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1 Louyse Jerônimo de Morais Fisiológico Em qualquer pessoa, o corpo se comporta assim: a alimentação faz com que os nutrientes sejam distribuídos pelo corpo e caiam na corrente sanguínea, fazendo o adipócito se ingurgitar [normalmente, com alimentação mais gordurosa]. Quando essa célula fica cheia, ela manda um sinal para o SNC para indicar a saciedade. O nome desse sinal é a leptina, que nada mais é do que um hormônio anorexígeno. A nível de intestino cheio, existem ações mais rápidas. O intestino delgado, por exemplo, faz distensão inicial e já “fala” que está cheio, através de CCK, GLP-1 e PYY, que são hormônios de estoque. Existe um único hormônio liberado pelo estômago chamado grelina, capaz de dar fome. Nessa situação, quando o estômago ficar cheio/distendido, ele não vai liberar mais a grelina. Ela é o único hormônio orexígeno do corpo. No paciente que tem obesidade, esses mecanismos estão alterados. A partir do momento em que a pessoa se torna obesa, ela vai ter dificuldade em induzir à saciedade, então os níveis de grelina estarão mais aumentados do que o normal quando o estômago está vazio. Da mesma forma, a pessoa tem mais dificuldade de liberar os hormônios anorexígenos quando come. É em cima desse status hormonal que a pessoa obesa vive. Classificação da obesidade • Sobrepeso: 25-29,9 • Obesidade grau I: 30-34,9 • Obesidade grau II: 35-39,9 • Obesidade grau III: ≥ 40 • Superobeso: ≥ 50 • Super-superobeso: ≥ 60 O superobeso tem um maior índice de complicações quando comparado com obesos grau III, por exemplo. Indicações cirúrgicas • IMC > 40 • IMC > 35 + comorbidades • IMC ≥ 30 + DM2 grave: nesse grupo de pacientes, não se chama de cirurgia bariátrica, mas cirurgia metabólica, porque o fator que indica a cirurgia é a diabetes; só pode fazer cirurgia a partir de 30 anos. Comorbidades que indicam bariátrica • Idade: maior de 18 anos ou maior de 16 anos, com autorização. • Refratário: o paciente tem que ter tentado terapia clínica por pelo menos dois anos. Precauções • Uso crônico de drogas e etilismo: contraindica cirurgia. O etilismo tem que ter sido interrompido por pelo menos seis meses. • Distúrbios psiquiátricos descompensados: tem que ter laudo de psiquiatra e psicólogo • Não compreensão: tem que compreender a cirurgia. Técnicas cirúrgicas 1. Banda gástrica ajustada Técnica exclusivamente restritiva, não mexe na absorção do alimento, mas faz restrição alimentar. O problema é que ela utiliza um anel regulável, que o próprio paciente pode descobrir que pode ajustar KKKKK. • Complicações: deslocamento do anel, reganho de peso. 2. Sleeve - vem de manga de camisa 2 Louyse Jerônimo de Morais Não faz desvio de trânsito. A princípio, sempre foi uma técnica restritiva. Trata-se de uma gastrectomia vertical. Hoje em dia, é o procedimento bariátrico mais realizado em todo o mundo. • Complicações: normalmente não dá, mas quando dá, tem-se a famosa fístula do ângulo de His. Além disso, em um momento inicial, aumenta o refluxo. Portanto, paciente com DRGE grave não deve realizar sleeve, porque vai piorar o refluxo. O esôfago não tem serosa, por conta disso, é mais exposto a ter deiscência de grampeamento ou anastomose. Como esse órgão permanece com piloro, a comida passa a se acumular retrogradamente e, em algum momento, começa a estufar o estômago. É isso que dá saciedade precoce e faz o paciente emagrecer. Se ocorrer no pós-operatório imediato, faz pressão no ângulo de His, dando “deiscência”. 3. Bypass gástrico em Y de Roux Vai reunir a restrição, porque o estômago vai ser bastante reduzido de tamanho, mas também há uma alça de disabsorção. Contudo, a restrição é a parte mais importante. A comida só começa a ser digerida depois que a alça alimentar se encontra com a alça biliopancreática, para formar a “via comum”. • Classificação: mista restritiva; o componente restritivo é mais importante. • Técnica: pouch gástrico [corta o estômago, deixando apenas uma bolsinha cabendo 30ml] + Y de Roux [75 a 150 cm; componente disabsortivo]. Complicações • Deiscência de anastomose gastrojejunal ou biliopancreática [jejunojejunoanastomose ou enteroenteroanastomose]: quando cai secreção na cavidade peritoneal, se você der sorte de drenar, só pelo aspecto da secreção, já se sabe onde foi o problema. Estatisticamente, é mais comum o problema ser lá em cima. Olhando a secreção, pensa assim: na de cima só passa saliva e comida, não passa bile; embaixo, passa bile. A ideia é que, se tiver secreção com bile saindo pelo dreno, pensa na anastomose mais distal, se não tiver, provavelmente vai ser lá de cima. • Hérnia de Petersen: hérnia interna. Os vasos intestinais chegam pelo mesentério. Para levar uma alça até a outra sem tensão, o cirurgião tem que cortar o mesentério. Pode ser que um dia, as alças entrem no “buraco” que ficou, o que gera torção e obstrução no paciente. Para evitar isso, os cirurgiões podem fechar a brecha do mesentério. Se já aconteceu, tem que abordar cirurgicamente [desfazer a torção e fechar a brecha do mesentério]. • Deficiências vitamínicas: ferro, B12, B1. Quanto mais disabsorção a cirurgia tiver, mais deficiência nutricional o paciente vai ter. Não quer dizer que o indivíduo que faz cirurgia apenas restritiva não vai ter desnutrição, ele só vai ter menos do que os outros pacientes. Quase que imediatamente após a cirurgia, o paciente diabético regula o índice glicêmico. Em resumo: sleeve é ruim para refluxo, enquanto o bypass é bom para refluxo e para DM2. Técnicas com importância histórica 4. Scopinaro • Cirurgia mista disabsortiva • Técnica: gastrectomia horizontal [retira o piloro, então o paciente não vai ter refluxo, mas a secreção ácida do estômago vai cair na alça - pacientes evoluíram com desnutrição importante]. • Canal comum: 50 cm. 3 Louyse Jerônimo de Morais • Colecistectomia: emagrecimento muito rápido gera fator de risco para formação de cálculo na vesícula. Qualquer cálculo que caísse ia necessariamente precisar de exploração cirúrgica aberta. Já que o paciente vai emagrecer rápido, faz retirada de vesícula também. • Complicações: todas do bypass + desnutrição proteica mais acentuada ainda, úlcera de boca anastomótica. 5. Switch duodenal • Cirurgia mista disabsortiva. • Técnica: gastrectomia vertical [poupa-se o piloro], canal comum [100 cm], colecistectomia e apendicectomia [se tiver abdome agudo, vai ter como causa a cirurgia bariátrica]. • Complicações: todas do bypass + desnutrições proteicas, porém com menos intensidade. A cirurgia começou a ser realizada em dois tempos, porque é gigante. Em um primeiro tempo, faz gastrectomia vertical, para a pessoa perder o peso, reduzir índice de complicações, depois complementar com a cirurgia definitiva. O problema é que ninguém voltava depois da gastrectomia vertical. Foi daí que surgiu o sleeve. O Sleeve não é só restritivo, pois o excelente resultado também é pela resposta hormonal diferenciada, uma vez que há retirada de células produtoras de grelina [produzida no fundo e no corpo gástrico]. Assim, os pacientes param de sentir fome. Em resumo - tipos de cirurgia • Restritivas: banda gástrica, gastrectomia vertical [sleeve ou em manga]. • Mistas restritivas: derivação gastrojejunal - bypass gástrico em Y de Roux, Fobi-Capella, Wittgrove ou Clark. • Mistas disabsortivas: Scopinaro [gastrectomia horizontal], Switch [gastrectomia vertical]. Complicações pós-bariátrica • Sleeve: estenose, fístula de His • Bypass: estenose, fístula alimentar / biliar, coledocolitíase, hérnia de Petersen. • Todas: hemorragia, reganho de peso, intolerância alimentar, deficiências vitamínicas. Resolução • Estenose: paciente que está vomitando,com intolerância alimentar e sem conseguir comer; faz EDA ou esofagografia, dilatação com balão. Se não der certo, faz bypass. Se já for bypass, reconstrói as anastomoses. • Fístula 4 Louyse Jerônimo de Morais o Precoce [< 6 semanas]: colocação de stent [capa por dentro do buraco] com ou sem dilatação à jusante, para maximizar a passagem do alimento pela via natural. O problema é que sempre que dilata, aumenta a possibilidade de reganho de peso. o Tardia [> 6 semanas]: quer dizer que o processo já se resolveu, mas que tem uma bolsa cheia de secreção dentro da barriga, que pode infeccionar. Já tem cápsula, então tem que fazer septotomia + dilatação. • Coledocolitíase: se bypass, faz CVL + exploração da via biliar. • Hemorragia: se não for autolimitada, faz EDA para controlar o processo. • Reganho: EDA ou esofagografia para identificar se existe aumento no tamanho da anastomose, se tem alguma dilatação. Se tiver, faz plasmo de argônio, que é um gás que só exerce efeito de coagulação superficial. Quando coagula, imediatamente, estreita. Depois cicatriza e reduz a estenose. Muito usado em bypass. Escolha da técnica operatória • Sleeve: déficit nutricional ou tumor/pólipo gástrico. • Bypass: DRGE e/ou DM tipo 2. Cirurgia para refluxo não funciona em obesos, então tem que fazer bariátrica de todo jeito.
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