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CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA Prof. Filipe Bellinaso CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA Marília/SP 2022 “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 SUMÁRIO CAPÍTULO 01 CAPÍTULO 02 CAPÍTULO 03 CAPÍTULO 04 CAPÍTULO 05 CAPÍTULO 06 CAPÍTULO 07 CAPÍTULO 08 CAPÍTULO 09 CAPÍTULO 10 CAPÍTULO 11 CAPÍTULO 12 CAPÍTULO 13 CAPÍTULO 14 CAPÍTULO 15 09 22 34 45 57 69 80 91 102 113 124 135 145 156 166 INTRODUÇÃO A CIÊNCIA POLÍTICA O CONCEITO DE PODER O CONCEITO DE ESTADO A HISTÓRIA DO PENSAMENTO POLÍTICO - I A HISTÓRIA DO PENSAMENTO POLÍTICO - II AS FUNÇÕES DO ESTADO AS FORMAS DE ESTADO E OS SISTEMAS DE GOVERNO AS FORMAS DE GOVERNO A FORMAÇÃO DO ESTADO BRASILERO INTRODUÇÃO A ECONOMIA HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO - PARTE I HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO - PARTE II A MICROECONOMIA E A MACROECONOMIA TEORIA DO CONSUMIDOR FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 INTRODUÇÃO Olá, minha cara aluna! Olá, meu caro aluno! Estamos começando o nosso curso de Ciência Política e Economia. É muito provável que algumas pessoas se sintam mais motivadas e outras um tanto mais receosas em estudar esse assunto. De qualquer forma, peço um pouco de calma e paciência, que na medida do possível, faremos deste processo o mais motivador e leve possível. É natural também que ao se depararem com essa disciplina, é possível que tenham pensado em algum destes questionamentos: Mas porque eu devo estudar ciência política e economia no jornalismo? Política é algo subjetivo, como vou estudar isso? Mas eu não tenho interesse em seguir esta área dentro do jornalismo, para que estudar? etc. Aqui nesta introdução começarei a responder algumas destas perguntas, mas espero que quando você chegar ao final da conclusão deste material, você tenha encontrado as respostas para estas suas perguntas iniciais. Basicamente, como iremos ver ao longo do nosso curso, não existe sociedade sem política e economia, uma vez que o jornalismo se preocupa em retratar os acontecimentos que cercam a sociedade em suas múltiplas áreas, é impossível que o jornalismo, independente de sua área, não aborde em algum momento questões políticas e questões econômicas. Como iremos ver em nossa primeira aula, e por isso não vou me prolongar muito nesse debate aqui nesta introdução, política e economia não são opiniões, e sim ciências. Você pode até emitir uma opinião ou simpatizar mais com determinados pensadores, mas isso não significa que dentro do pensamento científico e econômico não existam metodologias e princípios norteadores. Você até pode achar que é possível plantar feijão sem água, porém, a ciência biológica afirma que é necessário água para plantar o feijão. Nesse sentido, o jornalista, como aquele que deve estar compromissado com a verdade, toda vez que a política e a economia passarem pelo seu caminho, seja trabalhando diretamente com essas áreas ou em outras, é necessário ter os fundamentos básicos destas ciências para que possam transmitir da forma mais honesta possível aquele determinado conteúdo. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 Vale ressaltar também, que é importante, não só em termos profissionais, mas em termos particulares mesmo, você como cidadão, tenha os conhecimentos básicos sobre política e economia, para que com isso possa exercer melhor a sua própria cidadania. Nesse sentido, em busca de ofertar as ferramentas básicas e introdutórias da ciência política e da economia, debateremos os assuntos conceitos da qual compreendo ser o mais importante para vocês quanto futuros jornalistas. Noções básicas que se farão presentes no futuro trabalho de vocês, principalmente para aqueles que trabalharam diretamente com esta área. Nosso primeiro grupo de aulas vai ser dedicado ao estudo da ciência política, da qual demanda mais tempo, uma vez que será a realidade que mais se fará presente no trabalho de vocês independente de abordarem diretamente as questões políticas dentro do jornalismo. A política é a alma da sociedade, logo, ela sempre irá aparecer nas múltiplas ramificações que a sociedade possui: cultura, esportes etc. Nossas três primeiras aulas serão introdutórias e buscaram definir três conceitos importantes para depois dar os próximos passos, que é a própria definição de ciência política, e os conceitos de Poder e Estado. Dando sequência, dedicaremos duas aulas ao estudo da história do pensamento político, analisando as mais importantes contribuições políticas ao longo da história, entendendo que estas, são os fundamentos básicos para o desenvolvimento de todo o pensamento político que veio posteriormente. Após isso, trabalharemos elementos importantes envolvendo a questão do Estado, diferenciando-o do governo, entendendo as suas funções, e com isso, compreendendo um pouco melhor como se dá a dinâmica política. Além disso, diferenciarmos as formas de Estado, os sistemas de governo e as formas de governo, que muitas vezes podem gerar confusão. Para finalizar as aulas voltadas mais para ciência política falaremos do processo histórico da formação do Estado brasileiro, para entendermos um pouco as características específicas da formação do nosso país. Ao adentrarmos a economia, faremos um movimento inicial muito parecido, debateremos os principais conceitos e a definição de economia, além de fazer um levantamento histórico sobre a evolução do pensamento econômico. Dando sequência, abordaremos a diferença das duas grandes subáreas presentes dentro da economia, a microeconomia e a macroeconomia, além de dedicar uma aula completa, para compreender a chamada teoria do consumidor. E para finalizar nosso curso, assim como fizemos com a ciência política, iremos abordar a formação CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 econômica do Brasil, novamente, buscando compreender as características específicas da formação do nosso país. O caminho é longo, um tanto quanto complicado, mas aos poucos vamos alcançando os nossos objetivos. Uma boa jornada a todos, um ótimo aprendizado, e desejo, que na medida do possível, seja um agrado para todos. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO A CIÊNCIA POLÍTICA Olá, minha cara aluna! Olá, meu caro aluno! Essa é a primeira aula do nosso curso de Ciência Política e Economia. Como dito anteriormente na introdução, a primeira parte do nosso curso se dedicará ao estudo da ciência política - lembrando também, que política e economia não são dois elementos que possam ser separados por completo. Para começarmos o estudo da ciência política, se faz de extrema importância compreendermos o que caracteriza e qual é o objeto de estudo desta área do conhecimento. E por fim, falaremos sobre a origem dos primeiros pensamentos sistematizados sobre a política. Antes de começarmos, gostaria de falar para você não se desesperar, sobretudo se você não for familiarizado com os conceitospolíticos, aos poucos, ao longo de nossas aulas, iremos explicando os principais conceitos. 1.1 O Que é a Ciência Política? Para dar início de forma definitiva a esta aula, nada mais justo do que ter como ponto de partida, a compreensão da definição do que se trata a Ciência Política. Segundo o pensador brasileiro Darcy Ribeiro, muitas vezes o meio acadêmico erra em não dizer e explicar o óbvio. Então comecemos pelo óbvio: ciência e opinião são coisas distintas. A opinião, ou como mais usada dentro do meio acadêmico, o senso comum, é caracterizado por uma forma de conhecimento da qual se pauta em elementos aleatórios e pessoais, normalmente atrelados ao empirismo (em outras palavras, as informações que obtemos através dos nosso sentidos) ou àquilo que comunmente chamamos de achismo. É importante evidenciar, que não deixa de ser uma forma de conhecimento, mas vai ser distinta ao conhecimento científico. Por sua vez o conhecimento científico, em linhas gerais, é o conhecimento extraído de acordo com uma determinada metodologia, que por sua vez, segue um conjunto de regras, desta forma, se trata de um conhecimento sistemático e racional, que apesar CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 de não estar isento de subjetividades, aproximasse o máximo possível da objetividade. Ao longo desta aula nos debruçaremos mais sobre esta questão. Desta forma, pode-se existir momentos em que a opinião caminhe para o mesmo sentido que o conhecimento científico, mas pode ser que ambos caminhem para sentidos opostos. Quando se trata do meio acadêmico, é importante ter claro que se trata de um espaço para o pensar científico. É importante evidenciar essa obviedade, uma vez que, sobretudo na área das humanidades, principalmente na ciência política, é muito comum que o senso comum e o conhecimento científico, em determinados momentos, se misturem, e este, é um erro que não se pode cometer. Nesse sentido, cabe destacar, antes mesmo de definir a ciência política, que ela é uma área do conhecimento científico, ou seja, ela possui metodologias, possui regras, possui racionalidade e assim por diante. Desta forma, ao longo desta disciplina, não trataremos sobre a política na sua esfera optativa, mas sim, na sua esfera científica. Sendo assim, em linhas gerais, Dias (2013) vai afirmar que: A ciência política é uma ciência social que estuda o exercício, a distribuição e a organização do poder na sociedade. Como ciência social, procura estudar os fatos políticos, que envolvem tanto acontecimentos e processos políticos, como o comportamento político que se expressa concretamente na interação social. Dentre outros temas, descreve, por exemplo, os processos eleitorais, a resposta da população as decisões políticas tomadas pelas autoridades, a constituição e a dinámica dos partidos políticos e dos grupos de pressão, os impactos das mudanças políticas e suas consequências, a organização das diferentes formas de governo, as funções exercidas pelas autoridades no interior do Estado, o processo político da tomada de decisões que afetam a sociedade global, as diferentes relações de poder entre indivíduos diversos, a ação dos grupos de influência, a evolução do pensamento político. (DIAS, 2013, p. 1). Desta forma para compreendermos melhor esta área do conhecimento, uma vez que já abordamos brevemente a questão do conhecimento científico, cabe agora refletirmos sobre o significado de política. De acordo com Bobbio (1993), a concepção clássica de política é atribuída aos gregos, sobretudo a obra de Aristóteles que leva o termo como nome. O termo política é derivado do adjetivo proveniente da palavra polis (politikós), ou seja, seria tudo aquilo que se diz respeito a cidade, ou seja, da esfera civil, pública e social, ou nas palavras CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 do autor,” é habitualmente empregado para indicar a que têm de algum modo, como termo de referência, a polis, isto é, o Estado”. (BOBBIO, 2000, p. 160). ISTO ESTÁ NA REDE Polis era o termo utilizado pelos gregos para se referir às suas cidades-Estados. Desta forma, por mais que existisse a noção de povo e território grego, administração política de cada cidade era independente da outra. O exemplo mais comum utilizado são as das cidades Atenas e Esparta, enquanto a primeira é famosa por ser a mãe da ideia de democracia, a segunda é fortemente marcada por seus regimes oligárquicos. Para saber mais sobre a formação e desenvolvimento das polis gregas,a cesse o material desenvolvido pelo Brasil Escola sobre o assunto, no seguinte link: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/a-formacao-polis-grega.htm Título: “A Escola de Atenas” de Rafael Sanzio Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/escola-de-arte-de-atenas-rafael-1143741/ Aristóteles define o ser humano como um animal político (zoon politikón), pois “o homem vive na polis - e porque a polis vive nele - que o homem se realiza como tal” (SARTORI, 1981, p. 158). Nesse sentido, o filósofo grego entende que a completude do ser humano se dá na sua vivência coletiva de forma organizada, que se exprime através da polis, e por outro lado, compreende que o ser humano antes da polis era um ser incompleto. https://brasilescola.uol.com.br/historiag/a-formacao-polis-grega.htm CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 A partir de Aristóteles em diante, ao longo da história, a concepção de política se deu de diversas formas, sobre diversas perspectivas, mas na grande maioria delas, política estava atrelada à ideia de poder. Vejamos alguns exemplos. O filósofo alemão Carl Schmitt, tem uma concepção de política atrelada ao maniqueísmo, nesse sentido ele reduz as relações políticas entre aliados e inimigos, ou em suas palavras, “Pois bem, a distinção política específica, aquela a qual podem reconduzir-se todas as ações e motivos políticos, é a distinção amigo e inimigo.” (SCHMITT, 1999, p. 60.). Nesse sentido, o autor entende por inimigo tudo aquilo que é externo, estranho e distinto, de tal forma que, a unidade de um estado por ser garantida pelo consenso da luta contra um determinado inimigo. O que Schmitt faz, é reduzir a política em uma relação binária, se você não é um aliado, só pode ser um inimigo, e o inverso também é válido. Partindo de outra concepção, Karl Deutsch entende a política como “em certo sentido, a tomada de decisões através de meios públicos” (DEUTSCH, 1979, p. 27- 28), nesse sentido, ela está preocupada com o governo, com a autoadministração de uma determinada comunidade. Isso é extremamente interessante, pois para o cientista social tcheco qualquer núcleo comunitário que seja maior que uma família, já possui uma dimensão política. Considerado um dos pilares da sociologia moderna, Max Weber vai destacar que o conceito de política é extremamente amplo e complexo, mas no seu esforço em defini-lo, vai afirmar que pode ser compreendido como “o conjunto de esforços feitos com vistas a participar do poder ou influenciar a divisão do poder, seja entre Estados, seja no interior de um único Estado” (WEBER, 1970, p. 55). De uma maneira mais geral, o sociólogo alemão vai entender que política como um conjunto de atividades realizadas por indivíduos, organizações, grupos ou instituições, que tem como objetivo alcançar o bem público (não que necessariamente seja o bem público na prática, mas o motivo que conduz a ação é a vontade de fazer o bem público). O jurista alemão Hermann Heller também destacar a complexidade do conceito de política, mas para este, destaca-se o fato de que política e Estado não estão necessariamente conectados, uma vez que para o pensador, a política é anterior ao Estado, e além disso, é possível observar na atualidade, grupos e órgãos políticos que são transestaduais ou até mesmo interestaduais, como por exemplo, os organismos multilaterais. CIÊNCIAPOLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 Ao longo do século XX e neste breve século XXI que vivemos, a sociedade tem cada vez mais se tornado complexa, fazendo com que cada vez mais a política se torne imprescindível. Das grandes guerras até o aquecimento global, da quebra da bolsa de valores à crise dos refugiados, todas as decisões, são decisões políticas. Independente da concepção do conceito de política aqui, uma coisa é evidente, ela se faz presente na vida do ser humano, no seu cotidiano, sobretudo na sua vida coletiva. Em uma palestra, o sociólogo abordou a importância da política para a vida humana da seguinte forma: A política é um esforço tenaz e enérgico para atravessar grossas vigas de madeira. Tal esforço exige, a um tempo, paixão e senso de proporções. É perfeitamente exato dizer - e toda a experiência histórica o confirma - que não se teria jamais atingido o possível, se não se houvesse tentado o impossível. Contudo, o homem capaz de semelhante esforço deve ser um chefe e não apenas um chefe, mas um herói; no mais simples sentido da palavra. E mesmo os que não sejam uma coisa nem outra devem armar-se de força de alma que lhes permita vencer o naufrágio de todas as suas esperanças. Importa, entretanto, que se armem desde o presente momento, pois de outra forma não virão a alcançar nem mesmo o que hoje é possível. Aquele que esteja convencido de que não se abaterá nem mesmo que o mundo, julgado de seu ponto de vista, se revele demasiado estúpido ou demasiado mesquinho para merecer o que ele pretende oferecer-lhe, aquele que permanece capaz de dizer “a despeito de tudo!”, aquele e só aquele tem a “vocação” da política. (WEBER, 1970, p.123-124). Compreendido de maneira geral as concepções de ciência e política, para entendermos melhor o que é a Ciência Política, é importante compreendermos o seu objeto de estudo. ANOTE ISSO O conceito de política é um dos mais amplos e complexos que existem, ao longo do tempo diversos pensadores tentaram definir tal conceito sob diversas perspectivas. Em linhas gerais, entenderemos como política todas aquelas ações que em alguma medida estão relacionadas com a polis, ou em outras palavras com o Estado. Nesse sentido, as ações coletivas são influenciadas e influenciam a política. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 1.1.1 O objeto de estudo Quando olhamos para a história do pensamento político - não se preocupe, ao longo do nosso curso iremos estudar seu desenvolvimento histórico - autores como Platão (427-347 a.C.), Aristóteles (384-322 a.C.), Nicolau Maquiavel (1469-1527), Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704), Alexis de Tocqueville (1805-1859) e Karl Marx (1818-1883), e entre outros, escreverem importantes contribuições para ciência política, que não podem ser ignoradas em nosso mundo contemporâneo. Ao longo do curso, iremos abordar os principais pensadores da ciência política, mas cabe fazer pequenas menções aqui, para compreendermos melhor qual o objeto de estudo da ciência política. Considerado o pai da ciência política moderna, Nicolau Maquiavel, sobretudo através de sua obra clássica O Príncipe, foi responsável por romper o pensar da política das amarras da teologia e da metafísica, e dar os primeiros passos em uma política científica. da Grécia antiga até o Renascimento, via o político em relação com a teologia, a ética e a metafísica, constituindo urna forma de vida que implicava numa visão determinada do homem e da sociedade, um modelo de valores a partir do qual se pode adotar uma visão crítica das políticas concretas. (DIAS, 2013, p.123-124). A partir de Maquiavel, a política não se vê mais como dependente dos fenômenos sobrenaturais e as explicações teológicas, mas sim, como um conjunto de técnicas, táticas e estratégias em função do poder. Se o termo ciência ainda não havia sido desenvolvido, pode se dizer que o autor foi responsável por aquilo que ficou conhecido como realismo político. A partir de Maquiavel como destaca Duverger (1962), existem diversas concepções sobre qual seria o objeto de estudo da ciência política, sendo as definições mais comuns , “a ciência do Estado” e “a ciência do poder”. Porém quando olhamos para todas estas concepções, é possível traçar uma linha de conectividade entre elas, a anuência de que o estudo do poder é a base fundamental desta área do conhecimento. Nas suas palavras: “só a definição ampla da Ciência Política pode ser aceita: é a ciência do poder sob todas as suas formas” (DUVERGER, 1968). Mas Duverger estava longe de colocar um ponto final no debate sobre a definição do objeto de estudo da ciência política. Hermann Heller (1968) entende que o papel CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 desta área do conhecimento é proporcionar a reflexão crítica sobre os fenômenos políticos. Burdeau (1964) vai dizer que o objeto de estudo é a própria política, ou melhor, o dinamismo das sociedades políticas. Fischbach (1949) vai entender a ciência política como aquela responsável por possuir um sistema capaz de julgar os acontecimentos políticos, e mais do que isso, de poder influenciá-los. Em 1948, a UNESCO (Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas), convocou um conjunto de cientistas políticos para que fosse definido o objeto de estudo desta área do conhecimento. A reunião foi um reflexo do debate histórico do tema, uma vez que ficaram divididos aqueles que defendiam a que o objeto de estudo da ciência política era o Estado, e aqueles que defendiam que era o Poder. com isso, a UNESCO deixa de lado a tentativa de definir o objeto de estudo da ciência política, e elabora uma lista com aquilo que ela vai definir como o campo de estudo desta área do conhecimento, dividindo em quatro grandes áreas: a) a teoria política; b) as instituições políticas; c) os partidos, grupos e opinião pública; e d) as relações internacionais. Para Norberto Bobbio (1990), o estudo da ciência política é o estudo da vida política, que pode ser compreendido em três esferas: a) o princípio de verificação como critério de aceitabilidade dos resultados; b) o uso de técnicas da razão que permitam dar urna explicação causal do fenômeno investigado; c) e a abstenção de juízos de valor. Com base em todo esses elementos teóricos levantados até aqui, é evidente que a definição do objeto de estudo da ciência política não é unânime, porém, é evidente que a definição mais próxima a ciência do poder é mais abrangente e complexa, do que a definição quanto ciência do Estado, até porque ao entender que o poder é o seu objeto central de estudo, engloba-se o estudo do Estado como importante manifestação do poder político. E é por isso que, para grande maioria dos cientistas políticos na atualidade, e para o desenvolvimento desta disciplina, entenderemos o objeto da ciência política como o poder. ANOTE ISSO Por mais que não seja unânime a definição do objeto de estudo da ciência política ao longo do seu debate histórico, atualmente a maioria dos cientistas políticos compreendem esta área do conhecimento como a “ciência do poder”, uma vez que dessa forma, entende a ciência política como algo de maior abrangência, inclusive, sendo responsável por estudar as múltiplas esferas do Estado. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Muito se discute o papel do jornalismo dentro da esfera política, sobretudo dentro de uma política democrática, da qual a mídia teria papel fundamental em apresentar os múltiplos pontos de vista sobre os fatos. Nesse sentido, num contexto bipolarizado que se encontra a política atual brasileira, é constante que o jornalismo seja colocado contra a parede. Com isso é importante compreender e refletir sobre como a mídia dentro da esfera política atua como uma ‘faca de doisgumes’, podendo tanto ser a porta voz do mundo democrático, quanto, em movimento oposto, ser responsável pela propagação impositiva de um determinado pensamento. 1.2 A Gênese do Pensamento Político - Grécia Antiga É extremamente complexo afirmar onde surgiu o pensamento político, ou quando se deu a primeira evidência do desenvolvimento da ciência política. Como dito no início desta aula, para muitos teóricos, a vida em coletividade é uma vida política, logo, o pensar sobre a política faz parte do desenvolvimento humano. Mas se pensarmos na ciência política de uma forma mais sistematizada, buscando seguir objetivos e métodos, por mais que sejam diferentes aos que caracterizam a ciência contemporânea, podemos encontrar na Grécia Antiga, a gênese do pensamento político. Como afirmou Heller (1968): ‘’A política significava para os gregos - que no período clássico, só conheciam de modo imediato o Estado-cidade -, todos os fenómenos estatais, tanto as instituições como as atividades.”. Nesse sentido, cabe a nós compreendermos os principais aspectos do pensamento político de algum dos principais grupos ou filósofos da Grécia Antiga, começaremos pelos chamados sofistas. Para entendermos melhor os sofistas, vale ressaltar o que acontecia no contexto histórico do surgimento desse grupo. O século V a. C na Grécia Antiga, é marcado pelos intensos conflitos externos com os persas, e posteriormente, pelos conflitos internos entre a democracia de Atenas e a oligarquia de Esparta. Estes acontecimentos estimularam os filósofos gregos a pesquisarem sobre a política. Neste contexto, “os sofistas representavam a tendência desagregadora da época e aspiravam proporcionar a instrução necessária para que os jovens pudessem seguir com êxito a carreira política” (DIAS, 2013, p. 20). Protágoras e Górgias, eram os principais nomes desse grupo, que em linhas gerais defendiam a concepção de que “o homem é a medida de todas as coisas”. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 Desta forma, “ensinavam a Política como uma espécie de arte para a vida do indivíduo, como urna técnica política cujo fim essencial era a carreira política do discípulo e que, por isso, podiam limitar-se a expor a maneira de empregar os meios necessários para alcançar o fim” (HELLER, 1968, p. 31). Com isso, os sofistas eram filósofos individualistas que acreditavam que a política estava diretamente ligada à força. Um governo poderia ser o acordo dos fortes para dominar os fracos, ou um acordo dos fracos para se protegerem dos mais fortes. Nesse sentido, pode-se afirmar que a doutrina política dos sofistas compreendia que a razão individual era a fonte de todo o conhecimento, e com isso, gerou importante contribuições para o pensamento político como, a concepção de que o Estado é formado através de um pacto social, e de que existe uma separação entre direito e moral. Título: Busto de Platão Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/88/Plato_Silanion_Musei_Capitolini_MC1377.jpg/800px-Plato_Silanion_Musei_Capitolini_ MC1377.jpg Dando sequência, àquele que é considerado um dos primeiros filósofos políticos, é necessário destacar aqui Platão (427-347 a. C.) e sua teoria do Estado ideal abstrato. Em linhas gerais o filósofo grego compreendia que a política era a arte de tornar os homens mais justos e virtuosos. Em sua obra A República, Platão defende a concepção de que o Estado ideal é aquele onde se prevalece a justiça, e com isso, diferentemente dos sofistas, não acredita na defesa de que o direito vem da força, mas entende, que o Estado, por mais que CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 somente exista através da integração dos indivíduos que o compõe, ele é algo mais do que a simples soma dessas integrações, em suas palavras, o Estado dotaria de uma existência própria. A origem do Estado se encontra na diversidade dos desejos e necessidades humanas e na cooperação necessária para satisfazer a estes fins. Através de uma analogia ética e fisiológica entre a natureza humana e a estrutura do Estado, baseada na separação de três capacidades distintas: razão, valor e desejo, chega à conclusão de que o Estado se desenvolve através de três classes importantes: agricultores, que satisfazem as necessidades materiais da vida humana; guerreiros, que protegem os trabalhadores e garantem a segurança territorial do Estado; e magistrados, que regem a comunidade para que se realize o bem-estar geral. Cada indivíduo tem sua posição em uma classe determinada do Estado, segundo suas aptidões. (DIAS, 2013, p. 21) Como reflexo da sociedade de sua época, Platão não dá pouca importância a grande massa que compõe a sociedade, sua preocupação maior está sobre a classe governante, da qual naquela época possuíam privilégios como uma educação diferenciada, mas ao mesmo tempo faziam sacrifícios como o de não possuírem família. Nesse sentido, o Estado ideal de Platão se dá através de um sistema aristocrático da qual, seria composto por pessoas capacitadas a governar, aquelas que de fato compreendiam o real significado do Estado ideal abstrato, e as leis, seriam o caminho em busca da materialização desse Estado ideal. ANOTE ISSO Por mais que seja complicado definir a origem do desenvolvimento do pensamento político, é possível compreender que as primeiras evidências de um pensamento sistematizado da política tenha ocorrido na Grécia Antiga, não é à toa que o termo política vem de polis, as cidades-estado gregas. Os sofistas foram os primeiros destaques a pensarem a política na Grécia Antiga e defendiam a concepção de que a razão individual era a fonte de todo o conhecimento, desta forma o Estado era resultado de um pacto social proveniente das vontades individuais e dos choques de força entre os indivíduos. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 Título: Busto de Aristóteles Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles#/media/Ficheiro:Aristotle_Altemps_Inv8575.jpg Dando sequência ao pensamento político da Grécia Antiga, temos como outro importante nome Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, do qual vai ser influenciado por seu mestre, mas vai utilizar de metodologias e lógicas diferentes, e consequentemente, sua visão sobre política, em muitas vezes vai divergir. De acordo com o cientista político Heller (1968) a concepção atual de ciência política como entendemos hoje, ela tem sua gênese em Aristóteles, uma vez que este seria responsável por desenvolver um estudo descritivo e crítico, das constituições históricas das políticas atenienses, espartanas, cretenses e fenícias de sua época. Uma vez que a ciência política usa as ciências restantes e, mais ainda, legisla sobre o que devemos fazer e sobre aquilo de que devemos abster-nos, a finalidade desta ciência inclui necessariamente a finalidade das outras, e então esta finalidade deve ser o bem do homem. Ainda que a finalidade seja a mesma para um homem isoladamente e para uma cidade [polis], a finalidade da cidade [polis] parece de qualquer modo algo maior e mais completo [...l; embora seja desejável atingir a finalidade apenas para um único homem; é mais nobiliante e mais divino atingi-la para uma nação ou para as cidades. (ARISTÓTELES, 1996, p. 119) CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 Não se dá de forma aleatória o fato de uma de suas principais obras se chamar Política. Nesta obra ele afirma: em todas as ciências, assim como em todas as artes, a finalidade é um bem; e o maior de todos os bens encontram-se, sobretudo, naquela entre todas as ciências que é a mais alta; ora, tal ciência é a política e o bem, em política, é a justiça, quer dizer, a utilidade coletiva. (ARISTÓTELES, 2005, p. 99) Diferentemente de seu mestre, Aristóteles em nenhum momento procura definir ou traçar um modeloideal de Estado, segundo ele, o ideal seria o Estado que consegue se adaptar às necessidades de seu povo. Nesse sentido, vai defender a concepção de que a melhor forma de governo é aquela onde todos os indivíduos que o compõem estejam inseridos dentro da política, em outras palavras, tenham uma vida política. Uma vez que Aristóteles enxerga o homem como ser político em sua essência, como vimos anteriormente, o indivíduo só poderia alcançar sua plenitude através do Estado, no caso da sua época, através da polis. Sendo assim, “O Estado existe, assim, para satisfazer as necessidades intelectuais e morais dos homens” (DIAS, 2013, p. 24). Dessa forma, podemos entender que para Aristóteles o Estado é a organização coletiva de cidadãos, e estes por sua vez, eram os indivíduos que possuíam o direito de participar no governo. Exercer a cidadania, era participar da vida pública e política de sua época, seria um reflexo do ato de governar e ser governado. Sendo assim, governo e Estado são coisas distintas. Onde o primeiro seria o resultado da integração de todos os cidadãos, enquanto o segundo, por aqueles que ocupam os postos públicos e exercem o poder. Aristóteles sustentava que o fim do Estado se concentra no bem-estar da comunidade, e que o poder político tem que ser distribuído entre os cidadãos na medida em que contribuam para a realização do Estado. O povo, atuando politicamente como unidade, é preferível à atuação de qualquer de suas partes; logo, a autoridade deve residir, em última instância, no conjunto dos cidadãos. Através das assembléias, tratam das questões fundamentais e escolhem seus magistrados. Mas, acima da soberania do povo, Aristóteles coloca a soberania da lei. A autoridade humana, em sua opinião, conserva sempre reminiscências da força material; a autoridade da lei, racional e natural, participa da divindade. (DIAS, 2013, p. 25-26) CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 ANOTE ISSO Platão por sua vez, em busca de traçar o tipo ideal abstrato de Estado, compreende que sua origem se dá na busca dos indivíduos por saciarem suas necessidades, e defende que o tipo ideal de Estado é o modelo aristocrático, do qual deveria ser governado por poucas pessoas de destaque, que seriam aqueles que entenderam o Estado ideal, e com isso, buscariam colocá-lo em prática. Para seu discípulo Aristóteles, a ciência política é uma ciência que tem como finalidade o bem humano, sobretudo na esfera coletiva. Nesse sentido, o seu tipo ideal de Estado seria aquele que consegue se adaptar às necessidades de seu povo. Como vimos na primeira metade desta aula, a ciência política pode ser entendida como a “ciência do poder”, então nada mais justo e importante que em nossa próxima aula abordaremos o conceito de poder e suas implicações dentro da ciência política. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 CAPÍTULO 2 O CONCEITO DE PODER Olá, minha cara aluna! Olá meu caro aluno! Como vimos na aula anterior, para a maioria dos cientistas políticos da atualidade, compreende-se que a melhor forma de definir o objeto de estudo da ciência política, é compreendê-la como a “ciência do poder”. Nesse sentido, se faz importante compreendermos do que se trata o chamado poder dentro da ciência política. De acordo com as ciências humanas e sociais de um modo geral, não existe sociedade humana que não tenha registrado o exercício do poder, e mais do que isso, em sua totalidade, podemos chamar de poder supremo, ou seja, aquele que exerce maior influência sobre os outros, é o poder político. Nesse sentido, ao longo dessa aula discutiremos inicialmente os debates sobre o conceito de poder, e em seguida, as principais fontes de poder. Com isso poderemos especificar e trabalhar melhor a compreensão do poder político. Dando sequência discutiremos sobre a dominação política, e para finalizar a aula, entenderemos o processo de legitimação do poder político. ISTO ACONTECE NA PRÁTICA O conceito de poder, suas implicações e seus impactos nas relações sociais é extremamente importante para o jornalismo de uma maneira geral. Isso, não só pelo fato que, você, futura e futuro jornalista terão que trabalhar no cotidiano de vocês com esse conceito, mas também, é necessário entender e ter dimensão, do próprio poder que o jornalismo exerce. Nesse sentido, é importante ter claro que independente da área que se irá especializar em seu trabalho, seja investigativo, policial, redação, esportivo, apresentador, em alguma medida, a noção de poder não só vai fazer parte daquilo que você vai noticiar, mas como também, vai fazer parte do seu cotidiano. No senso comum é comum dizer que o jornalismo é “o quarto poder”. Como vimos na outra aula, senso comum e ciência são coisas distintas, mas não deixa de ser um conhecimento, e não deixa de ser uma reflexão sobre o poder que o jornalismo exerce no cotidiano. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 2.1 O Conceito de Poder Pode-se dizer que o exercício do poder é um processo social, ou seja, ele passa a ter sentido numa coletividade. Além disso, pode-se dizer em linhas gerais que o poder é a capacidade de um indivíduo ou um grupo em influenciar, modificar ou alterar o comportamento de outros indivíduos. Nesse sentido, é importante entendermos que o exercício do poder sobre influência das características culturais do grupo social na qual ele está inserido. Por exemplo, numa sociedade onde se valoriza primordialmente a relação dos indivíduos com o divino, é normal que as personalidades religiosas exerçam maior poder, por sua vez, se uma sociedade valoriza primordialmente a força e os conflitos, irão se destacar as personalidades militares, e assim por diante. O exercício do poder constitui-se numa das mais importantes interações sociais existentes. O poder intervém em todas as relações sociais, quer sejam econômicas, militares, culturais, familiares etc., expressando-se como poder militar, econômico, sindical etc. e também como poder político. Desse modo, podemos afirmar que na sociedade coexistem vários tipos de poder e cada ator social (indivíduos, grupos, classes, organizações etc.) apresenta determinada quota de poder que dá lugar a diversos tipos de enfrentamentos que constituem urna parte fundamental da vida social, constituindo-se de fato no pleno exercício da vontade e da liberdade (DIAS, 2013, p. 30). O poder é uma forma de relação social, uma vez que se trata de uma influência sobre a decisão do outro. Nesse sentido, pode-se entender que o indivíduo sofre o impacto do poder em todos os momentos em que ele toma uma decisão da qual é determinada por um outro, seja um indivíduo ou um grupo social. De acordo com Talcott Parsons (1970), o poder pode ser compreendido como “a capacidade que a sociedade tem para mobilizar seus recursos no interesse de seus objetivos”, ou de forma mais simplificada, “defino o poder como a capacidade de um sistema social para mobilizar recursos para atingir metas coletivas”. Ao olhar para a estrutura do poder na sociedade norte-americana, C. Wright Mills (1965), tem uma compreensão particular sobre o fenômeno, para o autor, “o poder relaciona-se com quaisquer decisões tomadas pelo homem sobre as condições de sua vida, e sobre os acontecimentos que constituem a história de sua época”. Desta forma, o sociólogo entende que determinados acontecimentos ocorrem “fora do CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 alcance da decisão humana”, pois são decisões tomadas pelo poder, que acarreta numa problemática, “o problema de quem é responsável por elas é o problema básico do poder”. Título: Norberto Bobbio Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Norberto_Bobbio#/media/Ficheiro:Bobbio_Iotti_Biondi_1988.jpg Uma das contribuições mais importantes da compreensão sobre o poder, e mais aceitaspelos cientistas políticos contemporâneos, é a de Norberto Bobbio (2000). De acordo com ele, existem três tipos de poder social: a) o poder econômico, b) o poder ideológico e; c) poder político. No que se diz respeito ao primeiro, o poder econômico, diz respeito ao favorecimento de influência que um indivíduo ou um grupo social tem por possuir certos bens necessários e escassos, e com isso, conseguem exercer poder. Com relação ao poder ideológico, Bobbio entende que aquele manifesto através das ideias que são constituídas por uma pessoa ou por um grupo social, e estas ideias por sua vez, exercem influência sobre a conduta das demais pessoas. Por fim , o poder político exerce sobre “a posse dos instrumentos através dos quais se exerce a força física (armas de todo tipo e grau); é o poder coativo no sentido mais estrito da palavra” (BOBBIO, 2000, p. 163). Uma coisa interessante de ser mencionada aqui, é que para Bobbio, estes três poderes tem uma característica em comum, que é o fato de ambos na manutenção das desigualdade sociais, seja entre ricos e pobres (poder econômico), entre sábios e ignorantes (poder ideológico), seja entre fortes e fracos (poder político). Segundo o sociólogo Max Weber, “poder significa toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social; mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa probabilidade” (WEBER, 1991, p.33). Além disso, destaca que esse CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 poder muitas vezes pode ser legítimo ou não. No primeiro caso, quando legítimo, existe uma predisposição à obediência por parte daqueles que não tem o poder. Já quando ilegítimo, é necessário a imposição de seu poder. A natureza do poder é complexa, pois muitas vezes se apresenta como uma coisa ou objeto que pode ser possuído, e outras, muito mais comuns, se manifesta como uma relação entre pessoas. No primeiro caso, nos referimos ao propósito de tomar o poder, de conquistá-lo, como se sua posse nos assegura um bem qualquer. Quando o poder se manifesta assim, podemos afirmar que adquire forma objetiva vinculada a um cargo, papel social ou função. Desse modo, quem está investido de um cargo de chefe do executivo (presidente, governador, prefeito), funcionário da administração pública, juiz, delegado etc. possui poder, e na medida em que deixe essas posições, deixará de ter o poder e os meios inerentes a elas. Mesmo o cidadão comum que pode votar, escolher seu candidato para algum cargo eletivo, possui poder (DIAS, 2013, p.33). Por mais que existam particularidades e especificidades nas compreensões sobre o poder, em linhas gerais, para a maioria dos cientistas políticos, compartilham do ponto de vista que o poder é a capacidade para influenciar e afetar o comportamento do outro, podendo ser executado por indivíduo ou por um grupo social. ANOTE ISSO Em linhas gerais o poder deve ser entendido dentro da ciência política como a capacidade de um indivíduo ou de um grupo social em influenciar e até mesmo determinar as decisões de um outro, ou até mesmo, de outros indivíduos. 2.1 As Fontes do Poder Compreendido as noções básicas sobre o conceito de poder, é importante compreendermos as duas principais fontes de poder, em outras palavras, os meios que levam ao poder. As duas principais fontes de poder, e que iremos ver aqui são: a) a força e; b) a autoridade, sendo esta segunda dividida em burocrática/racional, tradicional e carismática. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 2.1.1 A Força Entende-se por força aqui, o uso de qualquer maneira de coerção - punição, disciplina, controle e etc. - que utiliza-se, ou até mesmo, use da ameaça da utilização da força física, seja através do próprio corpo do indivíduo, ou através de uma ferramenta, como uma arma. Na grande maioria dos Estados, é normal que este tenha tendência em concentrar nas suas mãos o monopólio da força física, e além disso, que crie instituições especializadas em serem a coerção física, como a própria polícia militar e o exército, por exemplo. Para os cientistas políticos, a força foi a primeira forma em que se deu a concentração de poder, e ao longo da Idade Antiga e Idade Média, se constituiu como elemento fundamental para o exercício do poder. Com o avanço e desenvolvimento do capitalismo, outros elementos passaram a ser importantes dentro da manutenção do poder, mas ainda se torna um tanto utópico pensar nos Estados sem pensar em instituições de força. 2.1.2 A Autoridade Por sua vez, entende-se por autoridade aqui, nas palavras de Dias, “como um direito estabelecido para tomar decisões e ordenar ações de outrem” (DIAS, 2013, p. 34). Em outras palavras, podemos entender como a manifestação e legitimação do poder, seja através do aparato jurídico e burocrático, ou através da tradição e da moral, fazendo com que os membros de um determinado coletivo, de forma unânime, se submetam àquela autoridade. Sartori, destaca um elemento extremamente importante no que diz respeito ao poder provindo da autoridade, “[não é o] poder que pende do alto sobre aqueles que a ele têm de submeter-se, mas, ao contrário, o poder que advém da vestidura espontánea e extrai sua força e eficiência do fato de ser reconhecido”. Com isso, o autor destaca que dentro de um sistema democrático, ocorre “a substituição dos detentores do poder por aqueles que poderíamos chamar detentores de autoridade” (SARTORI, 1965, p. 154). Um dos pilares da sociologia moderna, Max Weber, entre muitas de suas contribuições, se dedicou ao estudo da autoridade, do qual sua análise já se tornou clássica dentro das ciências sociais. De acordo com o sociólogo alemão, a autoridade pode se manifestar CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 sobre três faces: a) autoridade burocrática ou racional-legal; b) Autoridade tradicional e; c) Autoridade carismática. No que se diz respeito a autoridade burocrática ou racional-legal, ela está diretamente ligada com a estrutura burocrática formal, ou seja, é baseada de acordo com a posição e o cargo que o indivíduo ocupa, e sua legitimidade se dá através do seu amparo jurídico. Cabe destacar, que esse é o modo predominante da manifestação da autoridade dentro dos Estados Modernos. Ou seja, se tem uma estrutura hierárquica de poder. Podemos citar como exemplos: juiz, policial, delegado, um chefe, e assim por diante. Por sua vez, a autoridade tradicional de acordo com Weber, é aquela que é baseada na moral, na crença e na tradição. A sua legitimidade não está na legislação e sim na tradição e nos costumes. A pessoa obedece a essa autoridade pois ela acredita que aquilo é o moralmente correto independente de uma ordem jurídica. Muitas vezes essa autoridade é herdada pelas gerações seguintes. Podemos citar como exemplos: rei, princípe, padre, pastor, marido, pai e etc. Por fim, se tem a chamada autoridade carismática, que segundo Weber, é “Baseada na veneração extracotidiana da santidade, do poder heróico ou do caráter exemplar de uma pessoa e das ordens por ela reveladas ou criadas.” (WEBER, 1991, p. 141). Desta forma, podemos entender como aquela que provém do carisma da pessoa, podendo ser tanto de ordem religiosa, como de ordem política e entre outras.Sua legitimidade se dá pela identificação ou aprovação dos indivíduos para com esta autoridade. Podemos citar como exemplos: Jesus, Napoleão, Ghandi, Maomé, Fidel Castro e etc. Título: FIdel Castro, ex-presidente de Cuba, exemplo de autoridade carismática Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fidel_Castro#/media/Ficheiro:Fidelcastro1978.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 ANOTE ISSO Pode-se entender que o poder pode ser originário de dois elementos, a força e a autoridade, podendo se dar por uma delas, ou pela combinação de ambas. Quando se fala em força,se entende no poder que tem sua origem através da coerção física. Quando se fala em autoridade, se entende o poder que se dá através da influência que uma pessoa exerce sobre as ações das demais. A autoridade pode se manifestar de três formas. Pode ser burocrática ou racional- legal, quando é respaldada por uma burocracia; pode ser tradicional, quando é legitimada por uma tradição, um costume ou uma moral e; pode ser carismática, quando é legitimada pelo carisma de seu líder. 2.2 O Poder Político Quando observamos para os sistemas organizacionais políticos ao longo da história, em busca de manter a coesão social e a organização, sempre ocorreu a manifestação do poder político. De acordo com Bobbio, o poder político é caracterizado por possuir uma concentração tanto do poder de origem autoritária, quanto da força. Nesse sentido, se a manutenção da ordem não se estabelece através da autoridade, o poder político é a única forma de poder, que legalmente pode recorrer para a força. Por isso que Bobbio vai afirmar “que o poder político se resume ao uso da força: o uso da força é uma condição necessária, mas não suficiente para a existência do poder político”, com isso, “o que caracteriza o poder político é a exclusividade do uso da força em relação a todos os grupos que agem em um determinado contexto social” (BOBBIO, 2000, 164). Se olharmos pelo viés jurídico, podemos dizer, de maneira simplória, que o poder político é aquele que é exercido pelo Estado. Ou seja, “se refere ao domínio, faculdade ou jurisdição que se tem para mandar ou para executar uma ação que afeta aos demais, mesmo contra sua vontade e através do uso da força” (DIAS, 2013, p.36). Quando olhamos para os primórdios da ciência política moderna, em sua obra O Príncipe, Maquiavel faz uma análise sobre o poder e o Estado. Nesse sentido, pode-se dizer que, em linhas gerais, o autor entendia a política como a forma de manutenção do poder. Nesse sentido, ao estudar as dinâmicas do poder, seja a sua manutenção ou sua perca, defendeu a concepção de que todos os meios são plausíveis e justificáveis para se obter a manutenção do poder. Segundo o autor italiano, o problema não reside na CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 legitimação do poder, mas sim, na manutenção do poder, sobretudo através do uso da força. Com isso, sua obra é o marco inicial da ciência política moderna, na medida que trabalha com mecanismos reais e concretos de manutenção e preservação do poder, gerando uma consolidação e fortalecimento do Estado, e o mais importante de tudo, sem depender da religião ou da moral, elementos que Maquiavel julga que podem ser importantes para o poder, mas não necessários. Para Maquiavel, não importa o quão carismático ou tradicional possa ser um líder ou um governo, em algum momento o poder político vai necessitar aplicar a força física. Não é atoa que um das análises do pensador italiano, é que dentro da política de sua época, mas vale ser temido do que amado, pois, segundo ele, a natureza humana é ingrata, e pode facilmente reverter o amor em desrespeito, mas aquele que é temido, nunca perde o respeito. Mas o pensador conclui, é importante entender que temor pode ser convertido em ódio ou desprezo, caso contrário, se tornará uma armadilha. Título: Retrato de Nicolau Maquiavel Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_Maquiavel#/media/Ficheiro:Portrait_of_Niccol%C3%B2_Machiavelli_by_Santi_di_Tito.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 ANOTE ISSO Desde o surgimento da chamada ciência política moderna, a discussão do poder político se faz presente. Entendido como a manifestação do poder exercido pelo Estado ou por aquele que governo, é constituído pelas duas fontes de poder, a autoritária e a força física. 2.3 A Dominação Política De acordo com Dias, o poder tem uma tendência à estabilização, para em seguida se estruturar e, finalmente, se institucionalizar .A partir desse ponto constitui-se em governo, que (...) é o modelo institucionalizado de urna dominação estabilizada. ” (DIAS, 2013, p. 38). Diversos pensadores da ciências sociais se debruçaram sobre a questão da dominação, e de acordo com cada perspectiva, se tem diferentes resultados. De acordo com os marxistas, discutir sobre a dominação política é discutir a luta de classes. Para estes a classe social que detém os meios de produção é aquela que deterá a dominação, e com isso, esta classe dominante exercerá seu poder sobre a classe dominada. Já para os weberianos, a dominação está atrelada a capacidade, ou melhor, a probabilidade, em que um sujeito político tem de encontrar obediência para com os demais sujeitos políticos. Desta forma, a dominação também está atrelada ao poder provindo de uma origem autoritária. Vale ressaltar então, que a dominação política não se resume na vontade se um agente político em dominar os demais indivíduos, mas sim, na existência de uma disposição à obediência dos outros para com esse agente político. Em busca de alcançar uma legitimidade, de acordo com Weber, a dominação se espelha na autoridade e, da mesma forma, pode se manifestar em três facetas: a) legal; b) tradicional e; c) carismática. Nesse sentido podemos entender por dominação legal aquela que é baseada em ordens impessoais, objetivas e legalmente instituídas, ou como o próprio Weber vai afirmar, “O tipo mais puro de dominação legal é aquele que se exerce por meio de um quadro administrativo burocrático.” (WEBER, 1970, p. 57). Com isso a dominação se realiza através de estatutos, leis, normas e todo aparato judiciário e burocrático. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 A dominação tradicional por sua vez ela se exerce uma vez que os indivíduos são devotos às tradições e aos hábitos costumeiros, como o próprio Weber explica, “Não se obedece a estatutos mas a pessoa indicada pela tradição ou pelo senhor tradicionalmente determinado” (WEBER, 1970, p. 57). Como o próprio sociólogo alemão diz, existe uma santificação dos costumes. Por fim temos a dominação carismática. se funda em dons pessoais e extraordinários de um indivíduo (carisma) - devoção e confiança estritamente pessoais depositadas em alguém que se singulariza por qualidades prodigiosas, por heroísmo ou por outras qualidades exemplares que dele fazem o chefe. (...) Esse é o poder carismático, exercido pelo profeta ou - no domínio político - pelo dirigente guerreiro eleito, pelo soberano escolhido através de plebiscito, pelo grande demagogo ou pelo dirigente de um partido político. (WEBER, 1970, p.57). Nesse sentido a obediência, dentro da dominação carismática, se dá por parte dos indivíduos que geram uma confiança em seu líder carismático. Cabe ressaltar aqui, que na grande maioria das vezes, essa confiança dos indivíduos para com esse líder não se dá através de raciocínios lógicos, mas sim por um caráter emocional. A dominação carismática, como algo extraordinário, opõe-se estritamente tanto à dominação racional, especialmente a burocrática, quanto à tradicional, especialmente a patriarcal e patrimonial ou a estamental. Ambas são formas de dominação cotidianas - a carismática (genuína) é especificamente o contrário. A dominação burocrática é especificamente racional no sentido da vinculação a regras perfeitamente identificáveis; a carismática é especificamente irracional no sentido de não conhecer regras. A dominação tradicional está vinculada aos precedentes do passado e, nesse sentido, é também orientada por regras - baseada nos costumes, na tradição -; a carismática derruba o passado (dentro de seu âmbito) e, nesse sentido, é especificamente revolucionária. (DIAS, 2013, p.41). Vale destacar aqui, que tanto estas facetas da dominação quanto as que vimos em relação a autoridade, são divisões ideias para Weber, ou seja, no mundo real concreto, a manifestaçãoda autoridade ou da dominação nunca será 100% uma única faceta, mas sim uma mescla entre elas, da qual uma destas irá predominar. Assim como podem ocorrer casos, em sua minoria, de equilíbrio entre as facetas. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 2.3 A Legitimidade do Poder Político Outro elemento que se faz presente ao longo da história do poder político, é a busca pela legitimidade, ou seja, estabelecer uma crença da qual os indivíduos encontrem uma razão para a manutenção do poder como está estabelecido, desta forma, gerando obediência, seja a um líder, ou a um Estado ou um governo. Pode-se dizer também que a legitimidade é o que leva a esses indivíduos a aceitarem e justificarem o poder político. Seja através do uso do divino, de longas tradições, do carisma de um líder, ou de uma constituição, o poder político necessita da busca pela legitimidade. Ao problema do fundamento de legitimidade do poder político podem ser dadas diversas respostas, mas permanece contudo o fato de que se recorre à noção de legitimidade para dar uma justificação do poder político. (WEBER, 1991, p.160). Em linhas gerais, fazendo um apanhado de tudo o que já discutimos ao longo dessa aula, aquele que possui o poder tem a aptidão para mandar, porém, isso não significa, que necessariamente estas ordens serão obedecidas. Por isso, todo aquele que tem o poder, tem a necessidade de legitimar este poder, pois dessa forma, será obedecido. Segundo Bobbio (2000), um poder é considerado legítimo quando aquele que o possui é considerado justo de pertencê-lo, seja através de uma linhagem de sangue, como no caso de um rei, seja através de um sistema eleitoral, como no caso da democracia. Bobbio, ainda complementa que é através dessa legitimação do poder, que o indivíduo ganha autoridade, desta forma, como o autor comenta, pode-se entender a autoridade como “o poder autorizado, e, apenas enquanto autorizado, capaz, por sua vez, de atribuir a outros sujeitos o poder de exercer um poder legítimo”. (BOBBIO, 2000, p. 235). Por fim aqui, cabe constar que legalidade e legitimidade são conceitos completamente diferentes. Na grande maioria das vezes estão associadas e caminham juntas, mas em muitos momentos se divergem. A legalidade se dá por tudo aquilo que está debaixo da lei, seja esta tradicional ou burocrática. Legitimidade por sua vez, pode-se dizer que o sentimento que os indivíduos possuem para com aquele que detém o poder, reconhecendo ou não, a sua autoridade. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 ANOTE ISSO Em linhas gerais, para a ciência política, aquele que possui o poder tem a aptidão para mandar, porém, isso não significa, que necessariamente estas ordens serão obedecidas. Por isso, todo aquele que tem o poder, tem a necessidade de legitimar este poder, pois dessa forma, será obedecido. Meus caros alunos, na nossa próxima aula, trabalharemos com outro importante conceito introdutório dentro da ciência política, o conceito de Estado. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 CAPÍTULO 3 O CONCEITO DE ESTADO Olá, minha cara aluna! Olá, meu caro aluno! Como vimos em nossa primeira aula de introdução à ciência política, discutimos que para alguns pensadores a política é considerada a ‘ciência do Estado’, por mais que já tenhamos conversado de que a definição quanto ‘ciência do poder’ é a mais usual e da qual adotaremos aqui, isso revela algo para nós, que o conceito de Estado é um dos pilares centrais da ciência política. De acordo com a ciência política, em linhas gerais, o Estado, no mundo contemporâneo, é a unidade social básica na qual vivem as pessoas, do qual possui um território e abarca uma nação, que é organizada através de um sistema jurídico. Porém, como futuro profissionais que necessitam ter noções básicas sobre a ciência política, e que podem trabalhar em contato direto com esta área do conhecimento, isso não basta. É necessário enxergar o Estado como fenômeno histórico, que já apresentou diversas formas e se modificou ao longo da nossa história. Nesse sentido, esta aula vai debruçar nas principais questões que envolvem o conceito do Estado ao longo da história. Para isso, primeiramente abordaremos a concepção do conceito de Estado e a sua origem epistemológica. Em seguida, a evolução histórica da concepção de Estado, nesse processo, nos dedicaremos com maior intensidade à compreensão da formação dos chamados Estados Modernos, e por fim, faremos breves considerações sobre diferentes perspectivas teóricas sobre o Estado. ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Como já comentamos na aula anterior, a imprensa, dentro da democracia, recebe o apelido de “o quarto poder”. Nesse sentido, vocês como futuros trabalhadores desta área, em muitos momentos, sobretudo dependendo da área que optarem em trabalhar, terão que estar atentados a importante conceitos da ciência política que vão fazer parte do seu cotidiano. O conceito de Estado, sem sombra de dúvidas, é uma delas. Ter clareza sobre esse conceito, suas implicações, que ele se aplica no mundo atual, quais são as especificidades do caso brasileiro (teremos uma aula específica sobre isso posteriormente), são elementos extremamente necessários para que vocês possam realizar suas atividades profissionais com maior êxito dentro da área da política. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 3.1 O Estado Pelas Lentes da Teoria Como já comentamos, o Estado é um fenômeno histórico, que se desenvolveu, sobretudo no ocidente, até atingir a forma que compreendemos hoje, pautada em uma rígida estrutura político-jurídica. Segundo Poggi, podemos entender o Estado, na atualidade, como um “conjunto complexo de disposições institucionais para fazer funcionar o governo, através das atividades contínuas e regulamentadas de indivíduos que atuam como ocupantes de cargos”. (POGGI, 1981, p. 16). Pode-se dizer que o Estado na atualidade, pode ser visto como uma instituição da sociedade. Assim como também pode ser entendido como uma organização do poder da sociedade. Mas tudo isso só faz sentido, se esta instituição, ou esta organização, for unitária, nesse sentido, pensar o Estado é pensar em uma entidade unitária. Com isso, ao olhar para a história do desenvolvimento do Estado, é notável que este possui a tarefa de manutenção da ordem social geral. Uma vez que garantir a unidade, é garantido a própria sobrevivência do Estado. De acordo com Burdeau, o Estado não pertence ao mundo tangível, a realidade concreta, ao mundo material, mas sim, pertence à ordem dos espíritos. “O estado é, no sentido pleno do termo, uma ideia. Não tendo outra realidade além da conceitual, ele só existe porque é pensado” (BURDEAU, 2005). Em contrapartida, Jellinek afirma que o Estado também faz parte do mundo real em seu sentido objetivo, desta forma, este ao mesmo tempo se manifesta no seu ponto de vista real, através da manifestações de suas ações e do processo de normatização da sociedade, e ao mesmo tempo, se manifesta no seu ponto de vista intangível, pois sua existência de forma íntegra só ocorre dentro da mente dos indivíduos que o constitui. Com isso, podemos afirmar que o Estado é tangível pois visualizamos e sentimos sua ação, mas nunca podemos senti-lo em sua integridade completa. O Estado somente pode ser entendido se concebido como urna supra organização que, ao mesmo tempo em que regula todos os fatores da ação pública estatal, é o objeto desta organização, sendo portanto, causa e efeito, condição e ação. Dito de outro modo, enquanto as outras organizações da sociedade civil (as empresas, por exemplo) são um meio que unifica e acumula as ações dos indivíduos com um fim predeterminado, o Estado se institui como um fim em si mesmo, como garantia ao cumprimento dos outros fins e, ao mesmo tempo, no aperfeiçoamentode sua própria organização que alcança seu mais alto propósito na expressão e conformação do jurídico, isto é, no Estado de direito e mais ainda no direito do Estado (em razão de Estado). (DIAS, 2013, p. 51) CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 Título: Retrato de George Jellinek Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Georg_Jellinek#/media/Ficheiro:Georg_Jellinek.jpg Jellinek ainda complementa afirmando que o Estado constitui em uma associação, a mais completa e complexa em termos organizacionais dentro da sociedade. Possuindo um poder, que ao mesmo é da sociedade, também é para a sociedade. Nesse sentido, o Estado seria uma corporação formada por um povo. Mas sua grande contribuição para pensar o Estado Moderno, é a concepção de que o Estado possui um controle sobre um determinado território, em suas palavras, “o Estado, a corporação formada por um povo, dotada de um poder de mando originário e assentada em um determinado território” (JELLINEK, 2000, p. 193). O sociólogo Max Weber, não se limitou apenas em estudar sobre a dominação e a autoridade, mas trouxe importantes reflexões sobre o Estado. De acordo com o pensador, o Estado é uma associação de dominação, uma vez que possui monopólio legítimo da coação física. Com isso, “o Estado consiste em uma relação de dominação do homem sobre o homem, fundada no instrumento da violência legítima. (...) sob condição de que os homens dominados se submetam à autoridade continuamente reivindicada pelos dominadores” (WEBER, 1970, p. 57). Duverger (1962), por sua vez, destaca que o Estado possui a organização política mais aperfeiçoada das sociedades, e com isso se diferencia das demais comunidades ou agrupamentos humanos. Para defender isso, o autor destaca três elementos. O primeiro é justamente o fato da complexidade de sua organização política, que apresenta uma hierarquia estrutural burocrática extremamente elaborada, onde a CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 repartição de tarefas é muito mais complexa do que qualquer outra forma de organização e comunidade. Por segundo, ele vai destacar o sistema de sanções do Estado, do qual permitem a repressão a desobediência e com isso a manutenção da ordem social. E por fim, por possuir a maior força material disponível para executar as suas decisões (exército, polícia, marinha, etc.). Segundo André Hauriou, o Estado “é um grupo humano, fixo em um território determinado, e no qual existe uma ordem social, política e jurídica orientada para o bem comum, estabelecida e mantida por urna autoridade dotada de poderes coercitivos” (HAURIOU, 1971, p. 114). Dentro desta definição, cabe destacar quatro elementos dos quais compõem o Estado: a) um grupo humano organizado; b) um território; c) um poder que dirige e; d) uma ordem. Por fim, cabe mencionar as contribuições de Alexandre Groppali no que diz respeito ao debate teórico do conceito de Estado. Segundo o pensador, existem diversos pontos de vista teóricos sobre o Estado, sendo os principais deles: a) o ponto de vista de seus elementos constitutivos; b) do ponto de vista organizacional, a sua ordenação política-jurídica-burocrática e; c) do ponto de vista de sua configuração unitária, como uma corporação territorial. Tomando como base não apenas esses três pontos de vista, mas principalmente estes, o autor faz uma síntese para alcançar a sua compreensão e conceituação de Estado, da qual o enxerga como: “pessoa jurídica soberana, constituída de um Povo organizado sobre um território sob o comando de um poder supremo, para fins de defesa, ordem, bem-estar e progresso social” (GROPALI, 1968, p. 266). ANOTE ISSO Em síntese, para ciência política contemporânea, pode-se entender por Estado como uma organização política complexa de uma determinada nação, e do qual exerce a sua atuação sobre um determinado território. Ou também, pode- se compreender como um corpo administrativo que detém o poder político em determinada sociedade. 3.2 O Estado Pelas Lentes da Etimologia A palavra estado tem sua origem na palavra latina status, que por sua vez, é uma derivação do vocábulo stare, que em linhas gerais, podemos dizer que significa a condição de existência em que se dá ou é uma coisa. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 Estado, quanto vocábulo, foi utilizado pela primeira vez para se definir uma situação concreta que estava ocorrendo naquele momento histórico, com o passar do tempo, o uso comum da palavra, passou a significar, algo muito próximo do que falamos no primeiro tópico desta aula, a autoridade exercida em determinado território e sobre certa população. ISTO ESTÁ NA REDE Não sei se ao longo deste curso você já teve contato com a chamada Etimologia. Caso não tenha, ou não se recorde, se trata de um campo de estudos dentro das ciências linguísticas que busca compreender e estudar as origens e histórias por trás das palavras. De acordo com esta área do conhecimento que busca entender a origem e o desenvolvimento do significado de uma determinada palavra, permite que a gente possa descobrir de forma mais profunda o seu sentido. Se você tem curiosidade de saber mais sobre a etimologia e seu desenvolvimento histórico, o artigo “Uma Breve História da Etimologia” de Márcio Eduardo Viário, publicado na Revista Filologia e Linguística Portuguesa da USP, é extremamente interessante para aperfeiçoar este conhecimento. Você pode encontrá-lo através deste link: https://www.revistas.usp.br/flp/article/view/82818/85771 Assim como sua conceituação, em termos etimológicos, o termo Estado é complexo e abrange diversos ‘significados’, ou melhor, diversas aplicabilidades. Quando paramos para pensar no nosso cotidiano, logo se nota que o termo é utilizado para designar os mais diversos tipos de organizações políticas. República Federativa do Brasil, Reino Unido da Grã-Bretanha, e Irlanda do Norte, os Emirados Árabes Unidos do Golfo Pérsico, Estado da Flórida, Estado de São Paulo, Principado de Mônaco, e assim por diante. Nessa perspectiva, e com esse sentido, o termo Estado é empregado para referir-se a organização política, e assim designar tanto a cidade grega (polis) como a república e o império romano, o império Han na China, o império inca na América do Sul, os reinos feudais, o Estado moderno. (DIAS, 2013, p. 55) Vimos em nossa primeira aula, que as comunidades políticas da Grécia Antiga eram chamadas de pólis, e que a política seria ciência que se dedicaria aos estudos das pólis. Já na Roma Antiga, se tem a ascensão do termo civita (cidadania) para designar a comunidade de indivíduos que eram representados pela res publica (república). Ainda no fim da Roma Antiga, temos o destaque da palavra império, e posteriormente na Idade Média, junto a ela, o termo reino. https://www.revistas.usp.br/flp/article/view/82818/85771 CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 Porém, as evoluções históricas, sobretudo durantes as cidades renascentistas da Idade Moderna, fizeram com que todos estes termos até então empregados - cidades, impérios, reinos e etc. - se tornaram ultrapassados, uma vez que não davam mais conta desta nova realidade. Foi então que Maquiavel utilizou pela primeira vez a palavra estado com o objetivo de se referir a uma organização política. Sendo assim, Estado passa a ser utilizado para se referir essa nova realidade proveniente do Renascimento: que dá maior destaque a coletividade organizada que ao poder personalizado; pois não se considera somente o governo e sua corte, mas o conjunto dos cidadãos. É o conceito de corpo social organizado politicamente, e não somente a relação entre soberano e vassalo, o que o novo termo especifica. O Estado é uma corporação territorial, onde a presença comunitária de seus membros se destaca numa referência ao poder. (DIAS, 2013, p.55) Porém, o termo Estado, como vimos na primeira parte desta aula, no mundo contemporâneo, possui uma aplicação mais ampla, da qual, compreende um corpo administrativo que detém o poder político em determinada sociedade. 3.3 O Estado Pelas Lentes da História Por mais que já mencionado nesta aula, um pouco sobre o processo histórico da organização político-administrativa das sociedades, até chegar ao chamado Estado Moderno, é importante que agora nos dediquemos de forma mais profunda nesta questão. 3.3.1 A Polis Título: A Acrópole da antiga polis de Atenas Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%B3lis#/media/Ficheiro:Attica_06-13_Athens_50_View_from_Philopappos_-_Acropolis_Hill.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 Inicialmente na Grécia Antiga, em sua etapa primitiva, as cidades de destaque eram caracterizadas por serem grandes clãs familiares, destacando-se as cidades de Creta e Micenas. Com o passar do tempo, no período que os historiadores chamam de Grécia Clássica, as organizações políticas foram se aperfeiçoando e se tornando cada vez mais complexa, chegando ao modelo que já mencionamos em nossas aula, da polis, onde cada cidade desenvolvia sua vida política social, sendo destaque, Atenas, Esparta, Tebas, Corinto e Mileto. Interessante é o fato de que os gregos não estabeleciam relação com o espaço territorial de sua polis, mas sim, davam grande importância para os com modos de comportamento políticos (também econômicos, religiosos, culturais). Se fosse necessário decidir qual dessas virtudes é a que, pela sua presença, contribui em maior dose para a perfeição da cidade, seria difícil dizer se é a conformidade de opinião entre os governantes e os governados; ou, nos guerreiros, a salvaguarda da opinião legítima a respeito das coisas que se devem ou não temer; ou a sabedoria e a vigilância entre os que governam; ou se o que contribui, sobretudo, para essa perfeição é a presença, na enanca, na mulher, no escravo, no homem livre, no artesão, no governante e no governado, dessa virtude pela qual cada um se ocupa da sua tarefa própria e não interfere na dos outros. (PLATÃO, 1997, p. 132) O que vemos nesta descrição de Platão sobre a dinâmica da polis, ou da cidade, não é nada mais, nada menos, do que as primeiras formulações do pensamento político. 3.3.2 A Civitas Título: Maquete de Roma durante o reinado de Constantino Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Roma_Antiga#/media/Ficheiro:D%C3%A9tail_de_la_maquette_de_Rome_%C3%A0_l%C3%A9poque_de_Constantin_ (5839479770).jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41 Quando falamos de Roma Antiga, é natural que alguns elementos entrem em destaque, sendo um destes a concepção de res publica, sobretudo o período histórico denominado de República (509 a.C.-27 d.C.). Porém é importante termos em mente que não se trata de um fenômeno que ocorre de forma radical e imediata, mas foi um processo dentro da civilização romana, que tem dentro de sua cultura uma concepção mais prática da política. Assim como para os gregos, para os romanos era muito mais importante o pertencer a comunidade do que o pertencer ao território, os indivíduos se identificavam politicamente com os outros, não por pertencerem ao mesmo território, mas sim, por pertencerem ao mesmo grupo de pessoas que estavam subjugadas aos mesmos deveres e direitos. Diferentemente das polis gregas, a organização política da Roma Antiga, se estrutura de um modo onde as províncias são aliadas e dependentes da capital Roma. Dentro desta estrutura, surge a concepção de civis, que se trata de algo muito próximo ao que entendemos hoje por cidadania, ou em outras palavras, aqueles que possuíam a civis, possuíam o direito da cidadania. Com isso, a grande estrutura organizacional política da Roma Antiga, o “Estado” romano, era chamado de civitas, cujo significado direto seria ‘a comunidade dos civis (cidadãos)’, A civitas, portanto, é uma comunidade juridicamente organizada cujo centro é a cidade e o regime dessa cidade é constituído pela assembleia, o senado e o povo. A cidade, nesse contexto, deve ser entendida como uma concentração de indivíduos, e não como um espaço territorial. Para Marco Túlio Cícero, a civitas não é qualquer aglomeração humana, mas somente a que se baseia no consentimento da lei e na utilidade comum. (DIAS, 2013, p. 57) 3.3.3 Da Idade Média ao Renascimento Quando se trata de abordar a estrutura política da Idade Média, ela pode ser um tanto complexa, uma vez que se dá de uma forma completamente diferente de como vivemos hoje. Quando olhamos sobretudo para a Europa Medieval, não podemos falar na dinâmica do Estado, mas sim na dinâmica dos Estados. Em linhas gerais, na Europa Medieval “o Estado é uma organização católica romana, organização na qual cada CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42 reino ou poder terreno ocupa o lugar que a lei natural e a lei divina lhes destinaram” (REIS, 2013, p. 57). O poder se monopoliza nas mãos do clero e da nobreza, onde o rei está submetido às chamadas leis da natureza e do divino, uma vez que ele se opõe a essas leis, ele estaria se colocando contra o próprio Deus, que é representado pelo Papa na Terra. Além disso, o rei tem que cumprir seus deveres para com o seus vassalos e dessa forma se portar como justo perante a Igreja. Sempre bom ressaltar, que o conceito de justiça da época, não é o mesmo que o da atualidade. Com o passar das décadas, cada vez mais os mercadores burgueses conseguiram florescer o chamado mercado, e com isso, tornam-se cada vez mais autônomos. Através da chamada força econômica, esses passam cada vez mais a se aliar ou confrontar os nobres de acordo com as suas necessidades. Mas com o passar do tempo, os questionamentos, sobretudo daqueles que estavam fora da comunidade cristã, passaram a confrontar as chamadas leis naturais e divinas. A ascensão burguesa, vai aos poucos colocando de lado as estruturas religiosas e construindo uma concepção político-social onde o predomínio do poder econômico será justificado racionalmente com argumentos intelectuais. A partir do Renascimento e da entrada da Idade Moderna, as cidades-Estado italianas já começam a se modelar em algo muito próximo daquilo que iremos denominar de Estado Moderno. Quando falamos em Renascimento, em linhas gerais, falamos de ideologia que vai confrontar a ideologia medieval, “É a época da modernidade para a civilização europeia, o princípio do individualismo, diante do coletivismo; mudança dos vínculos sociais, aparentemente indestrutíveis, dessa sociedade” (DIAS, 2013, p. 59). As transformações proporcionadas pelo Renascimento, seja através da valorização do ser humano em detrimento do religioso, ou da valorização do saber e da ciência, além das transformações tecnológicas do período, permitiram com que fosse gerado um novo sentimento de pertencimento, diferentemente do que já foi visto até então, um pertencimento do qual posteriormente chamamos de nação. Além disso, temos cada vez mais a perda do poder local, dos senhores feudais, e a concentração nas mãos dos reis, de tal forma que este, gradativamente passa a exercer autoridade sobre a nobreza, parlamentos, cidades livres e até a própria Igreja. Surge, desse modo, a concepção de um soberano fonte de todo poder e de todo sentimento nacionalista. Essa transformação radical do pensamento e da prática política será o reflexo das mudanças que ocorreram nas instituições econômicas medievais. (DIAS, 2013, p. 59) CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43 3.3.3 O Estado Moderno É justamente através dessa contínua centralização do poder, que vai nascer o que chamamos de Estado Moderno. Até então os senhores feudais possuíam determinada autonomia perante o seus territórios, e de certa forma, isso representavaum limite para o poder do rei. Acontece que gradativamente, medidas vão sendo tomadas para que cada vez mais se fortaleça e se monopolize o poder nas mãos do rei, e se enfraqueça os senhores feudais. Podemos destacar alguns elementos dentro desse processo de padronização, que extrai elementos que antes eram de autonomia dos senhores feudais e passam agora a ser padronizados para toda a extensão do território do rei. A criação de um exército permanente do rei, fez com que este não dependesse mais diretamente das suas relações de lealdade com os senhores feudais em busca de proteção, desta forma, o exército passa a ser centralizado e sob o comando do rei. Outro elemento, a criação de um sistema de tributos e impostos que faziam com que o rei não dependesse mais das boas ofertas dos nobres. Dando continuidade, podemos citar a formação de urna burocracia composta por funcionários permanentes e competências bem delimitadas, ou seja, uma organização burocrática hierárquica, da qual contribuia diretamente para a centralização do poder, uma vez que colocava cada nobre ‘no seu devido lugar’, e tinha o rei no topo dessa cadeia hierárquica. E por fim, apesar de haver outros elementos, cabe aqui mencionar, a centralização de uma ordem jurídica para todo o território. De acordo com Matteucci (1998), a primeira manifestação do Estado Moderno vai ser o chamado Estado absolutista, que segundo o autor, é caracterizado pelo monopólio da força, da qual segundo ele, atua sobre três planos: a) jurídico; b) político e; c) sociológico. No plano jurídico, “com a afirmação do conceito de soberania que confia ao estado o monopólio da produção de normas jurídicas, pois não existe um direito vigente acima do Estado que possa limitar sua vontade” (MATTEUCCI, 1998, p. 34). Por sua vez, no plano político, “impõe uniformidade legislativa e administrativa contra toda forma de particularismo” (MATTEUCCI, 1998, p. 34). Nesse sentido, segundo o autor, ocorre um processo onde cada vez mais todas as esferas da sociedade se tornam cada vez mais despolitizadas, fazendo com que esta deva ser apenas governada e administrada. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 44 Por fim, no plano sociológico, ocorre o processo de divisão do trabalho social da qual, através da nova estrutura burocrática, da qual é externa a sociedade, e por isso, é responsável por entender e controlar o funcionamento desta. Desse modo, foram condições fundamentais para o surgimento e desenvolvimento do Estado moderno, por um lado, a centralização dos múltiplos poderes na ordem interna e, por outro lado, a independência perante a Igreja e o Império na ordem externa. (DIAS, 2013, p. 63) Para muitos historiadores, o Tratado de Westfália (1648), que deu fim a chamada Guerra dos Trinta Anos, é considerado um dos primeiros tratados de paz que existiu, porém, ele traz consigo elementos mais importantes que este. Em busca de garantir a ordem e a paz, o tratado contribui para a consolidação e formação dos Estados Modernos, basta olharmos para as suas propostas e suas consequências. Para que se estabelece a ordem e a paz, era necessário criar parâmetros pelos quais se dariam as próximas relações internacionais, e para isso, se fez necessário, o reconhecimento da soberania dos monarcas sobre os seus territórios e da igualdade soberana dos Estados. Mas também, se fazia necessário o estabelecimento de um conjunto de princípios orientados a assegurar a coexistência dos Estados. A concepção de Estado era diferente da concepção que temos hoje, porém, ao mesmo tempo, nunca esteve tão perto. O chamado Estado Moderno começaria a dar os seus primeiros passos. Em nossas próximas duas aulas, falaremos sobre a história do pensamento político, abordando os chamados cientistas políticos clássicos, e refletindo sobre a contribuição teórica de cada um destes, e consequentemente, refletindo mais sobre as características do Estado. Até a nossa próxima aula. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 45 CAPÍTULO 4 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO POLÍTICO - I Olá, minha cara aluna! Olá, meu caro aluno! Nossas três primeiras aulas foram introdutórias, com o objetivo de construir os fundamentos necessários para começarmos a construir toda reflexão que vamos fazer a partir de agora. Entender, por mais que de forma básica, o que é a ciência política, o poder e o Estado, nos dá condições para mergulharmos um pouco mais fundo nesta área do conhecimento. Nesse sentido, nas duas próximas aulas, esta e mais uma, iremos fazer um breve percurso sobre a história do pensamento político, passando pelos principais pensadores e evidenciando suas principais contribuições. Nesta primeira aula, não teria como ser diferente, começaremos por aquele que é considerado o pai da ciência política moderna, como já mencionamos brevemente ele algumas vezes, você já deve saber que se trata de Nicolau Maquiavel. Estudaremos como ele rompe com a moral e desenvolve uma política pautada no concreto, como também, entenderemos porque o autor defende o papel civilizatório da política, assim como, o papel do Estado para pensador. Por seguinte, abordaremos a concepção política de Hobbes, entendendo a sua linha de raciocínio que tem como objetivo central a justificativa da necessidade da construção do Estado, e mais do que isso, porque, de acordo com sua perspectiva, o Estado deve exercer um poder absoluto. Por fim falaremos de John Locke, com o objetivo de compreender sua perspectiva sobre a natureza humana e como isso implica no Estado e na sociedade civil, além de sua principal contribuição política, a questão da propriedade. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 46 4.1 Nicolau Maquiavel Título: Retrato de Nicolau Maquiavel Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_Maquiavel#/media/Ficheiro:Portrait_of_Niccol%C3%B2_Machiavelli_by_Santi_di_Tito.jpg O filósofo político italiano Nicolau Maquiavel (1469 - 1527), é considerado o pai da ciência política, como vimos anteriormente, ele ganha este destaque ao romper com as justificativas religiosas e metafísicas para o poder, e se preocupa, em estruturar concretamente a organização do poder, ou em outras palavras, ele se preocupa em pensar em como um príncipe (entendido aqui como o líder de um Estado) pode garantir a manutenção do seu poder. Um elemento muito importante que se faz presente em Maquiavel, é o rompimento do pensar político com a moral, com a ética, com os valores. Por isso, que o italiano consegue romper de fato com os laços da religião, pois ele se desprende dos valores e das éticas proporcionadas por este. Nesse sentido, a política é um campo distinto da moral. Mas isso não significa que o príncipe para Maquiavel deve agir destituído de toda a moral, que ele seja imoral. O que o autor vai afirmar, que a política é amoral, ou seja, a política faz o uso instrumental da moral. Uma observação importante de ser realizada aqui, é que para Maquiavel, o homem em seu estado de natureza, ou seja, destituído de toda a socialização, ele é mau por natureza. Por isso, Maquiavel defende que o príncipe que é essencialmente bondoso, é CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 47 um príncipe fadado ao fracasso, pois este será deposto pelos outros indivíduos. Sendo assim, um príncipe precisa aprender a não ser bondoso em determinados momentos. Em síntese, o príncipe não deve ser essencialmente bondoso, nem essencialmente maldoso, ele deve fazer aquilo que é necessário para garantir a manutenção do seu poder. (...) O verdadeiro príncipe [para Maquiavel] é aquele que sabe tomar e conservar o poder e que, para isso, jamais deve aliar-se aos grandes, pois estes são seus rivais e querem o poder para si, mas deve aliar-se ao povo, que espera do governante a imposição de limites ao desejo de opressão e mandodos grandes. A política não é a lógica racional da justiça e da ética, mas a lógica da força transformada em lógica do poder e da lei. (CHAUÍ, 2000, p. 203) Ao escrever a sua principal obra, “O Príncipe” (1532), ele vai abdicar de fazer uma análise moral da política, e vai pensar a ação política através de uma lógica que é objetiva e centrada na realidade. Desta forma, sua obra busca trazer evidências concretas de como conquistar e preservar o poder de forma eficiente, e que funcione na realidade, que funcione no mundo concreto. Diferentemente dos idealistas, não se tem uma preocupação com aquilo que o mundo deveria ser, mas sim com aquilo que ele é, e o que deve ser feito mediante a isso. Para Maquiavel, o poder é a ação humana organizada, ou em outras palavras, a capacidade de desejar fazer algo e conseguir fazer este algo, o estabelecimento da vontade. Nesse sentido, ele rompe com qualquer concepção de poder de sua época, que sempre estava atrelado ao divino que concedia a bênção do poder sobre determinados homens. Segundo o autor, o que um novo príncipe deve fazer para alcançar o poder? Ele deve simplesmente se organizar e buscar o poder, ir e fazer. Ele tem direito a isso? O que dá o direito às pessoas de governarem as outras? Para Maquiavel, quem dá o direito é o próprio poder, se o indivíduo consegue o poder e consegue impor a sua vontade, ele detém o poder, logo, pode governar. Nas suas palavras, “O desejo de conquista é algo natural e comum; aqueles que obtêm êxito na conquista são sempre louvados, [...]” (MAQUIAVEL, 1979, p. 51) É importante abrirmos um parêntese para uma questão aqui. Segundo Maquiavel, o direito nada mais é do que um reflexo do poder do Príncipe. É o estabelecimento da vontade daquele Príncipe. Nesse sentido, o direito aqui não é enxergado como aquele CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 48 ideal de justiça, mas sim, como um equilíbrio entre a expressão da vontade daquele que governa para com as necessidades para se manter no poder. Voltando a política, segundo Maquiavel, esta exerce um papel civilizatório, uma vez que esta é responsável por estabelecer uma ordem que possibilite a vida. Vale relembrar, que o homem por natureza é mau, logo qualquer príncipe não poderá ser plenamente bom, porém, para o autor, qualquer ordem é melhor do que a desordem. Só existe civilização quando o poder está organizado em alguma forma de Estado. Nesse sentido, a grande defesa de Maquiavel de certa modo, é numa espécie de ‘profissionalização’ da política, onde quanto mais o Príncipe buscar estudar e aperfeiçoar a sua política, maior será a ordem estabelecida, e por consequência, uma vida melhor entre os indivíduos que pertencem a esta sociedade. Por mais que Maquiavel não tenha utilizado a expressão “os fins justificam os meios” como comumente é lhe atribuído, sua defesa é muito próxima ao significado dessa expressão. Porém, ela pode nos enganar muitas vezes. Em nenhum momento, Maquiavel defende que qualquer atitude do Príncipe é justificável se atingir o resultado que deseja, o que o autor busca evidenciar, que para a preservação do poder no Estado, para manutenção da ordem da civilização, vale utilizar os meios que são necessários. Somente quando a finalidade é a manutenção da ordem, é que de fato os fins justificam os meios. Mediante a tudo isso, qual o propósito do Estado para Maquiavel? Aqui é interessante fazermos um paralelo com alguns elementos da compreensão do Estado atual. Quando olhamos para a Constituição Brasileira, lá se afirma que o Estado brasileiro é responsável por garantir o bem, a justiça social, reduzir a desigualdade, proteger as pessoas, garantir os serviços sociais e outros elementos. Na perspectiva de Maquiavel, a função social do Estado é garantir a ordem. Uma vez que o Estado é reflexo da vontade de um Príncipe, e é através dessa vontade que vai se estabelecer uma nova ordem, segundo Maquiavel, como consequência a vida das pessoas se tornará menos cruel. O pensador italiano, insiste na tecla que qualquer ordem e organização, é infinitamente melhor, que a desordem, uma vez que para ele, o homem é mau por natureza. Em suma, a existência de uma ordem baseada no poder e que gera determinadas regras de convivência, é sinônimo de civilização, e é para isso que serve o Estado, para impor uma ordem determinada de acordo com a vontade de quem manda. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 49 (…) porque há tamanha distância entre como se vive e como se deveria viver, que aquele que trocar o que se faz por aquilo que se deveria fazer aprende antes a arruinar-se que a preservar-se; pois um homem que queira fazer em todas as coisas profissão de bondade deve arruinar- se entre tantos que não são bons. Daí ser necessário a um príncipe, se quiser manter-se, aprender a poder não ser bom e a valer-se ou não disto segundo a necessidade. (MAQUIAVEL, 2004, p. 73) ANOTE ISSO Maquiavel é considerado o pai da ciência política moderna pois ele rompe com as antigas concepções de que o poder deveria obedecer as leis morais e religiosas, e em vez disso, o pensador italiano buscou compreender e estudar a manutenção do poder através de evidências reais e concretas. Segundo Maquiavel, o homem é mau por natureza, e por isso necessita de que uma ordem seja imposta para que organize a sociedade, por isso, para ele, a política é civilizatória, pois através dela, o príncipe pode estabelecer o seu poder no Estado e com isso, estabelecer a ordem. 4.2 Thomas Hobbes Título: Retrato de Thomas Hobbes Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hobbes#/media/Ficheiro:Thomas_Hobbes_(portrait).jpg Apesar de não ser um teórico muito utilizado contemporaneamente, Thomas Hobbes (1588 - 1679) exerce um papel fundamental na consolidação da chamada ciência CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 50 política, que assim como Maquiavel, continuou se desprendendo das chamadas leis naturais e divinas, e buscou fazer o estudo da chama política com base na realidade concreta. É importante evidenciar aqui, que por mais que a teoria de Hobbes tenha ‘envelhecido mal’, como diz a expressão popular, uma vez que sua teoria servirá de apoio para os regimes absolutistas, não podemos em nenhum momento descartá-lo por mero anacronismo, ou seja, julgarmos pelo conhecimento que possuímos hoje. É necessário entendermos que o momento histórico em que estava inserido era outro, e que sua teoria é reflexo daquele momento histórico. Quase um século depois de Maquiavel, Thomas Hobbes ( viveu grande parte de sua vida na Inglaterra do século XVII, período marcado por uma série de conflitos tanto externos quanto internos neste país, desde a própria questão religiosa, onde existe a expulsão do catolicismo e a criação do anglicanismo, quanto os conflitos entre a coroa, representada pelos nobres, e o parlamento, representados em uma parte pelos burgueses. Nesse sentido, a teoria de Hobbes vem como uma espécie de remédio para este contexto histórico violento. Sua principal obra, “O Leviatã” (1651), tinha como objetivo central a busca pela construção de uma nova ordem política, sobretudo para a Inglaterra de sua época, que possibilitasse o fim da violência, daquilo que ele chamaria de guerra de todos contra todos. E é nesse sentido que o autor vai defender a necessidade de um poder que fosse o mais centralizado possível com o objetivo de combater a desordem. Assim como Maquiavel, Hobbes acredita que a natureza humana é má, não é à toa que seu pensamento ficou conhecido pela expressão ‘o homem é o lobo do próprio homem’. Essa expressão resume bem a essência humana na perspectiva hobbesiana, uma vez que ele defende esta concepção de que o homem em seu estado de natureza ele se auto aniquila. Para ambos os autores, antes da existência do Estado não havia humanidade, apenas selvageria.Hobbes vai se dedicar mais do que Maquiavel a pensar esse estágio de selvageria, e vai denominado de estado de natureza, o momento da história onde não haveria uma organização política, e os indivíduos basicamente viveriam de acordo com os seus instintos, vivendo um verdadeiro caos. Por mais que seja uma concepção ideal teórica que não tenha ocorrido cem por cento na prática, ele vai usar esse elemento para poder alcançar o seu objetivo. Porém, Hobbes chama atenção pelo fato de que o homem, mesmo no estado de natureza, ele é racional, logo, a motivação central dele, é a preservação da sua própria vida. Hobbes vai chamar isso de a primeira lei da natureza, veja, ela não é uma lei civil, uma vez que ela não é ditada pela sociedade, mas sim, uma conclusão racional individual. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 51 Além da existência de uma lei natural, Hobbes afirma que no estado de natureza, também existe uma liberdade natural, que é a liberdade de poder fazer tudo, uma vez que não existem leis. Segundo o pensador, todos teriam, igualmente, direito a tudo. Em suas palavras, “o direito de natureza (...) é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida” (HOBBES, 2004, p. 82). Porém, existe um problema aqui nesta compreensão natural teórica, e o próprio Hobbes reconhece isso. Uma vez que todos os indivíduos podem tudo, e mais do que isso, uma vez que não existem leis, nada está errado. Nesse sentido as liberdades de cada indivíduo entram em choque, e como o homem é mau por natureza, se cria uma condição de caos. Dando sequência, segundo o autor, se a primeira lei da natureza é a preservação da vida, nem que seja apenas a sua própria vida, viver em um estado de natureza, ou seja, viver num estado sem leis, não contribui para a preservação da vida. Logo, não demoraria muito, para que os indivíduos, racionalmente, chegassem a conclusão que era necessário se reunirem, e formularem um contrato social, e com isso, fundar a chamada sociedade civil, e mais do que isso, o caráter humano. Título: Capa da primeira edição da obra “O Leviatã” de Thomas Hobbes Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Leviat%C3%A3_(livro)#/media/Ficheiro:Leviathan_by_Thomas_Hobbes.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 52 Se todas as pessoas são más por natureza, como você poderia confiar nas demais pessoas, realizando um contrato? Segundo Hobbes, essa confiança não existiria, pois todos desejariam tomar o poder para si. Nesse sentido, se faz necessário a criação de um poder extremamente poderoso, que submeta sua autoridade e exerça seu domínio sobre todas as pessoas, um poder mais centralizado possível, que force as pessoas a viverem de forma pacífica. Nesse sentido, idealmente, ou melhor, no plano teórico, é necessário que todos os indivíduos abram mão de sua liberdade natural, ou seja, da sua liberdade de poder fazer tudo, e entreguem nas mãos, do que Hobbes chama de o Leviatã. Obviamente que o autor não está se referindo ao monstro mitológico, mas sim, utilizando o termo como metáfora para se referir ao Estado. A imagem da capa do livro de Hobbes, é uma síntese do seu pensamento. Então, o monarca, quanto à personificação do Estado, seria a cabeça do Leviatã, enquanto o seu corpo é formado por todos os indivíduos que estão sob a autoridade deste Estado. Ao abrir mão da sua liberdade natural e a entregam ao Leviatã, os indivíduos fazem parte do Estado. Com isso, o Estado passa a ser o único a possuir a liberdade absoluta, o direito de poder fazer qualquer coisa, com isso, ele passa a ter o direito de criar as regras, e com isso estabelecer a ordem e a paz. É interessante aqui, que teoricamente para Hobbes, no estado de natureza, onde existe a liberdade natural, ao mesmo tempo que o indivíduo pode tudo, ele não pode nada, pois todos podem tudo, por exemplo, não existe propriedade privada, pois tudo é de todos. Com a implementação do Estado, por mais que o indivíduo abra mão da sua liberdade natural, ele passa a ganhar uma certa liberdade de fato, que é a chamada liberdade civil. Diz-se que um Estado foi instituído quando uma multidão de homens concordam e pactuam, cada um com cada um dos outros, que a qualquer homem ou assembléia de homens a quem seja atribuído pela maioria o direito de representar a pessoa de todos eles (ou seja, de ser seu representante ), todos sem exceção, tanto os que votaram a favor dele como os que votaram contra ele, deverão autorizar todos os atos e decisões desse homem ou assembléia de homens, tal como se fossem seus próprios atos e decisões, a fim de viverem em paz uns com os outros e serem protegidos dos restantes homens. (HOBBES, 2004, p. 145). CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 53 ANOTE ISSO Em síntese, para Hobbes, o Estado seria uma pessoa artificial, ou seja, que não é real, criada no momento em que os indivíduos realizam o contato social, para que todo poder fosse entregue a ela, e com isso, ela possa governar em nome de todo o resto, de forma absoluta, estabelecendo a paz. Dessa forma, racionalmente, o indivíduo compreende que é necessário abrir mão de sua liberdade natural, em prol da preservação da sua vida. 4.2 John Locke Título: Retrato de John Locke Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke#/media/Ficheiro:JohnLocke.png John Locke (1632 - 1704) é considerado o pai do liberalismo, logo, se torna um dos nomes primordiais para se falar da política moderna. Dentro das suas principais concepções estão: como ele enxerga a natureza humano e como isso vai implicar na concepção de um Estado e uma sociedade civil diferente do que até então era proposto, e por fim, o que é considerado uma das suas principais contribuiÇões, as suas reflexões sobre a questão da propriedade. O ponto de partida para entendermos o pensamento de Locke, é compreender como ele compreende a natureza humana. Se Maquiavel e Hobbes tinham bem claro, que https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke#/media/Ficheiro:JohnLocke.png CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 54 de acordo com a perspectiva deles, o ser humano era mau por natureza, John Locke entende que a natureza humana seria neutra, ou seja, ela possui potencial tanto para ser boa, quanto para ser mau. São as escolhas e as decisões que o indivíduo faz, que vão definir se ele é bom ou mau. Vale ressaltar que Locke está inserido dentro de um movimento chamado de empirismo, onde um conjunto de pensadores e cientistas, acreditam que o conhecimento pode ser extraído da realidade através de experimentos no mundo concreto. É importante termos em mente que a filosofia política de Locke vai partir destes pressupostos do empirismo. ISTO ESTÁ NA REDE “O empirismo é uma corrente filosófica, referente à teoria do conhecimento, que tem suas origens na filosofia aristotélica. O termo empirismo advém da palavra grega empeiria, que significa experiência. (...) Estes se opunham aos racionalistas, que defendiam que o conhecimento é puramente racional e não depende da experiência.” Para saber mais sobre empirismo leio o texto produzido pelo Mundo Educação do UOL sobre o tema: https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/empirismo.htm#:~:text=O%20 empirismo%20%C3%A9%20uma%20corrente,grega%20empeiria%2C%20que%20 significa%20experi%C3%AAncia. Sendo assim, o ser humano, para Locke, é a consequência de suas experiências. Porém, assim como Hobbes, é um autor contratualista. Ou seja, ele defende a existência de um estado de natureza como estágio anterior ao da humanidade, e que precisa ser superado através da criação de um contrato social que vai criar o Estado. Porém, uma vez que a compreensão de natureza de Locke é diferente de Hobbes, a sua compreensão de estado de natureza, tambémvai ser distinta. Para ele, esse estágio também seria caracterizado pela liberdade plena, porém, as pessoas viveriam em harmonia, semelhantemente aos demais animais, ou seja, ocorreriam atos violentos, mas na grande maioria do tempo ocorreria a manutenção da vida. Outra diferença é a noção de liberdade, para Hobbes a liberdade natural permitia que todos os indivíduos tivessem o direito a tudo, logo, o direito de um sobrepunha o direito do outro, em Locke, ele vai entender a liberdade natural de uma forma em https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/conhecimento.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/empirismo.htm#:~:text=O%20empirismo%20%C3%A9%20uma%20corrente,grega%20empeiria%2C%20que%20significa%20experi%C3%AAncia https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/empirismo.htm#:~:text=O%20empirismo%20%C3%A9%20uma%20corrente,grega%20empeiria%2C%20que%20significa%20experi%C3%AAncia https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/empirismo.htm#:~:text=O%20empirismo%20%C3%A9%20uma%20corrente,grega%20empeiria%2C%20que%20significa%20experi%C3%AAncia CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 55 que o limite do direito é o direito do próximo, ou seja, eu tenho direito a tudo, menos ao que já é direito de outra pessoa. Esse limiar, seria uma regra natural, algo que já nasceria com o ser humano. Logo, se me pertence tudo aquilo que é do meu direito, mesmo que seja meu próprio corpo, existe a noção de propriedade. Se existe noção de propriedade, permite que se formem famílias e outros elementos, com isso, para Locke, já existe humanidade dentro do estado de natureza. Nesse estado de natureza, de acordo com Locke, por mais que já se trate de uma humanidade, temos um problema. Quando um determinado grupo, se propõe a fazer o mal contra um indivíduo ou uma pessoa, uma vez que não exista lei, ele pode fazer isso, visto que a única proteção que o indivíduo possui é ele mesmo. Nesse sentido, se cria a necessidade da existência de algo, que seja responsável pela proteção, e não só isso, pela punição. Com isso chegamos a função do Estado para Locke, onde através desse pacto que as pessoas realizam, este deve garantir a manutenção das liberdades naturais, da propriedade e da vida. Aqui temos o início da concepção do Estado mínimo. Pois para Locke, o estado de natureza não era ruim como vimos em Maquiavel e Hobbes, era ótimo, porém apresentava um problema, que era o combate e a punição para aqueles que desejam fazer o mal. Nesse sentido, o Estado deve existir apenas para saciar esta necessidade. Usando alguns termos atuais, para Locke, o Estado é basicamente um estado policial e judiciário. quem quer que, saindo de um Estado de natureza, entre para uma comunidade deve ser considerado como declinante de todo o poder necessário aos fins para os quais se uniram em sociedade, em favor da maioria da comunidade [...]. Assim sendo, o que dá início e constitui realmente qualquer sociedade política nada mais é senão o consentimento dos homens de se unirem a tal sociedade. [...] Nestas condições, quem uma vez deu [...] seu consentimento em fazer parte de uma comunidade, está obrigado, perpétua e indispensavelmente, a ser e ficar inalteravelmente súdito dela, não podendo voltar ao Estado de natureza [...] onde, sendo todos iguais, e poucos observadores da eqüidade e da justiça, a fruição da propriedade que possui neste estado é bastante insegura, muito arriscada. [...] O objetivo grande e principal, portanto, da união dos homens em comunidade, colocando-se eles sob o governo, é a preservação da propriedade. (LOCKE, 1991). CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 56 ANOTE ISSO Diferentemente de Hobbes e Maquiavel, John Locke acredita que o homem não é mau por natureza, mas sim neutra, onde suas escolhas vão guiar seu caminho. Nesse sentido, o estado de natureza em Locke não se trata de um caos, mas sim, de um estágio onde já se faz presente a humanidade. Além disso, segundo o pensador, a liberdade individual já nasce com um limite, a liberdade do outro, com isso, a noção de propriedade também se faz presente. Mediante a isso, o estado de natureza em Locke não é o caos, mas sim harmônico, porém ele apresenta um problema, a ausência de proteção das liberdades e da propriedade e da punição para aqueles que ferem a liberdade do outro, por isso a necessidade da criação do Estado, que deve existir apenas para suprir essa necessidade. Na aula de hoje, abordamos os primeiros dos pensadores modernos que mais influenciaram o pensamento político: Maquiavel, Hobbes e Locke. Na próxima aula daremos continuidade no desenvolvimento histórico do pensamento político, trazendo outros grandes influenciadores, e compreendendo e refletindo sobre as suas contribuições teóricas, sobretudo no que diz respeito, à questão do Estado. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 57 CAPÍTULO 5 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO POLÍTICO - II Olá, minha cara aluna! Olá, meu caro aluno! Como já começamos em nossa última aula, estamos estudando a história do pensamento político, e com isso abordando os pensadores políticos mais influentes da modernidade, e que ainda se destacam na política contemporânea, dando um destaque maior para a compreensão de Estado que cada um desses autores Na nossa aula anterior, começamos falando daquele que é considerado o pai da ciência política moderna, Montesquieu, responsável pela separação do pensar político de dogmas e tradições religiosas e morais, parece simples, mas ao partir do princípio que poder não está relacionado a um caráter divino, fez com que o autor rompesse com a ‘velha’ escola e traçasse uma nova perspectiva política. Além de Maquiavel, estudamos Hobbes, e para ambos os autores, apesar de caminhos diferentes e características próprias, ambos apresentam premissas similares e conclusões próximas. Para ambos, o humano quanto ser, é mau por natureza, logo, se pensarmos num estágio da vida, que eles vão denominar de estado de natureza, onde não existam regras e que todos podem tudo, a consequência será o caos. Em busca de superar esse caos, é necessário que ocorra o estabelecimento de um Estado, seja através da figura de um Príncipe que vai impor a sua vontade sobre todos (Maquiavel) seja através de um contrato social onde os sujeitos abrem mão de sua liberdade plena, e a entregam na mão do grande Leviatã, o Estado que vai reinar absolutamente sobre todos (Hobbes). Diferentemente destes dois autores, terminamos a última aula falando sobre John Locke, do qual parte da premissa, que o ser humano é neutro por natureza, possuindo as mesmas probabilidades tanto para o bem quanto para o mal. Nesse sentido, o estado de natureza de Locke, acredita que o homem vive em certa harmonia, porém, por não existir regras, faz com que alguns indivíduos, que optam pelo caminho do mal, quebrem essa harmonia. Nesse sentido, Locke defende a existência do Estado como um meio de garantir a proteção e a punição. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 58 Na aula de hoje falaremos sobre outros pensadores importantes. O primeiro deles, e talvez um daqueles que é mais perceptível de notar a sua influência na política contemporânea, é Montesquieu. Nesta aula primeiramente falaremos um pouco de como ele enxergava a política de sua época e como ele compreendia os regimes políticos estruturados até então, e com isso, chegaremos até a sua principal contribuição teórica, a separação dos poderes. Na sequência abordaremos o pensamento de outros dois importantes pensadores políticos, Rousseau e a sua concepÇão de contrato social, e Karl marx, e sua perspectiva de entrelaçamento entre política e econômia e a necessidade da construção de uma nova forma de Estado. 5.1 Montesquieu Título: Retrato de Montesquieu Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Montesquieu#/media/Ficheiro:Montesquieu_1.pngMontesquieu (1689 - 1755), como ficou conhecido, é considerado um dos mais importantes pensadores políticos, cuja sua principal proposta política se faz até hoje presente dentro do Estado contemporâneo de forma necessária. Mas busquemos compreender a compreensão e construção de seu pensamento, até chegar a este ponto. Assim como os autores anteriores, Montesquieu é considerado um jusnaturalista, ou seja, ele acredita que existe um direito natural, regras e leis que seriam de caráter natural, porém, diferentemente destes, ele não é contratualista, em outras palavras, CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 59 não acredita no processo de criação de um pacto ou de um contrato, que separa o chamado de estado de natureza, para com a construção da sociedade civil. Vale destacar, que Montesquieu não descarta a existência de um suposto estado de natureza, mas não acredita que este tenha sido superado por um contrato ou pacto, mas entende que faz parte do processo de desenvolvimento da sociedade humana, a superação deste estágio. Outra coisa importante de ser mencionada aqui, antes de darmos continuidade, é que a obra de Montesquieu é muito mais análitica, do que especulativa, ou seja, ele se preocupa muito mais com a análise da sua realidade concreta, do que está acontecendo na sociedade que ele está inserido naquele momento, em vez de especular os processos de desenvolvimento da sociedade. Pode-se dizer que o norte da preocupação de Montesquieu foi procurar compreender e explicar como as leis de sua época estão estabelecidas, o que elas significam e o que conduz as pessoas a obedecerem a estas, como essas regras entram em atividade na sociedade e são obedecidas. Por isso ele vai se debruçar sobre a comparação dos mais diversos tipos de regras e de regimes, e com isso buscar compreender, aquilo que vai dar o nome a principal obra, de o ‘espírito das leis’. Ao buscar justificar o funcionamento das leis, Montesquieu vai afirmar que existe uma simbiose entre os tipos de sociedade para com os regimes que são adotados. Segundo o autor, com base em seus estudos até seu momento histórico, existiram três tipos de regimes: a monarquia, a república e o despotismo. Porém, o pensador complementa, que cada uma destas possui um princípio fundamental, ou como alguns cientistas políticos vão chamar, de molas propulsoras, que se trata da característica fundamental de cada regime. É como se cada regime para se estruturar necessitasse de uma estrutura cultural que está fundamentada em cima desta característica, permitindo assim que o regime funcione. No que se diz respeito ao regime monárquico, ele somente consegue funcionar dentro da sociedade onde ele está estabelecido, uma vez que ele é sustentado pelo princípio da honra. Em outras palavras, o comportamento da sociedade dentro desta sociedade, é baseado na honra, e mais do que isso, para o autor, a monarquia ela só se sustenta, se as pessoas inserem na sua vida privada o princípio fundamental da honra. Nesse sentido é necessário que ocorra a difusão de uma cultura baseada na honra. Para a monarquia funcionar perfeitamente, é necessário que a nobreza e o clero, se CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 60 comportem como nobres, e é necessário que os plebeus e os servos, se comportem como servos. O monarca, segundo Montesquieu, não deve necessitar de lutar para ser obedecido, ele deve ser obedecido através do princípio da honra. Já numa sociedade republicana, o princípio norteador fundamental, a mola propulsora, é a chamada virtude republicana. Numa sociedade, para que haja uma boa sustentação de um regime republicano, é necessário que tenha culturalmente formado, virtudes que partem do princípio de que não ocorra um abuso de autoritarismo entre os sujeitos que a compõem. Numa linguagem mais simples, podemos sintetizar com aquele ditado que diz: “não sou melhor do que ninguém, ninguém é melhor do que eu”. Uma vez que dentro de uma república são os sujeitos, ou melhor, os cidadãos que dão sentido ao Estado, é necessário que estes não sejam oprimidos pelo Estado. E mais do que isso, o valor de cidadão de um determinado sujeito, não depende do outro. Por fim, a terceira forma de regime abordada por Montesquieu, é o despotismo, do qual tem como base cultural, como princípio norteador o medo, ou seja, ele é composto por pessoas amedrontadas. De forma bem simples e direta, as pessoas obedecem as leis dentro de um regime despótico pois elas têm medo das consequências. E na grande maioria das vezes, de acordo com o autor, também é movida pelo medo do inimigo, ou seja, eu obedeço ao déspota pois eu tenho medo do meu inimigo, e o déspota vai me proteger dele se eu obedecer a ele. Façamos uma pequena brincadeira aqui para entendermos a diferença dos três de forma simples. Imagine uma fila. Em um regime monárquico, os plebeus quando vissem os nobres chegarem, por uma questão de honra, gentilmente deixariam com que estes passassem a frente na fila. Já em um regime despótico, ao se aproximar, todos deixariam ele passar na frente, seja por medo das consequências ou por medo de perder sua posição. E por fim, numa república, não interessa se o presidente, governador ou trabalhador chegar, este deve ir ao último lugar da fila, pois todos são juridicamente iguais. Montesquieu não esconde o fato de acreditar que o regime monárquico aristocrático é o que ele considera melhor em seu momento histórico, apesar de não descarta a república, diferente do despotismo, do qual ele repudia. Mas independente do regime ser monárquico aristocrático ou republicano, é necessário que dentro dele ocorra uma característica fundamental, da qual encontraremos a sua grande contribuição teórica para o pensamento político, a necessidade da separação do poder. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 61 De acordo com o autor nenhum poder pode exercer de forma absoluta, uma vez que, na sua perspectiva, o poder corrompe o homem, e logo, o poder absoluto o corrompe absolutamente. Existe uma tendência do homem, ao concentrar o poder em suas mãos, de abusar deste poder. Por isso, o poder deve ser dividido, de forma que ele possua pesos e contrapesos. Ou seja, nessa divisão de poderes é necessário que cada um desses poderes tenha uma certa autonomia de atuação, mas ao mesmo tempo, possua uma limitação que se dá pela atuação do outro poder. Para resolver esta questão, Montesquieu vai propor a chamada tripartição do poder, ou seja, a divisão do poder em três partes. Esses poderes, utilizando termos contemporâneos, se tratariam dos poderes executivo, legislativo e judiciário. Vale destacar que estes três poderes se dividem de forma horizontal, ou seja, apresentando a mesma importância e força, onde um poder ao mesmo tempo exerce sua função mas também, controla os outros poderes. Vejamos com calma. O chamado poder executivo é o que normalmente está atrelado a liderança política, seja o presidente, o monarca ou o déspota. Em linhas gerais, Montesquieu atribui ao poder executivo, a àqueles que são responsáveis por aplicar as leis. Porém, não cabe ao poder executivo a criação destas leis, mas sim a outro poder, o que chamamos de poder legislativo, que é caracterizado justamente por este ato. E por fim, um terceiro poder, que é o judiciário, que seria responsável por julgar e interpretar as leis. Desta forma, segundo Montesquieu, ao separar a criação, a aplicação e interpretação das leis, isso faria com estas não fossem desenvolvidas de acordo com interesses individuais, mas sim com os interesses da sociedade civil. Há em cada Estado três espécies de poder: o poder legislativo, o poder executivo das coisas que dependem do direito das gentes, e o poder executivo daquelas que dependem do direito civil. Pelo primeiro poder, o príncipe ou magistrado cria as leis para um tempo determinadoou para sempre, e corrige ou ab-roga aquelas que já estão feitas. Pelo segundo, determina a paz ou a guerra, envia ou recebe embaixadas, estabelece a segurança, previne as invasões. Pelo terceiro, pune os crimes ou julga as questões dos indivíduos. (MONTESQUIEU, 2006, p. 165). CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 62 ANOTE ISSO A grande contribuição de Montesquieu é a defesa da separação dos poderes, da qual em síntese, parte do princípio de que nenhum ser humano tem a capacidade de administrar o poder absoluto sem se corromper pela sua própria vontade, nesse sentido, é necessário que se criem uma separação de poder, onde esses poderes estejam estruturados horizontalmente, e cada um deles possua um peso e ao mesmo tempo seja o contrapeso dos outros poderes. 5.2 Jean-Jacques Rousseau Título: Retrato de Rousseau Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau#/media/Ficheiro:Jean-Jacques_Rousseau_(painted_portrait).jpg Para entendermos o pensamento de Jean-Jacques Rousseau (1712 - 1778), é importante que façamos o mesmo percurso que fizemos com Hobbes e Locke, tendo como ponto de partida a sua concepção sobre a natureza humana. Diferente do que vimos até o momento, Rousseau é categórico em afirmar que o homem é bom por natureza. O pensador chega a essa conclusão, tomando como base os relatos de navegantes e exploradores sobre diversas sociedades tribais, e com isso, ele desenvolve, aquilo que ficou conhecido como a figura do bom selvagem. De acordo com Rousseau, o homem em seu estado de natureza é inocente, ele não visa o mal, ele não causa o mal. Desta forma, o estado de natureza em sua perspectiva, esse estágio onde não existem leis, é ótimo. As pessoas vivem o seu direito e sua CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 63 liberdade natural, então todos têm direito a tudo, e são todos igualmente livres. Aqui, assim como em Locke, Rousseau entende o limite da liberdade como a liberdade do outro, e como, em sua perspectiva, as pessoas são boas por natureza, não ocorre o choque entre essas liberdades. Apesar de o homem ser bom por natureza, segundo Rousseau, conforme o homem começa a interagir e a desenvolver a sociedade, a criar diversos tipos de noções, como o de família, o de propriedade, a criar formas de interagir, como um idioma, e assim por diante, são estas construções sociais que fazem com que o homem perca a sua inocência originária. Ou seja, a sociedade é quem corrompe o homem. Segundo Rousseau, as construções sociais são responsáveis pelo desenvolvimento da desigualdade, e é justamente a desigualdade que gera o mal. Quando o homem se dá conta que existem determinadas coisas que lhe dão poder, então ele percebe que ‘inventou’ o poder, ou alguma forma de poder, se desenvolve também uma desigualdade, pois um detém e outro não. E isso se aplica para as múltiplas invenções do desenvolvimento humano, pois inventar implica em alguns possuir e outros não possuir, e com isso, desenvolve desigualdade, e na ansiedade por acabar com essa desigualdade, é que se tem o mal. Dentro desta perspectiva rousseauniana, o mal não é natural, mas é uma invenção, uma resposta à desigualdade. Desta forma para Rousseau o estado de natureza ele possui duas etapas. Uma primeira de harmonia, uma vez que o homem era bom, e a partir do momento que o homem desenvolve e inventa noções e instrumentos, que por sua vez caracterizam o que compreendemos com sociedade, mas por outro lado geram desigualdade, que geral o mal, ou seja, o desenvolvimento da sociedade corrompe o homem, levando ao segundo estágio do estado de natureza, que passa a ser uma convivência caótica. Nesse sentido, assim como vimos em Hobbes, Rousseau vai afirmar que em um determinado momento se criou a necessidade da realização e da criação de algo para que se estabeleça uma ordem nesse meio caótico, e o caminho que ele vai encontrar para isso, é através de um contrato social. Semelhante a idéia proposta por Hobbes, teoricamente teria ocorrido uma reunião entre os indivíduos, da qual eles criaram um pacto que daria origem a uma estrutura social, que tiraria eles desse estado de natureza, e levasse a constituição de uma sociedade civil, e com isso se restabeleceria a ordem. E é justamente o Estado que passa a ser criado através deste pacto. Onde os indivíduos abrem mão de parte de seu direito e de sua liberdade natural, entregam na CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 64 mão do Estado, e com isso, esse passa a ter a autoridade para criar leis e regulamentar a vida. Porém, estas leis devem ser feitas em nome da sociedade, respeitando sempre o interesse geral. Vale destacar aqui, que não se trata de um interesse da maioria, mas algo mais complexo que isso, seria o interesse das pessoas que já viveram, que vivem e que vão viver. O interesse geral é mais do que a soma dos interesses de todos os indivíduos que compõem aquela sociedade, ele é um ideal, uma ideia mais elevada do que uma simples concepção imediatista. Ele deve representar os interesses do passado, do presente e do futuro. Porém, na estruturação inicial do Estado, de acordo com Rousseau, existe uma dificuldade prática muito grande, e isso se dá justamente pelo fato do homem ser corrompido pela sociedade. Em seu estágio inicial existe a tendência do Estado em dar preferência em representar os interesses das classes dominantes. Ou seja, se o Estado é formado por um conjunto de indivíduos que não são perfeitos, logo ele também não é perfeito. Porém estes indivíduos possuem uma natureza originária boa, que permite que eles possam ter um futuro bom, e o mesmo ocorre com o Estado, ele tem o potencial dentro de si para ser benigno. Ou seja, o Estado para Rousseau está em constante aprimoramento. À medida que as idéias e os sentimentos se sucedem, que o espírito e o coração se exercitam, o gênero humano continua a domesticar-se, as ligações se estendem e os laços se apertam. Acostumam-se a reunir- se defronte das cabanas ou à volta de uma grande árvore; o canto e a dança, verdadeiros filhos do amor e do lazer, tornaram-se a diversão, ou melhor, a ocupação dos homens e das mulheres ociosos e agrupados. Cada qual começou a olhar os outros e a querer ser olhado por sua vez, e a estima pública teve um preço. Aquele que cantava ou dançava melhor; o mais belo, o mais forte, o mais hábil ou o mais eloqüente passou a ser o mais considerado, e foi esse o primeiro passo para a desigualdade e para o vício ao mesmo tempo; dessas primeiras preferências nasceram, de um lado a vaidade e o desprezo, do outro a vergonha e o desejo; e a fermentação causada por esses novos germes produziu por fim compostos funestos à felicidade e à inocência. (...) A partir do instante em que um homem necessitou do auxílio do outro, desde que percebeu que era útil a um só ter provisões para dois, desapareceu a igualdade, introduziu-se a propriedade, o trabalho tornouse necessário e as vastas florestas se transformaram em campos risonhos que cumpria regar com o suor dos homens e nos quais logo se viu a escravidão e a miséria geminarem e medrarem com as searas. (ROUSSEAU, 1978, p. 187-188). CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 65 ANOTE ISSO Diferentemente dos autores que vimos na aula anterior, Rousseau parte do princípio de que o homem é bom por natureza, mas a partir do momento em que ele passa a desenvolver e inventar elementos e noções que vão constituir a sociedade, ele passa a gerar desigualdade, e esta por sua vez, a gerar o mal. Nesse sentido, para o autor o homem é bom, mas a sociedade o corrompe. Com isso, o estado de natureza que primordialmente era harmônico, com o desenvolvimento da sociedade ele passa a ser caótico, fazendo com que ocorra a necessidade da constituição de um contrato social, onde as pessoas cedem parteda sua liberdade natural em prol da construção de um Estado, que passará a regular e trazer a ordem. 5.3 Karl Marx Título: Karl Marx Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx#/media/Ficheiro:Karl_Marx_001.jpg Quando olhamos para Karl Marx (1818-1883) pelo viés da ciência política, sem dúvidas as suas principais contribuições se dão pelo fato da utilização de uma nova metodologia de estudo, o materialismo histórico-dialético. Com base em seus estudos, o pensador alemão vai partir do princípio que a esfera política é superficial quando analisada de forma isolada, para compreender a política, seria necessário uma abordagem que dialogasse com determinantes histórico-econômicos, pois em https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx#/media/Ficheiro:Karl_Marx_001.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 66 sua análise, compreende que são os sistemas econômicos ao longo da história, que ditam as regras políticas, sociais, culturais e assim por diante. Desse modo, Marx compreende que a economia é uma infraestrutura que sustenta as demais. São as relações produtivas, ou seja, o modo como as sociedades produzem suas mercadorias e produtos em relação às suas necessidades, que determinam as transformações sociais. Em outras palavras, “As mudanças sociais e históricas ocorrem, principalmente, pelo desenvolvimento da infraestrutura econômica, e não tanto devido à superestrutura política e ideológica.” (REIS, 2013, p. 78). Mediante a essa perspectiva, a teoria marxista passa a assumir um caráter revolucionário na medida que compreende, que ao longo da história, aqueles que controlam e detém as forças produtivas, estas responsáveis pelas mudanças sociais, consistem na minoria massiva da população, que por sua vez, utilizam disso para explorar a maioria. Como o próprio autor afirma: “A história de toda sociedade até nossos dias é a história das lutas de classe” (MARX, 2010, 23). De Patrícios explorando plebeus até burgueses explorando trabalhadores. Em linhas gerais: O caráter revolucionário da teoria marxista provém da colocação de que as forças produtivas são controladas por uma minoria que conseguiu aproveitar-se da população trabalhadora apropriando-se da mais-valia ou valor excedente. O trabalhador vende sua força de trabalho como urna mercadoria, que é adquirida no mercado pelos capitalistas que buscam reduzir seu custo a um valor mínimo. Esta é uma situação altamente explosiva e que favorece a luta de classes, que tem como protagonista maior a classe operária. Para Marx, o Estado é um instrumento das classes dominantes para manter seu poder de dominação sobre as demais classes na sociedade capitalista; do mesmo modo, a religíáo e o sentimento nacionalista sao manipulados pelo poder económico como formas de domínacáo. Neste sentido é que a revolução proletária deve destruir o Estado, a religião e o nacionalismo, pois são instrumentos de dominação de uma classe sobre outra. (REIS, 2013, p. 78). É importante destacar, sobretudo pela metodologia que o autor utilizava, que suas análises e propostas eram voltadas para o capitalismo industrial de sua época. Marx, se localiza historicamente dentro do processo de consolidação da Primeira Revolução Industrial, e sua preocupação inicial consiste em analisar as consequências dessa transformação social na vida dos trabalhadores, e com isso, cada vez mais foi ampliando seu estudo, até realizar uma análise quase completa de toda a dinâmica de funcionamento do capitalismo industrial. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 67 Nesse primeiro contato nosso com Marx, abordaremos mais sobre as consequências do seu pensamento para a teoria política, e sobretudo de suas reflexões sobre o Estado, posteriormente, quando entramos nas aulas sobre economia, voltaremos a falar sobre a sua análise do capitalismo. Mediante a esses fatos, o Estado é compreendido como mais uma camada da superestrutura que está sustentada pela infraestrutura das relações de produção. Em linhas gerais, o autor compreende que o Estado moderno é um instrumento de dominação da classe dominante, no caso a burguesia, para com a classe dominada, no caso, os trabalhadores, e é essa exploração ocorre a partir do momento que esta maioria dominada precisa vender a sua força de trabalho para a minoria dominante, que por sua vez, extrai e acumula riqueza a partir desse princípio. Um dos principais parceiros teóricos e considerado o primeiro pensador marxista após Marx, é Frederich Engels (1820-1895), do qual afirmou que Estado: é antes um produto da sociedade, quando esta chega a um determinado grau de desenvolvimento; é a confissão de que essa sociedade se enredou numa irremediável contradição consigo mesma e está dividida por antagonismos irreconciliáveis que não consegue conjurar (...) este poder, nascido da sociedade, mas posto acima dela e distanciando-se cada vez mais, é o Estado. (ENGELS, 1984, p. 227). Em linhas gerais podemos afirmar que para o pensamento marxista o Estado não é um representante de toda a população que está sob seu poder, mas sim, um representante apenas da parcela da população que detém o poder político. E com isso, ele utiliza de todo o seu aparato burocrático (exército, política, juízes, presídios etc.) para gerar a manutenção desse domínio. De acordo com análise marxista, o capital tem um movimento intrínseco de acumulação, ou seja, cada vez mais a riqueza tende a se concentrar nas mãos de poucos, e cada vez mais se diminuirá o número de burgueses e aumentará o número de trabalhadores. Nesse sentido, em algum momento da história, ocorreria a revolta da classe trabalhadora, a revolução, da qual os trabalhadores tomariam o Estado para si, que por sua vez, tomaria os meios de produção das mãos privadas para o meio estatal. Para os marxistas se faz necessário a realização desse movimento, pois enquanto os meios de produção estiverem nas mãos da burguesia, esta poderá exercer a sua dominação. Uma vez que os meios de produção passam a pertencer a este Estado que estaria sendo controlado pela classe trabalhadora, a exploração cessaria. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 68 Porém a análise marxista não cessa por aqui. Uma vez que a classe trabalhadora esteja com a posse dos meios de produção, não vai existir mais a necessidade do Estado, pois teríamos chegado ao fim da exploração do homem pelo homem. Em outras palavras, se o Estado é um mecanismo de dominação, para um mundo mais igualitário, se faz necessário a dissolução do Estado. fase superior da sociedade comunista, quando houver desaparecido a subordinação escravizadora dos indivíduos à divisão do trabalho e, com ela, o contraste entre o trabalho intelectual e o trabalho manual; quando o trabalho não for somente um meio de vida, mas a primeira necessidade vital; quando, com o desenvolvimento dos indivíduos em todos os seus aspectos, crescerem também as forças produtivas e jorrarem em caudais os mananciais da riqueza coletiva, só então será possível ultrapassar-se totalmente o estreito horizonte do direito burguês e a sociedade poderá inscrever em suas bandeiras: de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual; segundo suas necessidades. (MARX, 2008, p. 18). ANOTE ISSO Em Síntese, a primeira coisa que devemos sempre lembrar do pensamento marxista é que, ao fazer uma análise histórica, este compreende que a esfera política esteve sempre subordinada à esfera econômica. Nesse sentido, Marx enxerga o Estado como uma ferramenta de dominação das classes dominantes (no caso contemporâneo, da burguesia), que consiste na minoria da população, para com a classe dos dominados (no caso contemporâneo, do proletariado), que consiste na maioria da população. Dentro de sua proposta, Marx defende o fim da exploração do homem pelo homem, e acredita que dentro desse processo, um dos últimos estágios a seremalcançados é a superação do Estado. Com essa aula, chegamos ao fim de nosso pequeno levantamento histórico sobre os chamados clássicos da teoria política. É importante ressaltar, que existem muitos outros nomes, que também trouxeram importantes contribuições, mas que em alguma medida beberam da fonte de algum dos autores trabalhados aqui nestas aulas, como por exemplo os liberais e os neoliberais, que vão partir dos princípios levantados por Locke para desenvolverem suas teorias. Nas próximas aulas, voltaremos a falar mais sobre elementos da análise política contemporânea. Mais especificamente na próxima aula, falaremos de forma mais profunda sobre as funções do Estado e a divisão dos poderes. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 69 CAPÍTULO 6 AS FUNÇÕES DO ESTADO Olá! minha cara aluna, meu caro aluno! Nas últimas aulas refletimos um pouco sobre a história do pensamento político, onde buscamos compreender as contribuições teóricas daqueles que são considerados os principais pensadores, ou melhor, os mais influentes, da chamada ciência política moderna.. Compreendido esse panorama histórico do desenvolvimento do pensamento político, cabe agora fazermos reflexões importantes sobre a dinâmica da política contemporânea. Obviamente, que abordaremos os processos históricos que conduziram ao estágio em que estamos, mas focaremos em entender essas dinâmicas. Nesta aula, abordaremos um pouco mais sobre as chamadas funções do Estado, buscando compreender como se dá a sua dinâmica geral no mundo contemporâneo, nesse sentido, na grande maioria dos Estado modernos, o seu poder é dividido, assim como vimos na teoria de Montesquieu, e na grande maioria destes, é dividido nos chamados três poderes, que em outras palavras, podemos chamar de as três funções do Estado. Nesse sentido, podemos dizer que o objetivo dessa aula é entender cada uma destas três funções: a) o poder legislativo; b) poder executivo e; c) poder judiciário. Focaremos em compreender suas atuações e seus limites, e no que se diz respeito ao poder legislativo em específico, falaremos sobre a possível existência do parlamento, uma vez que é uma instituição política que se manifesta em diversos Estados contemporâneos. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 70 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Como já comentamos em outras aulas, o senso comum atribui à imprensa, da qual tem o jornalismo englobado, o chamado quarto poder. Nesse sentido, o jornalismo pode exercer um papel importante para a democracia, uma vez que pode ser um dos principais elos entre a sociedade civil e o Estado. Mas também é importante refletir como a imprensa tem um papel importante para com os chamados três poderes, seja para transmitir as informações de suas ações como também para questionar os limites de cada um desses poderes. Mas para isso é necessário que ela tenha pleno entendimento sobre cada um deles e de suas funções. De acordo com a atual ministra do STF (Supremo Tribunal Federal), “não há democracia sem imprensa livre”, e destaca como a imprensa pode exercer um papel fundamental na política contemporânea, sobretudo no combate das chamadas fake news. Para ver a matéria por completo, acesse o link: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/05/stf-promove-exposicao-que-retrata- importancia-do-jornalismo-para-a-democracia.shtml 6.1 O Governo e o Princípio da Divisão dos Poderes Como já mencionado em nossa introdução desta aula, a grande maioria dos Estado contemporâneos, em busca de criar medidas para evitar a concentração e o abuso do poder, eles dividem o poder estatal em três: a) o poder legislativo; b) poder executivo e; c) poder judiciário. Ressaltando que estes, atuam de forma articulada um com o outro, em busca de uma construção conjunta de um Estado. Essa divisão é entendida como uma divisão horizontal do poder. Segundo Reis, para que esta divisão e a execução destas funções ocorram de forma plena, é necessário que ocorram pelo menos três requisitos: a) desenvolvimento pleno do Estado de direito, no qual exista segurança jurídica de acordo com as exigências da sociedade; (b) incentivo a participação dos cidadãos no processo político, com a existência de liberdade de expressão, que permita o desenvolvimento pleno das pessoas e dos grupos sociais; c) que as regras que permitam o funcionamento da sociedade sejam claras e a sua compreensão acessível a todos. (REIS, 2013, p. 139). https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/05/stf-promove-exposicao-que-retrata-importancia-do-jornalismo-para-a-democracia.shtml https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/05/stf-promove-exposicao-que-retrata-importancia-do-jornalismo-para-a-democracia.shtml CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 71 Para entendermos melhor como funciona cada uma destas funções, é necessário acima de tudo, primeiramente, entendermos o que é o governo, e como ele se diferencia do estado, e também, qual é o princípio por trás da divisão dos poderes. Quando falamos em governo, estamos falando do sujeito principal da ação política. Um conjunto de órgãos e instituições estatais que orientam a ação política. De uma maneira mais simplória e restrita, pode-se dizer que o governo, é o poder executivo. Já em um sentido mais amplo, pode-se dizer que o governo é o modelo institucional da dominação política. Através das características levantadas por Burdeau sobre o governantes, podemos compreender melhor o que seria o governo. Segundo o pensador, “os governantes são investidos de urna dupla qualidade correspondente ao caráter duplo de sua atividade. São ao mesmo tempo os órgãos do Estado e os representantes do soberano” (BURDEAU,2005, p. 50). Primeiramente, de um lado, são órgãos do Estado, pois “seus atos só se beneficiam da autoridade que lhes é própria porque são imputados ao próprio Estado. Portanto, é o poder estatal que os governantes exercem. E por ele que suas decisões são juridicamente fundamentadas”. E por outro lado, são representantes do soberano, pois “os governantes são estabelecidos para fazer que prevaleça a vontade dos que detém, no Estado, a maior força, ou seja, quer de um monarca, quer de urna classe ou de urna categoria social, quer da nação inteira expressando-se através da opinião pública” (BURDEAU,2005, p. 51). Nesse sentido, Burdeau questiona a compreensão de que os governantes são aqueles que possuem a maior força e que executam o poder de coerção, quando na verdade, existe um poder que permanece estável e que está acima da vontade dos governantes. Isso ocorre justamente pelo fato de que o governo e Estado não são sinônimos, sobretudo, através da fragmentação do poder. No mundo contemporâneo, temos o predomínio do chamado Estado de direito, cuja a sua principal característica é a divisão horizontal do poder, onde os órgãos que compõem esta divisão estão dentro da mesma ordem e do mesmo poder constitucional, ou seja, falando numa linguagem simples, não existe privilégio de um poder sobre o outro, todos os poderes estão em equilíbrio, onde um depende do outro. Tomando como base os pressupostos teóricos de Montesquieu, que vimos na aula anterior, a divisão dos poderes no Estado de direito, considera que o Estado atua sobre a sociedade sobre três esferas: CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 72 a) estabelecimento de distintas normas as quais devem acomodar sua conduta os integrantes da comunidade, normas que se destaquem pela generalidade e obrigatoriedade, se codifiquem de modo abstrato e impessoal e não para resolver um caso concreto (funções que cabem ao poder legislativo); b) execução dessas normas, pois manifestam a vontade do Estado (função exercida pelo poder executivo); c) a jurisdição ou função de resolver conflitos que podem ocorrer entre os diferentes componentes da comunidade ou entre estese a própria comunidade (função do poder judiciário). (REIS, 2013, p. 143) De acordo com o filósofo Immanuel Kant, a divisão dos três poderes é necessária e ao mesmo tempo perfeita, pois um complementa o outro, de modo que um dependa do outro mas ao mesmo tempo, cada poder possui a sua autonomia de atuação, de modos que,”Um poder não pode usurpar a função do outro. Assim a vontade do legislador é irrepreensível, a do poder executivo é irresistível e a sentença do juiz supremo é sem apelação.” (KANT, 1993, p. 155). ANOTE ISSO Podemos entender por governo como uma parte daquilo que compõe um todo que chamamos de Estado. Em linhas gerais, o que é denominado de governo, que é onde atuam os chamados governadores, está atrelado ao poder executivo. Dessa forma, o governo é o órgão principal da ação política, porém, ele está sujeito ao Estado. 6.2 A Função Legislativa Título: Congresso Nacional, símbolo do poder legislativo no Brasil Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/74/Brasilia_Congresso_Nacional_05_2007_221.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 73 Em linhas gerais a função legislativa se diz respeito ao sancionamento e a promulgação de leis e normas pela autoridade pública, onde está subjugada a Constituição, ou seja, não deve sancionar e nem promulgar nada que seja considerado inconstitucional. esta atividade livre se encontra em todas as funções materiais do Estado que apareceram separadamente na história. Nada é possível sem ela, e seu mais amplo campo de ação aparece na atividade legislativa (JELLINEK, 2000, p. 545) A legislação pode alcançar diversos graus de importância dentro de determinados sistemas políticos, dentro dos Estados democráticos modernos, é considerado um dos meios mais eficientes para a realização de mudanças sociais de forma pacífica. Dentro do processo legislativo, podemos dividi-lo em cinco etapas: a) inicial, b) reunião e obtenção de informações, c) formulação de alternativas, d) deliberação e e) decisão final. A primeira etapa, chamada de estágio inicial, pode-se dizer que todo processo legislativo pode ter uma origem formal ou informal. Quando aquela determinada norma ou lei tem sua origem dentro dos órgãos do Estado (executivo, legislativo, consultivos etc.) ele se manifesta de forma formal. Por sua vez, quando sua origem provém de uma iniciativa da comunidade, que apresenta problemas e propõem soluções, seja através de partidos políticos, lideranças sociais, movimentos sociais e outros meios, é considerada de origem informal. Dando sequência, ocorre a chamada reunião e obtenção de informações, que também pode ser dar por meios informais, mas na grande maioria das vezes, ocorre pelos meios formais institucionais, sobretudo através de comissões parlamentares, da qual reúnem os legisladores, em busca de levantar informações e realizar consultas, em relação à lei ou norma que está sendo apresentada. Vale destacar, que dentro desse estágio pode ou não ocorrer a consulta civil. Após levantar as informações é necessário formular as alternativas, nesse momento ocorrem diversas concentrações de forças, ou em outras palavras, a união de grupos para desenvolverem suas propostas, normalmente ocorre a divisão entre dois grupos, os favoráveis e os não favoráveis, mas nada impede que sejam formados mais de um projeto para a mesma discussão. Formulada as propostas, entramos na fase da deliberação legislativa, da qual, segundo Reis, “(...) o caráter público da deliberação coloca o corpo legislativo diante CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 74 da opinião pública, e constitui um momento em que as diferentes opiniões partidárias se confrontam com suas respectivas plataformas eleitorais”. (REIS, 2013, p. 145). E por fim, temos a fase da decisão final, que em linhas gerais podemos dizer que é a expressão da decisão tomada em forma de lei, sendo concretizada através de uma eleição. Na grande maioria das democracias modernas, uma vez sancionada a lei pelo legislativo, ela deve ser aprovada pelo poder executivo para de fato, passar a exercer seu poder, movimento que na grande maioria das vezes, faz com que lei volte para o legislativo, apenas para realizar algumas revisões. Após isso, a lei é publicada e passa a vigorar como regra jurídica de caráter obrigatório. É neste momento que se começa a verificar a eficácia da lei ou ato legislativo como norma reguladora de condutas. Ela é um produto do sistema político, e se reintegra nele novamente, seja como apoio específico ao govemo no sentido de que a lei atendeu as demandas que lhe deram origem, seja como incremento da demanda, que pode se tomar mais agressiva na medida em que não foi atendida pela lei, considerada como produto ou decisão pública. (REIS, 2013, p. 146) 6.2.1 O Parlamento Título: O Palácio de Westminster, onde fica localizado o parlamento do Reino Unido Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e4/Houses.of.parliament.overall.arp.jpg/799px-Houses.of.parliament.overall.arp.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 75 A origem do termo parlamento, como uma instituição do Estado responsável por realizar debates e acordos políticos, provém dos velhos costumes medievais, onde o rei utiliza-se deste meio para se aconselhar para com os nobres. Com o passar do tempo, esse antigo hábito foi criando cada vez mais um caráter institucional, até chegarmos ao século XIII onde na Inglaterra e na França passam de fato a utilizar este termo de forma completamente institucional. Apesar de princípios parecidos com este na Antiguidade, como as assembleias populares na Grécia ou os comícios realizados em Roma, é no período medieval que passa a ganhar a sua natureza política “como a instituição do Estado onde se exerce a representação popular e se debate, no sentido de troca de ideias, até chegar a um acordo que se concretiza em lei”. (REIS, 2013, p. 146) De certa forma, o Parlamento, em alguma medida, representa a soberania do povo, uma vez que seus membros são escolhidos de forma democrática representando a pluralidade social, e com isso, exerce funções essenciais de criar normas e leis de acordo com a Constituição, além de, fiscalizar o Poder Executivo e exercer esta representação política. Porém, até ele se estabelecer da forma muito próxima a que compreendemos na nossa sociedade contemporânea, pela primeira vez na Inglaterra, ele passou por um longo processo histórico. O modelo nasce, como dito anteriormente, no século XIII, sobretudo através do Magnum Concilium, que se tratava justamente de um tipo de assembleia que reunia o rei para com os demais nobres. Em uma destas assembleias, se desembocou na assinatura da Magna Carta em 1215, que, apesar de possuir muitos outros elementos, teve um significado imediato de estabelecer limitações ao rei pelos nobres. A Carta foi fruto de árdua negociação feudal, imposta a um rei ditatorial por homens rudes, que se sentiam ofendidos pela independência de poderes do monarca. Mas sua importância não deve ser julgada somente pela limitada separação de poderes original em uma sociedade medieval. Durante os três séculos seguintes todos os ingleses se converteram em homens livres, e portanto entraram na jurisdição daquele corpo legal. A Magna Carta foi um documento decisivo para a história constitucional da Inglaterra. Apesar de algumas modificações posteriores, todas elas destacam o controle sobre o governante pelo poder combinado de muitos homens. Sua promessa de não aplicar a força do governo contra nenhum homem livre permanece atual. A Carta chegou a ter vida própria que transcende seu significado original. Ao longo dos séculos foi um símbolo de limitação imposta ao regime autoritário. (REIS, 2013, p. 147) CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 76 Após isso, com opassar dos séculos, o Concílio e posteriormente, o Parlamento, passou por um contínuo cabo de força com a monarquia, em alguns momentos exercendo mais, em outros menos poder. Em 1640, com a Revolução Puritana, e 1660 com a Revolução Gloriosa, entre dissolvidas e restaurações, o Parlamento passa por uma grande mudança concreta, ele não é mais composto apenas pela nobreza, mas por outros membros da sociedade civil, sobretudo naquele momento, a burguesia. Neste momento, o Parlamento de fato se distancia de seu modelo embrionário medieval, e se aproxima do modelo liberal que adotamos até a atualidade, ou seja, fica estabelecido que este seria definido como “a instituição do Estado onde se exerce a representação popular e se debatem e se trocam idéias até que se chegue a um acordo que se concretiza na lei”. (REIS, 2013, p. 149). Nesse sentido, quando olhamos para o parlamento dentro da estrutura política contemporânea, pode-se notar que este responsável por produzir impulsos políticos com base nas orientações do eleitorado que representa, proporciona o aumento do conhecimento político e das questões públicas da sua base eleitoral, possibilita a formação de novos líderes políticos que respaldam os interesses da opinião pública e entre outros elementos. Com isso, é fato que a concepção da instituição Parlamento ela rompeu com os limites ideológicos e passou a ter um certo caráter universal uma vez que é possível notar a sua existência em quase todos os modelos políticos existentes na atualidade, seja nas monarquias constitucionais (Espanha, Inglaterra etc.), nas democracias (Brasil,Estados Unidos, França etc.), ou até mesmo, nos sistemas políticos autoproclamados de comunistas (Cuba, China, Coréia do Norte). ANOTE ISSO Em síntese, o poder legislativo exerce o poder de sancionar e promulgar leis e normas pela autoridade pública, sempre subjugado à Constituição. Na grande maioria dos regimes políticos atuais, o poder legislativo se concentra na mão do Parlamento, do qual, em linhas gerais, é o órgão do Estado, cujo seus membros são escolhidos numa eleição democrática, e com isso representam o povo e a pluralidade social. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 77 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Dentro do jornalismo, existem diversas especialidades, como econômico, cultural, esportivo, policial e assim por diante. Entre estes, existe o chamado jornalismo legislativo, que seria, em linhas gerais, o jornalismo produzido pelo próprio poder legislativo, em suas múltiplas instâncias, para dialogar com a sociedade. Para saber mais, acesse a matéria escrita pelo Observatório da Imprensa do Instituto Para Desenvolvimento do Jornalismo: https://www.observatoriodaimprensa.com.br/jornal-de-debates/o-jornalismo- legislativo-no-campo-do-jornalismo-publico/ 6.3 A Função Executiva Título: Palácio do Planalto, símbolo do poder executivo no Brasil Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Poder_Executivo_do_Brasil#/media/Ficheiro:Palacio_do_Planalto.JPG A função executiva pode ser resumida em um único termo, que ao mesmo tempo simplifica sua compreensão, mas também, mostra sua complexidade, seria a administração, que “jamais é a mera execução ou aplicação mecânica de regras gerais a casos particulares, precisamente porque não é exclusivamente atividade autoritária, mas que contém em si atividade social” (JELLINEK, 2000, p. 546). A administração aqui deve ser entendida como uma ação complementar à ação de governar, e com isso, torna-se responsável pela configuração da vida pública, nesse sentido, é extremamente necessário que o poder executivo possua determinada autonomia, mas por outro lado, é fundamental que também seja limitado. A administração do executivo também exerce uma função mediadora entre o político e social, uma vez que é esta responsável pela prestação de serviços para com a comunidade. https://www.observatoriodaimprensa.com.br/jornal-de-debates/o-jornalismo-legislativo-no-campo-do-jornalismo-publico/ https://www.observatoriodaimprensa.com.br/jornal-de-debates/o-jornalismo-legislativo-no-campo-do-jornalismo-publico/ CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 78 Todo este processo administrativo é sustentado e só pode ocorrer uma vez que ele é sustentado pelo aparato burocrático, que exerce a função de oferecer assessoria técnica à direção e orientação política. Não é à toa que o sociólogo Max Weber, vai afirmar que “num Estado moderno necessária e inevitavelmente a burocracia realmente governa” (Weber, 1974, p. 22.). De acordo com Pasquino (1982), o procedimento executivo, é o “processo de execução de todas as opções políticas do governo”, e dentro desse movimento, é extremamente importante a relação entre executivo e burocracia, pois de um lado o governo assumiria o “papel de guia” e do outro, a burocracia o “papel da atuação”. Em linhas gerais, o que está sendo dito pelo autor, é que o poder executivo, quanto aquele responsável por executar as opções políticas do governo, usa a burocracia como a sua trilha para concretização. ANOTE ISSO É verdade que o poder executivo é aquele que é responsável por executar as leis, normas e regulamentos, ou em outras palavras, as opções políticas do governo, porém, suas ações não se limitam apenas a isso. Em linhas gerais podemos dizer que esta faceta das funções do Estado, é responsável pela administração da vida pública. 6.4 A Função Jurídica Título: Supremo Tribunal Federal, símbolo do poder jurídico no Brasil Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Supremo_Tribunal_Federal#/media/Ficheiro:Supremo_Brasil.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Supremo_Tribunal_Federal#/media/Ficheiro:Supremo_Brasil.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 79 Pode-se entender o sistema judiciário, como um complexo de estruturas, funções e procedimentos, que pode ser visto até mesmo como um subsistema político, que tem como função fundamental a aplicação concreta das normas reconhecidas pela sociedade. Dentro dessa complexa estrutura se dá a averiguação dos fatos, a localização dos elementos e dos indivíduos que fogem da ordem social, o julgamento destes, e a aplicação coerção, tudo isso, de acordo com os interesses públicos. Nesse sentido, é o poder jurídico que determina o direito de acordo com a ordem jurídica estabelecida, e que não deve ser entendido apenas como mera declaração das disposições legais, mas também implica em cobrir as brechas da legislação. Porém, em nenhum momento o jurídico não pode em nenhum momento entrar em conflito com as normas legais vigentes. O Poder Judiciário integra a balança ou equilíbrio de poderes desde o momento em que exerce a faculdade de controle da Constituição e da administração. Na realização desta função o Poder Judiciário administra justiça, seja aplicando o direito vigente, seja preenchendo as lacunas do ordenamento jurídico ao criar direito para ser aplicado na resolução de problemas entre partes definidas e concretas. (REIS, 2013, p. 152) ANOTE ISSO Em linhas gerais, o poder judiciário consiste em toda a estrutura de procedimentos e funções que tem como objetivo manter a ordem social, julgando e aplicando a coerção para aqueles que rompem com ela, sempre respaldado no interesse público, sendo responsável direto, também, em cobrir as brechas da legislação. Nesta aula falamos sobre as principais funções do Estado, sobretudo através da compreensão da divisão de poderes. Em nossa próxima aula falaremos sobre três elementos e suas ramificações, que muitas vezes podem gerar confusão, que são as formas de Estado, os sistemas de governo e por fim as formas de governo. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 80 CAPÍTULO 7 AS FORMAS DE ESTADO E OS SISTEMAS DE GOVERNO Olá, meu caro aluno! Olá, minha cara aluna! Em nossa última aula estudamos sobre as funções do Estado. Paraisso discutimos inicialmente a diferença entre os conceitos governo e Estado, lembrando que o primeiro termo está sempre mais conectado às funções executivas, quando o segundo engloba a representatividade total política. Depois falamos sobre as chamadas funções do Estado, que são aquelas que se derivam da divisão dos poderes, sendo as mais tradicionais dentro dos Estados modernos: o legislativo, o executivo e o judiciário. Em linhas gerais a função legislativa sanciona e promulga leis e normas pela autoridade pública, sempre subjugado à Constituição. Já por sua vez, a função executiva, é responsável por executar e administrar as opções políticas do governo. E por fim, cabe a função jurídica, através de um conjunto de procedimentos, manter a ordem social, julgando e aplicando a coerção para aqueles que rompem com ela. A partir dessa aula, iremos abordar três elementos dentro da política, que muitas vezes geram confusão entre si, que são: as formas de Estado, os sistemas de governo e as formas de governo. Ao longo destas aulas, iremos compreender a características de cada um destes, e o que diferencia para com os outros, além das possibilidades que existem dentro de cada um destes. Nesta aula abordaremos as formas de Estado e os sistemas de governo, e por fim, na próxima aula, falaremos sobre as formas de governo. 7.1 As Formas de Estado Quando falamos em formas de Estado, é necessário que se venham duas características essenciais em nossa mente: a) a distribuição do Poder Político no território e b) a organização político administrativa. Ou seja, a forma como essas duas características vão ser aplicadas no Estado, é o que define a sua forma. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 81 É importante ter em mente que não existe uma caracterização e conceituação universal dentro da ciência política para os tipos de formas de Estado. Desta forma, cada cientista político traça a sua própria divisão, porém, existem alguns tipos que são praticamente unânimes, e são esses que vamos trabalhar aqui. A primeira divisão que vamos fazer dentro dos tipos de Estado, é entre, de um lado, o Estado Simples, e do outro, o Estado Composto ou Complexo. No primeiro caso, ele se manifesta de uma única forma, através do chamado Estado unitário. Já no segundo caso, ele pode se manifestar com um Estado Federado ou como um Estado Confederado. Conforme formos estudando cada um deles, vai ficando mais claro e definido esta divisão e a característica de cada um deles. 7.1.1 Estado Unitário - (Estado Simples) Título: Palácio de São Bento, Assembleia da República de Portugal, exemplo de Estado Unitário Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Portugal#/media/Ficheiro:Parlament_-_panoramio_-_nikola_pu.jpg A principal característica de um Estado unitário é que neste se tem uma unidade do poder político, em outras palavras ele possui um poder centralizado, não ocorre uma fragmentação ou divisão do poder. A única descentralização que pode ocorrer dentro deste modelo de Estado é na camada administrativa. Relembrando nossa aula passada, comentamos que na grande maioria dos Estados Contemporâneos, o poder do Estado é dividido em executivo, legislativo e judiciário. Esta divisão pode ocorrer dentro de um Estado unitário, porém cada um desses poderes vai se concentrar dentro de suas entidades centrais. Ou seja, os órgãos legislativos, executivos e judiciários apenas se manifestaram de forma única para todo o território. https://pt.wikipedia.org/wiki/Portugal#/media/Ficheiro:Parlament_-_panoramio_-_nikola_pu.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 82 O modelo de Estado Unitário, atualmente, na sua grande maioria, é utilizado em países que possuem um número populacional menor, onde não se tem uma grande necessidade de uma desconcentração do poder. Nesse sentido, a única esfera política presente neste modelo é o da União. Isso não significa que não existam divisões territoriais, o que acontece é que estes não possuem autonomia, eles simplesmente obedecem aquilo que imposto pela união, eles exercem apenas uma função administrativa de repassar aquilo que “vem de cima”. Os agentes internos são meros reguladores. De acordo com os cientistas políticos esta forma de Estado apresenta alguns aspectos positivos e negativos. No que diz respeito aos aspectos positivos, pode-se enumerar: a existência de uma única ordem jurídica, política e administrativa; o fortalecimento da ordem estatal; o reforço da unidade nacional; e uma burocracia única, tornando-se mais rápida e eficaz. Por outro lado, no que diz respeito aos aspectos negativos se têm: supressão dos interesses dos grupos políticos menores; sobrecarga administrativa do poder central; despreocupação com problemas locais, ou não compreensão dos mesmos; e dificuldade de acesso ao poder central. Este tipo de Estado se apresenta enquanto organização com uma estrutura política centralizada. É um tipo de organização incompatível com a divisão em Províncias, Estados ou Municípios investidos de autonomia política. A centralização de poder é a característica deste tipo de Estado, e no Brasil desempenhou importante papel durante o Império (...). (REIS, 2013, p. 158). 7.1.2 Estado Federado - (Estado Composto ou Complexo) Título: A Casa Branca, sede do Poder Executivo dos Estados Unidos, exemplo de Estado Federado Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_Branca#/media/Ficheiro:Aerial_view_of_the_White_House.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_Branca#/media/Ficheiro:Aerial_view_of_the_White_House.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 83 Se o Estado Simples é caracterizado por uma centralidade do poder, dentro dos Estado Composto ou Complexo, sua característica fundamental é o fato de possuir uma multiplicidade de organizações governamentais que estão distribuídas regionalmente, ou seja, ocorre uma desconcentração do poder. Retornemos ao exemplo do legislativo, judiciário e executivo. Quando olhamos para um país federado, e para facilitar a compreensão, podemos pensar no caso do Brasil, esses poderes possuem divisões de acordo com as instâncias que eles se encontram, ou seja, no caso brasileiro, cada um deles terá os órgãos federais, os órgãos estaduais, e por fim, os órgãos municipais. O que é importante observar aqui, é que não ocorre apenas uma descentralização administrativa do poder, mas sim, uma desconcentração do poder, que não reside apenas em uma única entidade. Quando olhamos etimológicamente para o termo federação, sua origem está no termo fedos, do latim, que significa pacto ou aliança. Isso nos ajuda muito a compreender o seu significado, uma vez que este termo passa a ser utilizado para o movimento político que ocorria, onde determinadas regiões se unem mas ao mesmo tempo desejam manter a sua autonomia. O melhor exemplo para se compreender um Estado Federado é os Estados Unidos da América, onde apesar de existir uma Constituição que abrange todo o território, ela é extremamente simples e curta, dando total autonomia para que cada um dos Estados que lhe compõem decida sobre as demais leis. Isso explica porque em determinados estados estadunidenses a maioridade se dá aos 16 anos, em outros aos 18 anos e em outros aos 20 anos. Ou porque um estado aprova a pena de morte, e em outros, não. É importante distinguir aqui, e isso vai ser muito importante para depois entendermos o Estado Confederado, é que autonomia e soberania são conceitos diferentes. Então no caso das federações, como o Brasil e os Estados Unidos, os estados possuem autonomia, porém a soberania, a palavra final por assim dizer, está nas mãos da União, do grande Estado. Existem basicamente dois grandes modelos de Estados Federados, um primeiro modelo chamado de clássico, onde as organizações governamentais, ou seja, os Estados que compõem o grande Estado, possuem uma grande autonomia,de modo que a União passa exerce um papel mais suplementar em relação à organização. Em outras palavras, a organização e administração reside muito mais nas mãos estatais do que na mão da União. Exemplo deste modelo, os Estados Unidos. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 84 Por segundo, temos o modelo chamado de federalismo de colaboração, do qual essas organizações governamentais que participam da federação exercem uma autonomia mais colaborativa para com a União, ou seja, a grande preocupação da organização e administração está na União, mas esta utiliza dos outros órgãos para colaborarem com este processo. Exemplo deste modelo, o Brasil. Em um Estado Federado, estas organizações governamentais que estão distribuídas regionalmente possuem autonomia. Porém dentro de um Estado Federado também se tem a possibilidade da intervenção. Ou seja, uma vez que estas organizações governamentais possuem autonomia e não soberania, é permitido que a União interfira em casos específicos, sobretudo em momentos em que a Constituição é ferida, na decisão tomada previamente por estes. Usemos o exemplo do Brasil para elucidar. Se um município toma uma decisão que o Estado que ele pertence não considere legítima, o Estado pode interferir nesta decisão e alterá-la. O mesmo ocorre se um Estado brasileiro tomar uma decisão da qual a União considere ilegítima, a União pode interferir e alterar a decisão do Estado, pois, como dito anteriormente, a soberania está na União. Este tipo de Estado apresenta um caráter composto, pela coexistência de um poder federal e de poderes locais, o processo federativo, em geral, tem caráter consciente e normalmente se cristaliza em um pacto entre Estados cujo conteúdo se expressa em urna Constituição. Ocorre desse modo uma descentralização do poder sobre base territorial. (REIS, 2013, p. 159). 7.1.3 Estado Confederado - (Estado Composto ou Complexo) Título: Parlamento Europeu, sede do Poder Legislativo da União Européia, exemplo de Confederação Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_Europeia#/media/Ficheiro:Hemicycle_of_Louise_Weiss_building_of_the_European_Parliament,_Strasbourg.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_Europeia#/media/Ficheiro:Hemicycle_of_Louise_Weiss_building_of_the_European_Parliament,_Strasbourg.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 85 A característica de um Estado Confederado é que estas organizações governamentais que estão distribuídas regionalmente possuem soberania, permitindo a chamada secessão, ou seja, a separação entre estas organizações governamentais. Em outras palavras, também podemos dizer que a confederação “união permanente de Estados independentes que resulta de um pacto ou acordo internacional e é dotada de órgãos permanentes com o objetivo principal de assegurar a proteção externa e a paz interna”. (REIS, 2013, p. 158) Em linhas gerais podemos definir como uma das suas principais características, o que já foi dito, o fato dos Estados possuírem soberania, ou seja, não existe a possibilidade de uma intervenção da união, a decisão do Estado é a decisão final. Um bom exemplo para entendermos o funcionamento de uma Confederação, é a União Européia. Apesar de ser um bloco e não um país, podemos entender algumas coisas de forma mais prática. Se trata de um grupo de países, que se unem com objetivos econômicos, sociais, políticos, e assim por diante, mas onde cada um mantém a sua soberania sobre o seu Estado. Ou seja, uma decisão que é tomada pela União Européia, não necessariamente é obrigatória de ser tomada pelos países membros - obviamente que por fazerem parte do bloco de interesse deles, na grande maioria vão acatar. Peguemos como exemplo o uso da moeda euro. A grande maioria dos países pertencentes à Confederação adotou o uso da moeda, porém a Suécia usou da sua soberania, para não aderir, uma vez que entendia que a medida não era benéfica para o seu Estado. Muitos países já foram confederados, como os casos mais conhecidos dos Estados Unidos e da Suíça. Hoje, não se tem exemplos de países que adotam essa forma de estado, apenas se tem a sua utilização dentro da formação de alianças e blocos. ANOTE ISSO Em síntese, quando se fala em formas de Estado, se tem como ponto de partida a análise da distribuição do Poder Político no território e de sua organização político administrativa. Desta forma, pode-se dizer que, para grande maioria dos cientistas políticos, existem duas principais formas de Estado, o simples e o composto. O Estado simples é aquele onde ocorre apenas uma descentralização administrativa do poder, mas não ocorre uma desconcentração do poder. Ele também é chamado de Estado unitário.Já o Estado composto é caracterizado por uma desconcentração do poder, podendo ser um Estado federativo (aquele onde organizações governamentais que o integram possuem autonomia) ou Estado confederativo (aquele onde organizações governamentais que o integram possuem soberania) CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 86 7.1 Sistemas de Governo Em linhas gerais podemos dizer que quando se fala em sistemas de governo, para a grande maioria dos cientistas políticos, está sendo falado sobre a maneira como o poder político é dividido e exercido em um país. Ou seja, em nenhum momento está sendo levado em consideração a organização e administração do Estado (que é o caso das formas de governo que veremos na próxima aula), nem como se distribui o poder político no território (como é o caso das formas de Estado que vimos anteriormente). Nesse sentido, pode se dizer que existem, principalmente, dois modelos de sistemas de governo, o presidencialismo e o parlamentarismo. 7.2.1 Parlamentarismo Título: Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, onde se adota um sistema parlamentarista Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Boris_Johnson#/media/Ficheiro:Secretary_of_State_for_Foreign_and_Commonwealth_Affairs_(28026354440).jpg Dentro do sistema parlamentarista, uma das principais características que devem ser lembradas, é o fato de que existe uma divisão entre o chefe de Estado e o chefe de Governo.No primeiro caso, o chefe de Estado, ele é mais representativo e simbólico, normalmente representando a legitimidade e continuidade do Estado, já no segundo caso, o chefe de governo é aquele que de fato detêm o poder, é o representante do Poder Executivo, normalmente representado pela figura do primeiro-ministro. O melhor exemplo para darmos sobre essa situação é a monarquia parlamentarista do Reino https://pt.wikipedia.org/wiki/Boris_Johnson#/media/Ficheiro:Secretary_of_State_for_Foreign_and_Commonwealth_Affairs_(28026354440).jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 87 Unido, onde o chefe de Estado é a rainha Elizabeth II, porém, quem de fato exerce o poder executivo, é o primeiro ministro. No que se diz respeito à escolha do chefe de Estado dentro do regime parlamentarista, vai depender da forma de governo que foi adotada (lembrando que veremos sobre o assunto na próxima aula), podendo ser desde um herdeiro até a escolha por voto popular. Já no que diz respeito ao chefe de governo, esse sempre vai ser de escolha do Parlamento, que por sua vez também possui mecanismos que facilitam a possibilidade de troca deste primeiro-ministro, caso o Parlamento tenha esse desejo, ou seja, a troca do chefe de governo nesse caso não é tão rígida como em um modelo presidencialista. Porém, uma característica que tende a ocorrer dentro dos modelos parlamentaristas, é o desenvolvimento de um burocracia institucionalizada mais rígida e contínua. Vamos pensar rapidamente como funciona no sistema presidencialista só pra entender melhor essa questão. Um presidente quando ele assume seu mandato, e com isso se torna chefe de governo, é habitual que este troque todo o aparato burocráticodo poder executivo, em outras palavras, substitua os ministros e conselheiros. Por sua vez, no regime parlamentarista, esse movimento não é habitual, por mais que se troque o primeiro-ministro, o chefe de governo deste caso, as pessoas que compõem o aparato burocrático do executivo tendem a permanecer. Esses elementos permitem com que a estrutura executiva política do Estado parlamentarista permita com que mudanças ocorram sem que seja necessária grandes rupturas. Se um primeiro-ministro está sendo impopular, o processo de substituição dele é “simples”, uma vez que todo o aparato burocrático executivo já está estruturado, e continuará funcionando em sua ausência. Nesse sentido, a troca de governos tende a ser menos traumática, porém, isso acarreta no fato de que existe um tendência dentro do parlamentarismo à instabilidade, justamente pela facilidade da troca, qualquer desvio que o primeiro-ministro faça em detrimento da maioria do Parlamento, já é plausível para uma mudança de governo. Além disso, por ter uma estrutura burocrática rígida, as mudanças, ou melhor dizendo, as eleições tendem a ser em espaços de tempo menores. Outro elemento de reflexão importante a ser realizado sobre o parlamentarismo, é que uma vez que o chefe de governo é escolhido pelo Parlamento, neste sistema, o governo sempre vai possuir a maioria do congresso, e com isso, terá mais facilidade e condições de governabilidade. O primeiro-ministro vai ser sempre do partido ou da coligação de partidos que conseguirem maior número de parlamentares. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 88 Em síntese geral, podemos dizer que as características principais do sistema parlamentarista são: a separação entre chefe de Estado e chefe de governo; o governo sempre está subordinado ao Parlamento; melhores condições de governabilidade, uma vez que o governo sempre vai deter a maioria dos parlamentares; a troca de governo tende a ser mais fácil e menos traumática; e por fim, existe uma tendência a instabilidade de governo, a uma troca mais constante. No sistema de governo parlamentarista, busca-se estabelecer no seio do Parlamento um equilíbrio entre a assembleia representativa e o governo (gabinete, Executivo). O equilíbrio se obtém através da fusão dos dois órgãos no Parlamento, no sentido de que os membros do governo são, ao mesmo tempo, membros da assembleia. A independência entre esses dois órgãos é relativa, ambos só estão separados funcionalmente, e existe responsabilidade política comum e maior controle recíproco. As formas extremas de exercício deste controle são: para a assembleia o voto de censura a política do governo, podendo ocorrer sua demissão; para o Executivo, a dissolução da assembleia, o que significa a realização de novas eleições para escolha de novos membros do Parlamento, ou seja, apela-se ao controle da soberania do povo ,que se expressa no eleitorado e na convocação eleitoral. (REIS, 2013, p. 161). 7.2.2 Presidencialismo Título: Joe Biden, presidente dos Estados Unidos da América, onde se adota um sistema presidencialista Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Joe_Biden#/media/Ficheiro:Joe_Biden_presidential_portrait.jpg A principal característica do sistema presidencialista, que já mostra sua clara distinção para o sistema parlamentarista, é que o chefe de Estado é também o chefe https://pt.wikipedia.org/wiki/Joe_Biden#/media/Ficheiro:Joe_Biden_presidential_portrait.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 89 de governo, ou seja, essas duas chefias estão concentradas nas mãos do mesmo indivíduo. Aquele que governa é o mesmo que representa. Uma característica importante que difere o presidencialismo do parlamentarismo, é que aqui, o presidente, é eleito pelo povo, e com isso, seu governo pode até ser limitado e fiscalizado pelo Parlamento, porém este não pode retirá-lo de seu cargo. Ou seja, quando um presidente é eleito, este deve cumprir o tempo de mandato que foi previamente estabelecido, e não cabe ao Parlamento o poder de destituí-lo. Porém na grande maioria dos Estados modernos que adotam o presidencialismo, existem duas maneiras, ou dois modelos, de retirada do presidente do seu cargo. Uma delas, é que existe no Brasil, e que já foi usada com certa recorrência, é o processo de impeachment. O que acontece aqui, é que diferentemente do parlamentarismo, o Parlamento não pode tirar um presidente do poder por ele ser incopetente ou impopular, mas caso esse presidente cometa algum crime de responsabilidade - esses previamente definidos em cada Constituição -, o Parlamento poderá realizar um processo jurídico, e se constatar de fato a existência desse crime, usar o processo do impeachment, para destituir aquele presidente de seu cargo. Com relação ao outro modelo de retirada do presidente do poder, temos o chamado recall, que atualmente nenhum Estado moderno possui esse artifício em relação ao presidente. O que temos no mundo contemporâneo, é que em alguns países, como nos Estados Unidos, esse processo pode ser aplicado em governadores. Trata-se de um processo onde o Parlamento pode realizar uma consulta popular pela permanência ou não daquele governo no poder, ou seja, o povo é quem decide por votação se aquele determinado indivíduo vai ter seu cargo destituído. Mediante os fatos que foram levantados até aqui, a troca de governante dentro do modelo presidencialista tende a ser traumática, pois, você está destituindo ao mesmo tempo o chefe de Estado e o chefe de governo, além disso, tirando do poder aquele que foi eleito pela população. Ou seja, um processo de impeachment tende a ocorrer não só quando é cometido um crime de responsabilidade, mas quando também se tem uma impopularidade. Além disso, vale ressaltar que diferente do sistema parlamentarista, uma vez que se troca o governo no sistema presidencialista, tem-se uma troca de todo o aparato burocrático do executivo, o que contribui ainda mais para esse processo de troca de governo mais traumático. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 90 Mediante a tudo que foi exposto até aqui, pode-se dizer que as principais características de um sistema presidencialista são: a chefia do Estado e a chefia do governo concentram na mão da mesma pessoa; o presidente possui irresponsabilidade perante o Parlamento; o povo através das eleições escolhe o presidente; as trocas de governo tendem a ser traumáticas e; os únicos meios de destituir o presidente do seu cargo, quando existentes, são o impeachment e o recall. ANOTE ISSO Sistemas de Governo, dentro da ciência política na sua grande maioria, compreende-se pela análise da forma em que o poder é dividido em um determinado Estado. Apesar de já terem ocorridos outras formas ao longo da história, existem dois modelos que são hegemônicos e se fazem presentes na atualidade, o parlamentarismo e o presidencialismo. O parlamentarismo é marcado por uma separação entre o chefe de Estado (aquele que vai ser representante do Estado) para como o chefe de governo (aquele que vai governar), onde o primeiro é definido de acordo com a forma de governo adotada, e o segundo por escolha do Parlamento. Já no presidencialismo, o presidente concentra em si tanto a chefia do Estado quanto a chefia do governo. Nessa aula entendemos a diferença entre forma de Estado e sistemas de governo. Na próxima aula abordaremos as formas de estado, definindo o que se trata esse modelo, e suas principais manifestações na história: monarquia, democracia, república, aristocracia e etc. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 91 CAPÍTULO 8 AS FORMAS DE GOVERNO Olá, aluna! Olá, aluno! Em nossa última aula começamos a abordar três conceituações distintas dentro da ciência política, que costumam a gerar confusões, são elas: as formas de Estado, os sistemas de governo e asformas de governo. Sendo que as duas primeiras abordamos na última aula, e a última abordaremos nesta aula. Como dito anteriormente, para compreendermos e analisarmos um sistema de governo devemos levar em consideração a distribuição do Poder Político no território e sua organização político administrativa. Com isso chegamos em duas ramificações: o Estado Simples e o Estado Composto/Complexo. Basicamente o que difere as duas é que no primeiro caso, também chamado de Estado Unitário, ocorre apenas uma descentralização administrativa do poder, e na segunda, uma desconcentração do poder que é repartido entre organizações governamentais que estão distribuídas dentro desse Estado. Dentro do Estado Composto/Complexo ainda temos uma subdivisão, os Estados Federalistas e os Estados Confederalistas. Em linhas gerais ou primeiros são marcados pelo fato de suas organizações governamentais possuírem autonomia, e com isso, terem certa liberdade mas ainda permanecem submetidas à União. Enquanto no segundo caso, suas organizações governamentais possuem soberania, ou seja, completa independência política entre as outras, e não estão subjugadas à União. Depois estudamos os sistemas de governo, que basicamente diz respeito a forma de como o poder é distribuído no Estado. Apesar de outras teorias e modelos, no mundo contemporâneo se tem o predomínio de dois destes: o parlamentarismo e o presidencialismo. Sendo a principal diferença entre os dois, o fato de que no primeiro a chefia do Estado e a chefia do governo pertencem a indivíduos diferentes, onde a chefia do governo é assumida por alguém escolhido pelo Parlamento (por isso, chamado de parlamentarismo). Já no segundo modelo, a chefia do Estado e a chefia do governo são assumidas pelo mesmo sujeito, o presidente (por isso, presidencialismo). Na aula de hoje vamos definir o que se trata as chamadas formas de governo, e iremos abordar as múltiplas possibilidades que elas apresentam - autocracia, ditadura, democracia, monarquia, república CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 92 8.1 As Formas de Governo Como de certa forma recorrente dentro da ciência política, quando se trata de formas de governo, novamente não temos unanimidade entre os cientistas políticos, até porque se trata de um dos temas mais antigos estudos por esta área do conhecimento. No que se diz respeito a sua conceituação, para a grande maioria, se trata de um estudo e uma análise do modo em que se estrutura, se organiza e se exerce o poder político na comunidade. Até aqui, não existe muita divergência, mas quando se trata dos tipos e modelos destas formas é que a coisa se torna um pouco mais complexa. Pois na grande maioria dos momentos em que se realiza este debate, é em busca de encontrar a resposta para qual é a forma de governo ideal para a sociedade de sua época. Aristóteles (2005) foi um dos primeiros pensadores a se debruçar na questão das formas de governo, utilizando dois elementos primordiais para fazer as distinções, sendo eles: a) relação com o número de pessoas nas quais repousa o poder supremo; e b) de acordo com os fins que buscam na realidade. Com isso, Aristóteles chega a conclusão que existiram três formas de governo, que poderiam se manifestar por sua vez, como outras três formas quando não aplicadas corretamente. Segundo o pensador grego, quando se tem um Estado cujo governo visa a vontade geral e é governado por uma única pessoa, se tem a monarquia, que por sua vez, deixar de governar de acordo com a vontade geral e passar a governar de acordo com os interesses do monarca, se torna uma tirania. Dando sequência, quando se tem um governo liderado por uma minoria que visa a vontade geral, se tem uma aristocracia, que por sua vez, quando governa para a vontade desta minoria e não para a vontade geral, se torna uma oligarquia. E por fim, quando a maioria governa de acordo com as necessidades gerais, se tem a democracia, que por sua vez, quando esta maioria passa a cada um exercer os seus interesses, se desenvolve uma anarquia. Já para o filósofo francês Rousseau (1997), sua análise para as formas de governo se dá através da compreensão do número de membros que os compõem, desta forma: democracia seria quando o soberano poderia confiar o poder do governo para todo o povo; aristocracia quando se confia o poder do governo na mãos de poucos e; monarquia quando se confiaria o poder do governo nas mãos de uma única pessoa. Em uma outra perspectiva, Montesquieu (1973), acredita que existem também três formas de governo, dos quais para o autor seriam: o republicano, onde o poder se concentra nas mãos do povo; o monárquico, onde apenas um governa de acordo com as leis estabelecidas; e o despótico, onde uma só pessoa governa de acordo com as suas próprias vontades. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 93 Como este não é um curso dentro de uma formação completa de Ciência Política, e sim uma análise introdutória para contribuir em sua formação, pois lhe dará ferramentas para serem utilizadas na prática do seu futuro trabalho, não abordaremos todas as teorias já existentes de forma de governo, e nem todos os modelos já estudados e desenvolvidos. Trabalharemos com aqueles que são os mais importantes, que provavelmente poderão em algum momento serem necessários de serem abordados por vocês no futuro do seu trabalho. Porém, existem três deles que merecem um destaque maior, e que são fundamentais que vocês os compreendam e deem importância maior para eles, que são justamente aqueles que se fazem presentes de forma oficial no mundo contemporâneo: a democracia, a república e a monarquia. 8.1.1 Autocracia Por definição etimológica autocracia, seria o governo que se auto governa, mas em termos conceituais, se trata de um governo que se auto institui. Sendo assim, é uma forma de governo da qual concede a si mesmo as condições necessárias para governar, para exercer o poder. Nesse ponto de vista, diferentemente das outras formas de governo, não existe um pressuposto anterior que lhe concede o direito a assumir o poder, a assumir esse governo. Não é a tradição, não é a legislação, não é o caráter divino. Ele simplesmente toma o governo para si e se auto institui. O que pode ocorrer é aquele governo assumir o poder por outra forma de governo e transformar numa autocracia. Por exemplo, um líder político ele pode ser eleito por vias democráticas de eleição pelo povo, a partir do momento em que este passa a concentrar poder de forma que ele passa a retirar o poder do povo, da representatividade popular, fazendo com que o define como governante seja ele mesmo e não a representatividade popular, ele se torna um autocrata, ele se torna a fonte do seu próprio poder. A forma mais comum de imposição de um regime autocrático é através do golpe de Estado, derrubando aquele que está no poder e assumindo pela força e imposição. Palavra de origem grega (autós: por si mesmo; e khratos; governo, poder) utilizada para designar um sistema de governo autoritário, no qual a vontade de urna pessoa é a lei suprema. Refere-se, de modo geral, à monarquia absoluta. Atualmente é mais utilizada para estabelecer um parâmetro de poder. Por exemplo, a oligarquia é o exercício do poder por poucos; a autocracia se diferencia desta porque o poder é exercido por uma única pessoa. (REIS, 2013, p. 167). CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 94 8.1.2 Ditadura O conceito de ditadura tem sua origem na Roma Antiga, e muito diferente das atuais conjunturas políticas, era uma forma de governo constitucional, ou seja, fazia parte das estruturas legislativas daquela época. Para os romanos, quando se tinha realidades de risco, ou situações que comprometiam a ordem social, os senadores romanos poderiam assim escolher um indivíduo para se tornar o ditador, do qual, teria como função principal supriraquela emergência, e restabelecer a ordem social. Na prática, o que acontecia era que os romanos, nesse movimento político, concentravam todo o poder político na mão de uma única pessoa, ou seja, se colocava de lado todo o aparato burocrático legal, e permitia-se que aquele indivíduo pudesse exercer aquilo que ele entenderia como o necessário para aquela situação. É importante ter claro aqui, que o ditador romano ele só poderia atuar naquela área e situação que lhe foi convocado, não podendo alterar a legislação ou atuar em outras áreas e situações. Porém a concepção de ditadura na ciência política contemporânea diverge do modelo romano, primeiramente, pelo fato de não serem mais constitucionais, e segundo, que elas assumem um caráter de inversão de governo, ou seja, normalmente, assim como a autocracia, ocorrem após um golpe de Estado. O conceito de ditadura dentro da ciência política, é outro que flutua bastante entre os cientistas sociais, porém para a maioria destes, entende por uma forma de governo onde onde o poder pode se concentrar na mão de uma pessoa, ou de grupo (motivados por uma ideologia ou movimento) dos quais eles passam a concentrar em si, os poderes executivo, legislativo e judiciário. Onde a legitimidade de seu governo está pautado no uso da força 8.1.3 Democracia Título: A eleição é vista como um dos principais fatores da democracia Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia#/media/Ficheiro:Election_MG_3455.JPG https://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia#/media/Ficheiro:Election_MG_3455.JPG CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 95 Em termos etimológicos, democracia vem dos termos, demos que significa povo e kratos que significa poder, em outras palavras, o poder do povo. Por mais que essa conceituação etimológica não diz propriamente o que significa a democracia dentro da ciência política, nos oferece um ponto de partida para estudarmos e compreendermos sobre. É interessante fazer uma breve reflexão sobre o termo demos. Sua origem se dá na Grécia Antiga, mais precisamente na cidade-Estado de Atenas, considerada o berço da democracia. Se por um lado a democracia ateniense é considerada um dos modelos mais diretos de democracia que já existiu, onde de fato o povo, ou demos, era quem decidia, por outro lado, apenas um grupo de povos eram considerados parte desse povo, parte desse demos. Eram considerados cidadãos um grupo muito seleto de pessoas. Nesse sentido, falar que democracia é o governo do povo, ou que representa o povo, ao mesmo tempo que nos fornece um parâmetro para compreendê-la ainda nos deixa com muitas “pontas soltas”, uma vez que é necessário compreender de que povo está sendo falado e abarcado. Um bom modo de entendermos melhor a democracia, é compreender os diferentes tipos de manifestações que se teve ao longo da história. Destacamos aqui, os modelos clássicos de democracia: direta, indireta e semi-indireta. No que se diz respeito a democracia direta é aquela onde existe uma participação ativa e direta dos cidadãos, ou em outras palavras, não vai existir um representante ou um mediador para exercer o poder que é destinado ao cidadão, ele mesmo exerce esse poder. Como dito anteriormente, é como ocorria em Atenas, onde toda vez que era necessário tomar uma decisão política, os cidadãos eram convocados, lembrando que apenas uma parcela era considerado cidadão, e era feito uma votação, onde todos possuíam o mesmo poder, e assim, o resultado final que era alcançado era a vontade pública. Após o período de Democracia da Grécia Antiga, essa forma de governo ficou praticamente esquecida por um bom tempo na história, porém, quando veio a retornar, a realidade social não era mais a mesma. As populações eram muito maiores, as organizações políticas eram muito mais complexas, de modos que, o antigo modelo direto de democracia, era um tanto complexo de ser desenvolvido, com isso surge uma nova forma de democracia, a indireta. Em linhas gerais, a democracia indireta, modelo predominante de democracia no nosso mundo contemporâneo, se tem um exercer a política de forma indireta pelos CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 96 cidadãos, uma vez que não são eles que vão agir diretamente, mas sim, um conjunto de representantes e mediadores que representaram a sua vontade, é por isso que essa forma de democracia, também é chamada de democracia representativa. É nesse modelo de democracia que vai surgir a concepção de eleição, onde através de uma votação, se elegem esses representantes, que representarão, teoricamente, a vontade de seus votantes durante um determinado período pré-estabelecido. Por fim, dentre os modelos tradicionais de democracia, temos o modelo semi- indireto, que busca ser uma síntese dos dois modelos anteriores. Compreendendo que representatividade pode afastar o povo de uma participação mais ativa, esse modelo de democracia, busca “tapar alguns buracos” que o modelo indireto pode deixar. Com isso ela cria mecanismo para que ao mesmo tempo que se tenha representantes, se tenha uma participação ativa do povo. E quais são esses mecanismos? O plebiscito - uma consulta popular anterior à elaboração da lei -, o referendo - consulta popular pela manutenção/continuação ou não de uma determinada lei -, e a iniciativa popular - a criação de uma lei em camadas populares que chegam até o legislativo. Em sentido estrito, a democracia é um sistema político que permite o funcionamento do Estado, no qual as decisões coletivas são adotadas pelo Povo através de mecanismos de participação direta ou indireta que conferem legitimidade ao representante. Em sentido amplo, democracia é uma forma de convivência social na qual todos os habitantes são livres e iguais perante a lei e as relações sociais ocorrem de acordo com mecanismos contratuais. (REIS, 2013, p. 168). ANOTE ISSO Em síntese, democracia significa o governo do povo, ou seja, uma organização política governamental que adota um conjunto de mecanismos para que integram e fazem parte desse Estado tenham a possibilidade de exercer influência nas tomadas de decisões do governo. A democracia ela pode ser direta, quando o cidadão vota diretamente para as tomadas das decisões; pode ser indireta, quando são os representantes escolhidos pelo povo que tomam as decisões; e pode ser semi-indireta, quando se tem os representantes, mas também se tem mecanismos para que em determinados assuntos ocorra uma decisão direta. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 97 8.1.4 Monarquia Título: Países que adotam algum modelo de monarquia Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Monarquia#/media/Ficheiro:World_Monarchies.svg Começando novamente pelo viés etimológico, a monarquia é formada pelas duas palavras gregas, mono, que significa um, e kratos, que como já vimos, significa poder, em outras palavras, o poder de um, ou melhor, o poder concentrado na mão de uma única pessoa. É importante ter em mente, que na grande maioria dos casos, a legitimidade do monarca, provém da tradição, em outras palavras, são estes costumes tradicionais que legitimam ele como rei. Semelhantemente à democracia, a monarquia ao longo da história se manifestou de formas diferentes, sendo os dois modelos mais tradicionais, aquele chamado de absoluto e o modelo parlamentar. O modelo absoluto de monarquia, é aquele que foi instaurado nas primeiras manifestações dessas formas de governo. Aqui, temos o rei quanto monarca, onde ele é a personificação do Estado e do governo, ou seja, ele é quem é responsável pelas funções legislativas, jurídicas e executivas. Ele é quem decide as leis, ele é quem pode julgar e ele administra da forma que ele entende ser melhor. Em suma, o rei tem poder pleno É uma forma de governo que se baseia no princípio de que o monarca (rei, imperador, czar etc.) tem o poder absoluto e total em termos políticos.Não existe uma divisão de poderes - principalmente o Executivo e o Legislativo -, já que a fonte deles é o mesmo soberano. Também não existem mecanismos pelos quais o governo responde por seus atos. Embora a administração da justiça tenha autonomia relativa em relação ao rei, este pode mudar as decisões dos tribunais em última instância ou reformar as leis de acordo com a sua necessidade. (REIS, 2013, p. 169). https://pt.wikipedia.org/wiki/Monarquia#/media/Ficheiro:World_Monarchies.svg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 98 Já a monarquia parlamentar, ela é fruto das revoluções burguesas na Inglaterra do final do século XVIII, onde em linhas gerais, podemos dizer que é um modelo onde se colocou uma espécie de limite ao poder do rei/monarca. Nesse caso, é comum que o rei assuma a função de chefe de Estado, ou seja, aquele que vai representar o Estado, e por outro, vai ter o representante do parlamento como chefe de governo, aquele que vai exercer o poder executivo de fato. Perceba, a forma de governo da monarquia parlamentar tem obrigatoriamente como sistema de governo, o parlamentarismo. Na grande maioria das monarquias parlamentaristas, a figura do rei quanto chefe de Estado é mantida por questões culturais e pelo peso histórico que aquela família representa para aquele Estado. Muitas vezes essas famílias fizeram parte de processos históricos como formação e unificação do Estado, processos de independência, lutaram em importantes combates etc. e com isso, possuem um apelo histórico e tradicional, que fazem com que ainda possuam esta legitimidade. Constitui uma forma de governo no qual o rei ou monarca exerce a função de chefe do Estado sob o controle do Legislativo (Parlamento) e do poder Executivo (Governo). Na maioria das monarquias parlamentares atuais, a autonomia e os poderes do monarca estão bastante limitados e divididos, podendo o Parlamento tomar a qualquer momento decisões que obriguem o seu cumprimento por parte do reis. (REIS, 2013, p. 169). ANOTE ISSO Em síntese, monarquia significa o poder concentrado na mão de uma única pessoa, da qual tradicionalmente é conhecida como o rei, onde a legitimidade do seu poder provém das tradições. A monarquia em sua grande maioria das vezes na história se manifestou de duas formas, como absoluta e como parlamentarista. A monarquia absoluta é aquela onde todo o poder concentra no rei, uma vez que esse é a personificação do Estado e do governo, desta forma ele exerce as funções de legislar, julgar e administrar, conforme ele entender ser mais interessante. Já numa monarquia parlamentarista, o rei é apenas chefe de Estado, enquanto o representante do Parlamento, se torna o chefe de governo. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 99 8.1.5 República Título: Representação do senado da Roma Antiga, primeiro experimento republicano Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica#/media/Ficheiro:Maccari-Cicero.jpg Historicamente, a origem da república se dá com o objetivo de ser uma expressão oposta à monarquia. Novamente usando a etimologia para entendermos seus aspectos gerais, diferente das demais expressões, sua origem vem do latim, res publica, que significa, a coisa pública, aquilo que pertenceria a todos. Como dito, em busca de ser uma mudança radical ao modelo monárquico, a república busca romper com a concepção de que a legitimidade do poder venha através da tradição, e sim através de uma escolha. Você pode até estar se perguntando, mas o que difere isso da democracia? A escolha dentro da república não necessariamente se dá por todos pertencentes à comunidade, por todos aqueles que são considerados cidadãos. Alguns exemplos para elucidar. A África do Sul do Apartheid era uma República onde apenas as pessoas brancas tinham direito ao voto, as Ditaduras Militares na Ámerica do Sul eram Repúblicas, mas das quais não trabalhavam com princípios democráticos, ou seja, não eram todos que podiam votar, e muito menos, os que podiam participar da vida política. Em síntese, a característica de uma república é que ocorre uma escolha daquele que será o chefe de Estado e chefe de governo, podendo ser a mesma pessoa ou não, veremos daqui a pouco. Se essa escolha é aberta para todos os cidadãos, ela se torna uma república democrática, caso contrário, se apenas um grupo tem o poder de escolha, é apenas uma república. Nesse sentido, uma república pode também adotar os dois modelos de sistemas de governo, tornando-se uma república presidencialista ou uma república parlamentarista. https://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica#/media/Ficheiro:Maccari-Cicero.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 100 No geral, nas repúblicas parlamentaristas, a população elege de forma direta o presidente, e escolhem as pessoas que vão compor o Parlamento, que este por sua vez, vai escolher quem vai ser o chefe de governo. Em sentido amplo, é uma forma de governo caracterizada por basear- se na representação de toda a sua estrutura através do direito de voto. E o eleitorado que constitui a última instância de sua legitimidade e soberania. (REIS, 2013, p. 169). ANOTE ISSO Em síntese, república consiste na forma de governo onde a legitimidade daquele que governa se dá através de uma escolha, ela nasce historicamente, como uma oposição à forma monárquica de governo. É importante não confundir democracia com república. Democracia pressupõe que a escolha é necessariamente feita por todos os cidadãos, na república não é necessário isso, a escolha pode ser feita apenas por um grupo seleto. 8.1.5 Alguns outros casos Por fim, cabe fazer algumas últimas menções, que não são tão habituais, como as citadas anteriormente, mas que também são importantes de serem compreendidas em seus aspectos gerais. A chamada teocracia, da qual se fez presente em um longo período da história, como o próprio nome sugere - teos significa Deus, então seria o poder de Deus,o poder pertencente a Deus - se trata de uma forma de governo onde o poder está concentrado nos líderes religiosos da religião dominante daquele Estado. Onde a legitimidade do poder provém do divino, e o exercício do governar se dá de acordo, ou pelo menos teoricamente, com a vontade de Deus. Atualmente, o Vaticano é exemplo de um Estado teocrático. A plutocracia - plutos significa dinheiro - seria a forma de governo onde a riqueza é a base principal do poder. É importante ficar claro aqui, que para se ter uma plutocracia de fato, é necessário que a legitimidade do poder venha pela riqueza. Pode acontecer que dentro de outras formas de governo, o mais rico assuma o poder, mas sua legitimidade provém de outro elemento. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 101 8.1 O Brasil Para finalizar a nossa aula, vamos fazer uma breve análise política do Brasil, de acordo com os conceitos que trabalhamos nas nossas duas últimas aulas. De acordo com a Constituição brasileira, o Brasil é uma República. Democrática, Federativa, Presidencialista. O Brasil é uma República, logo é definido que seu líder será escolhido, mas como ele será escolhido? Uma vez que o Brasil também é uma democracia, seu líder será escolhido por todos aqueles que são considerados cidadãos. Então a forma de governo que o Brasil assume, é de uma república democrática. E qual é a sua forma de Estado? É o federalismo, ou seja, existe dentro do Estado brasileiro uma desconcentração do poder, que é repartido pela União para com as demais organizações governamentais, no caso do Brasil, com os estados e os municípios. Então todos os municípios são autônomos, assim como todos os estados são autônomos. Porém existe o direito de intervenção da União para com estes, quando eles ferem a Constituição. E por fim, o Brasil adota um sistema de governo presidencialista, onde o presidente é ao mesmotempo o chefe de Estado e o chefe de governo, sendo escolhido por eleições diretas. Com isso finalizamos a nossa aula. Terminamos ela falando sobre como o Brasil se dá politicamente nos dias de hoje, mas na próxima aula, vamos nos dedicar a entender a formação do Estado brasileiro, o processo político desde o início do Brasil até chegarmos nesta república democrática federativa presidencialista. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 102 CAPÍTULO 9 A FORMAÇÃO DO ESTADO BRASILERO Olá, aluna! Olá, aluno! Estamos aqui para a nossa última aula do nosso primeiro bloco de aulas, aquelas cujo foco das aulas está mais voltado para a ciência política. Espero que até aqui, esteja sendo um ótimo aprendizado, e que na medida do possível, também possa estar sendo agradável. Sei que não são assuntos fáceis de serem digeridos, mas quanto mais nos habituamos com eles, mais passam a fazer sentido. Em nossa última aula falamos sobre as formas de governo, que em linha gerais, se trata do modo em que se estrutura, se organiza e se exerce o poder político na comunidade. Dessa forma, abordamos algumas das principais categorias existentes dentro das formas de governo. A primeira delas foi a autocracia, da qual consiste numa forma de governo onde o líder se auto concebe o poder, sem possuir nenhuma base legítima para isso. Já na ditadura, consiste em uma concentração de poder na mão de um líder, do qual legitima esse poder através do uso da força. Uma forma de governo democrática é aquela que busca desenvolver uma organização política governamental que adota um conjunto de mecanismos para que integram e fazem parte desse Estado tenham a possibilidade de exercer influência nas tomadas de decisões do governo. A democracia ela pode ser direta, quando o cidadão vota diretamente para as tomadas das decisões; pode ser indireta, quando são os representantes escolhidos pelo povo que tomam as decisões; e pode ser semi- indireta, quando se tem os representantes, mas também se tem mecanismos para que em determinados assuntos ocorra uma decisão direta. Por sua vez, a monarquia se caracteriza pela concentração do poder concentrado na mão de uma única pessoa, onde a legitimidade do seu poder provém das tradições, se manifestando predominantemente ao longo da história de duas formas. A monarquia absoluta da qual todo o poder concentra no rei, uma vez que esse é a personificação do Estado e do governo. E a monarquia parlamentarista, onde o rei é apenas chefe de Estado, enquanto o representante do Parlamento, se torna o chefe de governo. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 103 Estudamos que república consiste na forma de governo onde a legitimidade daquele que governa se dá através de uma escolha, ela nasce historicamente, como uma oposição à forma monárquica de governo. Já uma teocracia é marcada pelo fato das lideranças religiosas terem o poder, uma vez que a legitimidade do poder vem do divino. E por fim, na plutocracia, a legitimidade do poder vem da riqueza. No final da aula ainda falamos sobre as características da estrutura política do Brasil contemporâneo, um Estado republicano, democratico, federalista e presidencialista. Mas até chegar nesse momento, o Brasil passou por várias mudanças na sua estrutura política, por isso, nessa última aula, dentro do foco da ciência política, falaremos sobre a formação do Estado brasileiro. 9.1 A América Portuguesa (1500 -1822) Título: “Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro no ano de 1500” Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil_Col%C3%B4nia#/media/Ficheiro:Desembarque_de_Pedro_%C3%81lvares_Cabral_em_Porto_Seguro_em_1500_by_ Oscar_Pereira_da_Silva_(1865%E2%80%931939).jpg Antes de adentrarmos propriamente a existência do Estado brasileiro, é importante compreendermos as dinâmicas políticas e históricas que já aconteciam neste território, antes mesmo do processo de independência. Nesse sentido, muito do que se desenvolve no futuro está conectado ao passado, por isso se faz importante começarmos esse estudo, desde o período denominado de Brasil Colônia. O período denominado de Brasil Colonial ou Brasil Colônia, se inicia com a chamada “descoberta” do Brasil ocorreu em 1500, e perdura até o processo de independência em 1822. Em torno dos primeiro trinta e cinco anos após a “descoberta”, os portugueses https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil_Col%C3%B4nia#/media/Ficheiro:Desembarque_de_Pedro_%C3%81lvares_Cabral_em_Porto_Seguro_em_1500_by_Oscar_Pereira_da_Silva_(1865%E2%80%931939).jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil_Col%C3%B4nia#/media/Ficheiro:Desembarque_de_Pedro_%C3%81lvares_Cabral_em_Porto_Seguro_em_1500_by_Oscar_Pereira_da_Silva_(1865%E2%80%931939).jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 104 pouco se interessaram para com o território brasileiro, limitando sua atuação nestes territórios à extração de pau-brasil, e sem tomar qualquer medida colonizante. É importante destacar que, por mais que existam etapas e momentos diferentes da relação metrópole para com a colônia, ou em outras palavras, de Portugal para com o território da américa portuguesa. O Brasil sempre foi em linhas gerais uma colônia de exploração, ou seja, Portugal sempre visou a exploração dos recursos que este território fornecia. Isso é importante, pois revela que nunca foi do interesse português, o desenvolvimento de uma sociedade politicamente organizada, dentro deste território. É somente a partir de 1532, com a percepção dos portugueses do potencial que estas terras tinham para produção de cana-de-açúcar, e consequentemente do açúcar, que vai dar início ao processo de colonização nestas terras. Mas entenda, era colonizar o necessário para explorar, e não colonizar para povoar. Ao longo do chamado ciclo da cana, que vai perdurar até o século XVII, se desenvolvem elementos interessantes no território da América Portuguesa. O primeiro deles, são as capitanias hereditárias, que consistia na repartição em treze pedaços de todo o território da américa portuguesa que foram entregues a alguns donatários, que entre outras funções, deviam incentivar a colonização de suas terras. Nestes trezentos anos iniciais de colônia, as dinâmicas de organização política do território da américa portuguesa eram extremamente simples, justamente pelo fato dos interesses portugueses serem restritos a exploração. Isso faz com que a administração política desta época exerça um caráter muito mais privado do que público. Desta forma as relações de poder se davam muito mais dentro da estrutura do engenho do que propriamente no aparato burocrático. Essa dinâmica de exploração em detrimento da formação de sociedade organizada, começa a mudar quando em 1808, fugindo dos avanços do Império Napoleônico, a família real portuguesa, vem morar na américa portuguesa, se estabelecendo na cidade do Rio de Janeiro, que era a capital do Brasil na época. Por que a chegada da família real portuguesa vai mudar a dinâmica da américa portuguesa? Não sabendo o período de tempo que seria necessário que a família real ficasse na colônia enquanto existisse a ameaça napoleônica, se fez necessário que se desenvolvessem elementos sociais, políticos e econômicos na américa portuguesa, que permitissem uma melhor dinâmica de vivência para a família real. A primeira grande mudança ocorre que a américa portuguesa é elevada à categoria de sede da monarquia lusitana e capital do Império Colonial. Uma vez que se torna sede CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 105 de uma monarquia, deve-se abrigar o monarca e sua família, para isso foi necessário que uma série de melhorias, benfeitorias e modernizações ocorressem tanto nas estruturas sociais, quanto nas estruturas políticas e econômicas. É nesse momento, que se tem o embrião da formação de fato de uma estrutura organizadada política pública na américa portuguesa. Foram quatorze anos em que a família real portuguesa permaneceu na américa portuguesa, de 1908 a 1922, período que ficou marcado por esse conjunto de mudanças políticas. Quando a família real retornou para Portugal, a monarquia lusitana tinha como intenção submeter novamente a américa portuguesa à categoria de colônia de exploração. Porém, esse projeto recolonizador português não é visto pelas classes dominantes brasileiras que se estabeleceram ao longo do tempo, e que ganharam maior notoriedade e poder, nos últimos quatorze anos. Acontece que quando a família real portuguesa retornou a Portugal, o filho herdeiro do trono D. Pedro I, havia ficado na américa portuguesa, caso ocorresse uma nova investida napoleônica contra Portugal. Mas com o passar do tempo. D. Pedro I vai se alinhando e se aproximando das elites brasileiras e se afastando da coroa portuguesa. Após inúmeros conflitos com seu pai, o Rei D. João VI, que solicitava seu retorno, D. Pedro I sobre pressão das classes dominantes brasileiras, se opõe às pretensões da monarquia lusitana e dão início ao processo de independência. Título: “Independência ou Morte” de Pedro Américo Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Independ%C3%AAncia_do_Brasil#/media/Ficheiro:Pedro_Am%C3%A9rico_-_Independ%C3%AAncia_ou_Morte_-_Google_Art_ Project.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Independ%C3%AAncia_do_Brasil#/media/Ficheiro:Pedro_Am%C3%A9rico_-_Independ%C3%AAncia_ou_Morte_-_Google_Art_Project.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Independ%C3%AAncia_do_Brasil#/media/Ficheiro:Pedro_Am%C3%A9rico_-_Independ%C3%AAncia_ou_Morte_-_Google_Art_Project.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 106 9.2 Período Monárquico - Brasil Império (1822 - 1889) Com a Independência do Brasil, era necessário que se adotasse uma forma de governo para este novo país, nesse momento, começa ocorrer um pequeno embate entre as classes dominantes para a definição da forma de governo e do sistema político. Em meio a indefinição política que se tinha nesse momento histórico, boa parte das elites acreditavam que a figura de D. pedro I facilitaria a manutenção da unidade nacional, com isso, foi escolhido pela forma de governo monárquico,, onde D. Pedro I se tornou o primeiro imperador do Brasil. Além disso, foi definido que o imperador seria chefe de Estado e chefe de governo, escolhendo quem seriam os ministros entre os líderes dos partidos conservador e liberal. Neste momento, também foi definido que a divisão do poder no Estado brasileiro se daria em quatro poderes: o Legislativo, o Executivo, o Conselho de Estado e o Moderador. Além disso, para que de fato se consolidasse a formação desse novo Estado, era necessário a elaboração de uma Constituição. Então em 1824 temos a primeira Constituição Brasileira, da qual fornecia as bases jurídico-legais do Estado brasileiro, além de conter todos os direitos civis e políticos. Porém cabe destacar, que pela estrutura altamente hierarquizada da sociedade brasileira, esses direitos não eram exatamente colocados em prática. Nesse momento aqui, é importante fazermos uma pausa na perspectiva histórica da formação do Estado brasileira, e observar pelo menos duas importantes análises sobre esse processo. Primeiramente abordaremos as contribuições do sociólogo e historiador, Oliveira Vianna. Segundo o autor, o Brasil era formado por vários núcleos privados e independentes, onde cada um destes núcleos tinha sua própria vida econômica, jurídica e moral. Dessa forma não existia uma unidade administrativa política no Brasil. Essa estrutura, segundo o pensador, presente desde a colonização do país, como comentamos anteriormente, impossibilitava a constituição de uma sociedade moderna. Mediante a esses fatos, o autor defende a concepção de que somente um Estado forte e centralizado seria capaz de gerar um sentimento de pertencimento público, e colocar um fim nesses vínculos privados. E com isso, criar também um sentimento de identidade. Outro sociólogo brasileiro importante na teorização do Estado brasileiro, é Sérgio Buarque de Holanda. Em sua obra, de 1936, “Raízes do Brasil”, onde explica que uma CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 107 das características que compõem o brasileiro é a propensão em sobrepor as relações familiares às relações profissionais, em outras palavras, Sérgio Buarque defende que culturalmente e historicamente, o brasilireiro sobrepõe à esfera privada sobre a esfera pública. Além disso, vai afirmar que uma das características mais marcantes do povo brasileiro, é a dificuldade em cumprir os ritos e tradições sociais, que são rapidamente formais, e com isso, tem a dificuldade em separar o público do privado. Nesse sentido, Sérgio Buarque vai evidenciar que as relações com o governo só aconteceriam através desse vínculos que beneficiam aqueles que possuem os contatos certos diante da autoridade pública. Ou seja, a estrutura política brasileira seria dominada pelos ritos e tradições privadas, do que pelas tradições públicas. Mais vale você ser amigo da autoridade, do que cumprir com todo o aparato burocrático. É importante entendermos aqui, que esses traços da vida privada são característicos desse período monárquico, onde você tem o início da definição de um Estado brasileiro, mas que na prática, ele permanece fragmentado. Também vale destacar que esse traço da vida privada sobrepondo a vida pública tende a diminuir, mas ele nunca deixa de existir na vida política do Brasil. 9.3 Período Republicano (1889 - ) Título: “Proclamação da República” de Benedito Calixto Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica_do_Brasil#/media/Ficheiro:Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_ Rep%C3%BAblica_by_Benedito_Calixto_1893.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica_do_Brasil#/media/Ficheiro:Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica_by_Benedito_Calixto_1893.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica_do_Brasil#/media/Ficheiro:Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica_by_Benedito_Calixto_1893.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 108 Em 1889, o Brasil deixa de possuir uma forma de governo monárquica e passa a assumir uma forma republicana, resultado de uma mobilização do exército e de civis defensores do republicanismo. Vale destacar aqui, que no final do segundo império, de D. pedro II, a monarquia perdeu as suas principais alianças - o exército, a Igreja e os cafeicultores - e que por sua vez, vão passar a apoiar o modelo republicano. Vale ressaltar aqui, que está sendo adotado um modelo republicano, e não necessariamente um modelo democrático, que só vai aparecer no Estado brasileiro posteriormente. Podemos dividir a república brasileira em seis momentos, dos quais, cada um apresentou características diferentes: Primeira República/República Velha (1889 - 1930); Era Vargas (1930 - 1945); República Populista (1945 - 1964); Ditadura Militar (1964 - 1985) e; Nova República (1985 até a atualidade). 9.3.1 Primeira República/República Velha A Primeira República, também chamada de República Velha, é marcada pela consolidação das elites provinciais rurais, das quais, dentro do estudo da história, da sociologia e da ciência política do Brasil, ficaram conhecidas como oligarquias. Ou seja, o Estado Brasileiro ele assume um caráter não oficial, mas prático de uma república oligárquica. Outra marca desse período histórico é o chamado coronelismo, onde o município passa a exercer um papel fundamental na manutenção do poder e no predomínio da esfera privada sobre a esfera pública. Isso se manifesta no chamado “voto de cabresto”, onde os coronéis abusavam de suas autoridades, compravam votos, e utilizavam da máquina pública para manipular as eleições e com isso, garantir a manutenção do poder. Outracaracterística desse período é chamada política dos governadores, do qual se tratava de um acordo firmado durante o governo de Campos Sales, em que ele e as oligarquias estaduais se comprometem em manter uma relação de apoio mútuo, e com isso, uma manutenção do poder. Como pode-se notar, mediante a todas as características aqui mencionadas, que se criou na prática dentro da estrutura política brasileira da república velha, as condições para que durante seus quarenta anos de duração, ocorresse uma manutenção contínua do poder, tanto na escala federal quanto na escala estadual. Nesse sentido, é possível CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 109 dizer que na prática foi uma república oligárquica, pois, por mais que existisse a escolha de quem seria o líder, de quem iria ser o representante, sempre eram as mesmas pessoas dos mesmos grupos políticos. 9.3.2 A Era Vargas (1930 - 1945) A chamada Era Vargas, é um excelente período para demonstrar que muitas vezes as definições estabelecidas oficialmente pela Constituição não são aplicadas na prática. Basicamente o que ocorre aqui, é que por mais que a Constituição previsse as eleições para a escolha do presidente, Getúlio Vargas vai permanecer no poder ao longo de quinze anos sem vencer uma eleição sequer. Vamos entender esse período histórico. Na eleição de 1929, Getúlio Vargas representava a oposição às oligarquias que permaneceram no poder ao longo daqueles quarenta anos, a princípio Getúlio perde a eleição. Porém um conjunto de escândalos que iam desde uma possível fraude nas eleições até a morte do vice de Getúlio, João Pessoa, criaram as condições necessárias para que Vargas conseguisse articular um golpe de Estado no Brasil, tirando o atual presidente Washington Luís do poder, e impedindo que o vencedor das eleições, Júlio Prestes assumisse o governo. Mediante a essa instabilidade política, foi deliberado um governo provisório (1930 - 1934) do qual Getúlio Vargas seria presidente. No final do governo provisório foi desenvolvida uma nova Constituição, da qual previa novas eleições para representantes do legislativo, e estes por sua vez decidiram quem seria o novo presidente. Tudo isso com o discurso e a teoria afirmando que o Brasil era uma república democrática liberal. Resultado, Getúlio Vargas foi escolhido novamente para ser presidente, em um período que ficou conhecido como governo constitucional de Vargas (1934 - 1937). Ao final de seu governo constitucional, deveriam ocorrer novas eleições, mas usando os conflitos políticos que ocorriam, sobretudo os ataques organizados pelos partidos comunistas, e principalmente a chamada Intentona Comunista liderada por Luís Carlos Prestes, Getúlio, afirmando ser uma necessidade de proteção do Estado, nãos só cancela as eleições, como também anula a Constituição de 1934 e fechou o Congresso. Dando início ao chamado Estado Novo (1937 - 1945). O Estado Novo é marcado por um regime ditatorial de Vargas, onde através do uso da força e das distribuições de direitos estratégicos, e de mecanismos de controle, Getúlio constrói a legitimidade do seu poder por um determinado tempo. Nesse sentido, CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 110 o Estado Novo é marcado por: uma centralização do poder, onde Vargas buscou sempre enfraquecer o legislativo e Judiciário; a construção de políticas trabalhistas, sobretudo através do desenvolvimento da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), pois acreditava que o apoio dos trabalhadores era essencial para manutenção do seu poder e; a propaganda política, como uma ferramenta essencial nesse processo de legitimação e manutenção do poder. Porém, nos últimos anos do chamado Estado Novo, sobretudo por influência do fim e da luta contra ditaduras européias durante a Segunda Guerra Mundial, fizeram com que cada vez mais crescessem o movimento contrário ao Estado Novo, que culminou nas eleições de 1945, onde Getúlio deixou o poder e se deu fim ao seu regime ditatorial. Título: Propaganda Política do Estado Novo Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_Novo_(Brasil)#/media/Ficheiro:Propaganda_do_Estado_Novo_(Brasil).jpg 9.3.3 República Populista (1945 - 1964) Em linhas gerais a República Populista foi marcada por intensas tensões políticas e pela política desenvolvimentista do Brasil. O primeiro presidente eleito neste período, foi o candidato apoiado por Vargas, Eurico Gaspar Dutra. Em linhas gerais, seu governo foi marcado pela elaboração da constituição de 1946, que reestabelecia o caráter https://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_Novo_(Brasil)#/media/Ficheiro:Propaganda_do_Estado_Novo_(Brasil).jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 111 republciano democrático ao Brasil. Além disso, se destaca pelo início das maiores aproximações diplomáticas do Brasil com os EUA. Depois do governo Dutra, temos o retorno de Vargas, agora finalmente eleito. Esse governo ficou marcado pela forte atuação Getúlio em defesa do desenvolvimentismo industrial nacionalista, o desenvolvimento do capital brasileiro, onde criou importantes empresas como a Petróbras e a Vale do Rio Doce. Porém, em meio a inúmeras crises políticas e econômicas, culminou-se com o suícidio de Vargas. Em seguida temos a eleição de Juscelino Kubitschek, que ficou marcado sobretudo pela construção da capital Brasília e pelo chamado Plano de Metas, do qual emplacou sua expressão “50 anos em 5”, onde, diferentemente de Vargas, acreditava que o processo de desenvolvimento do Brasil se daria através de uma maior abertura para o capital externo. Em seguida temos a eleição de Jânio Quadros, que permaneceu apenas um ano no governo, sobretudo pelo fato de que não possuía uma base de sustentação política, sobretudo através da sua política externa independente, que desagradava ao mesmo tempo a direita e a esquerda. Por fim, o último presidente da chamada República Populista, foi João Goulart, que por sua vez, foi eleito por meio do Parlamentarismo, pois os militares tinham medo de uma ascensão comunista. Mas no ano seguinte um plebiscito fez o Brasil retornar ao modelo presidencialista. Seu governo ficou marcado pela tentativa de realizar as chamadas Reformas de Base, que iam desde o âmbito da educação até o âmbito agrário. Isso criou descontentamento de setores da elite brasileira que culminaram no golpe de 1964. 9.3.4 Ditadura Militar (1964 - 1985) Com o golpe de 1964, que assume o poder são os militares, dando início a um período que ficou conhecido como Ditadura Militar, onde os presidentes não tinham a legitimidade democrática de estar no poder, mas exerciam através da força. Outro destaque importante de ser feito aqui, como mencionado na aula anterior, é que continuava sendo uma república, ou seja, esses líderes continuavam sendo escolhidos, mas não em uma dimensão democrática. Com o discurso de lutar contra o comunismo que avança no Brasil, a ditadura militar interrompeu a experiência democrática no país com o apoio de uma elite empresarial, CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 112 dos setores conservadores da Igreja e dos grandes produtores rurais. Por isso, para muitos historiadores, considera-se o termo mais adequado para esse período, a ditadura civil-militar. Politicamente falando, foi marcado fortemente por uma centralização do poder, ou seja, a destituição dos poderes legislativos e judiciário; pelo cerceamento dos direitos políticos e; pelo bipartidarismo, ou seja, apenas dois partidos eram considerados legais, o da situação (ARENA) e o da oposição (MDB). Economicamente pelo chamado “milagre econômico”, onde houve um crescimento elevado da economia brasileira, com altas taxas de PIB, porém, esse crescimento teve como custo uma alta inflação e uma grande dívida externa. A partir da década de 1980, as manifestações contra a ditaduramilitar se intensificam. Os problemas políticos e econômicos se agravam, de modo que passa a ser insustentável a continuidade. O movimento das Diretas Já, foi a “gota final” para os militares. 9.3.5 Nova República (1985 - Atual) O primeira votação da nova república se deu de maneira indireta, através da escolha dos deputados, os congressistas, do qual foi escolhido Tancredo Neves, porém com sua morte repentina, não chegou a assumir a presidência, e com isso, o primeiro presidente brasileira da chamada redemocratização foi José Sarney. Depois dele tivemos até o momento, mais sete presidentes: Fernando Collor; Itamar Franco; Fernando Henrique Cardoso; Luis Inácio ‘Lula’; Dilma Rousseff; Michel Temer e Jair Bolsonaro. Essa nova fase democrática do Estado brasileiro tem sua maior expressão com a promulgação da Constituição de 1988. Nesse sentido podemos dizer que a Nova República Brasileira marca a consolidação do estado democrático de direito no país, através de elementos como as eleições regulares, pluralidade partidária, liberdade de expressão, igualdade jurídica etc. Com isso, chegamos aqui, até o último elemento que vimos por último, em nossa aula anterior, o estabelecimento do Estado Brasileiro como um república, democrática, federativa, parlamentarista. Aqui também, chegamos ao fim do nosso primeiro bloco de aulas desta disciplina. A partir de nossa próxima aula, deixaremos um pouco de lado o viés da ciência política, e focaremos para as lentes da economia. Até lá. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 113 CAPÍTULO 10 INTRODUÇÃO A ECONOMIA Por que é importante estudarmos economia? Para além da relação com o seu lado profissional que já foi abordado na introdução deste trabalho, é importante você ter em mente, que dentro de como a vida é estruturada hoje, não existe qualquer pessoa que diariamente não se relaciona com a economia. Quando você vai ao mercado e nota o aumento do preço de um determinado produto, ou quando tem que lidar com o desemprego, ou quando você nota que determinados ramos crescem mais do que outros dentro da sociedade, ou até mesmo quando você ouve falar sobre dívida externa ou sobre investimentos. Em todos esses elementos há uma coisa em comum, a economia. É importante ter em mente também, que muito antes de existir o pensamento econômico, a teoria econômica e a ciência econômica, já existia a ação da economia. A partir do momento em que o ser humano necessitou viver em comunidade e com isso, precisou racionalizar e administrar os recursos que estavam à sua volta, para sanar as necessidades da sua sociedade, ele já estava fazendo economia. Nessa aula iremos trabalhar com conceitos e termos básicos e iniciais da Economia. Uma vez que este não é um curso voltado para formação mais aprofundada e sim, permitir um contato introdutório com esta área do conhecimento, os conceitos e termos trabalhados nesta aula se darão de forma mais resumida, de modos que permita que vocês estabeleçam um primeiro contato e se familiarize com eles, para que em um próximo contato, compreendam sobre o que está sendo abordado. 10.1 O Conceito de Economia Quando olhamos pelo viés etimológico,a origem da palavra economia vem do grego oikonomia, onde oikos significa casa, e nomos significa lei, no pé da letra, seria a “lei da casa”, mas fazendo uma tradução de sentidos, seria “a administração da casa”, que mais tarde também seria entendido como “administração da coisa pública”. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 114 Assim como mencionamos como falamos sobre o conceito de Ciência Política, o conceito de Economia quanto área do conhecimento não é unânime, mas é possível de fazer uma panorama geral. Entende-se por Economia, como uma área do conhecimento que se deriva das ciências sociais aplicadas, que estuda a relação que os indivíduos e as sociedades estabelecem com os seus respectivos recursos produtivos - mão-de-obra, capital, recursos naturais etc-, principalmente os que são escassos, buscando a melhor distribuição dos mesmo a fim de sanar as necessidades humanas. Em outras palavras: Define-se Economia como a ciência social que estuda de que maneira a sociedade decide (escolhem) empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas. Ou seja, é a ciência social que estuda como a sociedade administra recursos produtivos (fatores de produção) escassos. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 7). A primeira coisa importante de mencionarmos aqui com base nessa conceituação é o fado de, por se tratar uma área do conhecimento que se deriva das ciências sociais aplicadas, significa que a economia não é completamente uma ciência exata, como também não é puramente uma ciência humana .E aqui já quebramos uma preposição dentro do senso comum relacionada a esta disciplina, que economia é matemática, na verdade o que ocorre, é que a matemática é apenas um instrumento que pode ser utilizado pela economia para alcançar seus objetivos. Vamos analisar alguns termos dentro dessa conceituação, que eles possuem um significado relativamente parecido com o que é usado no cotidiano, mas que dentro da economia eles já carregam consigo algumas pressuposições, e é importante nos familiarizarmos ao longo destas aulas com estes termos. O primeiro deles é a escolha, que dentro da economia sempre está associada às alternativas e distribuição de resultados. Assim como na vida real, toda escolha pressupõe uma renúncia, ao optar por algo, você abre mão de uma outra coisa. Dentro da economia existe uma expressão que se chama o custo de oportunidade, que significa analisar as alternativas possíveis e averiguar qual delas vai lhe trazer maiores rendimentos. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 115 Título: Toda escolha dentro da economia carrega consigo o abandono de outra possível escolha Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/portas-escolhas-escolher-decis%c3%a3o-1767562/ Outro importante termo que aparece nessa conceituação, é a escassez, não significa necessariamente que todos os recursos sempre estiveram esgotados ao longo da história humana. A escassez aqui reside no fato dos recursos serem sempre limitados enquanto as vontades e as necessidades humanas são ilimitadas, em outras palavras, enquanto existir humanidade, irá existir demanda por esses recursos. E é apartir dessa questão da escassez, onde os recursos são limitados e as necessidade e vontades ilimitadas, é que nasce os chamados problemas econômicos fundamentais ANOTE ISSO Entende-se por Economia, como uma área do conhecimento que se deriva das ciências sociais aplicadas, que estuda a relação que os indivíduos e as sociedades estabelecem com os seus respectivos recursos produtivos - mão-de-obra, capital, recursos naturais etc-, principalmente os que são escassos, buscando a melhor distribuição dos mesmo a fim de sanar as necessidades humanas. Ou como de forma mais simples “é a ciência social que estuda como a sociedade administra recursos produtivos (fatores de produção) escassos. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 7).” 10.2 Problemas Econômicos Fundamentais Chamam-se de problemas econômicos fundamentais, as questões que servem como os fundamentos básicos para o desenvolvimento dessa área do conhecimento. É https://pixabay.com/pt/photos/portas-escolhas-escolher-decis%c3%a3o-1767562/ CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 116 possível afirmar que elas surgem antes mesmo do surgimento da economia enquanto ciência, uma vez que elas são resultados direto da questão da escassez. São elas: o que e quando produzir? como produzir? para quem produzir? Com base na escassez, a humanidade precisa decidir o que ela vai produzir com aquele determinado recurso,e em que momento ela vai produzir, e ainda dentro disso, a quantidade que ela vai produzir. Nesse sentido, ela precisa refletir qual o produto final é mais importante para a utilização daquele recurso finito, qual é o momento certo de utilizar aquele recurso, e por fim, qual a quantidade correta para não comprometer este recurso. Todas essas questões se resumem em: o que e quando produzir? Existem diferentes formas de se produzir, então não basta lidar com as questões acima, é necessário distinguir quais recursos serão utilizados para determinadas finalidades, e depois, como vai se produzir. Se pegarmos o mundo capitalista contemporâneo, o modo de se produzir pode definir um sucesso ou um fracasso. Aqui temos a segunda questão: como produzir? Para além da reflexão sobre o que produzir com os recursos naturais e como será feita essa produção, uma vez que a quantidade produzida sempre será limitada enquanto a vontade humana é ilimitada, é extremamente importante a reflexão de como se distribuído esta produção. Para além disso: A distribuição da renda dependerá não só da oferta e da demanda nos mercados de serviços produtivos, ou seja, da determinação dos salários, das rendas da terra, dos juros e dos benefícios do capital, mas também da reparação inicial da propriedade e da maneira como ela se transmite por herança. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 8). Estes últimos elementos relacionados à distribuição podem ser resumidos na pergunta: para quem produzir? Então são estas as perguntas que passam a ser a norteadores para o desenvolvimento da necessidade de um pensar econômico. E a forma como cada grupo de indivíduos, e posteriormente as sociedades vão encontrar para superar os chamados problemas econômicos fundamentais, vai estar na organização econômica daquela sociedade, ou em outras palavras, no seu sistema econômico. 10.3 Sistemas Econômicos Em linhas gerais, um sistema econômico é definido pela forma política, econômica e social em que um determinada sociedade se organiza. Desta forma, questões como CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 117 a organização da produção, a distribuição e o consumo, seja de bens ou de serviços, são definidas através do sistema econômico adotado. Quando olhamos para o mundo contemporâneo, pode-se dizer que existem duas grandes teorias principais sobre sistemas econômicos - mas cabe destacar que houve outras formas de sistema econômico que também foram extremamente importantes para a história da humanidade. São elas, o sistema capitalista, também chamado de economia de mercado, e o sistema socialista, também chamado de economia centralizada. Título: Guerra Fria como marco da disputa entre sistemas econômicos Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Fria#/media/Ficheiro:NATO_vs._Warsaw_(1949-1990).png Em linhas gerais o chamado sistema capitalista, ou economia de mercado, é aquele cuja a base da sua organização provém das chamadas forças do mercado, predominando as seguintes características: a) a propriedade privada dos meios de produção; b) livre iniciativa/livre mercado/“mão invisível”; c) a divisão do trabalho; d) a busca pelo lucro/mais-valia e; e) o Estado mínimo, ou a não intervenção do Estado na economia. Por sua vez, o sistema socialista, ou a economia centralizada, as principais questões econômicas, sobretudo as de caráter fundamental, são decididas por um órgão central de planejamento, predominando a propriedade pública/coletiva dos meios de produção. Nesse sentido, se defende um Estado forte, que intervém diretamente na economia. https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Fria#/media/Ficheiro:NATO_vs._Warsaw_(1949-1990).png CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 118 Em economias de mercado, a maioria dos preços dos bens, serviços e salários é determinada predominantemente pelo mecanismo de preços, que atua por meio da oferta e da demanda dos fatores de produção. Nas economias centralizadas, essas questões são decididas por um órgão central de planejamento, a partir de um levantamento dos recursos de produção disponíveis e das necessidades do país. Ou seja, grande parte dos preços dos bens e serviços, salários, cotas de produção e de recursos é calculada nos computadores desse órgão, e não pela oferta e demanda no mercado. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 9). Atualmente existe um predomínio quase que unânime da utilização do sistema capitalista, onde restam pouquíssimos países que adotam oficialmente o sistema socialista, mas muitos deles, quando se olha para a realidade prática, acabam executando uma economia de mercado (caso da China, por exemplo). 10.4 Curvas de Possibilidades de Produção Chamada também de fronteira de possibilidades de produção, tem como objetivo, expressar a capacidade máxima de produção de uma determinada sociedade, de acordo com os recursos ou fatores de produção que esta sociedade dispõe. Em outras palavras, “Trata-se de um conceito teórico com o qual se ilustra como a escassez de recursos impõe um limite à capacidade produtiva de uma sociedade, que terá de fazer escolhas entre diferentes alternativas de produção”. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 9). Quando se vai produzir determinado bem ou serviço, você precisa utilizar os seus fatores de produção (capital, recursos naturais e mão de obra), e mediante a isso, será necessário a realização de escolhas, por exemplo, se vai ter mais trabalho mecanizado, ou mais trabalho humano, se eu vou investir mais em recursos naturais ou em bens de capital de produção. Uma vez, como vimos anteriormente, que os recursos são escassos, é necessário realizar escolhas em busca da otimização da produção. Utilizemos o exemplo realizado por Vasconcellos e Garcia (2014), para exemplificar melhor. Imagine uma sociedade hipotética, onde só existam duas opções de produção: máquinas ou alimentos. Mediante a isso, com base na capacidade produtiva daquela sociedade, demonstrasse 5 possibilidades entre inúmeras, de arranjos de produção. Observe a tabela abaixo: CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 119 Tabela 1 – Possibilidades de produção Fonte: Vasconcellos e Garcia (2014, p.9) A possibilidade A, trabalha com a possibilidade desta sociedade produzir apenas máquinas, que resultaria numa produção final de 25 milhares de máquinas e 0 toneladas de alimentos. Já a possibilidade E, trabalha com o oposto, a possibilidade dessa sociedade produzir apenas alimentos, gerando um total de 0 máquinas e 70 toneladas de alimentos. Enquanto isso, as possibilidades B, C e D buscam encontrar um equilíbrio entre a produção de máquinas e alimentos. Se transformarmos essa tabela num plano cartesiano, teremos o seguinte resultado: Figura 1 – Curva (ou fronteira) das possibilidades de produção Fonte: Vasconcellos e Garcia (2014, p.10) Nesse sentido, a curva formada a partir das informações das possibilidades ABCDE, revela a chamada curva (ou fronteira) das possibilidades de produção, que por sua vez, nos fornece as informações sobre as maneiras que aquela determinada sociedade poderia produzir em sua capacidade plena. Vale destacar aqui que o ponto F (e qualquer outro ponto inferior a curva), representa uma possibilidade onde a sociedade está produzindo de forma ociosa, onde seus fatos de produção estão sendo subutilizados. Já por sua vez o ponto G (e qualquer outro ponto superior a curva) representa uma CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 120 combinação impossível de produção, pois é superior a capacidade produtiva daquela sociedade. Outro elemento importante a ser mencionado aqui é sobre os deslocamentos da curva de possibilidades de produção. Quando ocorre um deslocamento para direita, indica que está ocorrendo um crescimento produtivo daquela determinada sociedade, uma vez que esta passa a conseguir produzir mais. Isso pode ocorrerpor uma série de fatores como: aumento da disponibilidade dos fatores de produção; progresso tecnológico; maior eficiência produtiva; qualificação de mão-de-obra etc. 10.5 Fluxos Reais e Monetários É muito provável que em algum momento da sua vida você já tenha ouvido aquela expressão bem usual “fazer a roda da economia girar”, de forma bem resumida, essa expressão se refere ao chamado fluxo real da economia. Para entendermos melhor do que se trata, novamente precisamos fazer um exercício imaginativo. Pense em uma sociedade onde não ocorre interferência do Estado e nem ocorrem transações exteriores. Basicamente, o que irá compor economicamente esta sociedade seriam as famílias (unidades familiares) e as empresas (unidades produtoras), onde “as famílias são proprietárias dos fatores de produção e os fornecem às unidades de produção (empresas) no mercado dos fatores de produção”, afinal de contas, a força de trabalho da mão-de-obra, provém das famílias. Por sua vez, “As empresas, pela combinação dos fatores de produção, produzem bens e serviços e os fornecem às famílias no mercado de bens e serviços”. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 11). Isso se resume no seguinte gráfico: Figura 2 – Fluxo real da economia Fonte: Vasconcellos e Garcia (2014, p.11) CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 121 No mundo real, teremos outros fatores atuando como Estado e o mercado externo, mas essa é uma forma reduzida para entendermos que dentro do fluxo real da economia, todos os setores possuem uma oferta e uma demanda. Porém, esse fluxo real da economia ele só passa de fato a funcionar, a partir do momento que tem a inserção da moeda como remuneradora dos fatores de produção e como forma de pagamento dos bens e serviços, e com isso, se tem o fluxo monetário da economia. Figura 3 – Fluxo monetário da economia Fonte: Vasconcellos e Garcia (2014, p.12) É justamente quando somamos o fluxo real com o fluxo monetário que chegamos na “roda da economia”, que nos termos teóricos é o fluxo circular da renda. Figura 4 – Fluxo circular da renda Fonte: Vasconcellos e Garcia (2014, p.12) CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 122 10.6 Bens de Capital, Bens de Consumo, Bens Intermediários e Fatores de Produção Por fim, para finalizarmos a nossa aula de caráter introdutório, é importante diferenciarmos alguns conceitos: bens de capital, bens de produção, bens intermediários e fatores de produção. No que se diz respeito aos bens de capital, em linhas gerais, são os elementos utilizados dentro do processo de fabricação que não se esgotam no processo produtivo, ou seja, para fabricar determinados bens ou serviços, não ocorre o esgotamento imediato dos bens de capital - esse esgotamento se dá a longo prazo, de acordo com a contínua utilização desse material. Nesse sentido, são considerados bens de capital: máquinas, equipamentos, ferramentas, instalações etc. Os bens de capital são utilizados na fabricação de outros bens, mas não se desgastam totalmente no processo produtivo. É o caso, por exemplo, de máquinas, equipamentos e instalações. São usualmente classificados no alvo fixo das empresas, e uma de suas características é contribuir para a melhoria da produtividade da mão-de-obra. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 12). Por sua vez, bens de consumo são aqueles que tem sua finalidade suprir diretamente as necessidades humanas, são as mercadorias que vão ser utilizadas pelos consumidores. Podendo ser subdivididas em bens de consumo duráveis (que não se esgota no instante que são utilizado/consumido) e bens de consumo não- duráveis (que se esgota no instante que são utilizado/consumido) Os bens de consumo destinam-se diretamente ao atendimento das necessidades humanas. De acordo com sua durabilidade, podem ser classificados como duráveis (por exemplo, geladeiras, fogões, automóveis) ou como não-duráveis (alimentos, produtos de limpeza). (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 9). Os bens intermediários são aqueles que fazem parte do processo produtivo, mas diferentemente dos bens de capital, estes se esgotam no processo de produção, se trata de matéria-prima e insumos. Os bens intermediários são transformados ou agregados na produção de outros bens e são consumidos totalmente no processo produtivo (insumos, matérias-primas e componentes). Diferenciam-se dos bens finais, que são vendidos para consumo ou utilização final. Os bens de CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 123 capital, como não são “consumidos” no processo produtivo, são bens finais, e não intermediários. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 9). E por fim, fatores de produção, também chamados de recursos de produção da economia, “são constituídos pelos recursos humanos (trabalho e capacidade empresarial), terra, capital e tecnologia” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 13). São os elementos fundamentais para o processo produtivo, que permitem que a produção ocorra. Esta foi nossa primeira aula deste bloco de aulas dedicadas ao estudo da área do conhecimento da economia. Na nossa próxima aula falaremos um pouco sobre o desenvolvimento histórico do pensamento econômico. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 124 CAPÍTULO 11 HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO - PARTE I Olá, minha cara aluna e meu caro aluno. Em nossa última aula, demos início ao bloco de aulas dedicado ao estudo introdutório da área do conhecimento denominada de Economia. Por isso, foi importante que na aula anterior, trabalhássemos com alguns elementos, conceitos e termos, de forma mais simples, mas que permitam que vocês criem os fundamentos necessários, para a compreensão das próximas aulas, e também, de quando tiverem que lidar com assuntos econômicos em seu trabalho posteriormente. A primeira coisa que definimos foi o termo Economia, da qual segundo a grande maioria dos pensadores compreendem por uma área de conhecimento das ciências humanas aplicadas, que se dedica em estudar a relação dos indivíduos e das sociedades para com os recursos produtivos, uma vez que estes são escassos e as necessidades humanas são ilimitadas. Dando sequência, abordamos que o pensar econômico ele muito anterior ao desenvolvimento da economia enquanto ciência, nesse sentido, é possível mencionar aquilo que é considerado os problemas fundamentais da economia, que seriam as primeiras perguntas que se desenvolveram da relação entre os recursos produtivos e a sociedade, que são: o que e quando produzir? como produzir? para quem produzir? Essas perguntas, por mais simples que pareçam ser, servem como alicerce para o desenvolvimento daquilo que pode ser considerado o elemento de maior grandiosidade dentro da economia, que são os chamados sistemas econômicos, que em linhas gerais, é definido pela forma política, econômica e social em que um determinada sociedade se organiza. Dessa forma, dentre a teoria de sistemas econômicos já desenvolvidas, as mais famosas são a capitalista (economia de mercado) e a socialista (economia centralizada). Também foi abordado sobre as curvas (fronteiras) de possibilidades de produção, da qual se trata de um gráfico, onde permite compreender as possibilidades de produção máxima de uma determinada sociedade. Em seguida, foi abordado sobre os fluxos reais e monetários, onde as dinâmicas de oferta e demanda são responsáveis pelo contínuo funcionamento da economia dentro da sociedade. E por fim, abordamos alguns conceitos importantes como: bens de capital (aqueles que não se esgotam no momento da produção); bens de consumo duráveis (aqueles que CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 125 não se esgotam no momento do consumo); bens de consumo não-duráveis (aqueles que se esgotam no momento do consumo); bens intermediários (aqueles que se esgotam no momento da produção). Na aulade hoje, assim como fizemos em relação à ciência política, iremos fazer um apanhado histórico do pensamento econômico, partindo desde a sua formação pré-científica, ou seja, de algumas contribuições e reflexões que vieram anteriores a consolidação da Economia como ciência, até o desenvolvimento das principais escolas econômicas: a escola clássica, a escola marxista e a escola neoclássica. 11.1 Fase Pré-Científica Como já comentamos anteriormente, o pensamento econômico, ele é anterior ao desenvolvimento da Economia enquanto ciência, afinal de contas, esse é um processo que ocorre tardiamente na história da humanidade. Se pararmos para pensar, cerca de 80% da história das sociedades humanas, se deram anterior ao processo de cientificação da economia. Então analisemos, mesmo que brevemente, como se dava um pouco o pensamento econômico dentro desse período. Apesar de não ser completamente unânime, atribui-se a Aristóteles na Grécia Antiga, a primeira vez que se foi utilizado o termo economia, do qual buscava fazer apontamentos sobre a administração das finanças públicas. Neste mesmo sentido, outros pensadores gregos chegaram a tecer algumas palavras, como é o caso do seu discípulo Platão e de Xenofonte. 11.1.1 Economia Medieval Título: Obra ‘Outubro’ (1510) de Breviarium Grimani, representando um feudo medieval Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Feudo#/media/Ficheiro:Breviarium_Grimani_-_Oktober.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Feudo#/media/Ficheiro:Breviarium_Grimani_-_Oktober.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 126 Dando sequência ao longo da Idade Média (500 - 1000 d. C.), temos o desenvolvimento inicial do embrião que mais tarde chamaremos de economia. Em termos históricos, esse é um período caracterizado por uma nova concepção de vida, sobretudo no ocidente, totalmente conectado ao cristianismo, onde as igrejas e os mosteiros se tornam instituições extremamente poderosas. A Igreja Católica torna-se o maior agente de perpetuação da cultura, disseminação do saber e de desenvolvimento administrativo. Uma vez que o cristianismo condenava a acumulação de capital e a exploração do trabalho, é natural que neste período ocorra uma valorização do trabalho rural. Neste movimento, a Igreja acaba se tornando uma das grandes proprietárias de terra, em um contexto onde a terra tornou-se riqueza por excelência. Com isso, temos o surgimento do chamado regime feudal, e da economia feudal, onde os senhores e os trabalhadores vivem diretamente do produto da terra. Nesse momento, marcado por uma política descentralizada, o rei não exercia poder sobre os feudos, onde o senhor feudal era quem de fato comandava. Em linhas gerais o que ocorre é que, se tinham poucas pessoas que eram donos de grandes propriedades de terra, mas não tinham condições de utilizar e explorar toda esta terra, com isso, eles vão criar os vínculos servis, onde os servos vão trabalhar nesta terra em troca de subsistência. Dessa forma uma parte da produção ficava com o servo para sua subsistência, a grande parte ficava com o proprietário da terra. E durante quase mil anos, as dinâmicas econômicas permaneceram assim, até que chegou o momento, que este embrião passa a tomar forma mais próxima do que entendemos ser a economia, através do Mercantilismo. 11.1.2 Mercantilismo Título: Quadro de Claude Lorrain representando um porto francês durante o Mercantilismo Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mercantilismo#/media/Ficheiro:Lorrain.seaport.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Mercantilismo#/media/Ficheiro:Lorrain.seaport.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 127 Com o “descobrimento” do chamado Novo Mundo, quando os europeus encontraram o território do continente americano, incluindo o Brasil, simultaneamente ocorre um processo na Europa de crescimento e desenvolvimento das cidades, do conglomerados urbanos, fazendo com que aquelas velhas relações medievais rurais, passem aos poucos serem mudadas para uma nova realidade urbana. Nesse contexto histórico, passam a surgir duas noções que antes não possuíam a dimensão que passam a possuir, que são as idéias de comércio e produção. Somado a isso, ainda se tem cada vez mais o enfraquecimento do poder religioso, e a centralização do poder político, dando origem aos chamados Estados modernos, aos regimes absolutistas e as primeiras concepções capitalistas. Pode-se dizer que o exercício do mercantilismo tornou-se predominante na Europa do século XV ao XVII, tendo como alicerce as relações comerciais em busca do aumento da riqueza. Para muitos historiadores e economistas, aqui que temos além da germinação da economia enquanto ciência, a germinação do modo de produção capitalista, onde as relações comerciais (por isso vai ser chamado muitas vezes de capitalismo comercial) são as responsáveis pela produção de mais-valia (lucro) e capital. Para os pensadores mercantilistas o Estado, dentre suas inúmeras funções, a principal, era encontrar os meios necessários para acumular o máximo possível de riqueza, que naquela época, estava atrelado sobretudo à posse de ouro e prata (o chamado metalismo). Além disso, desenvolveram a tese da chamada balança comercial favorável, como uma fórmula para aumentar esse acúmulo, que consistia basicamente no fato de que um Estado deveria exportar mais do que importar, em outras palavras, vender mais do que comprar. A partir do século XVI observa-se o nascimento da primeira escola econômica: o mercantilismo. Apesar de não representar um conjunto técnico homogêneo, o mercantilismo tenha algumas preocupações explícitas sobre a acumulação de riquezas de uma nação. Continha alguns princípios de como fomentar o comércio exterior e entesourar riquezas. O acúmulo de metais adquire grande importância, e aparecem relatos mais elaborados sobre a moeda. Considerava-se que o governo de um país seria mais forte e poderoso quanto maior fosse seu estoque de metais preciosos. Com isso, a política mercantilista acabou estimulando guerras, exacerbou o nacionalismo e manteve a poderosa e constante presença do Estado em assuntos econômicos. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 17). CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 128 11.1.3 Os Fisiocratas Tem seu início no século XVIII, diferentemente dos mercantilistas, não acreditavam que o desenvolvimento de uma determinada sociedade ou Estado estava conectado ao acúmulo de riquezas e ao comércio, acreditavam que a fonte do desenvolvimento estava na produção, para ser mais específico, na produção agrícola, pois é esta quem gera maior excedente. Por isso que muitos afirmam que os fisiocratas são uma resposta ao mercantilismo. Aqui nos fisiocratas temos também, as primeiras concepções de desenvolvimento de uma teoria liberal econômica, uma vez que estes eram defensores radicais de um Estado mínimo, ou seja, de que o comércio fosse regulado pelo próprio mercado, e não pelo Estado. As teses liberais que vão surgir dentro da escola fisiocrata defendem a autonomia da economia, fazendo com que os agentes econômicos sejam movidos por desejos e busca pelo crescimento e desenvolvimento. Que através da ambição e da ganância individual traria-se benefícios para toda a sociedade. Título: Retrato de François Quesnay Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ois_Quesnay#/media/Ficheiro:Quesnay_Portrait.jpg François Quesnay (1694 - 1774) é considerado o fundador da escola fisiocrata, sobretudo quando ele faz uma análise sistêmica da formação de uma economia no formato macro, ou seja, romper com a perspectiva tradicional de enxergar e compreender a economia como algo puramente local. https://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ois_Quesnay#/media/Ficheiro:Quesnay_Portrait.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 129 Para os fisiocratas, a riqueza consistia em bensproduzidos com a ajuda da natureza (fisiocracia significa “regras da natureza”) em atividades econômicas como a lavoura, a pesca e a mineração. Portanto, encorajava- se a agricultura e exigia-se que as pessoas empenhadas no comércio e nas finanças fossem reduzidas ao menor número possível. Em um mundo constantemente ameaçado pela falta de alimentos, com excesso de regulamentação e intervenção governamental, uma economia com significativo desenvolvimento comercial e financeiro não se ajustava às necessidades da expansão econômica. Só a terra tenha capacidade de multiplicar a riqueza. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 17). 11.2 Escola Clássica 11.2.1 Adam Smith Título: Retrato de Adam Smith Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Adam_Smith#/media/Ficheiro:AdamSmith.jpg Considerado o pai da escola clássica, e também por ser um dos primeiros pensadores integralmente científicos da economia, Adam Smith, com sua obra, é considerado um dos principais nomes da economia até hoje. https://pt.wikipedia.org/wiki/Adam_Smith#/media/Ficheiro:AdamSmith.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 130 Uma das principais contribuições de Smith, são suas reflexões sobre a livre- concorrência, do qual defendia que, diferentemente do mercantilismo onde se tinha a “mão visível” e reguladora do Estado controlando a economia, era necessário para que ocorresse um crescimento econômico da sociedade, o oposto, que a economia fosse guiada pela “mão invisível” do mercado, sem qualquer influência do Estado. Segundo ele, na medida em que todos os indivíduos e agentes econômicos buscam egoisticamente o lucro, eles acabam promovendo o bem estar da sociedade. Isso ocorre, segundo o pensador, justamente pelo fato de que o mercado auto- regularia o preço de acordo com as ofertas e demandas. “Defesa do mercado como regulador das decisões econômicas de uma nação traria muitos benefícios para a coletividade, independentemente da ação do Estado. É o princípio do liberalismo”. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 18). Em sua teoria do valor-trabalho, Smith defendia que a causa da riqueza das nações é o trabalho humano, e que a divisão do trabalho seria responsável pelo aumento produtivo do trabalho humano, nesse sentido, para o pensador, era inevitável que ocorresse um processo de especialização. Mas qual seria a melhor forma de medir o valor de uma determinada mercadoria? De acordo com Smith, seria o tempo de trabalho necessário para produzir aquela determinada mercadoria. Porém, essa concepção seria um tanto ideal, aplicável numa sociedade primitiva, que não é o caso da sociedade de sua época. Segundo o autor, com o desenvolvimento de um modelo fabril e industrial de produção, se torna cada vez mais complexo medir com exatidão este valor. Além disso, Smith vai dar origem a dois termos que vão ser recorrentes no pensamento econômico que são as concepções de valor de uso e valor de troca. Valor de uso seria o quanto aquele determinado produto, mercadoria ou serviço nos tem utilidade, já o valor de troca, é qual o valor cambial dele, o valor em termos mercadológicos. Então o pensador vai citar o paradoxo da água e o diamante. Onde a água tem um valor de uso elevadíssimo, pois é necessária para a nossa sobrevivência, mas um valor de troca baixíssimo, já o diamante, tem um valor de uso extremamente inferior, mas tem um valor de troca extremamente elevado. Para Smith, restaria ao Estado o papel de garantir que os princípios liberais fossem garantidos, para que a economia pudesse continuar se desenvolvendo e com isso poder crescer. Nesse sentido, o Estado deve ser um agente ativo dentro da esfera política, mas deve ser inativo em relação à esfera econômica. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 131 11.2.2 David Ricardo Título: Retrato de David Ricardo Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/David_Ricardo#/media/Ficheiro:Portrait_of_David_Ricardo_by_Thomas_Phillips.jpg David Ricardo (1772 - 1823) é tido para muitos como o principal sucessor de Adam Smith, mesmo que contrarie em alguns momentos o outro pensador, é unânime que ambos são os pilares essenciais para a compreensão do liberalismo econômico. Uma das principais contribuições de Ricardo consiste no aperfeiçoamento da teoria do valor do trabalho do Smith. Segundo o autor, a partir do momento que toda mercadoria possui um valor de uso, ou seja, uma utilidade, e um valor de troca, que é o valor do qual ela vai ser cambiada. E esse segundo valor, por sua vez, provém de duas origens: a) da sua escassez e b) da quantidade de trabalho socialmente empregado para a sua realização. Sendo assim, parte do que define o valor de uma mercadoria ou serviço para Ricardo, é a quantidade de trabalho socialmente empregado para a sua realização. Porém, ele vai dividir esse trabalho em dois tipos. O primeiro ele vai chamar de trabalho imediato, que é quando se tem a ação humana diretamente produzindo algo, e o segundo, trabalho mediato, que seria aquele onde se incorpora às máquinas. Vale ressaltar que Ricardo era um grande defensor da inserção das máquinas no processo produtivo, como instrumento de aumento da produção, consequentemente, redução do custo e aumento do lucro. Ricardo também se destacou por seus estudos em relação aos comércios internacionais, onde desenvolveu sua teoria das vantagens comparativas. Uma vez que Ricardo era um grande defensor do livre-comércio, ele acreditava que cada país deveria se especializar naquilo que produziria de melhor, pois dessa forma, teoricamente, https://pt.wikipedia.org/wiki/David_Ricardo#/media/Ficheiro:Portrait_of_David_Ricardo_by_Thomas_Phillips.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 132 seria bom para todos os países importadores, uma vez que haveria produtos no mundo inteiro a seu dispor a preços baixos. Basicamente, toda a teoria do Ricardo parte do princípio que mantendo os preços baixos de produção, você consegue manter os preços das mercadorias baixos, e não só isso, consegue manter os salários baixos, pois o trabalhador mesmo recebendo pouco irá conseguir consumir pois o preço está baixo. Uma vez que a produção aumenta, o custo diminui, os salários se mantêm baixos, se tem um maior lucro, e esse lucro por sua vez, se tornaria novos investimentos, que fariam o custo reduzir mais e assim por diante. Esse seria o ciclo da economia para Ricardo. 11.2.3 Thomas Malthus Título: Retrato de Thomas Malthus Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Malthus#/media/Ficheiro:Thomas_Malthus.jpg Thomas Malthus (1766-1834) foi um importante pensador econômico de sua época, porém pouco lembrado como um nome da escola clássica, isso porque as suas teorias extremistas acabaram, como diz o ditado, “envelhecendo mal”. Seus principais trabalhos giraram em torno das chamadas teorias da população, onde sempre se demonstrou preocupado com o crescimento exponencial da população, sobretudo, em relação à questão da subsistência populacional. Em linhas gerais, seu pensamento girava em torno do fato de que ele compreendia que a população cresce de forma geométrica, enquanto a produção de alimentos cresceria de forma aritmética. Nesse sentido, uma vez que a produção de alimentos não acompanharia o crescimento populacional, nesse sentido, era necessário que a população fosse mantida sob controle. Porém, a grande polêmica que reside na teoria malthusiana, é que esse controle, segundo o autor, deveria ocorrer nas camadas mais pobres da população. https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Malthus#/media/Ficheiro:Thomas_Malthus.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 133 Na Inglaterra de sua época existia a chamada Lei dos Pobres, que consistia numa forma de assistencialismos as populações economicamente inferiores e as pessoas com deficiência física, que eram proibidas de trabalhar. Malthus afirmavaque essa lei era prejudicial à economia na medida que entre outros fatores, elevava o rendimento dos pobres, com isso aumentava a demanda por alimentos, e logo, aumentava os preços. Malthus também defendia concepções de que os mais pobres por não serem instruídos gastavam o seu dinheiro com coisas supérfluas. Nesse sentido, as soluções que Malthus vai encontrar para a questão do crescimento populacional, entre elas, vai estar o fim das leis assistencialistas, da qual segundo eles, não tiravam os pobres da pobreza e ao mesmo tempo aumentava a necessidade por alimentos. Além disso defendia a chamada prudência no casamento, ou seja, o que chamamos hoje de controle de natalidade, que o número de filhos por casal fosse controlado. 11.2.4 Outros Teóricos da Escola Clássica Antes de finalizarmos nossa aula, se faz importante mencionarmos outros dois pensadores da chamada escola clássica de economia. O primeiro deles é John Stuart Mill (1806-1873), que é visto como aquele responsável por fazer uma sintetização do pensamento econômico clássico. Em sua obra, “Princípios da Economia Política”, realizou basicamente um estudo da história do pensamento econômico até aquele momento, abordando temas que iam desde o Mercantilismo até os pensamentos de Adam Smith e Ricardo. John Stuart Mill foi o sintetizador do pensamento clássico. Seu trabalho foi o principal texto utilizado para o ensino de Economia no fim do período clássico e no início do período neoclássico. Sua obra consolida o exposto por seus antecessores, e avança ao incorporar mais elementos instrucionais e ao definir melhor as restrições, vantagens e funcionamento de uma economia de mercado. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 18). Por fim, cabe citar aqui Jean-Baptiste Say (1768-1832), e a sua teoria que leve o seu próprio nome, a Lei de Say (também conhecida como Lei dos Mercados), da qual afirma que um produto só pode ser comprado com o valor de um outro produto, ou em outras palavras, para comprar algo é necessário que antes eu tenha produzido algo. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 134 O economista francês Jean-Baptiste Say retomou a obra de Adam Smith, ampliando-a. Subordinou o problema das trocas de mercadorias a sua produção, e popularizou a chamada lei de Say: “a oferta cria sua própria procura”, ou seja, o aumento da produção transformar- se-ia em renda dos trabalhadores e empresários, que seria gasta na compra de outras mercadorias e serviços. A lei de Say é um dos pilares da macroeconomia clássica, e só foi contestada em meados do século XX. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 19). ANOTE ISSO A Escola Clássica da Economia é responsável pela elaboração teórica do chamado liberalismo econômico, sobretudo através das contribuições de Adam Smith e David Ricardo. Ideias como a da livre concorrência, do livre mercado, da divisão do trabalho, e da teoria do valor, essenciais para o desenvolvimento e consolidação do capitalismo, surgiram nesta escola. Em nossa próxima aula, daremos continuidade a história do pensamento econômico, abordando as escolas neoclássica, keynesiana e marxista. Até lá. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 135 CAPÍTULO 12 HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO - PARTE II Olá, aluno! Olá, aluna! Em nossa última aula começamos a falar sobre a história do pensamento econômico. Nela começamos a fazer uma perspectiva histórica sobre a relação entre a sociedade e o pensamento econômico. Lembrando que, como tenho insistido, o pensar as relações econômicas, sobretudo de produção, é anterior ao desenvolvimento da Economia enquanto ciência. Os gregos antigos foram os primeiros a fazer apontamentos nesse sentido, para muitos se atribui a Aristóteles o primeiro uso do termo economia. Passado o tempo, pouco se preocupou em fazer análises e colocações sobre as relações produtivas, até que na Idade Média, começasse a perceber pequenas e sutis mudanças. Dentro da lógica do pensamento cristão, uma vez que a Igreja passa a se tornar uma das principais, senão, a principal instituição desse período histórico, ocorre uma supervalorização do campo e uma desvalorização da economia comercial, uma vez que os juros não eram vistos com bons olhos pelos religiosos. Nesse momento, o maior símbolo de riqueza era a posse de terras. Passado cerca de mil anos dentro desta lógica, ocorre uma mudança mais profunda, e de maior valorização da esfera econômica, o chamado mercantilismo. Neste momento histórico marcado pela descoberta do novo mundo, dos regimes absolutistas, da formação dos Estados modernos e entre outros fatores, é marcado pela ascensão de um pensamento que associava o crescimento de um país ao seu acúmulo de dinheiro. Com isso, teorias como a da balança comercial favorável e do metalismo, passam a se desenvolver em defesa disso. Passado anos após o advento do mercantilismo, surge uma escola de pensamento econômico, que começa a se aproximar de um desenvolvimento científico, mas ainda mantém um pé nas tradições antigas. A escola fisiocrata, sobretudo através da figura de François Quesnay, começa a criar os alicerces para o desenvolvimento do liberalismo, sobretudo através da defesa da defesa do Estado mínimo. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 136 Então, chegamos à chamada Escola Clássica, conhecida por ser a primeira escola econômica integralmente científica. O primeiro e principal nome desta escola é Adam Smith, do qual propôs importantes pensamentos para a economia como a ideia da autorregulação do mercado, a teoria do valor-trabalho e as ideias de valor de uso e valor de troca. Em seguida abordamos aquele que é considerado o principal sucessor de Smith, David Ricardo, que dentre suas principais contribuições estão, a concepção de que o valor de um bem se dá pela sua escassez e pelo trabalho necessário em sua produção, a diferenciação entre trabalho mediato e imediato, e a teoria das vantagens comparativas. Dando por sequência abordamos Thomas Malthus, considerado o mais ultrapassado dos pensadores da escola clássica de economia, uma vez que suas ideias consistiam na defesa de que o crescimento populacional era muito superior ao crescimento produtivo, com isso, se fazia necessário com que medidas radicais fossem realizadas para manter a estabilidade. E por fim, mencionamos outros dois importantes pensadores, John Stuart Mill, responsável por fazer a síntese do pensamento da escola clássica, e Jean-Baptiste Say, que elaborou a chamada lei dos mercados ou lei de Say. Na aula de hoje falaremos de outras três escolas importantes da economia, sendo elas a neoclássica, a keynesiana e a marxista. 12.1 Escola Neoclássica (Escola Marginalista) A escola neoclássica se desenvolve em meados do final do século XIX, privilegiando aspectos da microeconomia em sua teoria, “pois a crença na economia de mercado e em sua capacidade auto-reguladora fez com que os teóricos econômicos não se preocupassem tanto com a política e o planejamento macroeconômico.” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 19). Como o próprio nome sugere, essa escola de pensamento econômico procura fazer uma reformulação, uma reconfiguração, uma repaginação da escola clássica, ou seja, aprofundar alguns elementos já trabalhados, e em outros casos, desconstruir e reconstruir novos conceitos, fazendo com que dessa forma, ocorra semelhanças e diferenças entre as duas escolas. A Escola Neoclássica em alguns momentos também é chamada de Escola Marginalista. A principal preocupação desta escola residia na compreensão do CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 137 funcionamento do mercado, acreditando que o ser humano através da racionalidade poderia fazer com que a economia sempre encontrasse um ponto de equilíbrio. Nesse sentido, encontrar as causas da riqueza, se faz necessário para distribuir osrecursos, para com isso obter a maximização da utilidade. Essa valorização da utilidade é vista sobretudo no abandono da teoria do valor- trabalho e o surgimento da teoria do valor de utilidade, ou seja, o valor da mercadoria não se dava mais pelo trabalho necessário para realizá-la, mas sim proveniente da utilidade que aquele produto tem para com os consumidores De acordo com os neoclássicos, dentro da sociedade existem os chamados “agentes econômicos”, onde alguns vendem a sua força de trabalho como forma de renda,e se tornam trabalhadores, enquanto outros, vão ser empresários que vão ter a sua fonte de renda baseado no lucro. Existe um rompimento com a concepção de que existem classes sociais. 12.1.1 Alfred Marshall Título: Alfred Marshall Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfred_Marshall#/media/Ficheiro:Alfred_Marshall.jpg A sua célebre obra “Princípios de Economia” é considerado um dos principais manuais sobre esta área do conhecimento até os dias de hoje, sobretudo para aqueles que desejam um estudo mais profundo dentro da perspectiva da microestrutura (elemento que estudaremos mais tarde). Durante muito tempo, foi considerado o principal texto econômico da Inglaterra. Nesta obra, Marshall é responsável por sintetizar boa parte do pensamento neoclássico. https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfred_Marshall#/media/Ficheiro:Alfred_Marshall.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 138 Ao longo de suas obras Marshall exerceu um papel fundamental no que se diz respeito à utilização das ciências exatas como metodologia para o desenvolvimento da sua teoria econômica, se até então os pensadores articulavam mais a economia a política, Marshall se preocupou exclusivamente em questões relacionadas às esferas quantitativas dessa ciência. Uma de suas contribuições é a teoria do equilíbrio parcial, onde defende a concepção de que, através do livre mercado e da livre concorrência, é possível chegar em um equilíbrio entre as empresas que ofertam determinado produto, para com os consumidores que procuram aquele mesmo produto. para isso ele desenvolveu o chamado diagrama de oferta e demanda, onde se tenha a linha do oferta e a linha da procura, o ponto onde as duas linhas se cruzam, seria o ponto de equilíbrio que o mercado deveria buscar, pois esse equilíbrio, faria com o preço fosse justo para o consumidor, e ofereceria lucro satisfatório ao produtor. Nesse período, a formalização da análise econômica (principalmente a Microeconomia) evoluiu muito. O comportamento do consumidor é analisado em profundidade. O desejo do consumidor de maximizar sua utilidade (satisfação no consumo) e o do produtor de maximizar seu lucro são a base para a elaboração de um sofisticado aparato teórico. Com o estudo de funções ou curvas de utilidade (que pretendem medir o grau de satisfação do consumidor) e de produção, considerando restrições de fatores e restrições orçamentárias, é possível deduzir o equilíbrio de mercado. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 19). ANOTE ISSO A Escola neoclássica, como o próprio nome sugere, ela deriva da escola clássica mas buscando reformular algumas idéias, sobretudo aquelas que foram confrontadas por outras correntes de pensamento. Nesse sentido cabe destacar alguns elementos como: o abandono da teoria do valor atrelado ao trabalho, e a utilização de uma teoria do valor pautada na utilidade; a utilização de uma nova metodologia mais profunda na utilização da matemática; a concepção de agentes econômicos e; a busca pelo equilíbrio entre a oferta e a procura. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 139 12.2 Escola Keynesiana Título: John Maynard Keynes Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfred_Marshall#/media/Ficheiro:Alfred_Marshall.jpg Como o próprio nome sugere, a escola keynesiana é proveniente dos pensamentos de John Maynard Keynes (19883 - 1946). Um pensador um tanto quanto complexo de se trabalhar e estudar, uma vez que quando saímos do meio acadêmico é comum que as pessoas cometam erros normativos relacionados a sua proposta. Isso se dá pelo fato de Keynes elaborar uma teoria que se localiza entre o pensamento clássico/ neoclássico liberal e entre o pensamento marxista (que veremos depois). É importante termos em mente que a teoria de Keynes é uma resposta direta ao momento histórico em que estava inserido, ou seja, a crise da bolsa de valores de Nova Iorque em 1929. Como decorrência dessa crise, tivemos o período chamado de Grande Depressão, marcado por uma queda brusca dos níveis de produção e dos altos índices de desemprego, que ano após ano ia reverberando em todo o mundo ISTO ESTÁ NA REDE “A Crise de 1929, também conhecida como Grande Depressão, foi uma forte recessão econômica que atingiu o capitalismo internacional no final da década de 1920. Marcou a decadência do liberalismo econômico, naquele momento, e teve como causas a superprodução e especulação financeira.” Para saber mais sobre a chamada Crise de 1929, acesse o link do Brasil Escola do UOL: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/crise29.htm https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfred_Marshall#/media/Ficheiro:Alfred_Marshall.jpg https://brasilescola.uol.com.br/historiag/crise29.htm CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 140 Mediante a essa crise, a teoria neoclássica que era a predominante daquele momento, e atrelada ao liberalismo, defendia que o Estado não interferisse na economia, que ele apenas se preocupasse em manter as contas públicas estabilizadas. Em oposição a esse pensamento, mas ainda dentro de uma perspectiva de economia de mercado, Keynes vai defender que o capitalismo ao longo da história sempre mostrou algumas falhas em sua aplicação, entre elas, a que ele mais destaca é a ausência do pleno emprego, ou em outras palavras, permitir que todas as pessoas aptas tenham acesso ao emprego. Keynes compreende que o capitalismo em sua estrutura, é um sistema instável, e acreditava que a chamada “mão invisível do mercado”, tão defendida pelos pensadores clássicos, não produzia uma harmonia, um equilíbrio. Sendo assim, segundo Keynes, a economia capitalista como estava instaurada, sobretudo pelo liberalismo clássico, não teria essa tendência em alcançar o chamado pleno emprego. Segundo ele, a tendência do capitalismo seria manter um nível de atividade econômica abaixo do pleno emprego, sobretudo nos momentos de crise. Em outras palavras, o que o pensador defendia, é que da forma como estava estruturado, o desemprego era estrutural ao capitalismo. A resposta de Keynes consiste basicamente em uma teoria em que defende a ação do Estado na economia, sobretudo no que diz respeito à garantia do pleno emprego. É através de medidas como o aumento do gasto público, diminuição da carga tributária, redução da taxa de juros, ampliação do crédito etc., que o Estado em momentos onde o setor privado retrai a sua demanda, deve compensar esse movimento. Basicamente o que Keynes defende, é que o Estado deveria desenvolver praticamente uma dívida pública nos momentos de crise, mas que depois, dado ao fato de que o Estado teria injetado esse dinheiro na economia, o crescimento econômico voltaria mais rápido e aconteceria de forma mais rápido, gerando as condições para que aquela dívida pública seja paga rapidamente. Outro ponto de divergência entre Keynes e a escola clássica, é em relação a chamada Lei de Say, enquanto esta defendia, em linhas gerais, que a oferta cria sua própria procura, para Keynes: um dos principais fatores responsável pelo volume de emprego é o nível de produção nacional de uma economia, determinado, por sua vez, pela demanda agregada ou efetiva. Ou seja, sua teoria inverte o sentido da lei de Say (a oferta cria sua própria procura) ao destacar o papel da demanda agregada de bens e serviços sobre o nível de emprego. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 20). CIÊNCIA POLÍTICAE ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 141 ANOTE ISSO A Escola keynesiana é fruto do seu momento histórico. A Crise de 1929, que deu origem à chamada Grande Depressão, colocou em xeque os ideais liberais levantados pela escola clássica de economia. Keynes, apesar de ainda elaborar uma teoria sobre um modelo de economia de mercado, defendia que o capitalismo, da forma que estava instaurado, possuía instabilidade estruturais, e que era necessário a atuação de um Estado mais forte, que atuasse sobretudo na garantia do emprego e na oferta dos serviços. 12.3 Escola Marxista Título: Karl Marx Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx#/media/Ficheiro:Karl_Marx_001.jpg Diferentemente de todas as escolas estudadas até o momento, a grande característica da escola marxista, é que ela vai se debruçar em realizar a crítica a economia de mercado capitalista, e vai estruturar o caminho teórico da economia centralizada socialista. Como o próprio nome sugere, essa é uma escola econômica cuja a sua base de sustentação está nas contribuições teóricas de Karl Marx (1818 - 1883). Apesar de ser praticamente oposto à escola clássica, Marx em alguns aspectos concorda com elementos desta escola, o principal caso, é a compreensão de que o trabalho é o responsável pela geração de riqueza. Adam Smith, como vimos na aula anterior, através da teoria do valor-trabalho, defendia que o trabalho empregado é que dispõe o valor da mercadoria. https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx#/media/Ficheiro:Karl_Marx_001.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 142 Um ponto importante para entendermos a escola marxista, e principalmente Marx, é que em toda sua teoria ele se respalda na concepção de classe e não de indivíduo, como fazem os neoclássicos por exemplo. Como vimos na aula de história do pensamento político, em que estudamos as contribuições de Marx para a política, vimos que o autor defende que o motor da história é a luta de classes, e que no mundo contemporâneo essa luta se dá entre a burguesia - donos dos meios de produção - em oposição aos trabalhadores - que vendem a sua força de trabalho. Outro elemento importante a ser resgatado, já mencionado na aula política de Marx, é a inovação de seu método, de sua metodologia de pesquisa, o chamado materialismo histórico-dialético, que levou a Marx a entender a sociedade sustentada pelas relações econômicas. Nesse sentido, a análise marxista parte de uma visão em que as sociedades se organizam e se estruturam a partir do processo de produção. Entende-se aqui que o processo de produção envolve relações sociais de produção, que se estabelece entre pessoas que compõem a sociedade, e permite com que se encontre e compreenda as características da organização daquela sociedade, e com isso, pode-se entender quais são as relações de trabalho dominantes, como a propriedade atua dentro daquela sociedade, e entre outros elementos. Sendo assim, existe uma infraestrutura no qual se estabelece os meios de produção, ou em outras palavras, a forma como uma sociedade produz os bens e os serviços, existe também, relações sociais produtivas que permitem com que se dê questões como a distribuição desta produção, e existem as superestruturas, que estão montadas acima da infraestrutura produtiva, que são os aspectos culturais, políticos, sociais e etc. A análise histórica que os marxistas realizam toma como base, diversas etapas do desenvolvimento humano, cujo elemento central são os diferentes modos de produção, uma vez que consideram este a infraestrutura da qual estabelece uma sociedade. Desta forma, cada infraestrutura geraria superestruturas diferentes. Sendo assim, se teria o chamado comunismo primitivo, onde não existia a noção de propriedade, depois o modo de produção antigo, das primeiras civilizações, onde se tem um predomínio da mão-de-obra escrava. Depois o feudalismo, onde se tem a dominância de um trabalho compulsório por meio das relações de servidão, a noção de propriedade atrelada à tradição. E por fim, se tem o modo de produção capitalista, marcado pelo trabalho assalariado e a propriedade privada dos meios de produção. Porém Marx, devido a sua análise histórica e dialética, ou seja, ele compreende o mundo em constante movimento, em outras palavras, o desenvolvimento humano, e consequentemente, o desenvolvimento dos modos de produção seria contínuo. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 143 Fazendo um parênteses rápido, a dialética que Marx utiliza aqui provém de Hegel, onde entende que toda tese possui uma antítese, e no embate desses opostos surge uma síntese, que passa a ser uma nova tese, que terá uma nova antítese, que vai gerar uma nova síntese, que se torna uma nova tese e assim por diante. Dando um exemplo de forma simplificada mas compreensível, é como se os senhores feudais fossem uma tese, que tinha como antítese os seus servos, que gerou como síntese, as relações capitalistas, onde a nova tese são os donos dos meios de produção e sua antítese, os trabalhadores. Nesse sentido, Marx defende que dentro da continuidade do processo de desenvolvimento humano, deve se ter uma nova síntese, uma nova etapa, da qual, para o pensador, a principal característica deveria residir em uma sociedade onde se tem a superação da exploração do homem pelo próprio homem. Mas como ocorre essa exploração do homem pelo homem dentro do capitalismo? Segundo os marxistas, dentro do capitalismo se tem a formulação de um novo tipo de mercadoria, a chamada mercadoria de trabalho, a força de trabalho. Segundo os teóricos liberais clássicos, principalmente John Locke, que já estudamos, todo homem nasce com uma propriedade, a de seu corpo, e ele pode vender a força do seu corpo em troca de um salário, e é basicamente assim que funciona o trabalho assalariado. Porém, o que Marx constata ao fazer a sua análise desse tipo de relação de trabalho, é que os salários não remuneram a totalidade do valor do trabalho produzido pelos trabalhadores no processo produtivo. Existe uma parcela do da produção, que não vai para o trabalhador, que é o que o Marx vai denominar de mais-valia. Nesse sentido, é estrutural do capitalismo que se tenha um exército industrial de reserva, ou em outras palavras, um bom número de desempregados, para que o valor de troca da força de trabalho possa permanecer baixo, e com isso manter elevada a taxa de mais-valia. O conceito da mais-valia utilizado por Marx refere-se à diferença entre o valor das mercadorias que os trabalhadores produzem em dado período de tempo e o valor da força de trabalho vendida aos empregadores capitalistas, que a contratam. Os lucros, juros e aluguéis (rendimentos de propriedades) representam a expressão da mais-valia. Assim sendo, o valor que excede o valor da força de trabalho e que vai para as mãos do capitalista é definido por Marx como mais-valia. Ela pode ser considerada o valor extra que o trabalhador cria, além do valor pago por sua força de trabalho. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 21). CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 144 Em linhas gerais, no que se diz respeito a análise econômica de Marx, dentro do modo de produção capitalista existem contínuas contradições como o excesso de produção, a queda da rentabilidade, a lei de tendência a queda da taxa de lucro, o desemprego, o aumento da desigualdade social etc. que levariam esse sistema ao colapso. A resposta de Marx, é o surgimento de um novo modo de produção que seja pautado no trabalhador, onde todos, sejam trabalhadores, sem distinção e desigualdade trabalhista, e para isso ele defende a elaboração de uma economia centralizada socialista, e posteriormente, o comunismo. Como já foi abordado estes aspectos na aula sobre pensamento político, não estenderemos mais por aqui. ANOTE ISSO Em síntese a escola marxista ao adotarcomo metodologia o materialismo histórico- dialético, encontra análises e respostas distintas das escolas anteriores, por mais que ocorram pequenas concordâncias. De acordo com esta análise, o processo evolutivo das sociedades se dá através dos diferentes meios de produção que esta adota, uma vez que para esses pensadores, é o modo de produção a infraestrutura que sustenta as demais estruturas como política, cultura etc. O modo de produção capitalista é o estágio atual desse desenvolvimento, mas não seria o último. Para os marxistas o capitalismo possui contradições dentro de sua própria estrutura, e que o movimento da história revela que em algum momento esse modo de produção deve ser superado, e do qual, o autor defende que a principal característica do próximo modo de produção deve ser a superação da exploração do homem pelo homem. Com isso terminamos as nossas aulas sobre história do pensamento econômico. Em nossa próxima aula iremos abordar os princípios introdutórios da chamada Microeconomia. Até a próxima aula. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 145 CAPÍTULO 13 A MICROECONOMIA E A MACROECONOMIA Olá, aluna! Olá, aluno! Nesta aula vamos abordar uma das subáreas presentes dentro da economia, a microeconomia. E com isso vamos abordar outros elementos de extrema importância sobre o pensamento econômico. Mas antes disso, vamos fazer uma pequena revisão de nossa última aula, onde finalizamos a história do pensamento econômico, com o estudo das escolas neoclássica, keynesiana e marxista. Como consta em seu próprio nome, a escola neoclássica é uma remodelagem do pensamento da escola clássica, buscando adaptar alguns conceitos e até mesmo superar alguns dos quais já consideravam atrasados. A principal diferença entre as duas escolas, é que os neoclássicos abandonam a teoria do valor-trabalho e adotam a teoria do valor utilidade. Além disso, podemos destacar: a utilização de uma nova metodologia mais profunda na utilização da matemática; a concepção de agentes econômicos e; a busca pelo equilíbrio entre a oferta e a procura. Dando sequência, adentramos a escola keynesiana de John Keynes, da qual é uma resposta direta ao seu momento histórico. Quando esta teoria passa a ser elaborada, ela está inserida no contexto histórico da Grande Depressão, onde o capitalismo pautado no liberalismo clássico é entendido como fracassado. Nesse sentido, Keynes defende que esta antiga escola do pensamento produz um capitalismo onde possui instabilidades intrínsecas, como por exemplo, a ausência do pleno emprego. Nesse sentido, o pensador defende a necessidade de um Estado dentro do capitalismo, que atue de forma mais forte, onde garanta o pleno emprego e as condições para que as pessoas tenham acesso aos bens e aos serviços. E por fim, estudamos a escola marxista, da qual, apesar de apresentar algum ou outro elemento de semelhança com as demais escolas econômicas, é a que mais diverge das demais, uma vez que faz a defesa da economia centralizada. Ao utilizar como metodologia de análise o materialismo histórico dialético, compreende que o que modela as sociedades ao longo da história é o modo de produção que elas adotam. Desta forma, o modo de produção seria a infraestrutura que sustenta as CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 146 demais superestruturas. Ao analisar os modos de produção ao longo da história, Marx percebe uma constante, em que sempre ocorreu a exploração do homem pelo homem, e defende que a superação do modo de produção capitalista, deve ser respaldada na superação desta exploração. Na aula de hoje faremos a introdução de duas sub-áreas extremamente importantes dentro da economia, a microeconomia e a macroeconomia. Na verdade, são duas perspectivas diferentes de se olhar para a realidade econômica, fazendo com que se produzam interesses e perguntas diferentes, e consequentemente, respostas e análises distintas. 13.1 O Que é Microeconomia? Título: A “mão-invisível” do mercado que regula a oferta e a demanda Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/m%c3%a3o-marionete-boneco-pol%c3%adtico-alex-784077/ A primeiro momento aqui, cabe compreendermos os aspectos gerais da microeconomia, para posteriormente abordarmos alguns temas específicos de uma forma mais profunda. Também chamada de teoria dos preços, e entenderemos melhor isso mais pra frente, a microeconomia, como o próprio nome sugere, estuda os aspectos micro, de menor escala dentro da economia. Entenda, não é porque é micro que não seja de extrema importância. Nesse sentido, de uma forma mais simples e resumida, pode-se dizer que o estudo da microeconomia consiste em analisar e entender o comportamento econômico individual e particular dos agentes presentes na economia, deixando de lado os chamados agentes https://pixabay.com/pt/photos/m%c3%a3o-marionete-boneco-pol%c3%adtico-alex-784077/ CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 147 externos (ou macros), e focando nos mercados específicos e nas ações dos produtores e consumidores. Com isso, boa parte do estudo microeconômico se concentra na compreensão da formação dos preços no mercado, por isso, a teoria dos preços. A teoria microeconômica não deve ser confundida com economia de empresas, pois tem enfoque distinto. A Microeconomia estuda o funcionamento da oferta e da demanda na formação do preço no mercado, isto é, o preço obtido pela interação do conjunto de consumidores com o conjunto de empresas que fabricam um dado bem ou serviço. Do ponto de vista da Administração de Empresas, que estuda uma empresa específica, prevalece a visão contábil financeira na formação do preço de venda de seu produto, baseada principalmente nos custos de produção, enquanto na Microeconomia predomina a visão do mercado como um todo. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014, p. 27). Mediante a tudo isso, a microeconomia se dá como base na relação entre compradores e produtores, no comportamento empresarial, na produção empresarial, na oferta de trabalho dos trabalhadores e qual o valor em troca que eles desejam receber etc. Nesse sentido, é possível notar, que por mais que se realize um recorte individual e muitas vezes específico e pequeno, não significa que a microeconomia não seja importante, muito pelo contrário. No que se diz respeito a perspectiva do consumidor, a microeconomia vai trabalhar com situações problemas que partem de princípios, entre eles: Como o indivíduo toma a decisão de compra? O que afeta a decisão do indivíduo comprar? Como o indivíduo administra sua restrição de renda? Já na perspectiva do produtor, as situações problemas norteadoras serão: O que produzir? Quanto produzir? Como eu escolho o nível de produção? Sendo assim, dentro da microeconomia, é extremamente importante não perdermos de vista o seguinte elemento: o papel do mercado, uma vez que este vai ser entendido como o responsável pela interação entre os produtores e os consumidores, ou seja, se tem empresas/firmas que oferecem e indivíduos que procuram, mediante a isso se tem o desenvolvimento de um ponto de equilíbrio que vai determinar o preço, e o regulador desta relação, deste equilíbrio, vai ser mercado. Note que a noção aqui é claramente baseada na concepção de “mão invisível”de Adam Smith. Estudaremos posteriormente a macroeconomia, mas é interessante termos em mente, que esta é o agregado de todos os agentes econômicos que compõem a CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 148 microeconomia, em outras palavras, se pegarmos cada peça desse quebra-cabeça que a microeconomia estuda e juntamos, estaremos formando a macroeconomia. Dentro da microeconomia, uma distinção importante que deve se estabelecer é entre preço nominal e preço real, onde o primeiro diz respeito ao preço absoluto, ao preço em moeda corrente, de uma determinada mercadoriaou serviço no momento em que se realiza a venda, em outras palavras, o preço que está ali no produto quando você vai comprar ele. Já o segundo, diz respeito ao preço da mercadoria em relação a uma medida agregada de preços, ou também definido, como o preço em moeda constante, levando em consideração uma série de fatores, que fazem com que se tenha um parâmetro do preço daquele determinado produto para com o resto da economia. 13.1.1 O Mercado Título: O mercado: procura e oferta Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/ma%c3%a7%c3%a3s-mercado-do-agricultor-comprar-1841132/ Em linhas gerais, o mercado se define por uma área geográfica onde compradores e vendedores se interagem e determinam o preço de um determinado produto ou de um conjunto de produtos. É importante aqui, fazer um breve parênteses sobre a diferença entre indústrias e mercados. De forma bem didática, as indústrias são aquelas que ofertam produtos para os mercados, que esse por sua vez, ofertam produtos ao consumidor. Quando se realiza uma análise sobre o mercado, ou sobre determinado mercado, é importante saber que existem alguns parâmetros que devem ser tomados previamente. Dando um exemplo, o comportamento do consumidor referente a um mercado de alimentos (bens necessários à sobrevivência) é diferente do comportamento de um mercado de cultura https://pixabay.com/pt/photos/ma%c3%a7%c3%a3s-mercado-do-agricultor-comprar-1841132/ CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 149 (bens supérfluos). Ou seja, esses parâmetros prévios são as características individuais que cada mercado apresenta. Dentro do próprio mercado de alimentos, você vai ter uma diferença drástica entre o mercado de arroz e o mercado de caviar, por exemplo. Um conceito importante dentro das noções básicas de mercado, que é o de arbitragem, consiste no ato de você comprar um produto em baixo preço em um determinado local, e vendê-lo a um preço mais alto em outro local. Nesse sentido, é interessante que se evite que ocorra uma distorção muito grande entre os preços de diferentes locais geográficos, pois caso contrário, os indivíduos abandonaram o mercado local e buscaram o outro mercado. Por exemplo, se o ouro for muito mais barato no Chile do que no Brasil, compensa ao brasileiro comprar esse produto e trazer ao país, por mais que tenha custos de transporte. Por isso é necessário que o Brasil crie mecanismos para romper com essa arbitragem, seja através do equilíbrio dos preços ou da imposição de impostos. Quando se trata de mercados, podemos dividi-los em dois blocos, os mercados competitivos e os mercados não-competitivos. O primeiro se caracteriza por lidar com um grande número de compradores e vendedores, ou seja, nenhum dos agentes econômicos presentes neste mercado, consegue individualmente influenciar o preço de um produto. Os produtos agrícolas são grandes exemplos disto. Se ele baixar muito o preço, ele não dá conta da demanda e não consegue extrair o lucro necessário, e se ele aumentar muito o preço, ele perde na concorrência. Já no segundo caso, temos mercados onde os produtores, uma vez que são poucos, conseguem individualmente influenciar no preço do mercado. Um exemplo disso é a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que através de um sistema de cartel e aliança entre os principais produtores de petróleo, consegue influenciar qual vai ser o preço da mercadoria no mercado. Nos mercados competitivos, existe um estabelecimento do preço que vai ser vendido. Por exemplo, se você vai até uma loja, lá está o preço do produto pré-determinado, que vai ser o mesmo para qualquer pessoa que for comprar ali. Já nos mercados não-competitivos, por possuir essa influência sobre o preço das mercadorias, o preço da mercadoria pode ser distinto de um consumidor para com o outro. Outra questão importante envolvendo o mercado é a extensão de um mercado, ou em outras palavras, quais são os vendedores e compradores que devem ser incluídos em um determinado mercado? Para poder chegar o mais próximo possível da compreensão da extensão do mercado, é necessário traçar as suas fronteiras, e para isso é necessário levar alguns elementos em consideração. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 150 Um deles é as fronteiras geográficas. Então por exemplo, um mercado de ingressos de futebol para assistir um jogo do São Paulo no Morumbi, ou do Corinthians em Itaquera, ou do Palmeiras no Allianz Parque. A grande maioria dos consumidores são pessoas da capital e do estado de São Paulo, ou seja, vão existir pessoas fora desse limite, mas elas são tão minoritárias, que não são o público alvo. Outro elemento importante é o leque de produtos. Peguemos o exemplo do combustível. Quando você vai abastecer seu carro você pode optar por gasolina comum, aditivada, diesel ou etanol. Um posto que oferece todos esses tipos de combustível, ele tem um alcance, uma fronteira, uma extensão de mercado maior, do que aquele que oferece apenas um tipo de produto. ANOTE ISSO Em linhas gerais podemos afirmar que a microeconomia é uma subárea do conhecimento dentro da economia da qual se dedica ao estudo do comportamento econômico individual e particular dos agentes econômicos, tanto os que produzem como os que consomem. Nesse sentido, se realiza um recorte menor e localizado, mas não menos importante. Dentro da microeconomia teremos destaque de temas como: o mercado, a teoria do consumidor, a questão da demanda etc. 13.2 O Que é Macroeconomia? Título: A questão do desemprego como um dos principais debates macroeconômicos Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/escultura-arte-linha-de-p%c3%a3o-bronze-18198/ https://pixabay.com/pt/photos/escultura-arte-linha-de-p%c3%a3o-bronze-18198/ CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 151 Se em algum momento da sua vida você já se perguntou porque existe desemprego ou porque existe inflação, ou até mesmo se questionou sobre qual é o papel do governo na administração destas questões? Qual os efeitos das relações econômicas internacionais? Quais são as forças econômicas e sociais que determinam o crescimento de longo prazo de um Estado? Por que umas economias crescem mais do que outras? Tem como evitar uma crise econômica? Todas essas questões fazem parte da chamada macroeconomia. Em linhas gerais a determinação de variáveis como: produção, renda, consumo, emprego, inflação, juros, câmbio, etc. e a maneira como elas se comportam ao longo do tempo consistem no objeto de estudo, dessa subárea da economia chamada de macroeconomia. Observe que, enquanto a microeconomia se preocupa em fazer um recorte menor e local, a macroeconomia estabelece um recorde maior e abrangente. A primeira questão importante que precisamos ter em mente quando se fala em macroeconomia, é que se parte do pressuposto que o conjunto dos elementos da economia operam de uma forma onde o resultado é muito mais do que a simples soma dos elementos, ou seja, a macroeconomia busca entender o comportamento da economia como um todo, e não de suas partes. Ou seja, enquanto a microeconomia está preocupada com o indivíduo e a empresa, a macroeconomia está preocupada com o comportamento de um grande agregado de indivíduos e de um grande agregado de empresas. Dentro da macroeconomia, é possível realizar a análise de cinco tipos de mercados: os mercados de bens e serviços, o mercado de trabalho, o mercado cambial, o mercado monetário e o mercado de títulos, que por sua vez, a soma dos dois últimos resulta no chamado mercado financeiro. Mas porque a macroeconomia faz a análise desses diferentes mercados? Em linhas gerais, a análise macroeconômica tem o objetivo de compreender como é possível determinado Estado - seja um país, um estado ou um município, ou uma região etc. - pode prosperar, em outras palavras, que tipo de conjunto de políticas econômicas um governo deveriacolocar em prática para gerar crescimento econômico. Durante muito tempo, acreditou-se que era possível desenvolver uma fórmula para o crescimento econômico e para o desenvolvimentismo, a fim de que permitisse com que os países menos desenvolvidos pudessem utilizar dessas políticas para que ao longo prazo eles se tornassem países desenvolvidos. Porém, ficou claro que não existe uma fórmula mágica para o desenvolvimentismo, o que existe, são práticas consideradas saudáveis para todos os países. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 152 Nesse sentido, é necessário que Estado encontre a sua própria fórmula, uma vez que cada Estado possui características e condições específicas, que não são reproduzíveis em outras localidades. Seja as diferenças de tamanho de território, se possui saída para o mar, quais são os seus vizinhos, ou até mesmo, como se deu a formação de cada Estado e de cada nação. Mediante a todos elementos, é necessário compreender que existem diferentes pontos de vista para explicar e estudar os fenômenos macroeconômicos, ou seja, sabe todas aquelas perguntas levantadas anteriormente da qual a macroeconomia tenta responder? não existem respostas únicas para elas 13.2.1 A História da Macroeconomia Como se trata de um estudo introdutório, com o objetivo de realizar um primeiro contato para oferecer as condições básicas necessárias para um entendimento inicial sólido sobre a macroeconomia, não realizaremos um estudo profundo e complexo de todas as escolas teóricas aqui presentes. Dedicaremos a três grandes momentos históricos para a macroeconomia: a) a publicação da teoria geral de Keynes; b) a ascensão dos chamados novos clássicos em 1970/1980 e; c) a crise de 2008. Título: John Maynard Keynes Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfred_Marshall#/media/Ficheiro:Alfred_Marshall.jpg Em 1936 temos o primeiro grande marco do pensamento macroeconômico, como dito anteriormente, se trata da publicação da Teoria Geral do Emprego, do Juros e da https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfred_Marshall#/media/Ficheiro:Alfred_Marshall.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 153 Moeda de John Keynes. Esse livro é caracterizado por ser a primeira realização de uma análise sistemática do desempenho da economia em seu agregado, por isso é considerado o marco do surgimento da macroeconomia moderna. Para entendermos melhor a importância da obra de Keynes, é interessante notarmos alguns elementos. Antes de sua publicação, as chamadas questões macroeconômicas (desemprego, juros, inflação etc.) já eram discutidas, porém, a visão predominante acreditava que as economias de mercado tinham capacidade de alocar de maneira eficiente todos os recursos disponíveis e alcançar o pleno emprego, concepção que se apoiava nas idéias da “mão-invisível” do mercado e na Lei de Say, que já mencionamos em outra aula, que afirmava que a oferta cria a sua própria demanda. Nesse sentido, os pensadores partiam do pressuposto que a questão do emprego e da produção já estão resolvidas, fazendo com que a maioria dos economistas se debruçassem muito mais nos problemas macroeconômicos do que nos problemas macroeconômicos. Com a publicação da Teoria Geral do Emprego, do Juros e da Moeda, John Keynes, como até vimos previamente, acaba fazendo um análise nova, onde compreende que a economia monetária de produção é inerentemente instável, ou seja, não a enxerga como uma economia que vai alcançar necessariamente o pleno emprego. Essa instabilidade seria resultado da incerteza sobre o futuro que condiciona as expectativas dos agentes e, por consequência, de suas decisões de consumo e investimento. Isso gera uma flutuação da demanda, que por sua vez, gera equilíbrios instáveis, com a presença de desemprego. Ou seja, o que Keynes afirma é que o pleno emprego é apenas uma possibilidade dentre muitas outras que podem gerar de uma economia. Onde o pensador destaca que o pleno emprego seria extremamente raro, e que o habitual seriam ciclos econômicos de bonanza e de crise. Desta forma, Keynes afirma que uma vez que a economia está sujeita a ciclos econômicos é necessário desenvolver fórmulas e técnicas para amenizar os ciclos de crise através de políticas públicas, em outras palavras, como já vimos em nossa aula de pensamento econômico, diferentemente dos economistas clássicos liberais, Keynes propõe uma maior atuação do Estado na condução da economia ao pleno emprego. Dessa forma, a teoria macroeconômica passa a evoluir e ser construída em cima da defesa ou das críticas à Teoria Geral de Keynes. Uma vez que o modelo keynesianista apresentou um resultado imediato satisfatório para crise de 1929, é natural que as primeiras décadas pós Teoria Geral tenham sido de predominância de aprovação e concordância, gerando a chamada síntese neoclássica. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 154 Porém os anos de 1970 marcaram uma ruptura com a teoria e a política keynesiana, primeiro como resultado imediato da crise do petróleo que colocou em xeque essa política econômica nos EUA, e segundo, que se tem início do crescimento teórico dos chamados novos clássicos. Um dos principais nomes dos novos clássicos do pensamento macroeconômico, Robert Lucas, aperfeiçoou a chamada ideia de expectativas adaptativas, onde compreendia-se que os agentes econômicos viam o passado recente para fazer expectativas do futuro, e passou a defender a concepção de expectativas racionais, onde os agentes econômicos passam a observar a economia monetária e as condições macroeconômicas para fazer uma previsão mais realista, de modo que a política monetária teria um impacto muito maior. Título: Ronald Reagan e Margareth Thatcher Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/dd/President_Ronald_Reagan_Meeting_with_Prime_Minister_Margaret_Thatcher_at_10_Downing_ Street_in_London%2C_England.jpg Com isso, pode-se dizer que os anos 1970 e 1980 foram marcados por um novo pensamento macroeconômico, que coincidiu com o retorno do conservadorismo no poder político, agora figurado pelo neoliberalismo, que reformulou as ideias do liberalismo clássico, e que foi concretizado na prática pelas políticas públicas sobretudo de Ronald Reagan nos EUA e de Margareth Tatcher no Reino Unido. Esse contexto histórico foi marcado por uma contínua desregulamentação e liberalização dos mercados que permaneceu sem muita contestação até a crise de 2008. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/dd/President_Ronald_Reagan_Meeting_with_Prime_Minister_Margaret_Thatcher_at_10_Downing_Street_in_London%2C_England.jpg https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/dd/President_Ronald_Reagan_Meeting_with_Prime_Minister_Margaret_Thatcher_at_10_Downing_Street_in_London%2C_England.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 155 A crise financeira global de 2008 foi um novo marco para as reformulações do pensamento macroeconômico, onde ocorreu um relativo reconhecimento de que as políticas colocadas em prática dos anos 1970 e 1980 contribuíram com as origens e os desdobramentos da crise financeira internacional de 2008, em outras palavras, a crise de 2008 seria resultado dessas políticas neoliberais. Nesse contexto, as teorias de Keynes voltaram a ser revisitadas com o objetivo de combater os efeitos da crise, entendendo sobretudo a concepção de que o Estado teria um papel fundamental nesse processo. Quando observamos a evolução do debate macroeconômico, é notável que uma pergunta pode possuir diferentes respostas por pontos de vista distintos, mas ao mesmo tempo, sempre existe um grupo dominante da qual exerce maior influência sobre aquele período histórico. Outro elemento interessante, é que as teorias macroeconômicas possuem um respaldo no mundo real, uma vez que as teorias dominantes passam a ser aquelasque são consideradas bem sucedidas na prática, e passam a entrar em xeque quando na prática elas entram em crise. ANOTE ISSO Em linhas gerais podemos afirmar que a macroeconomia é uma subárea do conhecimento dentro da economia da qual se dedica ao estudo da ciências econômicas por um foco mais amplo, analisando a determinação e o comportamento de grandes agregados: desemprego, renda, produção, taxa de juros etc. Na nossa próxima aula, chegaremos ao penúltimo capítulo, do qual se debruçaram ao estudo de uma importante teoria que se localiza dentro do debate macroeconômico, mas que necessita de uma aula exclusiva para a sua explicação, a teoria do consumidor. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 156 CAPÍTULO 14 TEORIA DO CONSUMIDOR Olá, meu caro aluno! Olá, minha cara aluna! Em nossa última aula falamos sobre os princípios e noções introdutórias da microeconomia e da macroeconomia. Na aula de hoje falaremos de um assunto extremamente interessante que pertence a microeconomia, mas que necessita de uma aula exclusiva, que é a chamada teoria do consumidor. Vamos relembrar um pouco da nossa última aula. Começamos definindo que microeconomia se dedica ao estudo dos comportamentos econômicos no âmbito individual ou particular, se preocupando principalmente com as questões que envolvem o consumidor e o produtor. Em seguida falamos sobre a importância do mercado dentro da perspectiva microeconômica, uma vez que este é entendido como a área geográfica onde consumidores e vendedores se encontram e determinam o preço de um produto ou de um conjunto de produtos. A microeconomia permite reflexões importantes sobre o mercado, como o comportamento do consumidor mediante a especificidade de cada mercado, além disso, sobre a extensão e abrangência de mercado. Dando sequência, olhamos a economia por um outro viés, o da macroeconomia, que diferentemente do ponto de vista anterior, se preocupa com os comportamentos econômicos dos grandes agregados, ou seja, tenta entender a economia como um todo. Nesse sentido, a macroeconomia tem como interesse compreender assuntos como: taxa de juros, taxa de câmbio, desemprego etc. Para finalizar nossa última aula, traçamos o panorama histórico do pensamento macroeconômico, que teve seu início com a publicação da obra Teoria Geral do Emprego, do Juros e da Moeda de John Keynes, uma vez que o autor realiza uma análise macro da situação de seu país naquele momento histórico, propondo uma série de medidas para conter a crise. Posteriormente, na década de 1970 se tem os chamados novos clássicos, que trazem uma nova perspectiva macroeconômica que vai ser atrelada à política neoliberal. E por fim, o último grande marco para a macroeconomia foi a crise de 1008, que colocou em xeque a teoria dos novos clássicos e resgatou alguns elementos da teoria keynesiana. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 157 Como dito anteriormente, nessa aula vamos trabalhar a teoria do consumidor, um assunto relativamente denso, cheio de gráficos e tabelas de explicação, mas é um assunto extremamente interessante. Dividiremos nossa aula em duas partes para entendermos melhor essa teoria. A primeira vai se dedicar às chamadas preferências do consumidor, e a segunda, as restrições orçamentárias. 14.1 As Preferências do Consumidor Para entendermos a chamada teoria do consumidor, começaremos abordando as chamadas preferências do consumidor, e para isso, é importante entendermos o termo, cesta de mercadorias, cujo significado está muito próximo ao que a expressão indica, um conjunto de bens que podem ser formadas diferentes combinações, e os consumidores vão analisar qual combinação lhe é mais interessante. Quando vamos analisar as preferências do consumidor neste sentido, encontramos três pressupostos, três premissas, que são elas: a) as preferências são completas; b) as preferências são transitivas e; c) os consumidores sempre preferem quantidades maiores de uma mercadoria. Vamos analisar cada uma delas. O que significa que as preferências são completas? Numa situação onde o consumidor terá que optar entre a cesta A e a cesta B, o consumidor tem a capacidade de preferir a cesta A em relação a cesta B, ou que prefere a cesta B em relação a cesta A, ou até mesmo, que ele é indiferente em relação a cesta A e a cesta B. A premissa de uma preferência é completa, parte do pressuposto que o consumidor pode ter a capacidade de definir com clareza a sua preferência. Em outras palavras, o consumidor pode comparar e ordenar todas as cestas do mercado de acordo com seu interesse. Qual é a concepção por trás da transitividade das preferências? Se um consumidor prefere uma cesta de bens A em relação a uma cesta de bens B, e ainda, prefere a cesta de bens B em relação a cesta de bens C, é possível concluir através do princípio da transitividade que o consumidor em questão prefere a cesta A do que a cesta C. Por fim, temos a premissa de que o consumidor sempre prefere quantidades maiores de uma mercadoria, que consiste exatamente nisso que a frase exprime. Com base nesse nestes elementos é possível desenvolver o que é chamado de curva de indiferença, da qual representa as combinações de cestas das quais proporcionam o mesmo grau de satisfação ao indivíduo consumidor, ou em outras palavras, diferentes combinações de mercadorias em diferentes cestas podem fornecer o mesmo nível de satisfação ao consumidor. Observe a tabela e o gráfico abaixo: CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 158 Tabela 2 – Tabela de Preferências do Consumidor Fonte: autor. Figura 5 – Gráfico de Preferências do Consumidor Fonte: autor. Observando a tabela, notamos seis tipos diferentes de cestas, onde cada uma delas envolvem rearranjos diferentes entre as mercadorias alimento e as mercadorias vestimentas. Se transformarmos essas informações da Tabela 2 em um gráfico, temos a Figura 5. Tomando como base o pressuposto das quantidades, e utilizando a cesta A como preferência, podemos notar que a zona em vermelho no gráfico, representa todas as possibilidades em que terão uma maior quantidade de mercadorias que a cesta A, por sua vez, a área em verde, se localiza todas as possibilidades de cestas que apresentam uma quantidade inferior de mercadorias que a cesta A. Logo qualquer cesta da zona vermelha é preferível à cesta A, e a cesta A, é preferível a qualquer cesta que esteja na zona verde. Uma vez que as preferências são completas e o consumidor consegue estabelecer as preferências dele em relação ao conjunto de cestas. Quando olhamos para a Figura 5, todas as possíveis cestas que se encontram na curva roxa U1, apresentam os CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 159 mesmo níveis de satisfação em relação a quantidade de mercadorias, ou seja a cesta B, a cesta A e a cesta C, apresentam a mesma quantidade de mercadorias, logo a mesma quantidade de satisfação, por isso, elas fazem parte da curva de indiferença. Por sua vez, todas as cestas que estão abaixo da curva, no caso do exemplo a cesta F e a cesta E, apresentam níveis inferiores de satisfação, já as cestas que estão acima da curva apresentam uma satisfação maior, no caso do exemplo, a cesta D. Uma coisa importante de se notar e mencionar aqui, é que a curva de indiferença sempre vai possuir uma declividade da esquerda para a direita, justamente por causa do princípio de que os consumidores sempre procuram maiores quantidades. Além disso, se torna padrão, de que qualquer cesta que se encontra acima e à direita da curva de indiferença é preferida a qualquer cesta de mercado localizada na curva. Além da curva de indiferença, é possui elaborar um mapa de preferência, que seria um conjunto de curvas das quais descrevem as preferências dos consumidores de acordo com as possibilidades de cestas existentes,observe o gráfico abaixo Figura 6 – Gráfico do Mapa de Indiferença Fonte: autor. O que é importante sabermos aqui, é que as linhas dentro de um mapa de indiferença, elas não podem se cruzar, pois caso isso ocorra, estará violando a premissa inicial de que o consumidor sempre prefere maiores quantidades. Tomando como base a curva de indiferença, podemos chegar em um novo conceito extremamente importante, que é a taxa marginal de substituição (TMS), da qual consiste em compreender, o quanto eu necessito abrir mão de uma determinada mercadoria, para conseguir mais de outra mercadoria. Observemos a figura abaixo: CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 160 Figura 7 – Gráfico da Taxa Marginal de Substituição Fonte: autor. Supondo que o eixo vertical Y seja vestimentas, e o eixo horizontal X seja alimentos, a cesta A é composta por 16 vestimentos e 1 alimento. Se você deseja diminuir a quantidade de vestimentas e aumentar o de alimentos, escolhendo a cesta B, a sua taxa marginal de substituição é de 6, ou seja, você precisa abrir mão de 6 unidades de vestimentas, para ganhar 1 unidade de alimento. Por sua vez, a taxa marginal de substituição da cesta B em relação à cesta C é 4. Nota-se aqui, que a taxa marginal de substituição é decrescente ao longo da curva de indiferença. Como se calcula a taxa marginal de substituição? Em linhas gerais, é a razão entre a variação de uma mercadoria dividida pela variação da outra mercadoria. Como mostra a imagem abaixo: Título: Cálculo da Taxa Marginal de Substituição (TMS) Fonte: autor. Somando as concepções que aprendemos sobre as curvas de indiferença às concepções da taxa marginal de substituição, é possível notar, que as curvas de indiferença são convexas. A ideia da convexidade parte do princípio que na medida em que se consomem maiores quantidades de uma mercadoria, existe uma tendência e uma resistência cada vez maior de renunciar a quantidades da outra mercadoria. Observe novamente a Figura 7. Quanto mais se consome alimentos, menos o indivíduo está disposto a abrir mão de vestimentas, pois cada vez mais, ela vai se tornando escassa. Ou seja, cada vez mais, a taxa marginal de substituição vai diminuindo. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 161 Outros elementos interessantes para abordarmos aqui são os substitutos perfeitos e os complementos perfeitos. Dois bens que são substitutos perfeitos são aqueles cuja a taxa marginal de substituição de um bem pelo outro é constante, permanece sempre a mesma, observe o gráfico abaixo: Figura 8 – Gráfico dos Substitutos Perfeitos Fonte: autor. Neste caso, os produtos sucos de uma uva e suco de laranja são substitutos perfeitos, pois a taxa marginal de substituição é constantemente 1. Nesse caso, em que se tem substitutos perfeitos, a curva de indiferença vai ser uma linha reta. Por outro lado, os produtos que são complementos perfeitos, são aqueles que partem do princípio que você não pode consumir determinado bem, se não consumir simultaneamente o outro bem, ou seja, você apenas consome os bens de forma conjunta. Pense, no seguinte exemplo, um sapato direito e um sapato esquerdo, você só consome os dois simultaneamente. Isso faz com que a curva de indiferença de produtos complementares seja um ângulo reto, como no gráfico abaixo. Figura 8 – Gráfico dos Complementos Perfeitos Fonte: autor. Para finalizarmos as questões referentes às preferências do consumidor, é necessário falarmos sobre o conceito de utilidade. Que em linhas gerais significa o grau de CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 162 satisfação que uma pessoa teve ao consumir determinada cesta de mercado. E, dentro das preferências do consumidor, é possível desenvolver fórmulas para averiguar a utilidade de cada cesta para cada consumidor. Vamos dar um exemplo. Digamos que para determinado consumidor, a utilidade do alimento (A) é o dobro da função da vestimenta (V), sendo assim, a função que teremos será U (A, V) = A + 2V. Observe a tabela abaixo: Tabela 3 – Tabela de Utilidade Fonte: autor. Observando a tabela, podemos notar que a utilidade da cesta A é de 14, da cesta B é 14 e da cesta C é 12. Nesse sentido, é possível concluir que para este determinado consumidor, existe uma indiferença em relação à utilidade das cestas A e B, porém ambas possuem maior utilidade do que a cesta C. Outro detalhe importante que temos que ter em mente, é que, as possibilidades de cestas de mercadorias que se encontram dentro da mesma linha de indiferença, possuem a mesma razão de utilidade. Porém, é extremamente complexo fazer essa formulação sobre o quão mais satisfeito um produto exerce sobre o outro para o consumidor, ou seja, é extremamente difícil estabelecer uma quantificação da satisfação. Nesse sentido, é demasiadamente trabalhoso estabelecer uma ordem cardinal de utilidade, ou seja, de descrever o quanto uma cesta de mercado é mais preferível do que outra. Mas se torna um tanto menos penoso, quando estabelecemos uma ordem ordinal, ou seja, aquilo que dentro da teoria do consumidor chama-se de função de utilidade ordinal, que consiste em colocar as cestas de mercado em ordem decrescente de preferência mas sem indicar exatamente o quanto uma é mais preferível do que a outra. 14.2 As Restrições Orçamentárias A primeira distinção que temos de tudo isso que foi abordado nessa aula quando se olha para prática, é que o comportamento do consumidor não é determinado CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 163 exclusivamente por suas preferências. E por que isso ocorre? Pois existe um outro fator extremamente importante no comportamento do consumidor que é as restrições orçamentárias, que consiste nas limitações que o indivíduo possui de consumir determinados bens e serviços. Para entendermos melhor isso, precisamos compreender a linha de orçamento, indica todas as combinações entre duas mercadorias para as quais o total de dinheiro gasto é igual a renda total. Voltemos aos nossos exemplos envolvendo alimentos e vestimentas. Observe a seguinte hipótese. A é a quantidade de alimentos e V a quantidade de vestimentas. Pa é o preço dos alimentos e Pv o preço das vestimentas. Por sua vez, Pa(A) é a quantidade de dinheiro gasto com alimentos e Pv(V) a quantidade de dinheiro gastos com vestimentas. Logo a linha de orçamento pode ser descrita como: Pa(A) + Pv(V) = I, onde I é a renda total do consumidor. Sendo assim, observe a tabela e o gráfico abaixo: Tabela 4 – Tabela de Restrições Orçamentárias Fonte: autor. Figura 8 – Gráfico de Restrições Orçamentárias Fonte: autor. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 164 Com base nessas informações podemos definir a chamada inclinação da linha orçamento, que consiste na divisão entre a quantidade de um determinado produto pela quantidade correspondente do outro produto, que vai ser igualmente resultante, da divisão do preço de um produto pela divisão do preço do outro produto, em nosso exemplo seria: Inclinação = ΔV/ΔA = - ½ = - Pa/Pv. Outra informação importante que a inclinação da linha de orçamento nos oferece é a indicação da proporção segundo a qual pode-se substituir uma mercadoria pela outra sem afetar-se a quantidade total de dinheiro gasto, em outras palavras, a proporção de quanto se pode substituir um produto pelo outro sem alterar o total gasto. Dando sequência, temos alguns efeitos que ocorrem que impactam diretamente a questão orçamentária, o primeiro deles, são os efeitos das modificações na renda, onde um aumento da renda causa um deslocamento paralelo na linha de orçamento para a direita, e uma redução na renda, para a esquerda (em situações onde os preços continuam constantes). E também se tem os efeitos proveniente das modificações no preço, ou seja, se o preço de umadeterminada mercadoria aumenta, a linha de orçamento sofre uma rotação à esquerda em torno do intercepto da outra mercadoria, por outro lado, se o preço diminui, rotaciona-se para a direita. Observe os gráficos abaixo, onde o primeiro mostra os efeitos da modificação de renda e o segundo, de preço: Figura 9 e 10 – Gráfico de Efeitos na Modificação de Renda e de Preço Fonte: autor. Uma vez que compreendemos as preferências do consumidor e entendemos as restrições, podemos chegar mais próximo da escolha do consumidor. Basicamente, podemos afirmar que os consumidores escolhem combinações que maximizam sua satisfação doda os limites orçamentários que ele possui, em outras palavras, dentro do seu limite de gastos, ele vai escolher a cesta de mercadoria que lhe oferece maior satisfação. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 165 Neste sentido, a cesta de mercadorias ideal para o consumidor, vai ser aquela que satisfaz duas condições: 1) ela está situada sobre a linha de orçamento (o que significa que o consumidor deve possuir renda suficiente para consumir aquela cesta) e 2) deve fornecer ao consumidor sua combinação preferida de bens e serviços. Mas como podemos sintetizar essa escolha? Basicamente através de uma correlação entre a curva de indiferença e a linha orçamentária. Nesse sentido, é possível concluir que, maximização da satisfação do consumidor vai se dar onde a taxa marginal de substituição vai ser a razão dos preços das mercadorias, em termos matemáticos: TMS = Pa/Pv. Com isso, a cesta ideal vai ser aquela que vai estar na tangência entre a linha orçamentária (azul) e a curva de indiferença (vermelha) da seguinte forma: Figura 11 – Gráfico da Escolha do Consumidor Fonte: autor. Com isso finalizamos nossa aula de teoria do consumidor. A nossa próxima aula, não será somente a última deste bloco voltado para economia, mas também a última de nosso curso, onde debateremos a formação histórica econômica do Brasil. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 166 CAPÍTULO 15 FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL Olá, minha cara aluna! Olá, meu caro aluno! Chegamos à nossa última aula do curso de Ciência Política e Economia, espero que tenha sido uma jornada, na medida do possível, prazerosa para vocês. Desejo que esse curso lhe forneça subsídios básicos e teóricos para as diferentes situações que colocaram vocês de frente com as ciências políticas e econômicas, tanto na vida pessoal de vocês, mas principalmente, no futuro de suas carreiras profissionais. Em nossa última aula, abordamos a chamada teoria do consumidor. Nela demos início definindo que para compreendermos esta teoria é necessário dividi-la em dois elementos: as preferências do consumidor, e as restrições orçamentárias. No que se diz respeito às preferências do consumidor, demos início definindo os pressupostos básicos sobre a preferência dos consumidores: as preferências são completas, transitivas e o consumidor sempre opta por maiores quantidades. Em seguida, trabalhamos com a noção de cestas de mercadorias, que consiste nas múltiplas possibilidades de combinação de diversas mercadorias. Dando sequência estabelecemos a chamada curva de intolerância, que se trata de uma curva dentro do gráfico de possibilidades de cestas, onde todas as combinações que se encontram sobre aquela linha, representam o mesmo grau de satisfação ao consumidor, fazendo com que ele seja indiferente em relação a uma ou outra. Outro conceito importante trabalhado aqui foi o de taxa marginal de substituição (TMS), que mostra o quanto é necessário abrir mão de uma determinada mercadoria, para conseguir mais da outra mercadoria. E concluiu-se que o valor do TMS é igual a razão entre a variação de uma mercadoria, dividida pela variação da outra mercadoria. TMS = Δx/Δy. Porém, para finalizar as preferências dos consumidores, falamos sobre a questão da utilidade, onde para cada consumidor, uma determinada mercadoria satisfaz mais às suas necessidades do que outra mercadoria, em outras palavras, ele pode preferir abrir mão mais de uma mercadoria do que outra. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 167 Porém, o consumidor não pode simplesmente, na grande maioria dos casos, optar pela cesta platônica, pela cesta dos sonhos, por assim dizer. Existe a restrição orçamentária, que é o limite de gasto que ele possui para comprar aquela cesta. Para elaborarmos a chamada linha orçamentária em um gráfico, é necessário traçar as possibilidades de arranjos de mercadorias cuja soma resulte na restrição orçamentária. Px(X) + Py(Y) = I (restrição orçamentária). Por fim, para encontrarmos a cesta ideal para o consumidor, é necessário encontrar aquela que se encontra na tangência entre a linha orçamentária e a curva de intolerância. O modo mais fácil de conseguir isso, é através do fato, como demonstrado na aula passada, que a cesta ideal é aquela cujo TMS é igual a divisão entre o preço das duas mercadorias. Ou seja, TMS = Px/Py. Na aula de hoje, para finalizarmos as noções básicas de economia, se faz importante compreendermos a história e formação econômica de nosso país, o Brasil. Com isso dividiremos a nossa aula em algumas etapas: 15.1 O Ciclo do Pau-Brasil Título: “Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro no ano de 1500” Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil_Col%C3%B4nia#/media/Ficheiro:Desembarque_de_Pedro_%C3%81lvares_Cabral_em_Porto_Seguro_em_1500_by_ Oscar_Pereira_da_Silva_(1865%E2%80%931939).jpg A formação econômica do Brasil pode ser dividida em ciclos, sobretudo no seu início, onde se tinha a dominância de uma determinada mercadoria, que era produzida e vendida em maior escala do que as demais. Quando se trata do Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil_Col%C3%B4nia#/media/Ficheiro:Desembarque_de_Pedro_%C3%81lvares_Cabral_em_Porto_Seguro_em_1500_by_Oscar_Pereira_da_Silva_(1865%E2%80%931939).jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil_Col%C3%B4nia#/media/Ficheiro:Desembarque_de_Pedro_%C3%81lvares_Cabral_em_Porto_Seguro_em_1500_by_Oscar_Pereira_da_Silva_(1865%E2%80%931939).jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 168 Colônia, do período anterior a Independência, pode-se dizer que houveram quatro principais ciclos: o do pau-brasil, da cana-de-açúcar, do ouro e do café. Antes de adentrarmos propriamente a questão do pau-brasil, é importante mencionar que em algum momento vão ocorrer similaridades com nossa aula da formação política do Estado brasileiro, uma vez que política e economia caminham de mãos dadas dentro da constituição de um Estado. É importante lembrarmos alguns aspectos anteriores à chegada dos portugueses nas terras que posteriormente chamamos de Brasil. Portugal e Espanha eram consideradas as principais potências mundiais do século XV, junto à Inglaterra. Num contexto dominado por uma política econômica mercantilista, que o metalismo e a balança comercial favorável, as expansões marítimas tinham como objetivo, procurar novas rotas até o ocidente e sobretudo, o acúmulo de capital proveniente do comércio. Nesse sentido, um fator que vai determinar a distinção do processo de colonização da américa portuguesa para com a américa espanhola, é que os espanhóis encontraram metais preciosos em seus territórios ‘descobertos’ rapidamente, enquanto os portugueses demoraram muito tempo para achar no território brasileiro. Com isso, como já mencionado na aula de formação do Estado brasileiro, os 30 primeiros anos de América portuguesa são basicamente um abandono por parte de Portugal. E é neste contexto histórico que temos o desenvolvimento do ciclo do pau-brasil, marcado por ser uma árvore localizada na costa litorânea brasileira, na qual sua extração não dependia de uma mão-de-obra fixa, sendo na grande maioria das vezes extraídas pelos indígenas em troca de pequenos utensíliosportugueses, e que tinha como finalidade comercial o mercado externo. Com isso, essa primeira relação comercial econômica da américa portuguesa, consistia apenas nos portugueses vindo até o território brasileiro, extraindo o pau-brasil, e voltando para a Europa para vendê-lo. Como vimos anteriormente, a colonização em termos de povoamento do território brasileiro, vai apenas se inicia através das políticas das capitanias hereditárias. Que apesar da grande maioria das capitanias fracassaram em seus propósitos de forma plena, propuseram uma maior expansão de povoamento no território da américa portuguesa. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 169 15.2 O Ciclo da Cana-de-Açúcar Título: Retrato de um Engenho de Açúcar em Pernambuco Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_do_a%C3%A7%C3%BAcar#/media/Ficheiro:Frans_Post_-_Engenho_de_Pernambuco.jpg As primeiras noções que precisamos ter com o desenvolvimento do ciclo da cana- de-açúcar, é que a dinâmica da relação entre américa portuguesa e Portugal mudam. Se trata de uma economia agora que necessita de uma política de povoamento, que precisa de investimentos capital, é a replicação de uma experiência que já era bem sucedida nas colónias portuguesas africanas, e que vai passar ser mais sucedida aqui, e por fim, é um produto que necessita de uma vasta mão-de-obra, de forma completamente intensa. Aqui, se tem a gamificação do Brasil como um produtor de commodities, onde vai se imperar os grandes latifúndios e a monocultura. Além disso, ao transportar esse modelo de produção para a américa portuguesa, os portugueses trazem também o mesmo modelo de mão-de-obra, o modelo escravista. Nesse contexto, por mais que a produção seja voltada exclusivamente para o mercado externo, uma vez que se tem um maior povoamento, se torna necessário o desenvolvimento inicial de um mercado interno. Não demorou muito para que o Brasil se tornasse o maior produtor mundial de cana- de-açúcar, durante pelo menos 100 anos pode-se dizer que se estabelece basicamente uma hegemonia neste sentido. Porém quando os holandeses passam a articular a produção de açúcar com os povos das antilhas e também se inicia a produção deste tempero via beterraba na Europa, a américa portuguesa vai perdendo sua completa dominância, apesar de continuar sendo um ponto de referência. Porém, uma nova descoberta mudaria os trilhos dos caminhos tomados pelos portugueses aqui neste território. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_do_a%C3%A7%C3%BAcar#/media/Ficheiro:Frans_Post_-_Engenho_de_Pernambuco.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 170 15.3 O Ciclo do Ouro Título: Retrato da Lavagem do Ouro em Minas Gerais Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_do_ouro#/media/Ficheiro:Rugendas_-_Lavage_du_Mineral_d’Or_-_pres_de_la_Montagne_Itacolumi.jpg Quando os portugueses notam a necessidade de um constante crescimento de investimento na produção agrícola da américa portuguesa, começam simultaneamente a ocorrer as conversas sobre a existência de ouro no interior do território, fazendo com que os portugueses de fato encararam esse processo de interiorização do território em busca desse ouro, sobretudo através do formato das chamadas expedições. Quando os portugueses chegam no território que hoje é o estado de Minas Gerais, encontram um conjunto vasto de metais preciosos, principalmente o ouro. Logo, aquilo que a coroa portuguesa desejava alcançar desde o início, finalmente é encontrando, e dessa forma começa um processo de exploração em larga escala, que vai colocar o ouro como a principal mercadoria da américa portuguesa por um determinado período. Porém, a estrutura produtiva do ouro é diferente das até então adotadas. Sendo a principal divergência o fato dela não necessitar de um investimento inicial tão alto, e gerar um produto extremamente mais valioso no mercado externo. Por mais que a grande parte da mão-de-obra continue sendo a escrava, você tem um desenvolvimento organizacional distinto, surgindo novas figuras, como os burocratas. É interessante que com a expansão do ciclo do ouro para o interior do território da américa portuguesa, o povoamento que se concentrava no litoral passa a adentrar o interior também. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_do_ouro#/media/Ficheiro:Rugendas_-_Lavage_du_Mineral_d'Or_-_pres_de_la_Montagne_Itacolumi.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 171 15.4 O Ciclo do Café Título: Escravos fotografados em uma fazenda de café Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_do_caf%C3%A9#/media/Ficheiro:Slaves_working_on_a_coffee_plantation_02.jpg O último ciclo dentro do Brasil Colônia, ou seja, que vai fazer parte da formação econômica deste país, é o ciclo do café. Então é importante termos em mente aqui, que ao longo desses 250 anos de américa portuguesa, se desenvolveu aqui uma economia baseada em commodities com o principal objetivo de abastecer o mercado externo. É importante ter claro também, que o fim de um ciclo e o início de outro, não significa que extingue por completo o anterior, apenas ocorre uma mudança, essencial, naquele que se torna o principal produto dentro da economia da américa portuguesa. O ciclo do café vai ser extremamente importante para o Brasil, não só pelo fato de que ele vai se localizar nessa transição da política da colônia para o Brasil enquanto Estado independente, mas também, pelo fato que ele reformula a organização produtiva do país, sobretudo no que diz respeito a constituição de uma dinâmica de um mercado interno. Vale destacar também, que vai ser sobre as bases do café, que vão se criar as riquezas necessárias para dar início ao processo de industrialização do país. Após o início do esgotamento do ouro no Brasil, começa a se ter a necessidade da produção de uma nova mercadoria, o café enquanto bebida, passava a se tornar cada vez mais importante nos EUA e na Europa, carregando consigo todo um status social. Observando essa crescente demanda, e notando que a planta se adaptou com facilidade em determinadas regiões do país, sobretudo na região sudeste, faz com que o café seja essa escolha. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_do_caf%C3%A9#/media/Ficheiro:Slaves_working_on_a_coffee_plantation_02.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 172 Outra mudança produtiva importante que ocorre dentro do ciclo do café, é a abolição da escravatura e a necessidade da substituição pela mão-de-obra assalariada, que inicialmente vai ser utilizado os imigrantes, para suprir essa demanda de trabalho. É possível notar o sucesso do ciclo do café no Brasil, visto que o país chegou a ser responsável por cerca de 45% das exportações de café do mundo, isso faz com que o Brasil consiga exercer um caráter quase que monopolista da determinação do preço do café. O que é interessante aqui, é que justamente por já possuir uma burguesia nacional, é que o direcionamento econômico dos interesses internacionais do café, não vão ser pautados em Portugal, mas sim, no Brasil. Porém chega o momento em que a produção de café brasileira se torna muito grande, e somado ao fato de que cada vez mais aparecem outros produtores de café no mundo, começa ocorrer um prelúdio de uma crise de superprodução no Brasil. O governo brasileiro começa a comprar o café excedente para não falir os cafeicultores, porém já vai avisando para diminuírem a produção, e com isso vai surgindo a necessidade de aplicar esse capital que eles recebiam dessas vendas em outra área. E com isso, os cafeicultores do sudeste começam a investir na industrialização. 15.5 Industrialização Título: Interior de uma Indústria do brasil em 1880 Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5b/Fabrica_brasil_1880.jpg O processo de industrialização no Brasil ele se passa a intensificar de fato junto com a entrada do períodorepúblicano. Porém, não somente a transição de parte do capital proveniente do café para o investimento em indústrias que vai conduzir esse processo. Existem outros fatores que auxiliam nisso. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5b/Fabrica_brasil_1880.jpg CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 173 Desde a Lei Eusébio de Queiroz, que proibia o tráfico negreiro no Brasil, os cafeicultores precisam remanejar aquele capital que era destinado ao investimento em escravos. Se uma parte ia para a nova mão-de-obra assalariada, a outra parte se destinava ao processo de industrialização. Esse processo passou a ganhar mais intensidade com a aprovação da Tarifa Alves Branco, que em busca de fortalecer a balança comercial brasileira, colocaram um imposto sobre o produto importados, fazendo com os cafeicultores deixassem de importar produtos de luxos e utilizassem este capital para incentivo industrial interno. O processo de industrialização no Brasil toma outro rumo com a crise de 1929 e a Grande Depressão. Com a queda da bolsa de valores de Nova Iorque, os EUA, que eram os maiores consumidores de café brasileiro do mundo na época, precisaram revisar os seus gastos. Em um momento histórico do qual consideram uma das piores crises econômicas de todos os tempos, era inevitável que alguns cortes de gastos fossem realizados. O café, como dito anteriormente, estava atrelado naquele momento histórico possuía uma outra dimensão do que possui outra, em outras palavras, era muito mais atrelado a um status. Em qualquer momento que exige corte de gastos é normal que deixe de consumir os considerados bens supérfluos, e mantenham os bens necessários. Nesse sentido, o café é deixado de lado momentaneamente, fazendo com que os EUA continue importando apenas 10% do que tradicionalmente importava. 15.6 Desenvolvimentismo Título: Getúlio Vargas e Juracy Montenegro, primeiro presidente da Petrobras. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Petrobras#/media/Ficheiro:Presidente_Get%C3%BAlio_Vargas_recebe_em_audi%C3%AAncia_Juracy_Montenegro_ Magalh%C3%A3es,_primeiro_presidente_da_Petrobr%C3%A1s.tif https://pt.wikipedia.org/wiki/Petrobras#/media/Ficheiro:Presidente_Get%C3%BAlio_Vargas_recebe_em_audi%C3%AAncia_Juracy_Montenegro_Magalh%C3%A3es,_primeiro_presidente_da_Petrobr%C3%A1s.tif https://pt.wikipedia.org/wiki/Petrobras#/media/Ficheiro:Presidente_Get%C3%BAlio_Vargas_recebe_em_audi%C3%AAncia_Juracy_Montenegro_Magalh%C3%A3es,_primeiro_presidente_da_Petrobr%C3%A1s.tif CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 174 Com a crise de 1929, foi necessário que o Brasil substituísse os bens de consumo importados, por bens de consumo nacionais, sobretudo os de caráter não-durável. Nesse sentido uma série de políticas públicas passam a ser adotadas como forma de incentivo ao processo de industrialização. O principal nome político desse desse contexto histórico é Getúlio Vargas, onde ao longo dos seus 20 anos na presidência do Brasil, adotou uma política focada na industrialização do país, regulamentando o trabalho urbano e destinando grandes verbas para a indústria de base. Seu intuito era fazer a transição de um país de base agrícola para um país de base industrial. A Era Vargas teve como consequência no setor industrial o desenvolvimento de importantes estatais em diversos setores como: petroquímica (Petrobrás), mineração (Companhia Vale do Rio Doce), siderurgia (Companhia Siderúrgica Nacional), bens de capital (Fábrica Nacional de Motores) e elétrica (Companhia Hidrelétrica de São Francisco). Esse contexto também foi marcado por outras grandes modificações; a substituição da mão-de-obra europeia pela mão-de-obra brasileira; um intenso processo de êxodo rural; o processo de modernização das capitais brasileiras, entre outros elementos. 15.7 Internacionalização Com o governo de Juscelino Kubitschek e o seu famoso Plano de Metas que prometia avançar “50 anos em 5”, teve-se um novo momento na política econômica brasileira. Para alcançar esse objetivo o governo colocou em prática medidas de atração do capital externo, sobretudo através de incentivos tarifários, creditícios, fiscais e cambiais. Nesse sentido, se constituiu uma ampla implantação industrial de bens de consumo duráveis pautados no capital externo, um grande exemplo disso, foi a entrada de muitas empresas automobilísticas. A economia brasileira é sustentada em um tripé econômico: o capital privado nacional, o capital privado internacional e o Estado. Os primeiros constituídos por empresas genuinamente brasileiras, são justamente aqueles que aproveitaram o início da industrialização no processo de substituição das importações, dominando os bens de consumo não-duráveis e o setor têxtil. No que diz respeito ao capital privado internacional, é constituído na sua grande maioria por multinacionais, sobretudo aquelas que adotam o modelo fordista-keynesiano de produção, se concentrando sobretudo nas indústrias de bens de consumo duráveis CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 175 e de bens de capital. Por fim, o estado continuava incentivando as indústrias de base decorrente do modelo varguista. Pode-se dizer, que apesar de ainda exercer um papel primário dentro da divisão internacional do trabalho, neste momento histórico o Brasil consegue consolidar de fato sua transição de um país predominantemente agrário para um país industrializado. Com a entrada dos militares no poder se acentua ainda mais o processo de internacionalização da economia brasileira, basicamente em um movimento onde o Estado brasileiro investia cada vez mais em infraestrutura convencendo o capital externo a vir para o país, É nesse período que ocorre o chamado “milagre econômico” onde as taxas de crescimento do país foram elevadíssimas. Porém esse crescimento teve seu custo. Além da crescente dívida externa, gerou-se aquilo que os economistas chamam de dependência econômica. Em outras palavras, o que aconteceu é que o Brasil se abriu tanto para as empresas privadas externas que a economia brasileira passou a depender delas e da tecnologia do exterior para o seu desenvolvimento econômico. Quando o Brasil adentra aos anos 1980, o país era a oitava economia do mundo, mas ainda assim continuava sendo um país subdesenvolvido em termos industriais, marcado por inúmeros problemas sociais e a dependência financeira de países mais ricos. Muito disso se explica pelo fato do Brasil ser um país de industrialização tardia. 15.7 Modernização Os anos 1990 foram marcados pela entrada do modelo neoliberal no Brasil, e com isso, ocorreu um processo chamado de modernização das indústrias brasileiras, com o objetivo de tentar tirar esse atraso industrial. O Brasil, sobretudo através de uma maior abertura econômica, de certa forma conseguiu modernizar seus parques industriais e melhorar sua produção interna. Atrelado a isso ocorreu um intenso processo de privatização das empresas estatais, um dos principais exemplos foi a Companhia Vale do Rio Doce, que se tornou a atual Vale. Dentro desse processo, no início dos anos 1990 ocorreu também a redução drástica de impostos sobre produtos importados, que a primeiro momento foi uma faca de dois gumes para economia brasileira, uma vez que facilitava a modernização das indústrias, mas ao mesmo tempo incentivava os consumidores a comprar produtos importados. Por mais que o Brasil tenha se modernizado, esse processo ainda não rompeu com a dependência do país para com as economias mundiais. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 176 CONCLUSÃO Como já dito no final da última aula, chegamos ao fim do nosso curso. Espero que o caminho até aqui, na medida do possível, tenha sido proveitoso. Sei que alguns se familiarizarão mais e outros menos com o assunto, mas espero que todos tenham saído com a compreensãointrodutória do conhecimento político e econômico. Porém, gostaria de incentivá-los a não terminarem seus estudos sobre estas duas áreas aqui. Não estou dizendo que você precisa fazer um estudo radical sobre política e economia, mas sempre que possível, tente buscar um pouco mais de conhecimento nesta área, garanto para você que dentro da profissão que vocês escolheram nunca vai ser demais esses estudos. E aqui, aproveito para relembrar e reforçar aquilo que disse na introdução deste trabalho para vocês, a formação de vocês quanto cidadãos é extremamente importante. Para aqueles que se identificaram mais com o assunto e até mesmo visam seguir este caminho dentro do jornalismo, vejam essa disciplina como os primeiros passos de um caminho que vocês estão a percorrer, ou seja, todos os demais passos dependem destes primeiros, mas se não continuar caminhando, estes primeiros passos serão em vão. por isso incentivo vocês de uma forma especial, a continuarem estudo e pesquisando sobre esses assuntos. Foi um prazer poder acompanhá-los nesse caminho, e espero, que todos vocês, independente dos que irão seguir nesta área ou não, de trabalharem com política/ economia ou não, possam continuar e terminar essa jornada. “Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: ‘Proibido cantar’. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: ‘É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagens’. Ou seja: Ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca.” (Eduardo Galeano) CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 177 ELEMENTOS COMPLEMENTARES LIVRO Título: O Livro da Política Autor: Vários Autores Editora: Globo Livros Sinopse: A Globo Livros lança formato reduzido de O livro da política título da coleção As grandes ideias de todos os tempos. Com o mesmo conteúdo da publicação anterior, o livro mostra os conceitos que moldam a arte da política, compreendida aqui não só como o jogo disputado nos gabinetes do poder representativo, mas sobretudo como atividade inerentemente humana. Uma prática que, desde a antiguidade da China e da Grécia, leva os homens a desenvolverem ideias essenciais para reconhecer a primazia do bem coletivo sobre o anseio individual. Assim como os outros títulos da série, a obra traça a evolução do pensamento político a partir de grandes máximas que entraram para a posteridade, em ordem cronológica. O livro lança um olhar panorâmico: analisa não só as reflexões dos grandes teóricos, mas também as opiniões de quem fez política na prática. Pensadores como Confúcio, Platão, Tomás de Aquino, Maquiavel, Hobbes, Rousseau, Marx, Weber, Hannah Arendt, Noam Chomsky e o brasileiro Paulo Freire (entre muitos outros) dividem espaço, aqui, com líderes políticos do porte de Abraham Lincoln, José Martí, Gandhi, Lênin, Churchill, Che Guevara e Nelson Mandela, só para citar alguns. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 178 Título: Formação Econômica do Brasil Autor: Celso Furtado Editora: Companhia das Letras Sinopse: A tese de doutoramento sobre a economia colonial, defendida na Sorbonne em 1948, e o primeiro ensaio sobre a economia brasileira contemporânea, escrito no ano seguinte, são o ponto de partida do livro mais conhecido de Celso Furtado, publicado em 1959: Formação econômica do Brasil. Quando o escreveu, na Inglaterra, Furtado imaginava explicar o Brasil para os estrangeiros. Acabou explicando para os brasileiros. Título: O Livro da Economia Autor: Vários Autores Editora: Globo Livros Sinopse: Escrito por um grupo de economistas, professores, jornalistas e analistas financeiros, O livro da economia apresenta as bases do pensamento que pautou a evolução e as diversas teorias da economia em todo o mundo. Numa escrita ágil, o livro aborda a história de como a humanidade criou e entendeu o dinheiro, o comércio, a especulação, as crises econômicas a partir dos principais nomes desta ciência. Fartamente ilustrado, O livro da economia é dividido em seis partes: “Iniciem o comércio (400 a.C.-1770)”, “A Era da Razão (1770-1820)”, “Revoluções industrial e econômica (1820-1929)”, “Guerra e depressões (1929-1945)”, “Economia no pós-guerra (1945-1970)” e “Economia contemporânea (1970-presente)”. Cada uma delas destaca teorias econômicas dos mais renomados pensadores, de Aristóteles a John Maynard Keynes, passando por Max Weber, John Stuart Mill, Vilfredo Pareto, Joseph Schumpeter e Paul Krugman. É possível entender, assim, a “mão invisível do mercado” de Adam Smith ou o “valor-trabalho” de Karl Marx, por exemplo. Mas também saber do surgimento do primeiro banco (Florença, 1397), das primeiras cédulas impressas (Banco da Escócia, 1696), da criação do FMI (1944) e do nascimento dos Tigres Asiáticos (acordo Japão-Coreia do Sul, 1965), além do impacto do vapor e dos computadores em importantes revoluções na história econômica humana. O livro da economia traz também glossário de termos específicos e apêndice com informações sobre outros economistas e suas contribuições ao estudo dessa área do conhecimento. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 179 FILME Título: Trabalho Interno Ano: 2010 Sinopse: A crise financeira mundial que aconteceu em 2008, causou a perda de milhões de empregos e casas e mergulhou os Estados Unidos em uma profunda recessão econômica. Matt Damon narra um documentário que fornece uma análise detalhada dos elementos que levaram ao colapso e identifica peças- chave do mundo financeiro e político. O diretor Charles Ferguson realiza uma gama de entrevistas e traça a história dos Estados Unidos para a China, para a Islândia e para outros mercados financeiros mundiais. Título: Getúlio Ano: 2013 Sinopse: A intimidade de Getúlio Vargas (Tony Ramos), então presidente do Brasil, em seus 19 últimos dias de vida. Pressionado por uma crise política sem precedentes, em decorrência das acusações de que teria ordenado o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda (Alexandre Borges), ele avalia os riscos existentes até tomar a decisão de se suicidar. CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 180 Título: Capitalismo: Uma História de Amor Ano: 2009 Sinopse: Michael Moore apresenta uma análise de como o capitalismo corrompeu os ideais de liberdade previstos na Constituição dos Estados Unidos, visando gerar lucros cada vez maiores para um grupo seleto da sociedade, enquanto que a maioria perde cada vez mais direitos. WEB [Fazer um texto de apresentação do link com até 03 linhas ou 250 caracteres]. <http://www.abc.com.br> CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF. FILIPE BELLINASO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 181 REFERÊNCIAS ALMOND, Gabriel A.; POWELL JR., G. Bingham. Uma teoria de política comparada. Tradução de Narceu de Almeida Filho. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p.117 -320. (Os Pensadores) ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Martin Claret, 2005 . BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade: para uma teoria geral da política. 3. ed. 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