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USF_EAD_Estudo_do_Ser_Humano_Contemporâneo_Completo

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EDUCANDO PARA A PAZ
FORMANDO MULTIPLICADORES DO BEM
LUIS FERNANDO CRESPO
ESTUDO DO SER HUMANO 
CONTEMPORÂNEO
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ESTUDO DO SER HUMANO CONTEMPORÂNEO
2023
Luis Fernando Crespo
PRESIDENTE
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
DIRETOR GERAL
Jorge Apóstolos Siarcos
REITOR
Frei Gilberto Gonçalves Garcia, OFM
VICE-REITOR
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO
Adriel de Moura Cabral
PRÓ-REITOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO
Dilnei Giseli Lorenzi
COORDENADOR DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD
Franklin Portela Correia
GESTOR DO CENTRO DE INOVAÇÃO E SOLUÇÕES EDUCACIO-
NAIS - CISE
Franklin Portela Correia
PROJETO GRÁFICO
Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE
CAPA
Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE
DIAGRAMADORES
Daniel Landucci
© 2023 Universidade São Francisco
Avenida São Francisco de Assis, 218
CEP 12916-900 – Bragança Paulista/SP
CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL FRANCISCANA, PROVÍNCIA 
FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL – 
ORDEM DOS FRADES MENORES
LUIS FERNANDO CRESPO
Doutor em Filosofia pela PUC-SP (2016), possui graduação em Filosofia (bacharelado) 
pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2001) e mestrado em Filosofia (Éti-
ca) pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2005), além de especialização 
em EaD pelo Centro Universitário Uniseb Interativo (2012). Tem experiência na área de 
Filosofia, com ênfase em Ética, atuando principalmente nos seguintes temas: lógica, éti-
ca, educação, sociedade e ciência. Além da experiência docente no ensino presencial, 
possui grande experiência como docente e gestor em EaD: trabalhou como docente e 
coordenou o curso de Licenciatura em Filosofia da Faculdade Interativa COC. Atuou 
como professor de Filosofia para o Ensino Fundamental e Ensino Médio; foi professor 
substituto de Filosofia na UNESP-Araraquara. Tem experiência administrativa e docen-
te (professor e conteudista) em diferentes instituições: Kroton Educacional (Anhanguera 
e Unopar), Unicastelo/ Universidade Brasil, UNIBTA, Uniararas, Anhanguera (Sumaré). 
Foi professor substituto no Instituto Federal - IFSP, Campus Boituva. É integrante de 
grupo de estudos: GEPEPS (Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação, Política e 
Sociedade), no IFSP-BOITUVA. É curador de textos (livros de humanidades), docente 
e coordenador na Universidade São Francisco (USF).
O AUTOR
SUMÁRIO
UNIDADE 01: SABER, SENTIR E QUERER ..........................................................6
1. Estudo interdisciplinar e o desenvolvimento de competências ...........................7
2. Saber, sentir e querer: o animal racional .............................................................12
3. Saber, sentir e querer: o composto razão-emoção .............................................22
4. Saber, sentir e querer: liberdade e decisão .........................................................32
UNIDADE 02: CRIAR, FALAR E CONVIVER .........................................................44
1. A criação do mundo humano – técnica e trabalho ..............................................44
2. O animal que se comunica ..................................................................................52
3. A organização do mundo humano .......................................................................60
UNIDADE 03: JOGAR, PERCEBER E EXPRESSAR ............................................70
1. Homo ludens: o ser humano que joga e brinca ...................................................70
2. A dimensão cultural do ser humano ....................................................................78
3. Somos seres artísticos! .......................................................................................87
UNIDADE 04: TRANSCENDER, INTEGRAR E DESENVOLVER ........................100
1. O ser humano é um ser religioso ........................................................................100
2. Somos ecológicos ...............................................................................................108
3. Interligados ..........................................................................................................114
4. A redescoberta do humano .................................................................................123
6
Saber, sentir e querer
1
UNIDADE 1
SABER, SENTIR E QUERER
INTRODUÇÃO
Caros estudantes, paz e bem!
Trazemos, de nossa história de estudos, diferentes vivências educacionais; porém, uma 
coisa é certa: quase 100% de nossa experiência vem do ensino presencial. Significa 
que, durante muito tempo, entendemos que a educação apenas era possível dentro do 
modelo que coloca professor e alunos em um mesmo espaço e tempo (sala de aula), 
a partir do que um conteúdo era ensinado. Mas isto não tem nada de novo, já que há 
séculos assim se dá.
A pergunta que fazemos, então, é: se o contexto mudou e diferentes tecnologias foram 
desenvolvidas, por que continuar a realizar a educação do mesmo modo? A Universi-
dade São Francisco – USF entende que, além de importante, a mudança é necessária.
Mas, já que se trata de uma proposta diferenciada, é importante entender de que modo 
é possível alcançar sucesso nos estudos por meio dela.
Estudo do Ser Humano Contemporâneo é um dos componentes que constituem o 
Núcleo de Formação Geral – juntamente com Iniciação à Pesquisa Científica, Ética e 
Cidadania, Direitos Humanos e Empreendedorismo Social –, que são oferecidos inte-
gralmente a distância. Estes componentes serão trabalhados de forma interdisciplinar: 
os conteúdos de cada um servirão para construir um entendimento de mundo e uma 
maneira de problematizar a realidade. Eles, conjuntamente, oferecerão novas chaves 
para que você possa reinterpretar a realidade.
Esta Unidade I tem o objetivo de apresentar alguns elementos importantes para que 
você bem entenda de que modo os componentes curriculares do Núcleo de Forma-
ção Geral estão estruturados a fim de oferecer uma experiência significativa de apren-
dizagem, contribuindo, assim, para sua formação profissional. A unidade prossegue 
discutindo importantes temáticas, tais como a racionalidade e o saber humanos, os 
elementos da razão-emoção e suas interconexões e desdobramentos e, por fim, as 
articulações entre liberdade, poder, ideologia e livre arbítrio.
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Estudo do Ser Humano Contemporâneo
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1. ESTUDO INTERDISCIPLINAR E O DESENVOLVIMENTO DE 
COMPETÊNCIAS
1.1 CONECTAR
Estudo do Ser Humano Contemporâneo e a interdisciplinaridade 
Quando, na estrada, vemos uma placa de trânsito indicando uma curva acentuada à 
direita, por exemplo, sabemos que devemos redobrar a atenção e reduzir a velocidade 
porque, um pouco mais adiante, certamente, haverá uma curva fechada.
A placa é um sinal. Esse sinal é a representação gráfica de uma outra coisa, a curva, 
que pode ser perigosa a depender da velocidade com que entrarmos nela.
O sinal não é a curva, mas nos dá ciência dela. Perguntar sobre o significado dos sinais 
é só uma pequena parte desta discussão. Podemos ir além e perguntarmo-nos sobre o 
sentido, a razão de ser, desse sinal. Por que alguém se daria ao trabalho de conceber 
e fabricar essa placa e fixá-la naquele ponto exato? Que interesses estariam por detrás 
dessa ação? Podemos supor que um propósito seria avisar o viajante de um perigo emi-
nente. Mas, por que avisá-lo? Para tentar evitar que alguém sofra um acidente naquele 
lugar. Por causa de eventuais danos materiais e prejuízos econômicos? Para poupar 
o trabalho de agentes policiais de trânsito, sistemas de resgate, serviços hospitalares, 
prejuízos às agências de seguro...?
Ou estaria essa placa de trânsito indicando, em última instância, um valor maior que 
qualquer outro: a primazia da vida!
A vida é o nosso valor número um, e deve ser preservada sobre todas as coisas, ainda 
queisso exija grandes esforços, onerosos investimentos e o envolvimento de um núme-
ro incontável de profissionais. 
Para que aquela placa de trânsito esteja ali, no local exato, e seja eficiente e eficaz 
para salvar a vida dos viajantes, foram necessárias muitas etapas e a participação 
de muitos profissionais.
Na ponta final, podemos identificar: o designer, o fornecedor de matéria prima, o fabri-
cante, o funcionário que a fixa no local, o operário que realiza sua manutenção...
Mas até chegar nessa ponta final, foi preciso muito mais. Considere que, antes de tudo, 
houve pessoas convictas que se empenharam para convencer outras pessoas da ideia 
de que a vida deve ser cuidada e protegida acima de qualquer outra coisa. Em algum 
momento, foi necessário o engajamento de educadores, de políticos, de agentes legais, 
entre tantos outros, para que projetos-de-lei regulamentadores de tais normas de segu-
rança fossem aprovados e implementados. Não devemos nos esquecer dos responsá-
veis por todo o intrincado processo administrativo e financeiro que garantiram a dotação 
orçamentária dos recursos necessárias para viabilizar a sinalização das estradas. E, 
por fim, mas não menos importante, temos que falar do engajamento do cidadão co-
mum, que é o principal beneficiário da segurança e da integridade física que uma sina-
lização bem-feita pode lhe garantir. Esse cidadão é a grande razão de ser de tudo isso. 
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Saber, sentir e querer
1
Quem diria que uma simples placa de trânsito teria como pré-requisito o envolvimento 
de tanta gente. Parece até aquela lista interminável de créditos que a gente vê na tela 
do cinema no final de um filme.
Não nos enganemos. O fim último de todo esse envolvimento profissional não é a placa 
de trânsito. Acima de tudo está a preocupação com o nosso valor número um: a digni-
dade da vida humana, em particular, e a preservação da Vida, em geral. Neste sentido 
é que o componente Estudo do Ser Humano Contemporâneo pode ser entendido como 
aquele cujas temáticas perpassam tudo o que vier a ser problematizado nos demais. Os 
conhecimentos e as práticas relacionados a todo fazer humano depende de um enten-
dimento do que seja a própria essência humana.
Não há uma profissão sequer que goze de plena autonomia em relação às demais. E 
não vale a pena apertarmos um único parafuso que seja, se isso não estiver, em última 
instância, a serviço da vida e da promoção da dignidade humana.
1.2. DESENVOLVER
A USF adota, como diretriz pedagógica, a educação por competências. Mas, você sabe 
o que é a competência, ou quando alguém pode se entender competente?
A competência trata da maneira como lidamos com as situações que nos aparecem na vida 
cotidiana. Neste sentido, é competente aquela pessoa que consegue dar conta das exigên-
cias que as diferentes situações impõem.
Mas, é possível aprender sobre todas as situações que a vida – profissional ou não – vai nos 
apresentar? Claro que não; não há um curso sequer que possa dar conta disso.
Quando se fala em desenvolver competências, mais do que uma prática, o que se objetiva 
é ensinar um modo de compreender as situações. A pergunta que deve ser feita não é “Eu 
aprendi a fazer isso?”, mas sim “Que tipo de raciocínio eu aprendi, a partir deste caso, e que 
vai me possibilitar resolver outros (mesmo que não sejam iguais)?”
SAIBA MAIS
Figura 01. Fig. O desenvolvimento de competências.
Fonte: Elaborado pelo autor / Imagens: Pixabay.com
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Estudo do Ser Humano Contemporâneo
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Conheça as competências que devem ser desenvolvidas por meio dos estudos que o 
componente Estudo do Ser Humano Contemporâneo incitará:
 ` 01. Compreender a diversidade como valor para a reinvenção social, entendendo a 
multifacetada expressão humana individual e coletiva.
 ` 02. Identificar caminhos de realização humana integral, refletindo sobre a inovação ética 
e sustentável.
 ` 03. Reelaborar as concepções de existência, valorizando uma práxis fundamentada na 
promoção da paz e do bem.
 ` 04. Escolher um caminho de formação que preze por relações fraternas, justas e 
inclusivas, relacionando-as às responsabilidades profissionais.
Releia as competências apresentadas acima. Não se trata de um ideal construído de forma 
aleatória, mas de uma proposta de formação que indica aquilo em que a USF acredita, for-
mando você como profissional. São competências possíveis, mas que apenas podem ser 
desenvolvidas se você se aplicar aos estudos e atividades propostos.
IMPORTANTE
1.3. PRATICAR
DIFERENTES OBJETOS DE APRENDIZAGEM PARA DIFERENTES FORMAS 
DE APRENDER
O desenvolvimento de competências pode se dar de diferentes modos, de acordo com o 
objetivo que se tem. Cada componente curricular, em cada unidade, tem objetivos especí-
ficos pensados a partir das competências estabelecidas para o profissional que está sen-
do formado – você! –, não importando a área de conhecimento. Mas, antes dos objetivos 
de cada componente, temos de pensar as competências necessárias para bem cursar 
um componente oferecido a distância, já que ele é diferente dos tradicionais, presenciais.
E você, sabe como você aprende?
Possivelmente, você já ouviu dizer que uma pessoa aprende mais ouvindo, enquanto outra o 
faz escrevendo, e ainda outra, lendo e anotando.
SAIBA MAIS
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Saber, sentir e querer
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O CONHECIMENTO – TEORIA E PRÁTICA
A competência pode ser entendida como um conjunto de elementos que, no todo, tratam 
de um saber prático; trata-se de três elementos: conhecimento, habilidade e atitude. 
Dificilmente conseguimos dizer que um profissional é competente sem ter estes ele-
mentos como base sólida. A partir deste entendimento é que este componente curricular 
é entendido e proposto com significativa importância para sua formação profissional. A 
USF entende que ser profissional deve ser mais que ser um fazedor técnico.
Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/10/ciencia/1476119828_530014.html
Leia ao artigo: Os quatro estilos de aprendizagem − ou por que alguns leem os manuais e 
outros não.
Avalie suas competências, verificando:
 ` Conhecimento – você tem os conhecimentos necessários, que possibilitarão uma vivên-
cia profissional humana e responsável consigo, com o outro e com a sociedade?
 ` Habilidade – você sabe se utilizar dos conhecimentos para realizar uma prática que seja 
eficiente, fazendo bem feito aquilo que se espera de um(a) bom(a) profissional?
 ` Atitude – a partir do conteúdo assimilado e da boa prática desenvolvida, você se motiva 
a agir de modo eficaz, buscando a melhor em cada situação?
SAIBA MAIS
Ao longo das unidades, as temáticas apresentadas têm sempre o objetivo de possibili-
tar uma prática profissional, carregada de sentido e que possa responder aos anseios 
da sociedade, sem deixar de lado a realização pessoal. Neste sentido, pense sobre as 
competências deste componente – indicadas acima –, e procure verificar se você já as 
tem desenvolvidas. Inicie o curso deste componente, já tendo em mente suas compe-
tências e entendendo que elas devem ser metas a se alcançar. No final do semestre, 
você terá oportunidade de se avaliar, verificando quanto aprendeu e desenvolveu, e o 
que ainda restará como necessidade.
OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BRASIL
No ano de 2015, pensando a necessidade de ações que pudessem melhorar a vida 
no planeta como um todo, líderes mundiais se reuniram na ONU e estabeleceram a 
chamada Agenda 2030 – trata-se de um plano para erradicar a pobreza e promover o 
desenvolvimento da vida humana e do planeta.
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/10/ciencia/1476119828_530014.html
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Da Agenda 2030, foram pensados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a partir 
dos quais são delineadas áreas mais específicas para atuação das nações. São 17 ODS:
Conheça mais sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, pesquisandoem: 
Conheça mais sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil.
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
Disponível em: https://www.br.undp.org/content/dam/brazil/docs/agenda2030/undp-br-A-
genda-2030-completo-pt-br-2016.pdf
Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
Fonte: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
Veja que os ODS abarcam diferentes áreas e problemas que a humanidade enfrenta 
como um todo. E, considerando-se que a USF objetiva oferecer uma formação integral, 
entendemos a importância de que a formação seja ampla e geral, ligada aos problemas 
e situações diversas que você, como profissional, vai enfrentar. Neste sentido, os ODS 
serão trazidos nas problematizações dos componentes curriculares.
https://www.br.undp.org/content/dam/brazil/docs/agenda2030/undp-br-Agenda-2030-completo-pt-br-2016.pdf
https://www.br.undp.org/content/dam/brazil/docs/agenda2030/undp-br-Agenda-2030-completo-pt-br-2016.pdf
https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
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Saber, sentir e querer
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Aproveite as oportunidades que forem ofertadas para o desenvolvimento deste compo-
nente: textos, fóruns, vídeos etc. Tudo é desenvolvido para seu melhor aproveitamento 
e sucesso na formação profissional!
2. SABER, SENTIR E QUERER: O ANIMAL RACIONAL
[...] E tem mais, falou o cego, o que para um é preto como carvão, para 
outro é alvo como um jasmim. O que para um é alimento ou metal de valor, 
para outro é veneno ou flandre. O que para um é um grande acontecimento, 
para outro é vergonha a negar. O que para um é importante, para outro não 
existe. Por conseguinte, a maior parte da História se oculta na consciência 
dos homens e por isso a maior parte da História nunca ninguém vai saber, 
isto para não falar em coisas como Alexandria, que matam a memória. (João 
Ubaldo Ribeiro, Viva o povo brasileiro)
O que sabemos sobre nós mesmos e a nossa história? Quase nada. Quem so-
mos nós? Quem sou eu? quem é você? Somos o que gostaríamos de ser? 
Somos o que deveríamos ser?
O presente estudo quer levantar essas e outras questões para que você, que está 
se preparando acadêmica, profissional e existencialmente para “ser alguém na 
vida”, desenvolva sua potencialidade como ser humano pleno e venha a sentir-se 
integralmente realizado.
Só que essa, talvez, não seja uma tarefa tão fácil, pois a maior parte da História da 
humanidade – isto é, quem e o que somos, pensamos ou fizemos – não foi escrita. 
Nossa espécie, o homo sapiens, tem algo em torno de 200 mil anos. A escrita só surgiu 
há cerca de 5 mil anos e é por isso que podemos afirmar que a nossa é uma breve, 
brevíssima História.
Consideremos, ainda, quão restrito é o número daqueles e daquelas que leem os re-
gistros históricos de que dispomos. História escrita não é o mesmo que História lida. Se 
pensarmos no nosso contexto mais próximo, o Brasil, vamos constatar envergonhados 
que, até 60 anos atrás, a grande maioria (cerca de 75%) da população do país era anal-
fabeta. Reduzir nossa história somente ao que ficou registrado, literariamente, é ignorar 
o que anda acontecendo na maior parte do tempo com a maioria das pessoas.
Isso nos faz suspeitar que a maior parte do que fazemos, sentimos e queremos tem ra-
ízes tão profundas que vão muito além do que está dito nos tratados publicados, sejam 
eles das áreas de exatas, biológicas, humanas ou quaisquer outras que delas derivem.
Pense no campo profissional que você abraçou e para o qual você está buscando qua-
lificação: como essa profissão nasceu? A que demandas ela procura responder? Como 
vem sendo aprimorada? De que maneira ela está mudando a vida das pessoas, as re-
lações com o meio ambiente, afetando o próprio clima? Quem é o ser humano que atua 
profissionalmente na sua área? Quem são os outros seres humanos que sua profissão 
atende e com quem você terá que interagir durante toda a sua vida?
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2.1. O ESTRANHO ANIMAL QUE PENSA SOBRE O PENSAMENTO
Dentre as espécies que já pisaram o planeta 
Terra, os humanos estão entre as mais jovens. 
As baratas, por exemplo, vivem aqui há mais 
de 300 milhões de anos, e os tubarões já exis-
tiam há cerca de 200 milhões de anos. Os di-
nossauros, que foram extintos há 65 milhões 
de anos, dominaram as paisagens dos conti-
nentes por longos 167 milhões de anos. Con-
siderando que nós, seres humanos moder-
nos, apelidados de homo sapiens, só estamos 
aqui há pouco mais de 200 mil anos, podemos 
nos considerar praticamente recém-nascidos.
Além do mais, foi somente nos últimos 
70 mil anos que adquirimos o compor-
tamento atual, ou seja, faz pouquíssimo 
tempo que desenvolvemos certas habili-
dades, tais como a linguagem ficcional, a 
música e várias das expressões culturais 
que hoje nos são comuns.
A civilização é ainda mais recente, pois só 
surgiu cerca de 10 mil anos atrás, com a 
chamada revolução agrícola. A produção 
de alimentos em abundância permitiu o 
crescimento da população e o consequen-
te estabelecimento das primeiras aglome-
Cabe aqui acrescentar outra pergunta: quão humanos somos ou havere-
mos de ser como profissionais e quão humanizada é ou haverá de ser a nossa 
atuação profissional?
Um veterinário ou uma veterinária poderia dispensar essa preocupação com a dimensão hu-
mana na sua atuação profissional, uma vez que sua tarefa consiste, basicamente, em cuidar 
de outras espécies que não a humana? E um botânico, cuja atenção principal está voltada 
para o reino vegetal? E, ainda, no caso de um geólogo, que se ocupa, em tese, do reino 
mineral? Há alguma profissão que possa se dar ao luxo de escapar da preocupação com a 
dimensão humana e humanitária?
PARA REFLETIR
Figura 02. Barata
Fonte: 123RF.
Figura 03. Homo Sapiens
Fonte: 123rf
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Saber, sentir e querer
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rações urbanas. Estas, por sua vez, deram ensejo ao desenvolvimento de relações 
sociais cada vez mais complexas.
Você notou que o que estamos fazendo aqui é pensar sobre nós mesmos e nos-
sa condição no mundo? Que outra espécie se aplica, dessa maneira, a pensar 
sobre si mesma como sendo uma terceira pessoa. Não parece que as baratas, 
os tubarões ou os dinossauros tenham alguma vez se preocupado com isso.
Somos, excepcionalmente, curiosos sobre 
todas as coisas: sobre a natureza, sobre o 
universo, sobre nós mesmos. Desde crian-
ças, nosso instinto investigativo e inclinação 
para o conhecimento podem ser notados 
pelas insistentes perguntas que fazemos o 
tempo todo: Por quê? Por quê? Por quê?
Ah, acredite! Os pontos de interrogação são 
muito mais fascinantes do que os de excla-
mação ou os pontos finais.
Fonte: 123RF.
Talvez seja por isso que o nosso ponto de interrogação (?) seja um anzol de ponta cabeça: 
para pescar não as respostas escondidas nas profundezas das certezas, mas para se enros-
car naquelas ideias leves que flutuam no meio das nuvens.
É inclusive um anzol sem fisgas, que é para se enroscar sem se prender.
O ponto de interrogação também se parece com um balão (?) que suspende os nossos pon-
tos finais e nos leva a passear por entre as brumas, como quem diz: boa pergunta, agora 
relaxe aí e curta o passeio.
PARA REFLETIR
2.2. SOMOS TERRA QUE RACIOCINA: HÚMUS, HUMILDES HUMANOS
Dizem que 96% do corpo humano é formado por quatro elementos químicos básicos: 
oxigênio, hidrogênio, carbono e nitrogênio. Ora, estes são os mesmos elementos que 
abundam na natureza e compõem o planeta terra e o próprio universo.
O Oxigênio (O) constitui a molécula da água e também é um dos três elementos quí-
micos que formam os carboidratos, fonte de energia para os seres vivos. O hidrogênio 
(H), por sua vez, é ao mesmo tempo o menor e o mais abundante elemento no universo, 
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cerca de 75%. E ligado ao Hidrogênio, todos os compostos orgânicos, sem exceção, 
apresentam carbono, que é um elemento essencial à vida. E, quanto ao nitrogênio (N), 
sabe-se que é dele que se constitui78% do volume da atmosfera Terrestre.
Em síntese, somos constituídos pelos mesmos elementos químicos disponíveis na na-
tureza. Podemos afirmar, portanto, que nascemos da terra, voltaremos a fazer parte da 
terra, como nos lembra o químico Antoine Laurent de Lavoisier, que viveu na França do 
século XVIII.
Foi assim que ele traduziu a primeira lei da termodinâmica: “Na Natureza nada se cria, 
nada se perde, tudo se transforma”.
Por isso, quando morremos, os elemen-
tos dos quais somos feitos retornam to-
dos para a Terra, e se reintegram na natu-
reza. Os místicos diziam a mesma coisa, 
só que com outras palavras: “Do pó vieste 
e para o pó tornarás”.
Há textos sagrados que juram que os 
seres humanos foram feitos do barro. Ali-
ás, você sabia que é por isso que somos 
chamados de humanos? Porque somos 
feitos de húmus (terra, em grego)? Basi-
camente, somos “cocô de minhoca”.
É por isso também que usamos a palavra 
humilde. Quando alguém nos diz seja hu-
milde, está, polidamente, nos chama a atenção para: “lembre-se de que você não passa 
de húmus, cocô de minhoca”.
Curiosamente, nos textos sagrados também encontramos uma conexão entre as pala-
vras homem, terra e jardim. Lá no livro das origens dos judeus, que foi escrito em he-
braico, está escrito que Deus fez o homem, Adam, do barro, Adamah, e o colocou num 
jardim, Eden. A aliteração dessas palavras encontra eco nas nossas palavras homem, 
húmus e humanidade.
É por esse motivo também que pessoas sensíveis e preocupadas com a condição hu-
mana e sua integração com o planeta têm nos alertado: nós somos de terra; e mais do 
que isso, nós somos a própria Terra. Somos a terra que respira, que pensa, que sente. 
Nós somos os jardineiros, colocados aqui para cuidar desse maravilhoso jardim.
2.3. ENTRE O SABER E O SER
Consta-se que o termo binomial Homo sapiens foi cunhado pelo botânico, zoólogo e 
médico sueco Carl Linnaeus (1707-1778), em seu livro intitulado Systema Naturae, 
escrito no século XVIII. Em seu trabalho, Linnaeus divide o sistema da natureza em 
classes, ordens, gêneros e espécies, com personagens, diferenças, sinônimos e loca-
lizações. Com isso, essa obra o tornou conhecido como o pai da taxonomia moderna.
Figura 04. Conjunto químico e físico de elementos: 
modelo de átomo
Fonte: 123RF.
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Linnaeus empregou o termo Homo para designar o gênero ao qual os humanos perten-
cem. Do latim antigo, a palavra hemō (homem) significa, primariamente, “ser terrestre”. 
Se o termo homo indica o gênero nessa taxonomia, a expressão sapiens (sábio, em 
latim) designa a espécie.
O botânico supracitado entendia que, dentre as características que se destacam no 
homo sapiens, estão: o corpo totalmente ereto; a possibilidade de utilizar mãos para 
o manuseio de objetos; e, principalmente, o cérebro altamente desenvolvido, que lhe 
permite o emprego do raciocínio abstrato, o uso da linguagem simbólica e a resolução 
de problemas avançados.
Por essa razão, o humano é visto, primordialmente, como ser de pensamento, dotado 
de consciência e autoconsciência, capaz de construir conhecimento e, ainda mais, de 
estar em permanente busca de autoconhecimento.
Figura 05. Carl Linnaeus (1707-1778)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Carl_von_
Linn%C3%A9.jpg. Acesso em: 5 mai. 2021.
Figura 06. Sistema da natureza em três reinos 
da Natureza 
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/5/56/
Taxonomia: disciplina da biologia que define os grupos de organismos biológicos com base 
em características comuns e dá nomes a esses grupos.
GLOSSÁRIO
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coOra, a informação é a unidade básica da construção do conhecimento. O conheci-
mento só é possível por meio da combinação criteriosa dessas unidades chamadas 
dados ou informações.
Uma enciclopédia está recheada de dados. Contudo, ter acesso a esses da-
dos não garante a aquisição do conhecimento. Da mesma forma que a palavra 
“tristeza”, listada num dicionário, não nos deixa automaticamente tristes, a leitu-
ra da palavra “riqueza” nos torna necessariamente ricos. Assim também uma se-
quência de palavras, dispostas em ordem alfabética ou aleatoriamente, não pro-
duz sentido da mesma forma como aconteceria em uma frase ou em um parágrafo. 
O conhecimento é resultado da combinação inteligível dos dados.
Mas, e a sabedoria?
Uma pessoa com profundo conhecimento de determinada matéria será, necessaria-
mente, sábia? Uma pessoa que domine os intrincados mecanismos que lhe permitem a 
manipulação dos átomos a ponto de ser capaz de criar uma bomba atômica, pode ser 
classificada como sendo uma pessoa sábia?
Ter informação e adquirir conhecimento não garante a sabedoria. Isso ocorre porque a 
sabedoria pressupõe algo para além de um cérebro, altamente, desenvolvido. É preciso 
ter um senso de prioridades e valores que permitam ao sábio utilizar as informações e 
o conhecimento de que dispõe para determinados fins e não para outros.
A que fins o sábio destina a sua sabedoria? Ser é muito mais do que saber.
2.4. ULTRAPASSANDO AS FRONTEIRAS DA SAPIÊNCIA
O raciocínio lógico, que encontrou sua mais perfeita expressão no conhecimento cien-
tífico, permitiu a nós, humanos, um desenvolvimento extraordinário. Trata-se do tipo de 
conhecimento mais confiável de que dispomos. A ciência nos ajuda a evitar equívocos 
e a superar muitos preconceitos. Mas temos que admitir que este não é o único tipo de 
conhecimento existente.
Ultimamente, tem-se tratado muito em múltiplas inteligências, tais como: inteli-
gência linguística, lógico-matemática, espacial, corporal-cinestésica, interpessoal, 
intrapessoal, naturalística, musical.
A esta altura da nossa conversa, convém nos perguntarmos se há diferenças signifi-
cativas entre informação, conhecimento e sabedoria.
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Saber, sentir e querer
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A perspectiva das múltiplas inteligências nos ajuda a ampliar nossa percepção do que 
significa “sapiens”. E podemos levar em conta ainda outras formas de conhecimento que 
também têm sua legitimidade, tais como o senso comum, a fé, o conhecimento mitológico 
e até mesmo a própria intuição. Cada um tem seu lugar no nosso cotidiano. O que não 
podemos fazer é confundi-los e respeitar as regras e contextos de um em outro.
Da mesma maneira que não dá certo tentar jogar basquete com as regras do voleibol, 
por mais semelhantes que sejam (ambos são esportes são jogados por dois times, usam 
bola, têm algum tipo de rede, etc.), usar as regras do conhecimento religioso no âmbito 
acadêmico pode trazer complicações desnecessárias. Da mesma forma aconteceria se 
tentássemos jogar o jogo da fé com as regras da ciência.
Há ainda um tipo de inteligência que merece aqui ser destacado: trata-se da inteligência 
do corpo. Nosso corpo “sabe” coisas que a nossa consciência racional não faz a menor 
ideia. Por exemplo, nosso couro sabe fazer crescer cabelo ou crescer as unhas, inde-
pendentemente da nossa vontade consciente. O corpo de uma mãe de primeira viagem 
sabe gerar no seu ventre um ser humano com toda a sua complexidade sem que a mãe 
tenha tido uma única aula de anatomia ou saiba como funcionam os sistemas respirató-
rio, circulatório, nervoso, digestório, etc. A mãe não sabe, mas o corpo dela sabe!
Figura 07. Os 9 tipos de inteligência propostos por Howard Gardner
Fonte: elaborada pelo autor.
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Há ainda outra perspectiva, descortinada muito recentemente, que tem nos deixado 
intrigados e curiosos a respeito do que o futuro nos reserva: estamos nos referindo aqui 
à chamada Inteligência Artificial (IA).
Há quem diga que a profissão de filó-
sofo será uma das mais relevantes nas 
próximas décadas, uma vez que o de-
senvolvimento da inteligência artificial 
toma como modelo a inteligência natural. 
E o filósofo é aquele que pensa sobre 
o pensamento, que estuda o processo 
de construção do conhecimento,e que 
procura estabelecer os princípios que 
definem o raciocínio lógico.
Mas, mais do que isso, as demandas por 
inteligência artificial exigem uma discus-
são profunda sobre valores éticos. Considere o seguinte exemplo:
Figura 08. Inteligência Artificial
Fonte: 123RF.
Um veículo autônomo está levando seus passageiros para algum lugar e, de repente, uma 
criança em busca de sua bola atravessa a frente do veículo. Um condutor humano dificilmen-
te conseguiria reagir, de maneira fria e calculista, para considerar as alternativas e decidir 
imediatamente qual ação a ser tomada. No entanto, uma “máquina” computadorizada conse-
gue discernir questões lógicas em frações de segundos, desde que tenha sido programada 
para isso. Qual seria a decisão certa a tomar? Atropelar a criança? Jogar o carro contra um 
poste e colocar em risco a vida dos passageiros? Desviar para outro local, correndo o risco 
de atropelar outros pedestres? E assim por diante.
EXEMPLO
Figura 09. Desempenho de carros autônomos em 
rotas com obstáculos
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/29/
Autonomous-driving-Barcelona.jpg. Acesso em: 28 mai. 2021.
Estamos falando aqui de valores éti-
cos e morais. Entre salvar uma crian-
ça ou um adulto que esteja no veículo, 
qual decisão acarretará menor malefício 
e maior benefício?
Há quem diga que não demorará muito 
para que as “máquinas” inteligentes se 
deem conta de que a maior ameaça para 
o planeta é o ser humano. Exemplo disso 
é o fato de que o maior número de aciden-
tes automobilísticos se deve a falha huma-
na. Com os veículos autônomos e autô-
matos, o número de acidentes tende a ser 
reduzido significativamente.
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Saber, sentir e querer
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Será que corremos o risco de virmos a ser anulados pelas máquinas, para que não 
continuemos a cometer erros primários, crimes passionais, a destruir o planeta por pura 
ambição e a cometer outros atos considerados absurdos por afetação ideológica? Ou, 
quem sabe, estejamos tendo a oportunidade de vislumbrar um novo tempo no qual po-
deremos relegar as coisas não essenciais às máquinas, para podermos nos concentrar 
naquilo que é essencial, que nos é próprio. O que de fato nos distingue das máquinas? 
Quais são as coisas essenciais que as máquinas não podem fazer nem podem ser?
Tem-se perguntado se há limites para as máquinas e a inteligência artificial, mas talvez 
devamos começar a nos perguntar se há limites para o que é o ser humano. Temos per-
dido muito tempo fazendo o que outros animais e máquinas podem fazer e, com isso, 
talvez tenhamos deixado de fazer e ser o que realmente somos.
Bem, recentemente, iniciamos nossa jornada em busca de respostas para algumas das 
maiores perguntas de todos os tempos: o que é o humano? Quem sou eu? Eu sou o que 
eu deveria ser? Sou o que eu gostaria de ser?
Demos os primeiros passos na tentativa de conhecer esse fascinante e estranho animal 
que pensa sobre o pensamento. Inquirimos pela nossa constituição primária, os ele-
mentos químicos dos quais somos feitos e nos reconhecemos como terra que raciocina: 
húmus, humildes humanos. Na sequência, transitamos entre o saber e o ser, procuran-
do entender quais as implicações de nos identificarmos como homo sapiens. E esse 
caminho nos leva a vislumbrar um pouco do que o futuro nos reserva e a considerarmos 
alguns desafios éticos e as possibilidades de ultrapassarmos as fronteiras da sapiência.
Reconhecemo-nos como seres de pensamento, dotados de consciência e autoconsciência, 
capazes de construir conhecimento, em permanente busca de autoconhecimento.
Mapa Conceitual
O ser humano e algumas das mais importantes revoluções que ele provocou ao longo 
da sua existência
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Humano 
Moderno
Revolução 
Cognitiva
Revolução 
Agrícola
Revolução 
Científica
Revolução 
Aumentada
Anos 
atrás 200.000 70.000 12.000 500 Hoje
Fonte: elaborada pelo autor.
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HUMAN The movie (Director’s cut version) – Português, 2020. 1 vídeo (3hrs11min 5s). Publi-
cado pelo canal HUMAN o filme. 
I. Sapiens
HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. Tradução de Janaina 
Marcoantonio. 34. ed. Porto Alegre: L&PM, 2018.
Direção: Yann Arthus – Bertrand. França: Bettencourt Schueller Foundation – um projeto da 
Fundação Good Planet, 2015.
Esse impressionante filme documental aborda a variedade de perspectivas dos seres hu-
manos e a complexidade da nossa condição humana por meio de depoimentos impactantes 
das mais diferentes pessoas de diferentes lugares do mundo, condições sociais, etnias e 
cosmovisões. Para tentar entender o que realmente somos, o documentário nos conduz em 
uma intrigante busca por respostas às perguntas cruciais: o que nos torna humanos? Por que 
amamos, por que brigamos? Por que rimos? Choramos? Para onde vamos?
O autor é um dos historiadores em destaque nos últimos anos pela maneira clara e, de certa 
forma, inovadora com a qual tem abordado a história humana. Seus escritos têm ajudado a 
quebrar muitos mitos e visões ingênuas que nós temos sobre nós mesmos. Sua abordagem 
nos ajuda a considerar as contradições da nossa espécie: ao mesmo tempo que somos ca-
pazes de criar as mais belas obras de arte e realizar as mais nobres ações e os mais incríveis 
avanços científicos, também somos os autores das guerras mais cruentas e dos crimes mais 
hediondos. Harari chama atenção para o fato de sermos a única espécie que acredita em 
coisas que não existem na natureza, o que exemplifica com nossa crença em coisas como 
países e nações, dinheiro e códigos legais, e até mesmo nossa crença nos direitos humanos. 
Ainda, menciona as religiões, mas surpreende o leitor ao incluir o capitalismo entre elas. Ou-
tro aspecto surpreendente da sua análise é apontar para o fato de que provavelmente o ser 
humano moderno é mais limitado do que seus ancestrais pré-históricos, que viviam da caça, 
pesca e coleta de frutas e raízes. Naquela ocasião éramos mais hábeis, mais rápidos, mais 
fortes, mais saudáveis e até mesmo mais inteligentes. Aliás, o historiador chega a mencionar 
que o nosso cérebro está diminuindo.
Disponível em: https://www.youtube.com/channel/UC4m-GRD3WLYVVc4JI5LrXxUw.
OBJETO DE APRENDIZADO – FILME HUMAN
TEXTOS COMPLEMENTARES:
https://www.youtube.com/channel/UC4m-GRD3WLYVVc4JI5LrXxUw.
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3. SABER, SENTIR E QUERER: O COMPOSTO RAZÃO-EMOÇÃO
Imagine que você vivesse há 15 mil anos em algum lugar inóspito e selvagem, fre-
quentemente, cercado de hienas famintas e outros animais ferozes. Imagine ainda que, 
para subsistir, você dependesse da coleta de frutos e raízes ou da caça e da pesca. 
Então, um dia, em suas excursões pela redondeza em busca de alimento, você sofre 
uma queda e quebra o fêmur, o maior osso do corpo humano.
Pela experiência vivida no seu curto período de existência, você teria certeza de que 
seu destino estava traçado, que sua sentença de morte estava selada. Isso porque, na 
natureza, é assim que as coisas funcionam. Quando uma zebra ou uma girafa quebram 
a pata, elas são deixadas para trás, à mercê dos predadores.
Mas naquele dia uma coisa inédita estava prestes 
a acontecer: outros do seu bando, que estavam na 
mesma excursão por comida, resolvem voltar para 
resgatar você. Com cuidado, encontram uma ma-
neira de imobilizar a sua perna fraturada e o carre-
gam até um lugar seguro.
Durante os meses seguintes, os integrantes do 
seu grupo se revezam para cuidar do seu bem-
-estar. Fazem sua higiene, afastam os animais 
selvagens e, quando saem para buscar água ou 
comida, trazem uma quantidade a mais, para 
que você tenha o que comer, mesmo sem ter 
saído a campo. Em alguns meses, você está 
perfeitamente recuperado e pronto para vol-
tar à sua rotina, junto com os demais membros 
do seu grupo.
15 mil anos passados, em uma escavação arque-
ológica, seu osso é encontrado e, surpresos, os 
arqueólogos se dão conta de uma descoberta ex-
II. HOMODEUS
HARARI, Yuval Noah. Homo Deus. Tradução de Paulo Geiger. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2016.
O mesmo autor que tentara escrever uma história do passado da humanidade no best seller 
Sapiens tenta, agora, escrever uma história do futuro. Mediante uma abordagem interdiscipli-
nar que combina ciência, história e filosofia, Harari tenta descobrir para aonde estamos indo 
e o que haveremos de ser, a partir de onde estamos e do que somos hoje. Qual será nosso 
destino na Terra? Esta é a pergunta chave do livro.
Figura 10. Margaret Mead (1901-1978)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Margaret_Mead_(1901-1978).jpg. 
Acesso em: 7 jun. 2021.
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traordinária: um osso do fêmur com sinais de que tinha se quebrado, mas que havia 
sido curado. A análise revela que o dono do osso teria sobrevivido por vários anos 
depois de sofrer o acidente.
Para a antropóloga cultural estadunidense Margaret Mead (1901-1978), esse osso que-
brado e curado se constitui no primeiro sinal de civilização de uma cultura. Isso porque, no 
reino animal, nenhum indivíduo sobrevive com um osso importante como esse quebrado.
“Um fêmur curado é a evidência [de] que alguém foi cuidado”, frase essa que é atribuída 
à antropóloga.
3.1. PARA ALÉM DA INTELIGÊNCIA RACIONAL
Há várias teorias que tentam explicar 
como o homo sapiens não só sobreviveu, 
mas como ainda veio a se tornar o espé-
cime mais proeminente do planeta. Numa 
olhada rápida, não haveria muitas razões 
para isso suceder dessa forma.
A teoria de que o mais forte sobrevive não 
se aplica a nossa espécie. Nascemos 
completamente indefesos, estamos lon-
ge de sermos considerados fisicamente 
fortes, quando comparados a outros ani-
mais, mesmo um chimpanzé é muito mais 
forte do que um humano. A teoria de que 
o nosso cérebro “altamente desenvolvi-
do” nos colocou em vantagem parece ser 
uma boa hipótese, mas nem sempre a in-
teligência é eficiente diante de ameaças 
climáticas e da força bruta.
A teoria da adaptação é a mais eficaz, 
porque, de fato, o ser humano soube 
como nenhuma outra espécie transformar 
o seu entorno para sobreviver. Sem pelos 
no corpo para se proteger do frio, fabricou 
roupas e agasalhos. Sem dentes grandes 
e fortes para rasgar e mastigar sua comida, inventou o fogão, o cozido, a cozinha. Sem 
forças para mover objetos pesados, inventou a alavanca e a roda.
Mas ainda temos uma fragilidade a superar. O ser humano, ao nascer, não sobreviveria 
muito mais que alguns pares de horas sem o cuidado de outro ser humano.
Figura 11. Charles Darwin (1809-1882)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Charles_Darwin_
seated_crop.jpg. Acesso em: 7 jun. 2021.
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Nós, seres humanos, sobrevivemos como espécie porque desenvolvemos a extraordi-
nária capacidade de cooperar e de cuidar daqueles que precisam. Naquela micro-his-
tória do fêmur quebrado podemos ver muito da nossa macro-história: a capacidade de 
convivermos, de trabalharmos de maneira coordenada, de planejar e projetar o futuro; a 
valorização da vida e a consciência de que há uma certa dignidade na pessoa humana, 
de que esta merece ser tratada com dignidade e respeito, ainda que ferida ou enferma 
e até mesmo depois de morta. Os primeiros sepultamentos, acompanhados de rituais e 
homenagens, são evidência dessa consciência.
Podemos afirmar, portanto, que não sobrevivemos unicamente por causa da nos-
sa inteligência racional, mas por causa das nossas inteligências múltiplas e, 
particularmente, a afetiva.
3.2. ENTRE O EGOÍSMO E O ALTRUÍSMO, A ENTROPIA E A SINTROPIA
Em 1976, o etólogo e biólogo queniano 
Richard Dawkins (1941-) publicou um li-
vro intitulado O gene egoísta, no qual pro-
curou demonstrar que os organismos são 
máquinas de reprodução a serviço dos ge-
nes. Em sua obra, Dawkins defende que 
o altruísmo, que eventualmente se obser-
va em muitas espécies, corrobora com 
o que ele chama de “egoísmo do gene”, 
pois contribui para a sua sobrevivência. 
Dessa perspectiva, o egoísmo transpare-
ce como característica fundamental dos 
seres vivos, nos quais o altruísmo, quan-
do existe, é apenas uma forma de perpe-
tuar o indivíduo. O gene, portanto, é quem 
comanda a busca por se perpetuar. Para 
Dawkins, os organismos não passam de 
“máquinas de sobrevivência” construídas 
por genes egoístas, num processo com-
petitivo em busca de eficácia.
Por mais paradoxal que seja, o egoísmo 
e o altruísmo são os grandes responsáveis por nossa existência e desenvolvimento. 
Posto de outra forma, o egoísmo e o altruísmo estão um para o outro como a lei da 
entropia está para a sintropia.
E aqui chegamos ao nosso ponto: para além da inteligência racional, nossa sobrevi-
vência depende da inteligência afetiva. Charles Darwin (1809-1882) certa vez decla-
rou que “a simpatia é o nosso instinto mais forte”.
Figura 12. Richard Dawkins (1941-)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Richard_ 
Dawkins_Cooper_Union_Shankbone.jpg. Acesso em: 7 jun. 2
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A teoria da entropia aponta que a tendência para tudo que existe no universo é se de-
sorganizar. Imagine um castelo de areia da praia construído por uma criança. Se ela o 
deixar lá, sob o efeito do sol, da chuva e do vento, em pouco tempo, o castelo estará 
irreconhecível. Ninguém imaginaria que a criança, voltando lá muito anos depois, en-
contraria o castelo reformado, ampliado, mais detalhado e elaborado do que quando o 
vira pela última vez.
Essa é a primeira lei da termodinâmica. A energia gasta é sempre maior do que a 
energia produzida no processo natural. É por isso que as tentativas de criação do 
moto-contínuo tendem a fracassar. Não existe um motor que produza mais energia 
do que ele gasta.
DAWKINS, Richard. O Gene Egoísta. Tradução de Rejane Rubino. São Paulo: Companhia 
das Letras, 2007.
Neste livro, o autor, queniano de nascimento, se propõe a explicar como espécies surgem e 
se diversificam e também como, no processo evolutivo, os indivíduos se relacionam e cola-
boram entre si.
SAIBA MAIS
Há, no entanto, algo intrigante nessa história: se tudo tende para a desorganização, 
como explicar o processo de complexificação pelo qual os organismos passaram 
ao longo daseras? Como foi possível que, de uma simplíssima ameba unicelular, 
nós tenhamos evoluído até desenvolvermos estruturas tão complexas como o córtex 
cerebral ou o olho ou todos os sistemas, em particular o sistema nervoso central nos 
nossos corpos?
Não é nosso objetivo resolver esse dilema aqui, mas pensar a esse respeito nos ajuda a 
valorizar certos aspectos da nossa existência que, talvez, passem meio despercebidos 
por muitos de nós.
Nós estamos sempre tentando nos equilibrar entre o cosmos (ordem) e o caos (desor-
dem), entre o altruísmo e o egoísmo, entre a evolução e a extinção, entre a vida e a 
morte. O fato é que, quando o altruísmo prepondera sobre o egoísmo, nós temos mais 
chances de sobreviver, sobretudo os seres humanos.
Que importância tem isso tudo para nós hoje? Acontece que essa compreensão direcio-
na a maneira como edificamos a nossa sociedade. Quando optamos por modelos políti-
co-econômicos calcados no egoísmo, estamos contribuindo para a nossa extinção. Em 
contrapartida, se construímos modelos solidários de sociedade, estamos possibilitando 
o nosso desenvolvimento.
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Saber, sentir e querer
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3.3. ENTRE A RACIONALIDADE E A AFETIVIDADE
Até prova em contrário, nós sobrevivemos muito 
mais por causa da afetividade do que por causa 
da racionalidade.
O filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804) es-
creveu, em meados do século XVIII, um livro intitu-
lado Crítica da razão pura, em que discute a relação 
indissociável entre o racionalismo e o empirismo. 
A novidade trazida pelo filósofo está na sua pers-
pectiva de que o conhecimento depende de ambos: 
dateoria e da prática.
Mais recentemente, o sociólogo francês Michel 
Maffesoli, em 2001, publicou o livro Elogio Da 
Razão Sensível. Nessa obra, o autor apresen-
ta um método de interpretação do mundo distinto 
daquele do racionalismo iluminista. Nele, o autor 
propõe uma sociologia “da carícia”, que pressu-
põe uma contemplação apaixonada do mundo. 
Trata-se de uma maneira de compreender o mun-
do que se dá muito mais pela sensibilidade do 
que pela racionalidade. Dizendo de outra forma, 
um conhecimento do mundo que se dá pelo afeto, 
pelo emocional, pelo afetual.
Na perspectiva maffesoliana, parafraseando Pas-
cal, a vida tem razões que a razão desconhece, 
pois tais razões se inscrevem no âmbito das emo-
ções, dos sentimentos e das culturas comuns. A 
certa altura, ele distingue indivíduo de pessoa di-
zendo que o indivíduo tem uma função racional, 
enquanto a pessoa desempenha papéis emocio-
nais. E diz ainda que o corpo social, isto é, a so-
ciedade, repousa, antes de mais nada, sobre a co-
locação dos corpos individuais em mútua relação. 
Assim, a verdadeira vida não está no saber, mas 
no conviver, na experiência sensível espontânea.
Outros pensadores têm chamado a atenção para 
a preponderância do aspecto afetivo da condi-
ção humana, especialmente aqueles ligados à 
educação, tais como Lev Vygotsky (1896-1934), 
Henri Paul Hyacinthe Wallon (1879-1962), Jean 
Piaget (1896-1980), Paulo Freire (1921-1997), 
Rubem Alves (1933-2014), Edgar Morin (1921-), 
entre outros.
Figura 13. Immanuel Kant (1724-1804)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Kant_foto.jpg. Acesso em: 7 jun. 2021.
Figura 14. Michel Maffesoli (1944-)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Michel_
affesoli_in_world_humanities_festival.jpg. Acesso 
em: 7 jun. 2021
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Michel_affesoli_in_world_humanities_festival.jpg
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Não somos feitos só de oxigênio, hidrogênio, car-
bono e nitrogênio, afinal. Também somos feitos 
de sentimentos, sensações e emoções.
A animação Divertida Mente (2015) (Figura 06), 
de Pete Docter e Ronnie del Carmen (Disney/Pi-
xar), ganhou o Oscar de melhor animação (2016), 
mas seu mérito vai muito além dos aspectos téc-
nicos. Trata-se de uma criativa e profunda abor-
dagem dos aspectos emocionais no desenvolvi-
mento da pessoa humana.
O roteiro do filme se fundamenta na personifi-
cação das emoções humanas básicas e suas 
interações: medo, tristeza, alegria, nojo e raiva. 
E representa o processo de construção da inteli-
gência afetiva, por meio da formação de vínculos.
A emoção se transforma em afeto. E é essa afeti-
vidade resultante da emoção que perdura. A me-
mória afetiva, marcada pelo amor, amizade, so-
lidariedade, compaixão, é a que permanece por 
mais tempo. Como mencionou o poeta Rubem 
Alves: “o que a memória ama, fica eterno”.
As emoções são tão determinantes que mudam a percepção que temos das coisas ao 
nosso redor: por causa delas, podemos amar um lugar ou odiá-lo, admirar ou desprezar 
pessoas, achar as coisas agradáveis ou desagradáveis. Por essa razão, nossas emo-
ções modelam a maneira como recordamos o passado: se com vergonha ou orgulho, 
se com saudades ou desprezo.
Figura 15. Divertida Mente – 
Inside Out (2015)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Inside_Out_(filme).jpg. Acesso 
em: 7 jun. 2021.
Nossas lembranças nunca são uma representação fidedigna dos fatos, mas interpre-
tações afetivas deles.
As emoções não são determinantes apenas na formação das relações interpessoais e 
na criação de vínculos duradouros, mas também nas rupturas de determinados víncu-
los. O ponto alto do filme acontece quando os protagonistas se dão conta de que nem 
sempre a melhor coisa a fazer é suprimir aquelas emoções que consideramos nega-
tivas. Tanto é que papel de heroína da história que, a princípio, é protagonizado pela 
Alegria, passa para a Tristeza. A Tristeza é aquela que, no momento certo, coloca ordem 
no caos. Saber identificar e nomear as emoções é um bom começo para se alcançar o 
equilíbrio e a maturidade emocional.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Inside_Out_(filme).jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Inside_Out_(filme).jpg
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Esse é um filme essencial para todo estudante de 
psicologia, mas não só, também o é para todos 
aqueles e aquelas que queiram conhecer melhor a 
alma humana.
Outro autor que ganhou notoriedade no final dos 
anos 1990, foi o psicólogo e jornalista científico es-
tadunidense Daniel Goleman (1946-), ao publicar o 
livro Inteligência emocional. Nessa obra, que se tor-
naria um best-seller, o autor aponta para o que ele 
chama de cinco pilares da inteligência emocional, 
tais como apresentados na figura abaixo:
Figura 16. Daniel Goleman (1946-)
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1.
As habilidades 1, 2 e 3 são consideradas intrapessoais e as duas últimas interpesso-
ais. Todas elas são essenciais para o desenvolvimento humano. Goleman relativizava, 
assim, o famoso Quociente de Inteligência (QI), chamando nossa atenção para consi-
deramos também a importância do Quociente Emocional (QE) como elemento determi-
nante, particularmente, para o sucesso no âmbito profissional.
Figura 17. Pilares da Inteligência Emocional
Fonte: elaborada pelo autor.
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Para o antropólogo, sociólogo e filósofo francês Edgar Morin (1921-), a afetividade é 
uma manifestação da inteligência. O autor propõe uma interação dialógica que permi-
ta o entrelaçamento entre aspectos que estão indevidamente separados, entre eles a 
razão e a emoção, o sensível e o inteligível, o real e o imaginário, a razão e os mitos, 
a ciência e a arte.
GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser 
inteligente. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.
Livro que destacou a importância de se levar em conta o QE (Quociente Emocional), além do 
convencional QI (Quociente de Inteligência) para se medir a qualidade da inteligência humana.
SAIBA MAIS
Figura 18. Edgar Morin (1921-)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Edgar_Morin,_2011_(cropped).jpg. Acesso em: 7 jun. 2021.
MORIN, Edgar. Conhecimento, Ignorância, Mistério. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2020.
Ensaio escrito por um dos mais destacados educadores da atualidade no que trata dos limites 
do conhecimento, do mistério que a humanidade carrega consigo. São palavras do autor: “Vivo 
cada vez mais com a consciência e o sentimento da presença do desconhecido no conhecido, 
do enigma no banal, do mistério em todas as coisas e, em particular, dos avanços do mistério 
em todos os avanços do conhecimento.”
SAIBA MAIS
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Edgar_Morin,_2011_(cropped).jpg
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Saber, sentir e querer
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No livro Saberes globais e saberes locais: o olhar transdisciplinar, de 2000, o sociólogo 
afirma que o nosso cotidiano vive sempre em busca de sentido. Esse sentido, porém, 
não provém da exterioridade de nossos seres, antes, emerge da participação, da fra-
ternização, do amor.
Nestas reflexões, procuramos oferecerelementos para uma compreensão mais ampla 
e integradora da nossa condição humana, demonstrando que podemos ir muito além do 
aspecto racional. Mais que seres racionais, também somos seres de afeto, de emoção, 
de sentimentos e de sensibilidades.
Mas isso não é tudo. Há ainda um outro aspecto que é próprio do humano que requer de 
nós a nossa mais interessada atenção: o fato de sermos seres livres, de uma maneira 
que nenhum outro ser vivo é. Disso trataremos na sequência.
Mapa Conceitual
Sugestão/Proposta ao Centro de soluções: Desenhar um infográfico baseado na ilustração 
a seguir: “O humano é ser sensível e sensorial, dotado de inteligência emocional e afeti-
va e motora.” — Ilustração criada com base na teoria desenvolvida por investigadores da 
Universidade de Harvard, sob a liderança do psicólogo Howard Gardner (década de 1980).
Fonte: https://cesvale.edu.br/wp-content/uploads/2017/01/8_Inteligencias.png. Acesso em: 7 jun. 2021.
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Estudo do Ser Humano Contemporâneo
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Para conhecer mais a respeito do tema que tratamos aqui, indicamos para leitura dois artigos:
SAIBA MAIS
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0102-37722011000200005&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 21 abr. 2021.
Artigo no qual a autora discute as relações entre afetividade e inteligência no desenvolvi-
mento psicológico. A abordagem parte das perspectivas psicogenéticas de quatro teóricos 
modelares: Piaget, Wallon, Vygotsky e Freud.
02. “A ciência não é totalmente científica.”
SOUSA, Jair Moisés de; ALMEIDA, Maria da Conceição Xavier de. A ciência não é totalmente 
científica. Paradigma, vol. 37, n. 2, p. 106-124, dez. 2016.
Disponível em: http://ve.scielo.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S1011-22512016000200009&lng=es&nrm=iso. Acesso em: 21 abr. 2021.
Ambos, autor e autora, abordam o conhecimento a partir das ciências da complexidade, 
como ato biológico, animal, humano, psíquico e existencial. Destacam ser o pensamento hu-
mano caracterizado pela “existencialidade” resultante de uma constelação de fatores, assu-
mindo que os desejos, os temores, as fantasias, a cultura, as crenças e o tempo histórico se 
infiltram em nossas ideias e contaminam a relação entre sujeito e conhecimento. E, por essa 
razão, não é sustentável a suposição da neutralidade científica. Daí a conclusão: a ciência 
não é totalmente científica.
01. “As relações entre afetividade e inteligência no desenvolvimento psicológico”
SOUZA, Maria Thereza Costa Coelho de. As relações entre afetividade e inteligência no de-
senvolvimento psicológico. Psicologia: Teoria e Pesquisa, vol. 27, n. 2, p. 249- 254, jun. 2011.
01. I Am
I AM: você tem o poder de mudar o mundo. Direção de Tom Shadyac. Elenco: Desmond Tutu, 
Noam Chomsky, Ray Anderson. Estados Unidos: Universal Pictures, 2010. (80 min).
A produção que ficou conhecida como “I AM” procura responder a questões bem básicas, 
levantadas pelo diretor de Hollywood Tom Shadyac: O que está errado no mundo? Que po-
demos fazer sobre isso?
O diretor Tom visita escritores, poetas, professores, líderes religiosos e cientistas — dentre 
eles: Howard Zinn, Lynn McTaggart, Desmond Tutu, Thom Harmann, Coleman Barks —, e 
lhes dirige as mesmas perguntas básicas. Faz isso tentando descobrir o problema fundamen-
TEXTO COMPLEMENTAR (DOCUMENTÁRIO)
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722011000200005&lng=en&nrm=iso
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722011000200005&lng=en&nrm=iso
http://ve.scielo.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1011-22512016000200009&lng=es&nrm=iso
http://ve.scielo.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1011-22512016000200009&lng=es&nrm=iso
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Saber, sentir e querer
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4. SABER, SENTIR E QUERER: LIBERDADE E DECISÃO
Imagine que você é uma formiga operária. Durante milhões de anos, o formigueiro 
funcionou da mesma maneira, com as formigas desempenhando impecavelmente suas 
respectivas funções na colônia: a rainha, enorme, com suas asas imponentes, é res-
ponsável pela postura dos ovos; os machos têm função meramente reprodutiva; mas as 
operárias, fêmeas estéreis, são as que realizam todos os demais trabalhos na colônia, 
principalmente a coleta de alimentos e escavação dos túneis do formigueiro.
Nesses milhões de anos, nunca se ouviu falar em uma rebelião das formigas, exigindo 
mudanças no sistema de castas da colônia ou protestando a respeito das mordomias da 
rainha, nem da ociosidade dos machos, ou exigindo melhoria nas condições de trabalho.
Imagine que, certa manhã, você acorda e, num insight, toma consciência do quanto você, ope-
rária, é desfavorecida nesse sistema de castas. Bem, para não dizer que isso nunca aconteceu, 
sabemos de pelo menos dois casos, ambos nas telas do cinema: Formiguinhaz e Vida de Inseto.
Formiguinhaz (1998) é um longa de animação produzido pela Dreamworks. A personagem 
principal é uma formiga operária chamada Z, frustrada por ter que realizar um trabalho re-
petitivo e monótono que parecia não ter sentido nem trazer qualquer tipo de satisfação ou 
realização pessoal. Além disso, essa formiga operária acaba se apaixonando pela princesa, 
filha da rainha da colônia, sendo essa uma paixão impossível num sistema de castas.
tal que causa todos os outros problemas. Considera as respostas relacionando-as com as 
suas próprias escolhas e opções de vida. O resultado é admirável, pois Tom Shadyac decide 
mudar radicalmente seu estilo de vida, de acordo com o que considera realmente importante. 
Essa produção nos ajuda a também repensarmos as nossas próprias opções e a hierarquizar 
mais consistentemente o nosso dia a dia, além de entender melhor como funciona na nature-
za o dilema que nos coloca entre o egoísmo e o altruísmo.
Figura 19. Formiguinhaz
Fonte: https://pt.wikipedia.org/
wiki/Ficheiro:Antzposter.jpg. 
Acesso em: 7 jun. 2021.
Figura 20. Vida de Inseto
Fonte: https://pt.wikipedia.org/
wiki/Ficheiro:A_Bug%27s_Life.
jpg. Acesso em: 7 jun. 2021.
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Vida de Inseto (1998), produzido pela Disney/Pixar, tem como protagonista uma formiga 
desajustada chamada Flik, que tem estranhas ideias que perturbam a ordem na colônia, 
pois procura modificar o modo como as coisas funcionam no formigueiro e na natureza.
Por que essas histórias de rebeldia nos interessam? Porque nos damos conta de que 
a nossa condição humana só é possível porque somos homo sapiens, isto é, seres de 
razão e consciência; homo affectivus, seres sensíveis, emotivos e amorosos; e, ainda 
homo volens, seres de vontade, dotados de liberdade pela qual, diferente de qualquer 
outra espécie, podemos fazer escolhas éticas.
A BUG’S Life (br. Vida de Inseto). Direção de John Lasseter. Estados Unidos da América: Pixar 
Animation Studios e Walt Disney Pictures. 1998. (95 min.)
ANTZ (br. FormiguinhaZ). Direção de Eric Darnell e Tim Johnson. Estados Unidos da América: 
Estados Unidos da América: Dreamworks Animation. 1998. (83 min.)
SAIBA MAIS
4.1 QUEDA OU LIBERTAÇÃO DO INSTINTO
O ser humano é, essencialmente, um ser rebelde, 
inconformado, que não se sente pronto, está per-
manentemente se reinventando. Não é como as 
borboletas, as tartarugas marinhas ou os patos sel-
vagens, que têm uma programação genética irre-
torquível que determina seu comportamento e dita, 
por exemplo, quando e para onde devem migrar no 
período de acasalamento, ou mesmo, sem precisar 
receber nenhuma instrução de um indivíduo adulto, 
já nascem sabendo o que têm de fazer e para onde 
têm de voar ou nadar.
Não deixa de ser intrigante pensarmos que pro-
vavelmente, por muitas e muitas eras, os nossos 
ancestrais se comportavam como as outras es-
pécies, prisioneiros dos seus instintos. Reprodu-
ziam o script da natureza, isto é, agiam de acor-
do com o que estava prescrito no DNA. Mas em 
algum momento aconteceu uma grande revolução, 
talvez a maior de todas as revoluções do univer-so: um dos nossos tataravôs ou tataravós resol-
veu desobedecer aos instintos e escolheu agir 
de maneira diferente.
Filósofos como Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) defendiam a noção de que houve 
um estágio pré-civilizatório no qual nossos ancestrais ainda eram selvagens. Essa teria 
Figura 21. Jean-Jacques Rousseau 
(1712-1778)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Jean-Jacques_Rousseau_(painted_
portrait).jpg. Acesso em: 7 jun. 2021.
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Saber, sentir e querer
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sido uma fase amoral, pois, vivendo em estado de natureza, não haveria consciência do 
bem ou mal. Não havendo sociedade, os seres dispunham de sua vida em conformida-
de com os instintos, cujas limitações únicas eram aquelas impostas pela natureza. Rou-
sseau entendia que nesse tempo éramos livres. Contudo, uma pessoa limitada pelos 
instintos não é, exatamente, livre. A liberdade pressupõe a faculdade de fazer escolhas, 
e aquele indivíduo que vive por instinto está condenado a agir sempre de acordo com o 
que lhe ditam os seus impulsos mais primitivos.
Não é difícil perceber que os instintos presentes em qualquer espécime vivo atuam di-
ferentemente sobre os seres humanos. Mesmos os impulsos mais primitivos, tais como 
os de sobrevivência, conservação, desejo sexual, competição, agressão, nem sempre 
dominam o comportamento humano. Ao contrário, na maior parte do tempo, o ser hu-
mano luta consigo mesmo para controlar seus instintos. E essa é uma das particularida-
des que nos distanciam dos “selvagens”.
Nos livros sagrados das chamadas religiões Abraâmicas 
(judaísmo, cristianismo e islamismo), há uma história 
que narra a transição dos seres humanos de um estado 
de inocência para um estado de culpa, de um tempo de 
perfeita obediência e harmonia com a natureza e o pró-
prio Deus para um estado de desobediência e de ruptu-
ra dessa harmonia. Os primeiros seres humanos, Adão 
e Eva, que viviam com Deus em um jardim paradisíaco, 
se deixam enganar pela serpente e cedem à tentação 
de comer determinado fruto, justo aquele que tinha sido 
terminantemente proibido por Deus. A narrativa diz que 
nesse instante o homem e a mulher tomaram consciên-
cia de que estavam nus e, envergonhados, tentaram se 
esconder. Mas foram encontrados por Deus e acabaram 
sendo expulsos do Paraíso.
CURIOSIDADE
Figura 22. A tenção de Adão e Eva 
no Paraíso, de Jan Brueghel I (1590)
Fonte: https://picryl.com/media/jan-bruegheli-
the-temptation-of-adam-in-paradise-abc1db. 
Acesso em: 20 abr. 2021.
Teriam os mitos da Queda, presentes em tantas culturas, uma outra razão de ser que 
não a de apontar nossa separação do ser divino? Seriam eles uma tentativa de explicar 
a nossa passagem da condição de selvagens para a condição de humanos?
Ao que parece, somos rebeldes, porque nos recusamos a seguir o script dos instintos, 
do DNA, da natureza e, quem sabe, aqueles ditados pelos deuses. Por essa razão não 
deve nos surpreender que os seres humanos também questionem certas regras sociais 
e rompam com costumes e tradições. Tudo porque, quanto mais livres dos instintos nós 
formos, mais livres nós somos para escolher o que queremos ser. É preciso ser livre 
“de”, para se ser livre “para”.
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4.2 QUERER, PODER E DEVER
O filósofo brasileiro Mario Sergio Cortella (1954-), em 
suas palestras sobre Ética, costuma falar sobre o dile-
ma que vivemos cotidianamente, como seres huma-
nos, todas as vezes que temos que tomar decisões, 
pois nos deparamos com três perguntas fundamen-
tais: Quero? Posso? Devo? Isso porque, explica ele, 
há coisas que queremos, mas não podemos.
Com isso, temos diante de nós um horizonte que, 
mais uma vez, nos distingue significativamente dos 
demais seres vivos. E isso traz sérias implicações: 
se o dilema entre querer, poder e dever se tornar 
insolúvel, em determinadas situações, o resultado 
pode ser muito frustrante e corremos o risco de 
experimentarmos momentos de tristeza, depressão e infelicidade. Por outro lado, naque-
les momentos em que há a convergência entre querer, poder e dever, então vivenciamos 
aqueles momentos sublimes de plena satisfação, alegria e felicidade. E esses momentos, 
mesmo sendo raros (ou, talvez, justamente por serem raros) fazem tudo valer a pena.
Figura 23. Mario Sergio Cortella (1954-)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mario_
Sergio_Cortella#/media/Ficheiro:Mario_Sergio_
Cortella_2012.jpg
Quero fazer uma turnê pela Europa, mas não posso porque não tenho recursos financeiros suficien-
tes para isso. Há, também, coisas que queremos e podemos, mas não devemos. Pense em alguém 
que deseje se drogar. Essa pessoa quer e, se tiver recursos, pode, mas talvez não deva, por vários 
motivos: ou porque é proibido por lei ou porque essa atitude poderá prejudicá-lo de várias maneiras 
na sua saúde física, emocional, relacional, profissional... E há, ainda, aquelas coisas que podemos 
e devemos, mas não queremos. Pense nas obrigações que temos de pagar contas ou impostos. 
Fazemos isso porque devemos e podemos, mas nem sempre porque queremos.
EXEMPLO
É verdade que um animal que viva subordinado aos seus instintos não experimente o mes-
mo tipo de frustração, tristeza, depressão ou infelicidade, como os humanos. Mas também 
é verdade que nunca experimentará a plena satisfação, alegria e felicidade dos humanos.
01. Assista à entrevista concedida por Mario Sergio Cortella ao Jô Soares, na qual ele fala de ética e 
das três perguntas fundamentais: Quero? Posso? Devo? (Ver especialmente a partir do minuto 12:30):
PROGRAMA do Jô. Professor Mario Sergio Cortella lança livro, 2021. 1 vídeo (21 min 47s). 
Publicado por Globoplay. 
SAIBA MAIS
Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/844221/. Acesso em: 20 abr. 21.
https://globoplay.globo.com/v/844221/
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02. No vídeo a seguir, o filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), em entrevista exclu-
siva concedida ao Núcleo de Pesquisa em Estudos Culturais, comenta a respeito da dicoto-
mia entre a liberdade e a segurança, dizendo (a partir do minuto 21:50):
Há dois valores essenciais que são absolutamente indispensáveis para uma 
vida satisfatória, recompensadora e relativamente feliz: Um é segurança e 
o outro é liberdade. [...] Segurança sem liberdade é escravidão, e liberdade 
sem segurança é um completo caos. (BAUMAN, 2011, [n. p.])
ENTREVISTA exclusiva Zygmunt Bauman, 2011. 1 vídeo (29 min 41s). Publicado pelo canal 
Núcleo de Pesquisa em Estudos Culturais.
Disponível em: https://youtu.be/1miAVUQhdwM. Acesso em: 20 abr. 21.
4.3 CICLO E DESEJO MIMÉTICO
O brilhante René Girard (1923-2015), filósofo, antropólogo, historiador, sociólogo, entre 
tantas outas coisas, ficou muito conhecido por uma teoria que ele chamou de Desejo 
Mimético, ou Teoria do Bode Expiatório.
“Vastas camadas sociais se encontram às voltas com flagelos tão terríveis como a peste ou por vezes 
com dificuldades menos visíveis. Graças ao mecanismo persecutório, a angústia e as frustrações cole-
tivas encontram uma satisfação vicária sobre vítimas que facilmente provocam a união contra elas, em 
virtude de sua pertença a minorias mal integradas etc. [...]
Nossa compreensão disto resulta da descoberta dos estereótipos da perseguição em um texto. Uma 
vez adquirida, gritamos quase sempre: a vítima
é um bode expiatório. Todo o mundo entende perfeitamente esta expressão; ninguém hesita sobre o 
sentido que é preciso lhe dar. Bode expiatório designa simultaneamente a inocência das vítimas, a pola-
rização coletiva que se efetua contra elas e a finalidade coletiva dessa polarização. Os perseguidores se 
fecham na “lógica” da representação persecutória e não podem mais dela sair. [...]
Os bodes expiatórios não curam, sem dúvida, nem as verdadeiras epidemias, nem as secas, nem as 
inundações. [...]
Em contrapartida, quando estas causas deixam de atuar, o primeiro bode expiatório que vier porá 
fim à crise, liquidando suas sequelas interpessoais pela projeçãode todo malefício sobre a vítima. O 
bode expiatório age apenas sobre as relações humanas perturbadas pela crise, mas dará a impressão 
de agir igualmente sobre as causas exteriores, as pestes, as secas e outras calamidades objetivas” 
(GIRARD, 2004, p. 37-41).
Bode expiatório, segundo René Girard
https://youtu.be/1miAVUQhdwM
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Tentando explicar o que ele pensava em pouquíssimas palavras, podemos dizer que 
suas observações sobre o comportamento do ser humano em sociedade o levaram a 
concluir que todo conflito é o resultado do desejo e todo desejo é a imitação do desejo 
de outra pessoa. Posto de outra forma, a tendência do ser humano é reproduzir o com-
portamento de outra pessoa. Mimetismo é imitação.
No caso da violência, constata-se um processo mimético, isto é, um ciclo vicioso de 
repetição: a violência gera uma reação violenta que, por sua vez, torna a estimular 
mais violência.
Em um de seus livros, Girard exemplifica o processo do ciclo mimético analisando os 
relatos da crucificação de Jesus Cristo. Ali se pode verificar concretamente uma verda-
deira sequência mimética. Num contexto de extrema pressão e repressão social, Jesus é 
escolhido como “bode expiatório”. O ódio dos que exigem a condenação de Jesus, 
mesmo sem apresentarem provas contra ele, vai se replicando em várias instâncias: o 
Rei Herodes, mesmo sem convicção, cede à vontade dos líderes do Sinédrio e encami-
nha o réu para Pilatos. Este, mesmo sem um motivo efetivo, recua diante dos gritos de 
“Crucifica-o! Crucifica-o!”, e acaba por decretar a pena máxima para um inofensivo arte-
são galileu. Os soldados, sem maiores razões, reproduzem os ânimos exaltados dos que 
vociferavam contra Jesus e passam a esbofeteá-lo, a espancá-lo, e cravam-lhe uma co-
roa de espinhos na cabeça. Já pregado na cruz, além das dores físicas, Jesus é subme-
tido às torturas psicológicas da multidão, dos próprios guardas que continuam a insultá-lo 
e até de um dos ladrões que também estava crucificado, ao seu lado.
É precisamente nesse instante que o ciclo sofre uma interrupção. O ladrão que estava 
do outro lado interrompe o ciclo mimético. Ele não reproduz o padrão que todos estão 
seguindo. Ao contrário, ele repreende o parceiro da outra cruz dizendo que aquilo não 
estava certo, que ofender alguém que não tinha culpa nenhuma estava errado.
O autor supracitado chama a atenção, ao final, para a reação do próprio Cristo. Era 
de se esperar que os condenados, no momento do suplício, também reproduzissem 
o comportamento violento. Muitos, do alto da cruz, vociferavam, cuspiam e amaldi-
çoavam seus algozes. Mas também Jesus quebra o ciclo mimético e, em lugar de 
ofender, suplica ao seu Deus que perdoe aquela gente, porque aquelas pessoas, 
no fundo, não sabem o que fazem.
A conclusão a que chegamos, a partir dessa análise, é que a tendência é reproduzirmos 
o comportamento dos nossos antepassados e os nossos vizinhos ad infinitum, a menos 
que alguém, deliberadamente, decida dizer: Basta!
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Saber, sentir e querer
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4.4 IDEOLOGIAS E O LIVRE ARBÍTRIO
Há diversos debates a respeito do questionamento se nós, seres humanos, gozamos de 
livre arbítrio, isto é, se temos mesmo liberdade para fazer escolhas na vida. Há quem 
diga que nosso destino já está traçado. Os religiosos acreditam que alguma divindade 
toda-poderosa predestinou cada detalhe da nossa existência. Alguns cientistas têm opi-
nião semelhante, só que, em lugar da divindade, creem que quem dita essas regras é 
uma molécula, chamada DNA, que todos os seres vivos carregam no núcleo de cada 
célula e que contém toda a informação genética necessária para determinar todas as 
características de um organismo.
Os que mudam o mundo, portanto, são os que arriscam romper com o ciclo mimé-
tico no qual, como sociedade, estamos presos. Enquanto continuarmos a revidar a 
violência com violência, só poderemos colher mais violência. A única chance que 
temos de colher paz é se ousarmos quebrar o ciclo e revidarmos a violência com 
uma atitude pacificadora.
Estamos diante de um dilema. Se um dia fomos presos pelos instintos e tentamos 
nos libertar dele teria sido para nos darmos conta de que caímos prisioneiros dos 
deuses ou do DNA? E o que dizer das ideologias, que são correntes que nos pren-
dem sutilmente a padrões sociais baseados em interpretações e explicações distor-
cidas do real?
As ideologias mais bem sucedidas são aquelas 
que não são percebidas como tais. São aquelas 
mundividências que nos fazem crer que são a 
expressão mesma da verdade. Contudo, as ide-
ologias estão sempre a serviço de interesses que 
não querem que as pessoas vejam a realidade 
tal como ela é. Muitos recursos, esforços e téc-
nicas bem criativas são empregadas na formula-
ção e propagação de ideologias. E os meios de 
comunicação de massa são ferramentas eficien-
tes que se prestam muito a propagá-las.
A ideologia é uma ameaça terrível, porque ela é 
a opressão introjetada. É o processo pelo qual 
o oprimido passa a desejar a opressão e, até 
mesmo,a defender e admirar o opressor.
Figura 24. Nelson Rolihlahla Mandela 
(1918-2013)
Fonte: https://simple.wikipedia.org/wiki/File:Nelson_
Mandela-2008_cropped.jpg. Acesso em: 7 jun. 2021.
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As ideologias nos cercam de todos os lados: na falácia da supremacia da mercadoria 
sobre as pessoas; nas justificativas forjadas para os conflitos civis e as guerras mun-
diais; no mascaramento das violações dos direitos fundamentais e dos princípios bási-
cos da dignidade humana; nas falsas justificativas para a devastação da natureza; nas 
atitudes negacionistas diante das epidemias e pandemias.
Por essa razão, da mesma forma que precisamos romper com ciclos miméticos, precisa-
mos encontrar meios de reconhecer uma ideologia e contorná-la, principalmente aquela 
a serviço da exploração do povo e que se presta à degradação da dignidade humana.
Não temos certeza absoluta de se estamos mesmo à mercê dos deuses ou do DNA, 
mas é inegável que, aqui e acolá, surgem pessoas como aquele ladrão da cruz, dispos-
to a interromper processos milenares de violência. 
Para não ficarmos restritos a exemplos de um passado tão remoto, podemos invo-
car aqui a lembrança de Nelson Mandela (1918-2013), líder da África negra, vencedor 
do Prêmio Nobel da Paz (1993). Mandela foi perseguido por sua atuação contrária 
ao sistema segregacionista, pelo qual a maior parte da população africana era tra-
tada como gente de segunda classe. Condenado por suas ideias, palavras e ações, 
Mandela passaria 27 anos preso, a maior parte do tempo confinado na ilha-prisão de 
Robben, localizada a 11 km da Cidade do Cabo.
O Apartheid foi uma das ideologias mais perversas que brutalizou a África do Sul de 1948 
a 1994. Uma ideologia abençoada por religiosos e efetivada por políticos tão estreitamente 
aliados que seu implementador foi um pastor protestante que se fizera primeiro-ministro.
IMPORTANTE
Quase três décadas de tentativa de domesticação, na prisão, não foram suficientes 
para determinar o comportamento de Mandela. Ele nunca se rendeu ao ciclo mimético 
do ódio. Ele tinha consciência de que a prisão não tenta roubar apenas a liberdade do 
indivíduo. Mais que isso, ela tenta privá-lo de sua identidade. Mas ele fez a escolha 
difícil: não entregou sua identidade ao destino. Depois de muita mobilização nacional e 
internacional, foi liberto, finalmente.
Suas palavras a respeito são de uma força admirável: “Quando eu saí em direção ao 
portão que me levaria à liberdade, eu sabia que, se eu não deixasse minha amargura 
e meu ódio para trás, eu ainda estaria na prisão”. Mais uma vez, ele teve a ousadia e a 
coragem de romper com o ciclo mimético.
A liberdade que ele conquistou foi muito mais do que a das cadeias que o detinham. 
Suas palavras foram: “Conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, au-
tomaticamente,

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