja dos dias de hoje. As constru ções dos templos são melhores e maiores, existem rádios, coros e bandas à disposição dos pastores. Eles possuem automóvel, literatura à vontade, etc. Porém, nenhuma dessas coisas boas e úteis pode jamais substituir os dons do Espírito. O apelo que Paulo fez a Timóteo é ainda atualíssimo. Ele escreveu: “Não desprezes o dom que há em ti” (1 Tm 4.14). Três meses antes de morrer, repetiu as mesmas palavras: “...te lembro que 108 Pneumatolocia - A Doutrina do Espírito Santo despertes o dom de Deus, que existe em ti” (2 Tm 1.6). É Deus, o grande doador, que quer despertar a sua Igreja querida a buscar os dons. 8.5.2. OS DONS CONSTITUEM O PODER QUE DEUS RESERVOU PARA A Igreja nos últimos tempos Nestes tempos que antecedem à vinda de Jesus, surge o perigo da “apa rência de piedade, mas negando a eficácia dela” (2 Tm 3.5). E o tempo em que o amor de muitos se esfriará (cf. Mt 24.12), em que a momidão ame aça (cf. Ap 3.16), no qual o espírito do Anticristo (cf. 1 Jo 2.18; 41-3) quer exercer a sua influência sobre a Igreja do Deus vivo. Para quea nossa luta contra o mal não fique desigual, mas equilibrada, precisamos do po der do Espírito Santo através dos dons, que conforme 1 Coríntios 13.10, permanecerão até que venha o que é perfeito, isto é, Jesus. Somente então será aniquilado o que é em parte. Deus assegura a manifestação sobrenatu ral. Importa que os sinais que Jesus prometeu à sua Igreja apareçam (cf. Mc 16.16-18), para que Ele possa confirmar a mensagem da pregação da Igreja com os sinais que a ela devem seguir (cf. Mc 16.20). 8.5.3. Os CRENTES DE HOJE DEVEM SER ORIENTADOS A BUSCAR OS DONS Vivemos agora no tempo do derramamento do Espírito Santo (cf. At 2.17). E o tempo de buscar a Deus. • Devemos ensinar sobre a necessidade de buscar os dons. Foi isso que o apóstolo Paulo fez (cf. 1 Co 12.1-31). Insistiu para que os crentes não fossem ignorantes acerca dos dons, e os ensinou sobre o valor deles (cf. 1 Co 14.12,39). “A fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus” (Rm 10.17). Os dons enriquecem a Igreja (cf. 1 Co 1.5). • Devemos orientar os crentes a buscarem os dons pela oração (cf. Hc 3.1-4; 2 Tm 1.6). Devemos orar buscando os dons conforme a orientação da Bíblia (cf. 1 Co 12.31; 14.1,13,39). Quando o rei Salomão pediu, Deus lhe deu o dom de sabedoria (cf. 1 Rs 3.6-13). Devemos pedir com fé (cf. Tg 1.6; 1 Jo 5.14,15; Mc 11.22-24). Devemos ficar, então, na expectativa, esperando o Senhor (cf. SI 27.14; Is 30.18). “Ele a nós virá como chuva” (Os 6.3). E, quando vier, devemos obedecer-lhe (cf. A t 5.32). 109 T EOLOCiA Sistemática 8 ,6 . U ma síntese sobre os diferentes dons espirituais Os nove dons espirituais manifestam a sabedoria e o poder de Deus. Assim como Jesus manifestou tanto o poder de Deus (cf. 1 Co 1.24) como a sabedoria de Deus (cf. 1 Co 1.24,30; C l 2.3-7), assim também o Espírito Santo manifesta isso a nós, sendo chamado de “o espírito de sabedoria” (Ef 1.17) e “espírito de poder” (cf. 2 Tm 1.7, Versão Revisa da). Podemos subdividir os dons em três grupos distintos: • Três dons manifestam o poder de Deus por meio de ações sobrena turais. São: o dom da fé, os dons de curar e o dom de operação de mara vilhas (cf. 1 Co 12.9,10). • Três dons revelam a sabedoria de Deus, proporcionando um saber sobrenatural. São eles: o dom da palavra de sabedoria, o dom da palavra de ciência e o dom de discernir os espíritos (cf. 1 Co 12.8,10). • Três dons transmitem a mensagem de Deus, concedendo poder para um falar sobrenatural. Esses dons são: o dom de profecia, o dom de vari edade de línguas e o dom de interpretação de línguas. • A Bíblia ainda fala de alguns dons complementares sobre os quais se faz referência em Romanos 12.6-8, 1 Pedro 4.11 e 1 Coríntios 12.28. 8.6.1. O DOM DA PALAVRA DE SABEDORIA (CF. 1 C o 12.8) Esse dom proporciona, pela operação do Espírito Santo, uma com preensão (cf. Ef 3.4) da profundidade da sabedoria de Deus, ensinando a aplicá-la, seja no trabalho seja nas decisões no serviço do Senhor, e a expô-la a outros, de modo a ser bem entendida. • É uma força na evangelização, pois transmite conhecimento da salvação (cf. Lc 1.77) com palavras que o Espírito Santo ensina (cf. 1 Co 2.13), e, assim, convence a consciência (cf. 2 Co 4.2) para ganhar as almas (cf. Pv 11.30). • O dom de sabedoria é uma força na defesa do Evangelho (cf. Fp 1.16). Jesus usou esse dom (cf. Mt 22.21,22; 21.23-32), Estêvão também (At 6.10) e vários outros. Deus dá essa sabedoria aos seus servos na hora exata (cf. Lc 21.15; 12.12; Mt 10.16; SI 119.98; Pv 24.5; Ec 9.16). Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo • É uma força também no trabalho da Igreja (cf. 1 Co 12.28; 1 Rs 3.9; Pv 24). Com essa sabedoria coloca-se em funcionamento a Igreja (cf. 1 Co 3.10; Rm 12.3,8). • O dom é também uma coisa maravilhosa para ajudar a resolver problemas (cf. 1 Rs 3.16-28; Gn 41.26-37,38,39; Dn 2.27-30,46,49; At 6.1-7; 15.11-21). 8.6.2. O DOM DE PALAVRA DA CIÊNCIA Esse dom consiste em penetração nas profundezas da ciência de Deus (cf. Ef 3.3), pelo qual podemos saber (cf. Ef 1.17-19) e, assim, compre ender e conhecer (cf. Ef 3.18,19) aquilo que, pelo entendimento huma no, jamais poderíamos alcançar (cf. 1 Co 2.9,10). Enquanto o dom de ciência penetra nas profundezas da ciência de Deus, o dom de sabedoria nos faz aptos a expô-la com palavras que o Espírito Santo ensina (cf. 1 Co 2.13). Vejamos algumas manifestações deste dom: • Constitui uma potência no ministério de ensino, pois manifesta aquilo que Deus fez por nós através da sua graça (cf. T t 2.11), e ajuda o ensinador a comunicar “algum dom espiritual” (Rm 1.11), revelando os mistérios de Deus. Vejamos alguns desses mistérios mencionados no Novo Testamento: o mistério Deus-Cristo (cf. C l 2.2,3); o mistério da piedade (cf. 1 Tm 3.16); o mistério Cristo em vós (cf. C l 1.26,27); o mistério da fé (cf. 1 Tm 3.9); o mistério da Igreja (cf. Ef 5.32); o mistério do Evan gelho (cf. Ef 6.19); o mistério da sua vontade (cf. Ef 1.9); o mistério do arrebatamento (cf. 1 Co 15.51). • Esse dom também revela aquilo que está oculto aos olhos do ho mem (cf. 1 Sm 16.7; Jo 2.24,25; 1.47,48; 4.16-18; 2 Rs 5.27). • Pelo dom é revelada a ciência sobre assuntos relacionados à vida material (p. ex., Jesus: Mt 17.27; Mc 1415; 11.2,3; Samuel: 1 Sm 9.15- 20; 10.21-27; Eliseu: 2 Rs 6.10-12 e Paulo: A t 27.10). 8.6.3. O DOM DA FÉ Esse dom não se refere à fé salvadora (cf. A t 16.31), nem ao cres cimento da fé (cf. 2 Ts 1.3) ou ao reforço à fé que o batismo no til T EOLOCiA Sistemática Espírito Santo nos dá (cf. 2 Co 4.13), mas consiste em um impulso à fé implantada pela oração do Espírito Santo para executar aquilo que Deus determinou que fizéssemos. Esse dom em ação gera uma atmosfera de fé, que dá a convicção de que agora tudo é possível (cf. Jo 11.40-44; Mc 9.23). Jesus se referiu a esse dom quando disse: “Aque le que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maio res do que estas” (Jo 14.12). Esse dom é um impulso poderoso à ora ção da fé (cf. Tg 5.17), pois impõe a certeza de que para Deus tudo é possível (cf. Lc 1.37; Mc 10.27; Mt 19.26; A t 27.23,25; Dn 6.23; 3.25-28). 8.6.4. Os DONS DE CURAR A cura do corpo doente pela fé é um fruto da morte de Cristo na cruz do Calvário (cf. Is 53.4,5; 1 Pe 2.24,25; Mt 8.16,17 e 9.35,36). Os dons de curar consistem em uma operação do Espírito Santo, pela qual o poder de cura que Jesus ganhou é transmitido ao doente de modo abundante, ime diato, para a cura completa. Vemos em Atos esse dom em plena atividade no ministério de vários homens de Deus: Estêvão (cf. A t 6.8), Pedro (cf. At 3.6,7; 9.32-43), Filipe (cf. A t 8.7) e Paulo (cf. A t 14.8-10; 28.8,9). Esse dom não significa uma capacidade de curar quando e como a pessoa quer, porém é sempre uma transmissão de poder do Espírito Santo. Por isso, é indispensável que o portador do dom esteja ligado a Cristo e siga a sua direção. O dom é dado à Igreja e constitui uma confirmação de Deus à pregação da Palavra (cf. Mc 16.20; At 14.1-4; 10.38 e 5.11,12). Por esse motivo, Jesus deve sempre ser o único glorificado. Compare, nesse senti do, a atitude de Paulo (cf. At 14.13-15) e de Pedro (cf. A t 3.12). 8.6.5. O DOM DE OPERAR MARAVILHAS Esse dom constitui uma operação do Espírito Santo pela qual é trans mitido o poder ilimitado do Deus Todo-poderoso (cf. SI 115.3 e 135.6). Jesus possuía esse dom (cf. Mt 8.26; Jo 11.43,44). O mesmo dom se mani festou no ministério de Moisés (cf. Êx 4.17; 7.20,21; 8.5,6,7; 9.10,23-25; 10.13-15; 14.21-26 e 17.5-7). Também se manifestou no ministério de Josué (Js 3.13-17 e 10.12-14) e no de Paulo (cf. A t 13.10,11 e 20.9-12). 112 Pneumatolocia - A Doutrina do Espírito Santo 8.6.6. O DOM DE DISCERNIR OS ESPÍRITOS Por meio desse dom, o Espírito Santo revela que Jesus tem “olhos como chama de fogo” (cf. Ap 1.14; SI 139.1,12). O portador do dom recebe pelo Espírito Santo, como em um laudo, o resultado de uma análise vinda do laboratório de Deussobre a qualidade exata do espí rito que inspira e opera em determinadas pessoas. Esse dom revela a fonte de onde vem a inspiração das profecias e revelações, pois elas podem vir de inspiração divina (cf. A t 15.32; 1 C o 14 3), podem re presentar o pensamento do coração daquele que as apresenta (cf. Jr 1414; 23.16; Ez 13.2,3) ou podem provir de fonte impura ou contami nada (cf.A p 2.20-24; Jr 23.13; 2.8; 1 Rs 22.19-24). O dom de discernir os espíritos é útil, pois constitui uma proteção divina, pela qual a Igre ja fica guardada de más influências. 8.6.7. O DOM DE PROFECIA Profecia é uma mensagem de Deus dada ao portador do dom por inspi ração do Espírito Santo. O profeta deve transmiti-la exatamente como a recebeu. Deus disse: “Aquele em quem está a minha palavra, que fale a minha palavra” (Jr 23.28). A atitude daquele que profetiza deve ser: “A palavra que Deus puser na minha boca, esta falarei” (Nm 22.38). A men sagem recebida por inspiração do Espírito Santo não é transmitida meca nicamente, mas fiel e conscientemente, pois “os espíritos dos profetas es tão sujeitos aos profetas” (1 Co 14.32). No momento em que a profecia é transmitida, não é Deus quem está falando, mas é o homem que está trans mitindo o que de Deus recebeu (cf. 1 Co 14 29). Se fosse o próprio Deus que estivesse falando, não haveria necessidade de se julgar a mensagem, como está ordenando que se faça (cf. 1 Ts 5.21; 1 Co 14.29). A finalidade da profecia é transmitir a mensagem cujo conteúdo é edificação, exortação, consolação e predição de acontecimentos futuros (cf. A t 11.27-30 e 21.10,11). Quando o dom de profecia se manifesta no ministério da pregação da Palavra, esta se toma uma mensagem atual e com endereço certo (cf. Ef 4.11; 1 Co 12.28). O dom é para a Igreja e deve ser usado nela, para que ela receba edificação. A Bíblia fala de uma limitação no uso (cf. 1 Co 14.29,30,40), 113 T EOLOGiA S istemática que de fato deve ser observada. A profecia não deve ser fonte de consul ta ou meio de obter direção, seja na vida espiritual ou na vida material. Jesus é o único mediador entre Deus e os homens. E Ele quem dirige e orienta todos os que o buscam. A finalidade da profecia é outra. Quan do o dom de profecia é usado conforme a orientação da Bíblia, traz mui tas bênçãos. A Igreja é edificada (cf. 1 Co 14.3) e preparada para a bata lha (cf. 1 Co 14.8; Os 12.10,13). O dom transmite temor à Igreja (cf. 1 Co 14.24) e faz o povo evitar a corrupção (cf. Pv 29.18). 8.6.8. O DOM DE VARIEDADE DE LÍNGUAS E A INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS Existe uma diferença entre a língua estranha dada como evidência do batismo no Espírito Santo e o dom de línguas. A língua recebida como sinal do batismo deve ser utilizada para falarmos somente com Deus (cf. 1 Co 14.2-28), e, por isso, ela não precisa de interpretação. Esse sinal é dado a todos que são batizados no Espírito Santo. Mas o “dom de línguas” não é dado a todos os crentes (cf. 1 Co 12.30). O dom de línguas tem por finalidade transmitir à Igreja uma mensagem em línguas estranhas, e, por isso, precisa de interpretação para que aquela seja edificada. Essa interpretação é feita pelo dom de interpretação de línguas. Tanto o dom de línguas como o dom de interpretação de línguas constituem um milagre, pois nem o que fala nem o que interpreta co nhecem a língua que é falada. Trata-se de uma língua verdadeira, seja de homens ou de anjos (cf. 1 Co 13.1), conforme o Espírito Santo concede que se fale (cf. A t 2.4). A Bíblia dá orientação bem clara sobre o uso desses dons. Devem ser usados em conjunto. Se não houve intérprete, aquele que fala em lín guas deve calar-se e falar consigo mesmo e com Deus (cf. 1 Co 14.28). Deve-se também observar o limite no uso de línguas com interpretação (cf. 1 Co 14-26,27), coisa que não existe para os que falarem língua como sinal, os quais poderão falar “só com Deus”, tanto quanto Ele lhes permitir (cf. 1 Co 14-18; At 2.4). Os dois dons, usados conjuntamente, transmitem uma mensagem que equivale à profecia (cf. 1 Co 14.5), e constitui um sinal para os não crentes (cf. 1 Co 14.22). 114 Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo 9 . 0 Espírito S anto O pera também pelos M inistérios 9 .1 . A significação do ministério A palavra “ministro” (cf. 1 Co 3.5; 4.2; 2 Co 3.6; 6.4) significa um servo de Deus que ocupa um “ministério” (cf. 1 Co 4.1,2; 2 Co 6.3), que é um encargo constituído por Deus, que, da parte de Cristo (cf. 2 Co 5.20), funciona na “Igreja do Deus vivo” (1 Tm 3.15). Os minis tros são os instrumentos pelos quais Jesus, o cabeça da Igreja, executa a sua direção sobre ela. Por isso, Ele mesmo reserva-se o direito de indicar as pessoas que têm um chamado para ocupar esses cargos, às quais ofere ce uma preparação sobrenatural para a função que irão exercer. Tudo isso Jesus faz por meio do Espírito Santo. A indicação dos ministros deve permanecer nas mãos de Jesus (Ef 4.11). Há um prejuízo incalculável quando os ministros são escolhidos por prefe rências humanas, sistemas e organizações, pois assim o ministro não aufere a necessária aj uda que acompanha um ministro escolhido pelo Espírito Santo. 9.2 . Os MINISTÉRIOS NA DISPENSAÇÃO DA IGREJA Os ministérios da Palavra de Deus são cinco (Ef 4.11). 9.2.1. A póstolos Primeiro encontramos os chamados “apóstolos do Cordeiro”, que eram 12, cujos nomes serão gravados nos 12 fundamentos da cidade celestial, a nova Jerusalém (cf. Ap 21.14), como reconhecimento divino da grande importância que teve o trabalho que realizaram pela pregação de Cristo crucificado (cf. 1 Co 2.1-5), lançando os fundamentos da Igreja de Deus (cf. 1 Co 3.10,11; Ef 2.19-22). Houve, no entanto, desde os primeiros tempos, alguns servos de Deus que também eram considerados apóstolos. Entre eles podemos mencionar Bamabé, Silvano e outros. Através da história da Igre ja, têm se levantado grandes homens de Deus, verdadeiros apóstolos que fundaram grandes trabalhos em países e regiões. O próprio Deus deu-lhes o selo do apostolado, pois foi Ele mesmo quem os escolheu, permitindo que no ministério deles aparecessem “os sinais do apostolado” (cf. 2 Co 12.12). 115 T EOLOGiA Sistemática 9.2.2. Profetas Segundo Atos 13.1 e 15.32, os profetas constituíam o ministério da Palavra de Deus, impulsionado por inspiração profética. Por meio dessa inspiração, esse ministério é acompanhado de “edificação, exortação e consolação”, que são evidências da operação do verdadeiro espírito da profecia (cf. 1 Co 14.3). Observamos, assim, que o simples uso do dom de profecia não faz de ninguém um profeta, pois profeta é um ministro da Palavra (cf. A t 21.9,10). 9.2.3. Evangelistas O evangelista é um observador da primeira linha da evangelização. A função de um evangelista não é em primeiro lugar a de apascentar. Porém, quando abre trabalhos, ele os dirige e apascenta até entregá-los a um pastor, mas pode acontecer que a mesma pessoa possua mais de um dom ministerial. 9.2.4. Pastores O pastor é o responsável pela direção e pelo apascentamento do re banho. E “o anjo da igreja” (Ap 2.1). Serve sob a direção do Bom Pastor, a quem pertence a Igreja (cf. 1 Pe 5.2,4), e deve andar nas suas pisadas (cf. Jr 17.16) e sob a sua direção (cf. Jr 3.15). Cabe ao pastor velar pelas ovelhas, como quem tem de dar conta delas (cf. Hb 13.17). E o respon sável pela doutrinação da igreja (cf. Hb 13.7). 9.2.5. Doutores (ou mestres, Versão Revisada) Os doutores ou mestres são os ensinadores (cf. 1 Co 12.28). No tempo dos apóstolos, esse ministério era apoiado pelos dons da palavra de sabedoria e ciência (cf. 1 Co 12.8). O ensinador se dedica ao ensino (cf. Rm 12.7) nas igrejas (cf. At 13.1), conforme a ordem de Jesus (cf. Mt 28.19,20; Hb 5.12). 9.3. Outros encargos na Igreja 9.3.1. Presbíteros (cf. T t 1.5-7; 1 T m 3.2,5,7) São constituídos pelo Espírito Santo (cf. A t 20.28), também chama dos “anciãos” (cf. At 11.30; 15.2,4,6 e 20.17); e “bispos” (cf. A t 20.28;1 Tm 3.2; T t 1.7), nomes que representam o mesmo encargo. Os 116 Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo presbíteros em conjunto constituem o “presbitério” (cf. 1 Tm 4.14), for mando um corpo de auxiliares imediatos do pastor, com o qual coope ram ativamente no apascentamento do rebanho (cf. A t 20.28; 1 Pe 5.2; Jo 21.15-17). No livro de Atos, os anciãos sempre eram mencionados após os apóstolos (cf. A t 15.2-6,22), mostrando que os ministros tinham a direção e eram auxiliados por eles. 9.3.2. Diáconos (cf. 1 T m 3.8,12) Em Atos 6.1-7, temos a relação dos primeiros diáconos no Novo Testamento e uma descrição sobre a sua função e posição. E um encargo sob a direção do ministro da igreja (cf. A t 6.3), relacionado com os serviços de ordem material e social. A Bíblia faz referência a alguns des ses encargos da esfera de ação dos diáconos, como o repartir, o exercer misericórdia (cf. Rm 12.8) e o socorrer (cf. 1 Co 12.28). Conforme o modelo do Novo Testamento, os diáconos não tomavam parte na admi nistração e direção da igreja, mas, além de fazer serviços materiais e sociais, alguns cooperavam na pregação da Palavra, como Estêvão (cf. A t 6.8,10) e Filipe (cf. A t 6.5; 8.4). 9.4. Q u a l é a o b r a d o E s p ír it o S a n t o n o m in is t é r io ? Conforme o Novo Testamento, a operação do Espírito Santo é abso lutamente indispensável no exercício do ministério. O grande progresso registrado nos tempos dos apóstolos era o resultado da operação da ple nitude do Espírito Santo. A solução dos problemas de hoje está em vol tar para os caminhos antigos. Aquele que quiser gozar as vitórias dos tempos apostólicos, deve também trilhar os caminhos que eles tri lharam. 9.4.1. Batismo no Espírito: base do ministério Jesus ordenou aos seus apóstolos que não começassem o trabalho antes de receber poder do alto (cf. Lc 24.49; A t 1.4,5). A bênção do batismo no Espírito Santo é a própria base do exercício de um ministério apostó lico. Pelo Espírito Santo podemos entrar no caminho das “boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10). 117 T eolocia Sistemática 9 .4 .2 .0 Espírito comunica a chamada divina O Espírito Santo transmite a chamada divina àqueles a quem Deus chamar (cf. G 11.15,16) e revela essa chamada àqueles que têm o encar go de separá-los para o santo ministério (cf. A t 13.1-3; 1 Sm 16.1,2). E dessa maneira que Deus dá o ministério à Igreja (cf. Ef 4.11). Quando tudo é feito segundo a direção do Espírito, pode-se dizer que os servos do Senhor foram realmente “enviados pelo Espírito Santo” (At 13.4). 9.4 .3 .0 Espírito capacita os chamados O Espírito Santo proporciona a preparação sobrenatural, de acordo com o serviço para o qual Deus chama seus servos. A preparação huma na, por melhor que seja, não basta. Moisés possuía toda a ciência dos egípcios (cf. A t 7.22). Porém, quando quis executar a missão que sentia no seu coração, foi “visitar os seus irmãos” (cf. A t 7.23) confiando ape nas em si mesmo e fracassou (cf. A t 7.29; Ex 2.15). Mas, depois que recebeu a devida preparação da parte de Deus (cf. Ex 4.1-17), teve con dições de executar a grande obra para a qual havia sido chamado. Paulo, antes de ter o encontro com Cristo, era cheio de si; porém, depois, dian te das necessidades no serviço ministerial, disse: “Não que sejamos ca pazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus” (2 Co 3.5). A preparação do ministro, conforme o Novo Testamento, é uma obra que o Espírito Santo quer fazer (cf. Rm 15.18,19; 1 Co 12.4-6; Hb 2.4). Jesus, como homem, rece beu essa preparação pelo revestimento de poder (cf. Lc 3.22) e pelos dons espirituais (cf. Lc 5.17; 6.19). Os apóstolos Pedro (cf. A t 9.34,35; 5.11-16), Paulo (cf. A t 14.8-10; Ef 3.3-9) e outros, tiveram nessa prepa ração o segredo das grandes vitórias que alcançaram. O Espírito Santo transmite o poder e a sabedoria de Deus aos servos do Senhor, em todos os transes dos seus ministérios. 9 .4 .4 .0 Espírito guia seus servos O Espírito Santo opera guiando os servos do Senhor, revelando-lhes o plano de Deus (cf. A t 10.11-20; 16.9-15). É um privilégio ainda hoje receber a direção do Espírito Santo na vida e no trabalho cristão. 118 Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo 9.4 .5 .0 Espírito opera através dos seus servos O Espírito Santo opera, usando os servos do Senhor como instru mentos. Ele é o ativador da obra do Senhor. É sempre Deus quem opera (cf. A t 15.4,12; 14.27). A mão do Senhor se manifesta (cf. At 11.21; 4.30) confirmando sua obra (cf. Mc 16.20), porém tanto Deus como Jesus agem através do Espírito Santo. 10. O Espírito S anto O pera na Ressurreição Ainda vamos mencionar uma obra importante do Espírito Santo. O mesmo Espírito que sempre operou na vida do crente desde a sua cha mada para a salvação, e que guiou, orientou, abençoou, protegeu e aju dou, operará ainda na ressurreição, no dia da vinda do Senhor. 1 0 .1 .0 SIGNIFICADO DA RESSURREIÇÃO Ressurreição é o ressurgimento do corpo e a sua reunificação com o espírito e a alma, que na morte o deixaram (cf. Tg 2.26). A doutrina da ressurreição faz parte dos primeiros rudimentos de doutrina (cf. Hb 6.1-4). A ressurreição de Cristo é uma das doutrinas fundamentais do Cristianismo (cf. 1 Co 15.1-4,16,20). A Bíblia ensina que haverá ressurreição tanto dos justos como dos injustos (cf. At 24.15; Jo 5.28,29; Dn 12.1,2). A ressurreição dos justos é chamada “a primeira ressurreição” (cf. Ap 20.5,6), a qual terá lugar na vinda de Jesus nas nuvens (cf. 1 Ts 4.16). A ressurreição dos ímpios se efetuará mil anos depois, diante do julgamento no Juízo Final (cf. Ap 20.11-15). 10.2. A operação do Espírito Santo na vinda de Jesus O milagre da ressurreição é uma operação do Espírito Santo (cf. Rm 8.11; 1 Co 6.14; Fp 3.21) e constitui uma manifestação sobreexcelente da grandeza do poder de Deus (cf. Ef 1.19,20). Acontecerá no momento em que a trombeta soar, na vinda de Jesus. “Os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro” (1 Ts 4-16). Então, as partículas que ficaram quan 119 T EOLOciA Sistemática do o corpo sujeito à corrupção voltou à terra, como o era (cf. Ec 12.7), se levantarão transformadas pelo assopro do Espírito de vida, como um corpo glorioso e perfeito (cf. 1 C o 15.52,53), que no mesmo momento será revestido de imortalidade e incorruptibilidade. Assim, ele será arre batado e comparecerá diante de Jesus nas nuvens. No mesmo momento, os crentes que estiverem neste mundo serão transformados e arrebatados para o encontro com Jesus nos ares. Essa operação maravilhosa é feita pelo Espírito Santo (cf. Fp 3.21). O último serviço do Espírito Santo junto aos crentes será quan do Ele, no julgamento diante do tribunal de Cristo, operar como fogo, fazendo a avaliação das obras feitas por meio do corpo (cf. 1 C o 3.12-15). “O Dia a declarará, porque pelo fogo será descober ta” (1 Co 3.13). 1 1 . A O p e r a ç ã o d o E s p í r i t o S a n t o É C o n d i c i o n a l O Espírito Santo é soberano. Ele opera como o vento, isto é, “assopra onde quer” (Jo 3.8). Aquele que se coloca à inteira disposição do Espíri to Santo experimentará a sua operação poderosa e irresistível (cf. At 6.10). A Bíblia diz: “Operando eu, quem impedirá?” (Is 43.13) Assim aconteceu nos dias dos apóstolos; apesar de os inimigos os perseguirem, procurando impedi-los de agir, o Espírito Santo operava por meio deles de tal maneira que o Evangelho se espalhou vitoriosamente por toda a parte (cf. A t 4-33; 5.40-42; 6.7). Quando se trata da operação do Espíri to na vida do crente, a sua manifestação depende da atitude que ele mostrar para com o Espírito Santo. Deus jamais força alguém a aceitá-lo; não arromba a porta de nenhum pecador, mas espera que a pessoa, vo luntariamente, o aceite (cf. Ap 3.20; At 16.14; Lc 15.18). Assim tam bém o Espírito Santo opera na vida do crente que lhe dá plenaliberdade de ação (cf. 2 Co 3.17). Vamos agora observar como as diferentes atitu des da parte dos homens para com o Espírito têm influência sobre a maneira como Ele se manifesta neles. 1 2 0 Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo 11.1 . A titudes negativas que impedem a operação do E spIrito S anto 11.1.1. Resistir ao EspIrito S anto (cf. A t 7.51) Aqui se trata de uma atitude oposicionista contra o Espírito, quando Ele fala ao homem (cf. Ne 9.30). Essa atitude caracterizava os religiosos no tempo de Estêvão, os quais embora convencidos pelas palavras inspi radas que haviam ouvido, levantaram-se contra ele (cf. A t 6.9-15). Tal atitude expressa uma rebeldia contra Deus, coisa que entristece o Espíri to Santo (cf. Is 63.10). 11.1.2. Entristecer o Espírito S anto (cf. Ef 4.30) Cada crente foi comprado por bom preço, tomando-se propriedade de Deus (cf. 1 Co 6.20; 1 Pe 1.18,19); por isso o Espírito Santo quer domínio total sobre cada um (cf. Rm 12.1,2; Tg 4-4,5). Porém, quando o crente deixa que sua came o domine, é levado a cometer faltas: furto (cf. Ef 4.28), ira (cf. Ef 4.26,31), etc. Essas faltas entristecem o Espírito Santo (cf. Ef 4.30). Acontecendo isso, importa que o crente imediatamente ob tenha o perdão de Jesus (cf. 1 Jo 1.7,9). Então, o Espírito Santo de novo testificará com o espírito dele que tudo está bem (cf. Rm 8.16). 11.1.3. Extinguir o Espírito S anto (cf. 1 T s 5.19) Aqui se trata de uma ação praticada pelos crentes de Tessalônica, a qual ameaçava extinguir o fogo do Espírito Santo no meio deles. Eles haviam agido de modo exagerado em seu zelo de manter a doutrina cor reta do uso dos dons, e, por isso, receberam a exortação: “Não extingais o Espírito”, que ainda em nossos dias continua sendo útil e digna da nossa atenção. 11.1.4. Blasfêmia contra o Espírito S anto (cf. Mt 12.31; Hb 10.29) E um pecado diferente dos demais, para o qual não existe perdão. Qual o significado desse pecado? Não se trata de blasfêmia contra a Palavra de Deus, contra Deus, ou contra qualquer ministro da igreja, pois para tudo isso existe perdão (cf. 1 Tm 1.13-15; Mt 12.32). A blasfêmia contra o Espírito é um pecado singular. E aquele que os fariseus comete 121 T eologia Sistemática ram quando, com o intuito de afastar o povo de seguir a Jesus, afirmaram que Ele havia expulsado demônios pelo espírito de Belzebu (cf. Mt 12.24). Foi então que Jesus afirmou que haviam blasfemado contra o Espírito Santo, e que para tal pecado jamais haveria perdão (cf. Mt 12.31,32). Como se verifica o efeito desse pecado na vida dos que o cometem? Aquele que comete pecado dessa natureza sofre um afastamento imedi ato do Espírito Santo em sua vida, o que ocasiona morte espiritual total e irreversível. Tal pessoa jamais sentirá qualquer tipo de remorso ou de sejo de buscar a Deus. O Espírito Santo jamais o chamará para o arre pendimento. Sabemos de pessoas que se abatem preocupadas, chorosas, por acharem que pesa sobre elas esse pecado. Julgam que jamais poderão ser perdoadas. Porém, só o fato de estarem arrependidas, desejosas de salvação ou de perdão, prova que não cometeram pecado contra o Espí rito Santo, pois o Espírito as está chamando para o arrependimento. 11.2. A titudes positivas que dão plena liberdade à operação do E spírito Santo 11.2.1. P u r e z a d e c o r a ç ã o ( c f . Mt 5.8) A santidade de Deus exige santidade da parte dos crentes (cf. 1 Pe 1.15,16; Hb 12.14). “Serei santificado naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo” (Lv 10.3), por isso o crente deve “andar de acordo” (cf. Am 3.3), pois “o que se ajunta com o Se nhor é um mesmo espírito” (1 Co 6.17). A Bíblia tem muitos exemplos nos quais se verifica que a falta de santidade interrompeu o contato com o Senhor e com o seu Espírito (cf. Jz 16.19,20; 1 Sm 16.14; Js 7.12). O mistério da fé é guardado na consciência do crente (cf. lTm 3.9). Quando essa consciência faltar, o crente estará diante do seu próprio naufrágio (cf. 1 Tm 1.18,19). Portanto, devemos conservar os nossos vestidos al vos, e assim, não faltará óleo sobre a nossa cabeça (cf. Ec 9.8). 11.2.2. A o b e d iê n c ia ( c f . At 5.32) Obediência é uma atitude indispensável à operação do Espírito San to na vida do crente, pois expressa uma sujeição voluntária diante da divindade (cf. Rm 6.17). Quando o crente obedece à Palavra do Se 122 Pneumatolocia - A Doutrina do Espírito Santo nhor, então a divindade faz nele morada (cf. Jo 14.23) e a ele se mani festa (cf. Jo 14.21). Quando o crente obedece ao Senhor em tudo, expe rimenta a glória de Deus manifestar-se na sua vida. Assim aconteceu quando Moisés obedeceu ao Senhor na construção do Tabernáculo, e a glória de Deus encheu o edifício (cf. Êx 40.16,34,35). Quando, porém, mais tarde, Moisés desobedeceu ao Senhor, não lhe foi permitido levar o povo de Israel à terra de Canaã (cf. Nm 20.12). Portanto, convém crer no Senhor como diz a Escritura, pois assim rios de água viva correrão da nossa vida (cf. Jo 7.37,38). 11.2.3. A FÉ AGRADÁVEL A DEUS (CF. Hb 11.6) Quando uma pessoa crê no Senhor, confiando que aquilo que Deus prometeu se cumprirá (cf. Rm 4.20,21), então experimenta a ação do Espírito Santo se manifestando para cumprir as promessas de Deus (cf. Jo 11.40), pois a sua operação é vinculada à fé (cf. G1 3.2,5). 11.2.4. H u m i l d a d e ; a p e r f e i ç o a m e n t o d o p o d e r d e D e u s ( c f . 2 C o 12.9) N a fraqueza que a humildade representa, o crente se toma forte (cf. 2 Co 12.10). O tesouro de Deus é dado a “vasos de barro”, pois assim a excelência do poder sempre será da mão de Deus e não do homem (cf. 2 Co 4.7). A mensagem contida em Zacarias 4.6 é válida em todos os tempos. “Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos”. A verdadeira humildade gera uma dependência absoluta da ajuda de Deus. Foi isso que Jesus experimentou quando, como homem, andava aqui (cf. Jo 5.19,30; 8.28; 14.10). A mesma coisa Paulo sentiu (cf. 2 Co 3.5,6). Quando Moisés não quis enquadrar-se nessa lei espiritual, mas agiu confiado no seu próprio poder, fracassou (cf. Ex 2.11-15; At 7.25-29). Mas, quando sentiu-se sem recursos pró prios, Deus estendeu o seu braço e manifestou o seu poder na vida do legislador (cf. Êx 3.1-11; 4.10). 123 C a píttjto G A n t r o p o l o g ia A D ou t r i n a do Homem T oda religião g ira em t o r n o de dois pó lo s : Deus e o homem e suas relações mútuas. Por isso é im po rta nte co nhecer o que a Bíblia EN SIN A SO BR E ÜEUS E SOBRE O HOMEM. T EOLOCiA S istemática 1. Deus É a O rigem do H omem 1.1. A B íblia afirma que D eus criou o homem A Bíblia diz: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra” (Gn 2.7). Essa afirmativa soberana faz cair por terra todas as teorias materialistas e panteístas que se baseiam em hipóteses e suposições infundadas. O homem surgiu no cenário deste mundo pela poderosa Palavra de Deus. Jesus falou disso, afirmando: “N o princípio, o Cria dor os fez macho e fêmea” (Mt 19.4), e falou ainda: “Desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea” (Mc 10.6). Assim, o homem tem Deus como a sua origem, e não é descendente de algum macaco dos tempos passados. Graças a Deus! Já apreciamos os detalhes da cri ação do homem em um estudo anterior. Aqui iremos somente obser var que, quando a Bíblia fala da criação do homem, usa a palavra hebraica A sah, que significa “fazer de coisas que já existem” (cf. Gn 1.26; 2.7), porque Deus fez o homem do pó da terra, e a mulher da costela de Adão. Porém, a Bíblia também usa a palavra Bara, que sig nifica “fazer algo do nada” (cf. Gn 1.27), porque Deus também “criou” no homem um espírito e uma alma (cf. Gn 2.7). Em Isaías 43.7, en contramos essas duas expressões: “Os que criei [bara] para a minha glória; eu os formei, sim, eu os fiz [asah]”. 1.2. A B íblia afirma que todos os homens procedem de A dão Quando Deus criou Adão, “nãohavia homem para lavrar a terra” (Gn 2.5). Depois que Adão foi criado, Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18). Portanto, Adão é chamado, com razão, “o primeiro homem” (1 Co 15.45). Quando Eva foi formada, Adão cha mou-a assim “porquanto ela era a mãe de todos os viventes” (Gn 3.20). A Bíblia afirma ainda que Deus “de um só fez toda a geração dos ho mens” (At 17.26). Essas palavras, somadas a outros textos da Bíblia, desfazem totalmente as teorias de que, no princípio, tenha havido ho mens de outras raças ou de outra procedência, os quais se espalharam sobre o mundo. Outros confundem-se com a expressão “os filhos de Deus” (Gn 6.2), julgando que aqui se trata de uma espécie humana de outra 126 A ntropolocia - A Doutrina do Homem origem. Porém, nessa passagem fala-se simplesmente dos homens da li nhagem de Sete (filho de Adão e Eva, cf. Gn 4.26), os quais creram em Deus, motivo pelo qual foram chamados “filhos de Deus”. Nós também somos “filhos de Deus” (cf. 1 Jo 3.2). As diferenças que existem entre raças e povos quanto à cor, forma dos rostos e cabelos, não evidenciam outras origens, pois as mesmas foram produzidas por fatores climáticos e ambientais. 2 .0 H omem Foi C riado à Imagem e S emelhança de Deus A Bíblia diz: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1.26). Uma coisa tão sublime não se afirma a respeito de nenhuma outra criatura de Deus. Somente o homem foi criado à semelhança de Deus, e é considerado como a coroa da criação. Vejamos o que significa ser criado à semelhança da imagem de Deus. 2.1. D eus pôs a eternidade no coração do homem Deus, o “Rei eterno” (Jr 10.10), pôs a eternidade no coração do homem (cf. Ec 3.11, Versão Revisada). A Bíblia diz: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (G n 2.7). Assim, somos da sua geração (cf. A t 17.28). Todo homem é, portanto, por tador de eternidade dentro de si. A sua alma não pode morrer (cf. Mt 10.28), e o seu espírito é incorruptível (cf. 1 Pe 3.4). Somente o corpo do homem é mortal; porém, ressuscitará um dia (cf. A t 24.15; Jo 5.28,29). 2.2. D eus criou o homem com alma e espírito Deus, que é Espírito (cf. Jo 4.24), criou o homem com uma parte espiritual, isto é, com alma e espírito. Essa parte espiritual é invisível e imaterial, conhecida como “o homem interior”, e habita no corpo, que é “o homem exterior” (cf. 2 Co 4.16). 127 T EOLociA Sistemática 2.3. O HOMEM É UM SER TRÍPLICE Deus, que é trino, criou o homem como um ser tríplice, isto é, com posto de corpo, alma e espírito. O Deus trino, isto é, Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, imprimiu sua semelhança na formação do homem. Também Jesus, quando se fez homem, recebeu um corpo (cf. Hb 10.5), uma alma (cf. Mt 26.38) e um espírito (cf. Lc 23.46). A Bíblia fala muito dessas três partes do homem (cf. 1 Ts 5.23). 2.4. D eus, que é perfeito, criou o homem perfeito A Palavra de Deus afirma a respeito da criação do homem: “Eis que era muito bom” (G n 1.31), e ainda: “Deus fez o homem reto” (Ec 7.29). Paulo escreveu que o novo homem é criado por Deus em verdadeira justiça e santidade (cf. Ef 4.23,24). Esse “novo homem” é o crente salvo, que é “a imagem daquele que o criou” (C l 3.10). O pecado havia desfigurado essa imagem. Porém, Jesus veio para restaurá-la. Ele viveu aqui na terra exatamente como Deus queria que os homens vivessem, tornando-se, assim, o nosso exemplo (cf. Fp 2.5; 1 Pe 2.21). Depois morreu com a finalidade de nos dar poder para, por meio do novo nascimento, sermos feitos filhos de Deus (cf. Jo 1.12,13). 2.5. O HOMEM É UM SER MORAL Deus, a fonte da verdadeira moral, criou o homem com sentimento moral. A Palavra de Deus afirma: “Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal” (Gn 3.22). Deus colocou essa ciência dentro do espírito humano, em uma área que é o marco notável do Criador — a consciência (cf. Rm 2.15). É ela que declara incontestavelmente o ve redicto sobre a maneira como o homem age. 2.6. D eus criou o homem um ser inteligente O Deus de entendimento infinito criou o homem como um ser inte ligente, em condições de cooperar com o seu Criador. Assim, o homem cooperou com Deus já no jardim do Éden (cf. Gn 2.19). Deus ainda quer que sejamos os seus cooperadores (cf. 1 Co 3.9). 128 A ntropologia - A Doutrina do Homem 2 .7 . D eus criou o homem com livre-arbítrio Deus, que criou o mundo conforme a sua vontade (cf. Ap 4.11), também criou o homem com livre-arbítrio. Assim, o homem possui li berdade de escolha, e, inclusive, tem a liberdade de obedecer ou não (cf. Dt 30.19; Is 56.4; Lc 10.42). 2 .8 . O HOMEM TEM PODER DE DOMÍNIO Deus, o Supremo Governo, atribuiu ao homem uma posição de do mínio sobre a criação. Ele disse: “Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra” (Gn 1.28). De pois que o mal havia entrado no mundo, Deus disse: “O pecado jaz à porta, e para ti será o seu desejo, e sobre ele dominarás” (Gn 4 7). 3. O H omem É C omposto de C orpo, A lma e Espírito “Que é o homem?” (SI 8.4) Essa pergunta do salmista tem sido alvo de muitas pesquisas, através de todos os tempos, da parte de filósofos, cientistas, teólogos e outros. Quando o rei Davi meditou sobre esse pro blema, disse: “Eu te louvarei, porque de um modo terrível e tão maravi lhoso fui formado” (SI 139.14). E realmente um assunto interessante estudar o que a Bíblia ensina a respeito do homem. Podemos definir e subdividir esse assunto de várias maneiras. Assim como o tabernáculo no deserto era dividido em três partes, também o homem o é. O pátio do tabernáculo representa a parte externa e visível do homem, que é o seu corpo; o lugar santo, que não se podia ver de fora, representa a alma, e o lugar santíssimo representa o espírito do homem. A Bíblia subdivide o homem em duas partes: “o homem exterior”, que é o seu corpo, e “o homem interior”, que é composto da alma e do espírito (cf. 2 Co 4.16; Ef 3.16). A parte exterior do homem é visível e mortal, enquanto a parte interior é imaterial, invisível e imortal. 129 T eolocia Sistemática 3.1. O CORPO DO HOMEM O corpo do homem foi formado por Deus do pó da terra (cf. Gn 2.7), isto é, da mesma terra que temos hoje sob os nossos pés. A tra vés de análise química, sabemos que o corpo humano consiste de vários compostos, como ferro, glicose, sal, carbono, iodo, fósforo, cálcio, etc. O valor real do corpo está em sua alta finalidade de ser a morada da alma e do espírito do homem (cf. 2 Pe 1.14,15; 2 Co 5.1,4; Jó 14.22; 32.8; Zc 12.1). O corpo humano conserva a vida enquanto o espírito e a alma nele permanecem. Quando o espírito (cf. Ec 12.7; Tg 2.26; Lc 8.54,55) e a alma (cf. A t 20.9,10; 1 Rs 17.20-22; G n 35.18) deixam o corpo, este morre. Por ser um produto feito à semelhança de Deus, o corpo não será aniquilado, mas ressuscitará (cf. Jó 19.26). Outra afirma ção de importância é que o corpo foi determinado para ser templo do Espírito Santo (cf. 1 Co 6.20). 3.2. A ALMA DO HOMEM 3.2.1. O HOMEM INTERIOR A alma, junto com o espírito, formam o “homem interior”, a parte imaterial de todo ser humano. Embora a alma e o espírito estejam inseparavelmente unidos, tanto dentro como fora do corpo, existe uma diferença entre eles. A Bíblia diz que “a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito” (Hb 4.12). 3.2.2. Função da alma e do espírito A alma é a parte que orienta a vida do corpo e estabelece o contato com o mundo em redor, enquanto o espírito é a parte do homem que lhe oferece a possibilidade de relacionamento com Deus. 3.2.3. A ALMA É A SEDE DO SENTIMENTO A Bíblia diz: “A minha alma tem sede de Deus” (SI 42.2); “a minha alma se alegrará no Senhor” (SI 35.9);“A minha alma está quebrantada de desejar os teus juízos” (SI 119.20). E com a alma que podemos amar a 130 Antropolocia - A Doutrina do Homem Deus (cf. Mt 22.37). A alma também sente-se aborrecida (cf. 2 Sm 5.8; Jr 14-19; Gn 42.21), ficando triste e amargurada (cf. 2 Rs 4.27). 3.2.4. A INTELIGÊNCIA RESIDE NA ALMA A alma é a sede do intelecto com todas as suas faculdades: pensa mento, entendimento e saber (cf. SI 139.14; Pv 19.2). A vontade tem também na alma a sua sede. É a alma que centraliza o querer: “O que a sua alma quiser, isso fará” (Jó 23.13). A alma também é o centro do temperamento, pois nela habita a índole. A alma pertencem também os desejos e as paixões em relação à vida natural e física (cf. Lc 12.19; Ap 18.14). 3.2.5. A ALMA DO HOMEM NÃO ESTÁ NO SANGUE Quando a Bíblia, em Levítico 17.11, afirma: “a alma da carne está no sangue”, a palavra “alma” está sendo usada como sinônimo de “vida”. Veja em Gênesis 9.4: “A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis”. A idéia de que o sangue significa a alma do ho mem abre a porta para muitas contradições. Vejamos o texto de Apocalipse 6.9,10: “E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” Se a alma fosse a mesma coisa que o sangue, como então as almas poderiam estar no Paraíso, debaixo do altar, uma vez que o seu sangue havia sido derramado sobre a terra? Está bem claro que o sangue faz parte do corpo, enquanto a alma é a parte imaterial e imortal do homem. Se a alma fosse o sangue, uma trans fusão sangüínea seria, na realidade, uma transfusão de alma — receberí amos a alma de outra pessoa! Isso é doutrina espírita! Um absurdo! 3.2.6. A ALMA PODE SER SALVA A Bíblia fala da salvação da alma (cf. Tg 5.20) e pergunta: “Que daria o homem pelo resgate da sua alma?” (Mc 8.37) e: “Que aproveita ria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?” (Mc 8.36) T EOLÒGiA Sistemática S M m w N N M M M M n ie n M r!^ Devemos, portanto, encomendar as nossas almas a Deus, como ao fiel Criador, fazendo o bem (cf. 1 Pe 4.19). 3 .3 . O ESPÍRITO DO HOMEM 3.3.1. O QUE É? O espírito é a parte invisível do homem que, juntamente com a alma, compõe o “homem interior”. É aquela parte do homem que, como uma janela aberta para o céu, lhe dá condições de sentir a realidade de Deus e da sua Palavra (cf. 1 Co 2.10,12). Eis o que distingue o homem de qualquer outro ser: só ele foi criado à imagem e semelhança de Deus. O espírito do homem é a sede das suas relações com Deus. “O espírito do homem é a lâmpada do Senhor” (Pv 20.27, Versão Revisada). Por esse motivo, a Bíblia muitas vezes usa “coração” como sinônimo de “espíri to”: “Era um o coração e a alma da multidão dos que criam” (At 4.32). 3.3.2. O NÃO-CRENTE O espírito do homem não-crente é morto, inativo, isto é, separado de Deus (cf. Ef 2.1-5; Lc 15.24,32; C l 2.13; 1 Tm 5.6). Ele é dominado pelos seus pecados e concupiscências (cf. Ef 4.17-22; T t 1.15), sem pos sibilidade de ver a glória de Deus (cf. 2 Co 4-4). 3.3.3. O ESPÍRITO DO HOMEM NO PROCESSO DE SALVAÇÃO N a salvação, o espírito do homem é vivificado (cf. Ef 2.5; C l 2.13). Um despertamento começará no seu espírito (cf. Ed 1.1) quando o Espí rito Santo o convencer do seu pecado, e da justiça e do juízo de Deus (cf. Jo 16.8-10). Quando o homem aceita a Jesus como Salvador, recebe a vida eterna (cf. Rm 6.23) e, então, “o mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.16). Agora, “eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17). O espírito do homem vivificado pode, doravante, ver a glória de Deus, pois o véu que antes o impedia foi tirado (cf. 2 Co 3.16). O seu coração tomou-se limpo e pode ver a Deus (cf. Mt 5.8), o Invisível (cf. Hb 11.27). A luz resplandece em seu interior, para “iluminação do conhecimento da glória de Deus”. Agora ele pode comprovar que Deus é bom (cf. SI 34-8), e com o seu espírito 132 A ntropologia - A Doutrina do Homem adorar ao Senhor (cf. Jo 4.23) e orar (cf. 1 Co 14.15,16), e o Todo- poderoso dará ao espírito do novo crente a inspiração divina que o faz entendido (cf. Jó 32.8). Assim, podemos observar com clareza que “o espírito do homem” não significa “o Espírito Santo operando no homem”, mas que esse espí rito é um órgão do seu “homem interior”, onde o Espírito Santo opera, fazendo-o ouvir a voz de Deus (cf. A t 2.7). 3.3.4. A CONSCIÊNCIA Uma das faculdades mais importantes do espírito humano é a cons ciência (cf. Rm 2.15,16), que é uma “janela” existente no homem, pela qual Deus olha para o seu interior. A consciência é um “espião” de Deus que persegue o homem quando ele peca, mas que lhe fala com uma voz elogiosa quando faz o bem. 4 . O H o m e m D i a n t e d a M o r t e e d a E t e r n i d a d e O materialismo não aceita a doutrina da Bíblia a respeito de uma vida após a morte. A Bíblia diz, porém, que é um prejuízo inestimável o homem não pensar no seu fim (cf. Lm 1.9), e, por isso, nos ensina a orar: “Ensina- nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio” (cf. SI 90.12; Dt 32.29). Jesus veio para trazer à luz “a vida e a incorrupção” (2 Tm 1.10). Portanto, temos na Bíblia a única fonte que nos dá uma verda deira luz sobre a vida após a morte. E bem verdade que muitas coisas sobre essa vida não estão reveladas. Porém, “as reveladas são para nós e para os nossos filhos, para sempre” (Dt 29.29). Essas coisas reveladas sobre a vida além do véu da carne é que vamos procurar conhecer. 4 .1 . “ AOS HOMENS ESTÁ ORDENADO MORREREM UMA VEZ” (H b 9 .27) 4.1.1. A MORTE ENTROU NO MUNDO PELO PECADO (CF. Rm 5.12) A morte entrou no mundo no momento em que Deus pronunciou a sentença sobre o pecado: “Até que tomes à terra; porque dela foste to mado, porquanto és pó e ao pó tomarás” (Gn 3.19). Assim, a morte 133 T eologia Sistemática atingiu a todos os homens (cf. Rm 5.12). Uma única exceção a essa regra infalível acontecerá na vinda de Jesus — aqueles que estiverem preparados serão transformados e arrebatados (cf. 1 Ts 4.14-17), sendo revestidos de imortalidade (cf. 1 Co 15.53). Desse acontecimento te mos dois exemplos no Antigo Testamento: Enoque (cf. Gn 5.24; Hb 11.5) e Elias (cf. 2 Rs 2.11) — eles não viram a morte. 4.1.2. A CERTEZA DA MORTE FAZ A VIDA INSTÁVEL E PASSAGEIRA A Bíblia usa várias figuras para mostrar a instabilidade da vida. Meditemos nos seguintes exemplos: a vida é como uma “corrente de água”, “um sono” ou “uma erva” (cf. SI 90.5; 103.15; Is 40.6,7; Tg 1.10,11); como um “conto ligeiro” (cf. SI 90.9), “uma sombra” (cf. SI 102.11; 144-4); como “navios veleiros” ou “águia que se lança à comi da” (cf. Jó 9.26). 4 .2 . O QUE ACONTECE NA HORA DA MORTE COM O CORPO, A ALMA E O ESPÍRITO? 4.2.1. M orte é sepa ra ção A morte significa sempre separação. A Bíblia fala de morte em vários sentidos, mas sempre a separação é o significado principal. • A morte no sentido espiritual é o estado de uma pessoa que vive sem Deus, cujo espírito está morto, isto é, separado de Deus (cf. Ef 2.1). • A morte física significa não somente que a pessoa que morreu foi separada dos seus entes queridos, mas, principalmente, que o seu espíri to e a sua alma deixaram o corpo que já morreu (cf. Tg 2.26). • A Bíblia fala também da “segunda morte” (cf. Ap 2.11; 20.6), que significa uma eterna separação de Deus. 4.2.2. Q ue a co n tec e co m o co rpo n a h o ra da m o rte? Com a saída da alma (cf. A t 20.9,10; 1 Rs 17.21; Gn 35.18,19) e do espírito (cf. Tg 2.26; Lc 8.54,55; Ec 12.7), o corpo morre e volta ao pó (cf. Ec 12.7; Gn 3.19), ou seja, é sepultado e encontra a corrupção. Porém, sendo o corpo uma obra de Deus, feito à sua imagem e seme 134 A ntropologia - A Doutrinado Homem lhança (cf. Gn 1.26), não será aniquilado, mas ressuscitará (cf. 1 Co 15.35,38) com uma forma imortal (cf. 1 Co 15.53) e espiritual (cf. 1 Co 15.44,46). Quando a Bíblia,-ao falar da morte, usa a palavra “dormir”, refere-se ao corpo e nunca à alma ou ao espírito (cf. A t 13.36; 1 Ts 4.13,15; Mt 27.52; 1 Co 11.30; 15.51; Dn 12.2). É o corpo que dorme o sono da morte até a manhã da ressurreição, quando todos ouvirão a voz de Deus e se levantarão dos seus sepulcros (cf. Dn 12.2; Jo 5.28,29; At 24.15). 4.2.3. Q u e a co n tec e com a a lm a e o espírito n a h o ra d a m o rte? Quando a Bíblia fala do espírito do homem, jamais se refere ao fôle go (respiração) que se extingue na morte, conforme algumas doutrinas m aterialistas querem afirmar. Com isso querem eles “provar” a inexistência de uma vida real após a morte. Como uma “prova” dessa sua afirmativa, dizem que a palavra “espírito” ou “alma” simplesmente quer dizer “fôlego”. A Bíblia mostra claramente que “espírito” e “alma” são coisas inteiramente distintas do fôlego do homem. Ela registra: “As sim diz Deus, o Senhor, que criou os céus, e os estendeu, e formou a terra e a tudo quanto produz, que dá a respiração ao povo que nela está e o espírito, aos que andam nela” (Is 42.5), e ainda: “Se ele pusesse o seu coração contra o homem, e recolhesse para si o seu espírito e o seu fôle go” (cf. Jó 34.14). O erro da afirmativa que “espírito”, “alma” e “fôlego” na Bíblia significam a mesma coisa fica patente, de modo palpável e drástico, se na leitura das seguintes passagens for substituída a palavra “alma” pela palavra “fôlego”. Leia e compare, assim, os seguintes textos: Atos 23.8; 1 Coríntios 5.5; Gálatas 6.18; 2 Corindos 7.1; Mateus 10.28; Lucas 12.19 e Tiago 5.20. Vamos transcrever uma dessas passagens: “Seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito [substi tua por fôlego] seja salvo no Dia do Senhor Jesus” (1 Co 5.5). A alma e o espírito que deixam o corpo voltam a Deus que os deu (cf. Ec 12.7), isto é, ficam à disposição de Deus para serem encami nhados ao lugar que corresponda à relação que tiveram com o Se nhor na hora da morte para ali aguardarem o dia da ressurreição. Existe uma “casa de ajuntamento” destinada a todos os viventes (cf. 135 T EOLOGiA S istemática Jó 30.23), onde mais que qualquer outro lugar, vê-se “a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus e o que não o serve” (Ml 3.18). Logo, “rendendo o homem o espírito, então, onde está?” (Jó 14.10) • O espírito-alma do justo irá para o Paraíso (cf. Lc 23.43; 2 Co 5.8), onde gozarão descanso (cf. Ap 14.13), consolação e felicidade (cf. Lc 16.23,25). Por esse motivo “é preciosa, à vista do Senhor, a morte dos seus santos” (cf. SI 116.15). • Os espíritos dos injustos irão para o Hades, um lugar de tormentos, onde aguardarão a ressurreição para o julgamento final (cf. Lc 16.22,23; Ap 20.11,12). Esse lugar é de sofrimento e angústia. Foi para lá que foi Coré com os seus companheiros de rebelião, quando a terra se abriu e os engoliu vivos (cf. Nm 16.31-34). 4 .3 . C omo será o estado intermediário do espírito e da alma após A MORTE? 4.3.1. Os ESPÍRITOS SÃO IMORTAIS Existe uma doutrina materialista que prega a aniquilação dos que morre ram. Porém, a Bíblia afirma que coisa alguma será aniquilada no homem que foi criado à imagem de Deus. A alma (cf. Mt 10.28) e o espírito (cf. 1 Pe 3.4) jamais morrerão. Quanto ao corpo, pela morte transforma-se em pó (cf. Gn 3.19). Todavia, levantar-se-á do pó na ressurreição para viver eter namente (cf. Dn 12.2). Os defensores daquela doutrina dizem que determi nados versículos da Bíblia “provam” as suas afirmativas. Comparemos. • Afirmam que a palavra grega oltheros (“eterna perdição”), utilizada em 2 Tessalonicenses 1.9, significa uma real aniquilação; porém, a mes ma palavra é empregada em 1 Timóteo 6.9; 1 Tessalonicenses 5.3 e 1 Coríntios 5.5, onde não se trata de aniquilação! • Dizem que a palavra grega analisko (“se desfará” ), empregada em 2 Tessalonicenses 2.8, significa uma completa aniquilação. Pode- se comparar a mesma palavra em Gálatas 5.15 e Lucas 9.54, onde não possui esse sentido. 136 A ntropolocia - A Doutrina do Homem • Dizem que a palavra grega karego (“aniquilará” ), encontrada em 1 Tessalonicenses 2.8, significa extinção. Observe que o Anticristo, con forme esse versículo, é “aniquilado” pelo “esplendor da sua vinda” e lan çado no lago de fogo-f cf. Ap 19.20). Mas a “aniquilação” dele não signi fica extinção, uma vez que após mil anos, quando Satanás for lançado no mesmo lago de fogo, ali estará ainda o Anticristo (cf. Ap 20.10), e ambos serão atormentados etemamente. “Aniquilado”, nessa passagem, significa “ficar sem efeito, sem ação”. A mesma palavra é também usada em Hebreus 2.14, Romanos 6.6 e 1 Coríntios 6.13. • A inda explicam que a palavra apolluns ( “perecer” ), em 2 Tessalonicenses 2.10, teria o sentido de “extinção”; porém, a mesma palavra é usada em Mateus 8.25, Lucas 15.17 e 1 Pedro 1.7. 4.3.2. Os ESPÍRITOS DOS MORTOS TERÃO UMA EXISTÊNCIA REAL E CONSCIENTE Existem doutrinas antibíblicas que afirmam que os espíritos dos mortos se acham em um estado inconsciente, uma espécie de sono eterno. Porém, a Bíblia mostra que o estado de inconsciência refere- se só ao corpo, pois na sepultura “não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma” (Ec 9.10). E por isso que os mortos “não sabem coisa nenhuma” (Ec 9.5). “Mas nós bendiremos ao Se nhor, desde agora e para sempre [etemamente]” (SI 115.18). As al mas dos crentes louvarão ao Senhor no Paraíso. Contando a história do homem rico e Lázaro, Jesus provou que o espírito e a alma de crentes ou de descrentes têm uma existência consciente no estado intermediário entre a morte e a ressurreição (cf. Lc 16.19-31). C on vém salientar que essa história não é uma parábola, mas fato verídi co que Jesus conhecia. Em uma parábola, Jesus não dava nomes aos personagens. A história de Lázaro e do homem rico é verídica e le vanta o véu sobre a existência da morte. Vejamos os testemunhos de alguns personagens na Bíblia sobre o estado consciente da alma-espírito após a morte: • Abraão. Deus disse a Abraão: “E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado” (Gn 15.15). Quando Abraão morreu, o seu cor 137 T EOLociA Sistemática po foi sepultado na cova de Macpela (cf. Gn 25.9). Ali não estavam os “pais”, mas somente a esposa que fora sepultada anos antes (cf. Gn 23.19). Foi o seu espírito que entrou na eternidade. Deus afirmou, 330 anos depois da morte de Abraão, ser “o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó” (Ex3.15), e 1.500 anos depois, Jesus explicou essa mesma palavra, acrescentando: “Deus não é Deus de mortos, mas de vivos” (Lc 20.38). Abraão ainda existia! Jesus disse que quando os crentes chega rem ao céu, verão Abraão, Isaque e Jacó assentados à mesa do Senhor (cf. Mt 8.11). • Moisés. Deus disse a Moisés: “E morre no monte, ao qual subirás; e recolhe-te ao teu povo” (Dt 32.50). No monte Nebo, onde Deus sepul tou o corpo de Moisés, não havia “povos” aos quais ele pudesse se reco lher. O seu corpo realmente foi sepultado, enquanto o seu espírito en trava na eternidade, em uma existência tão real que, 1.500 anos depois, manifestou-se a Jesus no monte da transfiguração (cf. Mt 17.3). • Davi. Quando sua criança morreu, Davi afirmou: “Eu irei a ela, porém ela não voltará para mim” (2 Sm 12.23). Davi tinha certeza de uma vida após a morte. • Paulo. Ele testifica: “Desejamos, antes, deixar este corpo, para ha bitar com o Senhor” (2 Co 5.8), para “estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” (Fp 1.23). 4-3.3. Os MORTOS NÃO POSSUEM MISSÃO A CUMPRIR EM FAVOR DOS QUE HABITAM NA TERRA Sem exceção, todo o serviço a Deus é feito somente por meio do corpo (cf. 2 Co 5.10). A Bíblia diz: “Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito,para que des cansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam” (Ap 14.13). Com a morte vem a noite, quando ninguém mais pode trabalhar (cf. Jo 9.4). Por isso, o apóstolo Paulo julgava mais necessário, por amor aos filipenses, permanecer vivo, “para proveito vosso e gozo da fé” (Fp 1.25). É somente pelo corpo que o crente pode glorificar a Cristo, seja pela vida ou pela morte (cf. Fp 1.20; Jo 21.19). Os espíritos dos mortos são imateriais e não podem ter contato com a matéria. Eles 138 A ntropologia - A Doutrina do Homem não podem interceder ou orar pelos que vivem aqui na terra, porque no céu há somente um mediador (cf. 1 Tm 2.5), e é Ele que interce de por nós (cf. Hb 7.25; Rm 8.34). Tampouco poderão ser portadores de recados, ou evangelizar os que permanecem no mundo. O pedido do homem rico, de que Lázaro fosse enviado para advertir seus ir mãos, não foi atendido, pois: “Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam- nos” (Lc 16.29). A única missão que os mortos terão no Paraíso será louvar a Deus e atender àquilo que Deus lhes ordenar (cf. Ap 5.10; 7.15 e 20.6). 4.3.4. O ESTADO ESPIRITUAL DO HOMEM NÃO SOFRE ALTERAÇÕES APÓS A MORTE Da maneira como o homem entrar na eternidade, assim permanece rá para sempre. Aquele que entrar como crente jamais cairá, e quem não for crente, jamais salvar-se-á. A Bíblia diz: “Caindo a árvore para o sul ou para o norte, no lugar em que a árvore cair, ali ficará” (Ec 11.3). Por que não existe possibilidade para salvação após a morte? Vejamos: • “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar” (Is 55.6), isto é, no “tempo que se chama Hoje” (Hb 3.13). E somente enquanto o homem ainda “acompanha com todos os vivos” que há esperança (cf. Ec 9.4). O Filho do Homem tem, na terra, poder para perdoar pecados (cf. Mc 2.10) e, por isso, é aqui o tempo aceitável, o dia da salvação (cf. 2 Co 6.2). • “Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo” (Hb 9.27). Quando o pecador estiver no Hades, aguardando a ressurreição para a condenação (cf. Lc 16.23; Jo 5.29), jamais poderá sair de lá, pois existe um grande abismo (cf. Lc 16.26) que o separa dos salvos. • A salvação do pecador após a morte é também impossível porque o Espírito Santo, então, não mais entrara em ação. Para um homem ser salvo nesta vida é indispensável a operação do Espírito Santo (cf. Jo 6.44,65), tanto na sua chamada (cf. Ap 22.17) como na sua regenera ção (cf. Jo 3.8). Quando o Espírito Santo, após a morte, não mais ope rar, nenhum pecador sentirá desejo de salvação. Poderá sentir remorso pelo prejuízo terrível que o pecado lhe causou, porém não desejará a 139 T EOLOGiA S istemática salvação. O homem rico, no Hades, não pediu perdão, mas somente água para refrescar a língua (cf. Lc 16.26). Os perdidos citados em Apocalipse 6.16 não pediram salvação, mas que os montes e rochedos os escondessem do rosto daquEle que estava sentado sobre o trono. • O ensino sobre um “purgatório”, onde as almas não preparadas podem ser perdoadas através de sofrimentos e castigos atrozes, não tem apoio na Bíblia. Como conseqüência dessa doutrina, surge uma outra prática — o esforço de, por meio de votos, missas, orações e esmolas em favor dos mortos, procurar aliviar as penas do pecador. Porém, o único “lucro” dessa doutrina é aquilo que entra nos cofres daqueles que a pro movem. Para os pecadores, nenhum proveito tem. As duas passagens bíblicas que estão sendo usadas para “testificar” tal doutrina nada pro vam. A primeira encontra-se em 1 Coríntios 3.15: “O tal será salvo, todavia como pelo fogo”. Essa frase refere-se, exclusivamente, à prova de avaliação das obras que os crentes realizaram por meio do corpo (cf. 1 Co 3.12-15; 2 Co 5.10). A segunda está registrada em Lucas 12.59: “Não sairás dali enquanto não pagares o derradeiro ceitil”. A í é demons trada a impossibilidade de sair “da prisão”, se a reconciliação não tiver sido feita “no caminho”, pois a porta se fechou (cf. Lc 13.24,25). • A profecia sobre a “restauração de tudo”, conforme Atos 3.21, tem sido interpretada por alguns como prova de que os pecadores também serão “restaurados”. Porém, essa profecia fala “da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio” (A t 3.21). E profeta nenhum falou de salvação de pecadores após a morte; pelo contrário, profetizaram sobre o castigo eterno deles (cf. Ap 20.11-15). • A expressão “Todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra” (Fp 2.10) tem sido usada como uma ’’prova” de que há salvação após a morte para os que estão “debaixo da terra”, pois afirma que eles confessarão que Jesus é o Cristo. Porém, na Bíblia há muitos exemplos de que um reconhecimento da glória de Deus não é sinal de salvação (cf. Js 7.19; Lc 5.25,26; 23.47; Jo 9.24; SI 106.12-16). • É certo manter contato com os espíritos dos mortos? As religiões pagãs têm procurado manter essa forma de contato. Porém, a Bíblia a 140 A ntropolocia - A Doutrina do Homem m — — ~t i i w — — ■ i i w i i i i i M i íi mu i i n u n i proíbe terminantemente (cf. Êx 22.18; Lv 19.31; 20.6,7; Dt 18.1042; Is 8.19 e 19.3), pois todos os mortos estão sob a responsabilidade de Deus (cf. Ec 12.7). Jesus tem a chave da morte e do inferno (cf. Ap 1.18). Quando alguém procura contato com o espírito dos mortos é enganado pelo demônio, pois só ele aparece como um espírito de mentira (cf. 1 Rs 22.22): imita aquele cujo espírito está sendo invocado, conforme a dou trina dos demônios (cf. 1 Tm 4.1). Essas invocações constituem “as profundezas de Satanás” (cf. Ap 2.24) e fazem com que os homens crei am na mentira (cf. 2 Ts 2.11). Foi isso que aconteceu quando o rei Saul procurou a feiticeira, pedindo que ela chamasse o espírito de Samuel. O demônio o enganou, fazendo com que cresse que Samuel havia apareci do (cf. 1 Sm 28.10-19), o que não foi verdade. A Bíblia afirma que nenhum encantamento contra Israel tem valor (cf. Nm 23.23), e afirma que “Saul não buscou ao Senhor” (cf. 1 Cr 10.14). Se Samuel tivesse realmente aparecido, Saul teria buscado ao Senhor. E ele morreu por ter buscado a feiticeira (cf. 1 Cr 10.13) ao invés do Senhor. 141 Ç. A PÍTT TT O f i H am artio lo gia A D o u t r i n a do Pecado P a r a m e l h o r c o n h e c i m e n t o d a d o u t r i n a d a SA LVAÇÃO E DA DOUTRINA DO HOMEM, É NECESSÁRIO CONHECER O QUE A BÍBLIA ENSINA SOBRE O PECADO, O MAIOR MAL QUE ENTROU NO MUNDO. T EOLOGIA Sistemática 1. A O rigem do Pecado Filósofos, psicólogos, teólogos, cientistas e muitos outros têm-se ocu pado com o mistério da origem do pecado. Os resultados das suas pesqui sas diferem muito entre si, mas a Bíblia nos dá uma definição correta! 1.1. A ORIGEM DO PECADO JAMAIS PODE SER DE Ü EU S Deus é santo (cf. 1 Pe 1.16). “Deus é luz, e não há nele treva nenhu ma” (1 Jo 1.5); “Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta” (Tg 1.13). 1.2. A ORIGEM DO PECADO TAMPOUCO FOI O HOMEM O homem foi criado à imagem de Deus: “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou” (Gn 1.27). Foi criado perfeito: “Viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” (Gn 1.31). A Bíblia diz: “Deus fez ao homem reto” (Ec 7.29). Quando Adão e Eva foram criados, o mal já existia no universo. 1.3. A ORIGEM DO PECADO FOI LÚ CIFER, O D lA BO 1.3.1. J esu s revela a origem do pecado Ele disse: “Ele [Satanás] foi homicida desde o princípio e não se fir mou na verdade, porque não há verdade nele; quando ele profere men tira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44), e também: “O diabo peca desde o princípio” (1 Jo 3.8). O Diabo era antes um “querubim ungido para proteger” (Ez 28.14). Diz a Palavra de Deus: “No monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas”. Apesar de tudo isso, ele disse em seu co ração: “Eu subirei ao céu, e, acima das estrelas de Deus, exaltarei o meu trono, e, no monte da congregação,me assentarei, da banda dos lados do Norte. Subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhan te ao Altíssimo” (Is 14.13,14). Assim nasceu o pecado, como um pen samento no coração de Lúcifer. E esse pensamento ele pôs em ação! Rebelou-se contra Deus, e foi lançado fora do céu (cf. Ez 28.15,16). Jesus disse para os seus discípulos que havia visto Satanás, como raio, cair do céu (cf. Lc 10.18). Desde então, o Diabo tornou-se o adversá 144 Hamartiolocia - A Doutrina do Pecado rio de Deus. Satanás (em hebraico, satã) ou Diabo (em grego, diabolos) significa em português: “adversário, acusador”. Ele era Lúcifer, isto é, “estrela da manhã, filha da alva” (Is 14.12). Mas degenerou-se, tor nando-se o príncipe -das trevas (cf. Mt 12.24). 1.3.2. P o r q ue D eu s permitiu q ue L úcifer c a ísse ? Lúcifer possuía livre-arbítrio, coisa que Deus sempre considera. Ele abusou dessa extrema liberdade e sofreu as conseqüências. Pertenceu aos céus, mas tomou-se o antônimo do bem, o opositor de Deus. 2. De que Maneira Entrou o Pecado no Mundo? O mal do pecado havia entrado no universo. Porém, o homem vivia no paraíso em absoluta inocência, em pleno gozo e perfeita comunhão com Deus. De que maneira esse quadro tão perfeito foi desfeito? “Por um homem entrou o pecado no mundo” (Rm 5.12). Adão e Eva, por um ato de desobediência, conscientemente abriram a porta pela qual o Ini migo entrou e, com ele, todo o mal que trazia. 2 .1 . A arma que o Inimigo usou foi a tentação 2.1.1. D e q u e m an eira o D iabo veio para ten ta r o h om em ? A Bíblia nos relata esse acontecimento de modo detalhado (cf. Gn 3.1-24). Essa narração não é, como os materialistas afirmam, uma lenda, nem é, como outros dizem, somente expressão figurativa, sem nenhum valor real. A Bíblia é sempre a verdade (cf. Jo 17.17). O apóstolo Paulo acreditava no fato descrito em Gênesis 3, pois escreveu sobre ele (cf. 2 Co 11.2,3; 1 Tm 2.14). O Diabo veio na forma de uma serpente (cf. Gn 3.1). Ele, como um anjo caído, um ser com corpo imaterial, um espírito, pode manifestar-se de muitas maneiras. Até “se transfigura em anjo de luz” (2 Co 11.14). Até Pedro, certa feita, foi utilizado pelo Diabo como trampolim no seu ataque contra Jesus (cf. Mt 16.22,23). 145 T EOLOGiA Sistemática 2.1.2. A ESTRATÉGIA DO DlABO Qual foi a estratégia da “operação tentação”, aplicada contra Adão e Eva? O Inimigo fez vários ataques, um após outro, até derrubá-los. Vejamos: • O Diabo procurou, no seu primeiro ataque, despertar dúvida sobre a veracidade da Palavra de Deus. Ele, que é o pai da mentira (cf. Jo 8.44), perguntou, torcendo a palavra que Deus havia dito: “E assim que Deus disse: “Não comereis de toda árvore do jardim?” (Gn 3.1) Porém, Deus havia dito: “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás” (Gn 2.16,17). Quando Eva, na sua réplica, fez referência ao que Deus havia dito sobre a árvore do meio do jardim, o Diabo torceu novamente a palavra: “Cer tamente não morrereis” (Gn 3.4). A dúvida estava plantada. • O segundo ataque tinha por alvo colocar em dúvida as intenções de Deus para com eles, insinuando que Jeová não queria que os homens fossem tão felizes como Ele, pois não gostaria que se tomassem tais quais Ele. O Diabo disse: “Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus” (Gn 3.5). • No terceiro ataque, o Diabo despertou neles a tentação de se igua larem a Deus. Foi exatamente o mesmo pecado que o havia derrubado do céu (cf. Is 14-14). • O poder da tentação estava ocupando tanto o entendimento como o sentimento de Eva (cf. G n 3.6). A vontade deles estava sen do conquistada por um desejo ilícito. Só faltava uma coisa — a pró pria ação. A vontade já contaminada deu o impulso necessário para que Eva cedesse: ela tomou do fruto, comeu e deu a Adão, que tam bém comeu (cf. Gn 3.6). Uma catástrofe, a maior de todos os tem pos, havia acontecido. 2.1.3. Po r q ue D eu s perm itiu q u e o homem fo sse t en ta d o ? Deus havia criado o homem à sua imagem e semelhança; assim, o homem possuía livre-arbítrio. Como uma criatura de Deus, estava sujei to a Ele e às suas determinações. Porém, o verdadeiro amor ao Senhor se manifesta na obediência à sua Palavra (cf. Jo 14.15,23 e 15.14). Com o 146 Hamartiolocia - A Doutrina do Pecado livre-arbítrio, o homem podia, voluntariamente, mostrar sua inteira dis posição de obedecer a Deus de coração. Com o livre-arbítrio, uma atitu de dessas não representaria nada. Da mesma forma, sem que houvesse tentação, sem que fosse oferecida uma alternativa, o homem não teria tido oportunidade de mostrar que desejava sujeitar-se a Deus em tudo. Assim, Deus permitiu que Adão e Eva fossem tentados, dando-lhes, po rém, as possibilidades de vencer. Deus também permitiu que o seu próprio Filho fosse tentado. Jesus passou por uma prova muito mais dura (cf. Lc 4.1-13). Deus sabia que o seu Filho, como homem, tinha possibilidade de cair (se não houvesse essa possibilidade, a tentação teria sido apenas uma representação). Po rém, Jesus venceu e permaneceu sem pecado (cf. Hb 4.15), tendo volta do do deserto da tentação cheio do Espírito Santo (cf. Lc 4.14). “Apren deu a obediência, por aquilo que padeceu” (Hb 5.8) e agora pode ajudar a todos que são tentados (cf. Hb 2.18 e 4.16). 3. A Definição do Pecado à Luz da Q ueda do H omem 3.1. O SIGNIFICADO DE PECADO Os diferentes nomes que a Bíblia usa a respeito de pecado expressam as principais definições sobre o que ele significa, as quais coincidem com o que aconteceu a Adão e Eva no dia da queda. 3.1.1. T r a n sg r essã o (c f . Hb 2.2) Adão caiu em transgressão (cf. 1 Tm 2.14; Rm 5.14), o que significa que ele violou as ordens de Deus, deixando de cumpri-las. Toda trans gressão desonra a Deus (cf. Rm 2.23). 3.1.2. Impiedade (c f . R m 1.18; Tt 2.12) Significa uma ação sem piedade, isto é, uma ação sem amor e devoção às coisas de Deus. Isso realmente caracterizou a atitude de Adão e Eva. 147 ... T EOLOGIA S ist e m á t ic a 3.1.3. In ju st iç a (c f . Rm 1.18) Justiça é um procedimento de acordo com o direito. Quando isso falta, então se trata de injustiça. 3.1.4. Desobediência (cf. H b 2.2) Desobediência significa insubmissão ou rebelião, coisa que, diante de Deus, é como feitiçaria (cf. 1 Sm 15.2). Foi o que Adão e Eva come teram (cf. Rm 5.19). 3.1.5. Iniq üidade (c f . Rm 2.8; 1 Jo 5.17) Significa uma falta de eqüidade, de reconhecimento do direito ou dos princípios imutáveis da justiça. É algo que promove desordem, e quanta desordem o pecado não causou na vida do homem! Quando Lúcifer se rebelou contra Deus, promoveu a eterna desordem. O Anticristo é, por isso, chamado “o iníquo” (cf. 2 Ts 2.8). 3.1.6. E rrar o alvo O certo é atirar sem errar o alvo (cf. Jz 20.16). Porém, quando al guém não faz o que é certo, errou o alvo — e isso expressa o que é peca do. Os homens procuravam “atirar” no alvo de se igualarem a Deus, mas erraram e ficaram sendo dominados por Satanás. 4. As C O N SE Q Ü Ê N C IA S DO PEC A D O Analisando os acontecimentos da queda no Éden, podemos focalizar os principais efeitos do pecado. 4.1. O RESULTADO DO PECADO NAS RELAÇÕES ENTRE Ü EU S E O HOMEM 4.1.1. O PECADO INTERROMPEU A COMUNHÃO ENTRE ÜEUS E O HOMEM Deus convivia com o homem em comunhão e cooperação maravi lhosa (cf. Gn 2.18,19). Porém, quando Deus, após a queda, veio ao seu encontro, Adão e Eva esconderam-se entre as árvores do jardim (cf. Gn 3.8). A pergunta de Deus: “Onde estás?” (Gn 3.9), mostra que a atitude 148 Hamartiologia - A Doutrina do Picado de Deus para com Adão era agora diferente. A Bíblia diz: “As vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus” (Is 59.2; cf. Pv 15.29; Jr 5.25). Assim, devido ao seu pecado, foram expulsos do jardim (cf. Gn 3.23,24). 4 .1 .2 .0 pecado deixou A dão e Eva despidos diante de D eus (cf. G n 3.7)Antes da queda eles também estavam nus (cf. G n 2.25); porém, cobertos pela glória da presença de Deus (cf. SI 104.2; 1 Tm 6.16). Quando caíram em pecado, foram destituídos dessa glória (cf. Rm 3.23), e “foram abertos os olhos cje ambos, e conheceram que estavam nus” (Gn 3.7). Somente quando somos vestidos pelas vestes da justiça de Deus por Jesus Cristo (cf. Is 61.10), ou noutra expressão, revestidos de Cristo (cf. G 13.27), é que estamos preparados para nos encontrar com Deus. Aquele que não possuir essas vestes será achado nu (cf. 2 Co 5.3; Ap 16.15). 4.1.3. O PECADO TORNA O HOMEM CULPADO DIANTE DE DEUS Culpa é uma omissão prejudicial, um delito, uma inobservância de uma regra de conduta. Deus perguntou a Eva: “Por que fizeste isso?” (Gn 3.13) Aquele que tropeçar em um só ponto toma-se culpado de todos (cf. Tg 2.10). Assim, “todo o mundo fique sujeito ao juízo de Deus” (Rm 3.19, Versão Revisada). 4.1.4. O PECADO FAZ O HOMEM FICAR DEBAIXO DA IRA DE DEUS (c f . R m 1.18-20) A Bíblia diz: “Por essas coisas vem a ira de Deus” (Ef 5.6; cf. Cl 3.6; Rm 2.5). Quando há perdão, a ira de Deus se retira (cf. Is 12.1-3), mas permanecerá sobre aqueles que não aceitarem o único meio de perdão — Cristo — que Deus oferece (cf. Jo 3.18). 4 .2 . Os EFEITOS DO PECADO NA VIDA DO HOMEM Os prejuízos que o pecado traz para a vida do homem são incalculá veis. Aqui mencionamos somente uma parte. 149 T EOLOCIA S ist e m á t ic a 4.2.1. O PECADO FEZ O HOMEM PERDER A SUA TRANQUILIDADE Antes que o pecado entrasse no mundo, não existiam angústia, afli ção, lágrimas, etc. Porém, depois que o homem caiu, foi obrigado a en frentar “tribulação e angústia” (Rm 2.9). 4.2.2. O PECADO COLOCOU O HOMEM SOB SEU DOMÍNIO O primeiro pecado alastrou-se e multiplicou-se de tal maneira na vida do homem que o profeta Isaías disse: “Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã” (Is 1.6). O pecado contaminou o enten dimento e a consciência do homem (cf. T t 1.15; 2 Co 4-4). A sua vontade ficou inteiramente sujeita ao mal (cf. Rm 7.19-23): “Toda imaginação dos pensamentos do seu coração era só má continuamen te” (Gn 6.5). 4.2.3. Pelo pecado o homem perdeu a su a po siçã o de go vern o Deus o colocara o homem para dominar (cf. G n 1.28); porém, pelo pecado, tornou-se dominado, não somente pelo pecado, mas também pelas coisas criadas (cf. Rm 1.25). Em lugar de ser senhor, tornou-se escravo da cobiça, da inveja, da avareza, etc. (Cf. 1 Tm 6.10; Rm 1.29; 1 Tm 6.4). Em lugar de governar sobre o pecado, tomou-se escravo dele (cf. Jo 8.34). 4.2.4. O pecado prepara u m a plataform a para o D iabo n a vida DO HOMEM Se o crente é vencido pelo tentador, e o pecado entra na sua vida, deixa nela uma plataforma para o Inimigo exercer maior influência. Mas, se resistirmos ao Diabo, ele fugirá de nós (cf. T g 4-7). Quando, porém, o homem obedece ao pecado (Rm 6.16), os seus membros se tornam sujeitos à imundícia e à maldade (cf. Rm 6.19). 4.2.5. O PECADO SUJEITOU O HOMEM À MORTE Deus disse ao homem no Éden: “No dia em que dela comeres, certa mente morrerás” (Gn 2.17). Paulo escreveu que “por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte” (Rm 5.12). Essa palavra se 150 Hamartiolocia - A Doutrina do Pecado cumpriu no dia da queda! A morte entrou! Vamos observar que a morte entrou e iniéiou o seu domínio em três sentidos: • A morte física. Deus disse ao homem no dia da queda: “Comerás o teu pão, até que te tomes à terra” (Gn 3.19). Assim, a morte física ou a separa ção do espírito e alma do corpo (cf. Tg 2.26) começou desde o dia da queda. Deus, já no Éden, falava de dor (cf. Gn 3.16). A doença é o início da morte. • A morte espiritual. É a separação entre o homem e Deus. Por isso, a Bíblia fala do homem não-crente como de um “morto” (cf. Lc 15.24,32; Ef 2.1-2). Em Mateus 8.22, Jesus fala desses dois tipos de morte, ou seja, da morte espiritual e da morte física. • A segunda morte (cf. Ap 20.6). Significa a etema separação de Deus de todos que, antes da morte física, não aceitaram a salvação. É bem verdade o que a Bíblia afirma: “O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). 4.3 . AS CONSEQÜÊNCIAS DO PECADO NA CONVIVÊNCIA ENTRE OS HOMENS 4.3.1. A CONVIVÊNCIA ENTRE A dÀO E EVA O pecado deu logo origem a uma diferença de tratamento nas rela ções entre Adão e Eva. Em lugar de se responsabilizar pelo seu pecado, Adão lançou a culpa sobre Eva (cf. Gn 3.12) e até sobre Deus, pois disse: “A mulher que me deste”. O pecado tem sido a origem das desgra ças que têm destruído tantos lares. 4.3.2. O PECADO SE ALASTROU NA FAMÍLIA O primogênito do casal, Caim, matou o seu irmão Abel (cf. Gn 4.8- 10). O pecado trouxe em si a semente maldita de todas as brigas, inve jas, porfias, guerras, etc. Quanto sangue tem sido derramado sobre a ter ra desde o primeiro assassinato! 4-3.3. A NATUREZA HUMANA A própria natureza adâmica é portadora de todos os germes da desunião e da discórdia no mundo. A Bíblia fala das obras da carne e menciona, entre outras: inimizades, iras, pelejas, invejas, dissensões, etc. (cf. G1 5.19-21). 151 T EOLOGiA Sistemática 4 .4 . O PECADO GEROU EFEITOS PARA A POSTERIDADE HUMANA 4-4.1. A d ã o g e r o u u m filh o à s u a im a g em e se m e lh a n ç a ( c f . G n 5.3) Notemos que o pecado fez com que a imagem de Deus, com a qual fomos criados (cf. Gn 1.26,27), fosse coberta pela “semelhança do ho mem”. Pouco a pouco o homem se degenerou e se tomou mais e mais distanciado da imagem de Deus. “Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis” (Rm 3.12). A imagem de Deus existe em todos os ho mens; porém, às vezes, está muito coberta (cf. Sl 14.1). 4.4.2. O PECADO ESCRAVIZOU A RAÇA HUMANA Jesus disse: “O que é nascido da came é carne” (Jo 3.6). “Carne” é uma expressão bíblica para a natureza adâmica. Já pelo nascimento na tural o homem recebe, como uma herança dos seus ancestrais, o pecado como possibilidade que mais adiante se tomará realidade (cf. Sl 51.5; Jó 14.4; 15.14). “Éramos por natureza filhos da ira” (Ef 2.3). A velha natu reza tem em si uma inclinação para o mal (cf. Rm 8.5; 7.5-19) e uma insubmissão diante de Deus e da sua Lei (cf. Rm 8.7). A velha natureza, definitivamente, não ama a Deus (cf. Jo 5.42) e sim as trevas (cf. Jo 3.19). É uma realidade que “na minha came, não habita bem algum” (Rm 7.18). 152 Ç.APÍTITTO 7 SOTERIOLOGIA A D outrina da S alvação T EOLOGiA S ist e m á t ic a 1 . In t r o d u ç ã o A salvação preparada para o mundo perdido nasceu no coração amo roso de Deus. Por isso a multidão salva, vestida de vestes brancas, can tará nos céus: “Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono” (Ap 7.10). 1.1. D e u s é a o r i g e m d a n o s s a s a l v a ç ã o No dia da queda do homem, Deus prometeu enviar um Salvador. Ele disse a respeito da semente da mulher: “Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15). N a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher (cf. G1 4.4). A promessa cumpriu-se lite ralmente, sendo uma expressão do amor divino: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito” (Jo 3.16). “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2 Co 5.19). A morte na cruz foi tremenda tanto para Jesus quanto para Deus. Foi o seu grande amor que pagou o sacrifício, e foi a sua justiça que recebeu o preço de sangue pago por Jesus (cf. Hb 9.24-26). N a cruz foram prova das e mantidas quatro coisas importantes: • O amor de Deus (cf. Rm 5.8-10). • A sabedoria de Deus que se revelou na cruz (cf. 1 Co 1.18-25), com uma profundidade insondável (cf. Rm 11.33-35). • O poder de Deus (cf. 1 Co 1.24,25). • A justiça de Deus. Diante dos céus, do inferno e de todo o mundo, a sua Palavra foi cumprida! 1.2. J e s u s é o ú n i c o m e io d e s a l v a ç ã o “E lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.21). 1.2.1. O Salvadoresperado Jesus foi, desde o seu nascimento, chamado “Salvador” (cf. Lc 2.11), porque Ele veio para salvar (cf. Mt 1.21). Quando andava aqui na terra, vez após outra disse: “A tua fé te salvou” (cf. Lc 7.50; 8.48; 154 vm SOTERIOLOGIA - A DOUTRINA DA SALVAÇÃO 18.42; Mt 9.22; Mc 10.52, etc.). Ele veio, realmente, “buscar e sal var o que se1 havia perdido” (Lc 19.10). 1.2.2. J esus ganhou a salvação por sua morte na cruz “Havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz” (C l 1.20). “E, pela cruz, reconciliar ambos com Deus” (Ef 2.16). Pois que “pelo sangue de Cristo chegastes perto” (Ef 2.13). A “rude cruz se erigiu” e a sua mensagem se tornou eterna. Como uma cruz aponta para várias direções, isto é, para cima, para baixo e para os lados, assim a mensa gem da vitória de Cristo, obtida por Ele na cruz, é dirigida para todos os lados: • A cruz aponta para baixo. Ela proclama a vitória de Jesus sobre o Diabo. Realmente, a “cabeça da serpente” foi ferida (cf. Gn 3.15). Sata nás foi despojado da sua posição, quando Jesus triunfou sobre ele (cf. C l 2.14,15). Jesus disse antes da cruz: “Agora, é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo” (Jo 12.31). • A cruz aponta para cima. É a mensagem de Deus dizendo que, agora, o mundo está reconciliado com Ele (cf. 2 Co 5.19), e que a obra que Cristo veio realizar está consumada (cf. Jo 19.30). Agora Deus pode estar conosco, por causa de Jesus. Ele é Emanuel — “Deus conosco” (cf. Mt 1.23). • A cruz estende os seus braços, como um sinal de PARE! O que deve parar diante da cruz? A Bíblia diz: “O fim da lei é Cristo para justi ça de todo aquele que crê” (Rm 10.4). “A lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo” (G1 3.24). A Lei jamais teve poder para salvar al guém, mas pela cruz entrou “a dispensação da graça de Deus” (Ef 3.2), pois a “Lei e os Profetas duraram até João; desde então, é anunciado o Reino de Deus” (Lc 16.16). • Os braços da cruz se abrem representando os braços do perdão de Deus. Braços que agora estão abertos para receber a todos (cf. Rm 10.21). “Vinde, então, e argüi-me, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tomarão brancos como a neve” (Is 1.18). 155 T EOLOGiA S ist e m á t ic a m..... 1.3. “ E s t e e v a n g e l h o d o R e i n o s e r á p r e g a d o e m t o d o o m u n d o ” As BO AS NOVAS são também chamadas de “o evangelho da sal vação” (Ef 1.13). Jesus disse: “Ide por todo o mundo, pregai o evange lho a toda criatura” (Mc 16.15), “ensinai todas as nações” (Mt 28.18,19; cf. Lc 24-47-49), como “testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). Com isso ficou mais que provado que essa mensagem atinge a todos os homens! Todo o povo é convidado a buscar a salvação (cf. Is 55.1). Jesus mor reu por todos (cf. 2 Co 5.14,15; Rm 5.8; 8.34; Rm 14.9). Deus predestinou Jesus para ser o meio da salvação, e todos os que crerem nEle estão, por seus méritos, beneficiados com a eterna salvação (cf. Ef 1.11; 1 Pe 1.20). 1.4. Q u a l é o v e r d a d e i r o s e n t i d o d a d o u t r i n a d a p r e d e s t i n a ç ã o ? A palavra “predestinação” vem do grego proorizo, e aparece seis vezes no Novo Testamento. Uma vez é traduzida por “ordenou antes” (1 Co 2.7), outra por “anteriormente determinado” (At 4.28) e quatro vezes por “predestinar” (Ef 1.5,11; Rm 8.29,30). A palavra “predestinar” sig nifica “destinar por antecipação”. Vejamos o que, segundo a Bíblia, é determinado por antecipação. 1.4.1. Fomos predestinados em Jesus Deus predestinou, por antecipação, o plano da nossa salvação, isto é, o meio pelo qual devemos ser salvos. Em Efésios 1.5, está escrito: “E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo”, isto é, Jesus foi dado como o sacrifício pela expiação dos nossos pecados desde a eternidade. Assim, a Bíblia diz que Jesus foi morto desde a fundação do mundo (cf. Ap 13.8) e que Cristo, como um cordeiro imaculado e incontaminado, foi conhecido antes da fundação do mundo (1 Pe 1.20). 1.4.2. Fomos predestinados para “filhos de adoção” Deus “nos predestinou para filhos de adoção” (Ef 1.5). Aqui obser vamos a finalidade da nossa salvação por Jesus — Deus predestinou que os pecadores fossem, por Jesus, feitos filhos de adoção. Quem ado- 156 SOTERIOLOGIA - A DOUTRINA DA SALVAÇÃO ta uma criança, atribui-lhe o direito de um filho próprio, e legitima-o para desfrutar desses direitos. A Bíblia mostra vários exemplos de adoção de filhos. O patriarca Jacó adotou os dois filhos de José — Efraim e Manassés — como seus filhos, dando-lhes o mesmo direito que os outros possuíam (cf. Gn 48.5). A filha de Faraó adotou Moisés (cf. Ex 2.10), e Mardoqueu adotou Ester (cf. Et 2.7). Assim, Deus predestinou os que crerem em Jesus para serem adotados como seus filhos, atribuindo-lhes os direitos e a participação na herança que pertence aos filhos. A Bíblia diz que “somos, logo, her deiros também, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rm 8.17). A predestinação “para filhos de adoção” (Ef 1.5) refere-se, de acordo com Efésios 1.11,12, a nós, “os que primeiro esperamos em Cristo”. Está, dessa maneira, incontestavelmente definido que a predestinação refere- se aos que esperam em Jesus como o meio da sua salvação, conforme a “esperança do evangelho” (Cl 1.23), os quais serão agraciados com o dom gratuito da salvação (cf. Ef 2.4-9). i 1.4.3. Predestinados para refletir Jesus Deus também nos predestinou para sermos “conforme à imagem de seu Filho” (Rm 8.29). Essa palavra nos revela o alvo que devemos alcan çar pela salvação. Deus quer que todos os que aceitam a Jesus como Salvador sejam transformados à imagem de seu Filho, o qual é a expres sa imagem de Deus (cf. Hb 1.3). Todos aqueles que crêem em Jesus ex perimentam, através da salvação, o revestimento do novo homem, “que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Cl 3.10). Assim, Jesus foi predeterminado por Deus para ser o modelo, a fim de que muitos irmãos, por meio dEle, alcancem a imagem cuja semelhança Deus, no princípio, criou o homem (cf. Gn 1.27). 1.4.4. A LIBERDADE DE ESCOLHA DO HOMEM Deus espera que cada homem defina sua posição quanto ao meio de salvação que Ele predestinou. • Aquele que aceita a Jesus fica grandemente enriquecido, pois: 157 T EOLOGiA S ist e m á t ic a — É salvo porque aceitou a Jesus, o meio predestinado por Deus (cf. Ef 1.5) conforme o seu propósito (cf. Ef 1.11). — É adotado por filho (cf. Ef 1.5). — A graça de Deus operará nele, para que alcance a imagem de filho de Deus (cf. Rm 8.29,30). • Aquele, porém, que não aceita a Jesus, está perdido (cf. Mc 16.16; Jo 3.18,19), não porque não estivesse incluído na predestinação de Deus, mas porque não aceitou o único meio de salvação que Deus oferece (cf. Mt 23.37; Jo 5.40; Mt 22.3; Lc 14.17-24; 19.44; Is 50.2). 1.4.5. Predestinação versus salvação A doutrina da predestinação sempre se refere ao meio da salvação, e nunca ao destino eterno de cada pessoa. • Existe na Bíblia uma “predestinação pessoal” que não se refere ao destino eterno de ninguém, mas somente à chamada de Deus para um serviço no seu Reino. A Bíblia firma que Paulo foi chamado des de o ventre de sua mãe (cf. G1 1.15,16). Assim também foi com Jeremias (cf. Jr 1.5), João Batista (cf. Lc 1.76), Isaías (cf. Is 49.1) e outros. Ainda encontramos uma predeterminação a respeito de Isra el, quando Deus rejeitou Esaú e escolheu Jacó (cf. Rm 9.11-14). Do mesmo modo Israel, como povo, foi eleito para ser uma nação espe cial de Deus (cf. Rm 9.4 e 11.2-7). • A alegação doutrinária que afirma ser a predestinação algo que determine a salvação para alguns e a perdição para outros, previamente determinados, não tem apoio na Bíblia. Pelo contrário, provoca graves contradições: — Essa doutrina constitui uma contradição à pessoa de Deus, porque torce a sua imagem em relaçãoà sua justiça (cf. Gn 18.25), pois assim Ele teria predestinado pessoas à perdição antes mesmo que nascessem. Também põe em dúvida o amor ilimitado de Deus (cf. Rm 5.7,8), por que ensina ter Ele destinado pecadores ao inferno sem lhes dar direito nem oportunidade de arrependimento. Até a veracidade de Deus é pos- 158 SoTERioLOGiA - A Doutrina da Salvação ta em jogo, pois enquanto Deus diz: “Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do íiripio? Diz o Senhor Jeová; não desejo, antes, que se conver ta dos seus caminhos e viva?” (Ez 18.23) No entanto, os adeptos da doutrina da predestinação afirmam que o próprio Deus manda alguns para a perdição, sem lhes dar a mesma oportunidade de salvação que deu aos “predestinados” ao céu. — Há também uma flagrante contradição entre a doutrina da predestinação e a pessoa e a obra de Cristo, pois Jesus afirmou ter dado a sua vida pelo mundo (cf. Jo 6.51; 3.16). Todavia, conforme essa doutri na, Ele morreu somente pelos “predestinados à salvação”. Está também escrito que Ele “pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus” (Hb 7.25). Porém, também conforme a tal doutrina, Jesus somente tem poder para salvar os que forem privilegiados pela predestinação. — A contradição atinge também a própria Palavra de Deus, que é a Verdade (cf. Jo 17.17), pois a Bíblia afirma que Deus “quer que todos os homens se salvem” (1 Tm 2.4), que todos são convidados à salva ção (cf. Is 55.1; 45.22; Mt 11.28) e que “a graça de Deus se há manifes tado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11). Afirma também que “para com Deus, não há acepção de pessoas” (Rm 2.11) e que “todos os que nele crêem receberão perdão dos seus pecados” (At 10.43), enquanto aquela doutrina afirma que são exclusivamente os predestinados à salvação que têm esse direito. A doutrina em apreço também desfaz o livre-arbítrio do homem, um dos grandes ensinamen tos da Bíblia (cf. Dt 30.19; Js 24.15; 1 Rs 18.21; SI 119.30,173; Ap 22.17). Se alguém fosse predeterminado por Deus quanto ao seu desti no, como poderia escolher?! — A doutrina constitui uma dúvida para os crentes sinceros que, em bora tenham recebido a certeza da salvação, ficam em dúvida quanto a serem ou não predestinados para a salvação. O apóstolo Paulo não tinha esse problema. Ele escreveu: “Eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia” (2 Tm 1.12). — Finalmente, essa doutrina é perigosa para a própria evangeli zação. Os evangelizadores podem raciocinar que não há necessidade T EOLOGiA Sistemática mmmmmmmmmmiMmmMmMMm..... de evangelização, pois aqueles que Deus predestinou para o céu, Ele é poderoso para salvá-los sem a nossa intervenção, e para aqueles que Ele predestinou para o inferno, não existem mais recursos: de qualquer maneira estão perdidos! Entretanto, todos são passíveis de salvação. Jesus disse: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, sal var-se-á” (Jo 10.9). 1.5. J e s u s é o s i n ô n i m o d a s a l v a ç ã o Quando o velho Simeão tomou Jesus nos braços, disse cheio do Espírito Santo: “Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra, pois já os meus olhos viram a tua salvação” (Lc 2.29,30). A Bíblia diz que a salvação está em Cristo Jesus (cf. 2 Tm 2.10). 1.5.1. Qualidades salvíficas de Jesus • Jesus é a propiciação (cf. 1 Jo 2.1,2). Temos, assim, na própria pessoa de Jesus a propiciação, e não apenas uma doutrina bíblica a seu respeito (cf. 1 Jo 4.10; Rm 5.11; Ef 2.16; C l 1.22). • Jesus é o caminho (cf. Jo 14.6). • Jesus é o fundamento (cf. 1 Co 3.11; Ef 2.20,21; 1 Pe 2.4,5; Mt 7.24). • Jesus é a vida (cf. Jo 1.4). Ele é o tronco da vida, do qual os crentes são as varas que, pelo tronco, participam da raiz e da seiva (cf. Rm 11.17; Cl 3.3,4). 1.5.2. Salvação é a aceitação de Jesus Para ser salvo importa somente vir a Jesus, aceitando-o como o seu Salvador (cf. Jo 1.12,13; Cl 2.6) e recebendo a sua Palavra como uma parte dEle mesmo (cf. 1 Ts 1.6; 2.13; 1 Tm 1.15). Assim o homem se identifica com Jesus e com a sua palavra! “Se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17). Essa aceitação de Jesus independe de um amplo conhecimen to das doutrinas da Bíblia. Aquele que sinceramente crer que Jesus é o Filho de Deus e o aceitar, experimenta logo o contato com Cristo Vivo, 160 SOTERIOLOGIA - A DOUTRINA DA S a LVAÇAO e é salvo e identificado com a nova vida (cf. A t 8.37; 16.31). Nesse contato com Jesus o crente: • Fica crucificado com Cristo (cf. G 12.20). • Está morto com Cristo (cf. G1 2.20). • Fica sepultado com Cristo (cf. Rm 6.4). • É vivificado com Cristo (cf. Ef 2.5). • E ressuscitado com Cristo (cf. C l 3.1). • Fica disposto até a sofrer com Cristo (cf. Rm 8.17). • Tem a esperança de ser glorificado com Cristo (cf. Rm 8.17). 1.5.3. Jesus é o autor da salvação A salvação é uma obra exclusiva de Jesus, não sendo possível alcançá-la pelos nossos méritos. Quando o pecador abre o seu coração e recebe a Jesus como Salvador, é unido de forma maravilhosa a Ele, entrando na rica experiência da salvação. A doutrina da salvação, que iniciamos com esse estudo, será dividida em três grandes partes, e, em cada uma delas, veremos que Jesus é o personagem central, aquEle que faz tudo em todos: • A experiência inicial da salvação. • Continuação da salvação. • A preservação da salvação. Que Deus, nesse estudo, abra os nossos olhos para que vejamos as maravilhas da sua graça, e venhamos a obter o “conhecimento de todo o bem que em vós há, por Cristo Jesus” (Fm 1.6). 2. A S alvação De todas as palavras empregadas para definir a experiência trans formadora que é o encontro do homem com Deus, “salvação” é a mais usada. 16i T EOLOGiA S ist e m á t ic a 2 .1 .0 QUE SIGNIFICA “ SALVAÇÃO” ? A palavra “salvação” significa, em primeiro lugar, ser tirado de um perigo, livrar-se, escapar. A Bíblia fala da salvação como a libertação do tremendo perigo de uma vida sem Deus (cf. A t 26.18; C l 1.13). Tradu ção da palavra grega soterion, tem a significação de “tomar ao estado perfeito”, ou “restaurar o que a queda causou”. A salvação desfaz, assim, as obras do Diabo (cf. 1 Jo 3.8). 2 .2 . A SALVAÇÃO É UMA EXPRESSÃO DO PODER DE Ü EU S Jesus, o autor da salvação, tem por nome “o Salvador” (cf. Lc 2.11; 2 Tm 1.10). Quando Simeão o viu no templo, disse: “Os meus olhos viram a tua salvação” (Lc 2.30). Jesus é a salvação de Deus, pois, através de sua morte na cruz, ganhou uma eterna salvação (cf. Hb 5.9), sendo-lhe dado “todo o poder no céu e na terra” (Mt 28.18). Por isso, Jesus tem poder para perdoar (cf. Mc 2.10). A todos os que o receberem, Ele lhes dá poder para serem feitos filhos de Deus (cf. Jo 1.11,12). O Evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (cf. Rm 1.16). Os homens estão sendo chamados para sua glória e virtu de (cf. 2 Pe 1.3). O poder do Espírito Santo opera para salvação dos pecadores (cf. Jo 16.8,9; Ap 22.17; lT s 1.5). 2.3. O RECEBIMENTO DA SALVAÇÃO A salvação é um dom de Deus (cf. Ef 2.8; Rm 6.23) concedido por sua graça (cf. Rm 5.15). Não vem pelas obras (cf. Ef 2.8). O Espírito Santo (cf. Jo 16.8,9) e a Palavra de Deus (cf. Rm 10.8,14-17) operam o despertamento no homem, fazendo a sua vontade buscar e aceitar a salvação. “Crer em Jesus” e “receber a salvação” são expressões sinônimas (cf. Jo 1.12,13). A fé salvadora se expressa pela oração a Deus em nome de Jesus. ‘Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (At 2.21). “Com a boca se faz confissão para a salvação” (Rm 10.10). No momento em que a pessoa se entrega a Jesus, com a sua boca começa a confessar sua alegria e gratidão. A certeza de ser salvo se manifesta (cf. Rm 10.9; SI 51.12). 162 SOTERtOLOGIA - A DOUTRINA DA SALVAÇÃO 2.4. As BÊNÇÃOS QUE ACOMPANHAM A SALVAÇÃO Muitas coisas acontecem na vida do homem que recebe a Jesuscomo seu Salvador. Vejamos: • Ele é salvo dos seus pecados (cf. Mt 1.21; Lc 7.50), que lhe são perdoados (cf. Lc 7.48; Tg 5.20). A salvação também livra da culpa (cf. Ef 1.7; Cl 1.14) e do poder do pecado (cf. Rm 7.17,20,23,25). • Ele é salvo do juízo (cf. 1 Tm 5.24; Rm 8.1), da ira de Deus (cf. Rm 5.9) e da morte eterna (cf. Tg 5.20; Ap 20.6). • Ele entra em comunhão com Deus (cf. Ef 2.13,18; Lc 1.74,75), recebe entrada na sua graça (cf. Rm 5.2) e toma-se cidadão do céu (cf. Ef 2.19). • Ele é salvo desta geração perversa (cf. At 2.40), isto é, recebeu uma nova posição em relação ao mundo (cf. Fp 2.15). • Ele é salvo do poder de Satanás (cf. A t 26.18; Cl 1.13,14,15; Hb 2.14). • Por ser salvo, ele tem no coração um lugar para o Espírito Santo agir em sua vida (cf. Ef 1.13; 2.16-18). • A salvação lhe dá viva esperança (cf. 1 Pe 1.3) e direito à glória etema (cf. 2 Tm 2.10; 4 1 8 ), e, assim, é salvo da ira de Deus (cf. 1 Ts 1.10; 5.9; 2 Pe 2.9). 2 .5 . A SALVAÇÃO ABRANGE A NOSSA VIDA EM TODOS OS SEUS ASPECTOS “Se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passa ram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17). A salvação provoca uma transformação total em nossa vida e em nossas relações com Deus, dan do-nos uma nova posição no mundo, perante o Inimigo. As experiências recebidas pela salvação se expressam por diferentes nomes, em cada um dos quais se vê um aspecto diferente dessa transformação por que passa o salvo. Vejamos esses nomes: • Arrependimento, expressa a mudança em nossa consciência, fa zendo-nos sentir remorso e tristeza pela vida sem Deus. • Conversão, expressa a nova atitude para com o mundo. 163 T EOLOGiA S ist e m á t ic a • Regeneração, exprime a nossa entrada na nova vida espiritual. • Justificação, significa a nossa nova posição diante da Lei de Deus. Todos esses nomes representam uma só e a mesma experiência da salvação. A diferença entre eles está em que cada nome representa um detalhe diferente da transformação operada por Deus. 3 . A C e r t e z a d a S a l v a ç ã o Eis a questão: “E possível a um homem, aqui na terra, obter certeza da sua salvação?” As respostas são muitas e diferentes. Alguns afirmam que isso não é possível, pois o homem é fraco e jamais se libertará do seu pecado. Outros declaram ser evidência de extremo orgulho alguém dizer que é salvo! Outros mais, ainda, dizem que isso é coisa que só no céu se saberá, isto é, se lá chegar ou não! A Bíblia, porém, define com exatidão esse assunto, coisa que iremos estudar agora. 3.1. A SALVAÇÃO É PARA TODOS A Bíblia declara que é possível a qualquer pessoa, aqui na terra, alcan çar certeza da sua salvação. Vejamos alguns procedimentos autorizados: • Jesus afirma que se pode receber essa certeza! Ele disse a Zaqueu: “Hoje, veio a salvação a esta casa” (Lc 19.9); à mulher pecadora afir mou: “A tua fé te salvou; vai-te em paz” (Lc 7.50), e ao malfeitor que se converteu na cruz: “Hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23.43). • Paulo experimentou essa certeza! Ele disse: “Eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu de pósito até àquele dia” (2 Tm 1.12). Também afirmou: “O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (cf. Rm 8.16). • Pedro também declara que é possível receber essa certeza. Diz o 164 SOTERIOLOGIA - A DOUTRINA DA SALVAÇÃO apóstolo: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo” (1 Pe 1.3), e também: “A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele crêem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome” (At 10.43). • João testifica que é possível obter a certeza: “Amados, agora somos filhos de Deus” (1 Jo 3.2); “Nós sabemos que passamos da morte para a vida” (1 Jo 3.14), e ainda: “Estas coisas vos escrevi, para que saibais que tendes a vida eterna” (1 Jo 5.13). 3.2 . Qual é o segredo da manifestação da certeza da salvação? 3.2.1. A c e r t e z a n o ín t im o d o c o r a ç ã o O próprio Deus encarrega-se de conceder a certeza àqueles que, confiando nEle, aceitam o seu convite. Toda a Trindade está direta mente envolvida na chamada do pecador: Deus (cf. Is 1.18), Jesus (cf. Mt 11.28) e o Espírito Santo (cf. Ap 22.17) dizem “VEM !” Quando o pecador vem a Jesus, é recebido (cf. Jo 6.37). Deus, então, como con firmação, envia o seu Espírito ao coração do penitente que começa a clamar: “Aba, Pai” (cf. G1 4.6), testificando com o nosso espírito que somos filhos de Deus (cf. Rm 8.16). Assim, a certeza da salvação nasce dentro do coração! A própria experiência da salvação é tão marcante e revolucioná ria que, por si própria, gera uma certeza absoluta. Vejamos algumas expressões que salientam o que significa ser salvo: “Para lhes abrires os olhos e das trevas os converteres à luz e do poder de Satanás a Deus” (A t 26.18), e: “Ele nos tirou da potestade das trevas e nos transportou para o Reino do Filho do seu amor” (C l 1.13). É impos sível ter uma experiência emocionante e penetrante sem que ela dei xe em nós uma certeza absoluta de que a experimentamos. Após a experiência, poderemos dizer, como o moço que Jesus curou de ce gueira: “Uma coisa sei, e é que, havendo eu sido cego, agora vejo” (Jo 9.25). Ninguém podia duvidar de que ele tivesse certeza do que lhe acontecera. 165 T EOLOGiA S ist e m á t ic a 3 .3 . D e que maneira se manifesta a certeza da salvação? Existem várias evidências reais da salvação recebida. Podemos falar de evidências internas e externas; porém, todas são aspectos que pro vam sermos filhos de Deus. 3.3.1. As e v id ê n c ia s in t e r n a s d a s a l v a ç ã o O testemunho do Espírito em nós evidencia o recebimento da sal vação! Já observamos que Deus envia o seu Espírito para testificar na alma daquele que se converteu (cf. G 14.6). Quando Deus escreve nos so nome no Livro da Vida (cf. Lc 10.20), Ele nos manda “o protocolo” pelo testemunho do Espírito Santo (cf. Rm 8.16; 1 Jo 3.24; 4.13). Devemos tomar cuidado para que esse testemunho em nós jamais si lencie (cf. Ef 4.30). O testemunho das Escrituras proporciona uma certeza maravilhosa em nossos corações. Recebemos o Espírito Santo pela salvação (cf. Rm 8.9,16; 1 Jo 3.24) que inspirou a Palavra de Deus (cf. 2 Pe 1.21; 2 Tm 3.16). Quando lemos a Bíblia, o Espírito Santo vivifica a Palavra, apli cando-a à nossa experiência, gerando a certeza: “...vos escrevi, para que saibais que tendes a vida eterna” (cf. 1 Jo 5.13). Através da Palavra tomamos conhecimento da verdade, e essa mesma verdade nos liberta, dando-nos certeza (cf. Jo 8.32). A própria experiência da salvação traz também uma evidência in terna: o fato de entrarmos em uma comunhão íntima com Deus (cf. 1 Jo 1.3; Ef 2.13; 1 Co 1.9). Por meio dessa comunhão, chegamos à presença do Senhor, onde há abundância de alegria e delícias perpetu amente (cf. SI 16.11). Essa sensação palpável da presença do Senhor, a paz e a tranqüilidade recebidas, são evidências convincentes de que somos filhos de Deus. A extinção do medo da morte e da eternidade, que a salvação pro porciona, é uma evidência palpável da salvação. Por que a experiência da salvação faz cessar o medo da morte? • Porque para os salvos não existe mais condenação (cf. Rm 8.1; Jo 5.24). 166 Soterjologia - A Doutrina da Salvação • Porque a morte constitui a porta pela qual chegamos à presença de Jesus (cf. F£ 1.21-23; 2 Co 5.8). • Porque, pela salvação, o crente recebe uma viva esperança (cf. 1 Pe 1.3). Ele é cidadão do céu (cf. Ef 2.19; Hb 12.22,23) e tudo que concerne às coisas do céu faz vibrar o seu coração de gozo (cf. Rm 15.13; 12.12). 3.3.2. As EVIDÊNCIAS EXTERNAS DA SALVAÇÃO Evidências externas são as que acompanham cada vida transforma da. Elas podem ser vistas pelos que “estão de fora” (cf. C l 4.5; 1 Co 5.12; 1 Ts 4.12; 1 Tm 3.7). Quando Saulo se converteu, o povo falava: “Aquele que já nosperseguiu anuncia, agora, a fé que, antes, destruía” (G1 1.23,24). As evidências externas também são chamadas “frutos do arre pendimento” (cf. Mt 3.8). São indispensáveis, pois a Bíblia diz: “Por seus frutos os conhecereis” (cf. Mt 7.16). Ou seja, aquele que não possui os frutos do arrependimento demonstra que ainda não se arrependeu. Quais são as evidências externas? • O crente salvo tem uma nova maneira de viver, porque a Bíblia diz: “Tudo se fez novo” (2 Co 5.17). Ele agora procede com justiça (cf. 1 Jo 2.29) e não vive mais dissolutamente (cf. 1 Pe 4.2,3). O crente pode errar, mas não pode viver no erro. A Bíblia diz: “Qualquer que permanece nele não peca” (1 Jo 3.6), e o “que é nascido de Deus não comete pecado” (1 Jo 3.9). Trata-se de uma ação contínua! Se o cren te errar, não pode permanecer no erro. Tem que deixar a falha, receber perdão e vencer o mal. Se assim não o fizer, o pecado se assenhoreia levando-o à perda da salvação. • O que é nascido de Deus guarda a Palavra do Senhor (cf. 1 Jo 2.3- 5), pois ela está escrita no seu coração (cf. Hb 8.10). O amor de Deus se expressa no guardar a sua Palavra (cf. Jo 14.15,21,23). • O que nasce de novo ama seus irmãos (cf. 1 Jo 3.14; 2.10; 4.7; 5.1). Essa evidência é tão séria que a Bíblia afirma: “Aquele que não ama não conhece a Deus” (1 Jo 4.8) e está em trevas (cf. 1 Jo 2.9,11; 3.15). 167 T EOLOGiA S ist e m á t ic a • Outra evidência importante no crente é que ele confessa o nome do Senhor (cf. 1 Jo 4-15; 2.23). Isso acontece porque o Espírito Santo está nele e testifica de Jesus no seu coração (cf. 1 Jo 2.20-24). Por isso, o crente sente prazer e fica impulsionado a confessar o nome do Senhor (cf. Mt 10.32; 1 Jo 4.2). 4 .0 A rrependimento O arrependimento expressa uma grande transformação no interior do homem, gerando nele remorso e tristeza pelo mal que praticou, le vando-o a pedir perdão a Deus e implorando força para viver uma nova vida. Arrependimento e conversão constituem uma só experiência, po rém exprimem dois lados dela (cf. A t 3.19). 4.1. A rrependimento: tema da pregação no início do C ristianismo João Batista pregou o arrependimento (cf. Mt 3.2). Jesus pregou ar rependimento. Os apóstolos pregaram arrependimento (cf. A t 2.38), e “Deus anuncia agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrepen dam” (cf. A t 17.30). 4 .2 .0 arrependimento surge como resultado de um despertamento 4.2.1. A rrependimento — operado pelo Espírito O Espírito Santo opera o arrependimento, aplicando-o à obra de Cristo na vida do homem, convencendo-o do pecado, da justiça de Cristo e do juízo vindouro (cf. Jo 16.8,9). O arrependimento também resulta da pregação da Palavra de Deus (cf. Mt 12.41). Quando Deus manifes ta-se aos homens, estes sentem-se humilhados, quebrantados e prontos a se arrependerem (cf. Jó 42.5,6). 4.2.2. Arrependimento — a contrição que salva O arrependimento opera uma verdadeira reviravolta na vida do homem. Aquele cuja mente, sentido e vontade estavam totalmente voltados para o mundo e para o pecado (cf. 2 Co 3.14; Ef 4.17; 1 Tm 1 6 8 Soteriologia - A Doutrina da SalvaçAo 6.10), de repente volta-se para Deus. Essa mudança é total, pois abrange tudo em siia vida. • O seu entendimento, antes obscurecido, sente o mal que praticou e compreende que Deus é o único caminho (cf. 2 Co 4.4). A sua consci ência desperta e lembra-lhe o mal que praticou no passado. • No seu sentimento há agora remorso e tristeza. O arrependimento traz ao homem uma contrição (cf. 2 Co 7.9), gerando nele uma mudan ça de atitude. Assim foi com o filho cujo pai solicitou-lhe que fosse trabalhar na sua vinha. Primeiro ele não quis; mas depois, arrependen- do-se, foi (cf. Mt 21.28,29). • Também a vontade fica dominada pelo poder do arrependimento. Ela se volta para Deus, desejando cumprir a sua vontade (cf. 1 Pe 4.2; Rm 6.17). 4.2.3. A rrependimento — canal aberto para a graça O arrependimento abre agora a porta para a manifestação da fé no coração do homem (cf. Rm 10.9): “Arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.15). A fé não é algo que vem do homem, mas é operada por Jesus — autor e consumador da fé — , pela Palavra de Deus (cf. Rm 10.17) e pelo Espírito Santo. É indispensável que a fé germine no coração do homem, pois sem fé é impossível agradar a Deus (cf. Hb 11.6). É necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele realmente existe (cf. Hb 11.6). Deus, embora invisível e desconhecido do homem, torna-se real e presente quando a fé é implantada no coração do penitente. A fé é a prova das coisas que não se vêem (cf. Hb 11.1) 4-2.4. A rrependimento — o milagre da fé Pela fé, o homem arrependido tem um encontro com Deus, encon tro que procura um milagre. O penitente é recebido por Deus, que o restaura perdoando-lhe os pecados pelos méritos de Jesus. E realmente um grande milagre! 169 T EOLOGIA S ist e m á t ic a 4.3. O QUE ACONTECE NO ENCONTRO ENTRE ÜEUS E O ARREPENDIDO? 4.3.1. A r r e p e n d im e n t o é a b a s e d a r e m i s s ã o d o s p e c a d o s ( c f . Lc 24.47; A t 5.31) Deus sempre quer perdoar os que confessam os seus pecados e os dei xam (cf. Pv 28.13; 1 Jo 1.9). Pelo arrependimento, o homem desamarra- se dos seus pecados e dos laços do Diabo (cf. 2 Tm 2.25,26). A Bíblia diz: “Tu perdoaste a maldade do meu pecado” (SI 32.5). Os pecados são apagados pelo arrependimento (cf. A t 3.19). 4.3.2. A r r e p e n d im e n t o p a r a a v id a ( c f . A t 11.18) O arrependimento leva o homem ao encontro com Jesus, aquEle que é a vida (cf. Jo 14.6). “Quem tem o Filho tem a vida “ (cf. 1 Jo 5.12). O crente pode dizer: Cristo é a minha vida (cf. C l 3.4). 4.3.3. A r r e p e n d im e n t o p a r a a s a l v a ç A o ( c f . 2 C o 7.10) Quando o homem volta-se para Deus, transforma-se pelo poder divi no. Tudo é agora novo (cf. 2 Co 5.17). O arrependido passa a buscar as coisas que são de cima (cf. C l 3.1-3), aborrecendo o pecado e amando a justiça, sendo ungido por Deus com o óleo da alegria (cf. Hb 1.9). 4-4. A rrependimento incompleto não traz o resultado desejado Na Bíblia encontramos vários exemplos de pessoas que, apesar de arrependidas, não alcançaram resultado espiritual, pois o seu arrependi mento foi incompleto. Vejamos alguns exemplos: • Faraó arrependeu-se, porém não deixou o mal (cf. Ex 10.16,17); por isso, não alcançou perdão e sucumbiu. • Caim arrependeu-se, porém não pediu perdão (cf. Gn 4.13,14); por isso, andou fugitivo. • Esaú chegou tarde demais, não achando lugar para arrependimen to, embora o tenha buscado com lágrimas (cf. Hb 12.17). • Judas arrependeu-se e até devolveu o prêmio do seu pecado, mas, em lugar de dirigir-se a Jesus, confessou-se aos sacerdotes, enforcando-se depois (cf. Mt 27.3-5). 170 SOTERIOLOCIA - A DOUTRINA DA SALVAÇÃO • O fariseu no templo compareceu diante de Deus; porém, não en xergou nem pressentiu pecado em si mesmo. Voltou para casa assim como veio — sem perdão (cf. Lc 18.11-14). 4 .5 . Os FRUTOS DO ARREPENDIMENTO (C F. Mt 3 .8 ; A t 26.20) • Rompimento total com o pecado (cf. Lc 3.10-14). • Alegria e comunhão com Deus (cf. Lc 15.7-10, 22,25). • Constitui plataforma para o recebimento das bênçãos do Espírito Santo (cf. A t 3.19; 2.38). Aleluia! 4 .6 . “ A rrepende-te!” Foi esse o conselho que Jesus deu aos crentes cujas vidas achou em falta quando escreveu às igrejas da Ásia Menor (cf. Ap 1.11-13). Os de Efeso haviam deixado o seu primeiro amor (cf. Ap 2.4,5); os de Pérgamo haviam se misturado com o mundo (cf. Ap 2.14-16); os de Tiatira haviam aberto a porta para o fanatismo (cf. Ap 2.20-22); os de Sardes estavam ameaçados de morte espiritual (cf. Ap 3.1 -3), e os de Laodicéia sofiriam de momidão (cf. Ap 3.15-19). A admoestação, porém, foi uma só: “Arre pende-te!” Isso significa que cada um deveria reconhecer, com tristeza, o mal apontado por Jesus e o descuido que tiveram. A mesma admoestação o apóstolo Pedrofez quando Simão, um novo convertido em Samaria que antes era mágico, estava sendo tentado a comprar o poder de Deus por dinheiro (cf. A t 8.18-24). Todo aquele que se arrepende alcança miseri córdia. Os que não se arrependerem encontrarão as suas faltas naquele dia em que serão julgados conforme as suas obras (cf. Lc 13.3-5; 19.42-44; Mt 23.36-38). Deus, portanto, “anuncia agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam, porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo” (At 17.30,31). 5. A C onversão A conversão e o arrependimento andam juntos (cf. A t 3.19 e 26.20). Enquanto o arrependimento se refere à mudança total do sentimento 171 T EOLOGiA S ist e m á t ic a do homem e à sua nova atitude para com Deus, a conversão expressa a nova posição para com o mundo, e representa, nesse sentido, uma mu dança da situação: o homem que vinha andando no caminho largo para a perdição, muda repentinamente a direção e passa a andar no caminho estreito para o céu (cf. Mt 7.13,14; Lc 13.24,25). 5.1. A CONVERSÃO É A PORTA PARA O REINO DE D EU S A Bíblia diz: “Se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos céus” (Mt 18.3). Jesus disse que aqueles que não entram pela porta são ladrões (cf. Jo 10.7-9). A conversão é indispensável, pois ninguém pode servir a dois senhores (cf. Mt 6.24). 5.2. As QUATRO FASES DA CONVERSÃO E Deus quem opera a conversão (cf. Lm 5.21; Jr 31.18), mas sempre de acordo com a vontade do homem. Estudando a doutrina da conver são, usaremos como modelo a parábola do “filho pródigo”, utilizada por Jesus no seu ensino (cf. Lc 15.11-24). 5.2.1. A PRIMEIRA FASE Despertado pelas tristes e cruéis circunstâncias da terra estranha, o filho pródigo começou a refletir sobre a sua própria situação. Lembrou-se de que na casa de seu pai tudo era bom e sentiu vivamente a miséria em que vivia (cf. Lc 15.14-17). Foi nessa reflexão que começou a sua conversão. É assim que o Espírito Santo opera quando desperta o homem a refletir e considerar a sua situação. A Palavra de Deus também faz o homem reconsiderar os seus atos (cf. Ez 18.27). Por ela, ele começa a pensar, a esquadrinhar (cf. Lm 3.40), a considerar (cf. SI 119.59) o seu caminho e os seus atos maus (cf. SI 64.9). Os seus olhos começam a ver coisas que antes não viam. No mundo não tem mais prazer; sente um vazio — é Deus que o chama. 5.2.2. A SEGUNDA FASE Enquanto o filho pródigo refletia sobre a sua situação em terra estranha, surgiram-lhe pensamentos sobre a necessidade de tomar a seu pai, à casa paterna. Ele começou a meditar sobre as vantagens que teria, caso voltasse. 1 7 2 Soteriologia - A Doutrina da Salvação No seu pensamento via-se voltando ao pai e pedindo-lhe perdão (cf. Lc 15.18). E essa a obra do Espírito Santo para a conversão do pecador. Os seus pensamentos, que no início estavam só para a miséria em que vivia, come çam a elevar-se às coisas de Deus; ele medita na Palavra e nas coisas que de cima tem ouvido. Depois de ter esquadrinhado os seus caminhos, um desejo começa a formar-se nele: “Voltemos para o Senhor” (Lm 3.40). 5.2.3. A TERCEIRA FASE Essa fase representa a própria decisão. Depois de meditar tanto sobre a sua miséria como sobre a sua necessidade de voltar, o filho pródigo resolveu: “E, levantando-se, foi para seu pai” (Lc 15.20). Agora vira as costas para a terra estranha, para a sua miséria, e olha o caminho em direção à casa do pai. Isso que é a conversão! Essa é a decisão a que cada pecador deve chegar. Os pensamentos que durante o tempo do desper- tamento o dominavam devem, agora, transformar-se em ação! Ação é a decisão que leva à conversão. Isso é possível quando o pecador expressa o seu desejo em uma oração a Deus, no nome de Jesus (cf. A t 2.21). Então Deus lhe dá o poder para deixar o mundo e voltar para Ele. 5.2.4. A QUARTA FASE O filho pródigo, ao retomar da terra estranha, encontrou o que é essencial na conversão: o pai que correu ao seu encontro para perdoá-lo, abraçá-lo, restaurá-lo (cf. Lc 15.20-24). Tudo voltou à normalidade! Essa é a experiência de todos os que se convertem a Deus. Diz a Palavra: “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós” (Tg 4.8). E, quando Deus chega, “todas as coisas são possíveis” (Mc 10.27). Vejamos o que acon tece no encontro do convertido com Deus: • Todos os seus pecados são perdoados (cf. Mc 4.12). • Jesus cura as feridas da alma causadas pelo pecado (cf. Mt 13.15). • Recebe um novo coração (cf. Ez 18.30,31). • O véu que impedia a visão espiritual é tirado (cf. 2 Co 3.16); a Bíblia diz: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus” (Mt 5.8). 173 T EOLOGiA S ist e m á t ic a 5.3. Os RESULTADOS DA CONVERSÃO Um novo testemunho (cf. G1 1.22-24; Mt 5.16; 1 Pe 4.1-4). Novas bênçãos (cf. A t 3.19): os tempos do refrigério chegaram. Tudo aquilo que antes impedia as bênçãos foi tirado pela conversão. Uma nova in cumbência: “Quando te converteres, confirma teus irmãos” (Lc 22.32). Um novo alvo: o céu! Os convertidos poderão entrar no Reino de Deus (cf. Mt 18.3; Lc 23.43). 6 . A R e g e n e r a ç ã o A regeneração expressa a experiência do recebimento da nova vida, da vida eterna. Isso acontece quando o homem se encontra com Deus na busca da salvação. Esse é um assunto profundo que contém ensinos substanciais. 6.1. O QUE SIGNIFICA A REGENERAÇÃO? 6.1.1. D e f in iç ã o Regeneração ou novo nascimento significa o ato sobrenatural em que o homem é gerado por Deus (cf. 1 Jo 5.18) para ser seu filho (cf. Jo 1.12) e participante da natureza divina (cf. 2 Pe 1.4). 6.1.2. É A ENTRADA NO R e INO O novo nascimento significa a entrada do homem no Reino de Deus (cf. Jo 3.3). Ninguém pode ser contado como cidadão antes de nascer. Do mesmo modo, ninguém pode pertencer ao Reino de Deus antes de nascer de novo. A Bíblia diz: “O Senhor, ao fazer descrição dos povos, dirá: Este é nascido ali” (SI 87.6). São os nascidos de novo que são ins critos no Livro da Vida (cf. Lc 10.20). 6.1.3. É UM MILAGRE Nenhum homem pode, através de suas faculdades mentais (cf. 1 Co 2.14), compreender o novo nascimento. Até Nicodemos, um príncipe 174 SOTERIOLOCIA - A DOUTRINA DA SALVAÇÃO (cf. Jo 3.1) e mestre em Israel (cf. Jo 3.10), não entendeu a significação dessa afirmativa. Por isso perguntou a Jesus: “Porventura, pode tomar a entrar no ventre de sua mãe e nascer?” (Jo 3.4) É por meio de um milagre que o homem passa de um estado inferior, o terreno, para um estado superior, o celestial! Foi por meio de um mila gre (cf. Lc 1.31-35) que Jesus, no seu estado superior no céu, aniquilou- se a si mesmo, tomando a forma de homem (cf. Fp 2.6-8), um estado inferior, pois foi feito “um pouco menor do que os anjos” (Hb 2.9). E um verdadeiro milagre quando o homem, pela regeneração, passa de peca dor miserável e condenável para cidadão do Reino de Deus, por ter sido tomado uma nova criatura (cf. 2 C o 5.17) que se assentará nos lugares celestiais em Cristo (cf. Ef 2.6). O novo nascimento é um milagre porque se trata da vivificação de um homem morto no pecado (cf.E f 2.1-4; C l 2.13; 1 Tm 5.6) e separado de Deus pela ignorância e pela dureza de coração (cf. Ef 4.19), que ago ra, regenerado, ressuscita juntamente com Cristo para uma nova vida (cf.E f 2.5,6). Esta experiência aparece na Bíblia sob diferentes nomes: • Nascer de novo (cf. Jo 3.3). • Nascer da água e do Espírito (cf. Jo 3.6). • Criado em Jesus Cristo (cf. Ef 4.24; Cl 3.10). “Se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17). • Sendo de novo gerados (cf. 1 Pe 1.3). • Nascido de Deus (cf. 1 Jo 3.9; 5.18; 4.7); “de Deus é gerado” (1 Jo 5.18); “dele nascido” ( l j o 2.29). 6 .2 . C omo se processa a regeneração do homem? 6.2.1. Pelo batismo? O novo nascimento não é realizado pelo batismo nas águas. Quando Jesus falou de nascer da água e do Espírito (cf. Jo 3.5),referiu-se ao batismo nas águas, mas usou a palavra “água” como uma figura da opera 175 T EOLociA S ist e m á t ic a ção de Deus pela sua Palavra. Veja a expressão em Efésios 5.25,26: “Pela lavagem da água, pela palavra”. Compare com Tito 3.5: “Pela lavagem da regeneração [é a Palavra de Deus que regenera, cf. 1 Pe 1.23] e da renovação do Espírito Santo”. Quando Pedro fala em sua Primeira Epís tola (3.21), diz: “Como uma verdadeira figura, agora vos salva, batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus”. Aqui se vê que o batismo é apresenta do como uma verdadeira figura, mas o que opera a salvação é a consci ência que clama a Deus. N a Bíblia observamos que só foram batizados aqueles que já eram regenerados. 6.2.2. P e l a v o n t a d e h u m a n a ? O novo nascimento também não é operado pela “vontade do ho mem” (cf. Jo 1.13). Aqui se vê que são inúteis todos os esforços, idéias e sistemas que os homens possam inventar para a sua própria salvação. Existem doutrinas que ensinam autocontrole, meditação e esforços men tais para alcançar um estado superior. Porém nada disso tem valor para fazer o homem nascer de novo. Jesus disse: “nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus” (Jo 1.13). 6.2.3. S o m e n t e p e l a v o n t a d e d e D e u s O novo nascimento é operado pela vontade de Deus (cf. Jo 1.13). E Deus quem realiza a obra, conforme a sua vontade, e isso pelo poder do Espírito Santo. Toda a Trindade opera na realização do novo nasci mento: • O Espírito Santo é o agente que leva o homem ao novo nascimen to. Ele faz isso convencendo o homem do pecado, da justiça e do juízo (cf. Jo 16.8,9). Abre-lhe a mente e o entendimento para compreender a vontade de Deus (cf. 2 Co 4.6; 1 Tm 2-4). despertando-lhe o desejo de ser salvo. • O Espírito Santo usa como instrumento a Palavra de Deus, a qual vivifica (cf. Jo 6.63). A Palavra em si tem poder regenerador (cf. 1 Pe 1.23,25; Tg 1.18), pois ela é a palavra da cruz (cf. 1 Co 2.1-5). Por isso, 176 Soteriolocia - A Doutrina da Salvação a pregação dó Evangelho tem uma grande significação. Paulo disse: “Eu, pelo evangelho, vos gerei em Jesus Cristo!” (1 Co 4.15) • O Espírito Santo leva o homem à decisão de receber a Jesus, que, pela sua morte e ressurreição (cf. 1 Pe 1.3), ganhou salvação para todos. Quando o homem recebe a Jesus lhe é dado o poder de ser feito filho de Deus (cf. Jo 1.12). O receber a Jesus e a fé são sinônimos (cf. Jo 1.12,13). Quando Jesus quis explicar como essa fé regeneradora se expressa no ho mem, usou como figura o levantamento da serpente de metal no deserto, por Moisés (cf. Nm 21.9; Jo 3.14,15). O ato de alguém olhar para a ser pente produzia-lhe cura da mordedura venenosa. Esse olhar corresponde à fé salvadora que leva o homem a aceitar a Jesus como seu Salvador. Pela fé ele recebe o poder que vence o veneno do pecado e traz nova vida para o salvo. O milagre acontece! Os homens nascem de novo! Aleluia! 6 .3 . Que acontece na vida do homem quando é regenerado? Já observamos que recebemos, pela regeneração, uma nova vida. Ve jamos de que maneira essa vida se manifesta e como reage: 6.3.1. Pelo novo nascimento Essa nova natureza é Cristo em nós (cf. Cl 3.4). Qualquer que é de novo gerado, é gerado de “uma herança incorruptível” (1 Pe 1.23), “a sua semente [de Deus] permanece nele” (1 Jo 3.9). O crente nasceu de novo pela semente divina e, por isso, é participante da divina natureza (cf. 2 Pe 1.4), e também participa da santidade de Deus (cf. Hb 12.10). Cumpre-se o milagre que Ezequiel predisse: “E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis” (Ez 36.26,27). Quando a vara é enxertada na árvore, ela se toma partici pante, não só da raiz e da seiva (cf. Rm 11.17), mas também da natureza da árvore, o que se verifica na qualidade do fruto que essa vara agora produz (cf. Jo 15.1-5). Assim também acontece com aqueles em cujas vidas, pelo novo nascimento, operou a influência divina. Essa influência os impulsiona a andar nos caminhos do Senhor: “Ou dizeis que a árvore é 1 7 7 T EotOGiA Sistemática boa e o seu fruto, bom, ou dizeis que a árvore é má e o seu fruto, mau” (Mt 12.33-35). Que milagre! Que maravilha é o novo nascimento! Por meio dessa operação da graça divina, Deus restaura a imagem da sua semelhan ça moral no homem, pois para isso o criou (Gn 1.26,27). 6.3.2. A NOVA VIDA EXECUTA UM DOMÍNIO TRANSFORMADOR SOBRE O HOMEM Ele, antes, estava escravizado pela própria carne. Agora, pelo novo nascimento, tomou-se um filho de Deus (cf. Jo 1.12), um ser livre, um súdito do Reino de Deus (cf. Jo 3.5; Ef 2.19). Tudo aconteceu porque o Espírito Santo agora habita nele (cf. 1 Co 3.16; 6.19; Rm 8.9), e exerce domínio sobre ele de modo total, o que deu origem à transformação da sua personalidade. O homem recebe, pois, pela regeneração, tanto uma nova direção sobre sua vida, como poder de Deus para seguir essa dire ção. O homem regenerado sente que, agora: • Seu pensamento mudou; ele pensa diferentemente, de conformi dade com a vontade de Deus (cf. C l 3.10; Fp 4.7). • Seu entendimento se abriu para as coisas de Deus, pois antes não as entendia (cf. 1 Co 2.15; 2 Co 4.6) e Deus o renova para o conheci mento (cf. Cl 3.10). • O seu sentimento registra o gozo pela presença de Deus (cf. SI 16.11); agora ele ama a Deus (cf. 1 Jo 4.19) e aos irmãos (cf. 1 Jo 3.14). • A sua vontade, que antes era escravizada pela carne (cf. Ef 2.2,3; Is 53.6), conforma-se com a vontade de Deus (cf. Mt 6.10; 1 Pe 1.22; 4.2; A t 13.22). • A sua consciência, agora purificada (cf. Hb 9.14), toma-se sensí vel à direção de Deus (cf. Rm 2.15). • Não está mais debaixo da carne, mas do Espírito (cf. Rm 8.9). A sua carne, a sua velha natureza, não foi aniquilada, pois ele a possui ainda, porém ela está dominada pela nova natureza e foi entregue à morte (cf. G 15.16,17; Rm 8.12,13), a cruz (cf. G1 2.20). 178 SOTERJOLOGIA - A DOUTRINA DA SALVAÇÃO 6 .3 .3 . O NOVO NASCIMENTO PROPORCIONA UMA LAVAGEM DE REGENERA ÇÃO ( c f . T t 3 .5 ) Onde o pecado abundou e manchou a vida do homem, agora trans borda a graça manifestada pela regeneração. Há uma lavagem completa, que toma o homem, diante de Deus, “alvo mais do que a neve” (cf. SI 51.7; Is 1.18) e sem mácula (cf. Ef 5.25-27). “Oh! Que precioso sangue, sangue de Jesus!” 6.3.4. O NOVO NASCIMENTO PROPORCIONA UMA ÍNTIMA COMUNHÃO COM J esu s “Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (1 Jo 5.4,5) O que nasceu de novo vive e se move em Jesus (cf. A t 17.28). Jesus disse: “Estai em mim, e eu, em vós” (Jo 15.4). Por Jesus estar em nós, “o ho mem velho”, a nossa natureza caída que antes atendia às tentações do mundo (cf. Ef 2.2,3), agora está crucificado (cf. Rm 6.8) e despido (cf. Ef 4.22), e assim ficamos livres da lei da morte (cf. Rm 8.2). Cristo está em nós; é a nossa força (cf. Fp 4.13). Por isso, aquele que é nascido de Deus vence o mundo. Essa transformação interna que a regeneração nos oferece, por Cristo viver em nós, também opera uma transformação ra dical na nossa vida exterior — não mais nos conformamos com o mun do (cf. Rm 12.2). A Bíblia diz: “Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado” (1 Jo 3.9). Isso significa que não mais podemos viver em pecado, isto é, continuamente pecando. Se surgir algum problema, se chegarmos a pecar, nossa nova natureza imediatamente nos impulsi ona a buscar perdão, restauração, renovação da íntima comunhão com Deus, que, pelo pecado, ficara interrompida (cf. 1 Jo 2.1,2). Assim po deremos continuar vencendo o mundo. Aleluia!6.3.5. O NOVO NASCIMENTO PROPORCIONA COMUNHÃO AOS QUE NASCE RAM DE NOVO (1 JO 5.1) O crente agora ama seus irmãos (cf. 1 Jo 3.14; 4.7). Essa é a base da comunhão que os crentes gozam andando na luz (cf. 1 Jo 1.7). Se não tem 179 T EOLOGiA Sistemática amor é porque perdeu o seu “documento”, a sua identidade como crente (cf. 1 Jo 2.11). Aquele que nasceu de novo é herdeiro de Deus e co-her- deiro de Cristo (cf. Rm 8.16,17), e pode entrar no Reino de Deus (Jo 3.5), onde verá a Jesus, assim como Ele é (1 Co 13.12; 1 Jo 3.1-3). Aleluia! 7 . A J u s t i f i c a ç ã o A doutrina da justificação é uma das mais importantes da Bíblia. Essa doutrina — a justificação pela fé — foi o grito de libertação quan do, no obscuro século XVI, iniciou-se a abençoada Reforma, na qual Deus usou Lutero. 7.1. D efinição da palavra “ justificação” “Justificação é um ato da graça de Deus, pelo qual Ele imputa à pes soa que crê em Jesus a justiça de Cristo, declarando-a justa”. Deus, na justificação, trata o homem arrependido conforme os méritos da pessoa de seu Mediador, Jesus Cristo. Enquanto “regeneração” expressa a nova natureza que o homem recebe pela salvação, justificação se refere à sua nova posição jurídica, diante da justiça divina. 7.2. A POSIÇÃO DO HOMEM PECADOR DIANTE DA JUSTIÇA DE DEUS A Bíblia afirma: “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Todos são culpados (cf. Rm 3.9), ninguém é justo (cf. Rm 3.10; Jó 25.4), todos os pecados estão escritos no livro de Deus (cf. Ap 20.12) e também registrados na sua consciência (cf. Jr 17.1). Todos es tão debaixo da condenação (cf. Rm 3.19; 2.2,3; 1 Tm 5.24). Nenhum homem tem condições próprias para livrar-se da sua culpa. Adão e Eva procuraram fazer vestes, mas isso não resolveu o seu problema diante de Deus (cf. Gn 3.7-10). Nem mesmo o sacrifício inventado por Caim foi eficiente (cf. Gn 4.3; Is 64.6). Boas obras não justificam o homem diante de Deus (cf. G12.16; Ef 2.8,9). Jesus disse que “se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos céus” (Mt 5.20). E a justiça dos fariseus se baseava em obras próprias (cf. Lc 18.14). 1 8 0 SOTERIOLOGIA - A DOUTRINA DA SALVAÇÃO Não existe ser algum em todo o universo que tenha condições de justificar o homem diante de Deus. Por isso todas as religiões, em todo o mundo, que procuram justificar o homem diante de Deus por obras são falhas; não produzem justificação. Diante dessa situação triste e desesperadora, o homem pergunta: “Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24) e: “Como se justificaria o homem para com Deus?” (Jó 9.2) A Bíblia responde: “Esta é a herança dos servos do Senhor e a sua justiça que vem de mim, diz o Senhor” (Is 5417). 7.3 . C risto é a nossa justiça 7.3.1. A justiça de Deus é perfeita e imutável Deus jamais pode usar “dois pesos e duas medidas”. Ele feriria a sua justiça caso perdoasse ao pecador sem um meio eficaz de perdão, porque disse: “O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). 7.3.2. Deus providenciou um sacrifício perfeito Deus então, no seu grande amor, providenciou o sacrifício do seu próprio Filho para, por esse ato, satisfazer a justa exigência da justiça divina (cf. Jo 3.16). Isso foi possível porque: • Jesus, para ser mediador entre Deus e os homens, tinha de ser ho mem (cf. Fp 2.6-8; Hb 2.14). • Jesus tinha de tomar sobre si a culpa dos homens. A tremenda dívida na conta humana diante de Deus tinha de ser transferida para a conta de Jesus. Foi por isso que Jesus se tomou devedor diante da lei de Deus. A Bíblia diz que Ele foi feito pecado por nós (cf. 2 Co 5.21) e até tomou-se maldição por nós (cf. G13.13). Isso aconteceu quando Ele, no Getsêmani, tomou o cálice que continha a nossa culpa (Lc 22.42). • Jesus morreu cumprindo a sentença que nossos pecados mereci am. O justo morreu pelos injustos (cf. 1 Pe 3.18). Ele levou as nossas transgressões (cf. Is 53.10,4,5). Aniquilou-se o nosso pecado pelo seu sacrifício, o sacrifício de si mesmo (cf. Hb 9.26; Ef 5.2), e proporcio nou, assim, condições para a remissão dos nossos pecados e para a nos sa justificação. 181 T eolocia Sistemática 7.3.3. Jesus tornou-se a nossa justiça (cf. Jr 23.6) Ele é a nossa justiça porque tudo o que fez, fez por nós, em nosso favor, como o nosso substituto diante de Deus e da Lei. A Bíblia diz que “por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para a nossa justificação” (Rm 4.24,25). Quando Jesus verteu o seu sangue nesse sacrifício inigualável, abriu-se a fonte da graça para a justificação de todo aquele que nEle crê (Rm 5.9; 1 Pe 1.18,19; C l 1.20). 7.4. D eus se torna justificador por meio do sacrifício de C risto 7.4.1. Jesus morreu pelos pecados de todo o mundo (cf. 1 Jo 2.2) Cumpriu-se, assim, a afirmação de João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). N a cruz estavam inclu ídos os pecados de todos os crentes que, no tempo do Antigo Testa mento, haviam crido em Deus e oferecido sacrifícios pelos seus peca dos, conforme o mandado do Senhor. Estes haviam sido perdoados por Deus, mas seus pecados não foram tirados, “porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire pecados” (Hb 10.4). O perdão que receberam foi “debitado” na conta de Jesus, sob a paciência de Deus (cf. Rm 3.25), aguardando o verdadeiro sacrifício que Ele, na consu mação dos séculos, iria cumprir (cf. G1 4.4,5). Todos eles morreram sem ver o Prometido (cf. Hb 11.13). Seus espíritos, porém, aguarda vam no “Seio de Abraão” a remissão prometida. Quando Jesus, na cruz do Calvário, exclamou: “Está consumado” (Jo 19.30), foi completada também a remissão desses pecados. Deus demonstrou assim a sua justi ça “pela remissão dos pecados dantes cometidos” (Rm 3.25). Como resultado dessa remissão, os espíritos dos crentes dos tempos do A nti go Testamento foram levados do “Seio de Abraão” (cf. Lc 16.23) para o Paraíso (cf. Lc 23.43; Ef 4.8), onde aguardam a ressurreição dos jus tos na vinda de Jesus (cf. 1 Ts 4.14-17). 7.4.2. T odos os que agora crêem “estão em C risto” (cf. Rm 8.1; 2 C o 5.17) E é por essa aceitação que são declarados justos, porque Jesus é a sua justiça (cf. Jr 23.6). Quando Deus olha para o crente, Ele o vê através da 182 SOTERIOLOGIA - A DOUTRINA DA SALVAÇÃO pessoa de Jesus, na qual todos somos feitos justiça de Deus (cf. 2 Co 5.21). Pela conta credora de Jesus (que não se esgota) foi feito o paga mento do nosso débito, que agora já não mais existe. Assim, o crente pode, vestido do manto da justiça de Jesus (cf. Is 61.10), apresentar-se diante de Deus justificado. Aleluia! 7.5. D e que maneira é justificado o homem? 7.5.1. O CAMINHO DA JUSTIFICAÇÃO A Bíblia mostra o caminho da justificação ao afirmar: “Justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue” (Rm 3.24,25). Vemos assim que a justificação é oferecida por Deus pela sua graça (favor imerecido), que Ele agora pode mostrar, por causa da redenção efetuada por Jesus, que remiu o homem vertendo o seu precioso san gue. Deus agora apresenta Jesus como o único meio da justificação e todo aquele que crer no seu sangue, isto é, que aceitar o sacrifício feito por Jesus em seu próprio favor, é justificado, ou seja, declarado justo diante de Deus. 7.5.2. Esse ca m in h o d a ju st ific a ç ã o é ú n ic o É único para grandes e pequenos, para ricos e pobres, para dirigentes e dirigidos! A todos quantos queiram ser justificados, lhes é imposta uma só condição: crer no valor do sangue de Jesus para perdoar e para justificar (cf. Rm 3.25). 7.5.3. Ess e ca m in h o n ã o a dm ite vangló ria A fé com a qual o homem crê no sangue justificador de Jesus não constitui nenhum mérito. Representa apenas a aceitação da graça, isto é, do meio que Deus oferece para a nossa justificação (cf. Rm 4.5,21; A t 13.39). A fé exclui as obras e, assim, não deixanenhum lugar para a jactância (cf. Rm 3.27), pois o homem é justificado pela fé sem obras (cf. Rm 3.28; G1 2.16). Se a nossa justificação dependesse das obras, ninguém se salvaria, pois nenhum homem conseguiu cumprir a lei. Assim, permaneceríamos todos debaixo da maldição (cf. G1 3.10). 183 T EOLOciA Sistemática Quando Tiago escreveu “que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé” (Tg 2.24) não estava contradizendo Paulo, mas com pletando o pensamento deste. Tiago mostra que a verdadeira fé sem pre é acompanhada pelas obras (que são um resultado da fé) e que a fé sem obras é morta. Ainda segundo Tiago, a fé sem obras, conseqüente- mente, nada obtém de Deus (cf. Tg 2.14-22). As obras que acompa nham a fé são chamadas de “frutos da justiça” (cf. 2 Co 9.10), consti tuindo-se em evidência de que uma fé viva opera na vida daqueles que as praticam. 7.6. Os RESULTADOS DA JUSTIFICAÇÃO NA VIDA DO HOMEM São muitos e maravilhosos os resultados da justificação em nossas vidas. Devemos avançar para que desfrutemos de tudo aquilo que Deus preparou para os justificados pela sua graça. 7.6.1. “ S e n d o , p o is , ju st if ic a d o s pela fé , t e m o s paz c o m D e u s” (Rm 5.1) Essa paz não é somente um sentimento agradável de sossego e tran- qüilidade, mas é como um estado de “pós-guerra”, quando a beligerân cia cessa e as relações interrompidas são reatadas. O homem que vive em pecado está separado de Deus (cf. Is 59.2) e debaixo de sua ira (cf. Ef 2.3). Quando é declarado justo, entra em um estado de paz com Deus, experimentando harmonia com a divindade, pois passa a ter livre acesso a Deus (cf. Ef 2.18; Rm 5.2). 7.6.2. “ T em o s e n t r a d a p e la fé a e s t a g r a ç a , n a q u a l e s t a m o s firmes” (Rm 5.2) As bênçãos que acompanham a permanência na graça são grandes. Os crentes crescem na graça (cf. 2 Pe 3.18) e essa se manifesta de muitas maneiras para o enriquecimento da vida espiritual dos servos do Se nhor. Vejamos algumas dessas bênçãos: • “Nos gloriamos na esperança da glória de Deus” (Rm 5.2). Para os que são “declarados justos”, Deus concede a alegria de participar da sua 184 S q t e r io l o c ia - A D o u t r in a d a S a l v a ç ã o glória. É uma bênção que eleva os nossos corações às coisas que são de cima (cf. Cl 3.1-3; 1 Ts 1.9,10; T t 2.13). • “Nos gloriamos nas tribulações” (Rm 5.3). Os sofrimentos que apa recem na vida não abaterão o crente, pois a alegria que Deus lhe deu com a justificação opera nele e é a sua força (cf. Ne 8.10). Em lugar de gemer, se alegra, pois para o crente a tribulação produz paciência, expe riência e esperança (cf. Rm 5.3-5). • A graça, na vida do justo, constitui também uma certeza da pre sença do Espírito Santo que derrama o amor de Deus em seu coração (cf. Rm 5.5). Assim, com a fé e o amor que há em Cristo, a graça transborda (cf. 1 Tm 1.14). E bem verdade que “bênçãos há sobre a cabeça do jus to” (Pv 10.6). Assim, “todos nós recebemos também da sua plenitude, com graça sobre graça” (Jo 1.16). 7.6.3. A JUSTIÇA TORNA O CRENTE OUSADAMENTE INABALÁVEL (CF. Rm 8.21-29) A graça de Deus opera no crente tomando manifestos as seguintes declarações da Palavra de Deus: • “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8.31) • “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes, o en tregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coi sas?” (Rm 8.32) • “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8.33). • “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas so mos mais do que vencedores, por aquele que nos amou” (Rm 8.35-37). 7.6.4. A JUSTIÇA É ACOMPANHADA DE FRUTOS (CF. Fp 1.11; Pv 12.17) Isso significa que a justiça é posta em prática e opera na maneira de viver do crente (cf. Hb 11.33; 1 Jo 2.29; 1 Ts 2.10). As obras justas que 1 8 5 T EOLociA Sistemática o crente pratica estão diante dos olhos do povo (cf. Mt5.16; 1 Pe 2.12,15), Elas são prova de que “Cristo vive em mim” (cf. G 12.20; 2 Co 4.10,11). 7.6.5. O CAMINHO DOS JUSTOS É SEMPRE APERFEIÇOADO “A vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4.18), pois aquele que é justificado tem um perpétuo fundamento (cf. Pv 10.25) e não se abala (cf. Pv 10.30), pois tem segurança (cf. Is 32.17). O Reino de Deus é justiça (cf. Rm 14-17), pelo que o crente é vestido com o “linho fino” da justiça dos santos (cf. Ap 19.7,8). Por isso o justo alegra-se esperando a vinda de Jesus, que é a nossa justiça (cf. Jr 23.6). E é pelo poderoso sangue do Cordeiro, que nos purificou, que entraremos na sua glória (cf. Ap 7.14; 22.14) e seremos coroados com a coroa da justiça (cf. 2 Tm 4.8). 8 . A S a n t i f i c a ç ã o 8.1. Que significa santificação? Podemos estudar a santificação sob vários aspectos, que, juntos, nos dão uma compreensão mais ampla dessa doutrina que a Bíblia afirma ser a von tade de Deus: “Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1 Ts 4 3). 8.1.1. Definição de santificação Santificação é, em primeiro lugar, a continuação da obra salvadora na vida do crente. A Bíblia afirma: “Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o Dia de Jesus Cristo” (Fp 1.6). Essa “boa obra” começou pela salvação, quando recebemos a Jesus como nosso Salvador (cf. Jo 1.12). Ele entrou na nossa vida (cf. Ap 3.20; G 12.20) e nós mor remos para o mundo (cf. C l 3.1-3), ocasião em que nos tomamos parti cipantes de uma nova natureza (cf. 2 Pe 1.4). Afinal, “tudo se fez novo” (2 Co 5.17). A mesma obra é agora aperfeiçoada pela santificação, através da qual Deus faz com que a nova natureza recebida pela salvação domine a ve lha natureza, para que a carne não receba mais ocasião (cf. G1 5.13). IRfi Soteriolocia - A Doutrina da Salvação Dessa maneira Jesus fica formado em nós (cf. G1 4.19) e nos tomamos um mesmo espírito com o Senhor (cf. 1 Co 6.17). João Batista se ex pressou sobre isso: “E necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). Desta maneira, a vida de Jesus se manifestará em nossa carne mortal (cf. 2 Co 4-10,11; G12.19) e isso terá influência santificadora em toda a nossa maneira de viver (cf. 1 Pe 1.15,16). A nossa vida tomou-se agora distinguidamente honesta (cf. 1 Ts 4.12) e com moral elevada (cf. 1 Ts 4.3,4). 8.1.2. Os ASPECTOS DA SANTIFICAÇÃO O significado da santificação pode ser subdividido em três aspectos: • A santificação significa uma separação do mal. A Bíblia diz: “Ser- me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo e separei-vos dos povos, para serdes meus” (Lv 20.26). Paulo destaca esse sentido da santificação quando, na sua carta aos coríntios, mostra a necessidade de deixarmos o mal (cf. 2 Co 6.14-16) e nos apartarmos de tudo o que é imundo (cf. 2 Co 6.17), para que possamos ser recebidos como filhos e filhas do Senhor Todo-poderoso (cf. 2 Co 6.18). Nessa separação do mal, o cren te resolve, de coração, entregar a Deus tudo o que na sua vida pertence ao pecado e ao mundo para agradar a Deus (cf. 2 C o 7.T, 5.9; Ef 5.10). Assim, o crente se aparta do mal para fazer o bem (cf. SI 34.14; 37.27; 1 Pe 3.11). Isto é um processo, pois Deus vê essa atitude do crente e continua purificando-o, libertando-o, aperfeiçoando-o e santificando-o no temor de Deus (cf. 2 Co 7.1). Ele é transformado em sua maneira de viver (cf. 1 Pe 1.15,16). Desta forma, a justiça da lei se cumpre em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito (cf. Rm 8.4). O crente agora é “carimbado” pelo sinete da santificação. Esta é a pro messa de Jesus ao vencedor: “Escreverei sobre ele o nome do meu Deus” (Ap 3.12). • A santificação significa também uma separação para Deus. Aquela vida que foi separadado mundo fica agora, pela santificação, entregue a Deus para pertencer a Ele e servi-lo. Jesus disse: “Por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade” (Jo 1 8 7 T EOLOCIA Sistemática 17.19), isto é, Ele entregou a sua vida pura e perfeita a Deus para servir à causa gloriosa da nossa salvação. Esse aspecto da santificação é muito importante. As nossas vidas já pertencem a Deus porque fomos compra- dos por Ele por um bom preço (cf. 1C o 6.19,20; 1 Pe 1.18,19; A t 20.28). “Foi para isto que morreu Cristo e tomou a viver; para ser Senhor tanto dos mortos como dos vivos” (Rm 14 9) e “para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5.15). Pela santificação o crente se entrega voluntariamente a Deus (cf. Rm 12.1,2; 2 Co 8.5; Pv 23.26) e dá “a Deus, o que é de Deus” (Mt 22.21), colocando-se à disposição do seu Senhor (cf. Rm 6.19). Ele pode falar de coração: “O meu amado é meu, e eu sou dele” (C t 2.16; cf. A t 27.23; Ml 3.17). • A santificação também significa um revestimento da plenitude de Cristo. Os mesmos crentes que foram separados do mundo e entregues a Deus ficam cheios da plenitude do Senhor (cf. Ef 3.19) e “enriquecidos da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus — Cristo” (Cl 2.2; cf. Ef 1.23). Quando Moisés consagrou ao Senhor o tabernáculo que havia construído conforme o modelo recebido, Deus permitiu que esse tabernáculo fosse cheio da sua glória (cf. Êx 40.34- 36). Deus também deseja agora que nós, pela obra santificadora, receba mos “da sua plenitude, com graça sobre graça” (Jo 1.16). Assim, o cren te é transformado “de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Co 3.18). 8.1.3. A EXPERIÊNCIA DA SANTIFICAÇÃO Quanto à experiência da santificação, podemos ainda distinguir três aspectos diferentes: • A santificação posicionai, isto é, a nossa posição como santos em Cristo: “O qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santifi cação, e redenção” (1 Co 1.30). A Bíblia afirma: “Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para estabelecer o segundo. Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo” (Hb 10.9,10). Assim, a nossa santificação é preparada por meio de Cristo, pelo seu precioso sangue (cf. Hb 13.12). IRR SoTERioLOGiA - A Doutrina da Salvação • A santificação experimental, quando a santificação preparada por Cristo é posta em prática pela maneira de viver do crente. Enquanto o crente, pela justificação, é declarado justo pelos méritos de Jesus (cf. Rm 3.24,25), pela santificação é aperfeiçoado em uma experiência progres siva (cf. 2 Co 7.1) e transformado de glória em glória (cf. 2 Co 3.18). Assim, a vida do cristão vai brilhando mais e mais (cf. Pv 4.18) e ama durecendo e se aperfeiçoando. • A santificação final, que acontecerá quando Jesus vier nas nuvens. Enquanto o crente vive neste mundo, continua desejando um maior aperfeiçoamento através da santificação. Por isso, ele sempre sente ne cessidade de buscar mais as coisas que estão mais à frente, prosseguindo para alcançar o alvo (cf. Fp 3.13,14). Quando Jesus se manifestar na sua vinda, nós também nos manifestaremos com Ele em glória (cf. Cl 3.4). Então teremos chegado ao final da santificação, “porque assim como é o veremos” (1 Jo 3.2). Receberemos, assim, “a imagem celestial” (cf. 1 Co 15.49), porque Ele “transformará o nosso corpo abatido, para ser confor me o seu corpo glorioso” (Fp 3.21). Diante de tudo isso, só nos resta dizer: “Amém! Ora, vem, Senhor Jesus!” (Ap 22.20) 8.2. C omo experimentar a santificação? A Bíblia afirma, categoricamente, que a santificação é obra de Deus. “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo” (1 Ts 5.23). Assim como a salvação vem de Deus (cf. Ap 7.10), também a santificação vem do mesmo Deus que nos deu a Cristo, “o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1 Co 1.30). Importa observarmos que a santificação, de certa forma, também depende da cooperação do homem, pois é necessário que ele aceite aquilo que Deus lhe preparou. Por isso a Bíblia também afirma: “O santo continue a san tificar-se” (Ap 22.11, Almeida Revista e Atualizada). Vejamos, então, os dois lados da doutrina da santificação. 8.2.1. É D eu s quem sa n tific a ( c f . 1 T s 5.23) No conceito de muitos, a salvação vem de Deus, mas a santificação é um produto da força de vontade própria e do poder pessoal do crente. 189 T EOLOGiA Sistemática Há muitos que por terem esse conceito e não alcançarem o resultado almejado, desanimam e dizem que não é possível alguém ser santificado neste mundo! Porém, a Bíblia ensina que é Deus quem nos santifica. Quais são os meios pelos quais somos santificados por Deus? • Deus nos santifica pelo seu Filho, que nos foi dado por Ele não somente para que sejamos salvos da perdição (cf. Jo 3.16), mas também para que nos santifiquemos por Ele (cf. Jo 17.19). Foi para isso que Jesus se entregou por nós (cf. Ef 5.25-27). O sangue precioso purifica o peca dor das suas transgressões (cf. Cl 1.14; Ef 2.13) e santifica o crente (cf. Hb 13.12; 10.14,15), proporcionando uma detalhada purificação de suas “vestes” (cf. Ap 22.14). Pelo poder da cruz podemos nos identificar com a morte de Cristo, de tal maneira que o nosso velho homem seja tam bém crucificado (cf. G1 2.20; Rm 6.6), pois “se um morreu por todos, logo, todos morreram” (2 Co 5.14). • Deus também nos santifica pelo poder do Espírito Santo que nos é dado (cf. Lc 24 49). A Bíblia diz: “Quando vier aquele Espírito da verda de, ele vos guiará em toda a verdade” (Jo 16.13). Isso também significa que o Espírito Santo leva o crente a buscar a santificação (cf. 2 Ts 2.13). Nisso Ele opera como uma luz que “tudo manifesta” (cf. Ef 5.13) e como um fogo que queima a impureza (cf. Is 6.4-7; Ml 3.3). O Espírito Santo ajuda o crente a subjugar a sua carne diante da vontade do Senhor (cf. G l 5.16-18,25) e vivifica a Palavra de Deus (cf. Jo 6.63). E essa operação do Espírito Santo que explica por que o despertamento pentecostal, desde o seu início, tem sido um movimento de vida santificada. • Deus santifica o crente pela sua santa Palavra (cf. 1 Tm 4.5). A Palavra de Deus é poderosa (cf. Hb 4.12) e possui em si poder purifica dor (cf. Jo 15.3; Ef 5.26) que opera ensinando, redargüindo, corrigindo e instruindo em justiça, “para que o homem de Deus seja perfeito e perfei tamente instruído para toda boa obra” (cf. 2 Tm 3.16,17). A Palavra de Deus também opera como um prumo, mostrando a posição da vontade divina (cf. Am 7.7,8). Ela toma-se em um verdadeiro fortificante que prepara o crente na sua luta contra o maligno. “Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já vencestes o Soteriolocia - A Doutrina da Salvação maligno” (1 Jo 2.14). Assim, ela ajuda o crente a resistir ao pecado (cf. SI 119.11; 17.4), tomando-o resistente a todos os ventos de doutrina (cf. Ef 4.14,15). 8.2.2. A PARTICIPAÇÃO DO HOMEM NA SANTIFICAÇÃO “O santo continue a santificar-se” (Ap 22.11, Almeida Revista e Atu alizada). Em que sentido pode o homem santificar-se? A santificação é uma obra que Deus realiza na vida do crente através do Espírito Santo e que se aperfeiçoa à medida que o crente a aceita. Na aceitação é registrada a participação do homem na sua santificação. O crente deve aceitar aqui lo que Deus quer fazer para santificá-lo: deve separar-se do mundo, entre gar-se inteiramente a Deus e buscá-lo em oração, pois Jesus afirmou: “Qual quer que pede recebe; e quem busca acha” (Lc 11.10). E, portanto, pela oração e pela aceitação que o crente participa da sua santificação: “Pela oração, [a criatura] é santificada” (1 Tm 4.5). Quando, pois, o crente sen te a operação do Espírito Santo e da Palavra de Deus sobre si, pela fé recebe a santificação. “Maravilhosas sãoas tuas obras”! (SI 139.14) 8.3 . Quais são as bênçãos que acompanham a santificação? As bênçãos da santificação são grandes e palpáveis. Trazem transfor mação e amadurecimento espiritual à vida do crente, de tal modo que se pode distinguir a diferença entre os que aceitam a obra santificadora de Deus e os que não a aceitam. 8.3.1. A SANTIFICAÇÃO PROMOVE CRESCIMENTO ESPIRITUAL A santificação faz com que o crente viva em comunhão íntima com Jesus (cf. Mt 5.8). Aquele cuja vida dá testemunho de agradar a Deus, também andará com Ele (cf. Hb 11.5; G1 5.22). Nessa comunhão com Deus há delícias e alegria (cf. SI 16.11), pois logo que o fermento tiver sido tirado, começará a festa (cf. 1 Co 5.8; Pv 15.15). Tudo isso promove o crescimento espiritual (cf. Sl 84.7; Pv4.18; 2 Co 3.18; Rm 1.17). A falta de santificação extingue o prazer e a alegria espiritual na vida do crente, paralisando o crescimento no Espírito. Devido ao pecado de Miriã, o povo de Deus ficou parado do deserto (cf. Nm 12.5,16; Os 10.9). 191 T e o l o g ia S ist e m á t ic a 8 .3 .2 . A SANTIFICAÇÃO DÁ LUGAR À OPERAÇÃO DO ESPÍRITO SA N TO NA VIDA DO CRENTE Pela santificação, a fé toma-se mais forte, pois o “mistério da fé” é guardado em uma pura consciência (cf. 1 Tm 3.9). Isso beneficia a ope ração do Espírito Santo, porque Ele opera de acordo com a fé: “Aquele, pois, que vos dá o Espírito e que opera maravilhas entre vós o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé?’ (G1 3.5) Foi por isso que Josué recomendou: “Santificai-vos, porque amanhã fará o Senhor maravilhas no meio de vós” (Js 3.5). Disse Deus a Moisés: “Vai ao povo e santifica- os hoje e amanhã, e lavem eles as suas vestes e estejam prontos para o terceiro dia; porquanto, no terceiro dia, o Senhor descerá diante dos olhos de todo o povo sobre o monte Sinai” (Ex 19.10,11). A Palavra ainda afirma: “O puro de mãos irá crescendo em força” (Jó 17.9) e “Em todo o tempo sejam alvas as tuas vestes, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça” (Ec 9.8). O que ama a justiça e aborrece a iniqüidade será ungi do pelo Senhor (cf. Hb 1.9). 8.3.3. A SANTIFICAÇÃO PREPARA O CRENTE PARA SER USADO POR D EU S Deus usa aquele que se purifica (cf. 2 Tm 2.21,22). “Para que o ho mem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra” (2 Tm 3.17). Por isso, diz a Palavra de Deus: “Purificai-vos, vós que levais os utensílios do Senhor” (Is 52.11). Pela santificação, o crente tem a condição de ser um instrumento de Deus diante do povo, pois através dela consegue apresentar um bom testemunho (cf. Mt 5.16; 1 Pe 2.12) e um verdadeiro adorno (cf. T t 2.10; 1 Pe 3.4,5), tomando-o con siderado por todos (cf. Gn 23.6) e por todos aceito (cf. Rm 14.18; 1 Sm 2.26). Aquele que vive em santificação tem autoridade sobre o Diabo e os demônios (cf. Jo 14.30). A justiça é como uma couraça na luta contra as hostes da maldade (cf. Ef 6.11,12,14). Porém, quando um crente não busca santificação, é derrotado na luta contra o mal (cf. Js 7.13). 8.3.4. A SANTIFICAÇÃO PREPARA O CRENTE PARA A VINDA DE JESU S A Bíblia diz: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). A santificação é a veste espiritual 192 / S o t e r io l o g ia - A D o u t r in a d a S a l v a ç ã o da noiva de Jesus (cf. Ap 19.7,8). Por meio dela somos plenamente con servados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 1 Ts 5.23; 2 Pe 3.14). Com as suas vestes branqueadas, o crente tem direi to à árvore da vida, e pode entrar na cidade pelas portas (cf. Ap 22.14). 9. O C rescimento Espiritual A doutrina do “crescimento espiritual” faz parte da doutrina da sal vação, que, em última análise, demonstra a vida eterna operando na vida do crente (cf. 1 Jo 5.11-13). Onde existe vida há também cresci mento. Devemos, pois, conhecer a doutrina do crescimento espiritual para saber de que maneira esse crescimento acontece e quais são os mei os que o promovem. 9.1. A B íblia f a l a d e c r e sc im e n t o e s p ir it u a l Assim como crescem os vegetais e os animais, assim também cresce a vida espiritual. A Bíblia exorta: “Crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 3.18). Esse crescimento atinge tudo o que concerne à vida espiritual. 9.1.1. A IMAGEM DE CRISTO EM NÓS DEVE CRESCER Assim como Jesus, quando menino neste mundo, crescia em sabe doria, estatura e graça para com Deus e os homens (cf. Lc 2.52), assim deve também crescer a imagem de Cristo que em nós foi implantada pela salvação (cf. C l 1.27 e 3.4), para que Jesus “seja formado” em nós (cf. G1 4.19). João Batista disse: “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). 9.1.2. Devemos c r e s c e r n a g r a ç a ( c f . 2 Pe 3.18) Quando a graça de Deus se manifestou para nós (cf. Tt 2.11), fo mos salvos (cf. Ef 2.8) e recebemos, pela fé, a entrada nessa graça (cf. Rm 5.2). Devemos agora também crescer na graça, para que mais e 193 T EOLOGiA S ist e m á t ic a mais conheçamos “o Deus de toda a graça” (1 Pe 5.10) e as suas abun dantes riquezas (cf. Ef 2.7). Assim, o crente pode fortificar o seu cora ção pela graça (cf. Hb 13.9) e, com firmeza, permanecer nela (cf. A t 13.43; Hb 12.28). 9.1.3. Devemos crescer na fé Devemos também crescer na fé (cf. 2 Ts 1.3), porque assim tudo que concerne à vida espiritual ou ao nosso trabalho para Deus torna- se mais eficiente, inclusive a evangelização (cf. 2 Co 10.15). A Bíblia nos exorta a crescer no conhecimento (cf. 2 Pe 3.18) e conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus (cf. 1 Co 2.12). Assim, o crente pode ficar cheio de conhecimento da vontade do Se nhor e andar dignamente diante dEle, agradando-lhe em tudo, frutifi cando em toda aboa obra (cf. C l 1.9,10; Fp 1.9-11). Quando o conhe cimento do crente aumenta, ele não fica orgulhoso, pois sabe que co nhecemos somente em parte (cf. 1 Co 13.9). Pelo crescimento espiri tual, o crente avança nas coisas que Deus preparou para ele. Como Israel ao entrar na terra de Canaã precisava avançar para conquistá-la (cf. Js 18.1-7; 8.1-3), da mesma forma o crente deve crescer espiritual mente para tomar posse da vida eterna (cf. 1 Tm 6.12) e de todas as coisas que a ela se refiram (cf. Rm 8.17). Devemos crescer em tudo (cf. Ef 4.15). A vida do verdadeiro cristão se transforma de glória em gló ria (cf. 2 Co 3.18), prossegue de força em força (cf. SI 84.7) e a sua vereda vai brilhando mais e mais (cf. Pv 4.18). E, depois dele alcançar grandes bênçãos, ainda ouve a promessa: “Coisas maiores do que estas verás” ! (Jo 1.50) Em um crescimento normal, o crente cresce para todos os lados! A árvore cresce em todas as direções, com as raízes se espalhando à sua volta (cf. Os 14.5). Do mesmo modo o crente deve, espiritualmente falando, crescer nessas direções. Vejamos algo do que a Bíblia ensina: • O crente deve crescer para baixo. Isto é, deve desenvolver a sua vida escondida com Deus. A Bíblia nos dá alguns exemplos nesse senti do (cf. Jr 17.7,8). Lemos que os que confiam no Senhor serão como a árvore que estende as suas raízes para o ribeiro. Em Jó 8.17, lemos sobre 194 SOTERIOLOGIA - A DOUTRINA DA SALVAÇÃO a árvore que entrelaça suas raízes no pedregal. Em Salmos 92.12, lemos que o crente florescerá como a palmeira, árvore que, muito mais que as outras, aprofunda as suas raízes na terra. Assim deve o crente crescer, arraigando-se em Cristo (cf. Cl 2.7). Dessa forma, ele consegue o conta to contínuo com “a água da vida” (cf. Ap 22.17), assegurando-lhe vida florescente em que pode desfrutar as bênçãos “do abismo de baixo” (cf. Gn 49.25). Quando as raízes do crente se firmam em Cristo, que é “a pedra” (cf. A t 4.11), ele ganha firmeza, resiste nas horas da tempestade e não é levado por qualquer vento de doutrina (cf. Ef 4.14). • O crente deve também crescer para cima. A Bíblia diz que o crente florescerá como a palmeira (cf. SI 92.12). A palmeira alcançauma altura considerável. Crescer para cima significa que o crente começa a buscar as coisas que são de cima (cf. G1 3.1-3) e, assim, fica a sua vida ligada aos lugares celestiais em Cristo (cf. Ef 2.6). Por meio do crescimento para cima, a esperança do crente se aviva. Ele lança a âncora da sua fé além do véu, local em que Jesus entrou por nós (cf. Hb 6.18-20). Assim, a esperan ça abunda pela virtude do Espírito Santo (cf. Rm 15.13) e pode o crente gozar das delícias das bênçãos “dos céus em cima” (cf. Gn 49.25). • O crente deve também crescer para os lados. A Bíblia fala, a respeito de José, que “seus ramos correm sobre o muro” (Gn 49.22), expressando o resultado maravilhoso que obteve pela sua obediência a Deus — tomou- se instrumento para a salvação de multidões incalculáveis que pereciam de fome (cf. Gn 50.20; 45.5-8). O apóstolo Paulo disse que o crescimento da fé cria condições para o avanço na evangelização (cf. 2 Co 10.15,16). Pelo crescimento espiritual, o crente pode ampliar o lugar da sua “tenda” (cf. Is 54-2) e dar fruto até nos anos da sequidão (cf. Jr 17.8). • É importante que o crescimento espiritual não seja unilateral. Quando o crente cresce apenas para os lados e se descuida de crescer para baixo, fica sem estabilidade. Quem não tem raiz, se desvia (cf. Lc 8.13). Por outro lado, quando cresce só para cima e se descuida de cres cer para baixo, pode se tomar fanático. Quando procura se aprofundar crescendo somente para baixo e se esquece de crescer para os lados, toma-se um crente fechado, isolado e infrutífero. Deve, pois, crescer para todos os lados, e isso para honra e glória do nome do Senhor. 195 T FOLOGiA S ist e m á t ic a 9.1.4. A FALTA DE CRESCIMENTO GERA PROBLEMAS Qualquer pai ou mãe se sentiria angustiado e aflito se observasse que seu filho interrompeu definitivamente seu crescimento. A falta de crescimento espiritual também causa graves problemas na vida da Igreja. O autor da Epístola aos Hebreus revela que a causa da situação aflitiva em que os crentes judeus se encontravam era resultado da falta de crescimento espiritual. Pelo tempo que já haviam se convertido devi am ser mestres, mas eram ainda meninos (cf. Hb 5.11-14). Por isso tinham sido levados por ventos de doutrinas que assopraram sobre eles (cf. Ef 4-14). A Bíblia diz que aquele que é dominado pela carne con tinua sendo infantil (cf. 1 Co 3.1-3) — não cresce na vida espiritual e continua sendo escravo da carne (cf. G15.18-21; Rm 8.7,8). Não com preendendo as coisas de Deus (cf. 1 Co 2.14), tanto o seu falar como o seu sentir e o seu discorrer representam o estado de menino (cf. 1 Co 13.11). A única solução para tais é que cresçam, para assim se tom a rem homens. Então deixarão as coisas de meninos (cf. 1 Co 13.11). Mas para ser homem é preciso crescer (cf. 1 Co 16.13). 9.1.5. C o m o é p o s s ív e l c r e s c e r n a v id a e s p ir i t u a l ? O crescimento natural do homem é encargo da natureza. Uma cri ança não precisa esforçar-se para crescer: alimentando-se e alternando períodos de atividade e descanso vai crescendo. O mesmo se dá na vida espiritual. Aquele que vive espiritualmente conforme o ensino da Bíblia, cresce em espírito. Vejamos as coisas que promovem esse crescimento. • Aquele que permanece em Jesus cresce (cf. Jo 15.4,5). Quando seguimos a verdade, crescemos em tudo naquEle que é a cabeça — Cris- to (cf. Ef 4-15). A Bíblia diz: “Pelo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (1 Co 3.7). Para cres cer importa guardar íntima comunhão com Jesus, pois aquele que ensi na e pratica idéias próprias, contrárias à Palavra de Deus, não está ligado à cabeça —r a Cristo — , da qual vem a direção do crescimento. Esse tal pára de crescer espiritualmente (cf. G1 2.18,19). 196 SOTERIOLOGIA - A DOUTRINA DA SALVAÇÃO • A Palavra de Deus proporciona crescimento. Aquele que recebe o “leite racional” , não falsificado, vai crescendo (cf. 1 Pe 2.2). Jesus man dou que os seus discípulos ensinassem todas as coisas que Ele havia or denado (cf. Mt 28.20), pois a Palavra de Deus “é proveitosa para ensi nar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra” (2 Tm 3.16,17). • Andar em Espírito (cf. G1 5.16.25). Essa prática constitui-se em um verdadeiro fortificante para a vida espiritual (cf. Ef 6.10), porque o Espírito Santo ajuda o crente a vencer a carne (cf. G 15.16; Rm 8.13) e produz o fruto do Espírito (cf. G 15.22), evidência de crescimento espi ritual. O Espírito Santo guia o crente em toda a verdade (cf. Jo 16.13), inclusive no seu crescimento espiritual. 10. A P r e s e r v a ç ã o d a S a l v a ç ã o A Bíblia fala sobre as tentações (cf. 1 Co 10.13), sobre o tentador (cf. Mt 4.3) e sobre os tentados (cf. Tg 1.13). Fala também sobre a pos sibilidade de o crente ter vitória sobre as tentações (cf. Hb 2.18; Rm 8.37). Esse assunto faz parte integral da doutrina da preservação do crente na salvação. 10.1. A TENTAÇÃO É UMA ARMA PODEROSA DO ADVERSÁRIO 10.1.1. A FINALIDADE DA TENTAÇÃO A tentação é um meio pelo qual Satanás procura instigar o ho mem ao pecado, seduzindo-o e induzindo-o a fazer o mal. A tentação surge como uma isca e vem acompanhada de laços (cf. 1 Tm 6.9), pelos quais o Inimigo desperta a carne do homem para obedecer ao príncipe das trevas (cf. Ef 2.2,3). 10.1.2. A ORIGEM DA TENTAÇÃO A origem da tentação é sempre Satanás (cf. Mc 1.13; 1 Co 7.5), motivo por que também é chamado de “tentador” (cf. 1 Ts 3.5). Ele 197 T EOLOGiA Sistemática procura, com astúcia, apartar o homem de Deus (cf. 2 Co 11.3; Ef 6.11,12). É claro que Deus não pode ser a origem da tentação, “porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta” (Tg 1.13). 1 0 .1 .3 . P o r q u e D e u s n ã o im p e d e q u e a t e n t a ç ã o v e n h a ? Deus, que criou o homem com livre-arbítrio, não impede a tentação porque, por meio dela, o homem pode provar que deseja obedecer a Deus de coração. A tentação revela o que está no coração do homem (cf. Dt 8.2; 2 Cr 32.31). Quando o homem invoca e aceita o socorro de Jesus na hora da tentação (cf. Hb 2.18; 4.15), é aperfeiçoado (cf. Tg 1.2- 4) e fica mais capacitado a discernir entre o bem e o mal (cf. Hb 5.14), aprendendo a confiar mais em Deus (cf. SI 31.1,14,24). Assim, se amar mos a Deus, a tentação contribui para o nosso bem (cf. Rm 8.28). 10.2. A t e n t a ç ã o d e J e s u s O próprio Jesus chegou a ser tentado pelo Diabo! Por que foi Jesus tentado? • Jesus foi tentado para provar que Ele, realmente, era um homem perfeito, sem pecado (cf. Hb 4.15; 2 Co 5.21). Somente assim podia ser o Salvador da humanidade. • Jesus foi tentado para poder ajudar os homens nas tentações (cf. Hb 2.18; 4.16). Nas suas tentações, Jesus tornou-se um exemplo para nós (cf. 1 Pe 2.21). Mostrou que a tentação em si não é pecado, pois embora tentado em tudo, permaneceu sem pecado (cf. Hb 4.15). Mos trou também que o aparecimento da tentação na vida do crente não é um sinal de ser ele um fraco, pois embora Jesus fosse perfeito, foi tenta do. Mas teve vitória total sobre as tentações. Essa vitória mostra-nos o caminho para termos vitória sobre as tentações (cf. 1 Co 10.13). 10.2.1. A s t e n t a ç õ e s q u e J e s u s s o f r e u r e v e l a m a e s t r a t é g i a d e S a t a n á s Na primeira tentação, o Inimigo procurou instigar Jesus a usar, para seu próprio proveito, o poder que havia recebido. Jesus realmente pos- IQR Soteriologia - A Doutrina da Salvação suía poder para transformar as pedras em pães, pois mais tarde Ele mul tiplicou pães do nada (cf. Mt 14.13-21). Mas fez isso para glorificar o Pai e para dar de comer a homens famintos. Na tentação, recusou o uso do seu poder em benefício próprio. Ao refutar o Diabo, afirmou: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que saida boca de Deus” (Mt 4.4). Essa “palavra da boca de Deus” foi o que faltou, e Jesus não queria fazer um milagre conforme a palavra do Inimigo, mas somente conforme a vontade de seu Pai (cf. Jo 5.19,30). Ele não aceitou receber sugestões de Satanás. Por isso venceu. Na segunda tentação, Satanás propôs que Jesus se lançasse do pinácu lo do templo, local para onde Ele havia sido levado (cf. Mt 4-5-7). Sata nás tentou a Jesus para que assumisse os riscos e demonstrasse coragem saltando de grande altura. Jesus rejeitou a proposta porque não queria obedecer a Satanás. Com a finalidade de tirar qualquer dúvida sobre sua proposta, Satanás citou um trecho das Escrituras que falava da proteção divina (cf. SI 91.11,12; Mt 4.4-6). Porém, nessa citação, Satanás omitiu a parte que fala da promessa de Deus de guardar o Filho “em todos os teus caminhos” (SI 91.11). Jesus sabia que a promessa de Deus não era para tentar a si próprio, mas para proteção nos caminhos traçados por Ele. N a última tentação, Satanás foi ainda mais atrevido. Mostrou a Jesus, em um só momento, todos os reinos do mundo e a glória deles, e disse-lhe: “Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares” (Mt 4.8,9). A Bíblia não revela como foi possível a Satanás mostrar todos os reinos do mundo a Jesus. Porém, o Diabo prometeu o que não possuía. A Bíblia diz: “Do Senhor é a terra e a sua plenitude” (SI 2 4 1 ). Satanás não possui nada. Ele somente usurpou o poder que atualmente exerce (cf. 1 Jo 5.19). Além disso, a glória que ele prometeu é por demais passageira (cf. 1 Pe 1.24; Dn 4.30,31). Jesus rejeitou o domínio e o poder oferecido por Satanás, pois Ele não admitia nenhuma autorida de que não fosse a de Deus. Ele não quis uma coroa sem cruz. Por isso, escolheu o caminho da cruz para que ganhássemos uma coroa de justi ça (cf. 2 Tm 4.8). Finalmente, Jesus disse a Satanás: “Vai-te, Satanás... Então, o diabo o deixou” (Mt 4.10,11). A Bíblia diz: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4.7). L 199 T eologia Sistemática 10.3. O CAMINHO DA VITÓRIA SOBRE AS TENTAÇÕES A Bíblia mostra que o crente tem possibilidade de vencer. Quando Jesus escreveu às sete igrejas na Ásia Menor, disse a cada uma delas: “O que vencer” (cf. Ap 2.7,11). Em Apocalipse 21.7, encontramos: “Quem vencer herdará todas as coisas” . Assim, “em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou” ! (Rm 8.37) Vejamos as condições para o caminho da vitória. 10.3.1. O CRENTE DEVE VIGIAR A Bíblia diz: “Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu” (Ap 16.15). Embora sejamos salvos e tenhamos nossos pés colocados sobre a Rocha (cf. SI 40.2; Mt 7.24,26), devemos reconhecer a nossa inteira dependência de Deus e pedir: “Guardem-me continuamente a tua benignidade e a tua verdade” (SI 40.11). Precisamos vigiar e orar (cf. Mt 25.33; Ef 6.18; 1 Pe 4-7) em todo o tempo (cf. Lc 21.36), diante dos ataques constantes do Diabo (cf. 1 Pe 5.8). Nosso espírito está pronto, mas nossa carne é fraca (cf. Mt 26.41). Jesus porém prometeu que se o pai da família vigiar por causa do ladrão, a sua casa não ficará minada (cf. Mt 24.43). Deus ajuda ao que vigia. 10.3.2. O CRENTE DEVE TER O PROPÓSITO DE PERMANECER NO SENHOR (A t 11.23) Um propósito firme gera firmeza de coração, a qual proporciona po der sobre a vontade própria (cf. 1 Co 7.37). Foi com esse propósito que Daniel ficou firme e fiel a Deus no palácio da Babilônia (cf. Dn 1.8). Foi também com esse propósito que Rute decidiu não se afastar da sua sogra Noemi, quando esta pretendia voltar à Terra Prometida (cf. Rt 1.16- 18). Esse propósito firme não significa que o crente tem de lutar com o seu próprio poder. A Bíblia diz que Deus cumpre “com poder todo pro pósito de bondade e obra da fé” (2 Ts 1.11, Almeida Revista e Atualiza da). O mesmo Deus que opera o querer, opera também o efetuar (cf. Fp 2.13). E Ele quem nos aperfeiçoa para que façamos a sua vontade^ ope rando em nós o que lhe é agradável (cf. Hb 13.21). Dessa maneira o SOTERJOLOGIA - A DOUTRINA DA SALVAÇÃO crente se toma forte para resistir ao Diabo (cf. Tg 4-7), que assim fugirá. O crente recebe força de Deus para se “enfrear” (cf. SI 39.1) e fugir do mal (cf. 1 Tm 6.11; 2 Tm 2.22), assim se conservando no caminho do Senhor (cf. 1 Jo 5.18). 10.3.3. O CRENTE DEVE MANTER O MAL À DISTÂNCIA Mantendo-se regularmente distante do mal, o crente guarda a sua alma. A Bíblia diz repetidamente: “O que guarda a sua alma, retira-se para longe dele [do caminho perverso]” (Pv 22.5); “Não te aproximes da porta da sua casa [do pecado]” (Pv 5.8); “Passa de largo” (cf. Pv 4.14,15; SI 119.101), pois aquele que passa “pela ma junto à sua esquina” (Pv 7.8) se põe em perigo. Quando Pedro seguiu de longe, pôs-se em perigo! (cf. Lc 22.54,55) Por isso é que devemos seguir o Senhor de perto (cf. SI 63.8) . O crente deve também evitar a companhia daqueles que dão mau exemplo (cf. 1 Co 15.33; Pv 22.24; 20.19; SI 1.1; Js 23.12,13), não de vendo se impressionar com a maioria, que prossegue para fazer o mal (cf. Êx 23.2). A Bíblia diz: “O alto caminho dos retos é desviar-se do mal” (Pv 16.17). 10.3.4- O CRENTE DEVE SOCORRER-SE EM JESU S O crente deve aceitar o socorro que Jesus oferece aos que estão so frendo tentação (cf. Hb 2.18). Vejamos algumas maneiras pelas quais Jesus deseja dar-nos a vitória: • Em primeiro lugar, Jesus ofereceu-se a si mesmo para nos ajudar. Ele disse: “Eis que estou convosco todos os dias” (Mt 28.20). A Bíblia afirma: “O teu cuidado guardou o meu espírito” (Jó 10.12). Todo aquele que crê no Filho de Deus, vence o mundo (cf. 1 Jo 5.4,5). Pelo sangue de Jesus somos vencedores (cf. Ap 12.11). Mas se o crente for vencido pela tentação e buscar a ajuda de Jesus, Ele vai ao seu encontro e o ajuda a reabilitar-se. • Jesus também quer nos ajudar a usar uma poderosa arma que possu ímos, isto é, a Palavra de Deus. Foi essa arma que Ele usou contra o tentador: “Vai-te, Satanás, porque está escrito” (Mt 4.10). Também po 201 T e o l o g ia S ist e m á t ic a demos vencer pela Palavra de Deus (cf. SI 119.11,101; 17.4; 1 Jo 2.14). Usemos, pois, a poderosa Palavra (cf. Hb 4.12), que é uma espada aguda (cf. Ef 6.17) e a vitória será certa! • Jesus ainda prometeu nos dar o Consolador para nos ajudar (cf. Jo 14 26; Rm 8.26). Pelo poder do Espírito Santo podemos obter a vitória sobre a carne (cf. G15.16) e sermos fortificados contra as hostes da mal- dade (cf. Ef 6.10-12). Aquele que está cheio do Espírito Santo pode vencer os dias maus (cf. Ef 5.16,18). Pela unção, podemos ter vitória sobre o espírito do Anticristo. • Todos esses meios são eficientes na vida do crente que vive em oração. Jesus vinculou à oração o poder para obter vitória sobre a carne. Ele disse: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” (Mt 26.41). O salmista registrou a sua experiência nesse sentido: “Invocarei o nome do Senhor, que é digno de louvor, e ficarei livre dos meus inimigos” (SI 18.3). Que Deus nos ajude e nos guarde na hora da tentação! 10.4. A PRESERVAÇÃO DA SALVAÇÃO Esse preceito faz parte da doutrina da salvação. A questão principal é: “O crente permanece para sempre na salvação, ou é possível perder- se, depois de ter sido verdadeiramente salvo?” Diante desse problema, dividem-se as opiniões dos teólogos. Analisemos o assunto. 10.4.1. “ U m a v e z s a l v o , p a r a s e m p r e s a l v o ” Alguns teólogos ensinam, com muita convicção, que jamais se per derá aquele que uma vez foi salvo. Quem é crente, o é para sempre. Dizem que, embora o crente seja livre, a natureza da salvação é tão profunda que ele jamais abandona a vida cristã! Deus preserva o cren te em liberdade e também no caminho da salvação: “Uma vez na gra ça, na graça permanecerá para sempre” . Já no tempo dos apóstolos havia essa corrente doutrinária. A chamada doutrina dos nicolaítas (cf. Ap 2.6,15) afirmava que a graça de Deus sobre os crentes étão poderosa que os atos dos homens, por mais terríveis que sejam, não os afastam dela. Importa salientar que Jesus afirmou que aborrecia tal doutrina (cf. Ap 2.6,15). 2 0 2 SOTERIOLOGIA • A DOUTRINA DA SALVAÇÃO 10.4.2. A B íb l ia c o n t r a d iz a d o u t r i n a “ u m a v e z s a l v o , p a r a s e m p r e s a l v o ” A Bíblia exorta o crente a permanecer na graça. Somente o fato de a Bíblia exortar o crente a essa permanência constitui prova de que não concorda com a idéia de uma permanência automática, independente da atitude e do seu procedimento pessoal • Jesus mandou que os crentes permanecessem. “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente, sereis meus discípulos” (Jo 8.31). Aquele que não permanecer em Jesus, como a vara na videira, é lançado fora (cf. Jo 15.1-6). • Jesus mandou os crentes vigiarem (cf. Mc 13.33). Ele disse: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” (Mt 26.41). E no momento da tentação que surge o perigo de o crente se desviar (cf. Lc 8.13). Mas se ele estiver vigilante, receberá a graça de vencer a carne (cf. Mt 26.41'). achará “escape” (cf. 1 Co 10.13) e vencerá a batalha. • Jesus exortou a igreja em Filadélfia que guardasse o que havia rece bido. “Guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Ap 3.11). Note que Ele não afirmou: “Você já é salvo e ninguém jamais poderá tomar a sua coroa”. Mas disse: “Guarda” ! O mesmo conselho Ele deu à igreja em Tiatira (cf. Ap 2.25). Aliás, nos dá idêntico conselho ainda hoje. • A palavra “permanecer” aparece muitas vezes na Bíblia. Os após tolos aconselhavam sempre os crentes a que permanecessem na fé (cf. A t 14-22; 1 Ts 3.2-5) e na graça (cf. At 11.23; 13.43), advertindo-os de que ninguém fosse “faltoso, separando-se da graça de Deus” (Hb 12.15, Almeida Revista e Atualizada). Os que não atenderem a essa exortação correm o risco de “cair da graça” (cf. G1 5.4). Os que afirmam que “uma vez na graça, sempre na graça” estão induzindo muitos a transformarem em libertinagem a graça de Deus (cf. Jd 4), expondo-os ao perigo de receberem a graça de Deus em vão (cf. 2 Co 6.1). • O exemplo do Antigo Testamento. A permanência é explanada através de três exemplos no Antigo Testamento, nos quais Deus condicionou a manifestação do seu poder protetor à atitude dos homens 2 0 3 . T EOLOGiA S istemática de permanecerem no lugar determinado por Ele: 1) A salvação pela aspersão do sangue do cordeiro pascal na noite em que os primogênitos do Egito foram mortos estava condicionada à obrigação de que ninguém saísse de casa até que amanhecesse (cf. Ex 12.22,33). 2) A proteção contra o vingador do sangue, que a cidade de refúgio proporcionava ao homicida que havia matado alguém por erro (cf. Nm 35.11,22-25), era condicionada ao dever de permanência na cidade: “Porém, se de algu ma maneira o homicida sair dos termos da cidade do seu refúgio, onde se tinha acolhido, e o vingador do sangue o achar fora dos termos da cida de do seu refúgio, se o vingador do sangue matar o homicida, não será culpado do sangue” (Nm 35.26,27). 3) A salvação prometida sob jura mento, em nome do Senhor, a Raabe e a sua família, na ocasião da conquista de Jerico por Israel, também era condicionada à obrigação de conservar uma fita de cor escarlate na sua janela e cuidar que ninguém da família saísse da sua casa, pois para aquele que estivesse fora da porta da casa, não haveria proteção (cf. Js 2.12,13,14-20). Observamos, as sim, que o ato de ser um crente preservado na salvação não é automáti co, mas depende da sua atitude de permanência no Senhor. 10.4.3. A B íb l ia a d v e r t e o c r e n t e c o n t r a o p e r ig o d e c a ir Somente essa expressão basta para mostrar a fraqueza da base doutri nária que caracteriza o ensinamento: “Uma vez salvo, para sempre salvo”. A Bíblia adverte: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia” (1 Co 10.12).Oautor sagrado escreveu aos judeus que estavam em perigo de apostatar da fé: “Que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência” (Hb 4-11; cf. 3.15-19) e incentivou-os a que não fossem como aqueles que se retiram para a perdição, mas como os que crêem para a conservação da alma (cf. Hb 10.39). A Bíblia diz que aquele que endurece o coração virá a cair no mal (cf. Pv 28.14) e que a altivez do espírito precede à queda (cf. Pv 16.18). Assim, observamos que a Bíblia, em lugar de incentivar os crentes a uma segurança absoluta e sem res ponsabilidade pessoal, os exorta a permanecerem na benignidade de Deus, a fim de que não sejam cortados, como o foram os israelitas que não permaneceram (cf. Rm 11.20). Por isso, diz a Bíblia: “Examinai-vos a 2 0 4 SOTERIOLOGIA - A DOUTRINA DA SALVAÇÃO - m&tsmmmsm mmmmmmmmmmwmw&mmamtiimm vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis, quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados” (2 Co 13.5). Existe, para quem não tomar cuidado, a possibilidade de ser reprovado, de ter crido em vão (cf. 1 Co 15.2). 10.4-4. A B íb l ia a p r e s e n t a e x e m p l o s d e p e s s o a s q u e s e d e s v ia r a m d a SALVAÇÃO Esses exemplos (cf. Hb 4.1,2) constituem uma prova incontestável de que a doutrina “uma vez salvo, para sempre salvo” não é aprovada na Bíblia. • Ananias e Safira. Eram crentes, membros da igreja em Jerusalém e sobre eles havia abundante graça (cf. A t 4 33). Porém, nela não permaneceram, pois permitiram que o amor ao dinheiro os dominas se (cf. 1 Tm 6.10) e entraram no caminho da mentira e da perdição (cf. A t 5.1-11). • Judas lscariotes. Os que sustentam a tese “uma vez salvo, para sempre salvo” afirmam que Judas lscariotes jamais foi salvo. O testemunho da Bíblia afirma o contrário. Judas era “um dos doze” (cf. Mt 26.14) e estava entre aqueles que Jesus chamou e enviou para pregar a Palavra de Deus e para curar os enfermos (cf. Mt 10.4,5,7,8). Ele estava entre aqueles a res peito dos quais Jesus disse: “Desça sobre ela a vossa paz” (Mt 10.13) e “o Espírito do vosso Pai é que fala em vós” (Mt 10.20). Judas, porém, caiu na tentação de roubar as ofertas, pois ele era o tesoureiro (cf. Jo 13.29; 12.6). Assim, abriu a porta para o Inimigo entrar (cf. Lc 22.3) e desviou-se (cf. At 1.25). Desviar-se só é possível a alguém que está no caminho certo. O nome dele foi tirado do livro da vida (cf. SI 69.25-28), um fato que prova que antes estava escrito. Jesus disse: “Não vos escolhi a vós os doze? E um de vós é um diabo” (“diabo”, em grego, significa “adversário” ) (Jo 6.70). • O rei Saul. Ele recebeu um coração mudado (cf. 1 Sm 10.9), foi revestido pelo poder do Espírito Santo e até profetizou (cf. 1 Sm 10.10). Mas desobedeceu à Palavra do Senhor (cf. 1 Sm 13.14; 15.19,20). Deus 0 rejeitou (cf. 1 Sm 15.23,28) e o Espírito de Deus se retirou dele (cf. 1 Sm 16.14). Depois de ter andado por caminhos tortuosos, Saul suici dou-se na montanha de Gilboa (1 Sm 31.1-4). 2 0 5 T e o l o g ia S ist e m á t ic a • A esposa de Ló. Ela estava sendo retirada pelos anjos da destruição de Sodoma, quando, desobedecendo a Palavra do Senhor, olhou para trás e foi transformada em uma estátua de sal (cf. Gn 19.26; Lc 17.32). • O tipo do justo desviado. A Bíblia fala de um justo que se desvia e, confiando na sua justiça, pratica iniqüidade. Então, afirma que não vi rão em memória todas as suas justiças, mas na iniqüidade que praticou, ele morrerá (cf. Ez 33.13; 18.24). • O povo israelita no deserto. A Bíblia relata que Deus, mesmo depois de ter libertado os israelitas do Egito, não se agradou da maior parte deles, pelo que foram prostrados no deserto (cf. 1 Co 10.5). Isso serve de figura para nós e de advertência contra o perigo de cometermos os mesmos pecados que eles praticaram, isto é, cobiça, idolatria, apostasia, prostituição e murmura ção (cf. 1 Co 10.6-10). Assim, vemos que a permanência na salvação não é automática, pois aquele que não tomar cuidado podeperder-se. 10.5. A B íb l ia d á u m a d e f in iç ã o c l a r a so b r e a d o u t r in a d a p r e serva çã o DO CRENTE O Espírito Santo quer, também nessa questão, guiar-nos em toda a verdade (cf. Jo 16.13). 10.5.1. G r a ç a d e D e u s e r e s p o n s a b il id a d e d o c r e n t e A Bíblia ensina que a preservação depende tanto do poder de Deus como da atitude do crente permanecer em Jesus! Vejamos que tanto o Senhor Jesus Cristo como os apóstolos falaram sobre este assunto. • Jesus escreveu à igreja em Filadélfia: “Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei na hora da tentação” (Ap 3.10). Jesus vinculou o seu poder protetor à guarda da sua palavra. Quando se referiu ao seu poder de guardar os crentes -— suas ovelhas — , disse: “Ninguém as arrebatará das minhas mãos” e acrescentou: “Ninguém pode arrebatá-las das mãos de meu Pai” (Jo 10.28,29). Não existe um poder, nem na terra nem no inferno, capaz de fazer algo contra o poder da mão de Deus e de Jesus. Porém, Jesus advertiu sobre o perigo de o próprio crente afastar-se dessa proteção. Jesus advertiu seus discípulos, quando 2 0 6 Soteriolocia - A Doutrina da Salvação "Mu1.... m' iImíiíiA,Ii vários dos que haviam crido tomaram atrás e não mais andavam com Ele (Jo 6.66): “Quereis vós também retirar-vos?” (Jo 6.67) Vemos que se um crente, voluntariamente, sair da mão do Senhor, perde a sua salva ção. Que Deus nos guarde! • Paulo escreveu a Timóteo: “Eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele “Dia” (2 Tm 1.12) e continua, na mesma epístola: “Acabei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7). Paulo referiu-se tanto ao poder guardador de Deus, que é o fator principal da nossa permanência na fé (cf. Rm 8.35-39; Fp 4.13), como ao fato de haver ele guardado a fé. Por isso, exortou os crentes a guardarem o depósito que lhes havia sido confiado (cf. 1 Tm 6.20; 2 Tm 1.14). Diz ainda: “E o mesmo Deus de paz vos santifique” (1 Ts 5.23) e ordena: “Conserva-te a ti mesmo puro” (1 Tm 5.22). O crente deve confiar em Deus (cf. SI 37.5; 125.1; 2 Co 1.9), mas também ter cuidado de si mesmo (cf. 1 Tm 4.16; At 20.28; Lc 21.34,36; Hb 12.15; 2 Jo 8). • Paulo escreveu aos efésios. Quando Paulo escreveu aos efésios so bre o ataque de Satanás contra eles, não se expressou: “Já sois salvos e jamais podereis cair!” Pelo contrário, aconselhou-os dizendo: “Fortalecei- vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do dia bo... para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes” (Ef 6.10,11,13). Nesse conselho, Paulo destacou bem o valor indispensável do poder de Deus, a verdadeira fonte da vitória e da perse verança. Mas ele também salientou a responsabilidade de o crente se revestir daquilo que Deus lhe entregou para a sua defesa espiritual. As diferentes partes da armadura de Deus representam aquilo que Jesus dá a todos os que se unem a Ele: cingidos da verdade, e vestidos da couraça da justiça, e calçados os pés na preparação do evangelho da paz, toman do sobretudo o escudo da fé e o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus (cf. Ef 6.13-17). Qualquer crente pode receber isso pela fé em Jesus. Cumpre-se aqui a palavra: “Graças a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 15.57). • Pedro também escreveu. O apóstolo Pedro também enfatizou ambos os lados da doutrina da preservação. Ele escreveu: “Mediante a fé, estais 2 0 7 T e o l o g ia S ist e m á t ic a guardados na virtude de Deus” (1 Pe 1.5). Ele se refere tanto à virtude de Deus, o principal fator de proteção, como à responsabilidade que tem cada crente de viver nessa virtude pela fé, pois sem fé essa virtude para nada aproveita. A Bíblia diz: “A palavra da pregação nada lhes aproveitou, por quanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram” (Hb 4.1,2). 10.5.2. É NECESSÁRIO TER UM EQUILÍBRIO BÍBLICO NA DOUTRINA DA PRESERVAÇÃO Se houver ênfase somente no poder de Deus como a força que guarda o crente, omitindo a própria responsabilidade pessoal de guardar-se do mal, abre-se a porta para uma vida espiritual de descuido. Se, por outro lado, houver ênfase somente no esforço do crente de guardar-se, omitin do-se a gloriosa manifestação do poder de Deus como o principal fator da proteção, abre-se caminho para um verdadeiro fracasso espiritual. A Bíblia fala e a experiência confirma: “Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4-6). O caminho certo para preservar o crente na salvação é mediante a fé, guardada na virtude de Deus para a salvação já a se revelar no último tempo (cf. 1 Pe 1.5). Assim chegaremos lá! 10.5.3. A B íb l ia m o s t r a o c a m i n h o d o a r r e p e n d im e n t o e d o p e r d ã o Para o crente guardar-se no caminho da salvação, importa que ande na luz, como o Senhor na luz está! Então, o sangue de Jesus purifica de qualquer falta que tiver cometido contra Deus (cf. 1 Jo 1.7,9). A atitude normal é o crente não pecar (1 Jo 2.1; 3.6). Mas, “se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2.1). Jesus viu graves falhas nas igrejas na Ásia Menor, que constituíam peri go, ameaça de morte espiritual (cf. Ap 3.1) e perda do castiçal. O pró prio Jesus disse que batalharia contra elas (cf. Ap 2.16). Todavia, Jesus não ensinou às igrejas que “sendo já uma vez salvas estariam salvas para sempre”. Pelo contrário, advertiu àquelas igreja dizendo: “Arrepende- te”! (cf. Ap 2.5,16,21:3.3,19) Um crente que vigia e se arrepende de qualquer falta cometida conser va a sua alma lavada no sangue de Jesus e, confiando no poder de Deus, pode permanecer no caminho do Senhor até o fim! Que Deus nos guarde! 2 0 8 C.a p ít t t t o 8 Eclesiologia A D o u t r i n a d a Ig r e j a T EOLOciA S ist e m á t ic a 1. A O rigem da Igreja Iniciamos aqui um estudo sobre a Igreja do Deus vivo (cf. lT m 3.15). A Igreja é o alvo do grande amor de Jesus Cristo. A Bíblia diz: “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.25). Para melhor compreensão da doutrina sobre a Igreja, iremos meditar sobre a origem desse organismo sob três aspectos. 1.1. A I g r e ja tem o r ig em em D e u s d e sd e a e t e r n id a d e 1.1.1. A Igreja no coração de Deus Quando Deus, na sua presciência, previu a queda do homem que haveria de criar, por seu grande amor concebeu um plano de salvação para esse homem, e isso através do sacrifício do seu Filho amado (cf. Ef 1.4,5; 1 Pe 1.19,20). O Filho aceitou o plano divino. E por isso que a Bíblia diz do “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8). No seu eterno plano, Deus também determinou as bases e a forma da comunhão que deveria haver entre os que aceitassem a salvação por Jesus Cristo. Foi então que a Igreja surgiu como um plano embrionário no coração de Deus. Esse embrião se manteve “oculto em mistério” (cf. 1 Co 2.7) desde os séculos dos séculos, até que o Pai, na plenitude dos tempos, o quis revelar pelo Espírito Santo (cf. Ef 3.2-6; 1 Co 2.10). 1.1.2. A Igreja na plenitude dos tempos Quando Jesus, na plenitude dos tempos (cf. G14.4), veio e iniciou a sua missão, começou a ser revelado aquele mistério de Deus. Os homens que se convertiam pela pregação de Cristo começaram a segui-lo e a “se congregar em Cristo” (Ef 1.10). De modo natural, formou-se em torno de Jesus um agrupamento que foi o início da Igreja. Jesus falou sobre a sua Igreja dizendo: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mt 16.18), referindo-se à confissão de Pedro que havia declarado na sua fé: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16). O início da igreja foi simples: Jesus era o centro em tudo e só havia uma caixa para atender aos pobres. Judas era o tesoureiro dessa caixa (cf. Jo 13.29). 210 Ec l esio l o g ia - A D o u t r in a d a Ic r .u a 1.13. A Igreja estabelecida Somente quando o Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos e eles foram batizados com poder (cf. A t 1.5), é que a Igreja foi estabelecida em autoridade e na forma como Deus havia determinado. O mistério de Deus, guardado desde o princípio dos séculos, estava reve lado: a Igreja, órgão de Deus na dispensação do Novo Testamento, ha via aparecido em cena. 1 .2 . O PROJETISTA DA IGREJA É ÜEUS Nada ficou dependendo de invenções ou de idéias humanas. Tudo relativo à Igreja já estava incluído no plano divino. 1.2.1. Deus fornece o modelo Sempre que Deus determina que o homem faça algo em cooperação consigo, fornece o modelo conforme tudo deva ser feito: • Quando Deus ordenou que Noé construísse a arca, não deixou sob a responsabilidade do patriarca a escolha do material, do molde e das medi das. Deus determinou tudo, até os menores detalhes (cf. Gn 6.14-16); • Quando Deus ordenou a Moisés que construísse o Tabernáculo, Ele lhe deu orientações detalhadas acerca de tudo e enfatizou: “Atenta, pois, que o faças conforme o seu modelo, que te foi mostrado no monte” (Êx 25.40); • Da mesma maneira, Deus mostrou a Davi o “risco de tudo” para o templo que Salomão deveria construir (cf. 1 Cr 28.12). Davi então falou a Salomão: “Tudo isso, disse Davi, por escrito me deram a entender por man dado do Senhor, a saber, todas as obras deste risco” (cf. 1 Cr 28.19). Assim, Deus revelou o modelo da Igreja, o qual Ele havia mantido em oculto. Im porta, por isso, fazer tudo conforme esse modelo (cf. 2 Tm 1.13,14). 1.2.2. Deus revelou o modelo da Igreja através do Espírito Santo Quando a Igreja, no dia de Pentecostes, se levantou em poder, não existiam livros ou ordens orientando sobre a forma como ela deveria ser edificada. Jesus ensinou muitas coisas, mas também disse: “Ainda tenho 211 T EOLOGiA S ist e m á t ic a muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade” (Jo 16.12,13). Foi isso o que aconteceu. O Espírito Santo tomou a direção de tudo, e a igreja apostólica surgiu em pleno funcionamento, com os misté rios em ação, com os dons operando e com um crescimento notável. Des sa maneira, a igreja em Jerusalém tomou-se padrão para todos os tempos. Os demais detalhes sobre esse mistério foram depois manifestados pela revelação que Paulo escreveu através das suas epístolas (cf. Ef 3.3), fornecendo, assim, uma doutrina detalhada sobre a maneira como a igreja local deve ser edificada e como deve funcionar. Ele podia escrever: “Eu recebi do Senhor o que também vos ensinei” (1 Co 11.23). Foi esse ensino que, por toda parte, foi entregue em cada igreja (cf. 1 Co 417 ). 1.2.3. Espírito Santo — o executor do projeto Quando o Espírito Santo foi derramado no começo do século passado, dando início ao movimento pentecostal, vivificou essa doutrina de ma neira impulsionadora. A Palavra de Deus sobre a igreja local se tomou viva e constituiu um modelo que devia ser obedecido. Igrejas se levanta ram por todas as partes do mundo, edificadas conforme o modelo inicial. 1.3. O PLANO DIVINO DISTINGUE IGREJA UNIVERSAL E IGREJA LOCAL 1.3.1. A Igreja u niv ersal A Igreja universal é um organismo espiritual, invisível ao olho hu mano, composta de todos os que, em todos os tempos e em todos os lugares, possuírem os nomes escritos no Livro da Vida. E “a universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus” (Hb 12.23). Os crentes do Antigo Testamento, que creram em Deus e foram aceitos por Ele através do sacrifício de cordeiros, após a morte e a ressur reição de Jesus foram postos em pé de igualdade com os crentes do Novo Testamento (cf. Rm 3.25,26). Eles tomarão parte na primeira ressurrei ção, quando Jesus vier nas nuvens. Jesus é o líder da Igreja universal. Não existem nela ministérios ou cooperadores: Ele é tudo em todos. Aqueles que permanecem em Jesus dando frutos pertencem à Igreja uni versal. Se alguém não dá fruto, é cortado (cf. Jo 15.4-6). Todas as igrejas 212 Ec l e sio l o c ia - A D o u t r in a d a Ig r e ja locais no mundo pertencem à Igreja universal, mas é possível ser mem bro de uma igreja local, sem pertencer à Igreja universal. 1.3.2. A IGREJA LOCAL A igreja local é a forma neotestamentária da comunhão entre os crentes. E um órgão que Jesus fez levantar através da sua morte (cf. Jo 11.52; Ef 2.15,16). Ela é o agrupamento de crentes regenerados e batizados em água, residentes em uma determinada comunidade, os quais, com o propósito de obedecer à Palavra de Deus, se reúnem em um organismo espiritual para, sob a direção de um ministro de Deus, servir ao Senhor. Pela Palavra de Deus, sabemos que era possível saber se uma pessoa per tencia ou não à igreja. A Bíblia fala de “alguns da igreja” (At 12.1) e dos que “saíram de nós” (1 Jo 2.19). Assim, toma-se manifesta tanto a reti dão dos sinceros (cf. 1 Co 11.19) como o desvario dos errados (cf. 2 Tm 3.9). Quando a Bíblia fala da disciplina na igreja, subentende-se que o disciplinado pertencia à mesma, pois ninguém pode ser desligado de um local ao qual não pertencia (cf. Mt 18.17,18). Na igreja local, todos os membros são iguais em consideração, pois são irmãos (cf. Mt 23.8-10). Não existe discriminação de raça nem de posição social: todos são varas na mesma videira (cf. Jo 15.5). A Bíblia fala sempre de uma só igreja local em cada lugar: a igreja em Jerusalém (cf. A t 8.1), em Antioquia (cf. A t 13.1), em Corinto (cf. 1 Co 1.2), em Tessalônica (cf. 1 Ts 1.1) e emÉfeso (cf. Ap 2.1), por exemplo. A igreja local também é referida na forma plural, quando se trata das igrejas existentes em deter minada região. Assim, as igrejas naGalácia (cf. G 11.2), na Judéia, Galiléia e Samaria (cf. A t 9.31) e na Macedônia (cf. 2 Co 8.1). 2. A Estrutura da Igreja A Bíblia fala da igreja como “a casa de Deus” (1 Tm 3.15). Isso nos faz pensar na sua estrutura, sistema que cada construção de valor deve possuir. Estrutura é um conjunto de partes que se destinam a sustentar a 213 T EOLOGiA S ist e m á t ic a carga. Sem uma estrutura segura, a construção pode cair. A estrutura da Igreja é de grande importância. Vamos observar três coisas que formam essa estrutura, sem as quais a Igreja não pode ser aquilo que Deus, o grande projetista, planejou que fosse. 2.1. A Igreja (ekklesia) de D eus é um povo tirado do mundo O mais importante na estrutura da Igreja e que lhe dá a razão de ser e de existir é que ela seja realmente constituída de um povo que, de acor do com as palavras de Jesus, tenha sido tirado do mundo (cf. Jo 15.19). Essa realidade é evidenciada, de modo claro, pela própria palavra que o Novo Testamento usa, em sua língua original (grego), para “igreja” — ekklesia. Essa palavra é composta de duas outras: ek e klesis. Ek significa “para fora”, e klesis, “chamado”. Ekklesia é usada no Novo Testamento 115 vezes e aparece em três significações distintas, porém sempre tra tando de algo que é chamado para fora. • É usada três vezes para expressar uma assembléia de comunidade grega, tanto legal (cf. At 19.39) como ilegal (cf. A t 19.32,40). Na acepção legal, os componentes da referida câmara eram chamados do convívio da família e da sociedade para constituírem aquela assembléia. • É usada duas vezes para designar o Israel de Deus no Antigo Testa mento (cf. At 7.38; Hb 2.12), exprimindo, assim, como Deus chamou a Israel dentre os povos para ser um povo seu (cf. Dt 7.6-8). • É usada 110 vezes para designar a Igreja do Deus vivo e revela grandes e importantes verdades sobre essa organização, como um povo “chamado para fora”: Klesis, com relação à Igreja, nos faz pensar na cha mada de Jesus aos pecadores perdidos (cf. Mt 9.13; Lc 19.10). Deus cha ma por sua soberana vocação (cf. Fp 3.14), para comunhão com o seu Filho Jesus Cristo (cf. 1 Co 1.9). Ek evidencia que