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GENERO E SEXUALIDADE_DEPEN_Modulo_2

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Prévia do material em texto

GÊNERO e 
SEXUALIDADE no 
Sistema Prisional
MÓDULO 2
Garantias legais, recebimento 
e procedimentos de custódia 
de pessoas LGBTI+ presas
EXPEDIENTE
Todo o conteúdo do curso Gênero e Sexualidade no Sistema Prisional, do Departamento Penitenciário 
Nacional, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, do Governo Federal - 2022, está licenciado sob a 
Licença Pública Creative Commons Atribuição - Não Comercial - Sem Derivações 4.0 Internacional. Para 
visualizar uma cópia desta licença, acesse: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR.BY NC ND
GOVERNO FEDERAL
Presidente da República 
Jair Messias Bolsonaro
Vice-Presidente da República 
Antônio Hamilton Martins Mourão
Ministro da Justiça e Segurança Pública 
Anderson Gustavo Torres
Diretora-Geral do Departamento Penitenciário Nacional 
Tânia Maria Matos Ferreira Fogaça
Coordenadora-Geral da Escola Nacional de Serviços Penais 
Stephane Silva de Araújo
Equipe ESPEN 
Aline Leal da Silva 
Cecília Alves Porto 
Haynara Jocely Lima de Almeida
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA 
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Secretário de Educação a Distância 
Luciano Patrício Souza de Castro
labSEAD 
Coordenação Geral 
Luciano Patrício Souza de Castro
Financeiro 
Fernando Machado Wolf
Consultoria Técnica EaD 
Giovana Schuelter
Coordenação de Produção 
Francielli Schuelter
Coordenação de AVEA 
Andreia Mara Fiala
Revisão Textual
Supervisão: Evillyn Kjellin 
Victor Rocha Freire Silva
Vivianne Oliveira Rodrigues 
Design Instrucional
Supervisão: Milene Silva de Castro 
Flora Bazzo Schmidt
Gabriel de Melo Cardoso 
Joyce Regina Borges
Design Gráfico
Supervisão: Mary Vonni Meürer de Lima
Airton Jordani Jardim Filho
Cleber da Luz Monteiro
Giovana Aparecida dos Santos
Julia Morato Leite Lucas
Renata Cristina Gonçalves
Sonia Trois
Tiago Augusto Paiva 
Programação
Supervisão: Alexandre Dal Fabbro
João Pedro Mendonça de Araujo
Luan Rodrigo Silva Costa
Luiz Eduardo Pizzinatto
Audiovisual 
Supervisão: Rafael Poletto Dutra 
Angie Luiza Moreira de Oliveira 
Dilney Carvalho da Silva 
Eduardo Corrêa Machado 
Jacob de Souza Faria Neto 
Kimberly Araujo Lazzarin 
Marcelo Vinícius Netto Spillere 
Marília Gabriela Salomao Dauer 
Maycon Douglas da Silva
Apresentação 
Áureo Mafra de Moraes
Conteúdo 
Carlos Rodrigo Martins Dias
SUMÁRIO
Apresentação 05
Objetivos do módulo 05
Unidade 1: Dos dispositivos legais 07
1.1 O que diz a Constituição Federal? 07
1.2 O que diz a Declaração Internacional dos Direitos Humanos? 09
1.3 O que diz o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos? 10
1.4 O que dizem os Princípios de Yogyakarta? 10
1.5 O que diz a Lei de Execução Penal? 13
1.6 O que diz a Lei do Abuso de Autoridade? 13
Unidade 2: Do recebimento das pessoas LGBTI+ nas 
unidades prisionais 15
2.1 Como receber pessoas lésbicas, bissexuais e gays 20
2.2 Como receber pessoas travestis e mulheres trans 24
2.3 Como receber homens trans 28
2.4 Como receber pessoas intersexuais 29
2.5 Da manutenção de cabelos, acesso a materiais e objetos 31
2.6 Da revista pessoal em pessoas LGBTI+ 37
SUMÁRIO
2.7 Da revista pessoal em visitantes LGBTI+ 39
Unidade 3: Do acesso às assistências 42
3.1 Da saúde da pessoa LGBTI+ 42
3.2 Do acesso da pessoa LGBTI+ ao mundo do trabalho 47
3.3 Do acesso da pessoa LGBTI+ à educação 48
3.4 A assistência social à pessoa LGBTI+ 49
3.5 A assistência religiosa à pessoa LGBTI+ 51
Síntese do Módulo 52
Referências 54
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 5
APRESENTAÇÃO
Olá, cursista!
No primeiro módulo do curso, discutimos conceitos que nos permitem 
uma melhor compreensão das especificidades das pessoas LGBTI+. 
Também vimos dados acerca da presença e da diversidade de pessoas 
que se autodeclaram LGBTI+ no Sistema Prisional brasileiro.
Neste módulo, trataremos sobre a atenção específica às pessoas LGBTI+ 
em situação de prisão. Assim, abordaremos: 
• as garantias legais;
• os procedimentos necessários para cuidados em saúde;
• o respeito ao nome social;
• o uso de itens específicos;
• a prevenção a violências.
Objetivos do módulo 
• Apresentar o conteúdo dos principais dispositivos legais que embasam 
a atenção específica às pessoas LGBTI+ presas.
• Esclarecer procedimentos de recebimento e de visita de pessoas 
LGBTI+ em unidades prisionais.
• Abordar questões relacionadas à custódia de pessoas LGBTI+ presas: 
saúde, educação, acesso ao mundo do trabalho, assistência social e 
assistência religiosa.
UNIDADE 1
Dos dispositivos legais
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 7
1. DOS DISPOSITIVOS LEGAIS
Nesta unidade, trataremos dos principais dispositivos que norteiam a 
atenção específica dada à população LGBTI+ presa. 
Tais dispositivos ora tratam diretamente sobre a população LGBTI+ presa, 
ora referem-se a toda a população que está sob seu “guarda-chuva”.
Seguindo essa via, citaremos a Constituição Brasileira, a Lei de Execução 
Penal, a Declaração Internacional dos Direitos Humanos, o Pacto Inter-
nacional dos Direitos Civis e Políticos, os Princípios de Yogyakarta e a Lei 
do Abuso de Autoridade.
1.1 O que diz a Constituição Federal? 
A Constituição Federal (CF), também conhecida como Constituição 
Cidadã, é a atual Carta Magna do Brasil. Lançada em 5 de outubro de 
1988, serve de diretriz para criação das demais legislações em nosso país.
A Constituição Cidadã, além de tratar da organização dos poderes e da 
democracia, traz uma série de direitos fundamentais a todo cidadão 
brasileiro e aos estrangeiros residentes no Brasil.
Foto: © [Appreciate] / Shutterstock.
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 8
Assim, a CF, de 1988, em seu art. 3º, inciso IV, expressa o seguinte:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Fede-
rativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desi-
gualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, 
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discrimi-
nação. (BRASIL, 1988, grifos nossos).
Também, ainda com o fito de garantir a cidadania, a Constituição Federal 
estabelece em seu art. 5º que:
"Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natu-
reza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, 
à segurança e à propriedade.” (BRASIL, 1988).
É importante conhecermos a Constituição Federal para entendermos os 
direitos fundamentais do cidadão e a diretriz que ajudará na formulação 
das demais legislações. 
SAIBA MAIS 
Acesse a Constituição Federal na íntegra, disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 9
1.2 O que diz a Declaração Internacional dos Direitos Humanos?
A Declaração Universal dos Direitos Humanos diz em seu art. 2º que:
Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as 
liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de 
qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opi-
nião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, 
riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. (ONU, 1948, 
grifos nossos).
É importante destacar que a Declaração, em seu art. 5º, é taxativa ao 
reprovar a possibilidade de maus-tratos:
“Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo 
cruel, desumano ou degradante.” (ONU, 1948).
Declaração Universal de Direitos Humanos. 
Foto: NaçõesUnidas Brasil.
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 10
1.3 O que diz o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos?
O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos é um ato internacional, 
promulgado em 6 de julho de 1992, por meio do Decreto nº 592, reco-
nhecendo não somente as liberdades civis e políticas, mas também os 
direitos econômicos, sociais e culturais do ser humano.
Há de se destacar o que diz o seu artigo 17:
1. Ninguém poderá ser objeto de ingerências arbitrárias ou ilegais 
em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua 
correspondência, nem de ofensas ilegais às suas honra e reputação.
2. Toda pessoa terá direito à proteção da lei contra essas ingerên-
cias ou ofensas. (BRASIL, 1992).
1.4 O que dizem os Princípios de Yogyakarta?
Os Princípios de Yogyakarta tratam sobre a aplicação internacional de 
direitos humanos em relação à orientação sexual e à identidade de gênero. 
O Brasil é signatário dos Princípios de Yogyakarta. Por isso, é importante 
conhecer, em especial, esse dispositivo para o caso específico do apri-
sionamento de pessoas LGBTI+.
Sobre o assunto, o Princípio número 9 diz que “Toda pessoa privada da 
liberdade deve ser tratada com humanidade e com respeito pela digni-
dade inerente à pessoa humana. A orientação sexual e a identidade de 
gênero são partes essenciais da dignidade de cada pessoa.” (CORRÊA; 
MUNTARBHORN, 2006, p. 19).
Nesse sentido, de acordo com o documento, é dever dos estados:
a) Garantir que a detenção evite uma maior marginalização 
das pessoas motivada pela orientação sexual ou identidade 
de gênero, expondo-as a risco de violência, maus-tratos ou 
abusos físicos, mentais ou sexuais; 
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 11
1.2 Estrutura do módulo 
Unidade 1 — Dos dispositivos legais
1.1 O que diz a Constituição Federal?
1.2 que diz a Declaração Internacional dos Direitos Humanos?
1.3 O que diz o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos?
1.4 O que dizem os Princípios de Yogyakarta?
1.5 O que diz a Lei de Execução Penal?
1.6 O que diz a Lei do Abuso de Autoridade?
Unidade 2 — Do recebimento das pessoas LGBTI+ nas unidades prisionais
2.1 Como receber pessoas lésbicas, bissexuais e gays
2.2 Como receber pessoas travestis e mulheres trans
2.3 Como receber homens trans
2.4 Como receber pessoas intersexuais
2.5 Da manutenção de cabelos, acesso a materiais e objetos
2.6 Da revista pessoal em pessoas LGBTI+
2.7 Da revista pessoal em visitantes LGBTI+
Unidade 3 — Dos procedimentos de custódia
3.1 Da saúde da pessoa LGBTI+
3.2 Do acesso da pessoa LGBTI+ ao mundo do trabalho
3.3 Do acesso da pessoa LGBTI+ à educação
3.4 A assistência social à pessoa LGBTI+
3.5 A assistência religiosa à pessoa LGBTI+
b) Fornecer acesso adequado à atenção médica e ao aconselha-
mento apropriado às necessidades das pessoas sob custódia, 
reconhecendo qualquer necessidade especial relacionada à 
orientação sexual ou identidade de gênero, inclusive no que 
se refere à saúde reprodutiva, acesso à informação e terapia 
de HIV/aids e acesso à terapia hormonal ou outro tipo de 
terapia, assim como a tratamentos de reassignação de sexo/
gênero, quando desejado; 
c) Assegurar, na medida do possível, que todos os detentos 
e detentas participem de decisões relacionadas ao local de 
detenção adequado à sua orientação sexual e identidade 
de gênero; 
d) Implantar medidas de proteção para todos os presos e presas 
vulneráveis à violência ou abuso por causa de sua orientação 
sexual, identidade ou expressão de gênero e assegurar, tanto 
quanto seja razoavelmente praticável, que essas medidas de 
proteção não impliquem maior restrição a seus direitos do 
que aquelas que já atingem a população prisional em geral; 
e) Assegurar que as visitas conjugais, onde são permitidas, 
sejam concedidas na base de igualdade a todas as pessoas 
aprisionadas ou detidas, independente do gênero de sua 
parceira ou parceiro; 
f) Proporcionar o monitoramento independente das ins-
talações de detenção por parte do Estado e também por 
organizações não-governamentais, inclusive organizações 
que trabalhem nas áreas de orientação sexual e identidade 
de gênero; e
g) Implantar programas de treinamento e conscientização, 
para o pessoal prisional e todas as outras pessoas do setor 
público e privado que estão envolvidas com as instalações 
prisionais, sobre os padrões internacionais de direitos humanos 
e princípios de igualdade e não-discriminação, inclusive em 
relação à orientação sexual e identidade de gênero. (CORRÊA; 
MUNTARBHORN, 2006, p. 19).
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 12
Não menos importante, o Princípio número 10 reprova de forma direta 
qualquer atitude violenta contra a população LGBTI+ ao enunciar o que segue:
Toda pessoa tem o direito de não sofrer tortura e tratamento 
ou castigo cruel, desumano ou degradante, inclusive por razões 
relacionadas à sua orientação sexual ou identidade de gênero.
Os Estados deverão: 
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras 
medidas necessárias para evitar e proteger as pessoas de tor-
tura e tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante, 
perpetrados por motivos relacionados à orientação sexual e 
identidade de gênero da vítima, assim como o incitamento 
a esses atos; 
b) Tomar todas as medidas razoáveis para identificar as vítimas 
de tortura e tratamento ou castigo cruel, desumano ou de-
gradante, perpetrados por motivos relacionados à orientação 
sexual e identidade de gênero, oferecendo recursos jurídicos, 
medidas corretivas e reparações e, quando for apropriado, 
apoio médico e psicológico; 
c) Implantar programas de treinamento e conscientização, 
para a polícia, o pessoal prisional e todas as outras pessoas do 
setor público e privado que estão em posição de perpetrar ou 
evitar esses atos. (CORRÊA; MUNTARBHORN, 2006, p. 21).
O que fica evidente no que dizem os Princípios 9 e 10 é que as especi-
ficidades das pessoas LGBTI+ devem ser respeitadas. 
Por isso, é tão necessário entender que para as pessoas LGBTI+ 
há procedimentos de custódia diferenciados dos demais presos 
e presas; notadamente por ser necessário individualizar a pena, 
conforme determina a Lei de Execução Penal.
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 13
1.5 O que diz a Lei de Execução Penal?
A Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984, instituiu a Lei de Execução Penal 
(LEP), que rege os principais aspectos relacionados à execução da pena.
 
Inclusive, a LEP é uma garantidora da dignidade da pessoa humana. 
Neste quesito, é importante saber o teor do artigo 10:
Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, 
objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência 
em sociedade.
Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso.
Art. 11. A assistência será:
I - material;
II - à saúde;
III - jurídica;
IV - educacional;
V - social;
VI - religiosa. (BRASIL, 1984).
1.6 O que diz a Lei do Abuso de Autoridade?
A Lei n° 13.869, também conhecida como Lei do Abuso de Autoridade, 
define os crimes que os agentes públicos cometem no exercício de suas 
funções. São aqueles crimes praticados pelos agentes públicos com fim 
de prejudicar outra pessoa ou de beneficiar a si mesmo ou a um terceiro.
Nesse sentido, é fundamental o entendimento do art. 21, a fim de evitar 
alocar pessoas LGBTI+ (em especial, a população trans) em contextos 
em que possam estar mais vulneráveis a violências, inclusive a sexual. 
O artigo 21 diz que é crime:
“Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço 
de confinamento: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, 
e multa.”(BRASIL, 2019).
UNIDADE 2
Do recebimento das pessoas 
LGBTI+ nas unidades prisionais 
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 15
2. DO RECEBIMENTO DAS PESSOAS LGBTI+ NAS UNIDADES PRI-
SIONAIS
Nesta unidade, abordaremos as especificidades no recebimento de pessoas 
LGBTI+ nas unidades prisionais. É indispensável reconhecer essas especifi-
cidades para que haja acolhimento adequado. Sem esse reconhecimento, 
a individualização da pena fica comprometida e o risco de violência contra 
a população LGBTI+, em especial contra a população trans, aumenta.
 
A abordagem dessas especificidades se dará sobretudo a partir de dois 
documentos. O primeiro é a Nota Técnica nº 9/2020, produzido pela 
Divisão de Atenção às Mulheres e Grupos Específicos do Departamento 
Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça e Segurança Pública 
(DEPEN), no qual o órgão recomenda que os estados tenham cautela 
em alguns procedimentos de custódia em atenção à população LGBTI+. 
O segundo é o documento técnico intitulado “LGBT nas Prisões do 
Brasil: diagnóstico dos procedimentos institucionais e experiência de 
encarceramento” (BRASIL, 2020), desenvolvido pelo Departamento de 
Promoção dos Direitos de LGBT, pertencente ao Ministério da Mulher, 
da Família e dos Direitos Humanos.
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 16
Capa do Documento Técnico.
Fonte: BRASIL, 2020.
Esse documento traz à baila as vozes de pessoas presas e de servidores 
prisionais. Os depoimentos que compõem este módulo do curso foram 
extraídos desse diagnóstico. Os nomes das pessoas foram omitidos.
 
Para iniciarmos essa conversa, é importante falar sobre a porta de entrada 
das unidades prisionais, em especial das unidades que funcionam como 
triagem. É na triagem que a pessoa aguarda até ser definido para qual 
unidade prisional será alocada a pessoa presa. 
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 17
A popular porta de entrada do sistema prisional (expressão dada ao mo-
mento de chegada das pessoas presas nas unidades prisionais), geralmente, 
possui procedimentos bastante consolidados, os quais foram pautados 
para recebimento de homens cisgênero heterossexuais (masculino héte-
ro). Nesse sentido, aponta-se como um dos procedimentos mais usuais 
nas unidades prisionais de triagem: raspar a cabeça das pessoas presas. 
Também, pode-se apontar o momento de preenchimento de fichas de 
identificação da pessoa presa, a fim de colher dados de quem chega e de 
divulgar as informações sobre as principais regras das unidades prisionais.
 
Por isso, esse início de conversa foca na atenção à necessidade de acontecer 
a entrevista da pessoa presa, no sentido de identificar quem é o sujeito 
que chega à unidade prisional, quais são suas demandas específicas e 
como a administração poderá garantir sua segurança; definindo, no caso 
das pessoas LGBTI+, a alocação adequada e, também, o respeito ao nome 
social da pessoa presa.
QR CODE
Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) 
no QR Code ao lado para assistir ao vídeo sobre triagem nas uni-
dades prisionais, ou acesse o link: https://youtu.be/3R8HZRIxURQ.
Portanto, a equipe de triagem precisa entrevistar a pessoa presa a fim de 
obter informações necessárias para a atenção específica à população LGBTI+.
https://youtu.be/3R8HZRIxURQ
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 18
Na oportunidade de entrevista à pessoa presa, recomenda-se que seja 
dito, em ordem, o que segue.
Caso se trate de uma pessoa trans ou intersexual que tenha nome so-
cial, inserir o nome no registro de admissão prisional, e, a partir deste 
momento, sempre se referir à pessoa pelo nome social inserido no 
formulário de admissão.
É necessário entender que este não é um apelido, mas sim um nome cujas 
pessoas trans, travestis e intersexos possuem direito de uso, garantido 
pelo Decreto Federal n° 8.727, de 28 de abril de 2016. É possível que 
o nome social da pessoa presa não conste na Guia de Recolhimento à 
Prisão; entretanto, a unidade prisional deve questionar a sua existência 
com intuito de incluir no registro de admissão prisional.
Dificuldades encontradas pelas pessoas presas no que diz respeito ao 
uso do nome social podem ser verificadas em depoimentos como o 
seguinte, de um servidor do estado da Paraíba:
Entrevista
1
2
3
Nesta unidade prisional, há um espaço 
garantido para quem é LGBTI+ com 
intuito de garantir a sua segurança.
Você faz parte da população 
LGBTI+? Como você se define: 
lésbica, gay, bissexual, mulher trans, 
travesti, homem trans?
Caso a pessoa presa seja mulher trans, 
travesti, homem trans ou intersexual, 
perguntar se possui nome social.
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 19
DEPOIMENTO
Eu acho que o que falta é formação. Eles acham legal na questão 
da segurança. “Legal que a gente separa e não coloca junto”. 
Do nome social eles têm uma certa resistência. Quando chamam 
pelo nome social geralmente é mais de forma jocosa. A maioria 
dos agentes não têm noção da importância de um nome social. 
Eles fazem o trabalho e brincam muito entre eles, entendem a 
importância para a segurança, mas eles não entendem a im-
portância da ala pros direitos dessas pessoas. Por isso, falta 
informação para os agentes. (BRASIL, 2020a, p. 79).
Entretanto, o mesmo documento técnico aponta para relatos de res-
peito ao uso do nome social por parte de servidores, no caso, do estado 
de São Paulo: 
DEPOIMENTO
Nós costumamos chamar o preso pelo nome. Se tem o preso João 
passando, eu vou chamar ele de João. Se tiver o preso Alessandra 
passando, e ela prefere ser chamada assim, eu vou chamar de 
Alessandra. Não só eu, quanto todo o funcional está fazendo isso. 
Não adianta que um preso que tem nome de registro Arnaldo e 
que ele não se vê como Arnaldo eu chamar assim. Ele não vai me 
dar atenção ou, se me der atenção, não vai ser na conduta que eu 
espero que seja. Eu trabalho na simples maneira de tratar. Isso 
não interfere na segurança, isso não interfere no nosso cotidiano, 
mas isso traz paz ao preso. O preso estando em paz, nós também 
mantemos uma tranquilidade aparente. [...] (BRASIL, 2020, p. 100).
Verificamos duas situações distintas sobre o mesmo assunto: o nome 
social. O primeiro depoimento (servidor do estado da Paraíba) aponta para 
a necessidade de capacitação e, ainda, cita que os servidores entendem a 
importância da ala (pavilhão, raio, corredor, galeria) para questões ligadas 
à segurança das pessoas LGBTI+, mas não necessariamente respeitam 
o nome social das pessoas que o possuem. No segundo depoimento 
(servidor do estado de São Paulo), é apontado o respeito ao nome social 
e que isso não afeta em nada a segurança; ao contrário, ajuda a trazer 
um ambiente mais tranquilo.
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 20
2.1 Como receber pessoas lésbicas, bissexuais e gays
O recebimento de pessoas lésbicas, bissexuais e gays nas unidades 
prisionais acontece da mesma maneira que das demais pessoas presas; 
entretanto, no momento da triagem, deve ser oferecida a oportunidade 
de alocação específica. A intenção dessa oferta é garantir a integridade 
dessas pessoas, em especial, das pessoas presas em unidades masculinas.
Note que, ao oferecer o espaço específico, não há obrigatoriedade das 
pessoas que se autodeclaram lésbicas, bissexuais e gays a aceitarem a 
oferta. Trata-se de uma possibilidade que a administração penitenciária 
oferece no sentido de garantia da integridadefísica da pessoa presa.
Para que essa oferta possa se realizar da melhor forma, a administração 
prisional precisa estar atenta quanto às definições relacionadas a gênero 
e sexualidade. Por exemplo, à concepção do que caracteriza um homem 
gay — como já vimos no módulo 1, a homossexualidade se relaciona à 
orientação sexual —: a pessoa gay é um homem cis ou trans que se sente 
atraído por outros homens e que pode se relacionar sexualmente com 
outros homens cis ou trans. Essa questão independe, portanto, da forma 
pela qual esse homem expressa seu gênero (roupas, aparência, formas de 
se expressar, trejeitos etc.). Nesse sentido, homens gays podem ter uma 
expressão de gênero bastante masculina, “ostentando masculinidade”. 
QR CODE
Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) 
no QR Code ao lado para assistir ao vídeo sobre oferta de alocação 
específica, ou acesse o link: https://youtu.be/XDu2CgArf3I.
https://youtu.be/XDu2CgArf3I
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 21
O depoimento a seguir, de um homem gay preso no Mato Grosso do 
Sul, aponta para a possível dificuldade do reconhecimento da homos-
sexualidade desses homens no sistema prisional:
DEPOIMENTO
Pra mim foi mais fácil porque eu já tenho engajamento no núcleo 
LGBT e eu sou afeminado e uso maquiagem, tenho cabelo com-
prido, então fica mais nítido. Mas, realmente, pro gay masculino, 
aquele gay que se passa como hétero, é mais difícil. Talvez mesmo 
ele expondo a sexualidade, talvez o juiz não acate. A gente tem 
casos de gente que passou muito tempo em alas evangélicas em 
outros presídios até que conseguissem ser inseridos no projeto. 
Que vieram de outras cadeias do interior, de outras comarcas. 
De o magistrado de outro lugar não entender que uma figura 
masculina é gay. Pra mim não foi nem um pouco porque eu 
sou afeminado, cabelo comprido e tudo mais. Acredito que pra 
quem tenham o perfil masculino, bem másculo, seja mais difícil. 
(BRASIL, 2020, p. 42).
Considerando que a autodeclaração é o que baliza o atendimento es-
pecífico das pessoas LGBTI+, a expressão de gênero não deveria ser um 
fator dificultante no reconhecimento de uma pessoa autodeclarada ho-
mossexual (lésbica ou gay) ou bissexual. A questão da orientação sexual 
pode ser menos perceptível do que a transexualidade (pessoas trans) e 
travestilidade (travestis). 
Por isso, é importante que os servidores das unidades prisionais tenham 
a noção das especificidades de todas as populações LGBTI+ para não 
incorrer em alocar, por exemplo, uma pessoa gay em local de cometi-
mento de violências, em especial, sexuais.
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 22
Corroborando com o dito, segue o relato de um homem gay preso no 
estado do Espírito Santo: 
DEPOIMENTO
Eles souberam que eu era homossexual porque uma interna 
[travesti] foi junto comigo e quando a gente chegou aqui per-
guntaram pra ela se ela queria ir pra cela e eu aproveitei e disse 
que queria ir também. [...] Ela tem que identificar, a não ser que 
seja uma travesti. Aí eles botam logo porque já bate o olho e vê, 
né? Quando é um gay, faz mais o perfil masculino, tem que se 
identificar. Isso também se ele vem de uma unidade que não seja 
unidade de homossexual. (BRASIL, 2020, p. 83).
Ainda que a preocupação de cometimento de violências contra as mu-
lheres lésbicas presas seja menor do que aquela contra as pessoas presas 
em unidades masculinas, é comum observar numa unidade prisional 
feminina relacionamentos que se iniciam motivados pela busca de 
proteção. Nesse sentido, selecionamos dois relatos de mulheres presas 
no estado de Tocantins:
DEPOIMENTO
Eles não chegaram a perguntar se eu sou lésbica na triagem, até 
por conta do meu estilo, né? Perguntaram se eu era fraccionada 
[sic]. Negócio de LGBT ninguém me perguntou. [...] Quando eu 
cheguei eu achei que ia ser diferente, mas eu me surpreendi. Foi 
tratada super bem. Como não tem muita lésbica mesmo aqui aí 
elas me trataram muito bem. (BRASIL, 2020a, p. 120).
GÊNERO E SEXUALIDADE 
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MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 23
A boa receptividade é endossada por outra presa que diz:
DEPOIMENTO
Tem muita gente aqui que tem vergonha e não gosta de se expor. 
Aqui não tem problema, a gente aceita a pessoa como ela for. Pra 
falar a verdade o povo até gosta quando vem uma mulher que gosta 
de outra mulher. Todo mundo respeita de todo jeito. Respeita as 
mulheres, as sapatão. É que aqui a gente não chama de lésbica, 
a gente chama de sapatão mesmo. (BRASIL, 2020a, p. 120).
Na página 92, do referido documento, também há um relato de uma 
presa do estado do Rio de Janeiro, contando sobre o motivo de buscar 
um relacionamento com outra mulher:
DEPOIMENTO
Quando eu me envolvi, foi por proteção. Mas hoje eu já vejo de outra 
forma, a mulher, ela te respeita mais que um homem, ela é mais 
carinhosa que um homem, ela não te agride como um homem. 
Hoje já é outra coisa pra mim. (BRASIL, 2020a, p. 92).
Nem todas as mulheres lésbicas presas se autodeclaram no momento da 
triagem ou na chegada a uma penitenciária. No cotidiano das unidades 
prisionais, observa-se ser comum que o envolvimento entre duas mulheres 
presas ocorra durante o cumprimento de pena, muitas vezes motivado 
pelo abandono familiar ou por busca por proteção, ainda que a violência 
contra lésbicas não seja um problema nas unidades prisionais femininas.
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 24
2.2 Como receber pessoas travestis e mulheres trans 
Geralmente, as pessoas travestis e mulheres trans são alocadas em uni-
dades prisionais masculinas, contudo, é possível que haja cumprimento 
de ordem judicial ou solicitação da pessoa presa à administração prisional 
para que aconteça alocação em unidades femininas.
Um primeiro depoimento que destacamos sobre esse assunto é um 
relato de uma presa travesti do estado do Paraná que diz o seguinte: 
DEPOIMENTO
A questão da alteração do nome, a gente já conversou sobre isso. 
Se a gente alterar o nome a gente corre o risco de ir para uma 
prisão feminina. Eu prefiro mil vezes tirar minha cadeia no meio 
dos meninos do que no presídio feminino. Eu lutei muito pra 
chegar aqui. (BRASIL, 2020a, p. 35).
Na contramão do relato acima, houve também relato de outra travesti 
da mesma unidade prisional se manifestando favorável à ida para uma 
unidade prisional feminina:
DEPOIMENTO
Eu gostaria de ir para uma prisão feminina. Sei lá, acho que lá 
eu seria tratada como mulher mesmo. As agentes mulheres têm 
mais sensibilidade com as nossas questões. (BRASIL, 2020, p. 35).
GÊNERO E SEXUALIDADE 
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MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 25
Por isso, considerando as possibilidades de encaminhamento de travestis 
e mulheres trans às unidades prisionais femininas ou masculinas, o DEPEN 
se manifestou sobre o assunto por meio da Nota Técnica n° 9/2020, que 
elenca uma série de responsabilidades do gestor prisional em relação a 
este tema. Confira a seguir.
Para tanto, é preciso dizer que travestis e mulheres trans são identida-
des diferentes. Entretanto, é comum que as próprias pessoas presas se 
confundam ao escolher uma ou outra identidade de gênero. E é nesse 
momento de porta de entrada à uma unidade prisional que é possível 
dialogar sobre o assunto, com intuito de averiguar a identidade de gênero 
da pessoa presa. 
Responsabilidades do gestor prisional
1
2
3
perguntar o nome social da pessoa;
perguntar como a pessoa se identifica em 
relação à identidade de gênero;
incluir o nome social da pessoa em 
formulário e demais documentos 
usados na unidade;
4promover que todos(as) os(as) 
agentes prisionais e demais 
servidores(as) se reportem à pessoa 
fazendo uso do nome social; e
5
alocar a pessoa em espaço de vivência 
específico, separada do convívio dos demais 
presos, se tiver sido encaminhada para unidade 
masculina, ou das demais presas, se tiver sido 
encaminhada para a unidade feminina.
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 26
A título de exemplo, o estado do Rio Grande do Sul publicou portaria 
conjunta (005/2021) entre a Secretaria de Administração Penitenciária 
(SEAPEN) e a Superintendência dos Serviços Penitenciários (SUSEPE), 
tratando dos procedimentos de custódia das pessoas LGBTI+. Na oportu-
nidade, foi incluído na portaria um anexo (texto modelo de declaração), 
para a pessoa presa preencher conforme sua identidade de gênero:
SAIBA MAIS
Leia a portaria conjunta do estado do Rio Grande do Sul na 
íntegra, disponível em: http://www.susepe.rs.gov.br/uplo-
ad/1625247939_1625233462_DOE%2002.pdf
DECLARAÇÃO DE
IDENTIDADE DE GÊNERO
Eu, ________________________________________________________(nome social), 
civilmente registrado (a) como ______________________________________________ 
RG nº: ______________________, CPF nº: ______________________, domiciliado(a) à 
______________________________________________________________________ 
DECLARO, que sou ☐ TRAVESTI ☐ HOMEM TRANS ☐ MULHER TRANS. 
 _______________________________, _____/_____/__________. 
(Local e Data)
Assinatura do(a) declarante
http://www.susepe.rs.gov.br/upload/1625247939_1625233462_DOE%2002.pdf
http://www.susepe.rs.gov.br/upload/1625247939_1625233462_DOE%2002.pdf
GÊNERO E SEXUALIDADE 
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MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 27
 É preciso se atentar para o fato de que, para se autodeclarar mulher trans, 
a pessoa não é obrigada a ter retificado seus documentos (trocado seu 
nome de registro para o feminino) ou ter passado por procedimentos 
médicos como a redesignação sexual. 
PODCAST
A questão da identidade de gênero passa, principalmente, pela 
maneira que a pessoa se percebe, como se identifica. Nem todas 
as pessoas trans desejam realizar procedimentos cirúrgicos de 
readequação de seu corpo ao gênero com o qual se identificam. 
É possível também que a mulher trans ainda esteja em fila de es-
pera para fazer o procedimento, tenha algum impeditivo de saúde 
para realizá-lo ou até mesmo medo de se submeter a cirurgias.
Outra questão importante a ser mencionada é o que determina algu-
mas facções criminosas que agem no interior de unidades prisionais, 
em especial, nas masculinas. Entre outras coisas ligadas ao universo 
criminoso, é comum relatos de servidores e de pessoas LGBTI+ presas 
de que a facção A ou B não aceita o convívio com quem não é hétero 
ou cisgênero. Há, por isso, forte perigo de cometimento de violência caso 
a administração prisional não se atente quanto aos procedimentos de 
porta de entrada das unidades prisionais e não acompanhe o dia a dia 
das pessoas LGBTI+ presas. 
Redesignação sexual
cirurgia que modifica 
o genital de forma a 
readequá-lo ao gênero 
com o qual a pessoa 
se identifica. No senso 
comum, utiliza-se o termo 
“cirurgia de mudança de 
sexo”, porém atualmente 
a comunidade médica 
e ativistas LGBTI+ 
consideram que este não 
é o termo adequado. 
GÊNERO E SEXUALIDADE 
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MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 28
Segue o relato de uma travesti presa do estado do Paraná:
DEPOIMENTO
O preso passa pelo distrito e vai pro Centro de Triagem 2 em 
Piraquara. Da outra vez que eu fui condenada eles me levaram 
direto para a máxima. Lá eles não tinham esse cuidado. Pelo 
regime deles a gente corta o cabelo e se mistura com os outros. 
Eu passei por isso. Cheguei de cabelo comprido e passei pela 
situação de ter que cortar o cabelo e ter que ficar no meio dos 
homens. Mas a gente já sabia que aqui existia uma cela LGBT 
que eu poderia vir e pagar a minha pena. Eu fiquei nove meses 
tentando vir pra cá. O que facilitou que tem uma lei no crime que 
não permite mais que a gente fique no meio dos meninos. Uma 
lei do crime, interna aqui. Daí na máxima eu fiquei no seguro. 
Eu era a única travesti. Daí depois de pedir muito eu consegui 
vir aqui. (BRASIL, 2020a, p. 34-35).
O relato acima trata — para além dos procedimentos de porta de entrada 
— sobre o que a “lei do crime” dita em relação ao contato com as pessoas 
LGBTI+ nas prisões. É comum esse tipo de comportamento por parte dos 
presos faccionados — mais um motivo para a administração prisional se 
preocupar em proteger a população LGBTI+ de violências.
2.3 Como receber homens trans 
De maneira parecida com as questões que envolvem as travestis e mulheres 
trans, os homens trans podem ou não ter realizado procedimentos médicos, 
como a cirurgia de redesignação sexual e a mastectomia masculinizadora, 
assim como a retificação de documentos (mudança de nome feminino 
para o masculino).
Via de regra, os homens trans são alocados em unidades femininas — 
ainda que tenham redesignado seu sexo e retificado seus documentos 
— para garantia da integridade física, da sua própria segurança. Garantir 
a segurança de um homem trans em uma unidade masculina é tarefa 
muito difícil. Afinal, como garantir sua alocação separado dos demais 
presos diante de um cenário de superpopulação prisional?
Mastectomia 
masculinizadora
cirurgia de retirada das 
mamas, em homens trans, 
para que o tórax fique 
adequado ao gênero de 
identificação.
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 29
Assim, para fins de recebimento de homens trans presos (geralmente em 
unidades femininas), é de responsabilidade da direção prisional observar 
o que segue, de acordo com a Nota Técnica nº 9/2020.
2.4 Como receber pessoas intersexuais
Considerando o que já tratamos sobre a intersexualidade, é possível que 
uma pessoa intersexo (cujas estruturas biológicas – como genital, órgão 
reprodutor, hormônios e/ou padrão cromossômico – não são típicas do sexo 
masculino nem do feminino) seja direcionada a uma unidade masculina 
ou feminina. A decisão sobre este direcionamento ocorre de acordo com 
a vontade pessoa presa — autorizada pela Comissão Técnica de Classifi-
cação — ou para o cumprimento de ordem judicial. 
Responsabilidades do gestor prisional
1
2
3
perguntar o nome social da pessoa;
perguntar como a pessoa se identifica em 
relação à identidade de gênero;
incluir o nome social da pessoa em 
formulário e demais documentos 
usados na unidade;
4
promover que todos(as) os(as) 
agentes prisionais e demais 
servidores(as) se reportem à pessoa 
fazendo uso do nome social; e
5
alocar a pessoa em espaço de vivência 
específico, separada do convívio dos demais 
presos, se tiver sido encaminhada para unidade 
masculina, ou das demais presas, se tiver sido 
encaminhada para a unidade feminina.
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 30
Para as pessoas intersexuais, segundo a Nota Técnica nº 9/2020 do DEPEN, 
é necessário ter a seguinte atenção, na responsabilidade da gestão prisional.
4
não havendo possibilidade de apresentação 
de laudo, garantir espaço específico, 
separada do convívio dos demais presos, se 
tiver sido encaminhada para unidade 
masculina, ou das demais presas, se tiver 
sido encaminhada para a unidade feminina, 
até que seja providenciado documento; e
5
promover que todos(as) os(as) agentes 
prisionais e demais servidores(as) se 
reportem à pessoa fazendo uso do 
nome social, se o tiver.
3
solicitar laudo atestando que as 
características físicas, hormonais e 
genéticas não permitem a 
definiçãodo sexo da pessoa como 
masculino ou feminino;
2 incluir o nome social, se o tiver, da pessoa em formulário e demais documentos usados na unidade;
1 perguntar o nome social da pessoa;
Como receber pessoas intersexuais
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 31
2.5 Da manutenção de cabelos, acesso a materiais e objetos 
Ao dar importância para as especificidades das pessoas LGBTI+ presas, 
faz-se necessário compreender que o tratamento deve ser de acordo 
com suas orientações sexuais e, em especial, suas identidades de gênero, 
independente se a unidade prisional é feminina ou masculina.
A Resolução Conjunta nº 1, de 15 de abril de 2014, menciona, em seu 
art. 5º, o que segue:
À pessoa travesti ou transexual em privação de liberdade serão 
facultados o uso de roupas femininas ou masculinas, conforme o 
gênero, e a manutenção de cabelos compridos, se o tiver, garan-
tindo seus caracteres secundários de acordo com sua identidade 
de gênero. (BRASIL, 2014, p. 2).
Diante do exposto, ressalta-se que os objetos e materiais ligados à iden-
tidade trans(roupas femininas, peças íntimas femininas, batom, pinça 
etc.) não são desnecessários. As gestões prisionais podem se adequar 
a esse atendimento, considerando as dificuldades de compreensão e 
adequação dos procedimentos já consolidados, conforme o relato de 
um policial penal do estado de Minas Gerais:
DEPOIMENTO
A gente só tem tomado cuidado pra não virar regalia. É um pú-
blico que a gente acaba permitindo coisas que não permite pros 
héteros. Algumas coisas são diferentes. Escova de cabelo, essas 
coisas mais pessoais, sabe? Coisas femininas, sabe? A gente acaba 
abrindo um precedente. Só é difícil controlar isso. Quando nós 
tínhamos um público feminino, quando essa cadeia inaugurou, 
ela sempre teve mulheres. Então, nós nos aproximamos do que 
as mulheres tinham de regalias. Questão de batom, esmalte, 
alicate de unha, algumas coisas de cabelo, prancha de cabelo, 
coisas que não tem pro público hétero. Quando o pavilhão era 
feminino, tinha uma equipe maior feminina para cuidar do fe-
minino. Quando transformou o público feminino em LGBT, não 
aumentou o número de agentes. Então, nós temos uma mão de 
obra muito grande lá. 
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 32
A primeira coisa que acontece é não ter controle. Prancha de 
cabelo, por exemplo, tem que ter o controle. Quando era o femi-
nino se tinha o controle. Não ficava na cela. E se ficava na cela 
era aquela coisa controlada, entra em um horário e no final da 
tarde sai. Tem a questão o público masculino que tem o machis-
mo… a homofobia, vamos tratar assim, você tem dificuldade de 
selecionar funcionários. (BRASIL, 2020a, p. 88).
Constantemente, a palavra regalia aparece no vocabulário prisional; 
contudo, as gestões prisionais precisam se esforçar no sentido de atuar 
junto aos servidores para capacitação quanto às especificidades da po-
pulação LGBTI+; em especial, às demandas da população trans. Objetos 
e materiais que fazem parte da identidade das pessoas trans não devem 
ser vistas como regalias, mas como essenciais para suas identidades.
Materiais do “Dia de Beleza” para apenados LGBT. 
Foto: Superintendência dos Serviços Penitenciários do Rio Grande do Sul.
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 33
Ainda sobre o acesso a itens materiais que fazem parte da identidade das 
pessoas trans, segue o relato de outro servidor do estado de Minas Gerais.
DEPOIMENTO
Tem muita gente que olha pra eles e vê essas coisas como regalia. 
Isso gera um pouco de desconforto por parte dos agentes. Eles 
ficam questionando se pode tudo e não pode tudo. Mas é difícil 
conscientizar que tem uma diferença. [...] É mulheres cuidando 
de mulheres. Os homens, nós agentes masculinos, não dávamos 
nem palpite. O máximo que a gente fazia era de vez em quando 
entrar pra dar um palpite pequeno. Eram mulheres cuidando 
de mulheres. Elas entendem essas peculiaridades. No caso do 
público trans é homem cuidando de mulher, entende? O pensa-
mento muda. O homem cuidando de homem, ele vê o preso como 
homem. O guarda cuidando do preso LGBT, ele tem a dificuldade 
de ver o preso como mulher. E eles tem peculiaridades que são 
muito próximo de mulher. Quando o público LGBT chegou aqui 
e caiu na minha mão eu não sabia o fazer, eu chamei uma agente 
que já tinha trabalhado em uma unidade feminina e disse pra 
ela que eu precisava que ela me ajudasse. No começo começou 
pequeno e não era superlotado, ela me falou como funcionava 
no feminino e a gente tentou aproximar. A verdade é que a gente 
não consegue ter esse controle. Quanto tinha o feminino, tinham 
uma equipe de 3, 4 agentes mulheres que ficavam lá com elas, 
hoje a gente tem no máximo 1 gaiola. Cada setor tem um centro 
de comando que monitora e controla a chave e o rádio. Tem um 
agente que é fixo alí e todo pavilhão tem e tem os outros agentes 
de apoio que entra e sai. (BRASIL, 2020a, p. 88).
Diante do exposto, percebem-se as dificuldades em executar procedi-
mentos de custódia que abarcam as especificidades de gênero oposto 
da maioria do quantitativo de presos, no caso, o masculino cisgênero. 
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 34
Tão importante quanto o acesso a itens materiais é a manutenção de 
cabelos compridos. Entretanto, 
PODCAST
sabe-se que é muito comum o procedimento de corte de cabelos 
das pessoas presas nas unidades masculinas e que essa ação tem 
se estendido ao tratamento dado às mulheres trans e travestis, 
mesmo em unidades prisionais que não seguem nenhum tipo 
de manual de procedimentos padrão. Ou seja, mesmo não tendo 
nenhum tipo de recomendação expressa. 
A lógica do aprisionamento de mulheres trans, travestis e de 
homens trans deve seguir a das regras da identidade de gênero 
da pessoa presa. Por exemplo: ainda que uma mulher trans es-
teja presa em uma unidade masculina, o tratamento dado a ela 
deve ser o mesmo que é oferecido às mulheres de uma unidade 
feminina. Ao passo que os cabelos das mulheres das unidades 
femininas não são cortados, os cabelos das mulheres trans e 
travestis também precisam ser preservados.
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 35
Assim, não se deve raspar os cabelos das mulheres trans e das travestis, 
seja na triagem ou depois, seja numa unidade prisional masculina ou 
numa feminina, seja cabelo natural ou não.
É dever da direção da unidade prisional atuar no sentido de preservar as 
identidades e expressões de gênero, caso estejam ameaçadas por ser-
vidores ou por outras pessoas presas — como no caso relatado a seguir, 
no depoimento de uma presa do estado da Paraíba:
DEPOIMENTO
Eu já rodei tudo que é presídio. Eu estava no sertão. Os dois ra-
pazes inventaram uma história pra cortar meu cabelo. Disseram 
que as mulheres deles estavam com ciúme. Às vezes é verdade 
mesmo. As mulheres têm ciúme da pessoa. Daí ele queria cortar 
meu cabelo. Eu estava em outra cela. Daí eu disse “se for pra 
cortar meu cabelo, eu prefiro ficar no isolado”. Alguns presos até 
me apoiaram dizendo pra não cortar meu cabelo. Mas no outro 
dia teve o banho de sol. Mas nesse tempo a cadeia [administra-
ção prisional] não sabia de nada. Aí eu desci lá e consegui falar 
com eles. Eles foram nos presos e falam que ninguém ia cortar 
meu cabelo porque só quem pode mexer nos presos é a cadeia. 
Tem os que respeitam, tem os que gostam e os que não gostam. 
(BRASIL, 2020a, p. 77).
No estado do Rio Grande do Norte, aconteceu algo parecido com o 
último relato. Os cabelos de uma travesti foram preservadosdiante de 
suposta lei que proíbe o corte de cabelos da população trans em situação 
de prisão, conforme atesta seu relato, que segue:
DEPOIMENTO
Nessa aqui, eu cheguei da rua. Eu fui pra uma triagem que eles 
não cortaram meu cabelo, porque eles disseram que tem uma 
lei agora que não pode mais cortar cabelo de travesti. (BRASIL, 
2020a, p. 71).
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 36
Diante do exposto sobre a custódia de mulheres trans e travestis, o DE-
PEN já se manifestou, por meio da Nota Técnica nº 9/2020, afirmando 
que a população trans presa tem os direitos a seguir.
Do mesmo modo, tratado sobre as mulheres trans e travestis, aos ho-
mens trans cabe o tratamento que considere a possibilidade de acesso 
a itens de acordo com a identidade de gênero: roupas masculinas, faixa 
de compressão de mamas etc.
Às pessoas intersexo, também o acesso à manutenção de cabelos, 
aos materiais e objetos deve se dar de acordo com o que a pessoa se 
identifica e se autodeclara.
a vestimentas de acordo com sua 
identificação de gênero (feminina);
à manutenção de seus 
cabelos compridos, inclusive, 
mega hair, desde que fixo; 
produtos de maquiagem. 
pinças para extração de pêlos; e
Direitos da população trans presa
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 37
2.6 Da revista pessoal em pessoas LGBTI+
É importante pontuar que a revista pessoal em lésbicas, gays e bissexuais 
se dá assim como é realizada para o restante das pessoas presas. Contudo, 
para as populações de travestis, de mulheres trans, de homens trans e 
de intersexos, é preciso ter atenção bastante específica.
Por isso, para iniciar o assunto, remontamos ao que o DEPEN afirmou 
por meio da Nota Técnica nº 9/2020:
"[...] Importante destacar a eficiência no uso do aparelho de scanner 
corporal (aparelho moderno que faz uma varredura profunda detec-
tando substâncias ou objetos suspeitos) ou detectores de metais em 
substituição às revistas íntimas, evitando eventuais constrangimentos 
às pessoas travestis e transsexuais e aos servidores." (BRASIL, 2020b, 
p. 6, grifos no original).
Portanto, é incentivado o uso de tecnologia para a revista pessoal na 
população trans e nas travestis. 
Abordar esse tema faz-se necessário pela existência de procedimentos 
de revistas íntimas que são bastante consolidados nas unidades prisio-
nais. A presença de pessoas que não são cisgênero pode gerar questio-
namentos sobre quem deverá realizar a revista — um servidor ou uma 
servidora prisional?
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 38
Por isso, mais uma vez, recorremos ao recomendado na Nota Técnica 
nº 9/2020:
A necessidade de tratar sobre a revista pessoal se dá em virtude das de-
cisões de Cortes Superiores do Brasil que demonstram preocupação com 
a alocação da população prisional LGBTI+, em especial com as travestis 
e as mulheres trans. Tal alocação pode gerar dúvidas em servidores de 
unidades prisionais femininas sobre a execução dos procedimentos de 
forma a não ferir a dignidade da pessoa humana, conforme observa-se 
o relato da servidora a seguir:
Homens autoidentificados como gays
recomendação de que sejam revistados por servidor habilitado a fazer a revista.
Mulheres autoidentificadas como lésbicas
recomendação de que sejam revistadas por servidora habilitada a fazer a revista.
Homens trans
recomendação de que sejam revistados por 2 (duas) mulheres, seguindo as 
normas dispostas a todas as mulheres presas.
• quando alocadas em unidades femininas, recomendação de que sejam 
revistadas por 2 (duas) mulheres, seguindo as normas dispostas a todas 
as demais presas;
• quando alocadas em unidades masculinas, poderão ser revistadas por 
homens, caso não existam 2 (duas) servidoras habilitadas para o procedimento.
Travestis e mulheres trans que não realizaram procedimento de 
redesignação sexual
• quando se identificam com o gênero masculino: recomedação de que 
sejam revistadas por servidor habilitado;
• quando se identificam com o gênero feminino: recomendação de que 
sejam revistadas por duas servidoras habilitadas.
Pessoas intersexo
GÊNERO E SEXUALIDADE 
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MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 39
DEPOIMENTO
A resistência que a gente tinha maior aqui no início já foi sanada. 
Nosso quadro de pessoal no presídio feminino de Teresina, a mé-
dia é de uns 60 anos de idade das agentes. É uma senhora de 60 
anos fazendo uma vistoria num homem. Ele é homem, tem tudo 
de um homem, o genital masculino. Agora já chegaram novas 
agentes com preparo que passaram por uma escola diferente. 
Nós hoje está sanado. A travesti em si aqui acabou que passou 
a não se incomodar se é homem ou mulher fazendo a revista. 
(BRASIL, 2020a, p. 69).
2.7 Da revista pessoal em visitantes LGBTI+ 
Na mesma linha utilizada sobre a revista pessoal realizada em pessoas 
LGBTI+ presas, é recomendado que visitantes lésbicas, gays e bissexuais 
tenham tratamento semelhante ao das pessoas cisgênero heterossexuais; 
contudo, para visitantes travestis, mulheres trans, homens trans e inter-
sexos, é preciso ter atenção específica.
Portanto, recomenda-se que seja utilizado o scanner corporal para revista 
pessoal em visitantes que sejam travestis, mulheres trans, homens trans 
e intersexos. Esse equipamento já se mostrou eficiente e, para a ocasião, 
evita possíveis constrangimentos para os visitantes e servidores que 
precisam realizar procedimentos de segurança nas unidades prisionais.
Equipamento utilizado para a revista de visitantes em unidades prisionais. 
Foto: SP Notícias / Governo do Estado de São Paulo.
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 40
Ainda, ressalta-se a necessidade do respeito ao nome social, caso o vi-
sitante o tenha. Além disso, destaca-se que o tratamento deve seguir a 
lógica da identidade de gênero do visitante. Exemplo: se a visita for uma 
mulher trans, o servidor precisa se reportar a ela utilizando os termos 
femininos; se for um homem trans, o tratamento precisa ser masculino; 
se a pessoas for intersexo, o tratamento deve ser de acordo com o gênero 
com o qual a pessoa se identificar.
Quanto à visita íntima, caso a unidade oferte essa atividade à população 
prisional, recomenda-se que seja garantida a mesma concessão aos 
visitantes e aos presos LGBTI+. 
Nesse sentido, com intuito de garantir o acesso ao que é para todos os 
presos, relembra-se a Resolução Conjunta nº 1, de 15 de abril de 2014, 
em seu art. 6º, que expressa o que segue: 
“É garantido o direito à visita íntima para a população LGBT em 
situação de privação de liberdade, nos termos da Portaria MJ 
nº 1190/2008 e na Resolução CNPCP nº 4, de 29 de junho de 
2011.” (BRASIL, 2014, p. 3).
UNIDADE 3
Do acesso às assistências 
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MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 42
3. DO ACESSO ÀS ASSISTÊNCIAS 
O acesso às assistências é passo importante para a cidadania. E, afinal, 
a cidadania é essencial para a dignidade. 
É comum aos que trabalham em unidades prisionais, eventualmente, 
perceberem a busca incessante das pessoas presas a algum tipo de 
assistência, seja ela de saúde, de educação, de trabalho ou de alguma 
atividade voltada ao psicossocial. E não é diferente com as pessoas LGBTI+. 
Não é difícil encontrar pessoas presas que nunca tiveram acesso à edu-
cação formal/escolarização ou que nunca foram ao dentista. É nesse 
universo que as assistências em ambientes prisionais se apresentam.
3.1 Da saúde da pessoa LGBTI+ 
O art. 7º da Resolução Conjunta nº 1/2014 CNPCP/CNCD/LGBTé claro 
e direto quanto ao acesso das pessoas LGBTI+ à saúde:
[...] garantida à população LGBTI em situação de privação de li-
berdade a atenção integral à saúde, atendidos os parâmetros da 
Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, 
Travestis e Transexuais - LGBT e da Política Nacional de Atenção 
Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema 
Prisional – PNAISP. (BRASIL, 2014, p. 3).
Diante do exposto, tudo que for de direito de acesso à saúde pelo Sis-
tema Único de Saúde (SUS) é também para as pessoas LGBTI+ presas, 
incluindo os procedimentos de utilização de hormônios. O tratamento 
hormonal é uma demanda comumente pleiteada por mulheres trans, 
travestis e homens trans. 
Portanto, é necessário dizer que o cuidado à saúde da população trans 
percorre dois caminhos: o da atenção básica e o da atenção especializada.
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MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 43
A atenção básica é responsável pelos primeiros atendimentos médicos. 
Nestes atendimentos é possível ser avaliado e encaminhado para o 
atendimento especializado, que poderá ser para especialidades como: 
urologia, cardiologia, angiologia, endocrinologia etc. No caso do acesso 
da população trans ao tratamento hormonal, é necessário o encaminha-
mento a especialista em endocrinologia.
Foto: Adaptado de © [Prostock-studio] / Shutterstockassist.
Entretanto, a atenção especializada de maior interesse da população 
trans não se limita à hormonioterapia. Nesse sentido, a atenção espe-
cializada é dividida em dois expoentes: a ambulatorial e a hospitalar. 
O tratamento hormonal faz parte do atendimento ambulatorial, assim 
como o atendimento psicológico. Já o atendimento hospitalar é direcio-
nado à redesignação de sexo: colocação de prótese de silicone, cirurgia 
genital, remoção das mamas (mastecomia) e do útero (histerectomia).
É importante ressaltar que nas unidades prisionais a atenção básica é 
bastante consolidada, a saúde especializada não. Portanto, ainda que 
haja um encaminhamento médico emitido através da atenção básica, 
é necessário que a gestão da unidade prisional (em atividade conjunta 
com o setor de saúde prisional) proporcione marcação de atendimento 
médico especializado extramuros. 
GÊNERO E SEXUALIDADE 
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MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 44
Assim, a marcação de uma consulta especializada pelo SUS passa pelo 
que segue.
Ademais, considerando que a pessoa trans obteve sucesso em atendimento 
especializado para iniciar tratamento hormonal, é preciso considerar que 
será preciso o acesso ao hormônio, o que poderá ser acessado pelo SUS 
ou por via particular. 
Nesse sentido, é coerente o relato de uma travesti presa no estado do 
Mato Grosso, que segue:
DEPOIMENTO
A gente tem a instrução normativa. Não é que a unidade prive 
[a hormonização], mas o SUS que não tem condições de fornecer. 
Eu comecei a ir para a hormonização só que a comissão mista 
que foi montada, que são cinco profissionais, que vão atender no 
hospital federal, ela foi desmanchada. Eles estavam tendo um 
problema com travestis que estavam vendendo receituário dos 
programas de hormonização. Então eles acabaram cortando até 
que achassem uma nova metodologia pra que não houvesse esse 
tipo de fraude. Hormonização aqui não tem, mas não que a unida-
de não se disponha a fazer, mas é que o SUS não fornece mesmo. 
Os profissionais não atendem aqui na unidade, urologista, endo-
crinologista. Todos esses profissionais eu fui lá fora, mas já que 
essa equipe foi desmanchada, não teve mais. (BRASIL, 2020a, p. 43).
Dependências para o agendamento de consultas 
1
2
pela decisão da gestão prisional em 
marcar consulta extramuros; e 
pela disponibilidade de vaga na 
atenção especializada.
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MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 45
Considerando que, na maioria das unidades prisionais, o acesso à saúde 
é através de Unidades Básicas de Saúde, os gestores prisionais são res-
ponsáveis por garantir que as pessoas trans tenham acesso a consultas 
e tratamentos especializados externos. 
Por isso, é necessário oportunizar, para a população trans, mar-
cação de consultas, transporte e escolta para acesso à saúde 
específica, ou articular para que esse tipo de atendimento seja 
feito no interior das unidades prisionais.
Um direito relacionado a toda população presa, inclusive às pessoas 
LGBTI+, é o sigilo dos prontuários e exames médicos, em especial da-
queles que trazem informações relacionadas ao contágio de HIV/AIDS 
e a quaisquer outras infecções sexualmente transmissíveis (IST). 
Foto: [Jarun Ontakrai] / Shutterstock.
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Ainda em relação ao HIV e demais doenças sexualmente transmissíveis, 
a atuação das gestões das unidades prisionais é fundamental em pelo 
menos três aspectos. Confira a seguir.
Sobre o assunto, um diretor de unidade prisional do estado de São Paulo 
disse o seguinte:
DEPOIMENTO
Eu não posso servir preservativo apenas para a população LGBT 
apenas [sic]. O que a gente faz? A gente serve para a população 
geral. A gente faz isso no dia antes da visitação. Se o preso LGBT 
necessitar de mais, eles vêm na enfermaria e a gente dá. A gente 
serve a todos. A gente tem população LGBT que a gente sabe que 
pratica sexo durante a semana fora do dia de visitação, como 
que eu não vou dar preservativo? Isso vai influenciar na saúde 
da minha unidade prisional. Eu prefiro ter a população LGBT se 
relacionando com preservativo que ter uma epidemia de sífilis 
ou ter um grande avanço na questão do HIV. Não só os LGBT, 
mas a população geral. Na sexta-feira a gente serviu no pavilhão 
600 camisinhas, 600 unidades. Eu tive nesse pavilhão uns 200 
visitantes. Eu não vou entrar e pedir 400 preservativos de volta. 
(BRASIL, 2020a, p. 98).
garantir o sigilo dos 
prontuários de saúde;
garantir o tratamento das pessoas 
contaminadas com IST, em 
especial, as com HIV ou aids;
 ter disponível o acesso gratuito 
de camisinhas para todas as 
pessoas presas, em especial, 
para as pessoas LGBTI+.
HIV e infecções sexualmente transmissíveis
GÊNERO E SEXUALIDADE 
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3.2 Do acesso da pessoa LGBTI+ ao mundo do trabalho 
Deve ser garantido o acesso das pessoas LGBTI+ presas ao mundo 
do trabalho e à renda. Considerando que esse acesso pode ter como 
dificultador o preconceito da população prisional contra a população 
LGBTI+, as gestões prisionais precisam se esforçar no sentido de ofertar 
vagas de trabalho para todas as pessoas.
Nesse sentido, relembramos as Regras de Mandela, que em sua regra 
nº 96 diz o seguinte: 
1. Todos os reclusos condenados devem ter a oportunidade de 
trabalhar e/ou participar ativamente na sua reabilitação, em con-
formidade com as suas aptidões física e mental, de acordo com 
a determinação do médico ou de outro profissional de saúde 
qualificado. (BRASIL, 2016, p. 41).
Portanto, recomenda-se que sejam oferecidas às pessoas LGBTI+ presas:
Vagas para cursos 
profissionalizantes.
Vagas para 
atuação em oficinas 
do PROCAP.
Vagas de trabalho 
remunerado, quando 
houver oportunidade.
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3.3 Do acesso da pessoa LGBTI+ à educação
Seguindo a mesma lógica do acesso ao mundo do trabalho, recomen-
da-se que sejam oferecidas à população LGBTI+, além do já citado 
acesso a vagas em cursos profissionalizantes:
Assim, os acessos às atividades educacionais devem seguir a lógica da 
oferta a todas as pessoaspresas. É necessário que as gestões das unida-
des prisionais se esforcem no sentido não somente de oferecer vagas, 
mas de acompanhar a evolução da execução das atividades com intuito 
de perceber qualquer possibilidade de intimidação de outras pessoas 
presas com viés discriminatório. As equipes pedagógicas da Educação 
de Jovens e Adultos, via de regra, são importantes parceiras na busca do 
sucesso escolar.
Foto: Secretaria do Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais.
Vagas para Educação 
de Jovens e Adultos.
Oportunidade de 
leirura e, com isso, 
remição pela leitura.
Oportunidade de 
inscrição em exames 
nacionais, como Enem 
PPL e Encceja PPL.
EJA ENCCEJA ENEM
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MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 49
3.4 A assistência social à pessoa LGBTI+
No cotidiano das unidades prisionais, observa-se que o contexto que 
a assistência social atua com a população LGBTI+ é a do abandono, 
em especial, o do universo trans. 
PODCAST
Há, geralmente, um histórico de abandono e rejeição familiar 
antes do momento de prisão e isso se estende ao cumprimento 
de pena. Se “na rua” a rejeição era uma marca, no cárcere isso 
se acentua. Se o homem hétero costuma receber visitas de suas 
mães, esposas, irmãs etc., a grande maioria das mulheres trans 
e travestis não recebe tais visitas. Suas relações familiares, após 
o abandono de seus entes, são construídas por relações não san-
guíneas, muitas delas não autorizadas pelas gestões prisionais 
para realização de visitas às pessoas LGBTI+.
Nesse sentido, atividades rotineiras quando relacionadas à visitação 
prisional trazem prejuízos às presas trans e travestis, quais sejam:
• agravo da saúde mental;
• falta de recebimento de itens de higiene e vestuário;
• falta de notícias externas etc. 
Com a ausência familiar em visitação às unidades prisionais, parte da 
população LGBTI+ fica entregue ao Estado como único fornecedor de 
alimentos, vestuário e itens de higiene. Por isso, as gestões prisionais 
precisam valorizar a assistência social às pessoas LGBTI+. É esse serviço 
que tem o maior poder de compreender a amplitude da vivência da 
pessoa LGBTI+ presa e sua reinserção social.
Portanto, a assistência social das unidades prisionais precisa desenvolver 
ações voltadas à população LGBTI+, em especial, para as pessoas trans e 
travestis, no sentido de oportunizar o acesso ao que um familiar, even-
tualmente, poderia fornecer.
Algumas estratégias podem ser montadas no combate ao isolamento 
social e vulnerabilidade LGBTI+ no cárcere. O DEPEN já se manifestou 
sobre o assunto por meio da Nota Técnica nº 9/2020, dizendo o seguinte:
GÊNERO E SEXUALIDADE 
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MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 50
"Considerando que presos LGBTI encontram dificuldades de recebi-
mento de itens materiais através de visitantes, recomenda-se que o 
serviço social das unidades prisionais desenvolva ações contínuas 
dirigidas aos visitantes e às pessoas LGBTI presas, considerando o 
respeito aos princípios de igualdade, não-discriminação e do autorre-
conhecimento e de acessibilidade de itens materiais para população 
LGBTI presa, quais sejam: 
a) autorização de visitante de outra pessoa presa fornecer a assistência 
material em quantidade suficiente para 2 (duas) pessoas; 
b) autorização de entrada de itens femininos, ainda que a pessoa 
presa seja gay, bissexual, travesti ou mulher trans alocada em uni-
dade masculina; e
 
c) autorização de entrada de itens masculinos, ainda que a pessoa 
presa seja lésbica ou homem trans." (BRASIL, 2020b).
Os serviços de assistência social das unidades prisionais devem estar 
atentos às demandas específicas de toda pessoa presa. Por isso, sempre 
que houver uma dificuldade que impeça a pessoa LGBTI+ presa de viver 
com dignidade pelas questões que envolvem suas demandas específicas, 
os serviços de assistência social devem produzir relatórios expondo os 
entraves e sugerindo soluções, encaminhando às gestões prisionais para 
possíveis providências.
A Lei nº 7.210 (Lei de Execução Penal) trata do que se espera dos profis-
sionais de assistência social que atuam com atividades ligadas às pessoas 
presas. Assim, o art. 22 diz que "a assistência social tem por finalidade 
amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade", 
sendo incumbência do serviço de assistência social, de acordo com o art. 23: 
I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames; 
II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os pro-
blemas e as dificuldades enfrentadas pelo assistido; 
III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das 
saídas temporárias;
GÊNERO E SEXUALIDADE 
NO SISTEMA PRISIONAL
MÓDULO 2 | Garantias legais, recebimento e procedimentos de custódia de pessoas LGBTI+ presas 51
IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, 
a recreação; 
V - promover a orientação do assistido, na fase final do cum-
primento da pena, e do liberando, de modo a facilitar o seu 
retorno à liberdade; 
VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da 
Previdência Social e do seguro;
VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, 
do internado e da vítima. (BRASIL, 1984, grifos nossos).
Embora os servidores que atuam com a assistência social precisem se 
atentar às vulnerabilidades das pessoas LGBTI+ presas, são os gestores 
prisionais os principais responsáveis pela rotina penitenciária; são eles que 
precisam tomar as principais decisões em atenção à população LGBTI+.
3.5 A assistência religiosa à pessoa LGBTI+
A assistência religiosa também pode ser muito preciosa à população 
LGBTI+. Contudo, recomenda-se atenção na oferta no sentido de que a 
pessoa LGBTI+ precisa manifestar sua vontade de receber ou não a visita 
de um religioso ou de participar de alguma celebração religiosa; seja um 
culto, uma missa ou um passe feito por religião de matriz africana. 
De maneira alguma é aceitável a assistência religiosa impositiva. A própria 
Lei de Execução Penal trata deste assunto em seu artigo 24: 
A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos 
presos e aos internados, permitindo-se lhes a participação nos 
serviços organizados no estabelecimento penal, bem como a 
posse de livros de instrução religiosa. § 1º No estabelecimento 
haverá local apropriado para os cultos religiosos. § 2º Nenhum 
preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade 
religiosa. (BRASIL, 1984).
Agora que você realizou o estudo sobre o acesso a assistências por parte 
das pessoas LGBTI+ presas, veja, a seguir, uma retomada dos pontos mais 
importantes do módulo.
52
Neste módulo do curso, foram abordadas questões relativas à legislação, 
ao acolhimento e aos direitos das pessoas LGBTI+ em seu recebimento 
no sistema prisional e no cumprimento de sua pena. Na Unidade 1, foram 
apresentados excertos de dispositivos legais que embasam a atenção 
às pessoas LGBTI+ presas:
• em relação ao seu direito de tratamento igualitário perante a lei, sem 
discriminção, violência ou preconceito em virtude de sua orientação 
sexual e/ou identidade de gênero. 
• no que tange ao respeito às suas especificidades e ao acesso a pro-
cedimentos de custódia diferenciados, visando sobretudo à garantia de 
sua segurança e integridade física.
Na Unidade 2, abordamos os procedimentos de recebimento de pessoas 
LGBTI+ nas unidades prisionais. Foi destacada a importância da entrevista 
no momento da triagem, momento em que se deve abrir espaço para 
a autodeclaração de orientação sexual e de identidade de gênero das 
pessoas LGBTI+. Quando for o caso, também para o registro do nome 
social de pessoas trans e travestis. Este deve ser incluído no registro 
de admissão e demais documentos, e respeitado sempre que se fizer 
referência à pessoa presa.
Vimos que deve ser oferecida à pessoa LGBTI+ alocaçãoespecífica, sendo 
uma escolha da pessoa aceitar ou não esta oferta. Independentemente 
de sua alocação, no cumprimento da pena, o tratamento deve ser de 
acordo com sua identidade de gênero, inclusive no que diz respeito à 
manutenção de cabelo, vestimentas e acesso a materiais e objetos.
Destacamos a necessidade de especial atenção em relação aos proce-
dimentos de recebimento e à revista íntima das pessoas trans, travestis 
e intersexuais, apontado orientações técnicas para cada caso.
SÍNTESE DO MÓDULO
Por fim, pontuamos o direito à visita íntima para a população LGBTI+ nos 
contextos em que esta é oportunizada às pessoas presas.
Na Unidade 3, abordamos o acesso às assistências e sua importância para 
a população LGBTI+ presa. Em relação à saúde, foi destacada a garantia 
ao acesso de pessoas transexuais a consultas e tratamentos especiali-
zados disponíveis no Sistema Único de Saúde; o necessário sigilo em 
relação aos prontuários e exames; e a atuação no sentido da prevenção, 
da detecção e do tratamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis.
Também tratamos nesta unidade da importância de oportunizar o acesso 
à educação básica e profissionalizante, assim como às oportunidades 
de trabalho e renda. Abordamos em seguida a relevância da assistência 
social às pessoas LGBTI+, que muitas vezes têm o Estado como único 
provedor para suas necessidades de alimentação, vestimenta e higiene. 
Por fim, abordamos a assistência religiosa à pessoa LGBTI+ em situação 
de prisão, destacando que esta não pode de forma alguma ser imposta, 
mas sim prestada quando há manifestação da vontade da pessoa presa. 
Chegamos ao final do nosso curso. 
Esperamos que o curso tenha sido efetivo para incorporar conhecimentos 
em seu dia a dia.
SÍNTESE DO MÓDULO
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