Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ser r gente criando o futuro Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz Diretor-presidente Jânyo Diniz Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira Autoria Joyce Kamylla da Silva Gomes Jefferson Muniz Nogueira Projeto Gráfico e Capa DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design lnstrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. © Ser Educacional 2021 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE - CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock 1 ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. 1 CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. 1 CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. 1 CURIOSIDADE 1-.1:-----!:'.- -· · - --· · - • - -•-- -'-----L--:J_ - :_..._ _______ ...__ --L-- - ____ __ ...__ 1 DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. 1 EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. ! EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. Unidade 1 - Introdução ao processo psicodiagnóstico Objetivos da unidade .............. ............................................................................................. 13 Introdução ao processo psicodiagnóstico ...................................................................... 14 Fundamentação teórica sobre a entrevista inicial ........................................................ 16 Fundamentação teórica sobre entrevistas para testes ................................................ 21 Fundamentação teórica sobre a hora do jogo ................................................................ 28 Sintetizando ........................................................................................................................... 34 Referências bibliográficas ................................................................................................. 36 Unidade 2 - O desenho infantil e a entrevista de devolução Objetivos da unidade ........................................................................................................... 39 Fundamentação teórica sobre o desenho infantil ......................................................... 40 O desenho infantil como ferramenta psicoterapêutica ............................................ 43 HTP: fundamentação teórica ......................................................................................... 49 Fundamentação para a entrevista devolutiva ................................................................. 52 Etapas da entrevista d evolutiva .................................................................................... 55 A entrevista devolutiva e as suas especificidades ................................................... 56 Sintetizando .................................................................................... ....................................... 60 Referências bibliográficas ................................................................................................. 61 Unidade 3 - O teste da casa-árvore-pessoa (HTP) Objetivos da unidade .............. ............................................................................................. 63 Aplicação do HTP (House-Tree-Person) .......................................................................... 64 Procedimentos de aplicação ......................................................................................... 65 Inquérito posterior ........................................................................................................... 67 Correção do HTP (House-Tree-Person) ............................................................................ 70 Características para a correção: casa ....................................................................... 72 Características para a correção: árvore .................................................................... 75 Características para a correção: pessoa ................................................................... 77 Análise interpretativa do HTP ....................................................................................... 80 Sintetizando ........................................................................................................................... 85 Referências bibliográficas ................................................................................................. 87 Unidade 4 - TAT (Teste de Apercepção Temática) Objetivos da unidade ........................................................................................................... 89 Fundamentação teórica sobre o Teste de Apercepção Temática ............................... 90 Personologia de Murray ................................................................................................. 91 Características do TAT .................................................................................................... 93 Aplicação do TAT .................................................................................................................. 99 Correção do TAT ............................................................................................................ 102 Análise interpretativa do TAT ...................................................................................... 103 Sintetizando .............................. ........................................................................................... 107 Referências bibliográficas ............................................................................................... 109 O psicodiagnóstico auxilia as práticas psicológicas em suas diferentes abor- dagens. A avaliação psicodiagnóstica abarca uma mescla de técnicas, como entrevista e testagem, a fim de permitir ao profissional uma avaliação melhor subsidiada para embasar suas decisões, permitindo o alinhamento entre os objetivos do encaminhamento e os resultados. Tendo sua origem derivada da Psicologia Clínica de tradição acadêmica e da perspectiva médica, envolve cri- térios para avaliar o sujeito de maneira científica e sistemática, dirigido à reso- lução de problemas. Na atualidade, o psicodiagnóstico evidencia-se como um grande nicho pro- fissional ainda em exploração e crescimento por grande parte dos profissionais de Psicologia. Isso porque se vislumbra a atuação em psicodiagnóstico como uma área que necessita de investimento para a realização de testes psicológi- cos e outras técnicas, que não possuem valores acessíveis para a maior parte dos profissionais. Assim, nesse curso serão explorados os passos do psicodiagnóstico e de outras técnicas psicológicas para atender as demandas de aprofundamento dos estudantes e futuros profissionais de Psicologia, considerando suas espe- cificações dentro do contexto cl ínico. Bons estudos! - PSICOLOGIA· ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • A professora Joyce Kamylla da Silva Gomes é graduada em Psicologia pela Universidade de Fortaleza - UNIFOR (2020) e pós-graduandaem Psicopeda- gogia pela Faculdade Estratego em mo- dalidade EaD (2021). Tem experiência como monitora de Psicologia e Educação. Currículo Lattes: http:/ /lattes.cn pq .br/9732617534397848 Dedico este trabalho a Deus, pelo dom da vida e de proporcionar o aprender; à minha mãe, por ter me apoiado sempre que pode; aos meus amigos e professores, que, às suas maneiras, me incentivaram com conselhos e escuta; e à DP Content, por me proporcionar oportunidade de exercer um sonho. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • O professor Jefferson Muniz Nogueira é graduado em Psicologia pela Universidade Veiga de Almeida (UVA, 2019) e ministra disciplinas da área de Psicologia em cursos acadêmicos. É atuante na área clínica com ênfase em Psicoterapia Breve, Psicodinâmica e Psicodiagnóstico, além de atuar como psicólogo social e organizacional. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6323630785924262 Dedico este trabalho aos meus pais que sempre batalharam para que eu pudesse estudar e realizar meus sonhos. Tudo o que conquistei até hoje devo a eles e sempre serei grato! UNIDADE ~ ~ PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • ser educacional Objetivos da unidade Apresentar as características introdutórias referentes ao processo de psicodiagnóstico, evidenciando conceitos e passos a serem seguidos; Abordar a entrevista psicológica inicial, com conceituação e especificações inerentes ao contexto psicológico; Definir o conceito de hora do jogo diagnóstica. Tópicos de estudo Introdução ao processo psicodiagnóstico Fundamentação teórica sobre a entrevista inicial Fundamentação teórica sobre entrevistas para testes Fundamentação teórica sobre a PSICOLOGIA· ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • •• Introdução ao processo psicodiagnóstico O processo de psicodiagnóstico pode ser compreendido como um método científico de investigação e um tipo de avaliação psicológica. No entanto, "o psico- diagnóstico é uma avaliação psicológica, feita com propósitos clínicos e, portanto, não abrange todos os modelos de avaliação psicológica de diferenças individuais" (CUNHA et ai., 2007, p. 23). Surgiu em um período em que se buscava apenas uma maior concretude quantificável das características da personalidade e comporta- mentais dos sujeitos diante de uma perspectiva classificatória e nosológica, dentro de um contexto histórico que atendia ao modelo de perspectiva biomédica, com enquadre do sujeito na linha individualista e curativa. A avaliação psicológica é considerada um método mais amplo. O Conselho Federal de Psicologia (CFP), na Cartilha de Avaliação Psicológica de 2007, afirma que essa prática envolve o psicólogo em seus mais variados contextos de atuação, como nas áreas de educação e saúde ou em organizações. Pode ser realizada com um indivíduo ou mais, abrangendo a integração de diferentes fontes, como obser- vação, entrevistas, análise documental e o próprio psicodiagnóstico. Nesse âmbito, entende-se que o psicodiagnóstico tem um motivo específico para ser realizado, considerando que no processo de testagem é analisada a con- firmação de hipóteses presumidas. Assim, caracteriza-se como "um processo cientí- fico, porque deve partir de um levantamento prévio de hipóteses que serão confir- madas ou infirmadas através de passos predeterminados e com objetivos precisos" (CUNHA et ai., 2007, p. 26). Isso ocorre mediante técnicas e testes psicológicos emba- sados em pressupostos teóricos, a partir da composição de testes e outras estraté- gias que têm por objetivo constatar e aferir determinados aspectos e características de um sujeito de maneira sistemática e científica para a resolução de problemas. O processo de psicodiagnóstico tem tempo limitado e se baseia no contrato entre paciente e psicólogo. Dessa forma, é elaborado um plano de avaliação com estimativa de tempo para cada teste e sessão, que geralmente é equivalente a 50 minutos. Nessa etapa, o psicólogo identifica técnicas e testes necessários basean- do-se no tipo de encaminhamento e demanda recebida. O CFP dispõe na Cartilha de Avaliação Psicológica de 2013 que o profissional verifique no Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (Satepsi) se os instrumentos a serem utilizados na avaliação são aprovados. PSICOLOGIA. ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • 1 DICA Para saber mais sobre os instrumentos psicológicos para uso profissional, acesse o portal do Satepsi. O CFP, na Resolução n. 002, reforça que "as condições de uso dos instru- mentos devem ser consideradas apenas para os contextos e propósitos para os quais os estudos empíricos indicaram resultados favoráveis" (CFP, 2003). Isso significa que somente a aprovação dos testes no Satepsi não implica a utili- zação deles em todos os contextos e para qualquer objetivo. Eles devem ser aplicados tão somente aos casos que atendem a critérios abordados em estu- dos de validade, precisão e padronização. Diante disso, os resultados positivos para traços são importantes para aprovar a utilização ou não do dado instru- mento. Portanto, é necessário consultar o manual do teste para entender a teoria que o embasa, seu modo de administração, os contextos em que ele se encaixa e os objetivos que se propõe a analisar. O processo diagnóstico pode ser classificado em seis passos básicos, con- forme o Quadro 1. QUADRO 1. PASSOS SIMPLIFICADOS DO PSICODIAGNÓSTICO Passo ~ Descrição Levantamento de questões alinhadas com o objetivo da consulta, encaminhamento e delimitação de hipóteses iniciais e do objetivo da avaliação. Plano de avaliação e estabelecimento da relação entre as perguntas 1nici;:iis e ;:is rcspost;:is possíveis. Bateria de testes, seleção de instrumentos e aplicação de testagem psicológica. Análise de resultados quantitativa ou qualitativa. Correlação de dados e informações baseados na hipótese inicial e formulação de conclusão pela assimilação dos resultados dos exames. Comunicação de resul tado, orientações para o caso e finalização do processo. Fonte CUNHA et ai., 2007. p. 31. (Adaptado). PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Cunha e colaboradores (2007) frisam a importância de o instrumento ser analisado em sua eficiência para se conhecer o quanto é capaz de fornecer respostas a perguntas determinadas e hipóteses com a bateria de testes planejada. Reforça-se, assim, cor- relacionar os dados obtidos com as informações da história clín ica pessoal do paciente, alinhan- do-se aos objetivos do psicodiagnóstico para a devolutiva, às orientações sobre o caso e ao futuro encerramento da avaliação. •- W Fundamentação teórica sobre a entrevista inicial - A entrevista psicológica tem como intuito o estudo do comportamento hu- mano, sendo um método de investigação científico com diferentes objetivos conforme seu uso. Dentro da prática clínica e psicológica, é uma técnica facili- tadora do processo que permite acessar, perceber e sentir o outro. Traz em si uma dupla proporção que investiga os fatos em torno da demanda do paciente, do objetivo, do encaminhamento e dos resultados obtidos com a avaliação. Assim, possibilita analisar o contexto do atendimento com o planejamento da bateria de testes e a delimitação de onde, como e quando devem ser aplicados os instrumentos escolhidos. Dessa forma, a entrevista pode ser compreendida como meio de acessar, apreender e facilitar o início, o desenvolver e o fecha- mento da avaliação. Conforme Tavares (2007), pode ser classificada em três t ipos: • Entrevista aberta: o entrevistador tem plena liberdade para perguntas e intervenção, sendo uma forma livre que permite uma investigação mais macro e aprofundada do indivíduo e suas proporções; · Entrevista fechada: as perguntas são previamente planejadas, podendo ter sequência e obedecendo a certos princípios ao objetivar o levantamento de dados objetivos; • Entrevista semiaberta: o pacientepode iniciar falando sobre sua escolha, porém o entrevistador pode intervir de acordo com os objetivos da sessão e compreender mais acerca da demanda a partir da escuta do sujeito, com a co- locação de perguntas específicas e planejadas. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • A entrevista pode ser entendida como uma relação dual entre entrevistado e entrevistador, com tempo demarcado e que resulta no contrato terapêuti- co. Nesse sentido, Neubern (201 O) defende o contrato terapêutico como uma prática que vai além do estabelecimento de regras objetivas, relacionando-se ao engajamento emocional. Tavares (2007) ainda aponta que ela pode ser en- tendida em cinco passos: inicial ou de triagem, anamnese, diagnóstica, sistêmi- ca e de devolução. Com relação ao conceito de anamnese, tem-se um procedimento que objetiva acessar a história do sujeito em avaliação e obter o levantamento detalhado da história pregressa do examinando, focando na infância com a necessidade de se estabelecer uma ordem cronológica do caso em questão. No que tange à entrevista diagnóstica, considera-se que toda entrevista comporta elementos diagnósticos de maneira macro. Tavares (2007) a define como exame e análise cuidadosos de uma condição que possibilita descrever, avaliar, relacionar e compreender, visando à transformação de tal condição. Dessa forma, há tanto a compreensão do diagnóstico quanto à classificação dos sintomas, buscando uma mudança dos sintomas em prol do sujeito. A entrevista sistêmica é orientada para avaliar famílias e casais, objetivan- do elaborar um parecer acerca da organização ou da história relacional do indi- víduo, podendo averiguar também particularidades da rede social de pessoas. É uma abordagem marcada fortemente pela corrente teórica do entrevistador. resultado da avaliação. Nesse caso, podem ser feitas recomendações e é indis- pensável permitir ao sujeito se expressar sobre as conclusões do atendimento e as recomendações do avaliador. No que concerne à entrevista inicial, ou de triagem, Tavares (2007) ex- plica que ela tem por objetivo a avaliação da demanda do sujeito e o encami- nhamento. É utilizada com maior frequência em serviços de saúde pública ou clínicas sociais, a fim de dar um enquadre mais assertivo à demanda por conta da diversidade de solicitações e serviços psicológicos. Entende-se ain- • da que é indispensável para avaliar a gravidade de uma crise, sendo que o psicólogo clínico a utiliza para triar os pacientes e encaminhar demandas para as quais não se sente apto ou com habilidades para manejar. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Fraga (2016) acrescenta que, além de possibilitar o conhecimento do motivo do encaminhamento, permite saber a razão do atendimento e a história atual e pregressa do indivíduo que se fazem relevantes ao caso. Ademais, estabelece o contrato terapêutico, que alinha as condições em que acontecem as sessões, facilitando a especulação diagnóstica e o planejamento de ferramentas, instru- mentos e comunicados de maneira simples e acessível ao cliente. Ressalta-se ainda que é imprescindível ao psicólogo conhecer o cliente de forma que auxilie a extração de dados para a formulação de hipóteses e o planejamento de ba- teria de testes. Assim, é possível dividir os objetivos da entrevista inicial dentro do proces- so de psicodiagnóstico, conforme mostra o Quadro 2. 1 Objetivos Conhecimento da queixa principal Anamnese Contrato terapêutico Levantamento de hipóteses diagnósticas Bateria de testes QUADRO 2. OBJETIVOS DA ENTREVISTA INICIAL ~ Descrição Motivação do atendimento e escuta do paciente contextualizada para acessar o que o paciente traz de demanda. Conhecer e compreender a história de vida do paciente. Condições do processo. explicação para o cliente sobre a natureza da avaliação, valor do investimento financeiro e engajamento do sujeito. Análise e comparação nosológica, descritiva entre o que o paciente relata ter, sentir experienciar e o que foi informado no motivo do encaminhamento. Seleção dos instrumentos de avaliação alinhada à demanda do sujeito e ao objetivo do encaminhamento. Fonte: FRAGA, 2016, p. 69. (Adaptado). Conforme o comprometimento da avaliação, ela pode se desenvolver em apenas uma sessão ou mais, a critério do profissional. Assim, o início do aten- dimento é o ponto em que o psicólogo colhe as informações acerca da deman- da, faz alguns apontamentos (por exemplo, definir horário e o valor do inves- timento da avaliação), explica como irá desenvolver o processo e estabelece um vínculo com o avaliando. Abrange roteiro de entrevista semidirigida por consideracão do temoo limitado. de forma a abordar a história do indivíduo de forma macro, contextualizada, empática e afetiva. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • A depender da abordagem teórica do entrevistador, pode-se chamar esse processo de Rapport ou transferência. O Rapport é uma técnica que busca uma maneira de criar um elo de empatia com o outro, enquanto a transfe- rência se trata de uma atualização de conteúdos do paciente, de acordo com o modo pelo qual o sujeito se relaciona em projeção com o analista. Nesse caso, o psicólogo colhe dados importantes sobre a história de vida do paciente, subsidiando impressões diagnósticas, e pauta os objetivos da avaliação para o planejamento do processo e para escolher os instrumentos. EXPLICANDO Rapport deriva da palavra francesa rapporter, que significa trazer de volta. Contém três componentes básicos, atenção mútua, positividade e coorde- nação, e está relacionado a um processo diagnóstico de grande contribui- ção ao psicodiagnóstico por favorecer o clima terapêutico e a cooperação mútua no desenvolver do procedimento. Arzeno e Ocampo (1981) confirmam que essa técnica é semidirigida, pelo fato de o cliente ter liberdade para falar sobre suas questões e o psicólogo po- der realizar alguns apontamentos, a fim de esclarecimento. Além disso, aborda pontos principais em relação à demanda, de importância ao processo, consi- derando que a entrevista semidirigida pode ser delimitada em seu tempo com- pactuado com o examinando ou familiares e responsáveis, com início, meio e fim demarcados. Esse processo objetiva acessar o paciente de maneira ampla, com a apre- sentação do psicólogo e do paciente e a explicação do procedimento de psico- diagnóstico e do sigilo profissional. Dessa forma, norteia o profissional a co- lher dados e a formular hipóteses diagnósticas iniciais, planejando a bateria de testes (CUNHA et ai., 2007), um conjunto de testes e técnicas alinhados ao processo em questão que per- mitem obter dados confirmando ou não a hipótese diagnóstica inicial e atendendo ao objetivo inicial do processo. Fraga (2016) relata ainda que a esco- lha do instrumento deve considerar idade, sexo, escolaridade e, principalmente, aquilo que se pre- tende avaliar, por exemplo, a inteligência. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Fraga (2016) explica que a entrevista inicial dá princípio a diferentes aborda- gens da Psicologia. Quando aplicada ao campo da saúde mental, objetiva colher o máximo de informações para o melhor planejamento do tratamento, buscando informações sobre o sintoma atual, episódios anteriores (se for um primeiro aten- dimento) e a evolução do caso para possível diagnóstico e prognóstico. CURIOSIDADE o \ A fim de deixar mais compreensível sua atuação, o psicólogo Rogers (1902-1987). grande teórico humanista e fundador da abordagem centra- da na pessoa, resolveu gravar um de seus atendimentos em uma série de três vídeos, datados da década de 1960. No processo terapêutico, em especia l na entrevista inicial, percebeu o desenvolvimento de determi- nadas atitudes facilitadoras, como relação de confiança, empatia, con- gruência e consideração positiva incondicional, sendo elas precursoras do movimentode transformação. Na terapia cognitiva, as sessões englobam uma avaliação diagnóstica e descritiva que circunscreve todo o atendimento e a construção do modelo teórico explicativo referente ao caso. Na terapia sistêmica familiar, busca- -se iniciar o diagnóstico a partir de um processo fluido e amplo, sendo ne- cessário levar em conta variáveis socioculturais, além do desenvolvimento da família, subsistemas e alianças. E na abordagem psicanalítica, é possí- vel coletar dados importantes sobre a personalidade do sujei - to em análise, identificando informações sobre a demanda e suas formas de se relacionar, ser e estar. Infere-se ainda que para atuar nessa área há a necessi - dade de grande investimento, por envolver testes e instru- mentos que não são de valores acessíveis e que não fazem parte da rotina cl ínica. Às vezes, por exemplo, o psicólogo que atende por plano não tem à disposição os testes para realizar, assim, se acaso pressupor alguma hipótese diagnós- tica psicopatológica, para sua confirmação necessita encaminhar o paciente a outro psi- cólogo que realize o procedimento. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • • Fundamentação teórica sobre entrevistas para testes Conforme apontado anteriormente, a entrevista como ferramenta da avaliação psicológica é essencial para colher dados e informações a respeito do paciente. Para Tavares (2007, p. 46), "a entrevista vem a ser o único ins- trumento capaz de testar os limites das aparentes contradições e de tornar explícitas as características indicadas pelos instrumentos padronizados, dan- do-lhes assim a validade clínica". Como uma técnica difundida e com variados usos, a entrevista psicológica tem a função de analisar a demanda ou queixa do paciente. Para tal, estratégias e atribuições se fazem necessárias dentro do processo, considerando que o profissional de Psicologia ressalte as cate- gorias dos testes projetivos que estão inseridas. Depreende-se, então, como um passo fundamenta l para o processo de psicodiagnóstico, a testagem, a qual tem por objetivo descrever e avaliar as- pectos pessoais, relacionais ou sistêmicos (casal, família e rede socia l) em um processo que visa a recomendações, encaminhamento ou intervenções em benefício das pessoas entrevistadas. Os testes psicológicos são instru- mentos com grande capacidade de mensurar, por exemplo, determinada ca- racterística da personalidade e comportamentos humanos, inclusive os tidos como inconscientes. Com o surgimento da Psicologia Experimental, no século XIX, os testes psicológicos passaram por várias evoluções, tendo a colaboração de diversos autores. Galton auxiliou, com a influência da biologia darwiniana, a introduzir dados estatísticos na análise das diferenças individuais. Binet, por sua vez, ajudou com a pesquisa sobre a capacidade intelectual, buscando respostas para o atraso escolar de alunos das escolas francesas, empregando, assim, o primeiro teste de nível mental. Ainda houve a criação da escala de maturação de Gessei, com o intuito de investigar o desenvolvimento de processos na primeira infância (SCHEEFFER, 1968). Os primeiros testes de inteligência em forma coletiva surgiram por • ocasião da Primeira Guerra Mundial, com o objetivo de classi- ficar as pessoas convocadas para o exército norte-america- no. Eles trouxeram inúmeras contribuições para normas e padrões estatísticos. Scheeffer explica que: PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Os testes de personal idade surgi ram posteriormente aos de nível mental. O primeiro teste dessa natureza foi um questionário elabo- rado por Woodworth, em 1914, para a seleção dos convocados do exército norte-americano. Vieram depois os testes de personalidade do tipo projetivo, tais como o Psicodiagnóstico Rorschélch, "Thema- tic Apperception Test" e outros (SCHEEFFER, 1968, p. 6). Os testes podem ser subdivididos em até sete tipos diferentes, descritos no Quadro 3. Tipos de testes Lápis e papel Execução Inventário Objetivo Projetivo Individual Coletivo QUADRO 3. TIPOS DE TESTES E SUA DESCRIÇÃO ~ Descrição Pode ser verbal ou não, com resposta em folha dada pelo examinando. Envolve alguma tarefa determinada por meio de material ou aparelho. Propõe uma situação de autojulgamento por parte do examinando, sem impor certo ou errado. Teste mais diretivo, geralmente em forma de questionários ou inventários com estímulo específico. Teste sem estímulo específico ou determinado, com a interpretação baseada no conceito de que o paciente projeta nas respostas o que foi apresentado pelo teste, revelando características pessoais. Aplicado de maneira singular em um individuo. Aplicado em grupos. Fonte SCHEEFFER. 1968. p. 7-8. (Adaptado). Quanto ao uso, nota-se sua aplicação em variados contextos e campos de atuação da Psicologia, como: · Diagnóstico clinico: objetiva investigar psicopatologias, como distúrbios emocionais, psicoses, neuroses, sendo que testes de ordem projetiva ou expres- sivos são os mais utilizados; • Orientação educacional: visa ao melhor conhecimento acerca de caracterís- ticas e capacidades escolares, além do aproveitamento adequado das potencia- lidades. Assim, os testes de aptidão intelectual e de interesse ganham destaque; · Orientação profissional: averigua as tendências vocacionais do indivíduo, propiciando uma maior facilitação da escolha profissional adequada a caracte- rísticas pessoais; PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • · Seleção pessoal: objetiva realizar testes para escolher os candidatos mais adequados a diversas funções; • Pesquisa: auxiliam o psicólogo a se aprofundar no que buscam pesquisar de maneira objetiva, sistemática e científica. Como ferramentas de mensuração, é necessário que o psicólogo esteja atento e realize sua aplicação precisamente, tanto no processo de adminis- tração quanto na apuração dos resultados. Nesse sentido, determinadas re- comendações são feitas, como ler atentamente o manual do teste que se pre- tende aplicar; conhecer as instruções de aplicação; assegurar que as condições de trabalho sejam favoráveis (espaço, silêncio, assento confortável, iluminação etc.); antecipar e evitar possíveis distrações; haver material suficiente; promo- ver a explicação para o avaliando acerca do que vai ser realizado; ler em voz cla- ra, alta e lentamente as instruções; e, caso necessário, dar explicações extras. Nesse âmbito, estratégias alinhadas dão ao caso, que, por muitas vezes, chega ao psicólogo para avaliação por encaminhamento, amplitude, dimen- são assertiva e direcionamento ao processo e tratamento ao entrevistado. Portanto, somente o teste não é capaz de desvelar traços, características e diagnóstico, devendo ele estar em alinhamento com a entrevista. Isso ocor- re com a análise da narrativa do sujeito em conjunto com seus gestos e ati- tudes, os quais dão congruência, abrangência e integridade aos resu ltados que se pretende obter. A responsabilidade pelo processo é do profissional, tendo em vista que ele tem as habilidades e os conhecimentos psicológicos indispensáveis para ma- nejar a testagem. Isso implica uma questão ética fundamental, em que é ine- rente que o psicólogo necessita reconhecer as relações de poder intrínsecas entre entrevistador e avaliado, que podem ser traduzidas pela expressão lacaniana do sujei- to do suposto saber. Torres (2016) dispõe que esta é uma posição subjetiva em que um sujeito não supõe nada, que exprime que o profissional sabe mais sobre o adoe- cer do que o próprio paciente. De tal forma, dá a responsabilidade ao profissional de zelar pelo bem-estar e bom andamento da situação. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Tavares (2007) corrobora ainda que a complexidade do processo de entre- vista clínica requer um treinamento refinado, envolvendo os conhecimentos do psicólogo para apoiar uma relaçãointerpessoal de investigação clínica, sendo necessário criar um clima terapêutico favorecedor e de apoio. Reconhece que os processos de entrevista e de psicodiagnóstico são em si restritos em seu tempo, sendo ambos orientados por suas finalidades. Assim, enquanto o psi- codiagnóstico volta-se à resolução de problemas para confirmar ou não deter- minada hipótese, contribuir ao tratamento do avaliando e favorecer o prognós- tico, a entrevista busca obter informações sobre a história do indivíduo, sendo seu objetivo a descrição, a avaliação e o retorno. Salienta-se a necessidade de um exame detalhado do quadro sintomatológi- co, considerando que a entrevista diagnóstica pode mesclar elementos sindrô- micos e psicodinâmicos. Tavares (2007) explica que os aspectos sindrômicos podem ser descritos como o detalhamento dos sintomas que o entrevistado está sentindo, como baixa autoestima, humor deprimido e ansiedade. Já os psicodinâmicos visam à descrição e à compreensão da experiência do sujeito, além do modo particular como funcionam sobre o sujeito, de forma alinhada à abordagem teórica do psicólogo. Os dois modos diagnósticos devem ser vistos como complementares e colocados dentro do mesmo contexto de estratégia. Tavares (2007) dispõe ainda que, para o processo da entrevista ter êxito, é necessário que o profissional de Psicologia desenvolva determinadas compe- tências, como as apresentadas no Quadro 4. QUADRO 4. COMPETÊNCIAS DO PROFISSIONAL DE PSICOLOGIA PARA ENTREVISTAS ~ Competências Estar presente e inteiramente disponível para o outro, ouvindo-o sem interferências pessoais. Ajudar o paciente a se sentir à vontade e promover a al iança terapêutica. Facilitar a expressão dos motivos que levaram a pessoa a ser encaminhada ou buscar ajudar ampliando o psicodiagnóstico. Buscar esclarecimentos para colocações vagas ou consideradas incompletas. Pontuar contradições e esquivas. Reação e tolerância à ansiedade relacionadas tanto aos temas colocados pela entrevista quanto em relação aos testes aplicados. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Reconhecer defesas e o modo de estruturação do paciente, especialmente quando atuantes na relação com o entrevistador. Compreender processos contratransferências. Assumir a iniciativa em momentos de impasse. Dominar as técnicas que utiliza. Fonte: TAVARES. 2007, p. 52 (Adaptado, Com a finalização do processo, tem-se a compilação e a formalização decor- rentes da avaliação psicodiagnóstica para a elaboração de um documento psi- \.U1u5u ... u . Lelt)U, 'c:Ht::::> t:: DCII IUt::11 a \LV I UJ t::l llt::I IUt::111 t::Al::>lll yuall u 11 IUUCIIIUCIUt::.:> desses documentos: atestado, declaração, laudo/relatório e parecer. NOME DO(A) PSICÓLOGO(A) ESPECIALIDADE NÚMERO DO CRP ATESTADO PSICOLÓGICO Atesto que o(a) Sr.(a) __________ _ foi atendido(a) no meu consultório das _ às _ D Foi orientado(a) a retornar ao trabalho. D Foi orientado(a) a permanecer em repouso hoje. D Deverá permanecer em repouso por __ dia(s) a partir desta data. Assinatura do(a) Psicólogo(a) Número do CRP Telefone: (XX) XXXX-XXX E-mail: nomedoprofissional@x.com.br Endereço: Rua X, 00 - Bairro - Cidade - CEP Figura 1. Exemplo de documento ps1cológ1co. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • A declaração visa a informar a ocorrência de fatos ou situações objetivas re lacionadas ao atendimento, com a finalidade de declarar comparecimento do atendido ou acompanhante quando necessário, acompanhamento do atendi- do e informações sobre as condições do atendimento (tempo, dias e horário), não sendo necessário colocar sintomas, situação ou estado psicológico. No caso do atestado, certifica uma determinada situação ou estado psicológico, tendo como fina lidade afirmar sobre as condições psicológicas de quem, por requerimento, o solicita, com fins de: a) Justificar fa ltas e/ou im- pedimentos do solicitante; b) Justificar estar apto ou não para ati- vidades específicas, após rea lização de um processo de avaliação psicológica, dentro do r igor técnico e ético que subscreve esta Re- solução; c) Solicitar afastamento e/ou d ispensa do solicitante, subsi- d iado na afirmação atestada do fato, em acordo com o disposto na Resolução CFP nº 015/96 (CFP, 2003, p. 6). Lago, Yates e Bandeira, ainda acerca do atestado e da declaração, corrobo- ram que: Apesar da distinção entre Declaração e Atestado, frequentemente se observa a solicitação equivocada, por parte dos avaliados, de emissão ...1.-.. -.•.-...-•-....!.-...- .... -...--. i,,.-+-;1:,--..- ♦-.1 .. -.,- .-.., , -.♦-..-•-..-.-..-.. ..... .-...- ...1.-.. ... .--.h-.lh.-.. .-,..-..--. comparecimento à avaliação psicológica. Na verdade, a mera justifica- tiva de falta ou afastamento do trabalho, sem registro de sintomas ou estados psicológicos, implicaria a produção de uma declaração, e não de um arestado. É responsabilidade do profissional saber qual o ti po de documento deverá produzir diante de um pedido desses e esclare- cer ao solicitante (LAGO; YATES; BANDEIRA, 2016, p. 3). Em relação ao laudo/relatório, Cunha et ai. (2007) elucidam que visam a responder determinadas perguntas, envolvendo o que, para que, quando, como e quanto. Conforme a Resolução nº 007 (CFP, 2003), são "uma apresen- tação descritiva acerca de situações e/ou condições psicológicas e suas deter- minações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas no processo de avaliação psicológica", devendo ser balizados em dados e instrumentos téc- nicos e avaliados a partir de um referencial teórico científico escolhido pelo psicólogo. Devem conter cinco itens identificação: PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • • Identificação: é composta por autor, interessado e assunto. Por exem- plo, em um caso de atendimento com crianças, o relatório deve apresentar os dados, como sexo, idade, data de nascimento, escolaridade e ocupação, do psicólogo e do avaliado, além de informações sobre os responsáveis do menor de idade. O assunto deve, por sua vez, apresentar o motivo do atendimento, de forma específica, como em uma avaliação da função cognitiva devido à difi- culdade escolares; • Descrição da demanda: é destinada à narração das informações referen- tes ao problema-queixa e às razões e expectativas que produziram o pedido do documento. Isso envolve a análise feita da demanda que justifica o uso de procedimentos ou ferramentas, salientando que é responsabilidade do avalia- dor deixar nítido os aspectos avaliados e os encaminhamentos a outros profis- sionais para serem melhor investigados; • Procedimento: deve apresentar os recursos técnicos utilizados para cole- tar as informações à luz de um referencial teórico filosófico que o ampare. Não se tem clareza sobre a utilização de referenciação de autores, mas é necessária a informação referente à abordagem psicológica do avaliador. Se for escolha do profissional, é possível mesclar os conhecimentos das abordagens a fim de dinamizar e integrar a avaliação; • Análise: envolve descrever de forma sistemática os dados colhidos e as situações vivenciadas em relação à demanda em seu aspecto amplo, conside- rando as variáveis sociais, históricas, econômicas e políticas das questões de ordem psicológica; · Conclusão: aborda a exposição dos resultados e as considerações sobre a investigação do caso, partindo das referências que fundamentam a avaliação. Destaca também a importância de sugestões, o encaminhamento, o prognós- tico e a continuidade ou não do caso de psicoterapia. Lago, Yates e Bandeira (2016) ainda reiteram, como orientação geral para a escrita do laudo ou relatório, a importância da escolha ética das informações a serem prestadas, considerando a quem o documento é direcionado . • Nesse sentirlo. tem-se r1 neressirlr1rle rle rlesrrever r1 rlemr1nrlr1 e a história clínica sem julgamentos ou interpretações, a partir de apresentaçãoclara dos instrumentos aplicados e dos re- sultados obtidos, com direcionamentos para o caso. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Quanto ao parecer, Lago, Yates e Bandeira (2016) o definem como um do- cumento fundamentado e focado em uma questão psicológica específica, cujo resultado pode ser indicativo ou conclusivo. Não é um documento decorrente de avaliação psicológica, como os outros, tendo estrutura mais objetiva, com resposta breve e esclarecedora que exige conhecimento da ciência psicológica. Pode ser solicitado por instituições (hospital e escola) ou outros profissionais (psiquiatra e nutricionista) e apresenta quatro componentes: identificação, ex- posição de motivos, análise e conclusão. No que tange ao psicodiagnóstico e a demais avaliações psicológicas, a do- cumentação resultante do processo deve ser resguardada por cinco anos, fi- cando à responsabilidade do profissional ou instituição à qual o profissional estiver vinculado. •• Fundamentação teórica sobre a hora do jogo A hora do jogo é um recurso técnico do psicodiagnóstico infantil de entre- vista lúdica em que, a partir do brincar, tem-se acesso ao mundo interno da criança, analisado em sua forma relacional e estrutural como uma maneira de conhecer inicialmente a criança. Dentro do atendimento psicológico, permite compreender a natureza do pensamento infantil e fornece dados do processo evolutivo, psicopatológico e psicodinâmico, dando maior subsídio para conclu- sões diagnósticas, prognósticas e indicações terapêuticas. Cunha et ai. (2007, p. 97) aponta que é "na situação do brinquedo, que a crian- ça procura se relacionar com o real, experimentando-o a seu modo, procurando construir e recriar essa realidade". Isso baseia-se no fato de que o brinquedo permite a criança se comunicar e fazer elo entre o mundo interno e externo, com as exigências da realidade objetiva e da fantasia. Aberastury (1978) reitera que a criança é capaz de, pelo brincar, expressar seus conflitos inconscientes, movi- mentar defesas e fantasias de cura, doenças e traumas, sendo possível visualizar desde os encontros iniciais sua estrutura mental, emocional, física e relaciona l. Dessa forma, compreendendo que a criança se comunica não somente de ma- neira verbal, mas também comportamental, por meio de gestos e atitudes, a hora do jogo torna-se equivalente à entrevista inicial e pode estar aproximada ao método da associação livre em adultos na psicanálise. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • No psicodiagnóstico infantil, Werlang (2007) lembra que o primeiro contato realizado é com o resoonsável oela crianca. a fim de colher dados sobre a aueixa e possível sintoma atrelado ao caso. Assim, nota-se uma dupla transferência a ser manejada, dos responsáveis e da criança, além de demandas advindas juntas ao encaminhamento. De maneira geral, isso resulta na avaliação com alguma hipótese diagnóstica que, por meio do psicodiagnóstico infantil, é explorada, confirmada ou infirmada. Werlang (2007) reitera que a entrevista lúdica se coloca como uma técni- ca de avaliação muito enriquecedora do processo de psicodiagnóstico infantil, dando valiosos dados sobre o aspecto do desenvolvimento de síndromes e das forças psicológicas implicadas na queixa motivo do atendimento. Ademais, per- mite deliberar conclusões diagnósticas e realizar indicações, além de favorecer a evolução do caso. Para tal, é preciso que o psicólogo siga algumas orientações, como dar a oportunidade de a criança escolher e brincar com toda a liberdade, acessar livre- mente o espaço e observar o uso dos brinquedos. Por consequência, deve pon- tuar as atribuições da criança e do entrevistador, tendo a percepção que o papel do entrevistador é o de escutar e observar atentamente o paciente em seu modo de se relacionar e atuar, bem como seus gestos e atitudes. Pode-se realizar inter- venções durante o jogo, esclarecer pontos sobre a brincadeira e ser convidado para participar, dependendo da criança, dando vias para ela se revelar e abraçar fantasias, desejos e comportamentos em um instrumento representativo. Figura 2. Hora do Jogo dragnósuca. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 21/07/2021. PSICOLOGlk ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Voltando-se ao paciente, a hora do jogo torna-se uma ferramenta essencial para a avaliação psicológica infantil que, alinhada à testagem dentro do contex- to psicodiagnóstico, necessita de uma caixa lúdica. Figura 3. Exemplo de caixa lúdica. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 21/07/2021 Werlang (2007) defende que a caixa é bem mais do que o local em que se guarda os brinquedos; ela é o símbolo do contrato terapêutico e de ligação entre o psicólogo e a criança. Não é preciso, no entanto, obter uma para cada criança, mas sim, haver uma diversificação dos elementos nela contidos, com brinquedos considerados mais simples, como o carretel no caso do neto de Freud, que deu o impulso para o pai da psicanálise criar a teoria do Fort-da. EXPLICANDO Freud (19771 discorre sobre a brincadeira do neto, que consistia na aparição e desaparição de determinado objeto. O menino jogava o carretel sobre a borda da cama junto a expressão sonora "o-o-ó", interpretado por Freud e família como a palavra fort, que traduzida do alemão significa ir embora. Em seguida, ele puxava o objeto por meio do cordão junto a expressão "da", indicando o retorno. Dessa maneira, Freud destacou que a criança por meio da brincadeira estava ence- nando as partidas e os retornos de sua mãe, elaborando a experiência da ausência e aparecimento dela, sendo o primeiro a averiguar a capacidade simbólica e de expressão da criança. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Werlang (2007) aponta ainda que é interessante que o local para brincar te- nha uma preparação, seja de fácil l impeza e espaçosa, com facilidade de acesso ao banheiro e à água no caso de a criança querer brincar com tinta, canetinha etc. Ademais, observando a ludicidade, ao finalizar a sessão, o avaliador e a criança podem juntos guardar os brinquedos, o que ajuda a estabelecer condi- ções para o processo. Avaliar o material da hora do jogo requer que o psicólogo esteja bem alinha- do com uma abordagem teórica. Por exemplo, se for psicanalítico, deve haver um referencial teórico embasado em Melanie Klein, Aberastury e Winnicott. Kornblit (1976) enfatiza que uma avaliação aprofundada da hora do jogo auxilia a desvelar a queixa atual da criança, revelando as forças e interações atuantes no comportamento, e evidência o modo de vinculação com a transferência e a contratransferência, sendo essencial para ancorar o diagnóstico. Ademais, clareia fantasias inconscientes e mecanismos psíquicos, sendo importante en- tender a ferramenta como uma narrativa t razida em retorno a uma situação específica. A este ponto, então, analisa-se como a criança se coloca na situação, possibilitando a observação de aspectos considerados basilares, como a ida da criança até o brinquedo, seus comportamentos no início e final do jogo, sua linguagem e expressão corporal e como se movimenta pelo espaço. Contudo, Werlang (2007) ressalta que não existe receita pronta para a ava- liação da hora do jogo, por não ser uma ferramenta fechada, mas sim, fluida e dinâmica, na qual o próprio paciente dirige todo o exercício. Aponta que oito indicadores servem de parâmetros para os critér ios de avaliação diagnóstica e prognóstico, contextualizados e compreendidos de forma dinâmica, estrutural e socioeconômica. Essas características estão dispostas no Quadro 5. QUADRO 5. CARACTERÍSTICAS INDICADORAS DA HORA DO JOGO Indicador Escolha de brinquedo e jogos Modalidade das brincadeiras Personificação e personalidade Criatividade Motricidade Capacidade simbólica Adequação à realidade Tolerãncia à frustração ~ Objetivo Leva em conta o estágio evolutivo de cada criança, permitindoa compreensão e a expressão de conteúdos psíquicos, emocionais e inconscientes. Verifica a maleabilidade da criança e facilita expressão, comunicação e demonstração de personalidade, avaliando se há rigidez, plasticidade ou estereotipia. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Engloba a capacidade de atribuir papéis ao brinquedo em relação a si mesmo ou de forma imaginária, considerando que todo estágio evolutivo se transforma. Auxilia na elaboração de situações de trauma e favorece o processo de socialização e individuação, além de possibilitar também a qualidade e a intensidade das diferentes identificações. Analisa a capacidade de unir ou se relacionar novos elementos verbais ou escritos na brincadeira e diferenciá-los. Analisa o movimento do corpo da criança e se está congruente com o esperado para a etapa evolutiva da idade e do período do desenvolvimento. Também observa integração do esquema corporal, coordenação espaçotemporal e organização da lateralidade. Envolve o mundo interno da criança e seu modo de se relacionar e enxergar o mundo, considerando expressão da subjetividade, fantasias e conteúdos inconscientes. Identifica o nível de percepção da realidade externa familiar e social. É possível, por exemplo, considerar se sabe o motivo de estar Indo ao atendimento e verificar a aceitação ou refutação da realidade ou a capacidade de se colocar no lugar do outro. Detecta a possibilidade de a criança perceber ou não as limitações impostas pela realidade colocadas pelos exercícios lúdicos. Fonte WERLANG. 2007, p. 102-103 1Adaptado). No que tange à contribuição da hora do jogo para o psicodiagnóstico infantil, pode-se dizer ainda que é um instrumento que permite que a criança se sinta acolhida, aceita e segura. Esses fatores podem revelar ao avaliador conflitos e adoecimento, propiciando análise mais profunda, assertiva e voltada para o pró- prio estágio evolutivo da criança. Foca-se, assim, não apenas no diagnóstico e em classificar a criança dentro de um determinado enquadre nosológico, mas em contribuir para um tratamento mais eficaz. Antes, tinha-se a compreensão que a criança era vista como algo inacaba- do, que necessitava de correção. Werlang (2007) aponta que a psicanálise in- fantil praticada anteriormente à Melanie Klein tinha a percepção que a criança não vinculava, ou seja, não tinha a capacidade de conectar diversos aspectos. Por exemplo, do desenho, dizia-se que focava mais em questões de ordem motoras e pedagógicas. En- tretanto, com o desenvolvimento dos estudos, percebeu-se que a criança não revela ape- nas aspectos ligados ao desenvolvimento, mas de vivencia e experiência, além de compartilhar a rea lidade, os sentimentos e as emoções em suas ações. DC'tf"nl n~IA - C'~I TDC\/IC"TAC' CTCC'TCC' oon ICTl\lnC' ~ Logo, Werlang (2007) destaca que o brincar é a linguagem por essência da criança, destacando tal ação como instrumento capaz de apoiar o indivíduo a mobilizar e elaborar angústias, conflitos e exercitar seu domínio sobre a realida- de. Tendo por base que ela se constitui a partir e na relação com o outro, além da maneira como é olhada e se inclui no mundo, entende-se que a criança se consti- tui na interação da realidade que a cerca, do olhar e lugar no qual é posicionada. Assim, A modernidade tem como responsabilidade marcar cada vez mais a especificidade da infância, oferecendo legitimidade à visão de uma "natureza infantil", mas dando-lhe um novo significado. Não se trata mais de modelar a criança, mas de considerar a sua forma espontâ- nea e particular de ser, existindo uma preponderância do sentimen- to sobre a razão, vendo isso não como uma imaturidade biológica, sendo apenas sua natureza diferente do adulto (FERREIRA, 2000 apud PIGATTO et ai., 2013). Conclui-se, então, que a avaliação psicológica infantil objetiva promover a compreensão de forças e interações implicadas em torno da queixa e entender o mundo interno e o modo de funcionar da criança. Assim, é possível realizar um planejamento terapêutico alinhado às necessidades do processo e da criança. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Sintetizando • O trabalho na área do psicodiagnóstico necessita que o psicólogo tenha a com- preensão acerca de fundamentos teóricos, técnicos e práticos que embasam o processo, bem como olhar sensível, crítico, historicizado e circunscrito voltado ao indivíduo, propiciando a ele o autoconhecimento e a percepção de si e do adoecer Ut: 11 ldl lt:11 d 11 ldl:, LUI ILI t:Ld t: :,1:,Lt:l l ldLILd. v:, f.ldLlt:I ILt::,, 11e:,:,e LUI llt:J\LU, LI lt:bdl 11 dU psicólogo por meio de encaminhamento, com uma hipótese que se busca confir- mar ou infirmar a partir da avaliação. Assim, o psicodiagnóstico fornece uma gama de dados e informações que permitem, com o auxílio de técnicas, como a entrevis- ta, um olhar mais amplo e profundo sobre o caso. A entrevista inicial e a hora do jogo se destacam como ferramentas por favo- recerem a avaliação e darem início ao diagnóstico, contribuírem com o encontro entre o avaliador e o avaliando, além da promoção da aliança terapêutica e da voz ao avaliado. As diferentes formas de entrevistas têm objetivos distintos. Na inicial, busca-se conhecer a história do indivíduo e o motivo do atendimento. Intenta-se ainda colher dados e informações do adoecimento pregresso e atual, ou seja, a entrevista tem o indivíduo em seu meio e finalidade, contribuindo para um cenário mais holístico e contextualizado do diagnóstico. Com relação à hora do jogo, esta se insere como uma ferramenta de grande cooperação dentro do psicodiagnósti- co infantil que permite à criança ser ela mesma. Depreendendo-se como ferramentas que contribuem bastante para um psico- diagnóstico mais completo, infere-se que as ações precisam ser bem aplicadas e desenvolvidas durante o procedimento para a devida precisão em relação a obje- tivos, análise e respostas que demarcam toda a experiência humana. Assim, com o sujeito colocado diante da possibilidade diagnóstica a ser confirmada ou não, tem-se um direcionamento colaborando com o tratamento, o desenvolvimento e o prognóstico do caso. Neste contexto, o psicodiagnóstico se coloca como uma área em ascensão na Psicologia por envolver aspectos psíquicos, neurológicos, físicos e emocionais de maneira objetiva e categórica, ajudando a dar uma resposta mais objetiva à de- manda. Um aspecto muito importante é que o profissional se atente às documen- tações que podem ser emitidas como o laudo, com a clarificação diagnóstica e macro do caso, favorecendo a comunicação multidisciplinar. PSICOLOGIA· ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Dessa forma, é essencial uma preparação apurada do avaliador para o desen- volvimento e planejamento da avaliação e execução do procedimento, criando condições para um clima terapêutico mais favorável e cooperativo. Evidencia-se ainda que o psicodiagnóstico possibilita resultados benéficos para o paciente, pro- movendo mudanças contributivas a partir de conceitos mais amplos e assertivos da vida do sujeito, e propiciando a redução de falhas do processo. Busca-se, assim, no psicodiagnóstico integrar os processos avaliativos e ao mesmo tempo de cunho terapêutico, unindo a realidade dos indivíduos desde as consultas iniciais até a finalização do processo. PSICOLOGIA ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Referências bibliográficas • ABERASTURY, A. Teoria y técnica dei psicoanalisis de nifíos. 6. ed. Buenos Aires: Paidós, 1978. ARZENO, M. E. G. Psicodiagnóstico clínico: novas contribuições. Porto Alegre: Art- med, 1995. BLEGER, J. Temas de psicologia: entrevista e grupos. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA - CFP. Cartilha de avaliação psicológica. Brasília, DF: Conselho Federal de Psicologia, 2007. Disponível em: <https://satepsi. cfp.org.br/docs/Cartilha-Avalia%C3%A7%C3%A3o-Psicol%C3%B3gica.pdf>.Aces- so em: 21 set. 2021. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA - CFP. Cartilha de avaliação psicológica - 2013. 1. ed. Brasília, DF: Conselho Federal de Psicologia, 2013. Disponível em: <ht- tps:/ /sate psi. cfp. org. br /d ocs/ Ava I ia c%CC%A 7 ao psico logi ca Ca rti Ih a 1. pdf>. Acesso em: 21 set. 2021. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA - CFP. Resolução CFP n. 007. Brasília, DF, 2003. Disponível em: <https://transparencia.cfp.org.br/wp-content/uploads/si- tes/15/2016/12/resolucao2003-07.pdf>. Acesso em: 21 set. 2021. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA- CFP. Sistema de Avaliação de Testes Psi- cológicos (Satepsi). Brasília, DF, 2003. Disponível em: <https://satepsi.cfp.org. br/>. Acesso em: 21 set. 2021. CUNHA,J. A. et ai. Psicodiagnóstico-V. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. FRAGA,J. B. L. F. As contribuições da entrevista inicial para o processo de psicodiag- nóstico. Pretextos - Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, jan./jun. 2016. Disponível em: <http://periodicos.pucminas.br/ index.php/pretextos/article/download/13586/10478/>. Acesso em: 21 jul. 2021. FREUD, S. Além do princípio do prazer: Psicologia de grupo e outros trabalhos. Rin rlP l;:inpirn- lm;:ii,n 1q77 KORNBLIT, A. Hacia un modelo estructural de la hora de juego diagnóstica. ln: OCAMPO, M. S. et ai. Las técnicas proyectivas y el processo psicodiagnóstico. 4. ed. Buenos Aires: Nueva Visión, 1976. LAGO, V. M.; YATES, D. B.; BANDEIRA, D. R. Elaboração de documentos psicológicos: considerações críticas à Resolução CFP n. 007/2003. Temas em Psicologia, Ribeirão PSICOLOGIA: ENTREVISTAS ETESTES PROJETIVOS • Preto, v. 24, n. 2, p. 771-786, jun. 2016. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/ scie lo. php ?scri pt=sci_a rttext&pi d=S1413-389X2016000200020&I ng= pt& n rm=i- so>. Acesso em: 21 jul. 2021. NEUBERN, M. S. O terapeuta e o contrato terapêutico: em busca de possibilida- des. Estudos & Pesquisa em Psicologia, [s. I.J, v. 10, n. 3, 2010. Disponível em: <https://www.e-pu b I i cacoes. ue rj. b r/i ndex. ph p/revispsi/arti cl e/vi ew/8931 >. Acesso em: 21 jul. 2021. OCAMPO, M. L. S.; ARZENO, M. E. G. La entrevista Inicial. ln: OCAMPO, M. L. S.; ARZENO, M. E. G.; PICCOLO, E. G. Las técnicas proyectivas y el proceso psico- diagnóstico. Buenos Aires: Nueva Visión, 1981. p. 9-47. PIGATTO, C. et ai. Um breve histórico sobre a entrevista lúdica. ln: Congresso Internacional de Saúde Mental, 2., 2013, lrati. Anais ... lrati: Unicentro, 2013. Dis- ponível em: <https://anais.unicentro.br/cis/pdf/iiv2n1/431.pdf>. Acesso em: 21 set. 2021. SCHEEFER, R. Introdução aos testes psicológicos. Rio de Janeiro: Fundação Ge- túlio Vargas,1968. TAVARES, M. A entrevista clínica. ln: CUNHA,J. A. et ai., Psicodiagnóstico-V. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 45-56. TORRES, R. Problemas cruciais para a formação do analista na atualidade: o su- jeito suposto saber em questão. Stylus, Rio de Janeiro, n. 33, p. 11-23, 2016. Dis- ponível em: <http://stylus.emnuvens.com.br/cs/article/view/578>. Acesso em: 21 jul. 2021 WERLANG, B. G. Entrevista lúdica. ln: CUNHA, J. A. et ai., Psicodiagnóstico-V. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007, p. 96-104. PSICOLOGIA· ENTREVISTAS ETESTES PROJETIVOS • UNIDADE ~ ~ ser educacional Objetivos da unidade Conhecer a importância do desenho infantil para o processo psicodiagnóstico; Apresentar o teste projetivo HTP (House-Tree-Person); Entender a importância da entrevista de devolução em Psicodiagnóstico. Tópicos de estudo Fundamentação teórica sobre o desenho infantil O desenho infantil como ferra- menta psicoterapêutica HTP: fundamentação teórica Fundamentação para a entre- vista devolutiva Etapas da entrevista devolutiva A entrevista devolutiva e as suas especificidades PSICOLOGIA ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • • Fundamentação teórica sobre o desenho infantil Desde a Antiguidade, o desenho é utilizado para representar pensamen- tos, sentimentos e/ou para registrar acontecimentos vivenciados pelas pes- soas. Por essa razão, os historiadores se debruçam na interpretação das imagens encontradas em cavernas para entender como era a realidade do homem primitivo. A partir de tais desenhos, tornou-se possível compreender um pouco como se dava a comunicação e a expressão simbólica naquela época, uma vez que eles são carregados de simbolismos e sua expressão apresenta ca- racterísticas psicológicas, sociais e estéticas. Mais detalhadamente, pode-se dizer que possuem características psico- lógicas por projetarem de forma singular toda a subjetividade da pessoa. Já com relação às características sociais, nota-se que carregam as percepções e influências da cultura e da sociedade na qual a pessoa se insere. Por fim, as características estéticas aparecem em suas formas, cores, objetivos e finali- dades de produção. Por representarem situações cotidianas, pensamentos e emoções, os de- senhos traçam um recorte momentâneo da sociedade e mostram o próprio mundo subjetivo, bem como a maneira que o indivíduo enxerga o mundo e si mesmo. Apesar de não devermos limitá-los apenas a representações grá- ficas e estéticas, é necessário ciência de que constituem uma representação daquilo que somos e muitas vezes não percebemos. A função do desenho infantil Por muito tempo, o desenho infantil possuiu uma função estritamente motora, relacionada à capacidade da criança desenvolver coordenação, no- ções de espaço, profundidade, entre outros aspectos da motricidade. Contu- do, o uso do desenho para o desenvolvimento motor também era importante no processo de alfabetização, pois influenciava diretamente em sua capaci- dade de escrita. Sua expressão simbólica, na verdade, surge muito antes do desenvolvi- mento da linguagem escrita e da leitura, podendo ser vista como de grande importância para o desenvolvimento infantil, por permitir a expressão dos sentimentos e fantasias da criança. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Winnicott (1984) define o desenho infantil como um meio de se conectar com a criança, em seu próprio mundo, funcionando como o objeto mediador da relação a ser estabelecida com a criança. Tal relação se dá a partir dos símbolos e seus significados subjetivos, os quais representam a sua realidade (e fantasia), e isso permite a compreen- são do universo singular da criança e de seus sent imentos e emoções. Por essa razão, o desenho, em muitos casos, acaba substituindo a comunicação oral ou sendo um complemento do discurso durante os atendimentos com o(a) psicólogo(a). A linguagem por trás do desenho Os desenhos possuem uma linguagem gráfica que representa a expres- são simbólica da própria criança. Para Saussure, a criança uti liza uma imensa variedade de signos gráficos (MEREDIEU, 1974), os quais podem ser interpre- tados como uma representação da realidade da própria criança, e, a partir deles, podemos entender mais sobre sua interpretação e vivência de mundo. No entanto, conforme a criança amadurece, os desenhos ganham mais forma e seus símbolos se tornam mais evidentes. Inicialmente, as formas são abstratas e com figuras geométricas formando a imagem gráfica, porém, aos poucos, passa a ganhar a forma de figuras de pessoas objetos etc. frlrt Figura 1 Desenho com formas de f iguras. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 16/09/2021. PSICOLOGIA ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • As cores, o posicionamento, a estrutura do desenho, tudo representa a for- ma como a criança enxerga a própria realidade. Origem da técnica do desenho infantil Quando Freud desenvolveu e revolucionou a ciência com o seu modelo psicanalítico, acabou por esbarrar em uma dificuldade quase que insuperável (como aplicar o método psicanalítico na clínica com crianças?), pois a técnica da associação livre não era possível de se realizar com as crianças, devido à pouca capacidade de elas se comunicarem verbalmentee de maneira estruturada. O relato mais famoso da clínica com crianças em Freud é o caso do peque- no Hans, mas a utilização do desenho não apresentou métodos nem desper- tou o interesse de Freud naquele momento. o \ CURIOSIDADE O pequeno Hans era um menino de três anos de idade, cujos sinto- mas fóbicos apresentados e relatados por Freud são estudados até hoje pela riqueza dos detalhes e da complexidade do caso. Consi- dera-se um marco que inicia o estudo da clínica psicanalítica com crianças. Para Freud, a psicanálise infantil ainda era uma barreira a ser vencida e ha- viam muitas resistências ao tratamento psicanalítico para esse público, como bem destaca Florence de Meredieu: São conhecidas, al iás, as resistências de Freud no que diz respeito à aplicação do t ratamento analítico às crianças. Será preciso espe- ra r os trabalhos de Melanie Klein para que a psicanalise infantil ad- quira estatutos, métodos, fundamentos psicológicos (MÊREDIEU, 1974, p. 73). Segundo Meredieu (1974), Melanie Klein, com a sua teoria do jogo, permitiu avaliar o lugar do desenho no tratamento, e as di- ficuldades de comunicação que criavam as resistên- cias ao método freudiano foram substituídos pelos jogos após ela observar as semelhanças com a associação livre aplicada aos adultos. Do mes- mo modo, o desenho poderia ser utilizado com essa finalidade. Por outro lado, Anna Freud foi por um caminho oposto e acreditava que as crianças não possuíam uma cons- ciência de doença, mas que estavam PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • apns1onaaas aos pais. i--or essa razao, não era possível estabelecer uma neu- rose de transferência, afirmando que o psicoterapeuta deveria apenas re- forçar o vínculo em um nível educativo e descartando a relação entre o brin- car da criança e a associação livre dos adultos (CUNHA, 2003). A psicanalista Sophie de Morgenstern foi uma das primeiras teóricas a buscar o conteúdo latente oculto sob o conteúdo dos desenhos infantis e ob- servou, ao tratar de um menino de dez anos, que a criança expressava nitida- mente em seus desenhos a sua ansiedade aguda. A partir da interpretação, Sophie de Morgenstern percebeu como os temas repetiam-se e simbolizavam a sua relação com o pai, expressando a sua an- gústia de castração. Desde então, a psicanalista passou a utilizar a técnica do desenho com todos os seus pacientes infantis, em substituição à da associação livre criada por Freud e oferecida aos pacientes adultos (ABERASTURY, 1982) . •• O desenho infantil como ferramenta psicoterapêutica O desenho infantil pode ser considerado uma das principais ferramentas do(a) psicólogo(a) para o atendimento com crianças a partir dos dois anos de idade, quando ela expressará no papel aqui lo que não consegue dizer com pa- lavras. Mesmo não produzindo um desenho com formas e imagens concretas, a criança já expressará elementos simbólicos. Saber utilizar essa ferramenta e interpretá-la dentro do manejo terapêu- tico possibilitará ao profissional da Psicologia compreender melhor a psicodi- nâmica da criança. Para tanto, o desenho não deve ser visto e interpretado de maneira objetiva, mas deverá buscar o que está além, ou seja, a projeção da subjetividade daquela criança. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Figura 2 Desenho com elementos s,mbóhcos. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 16/09/2021. Pode-se observar uma representação simbólica da realidade psíquica da criança, considerando sua posição em relação às outras pessoas representa- das no desenho, os seus tamanhos e as suas características. A forma como cada elemento aparece na imagem possui um significado encoberto e que deve ser analisado. Assim, quando uma criança faz um desenho, a primeira motivação é o brin- car e a diversão que aquela atividade irá produzir. A motivação que leva a crian- ça ao ato de desenhar é o prazer por trás da brincadeira. No entanto, apesar desse interesse no brincar, todo desenho possui uma intenção por trás, isto é, a imagem produzida pela criança foi escolhida e desenhada daquele jeito por uma razão específica. Mesmo de forma inconsciente, a criança está manifestando algo pertencen- te à sua realidade, e, para Luquet (1969), a intenção em produzir um determi- nado desenho trata-se da manifestação e do prolongamento da represen- tação mental da criança. O autor ainda pontua que o desenho infantil apresenta quatro estágios de evolução, sendo eles: o realismo fortuito, o falhado (fracassado), o intelec- tual e o visual (LUQUET, 1969). PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • QUADRO 1. OS QUATRO ESTÁGIOS DE EVOLUÇÃO ~ 1. REALISMO FORTUITO: estágio iniciado a partir dos dois anos de idade, quando os rabiscos das crianças deixam de ter uma forma abstrata e começam a adquirir formas mais concretas. começando a atribuir significados a eles. li . REALISMO FALHADO (FRACASSADO): estágio que se inicia a partir dos quatro anos de idade com a descoberta da forma dos objetos. passando a tentar reproduzi-las. Essa é uma fase da aprendizagem e do desenvolvimento pautada em fracassos e sucessos. Ili . REALISMO INTELECTUAL: estágio que se inicia a partir dos quatro anos de idade e que perdurará até o final da infância, dos 10 a 12 anos, quando a criança desenhará a partir do que sabe acerca do proposto a desenhar. IV. REALISMO VISUAL: estágio comumente iniciado a partir dos 12 anos de idade, em que a criança começa a produzir com traços mais adultos, com noções de perspectiva e profundidade e diminuindo a "pureza" existente nos desenhos das fases anteriores. Fonte MEREDIEU 1974, p. 20-22 (Adaptado) Quanto mais "puro" for o desenho, ou seja, quanto menos o desenho re- presentar de forma fidedigna o objeto real, mais fácil será identificar as repre- sentações simbólicas que ele possui. As formas irregulares e aparentemente sem nexo encobrem os elementos inconscientes projetados no papel e que representam a subjetividade da criança. O uso do desenho para avaliação psicológica A técnica do desenho infantil é muito utilizada nos processos de psicodiag- nóstico e avaliação psicológica, principalmente na clínica infantil, podendo ser divididos entre testes de inteligência e testes de personalidade, confor- me destaca Meredieu (1974). QUADRO 2. DIFERENÇAS ENTRE OS TESTES DE INTELIGÊNCIA E DE PERSONALIDADE TESTES DE INTELIGÊNCIA Utilizados para avaliar o grau de desenvolvimento intelectual da criança; para determinar a existência ou sintomas de déficit ou deficiência intelectual. TESTES DE PERSONALIDADE Utilizados para avaliar e investigar aspectos da personalidade da criança por meio das projeções identificadas nos desenhos produzidos por elas. Fonte MEREDIEU, ,974, p. 67-68. (Adaptado). Segundo Cunha (2003), a pr imeira escala com critérios de análise do dese- nho foi desenvolvida por Florence Goodenough, em 1926. Denominada como análise da figura humana (DFH), essa escala era utilizada para medir o desen- volvimento intelectual das crianças. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Anos mais tarde, Karen Machover publicou uma série de resultados obtidos da observação clínica das representações gráficas de figuras humanas, pro- duzidas tanto por crianças quanto por adultos, que apresentavam em caráter projetivo diversos problemas psicológicos. Considerada uma técnica de boa abrangência e de baixo custo, por utilizar apenas lápis e papel, além de ter uma boa aceitação das crianças, até hoje o DHF é uma ferramenta utilizada frequentemente por profissionais da Psicolo- gia na clínica com crianças e principalmente nos processos de avaliação psico- lógica infantil (CUNHA, 2003). EXPLICANDO Florence Goodenough foi uma psicóloga e professora estadunidense que estudava o desenvolvimento infantil e intelectual por meio do uso de de- senhos, quando constatou que o desenho da criança evoluía conforme ela se desenvolvia. Tal constataçãodeu origem à criação do seu próprio teste que, posteriormente, foi revisado e atualizado por Harris. O desenho como a representação de si Já vimos que o desenho da criança em suas formas e expressões sintetiza, muitas vezes, uma representação de si mesma e de como ela se coloca peran- te a própria realidade. Isso pode ser melhor descrito analisando o tamanho do corpo, da cabeça e dos membros, as vestimentas, as expressões faciais e o cenário, que mostram seu mundo vivencial. O desenho da criança também pode ser visto como uma representação narrativa e figurativa, que traduz o real por meio de elementos simból icos e, nesse sentido, a criança produzirá objetos concretos em vez de abstrações. Assim, com efeito narrativo, a criança procura transmitir uma mensagem por meio do de- senho (MEREDIEU, 1974). Após o término, a criança irá atribuir um significado por meio de um nome ou uma história que simbolize aquela ima- gem representada no papel. Para Luquet (1969), a criança frequentemente atribui ao de- senho uma interpretação diferente da sua intenção originária. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • Em outras palavras, a criança inconscientemente projeta no desenho carac- terísticas singulares e que não faziam parte da intenção inicial da produção daquela figura, mas, ao interpretá-la, identifica os elementos que compõem a sua realidade psíquica. Assim, o desenho da figura humana, conforme Cunha (2003), pode ser considerado como a expressão da autoimagem e, na teoria, projetaria as próprias identificações e conflitos internos. Figura 3 Desenho de figura humana. Fonte Adobe Stock. Acesso em: 16/09/2021 A criança inicialmente pode ter como intenção produzir um objeto e, ao fa- zê-lo, inconscientemente atribui a ele características que representam uma vi- são da própria imagem e que posteriormente será por ela interpretada. O desenho da família O desenho da família também é de grande valia para o trabalho do(a) psi- cólogo(a) infantil para buscar compreender a psicodinâmica das relações no núcleo familiar. Contudo, não há a existência de um roteiro padronizado que delimite a interpretação dessa técnica (CUNHA, 2003). Normalmente, o psicó- logo utiliza-se do desenho da família para buscar entender os sentimentos da criança e o lugar de cada membro da família a partir de seu ponto de vista. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • É comum que o psicólogo solicite à criança que conte uma história sobre o desenho produzido e nomeie cada personagem desenhado. Tal técnica contri- bui para as projeções da criança, possibilitando que o profissional investigue as possíveis questões presentes em sua fala . .. Figura 4 Desenho da família. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 1610912021. O desenho da família expõe de forma lúdica as relações familiares; observe o lugar de cada membro (se estão próximos ou afastados), os gestos, o tama- nho, as expressões (se estão felizes, tristes, com medo, raiva etc.). Investigue os sentimentos encobertos e o que eles podem representar para a criança. Ocampo, Arzeno e Piccolo (2009), ao abordarem o grafismo, pon- tuam o tema da identificação projetiva (mecanismo de defesa em que aspectos relacionados ao indivíduo são negados em si e transferidos para outros) e afirmam que é possível surgirem características de despersonali- zação do ego e do objeto, quando as identificações projetivas ocorrerem em excesso. Tais característi- cas se manifestam conforme o Quadro 3. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • QUADRO 3. MANIFESTAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS DE DESPERSONALIZAÇÃO ~ 1. Fracasso na organização gestáltica, em que o objeto gráfico é desorganizado, com falhas na organização da forma; o desenho apresenta falta de organização, de coerência e de movimentos harmoniosos. li. Ataque às funções adaptativas e de ajuste à realidade expressos pela localização espacial, noção de tamanho adequado, noção de perspectiva, entre outros. Ili. A folha em branco como representante do mundo externo, vista como um depósito de objetos rompidos, fragmentados, confusos e persecutórios. Comum em desenhos livres e em desenhos cujos objetos desenhados não apresentam conexão entre si, são isolados ou vazios de conteúdo. IV. Delimitação entre o mundo interno e o mundo externo de forma mal-delimitada, os desenhos são vagos, fracos, com zonas abertas, com expressões de indiferenciação ou excessivamente rígidos e exacerbados. V. O desenho da figura humana, da casa ou da árvore apresenta-se fragmentada, em ruínas. Não há nenhuma relação entre as partes desenhadas. Fonte OCAMPO; ARZENO; PICCOLO, 2009, p. l66-267 (Adaptado). HTP: fundamentação teórica •• O Home-Tree-Person (HTP) ou teste da casa-árvore-pessoa é um ins- trumento desenvolvido por John Buck no ano de 1949 após alguns estudos sobre o desenho da figura humana. Seu objetivo com as pesquisas era o de identificar aspectos relacionados à personalidade do indivíduo que produzia os desenhos. Nesse teste é solicitado ao indivíduo que reproduza o desenho de uma casa, de uma árvore e de uma pessoa, respectivamente, em folhas separa- das que serão disponibilizadas pelo psicólogo. John Buck definiu esses três objetos por acreditar que eles facilitam a projeção de algumas características específicas. EXPLICANDO John Buck foi um psicólogo altamente reconhecido pelo desenvol- vimento de testes psicológicos utilizados até os dias de hoje. Seu material mais famoso é o HTP e foi desenvolvido com base no trabalho de Florence Goodenough. A obra de John Buck contribuiu tanto com medidas qualitativas quanto com medidas quantitativas nos diversos inventários que desenvolveu ao longo de suas pesquisas. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • QUADRO 4. DEFINIÇÕES DO TESTE HTP ~ CASA - O desenho da casa representa as condições do funcionamento do ego e relacionam-se com os relacionamentos interpessoais. ÁRVORE - O desenho da árvore relaciona-se com o equilíbrio emocional, o relacionamento com ambos os sexos e também com a maneira que o individuo se relaciona com o ambiente. PESSOA - O desenho da pessoa relaciona-se com o self, a visão de s1 mesma, sua autoimagem e o relacionamento com o ambiente. Por se tratar de um teste projetivo, o HTP constitui um instrumento que possibilita várias respostas diferentes, carregadas de conflitos que emer- gem dos desenhos produzidos, caracterizando os objetos de interesse do(a) psicólogo(a). Objetivo HTP Com o teste da casa-árvore-pessoa, busca-se a obtenção de informações sobre a personalidade de um indivíduo, a partir da investigação de como a pessoa experiencia a sua individualidade e singularidades em relação ao ambiente e com outros indivíduos. O HTP estimula a projeção de elementos que representam áreas de conflito interno relacionando com o ambiente para que, a partir dessas projeções, o(a) psicólogo(a) possa fazer as suas in- tervenções psicoterapêuticas. Público-alvo Esse é um teste recomendado para indivíduos a partir dos oito anos de idade e, por se tratar de uma atividade lúdica, acaba por ter a aceitação do público infantil com maior facilidade. O HTP é recomendado em casos em que a comunicação verbal encontra-se com dificuldades, seja por barreiras emocionais, recusa e dificuldade em articular as palavras, entre outros im- pedimentos. Critérios do HTP O HTP considera diversos critérios e avalia desde o tipo de tra- cejado quanto ao tamanho do desenho, elementos deta- • lhados, entre outros. Como terramenta complementar aos desenhos, John Buck criou um inquérito que deve ser usado juntamente com a produção dos desenhos. PSICOLOGIA: ENTREVISTAS E TESTES PROJETIVOS • A fase do inquérito é necessária para que o(a) psicólogo(a) consiga inves- tigar e obter mais informações sobre os desenhos. Esse é um momento no qual a criança avaliada pode refletir sobre o que representou, dando nome, idade,
Compartilhar