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1 Professora Lívia Pereira Chaves COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO 2 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO 3 EXPEDIENTE Diretor geral: prof. Malverique Neckel Diretora administrativo financeiro: Profa. Wellyssianne Lindoso Coordenador Geral da Unidade: José Deyvid Rodrigues Massole Design Instrucional: Caniggia Carneiro Revisão Textual: Jacqueline Celedônio Pereira 4 MÓDULO 1 - TEXTOS E SEUS CONTEXTOS AULA 01 - CONCEITUANDO TEXTO/CONTEXTO Neste módulo refletiremos sobre o conceito de texto e contexto e quais os conhecimentos que subjazem à interpretação de textos. Esperamos que com este módulo vocês possam compreender o texto como um todo de significação e, ademais, aprender quais conhecimentos são mobilizados para interpretação desses textos. Para início de conversa Você já parou para pensar sobre o que são textos e qual a importância que os textos têm na nossa vida? Afinal, quais as características que fazem um texto ser um texto? E quais os conhecimentos que são envolvidos quando nós interpretamos um texto? Essas são as perguntas que vamos responder nesta aula. Pensando sobre o texto No nosso cotidiano, lidamos com vários textos constantemente. Os textos apresentam-se a nós como uma ferramenta que permite a comunicação. Dessa forma, quando nos expressamos estamos produzindo sentidos e esses são materializados em textos. Só reconhecemos um texto quando encontramos sentido nele. Ao sair de casa, por exemplo, você pode pensar nos vários textos que é possível produzir e interpretar no seu caminho para o trabalho ou para a Faculdade: acenar com a mão para alguém, cumprimentar alguém com um Bom Dia, são textos que fazem sentido dentro de uma situação. Dessa forma, os textos podem ser manifestados a partir de diferentes expressões: verbal, não verbal, sincrético. Logo, cada expressão carrega consigo um conteúdo, não há uma sem a outra. Às vezes, uma única expressão pode carregar vários conteúdos e vice-versa. Para exemplificarmos, pensemos na ideia de proibição. Os textos seguintes manifestam algumas possibilidades de expressar essa concepção. 5 No exemplo 1 temos uma placa que expressa uma proibição: “Não pise na grama”. Nesse caso o acesso à mensagem se deu por meio de um texto verbal, que transmitiu sua mensagem apenas por meio de palavras. No exemplo 02, por sua vez, temos um texto não verbal, o qual se constitui pelo uso apenas de imagem, manifestando-se por meio dos símbolos, do desenho e das cores. Um texto pode também articular imagem e palavra, nesse caso chamamos de texto sincrético ou texto misto. O texto 3 exemplifica essa possibilidade. Sendo assim, o efeito de sentido se dá em articular a placa de proibição que implica “ser proibido pisar na grama” com o texto verbal: “Aviso: não pise na grama”. Dessa forma, temos um texto sincrético ou misto em que a proibição é destacada pelo verbal e pelo não verbal, configurando um todo de sentido. Quando falamos que um texto é um todo de sentido, é preciso compreender o que significa essa expressão. Sobre isso, Fiorin e Savioli (2011, p.25) pontuam alguns aspectos: ● O texto tem coerência de sentido. Isso quer dizer que ele não é um amontoado de frases, ou seja, nele, as frases não estão pura e simplesmente dispostas umas após as outras, mas estão relacionadas entre si. É por isso que, nele, o sentido de uma frase depende do sentido das demais com que se relaciona. ● Uma mesma frase pode ter sentidos distintos dependendo do contexto dentro do qual está inserida. Precisamos um pouco melhor o conceito de contexto. É a unidade maior em que uma unidade menor está inserida. Assim, a frase (unidade maior) serve de contexto para a palavra; o texto, para a frase, etc. EXEMPLO 01 EXEMPLO 02 EXEMPLO 03 6 EXEMPLO 04 EXEMPLO 05 EXEMPLO 06 Portanto, o sentido do texto depende de como suas partes se combinam para dar determinado efeito. Da mesma forma que quando fazemos um bolo usamos vários ingredientes, como ovo, trigo, leite, manteiga e açúcar e esses juntos fazem a unidade para fazer o bolo, assim é o texto. Várias partes que se relacionam entre si em favor do sentido. Sendo assim, um texto só tem sentido dentro de um contexto. Pensemos em uma palavra como SILÊNCIO. Analise-a nos exemplos seguintes: Se essa palavra estiver no contexto de violência contra mulher (exemplo 04) pode ter um sentido abusivo. Em uma campanha sobre violência contra mulher, na frase: “Quebre o Silêncio” (exemplo 05), o sentido pode ser mais libertador. Se a palavra estiver em uma placa na recepção de um hospital, (exemplo 06), pode exprimir um pedido educado de respeito por aquele ambiente. O contexto, segundo Fiorin e Savioli (2011, p.25) é a unidade maior onde o texto está inserido. O contexto pode ser explícito, quando é expresso com palavras, ou implícito, quando está embutido na situação em que o texto é produzido. Senão, vejamos, no exemplo do parágrafo acima, a palavra Silêncio é a mesma, entretanto, os contextos são diferentes, respectivamente, temos campanha contra violência contra mulher e placa em recepção de hospital. Desse modo, cada contexto modifica o sentido do texto. Nesse sentido, no exemplo 5, entendemos silêncio pelo gesto do indicador na boca e seu significado está atrelado à imagem da mulher com alguns machucados. O tom pesado da imagem deixa transparecer certo abuso nesse contexto. 7 No exemplo 05, a peça publicitária continua a trazer cores escuras em contraste. A mão de traços masculinos e está segurando a boca da mulher com violência o que representa o silêncio como abuso contra a mulher. Nesse contexto, a crítica se revela no imperativo de denúncia à violência contra a mulher. O contexto específico do exemplo 06 nos remete a um pedido. Viram? Três textos diferentes sobre o silêncio cujas linguagens são articuladas de forma diferenciada e a partir dos contextos e dessa situação, os conteúdos desses textos também se diferenciam. Antes de irmos a um conceito mais teórico e aprofundado sobre texto e contexto vamos fazer uma breve recapitulação sobre o que foi discutido até aqui, organizando tais conteúdos em um quadro explicativo: ● Texto é tudo o que comunica. O texto produz sentido. ● Textos possuem uma expressão (verbal, não verbal, mista) que carrega um conteúdo. Às vezes uma única expressão pode ter vários conteúdos ou vice-versa. ● Texto não é um amontoado de frases, mas um todo organizado ● Texto faz sentido dentro de um contexto. Esse é a unidade maior onde o texto está inserido ● O contexto pode ser explícito, quando é expresso com palavras, ou implícito, quando está embutido na situação em que o texto é produzido. Indicação de Leitura 2011. SAVIOLLI, F.P. e FIORIN, J.L.- Lições de texto: Leitura e Redação. Ática: SP, O livro, voltado para o ensino básico, apresenta lições que em muito ajudam o aluno a ler, compreender e produzir textos. O livro é indicado também para aqueles que desejam estudar para concursos públicos e têm alguma dificuldade em leitura e interpretação de texto por trazer um modelo pelo qual se pode apreender mecanismos para compreender textos. 8 SAIBA MAIS – CONCEITO DE TEXTO/CONTEXTO Estamos trabalhando, nesta disciplina, com o conceito de texto a partir da perspectiva sociodiscursiva da Linguística Textual. Já foi visto nos nossos Preâmbulos que o texto é um fenômeno linguístico de unidade maior na comunicação, constituindo uma unidade de sentido. Precisaremos mais a definição de texto a partir de Beaugrande (1997), Marcuschi (2008), Cavalcante (2012 ). Beaugrande;Dressler (1997), que foi um precursor da linguística textual, é citado por todos os pesquisadores atuais. É dele o conceito de texto que apresentamos a seguir: É importante nesta definição destacar aspectos tais quais: o que são ações linguísticas? O que são ações cognitivas? O que são ações sociais? O que é um evento comunicativo? Primeiramente, destacamos que, ao afirmar que texto é um evento comunicativo, o autor está se referindo ao fato de que o texto sempre leva em consideração no mínimo duas pessoas (alguém que envia uma mensagem para alguém que recebe e compreende essa mensagem). Evento, desse modo, significa um acontecimento. Portanto, texto é um evento comunicativo porque é um acontecimento no qual fica evidente a relação de um emissor e de um receptor, suas intenções, a forma pela qual partilham informações. Ações linguísticas, cognitivas e sociais são aquelas que permeiam todo esse acontecimento comunicativo. As ações linguísticas são aquelas que estão relacionadas à língua como um conjunto de regras e como atualização de tais regras: fonemas, morfemas, frases. Logo, o uso da língua pelos seus falantes é o que pode ser entendido por ações linguísticas. Podemos pensar que para comunicar qualquer mensagem a alguém precisamos articular nossa mensagem tendo como base fatores da nossa língua. Por exemplo, se você falar russo e seu receptor falar inglês, um não entenderá o que o outro fala e o texto não fará sentido. É um evento comunicativo no qual convergem ações linguísticas, cognitivas e sociais. 9 Produzir e interpretar textos dependem de um processo mental. O texto acontece como processo mental que envolve a percepção. Essas são as ações cognitivas que constroem os textos e fazem parte desse evento comunicativo. Essas ações cognitivas estão relacionadas, portanto, à maneira pela qual o leitor percebe e compreende o texto. Conhecimentos prévios e relações possíveis de conteúdos são experiências mentais que auxiliam na compreensão dos textos. Ações sociais dizem respeito ao fato de que o texto é um evento comunicativo que envolve processos linguísticos e mentais e que são partilhados socialmente. Os textos para o serem não são apenas palavras soltas ou apenas processo mental, mas esses dois só fazem sentido quando atualizados socialmente, isto é, forem partilhados em uma dada comunidade. Sobre isso, Cavalcante (2012) destaca que para produzir sentido, o texto leva em consideração o contexto sociocomunicativo, histórico e cultural. Isso acarreta ao fato de que os sujeitos sejam considerados agentes sociais. Marcuschi (2008), por sua vez, afirma que o texto é o resultado de uma ação linguística cujas fronteiras são em geral definidas por seus vínculos com o mundo no qual ele surge e funciona. Para o autor, o texto é um tecido estruturado, uma entidade significativa de comunicação e um artefato sócio-histórico. O texto, segundo ele, é uma (re) construção do mundo. Destacamos em Marcuschi (2008) alguns pontos: o primeiro é que o texto reconstrói o mundo a partir de uma ação linguística, por isso, não podemos nunca dissociar o texto de questões sociais, históricas e culturais. A segunda é que a associação entre texto e tecido leva-nos a origem da palavra latina “Textum”, cujo significado é “material de tecido” e foi originada de “Textere” que significa “tecer”. Os tecidos são um todo que surge a partir de pontinhos de linha. Dessa forma, o texto é um todo de sentido que comunica algo. No texto, fatores linguísticos, sociais e cognitivos estão intrinsecamente relacionados. É tanto que para que compreendamos o sentido de qualquer texto é preciso passar por esses fatores. Além de tudo, os sentidos dos textos são construídos na interação entre locutor-(com) texto-interlocutor, dessa forma, o sentido do texto, nunca é estático, pronto, fixo, pelo contrário ele entra em funcionamento e se constrói quando é lido. Segundo Elias e Koch (2008, p.11): 10 O sentido de um texto é construído na interação texto-sujeito e não há nada que preexista a essa relação. A leitura é, pois, uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo. Dessa forma, entende-se que o texto é uma manifestação que constrói sentidos e esses sentidos somente podem ser construídos pela interação entre sujeito- (con)texto e leitor. Diante disso, temos, quando lemos, alguns conhecimentos que interagem para construir tais sentidos. Esses funcionam como estratégias sócio - cognitivas para processar o texto. É o que estudaremos próximo tópico. FÓRUM Vamos pensar juntos?! A partir da noção de texto de Beaugrande; Dressler (1997) na qual texto “é um evento comunicativo no qual convergem ações linguísticas, cognitivas e sociais”. Você acha que para compreender um texto, você precisa mobilizar conhecimentos linguísticos, sociais e cognitivos? De que forma você acha que isso acontece? Explique quais ações linguísticas, cognitivas e sociais que são necessárias para compreensão de um texto? Você pode procurar, postar e comentar exemplos no fórum. Dicas de Leitura KOCH, Ingedore V. e ELIAS, Vanda M. Ler e Compreender os Sentidos do Texto. São Paulo: Contexto, 2006. O livro para ler e compreender os sentidos do texto traz os principais conceitos relacionados aos sentidos dos textos. O livro, além de tudo, exemplifica todos os conceitos a partir de diferentes tipos de textos, o que facilita muito a compreensão leitora. 11 AULA 02 - PROCESSAMENTO TEXTUAL: TIPOS DE CONHECIMENTO E CONTEXTOS PARA INÍCIO DE CONVERSA Já vimos na aula anterior que para ler e compreender textos é necessário fazer relação entre esses textos, contextos e mobilizar conhecimentos sociais, linguísticos e cognitivos. É importante o conceito de texto como evento comunicativo em que convergem aspectos sociais, linguísticos e cognitivos. Pois tais processos estão imbricados no processamento textual? Talvez não tenhamos consciência, entretanto, sempre passamos por esses aspectos ao ler e entender um texto. Portanto, aspectos sociais, cognitivos e linguísticos contribuem para criar e dar sentidos aos textos. Por conseguinte, há conhecimentos subjacentes aos sentidos do texto, esses são tidos como estratégias sociocognitivas para compreensão de textos e estão intimamente imbricados no processamento textual. Aqui, estudaremos esses aspectos separados apenas didaticamente para melhor compreendê-los. Tipos de conhecimentos envolvidos no Processamento Textual Vários tipos de conhecimentos são envolvidos para lermos e compreendermos os mais variados textos. Segundo Cavalcante (2012), tais conhecimentos podem ser de natureza linguística, enciclopédica e social. Conhecimento Linguístico É o conhecimento do vocabulário, das regras da Língua Portuguesa. Como falantes nativos de Língua Portuguesa, nós conhecemos ainda que intuitivamente as regras da língua. Por exemplo, se alguém ficar zangado com alguém, esse pode dizer “deszanga de mim”, para indicar não se zangue comigo ou deixe de ficar zangado comigo. Apesar de não existir no vocabulário tal palavra, sabendo que quando usamos o prefixo (des) temos o sentido de oposição, negação, falta, ação contrária, como em: “Desfazer”(deixar de fazer algo, não fazer mais), descansar (não se cansar mais), 12 desconcentrar (não se concentrar, deixar de se concentrar), temos quase que intuitivamente que sempre que quisermos fazer uma ação contrária ao que está sendo feito, opondo-se a ela, usamos tal prefixo. Destacamos que a gramática interna tal como aponta a teoria gerativista da linguagem, é intuitiva, funcionandocomo um dispositivo interno na mente dos falantes. Ainda que não saibamos todas as regras gramaticais, produzimos e lemos diversos textos (orais ou escritos, verbais ou visuais), pois é através da linguagem que nos comunicamos. Para refletir sobre o conhecimento linguístico como uma estratégia para o conhecimento textual, vamos analisar um trecho da canção Abraçaço, de Caetano Veloso (exemplo 07). Abraçaço, o título da canção, chama-nos atenção, pela formação da palavra: (abraço+aço). O sufixo – aço, que segundo Azeredo (2008) é usado com o sentido de adicionar uma referência à dimensão física ou um juízo de valor, é acrescido ao radical Abraç-. No caso, reconhecemos o processo de formação de palavra sufixal formadora de aumentativo, no qual vemos o substantivo “Abraço” acrescido de –aço, formando Um Abraçaço Caetano Veloso Dei um laço no espaço, Pra pegar um pedaço, Do universo que podemos ver. Com nossos olhos nús, Nossa lentes azuis, Nossos computadores luz. Esse laço era um verso, Mas foi tudo perverso, Você não se deixou ficar. No meu emaranhado, Foi parar do outro lado, Do outro lado de lá, de lá. Ei! Hoje eu mando um abraçaço... 13 “Abraçaço”, dando a ideia de mais que um abraço, um abraço grande, maior, um Abraçaço. Logo no primeiro parágrafo da canção, já notamos que há uma musicalidade diferente dada pelo som de algumas palavras: “laço, “espaço”, “pedaço”. Destaca-se nesses versos a repetição da mesma terminação - aço. Essa repetição acontece também nas estrofes 06, 07 e 08, no uso de palavras como: “amasso”, “beijaço”, „‟palhaço” (verso 06); “estardalhaço”, “cansaço”,“ traço”, “disfarço”, “acaso” (verso 07). Essas repetições acentuam a musicalidade da canção, dando leveza e uma sonoridade diferenciada. Outros versos também carregam esse tipo de repetição: -us, na segunda estrofe: “nus”, “azuis”, luz””; na terceira estrofe: “verso”, “perverso”; na quarta: “emaranhado”, “outro lado”. Quando temos em textos essas repetições fônicas de palavras semelhantes, tal qual foi visto no parágrafo anterior, compõem uma figura estilística chamada de Paronomásia. Essa é definida pela relação da sonoridade entre as palavras. No caso da canção Abraçaço, podemos ver essa sonoridade composta por essas palavras. Além disso, temos metáforas: “dar o laço no espaço”, “pegar o universo que podemos ver”, “o laço era um verso”. Esses trechos revelam uma aproximação entre o laço que na realidade é um verso, que fez um “recorte” do que se pode ver. Como se a linguagem, a poesia pudesse fazer um recorte de um tipo de universo. Há muitos outros recursos que fazem parte da canção e ainda poderíamos fazer uma análise profunda do tema dela. Entretanto, não é nosso objetivo aqui. Na realidade queríamos mostrar para você, como os conhecimentos linguísticos podem nos ajudar e muito quando vamos ler, estudar, analisar qualquer texto. Dessa forma, elencamos recursos tais quais: a paronomásia, a metáfora (figuras de linguagens) e o processo de formação de palavras. Indicaremos abaixo algumas gramáticas para que, se for do seu interesse, possa aprofundar seus estudos gramaticais. Entretanto, destacamos que ainda que não dominamos as regras de gramática pelo nome, já a dominamos como dispositivo interno particular, que nos permite comunicarmos uns com os outros Conhecimento enciclopédico O conhecimento enciclopédico está relacionado ao conhecimento de mundo partilhado entre os indivíduos em uma dada comunidade. É onde entra a nossa 14 (Exemplo 08) “Uma mulher sem um homem é como um peixe sem uma bicicleta” (Exemplo 09) “Eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço;” experiência pessoal como leitores de textos e do mundo e de como essa experiência nos auxilia a compreender os textos. Vejamos abaixo um exemplo: Este texto nos causa uma estranheza. Traz uma comparação explícita “mulher sem um homem é como um peixe sem uma bicicleta”, colocando em cheque uma situação de uma mulher ser solteira e não ter um homem e um peixe sem uma bicicleta. A estranheza surge da afirmação “peixe sem uma bicicleta”. Paramos, analisamos, reconhecemos, através do nosso conhecimento de mundo, que peixe é um animal que vive debaixo d‟água. O peixe nada e em nenhum momento precisa usar bicicleta. Esse último objeto é totalmente inútil para um peixe. Portanto, a afirmação é que uma mulher não precisa de homem para nada. Para chegarmos a isso, temos que perpassar por nossa memória e nosso conhecimento de mundo, saber o que é peixe, o que é bicicleta, que para um peixe uma bicicleta é inútil. Que há também um discurso feminista que afirma que mulher não precisa de homem para nada. Portanto, quando lemos um texto e procuramos entender seus sentidos é bastante necessário que nós possamos levar conosco nosso conhecimento de mundo e nossas experiências de mundo. Contudo, temos uma observação. Nem sempre essa experiência é apenas o que conta em um texto, pois podemos ter uma tema que pelo nosso conhecimento é bastante ruim e o texto tratar de forma positiva. Sempre temos que ter cuidado com isso, prestando muita atenção no que o texto diz. Esse conhecimento de mundo é disciplinado por isso. A obra Memórias Póstumas de Brás Cubas é narrada por um defunto- autor. Isto é, depois que morreu ele conta sua vida escancaradamente, sem nenhum recato ou medo de ser julgado negativamente pela sociedade. Alguns trechos são interessantes para vermos a questão de como é importante o conhecimento de mundo, mas o quanto é importante disciplinar esse conhecimento para lidarmos com o texto. 15 Elias e Koch (2006) dizem que o conhecimento interacional engloba outros conhecimentos: ilocucional, comunicacional, metacomunicativo e superestrutural. No exemplo 09, “Campa” significa a laje da sepultura. Provavelmente, um dos momentos mais tristes é quando uma pessoa é coberta pela pedra da sua sepultura. Isso é muito do nosso conhecimento de mundo, que negativiza tudo que está relacionado com a morte. Entretanto, perceba que para o narrador isso que poderia ser o fim e que é visto com tanta tristeza por alguns, na realidade, foi o novo recomeço dele: “outro berço”. O exemplo 10, por sua vez, trata da negatividade pela qual o narrador enxerga a continuidade da vida, a reprodução humana. No conhecimento de mundo particular de alguém, pode ser bastante positivo ter filhos, uma família, deixar algum legado para sociedade, entretanto, o narrador pensa que isso só aumenta a “nossa miséria” Alguns estudantes, quando respondem questões de concursos, por exemplo, têm muitas dificuldades quanto a isso. Eles pensam a morte é algo negativo então o texto deve tratá-la dessa forma, o que não acontece, pois não é o que o texto diz. Conhecimento Interacional Para entender textos, é necessário que nós dialoguemos com eles, a partir dessa interação é que colocamos o texto em funcionamento e podemos compreender os sentidos subjacentes a ele. O conhecimento interacional, segundo Cavalcante (2012), diz respeito à maneira como interagimos por meio da linguagem. Esse tipo de conhecimento abrange desde a intencionalidade subjacente aos textos aos tipos de gêneros e situações que os textos trazem consigo. (Exemplo 10) “Somadas umas cousas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” 16 Vejamos como reconhecer cada um desses: O conhecimento ilocucional é que aquele pelo qual percebemos os objetivos ou propósitos pretendidos pelo enunciadordo texto, em uma dada situação interacional. Se o ar condicionado está ligado muito forte e alguém, no meio de uma conversa, fala que está sentindo muito frio. Percebe-se que isso soa como um pedido para esquentar aquele ambiente, desligar ou aumentar o ar-condicionado. É isso que é o conhecimento ilocucional. É aquele que você reconhece a intenção de quem escrever determinado texto para você. Quando se produz determinado texto, o autor precisa necessariamente pensar para quem está produzindo aquele texto, para que esse alguém possa reconstituir o sentido e entender o que ele quer dizer. E isso envolve falar adequadamente, ajustar a linguagem para aquele público, usar o gênero textual relacionada àquela situação. Por exemplo, alguém está doente e vai ao médico e este diz que o paciente tem cefaleia. A preocupação do paciente é evidente, pois não sabe o que cefaleia é uma dor de cabeça. Dessa forma, não houve adequação entre o que o médico disse e o que o paciente entendeu. Esse tipo de conhecimento mostra a importância que temos de sermos claros, objetivos quando produzimos textos, sejam orais ou escritos. O conhecimento metacomunicativo está relacionado a “um realce ao próprio discurso para chamar atenção do leitor”. No texto escrito, algumas pontuações chamam mais atenção do leitor, no texto falado a prosódia, também tem essa função. Se eu quero dizer que uma criança não pode fazer determinada atividade. Eu posso alongar essa negativa “Nããaão!” para destacar que não se deve fazer aquilo. Na escrita também podemos fazer o mesmo. Olhe como expressamos a negativa na linha acima, houve um destaque dela no texto. O conhecimento superestrutural ou sobre gêneros textuais, diz respeito ao reconhecimento de textos nas diversas situações de comunicação. Sabemos que ao ouvirmos um jogo no rádio teremos o gênero narração; quando queremos anunciar algo, temos um anúncio, dessa forma lidamos com os tantos gêneros que vivenciamos todos os dias. 17 (Exemplo 11) Aedes Aegypti pede para ser citado em delação para voltar ao noticiário. (Sensacionalista) Resumo Conhecimento Ilocucional Objetivos e propósitos pretendidos. Conhecimento comunicacional Adequação da linguagem, Conhecimento metacomunicativo Realce para chamar atenção. Conhecimento superestrutural Gêneros textuais e suas situações comunicativas. Esses conhecimentos de processamento textual, linguístico, enciclopédico e interacional (ilocutório, comunicacional, metacomunicativo e superestrutural) estão relacionados e apenas didaticamente que os separamos. Quando vamos produzir ou entender os sentidos de um texto, mobilizamos todos eles simultaneamente. Abaixo, temos uma matéria do Sensacionalista. Uma página de humor no Facebook, cujo objetivo é ironizar questões atuais. Quando estamos no nosso Feed de Notícias e vemos uma matéria do Sensacionalista, nossos conhecimentos, para facilitar o processamento do texto, já devem entrar em funcionamento. Vejamos como isso se atualiza a partir do texto abaixo. O conhecimento linguístico, que diz respeito a nosso conhecimento de língua portuguesa como falantes nativos do idioma. É o que nos permite ler o texto, as palavras do texto e entender o significado delas, enfim, as informações verbais que têm que ser lidas. Por sua vez, o conhecimento de mundo ou enciclopédico está no reconhecimento do que seja o Sensacionalista. Uma página da internet que produz conteúdos a partir de notícias verídicas, construindo notícias falsas que ironizam aquelas. Abaixo do nome do Sensacionalista tem a seguinte frase: “isento de verdade”, frase que destaca ainda mais esse a ironia. O conhecimento interacional é o que realmente coloca o texto em funcionamento. Quando o leitor interage com o texto, primeiramente, através do conhecimento de mundo dele, sabe que o Sensacionalista é um site de humor que sempre ironiza os fatos e que o objetivo dele é o humor e não dizer a verdade. Assim 18 que o site surgiu houve muita polêmica, pois algumas pessoas pensaram que as notícias que estavam ali eram verdades “distorcidas”. O conhecimento ilocucional é este de reconhecer o objetivo do texto. Reconhecer o proposto da página do Sensacionalista. O conhecimento comunicacional está na adequação da linguagem, de forma que na página você tem textos bem impessoais, para parecer com a notícia propriamente dita a linguagem é clara, objetiva. O metacomunicativo está relacionado a como chama-se a atenção do leitor. Questões como, as cores, a disposição do texto, chamam atenção e acaba que o leitor se prende aquela informação. E o superestrutural, reconhecemos que temos textos de humor ainda que travestidos pela notícia. No caso, jamais o mosquito da dengue pedirá para ser delatado para voltar a mídia. Entretanto, cria-se esse jogo de humor. Para afirmar que, na realidade, que a mídia atual fala apenas de delação. O efeito de sentido é ironia, humor e ainda uma crítica à questões midiáticas, na maioria das vezes, relacionadas à política. Dessa forma, colocamos os conhecimentos em funcionamento para entendermos os sentidos desse texto. Portfólio Você conhece um mapa mental? Já fez um? Mapas mentais auxiliam e muito o estudante a esquematizar seu aprendizado. Nesta atividade, propomos que a partir do que foi estudado nas aulas 01 e 02 deste módulo, você faça um mapa mental que mostre os principais conceitos aprendidos até agora. A atividade é individual. Abaixo segue alguns links que podem esclarecer como fazer um mapa mental. Como fazer um mapa mental? Plataforma Geek Games https://geekiegames.geekie.com.br/blog/como-fazer-um-mapa-mental/ Como fazer um mapa mental? Passo a Passo. https://www.youtube.com/watch?v=m1qW0wPJV1M Como fazer um mapa mental? https://ww.youtube.com/watch?v=fnXip7u9zgE&t=40s http://www.youtube.com/watch?v=m1qW0wPJV1M 19 Dicas: ● O mapa mental é uma estrutura que você faz a partir do que aprendeu na aula. ● Inicie por uma palavra central: TEXTO. ● A partir dessa ideia central, relacione outras ideias chaves que explicam o que é texto, quais os conhecimentos subjacentes à compreensão do texto. ● O mapa mental é uma ferramenta para facilitar a aprendizagem e auxiliar na compreensão do conteúdo. É preciso ler, entender o texto para conseguir enumerar e relacionar as principais ideias de um texto. Essa atividade irá contribuir bastante com sua aprendizagem. ● Você pode postar o mapa mental no ambiente de aprendizagem. Pode fazer o desenho em uma folha para digitar e postar no ambiente ou usar o programa de computador que tenha mais afinidade para fazer esse mapa. Dica de Leitura CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2012, 176 p. Mônica Magalhães Cavalcante é umas das autoridades no estudo de texto no Brasil. Nesse livro, os sentidos do texto, a autora, muito simples, objetiva e didática consegue mostrar para o leitor como esses sentidos múltiplos do texto são produzidos e compreendidos. 20 REFERÊNCIAS BEAUGRANDE, R. A.; DRESSLER, W. U. Introduction to text linguistics. London: Longman, 1997. CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2012, 176 p. KOCH, Ingedore V. e ELIAS, Vanda M. Ler e Compreender os Sentidos do Texto. São Paulo: Contexto, 2006. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. SAVIOLLI, F.P. e FIORIN, J.L.- Lições de texto: Leitura e Redação. Ática: SP, 2011.
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