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Diarreia Diarreia OBJETIVOS 1. Conhecer a epidemiologia e os fatores de risco relacionados às diarreias; 2. Identificar os tipos de diarreia e suas etiopatogenias; 3. Relatar as manifestações clínicas e complicações das diarreias; 4. Discorrer acerca do diagnóstico, conduta terapêutica e prevenção das diarreias. CONCEITO A diarreia aguda é uma doença que se caracteriza pela diminuição da consistência das fezes e/ou aumento no número de evacuações. Com frequência é acompanhada de vômitos, febre e dor abdominal. Algumas vezes pode apresentar muco e sangue – disenteria. Em geral é autolimitada, tende a curar espontaneamente, com duração de até 14 dias, e sua gravidade depende da presença e intensidade da desidratação. Os casos com duração superior a 14 dias são considerados casos persistentes (crônicos). Acima de três evacuações diarreicas/ dia pode ser considerada diarreia, porém deve- se levar em consideração o hábito intestinal de cada pessoa. É importante que seja avaliada a quantidade de líquidos perdidos. Diarreia aguda versus crônica: A diarreia é geralmente considerada aguda se durar menos de duas semanas e crônica se durar mais de duas semanas. No entanto, permanece uma falta de consenso claro sobre o uso de definições de diarreia baseadas em sintomas e/ou duração EPIDEMIOLOGIA OMS: doenças diarreicas são 2ª principal causa de morte em crianças < 5 anos. DDA principais causas de morbimortalidade infantil (< 1 ano). SAÚDE PÚBLICA GLOBAL: 1,7 bilhão de casos e 525 mil óbitos na infância (< 5 anos). 2016: 446000 crianças < de 5 anos e 694000 com 70+ (mortes por DDA) DDA uma das principais causas de desnutrição em < de 5 anos. IBGE (2016) aspectos sobre consumo de água: • 87,3% domicílios ligados à rede geral (disponibilidade diária de água); o 66,6% no NORDESTE • Abastecimento NORDESTE: o 16,3% três vezes/semana o 11,2% quatro a seis vezes/sem. • Rede geral no NORTE: o Apenas 59,8% dos domicílios. o 20,3% poço profundo ou artesiano. o 12,7% poço raso, freático ou cacimba. o 3,1% fonte ou nascente. BRASIL: 4 milhões de casos e mais de 4 mil óbitos por DDA anualmente. FATORES DE RISCO Riscos relacionados com a água: • por meio da ingestão de água contaminada por agentes biológicos (bactérias, vírus e parasitas) ou por meio de vetores que necessitam da água em seu ciclo biológico; • derivados de poluentes químicos e radioativos, geralmente efluentes de esgotos industriais, ou causados por acidentes ambientais. Ingestão de água sem tratamento adequado; Consumo de alimentos sem conhecimento da procedência, do preparo e armazenamento; Consumo de leite in natura (sem ferver ou pasteurizar) e derivados; Consumo de produtos cárneos e pescados e mariscos crus ou malcozidos; Consumo de frutas e hortaliças sem higienização adequada; Viagem a locais em que as condições de saneamento e de higiene sejam precárias; Falta de higiene pessoal. Exposição a agentes infecciosos que são transmitidos via fecal-oral. Medicamentos como antibióticos e medicamentos que contêm produtos de magnésio são infratores comuns. ETIOPATOGENIA AGENTES ETIOLÓGICOS FISIOPATOLOGIA VISÃO GERAL A diarreia ocorre quando quantidades excessivas de líquido permanecem no lúmen do intestino. Isso pode ocorrer devido ao aumento da secreção no lúmen intestinal ou à redução da absorção de água do lúmen para o corpo. Em ambos os casos, há uma concentração aumentada de partículas osmoticamente ativas (nutrientes e/ou eletrólitos) no lúmen do intestino, resultando em um aumento líquido no conteúdo de água do conteúdo intestinal. Concentrações aumentadas de partículas osmoticamente ativas dentro do lúmen ocorrem por meio de três mecanismos primários: Perda de absorção de nutrientes ou presença de solutos não absorvíveis no lúmen intestinal. Exemplos incluem a perda de absorção de nutrientes observada na doença celíaca ou na inflamação e diarreia causada por laxantes como polietilenoglicol 3350 (PEG 3350). Esse mecanismo está subjacente à diarreia induzida pela dieta (anteriormente classificada como osmótica), que melhora com o jejum. Secreção aumentada ou absorção reduzida de eletrólitos (Na + , Cl - , K + , HCO 3 - ) através do epitélio. Exemplos incluem diarreia secundária à infecção por Vibrio cholerae, que causa secreção excessiva de cloreto e perda da absorção eletroneutra de sódio. Esse mecanismo está subjacente à diarreia relacionada ao transporte de eletrólitos (anteriormente classificada como secretora), que não melhora com o jejum. Trânsito intestinal rápido resultando em tempo reduzido para absorção de líquidos. Os exemplos incluem uma variedade de condições que causam hipermotilidade do intestino, incluindo a diarreia funcional observada em bebês e crianças pequenas (às vezes denominada "diarreia da criança"). CLASSIFICAÇÃO 1. Diarreia induzida por dieta (osmótica); o resultante de solutos ou nutrientes não absorvidos 2. Diarreia relacionada ao transporte de eletrólitos (secretora); o causada pela secreção de íons ativos no intestino 3. Diarreia mista. (A) Normal — Durante a função normal, a absorção de Na + e nutrientes impulsiona a absorção de fluidos, com uma pequena quantidade basal de secreção de fluidos acionada por eletrólitos (Cl – ) , permi t indo uma reabsorção ef iciente de f lu idos , levando a uma perda mín ima de f lu idos pelas fezes . (B) Perda de absorção de nutrientes, ou presença de solutos não absorvíveis (diarreia "osmótica" ou induzida por dieta) , PEG 3350), impede a absorção de fluidos e promove a secreção de fluidos para o lúmen intestinal, levando à diarreia. (C) Secreção aumentada ou absorção reduzida de eletrólitos(diarreia relacionada ao transporte de eletrólitos ou “secretora”) – Secreção excessiva de fluidos por ânions e absorção reduzida de fluidos por eletrólitos, como ocorre em certas infecções como a cólera, leva ao acúmulo de líquido no lúmen intestinal e diarreia. (D) Trânsito intestinal rápido (diarreia relacionada à motilidade) – O aumento da motilidade intestinal resulta em tempo reduzido para absorver eletrólitos e nutrientes, levando a substratos não absorvidos excessivos no intestino e absorção reduzida de líquidos, levando à diarreia FISIOPATOLOGIA DO TRANSPORTE ANORMAL DE ELETRÓLITOS EM DIARREIAS BACTERIANAS E VIRAIS (A) Diarreias bacterianas — Algumas bactérias secretam enterotoxinas que aumentam os nucleotídeos cíclicos intracelulares, resultando na secreção de íons cloreto (Cl – ) e inibição da absorção de NHE3 e íons sódio (Na + ). Bactérias invasoras causam uma resposta inflamatória tecidual envolvendo recrutamento de células imunes e liberação de citocinas, resultando em sinalização intracelular de íons cálcio (Ca 2+ ). (B) Diarreias virais — A proteína rotaviral NSP4 causa elevação da concentração citoplasmática de Ca 2+ por ligação à integrina-alfa(1)beta(2) e Gal e/ou pela ativação de nervos entéricos. Rotaviral NSP4 também inibe NHE3 e SGLT1. INDUZIDA PELA DIETA A diarreia induzida pela dieta ocorre quando substâncias osmoticamente ativas estão presentes no lúmen intestinal, resultando em retenção de água. Isso pode ocorrer devido à perda de absorção de um soluto dietético, como lactose, ou administração de um soluto não absorvível, como polietilenoglicol 3350 (PEG 3350). Como essa forma de diarreia é causada por nutrientes ingeridos osmoticamente ativos (por exemplo, carboidratos) ou substâncias exógenas (por exemplo, laxante osmótico), a diarreia diminuirá durante o jejum. Assim, uma tentativa de jejum (> 12 horas) é um teste diagnóstico útil. Idealmente, isso é feito em um hospital para monitorar cuidadosamente tanto a produção de fezes quanto o estado de hidratação,mas também pode ser inferido a partir da história se a diarreia diminuir durante o jejum deliberado ou inadvertido. A intolerância primária à lactose ou ingestão de PEG 3350 são exemplos de diarreias com mecanismo puramente osmótico. Um mecanismo induzido pela dieta também pode contribuir para a diarreia por uma variedade de outras causas. Por exemplo, infecções entéricas e condições inflamatórias, como Salmonella e doença inflamatória intestinal, podem causar danos às células epiteliais intestinais e perda da área de superfície absortiva, levando à absorção prejudicada de nutrientes e diarreia induzida pela dieta. REL. AO TRANSP. DE ELETRÓL. Ocorre como resultado de alterações nos mecanismos de transporte de íons nas células epiteliais. A característica clínica distintiva é que esse tipo de diarreia persistirá ininterruptamente durante o jejum porque é independente da ingestão de nutrientes osmoticamente ativos. Vários tipos de doenças diarreicas se enquadram nesta categoria: • Bactérias enterotoxigênicas – O exemplo clássico de diarreia relacionada ao transporte de eletrólitos (embora raramente encontrada em nações ricas em recursos) é a infecção pelo patógeno V. cholerae, em que a enterotoxina, toxina da cólera, causa secreção fluida maciça (litros) de Cl - e água. Outros exemplos de enterotoxinas bacterianas incluem as enterotoxinas produzidas por Clostridia perfringens e C. difficile e a enterotoxina termoestável de E. coli. • Vírus enterotoxigênicos – As enterotoxinas virais também podem causar diarreia secretora. Como exemplo, o rotavírus produz uma enterotoxina viral, a glicoproteína não estrutural (NSP4). NSP4 causa secreção transepitelial de Cl - dependente de Ca 2+ das células da cripta, resultando em diarréia secretora. • Outras diarreias secretoras – Causas não infecciosas de diarreia secretora incluem: o mediadas por peptídeos gastrointestinais (como peptídeo intestinal vasoativo e gastrina) – Síndrome de Zollinger-Ellison. o Certas substâncias fisiológicas, como ácidos biliares e certos medicamentos. o Defeitos congênitos. • Relacionado à motilidade — Alterações na motilidade gastrointestinal podem influenciar significativamente a absorção de líquidos, particularmente no cólon. A hipomotilidade, ou o comprometimento grave do peristaltismo intestinal, resulta em estase com supercrescimento bacteriano subsequente e desconjugação secundária de ácidos biliares, má absorção de ácidos biliares e ativação da secreção colônica. Em contraste, a hipermotilidade, que provavelmente contribui para a patogênese da diarreia funcional em lactentes e crianças pequenas (juntamente com a ingestão excessiva de carboidratos), pode levar à diarreia secundária ao tempo inadequado de absorção colônica. A hipermotilidade também contribui para alguns casos de diarreia predominante na síndrome do intestino irritável. SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL. • Relacionado à inflamação — A inflamação intestinal leva à diarreia por meio de vários mecanismos. A diarreia pode ter um componente induzido pela dieta porque o processo inflamatório causa destruição ou comprometimento das células epiteliais, resultando em perda de área de superfície e transportes, resultando em absorção prejudicada de nutrientes e aumento da carga osmótica no lúmen intestinal osmótico)' acima). A inflamação também pode causar diarreia relacionada ao transporte de eletrólitos por induzir a secreção ativa de Cl- e uma perda de absorção de Na + (consulte 'Relacionado ao transporte de eletrólitos (secretor)'acima de). Além disso, o processo inflamatório também pode levar à quebra da função da barreira intestinal, resultando em exsudação de muco, proteína e sangue para o lúmen intestinal (por exemplo, enteropatia perdedora de proteínas). A causa mais comum de diarreia inflamatória é a infecção. Vários patógenos entéricos relativamente comuns. A inflamação intestinal também pode ser causada por doenças crônicas, como doença inflamatória intestinal e doença celíaca. PATOGÊNESE DIARREIA INFECCIOSA Enterotoxinas bacterianas interagem com os receptores de transporte e causam aumento na secreção ou bloqueiam as vias absortivas (ou ambos). • Inibição comum: da troca de NaH no intestino delgado e cólon Os peptídeos que estimulam a secreção incluem ACH, serotonina, histamina e citotoxinas inflamatórias, que atuam por meio de alterações no cAMP intracelular, cGMP e cálcio que controlam vias específicas de transporte de sódio. Drogas e toxinas podem perturbar o mecanismo normal e causar a diarreia. Toxinas ou secretogogos podem direcionar a secreção de cloreto para o lúmen, com fluxo obrigatório de água, o que pode ter um papel na diarreia na infecção e na DII. Evidenciasse a serotonina como um alvo para patógenos entéricos. Exemplo: enteropatogênicos → Eschereria coli (EPEC), que se liga e afeta as células da mucosa, interrompe a função da barreira e causa diminuição da absorção de Na+, Cl- e butirato. Estudos com a linhagem celular Caco-2 mostrou que EPEC inibe a função e a expressão do transportador intestinal de serotonina, diminuindo a função do transportador SERT rapidamente, resultando no aumento da contração e na diarreia. TRANSP. DE ELETRÓLITOS DESREGULADOS NA DII Inflamação resulta em diarreia por vários mecanismos, como com células mononucleares que liberam citocinas pró inflamatórias e eicosanóides, resultando na diminuição da absorção, mas sem aumento da secreção. Muitas citocinas inf. inibem o transporte de Na, como TNFα, Interferon-γ e interleucinas (IL-4, -6, -8, -12, -13). SERONONINA NA SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL A serotonina (5-HT) afeta a absorção ou a secreção de fluidos e eletrólitos por meio de interações com subtipos de receptores 5-HT. A ingestão rápida de 5-HT ocorre através do transportador SERT seletivo que regula a 5-HT no intestino. A liberação hiperativa de serotonina das células EC (células sensoriais da mucosa que liberam mediadores após estimulação mecânica ou química) pode contribuir para a diarreia na SII. A diminuição do SERT altera a motilidade e pode contribuir para diarreia e/ou constipação. MÁ ABSORÇÃO DE ÁC. BILIARES Ácidos biliares são sintetizados a partir do colesterol, com um sistema de feedback negativo. Sendo sintetizados no fígado, transportados para os ductos biliares, armazenados nas vesículas biliar e liberados no duodeno. Vias de síntese ácidos biliares: • Neural (clássica) – ocorre apenas no fígado; • Ácida (alternativa). A diminuição da absorção de ác biliares, no contexto da doença ileal ou ressecção intestinal, denomina-se “má absorção secundária de ácidos biliares”. Ressecções de menos de 100 cm de íleo terminal interrompem o feedback normal, resultando em aumento da síntese de ácidos biliares e aumento da quantidade de ácidos biliares não absorvidos que atingem o cólon, onde estimulam a secreção de sal e água, causando diarreia aquosa (isto é, diarreia colerética). A absorção reduzida resultante de ácidos biliares excede a capacidade do fígado de sintetizar reposição adequada, resultando em um pool de ácidos biliares diminuído, formação de micelas prejudicada e má absorção de gordura. Além disso, a ausência do íleo contribui para a diarreia, tanto com a perda da capacidade absortiva quanto com a perda do “freio ileal”. Os ácidos biliares no cólon podem causar diarreia por vários mecanismos: estimular a secreção de sódio e água, induzir a secreção de muco, aumentar a motilidade do cólon, estimular a defecação e/ou danificar a mucosa com diminuição da permeabilidade intestinal. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Ocorrência de no mínimo três episódios de diarreia aguda no períodode 24hrs (diminuição da consistência das fezes – fezes líquidas ou amolecidas – e aumento do número de evacuações) podendo ser acompanhados de: • Cólicas abdominais. • Dor abdominal. • Febre. • Sangue ou muco nas fezes. • Náusea. • Vômitos. De acordo com agente etiológico tem-se as manifestações clínicas mais frequentes: COMPLICAÇÕES Em geral, são decorrentes da desidratação e do desequilíbrio hidroeletrolítico. Quando não são tratadas adequada e precocemente, pode ocorrer óbito por choque hipovolêmico e/ou hipopotassemia. Nos casos crônicos ou com episódios repetidos, podem acarretar desnutrição crônica, com retardo do desenvolvimento ponderoestatural em crianças. A principal complicação é a desidratação, que se não for corrigida rápida e adequadamente, em grande parte dos casos, especialmente em crianças e idosos, pode causar complicações mais graves. O paciente com diarreia deve estar atento e voltar imediatamente ao serviço de saúde se não melhorar ou se apresentar qualquer um dos sinais e sintomas: Piora da diarreia, Vômitos repetidos, muita sede, Recusa de alimentos, Sangue nas fezes, Diminuição da urina. DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO CLÍNICO O primeiro passo para o diagnóstico é a realização da anamnese. Informações fundamentais: idade do paciente, duração da doença diarreica atual, características das fezes (consistência e presença de sangue ou muco), frequência e volume das evacuações, associação da diarreia a vômitos, dor abdominal, febre (duração), tenesmo (tentativa dolorosa de evacuar), cãibras. É importante excluir as causas não infecciosas de diarreia aguda: uso recente de medicações (laxativos, antiácidos, antibióticos), ingestão de bebidas alcoólicas, excesso de bebidas lácteas. A história epidemiológica e social, nesses casos, ajuda na condução do diagnóstico: local onde o paciente reside e suas condições sanitárias, história de viagem recente a lugares endêmicos ou não endêmicos. Além disso, saber se o paciente é portador de doença que possa estar relacionada com o quadro ou interferir no manejo da diarreia (hipertensão arterial sistêmica, diabetes, doenças cardíacas, doenças hepáticas, doenças pulmonares crônicas, insu"ciência renal, alergia ou intolerância alimentar, ser portador de HIV/aids, ser intolerante a algum alimento). O passo seguinte é a realização de exame físico cuidadoso, identificando-se os sinais e sintomas da desidratação EXAME FÍSICO: O objetivo principal do exame físico é avaliar o grau de desidratação do paciente. Aparência geralmente doente, membranas mucosas secas, tempo de enchimento capilar retardado, aumento da frequência cardíaca e sinais vitais ortostáticos anormais podem ser úteis na identificação de desidratação mais grave. A febre é mais sugestiva de diarreia inflamatória. O exame abdominal é importante para avaliar dor e processos abdominais agudos. Um exame retal pode ser útil na avaliação de sangue, sensibilidade retal e consistência das fezes. PISTAS PARA O DIAGNÓSTICO DE DIARREIA AGUDA HISTÓRIA POTENCIAL PATÓGENO/ETIOLOGIA Afebril, dor abdominal com diarreia sanguinolenta Escherichia coli produtora de toxina Shiga Fezes sangrentas Salmonella , Shigella , Campylobacter , E. coli produtora de toxina Shiga , Clostridium difficile , Entamoeba histolytica , Yersinia Camping, consumo de água não tratada Giardia Consumo de alimentos comumente associado a doenças transmitidas por alimentos Arroz frito Bacillus cereus Carne moída crua ou brotos de sementes E. coli produtora de toxina Shiga (por exemplo, E. coli O157: H7) Leite cru Salmonella , Campylobacter , E. coli produtora de toxina Shiga , Listeria Frutos do mar, especialmente mariscos crus ou mal cozidos Vibrio cholerae , Vibrio parahaemolyticus Carne bovina, suína ou de aves mal cozida Staphylococcus aureus , Clostridium perfringens , Salmonella , Listeria (carne bovina, suína, aves), E. coli produtora de toxina Shiga (carne bovina e suína), B. cereus (carne bovina e suína), Yersinia (carne bovina e suína), Campylobacter (aves) Exposição a creches Rotavírus , Cryptosporidium , Giardia , Shigella Contato sexual fecal-oral Shigella , Salmonella , Campylobacter , doença protozoária Admissão hospitalar C. difficile , efeito adverso do tratamento Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, imunossupressão Cryptosporidium , Microsporida, Isospora , Citomegalovírus , Complexo Mycobacterium aviumintracellulare , Listeria Condições médicas associadas à diarreia Endócrinos: hipertireoidismo, insuficiência adrenocortical, tumores carcinoides, câncer medular da tireoide Gastrintestinais: colite ulcerativa, doença de Crohn, síndrome do intestino irritável, doença celíaca, intolerância à lactose, colite isquêmica, câncer colorretal, síndrome do intestino curto, má absorção, gastrinoma, VIPoma, obstrução intestinal, constipação com transbordamento Outros: Apendicite, diverticulite, infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, infecções sistêmicas, amiloidose, anexite Medicamentos ou outras terapias associadas à diarreia Antibióticos (especialmente de amplo espectro), laxantes, antiácidos (à base de magnésio ou cálcio), quimioterapia, colchicina, radioterapia pélvica Menos comuns: inibidores da bomba de prótons, manitol, anti-inflamatórios não esteroides, inibidores da enzima conversora de angiotensina, medicamentos para baixar o colesterol, lítio Diarreia persistente com perda de peso Giardia , Cryptosporidium , Cyclospora Gravidez Listeria Uso recente de antibióticos É difícil Coito anal receptivo, com ou sem dor retal ou proctite Infecção pelo vírus herpes simples, clamídia, gonorreia, sífilis Dor retal ou proctite Campylobacter, Salmonella, Shigella, E. histolytica, C. difficile, Giardia Fezes de água de arroz V. cholerae Várias pessoas com exposição comum a alimentos têm início agudo dos sintomas Intoxicação alimentar com toxinas pré-formadas Início dos sintomas dentro de 6 horas: Staphylococcus , B. cereus (geralmente causa vômito) Início dos sintomas dentro de 8 a 16 horas: C. perfringens tipo A (geralmente causa diarreia) Viajar para um país em desenvolvimento A E. coli enterotoxigênica é mais comum Muitos outros patógenos (por exemplo, Shigella , Salmonella , E. histolytica , Giardia , Cryptosporidium , Cyclospora , vírus entéricos) são possíveis devido a alimentos mal limpos ou cozidos, ou contaminação fecal de alimentos ou água DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O diagnóstico das causas etiológicas da DDA é laboratorial, por meio de exames pa- rasitológicos, cultura de bactérias e pesquisa de vírus em amostras de fezes. SANGUE OCULTO: teste rápido e barato, e quando os testes são positivos para sangue oculto nas fezes em conjunto com a presença de leucócitos fecais ou lactoferrina, o diagnóstico de diarreia inflamatória é mais comum. LEUCÓCITOS E LACTOFERRINA: A lactoferrina é um marcador de leucócitos que é liberado por células danificadas ou em deterioração e aumenta no cenário de infecções bacterianas. COPROCULTURA: é razoável realizar uma cultura se o paciente tiver fezes com sangue, desidratação grave, sinais de doença inflamatória, sintomas com duração superior a três a sete dias ou imunossupressão. TESTE DE CLOSTRIDIUM DIFFICILE: teste para toxinas A e B de Clostridium difficile é recomendado para pacientes que desenvolvem diarreia inexplicável após três dias de hospitalização. OVOS E PARASITAS: as indicações para testes de óvulos e parasitas incluem diarreia persistente com duração superior a sete dias, especialmentese associada a bebês em creches ou viagens para regiões montanhosas; diarréia em pessoas com AIDS ou homens que fazem sexo com homens; surtos comunitários transmitidos pela água; ou diarreia sanguinolenta com poucos leucócitos fecais. ENDOSCOPIA: avaliação endoscópica pode ser considerada se o diagnóstico não for claro após exames de sangue e fezes de rotina, se a terapia empírica for ineficaz ou se os sintomas persistirem. Especificamente, endoscopia baixa com biópsia colônica e cultura pode ser útil em pacientes com diarreia e suspeita de tuberculose ou colite difusa (como na colite por C. difficile ) e na determinação de causas não infecciosas de diarreia aguda, como doença inflamatória intestinal, colite isquêmica, enteropatia relacionados ao uso de anti-inflamatórios não esteroidais e câncer. TRATAMENTO PREVENÇÃO As intervenções para prevenir a diarreia incluem ações institucionais de saneamento e de saúde, além de ações individuais que devem ser adotadas pela população: • Lave sempre as mãos com sabão e água limpa principalmente antes de preparar ou ingerir alimentos, após ir ao banheiro, após utilizar transporte público ou tocar superfícies que possam estar sujas, após tocar em animais, sempre que voltar da rua, antes e depois de amamentar e trocar fraldas. • Lave e desinfete as superfícies, os utensílios e equipamentos usados na preparação de alimentos. • Proteja os alimentos e as áreas da cozinha contra insetos, animais de estimação e outros animais (guarde os alimentos em recipientes fechados). • Trate a água para consumo (após filtrar, ferver ou colocar duas gotas de solução de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água, aguardar por 30 minutos antes de usar). • Guarde a água tratada em vasilhas limpas e com tampa, sendo a “boca” estreita para evitar a recontaminação; • Não utilize água de riachos, rios, cacimbas ou poços contaminados para banhar ou beber. • Evite o consumo de alimentos crus ou malcozidos (principalmente carnes, pescados e mariscos) e alimentos cujas condições higiênicas, de preparo e acondicionamento, sejam precárias. • Ensaque e mantenha a tampa do lixo sempre fechada; quando não houver coleta de lixo, este deve ser enterrado em local apropriado. • Use sempre o vaso sanitário, mas se isso não for possível, enterre as fezes sempre longe dos cursos de água; • Evite o desmame precoce. Manter o aleitamento materno aumenta a resistência das crianças contra as diarreias. REFERÊNCIAS THIAGARAJAH, Jay R. Pathogenesis of acute diarrhea in children. Uptodate. Waltham, MA: UpToDate Inc.[internet], 2019. BARR, Wendy; SMITH, Andrew. Acute diarrhea in adults. American family physician, v. 89, n. 3, p. 180-189, 2014. SURAWICZ, Christina M. Mechanisms of diarrhea. Current gastroenterology reports, v. 12, n. 4, p. 236-241, 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde : volume 1 / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia e Serviços. – 1. ed. atual. – Brasília : Ministério da Saúde, 2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Manejo do paciente com diarreia. Brasília : Ministério da Saúde, 2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Capacitação em monitorização das doenças diarréicas agudas – MDDA : manual do monitor / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2010.
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