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1 CCuurrssoo aa DDiissttâânncciiaa:: PPrrooggrraammaa ddee EExxcceellêênncciiaa MMÓÓDDUULLOO ÉÉTTIICCAA PPRROOFFIISSSSIIOONNAALL Arquiteto Jaime Pusch Castro - 2010 2 MMÓÓDDUULLOO ÉÉTTIICCAA PPRROOFFIISSSSIIOONNAALL As informações contidas nesse estudo nos possibilitarão a familiarização com esse tema, que é bem interessante, bem como entender qual deve ser o comportamento de um profissional quando se deparar com situações comuns do nosso cotidiano. Vale lembrar que esse assunto dificilmente é abordado nos cursos de graduação, mas torna-se cada vez mais importante em nosso mundo competitivo. Este material foi elaborado pelo Arquiteto Jaime Pusch. Acesse o currículo: http://creaweb.crea-pr.org.br/pro-crea/arquivosAula/curso11/modulo1/aula2/cv_jaime_puch.html E a bibliografia recomendada: http://creaweb.crea-pr.org.br/pro-crea/arquivosAula/curso11/modulo1/aula2/a1_bibliografia.html Serão abordados os seguintes assuntos em nosso curso: • que é ética • que é responsabilidade • que é deontologia • Reflexões e informações importantes Abordaremos neste módulo a visão da ética e da responsabilidade do profissional no campo da edificação, frente ao seu produto e ante as suas relações humanas e laborais. É importante entendermos alguns conceitos para o desenvolvimento do assunto. Há duas ciências que tratam das relações humanas, seja das pessoas entre si e destas com as coisas: o Direito e a Ética. Não fica de fora desta apreciação o ato de projetar ou executar edifícios. A parametrização e o controle da conduta humana se dá pela norma, quer seja ela a norma ética ou a jurídica. Ambas afetam de forma decisiva a concepção e execução de uma edificação. Assim, tanto um projeto como sua execução em si, além de ter todas as 3 características técnicas, tais como planificação, controle, etc., não pode se esquecer das relações humanas tratadas no Direito e na Ética. Para complementar esse raciocínio, vamos compreender o que é ÉTICA. O QUE É ÉTICA A Ética se apresenta como um nicho do conhecimento humano no campo da Filosofia . Debruça suas atenções sobre este universo do pensamento humano, buscando estabelecer os liames das inter-relações do homem. Procura conceituar valores morais, condutas e diretrizes comportamentais para o homem. Trata-se de um ramo das ciências humanas que tem por alvo o elemento humano sempre em mutação. A Ética é intimamente ligada à Moral, mas com ela não se confunde. Ocupa-se a Ética, em sentido amplo, da conduta humana perante o ser e seu semelhante, enquanto a Moral investiga os valores espirituais manifestos pelo indivíduo. Ética - parte da Filosofia que trata da conduta humana em sociedade. Moral - parte da Filosofia que trata dos valores espirituais do homem. Etimologicamente, a palavra Ética deriva do grego antigo éthos. Primitivamente, traduzia a idéia de morada, lugar de se viver ( ethé ), após, passou a ter o sentido daquilo que o homem traz dentro de si, a sua atitude de raiz psíquica. Nesta fase, a palavra evolui de um significado material para um espiritual, conservando uma certa similaridade com o conceito latino posterior de Moral. Mas Aristóteles tem um entendimento mais específico: é o modo-de-ser e o caráter do indivíduo, passando a ter a conotação de conduta, ação perceptível e apreciável que modernamente ainda se conserva. Moral deriva do latim mos, moris. Seu significado traduz a ampla idéia de uso, costume, comportamento, estado das coisas, direito, modo de vestir-se, preceito, desejo. Com o tempo, passou a definir a personalidade formal de cada um no processo de 4 assimilação dos valores espirituais comungados com o coletivo. ÉTICA PROFISSIONAL Podemos selecionar, segundo uma qualidade comum, um subsistema do grande sistema social, destacando grupos segundo suas peculiaridades étnicas, culturais, geográficas, lingüísticas e assim ao infinito. Da mesma forma, pode-se dar também pela qualidade da inserção do indivíduo no processo econômico, pela característica comum da sua especialização produtiva. Assim, identificamos um subconjunto que é o universo profissional, onde todos os seus componentes possuem uma característica identificadora similar que é sua profissão . Para o nosso caso, temos nesse grupo engenheiros e arquitetos projetistas u executores de edifícios. As ligações éticas desses indivíduos para com o grupo maior, a sociedade, continuam a se verificar, mas novos laços éticos serão verificados e só estão presentes entre os elementos deste grupo. Além da ética geral, será observável uma ética específica. O QUE É RESPONSABILIDADE As relações interpessoais, quer sejam de um indivíduo para com outro, para com a sociedade ou para com o estado, são geradoras de obrigações. Quando estabelecida uma relação regida por um pacto, normalizada ética ou juridicamente, vem como conseqüência uma ou mais obrigações para as partes. Obrigação: relação pela qual alguém deve dar, fazer ou se abster de fazer algo para outrem. No plano ético, a obrigação é exigível pelo ditame moral, por dever de consciência. Já no plano jurídico, a obrigação é exigível por força de lei, desde que seu objeto 5 seja lícito e possível. Este dever é tutelado pelo poder judiciário, instrumento do Estado para dizer o direito (jurisdição). As obrigações têm três elementos: Subjetivo - os sujeitos, as pessoas envolvidas na obrigação; Objetivo - , que é o objeto, a prestação, ou seja, a coisa ou a ação que configura a materialidade da obrigação; Vínculo - que é a própria essência, a razão de ser da obrigação. Uma obrigação pode ser: • Unilateral – É a obrigação do pai em manter o filho, de pagar tributos, de prestar serviço militar, de votar, de fazer uma doação prometida. • Recíproca - Comprar e vender, permutar, prestar um serviço sob remuneração, que gera obrigações simultâneas a ambos os sujeitos. No caso de obrigações recíprocas temos o devedor (aquele que tem o dever de obrigação) e o credor ( aquele que tem o direito de receber a prestação). O vínculo, de caráter jurídico, possui dois aspectos a saber: dever e responsabilidade. Dever: É o cerne da obrigação, é o motor do cumprimento da obrigação do devedor ao credor. A obrigação quando cumprida voluntariamente, realizado o dever de moto próprio pelo devedor, cessa sem nenhuma sanção. Dever - ação voluntária de pagamento da prestação de uma obrigação. Responsabilidade: Quando o devedor não cumpre o dever, tornando-se inadimplente de sua obrigação, ele gera o direito ao credor de exigi-la e solicitar a tutela jurídica para o cumprimento da obrigação. O devedor responde pelo descumprimento da prestação e o expõe à sanção da lei. É condição sine qua non para a responsabilidade o descumprimento de um dever. 6 Responsabilidade - é a condição do sujeito que em descumprimento de dever expõe-se à reparação coercitiva. Além da lei e da manifestação da vontade das partes, outra fonte de obrigação é o ato ilícito. Como vimos, a conduta humana é balizada pela norma. No mundo ético, não é próprio falar-se de ato ilícito, mas de condutas reprováveis moralmente. Já no jurídico, a conduta reprovada pela lei é a danosa e exclui da licitude toda a ação que possa causar dano à pessoa ou à sociedade e seus bens. O autor do ato ilícito responde pelo dano causado por sua conduta e tem a obrigação de repará-lo e submete-se à sanção que a lei determinar . Ato ilícito - conduta contrária à norma que viola direito ou produz dano ao terceiro. O autor do ato ilícito é então também responsável pela obrigação, tanto quanto o inadimplente de dever. A culpa é o descumprimento do dever ou o ato ilícito causado por indivíduo. É culpado aqueleque, por ação ou omissão, por vontade, imperícia, negligência ou imprudência realiza conduta que causa dano e quando assumida por vontade para produzir o resultado do ato ilícito, chama-se dolo. Culpa - elemento subjetivo do ato ilícito onde o agente é responsabilizado pelo dano causado. Dolo - vontade consciente de produzir resultado ilícito. Qualquer profissional qualificado e habilitado para o exercício de profissão regulamentada é detentor de uma gama de conhecimentos técnicos, artísticos e científicos. Na sua prática profissional está implícita a obrigação de bem usá-los. É um dever seu a aplicação das melhores soluções técnicas para a consecução de seus serviços e obras. O descuido da conduta técnica com qualquer procedimento de seu domínio intelectual gera descumprimento de dever de ofício e o torna responsável técnico pelas conseqüências. Responsabilidade técnica - é a responsabilidade decorrente da não prestação de 7 dever de arte, ofício ou profissão técnica que cause lesão a direito ou dano a terceiro. O que é deontologia? Na prática, um problema surge: Como a Ética, a Moral e o Direito podem estabelecer diretrizes concretas de comportamento do homem? Esta questão remete à normativa de condutas, à padronagem de procedimentos, ao estabelecimento de parâmetros, limites e modos de fazer. Este é o objeto da Deontologia. A palavra foi criada por Jeremy Bentham a partir de radicais gregos: déon + ontos + logos (deon – dever; ontos – ser; logos - conhecimento). Do grego, temos o radical déiontos, que significa necessidade. É o campo da Filosofia que volta sua atenção sobre os deveres do homem, sobre a sua conduta necessária. Deontologia - ciência do campo da ética que estuda os sistemas de moral, tratando do dever. A importância da Deontologia fica evidente quando visamos chegar ao sistema de normas profissionais e aos deveres do profissional ante seu labor, seu grupo social específico e a sociedade. Em cada momento o profissional se deparará com normas, que estarão, além de recomendando atitudes e vedando condutas reprováveis, apontando para o que deve ser feito. Deontologia profissional - O indivíduo, além dos deveres morais e jurídicos impostos a comunidade, assume deveres de ordem profissional específica. O subsistema profissional tem inter-relações internas, e é parte integrante e interage com o sistema social. Neste aspecto, o circuito ético interno da profissão reflete e tem interesse para a comunidade social em geral. O que faz ou deixa-se de fazer na prática profissional afeta a todo o conjunto de indivíduos, a toda a sociedade. A partir desta consideração, podemos ensaiar o grande princípio da ética profissional: O exercício de uma profissão é voltado para a satisfação dos interesses do homem e da sociedade. Considerando os preceitos da ética, podemos montar um quadro de deveres e estabelece-los em três ordens: 8 Primeira – Os deveres para com o usuário, beneficiário ou consumidor (deveres com a sociedade). Segunda – Os deveres com os demais agentes da produção, os outros profissionais e os colegas (deveres de classe). Terceira – Os deveres com a própria profissão, o cuidado com a própria ferramenta intelectual, o campo prático de saber que lhe titula. Nem por isso tais deveres seriam divisíveis em três grupos deontológicos distintos, mas devem ser observados tanto no trato com a profissão, com os demais agentes de produção, bem como, com os beneficiários do processo. Deveres profissionais fundamentais: • Conhecimento - o profissional deve conhecer todos os fundamentos científicos, técnicas e métodos que fazem o conteúdo de seu ofício. Esse domínio o distingue do leigo a quem presta uma utilidade. A formação intelectual adequada e continuada, na teoria e na prática, é o fator qualificador do profissional. • Serviço - a profissão é um instrumento de serviço da humanidade. O profissional é um agente da profissão . Seu objetivo é servir à humanidade, tanto no plano individual como no social, mesmo sendo a profissão a fonte de sustento do indivíduo. • Identidade - profissional e profissão são elementos de um corpo único. Sem vocação, a atividade escolhida não será fonte de prazer. Sem prazer, o produto não trará a marca da personalidade do produtor, não terá expressão como arte. A qualidade será meramente formal, talvez eficaz, mas não apresentará superação. O homem que ostenta um título profissional representa a própria profissão em seu contexto cultural e em sua dinâmica histórica. • Dedicação - a especialidade a que se propõe é prioritária no cotidiano do profissional. Sua colocação nas estruturas de produção faz de sua atividade não só fonte de seu sustento como seu mister maior. A ostentação de um título profissional obriga a aplicação do tempo e do intelecto do profissional com prioridade à sua profissão. • Autocrítica - o primeiro avaliador do trabalho de um profissional é ele próprio . Antes de submetê-lo à apreciação de terceiros ele deve apreciá-lo. A convicção de prestação de 9 uma utilidade em seus aspectos múltiplos , metodológicos, técnicos, científicos, artísticos deve ser, sem complacência submetido ao crivo próprio. A prática da autocrítica impede de o profissional ir além dos seus limites pessoais, evitando exorbitâncias, imperícias, imprudências e erros. A reflexão sobre seu próprio trabalho é fator motivador da busca da melhoria pessoal e do incremento de qualidade em seu serviço. • Qualidade - a especialização por si só aponta na melhor qualidade de um produto em relação à não-especialização. O resultado do serviço do profissional necessariamente é melhor que o do não-profissional. O especialista tem o dever de produzir um serviço que almeje progressivamente a melhoria de qualidade do seu produto e do seu meio. • Perícia - pressupõe-se que o especialista é perito em sua especialidade. Ele é detentor dos conhecimentos necessários ao desempenho de seu ofício. Tais conhecimentos, porém, são limitados. O profissional é perito no que sabe, não devendo ir além destes limites, mesmo que as circunstâncias legais ou contratuais sejam complacentes. Dentro de seus limites intelectuais, deve agir com o máximo denodo e destreza . • Competência - entenda-se competência não só no sentido vulgar de habilidade, destreza, perícia. Competência é a capacidade de competir. Em um mundo com tendências liberalizantes, mais que um direito, competir é um dever. Entende o pensamento liberal que a livre competitividade promove o desenvolvimento. Se o profissional é um agente de desenvolvimento, seu dever é ser competitivo. Competência é procurar oferecer produtos e serviços melhores que os correntemente ofertados. Competência é superar as marcas anteriormente ou usualmente conseguidas. Competência é, minimizando os recursos, otimizar os resultados. • Sociabilidade - não se pode esquecer que o profissional faz parte de pelo menos dois grupos sociais: a sociedade e o grupo de sua especialidade, a sua classe profissional. Os conhecimentos de sua profissão, além de serem um patrimônio de toda a humanidade, são compartilhados pelos membros de sua classe. Numa perspectiva histórica, estes conhecimentos são o produto do acúmulo do trabalho de milhares de homens e mulheres que nos antecederam. Muitos deles, não raramente, vindos desde tempos imemoriais. O profissional é apenas um elemento deste complexo cultural, 10 embora o represente pessoalmente. A postura social do indivíduo deve superar seu egoísmo. É seu dever compor e participar tanto de sua sociedade como de sua classe com espírito cooperativo, desenvolto e integrado. A Deontologia (do grego deon – dever; ontos - ser; logos – conhecimento) nos mostra que o profissional tem deveres com a sociedade, com a sua classe e profissão. Ele deve primar pelos deveres fundamentaisda profissão que são: Conhecimento, Identidade, Dedicação, Serviço, Qualidade, Autocrítica, Perícia, Competência e Sociabilidade. Agora que já compreendemos os fundamentos da moral e da ética e seus desdobramentos, vamos analisar e fazer uma reflexão sobre como ocorrem na nossa sociedade. REFLEXÃO E INFORMAÇÕES IMPORTANTES Atribuição e capacidade de projetar. Por força de resoluções do CONFEA, amparadas em legislação federal, todo profissional tem como competência fazer projetos e executar obras. Ser projetista ou executor em sua modalidade é uma forma de atribuição natural. Tanto atribuição como a capacidade impõe fronteiras à primariamente livre e ilimitada ação que a pessoa, no exercício de uma profissão, tem para ir ao seu meio e agir. Primeiramente, tentemos deixar clara a diferença entre atribuição e capacidade 11 Atribuição Capacidade Faculdade de fazer Poder de fazer Limitação externa do profissional Limitação que tem dentro de si Lei impõe limite Habilidade e conhecimento impõe limite Nivela a todos pela média Individualiza o profissional, destacando de acordo com a sua criatividade Genérica e abstrata Individualizada e verificada na prática Este aparente conflito conceitual entre o que posso fazer e o que me deixam fazer se resolve pela via ética. É necessário, no entanto, assumir uma conduta razoável atendendo aos próprios limites. É um postulado ético que as nossas profissões se caracterizam pelos “resultados sociais, econômicos e ambientais do trabalho que realizam” (CEP, art. 4º). Isto quer dizer que temos compromisso com os resultados, desde a concepção de um projeto de edifício, até sua realização e uso final. E os resultados só podem ser atingidos se empregarmos toda nossa capacidade de realização naquilo a que nos dedicamos. Assim como, se limitarmos nossa dedicação dentro dos parâmetros exigidos em lei. A profissão se realiza pelo alcance dos resultados propostos, através do emprego da capacidade individual, dentro das atribuições legais. Um outro conceito interessante para esta reflexão é o que diz que não deve o profissional“aceitar trabalho, contrato, emprego, função ou tarefa para os quais não tenha a devida qualificação” (CEP, art.10, II, ‘a'). Qualificação é exatamente estar preparado e habilitado para o exercício de uma profissão. Estar preparado tanto no sentido de ter sido educado para tal, como no de ter o poder pessoal de resolução. Estar habilitado é preencher os requisitos formais da regulamentação da profissão, entre eles, a observância das atribuições profissionais de sua modalidade. No efetivo exercício ético profissional não só é suficiente o gozo das 12 faculdades delegadas pelas atribuições profissionais, como é necessária real capacidade de desempenho de suas tarefas . Regulação e controle da atividade projetiva e executiva Poder de polícia. Assunto do Direito Administrativo que se torna interessante para o posicionamento do profissional ante a administração pública. O poder de polícia emerge da tensão entre a autoridade da administração pública e a liberdade individual. Seu objetivo é fazer valer a supremacia do interesse coletivo sobre o do indivíduo. Os órgãos públicos exercem esse poder de defesa dos interesses da sociedade e do Estado, impondo normas de conduta formal ao indivíduo. Cada órgão público é dotado de autoridade sobre uma determinada esfera de competência. A lei dispõe sobre a competência do órgão como forma de limitar sua ação autoritária em defesa da coletividade. Ainda que o instituto do poder de polícia vise a proteção e a incolumidade social, os direitos individuais devem ser respeitados. O poder de polícia não é arbitrário, devendo ser exercido dentro do princípio da legalidade. Ato da administração pública no exercício de seu poder de polícia que fira a esfera de direitos subjetivos é passível de exame pelo Poder Judiciário. Em nosso universo profissional diversos são os organismos da administração que detêm o poder de polícia sobre nossa atuação. O Município com suas posturas, a Polícia Militar com sua vigilância da ordem pública, os organismos de preservação ambiental, as instituições de saúde pública, etc. Neste complexo destaca-se o CREA, com poder de polícia sobre a prática formal específica das profissões convergentes para o projeto edilício. 13 Dano: Há dois conceitos de dano. No Direito Civil, dano é o prejuízo ou a perda de um bem juridicamente protegido. No Direito Penal, é a destruição, inutilização ou deterioração de coisa alheia. É o resultado de conduta que muda, num bem de terceiro, o seu estado de indene (in + dene = sem dano ). O bem a que se refere à lei tem alcance não só a bem material ( patrimonial ), mas também o bem pessoal, moral ou estético (extra-patrimonial). O dano ocorre em duas condições: provocado na esfera jurídica de terceiro e ser resultante de ato ilícito. A pessoa que lhe deu causa, culposa ou dolosamente, responde pelo dano. A conseqüência do ato é a obrigação civil de repará-lo, restaurando o seu estado primitivo de indene através da indenização No Campo Penal, dano é tipificado como crime, respondendo o autor com a pena a ele cominada. O agente causador do dano é por ele responsável. Se decorrente de procedimento próprio de profissão, arte ou ofício, surge o responsável técnico, cabendo penalidade administrativa. Contrato Define-se contrato como "o acordo de vontades para o fim de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos". O ato contratual não deve ser confundido com seu instrumento, eis que este é o assento documental formal do acordo de vontades, mesmo porque, contratos verbais não instrumentados são possíveis. A validade de um contrato exige certos requisitos: • As partes - Deve haver um contratante e um contratado. • A capacidade contratual - Os sujeitos contratantes devem ser capazes para sua realização • O objeto - Deve existir um objetivo. Mais que existente, o objeto deve ser lícito, possível e determinado. • A forma - Certos tipos de contrato são executados segundo uma forma legal e deve ser a prescrita ou não proibida em lei. É um ato jurídico privado, mas regulado em lei. 14 Propriedade intelectual Quando falamos em propriedade, nos vem à mente a idéia de bens imobiliários (terra, suas plantações, edificações, objetos móveis palpáveis). Estes bens são materiais. Há outra gama de bens não materiais que sujeitam-se à relação de propriedade que no entanto não são palpáveis. São os chamados bens incorpóreos ou imateriais. Aos bens decorrentes da produção literária, científica, artística ou aqueles da tecnologia que objetivam invenção, desenho ou modelo industrial, estabelece-se a relação de propriedade intelectual com seu criador. É uma forma de direito dominial que se origina da geração, da criação de bem incorpóreo. Um livro que você tenha em mãos é sua propriedade, enquanto livro-objeto. Já a literatura, a criação das idéias que ele transmite são propriedade do autor. Para os profissionais de nossa esfera projetiva, este conceito se torna importante na relação com o cliente. Um edifício é propriedade do cliente que o mandou executar. Mas, a idéia de sua concepção, o desenvolvimento tecnológico para sua realização são propriedades intelectuais do profissional. Em última análise, um projeto é de propriedade do profissional que o elabora. O cliente tem o direito contratual de sua realização no plano de sua propriedade material. Os direitos de autoria, de marcas e de invenção são o vínculo de domínio do autor com a produção intelectual. Direito de construir Construir é conseqüência lógica do direito de propriedade. É forma de fruição da propriedade imobiliária, o solo, sendo o edifício acessório patrimonial do principalque é o imóvel. Constitucionalmente, há um limitador para o direito de propriedade, qual seja, o interesse social. Estes limites se encontram na legislação ordinária, na forma dos direitos 15 de vizinhança e na regulamentação administrativa. Antecedem à prática construtiva certas faculdades dos vizinhos e do interesse coletivo, dispostos em regras administrativas, que condicionam sua execução. O projetista da edificação deve, ao servir seu cliente proprietário e titular deste direito, estar atento aos interesses dos vizinhos e às determinações administrativas. As penalidades pela transgressão vão desde multas pecuniárias, ao embargo e até ao confisco e à demolição compulsória, havendo ainda a eventual obrigação de indenização por danos. O projetista pode ser responsabilizado se der causa ao fato ilícito. Concursos e licitações A administração pública vale-se, na prestação de serviços públicos, da prerrogativa de contratar profissionais para desenvolverem tarefas como agentes da administração, ou na prestação eventual de serviços. Oferecem-se oportunidades para os profissionais de engenharia e de arquitetura e de todas as outras profissões de prestarem serviços ao poder público, quer seja ele Federal, Estadual ou Municipal, quer seja do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário. A administração é sempre um potencial consumidor de serviços profissionais. Há duas formas de prestação de serviços à administração: Funcionário público - Profissional pessoalmente desempenha atividade técnica permanente. Autônomo ou empresa - Presta serviço específico sem vínculo empregatício. Em ambos os casos, a prestação se dá por via contratual. Uma difere da outra pela forma de acesso. No vínculo como empregado público, o profissional é selecionado por concurso público. Convocado por edital, as regras são preestabelecidas, a matéria de conteúdo a ser examinada é definida e a igualdade de condições entre os candidatos é assegurada. É selecionado o que apresentar melhor preenchimento de requisitos, o mais capaz. Na modalidade de serviços eventuais, seleciona-se por licitação. Nesta forma de acesso, em 16 tudo semelhante ao concurso, seleciona-se o que oferecer melhores condições de execução do objeto desejado, destacando-se melhor preço e técnica. Os concursos de projetos para obras de maior repercussão atendem à formalidade licitatória. Há, no entanto, um dispositivo legal que prevê dispensa de licitação para serviços de pequena monta ou de que só haja um profissional disponível para prestá-lo. De qualquer forma, a prestação de serviços técnicos à administração se dá pela competição com igualdade de condições. Nomeação direta - A pessoa é designada pela autoridade para o desempenho de determinada função em caráter pessoal, os chamados cargos em confiança ou comissionados. Têm função política e são sempre desempenhadas em caráter precário. Erro técnico: Juridicamente o erro é um vício da vontade consistente na percepção falsa da realidade, quando há um descompasso entre o que se quer fazer e o que efetivamente acontece no mundo real. É um vício de vontade aparente no resultado, decorrente de incúria com norma ou preceito de arte, profissão ou ofício. Ocorre quando o agente, pessoa habilitada para determinada prática, age com dolo, imprudência, negligência ou imperícia. Processualmente, só pode se dar mediante perícia técnica elaborada por profissionais que tenham o domínio de conteúdo da questão. O juiz tem a prerrogativa de julgar e, como leigo na questão técnica, vale-se da perícia como meio de prova. O erro técnico se manifesta por resultado diverso do esperado, normalmente com dano , patrimonial ou extrapatrimonial. Quem pratica ato viciado, mediante erro, é responsável pelos danos a que der causa. No erro técnico, além das responsabilidades civis e criminais, tem o agente ainda a responsabilidade técnica. Sujeita-se, além das penalidades previstas na lei civil e penal , às sanções administrativas. No caso de engenheiros e arquitetos, quando praticado erro técnico, além das reparações indenizatórias e da submissão a penas criminais, responde ante o órgão 17 administrativo que tiver poder de polícia sobre a prática de sua profissão. Neste caso, o erro técnico pode ser apreciado e penalizado pelo CREA, desde que haja legislação específica que contemple a ocorrência em questão. O erro técnico, se não tem origem no projeto, é decorrente de inobservância executiva de alguma prescrição contida nele. Direito do consumidor A Constituição Federal de 1988 consagra o cidadão como consumidor de bens e serviços e titular de direitos específicos nesta especial relação econômica. Dentro do Direito Civil, a matéria é já objeto de codificação distinta. Como cidadão, o profissional é consumidor e titular destes direitos. Mas, ao prestar serviços ou fornecer bens de sua produção técnica é encarregado de obrigações face ao consumidor. O serviço técnico tem o mesmo enfoque que qualquer outro serviço à luz do Código de Defesa do Consumidor . O consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatária final. Os produtos são quaisquer bens móveis ou imóveis, materiais ou imateriais. Os serviços são quaisquer atividades fornecidas ao mercado de consumo, mediante remuneração, exceto as de caráter trabalhista (lei específica).Verifica-se que aqueles postulados que já tínhamos como sendo do compromisso ético destas profissões, aqui é norma legal de cumprimento coercitivo. E assim, finalizamos o módulo de ETICA e RESPONSABILIDADE. Como pudemos constatar ao longo desse estudo, o bom profissional sempre será distinguido não somente pelas suas qualidades técnicas e criatividade, mas também pela ética e por sua responsabilidade com toda a sociedade e, em especial seus clientes, que no final das contas são o seu maior patrimônio.
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