Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 1 AULA 3: CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (CDC) – 2ª PARTE I. A CONSTITUIÇÃO E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR A defesa do consumidor busca a proteção da pessoa humana que deve sempre se sobrepor aos interesses produtivos e patrimoniais, dessa forma, cumprindo diversas diretrizes da Constituição Federal de 1988, foi publicado em 1990 o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990). Vejamos alguns pontos da Constituição Federal que tratam da Defesa do Consumidor: Art. 5o, XXXII da CF - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; Art. 170 da CF - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...]. V - defesa do consumidor; Art. 48 do ADCT - O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor. Ressalta-se que as regras estabelecidas pelo CDC são de ordem pública e de interesse social. Ou seja, são normas de interesse privado por reger relações entre particulares, mas com forte interesse público no assunto, e, por essa razão, não pode o consumidor afastar a aplicação do CDC por sua simples autonomia de vontade. Vide art. 1o do CDC: Art. 1° do CDC - O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias. Além disso, por serem normas de caráter cogente, as regras do CDC podem, em regra, ser aplicadas de ofício pelo magistrado e legitimam o Ministério Público e as Associações de Defesa do Consumidor a requerer em juízo o fiel cumprimento dos direitos dos consumidores. Uma interessante exceção sobre a possibilidade de aplicação de ofício das normas do CDC é estabelecida pela Súmula 381 do STJ: STJ 381 – Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 2 II. RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO É cabível salientar que as normas do CDC somente serão aplicáveis quando se configurar uma relação jurídica de consumo. Tal relação possui três elementos: 1) Elemento subjetivo: são as partes envolvidas na relação jurídica (consumidor e fornecedor); 2) Elemento objetivo: é o objeto sobre o qual recai a relação jurídica de consumo (produto ou serviço); 3) Elemento finalístico: traduz a idéia de que o consumidor deve adquiri ou utilizar o produto ou serviço como destinatário final. O esquema gráfico na página seguinte ilustra de forma sintetizada o que vem a ser a relação jurídica de consumo. DESTINATÁRIO FINAL qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou ima- terial. PRODUTO FORNECEDOR ou CONSUMIDOR SERVIÇO toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes desper- sonalizados, que desenvol- vem atividade de produção, montagem, criação, cons- trução, transformação, im- portação, exportação, distri- buição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço. Inclui também a coletivida- de de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. qualquer atividade forne- cida no mercado de consumo, mediante remu- neração, inclusive as de natureza bancária, finan- ceira, de crédito e securi- tária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. CONCEITO DE FORNECEDOR: o legislador, através do art. 3o, caput, do CDC classificou como fornecedor todos aqueles que desenvolvem atividades tipicamente profissionais, mediante remuneração, excluindo da relação de consumo aqueles que eventualmente tenham colocado produto ou serviço no mercado de consumo sem o caráter profissional. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 3 Art. 3° do CDC - Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Através do conceito de fornecedor percebe-se o seguinte: se uma empresa tem por objeto social a prestação de serviço de auditoria e, para renovar a sua frota de carros vende veículos de sua propriedade a particular, então ela não poderá ser considerada fornecedora, pois a sua habitualidade está na prestação de serviços de auditoria e não no comércio de veículos. Ou seja, na hipótese em questão incidem as regras do Código Civil e não do CDC. Ainda sobre o assunto fornecedor, três pontos importantes devem ser discutidos: - Sociedade sem fins lucrativos: segundo a jurisprudência, se desempenhar atividade no mercado de consumo mediante remuneração será considerada fornecedora; - Poder público: é enquadrado como fornecedor se atuar no mercado de consumo prestando serviço mediante a cobrança de preço. Saliente-se que preço público ou tarifa não é o mesmo que tributo (taxas, impostos e contribuições de melhoria). Na cobrança de tributos, não se tem uma relação de consumo, mas sim uma relação tributária. Para exemplificar, temos as concessionárias de serviço público de telefonia ou de fornecimento de energia elétrica que são fornecedores de uma relação consumerista; e - Entes despersonalizados: os entes sem personalidade jurídica serão considerados fornecedores se exercerem atividades produtivas no mercado de consumo. Dessa forma, podem ser considerados fornecedores o espólio de comerciante individual, a massa falida e as pessoas jurídicas de fato (sociedades irregulares). CONCEITO DE PRODUTO: o legislador através do art. 3o, § 1o do CDC definiu o que vem a ser produto. Art. 3o, § 1° do CDC - Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 4 Dessa forma, qualquer bem corpóreo ou incorpóreo suscetível de apropriação que tenha valor econômico, destinado a satisfazer uma necessidade do consumidor é considerado produto nos termos do CDC. Estão inseridos no conceito de produto, aqueles que decorrem de uma remuneração indireta, tais como os adquiridos em promoções do tipo pague 2 e leve 3, além dos produtos recebidos a título de brinde pela celebração de um contrato de consumo. CONCEITO DE SERVIÇO: o legislador através do art. 3o, § 2o do CDC definiu o que vem a ser serviço. Art. 3o, § 2° do CDC - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Conclui-se que serviço é toda atividade remunerada desenvolvida em favor do consumidor. Sobre o conceito de serviço destacam-se as seguintes questões: - Atividades bancárias, financeiras, de crédito e securitárias: apesar dessas atividades estarem inseridas de forma expressa no rol dos serviços que caracterizam uma relação de consumo, o assunto já foi objeto de discussão doutrinária e jurisprudencial. As instituições financeiras defendiam que a Lei 4.595/64 (regulamenta as instituições financeiras) era a única legislação aplicável às suas atividades. Porém, a solução para este conflito ocorreu com a seguinte súmula: STJ 297– O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras. - Entidades de previdência privada: também foram alvo de discussão sobre a aplicação do CDC ou da LC 108/2001. Tal discussão teve fim com o pronunciamento do STJ através da súmula abaixo: STJ 321 - O Código de Defesa do Consumidor é aplicável à relação jurídica entre entidade de previdência privada e seus participantes. - Locações de imóveis: tal atividade também já foi alvo de discussão sobre a aplicação do CDC ou da Lei 8.245/91 nas relações locatícias. Neste caso a jurisprudência majoritária expressa entendimento de que não se aplicam as regras do CDC. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 5 A expressão “mediante remuneração” deve ser entendida de modo abrangente, uma vez que pode ser feita pelo consumidor de forma direta ou indireta. Muitas vezes o produto ou serviço é oferecido gratuitamente ao consumidor, mas o custo daí inerente está inserido em outros pagamentos efetuados. É o que ocorre com os estacionamentos “gratuitos” de supermercados, com a aquisição de rádios para automóvel com o serviço de instalação “gratuito”. Esses dois casos caracterizam uma remuneração indireta e estão incluídos na relação de consumo. CONCEITO DE CONSUMIDOR: o legislador através do art. 2o do CDC definiu o que vem a ser consumidor. Art. 2° do CDC - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Analisando o dispositivo legal em questão, concluímos que o consumidor pode ser de três tipos: - pessoa física; - pessoa jurídica; e - coletividade de pessoas (consumidor por equiparação). Percebe-se que o legislador não inseriu a figura dos entes despersonalizados como consumidor, apenas como fornecedor. Embora o CDC tenha definido o que vem a ser consumidor, a aplicação ao caso concreto é de grande complexidade e, por isso, existe uma forte discussão doutrinária e jurisprudencial para explicar a expressão destinatário que representa o elemento finalístico da relação de consumo. A discussão gira em torno da seguinte pergunta: quem é o destinatário final de um bem consumo? Ao longo de quase 20 anos de aplicação do CDC desenvolveram-se três correntes para o assunto: - Doutrina finalista: entende que o consumidor é quem retira definitivamente o produto ou serviço de circulação do mercado para suprir uma necessidade exclusivamente pessoal e não para o desenvolvimento de uma outra atividade de cunho empresarial ou profissional, o que descaracterizaria a formação da relação de consumo. Para exemplificar, por esta doutrina, os móveis e os utensílios que compõem o estabelecimento ou os programas de computador CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 6 utilizados em um escritório não caracterizam a destinação final do bem pois ingressam, direta ou indiretamente, na atividade econômica ou seja, no ciclo produtivo de outros bens e serviços. - Doutrina maximalista: entende que para ser consumidor basta que este utilize ou adquira produto ou serviço na condição de destinatário final, não interessando o uso particular ou profissional do bem. Entretanto, não será consumidor quem adquirir ou utilizar produto ou serviço (matéria-prima) que participe diretamente do processo de produção, transformação, montagem, beneficiamento ou revenda. Para exemplificar, segundo esta doutrina os móveis e utensílios que compõem o estabelecimento caracterizam destinação final. Temos aqui uma interpretação ampla do art. 2o do CDC. - Doutrina finalista temperada: esta corrente é um desdobramento da corrente finalista, pois considera consumidor somente quem adquire produto ou serviço para uso próprio, porém, admite em casos excepcionais considerar destinação final de um produto a sua utilização para fins profissionais ou econômicos se houver vulnerabilidade do consumidor na relação. Temos como exemplo o taxista que compra um automóvel para trabalhar transportando passageiros. Lógico que o produto será usado de forma econômica, mas o taxista é tão vulnerável quanto qualquer outra pessoa que adquire o veículo para passeio. Temos o seguinte resumo: CONCEITO DE DESTINATÁRIO FINAL DOUTRINA FINALISTA (interpretação restrita) Consumidor é apenas quem usa o produto ou serviço para suprir uma necessidade exclusivamente pessoal. DOUTRINA MAXIMALISTA (interpretação ampla) Para definir consumidor não leva em consideração o uso pessoal ou profissional do produto ou serviço. DOUTRINA FINALISTA TEMPERADA (interpretação restrita mitigada) Consumidor é apenas quem usa o produto ou serviço para suprir uma necessidade exclusivamente pessoal, mas admite exceções para o uso profissional quando houver vulnerabilidade. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 7 Sobre a aplicação do CDC, a jurisprudência apresenta soluções que estão em conformidade tanto com a corrente maximalista, como com a corrente finalista. Entretanto, há uma certa tendência do STJ de manter a corrente finalista temperada, ou seja, quando ficar demonstrada a vulnerabilidade do consumidor. Para finalizar o conceito de consumidor, resta saber o que é um consumidor por equiparação ou consumidor by stander. Através do art. 2o, § único do CDC, conclui-se que todos os prejudicados no evento (vítimas), mesmo não tendo relação direta de consumo com o prestador ou fornecedor podem ingressar com ação de reparação baseada no CDC. É o que acontece quando se compra uma televisão e várias pessoas estão na casa do consumidor direto assistindo a um jogo da copa quando, de repente, a Argentina faz um gol e a televisão explode atingindo todos que estão no local. Além do comprador, as outras pessoas também podem pleitear indenização para o fabricante pela ocorrência do evento danoso. O mesmo ocorre com um acidente de avião onde pessoas que não eram passageiras acabaram se envolvendo no evento. É o que preconizam os art. 17 e 29 do CDC. Art. 17 do CDC - Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento. Art. 29 do CDC - Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. III. POLÍTICA NACIONAL DE RELAÇÕES DE CONSUMO Os objetivos e os princípios da Política Nacional das Relações de Consumo propostos pela legislação consumerista estão estampados no art. 4o do CDC. Já os instrumentos estão no art. 5o do CDC. Art. 4º do CDC - A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995) I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: a) por iniciativa direta; b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; c) pela presença do Estado no mercado de consumo; d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho. III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 8 econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da ConstituiçãoFederal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo; V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo; VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores; VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos; VIII - estudo constante das modificações do mercado de consumo. Art. 5° do CDC - Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, contará o poder público com os seguintes instrumentos, entre outros: I - manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente; II - instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério Público; III - criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo; IV - criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de litígios de consumo; V - concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor. Farei quadros separados para que você visualize separadamente os princípios, os objetivos e os instrumentos: - o atendimento das necessidades dos consumidores; - o respeito à dignidade, saúde e segurança dos consumidores; - a proteção dos interesses econômicos dos consumidores; - a melhoria da qualidade de vida dos consumidores; e - a transparência e a harmonia das relações de consumo. - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; - ação governamental para a proteção do consumidor; - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo; - educação e informação de fornecedores e consumidores; - controle de qualidade e segurança de produtos e serviços; - coibição e repressão das práticas abusivas; - racionalização e melhoria dos serviços públicos; e - estudo constante das modificações do mercado de consumo. OBJETIVOS PRINCÍPIOS CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 9 Como se não bastasse, além dos princípios e objetivos, o aluno deve atentar para os instrumentos que o poder público deve utilizar para o cumprimento de tais princípios e objetivos. Ou seja, não confunda princípios, com objetivos e com instrumentos. A banca pode fazer uma “poderosa pegadinha” com isso. - manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente; - instituição de Promotorias especializadas na Defesa do Consumidor; - criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo; - criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de litígios de consumo; e - concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor. Sobre os princípios elencados no art. 4o do CDC, é interessante comentarmos o “reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo”. Tendo em vista o desequilíbrio existente entre o consumidor e o fornecedor nas relações de consumo o legislador pretendeu igualar esta equação deixando claro que o consumidor é a parte mais fraca e por isso deve ser protegido. A doutrina aponta três tipos de vulnerabilidade do consumidor: - técnica ou científica: quando o consumidor não possui conhecimento específico sobre o objeto que está adquirindo, tanto no que diz respeito às características do produto quanto no que diz respeito à utilidade do produto ou serviço; - jurídica: o legislador reconhece que o consumidor não possui conhecimento jurídico de contabilidade ou economia para esclarecimento, por exemplo, do contrato que está assinando ou se os juros cobrados estão em consonância com o combinado; - fática ou socioeconômica: baseia-se na presunção de que o consumidor é o elo fraco da corrente, e que o fornecedor encontra-se em posição de supremacia, sendo o detentor do poder econômico. A vulnerabilidade citada no art. 4o do CDC é a fática. Ou seja, a qualificação técnica ou jurídica do consumidor não lhe atribuem a qualidade de vulnerável, pois os consumidores bem informados e com qualificação técnica e jurídica continuam vulneráveis aos apelos do mercado de consumo. INSTRUMENTOS CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 10 Vejamos algumas questões sobre o assunto: Não se pode confundir a vulnerabilidade com a hipossuficiência. Para o CDC todos os consumidores são vulneráveis, mas nem todos são hipossuficientes. A hipossuficiência se apresenta basicamente de duas formas: - hipossuficiência econômica: quando o consumidor apresenta dificuldades financeiras e o fornecedor se aproveita desta condição; e - hipossuficiência processual: quando o consumidor tem dificuldades para fazer prova em juízo. Através do art. 6, VIII do CDC percebe-se que o diploma legal em estudo trata da hipossuficiência processual ao possibilitar a inversão do ônus da prova. Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; Trataremos dos principais direitos básicos do consumidor. IV. PERICULOSIDADE DOS PRODUTOS E SERVIÇOS O art. 6o, I do CDC garante ao consumidor a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 11 considerados perigosos ou nocivos. Em complemento a esta regra, o CDC, no capítulo IV, trata da qualidade, da prevenção e da reparação dos danos causados por produtos e serviços inseridos no mercado de consumo. Na 1a seção deste capítulo temos regras para proteção à saúde e segurança dos consumidores que são de fácil compreensão. Vejamos os art. 8º ao 10 do CDC: Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua naturezae fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto. Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto. Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança. § 1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários. § 2° Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço. § 3° Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito. Ainda sobre a periculosidade, temos a seguinte classificação: - periculosidade latente ou inerente: se refere aos produtos que trazem consigo uma periculosidade que lhes é própria; no entanto, esta periculosidade deve ser informada e prevista pelo consumidor; - periculosidade adquirida: aqui os produtos e serviços apresentam defeitos de fabricação que põem em risco a incolumidade física do consumidor. Além disso, esta periculosidade não é prevista pelo consumidor; e - periculosidade exagerada: trata-se de produto ou serviço em que, mesmo o fornecedor tomando os devidos cuidados no que tange à informação dos consumidores, não são diminuídos os riscos apresentados, não podendo ser inseridos no mercado de consumo. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 12 V. MODiFiCAÇÃO E REVISÃO DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS O art. 6o, V do CDC garante apenas ao consumidor (ao fornecedor não) a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas. Através do dispositivo legal ora citado foi introduzido no ordenamento jurídico a teoria da imprevisão que, até então, era sustentada apenas de forma doutrinária. Através dessa teoria o consumidor pode requerer revisão de cláusula contratual em decorrência da superveniência de fato novo, a fim de adequar o contrato à nova realidade. Entretanto, há doutrinadores que sustentam que a teoria da imprevisão não foi abraçada pelo CDC, pois a ocorrência de causa imprevisível não é essencial para o consumidor requerer a revisão contratual. No art. 478 do CC há a necessidade do fato ser extraordinário e imprevisível, além do contrato ser de execução continuada ou diferida, porém, no CDC, basta que o fato ensejador da revisão seja superveniente, independente do tipo de contrato. Art. 478 do CC - Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. Dessa forma, podemos fazer o seguinte quadro comparativo sobre os requisitos do Código Civil e do Código de Defesa do Consumidor para que se proceda a revisão judicial do contrato: CÓDIGO CIVIL (art. 478 do CC) CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (art. 6o, V do CDC) - contratos de execução continuada ou diferida; - onerosidade excessiva; - extrema vantagem para a outra parte; e - fato extraordinário e imprevisível. - contratos de execução imediata, continuada ou diferida; - onerosidade excessiva; e - fato superveniente. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 13 VI. RESPONSABILIDADE CIVIL NO CDC A responsabilidade civil corresponde a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros através da prática de um ato ilícito. A prática de um ato ilícito com um correspondente dano, seja ele patrimonial ou extrapatrimonial (moral) acarreta a obrigação de indenizar. Dessa forma, podemos listar três requisitos para haver a responsabilidade civil: 1) Conduta: vem a ser o ato humano, comissivo ou omissivo, voluntário ou não, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado. A conduta é composta da parte objetiva (ação ou omissão) e da parte subjetiva (dolo ou culpa), entretanto, nem sempre a parte subjetiva (dolo ou culpa) será necessária, como ocorre nos casos de responsabilidade objetiva. 2) Ocorrência de Dano: não haverá dever de reparação quando inexistir prejuízo. As classificações mais importantes de dano são: : o prejuízo compreende o dano emergente (efetiva a) Quanto à extensão do dano diminuição do patrimônio da vítima) e o lucro cessante (quantia que a vítima deixou de ganhar). b) Quanto à natureza do bem violado: o dano, de acordo com o art. 5º, V da CF, pode ser material quando se tratar de prejuízo causado a bem patrimonial, moral, quando recair sobre bens extrapatrimoniais, e à imagem, quando compromete a aparência da pessoa lesada. Art. 5º, V da CF - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; STJ 37 - São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato. STJ 387 - É possível a acumulação das indenizações de dano estético e moral. : o dano pode ser direto, aquele suportado c) Quanto às conseqüências do dano pela própria vítima da ação lesiva, ou indireto, também chamado de dano reflexo ou por ricochete, quando se revela decorrência de um dano anterior sofrido pela própria vítima ou por outrem. 3) Nexo de Causalidade: relação entre a conduta do agente e o dano sofrido pela vítima. Caso a existência do dano não esteja relacionada com o comportamento do agente, não CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 14 haverá que se falar em relação de causalidade e, via de conseqüência, em obrigação de indenizar. Para sintetizar, temos o seguinte gráfico esquemático: RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA CULPA NEXO DE CAUSALIDADE DANO OBJETIVA NEXO DE CAUSALIDADE DANO No CDC o legislador entendeu que pelo fato do fornecedor exercer atividade lucrativa no mercado de consumo então ele deve responder por eventuais vícios ou defeitos dos bens e serviços. Este dever está ligado à obediência de normas técnicas e de segurança (dever de segurança), bem como os critérios de lealdade perante os consumidores. Com base no critério de lealdade perante os consumidores que possuem confiança nos produtos e serviços, foi adotado pelo CDC a regra da responsabilidade civil objetiva para a reparação dos danos provocados aos consumidores. O legislador preferiu dividir a responsabilidade civil relacionada com a relação de consumo em duas partes: a responsabilidade pelo fato do produto ou serviço (arts. 12 a 17 do CDC) e a responsabilidade por vício do produto ou serviço (arts. 18 a 21 do CDC). Tenha em mente as seguintes correlações: - fato (acidente) Î extrapola os limites da coisa gerando danos materiais, morais e estéticos; - vício Î permanece nos limites do produto. Se uma pessoa compra um liquidificador e o copo estoura vindo o consumidor a sofrer diversos cortetemos uma fato do produto, mas se a hélice solta e fica dentro do próprio liquidificador, temos um vício do produto. A) Responsabilidade pelo fato do produto A responsabilidade pelo fato do produto é disciplinado nos arts. 12 e 13 do CDC: CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 15 Art. 12 do CDC - O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - sua apresentação; II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi colocado em circulação. § 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado. § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: I - que não colocou o produto no mercado; II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Para que o consumidor tenha seus prejuízos ressarcidos face a um acidente de consumo, ele deverá provar o nexo de causalidade entre a ação ou a omissão do fornecedor e o dano, bem como a extensão dos danos. Conclui-se que o consumidor, em caso de fato do produto, fica dispensado de provar a culpa do fornecedor no evento danoso por se tratar de uma responsabilidade civil objetiva. Nesses moldes, são responsáveis pela reparação civil três tipos de fornecedores: - fornecedor real: compreende o fabricante, produtor e construtor; - fornecedor presumido: importador de produto industrializado in natura; e - fornecedor aparente: aquele que põe seu nome ou marca no produto final. Não apenas o fornecedor, mas o comerciante também pode ser responsabilizado pelo fato do produto, na forma do art. 13 do CDC. Art. 13 do CDC - O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso. Apesar do CDC adotar a responsabilidade civil objetiva para o fornecedor de produto, em algumas hipóteses expressas no art. 12, § 3o do CDC ele poderá ser CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 16 exonerado de reparar o dano. Tais hipóteses são causas excludentes de responsabilidade do fornecedor: - provar que não colocou o produto no mercado; - provar que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; e - provar a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Além das causas excludentes de responsabilidade elencadas acima de forma expressa, outros comentários sobre o assunto devem ser feitos: Culpa concorrente do consumidor Î há discussão na doutrina sobre a exclusão da responsabilidade do fornecedor havendo culpa concorrente do consumidor. A doutrina majoritária, assim como o STJ, pensam que a culpa concorrente da vítima permite a redução da condenação imposta ao fornecedor. Ou seja, a responsabilidade do fornecedor, em razão de culpa concorrente do consumidor pode ser mitigada, mas não excluída. Atos de prepostos e representantes Î através do art. 34 do CDC, é prevista a responsabilidade solidária entre os atos dos prepostos e representantes do fornecedor. Art. 34 do CDC - O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos. Ou seja, o fornecedor não pode alegar a exclusão de sua responsabilidade baseado em atos de seus prepostos ou representantes, pois ele é solidário na obrigação. A jurisprudência do STJ admite a solidariedade em questão mesmo que não haja vínculo empregatício entre o fornecedor e os seus prepostos ou representantes. Caso fortuito e força maior Î a teoria clássica da responsabilidade civil insere o caso fortuito (evento totalmente previsível) e a força maior (evento previsível, mas inevitável) como excludentes de responsabilidade, pois são elementos que rompem o nexo de causalidade. Vide o art. 393 do CC. Art. 393 do CC - O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 17 Entretanto, pelo fato do CDC não ter elencado o caso fortuito e a força maior entre as causas de exclusão da responsabilidade, existem diversos posicionamentos doutrinários sobre o assunto. Aprofundando um pouco mais o estudo do controvertido tema caso fortuito e força maior, temos os ensinamentos de Sergio Cavalieri Filho que segue a jurisprudência do STJ e subdivide os conceitos de caso fortuito e força maior em internos e externos. O caso fortuito e a força maior internos são aqueles decorrentes diretamente da fabricação ou serviço e que não excluem a responsabilidade do fabricante ou prestador (ex: estar em um restaurante jantando e sofrer um assalto Î é interno pois a contratação de seguranças poderia evitar o acontecimento). Por outro lado, o caso fortuito e a força maior externos não mantêm profissionalização com a cadeia de consumo e representam sim excludentes de responsabilidade (ex: a queda de um meteoro no restaurante causando ferimento às pessoas que lá estavam Î é externo pois não teria como se evitar o acontecimento). Para concluir temos o seguinte: CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR INTERNOS Î não excluem a responsabilidade. CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR EXTERNOS Î excluem a responsabilidade. B) Responsabilidade pelo fato do serviço Vamos analisar a responsabilidade civil do fornecedor em razão da prestação de serviços defeituosos (fato do serviço). O assunto é disciplinado no art. 14 do CDC: Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido. § 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas. § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 18 § 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. Com exceção dos profissionais liberais (art. 14, § 4o do CDC), cuja responsabilidade é subjetiva, percebe-se que a responsabilidade dos fornecedores de serviços com defeito é do tipo objetiva. São exemplos de defeitosna prestação de serviços com jurisprudência no STJ: - erro de resultado em exame laboratorial, gerando dever de indenização pelos danos morais e materiais; - furto ou roubo de veículo em estacionamento; - ausência de manutenção de rodovia, causando acidente ao consumidor em razão de animais mortos na estrada. Sobre o furto e o roubo é interessante salientar o art. 25 do CDC que não exonera ou atenua a responsabilidade do fornecedor por cláusula estipulada em contrato. Art. 25 do CDC - É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores. Sobre as excludentes da responsabilidade, valem as mesmas considerações feitas à responsabilidade pelo fato do produto. A responsabilidade civil do profissional liberal aqui citada merece destaque, pois ela é orientada pela teoria da responsabilidade subjetiva. Ou seja, quando o fornecedor do serviço for um profissional liberal, abrangendo os médicos, engenheiros, dentistas, advogados, dentre outros, deve o consumidor provar a culpa do fornecedor para que haja o dever de indenizar, além do nexo de causalidade e da extensão dos danos. Cabe ressaltar que para se aplicar a responsabilidade civil subjetiva a um profissional liberal, este deve assumir uma obrigação de meio, ou seja, deve fornecer meios necessários para a realização de um fim. Caso o fornecedor assuma uma obrigação de resultado, como é o caso do cirurgião plástico, ele responderá pelo simples inadimplemento obrigacional, pois não terá cumprido o dever que foi assumido. Veja a jurisprudência a seguir: Contratada a realização de cirurgia estética embelezadora, o cirurgião assume obrigação de resultado (responsabilidade contratual ou objetiva), devendo indenizar pelo não- cumprimento da mesma, decorrente de eventual deformidade ou de alguma irregularidade. (STJ, REsp.81.101/PR, rel. Min. Waldemar Zveiter, DJU 31.5.99, p.140) CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 19 C) Responsabilidade pelo vício do produto O vício do produto o torna impróprio ao consumo, produz a desvalia, a diminuição do valor e frustra a expectativa do consumidor, mas sem colocá-lo em risco (lembre-se do exemplo do liquidificador). O vício pode ser de qualidade ou de quantidade. Tal assunto é abordado nos arts. 18 e 19 do CDC. Art. 18 do CDC - Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço. § 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor. § 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial. § 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo. § 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor. § 6° São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam. Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - o abatimento proporcional do preço; CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 20 II - complementação do peso ou medida; III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios; IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. § 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior. § 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais. D) Responsabilidade pelo vício do serviço Os vícios do serviço estão previstos no art. 20 do CDC: Art. 20 do CDC - O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço. § 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor. § 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade. VII. DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO O assunto é tratado nos arts. 26 e 27 do CDC: Art. 26 do CDC - O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis; II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis. § 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços. § 2° Obstam a decadência: I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca; II - (Vetado). III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento. § 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito. Art. 27 do CDC - Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 21 Através do artigo26, percebemos que o consumidor dispõe de um prazo decadencial para exigir que os vícios de qualidade ou quantidade sejam sanados. Veja a tabela a seguir: DECADÊNCIA DO DIREITO DE RECLAMAR DOS VÍCIOS NO CDC Início do prazo decadencial Vícios aparentes a partir da entrega efetiva do produto. a partir do fim da execução do serviço. Vícios ocultos a partir do momento em que ficar evidenciado o defeito. Prazo decadencial Produtos não duráveis 30 dias Fornecimento de serviço Produtos duráveis 90 dias Causas de suspensão do prazo decadencial - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca; e - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento. Já o art. 27 do CDC prevê prazo prescricional para perda da pretensão da reparação pelos danos causados através de fato do produto ou do serviço. PRESCRIÇÃO DA AÇÃO DE REPARAÇÃO DE FATO DO PRODUTO OU SERVIÇO Início do prazo prescricional a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. Prazo prescricional 5 anos. Causas de suspensão do prazo prescricional não há previsão no CDC. Para que a banca não lhe aplique a famosa “pegadinha do malandro”, temos o seguinte: - Prazo decadencial Î reclamar dos vícios de qualidade ou quantidade; - Prazo prescricional Î pretensão de reparação por fato do produto ou do serviço. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 22 Antes de apresentar as questões, quero ressaltar que há uma forte corrente doutrinária que defende a idéia de que o prazo prescricional do CDC tem validade apenas para as pretensões de natureza individual. Para ações coletivas ou difusas, sendo indetermináveis os sujeitos, não há que se falar em prazos prescricionais, pois tais ações são de interesse social. Vale enfatizar também duas Súmulas do STJ: STJ 412: A ação de repetição de indébito de tarifa de água e esgoto sujeita-se ao prazo prescricional estabelecido no Código Civil. STJ 291: A ação de cobrança de parcelas de complementação de aposentadoria pela previdência privada prescreve em cinco anos. VIII. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA A pessoa jurídica, a partir do momento que efetua o registro dos seus atos constitutivos adquire personalidade jurídica através da qual se configura uma existência própria e distinta da dos seus membros. Dessa forma, a pessoa jurídica é capaz de assumir direitos e obrigações na ordem civil, sem atingir diretamente as pessoas que formam a sociedade. Pelo fato da personalidade jurídica não confundir a pessoa jurídica com a pessoa dos sócios, muitas são as possibilidades de fraudes e abusos praticados pelos sócios e administradores que ficam acobertados pela figura do ente moral. A teoria da desconsideração da personalidade jurídica, também chamada disregard doctrine, consiste na possibilidade de afastamento da autonomia patrimonial da sociedade, passando os sócios e administradores a responderem com o próprio patrimônio pelos prejuízos causados através da pessoa jurídica. O CDC, através do seu art. 28, foi o primeiro diploma legal brasileiro a positivar a desconsideração da personalidade jurídica: Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. § 1° (Vetado). § 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. § 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. § 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 23 § 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. A teoria da desconsideração da pessoa jurídica divide-se em duas: a teoria maior e a teoria menor. Na teoria maior, também denominada teoria subjetiva, o magistrado, usando de seu livre convencimento, se entender que houve fraude ou abuso de direito, pode aplicar a desconsideração da personalidade jurídica. Já na teoria menor, teoria objetiva como denomina parte da doutrina, o critério adotado é a existência de confusão patrimonial. Segundo os doutrinadores, no ordenamento jurídico brasileiro, a teoria maior é adotada como regra geral, enquanto a teoria menor é acolhida, excepcionalmente, na legislação especial, como, por exemplo, no Direito Ambiental (art. 4º da Lei 9.605/98) e no Direito do Consumidor (art. 28 do CDC). Nobre concurseiro(a), nossa aula teórica termina por aqui. Bons estudos !!! Dicler. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 24 LISTA DE QUESTÕES COMENTADAS 1. (FGV - FISCAL DE RENDAS – RJ – 2009) Acerca das relações de consumo, assinale a afirmativa incorreta. (A) Podem estabelecer-se entre pessoas físicas. (B) Podem incluir entes despersonalizados. (C) Podem ser fornecidas por instituições financeiras. (D) Podem estabelecer-se mesmo na ausência de contrato celebrado entre consumidor e fornecedor. (E) Estabelecem-se necessariamente entre um fornecedor e consumidores determinados ou, ao menos, determináveis. Análise das alternativas: (A) CERTA. As pessoas físicas podem ser consumidores ou fornecedores da relação. (B) CERTA. Entes sem personalidade jurídica podem participar das relações de consumo. (C) CERTA. O conceito de serviço deve ser entendido como qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, excetuando-se as decorrentes das relações de caráter trabalhista. (D) CERTA. Para exemplificar uma situação onde a relação de consumo se estabelece, mesmo na ausência de contrato, eu recorro aos arts. 2o, § único e 17 do CDC, onde estudaremos o conceito de consumidor por equiparação (ou by stander): Para ilustrarmos, imaginemos a seguinte situação: várias pessoas estão na casa de um amigo assistindo um jogo de futebol na televisão quando, após o Botafogo, atipicamente, fazer um gol, a televisão explode e atinge todos os botafoguenses que estão à sua volta. Dentre as pessoas atingidas, apenas o comprador mantém uma relação contratual com o vendedor do eletrodoméstico, porém, todos os prejudicados pelo evento danoso poderão pleitear indenização, pois são consumidores por equiparação, sem vínculo contratual com o fornecedor. (E) ERRADA. O CDC protege, além do consumidor em sentido próprio, outros sujeitos que se encontram em posição de desigualdade frente ao fornecedor. Estes indivíduos, grupos ou sujeitos indeterminados são equiparados a consumidor por intervirem nas relações de consumo, sempre ocupando uma posição de vulnerabilidade. Dessa maneira, para efeitos de proteção legal, o CDC equipara a consumidor: a) coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis (art. 2º, § único, do CDC), como acontece com um alimento nocivo à saúde colocado a venda no mercado; b) vítimas de acidente de consumo. (art. 17 do CDC); e c) pessoas expostas às práticas abusivas (art. 29 do CDC). Gabarito: E CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 25 2. (FGV - FISCAL DE RENDAS – RJ – 2007) Nas relações consumeristas, vige a teoria da carga da prova: (A) dinâmica. (B) reversa. (C) estática. (D) ampliada. (E) geral. Emespanhol, usa-se a palavra "carga" para designar o que os juristas brasileiros chamam de "ônus". Logo, "carga da prova" significa "ônus da prova". Ou seja, a quem cabe provar a ocorrência ou não de um fato: ao que acusa ou ao que se defende? Com base no art. 333 do CPC, temos que: Art. 333 do CPC - O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Parágrafo único – É nula a convenção que distribui de maneira diversa o ônus da prova quando: I. recair sobre direito indisponível das partes; II. tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito. Percebemos que o art. 333, I e II do CPC institui o ônus da prova para autor e réu, respectivamente; enquanto que o § único do mesmo artigo institui regras para disposição entre as partes do ônus da prova. Dessa forma, fatos constitutivos são os fatos afirmados na Petição Inicial pelo autor, cabendo a ele prová-los. Em contrapartida, ao réu cabe provar a existência de fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor. Por outro lado, o art. 333, § único do CPC permite as partes disporem o ônus da prova, exceto para direito indisponível de determinada parte, ou quando é excessivamente difícil a uma parte provar seu direito, cabendo, neste caso, a inversão do ônus da prova à parte contrária, caso essa tenha mais facilidade para provar ou repudiar determinada alegação. Nesse sentido, podemos citar o art. 6º, VIII do CDC que permite a inversão do ônus da prova em benefício do consumidor. Art. 6º do CDC - São direitos básicos do consumidor: [...]. VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; Percebemos, neste caso, que o objetivo norteador do juiz é à busca de quem mais facilmente pode fazer a prova. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 26 A teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova propõe que o ônus de provar determinado fato deve caber a quem tem melhores condições de produzir a prova, de modo que a distribuição dinâmica tem por objetivo facilitar a defesa dos direitos daqueles, por estarem em posição menos favorecida jurídica ou economicamente, e, por isso, não possuem meios para instruírem seu pedido judicial com os documentos comprovadores de suas alegações. Conclusão: a regra é a divisão "estática" (ou rígida) do ônus da prova, aquela prevista no artigo 333 do CPC, porém, em situações excepcionais, como no CDC, admite- se a distribuição dinâmica do ônus da prova. Gabarito: A 3. (FGV - FISCAL DE RENDAS – RJ – 2010) O direito de reclamar por um vício de qualidade que torna um produto impróprio ou inadequado ao consumo caduca em: (A) 15 dias, tratando-se de vício aparente ou de fácil constatação e de produto não durável. (B) 30 dias, tratando-se de vício aparente ou de fácil constatação e de produto não durável. (C) 60 dias, tratando-se de vício aparente ou de fácil constatação e de produto durável. (D) 120 dias, tratando-se de vício aparente ou de fácil constatação e de produto durável. (E) 180 dias, tratando-se de vício oculto. Os vícios de qualidade devem ser reclamados dentro dos prazos decadenciais previstos na tabela da página 21. Tal tabela resume o disposto no art. 26 do CDC. Análise das alternativas: (A) ERRADA. O prazo é de 30 dias. (B) CERTA. Conforme o art. 26 do CDC. (C) ERRADA. O prazo é de 90 dias. (D) ERRADA. O prazo é de 90 dias. (E) ERRADA. O fato do vício ser oculto apenas muda o início da contagem do prazo decadencial que continua sendo de 30 ou 90 dias, dependendo do tipo de produto ou serviço. Gabarito: B 4. (FCC – TJ/MS – Juiz Substituto – 2010) Segundo o Código de Defesa do Consumidor: (A) o prazo prescricional para o exercício da pretensão de reparação por danos resultantes de fato do produto ou serviço é de 5 (cinco) anos, contados a partir da ocorrência do dano, independente do conhecimento da autoria. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 27 (B) a contagem do prazo para reclamar por vícios aparentes ou de fácil constatação se inicia com o conhecimento do dano pelo consumidor e não com a efetiva entrega do produto ou término da execução dos serviços. (C) os prazos de 30 (trinta) e 90 (noventa) dias para reclamar de vícios aparentes e de fácil constatação em produtos e serviços, duráveis e não duráveis, têm natureza decadencial. (D) tratando-se de vício oculto, o prazo para reclamar por vício do produto ou serviço inicia-se com a entrega da mercadoria, independente da data em que o defeito se exteriorizar e ficar evidenciado. (E) apenas a instauração de inquérito civil obsta o decurso da decadência para reclamar vícios aparentes em produtos e serviços. Análise das alternativas: (A) ERRADA. Segundo o art. 27 do CDC, o início da contagem do prazo prescricional para o exercício da pretensão de reparação por danos resultantes de fato do produto ou serviço é de 5 anos, mas depende do conhecimento da autoria. (B) ERRADA. O prazo decadencial para reclamar de vícios, que se inicia com o conhecimento do dano pelo consumidor se refere aos vícios ocultos e não aos vícios aparentes. (C) CERTA. Em se tratando de vícios, o prazo é de natureza decadencial. Porém, em se tratando de fatos, estamos diante do prazo prescricional de 5 anos. (D) ERRADA. A data em que o defeito se exteriorizar ou ficar evidenciado é relevante para determinar o início da contagem do prazo decadencial para reclamar do vício do produto ou do serviço. (E) ERRADA. Conforme estudamos no art. 26 do CDC, existem duas causam que obstam o curso do prazo decadencial para reclamar de vícios: - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca; e - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento. Gabarito: C 5. (FCC – TJ/MS – Juiz Substituto – 2010) Nas ações judiciais que tenham por objeto controvérsia regida pelo Código de Defesa do Consumidor, (A) as sociedades integrantes do mesmo grupo societário e as sociedades controladas pelo fornecedor respondem, subsidiariamente, em relação ao fornecedor. (B) as sociedades consorciadas respondem solidariamente com o fornecedor, pois, de acordo com a Lei das Sociedades por Ações, o consórcio não tem personalidade jurídica e as consorciadas assumem obrigações apenas em nome próprio. (C) a desconsideração da personalidade jurídica pode ser determinada pelo juiz apenas a pedido do Ministério Público. (D) a desconsideração da personalidade jurídica de sociedade falida, se decretada, não poderá atingir os administradores da sociedade fornecedora. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 28 (E) a desconsideração da personalidade jurídica exige, em todos os casos, a prova da ocorrência de fraude e abuso de poder de controle. Análise das alternativas: (A) CERTA. Conforme o art. 28, § 2º do CDC. (B) ERRADA. Sobre a responsabilidade da sociedade consorciada, a Lei 6.404/76 diverge do CDC. Vejamos o art. 28, § 3º do CDC: Art. 28. § 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. Por outro lado, vejamos o art. 278 da Lei 6.404/76: Art. 278. As companhias e quaisquer outras sociedades, sob o mesmo controle ou não, podem constituir consórcio para executar determinado empreendimento, observado o disposto neste Capítulo. § 1º O consórcio não tem personalidade jurídica e as consorciadas somente se obrigam nas condições previstas no respectivo contrato, respondendocada uma por suas obrigações, sem presunção de solidariedade. § 2º A falência de uma consorciada não se estende às demais, subsistindo o consórcio com as outras contratantes; os créditos que porventura tiver a falida serão apurados e pagos na forma prevista no contrato de consórcio. O erro é afirmar que entre as sociedades consorciadas há responsabilidade solidária com base na Lei das S.A., quando a solidariedade decorre do próprio CDC. (C) ERRADA. A afirmativa trata da motivação para que ocorra a desconsideração da personalidade jurídica. Em se tratando do Código Civil, não pode haver a desconsideração de ofício, sendo o requerimento da parte ou do Ministério Público um requisito essencial para o ato. Entretanto, pela teoria menor, acolhida pelo CDC, a doutrina admite a desconsideração da personalidade jurídica de ofício. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DE OFÍCIO PELO JUIZ No Código Civil (teoria maior) Æ não pode. No Código de Defesa do Consumidor (teoria menor) Æ pode. Ou seja, a alternativa está errada, pois pode haver requerimento da parte interessada e também, a desconsideração de ofício quando for adotada a teoria menor. (D) ERRADA. As desconsideração faz com que as obrigações da sociedade venham a atingir o patrimônio dos sócios e administradores. (E) ERRADA. O rol de situações que autorizam a desconsideração da personalidade jurídica previsto no art. 28 do CDC vai muito além dessas duas possibilidades. Gabarito: A CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 29 6. (FCC – TJ/MS – Juiz Substituto – 2010) Sobre a responsabilidade por fato e por vício dos produtos e serviços prevista no Código de Defesa do Consumidor, é INCORRETO afirmar que (A) para fins de responsabilidade decorrente de fato do produto, equiparam-se a consumidores todas as vítimas do evento danoso, ainda que não integrantes da relação contratual de consumo. (B) o comerciante é igualmente responsável pelo fato do produto quando o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados. (C) a ignorância do fornecedor não o exime de responsabilidade por vício de qualidade por inadequação do produto vendido. (D) constatado pelo consumidor vício de qualidade do produto, o fornecedor terá um prazo máximo de 45 dias para saná-lo. (E) não sendo sanado o vício de qualidade no prazo legal, o consumidor pode exigir do fornecedor, a substituição do produto, a restituição da quantia paga ou o abatimento proporcional do preço. Análise das alternativas: (A) CERTA. Trata-se do conceito de consumidor por equiparação (by stander) previsto no art. 17 do CDC. (B) CERTA. Conforme o art. 13, I do CDC. (C) CERTA. De acordo com o art. 23 do CDC. (D) ERRADA. Nos termos do art. 18, § 1º do CDC, o prazo para o fornecedor sanar o vício é de 30 dias, porém, tal prazo poderá ser reduzido (para até 7 dias) ou ampliado (para até 180 dias) por convenção das partes. (E) CERTA. Conforme o art. 18, § 1º, incisos I, II e III do CDC. Gabarito: D 7. (FCC – TJ/RR – Juiz Substituto – 2008) João adquire um carro zero quilômetro em certa concessionária de determinada montadora de veículos automotores. O veículo é um novo lançamento da montadora, que é muito conhecida pelos itens de conforto e segurança oferecidos em seus modelos. Ao deixar a concessionária dirigindo o seu novo veículo, João percebe que o sistema de freios não está funcionando. Logo em seguida, tenta parar o carro em uma ladeira, mas os freios falham. O carro bate violentamente em um muro e João sofre sérios danos físicos, inclusive traumatismo craniano, ficando hospitalizado por vários dias. Nesse contexto, é correto afirmar: (A) A concessionária é obrigada a reparar os danos físicos experimentados pelo consumidor, pois responde solidariamente com o fabricante pelos vícios de qualidade que tornam o produto imprestável para o fim a que se destina. (B) A montadora pode se eximir da responsabilidade pela indenização devida ao consumidor, desde que demonstre que o sistema de freios que utiliza em seus veículos são produzidos por terceiros. (C) Uma vez comprovado que o acidente decorre da falha do sistema de freios, a empresa que fornece esse equipamento para a montadora pode ser demandada pelo consumidor para reparação dos danos físicos sofridos. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 30 (D) A concessionária, a montadora e o terceiro fornecedor do sistema de freios são solidariamente responsáveis pela indenização devida ao consumidor. (E) A montadora poderá se eximir de responsabilidade se demonstrar que a falha no sistema de freios decorre de incompatibilidade deste produto com o projeto do carro. A situação narrada representa um caso de responsabilidade do fornecedor do sistema de freios (art. 12 do CDC) por fato do produto. Porém, segundo o art. 13 do CDC, também é possível que o comerciante (concessionária) seja responsabilizado em determinadas situações. Dessa forma, é possível afirmar que a responsabilidade do comerciante frente ao fornecedor, em regra, é subsidiária. Análise das alternativas: (A) ERRADA. A responsabilidade da concessionária é subsidiária, devendo responder, de forma a primária, o fornecedor do sistema de freios. (B) ERRADA. As situações que podem excluir a responsabilidade do fornecedor do sistema de freios estão listadas no art. 12, § 3º do CDC. São elas: I - que não colocou o produto no mercado; II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Dentre as situações não consta a construção do produto por terceiros. Entretanto, ressalta-se que a fornecedora do sistema de freios terá ação regressiva contra o terceiro produtor. (C) CERTA. Conforme comentários iniciais da questão. (D) ERRADA. A responsabilidade da concessionária é subsidiária. (E) ERRADA. As situações excludentes de responsabilidade do fornecedor do sistema de freios foram listadas na alternativa (B). Desta forma, a incompatibilidade do produto com o projeto não pode ser indicada como causa excludente da responsabilidade. Gabarito: C 8. (FCC – TJ/RR – Juiz Substituto – 2008) Para responder a questão, analise as proposições a seguir e assinale a melhor alternativa: I. O produtor de produtos naturais e agropecuários não estará sujeito à disciplina do Código de Defesa do Consumidor, quando o fornecimento de seus produtos não envolver industrialização.(A) (B) (C) (D) (E) II. O Código de Defesa do Consumidor pode ser aplicado nas relações entre entidades de previdência privada e seus participantes. III. O Código de Defesa do Consumidor pode ser aplicado nas relações entre consumidores e instituições financeiras. IV. A pessoa jurídica integrante da administração pública indireta não está sujeita à disciplina do Código de Defesa do Consumidor. (A) Somente as proposições I e II são corretas. (B) Somente as proposições I e IV são corretas. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 31 (C) Somente as proposições II e III são corretas. (D) Somente as proposições III e IV são corretas. (E) As proposições I, II, III e IV são corretas. Análise das afirmativas: I. ERRADA. O produtor de produtos naturais e agropecuários se enquadra no conceito de fornecedor previsto no art. 3º do CDC e, por isso, pode figurar em uma relação de consumo. II. CERTA. Conforme a Súmula 321 do STJ. III. CERTA. Conforme a Súmula 297 do STJ. IV. ERRADA. Durante a abordagem teórica estudamos que o poder público (inclusive a administração pública indireta) pode ser enquadrado como fornecedor se atuar no mercado de consumo prestando serviço mediante a cobrança de preço. Gabarito: C (FCC – TJ/AL – Juiz Substituto – 2007) As questões 9 e 10 referem-se ao seguinte caso: Uma consumidora adquire, em um shopping, aparelhoimportado para massagens e após quatro meses de uso é obrigada a submeter-se a intervenção cirúrgica para tratamento de varizes, moléstia agravada, segundo o médico, pela utilização do referido aparelho. Servindo-se da ajuda de um tradutor, tomou conhecimento das instruções veiculadas em língua estrangeira e somente então constatou que havia advertência expressa proibindo o seu uso aos portadores de varizes. 9. Nesta hipótese, (A) somente o shopping responde pelos vícios do produto. (B) somente o importador responde pelos danos causados à saúde da consumidora. (C) o shopping e o importador respondem pelos vícios do produto e pelos danos causados à saúde da consumidora, em caráter solidário. (D) a responsabilidade é exclusiva do shopping por não ter traduzido a advertência constante da instrução de uso. (E) a responsabilidade é exclusiva do importador por não ter traduzido a advertência constante da instrução de uso. Pela situação narrada no enunciado da questão, temos um produto que é considerado defeituoso, pois não oferece a segurança que dele legitimamente se espera (art. 12, § 1º do CDC), ou seja, a tradução das advertências para o idioma nacional. Neste caso haverá uma responsabilidade solidária entre o shopping e o importador, pois ambos poderiam ter feito a tradução das advertências (art. 18 do CDC). Gabarito: C 10. O prazo para a consumidora reclamar pelos vícios de qualidade do aparelho (A) é imprescritível, por se tratar de vício de informação na área da saúde. (B) já se consumou pelo decurso de 90 (noventa) dias contados da aquisição do produto. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 32 (C) consuma-se no prazo de 5 (cinco) anos contados da aquisição do produto. (D) consuma-se no prazo de 5 (cinco) anos contados da constatação do vício. (E) é de 90 (noventa) dias e inicia sua contagem a partir do momento em que tomou conhecimento do defeito. Em se tratando de um produto durável, o prazo decadencial para se reclamar do vício de qualidade é de 90 dias e, pelo fato do vício ser considerado oculto, o início da contagem ocorre a partir do conhecimento do defeito. Vide art. 26 do CDC. Gabarito: E 11. (FCC – TJ/AL – Juiz Substituto – 2007) “Mesmos nos países em que se reconhece a personalidade jurídica apenas às sociedades de capitais surgiu, há muito, uma doutrina que visa, em certos casos, a desconsiderar a personalidade jurídica, isto é, não considerar os efeitos da personalidade, para atingir a responsabilidade dos sócios. Por isso também é conhecida por doutrina da penetração. Esboçada nas jurisprudências inglesa e norte-americana, é conhecida no direito comercial como a doutrina do Disregard of Legal Entity. Na Alemanha surgiu uma tese apresentada pelo Prof. Rolf Serick, da Faculdade de Direito da Universidade de Heidelberg, que estuda profundamente a doutrina, tese essa que adquiriu notoriedade causando forte influência na Itália e na Espanha. Seu título, traduzido pelo Prof. Antonio Pólo, de Barcelona, é bem significativo: ‘Aparencia y Realidad em las Sociedades Mercantiles – El abuso de derecho por médio de la persona jurídica’. Pretende a doutrina penetrar no âmago da sociedade, superando ou desconsiderando a personalidade jurídica, para atingir e vincular a responsabilidade do sócio.” (Rubens Requião. Curso de Direito Comercial. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. v. 1, p. 390) Pode-se afirmar que a doutrina acima referida, nas relações de consumo (A) foi agasalhada pelo direito brasileiro e permite que o Juiz desconsidere a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. (B) foi agasalhada pelo direito brasileiro, mas a desconsideração não será efetivada quando houver falência ou estado de insolvência, porque todos os credores devem ser tratados com igualdade nestes casos. (C) não foi agasalhada pelo direito brasileiro que, expressamente, distingue a personalidade jurídica dos sócios da personalidade jurídica da sociedade. (D) foi parcialmente adotada pelo direito brasileiro e permite ao Juiz dissolver a sociedade, determinando sua liquidação, quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. (E) está incorporada ao direito brasileiro e permite às autoridades administrativas e ao Juiz determinar que os efeitos de certas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica, se verificado abuso da personalidade jurídica desta pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial. CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 33 Análise das alternativas: (A) CERTA. Conforme o art. 28, § 5º do CDC. (B) ERRADA. Segundo o art. 28, caput, do CDC, mesmo em estado de falência ou de insolvência é possível ocorrer a desconsideração da personalidade jurídica. (C) ERRADA. A teoria da desconsideração é admitida em nosso ordenamento jurídico. (D) ERRADA. Ao determinar a desconsideração da personalidade jurídica, o magistrado não determina a liquidação da sociedade, apenas estende os efeitos de uma determinada obrigação ao patrimônio dos sócios e administradores. (E) ERRADA. A desconsideração da personalidade jurídica só pode ocorrer por decisão judicial, não sendo cabível em decisões administrativas. Gabarito: A 12. (FCC – DPE/PA – Defensor Público – 2009) No Brasil, a defesa do consumidor (A) é matéria reservada ao legislador federal, o qual, segundo a Lei Maior, somente o protegerá nas hipóteses de comprovada hipossuficiência econômica. (B) é cláusula pétrea. (C) encontra-se regulada pelo Código de Defesa do Consumidor, a qual fundamenta-se no princípio da responsabilidade objetiva do profissional liberal em razão do risco da atividade. (D) encontra-se regulada pelo Código de Defesa do Consumidor, a qual se aplica a todos os ramos de atividades, exceto a exercida pelas instituições financeiras, conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça. (E) prevista pelo Código de Defesa do Consumidor não se aplica à relação jurídica entre a entidade de previdência privada e seus participantes, haja vista a não caracterização de relação de consumo. Análise das alternativas: (A) ERRADA. A hipossuficiência do consumidor abordada no CDC é a processual. (B) CERTA. Por estar prevista no art. 5º, V da CF, a defesa do consumidor é um direito fundamental e, por isso, é considerado uma cláusula pétrea. (C) ERRADA. Segundo o art. 14, § 4º do CDC, a responsabilidade do profissional liberal é subjetiva, ou seja, depende da comprovação de culpa. (D) ERRADA. Conforme a Súmula 297 do STJ, o CDC também se aplica às instituições financeiras. (E) ERRADA. Conforme a Súmula 321 do STJ, o CDC é aplicável à relação jurídica entre entidade de previdência privada e seus participantes. Gabarito: B CURSO ON-LINE – ICMS/RJ – DIREITO CIVIL TEORIA E EXERCÍCIOS PROF: DICLER FERREIRA 34 13. (FCC – DPE/PA – Defensor Público – 2009) Assinale a alternativa que representa os ditames do Direito consumerista em vigor. (A) A massa falida, por ser ente despersonalizado, não se enquadra no conceito legal de fornecedor. (B) Uma grande e próspera multinacional, ao adquirir produtos e serviços, não pode ser considerada consumidora, ainda que a aquisição seja na condição de destinatário final, porquanto lhe falta o requisito da hipossuficiência econômica. (C) Produto é qualquer bem imóvel ou móvel, desde que corpóreo. (D) Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, desde que determináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. (E) Os entes despersonalizados que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de
Compartilhar