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Vict�ria K. L. Card�so Febre reumática Introdução Definição: sequela não supurativa que ocorre em 2 a 4 semanas após faringite estreptocócica beta-hemolítica do grupo A (EBGA). ● Sintomatologia: artrite, cardite, coreia, eritema marginado e nódulos subcutâneos. ○ Pior manifestação: cardite → pode haver dano crônico e progressico às válvulas cardíacas, causando descompensação cardíaca. Motivo das manifestações: resposta imune tardia em pessoas geneticamente predispostas → também é associada a baixo nível socioeconômico. Epidemio: ● Pop. mais atingida: pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum em crianças e adultos jovens (5 a 15 anos). ● Principais infecções: faringoamigdalite. Obs: apesar do impetigo também ser causado pelo EBGA, ele não causa artrite reumatóide. Etiopatogenia Principal ponto: interação entre o meio ambiente e o indivíduo. Fatores genéticos para maior suscetibilidade: presença de HLA II nos loci DRB1 e DRB3. ● Associação aos alelos HLA DR7 e DR53. ● Polimorfismo de genes da resposta inflamatória e da defesa contra Streptococcus pyogenes. Polimorfismo de genes: ● Presença de resposta imune cruzada, mediada por mimetismo molecular. ● Envolve componentes humorais e células do sistema imune adaptativo. ○ Essa resposta cruzada resulta na clínica da FR, ● Clínica envolvida: ○ Artrite transitória → formação de imunocomplexos. ○ Coreia → ligação de anticorpos aos gânglios da base. ○ Cardite → ligação de anticorpos e infiltração de células T. Faringoamigdalite estreptocócica Trata-se de uma síndrome bacteriana que pode evoluir para o quadro de febre @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so reumática. Logo, quando diagnosticada e adequadamente tratada, impede a ocorrência da FR. Quadro clínico: ● Mal-estar geral. ● Vômitos. ● Febre elevada. ● Hiperemia. ● Edema de orofaringe. ● Petéquias. ● Exsudato purulento. ● Linfonodos cervicais palpáveis e dolorosos. Obs: a faringotonsilite estreptocócica é o principal diagnóstico diferencial para infecções virais, então é importante diferenciar um quadro viral na suspeita da faringotonsilite. Obs: os achados de coriza, tosse, rouquidão e conjuntivite sugerem infecção viral. Diagnóstico: ● Padrão ouro: cultura de orofaringe. ● Exames sorológicos: evidenciam infecção pregressa, mas não possuem valor diagnóstico no quadro agudo. ○ Exame a pedir: ASLO. ○ Início da elevação: + 7o dia de infecção. ○ Pico: entre a 4a e a 6a semana. ○ Tempo de persistência: de meses a 1 ano da infecção. ● Exames para evidência de infecção prévia: ○ Cultura de orofaringe → pode ser negativa em 75% dos casos de FR. ○ Teste rápido para o antígeno estreptocócico. ○ Títulos de autoanticorpos → ASLO ou antiDNAse B. Obs: a sorologia é mais útil, pois os autoanticorpos estão elevados, quando a cultura ou o teste rápido não são mais positivos. Obs: na suspeita de infecção prévia de faringoamigdalite estreptocócica ou de FR, a evidência laboratorial faz-se necessária, pois sem isso o diagnóstico é duvidoso. Quando o exame laboratorial não é necessário: na presença de coreia, pois essa manifestação é a única que pode aparecer de forma solitária, tornando a evidência de infecção prévia de EBGA desnecessária. Quadro clínico Manifestações cardinais no primeiro episódio: 1. Cardite → 50-70%. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so 2. Artrite → 35-66%. 3. Coreia → 10-30% → predomínio no sexo feminino. 4. Nódulos subcutâneos → 1-10%. 5. Eritema marginado → < 6%. ● Apessar dessa manifestação ser a menos comum, é a MAIS ESPECÍFICA da FR. Formas primárias de apresentação: ● Mais comum: doença febril aguda → 70-75% dos casos. ○ Possui manifestação articular e cardite ● Menos comum: doença neurológica com coreia de Sydenham. ○ Comumente não há manifestações articulares. ○ Caso haja cardite, a manifestação é subclínica. Doença febril aguda X Doença neurológica: ● Doença febril aguda: ○ Inicia em 2-4 semanas após infecção por EBGA. ○ Febre. ○ Sintomas articulares agudos. ○ Cardite clínica ou subclínica. ○ (raro) Eritema marginatum e nódulos subcutâneos. ○ Elevação de provas inflamatórias. ○ Anticorpos antiestreptolisina O (ASLO) e antiDNAse B positivos → evidencia infecção prévia pelo EBGA. ○ Excelente resposta ao AAS e aos AINES. ○ Duração < 6 semanas. ○ + 75% dos casos evoluem com com cardite reumática crônica (CRC). ● Doença neurológica: ○ Início tardio: 1 a 8 meses após a infecção pelo EBGA. ○ Sem febre. ○ Não costum ahaver acometimento articular. ○ Presença de transtorno comportamental e coreia. ○ Cardite subclínica → > 30% dos casos. ○ Provas de atividade inflamatória geralmente normais. ○ ASLO geralmente sem significado. ○ Pode haver elevação de antiDNase B. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Duração de 6 semanas a 6 meses. ○ 50% dos casos evoluem com CRC. Tipos de manifestações clínicas Artrite: ● Detalhe inicial: é a manifestação mais comum. ● Início: + após 21 dias da infecção → geralmente é o primeiro sintoma. ● Evolução: autolimitada e sem sequela, mesmo sem tratamento. ● Quadro mais comum: ○ Poliartrite assimétrica, migratória, de grandes articulações, especialmente em MMII. ○ Muito dolorosa. ● Articulações mais acometidas: joelhos, tornozelos, cotovelos e quadris → duração < 1 semana em cada articulação. ○ Mais comum: poliartrite. ■ Caso de monoartrite: é critério MAIOR apenas em populações de alto risco → critérios de Jones. ○ Não costuma envolver pequenas articulações (mãos e pés). ● Duração total: < 1 mês. ● Melhora com: AAS e AINES. Cardite: ● Detalhe inicial: é a manifestação mais grave → pode causar óbito. ○ Incidência: 40-70% dos casos de primeiro surto. ● Início: precoce → diagnóstico nas primeiras 3 semanas da fase aguda. ● Quadro: ○ Geral: pancardite → pode envolver o endocárdio, o miocárdio e o pericárdio. ■ Obs: pericardite e miocardite isoladas raramente são de etiologia reumática. ○ Achado mais comum: valvulite. ■ Valvas mais acometidas: valvas mitral e aórtica. ○ Lesões mais comum na fase aguda: 1. Regurgitação mitral. 2. Regurgitação aórtica. ○ Lesão comum na fase crônica: estenose valvar. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● Achados clínicos: ○ Cardite subclínica: exame cardiovascular normal, apenas com alteração no intervalo PR (ECO). ○ Cardite leve: taquicardia, sopro sistólico mitral e abafamento de bulhas. ○ Cardite moderada: sopro de Carey-Coombs*, taquicardia persistente e extrassístole. ○ Cardite grave: sinais e sintomas de IC. ● Principal exame diagnóstico: ecocardiograma com doppler transtorácico (ECOTT). ○ Diagnostica mesmo sem outros achados clínicos. ○ A American Heart Association recomenda se realizar o ECOTT em todos os casos confirmados ou suspeitos de febre remática. ○ ECOTT sem achados típicos exclui cardite reumática. Coreia de Sydenham: (coreia menor ou dança de São Vitus) ● Detalhe inicial: predomina em crianças e adolescentes do sexo feminino → ocorrência entre 10-30%. ○ É raro em > 20 anos de idade. ○ Pode ter manifestação isolada. ● Início: 1-8 meses após a infecção → maior período de latência. ● Recuperação: é comum a recuperação total em 6 semanas. ○ Quase todos os pacientes têm recuperação total em 6 meses. ● Quadro: ○ Características principais: desordem neurológica com movimentos (generalizados) rápidos involuntários incoordenados, sem propósito, que desaparecem durante o sono e têm relação com alterações emocionais. ○ MM afetados: face, lábios, pálpebras e língua. ○ Envolvimento mais comum: tronco e extremidades → geralmente unilateral e com fraqueza muscular. ○ Comportamento associado: isolamento → por vergonha. ● Diagnóstico: exame neurológico minucioso e com descarte de diagnósticos diferenciais. ○ Ex. de diagnósticos diferenciais: transtorno conversivo, tiques e atetose. ● Importante: pode haver recorrência e pode ocorrer durante a gestação ou ao uso de ACO. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Eritema marginatum: ● Detalhe inicial: manifestação rara (< 3%). ● Quadro:○ Eritema rosáceo com bordas nítidas, centro claro, rodeado por margens serpiginosas. ○ Lesões múltiplas, indolores, não pruriginosas e evanescentes (curta duração, efêmero). ○ As lesões podem ser induzidas pelo calor. ○ À digitopressão as lesões desaparecem. Nódulos subcutâneos: ● Detalhe inicial: ŕa raro e geralmente está associado à cardite grave. ● Início: 1-2 semanas após as outras manifestações → é tardio. ● Quadro: ○ Nódulos múltiplos, arredondados, de tamanho variado (de 0,5 a 2 cm), firmes, móveis e indolores. ○ São recobertos por pele normal, sem características inflamatórias. ○ Localização: se encontram sobre proeminências de superfícies extensoras. ■ Principais locais: punho, cotovelo, joelho, tornozelo, região occipital, tendão de aquiles e coluna vertebral. Obs: o eritema marginatum e os nódulos subcutâneos podem ocorrer como manifestação maior isolada da febre reumática (raro). Outras manifestações: ● Febre alta. ○ Para ser critério menor: temperatura axilar > 38°C. ● Dor abdominal. ● Taquicardia que persiste durante o sono. ● Taquicardia desproporcional à febre. ● Mal-estar. ● Epistaxe. ● Dor precordial. ● Anemia. ● Leucocitose. Diagnóstico Diagnóstico: é clínico, pois não há sinal patognomônico ou exame complementar específico para diagnosticar. ● Os exames laboratoriais apenas auxiliam no diagnóstico. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● Método utilizado para o diagnóstico: critérios clínicos e laboratoriais de Jones. Diagnósticos diferenciais: ● Para artrite: hepatite, caxumba, rubéola, meningococo, endocardite bacteriana, anemia falciforme e leucemia linfoblástica aguda. ● Para cardite: pericardite viral, endocardite bacteriana, LES, doença de Kawasaki, sopro anêmico, prolapso da valva mitral e mixoma da valva atrial. ● Para coreia: encefalite viral, LES, sarcoidose, Huntington e coreia familiar benigna. ● Para nódulos subcutâneos: LES e AIJ (Artrite Idiopática Juvenil). ● Para eritema marginado: sepse, reação a drogas e exantema da AIJ sistêmica. Critérios de Jones Caracterização do diagnóstico para todos os pacientes com evidência de infecção prévia por EBGA: ● Febre reumática inicial: 2 critérios maiores OU 1 maior e 2 menores. ● Febre reumática recorrente: 2 critérios maiores OU 1 maior e 2 menores OU 3 menores. Dica: a presença de 3 critérios menores como diagnóstico só entra na febre reumática recorrente. Importante: a divisão entre critérios maiores e menores se baseia na especificidade e não na frequência de manifestação. Principais exames complementares: ● Reagentes de fase aguda: ○ VHS. ○ Proteína C reativa. ○ Alfa-1-glicoproteína ácida. ○ Alfa-2-globulina. ● Eletrocardiograma: para avaliação de taquicardia, de distúrbios de condução e para alterações do segmento ST. ● Ecocardiograma: para pesquisa de regurgitações valvares. ● Radiografia de tórax: para avaliação de cardiomegalia e de sinais de congestão pulmonar. Critérios maiores: ● População baixo risco: ○ Cardite (clínica e/ou subclínica). ○ Artrite → poliartrite apenas. ○ Coreia. ○ Eritema marginado. ○ Nódulos subcutâneos. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● Pop. alto e moderado risco: ○ Cardite → clínica e/ou subclínica. ○ Artrite → mono ou poliartrite e poliartralgia. ○ Coreia. ○ Eritema marginado. ○ Nódulos subcutâneos. Critérios menores: ● Pop. baixo risco: ○ Poliartralgia. ○ Febre ≥ 38,5°C. ○ VHS ≥ 60 mm/h e/ou proteína C reativa ≥ 3 mg/dl. ○ Intervalo PR prolongado→ exceção: cardite como critério maior. ● Pop. alto e moderado risco: ○ Monoartralgia. ○ Febre > 38ºC. ○ VHS ≥ 60 mm/h e/ou proteína C reativa ≥ 3 mg/dl. ○ Intervalo PR prolongado → exceção: cardite como critério maior. Obs: a proteína C reativa, a velocidade de hemossedimentação (VHS) e o prolongamento do intervalo PR no eletrocardiograma, que são critérios menores, não tem muita variação entre as populações (alto e baixo risco) → Ou seja: proteína C reativa > 3 mg/dℓ e VHS > 60 mm são típicos de FR, no correto contexto clínico. Obs: apesar de a proteína C reativa e o VHS serem critérios menores, valores normais desses exames devem gerar dúvidas quanto ao diagnóstico de FR → Exceção: pacientes com coreia isolada. Obs: a artralgia pode aparecer tanto como monoartralgia, quanto como poliartralgia. Porém, as MONOartralgias só ocorrem em pessoas de alto risco (na febre reumática) e, nesse caso, é um critério MENOR. Quando os critérios de Jones não são necessários: ● Coreia como única manifestação: deve-se fazer a avaliação de cardite com ECOTT. ● Cardite indolente como única manifestação: realizar ECOTT para pesquisar cardite. ● Recorrência de FR em pacientes com histórico de FR e cardite prévia ou CRC: deve-se fazer o diagnóstico presuntivo com outro critério maior ou 2 critérios menores, desde que haja evidência de infecção recente pelo EBGA. ○ Se houver pericardite ou novo envolvimento valvar também já se diagnostica. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Tratamento De forma geral: ● Suporte clínico. ● Tratamento das manifestações clínicas. ● Profilaxia primária e secundária. ● Quando hospitalizar: cardite moderada ou grave, artrite incapacitante ou coreia grave. ● Repouso: durante 4 semanas, em caso de cardite moderada ou grave. Profilaxia primária → erradicação do EBGA. ● Penicilina G benzatina: dose única. ○ < 20 kg → 600.000 UI, IM. ○ ≥ 20 kg → 1.200.000 UI, IM. OU ● Penicilina V: 10 dias. ○ 25 a 50.000 UI/kg/dia, 8/8 h ou 12/12 h ○ Adulto → 500.000 UI, VO, 8/8h. OU ● Amoxicilina: 10 dias. ○ 35 a 50 mg/kg/dia, 8/8h, ou 12/12h. ○ Adulto → 500 mg, VO, 8/8 h. Profilaxia secundária → prevenir recorrências: ● Penicilina G benzatina: 21/21 dias. ○ < 20 kg: 600.000 UI, IM. ○ ≥ 20 kg: 1.200.000 UI, IM. ● Penicilina V: 12/12 horas. ○ 250 mg, VO. ● Duração da profilaxia: ○ FR sem cardite prévia: até 21 anos de idade ou até 5 anos do último surto – o que for de maior tempo. ○ FR com cardite prévia, insuficiência mitral leve residual ou resolução da lesão valvar: até 25 anos de idade ou até 10 anos do último surto – o que for de maior tempo. ○ FR com lesão valvar residual moderada a grave: até os 40 anos de idade ou por toda a vida. Tratamento no caso de artrite: ● Principais fármacos: AINES, AAS e naproxeno. ○ Controlam os sintomas. ○ Previnem o acometimento de outras articulações. ● Dose naproxeno: 10 a 20 mg/kg/dia, dividido em 2x/dia. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Crianças > 2 anos: 10 a 20 mg/kg/dia, dividido em 2 tomadas/dia → dose máx de 1.000 mg/dia. ○ Adultos: 250 a 500 mg, 2x/dia → dose máx de 1.250 mg. ● Tempo de utilização: 4 semanas. ● Fármacos alternativos: corticosteróides em baixas doses. ○ Apenas para pacientes que NÃO podem usar AAS ou naproxeno. Tratamento no caso de cardite: ● Cardite leve e moderada: prednisona. ○ Dose: 1 a 2 mg/kg/dia; máx de 80 mg/dia, por 2 a 3 semanas. ○ Cardite leve: segue com redução da dose, gradualmente, até completar 4 a 8 semanas. ○ Cardite moderada: segue com redução da dose, até completar 12 semanas. ● Cardite grave: pulsoterapia com metilprednisolona intravenosa. ○ Dose: 30 mg/kg/dia em ciclos mensais. ○ Mais: tratar a IC com diuréticos e restrição hídrica. ■ Furosemida: 1 a 6 mg/kg/dia. ■ Espironolactona: 1 a 3 mg/kg/dia. Tratamento no caso de coreia: ● Formas leves a moderadas: repouso e ambiente calmo. ● Formas graves: hospitalização e medicamentos como haloperidol (1 mg, VO, 12/12h, até dose máxima de 5 mg/dia), valproato ou carbamazepina. Quando indicar a cirurgia cardíaca na fase aguda: ● Cardite refratária ao tratamento inicial. ● Graves lesões de valva mitral, com ruptura de cordas tendíneas ou perfuração das cúspides valvares. @p�sitivamed
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