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FONOAUDIOLOGIA EDUCACIONALFONOAUDIOLOGIA EDUCACIONAL Professora Ma. Gisele Signorini Zampieri REITOR Prof. Ms. Gilmar de Oliveira DIRETOR DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Ms. Daniel de Lima DIRETORA DE ENSINO EAD Prof. Dra. Geani Andrea Linde Colauto DIRETOR FINANCEIRO EAD Prof. Eduardo Luiz Campano Santini DIRETOR ADMINISTRATIVO Guilherme Esquivel SECRETÁRIO ACADÊMICO Tiago Pereira da Silva COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Prof. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Prof. Ms. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Ms. Jeferson de Souza Sá COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE GESTÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS Prof. Dra. Ariane Maria Machado de Oliveira COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE T.I E ENGENHARIAS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE SAÚDE E LICENCIATURAS Prof. Dra. Katiúscia Kelli Montanari Coelho COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS Luiz Fernando Freitas REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling Caroline da Silva Marques Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Jéssica Eugênio Azevedo Kauê Berto PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO André Dudatt Carlos Firmino de Oliveira Vitor Amaral Poltronieri ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO Carlos Eduardo da Silva DE VÍDEO Carlos Henrique Moraes dos Anjos Yan Allef FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP Z26f Zampier, Gisele Signorini Fonoaudiologia educacional / Gisele Signorini Zampier. Paranavaí: EduFatecie, 2022. 127 p. 1.Inclusão escolar. 2. Professores de fonoaudiologia. 3.Fonoaudiologia. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD:23.ed. 371.9 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9 /1577 As imagens utilizadas neste material didático são oriundas dos bancos de imagens Shutterstock. 2022 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2022. Os autores. Copyright C Edição 2022 Editora Edufatecie. O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. https://www.shutterstock.com/pt/ AUTORA 3 Professora Ma. Gisele Signorini Zampieri ● Bacharel em Fonoaudiologia – Unicesumar (2005) ● Mestre em Distúrbios da Comunicação – UTP – Universidade Tuiuti do Paraná (2010) ● Discente do Programa de Doutoramento em Ciências da Reabilitação UEL/ Unopar. ● Professora do Curso de Fonoaudiologia da UNINGÁ ● Professora de pós-graduação na Faculdade Cruzeiro do Oeste ● Professora de pós-graduação UNYLEYA EDITORA E CURSOS S/A Ampla experiência em fonoaudiologia clínica, atendendo principalmente na área de linguagem e fonoaudiologia Educacional, prestando assessoria educacional. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/4225776925071511 http://lattes.cnpq.br/4225776925071511 4 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Nunca antes a escola precisou de tanta ajuda como em nossos dias. O grande volume de crianças que chegam à escola, vindas de meios tão diversos, têm prejudicado um atendimento que vem deteriorando ano a ano. As estatísticas de repetência e evasão confirmam esse quadro, que não atinge apenas a escola pública, mas também o ensino particular. Cada vez mais a escola e o professor têm que lidar com questões que não deveriam fazer parte de suas atribuições. Mas elas estão aí e, se a escola e o professor quiserem cumprir sua função de introduzir a criança na cultura letrada, fazendo do aluno um leitor e um escritor, como bem sugeriu Paulo Freire, têm que se munir de conhecimentos para compreender as dificuldades de seus alunos e poder ajudá-los a superá-las. Daí a oportunidade desta disciplina, que traz o conhecimento, pesquisas, autores e conhecimento de profissionais da área da saúde, principalmente fonoaudiólogos, para o uso escolar. No primeiro capítulo, são abordadas as funções do fonoaudiólogo na escola a importância desta parceria fono-professor. Um pouco da história de um trabalho conjunto é trazido para o aluno. No capítulo 2 está dedicado à “normalidade”, estudos sobre desenvolvimento dos órgãos fonoarticulatórios e das funções neurológicas subjacentes, desenvolvimento da voz, da função auditiva e desenvolvimento motor fornecem subsídios ao leitor para que compreenda o desenvolvimento da linguagem, da leitura e da escrita. Para o capítulo 3, está sendo abordado os “distúrbios” para você aluno ter informações sobre a caracterização, a etiologia e o tratamento destes distúrbios. A prevenção é sempre focalizada, o que dá ao professor diretrizes para aperfeiçoar sua prática como educador, atuando inclusive junto às famílias. O capítulo final é voltado às questões presentes na prática escolar: a voz como instrumento de trabalho e os cuidados que ela demanda; a presença de uma criança com aparelho de amplificação sonora e como lidar com esse. O acervo de conhecimentos acumulados pela fonoaudiologia e sua prática em equipes multidisciplinares, podem e devem ser empregados nesse esforço, seja na prevenção, no diagnóstico ou na intervenção, para que toda criança encontre o caminho de seu pleno desenvolvimento intelectual, emocional, social e profissional. SUMÁRIO 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos ● Origens de uma proposta; ● Um campo de trabalho em desenvolvimento; ● Fonoaudiologia escolar junto a um sistema de ensino público; ● Discutindo a fonoaudiologia na escola. Objetivos da Aprendizagem ●Conceituar e contextualizar a história da fonoaudiologia; ●Compreender a importância da atuação fonoaudiológica na rede de ensino; ●Estabelecer a importância da relação fonoaudiólogo e pedagogo. 1UNIDADEUNIDADEFONOAUDIOLOGIA ESCOLARProfessora Me. Gisele Signorini Zampieri INTRODUÇÃO Nessa unidade será apresentado um breve histórico do surgimento da Fonoaudiologia para situar o início de sua relação com a Educação no Brasil. A fonoaudiologia é a ciência dos distúrbios da comunicação humana, ou seja, alterações na fala, linguagem, som, audição, órgãos articulatórios e funções neurovegetativas (mastigação, sucção, deglutição e respiração), a atuação dos profissionais dessa área ocorre em escolas, hospitais, clínicas, centros de saúde, indústrias, instituições, teatros, televisão, empresas de aparelhos auditivos, etc.,sempre buscam prevenir sua ocorrência e trabalhar com eles para diagnosticar e tratar os indivíduos, minimizar as sequelas de tais doenças, e promover o mais eficaz pode integrar. Nas escolas, os fonoaudiólogos atuam de forma preventiva por meio de triagem, participação da equipe e orientação dos professores para que possam detectar possíveis portadores de distúrbios de comunicação em sala de aula, além de fornecer informações sobre os cuidados com a voz das crianças. Ao situar o lugar de nascimento da Fonoaudiologia, visa iluminar o movimento posterior que foi o de seu distanciamento do ambiente em que surgiu – o da Educação. Sabe-se que hoje, a Fonoaudiologia está na área da Saúde e bem próxima de um discurso médico-organicista. 7UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR Apesar de alguns autores mencionarem que a Fonoaudiologia está presente no Brasil desde a época do Império, com a fundação do Colégio Nacional (RJ), em 1855, que tinha como público alvo a população surda e o ensino de surdos (GOULART et al., 1981 apud CAVALHEIRO, 1999), a literatura do campo indica o seu início no país no momento da criação dos primeiros cursos universitários, por volta de década de 1960. De acordo com Berberian (1993; 1995) desde a década de 1920, já haveria uma preocupação com os “problemas de linguagem” e com a normatização de uma língua padrão. Esses dois vértices parecem ter sido solo da demanda por um profissional que reabilitasse a fala de pessoas caracterizadas como “desviantes” em relação à língua da comunidade. Diz a autora que todo marco histórico, é precedido por um processo social, querendo dizer que ele não é fruto de puro acaso e nem de mera coincidência. O reconhecimento de “patologias da linguagem” é bastante antigo, como atestam trabalhos médicos, educacionais e filosóficos, embora a prática fonoaudiológica tenha surgido apenas no século XX. No Brasil, o que conhecemos hoje por Fonoaudiologia tem raízes no Estado Novo e seu desejo de padronizar uma língua no país. No final século XIX, diz Berberian (1993), por efeito da diversidade e do elevado número de imigrantes para o Brasil, que vinham em busca de emprego nos grandes centros industriais, foram notadas diferenças na língua portuguesa. A “mistura” de línguas e dialetos levantou a preocupação do Estado com o desenvolvimento sociocultural do país - acreditava- se que ela tornava o Brasil uma nação sem língua própria, desse modo: era preciso impor a TÓPICOTÓPICO 1 ORIGEM DE UMA ORIGEM DE UMA PROPOSTAPROPOSTA 8UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR 9UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR ideia de reconstrução social como uma forma de modernização e progresso do país, sendo que as práticas de normatização da língua fizeram parte deste projeto de reconstrução de um Estado nacional: o Estado Novo (BERBERIAN, 1993, p. 11). O “projeto de reconstrução” teve seu berço na Escola e sua meta foi (r)estabelecer a língua padrão, assumida como base para a ordenação da diversidade moral e de comportamentos entre grupos sociais. Para isso, profissionais de diversas áreas (médicos, engenheiros, sanitaristas, educadores e agentes públicos) foram convocados a participar deste movimento pela Escola, local tido como o mais apropriado para lidar com “as raízes” dos problemas nacionais (BERBERIAN, 1993; 1995; DIDIER, 2006). Surge, então, nos anos de 1930, a campanha de nacionalização e regeneração do ensino, cabendo à Escola enfrentar os danos da invocada desintegração social do país. Verri (1998) afirma que os “reformadores da língua” acreditavam que, caso se alcançasse a unificação da língua e uma padronização ortográfica da escrita, seria possível rebaixar as taxas de analfabetismo – o que contribuiria para alcançar metas de produtividade e modernização do país. A escola pretendia não só instruir e moralizar a sociedade, atingindo a família e a criança. Acontece que, sob esse ideal reformador, frequentar a escola tornou-se um dever “em prol de um bem maior, o desenvolvimento da Nação” e, por aí, ela deixa de cumprir o papel de instrumento crítico e democrático. De fato, a proposta educacional da nova escola afetou a pedagogia escolar, culminando na tecnificação e na racionalização do ensino, o “tecnicismo educacional”, que podemos ver até hoje influenciando os modos de ensinar, com uma rigidez metodológica que coloca o professor como quem controla esse fazer através de atividades mecanizadas, sem serem problematizadas, incluindo testes para avaliar e classificar as aptidões dos alunos (BASHA e OSÓRIO, 2004). Advogava-se que o ensino deveria ser dirigido de acordo com as “capacidades individuais” do aluno e esperava-se que, por esse caminho, haveria diminuição de repetentes e “agrupamento, moral e físico, dos diferentes”, que se tornaram uma preocupação. Eles eram vistos como “anormais” e tidos como razão dos insucessos escolares, assim, os testes eram aplicados para classificar os alunos por um suposto nível intelectual e havia também a classe “dos principais”, as de “aceleração” e as “dos débeis ou instáveis”. Como se pode antever, a brecha em que a Fonoaudiologia surgirá vai sendo aberta, certamente de forma não deliberada, assim como o lugar do fonoaudiólogo educacional, uma vez que, do ideal “reformador” de padronização da língua (oral e escrita) é parte ine- rente eliminar erros e suprimir. Verri (1998) informa que, além de classificar os alunos, a 10UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR Escola também deveria oferecer programas para os diferentes níveis, assim como orientar a equipe de professores sobre como controlar o convívio entre os diferentes níveis. Acontece que, muito do que era designado como “distúrbio de comunicação”, não passava de meros desvios do ideal de língua padrão. Assim, muitas vezes, regionalismos e estrangeirismo em falas de crianças (filhas de migrantes e imigrantes) eram qualificados como “desviantes” e, na sequência, alocados na categoria dos “distúrbios”. As crianças, por sua vez, eram postas na categoria dos “anormais” e essa aberração de um ideal pautado na noção de “higiene”, não escondia o olhar voltado para a formação de uma elite que deveria “comandar o país” – este era, de fato, o objetivo do Ministério da Educação na época do Estado Novo – da Era Vargas (BERBERIAN, 1993; 1995). Nesse ambiente sócio-histórico e escolar, a “classe dos anormais” deveria receber cuidados especiais. Alguns professores passaram a ser auxiliados por médicos e linguistas – essa relação modificou seu papel de educador, já que eles tornaram-se “responsáveis” pela detecção de anormalidades dos alunos (falas ou escritas que fugissem do padrão ideal encontravam-se nessa categoria). Nessa perspectiva, diversidades na fala eram consideradas “defeitos”. Iniciou-se então, naquela época, o que se concebe como “medicalização” da Pedagogia – um problema que vem sendo debatido por educadores e na Área da Saúde e da Educação, nos dias atuais. A uniformização da língua não foi objetivo alcançado e mesmo assim, iniciativas isoladas de criação de classes especiais e de formação de professores especializados foram criadas. Elas miravam a “correção dos vícios da linguagem”. Surgem, então, os ortofonistas que, como nos mostra Berberian (1995), Cavalheiro (1997), Didier (2006), Basha e Osório (2004) foram os primeiros a exercerem o que conhecemos hoje como Fonoaudiologia, nas décadas de 40 e 50. Correlacionava-se “correção da fala” com práticas no magistério: vemos aí o surgimento da Fonoaudiologia dentro da Educação. Os ortofonistas visavam diagnosticar e qualificar o tipo de “patologia” do aluno – note-se que migramos do domínio escolar para o das doenças. Para que o papel do ortofonista pudesse ser realizado com maior segurança, iniciaram-se cursos de especialização, voltados para o conhecimento das “patologias específicas de linguagem”. As ideias de distúrbio e de anormalidade imprimiramuma direção que se estabeleceu como principal na Fonoaudiologia – a de patologia e de tratamento. No horizonte, está a clínica. Em 1947, o Laboratório de Fonética e Acústica (LFA), vinculado à Secretaria de Educação de São Paulo, determinou como meta realizar pesquisas acerca dos distúrbios de 11UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR fala e voz (FIGUEREDO NETO, 1988; DIDIER, 2006). Nesse enquadre, o perfil do ortofonista (futuro fonoaudiólogo) adquiriu um caráter predominantemente clínico e voltou-se para o atendimento individual. O desenvolvimento das pesquisas e do próprio Laboratório, afastou a Fonoaudiologia da Educação e na década de 1950, foram situados na Área da Saúde e tendo como objetivo “diagnosticar e eliminar patologias”. Na década de 1960, aparecem os primeiros cursos universitários em Fonoaudiologia fortemente marcados pela presença da Medicina e da Psicologia, essas áreas forneceram “métodos clínicos”. O primeiro nasce em 1961, na Universidade de São Paulo (USP), dentro da Faculdade de Medicina. No ano seguinte, em 1962, é aberto o curso da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), com características bem diferentes, já que com uma “proposta humanística”. Meira (2001) comenta também sobre o modo singelo como o curso da PUCSP surgiu, iniciando com duração de 1 ano, para em 1964 passar a ter duração de 2 anos. Ainda com essa autora vemos que, o status de curso superior foi sendo traçado, a partir do momento que, em 1972, passou a integrar o Centro de Educação e seu vestibular, que antes era separado dos outros cursos, passou a ser unificado. Em que pese a diferença entre eles, ambos, assinalam Verri (1998), Cavalheiro (1999) e Basha e Osório (2004) tinham como característica a mesma preocupação de formar o fonoaudiólogo para a clínica, para “atuar com indivíduos portadores de distúrbios da comunicação”, marcando, desta forma, mais uma vez, o distanciamento do fonoaudiólogo da Escola, e de formá-lo para “curar” e “normalizar” falas patológicas. Esse distanciamento interferiu, de forma negativa, pelo menos até o final da década de 1970, na relação entre o fonoaudiólogo e professor. Segundo Giroto (2003) a partir da instalação de cursos de graduação em Fonoaudiologia no país, caracterizados pela apropriação de um “fazer-dizer” emprestado do modelo clínico-médico, o fonoaudiólogo assumiu uma postura repressiva dentro da relação fonoaudiólogo/educador, relação está, resultado de um contexto histórico-social. De fato, para o educador ficou atribuído o papel de “agente detector”, na Escola, de problemas de linguagem (prováveis distúrbios) que seriam encaminhados para fonoaudiólogo para tratamento dentro da própria escola. Giroto (1999; 2003) comenta também que uma boa parcela de educadores tinha a expectativa de que o fonoaudiólogo detectasse os distúrbios, bem como realizasse diagnóstico e tratamento no ambiente escolar. Podemos dizer que, de certo modo, esse pensamento persiste. A década de 80, teve como marco a regulamentação da profissão de fonoaudiólogo, através da Lei nº 6.965, de 9 de dezembro de 1981, no qual definiu o fonoaudiólogo como: 12UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR O profissional, com graduação plena em Fonoaudiologia, que atua em pesquisa, prevenção, avaliação e terapia fonoaudiológica na área da comunicação oral e escrita, voz e audição, bem como em aperfeiçoamento dos padrões da fala e da voz (BRASIL, 1981, p. 82). Definir suas competências como: realizar trabalho preventivo nas áreas de comunicação escrita e oral, fala e audição; colaborar em fonoaudiologia com outras ciências; integrar equipes: Orientação e planejamento escolar, incluindo aspectos de prevenção relacionados a problemas de terapia da fala (BRASIL, 1981). Desde então, o fonoaudiólogo tem desenvolvido sua prática mais voltada para as questões terapêuticas e, limitam sua atuação no contexto educacional a triagens e assessorias, evita-se, nesta função escolar, ações diretas com o aluno, entendendo-se que elas caracterizariam “uma prática clínica na escola” (e não ação colaborativa), sem que haja uma reflexão acerca do que é proposto pelo CFFa , para que a atuação educacional seja repensada e não ocorra somente mais na forma de triagens e assessorias. Segundo Cavalheiro (1999), em decorrência da lei que regulamenta a profissão, surgem no fim dos anos 1980 e início dos anos 1990, a literatura sobre a atuação fonoaudiológica na educação abordando ângulos de propostas de inserção, contribuindo para a reflexão e construção de conhecimentos na área. TÓPICOTÓPICO 2 UM CAMPO DE TRABALHO EMUM CAMPO DE TRABALHO EMDESENVOLVIMENTODESENVOLVIMENTO 13UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR A Fonoaudiologia nasce no espaço da Educação e que, só após a criação de cursos de formação a área se consolida no campo da Saúde, assumindo um perfil nitidamente clínico. Nas duas décadas finais do século XX (em especial a partir da última), que um pensamento “preventivo” penetrou o campo da Fonoaudiologia e ele teve efeitos na reflexão sobre o papel e a atuação do fonoaudiólogo em Escolas. Em 2010, o Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa) valida a especialidade Fonoaudiologia Educacional. A seguir, será realizado um apanhado de autores fonoaudiólogos que refletiram sobre o espaço educacional, mais especificamente a Escola. Collaço (2001) relata sua experiência de dez anos (1968 a 1978) na equipe técnica de uma escola em São Paulo. Seu trabalho consistia, diz ela, em orientar os professores a respeito das dificuldades na alfabetização e discutir com eles problemas em falas das crianças. A autora destaca que o professor foi sempre valorizado por ela como aquele capaz de encaminhar o desenvolvimento e aperfeiçoamento da comunicação oral e escrita dos alunos. Bittar (2001) comenta sua experiência em três escolas particulares. O objetivo de sua presença na Escola consistia em orientar os professores quanto aos aspectos de comunicação e expressão de crianças, em detectar alunos com dificuldades de linguagem e, ainda, em orientar os pais quanto aos problemas encontrados. Sobre a fonoaudiologia escolar, a autora diz: Localizando a fonoaudiologia escolar na intersecção das áreas de Educação, Saúde e Comunicação, entendo o profissional que nela atua voltado para a 14UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR promoção do desenvolvimento da linguagem, para a proteção específica e para a detecção precoce dos distúrbios de comunicação por meio de seus agentes multiplicadores, após conquistarem sua própria transformação (Educação). Com base na Lei 6965/81 (CFFa), Lagrotta, Cordeiro e Cavalheiro (2001) assumem que a Fonoaudiologia divide-se em terapêutica, preventiva e estética e situam a Fonoaudiologia Educacional na área preventiva. As autoras falam de suas experiências com alunos numa escola de Ensino Fundamental. Ali, faziam triagens, avaliações de linguagem e instituíram grupos de reforço. No que tange aos professores, realizavam orientações sobre estratégias para o desenvolvimento de fala e escrita e enfatizavam a importância da higiene vocal para a saúde das crianças. Elas ocupavam-se, ainda, da orientação aos pais sobre atividades que poderiam ser realizadas em casa. As autoras finalizam o texto com uma pergunta sobre a orientação a professores: caberia, de fato, à Fonoaudiologia essa tarefa (quando não há demanda)? Outros fonoaudiólogos como Guedes (1997) Pinto et al. (2001) e Pereira, Santos e Osborn (1995) não têm dúvida alguma sobre a relevância da orientação a educadores: todos comentam suas experiências e insistem que o foco principal da atividade fonoaudiológica na Escola é o trabalho de orientação aos professores sobre alterações fonoaudiológicas. É possível reconhecer que o caráter clínico da atuação fonoaudiológica não foi completamente diluído, mesmo que se procurasse sustentar que o caráter “educacional” da atuaçãoa configurava como sendo essencialmente preventivo (não terapêutico, propriamente dito). Para Zorzi (2001) esse deslocamento para o “clínico” é deslizamento incontornável do próprio caráter preventivo das intervenções voltadas para a detecção (diagnóstico!) e encaminhamento para a clínica. As triagens realizadas no ambiente escolar, embora sejam consideradas como “atuação preventiva” (CAVALHEIRO, 1999), têm no horizonte a detecção e eliminação de um problema existente. Giroto (1999) já havia, na verdade, apontado para esse fato quando assevera que ações preventivas, na Escola, apoiam-se em modelos clínicos de detecção de distúrbios. Devemos então, ter cuidado com atuações que adquirem caráter curativo. Oliveira M. e Oliveira P. (1995), estranham o fato desse modo de atuação do fonoaudiólogo ter sido (e ainda ser) autorizado em algumas instituições de ensino. Fato é que, com base em comentários dos autores acima, podemos dizer que o pensamento preventivo envolve a necessidade de orientação de equipes pedagógicas que enfrentam as dificuldades do aluno ao longo do processo de escolarização. 15UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR Encontramos, assim, na literatura do campo, trabalhos que apontam para um novo rumo da prática do fonoaudiólogo na Escola que prioriza conceitos e ações pautadas na ideia de promoção de saúde nesse contexto (BITAR, 2001). Giroto (1999; 2003) salienta, por exemplo, que a partir do momento em que a proposta do campo seja de ações voltadas à prevenção das doenças e promoção de saúde, a relação com o educador pode mudar de foco porque fonoaudiólogos poderiam passar a ser vistos como coautores em ações que visem resgatar o espaço pedagógico enquanto meio propício para o estabelecimento de uma relação interativo-reflexiva que articule de forma consistente saberes voltados para um só fim. A autora ainda destaca o fato de que uma atuação integrada e cooperativa depende de um melhor entendimento, por parte dos profissionais integrantes da equipe escolar (principalmente o professor), sobre o trabalho realizado pelo fonoaudiólogo. Segundo ela, para que se estabeleça uma relação produtiva entre Fonoaudiologia e Educação, algumas ações de responsabilidade do fonoaudiólogo são importantes, entre elas: ●Conhecer as políticas públicas educacionais; ●Abandonar uma postura acrítica, a-histórica e não assumir uma atitude “ingênua” de que suas ações, por si só, resolverão o fracasso escolar; ●Compreender que o investimento na relação educador-fonoaudiólogo não deve ser apenas do fonoaudiólogo que atua no espaço físico escolar; ●Resgatar a motivação para o trabalho coletivo, a fim de torná-lo o reflexo da construção de novas relações de trabalho. Giroto (2003) ressalta a importância da relação de parceria entre fonoaudiólogos e educadores. Sabemos do desconhecimento que reina, na Escola, em torno do papel do fonoaudiólogo - fato que dificulta, sem dúvida, a colaboração entre essas áreas em prol da aprendizagem. Sebastião (2003) e Carnio (2003), ao comentarem sobre a relação entre Fonoaudiologia e Educação, problematizam a formação do educador. De acordo com esses autores, durante muitos anos, a formação do professor teve dois focos: a transposição didática do currículo para sala de aula e ênfase no conhecimento que os alunos deviam aprender. Desta forma, a compreensão do processo de aquisição e as consequências sobre a criança não interrogavam – o que tornou o educador o responsável solitário pelo fracasso escolar. Costa (2005) entende ser imperativo que o professor tenha uma competência polivalente, sendo capaz de trabalhar com conteúdo de natureza diversa que abranjam 16UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes de diversas áreas do conhecimento – incluindo, nesse rol, conhecimentos referentes à saúde. Nesse sentido, a Escola deve poder oferecer elementos que capacitem a comunidade para uma vida mais saudável, dando apoio ao serviço médico e tornando possível a entrada de profissionais da saúde no meio escolar (BRITO BASTOS, 1979). O fator de relevância aqui é que essa entrada do fonoaudiólogo na Escola deve ter como objetivo a promoção da saúde do educando e não a detecção (triagem e avalições) de problemas para encaminhar para atendimentos especializados. Madrid e Faria (no prelo) afirmam que, os aspectos fonoaudiológicos devem constar na formação do educador para que ele possa ser agente e parceiro na identificação de alterações que possam prejudicar o desempenho do escolar. Faço coro com as autoras introduzidas nesta parte – não só na formação de educadores devem constar informações referentes a aspectos que digam respeito à saúde dos alunos, como também a formação dos fonoaudiólogos deve discutir concepções de saúde e implementar um pensamento voltado para a “promoção da saúde”. Giroto (2003) levanta a suspeita de que os fonoaudiólogos, em grande medida, também não conhecem seu papel na Educação, já que pouca ênfase é dada ao assunto nos cursos de graduação. Nessa discussão, a formação do fonoaudiólogo vem à tona e conforme diz Cavalheiro (1999), foi com essa preocupação que novas diretrizes curriculares foram estabelecidas para os cursos de graduação em Fonoaudiologia, propondo que o fonoaudiólogo obtivesse conhecimento de múltiplas áreas e experiências em graus suficientes para o pleno exercício da profissão. Porém, segundo a autora, esta preocupação não garantiu que as mudanças propostas capacitassem o fonoaudiólogo para atuar adequadamente na área educacional - há muitos que atuam segundo uma visão estritamente clínica e distante dos debates da área que apontam noutra direção (RIBEIRO, 2002). Durante toda sua história, a Fonoaudiologia tem mantido relação estreita com o campo da Educação: num primeiro momento, era o professor que fazia a detecção de problemas de linguagem, (o fonoaudiólogo era um “professor especialista”); depois, vestiu- se de “ortofonista”, chegando à necessidade de formação específica – nascem os cursos de graduação e a profissão de fonoaudiólogo, com ênfase quase exclusiva na clínica dos distúrbios da comunicação. Na Escola, sua presença introduz esta marca como problema, que vislumbra como saída (depois de muito embate) a ideia de “prevenção” e de “promoção da saúde”. Entende-se então que, desde esta ótica, pode-se chegar a um lugar de colaboração entre fonoaudiólogos e professores, já que suas metas, diferentes que são, não excluem a 17UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR preocupação com a aprendizagem e com a saúde do aluno. A ideia de prevenção parece oferecer a possibilidade de o fonoaudiólogo ser visto, na Educação, não mais como um ortofonista, mas sim como “responsável pela formação do cidadão leitor/escritor que, assim, passa a atuar de forma proativa dentro de sua especificidade: prevenção e promoção da saúde” (COSTA, 2005, p. 13). TÓPICO 3 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR JUNTO A UM SISTEMA DE JUNTO A UM SISTEMA DE ENSINO PÚBLICOENSINO PÚBLICO 18UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR A Fonoaudiologia constitui-se como ciência interdisciplinar que tem como base concepções e métodos de áreas da saúde e da educação. Historicamente, essas áreas intercalaram momentos de proximidade e distanciamento, concretizando experiências que se refletiram em encontros e desencontros, sobretudo quanto às suas atribuições e aos seus papéis sociais (BERBERIAN, 1995). Práticas de medicalização da educação nas instituições escolares, ações de edu- cação em saúde realizadas em serviços de saúde pautadas na normatização de compor- tamentos mantêm-se ainda hoje como modelos hegemônicos. Contrapondo-se a esses modelos, políticas públicas, alicerçadas no conceito ampliado de saúde, têm-se pautado na compreensão de que os determinantes do processo saúde-doença são intersetoriais (BERBERIAN, 1995).Desse modo, práticas de intersetorialidade mostram-se como dispositivos potentes para o enfrentamento dos problemas complexos que se apresentam, tanto no campo da saúde, quanto da educação, levando a resultados mais efetivos do que cada setor poderia alcançar agindo de modo isolado (OLIVEIRA e SCHIER, 2013). Neste capítulo, procurou-se trabalhar com uma abordagem histórica, resgatando conceitos de educação e saúde presentes em práticas de saúde na educação e de educação em saúde. Esse resgate possibilita a apresentação dos conceitos de promoção da saúde e intersetorialidade e, por meio deles, uma abordagem mais contemporânea da interface saúde e educação e sua relação com a Fonoaudiologia no contexto de políticas públicas. 19UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR Segundo Berberian (1995) os três principais objetivos do trabalho fonoaudiológico na escola são: ● Trabalhar na prevenção de questões referentes a oralidade, escrita, voz, audição e motricidade oral; ● Fazer parte da equipe de planejamento e orientação escolar, considerando as ques- tões fonoaudiológicas; ● Desenvolver um olhar além da atuação clínica de diagnosticar e reabilitar. TÓPICO 4 DISCUTINDO A FONOAUDIOLOGIA DISCUTINDO A FONOAUDIOLOGIA NA ESCOLANA ESCOLA 20UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR A história das práticas de saúde e de educação mostra a importância de se compreender as concepções acerca do trabalho de educação em saúde e o de saúde na educação. Educação e saúde são práticas sociais que se inserem no modo de produção da existência humana e que precisam ser abordadas historicamente como fenômenos constituintes das relações sociais (produção, reprodução e transformação) (BERBERIAN, 1995). Tanto no campo da educação quanto no da saúde, as práticas são atravessadas por diversas concepções de saúde e educação, que retratam distintas posições político filosóficas sobre o homem e a sociedade. A concepção de educação como ato normativo, prescritivo, para instrumentalizar e controlar, guarda correspondência com a concepção de saúde como ausência de doença (BERBERIAN, 1995). Ações de educação em saúde, do mesmo modo que ações de saúde no campo da educação, sob o efeito dessas concepções, podem se transformar em transmissão de informações ou aplicação de procedimentos, nas quais os profissionais reproduzem relações assimétricas (professor-aluno e profissional de saúde-doente) no desempenho de ações predefinidas. Nessa perspectiva, a educação é concebida como sinônimo de adaptação ou como algo da ordem do natural, única forma de existência possível e racional, assim como o processo saúde-doença é tratado no percurso natural do desenvolvimento da doença, cuja causa pode ser atribuída a um ou múltiplos agentes (MOROSINI; FONSECA e PEREIRA, 2007). 21UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR No fim do século XIX e início do século XX, concepções e práticas de educação e saúde tiveram em sua base o modelo higienista que tinha um modo específico de conceber, explicar e intervir sobre os problemas de saúde. Suas formas de intervenção baseavam-se na prescrição de normas, voltadas para os mais diferentes âmbitos da vida social (família, escola, trabalho, convivência social) como modos de conservação da saúde. Dessa maneira, eram vistos e desenvolvidos como educação sanitária (MOROSINI; FONSECA e PEREIRA, 2007). As práticas sanitárias de cunho higienista migraram para as instituições escolares levando à medicalização da educação. Nessa perspectiva, práticas curativas, reabilitadoras e preventivistas fundamentadas na noção de risco à saúde nortearam a atuação de fonoaudiólogos que atuavam no âmbito da educação. Do mesmo modo, influenciaram práticas clínicas na compreensão de que a saúde poderia ser alcançada por meio de mudanças de comportamentos e estilo de vida. Na escola, a aproximação entre educação e a saúde sem uma maior reflexão sobre a atribuição de cada área ocasionou no século passado a transposição de técnicas de avaliação e intervenção do campo (clínico) da saúde para o campo escolar. Escolas especiais passaram a conceber a ação educativa tendo como parâmetro programas de reabilitação (BERBERIAN, 1995). Assim, a escola regular passou a identificar crianças que estavam fracassando no processo de aprendizagem e encaminhá-las para classes especiais e/ou atendimentos clínicos, sem que refletir, de fato, sobre suas práticas pedagógicas. Do mesmo modo, a aproximação entre saúde e educação dentro dessa concepção de homem e sociedade, tem levado a área da saúde a desenvolver programas de educação que condicionam ou conduzem a população a receber passivamente informações e aceitarem orientações ou recomendações sem refletir sobre a própria realidade (BERBERIAN, 1995). A perspectiva crítico-reflexiva contrapõe-se a esse modo de conceber educação e saúde, pois parte da análise das realidades sociais, revelando suas características e as relações que as condicionam e as determinam. No campo da saúde, com base no concei- to ampliado de saúde, o processo saúde-doença liga-se às condições objetivas de vida (habitação, alimentação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde) e acena para intervenções de cunho coletivo e não apenas individual (BERBERIAN, 1995). Na interface da educação e da saúde, constituída com base no pensamento crítico sobre a realidade, torna-se possível pensar educação em saúde e saúde na educação como estratégias para o alcance da autonomia ou emancipação, ou seja, acesso a recursos 22UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR que possibilitam intervir e transformar as condições objetivas para a produção de saúde individual e coletiva (MOROSINI; FONSECA e PEREIRA, 2007). No campo da saúde, a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1990, contribuiu para um redirecionamento das práticas de saúde, passando a incluir a prevenção e promoção da saúde como atribuições dos profissionais de saúde. O item III do Artigo 5o da Lei Orgânica de Saúde, ao apresentar os objetivos e atribuições do Sistema Único de Saúde, diz que a assistência às pessoas deve ser feita por meio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, integrando ações assistenciais e atividades preventivas. sanitária (MOROSINI; FONSECA e PEREIRA, 2007). Os ideais e as propostas de Promoção da Saúde foram disseminados pelo Brasil por meio de cartas e declarações elaboradas em reuniões e conferências. Essas propostas serão aprofundadas mais adiante na sessão que discute as políticas públicas (BRASIL, 2002). As diretrizes do SUS buscam organizar os serviços para oferecer cuidado integral à saúde da população e, do mesmo modo, demandam que as pessoas aprendam a cuidar de sua própria saúde, defendendo direitos e assumindo deveres. A interface saúde e educação possibilita compreender os educadores como produtores de cuidados em saúde e os profissionais da saúde como educadores, estabelecendo entre eles uma relação de continuidade e complementaridade. Assim, compreende-se o conhecimento e as técnicas como uma produção social, historicamente constituídos e implicados entre si, orientados por um projeto societário transformador (MOROSINI; FONSECA e PEREIRA, 2007). Fonoaudiologia na interface saúde e educação. Entre as profissões da área da saúde, a Fonoaudiologia é, certamente, a que mais se aproxima da Educação. Embora os primeiros cursos de Graduação em Fonoaudiologia surjam na década de 1960, as práticas fonoaudiológicas no espaço escolar têm registro histórico nos anos 1920. Nessa época, professores desenvolviam ações voltadas à identificação de problemas relacionados com comunicação oral e escrita dos alunos, em vista da necessidade de normatização da língua falada por imigrantes estrangeiros e nacionais, que vieram para as regiões de maior poten- cial e desenvolvimento industrial do país (BERBERIAN,1995). Esses profissionais passaram a desenvolver atividades que extrapolavam seu papel enquanto educadores e que implicavam a realização de práticas curativas para as quais eles não haviam sido formados. Surgiu, assim, a necessidade de uma formação especializada, o que ocorreu, inicialmente, em cursos específicos realizados no exterior. Anos mais tarde surgiram os primeiros cursos de formação especializada no Brasil (BERBERIAN, 1995). Nesse contexto histórico, a fase escolar foi considerada o melhor momento para a detecção e tratamento dos desvios da fala e o professor passou a trabalhar na “reabilitação” 23UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR dos alunos que apresentassem qualquer desvio quanto aos padrões estabelecidos. Tal situação contribuiu para que a prática dos primeiros “fonoaudiólogos” atuantes em instituições educacionais tivesse um caráter fortemente curativo. Esse contexto histórico de surgimento da profissão, calcado em uma visão predominantemente curativa, influenciou fortemente as primeiras propostas de atuação fonoaudiológica em escolas, nas décadas de 1960 a 1980, geralmente voltadas para a detecção e o tratamento de alterações fonoaudiológicas, práticas que atendiam aos preceitos da medicalização do ensino (BERBERIAN, 1995). Aqui a aproximação entre as áreas de saúde e educação subverte o trabalho que se espera que a educação realize. A solução para o dito “fracasso escolar” está fora da escola, distante do trabalho que nela se realiza. Este histórico de surgimento da profissão talvez justifique o fato de que, ainda hoje, muitos professores esperam do fonoaudiólogo ações que “resolvam” os problemas de comunicação dos alunos (BERBERIAN, 1995). As dificuldades de se implementar trabalhos tanto na área da saúde quanto na da educação, pautados no pensamento crítico-reflexivo, ainda são grandes. Os profissionais dessas áreas têm sido levados a valorizar a transmissão de informações técnicas e, muitas vezes, as reproduzem como mediadores de um único sentido. Ações dessa natureza, embora possam ser consideradas como trabalho educativo, têm poucas chances de produzir transformações na realidade, pois os participantes não foram levados a pensar criticamente as situações vividas e a desenvolver ações mediantes tais reflexões (MOROSINI; FONSECA e PEREIRA, 2007). Exemplo disso são as interpretações dadas a problemas escolares que se focalizam no desempenho individual de cada criança, tratando-o apenas com relação a um padrão definido como média ou norma, sem contextualizá-lo, isto é, sem interpretá-lo à luz das relações dessa criança com os colegas, professores, com os acontecimentos de sua vida, com as condições de trabalho de seu professor etc. A solução para questões pouco problematizadas tem gerado relações entre saúde e educação que se mostram bastante improfícuas, porque fragmentam processos, não mobilizam a troca de experiências e saberes, não articulam práticas. Restringem-se apenas ao setor ou em execução de ações pontuais da área da saúde no espaço escolar de cunho preventivista (MOROSINI; FONSECA e PEREIRA, 2007). O fortalecimento das políticas de promoção da saúde propiciou a criação de políticas voltadas à integração das ações de saúde nas escolas. Diferentemente da pedagogia de transmissão, a problematização tem-se mostrado uma ferramenta potente nas práticas que articulam ações intersetoriais entre saúde e educação, sobretudo relacionadas com a Atenção Básica de Saúde e a Educação Básica, que serão tema da próxima sessão. 24UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR Ela possibilita identificar os principais problemas em uma determinada realidade e buscar as tecnologias mais apropriadas e disponíveis para a solução do que foi identificado. Isso quer dizer que não existe uma receita pronta para o processo educativo de prevenção de riscos e promoção da saúde, sendo necessário primeiramente observar a realidade, buscar compreender os fatores dos nós críticos e, então, elaborar as estratégias de enfrentamento a serem executadas pelas equipes de saúde e de educação (BORDENAVE, 1983). A noção de promoção da saúde no espaço escolar trouxe importantes contribuições para uma nova visão da atuação do fonoaudiólogo na interface saúde–educação. No entanto, observa-se ainda grande fragilidade no sentido da articulação do setor educação com a rede pública de saúde, especialmente com a atenção básica/primária (BORDENAVE, 1983). UM FONOAUDIÓLOGO PODE AJUDAR NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM? Sim. Os fonoaudiólogos possuem vasta experiência na área de desenvolvimento e aprendizagem da linguagem, o que pode facilitar muito o processo educacional. Atua em parceria com equipes docentes em diferentes níveis de ensino e em qualquer modalidade de ensino. Os fonoaudiólogos se diferenciam por serem formados para integrar conheci- mentos sobre comunicação, educação e saúde, essenciais para o aprendizado, a interação social e o desenvolvimento humano. COMO O FONOAUDIÓLOGO AUXILIA NO ENFRENTAMENTO DOS PROBLE- MAS DE APRENDIZAGEM? Ao aprender a construir, os alunos serão capazes de, diante das dificuldades, é importante que a equipe educativa saiba lidar com esses desafios. Para isso, a cooperação entre os dois Fonoaudiólogos, porque o problema está fundamentalmente no domínio da linguagem. Outro aspecto relevante é a diversidade na forma como cada criança aprende, que no modelo escolar atual é muitas vezes Não há espaço para reflexão. Essas dificuldades podem estar no ensino, as estratégias precisam ser ajustadas com os educadores, ou 25UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR podem estar em processo de aprendizagem e ter que se ajustar com os alunos. As causas também podem estar relacionadas a questões ambientais, sociais, cognitivas ou emocionais e devem ser consideradas em discussões em grupo e delineamento de abordagens para a resolução de problemas supere os desafios encontrados. COMO CONTRATAR UM FONOAUDIÓLOGO E QUAL DEVE SER A DENOMI- NAÇÃO DE SEU CARGO NO CASO DE CONTRATAÇÕES NA ÁREA DA EDUCAÇÃO? O profissional pode ser contratado por concurso público para cargo efetivo, nos moldes da CLT ou por regime estatutário, ou ainda como prestador de serviços. No caso de contratação na área da Educação, o cargo do profissional é de fonoaudiólogo, podendo, em sua admissão, serem especificados ou solicitados conhecimentos voltados à área educacional, experiência profissional e/ou especialização essa área. Vale destacar que a carga horária e a remuneração de um fonoaudiólogo variam conforme o trabalho proposto e os acordos estabelecidos entre as partes, sendo seguidas as orientações sindicais, bem como as leis trabalhistas vigentes. O FONOAUDIÓLOGO PODE REALIZAR ATENDIMENTO CLÍNICO DOS ALUNOS NO AMBIENTE ESCOLAR? Não, o atendimento clínico não pode ser realizado dentro do espaço escolar. Determinação estabelecida nas normativas do Conselho Federal de Fonoaudiologia, em consonância com a Lei nº 9.394/1996 (LDB) e com a Lei nº 8.080/1990 (Sistema Único de Saúde). QUERO CONTRATAR UM FONOAUDIÓLOGO PARA ATUAR NA REDE DE APOIO VOLTADA AO AEE. COMO JUSTIFICAR A NECESSIDADE DO PROFISSIONAL NESSA EQUIPE? Considerando o papel fundamental do fonoaudiólogo no Atendimento Educacional Especializado, bem como o definido na normativa do Conselho Nacional de Educação (CNE), que institui as diretrizes operacionais para o AEE na Educação básica e modalidade especial, faz-se necessário que em sua organização seja estabelecida uma rede de apoio no âmbito da atuação profissional, o que justifica e permite a contratação do fonoaudiólogo. 26UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR A POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA PREVÊ O ATENDIMENTO CLÍNICO NAS ESCOLAS? Não. A implantação do Atendimento Educacional Especializado (AEE), apoiada na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva de 2008,gerou uma interpretação distorcida de que os profissionais poderiam atuar clinicamente dentro das escolas, já que o AEE favorece o apoio às crianças em processo de inclusão. Porém, deve estar claro que essa proposta não anuncia intervenções de cunho clínico e, sim, uma função complementar ou suplementar com o objetivo de eliminar barreiras para a plena participação na sociedade e o desenvolvimento da aprendizagem do aluno. Destaca-se que são considerados recursos de acessibilidade na educação aqueles que asseguram condições de acesso ao currículo, “promovendo a utilização dos materiais didáticos e pedagógicos, dos espaços, dos mobiliários e equipamentos, dos sistemas de comunicação e informação, dos transportes e dos demais serviços”. Além disso, em consonância com a Lei nº 9.394, de 20 dezembro de 1996 (LDB), Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 (Sistema Único de Saúde), Anexo I da Portaria de Consolidação nº 3, de 28 de setembro de 2017 do Ministério da Saúde, Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005 e normativas do Conselho Federal de Fonoaudiologia, o atendimento clínico, quando necessário, deve ser realizado nos equipamentos de saúde. O FONOAUDIÓLOGO FORNECE LAUDOS OU DIAGNÓSTICOS CLÍNICOS DE ALTERAÇÕES ENCONTRADAS NOS ALUNOS? Conforme mencionado, é vedado ao fonoaudiólogo que atua no espaço escolar realizar atos de cunho clínico/diagnóstico. Os alunos que necessitam de avaliação deverão ser encaminhados para os serviços de saúde. Cabe ao fonoaudiólogo que atua em equipamentos de saúde, realizar diagnósticos e produzir os laudos nas áreas de sua competência. Vale salientar que a realização de laudos e diagnósticos das deficiências previstas no Atendimento Educacional Especializado (deficiências física, sensorial e intelectual, transtorno invasivo do desenvolvimento e superdotação) são de responsabilidade restrita do médico. Destaca-se ainda que, com a publicação da Nota Técnica nº 04/2014/ MEC/SECADI/DPEE, foi retirada a obrigatoriedade de laudo médico para inclusão da criança com dificuldades na escola regular. Considera-se que a exigência restringia o direito universal de acesso à Educação. 27UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR O FONOAUDIÓLOGO PODE AUXILIAR ALUNOS QUE APRESENTAM DISTÚRBIOS ALIMENTARES, OU SEJA, DIFICULDADE PARA DEGLUTIR, RECUSA ALIMENTAR, ENTRE OUTROS? Sim. Poderá orientar e propor estratégias que auxiliem a alimentação de alunos com dificuldades específicas de deglutição, no âmbito escolar. Para isso, deverá entrar em contato com o profissional responsável pelo atendimento (fonoaudiólogo clínico) do aluno e, em conjunto, definir as orientações e os procedimentos que deverão ser realizados. Não cabe ao profissional realizar, no espaço escolar, atendimento dos alunos com dificuldades alimentares. No caso de alunos sem acompanhamento clínico, o fonoaudiólogo deverá definir e realizar encaminhamentos. O FONOAUDIÓLOGO PODE DESENVOLVER AÇÕES COM OS ALUNOS EM SALA DE AULA? Sim. O fonoaudiólogo pode desenvolver atividades direcionadas a um grupo em sala de aula, desde que tais atividades estejam inseridas na proposta pedagógica da escola, sejam oferecidas a todos os alunos, desenvolvidas em parceria com o educador e não possuam caráter terapêutico. EM QUAIS MOMENTOS O FONOAUDIÓLOGO PODE DESENVOLVER SUAS AÇÕES NO AMBIENTE ESCOLAR? O fonoaudiólogo pode desenvolver ações no ambiente escolar em diversas situações, por meio da participação em atividades de trabalho pedagógico coletivo, grupos de estudo e reuniões de planejamento. Pode ainda realizar palestras, rodas de conversa, orientações individuais e em grupo Fonte: Brasil (2010). 28UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR A atenção à criança e ao adolescente deve ser a prioridade de todos os segmentos de uma sociedade. Investir em educação para essa população é a garantia de um futuro mais humano, justo e digno, com melhor qualidade de vida para todos, sendo de vital importância a construção da cidadania. De acordo com o art. 227 da Constituição Federal Brasileira: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. A Fonoaudiologia tem muito a oferecer, como parte integrante da equipe pedagógica, agregando conhecimentos sobre a comunicação humana, que são de sua competência, assim como discutindo estratégias educacionais que possam favorecer o processo de ensino e aprendizagem. Sendo a educação escolar um direito de todos, a Fonoaudiologia auxilia na potencialização de práticas pedagógicas que contribuam para a melhoria do processo de aprendizagem e, consequentemente, da qualidade da educação brasileira. Fonte: Brasil (2010). CONSIDERAÇÕES FINAIS 29UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR As práticas fonoaudiológicas que se dão na interface saúde e educação estiveram por mais de três décadas influenciadas por visões reducionistas distantes da necessária compreensão ampliada dos processos saúde-doença e das possibilidades terapêuticas que vão além da visão medicalizada. Isso porque consideram outras dimensões, a social, a cultural, a afetiva e a pedagógica. Tais práticas evoluíram quando passaram a se orientar pelo conceito de promoção da saúde, orientador de políticas públicas vigentes, por se ocuparem não só da saúde dos escolares, mas também de suas famílias, dos professores e de suas práticas educacionais e do espaço físico escolar. Programas como o PSE, que trabalham tendo como base noção de território, de comunidade, recomendam às equipes de saúde desenvolver um trabalho em rede com as escolas, como meio de superação de problemas que são comuns à área da saúde e da educação. Isso deve ser realizado desenvolvendo-se ações compartilhadas que contribuam para a saúde dos estudantes e professores e para a qualidade das práticas educacionais. São avanços, embora representem grandes desafios, uma vez que a gestão de ações intersetoriais é processo complexo e demanda apoio político e técnico. Procurou-se mostrar que a articulação entre os setores de saúde e de educação caracteriza-se como um processo que envolve a educação permanente de orientação crítico-reflexiva e tem como base a integralidade, a corresponsabilidade, a cogestão, o compromisso e a participação. A relação entre esses campos deve se construir na perspectiva da troca de saberes, da complementaridade. Deve se pautar em opções metodológicas que possibilitem aos participantes o desenvolvimento do pensamento crítico-reflexivo e a participação ativa sobre os problemas do território onde os serviços estão inseridos. LEITURA COMPLEMENTAR 30UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR Abaixo indico para vocês a leitura de um artigo científico publicado na plataforma Scielo que investiga o conhecimento dos professores da educação infantil em relação ao trabalho fonoaudiológico na escola. É de extrema importância perceber esse conhecimento para que o trabalho fonoaudiológico se desenvolva de maneira eficiente. Fonoaudiologia e educação infantil: uma parceria necessária OBJETIVO: investigar as informações que os professores de educação infantil possuem em relação a Fonoaudiologia na escola, bem como sobre temas ligados à área de linguagem. MÉTODOS: foi aplicado um questionário, contendo 17 questões objetivas em uma amostra com 73 professores de educação infantil da rede municipal de ensino da cidade de Maceió-AL. RESULTADOS: os participantes relacionaram a atuação fonoaudiológica na escola à presença de alterações no desenvolvimento da criança. O índice de professores da amostra que obtiveram contato com o fonoaudiólogo na escola é de 4,1%.Estes educadores relatam que apenas 57,5% receberam informações sobre a aquisição de linguagem e o desenvolvimento da escrita. CONCLUSÃO: com a realização da presente pesquisa foi possível confirmar a necessidade de reforçar as ações fonoaudiológicas na escola, bem como a parceria entre fonoaudiólogos e professores. Fonte: MARANHÃO, P. C. S.; PINTO, M. P. da C.; PEDRUZZI, C. M. Fonoaudiolo- gia e Educação infantil: uma parceria necessária. Linguagem, Rev. CEFAC 11, Mar, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rcefac/a/TyDbhRXtBMspPBRDnJFnJ3M/?lang=pt. Acesso em: 12 jul. 2022. https://www.scielo.br/j/rcefac/a/TyDbhRXtBMspPBRDnJFnJ3M/?lang=pt MATERIAL COMPLEMENTAR 31UNIDADE 1 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR LIVRO Título: O fonoaudiólogo e a escola Autor: Léslie Piccolotto Ferreira (org.). Editora: Plexus. Sinopse: Os anos 80 encontraram os fonoaudiólogos envolvidos em questões amplas na tentativa de entender suas origens e indagando, constantemente, para que e para quem se destina o seu trabalho. Assim, com as novas situações geradas no contexto social e político do país intensifica-se a necessidades práticas fonoaudiológicas inovadoras na educação e na saúde. Estas propostas deram origem a este livro, que oferece a educadores e especialistas em fonoaudiologia um apanhado dos novos horizontes dentro dos quais se coloca hoje está disciplina. FILME/VÍDEO Título: Como estrelas na terra Ano: 2007. Sinopse: O filme indiano de 2007 “Como Estrelas na Terra” conta a história de Ishaan, um menino de nove anos que vive praticamente isolado. Não possui muitos amigos e não vai bem na escola. Seu irmão tem um perfil completamente diferente e seus pais não aceitam que sua evolução não aconteça. Decidem então punir o garoto seguidas vezes até que o colocam em um internato objetivando uma disciplina mais rígida. Obviamente, nada acontece como o planejado e Ishaan continua sem grandes avanços. Até que Nikumbh cruza o caminho do garoto e descobre que ele é portador de dislexia – um distúrbio de aprendizado que causa dificuldades para ler, escrever e reter informações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • O professor na atuação fonoaudiológica em escola: participante ou mero espectador? • Possibilidades de trabalho no âmbito escolar-educacional e nas alterações da escrita; • A importância da interação entre o fonoaudiólogo e a escola no atendimento clínico; • A voz do professor: uma proposta de promoção. Objetivos da Aprendizagem • Diferenciar o papel do professor e do fonoaudiólogo na escola; • Compreender o trabalho no âmbito escolar; • Estabelecer a importância da interação entre o fonoaudiólogo e a escola. 2UNIDADEUNIDADEREFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTREREFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTREProfessor Me. Gisele Signorini ZampieriA FONOAUDIOLOGIA E A EDUCAÇÃOA FONOAUDIOLOGIA E A EDUCAÇÃO INTRODUÇÃO A Fonoaudiologia tem um papel de extrema importância no contexto social, visto que lida com algo cada vez mais necessário às relações pessoais e profissionais: a comunicação, uma habilidade que precisa e pode ser desenvolvida com a prática e com o aprimoramento contínuos. Tal habilidade deve, nos dias atuais, ser usada principalmente para vencer desafios. E muitos destes serão enfrentados dentro da escola. Antes, concebia- se a ideia de uma escola focada na transmissão de conteúdos. A quantidade de conteúdos que uma pessoa conseguisse apre(e)nder mensurava sua inteligência. No entanto, o conceito de escola, de educação, de ensino, de aprendizagem e de inteligência modificou-se no curso da história. Hoje, a inteligência é concebida como multidimensional e plurifatorial. O domínio do conteúdo não é mais o único aspecto que capacita e forma um educador e um educando. O mundo moderno exige um ensino centralizado no desenvolvimento de habilidades e competências múltiplas, contextualizado e formador de cidadania. Nesta unidade, discutiremos a atuação do fonoaudiólogo nas escolas, pois a fonoaudiologia como parte integrante da equipe docente pode auxiliar muito na formação das crianças, ampliando o conhecimento da comunicação humana dentro de suas habilidades, e discutindo os benefícios educacionais estratégias para os processos de ensino e aprendizagem. 33UNIDADE 2 REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A FONOAUDIOLOGIA E A EDUCAÇÃO TÓPICO Segundo as DCN (BRASIL, 2001), a educação infantil é a primeira etapa da educação básica e antecede a obrigatoriedade do ensino fundamental e médio. É oferecido em creches e jardins de infância e caracteriza-se por espaços institucionais não familiares, públicos ou privados, que educam e atendem crianças de 0 a 5 anos em período integral ou parcial durante o dia. A promulgação da Lei Nacional de Diretrizes e Fundamentos da Educação, em 1996, contribuiu decisivamente para o estabelecimento do conceito de educação infantil no país vinculado a todo o sistema educacional (BRASIL, 1996). Como primeira etapa da educação básica, a educação infantil ganha outra dimensão, pois passa a desempenhar um papel específico no sistema educacional: dar a todas as pessoas a formação necessária para que possam exercer sua cidadania. Por sua vez, definir a finalidade da educação infantil como o desenvolvimento integral físico, mental, intelectual e social das crianças menores de 5 anos, complementado pela ação familiar e comunitária, enfatiza a necessidade de promover o desenvolvimento da criança como um todo, e implica que compartilhar responsabilidades com as famílias, comunidades e autoridades públicas. A avaliação na educação infantil é definida a partir do conceito de desenvolvimento integrador, portanto, deve ser um processo, ocorrendo de forma sistemática e contínua. Seu acompanhamento e registro são para fins diagnósticos, não de promoção ou retenção, exigindo redefinição de estratégias metodológicas para crianças de 0 a 5 anos (ZORZI, 2001). 1 O PROFESSOR NA ATUAÇÃO O PROFESSOR NA ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA EM ESCOLA:PARTICIPANTE FONOAUDIOLÓGICA EM ESCOLA:PARTICIPANTE OU MERO ESPECTADOR?OU MERO ESPECTADOR? 34UNIDADE 2 REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A FONOAUDIOLOGIA E A EDUCAÇÃO 35UNIDADE 2 REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A FONOAUDIOLOGIA E A EDUCAÇÃO Segundo as DCN (BRASIL, 2001), com a inserção da educação infantil na educação básica, o campo passa por um intenso processo de revisão de conceitos sobre educação infantil em espaços coletivos, bem como de seleção e potencialização da mediação da aprendizagem e do desenvolvimento infantil. Em particular, são prioritárias as discussões sobre como direcionar o trabalho das creches para crianças menores de 3 anos e como garantir que a prática para crianças de 4 e 5 anos proporcione formas de garantir a continuidade do processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, sem a expectativa de que o conteúdo funcione nas escolas primárias (BRASIL, 2010). A ampliação do direito à educação para todas as crianças desde o nascimento representa uma grande possibilidade de atuação do fonoaudiólogo. No entanto, para que esse espaço realmentese transforme em oportunidade, é preciso pensar em possíveis formas de aprimorar o trabalho da fonoaudiologia nas instituições de educação infantil. Vendo a criança como um sujeito histórico que vive e constrói suas próprias identidades nas interações, relações e experiências cotidianas, a educação infantil constitui um espaço único de brincadeira, atividade simbólica, aprendizagem, experimentação, narrativa, questionamentos e construção de sentido (ZORZI, 2001). Portanto, a atuação do fonoaudiólogo nessa fase de escolarização pode trazer resultados muito frutíferos, pois a criança passa por um período de rápidas e significativas mudanças em todos os aspectos de seu desenvolvimento. Além disso, crianças expostas a uma gama de possibilidades interativas, com diversidade de parceiros e experiências têm seu universo pessoal de significados ampliado e seu desenvolvimento potencializado. A atuação fonoaudiológica na educação infantil pode contribuir, junto à comunidade escolar, mediante troca de saberes e gestão compartilhada com a construção de práticas que busquem promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade (ZORZI, 2001). Nessa abordagem, os sujeitos envolvidos participam ativamente do processo, por meio do trabalho em equipe e de produção do conhecimento. As diretrizes curriculares enfatizam a importância da proposta pedagógica das instituições de educação infantil que deve ter como objetivo garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças (BERBERIAN, 1995). O fonoaudiólogo pode ser um forte aliado para que a creche ou pré-escola alcance esses objetivos propostos, auxiliando, inclusive na construção do projeto político pedagógico das instituições. Nessa construção de um trabalho coletivo, alguns princípios 36UNIDADE 2 REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A FONOAUDIOLOGIA E A EDUCAÇÃO são muito importantes e precisam ser considerados e respeitados pelos fonoaudiólogos, considerando-se essa nova concepção de fonoaudiologia educacional: Nesse cenário, o trabalho do fonoaudiólogo deve ter como referencial teórico básico a integralidade – é o cuidado de pessoas, grupos e coletividade percebendo a comunidade escolar como “sujeito” histórico, social e político, articulado ao seu meio ambiente e à sociedade na qual se insere (BERBERIAN, 1995). As ações da Fonoaudiologia junto à educação devem ser elementos produtores de um saber coletivo voltado ao cuidado e as ações de prevenção e promoção da saúde como algo indissociável ao processo educativo e como parte de uma formação ampla para a cidadania e o usufruto pleno dos direitos humanos: (BRASIL, 2010) ● Ampliação das ações executadas, observando os conhecimentos científicos sobre o desenvolvimento infantil e a indivisibilidade das dimensões motora, afetiva, cognitiva, linguística e sociocultural da criança; ● O diálogo e a escuta cotidiana com todos os atores sociais envolvidos na escola (gestores, professores, merendeiras, cuidadores, famílias, alunos), o respeito, a valorização e articulação de seus saberes, práticas e suas formas de organização; ● A construção de forma coletiva do trabalho a ser desenvolvido, na perspectiva central da gestão compartilhada e da corresponsabilização; ● O reconhecimento das especificidades etárias, das etapas de desenvolvimento normal, das singularidades individuais, mas sem esquecer a promoção de ações conjuntas, com o olhar sempre voltado para os aspectos coletivos. Assim, a partir desses princípios, os fonoaudiólogos, ao atuarem junto à creches e pré-escolas, segundo o Conselho Federal de Fonoaudiologia (2010) devem: ●Partir do diagnóstico situacional para que suas ações estejam de acordo com às características, particularidades da proposta pedagógica e identidade institucional; ●Estabelecer diálogo com a comunidade escolar, a fim de construir propostas de ação embasadas nas necessidades locais e em escolhas coletivas, de modo que os atores sociais envolvidos contribuam de forma ímpar com a implementação e o caminho do projeto de atuação fonoaudiológica; 37UNIDADE 2 REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A FONOAUDIOLOGIA E A EDUCAÇÃO ●Promover ações de promoção de saúde e prevenção de alterações que possam acometer a saúde nas diferentes áreas da Fonoaudiologia (linguagem, motricidade facial, audiologia, voz), preferencialmente de maneira articulada e integrada; ●Estabelecer modos de integração das experiências educacionais e da saúde, por meio de articulação de ações multidisciplinares; ●Estimular a construção de atividades de educação permanente Realizar ações de monitoramento periodicamente (supervisão, controle de cada atividade, relatórios) e avaliação dos projetos implementados, a fim de reorientar as ações (caso necessário) estabelecendo parâmetros e indicadores de qualidade dos serviços fonoaudiológicos junto à educação infantil. TÓPICO 2 POSSIBILIDADES DE TRABALHO NO POSSIBILIDADES DE TRABALHO NO ÂMBITO ESCOLAR-EDUCACIONAL E ÂMBITO ESCOLAR-EDUCACIONAL E NAS ALTERAÇÕES DA ESCRITANAS ALTERAÇÕES DA ESCRITA 38UNIDADE 2 REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A FONOAUDIOLOGIA E A EDUCAÇÃO Com relação às ações práticas, a educação infantil abre um leque de possibilidades de atuações conjuntas com o fonoaudiólogo. Assim, deve ter como objetivo geral a prevenção e promoção da saúde no ambiente educacional, bem como contribuir para o processo de ensino-aprendizagem. As ações podem ser realizadas com diferentes atores sociais com objetivos específicos voltados a garantir o acesso a processos de construção de conhecimentos (BERBERIAN, 1995). Quanto ao aprendiz, essas ações devem estar voltadas às aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à saúde, à brincadeira e à interação com outras crianças. Estes dois últimos são eixos, interações e brincadeira, norteando, de acordo com as DCN, a proposta curricular da educação infantil (BRASIL, 2001). Considerando as particularidades do diagnóstico situacional e as necessidades de cada instituição de ensino, o fonoaudiólogo pode realizar alguma (s) da (s) ação (ões) exemplificadas a seguir, conforme o Conselho Federal De Fonoaudiologia (BRASIL, 2010): ●Promover oficinas de linguagem infantil, por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas e corporais que favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio de vários gêneros e formas de expressão gestual, verbal e musical, entre outras; ●Possibilitar às crianças experiências de narrativas, de interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos; 39UNIDADE 2 REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A FONOAUDIOLOGIA E A EDUCAÇÃO ●Estimular práticas de letramento e de estimulação da consciência fonológica Propor atividades nas demais áreas da Fonoaudiologia – motricidade oral (exemplo atividades que conscientizem sobre maus hábitos orais, amamentação, alimentação etc.), voz (saúde vocal), audiologia (saúde auditiva, ruído); ●Promover atividades coletivas que possibilitem ações na perspectiva da atenção integral (prevenção, promoção e atenção) à saúde e bem-estar das crianças e de toda a comunidade escolar; ●Possibilitar vivências que propiciem o reconhecimento da diversidade e inclusão entre os diferentes atores sociais; ● Incentivar, promover e participar de rodas de conversa com professores, cuidadores, e outros atores sociais com relação à aprendizagem, linguagem, saúde fonoaudiológica, visando formar, prioritariamente, multiplicadores das ações; ●Elaborar produtos (fôlderes, cartazes e cartilhas, entre outros), para instrumentalizar a continuidade das ações, interagindo,inclusive por meio de novas mídias (blogs, sites, redes sociais), mesmo considerando-se que seu acesso ainda não seja totalmente universal na realidade de nosso país; ●Participar de atividades do planejamento (projeto político pedagógico e planejamentos das aulas, entre outros). É importante ressaltar que essas ações explicitadas não englobam todas as atividades que podem ser realizadas na escola. É imprescindível acompanhar o trabalho educacional e observar as nossas ações como fonoaudiólogos, de maneira crítica e reflexiva, a fim de construir estratégias que possam contribuir para a promoção de um real desenvolvimento das crianças e que partam da corresponsabilização dos diferentes atores sociais envolvidos no cotidiano escolar (BERBERIAN, 1995). TÓPICO 3 A IMPORTÂNCIA DA INTERAÇÃO ENTRE A IMPORTÂNCIA DA INTERAÇÃO ENTRE O FONOAUDIÓLOGO E A ESCOLA NO O FONOAUDIÓLOGO E A ESCOLA NO ATENDIMENTO CLÍNICOATENDIMENTO CLÍNICO 40UNIDADE 2 REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A FONOAUDIOLOGIA E A EDUCAÇÃO A escola é um espaço de transformação da sociedade, pois fornece ao indivíduo instrumentos para construir sua cidadania. Pensando nisso, vem sendo necessária uma atuação cada vez mais abrangente da escola que requer, entre muitos aspectos, o envolvimento de outros profissionais, a fim de complementar as ações envolvidas. Nesse sentido, surgem parcerias entre professores, psicopedagogos, psicólogos e fonoaudiológoco, formando uma equipe multidisciplinar. Segundo a lei 6965 de 09/12/81, no artigo 1° (BRASIL, 1981, online): “Fonoaudiólogo é o profissional com graduação plena que atua em pesquisa, prevenção, avaliação e terapia na área da comunicação oral e escrita, voz e audição, bem como em aperfeiçoamento dos padrões de fala”. No capítulo II da Lei 6965, artigo 3°, é estabelecido que: É de competência do fonoaudiólogo desenvolver trabalho de prevenção no que se refere à área de comunicação escrita e oral, voz e audição, participar da equipe de orientação e planejamento escolar, inserido aspectos preventivos ligados a assuntos fonoaudiológicos (BRASIL, 1981, p. 01). A própria lei já é o resultado de atuações anteriores a ela. Levantando um pouco da história do trabalho fonoaudiológico nas escolas, podemos citar Collaço (1991) que refere ter participado da equipe técnica de uma escola em São Paulo de 1968 a 1978. Seu trabalho consistia em orientar os professores sobre aspectos da alfa- betização, bem como fornecer instrumentos para observar a fala das crianças, além de prevenir alterações dos órgãos fonoarticulatórios, da fala, da escrita, etc. 41UNIDADE 2 REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A FONOAUDIOLOGIA E A EDUCAÇÃO Bitar (1991) também relata três experiências em escolas particulares em fo- noaudiologia escolar durante períodos que variara de 8 a 9 anos e seis meses de trabalho, sendo o primeiro iniciado em 1974 e o último em 1979. Segundo a autora, os objetivos de seu trabalho forma sempre: ● Orientar os professores em relação ao conteúdo trabalhado em comunicação e expressão; ● Detectar alunos com dificuldades de linguagem e orientar quanto ao seu acompanhamento; ● Orientar os pais quanto ao desenvolvimento normal e aos desvios deste. Todas as ações tinham caráter preventivo, por isso eram realizadas triagem e observações, inicialmente por graduandos em fonoaudiologia e posteriormente pelo próprio professor. Além disso, eram feitos grupos de estimulação com as crianças que apresentavam dificuldades que não justificavam encaminhamentos, mas que precisavam de atuação especial em casa e na escola. Eram também feitas palestrar com pais, treinamentos, reciclagens, reuniões periódicas com os professores e participação dos fonoaudiólogos no planejamento anual. Lagrotta, Cordeiro e Cavalheiro (1991) relataram a experiência desenvolvida em 1978, e de 1981 a 1988 na Escola de Ensino Fundamental Embaixador Assis Chateaubriand. O trabalho envolveu alunos, professores, pais e equipe técnica em ações como traigens, avaliações individuais, grupos de reforço da comunicação oral e gráfica, screening audiométrico, orientações aos professores quanto a estratégia de desenvolvimento da fala e escrita, higiene vocal, orientação aos pais quanto aos encaminhamentos e atividades que poderiam ser realizadas em casa. Além disso, a equipe técnica participava do planejamento e de reuniões semanais, grupos de estudo e de discussão de casos de alunos com dificuldades. Guedes (1997) menciona que desde 1978 os alunos do curso de fonoaudiologia da EPM – UNIFESP vêm realizando estágios na Educação e Saúde Pública. Segundo a autora, o trabalho objetiva oferecer aos alunos da graduação noções na área preventiva e alguns benefícios à comunidade. Nas escolas foram desenvolvidas ações como triagens e orientações aos profes- sores. 42UNIDADE 2 REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A FONOAUDIOLOGIA E A EDUCAÇÃO Pinto, Furck e colaboradores (1991) relataram o trabalho executado no Departamento de Saúde Escolar da Prefeitura de São Paulo em 1988. Os programas descritos envolveram a orientação aos educadores com o objetivo de prevenir as alterações da fala e da escrita. As estratégias utilizadas foram: a observação da comunicação oral e gráfica dos alunos, o levantamento das dificuldades da leitura e da escrita, palestras e cursos sobre a aquisição de linguagem, atividades de estimulação, distúrbios mais frequentes entre os escolares e a relação professor-aluno. Em um segundo programa foi trabalhada à saúde vocal dos professores por meio de palestras sobre higiene vocal e o treino de impostação. Pereira, Santos e Osborn (1995) destacam atividades que o fonoaudiólogo pode realizar num programa de Saúde Escolar: ● Junto a pais e professores, discussão do desenvolvimento normal e sensibilização para estimular o processamento auditivo, a linguagem e produção fonoaurticulatória; ● Com alunos do ciclo básico: exame fonoaudiológico, que compreende emissão e recepção oral, voz, respiração, órgãos fonoarticulatórios e processamento auditivo; ● Com alunos da 3° a 5° séries, realização de provas de leitura e de escrita; ● Encaminhamento das crianças com alteração para reavaliação fonoaudiológica; ● Orientação dos pais e professores após a avaliação. A partir das experiências relatadas anteriormente, pode-se notar que apesar das ações variarem, o objetivo do trabalho é sempre preventivo diferentemente da atuação clínica. Collaço (1991) salienta essa diferença referindo que na fonoaudiologia escolar o enfoque é preventivo e a atuação é planejada em equipe e desenvolvida pelo professor em sala de aula. Já o fonoaudiólogo clínico trata o indivíduo com distúrbios da comunicação, individualmente ou em grupos. TÓPICO 4 A VOZ DO PROFESSOR: UMA A VOZ DO PROFESSOR: UMA PROPOSTA DE PROMOÇÃO PROPOSTA DE PROMOÇÃO 43UNIDADE 2 REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A FONOAUDIOLOGIA E A EDUCAÇÃO Este tópico tem como objetivo oferecer ao professor algumas orientações quanto ao uso de sua voz. Essas orientações visam não só evitar problemas nesse âmbito, como também fazer com que o professor perceba o mais precocemente possível qualquer alteração vocal que poderá influenciar no desempenho de seu trabalho. A seguir serão expostas, de modo breve, algumas considerações importantes sobre a voz, para depois nos remetermos às orientações. Behlau e Pontes (1993) referem que a voz humana já existe desde o nascimento e apresenta-se de diversas formas, tais como choro, grito, risos e sons da fala, sendo um dos meios de comunicação do indivíduo com o ambiente e principalmente com outras pessoas. Para Hersan (1989), cada indivíduo se caracteriza pela sua voz de maneira única, sendo tão exclusiva quanto a própria fisionomia e as impressões digitais. Quando uma pessoa fala, revela-se em muitos sentidos, sendo possível conhecer suas emoções e dificuldades pela sua voz. Para Hersan (1989), uma voz
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