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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA HISTÓRIA DO ORIENTE CONTEMPORÂNEO Hugo Renato de Medeiros Santos RESENHA BIBLIOGRÁFICA HOURANI, Albert. Uma história dos povos árabes. São Paulo: Cia da Letras. 2006. p. As tentativas de expansão imperial europeia no Oriente ao final do século XVIII mostraram a formação de uma maior unidade na região contra invasões estrangeiras, mas que não estava com capacidade de enfrentar igualmente tal incursão Ocidental. Havia um pensamento de que os líderes orientais conseguiriam afugentar o inimigo, mas que não foi posto em prática e, em alguns casos, havia uma certa admiração pela cultura ocidental, seus cientistas e viajantes. Além disso, as compras realizadas por franceses e ingleses abriam mercados na Argélia e no Egito, além de influenciar mercadores locais, influenciados pelo bloqueio aos europeus no Mediterrâneo Oriental. A crescente industrialização no século XIX, incentivada por uma revolução logística nos transportes, facilitara substancialmente as vendas para regiões mais distantes da produção em massa gerada pelas novas indústrias, possibilitando novos mercados, embora no Oriente o crescimento das redes de transporte fosse precária. A oferta para exportação aumentou 800% em razão da crescente concentração de populações urbanas, especialmente na Grã-Bretanha, além dos novos mercados surgidos no Oriente. Essa população urbana, composta majoritariamente por trabalhadores industriais, consumiam uma grande quantidade de grão que precisava ser importada. Para se ter uma ideia, a população da Europa aumentou aproximadamente 50% de 1800 até 1850. A demanda por manufaturas crescentes levou a produção de algodão torna-se intensa no Egito, cujo valor da moeda se igualou a da moeda europeia por conta das fortes exportações. Apesar desse crescimento econômico da exportação de algodão, a expansão demográfica do Oriente continuara limitada, especialmente pelas doenças e pela precária industrialização. A influência religiosa da Europa também criava uma certa diplomacia com os religiosos da parte oriental, a exemplo da diplomacia entre católicos e ortodoxos. Aliada à influência da Revolução Francesa, as ideias nacionalistas e anti-muçulmanas levavam a alguns levantes e formação de estados independentes no Oriente, com ajuda do Ocidente. A expansão do domínio francês na Argélia e no Egito, por exemplo, teve motivação por dívidas financeiras, mas encontravam certa limitação na formação de líderes muçulmanos. Aos poucos, esses líderes foram sendo vencidos, assim como as tradicionais práticas de cultivo, que cediam espaço para terras concedidas a senhores com posses para administrá-las, acabando com a relação servil das terras. Desse modo, os trabalhadores tornavam-se meros ofertantes de mão-de-obra expropriados de suas antigas terras por não possuírem condição de saldar suas dívidas. Na tentativa de angariar mais “votos”, as autoridades franceses passaram a adotar posturas mais conciliatórias e deixar com que pequenos agricultores continuassem em suas terras. O Império Otomano buscara, contudo, retomar a força de suas províncias muçulmanas, com decretos que fortalecem os poderes militares e locais, além de agir de forma mais diplomática, tratamento mais justo entre as culturas diferentes e um comércio mais livre, apenas cobrando impostos de quem não fosse muçulmano. Sob invocação do “Altíssimo”, e buscando a autoridade tradicional, as províncias conseguiram restaurar sua autonomia, e dispor terras em conformidade não apenas com as relações familiares, mas também com a capacidade de pagamento de tributos de quem as fossem ocupar, uma vez que agora cristãos e judeus também poderiam ser donos de terra, desde que pagassem tributos por elas. Tal liberdade era constantemente reforçada pelos líderes europeus, que viam o Império Otomano como uma forma de manutenção da ordem no Oriente, além de certo temor ao recordar as invasões napoleônicas. A facilidade dos comerciantes europeus levava a um enfraquecimento do mercado local, as imposições com formação militar e as classes privilegiadas criavam um ambiente cada vez mais diferente nas províncias do império. O descontentamento crescente levava a formação de grupos rebeldes que pediam mais autonomia em relação ao império e à influência ocidental, assim como uma maior valorização das tradições e menos cobrança de impostos. Apesar de alguns acordos de paz, a influência externa ameaçava o império, pois incentivava revoltas nacionalistas que visavam a independência. Tais tensões se acentuaram com a transição do poder dos altos burocratas para o sultão Abdülhamid II e seu entourage, enfraquecendo o poder turco do império a partir de 1876. O crescimento dos gastos estatais levou o Império Otomano a tornar-se dependente de credores europeus a partir de empréstimos de bancos. Fatos parecidos ocorreram em outros países, como Tunísia e Egito, embora as soluções tivessem tido rumos diferentes. No Egito, houve uma modernização maior da infraestrutura, principalmente com a construção do canal de Suez, com empréstimos vindos da França. Tais empréstimos incentivaram a Grã-Bretanha investir na região. Porém, as dívidas estatais se tornaram elevadas demais, ao ponto que a Grã-Bretanha interviu até mesmo militarmente na região. Tal fenômeno foi vivenciado em diversos países endividados da região, como na intervenção francesa na Argélia. Os europeus, administrando até as forças policiais, mantiveram intervenção até na infraestrutura, com mais gastos com obras públicas, o que equilibrava a balança comercial deficitária da religião, que importava muito da Europa. O controle estatal se dava de forma intensa através de concessões de serviços públicos que acabavam privilegiando senhores de terras, como o próprio sultão Abdülhamid, e investidores externos, que tinham poder de barganhar preços e determinar níveis de produção em um mercado que não estava em concorrência. Em relação às terras, os privilégios de concessão a terras de familiares políticos e altos funcionários foi sendo mitigado pela propriedade privada sem restrições, em razões das mesmas dívidas feitas para financiar o setor público. Com empreeendedores europeus, uma nova configuração de uso de terra se instaura, levando a revolta de pequenos agricultores expropriados por serem pobres demais para pagar impostos, além de causar aumento intenso da população europeia na região, com melhora nas redes de transporte, saúde, e nutrição, trazidas pela expansão da produção capitalista. Na Argélia, por exemplo, a população aumentou mais de 300% em 50 anos. Ao mesmo tempo em que aumentava-se a produtividade das terras, os europeus ganhavam mais força administrativa na região, tendo certo receio das populações nômades, que poderiam se comportar de força insurreta. Apesar disso, as cidades tornavam-se cada vez mais europeias, com carruagens puxadas à cavalo, arquitetos italianos, ópera, fim da escravidão doméstica, e até mesmo os velhos trajes muçulmanos dos grupos de elite iam sendo substituídos por vestimentas europeias. Assim, as antigas vilas iam sendo substituídas pelos moldes europeus de cidade.
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