Buscar

APOSTILA QUESTIONÁRIO 07 FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL 
 
 
A prática docente sofreu, ao longo da história, profundas alterações no 
que tange às leis que regem a profissão, às diretrizes pedagógicas e até 
mesmo à conduta em sala de aula, migrando de um ambiente mais tradicional 
para a mediação da apropriação do conhecimento. Nesse quesito, tanto na 
educação básica quanto no ensino superior, o papel do professor tem sido 
debatido e deve ser, de fato, (re)pensado. 
Seja por meio de uma prática docente presencial ou a distância, hoje 
em dia, com a velocidade da produção de informação, o professor será aquele 
que ajudará o aluno a separar o joio (desinformação ideológica) do trigo 
(conhecimento com base na veracidade dos fatos). 
Neste capítulo, você conhecerá o contexto da prática docente no Brasil 
e suas ramificações ao longo da história recente. Além disso, verá o papel do 
docente desde a educação básica até o ensino superior. Por fim, verá a 
relevância da prática docente crítica e reflexiva. 
AULA 08 
CONDIÇÕES MATERIAIS 
DO TRABALHO E DA 
PRÁTICA DOCENTE 
 
 
 
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: 
• Descrever a prática docente no Brasil e sua evolução histórica. 
• Analisar a prática docente em cada uma das etapas da educação 
básica ao ensino superior. 
• Discutir a prática docente a partir de uma abordagem dialógica, crítica 
e reflexiva. 
8 DOCÊNCIA NO BRASIL: UMA PRÁTICA EM CONSTANTE 
TRANSFORMAÇÃO 
Não há como negar que os contextos de temporalidade de cada época trazem 
consigo resquícios de um dado comportamento social e econômico, aliado a 
demandas que, por vezes, são debatidas e orientadas no âmbito das políticas públicas 
(GODINHO; FARIAS, 2018). Nesse sentido, como afirma Godinho e Farias (2018, p. 
192), “A cada período, década ou século que se passa os contextos vão se 
modificando, a demanda gera uma nova necessidade, da necessidade saciada surge 
um novo hábito, que origina novas rotinas e assim surge um novo ciclo [...]”. 
É sob essa ótica que a evolução histórica da prática docente no Brasil se 
assenta, e, por vezes, como meros expectadores dos resultados, os professores 
lamentam pelos índices que classificam o País e depreciam a imagem nacional 
(INSTITUTO PAULO MONTENEGRO, 2016). Mas de que vale se preocupar com a 
fotografia (resultados imediatos), e não lançar mão de meios para educar-se a si 
primeiro, para, depois, buscar contornar os reflexos (consequências) dessa paisagem 
(constatação), que ainda serão sentidos por anos e anos a fio? De quem seria a 
responsabilidade e a autoridade pela educação de crianças e jovens? Desde quando 
e como acontece a prática docente no Brasil? Qual o papel da prática docente da 
educação básica ao ensino superior? Diplomas e artigos científicos bastariam para 
qualificar essa prática docente? 
Por muito tempo, no Brasil, aprender a ler era uma possibilidade restrita a 
poucos, e, com a expansão da escolarização, a alfabetização, com seus questionáveis 
métodos, foi ganhando cada vez mais espaço. Assim, o analfabetismo estrito caiu 
vertiginosamente, porém convém admitir que o letramento, por si só, não basta. Hoje 
em dia, existem as dificuldades do aproveitamento escolar, o que sublinha a 
preocupação emergente com o analfabetismo funcional (INSTITUTO PAULO 
MONTENEGRO, 2016). Saber decodificar códigos e números e ler as sentenças sem 
conseguir interpretá-las torna-se um impasse limitante para a contratação e o 
progresso profissional de muitos formados em nível médio e até mesmo em nível 
superior. 
Nesse ínterim, os alunos que passaram compulsoriamente pelos ciclos 
escolares durante esse período da vida foram teoricamente formados para serem 
bons cidadãos e, com base nas atuais diretrizes educacionais instrumentalizados, 
trabalhadores (RIBEIRO, 1993). No entanto, muito antes desse atual panorama 
educacional, que serve como engrenagem para manter o sistema financeiro e seu 
poderio na formação do “capital” humano, o ideal de educação e prática docente que 
se iniciou no Brasil a partir da sua colonização, no século XVI, esteve atrelado à 
educação católica e ao modelo de escolas jesuíticas (NEGRÃO, 2000; RIBEIRO, 
1993). Na prática, tal cenário foi uma resposta imediata ao declínio da formação 
intelectual vivenciada no velho continente e além-mar, implementada na Terra de 
Santa Cruz. Nesse sentido, foram os padres os primeiros educadores de muitos 
brasileiros nos primórdios do País (NEGRÃO, 2000). 
Mas, afinal, de quem seria a responsabilidade e a autoridade pela educação 
das crianças e jovens brasileiros? Para responder a essa questão, faz-se necessário 
observar o modelo de organização da sociedade atual e de antigamente. Um fato que 
distorce a resposta, hoje, é a “necessidade” da terceirização do ensino, haja visto que 
os pais se lançam avidamente no mercado de trabalho em busca de retorno financeiro, 
logo, paira um senso comum de que caberia à escola a educação dos pequenos. No 
entanto, se a ordem natural fosse observada e levada em consideração, com a análise 
de que esse sucateamento traz inúmeras consequências à formação moral e 
intelectual das crianças e dos jovens, nossa imediata resposta seria dizer que é a 
família o primeiro núcleo educacional que tem a responsabilidade e a autoridade pela 
educação dos seus. 
No Brasil, a história recente conduziu-nos ao atual e questionável consenso 
que reside sobre a perspectiva de educação do ensino básico ao superior. Se, para 
alguns pensadores, “lugar de criança é na escola”, você já parou para pensar por que 
o Estado, a partir de um Ato Institucional em 1834, tomou para si a responsabilidade 
de educar os pequenos, alegando sua suposta autoridade sobre os pagadores de 
impostos? Se a Educação é um direito de todos, promulgado na Constituição de 1988, 
seria, de fato, o Estado responsável por cumprir esse papel? O Estado estaria 
interessado em formar bons cidadãos e trabalhadores ou em controlar a sociedade 
para manter o poder sobre os seus? 
O Quadro 1, a seguir, apresenta um breve histórico da trajetória nacional da 
educação até hoje, com base nos achados de Ribeiro (1993) e Godinho e Farias 
(2018). 
 
Quadro 1 – Trajetória nacional da educação 
Ano Cenário Educacional 
1930–1945 
Na Era Vargas, foi criado o Ministério de Educação e Saúde, 
em 1930, ocupando a pasta Francisco Campos. Em 1932, 
como uma resposta à encíclica de Pio XI, no Brasil, foi 
publicado o Manifesto dos Pioneiros, na tentativa de 
descentralizar o poder educacional da Igreja, entregando os 
educandos ao Estado, movimento conhecido como Escola 
Nova. Na mentalidade desses profissionais, o ensino deveria 
ser “leigo”, gratuito, universal e obrigatório. Essa aparente 
“neutralidade” nas políticas educacionais entregou cada vez 
as crianças e os adolescentes sob a “égide” do Estado. Além 
disso, a Constituição de 1934 atribuiu à União a competência 
privativa de traçar as diretrizes educacionais do País. Em 
1942, pelo Decreto-Lei nº 4.048, ocorreu a criação do Serviço 
Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), para ampliar 
a formação mínima ao operariado. Nesse mesmo ano, 
ocorreu a Reforma Capanema, voltada para o patriotismo e 
o nacionalismo, difundindo disciplina e ordem por meio dos 
cursos de moral e civismo e de educação militar para os 
alunos do sexo masculino nas escolas secundárias. 
1946–1964 
Durante o período conhecido no Brasil como nacional 
desenvolvimentismo, foi criado, em 1946, pelo Decreto-Lei nº 
8.621, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial 
(SENAC). Além disso, as empresas foram obrigadas a 
empregar menores e matriculá-los nas escolas de 
aprendizagem do SENAC. Em 1948, uma comissão, 
presidida por Lourenço Filho, elaborou um anteprojeto de 
educação, que foi discutido durante 13 anos e somente 
aprovado em 1961, com a promulgação da Lei nº 4.024, 
primeira Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional.1964–1984 
Durante o Período Militar, houve a promulgação da Lei nº 
5.692, de 1971, que fixa diretrizes e bases para o ensino de 
1º e 2º graus e dá outras providências. 
1984–1988 Transição democrática. 
1996 
Durante o Governo Fernando Henrique Cardoso, houve a 
promulgação da Lei nº 9.394, que estabelece as Diretrizes e 
Bases da Educação Nacional. Ainda no mesmo ano, houve 
a divulgação da Lei nº 9.424, que dispõe sobre o Fundo de 
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e 
de Valorização do Magistério (Fundeb). 
2001 
Ainda durante o Governo Fernando Henrique Cardoso, 
houve a aprovação da Lei nº 10.172, que aprova o Plano 
Nacional de Educação e dá outras providências. 
2006 
Durante o Governo Lula, houve a autorização da concessão 
de bolsas de estudo e de pesquisa a participantes de 
programas de formação inicial e continuada de professores 
para a educação básica a partir da Lei nº 11.273. 
2007 
No ano seguinte, a Lei nº 11.494 regulamentou o Fundeb. 
Ainda durante o Governo Lula, houve uma alteração nas 
competências e na estrutura organizacional da Coordenação 
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) a 
partir da Lei nº 11.502. 
2010 
Em 2010, foi promulgado o Decreto nº 7.219, que dispõe 
sobre o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à 
Docência (Pibid). 
2016 
Durante o Governo Dilma, foi promulgado o Decreto nº 8.752, 
que dispõe sobre a Política Nacional de Formação dos 
Profissionais da Educação Básica. 
Fonte: Própria autoria 
Diante desse cenário, qual o papel da prática docente da educação básica ao 
ensino superior? Diplomas e artigos científicos bastariam para qualificar a prática 
docente? De fato, há quem diga que a prática docente requer um constante 
aprendizado sobre a arte de ensinar que acompanha o aspirante a professor desde a 
sua iniciação na graduação, durante o exercício da profissão até a formação 
continuada (MARQUEZAN; SCREMIN; SANTOS, 2017). O processo formativo, quer 
queira ou não, parece ser sempre inacabado e em constante transformação 
(TAVARES, 2010), por isso, cabe ao professor estar atento para atualizar-se frente às 
demandas da sociedade atual. 
Cabe destacar que, pelo fato de a prática docente ser um constante 
aprendizado (MARQUEZAN; SCREMIN; SANTOS, 2017), assentar sua intervenção 
no simples fato de ter um diploma ou na quantidade de artigos científicos depositados 
no currículo evidentemente não basta. Com a invenção dos diplomas pela 
Universidade de Paris, no século XIX, passou-se a buscar mais a titulação do que a 
formação. Contudo, produtividade acadêmica não necessariamente é sinônimo de 
verdadeiro caminho de formação intelectual (BERTANCINI et al., 2018). Além disso, 
é importante considerar que, nesse esboço, encontra-se apenas um recorte do 
panorama educacional no País. 
Formado por grandes estudiosos desde o século XVI, o processo educacional 
no Brasil entrou em deriva com a maré controladora do Estado, em concordância com 
as diretrizes educacionais internacionais (BARRETO; FILGUEIRAS, 2007). Se, por 
um lado, a educação é, de fato, um direito, o dever de suprir tal necessidade está 
centrado na autoridade da família em dispor os meios e decidir a quem e quando 
delegar parte da formação. Nessa trajetória, reside o professor, para o qual os pais, 
por força de leis, se veem impelidos a confiar compulsoriamente os seus. A missão 
formativa do professor é ainda mais salutar quando ele se torna capaz de enxergar 
pela lupa da veracidade dos fatos a realidade educacional brasileira. 
8.1 Prática docente: da educação básica ao ensino superior 
Há quem diga que a prática docente é uma tríade formada por: conhecimento, 
docente e discente (PESSOA; MACEDO, 2018). O arcabouço teórico é o elo entre 
aqueles que almejam ensinar e aqueles que tem sede por aprender. Nesse ínterim, 
reside o processo de ensino-aprendizagem, com seus métodos e técnicas específicas 
para cada área do conhecimento. Diante desse cenário, a prática docente recebe 
fundamental importância, visto que ela possui grande responsabilidade pela formação 
intelectual dos alunos. É a partir desse panorama formativo que se inicia a discussão 
deste capítulo: qual o papel da prática docente da educação básica ao ensino 
superior? 
No Brasil, à docência sofreu profundas transformações, visto que, do século XX 
até hoje, o processo educacional teve várias intervenções estatais, na tentativa de 
ampliar a escolarização (NÓVOA, 1992). Nesse contexto, a prática docente passou a 
ser majoritariamente efetuada nas escolas, por meio da matrícula obrigatória das 
crianças e dos adolescentes em seus mais variados ciclos. O professor, por sua vez, 
era tido como mero mediador do processo de ensino-aprendizagem, quando, na 
realidade, ao observar a dimensão da prática docente na formação inicial dos 
educandos, percebe-se a singular missão de ser mestre e guia da vida intelectiva de 
outrem em busca da verdade. Sob essa ótica, confiar-se a ser educado por outra 
pessoa permeia uma relação de troca de saberes e de proximidade (GALVÃO, 2002). 
Assim, o docente precisa ser alguém revestido de virtudes, para que seja capaz de 
ensinar e corrigir os erros encontrados pelo caminho enquanto oportunidade de 
aprendizado para o aluno (GALVÃO, 2002). 
Dito isso, a prática docente está presente nas escolas desde a educação 
infantil, perpassando o ensino fundamental até os concluintes da educação básica, 
representados pelos alunos do ensino médio. De acordo com Nóvoa (2009), a 
constante busca pela formação também continua dentro da escola, de modo que deve 
compor a postura docente a necessidade por atualizar-se para intervir. Tratando-se 
da educação infantil, de acordo com o disposto pelas Diretrizes Curriculares Nacionais 
(DCNEI), esse ciclo escolar tem por objetivo articular as experiências e os saberes do 
público infantil com os conhecimentos que compõem o patrimônio cultural, científico e 
tecnológico da sociedade, a fim de promover o desenvolvimento integral das crianças 
de 0 a 5 anos de idade (BRASIL, 2010). Ciente disso, é um desafio e tanto para um 
professor recém-formado assumir um cargo nesse ciclo educacional (RODRIGUES; 
BOER, 2019), uma vez que engloba crianças desde o berçário, passando pelo 
maternal até as ramificações da pré-educação. 
Outro aspecto a ser destacado é o fato de que, além de ser um público que 
requer múltiplos conhecimentos por parte do professor, tal dimensão formativa 
confronta a realidade de que pouco se ensina na formação universitária sobre como 
e quando intervir (RODRIGUES; BOER, 2019). Com base nisso, e devido ao fato de 
que cada vez mais as crianças são levadas desde cedo ao cuidado dos professores 
nas escolas, há educadores que compactuam com a seguinte perspectiva 
educacional: que ao educador cabe a missão de observar as práticas das crianças, a 
fim de desenvolver a interpretação das mensagens que são ditas mesmo que palavra 
alguma seja verbalizada. Nesse sentido, a prática docente levaria em consideração 
os saberes do público infantil observados durante os momentos de interação e 
brincadeiras (RODRIGUES; BOER, 2019). 
Já nos ensinos fundamental e médio, a prática docente recebe contornos de 
formação letrada e pautada nos ditames das diretrizes educacionais vigentes 
(BRASIL, 2013). Nesse interim, o aluno é formado para ser um cidadão capaz de atuar 
na sociedade, e os finais da educação básica deveriam permiti-lo alcançar, caso 
almeje, a formação de nível superior. No Brasil, há vários alunos que ficam pelo 
caminho (LEBLANCK; SILVA, 2019), mas a grande maioria termina a escolarização, 
mesmo que o letramento tenha sido alcançado em contraposição ao precário 
aproveitamento escolar (INSTITUTO PAULO MONTENEGRO, 2016). 
A prática docente no ensino superior perpassa atividades de ensino, pesquisa 
e extensão universitária. É interessante observar que, durante muito tempo, a 
formaçãouniversitária foi restrita a uma parcela da população. Em contrapartida, a 
esse passado recente, cabe destacar que possibilitar apenas o acesso à universidade 
não resolve o problema de analfabetismo funcional e precariedade da escolarização 
no País, uma vez que tal dilema encontra eco nos cursos de formação de professores 
(LEBLANCK; SILVA, 2019). 
Formados por um sistema educacional ineficiente, pressupondo o domínio do 
conteúdo a ser aprendido, os professores ensinam visando ao retorno financeiro. 
Aqueles conscientes das suas limitações e de que precisam se educar aparentam 
conhecer um pouco mais da realidade educacional brasileira, ao passo que a grande 
maioria deixa-se ludibriar por ela. Nossa “pátria educadora” estaria de fato educando 
os filhos seus? Outra indagação pertinente seria esta: será que de fato caberia a ela 
tal missão? 
Desse modo, pode-se verificar que a prática docente perpassa desde os anos 
iniciais até o ensino superior. Cabe destacar que, independentemente da área de 
atuação profissional e formação inicial, o professor precisa de uma formação 
acadêmica que contribua para a sua intervenção profissional. 
8.2 Prática docente: percepções e perspectivas 
Na prática, a abordagem crítico-reflexiva leva o educador, ainda durante seu 
processo de formação inicial, por meio dos estágios supervisionados ou até mesmo 
da prática como componente curricular, a questionar a separação entre a teoria e a 
prática. 
Dito isso, em um primeiro momento, faz-se necessário desmembrar a 
concepção de professor crítico-reflexivo, a fim de entender os pressupostos teóricos 
(teoria reflexiva e teoria crítica) e o pensamento dos autores que estão por trás de 
tudo isso. Para chegar nessa visão de uma prática docente crítico-reflexiva no campo 
das ideias, a teoria foi (re)formulada por vários pensadores desde o início do século 
XX. Suas raízes históricas mais profundas estão atreladas aos pressupostos teóricos 
de John Dewey, um filósofo da educação norte-americana, que viveu entre os anos 
1859 e 1952. Para Dewey, a educação é um instrumento estatal que serve para 
educar o homem ao mercado de trabalho (ZEICHNER, 2008). Essa formação, embora 
questionável, compôs o arcabouço teórico de um dos responsáveis pelas reformas 
educacionais no Brasil na década de 1920, Anísio Teixeira. Haja vista sua atuação, 
até hoje seu nome é homenageado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas 
Educacionais Anísio Teixeira (INEP) (RIBEIRO, 1993). 
Mas, afinal, qual a relação entre os pressupostos de Dewey para a educação e 
o cenário de escolarização atual e a prática docente no Brasil? É possível constatar 
sua influência ao observar atentamente como ocorre a alfabetização, a escolarização 
e a prática docente na atualidade. Conscientes disso ou não, muitos docentes servem 
a este fim, embora não seja mais para formar um sujeito de virtudes que busca a 
verdade. Na prática, muitos alunos são treinados para serem capazes de atuar na 
sociedade e, nesse contexto, serem trabalhadores. 
No Brasil, tal debate se iniciou a partir de intensas discussões sobre o objetivo 
da educação, o que culminou na promulgação da 1ª e 2ª Leis de Diretrizes de Bases 
(LDB) (Quadro 1, mencionado na seção anterior). Nesse interim, foram décadas de 
debates e embates, projetos de lei e correções das diretrizes sancionadas. Além 
disso, cabe relembrar que houveram severas alterações no cenário político e 
educacional ao longo do século XX, e também das influências de pensadores além-
mar (RIBEIRO, 1993), como Donald Schön, um pedagogo estadunidense que se 
debruçou a estudar a teoria da reflexividade tendo como base a visão de Dewey sobre 
a educação (PINTO, 2015; RANGEL-BETTI; BETTI, 1996). Schön desenvolveu seu 
trabalho sobre a teoria da reflexividade atrelada à formação profissional. Para o autor, 
a reflexão na e sobre a ação deveria seguir a sequência de pensamento apresentada 
na Figura 1 (PINTO, 2015). 
Figura 1 – Teoria reflexiva na concepção de Donald Schön
 
Fonte: adaptada de Pinto (2015) 
Na concepção de Zeichner (2008, p. 545), há diferentes formas de se pensar a 
formação docente reflexiva, e “[…] todos os professores são reflexivos de alguma 
forma. É importante considerar o que queremos que os professores reflitam [...]”. 
Diante dessa revelação, cabe pensar sob qual jugo se assenta a ideia de um professor 
crítico-reflexivo. Observe que, para Zeichner (2008), o conceito de reflexão ainda 
significa para muitos professores uma ajuda aos seus pares quanto a melhor forma 
de corresponder aos currículos vigentes e, por conseguinte, à adequação aos 
métodos de ensino em voga. Nas palavras do autor, “[…] a pergunta que se faz aqui 
sobre a ‘reflexão’ é a seguinte: Em que medida a minha prática está de acordo com 
aquilo que alguém deseja que eu faça?” (ZEICHNER, 2008, p. 541). 
Assim, cabe alertar sobre as raízes ideológicas que têm a pretensão de reger 
a reflexividade na docência, sob a égide de que a reflexão teria um caráter político. 
Alguns teóricos acreditam que a missão do professor reflexivo seria contribuir para 
uma sociedade na qual fosse intensificada a tensão social, haja vista a pretensão de 
igualdade e transferência de poder aos educadores (ZEICHNER, 2008). 
Em vários países, a concepção de prática reflexiva de Schön pode ser 
constatada, por exemplo, por meio dos estudos de Shulman e Zeichner, nos Estados 
Unidos, Garcia e Pérez-Gómez, na Espanha, Perrenoud, na França e Nóvoa, em 
Portugal (RANGEL-BETTI; BETTI, 1996). No Brasil, a influência de Donald Schön 
remonta à década de 1980, de forma mais proeminente a partir dos anos 1990, 
quando educadores brasileiros tiveram contato com a produção acadêmica do 
professor português Antônio Nóvoa, em seu livro Os professores e sua formação 
(PINTO, 2015). 
A ideia por trás da teoria reflexiva na formação de professores era formar 
educadores que pensassem a prática profissional antes, durante e depois da 
intervenção (RANGEL-BETTI; BETTI, 1996). 
Conforme destaca Zeichner (2008, p. 538): 
Quando Donald Schön publicou o livro “O profissional reflexivo”, em 1983 [...], 
isso marcou a reemergência da prática reflexiva como um tema importante 
da formação docente norte-americana. A ideia da prática reflexiva já existia 
há muito tempo, tanto na filosofia ocidental como na não ocidental, incluindo 
a grande influência que o livro de John Dewey, “Como pensamos” exerceu 
na educação nos EUA, no início dos anos de 1900. Após a publicação do livro 
do Schön e da grande quantidade de literatura sobre o tema que ele estimulou 
a produzir no planeta inteiro, e do trabalho de outros educadores no mundo, 
incluindo o de Paulo Freire, no Brasil [...], e o de Jurgen Habermas, na Europa 
[...] formadores de educadores de diferentes países começaram a discutir 
como eles preparavam seus estudantes para serem professores reflexivos. 
O ensino reflexivo tornou-se rapidamente um slogan adotado por formadores 
de educadores das mais diferentes perspectivas políticas e ideológicas para 
justificar o que faziam em seus programas e, depois de certo tempo, ele 
começou a perder qualquer significado específico. 
 
Atualmente, a discussão gira em torno da aproximação da teoria da 
reflexividade da teoria crítica (PINTO, 2015). É diante dessas ideias que, ainda nas 
décadas de 80 e 90, surgiram os trabalhos de autores como Libâneo e Saviani a 
respeito das formulações críticas (PINTO, 2015) e tais estudos influenciaram outros 
educadores. Haja visto esse panorama, centrado na prática docente diante da 
abordagem dialógica, crítica e reflexiva, a preocupação dos formadores de 
educadores se voltou para a formação inicial e continuada (RANGEL-BETTI; BETTI, 
1996). 
Conforme destacado por Pinto (2015), durante a formação inicial de 
educadores, por intermédio das práticas curriculares e extracurriculares, a formação 
crítico-reflexiva deve protagonizar o desenvolvimento do licenciandofrente ao seu 
contexto de atuação profissional (PINTO, 2015). Nesse âmbito, almejando formar um 
bom professor, tem-se a concepção de professor bem-sucedido (GALVÃO, 2002), que 
pressupõe o cumprimento de três características centrais. Em um primeiro momento, 
o professor bem-sucedido é aquele que apresenta o domínio do conteúdo e da 
metodologia. Além disso, tal docente mostra envolvimento com a realidade dos seus 
educandos, fato que contribuiria, por conseguinte, para o caráter reflexivo de sua 
prática docente (GALVÃO, 2002). 
Como visto, a prática docente no Brasil é fruto da institucionalização do 
processo educacional. Entre normativas e diretrizes, a prática docente ocorre por meio 
da interação entre o conhecimento, o docente e o discente. Este último (os 
educandos), com a atual perspectiva da educação — de formar capital humano para 
o mercado de trabalho —, vê entre a realidade da prática profissional e as teorias 
acadêmicas um distanciamento entre a teoria e a prática. Frente a isso, ainda que 
limitadas e questionáveis, estão as teorias crítica e reflexiva, defendidas por 
educadores, em uma tentativa de superar modelos curriculares antes implementados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BAGNARA, I. C.; FENSTERSEIFER, P. E. Relação entre formação inicial e ação 
docente: o desafio político da educação física escolar no centro do debate. Revista 
Brasileira de Ciências do Esporte, [s. l.], v. 41, n. 3, p. 277–283, 2019. 
BARRETO, A. L.; FILGUEIRAS, C. A. L. Origens da universidade brasileira. Química 
Nova, São Paulo, v. 30, n. 7, p. 1780–1790, 2007. 
BERTANCINI, M. O. A et al. A prática docente e a sua relação com o sistema nacional 
de avaliação do ensino superior. Revista CAMINE: Caminhos da Educação, Franca, 
v. 10, n. 2, p. 105–115, 2018. 
BETTI, M.; ZULIANI, L. R. Educação física escolar: uma proposta de diretrizes 
pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 1, n. 
1, p. 73–81, 2002. 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 27 de 
jan de 2023. 
BRASIL. Decreto nº 7.219, de 24 de junho de 2010. Dispõe sobre o Programa 
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID e dá outras providências. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/decreto/d7219.htm. Acesso em: 27 de jan. de 2023. 
BRASIL. Lei nº 16, de 12 de agosto de 1834. Faz algumas alterações e adições à 
Constituição Política do Império, nos termos da Lei de 12 de outubro de 1832. 
Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/lim16.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%2
016%20DE%2012%20DE%20AGOSTO%20DE%201834.&text=Faz%20algumas%2
0altera%C3%A7%C3%B5es%20e%20addi%C3%A7%C3%B5es,12%20de%20Outu
bro%20de%201832.. Acesso em: 27 de jan de 2023. 
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais gerais da 
educação básica. Brasília: MEC, 2013. 
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes 
curriculares nacionais para a educação infantil. Brasília: MEC, 2010. 
DARIDO, S. C. Teoria, prática e reflexão na formação profissional em educação física. 
Motriz, Rio Claro, v. 1, n. 2, p. 124–128, 1995. 
GALVÃO, Z. Educação física escolar: a prática do bom professor. Revista Mackenzie 
de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 65–72, 2002. 
GODINHO, J. D.; FARIAS, M. E. Formação docente no Brasil: analisando os contextos 
social e legislativo através de cinco décadas. Nuances: Estudos sobre Educação, 
Presidente Prudente, v. 29, n. 2, p. 192–210, 2018. 
INSTITUTO PAULO MONTENEGRO. Indicador de alfabetismo funcional – INAF: 
estudo especial sobre alfabetismo e mundo do trabalho. São Paulo: IPM, 2016. 
LEBLANCK, R. H.; SILVA, G. T. F. Alfabetização versus letramento: escrever, ler e 
pensar. Pensar Acadêmico, Manhuaçu, v. 17, n. 2, p. 207–221, 2019. 
MARQUEZAN, F. F.; SCREMIN, G.; SANTOS, E. A. G. Aprendizagem da docência 
na formação inicial de professores: contribuições do Pibid/Pedagogia. Educação por 
Escrito, Porto Alegre, v. 8, n. 1, p. 112–128, 2017. 
NEGRÃO, A. M. M. Resenhas. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 
14 2000. Resenha de: FRANCA, S. J. L. O método pedagógico dos jesuítas: o "Ratio 
Studiorum": introdução e tradução. Rio de Janeiro: Livraria Agir, 1952. 
NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, A. (coord.). 
Os professores e a sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992. p. 13–
33. 
NÓVOA, A. Professores: imagem do futuro presente. Lisboa: EDUCA, 2009 
PESSOA, P. S.; MACEDO, E. P. Prática docente e políticas educacionais no ensino 
superior e os quatro pilares da Educação. Revista de Educação, Brasília, ano 41, n. 
157, p. 108–119, 2018. 
PINTO, C. A. S. A formação do professor crítico-reflexivo na Educação Física: 
realidades e possibilidades no âmbito do PIBID IFCE. 2015. Dissertação (Mestrado 
em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Centro de Educação 
Estadual do Ceará, Fortaleza, 2015. 
RANGEL-BETTI, I. C.; BETTI, M. Novas perspectivas na formação profissional em 
educação física. Motriz, Rio Claro, v. 2, n. 1, p. 10–15, 1996. 
RIBEIRO, P. R. M. História da educação escolar no Brasil: notas para uma reflexão. 
Paidéia, Ribeirão Preto, n. 4, p. 15–30, 1993. 
RODRIGUES, J. S. M.; BOER, N. Da epistemologia à prática docente na educação 
infantil: relato de uma sequência didática. Research, Society and Development, [S. 
l.], v. 8, n. 6, p. e166969, 2019. 
TAVARES, M. Inovações pedagógicas na prática curricular da Esef-UPE: 
contribuições teórico-metodológicas para formação inicial de professores em 
educação física. In: TERRA, D. V.; SOUZA JÚNIOR, M. Formação em educação 
física e ciências do esporte: políticas e cotidiano. São Paulo: Aderaldo e Rothschild, 
2010. p. 93–129. 
ZEICHNER, K. M. Uma análise crítica sobre a “reflexão” como conceito estruturante 
na formação docente. Educação & Sociedade, Campinas, v. 29, n. 103, p. 535–554, 
2008.

Continue navegando