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1 Louyse Jerônimo de Morais Introdução O cólon tem uma musculatura bastante desenvolvida. Ele é muito mais forte do que o delgado, porque a peristalse é para empurrar fezes pastosas e já prontas [delgado só empurra líquido]. A musculatura longitudinal são as “tênias do cólon”. Ao mesmo tempo que é forte, ele é todo furadinho, porque os ramos das artérias mesentéricas ficam margeando o cólon e depois emitem ramos que vão perfurar a parede colônica, atingindo todas as camadas até chegar na mucosa. Como a irrigação é de fora para dentro, há várias fenestrações. Fisiopatologia Quanto maior o tamanho das fezes, menor o esforço que o intestino tem que fazer. Quando o bolo fecal é muito grande, precisa de pouca força para empurrar ao longo do órgão. Quanto menor o tamanho das fezes, mais força de contração tem que fazer para empurrar as fezes para frente. Quem tem fezes pequenas, tem uma pressão colônica muito maior do que quem tem fezes grandes. O que mais vai influenciar tudo isso é a presença ou não de fibras na dieta. Quanto menos fibras, mais pressão. Nesse contexto, começa a criar pressão em zona frágil [zona em que a artéria entra], o que gera herniações através da parede do cólon. Os ramos perfurantes vêm e perfuram serosa, muscular e mucosa. Com o aumento da pressão intraluminal, cria-se herniação de mucosa e submucosa através da muscular do cólon. O divertículo verdadeiro tem que ter mucosa, submucosa, muscular e serosa. O exemplo clássico é o divertículo ileal congênito, que é o de Meckel. Herniação da mucosa e submucosa através da muscular do cólon - doença diverticular dos cólon. Características clássicas • Mais comum no sigmoide: já tem fezes prontas, então a pressão é maior. • Acomete mais idosos: dá tempo de ser formado. Idosos, em geral, têm fragilidade muscular, então essa perda proteica gera enfraquecimento da parede muscular, além do fato de esta viver muitos anos sob pressão aumentada. • A maioria é assintomática, quando tem sintomas, é totalmente inespecífico. Diagnóstico • Colonoscopia • Clister ou enema opaco: é o contraste retrógrado via anal, que é radiografado. 2 Louyse Jerônimo de Morais Hoje em dia, na prática, o diagnóstico é feito em pacientes que vão fazer rastreamento de câncer de cólon, assintomáticos. Complicações • Inflamação: diverticulite. É mais comum no cólon esquerdo [sigmoide], sendo a principal causa a obstrução por fecálito. Hoje em dia, existe uma teoria de que é a própria pressão intraluminal aumentada, que acaba perfurando o divertículo. • Sangramento: ocorre mais no cólon direito, tendo como motivo principal o trauma da arteríola tracionada. O buraco da arteríola propicia a herniação, esticando demais a mucosa e deixando tudo friável. O divertículo ou sangra ou inflama. O mais comum é inflamar. Diverticulite aguda Obstrução por fecalito → acúmulo de secreção e proliferação bacteriana → microperfuração [ocorre rapidamente, porque o divertículo é muito pequeno e não tem camada muscular] → conteúdo inflamatório no peritônio → abscesso pericólico A partir da fisiopatologia descrita acima, cria-se uma inflamação, com dor, febre, leucocitose etc. Temos que entender também que, na verdade, o termo correto é peridiverticulite, porque a inflamação é de fora para dentro e não de dentro para fora. Clínica • Dor localizada na FIE [insidiosa] • Diarreia ou constipação • Febre “Apendicite à esquerda no idoso” Diagnóstico Pode ser feito clinicamente, mas normalmente faz TC. Evita-se colonoscopia e clister no momento da inflamação. Após 4 a 6 semanas, a colono está indicada, para excluir a possibilidade de neoplasia. Luz intestinal vazando gás para fora + coleção pericolônica Complicações da diverticulite • Abscesso: é a complicação mais comum. • Peritonite difusa: é a complicação mais grave. • Fístula: consequência de defesa do organismo para inflamação que está sendo obstruída. Pode ocorrer com outra alça intestinal, para a vagina etc. O local mais comum é a bexiga - fístula colovesical. O paciente vai urinar fezes, conteúdo intestinal e/ou ar [pneumatúria]. O grande motivo é a diverticulite, mas faz diagnóstico diferencial com câncer colorretal e doença de Crohn. • Obstrução intestinal: a obstrução mais comum é a de delgado, porque ele está em contato com o cólon. Se a alça dele colar na inflamação, pode fazer aderência e obstruir. Classificação de Hinchey • Estágio 0: diverticulite não complicada. • Estágio I: abscesso pericólico. o IA: fleimão o IB: abscesso pericólico. • Estágio II: abscesso pélvico. • Estágio III: peritonite purulenta • Estágio IV: peritonite fecal. Tratamento Complicada [abscesso ≥ 4 cm, peritonite, obstrução refratária]? • Não: suporte + ATB [7 a 10 dias], cirurgia eletiva se imunodeprimido, fístula, incapaz de excluir câncer. A cirurgia é ressecar a parte do cólon inflamada, que normalmente é o sigmoide, com reconstrução do trânsito. • Sim: abscesso ≥ 4 cm - ATB + drenagem + colono [4 a 6 semanas] + cirurgia eletiva [6 a 8 semanas] • Peritonite ou obstrução refratária - ATB + cirurgia de urgência [Hartmann] 3 Louyse Jerônimo de Morais • Opção para estágio III [peritonite purulenta]: lavagem laparoscópica, ao invés de fazer cirurgia de urgência. A ideia em não operar de urgência é que significa que a própria inflamação já fechou o divertículo, se tivesse aberto, já teria fezes na cavidade. Cirurgia eletiva: sigmoidectomia com anastomose primária terminoterminal Cirurgia de urgência: sigmoidectomia com colostomia terminal e fechamento do coto retal [cirurgia à Hartmann] QUESTÕES 1. Homem, 58 anos, apresenta queixa de dor abdominal mais acentuada em quadrante inferior esquerdo e febre de 38,5°C há 2 dias. Antecedentes pessoais de constipação intestinal. Ao exame físico, abdome plano, doloroso e com plastrão palpável em FIE, Blumberg ausente. O diagnóstico e a conduta são: a. Volvo de sigmoide, ATB endovenoso para germes gram positivos e anaeróbios. b. Perfuração de segunda porção do duodeno, USG abdominal. c. Neoplasia de sigmoide abscedido, colonoscopia. d. Diverticulite complicada, TC de abdome. 2. De acordo com a classificação de Hynchey, a diverticulite estágio III deverá ser tratada por: a. ATB venoso + observação clínica b. Drenagem percutânea c. Laparotomia + drenagem da cavidade d. Sigmoidectomia + colostomia terminal e. Sigmoidectomia + anastomose primária 3. Em pacientes com diverticulite do sigmoide com múltiplos episódios de agudização, a formação de fístula mais comumente observada é a do tipo colo: a. Entérica b. Vaginal c. Vesical d. Cólica 4. Atualmente, a indicação cirúrgica eletiva em pacientes com diverticulite aguda não complicada baseia-se: a. Na idade b. No sexo c. Na facilidade do procedimento por vídeo d. Nos sintomas de dor persistentes, mesmo entre os episódios de crises e. Nos surtos ocasionais de crise aguda e no tratamento ambulatorial 5. Na diverticulite aguda, pacientes com classificação de Hinchey grau: a. I apresentam abscesso pericólico localizado, podendo ser tratados ambulatorialmente com antibióticos e analgésicos. b. II necessitam de internação para realização de colonoscopia precoce para evitar complicações maiores. c. III dificilmente necessitam de procedimento cirúrgico e a laparoscopia sempre está contraindicada. d. IV necessitam de drenagem percutânea urgente, podendo ser guiada por USG ou TC. GABARITO: D, D, C, D, A Hemorragia digestiva baixa Os pontos mais comuns de sangramento colônico são à direita. Quem mais sangra na HDB é o cólon, não o delgado. Conduta • Estabilização hemodinâmica 4 Louyse Jerônimo de Morais • Hematêmese: EDA, pois faz diagnósticoe tratamento. • Enterorragia/hematoquezia: afastar HDA e hemorroida. Então, sempre faz EDA. Após afastar as causas citadas. Classificar: o Sangramento leve a moderado: colonoscopia - diagnóstico e tratamento. Se a lesão não for visualizada na colono por dificuldade técnica, pode partir para angiografia. Antes da angiografia, pode fazer cintilografia, que já começa a pegar sangramento na ordem de 0,1 ml/minuto. Porém, ela não trata e não diz qual é o vaso. É o exame mais sensível, mas não é obrigatório. o Sangramento maciço: angiografia ou arteriografia mesentérica [detecta sangramento na ordem de 0,5 a 1 ml/minuto]. Faz diagnóstico e tratamento com substâncias vasoconstritoras. ▪ Se nada resolver, faz colectomia. QUESTÕES 1. Qual das seguintes é a causa mais comum de hemorragia digestiva baixa? a. Neoplasia b. Angiodisplasia c. Diverticulose d. Hemorróidas e. Vasculites 2. Sobre a hemorragia digestiva baixa [HDB], é correto afirmar, exceto: a. A maioria das HDB representa emergência médica devido à instabilidade hemodinâmica que grande parte dos pacientes manifesta b. Por definição, é aquela hemorragia em que a etiologia se situa abaixo do ângulo duodeno-jejunal c. O exame endoscópico pode ser feito na vigência do sangramento d. Doença diverticular, tumores e angiodisplasia são as principais causas de HDB no idoso 3. Homem, 63 anos, veio ao PS referindo dor abdominal em cólica e um episódio de evacuação com sangue vivo há 1 dia. Exame físico: PA = 130 x 80 mmHg, FC 78 bpm, FR 14 irpm, oximetria de pulso [ar ambiente] = 98%; abdome: plano, normotenso, sem visceromegalia e sem irritação peritoneal; toque retal: sem sangue em dedo de luva ou massa. Hematócrito = 36%, hemoglobina = 11,8%, RNI = 1,02 e R = 0,97. Endoscopia digestiva alta: normal. A conduta é: a. Pesquisa de sangue oculto nas fezes. b. Radiograma de abdome ortostático e decúbito c. Colonoscopia d. USG de abdome GABARITO: C, A, C
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