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2 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS 21-77202 CDU-34:59 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Comportamento animal para advogados animalistas [livro eletrônico] / organização Erika Zanoni Fagundes Cunha. -- Ponta Grossa, PR : Ed. do Autor, 2021. ePub Bibliografia. ISBN 978-65-00-28806-3 1. Animais - Direitos 2. Animais - Diretos - Aspectos éticos e morais 3. Direito dos animais I. Cunha, Erika Zanoni Fagundes. Índices para catálogo sistemático: 1. Animais : Direitos 34:59 Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129 Caro advogado animalista, Organizei esse material com muito carinho em retribuição ao lindo trabalho que realizam para aque- les que têm a voz sem palavras. Esse livro contém noções sobre a neurobiologia, estresse, desenvolvimento do comportamento e emoções. Bons Estudos! Erika Zanoni Fagundes Cunha 4 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS A autora Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Paraná (2003), especialização em Neurociência Clínica (2020), especialização em Neuroges- tão (2020), mestrado em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal do Paraná (2005) e doutorado em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná (2019). É pós- -graduanda em Neuromarketing e neurobranding (2021). Tem experiência na área de comportamento, atuando principalmente nos seguintes temas: Neurogestão, neuroci- ência, estresse, transtornos mentais, intervenções assistidas por animais e meio am- biente. No ensino superior atua desde 2006, como docente. Escreveu um dos capítulos do livro “As vinte melhores estratégias do ensino do bem-estar animal” publicado pela World Animal Protection:” em 2015. Publicou o capítulo “Ensaios de uma cosmo visão teleológica para uma elaboração de uma legislação específica da TAA” que foi a base do novo projeto de Lei do Congresso Nacional a respeito da Intervenção Assistida por Animais. É membro da Animal Behavior Society, da Sociedade Brasileira de Neuro- ciência e Comportamento e Sociedade Brasileira de Etologia. Atualmente atua como diretora das relações institucionais do Centro Superior de Ensino dos Campos Gerais (CESCAGE). No setor de extensão, coordena o grupo Mascotes da Alegria que realiza intervenções assistidas por animais há 11 anos. Na pós-graduação é coordenadora da residência de saúde coletiva. Atua também na gestão do Colégio Vila Militar CESCAGE e como docente no ensino Fundamental II na disciplina: Cuidar de animais. Conheça também o SPA MEDPET erikazanbr@yahoo.com.br E-mail erika.e.zanoni Facebook erika_zanoni Instagram www.psiquiatriaanimal.com.br site spamedpet@gmail.com E-mail spamedpet Facebook spamedpet Instagram https://www.facebook.com/erika.e.zanoni https://www.facebook.com/erika.e.zanoni mailto:erikazanbr%40yahoo.com.br?subject=Livro%20Comportameto%20Animal%20para%20advogados%20animalistas http://www.psiquiatriaanimal.com.br https://www.instagram.com/spamedpet/ https://www.facebook.com/spamedpet mailto:spamedpet%40gmail.com?subject= https://www.instagram.com/spamedpet/ 5 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS Sumário A autora ................................................................................................................................ 3 Prefácio ................................................................................................................................. 6 Apresentação ........................................................................................................................ 8 Introdução ............................................................................................................................ 9 Capítulo 1 – Os Termos ......................................................................................................10 Emoção, sentimento, medo, ansiedade e estresse .......................................................10 Comportamento .............................................................................................................. 11 Fisiopatológicos .............................................................................................................. 11 Cognição ..........................................................................................................................12 Bem-estar animal ...........................................................................................................12 Qualidade de vida animal...............................................................................................13 Enriquecimento ambiental ............................................................................................13 Capítulo 2 – Ecologia Comportamental ........................................................................... 15 Atitudes de altruísmo e cooperação ..............................................................................16 Agressividade, crueldade e dominância ........................................................................19 Capítulo 3 - Comportamento e bem-estar de animais de cães .................................... 22 Desenvolvimento dos cães ............................................................................................ 23 Comunicação oral de cães ............................................................................................. 24 Linguagem corporal ...................................................................................................... 25 Síndrome do animal espancado ................................................................................... 26 Inteligência dos cães ...................................................................................................... 26 Capítulo 4 - Comportamento e bem-estar de animais de gatos .................................. 27 Gatos e suas particularidades fisiológicas ................................................................... 27 Desenvolvimento dos gatos .......................................................................................... 28 Comportamento felino .................................................................................................. 28 Caça – 6 A 8 horas por dia ........................................................................................ 29 Refeições – 10 vezes ao dia ......................................................................................... 29 Água ............................................................................................................................. 29 Marcações e checagem várias vezes ao dia ................................................................ 30 Eliminação – privacidade ............................................................................................ 30 Sono (normalmente a maior parte do dia) ............................................................... 30 Comportamento sexual felino .................................................................................... 30 6 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS Cuidados corporais .......................................................................................................31 Valorização das coisas simples da vida ......................................................................31 Análise dos riscos .........................................................................................................31 Comportamento social ................................................................................................31 Saiba mais .....................................................................................................................31 Sinais comportamentais de que o gato está gostando do ambiente e da situação: 31 Sinais que o gato está odiando ou está estressado: ..................................................32 Capítulo 4 - Comportamento e bem-estar de animais de Utilizados em turismo e entre- tenimento ........................................................................................................................... 33 1) Bastidores da pseudoalegria humana às custas do sofrimento animal: .............. 33 Animais utilizados em atrações turísticas ................................................................. 33 Animais utilizados em Circo ....................................................................................... 33 Animais em Zoológicos e em confinamento .............................................................. 34 Sugestão de avaliação do ambiente ............................................................................ 35 Tabela 1 – Medida de qualidade de vida no ambiente segundo broom (2005). ..... 35 Manejo nutricional ....................................................................................................... 38 Sistemas de marcação utilizados ................................................................................ 47 Inibição da reprodução ............................................................................................... 47 Manejo sanitário .......................................................................................................... 48 2) Desenvolvendo ferramentas para educar visitantes no turismo de observação de animais .............................................................................................................................. 49 Animais utilizados em touradas, rodeios, vaquejadas e farra do boi ...................... 49 Capítulo 5 - Comportamento e bem-estar de animais de ........................................... 50 Produção ........................................................................................................................... 50 Capítulo 6 – Transtornos mentais dos animais ..............................................................51 1 - Transtornos mentais em animais ..........................................................................51 1.1 - Ansiedade .............................................................................................................. 52 1.2 - Transtornos compulsivos .................................................................................... 53 1.4 - Depressão ............................................................................................................ 56 1.5 - Síndrome de pandora .......................................................................................... 59 Considerações finais: .........................................................................................................61 Referências ......................................................................................................................... 62 7 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS Prefácio Honrado com o convite para tecer algumas considerações a respeito do notável tra- balho a respeito do comportamento animal, no que tange a seus desdobramentos no Direito Animal. O propósito deste material é passar um estudo introdutório, para apli- cação no mundo jurídico à disposição para o aperfeiçoamento dogmático do Direito Animal brasileiro. “No plano constitucional, destaca-se a singular regra da proibição da crueldade, prevista no art. 225, §1º, VII, in fine, da Constituição brasileira de 1988, repetida em Constituições estaduais, a partir da qual o Direito Animal brasileiro se inaugura e se espalha pelo ordenamento jurídico nacional. No plano legal, apontam-se o Decreto 24.645/1934 e o art. 32 da Lei 9.605/1998 como as normas gerais do sistema de proteção de direitos animais, sem ignorar a existência de diversos códigos e leis de defesa animal, com matizes e pontos de vista diversos, no âmbito dos Estados e Municípios brasileiros, carentes, ainda, de adequada sistematização científica e integração com o sistema geral de proteção animal. O Direito Animal se consolida, no plano jurisprudencial, a partir do julgamento, no final de 2016, da Ação Direta de Inconstitucionalidade 4983 (ADIn da vaquejada), pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ainda que outros precedentes da mesma Corte já ti- vessem proibido certas práticas humanas cruéis contra animais, como a “farra do boi” e as “rinhas de galos”, esse foi o marco histórico da autonomia do Direito Animal e da sua separação epistemológica em relação ao Direito Ambiental.” Por fim, a doutrina do Direito Animal se expande, contando, hoje, com vários livros e publicações especializados, além de gradual presença nas faculdades de direitos, não apenas nos cursos de graduação, como também em pós-graduações. É um novo nicho para o exercício da advocacia! Recomendamos a leitura de Introdução ao Direito Animal Brasileiro, Vicente de Pau- la Ataíde Júnior. 8 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS Revista Brasileira de Direito Animal, e-issn: 2317-4552, Salvador, volume 13, número 03, p. 48-76, Set-Dez 2018. JOSÉ SEBASTIÃO FAGUNDES CUNHA Desembargador do TJPR Doutor em Direito pela UFPR – Pós-doutorado pelo CES da Universidade de Coimbra 9 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS Apresentação O direito dos animais consiste em um conjunto de leis com a finalidade de protegê- -los da conduta dos seres humanos. Práticas cruéis, podem causar angústia, sofrimen- to, esgotamento físico e psíquico. A legislação está avançando! Em 2018 temos o código de proteção animal da Paraíba. Nesse mesmo ano, em Santa Catarina, os animais fo- ram considerados sujeitos de direitos. Em 2020, observam-se animais sendo sujeitos no processo (caso Jack). Em 2016, em julgamento no STF, pela primeira vez fala-se em senciência animal. Mas por que judicializar? Esse fenômeno nos permite pedir que ninguém mais feche os olhos para reconhecimento científico do direito animal. Os animais são sencientes, isto é, são capazes de sentir dor, medo, prazer e felicida- de. Através da interpretação de sinais fisiológicos ou do comportamento deles pode- mos constatar que eles demonstram o que estão sentindo. O bem-estar animal é uma ciência nova e a sociedade precisa aumentar o seu conhe- cimento sobre o assunto. Se os animais não podem manifestar sua motivação interna e seu comportamento natural ao qual foi predestinado, seu bem-estar está comprometi- do e o relacionamento com o meio fica prejudicado, além do aparecimento de diversas enfermidades decorrentes do estresse crônico (cistites, úlceras dermatopatias etc.) o que é tutelado judicialmente. Evidências recentes reconhecem que os animais também podem sofrer de trans- tornos mentais. Fatores como abandono, restrição da liberdade, estresse, trauma e abuso podem pré-dispor o aparecimento de doenças mentais nos animais, tais como: depressão, transtorno do estresse pós trauma, ansiedade e transtornos compulsivos. Pelo desconhecimento do assunto, os animais não recebem os cuidados médicos e so- frem de distúrbios psicológicos extremos e debilitantes e simplesmente morrem sem cuidados adequados, o que pode levar à reparação de dano. O texto a seguir presente ser uma contribuição para o avanço do reconhecimento das emoções dos animais, além de informar a respeito do desenvolvimento de trans- tornos mentais em decorrência dos maus tratos. O seu conteúdo também se presta como alerta e encorajamento para os profissionais que atuam na melhoria do bem-es- tar animal e aos profissionais do direito no combate ao que é de direito em relação ao bem-estar animal e os cuidados adequados. 10 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS Introdução Os animais possuem necessidades emocionais como os seres humanos. Eles neces- sitam de uma estimulação ambiental complexa e experimentam sofrimento físico e psicológico. Quando os mantemos com restrições de oportunidades de execução dos comportamentos normais para a espécie,observamos desordens comportamentais e problemas graves relacionados ao medo e à ansiedade. Os comportamentos desloca- dos, portanto, teriam como função inicial uma compensação para a frustração ou ina- dequação do meio. O bem-estar é uma ciência voltada para o conhecimento e a satisfação das neces- sidades básicas dos animais. Determina o grau em que as necessidades físicas, psi- cológicas, comportamentais, sociais e ambientais de um animal são satisfeitas, bem como sua capacidade de se adequar a situações. Segundo Broom & Molento (2004) o bem-estar animal é a tentativa de um indivíduo de se relacionar com o ambiente. Se o animal não pode manifestar sua motivação interna, seu bem-estar está comprometido. Bem-estar psicológico, segundo Snowdon (1991 apud GASPAR 2003) é a capacidade de plasticidade comportamental de se adaptar ás mudanças ambientais. O reconhecimento de que animais são seres sencientes resulta numa discussão mais profunda sobre bioética e bem-estar animal. Animais são constantemente vítimas de violência, tráfico, separação precoce da mãe, abandono, etc. Todos esses fatores pré- -dispõem ao aparecimento de doenças físicas e mentais. Precisamos também rever as condições de alojamento desses animais em locais empobrecidos, sem a possibilidade de manifestação dos comportamentos naturais. Ademais, modelos animais são mui- to utilizados na neurociência para estudar doenças humanas, mas quase não se fala que animais não humanos possam apresentar alterações psiquiátricas. (BOURIN et al., 2007). O presente trabalho instiga à comunidade do direito enfrentar temas como a ocor- rência de transtornos mentais em animais. Por fim, o desenvolvimento de estudos em Bem-Estar Animal deverá levar em conta os efeitos proporcionados por essas patolo- gias em questão, combater seus efeitos será de grande importância para a elevação de seu bem-estar. 11 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS Capítulo 1 – Os Termos Emoção, sentimento, medo, ansiedade e estresse Uma das definições mais simples de emoção refere-se à manifestação de reações psicomotoras, geralmente acompanhadas de alterações neurovegetativas em resposta a um estímulo ambiental. Uma das teorias gerais das emoções sustenta que o elemento comum ligando todas as emoções é que elas representam alguma reação a um “even- to reforçador” ou a sinais reforçadores condicionados. Os reforçadores podem atuar como estímulos recompensadores ou punitivos (BRANDÃO, 2004). A emoção é um sinal quase instintivo, o sentimento é interpretação. Charles Darwin, pai da teoria da evolução, observou que os animais apresentam emoções como felicidade, surpresa e raiva. O pesquisador português Damásio (2009) escreveu a teoria mais aceita pela co- munidade científica sobre as emoções animais, mas não sobre os sentimentos. O medo é uma sensação inata de desconforto quando um animal é confrontado com uma ameaça ao seu bem-estar ou à sua própria sobrevivência, a partir dele ocorrem respostas comportamentais diversas. Nessa situação o perigo é real e definido, o ani- mal percebe que existe um risco a sua integridade física. Ansiedade é o medo infun- dado, não real e desproporcional. A ocorrência repetida do medo pode provocar uma reatividade neuroendócrina ou autonômica intensa e duradoura. (BRANDÃO, 2004; MELO, 2010; EVERLY; LATING, 2013). Segundo Fowler (1986 apud ACCO; PACHALY; BACILA, 1999), o estresse pode ser definido como um processo fisiológico, neuroendócrino, pelo qual passam os seres vivos quando enfrentam alguma mudança ambiental. As principais alterações com- portamentais incluem aumento da agressividade e tendência ao isolamento. Animais cronicamente estressados podem apresentar reação exagerada do sistema nervoso simpático e elevação de pressão arterial, diminuição de insulina, aumento do risco de diabetes, predisposição a úlceras estomacais e duodenais, desequilíbrio do sistema imunológico e diminuição do interesse em buscar parceiros sexuais (FOWLER, 1986 apud ACCO; PACHALY; BACILA 1999; MELO, 2010; RUIZ et al., 2007). As principais reações de um animal, frente a um evento adverso é de lutar (enfren- tamento), fugir ou congelar. Essas reações são variáveis de acordo com a espécie, se é predador ou presa ou ainda, variam de acordo com a personalidade animal. Charles Darwin, considerado o pai da neurociência afetiva, publicou em 1872 o seu trabalho de 34 anos de pesquisa no livro A expressão das emoções no homem e nos animais. Ele chegou a duas conclusões principais: as emoções dos animais humanos e não huma- nos são análogas e as emoções básicas são semelhantes em várias espécies e culturas. Existem as emoções básicas e as complexas e estas estão relacionadas a vários fato- res. O processamento emocional se dá por manifestações comportamentais, fisiológi- cas e cognitivas. 12 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS Comportamento O corpo fala, expõe verdades. Quem diz que um animal é traiçoeiro é porque não tem conhecimento de linguagem não verbal. De uma maneira geral, o comportamento consiste de atitudes que o animal exibe. Entretanto, essas ações não podem ser restri- tas apenas aos tipos de locomoção, mas consiste em outros conjuntos de movimentos sutis. Bons exemplos são as emissões de sons pela boca ou bico, os movimentos das orelhas, o balançar da cauda, a liberação de odor e até mudança de coloração. O com- portamento é uma forma de comunicação do meio interior para o exterior. (DEL-CLA- RO, 2004). Fisiopatológicos Os circuitos neurais que respondem ao estresse pertencem ao sistema nervoso central (SNC) e periférico (SNP), organizados de maneira específica para cada agente estressor e de maneira geral, a percepção do estresse ativa o eixo hipotálamo-pitui- tária-adrenal (HPA) (BRANDÃO; GRAEFF, 2014). Fowler (2008) dividiu os agentes estressores em quatro grupos: somáticos (sensações físicas), psicológicos (frustração), comportamentais (motivações internas) e mistos (alimentação, proteção, sanidade, etc.). O conjunto das respostas fisiológicas desencadeadas frente a um agente estressor é chamado de Síndrome Geral da Adaptação (SGA). Essa síndrome pode ser dividida em três estágios: fase de alarme, fase de adaptação e fase de exaustão ou esgotamento. A fase de alarme ocorre imediatamente após o perigo e há predominantemente uma resposta do sistema nervoso autônomo simpático, resultando na liberação de catecola- minas (adrenalina e noradrenalina) (ORSINI; BONDAN, 2006). Na fase de adaptação, tem-se a liberação de glicocorticoides e continuação das ativi- dades do sistema nervoso autônomo. A retroalimentação dos glicocorticoides é dirigida primariamente à hipófise e aos neurônios hipotalâmicos produtores de CRH (hormô- nio liberador de corticotrofina) e AVP (vasopressina). Na pituitária, os glicocorticoides inibem a síntese de pró-opiomelanocortina (POMC) que é a molécula percursora de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). Tanto os receptores do tipo 1 (mineralocor- ticoides) e do tipo 2 (glicocorticoides) podem mediar a retroalimentação negativa. O estresse crônico provoca estimulação exagerada do simpático e predispõe à elevação de pressão arterial, diminuição de insulina, aumento do risco de diabetes; no estôma- go ocorre a diminuição da barreira de muco, desequilíbrio do sistema imunológico e diminuição da libido. A fase de exaustão é o período de falência orgânica (ORSINI; BONDAN, 2006; MELO, 2010). Uma hipersecreção de CRH tem sido sugerida como anormalidade primária resul- tando em uma hipersecreção transitória de ACTH seguida de uma hipertrofia funcio- nal e anatômica da adrenal, com retorno de secreção normal de ACTH. Esta secreção 13 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS anormal seria então o resultado da estimulação excessiva da hipersecreção de CRH equilibrado por um aumento da retroalimentação negativa causada pelo aumento do cortisol. A hipersecreção de CRH pode serresultado de alterações de neurotransmisso- res cerebrais sabidamente envolvidos na regulação do eixo HPA. A acetilcolina estimula a liberação pelo hipotálamo de uma maneira dose-dependente. A serotonina também tem seu papel no controle do eixo HPA, já que sua depleção em ratos produz ausência de supressão no teste de dexametasona (NETO; GAUER; FURTADO, 2003). Quando o animal sente medo, a amígdala dispara a secreção dos hormônios para lu- tar ou fugir, mobilizando vários sistemas para dirigir energia para órgãos importantes. A extensa rede de ligações neurais da amígdala permite que, durante uma emergência emocional, ela assume e dirija grande parte do resto do cérebro, inclusive a mente racional. A amígdala é capaz de perpetuar a resposta de estresse mesmo depois do trauma terminar (GOLEMAN, 2005). Trabalhos recentes ligados à psiconeuroimunologia mostram a intercomunicação entre o sistema emocional, o sistema imunológico, sistema endócrino e sistema nervo- so central quando atribuímos um valor aquela emoção estamos criando moléculas da emoção (neuropeptídios) que podem fortalecer ou deprimir. Cognição Aqui temos a atuação do córtex pré-frontal para a interpretação da emoção. Por exemplo, quando se pergunta às pessoas se o copo está meio cheio ou meio vazio. De- pendendo do estado emocional a resposta será diferente. Existem polêmicas a respeito do processamento cognitivo emocional dos animais, mas sabe-se que os processos cognitivos e emocionais estão entrelaçados com relação à resolução de problemas. Animais estressados têm dificuldade de aprendizagem e de execução de tarefas simples do cotidiano. Bem-estar animal O termo bem-estar animal refere-se ao estado de um indivíduo em relação ao seu ambiente, e isso pode ser medido. Os indicadores de bem-estar reduzido incluem: es- perança de vida reduzida, crescimento e reprodução prejudicados, danos corporais, doenças, imunossupressão, aumento da atividade adrenal e comportamentos anor- mais. Para o bem-estar animal, alguns requerimentos para o manejo correto devem ser considerados tais como o fornecimento de uma dieta balanceada e água ad libitum, enriquecimento do recinto, atendimento às características do habitat natural da espé- cie, além da ausência de barulho (BROOM, 1991; BROOM; MOLENTO, 2004; FELIPPE; ADONIA, 2007). Sabe-se pouco a respeito dos sentimentos do animal, mas pode-se reconhecê-los através de respostas comportamentais e fisiológicas. O sofrimento é um termo subje- 14 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS tivo, refere-se aos sentimentos dos animais e é o aspecto mais importante da ausência de bem-estar, mas essa definição engloba alguns efeitos sobre os animais além do sofrimento. Não é cientificamente desejável para definir bem-estar apenas em termos subjetivos de experiências como sofrimento (BROOM, 1991). Para facilitar o estudo da avaliação do bem-estar, a Farm Animal Welfare Council desenvolveu uma escala das “5 Liberdades” que identificam os elementos que determi- nam a percepção de bem-estar pelo próprio animal e definem as condições necessárias para promover esse estado (WEBSTER, 2016). São elas: 1. Livre de fome e de sede - acesso à água fresca de qualidade e a uma dieta ade- quada às condições fisiológicas dos animais 2. Livre de desconforto - fornecimento de um ambiente adequado que inclua um abrigo com uma zona de descanso confortável 3. Livre de dor, ferimentos e doença - prevenção de doenças, diagnóstico rápido e tratamentos adequados. 4. Liberdade de expressar comportamento normal - fornecimento de espaço adequado, instalações adequadas e a companhia de animais da mesma espécie 5. Livre de estresse, medo e ansiedade - assegurando condições e maneio que evitem sofrimento mental. Qualidade de vida animal O termo bem-estar animal está caindo em desuso, dando espaço para a avaliação da qualidade de vida. Existe uma necessidade de criação de escalas psicométricas para avaliar a qualidade de vida para animais confinados em cativeiro. King e Landau (2003) investigaram uma medida da “felicidade” (qualidade de vida) de chimpanzés com base na característica humana do bem-estar subjetivo. Os trata- dores em 13 zoológicos usaram uma escala de pontos para avaliar 128 chimpanzés. Os itens incluíram avaliação do prazer derivada de interações sociais, equilíbrio de humor positivo e negativo e sucesso na obtenção de metas. Os quatro itens constituíram um único fator que apresentava excelente confiabilidade entre intermediários e era tem- porariamente estável. O exame da relação entre o bem-estar subjetivo de chimpanzés e seis fatores de personalidade, cinco dos quais se assemelhavam aos fatores humanos do Big Five, mostraram que a qualidade de vida do chimpanzé variou positivamente com os fatores dominância e extroversão. O bem-estar subjetivo foi negativamente correlacionado com a frequência de comportamentos submissos. A idade e o sexo não estavam significativamente relacionados ao bem-estar subjetivo. Enriquecimento ambiental O meio ambiente considerado apropriado é aquele em que os animais satisfaçam 15 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS suas necessidades (BROOM, 2005). Após a identificação de problemas relacionados com o bem-estar, deve-se realizar uma estratégia no manejo e o enriquecimento am- biental é uma forma de melhorar o funcionamento biológico do animal e de proporcio- nar bem-estar psicológico e, por definição, de acordo com Newberry (1995), existem cinco tipos, sendo eles: - Físico: Está relacionado à estrutura física do recinto, consiste na introdução de aparatos que deixam o ambiente semelhante ao habitat natural da espécie; - Sensorial: Consiste em estimular os cinco sentidos do animal. Sons como vocaliza- ção, odores de fezes e urina são exemplos; - Cognitivo: Objetiva a capacidade mental do animal e ocorre com dispositivos me- cânicos a serem manipulados; - Social: Caracterizado pela interação intra e interespecífica que pode ser criada no ambiente. - Alimentar: pode-se fazer variações na alimentação, de acordo com o hábito de cada espécie, com a finalidade de promover um ambiente mais próximo do natural. Os recintos dos animais criados com restrição de liberdade devem atender às neces- sidades biológicas desses, proporcionando um adequado nível de bem-estar. É neces- sário que o local tenha um espaço com metragem adequada, que tenha várias opções de enriquecimento e que permita interações sociais. Fonseca e Genaro (2015) investi- garam os parâmetros mínimos para a manutenção de gatos domésticos confinados. Os resultados revelaram que os felinos necessitam da presença de uma área elevada suge- rindo um design mais apropriado para que as necessidades comportamentais desses animais sejam garantidas, o que pode influenciar significativamente o seu bem-estar. 16 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS Capítulo 2 – Ecologia Comportamental Ecologia comportamental é compreender como um comportamento de um animal está adaptado ao ambiente em que ele vive. As abordagens evolutivas estão em ascen- são nas ciências sociais e têm o potencial de trazer um quadro conceitual abrangen- te para o estudo do comportamento. De Waal (2002) afirmou que uma remodelação Darwiniana das ciências sociais parece inevitável, até desejável. A partir da biologia, aprende-se que nem todas as características típicas de cada espécie são necessaria- mente vantajosas, e da neurociência aprende-se que nem todas as habilidades ou ten- dências psicológicas precisam necessariamente ter seus próprios circuitos de cérebro especializados. Mas mesmo que o conceito de adaptação seja difícil de aplicar, a psico- logia faria bem em começar a olhar o comportamento à luz da evolução. A regulação comportamental por neuropeptídios parece ser um mecanismo comum associado com diferenças de nível de espécies em sistemas sociais entre animais. A seleção natural atua na regulaçãode comportamentos semelhantes através de ações notavelmente convergentes de moduladores. A perspectiva relativamente nova de es- teroides como intrínsecos modificadores de circuitos no controle de comportamentos é etiologicamente relevante (REMAGE-HEALEY, 2014). Tinbergen (1963) foi um grande estudioso sobre a questão da causalidade nas Ci- ências Biológicas. Neste artigo que Tinbergen abordou os diferentes níveis de análise dentro da etologia, abordagem esta que, posteriormente, os biólogos evolucionistas denominarão como “as quatro questões de Tinbergen” (FIGURA 1). FIGURA 1 — ABORDAGEM DOS DIFERENTES NÍVEIS DE ANÁLISE DENTRO DA ETOLOGIA. FONTE: Adaptada de Tinbergen (1963). Causa imediata ou próxima: Está relacionada aos mecanismo fisiologicos inerentes ao funcionamento do sistema nervoso na emissão de um comportamento. COMO? Filogenese ou Causa Filogenética: Está relacionada ao estudo da história evolutiva do comportamento em questão, o que envolve pesquisas comparativa deste mesmo comporamento entre as diferentes espécies. Por que existe? Ontogênese ou Ontogenia: Refere-se aos fatores e contextos de desenvolvimento daquele comportamento ao longo da história de vida do sujeito. A pergunta a ser respondida: COMO? Causa imediata ou próxima: Está relacionada aos mecanismo fisiologicos inerentes ao funcionamento do sistema nervoso na emissão de um comportamento. COMO? 17 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS Atitudes de altruísmo e cooperação De Waal (1989) foi o pioneiro a revelar que não somos a única espécie que mostra os rudimentos de uma série de comportamentos pró-sociais, incluindo reconciliação, empatia, consolação de terceiros, uma aversão à desigualdade e uma sensação de jus- tiça. Além disso, em suas observações de primatas relata que existe reconciliação após conflitos. Algumas das questões mais fundamentais sobre as origens evolutivas, nossas rela- ções sociais e a organização da sociedade estão centradas em questões de altruísmo e egoísmo. A evidência experimental indica que o altruísmo humano é uma força pode- rosa e é único no mundo animal. No entanto, existem estudos que comprovam altru- ísmo em outras espécies. Dependendo do meio ambiente, uma minoria de altruístas pode forçar a maioria dos indivíduos egoístas a cooperar ou, inversamente, alguns egoístas podem induzir um grande número de altruístas ao egoísmo. As atuais teorias evolutivas baseadas em genes não podem explicar padrões importantes de altruísmo humano e animal, apontando para a importância tanto das teorias da evolução cultural quanto da co-evolução da cultura genética (FEHR; FISCHBACHER, 2003; SUCHAK et al., 2016). Animais que vivem juntos tem um potencial de ajudar uns aos outros para que juntos possam prosperar em benefício da espécie. Esses comportamentos estão apare- cendo com bastante frequência, especialmente o auto sacrifício sendo estudada na bio- logia evolutiva. O altruísmo recíproco (reciprocidade) é quando um animal se sacrifica em prol de outro, mas eventualmente os favores retornam. Embora alguns animais tenham essa capacidade de reciprocidade, ela não é tão comum talvez porque uma população altruísta seria mais vulnerável à invasão de indivíduos felizes com a ajuda, porém ansiosos em esquecer a restituição. Desertores reduzem a aptidão dos ajudan- tes. Esse problema pode ser ilustrado pelo conhecido “dilema do prisioneiro”, baseado em uma situação humana em que ele pode escolher desertar enquanto o outro coopera (ALCOCK, 2010). A bondade é uma motivação individual de praticar o bem. Associa-se ao sentimento de compaixão, que é a necessidade de aliviar o sofrimento dos outros, e ao altruísmo, que é a emoção social que dela deriva. Estes sentimentos estão na base de compor- tamentos pró-sociais e pró-ambientais importantes, que implicam a cooperação e a confiança nos outros. A espécie humana é rotineiramente retratada como sendo capaz de cooperar, enquanto que os primatas são considerados muito competitivos (LEN- CASTRE, 2010; SUCHAK et al., 2016). Bartal et al. (2011) publicaram um estudo que revela que ratos preferem sol- tar os companheiros do que a recompensa ofertada (chocolate). Os roedores também mostram elementos de empatia e compaixão proativa. Um estudo demonstra que os ratos quando estão alojados com outros que estão sofrendo com dor, apresentam an- siedade e sofrimento como se estivessem passando pela mesma situação (MARTIN et 18 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS al., 2015). Todas as espécies respondem aos chamados da natureza e invocam um conjunto de sentimentos que governam os instintos. A ética, o reconhecimento do sofrimento do outro, a cooperação, a evolução do altruísmo são assuntos que estão começando a aparecer e a classificar alguns animais como portadores de valor moral. Mas como um animal pode evoluir sacrificando-se em favor de outros e assim correr o risco de morrer ou ficar doente? Vários estudiosos tentaram responder essa pergunta; Darwin (1872) iniciou relatando que se organizam apenas por alimentos, território e reprodu- ção. Hamilton começou a elucidar, explicando que agem por uma questão de parentes- co (vantagem inclusiva). Mas foi Trivers (1971) quem apresentou o conceito do altru- ísmo recíproco, que consiste em oferecer e receber ajuda, inclusive entre não parentes. A ajuda em situações tensas, o tratamento de doentes, deficientes e machucados são comuns entre os primatas. Os gorilas são exemplos de animais sociais que vivem em grupos relativamente estáveis com o objetivo do enfrentamento das adversidades. Apresentam comportamentos afiliativos (brincadeiras e catação), e também agonísti- cos (limites impostos pela ameaça). Estão sempre dispostos a compartilhar alimentos, entrar no sentimento do outro (ressonância empática) e se defendem mutuamente (LENCASTRE, 2010). No trabalho de Back (2015) foram observados comportamentos afiliativos, em ma- caco-prego e a maioria correspondeu às brincadeiras, sobretudo entre os juvenis e desses com o macho adulto. As catações (22,6%) foram emitidas principalmente das fêmeas para os juvenis, do macho para as fêmeas e do macho para os juvenis. Dos com- portamentos cooperativos, grande parte correspondeu ao carregamento aloparental efetuado pelos juvenis, fêmeas, subadultos e macho. Quanto à partilha, a maioria foi emitida para os juvenis, sobretudo pelas fêmeas, seguido do macho, juvenis e subadul- tos. Suchak et al. (2016) realizaram o teste de cooperação oferecendo um problema para os chimpanzés que exigia a colaboração de dois a três membros. Foram analisadas 94 horas de vídeo filmados durante a tarefa cooperativa. O experimento foi realizado três vezes por semana, durante uma hora. O resultado foi que os pesquisadores observa- ram cinco vezes mais comportamentos cooperativos em detrimento dos agressivos ou indiferentes. Foram observados também 28% de animais oportunistas que eram descartados pelos próprios animais do grupo para novas tarefas (muitas vezes com comportamentos de protesto). Em nove dos dez casos, os animais reconheciam a ví- tima e em quatro casos foram observados consolo. Esse resultado contrasta a ideia de que chimpanzés são competitivos e ressalta que evitam concorrência. Para os animais sociais, o poder de intercomunicação entre os membros de uma mesma comunidade e com outras espécies, ou entre sexos, assim como entre jovens e velhos, é de maior importância. Muitos macacos gostam de acariciar e receber carinhos (DARWIN, 1872). Os evolucionistas têm enfatizado o fato de que a emergência da vida 19 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS social está associada à sua importância como mecanismo de proteção contra predado- res (DURHAM, 2003). Além disso, as associações e formações de grupos preferenciais entre machos e fêmeas (denominadas amizades) são estratégias para diminuir o risco de infanticídio (PINHA, 2007). SegundoLencastre (2010), comportamentos verdadei- ramente altruístas, fundamentados na empatia e na cooperação acontecem com uma frequência elevada. Nos primatas mais derivados, são observados no seio de contextos sociais sofisticados em que intervêm os efeitos da empatia social e da empatia cogni- tiva, que consiste na possibilidade de elaborar uma teoria da mente de outro animal. Comportamentos de entreajuda em situações de aflição, de tratamento especial aos animais feridos ou deficientes, comportamentos agressivos entre familiares na sequ- ência de ações prejudicando outros familiares, são conjugados de empatia e simpatia que apresentam um reconhecido valor afetivo ao nível humano (LENCASTRE, 2010). Empatia seria definida basicamente como a capacidade de entrar no sentimento do outro, permitindo compartilhar os estados afetivos dos outros, prever as ações de indivíduos e estimular o comportamento pró social. Embora os mecanismos imedia- tos de empatia sejam modulados por hormônios (ocitocina), existe uma discussão a respeito da evolução das emoções e individualidade e vantagens reprodutivas. Os limi- tes conceituais da empatia, no entanto, foram marcados por imprecisões de definição baseados na imitação e contágio emocional. Algumas evidências sugerem que existe também um “lado sombrio” da empatia, nomeada de inveja que são provocados pela comparação social, a concorrência e a distinção entre grupos (GONZALEZ-LIENCRES; SHAMAY-TSOORY; BRÜNE, 2013). Os animais possuem uma disposição inata de sintonização emocional, o que acaba demonstrando que a empatia não é exclusividade dos humanos. A preocupação com o outro, os comportamentos amigáveis, a conclusão de que os benefícios para o grupo são maiores do que para si e as tentativas de reduzir o sofrimento alheio, são demons- trações de que a evolução dos humanos através da razão é questionável. Os neurônios-espelhos são neurônios viso-motores que disparam tanto quando o animal realiza uma atividade e o outro repete. Existe a teoria de que podem estar en- volvidos com a empatia. Eles foram primeiro identificados no córtex pré-motor dos macacos Rhesus na década de 90. Em estudos com imagem cerebral permitiram a localização das áreas envolvidas no sistema espelho dos humanos: o sulco temporal. superior (STS), a parte rostral do lóbulo parietal inferior, e o córtex pré-motor ventral Os neurônios espelho podem estar envolvidos no desenvolvimento de funções impor- tantes como linguagem, imitação, aprendizado e cultura; e lateralidade do corpo (PAS- SOS-FERREIRA, 2011). O bocejo contagioso é uma forma de facilitação de resposta encontrada em seres humanos e outros primatas em que observar um modelo bocejando aumenta a chance de que o observador também boceje. O bocejo contagioso parece ser mais facilmente desencadeado quando os modelos têm um forte vínculo social com o observador e foi 20 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS proposto que o bocejo contagioso está ligado à empatia. Uma possível maneira de tes- tar esta hipótese é analisar se as respostas dos indivíduos diferem quando observam modelos que bocejam ou realizam diferentes ações involuntárias (limpeza do nariz, arranhões) e voluntárias (fechamento da mão, agitação do pulso) que não estão liga- das à empatia. No estudo de Amici, Aureli e Call (2014) são testadas as quatro grandes espécies de macacos com duas configurações diferentes, expondo-as a um experimen- tador humano repetidamente realizando essas ações online, e os coespecíficos grava- dos em vídeo repetidamente executando essas ações em uma tela. Examinaram quais comportamentos estão sujeitos à facilitação da resposta, se esta foi desencadeada por modelos humanos e coespecíficos registrados em vídeo e se todas as espécies apresen- taram evidência de facilitação da resposta. Os resultados mostram que os chimpanzés bocejaram significativamente mais quando, depois de assistir a vídeos de coespecíficos, que bocejavam do que em condições de controle, e não o fizeram como resposta ao aumento dos níveis de ansiedade. De Waal (2010) afirmou que diversos comportamentos sociais dos macacos são percursores de comportamentos morais humanos, incluindo obter a paz após algum conflito. Este autor em suas observações de um grupo de chimpanzés, notou que após uma luta, dois animais se “reconciliaram” através do toque das mãos. Dois outros chimpanzés apareceram para consolar o derrotado. Em primatas, indivíduos adultos despendem atenção e cuidado aos filhotes, mas os cuidados aloparentais podem proporcionar algumas vantagens aos adultos, pois os filhotes podem servir como uma espécie de passaporte para o acesso a outros ani- mais ou fonte de alimento. As “tias” ou fêmeas subadultas auxiliam as mães. Embora as adoções completas sejam fenômenos raros, elas foram documentadas em algumas espécies. Em certas circunstâncias, uma fêmea pode amamentar um filhote de outra mãe dela ou de outra espécie. No momento em que os benefícios são assimétricos, favorecendo mais as mães, o comportamento de ajuda é circunstancial e é mais prati- cado por indivíduos jovens e inexperientes, depois, a preocupação é com os próprios filhotes. Quando os filhotes são muito pesados em relação ao peso das mães ou quando as fêmeas dão à luz a vários filhotes simultaneamente, os indivíduos do grupo podem auxiliar nos cuidados da prole, dando surgimento ao sistema bi parental e “materni- dade comunitária” e a reciprocidade e a alternância de papéis entre fêmeas (GUERRA, 2003). Agressividade, crueldade e dominância A agressão é um tipo de interação social que pode ser definida como um compor- tamento direcionado a outro indivíduo para lhe causar injúria, para advertir e esta pode ser classificada como: predatória, por medo, irritável, territorial, instrumental, comportamento defensivo, comportamento parental e conflito social. Com base nas respostas a agressão pode ser dividida em: - agressão não afetiva ou predatória que 21 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS envolve alterações mínimas de humor, tem sua origem hipotalâmica e os neurotrans- missores envolvidos são acetil colina; - a agressão emocional que apresenta alterações marcantes de humor e podem envolver neurotransmissores serotoninérgicos, cateco- laminérgico, colinérgico e gabaérgico (SCÁRDUA; BASTOS; MIRANDA, 2009). Os animais realmente podem expressar raiva através de atos agressivos, luta por território, alimento e fêmeas. O animal agressivo obtém mais alimento, mantém seus descendentes a salvo, têm melhores chances de acasalar e isso permite que tenha mais descendentes. O circuito neural da raiva ainda não foi elucidado, mas sabe-se que a se- rotonina está envolvida. Em machos a agressividade é maior quando os níveis de sero- tonina são menores, nas fêmeas não se conclui de fato (MASSON; MCCARTHY, 2001; SCÁRDUA; BASTOS; MIRANDA, 2009). Seres humanos não são os únicos animais que matam membros de sua própria espécie. Em vez disso, outros animais infligem danos letais aos outros de maneiras que podem ser altamente estratégicas. Chimpanzés, por exemplo, matam uns aos outros de uma maneira organizada que pode envolver o uso de objetos físicos para causar danos (GOODALL, 1986). A agressividade é compreendida como parte do instinto animal, ou seja, é algo ina- to. O infanticídio é uma ocorrência frequente entre animais e não só mamíferos. Pode aparecer em vida livre ou quando confinados, sendo que, sem dúvida nenhuma, ocorre em maior frequência no cativeiro e, mais especialmente, em situações nas quais os ani- mais são isolados e privados dos estímulos fornecidos pela vida grupal. A inexistência de experiência e estímulos promovidos pela vida em grupo não só diminui ou inibe totalmente a fertilidade, como promove o infanticídio direto ou indireto, através do abandono. No ambiente natural, está amplamente documentado, além do infanticídio promovido por machos de outros grupos quando assumem a chefiade um grupo já constituído, também o assassinato da cria de uma fêmea por outra não aparentada (DURHAM, 2003; HRDY, 2000). Segundo Narvaes (2013), a agressividade é regulada por uma vasta gama de neuro- transmissores. A serotonina apresenta tantos efeitos inibitórios quanto estimulantes na agressão, dependendo da região do cérebro onde suas concentrações são quantifica- das ou quais os receptores estudados. Dopamina e o sistema mesocorticorticolímbico são associados com estímulos relacionados a recompensas e também com a agressi- vidade, em alguns casos estimulando, em outros reduzindo a impulsividade. O ácido aminobutírico é o principal neurotransmissor inibitório da agressão. Em animais laboratoriais, quando se bloqueia a liberação de serotonina nos neurô- nios que a originam, uma das consequências é o comportamento impulsivo e agressivo. De um modo geral, segundo Damásio (2009), o aumento do funcionamento da sero- tonina reduz a agressão e favorece o comportamento social. O aumento do número de receptores de serotonina-2 aumenta as relações sociais, cooperação e comportamento de catação em primatas (RALEIGH; BRAMMER, 1993). Os animais evitam conflitos pelo custo energético de uma disputa, a isso dá-se o 22 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS nome de bloqueio da agressão. Tratando-se de defesa intraespecífica tem-se a submis- são. Nesse caso, um dos animais exibe postura de submissão, o que bloqueia o ataque do dominante. Além de evitar injúrias e morte, a submissão cria toda uma organização hierárquica. Entretanto, os submissos acabam tendo baixos níveis de testosterona e saem prejudicados na reprodução. Se o estado de submissão é crônico, sofrem conti- nuamente ação dos hormônios do estresse (BRANDÃO; GRAEFF, 2014). Sackett (1991) propôs que animais que habitualmente se comportam de uma forma extrovertida e com disposição sociável, gozariam de maior bem-estar psicológico do que aqueles que apresentam uma orientação depressiva e que evitam contato. Aqueles que se esforçam para resolver o problema, prosperam mais. Em estudos com fêmeas de macacos viven- do em hierarquia de domínio, observaram que os animais localizados cronicamente na posição de subordinação, possuem duas vezes mais riscos de aterosclerose (SAPOL- SKY, 2007). Sapolsky (1989) observou que babuínos selvagens que vivem na África Oriental, em hierarquias de dominância estável, os machos subordinados apresentam médica de cortisol mais alta em relação aos animais dominantes. Além disso, os machos hiper- cortisolêmicos são resistentes à dexametasona, ou seja, secretam menos corticotropina em resposta a um desafio com CRF do que os machos dominantes. Essas observações são interpretadas com auxílio dos dados comportamentais, sugerindo que esses ma- chos subordinados estão sob estresse social sustentado. 23 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS Capítulo 3 - Comportamento e bem-estar de animais de cães Os cães coexistem com os humanos há mais de 15.000 anos. Durante esse tempo, tais mamíferos desempenharam várias funções desde alimentação, aquecimento até a companhia. É a grande plasticidade genética que permitiu tamanha variação de habi- lidades. Os animais necessitaram aprender a responder ao estado emocional do outro, para o sucesso da interação social. Ao longo da evolução, os animais desenvolveram habilidades para aumentar seu sucesso na interação com os humanos. As quais podem estar relacionadas com a qua- lidade de vida no ambiente doméstico. As principais características comportamentais selecionadas relatadas em trabalhos incluem comportamentos de solicitação de cui- dados, solicitação submissa de alimentos (lambedura facial), coragem, curiosidade, brincadeira, redução do territorialismo, aumento de procura de contatos sociais e do- cilidade (KUCZAJ 2013, BEAVER 2001, COPPINGER; COPPINGER 2001, HARE 2005). A domesticação é um processo que envolve um número grande de animais selecio- nados por muitas gerações para intensificar algumas características e tornar outras secundárias. O resultado é uma espécie alterada com morfologia, fisiologia e com- portamento. Compreender a domesticação e as suas implicações é fundamental para interpretar os comportamentos dos cães e do homem. Muitos elementos da conduta do cão lembram seu ancestral comum, o lobo, entretanto, os cães foram adquirindo ao longo da evolução características que se assemelham aos humanos. As principais diferenças são tamanhos menores do cão em relação aos lobos, pedomorfose (infan- tilização), focinhos menores, maior contato visual dos cães e latidos como forma de comunicação (FRANK 1980, BEAVER 2001, HARE et al. 2005, MIKLOSI et al 2003, YIN 2002). Tem sido sugerido que as semelhanças funcionais no comportamento sociocogniti- vo de cães e seres humanos emergiu como uma consequência das pressões de seleção ambientais. Uma nova abordagem para explicar o efeito facilitador de domesticação de cães revela que a seleção para dois fatores sob influência genética (cooperação visual e atenção concentrada) pode ter levado de forma independente para o aumento da com- preensão dos sinais comunicacionais humanos (FRANK 1980, GACSI; MACGREEVY 2009). McGreevy et al. (2009) sugeriu que as raças braquicefálicos podem responder mais a estímulos na área central (ou seja, quando se olha para a frente), porque eles são menos perturbados por estímulos visuais do campo periférico. Assim, a hipótese de que esta mudança morfológica também pode influenciar o desempenho na tarefa de escolha de duas vias, ou seja, as raças braquicefálicos possuem uma vantagem sobre raças dolicocefálicas. 24 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS É necessário enfatizar a importância do tratamento das emoções animais e con- ciliar dados da neurociência com algumas evidências científicas a favor da evolução dessas emoções. O animal é senciente, ou seja, é capaz de sentir dor, medo, prazer e felicidade. Por meio de sinais fisiológicos ou do comportamento eles demonstram o que estão sentindo. Se o animal não pode manifestar sua motivação interna e seu comportamento natural a qual foi predestinado, seu bem-estar está comprometido e o relacionamento com o meio fica prejudicado. O bem-estar dos cães tem sido uma questão muito estudada nos casos de animais de abrigo, de missões militares ou animais de trabalho (ROONEY et al, 2009; CHA- NIOTAKIS et al 2016; GUNTER, 2019;). Apesar dos resultados dos estudos em nível populacional, nesse trabalho, ressalta-se a importância da introdução do conceito de qualidade de vida, que pretende individualizar os cuidados aos animais para que suas necessidades físicas, psíquicas e cognitivas possam ser atendidas. As evidências antropológicas sugerem que a relação entre homem e cachorro pode ser tão antiga quanto a existência total do homem moderno. Os cães ajudaram a domesticar os seres humanos, assim como os humanos ajudaram a domesticar os cães Desenvolvimento dos cães Os cães vêm ao mundo necessitando de muitos cuidados especiais. Os olhos, os ouvidos inicialmente encontram-se fechados e o sistema nervoso imaturo. O desenvol- vimento pediátrico vai sendo executado de acordo com o aparecimento ou desapareci- mento de alguns reflexos. Sem qualquer noção espacial eles acabam ficando perto da mãe pelo reflexo de esquadrinhamento, que consiste em localização de uma fonte de calor e proximidade desta. Com 15 dias a regulação da temperatura melhora e com 5 semanas os filhotes já dormem sozinhos. Com 15 dias também ocorre a abertura dos olhos e o animal começa a ouvir melhor. Com 21 dias ocorre o período de reconhecimento das pessoas e de outros animais. Nessa fase a figura da mãe é imprescindível para um bom crescimento emocional do filhote e superar as adversidades ambientais. É um dos períodos mais importantes de crescimento físico e psíquicos desses animais, também de maior desenvolvimento motor e que começama comer alimentos mais sólidos. Com 4 semanas já estão brin- cando, correndo, alegres e empolgados. Nessa idade o complicado da relação são as mordidas destrutivas que podem estimular um comportamento agressivo. O período de socialização ocorre quando um indivíduo aprende a reconhecer várias espécies de animais como algo aceito. Se for para o cão se relacionar mais tarde com outros cães, gatos, cavalos e pessoas, ele deve conhecer membros de cada uma dessas espécies antes de 12 semanas de idade (Bonnie V beaver, 2001). Após esse período, existe a fase da rebeldia e desobediência que ocorre em cães por volta das 13 às 16 semanas, período em que a vigilância deve ser redobrada. Esse pe- ríodo também compreende a fase do medo e traumas ocorridos podem perdurar uma 25 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS resposta emocional por logos períodos. A maturidade ocorre quando o cão atinge por volta de 12 a 15 meses. Nessa fase há diminuição de comportamentos de destruição e hiperatividade. Comunicação oral de cães Os cães durante o processo evolutivo aprenderam a se comunicar através da voca- lização. Comunicam-se entre si e com outras espécies. Os sinais estão normalmente relacionados aos contatos sexuais, relações familiares e nas relações sociais: - Sinais sonoros nas relações sexuais: Apelo sexual, cortejo e disputa entre machos. - Relações familiares Reações de abandono, chamado de filhote, de fome, de medo e isolamento - Sinais sonoros nas relações sociais Sinais de alarme, de deslocamentos e descoberta de comida. Latir, rosnar e lamentar são todos os tipos comuns de vocalização, a seguir tem-se os significados: Gemer A lamentação, por exemplo, é frequentemente um sinal de frustração. Os cães tam- bém podem lamentar porque estão assustados ou porque não gostam de algo. Rosnar Pode ter duas conotações. Cães rosnam quando estão brincando ou para avisar que não estão gostando de algo. O cão também adota uma certa postura corporal, para acompanhar o rosnado. Isso está dizendo a qualquer pessoa ou animal ao redor que esse cão pretende atacar, se provocado. Latir O latido de um cão pode ter diferentes significados, tais como alerta, frustração, tédio, brincadeira. Alguns animais vocalizam em sinal de estresse. Foram testadas se as chamadas de alarme de outras espécies estão relacionadas à ansiedade. Acredita-se que uma capacidade de enganar coespecíficos tenha favorecido a evolução de cérebros grandes em animais sociais, mas faltavam evidências de que tais comportamentos exi- jam complexidade cognitiva. Existem hipóteses que relacionam que animais com cérebros maiores são fa- vorecidos em ambientes altamente sociais porque habilidades cognitivas aumentadas permitem que indivíduos superem seus companheiros na competição. Portanto, não está claro se os animais utilizam cognição para enganar seus parceiros de forma cons- ciente ou se essa atitude está relacionada com estresse. 26 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS Linguagem corporal Todo animal tem uma maneira peculiar de querer bem, de expressar emoções, mas para compreender tudo isso, é preciso lidar com aspectos não verbais. A linguagem corporal canina é bem sofisticada, mas precisa de bastante prática para entrar no sen- timento deles e entender esse tipo de linguagem além das palavras. Quem diz que cão é traiçoeiro é que nunca estudou seu comportamento ou postura. A seguir, tem-se a tradução para algumas manifestações de emoções caninas: Raiva: caminha empinado, tenso, cabeça levemente levantada, cauda erguida, olhar fixo, pelo arrepiado. Fonte: Darwin (1872) A expressão das emoções no homem e nos animais Afetuosidade: cão abaixa os membros anteriores e demostram relaxamento da face. Fonte: Darwin (1872) A expressão das emoções no homem e nos animais 27 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS O medo: O medo quando intenso, se expressa em gritos, em esforços para esconder- -se ou escapar, em palpitações e tremores. Felicidade: Alguns cães demostram um estado de espírito de prazer e excitação, as- sociado à afeição de maneira bastante peculiar, mostrando os dentes como num sorriso e balançando a cauda. Submissão: Cães submissos manterão a cabeça baixa e, em alguns casos, abaixarão seus corpos no chão. Cães que são extremamente submissos podem deitar de costas ou até urinar quando são abordados. Estas são apenas as maneiras básicas pelas quais os caninos se comunicam entre si - e com os humanos com quem interagem é importante observar a junção dos gestos, posturas, músculos e a vocalização como um todo, se realmente deseja saber o que o cão está tentando transmitir. Síndrome do animal espancado Em pesquisa realizada por DeViney, Dickert & Lockwood, 1983, abusos contra animais aconteceram em 88% das famílias em que ocorreram casos de abusos físicos contra crianças. Os principais sinais de que o animal sofre violência doméstica são: alterações com- portamentais (agressividade, ansiedade por medo, sociopatia, vocalização, eliminação inadequada e automutilação). O médico veterinário através de imagens pode observar traumas múltiplos e lesões com estágios evolutivos distintos. Inteligência dos cães A cognição canina é complexa e alguns estudiosos comparam com a de uma criança de dois anos, o que significa que os cães são muito mais espertos do que outros animais. Os cães também podem exibir muitos dos comportamentos associados à inteligência, como exibir memórias avançadas. É geralmente aceito que os cães sem raça podem aprender 165 palavras, mas com alguns aprendendo até 250 palavras. No entanto, houve um estu- do americano em que, durante um período de três anos, um Border Collie chamado Cha- ser aprendeu os nomes de mais de 1.000 objetos e conseguiu recuperá-los sob comando. Estudos também mostram que os cães podem sentir emoções complexas, como an- tecipação e ciúmes, mas podem não entender certos conceitos, como culpa. Um estudo de 1996 analisou cães e culpa - e analisou especificamente um cão em particular, que costumava destruir jornais. Quando o proprietário encontrou os jornais, ela foi repreen- dida e agiu como culpada. No entanto, quando o dono do cachorro rasgou o papel sem que ele percebesse e depois os pedaços foram colocados na mesma sala que o cachorro, ela também se sentiu culpada. Isso nos diz que a “culpa” que o animal demonstrou não é verdadeiramente culpa. Em vez disso, é a antecipação de uma bronca do tutor. 28 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS Capítulo 4 - Comportamento e bem-estar de animais de gatos Os gatos acompanham os seres humanos há cerca de 10.000 anos; inicialmente para a função de eliminação de roedores, e hoje são considerados membros da famí- lia. Na cultura dos egípcios, os gatos são considerados sagrados, inclusive no passado perderam uma batalha contra os persas porque estes usaram os gatos como escudos. Atualmente temos observado um aumento da procura pela companhia de felinos para animais de estimação por sua independência, higiene e personalidade. O tutor precisa ter a consciência de que os gatos são animais diferenciados e neces- sitam de um ambiente complexo e este está intrinsecamente vinculado à sua saúde física, bem-estar emocional e comportamento do animal. Hoje em dia, com o estrei- tamento do relacionamento entre humanos e animais, observamos um aumento nas ocorrências dos problemas comportamentais dos gatos. Os animais possuem necessi- dades emocionais como nós, seres humanos. Quando os mantemos com restrições de oportunidades de execução dos comportamentos normais para a espécie, observamos alterações comportamentais e problemas graves relacionados ao medo e à ansiedade. Os sentimentos de um animal têm extrema importância para a sua qualidade de vida, bem como administrar o estresse também é muito útil. Esses são aspectos da biologia de cada indivíduo, desenvolvidos para ajudarna sobrevivência. Talvez seja possível que alguns sentimentos e comportamentos não confiram nenhuma vantagem aos animais e que sejam apenas reflexos da atividade neural; entretanto, alguns com- portamentos inadequados podem indicar que o bem-estar é pobre. Gatos e suas particularidades fisiológicas Gatos são criaturas maravilhosas, entretanto possuem muitas particularidades fi- siológicas e comportamentais que os tornam animais especiais, que exigem cuidados ao manejá-los. Os felinos têm suas necessidades nutricionais específicas, apresentam diferenças em seu metabolismo e apresentam uma sensibilidade aos medicamentos. Na clínica médica observa-se vários casos de intoxicações e reações adversas após uso de algum medicamento. Felinos mostram-se como desafio quando necessitam de cuidados médicos, já que apresentam deficiência de glicuronil transferase, que é um grupo de enzimas respon- sável pela metabolização de muitos medicamentos, portanto, muitos destes se tornam tóxicos para os bichanos. Exemplos: aspirina, paracetamol, morfina, etc. Em gatos a avaliação da hipoperfusão secundária a hipovolemia é difícil, pois a coloração normal das membranas mucosas é mais pálida do que em cães e a qualidade do pulso é mais 29 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS difícil de ser avaliada. Apresentam também uma alta susceptibilidade do eritrócito (he- moglobina) em se oxidar, ocorrendo reações adversas. Um dos alimentos que podem produzir reações como a anteriormente citada é a cebola, que deve ser evitada a qual- quer custo na alimentação dos gatos. Desenvolvimento dos gatos Os gatos vêm ao mundo necessitando de muitos cuidados especiais. Os olhos e os ouvidos inicialmente encontram-se fechados e o sistema nervoso imaturo; o desenvol- vimento vai sendo executado de acordo com o aparecimento ou desaparecimento de alguns reflexos. Sem qualquer noção espacial eles acabam ficando perto da mãe pelo reflexo de es- quadrinhamento, que consiste em localização de uma fonte de calor e proximidade desta. Com 15 dias de vida a regulação da temperatura melhora e com 5 semanas os filhotes já dormem sozinhos. Com 15 dias também ocorre a abertura dos olhos e o ani- mal começa a ouvir melhor. Com 21 dias ocorre o período de reconhecimento das pes- soas e de outros animais, e nessa fase a figura da mãe é imprescindível para um bom crescimento emocional do filhote e de superar as adversidades ambientais. É um dos períodos mais importantes de crescimento físico e psíquico desses animais, de maior desenvolvimento motor e que começam a comer alimentos mais sólidos. Com 4 semanas já estão brincando, correndo, alegres e empolgados, arranhando móveis e cortinas. Filhotes podem ser altamente destrutivos, entretanto, não aceitam ordens como os cães. Cabe aos tutores realizar o enriquecimento ambiental para evitar chateações. Os filhotes de felinos aprendem bem rápido a usar a caixinha de areia, bem mais rá- pido que os cães. Quando realizam eliminação de fezes e urina em locais inadequados é um sinal de estresse, invasão de território ou caixinha suja. Comportamento felino A perseguição dos gatos está relacionada à falta de compreensão e conhecimento profundo de suas reais intenções. Essas criaturas são dedicadas a viver em liberdade, portanto jamais aceitarão as imposições e exigências de uma sociedade controladora e demostram, sem temer, que a interação só ocorrerá se houver respeito às suas ne- cessidades. A luz, pureza, coragem, preguiça e perseverança representadas pelos gatos podem assustar os que possuem corações mais tímidos, os que enxergam neles sua própria incapacidade de realização e de seguir instintos naturais (animal em nós). É fato que são animais temperamentais, normalmente não obedecem a comandos dos humanos e nem de outros animais, raramente se submetem. Possuem um sistema social muito rígido e cheio de regras, com limites duros e caso alguém infrinja tais im- posições terá que pagar caro por isso. São animais extremamente metódicos e amam 30 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS rotina; qualquer falha no planejamento já é motivo para estresse. Gatos se estressam com bastante facilidade, especialmente quando não estão em seu território. Podem mudar de comportamento rapidamente e, como são animais ágeis, a sua manipulação pode tornar-se difícil e às vezes, perigosa. Quem tem um animal desses em casa sabe que nunca se atrasam para seus pas- seios ou para ficar aranhando a porta. Eles possuem um mapa mental da organização na casa com locais certos para o descanso, alimentação, banho, eliminação e explora- ção territorial. Caso algo saia da rotina nesses locais, o gato já se estressa. Possuem também uma marcação territorial personalizada: unhas, borrifamento (xixi) e marcas químicas. Algumas vezes esses recursos são utilizados revelando que algo de errado está acontecendo e seu bem-estar está comprometido. Os gatos gostam muito de privacidade e se estressam muito quando outro gato ou alguém invade seu espaço. Na agenda deles tem espaço para atividades de caça, brincadeiras e também de cheirar e mastigar algumas gramíneas. Caça – 6 A 8 horas por dia Quando existe a possibilidade de acesso a um local externo, os gatos apresentam pico de atividade de caça durante o período da manhã e no final da tarde. Esses animais fi- cam horas procurando passarinhos, insetos e outros bichos que podem ser ingeridos. Já repararam um tipo de vocalização específica nas tentativas? São o resultado do estímulo visual e auditivo. Às vezes, com a domesticação, eles não sabem bem o que devem fazer, mas passam algumas horas contemplando a caça ou tentando morder nossos tornozelos. Na natureza, o sucesso da caça é compartilhado com toda a família, por isso que não devemos ficar magoados ou punir nossos bichanos quando nos depararmos com insetos, ratos ou pássaros em nossas camas ou sofás, pois ele só está tentando compartilhar uma alegria! Refeições – 10 vezes ao dia Isso mesmo! Por incrível que pareça, eles podem comer até 18 vezes ao dia. Gostam de comer aos poucos e detestam ração murcha. Por isso que fica no fundo sempre um restinho e que deve ser trocado. Se tiver mais de um gato, há necessidade de ter um pote para cada um. Uma observação importante é que os gatos que não possuem acesso a um ambiente externo e o tutor não proporciona enriquecimento ambiental, podem mendigar comi- da e tentar eliminar a frustração ambiental na comida (como nós humanos). Água Os felinos adoram água fresca e não toleram água parada e suja. Não é novidade 31 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS observar uma espera deles para a abertura de torneiras para que possam beber a água corrente. Uma ideia é a compra de fontes para deixar a água bem fresquinha. Marcações e checagem várias vezes ao dia Os felinos possuem substâncias que são utilizadas para marcação territorial nas unhas, cabeça e urina. Gatos passam muito tempo demarcando território e checando para verificar se está tudo certinho, tudo demarcado e sem risco de invasores. É que são animais territorialistas e invasores podem geram conflitos quando existem outros animais em casa. Muitas vezes essa demarcação torna-se um problema e isso veremos adiante. Eliminação – privacidade Os gatos defecam em areia e escondem por uma questão evolutiva. Eles na nature- za não poderiam deixar pistas para o predador e esse comportamento permanece até hoje. A frequência de utilização da bandeja de areia é de 3x ao dia, e ocorre preferen- cialmente no período da manhã. O “banheiro” do gato deve estar sempre limpo. Se estiver com odor de urina e fezes eles fazem suas necessidades em locais inadequados. Lembrando que se tiver mais do que um gato, há a necessidade de ter uma caixa para cada um. Como são animais ter- ritorialistas, pode-se ter a urina também como uma marcação de território. Sono (normalmente a maior partedo dia) Gatos dormem bastante durante o dia e possuem atividade noturna. A atividade tem pico às 3:00 da manhã e às 6:00. Isso não tem como mudar, o tutor precisa entender que é natural dos felinos. Comportamento sexual felino As fêmeas entram no cio por volta dos 6 meses de idade, podendo ter variações, e os machos também se tornam férteis nesse tempo. As gatas possuem a ovulação induzida pela cópula e o intervalo entre cios pode variar entre 21 a 70 dias. A fertilidade é dire- tamente influenciada pela quantidade de luz e nos meses mais frios (com menos luz) são menos férteis. Outra característica marcante é a vocalização (miados) quando a fêmea está na fase fértil, como sinal de receptividade. Elas urinam e demarcam território também como sinalização. Infelizmente algumas pessoas maltratam os animais nessa fase, pela ques- tão do incômodo noturno, mas vale ressaltar que é CRIME! 32 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS Cuidados corporais O asseio individual é uma característica bem marcante e que ocupa boa parte do tem- po do animal. Eles utilizam a língua, que é bem áspera, para limpar, tirar os nós, escovar o pelo e remover ectoparasitas. Normalmente o fazem em locais tranquilos e discretos. Valorização das coisas simples da vida Felinos vivem intensamente o presente e não pensam que deveriam estar em outro lugar, adoram a simplicidade da vida e valorizam o tédio. Análise dos riscos Os gatos apresentam comportamento exploratório intenso e para os que vivem em locais altos como apartamentos, o ideal seria colocar grades de proteção para se evitar acidentes. A castração é um item praticamente obrigatório para evitar saídas na rua e brigas com outros gatos. Comportamento social Gatos como espécie têm um sistema social flexível, podem viver solitários ou em grupo. Quando há fonte de alimento suficiente, as fêmeas podem se relacionar e for- mar colônias. Os machos geralmente têm uma área residencial maior e preferencial- mente vivem sozinhos. Os gatos selecionam suas afiliados preferidos, que geralmente são gatos relacio- nados. Os afiliados demonstram afeto mútuo esfregando a cara contra os outros. Ge- ralmente, os gatos esfregam contra seus cuidadores ou outros seres humanos para marcar seu perfume e como um sinal de familiaridade. Gatos não aceitam gatos desco- nhecidos em seu território, e geralmente mostram agressão para com esses estranhos. Um processo gradual deve ocorrer para a introdução de novos gatos no ambiente. Saiba mais Palestra sobre as emoções dos felinos: https://www.instagram.com/tv/CCmJ9WFHh90/ Sinais comportamentais de que o gato está gostando do am- biente e da situação: - Cauda ereta - Ronronando - Animal piscando https://www.instagram.com/tv/CCmJ9WFHh90/ 33 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS Fonte: A expressão das emoções no homem e nos animais. Charles Darwin. Sinais que o gato está odiando ou está estressado: • Contato ocular • Vocalização • Marcações em locais indevidos. • Falta de apetite • Diminuição no tempo que passa na área de descanso. Manifestação da raiva no Gato (rabo se estica e fica balançando de um lado para o outro, o pelo não se arrepia, orelhas são puxadas para trás e grunhidos são emitidos e utilizam a para direita para atacar). Fonte: A expressão das emoções no homem e nos animais. Charles Darwin. 34 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS Capítulo 4 - Comportamento e bem-estar de animais de Utilizados em turismo e entretenimento 1) Bastidores da pseudoalegria humana às custas do sofrimento animal: Manter animais em cativeiro, em zoológicos, circos e atrações turísticas, gera um enorme sofrimento para qualquer animal e os esgotamentos físico e mental capaz de ocasionar problemas mentais, como por exemplo a depressão animal, geradas pela so- lidão, exploração e confinamento. Abaixo descreve-se as principais ações que utilizam animais para promover entretenimento aos seres humanos. Animais utilizados em atrações turísticas Em 2016, o jornal The New York Times revelou que um santuário de tigres, localiza- do na Tailândia, foi desativado e seus administradores monges foram presos. O templo se autopromovia como um lugar onde pessoas e tigres poderiam coexistir em harmo- nia. Na apreensão encontraram mais de 1.600 itens ilegais, tais como pele de tigre, dentes e mais de 40 filhotes mortos congelados e outros 20 preservados em formol. Essa foi uma vitória para os ativistas, já que nesse local, a religião é soberana e existia um protecionismo aos líderes religiosos. Ainda na Tailândia a Animal a World Animal Protection denuncia que os filhotes de elefantes são torturados e obrigados a carregar turistas até a exaustão. O treinamento desses filhotes começa quando são tirados de suas mães quando bebês e forçados a passar por um processo de treinamento horrível conhecido como “o esmagamento”, que envolve restrições físicas, infligindo dor severa e negando comida e água. Animais utilizados em Circo O circo é reconhecido como patrimônio cultural brasileiro, com predominância de propriedade familiar e sua atividade é regulamentada em todo o país. Para receber tal denominação, essas instituições devem ser itinerantes e ter estruturas desmontáveis e cobertas por lona. No passado a utilização de animais em espetáculos era muito co- mum, o que ao longo do tempo foi questionado pelo público que observava situações de maus tratos e comportamentos antinaturais tais como empinar bola no nariz, se 35 COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS equilibrar em bolas e exigência de um comportamento submisso ao domador. A utilização de animais nesses empreendimentos, foi proibida através de Lei Federal em 2002. Martins (2008) no artigo “O respeitável público que não quer mais animais em circos” revela vários acidentes envolvendo mordedura de animais silvestres em seres humanos, ressaltando a importância de que animais subjugados podem desen- volver transtornos mentais apresentando comportamento imprevisível e muitas vezes agressivo. Os castigos, muito utilizados para o “adestramento” promovem danos físi- cos e psicológicos duradouros e custosos a nível de neurobiologia (SAPOLSKY, 2007). Estudos epidemiológicos focados em eventos estressantes, que estão relacionados temporariamente ao transtorno de depressão maior, documentam que os principais eventos desencadeadores do processo são: perda de emprego, insegurança financei- ra, problemas de saúde que ameaçam a vida, exposição à violência, separação e luto (BOWLBY, 2006). No entanto, evidências mais recentes se concentraram em exposição a eventos na infância tais como violência física e abuso sexual, negligência psicológica, exposição à violência doméstica ou separação precoce dos pais (CRUVINEL; BORU- CHOVITCH, 2014; OTTE et al., 2016). Há uma urgência em se a reconhecer a importância do diagnóstico do transtorno de ansiedade pós-traumática (TAPT) em zoologia. Embora os animais tenham uma alta prevalência de exposição a eventos traumáticos, tais como acidentes, abuso, tráfico e violência física, há poucos estudos teóricos e empíricos sobre o TEPT. O quadro clínico em seres humanos é caracterizado pela revivescência do trauma, esquiva, entorpeci- mento e Hiperestimulação Emocional Autonômica (FIGUEIRA; MENDLOWICZ, 2003). Animais em Zoológicos e em confinamento Animais sociais artificialmente confinados apresentam, frequentemente, quan- do comparados aos exemplares vivendo em seu ambiente natural, comportamentos anormais. As interferências ou modificações de ambiente podem induzir a comporta- mentos distintos dos apresentados na natureza (BROOM; DURHAM, 2003; BROOM; MOLENTO, 2004). O estresse contribui para o desenvolvimento de doenças crônicas degenerativas em animais (SAPOLSKY, 2007). A carga alostática é uma estimativa de desregulação fisiológica induzida pelo estresse com base em
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