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Psicologia Social Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Gisele de Lima Fernandes Ribeiro Profa. Ma. Nirley Dragonetti Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin O que é Psicologia Social • A psicologia e suas abordagens • Psicologia e outras ciências • Psicologia Social • Sociologia e psicologia: influências na psicologia social • Influência da Sociologia • Influência da Psicologia • A nova Psicologia Social · O que difere a Psicologia Social da Psicologia?; · Como a Psicologia se relaciona com as Ciências Sociais?; · Quais as influências da Psicologia Social? OBJETIVO DE APRENDIZADO Seja bem-vindo(a) às nossas discussões sobre Psicologia Social ! Saiba que esta Disciplina tem como propósito de estudar da Psicologia em seus aspectos gerais, bem como da Psicologia Social, além de compreender as relações entre as áreas de conhecimento relacionadas às ciências sociais na contemporaneidade e seus desafios, oferecendo-lhe contato com as discussões mais recentesdessaárea;alémdelheproporcionarmomentosdeleitu ra – textual e audiovisual – e reflexãosobreostemasqueserãoaquidiscutidos,co ntribuindo com sua formação continuada e trajetória profissional. Esta Disciplina está organizada em quatro unidades, cujo eixo principal será, ou seja,que dê conta de apresentar o conceito de Psicologia Social, as etapas do desenvolvimento humano e o entendimento do ser humano nos ambientes sociais, para que se possa entender a Psicologia Social na contemporaneidade, é o que você encontrará nas próximas unidades. ORIENTAÇÕES O que é Psicologia Social UNIDADE O que é Psicologia Social Contextualização “Ó Professora: Vou contar a história da psicologia social do ‘meu jeito’ Lucas Roberto Pedrão Paulino Marillicia Witzier Antunes Ribeiro Palmieri Venho por meio de este ensaio contar a rapsódia História da Psicologia Social, sob a perspectiva da minha ideologia. Mas espera aí: sob a perspectiva da minha ideologia? (...) Cada ser humano portador de uma (...) uma estrutura que, no decorrer de sua existência aqui na Terra, é modificada de acordo com suas experiências – muito lindo toda essa citação, não é? Palavras bonitas, mas falta objetividade. Há muitas ideologias que circulam na sociedade, sabia? Na verdade, elas não são uma criação somente minha. É sério! Vamos, acompanhe-me numa viagem ao interior de mim, leia meus pensamentos ‘digitados’: Eu não tinha parado para pensar que desde que nasci e depois com o passar do tempo eu não aprendi coisa alguma sozinho, sempre aprendi com a mamãe, depois com mamãe e papai, depois com mamãe, papai, vovô, vovó, tios, tias, primos, primas, colegas da escola, namorada, enfim aprendi muitas coisas com muita gente. Foi aí que acabei descobrindo ‘... que a sociedade (os outros) é cheia de regras: eu devia pensar antes de agir, pensar para resolver problemas, pois ‘pensar’ era ser inteligente’ (Lane, 2002, p.14) . Pensar! Eis a chave para não correr um sério risco: o de estar sendo dominado pelos ‘outros’ e, pior, de estar permitindo a dominação ‘dos outros’ em mim. ‘Para! Para tudo! Calma lá ...’ Será que passei muito tempo pensando que era ser humano, mas não passava de um papagaio? Será que passei muito tempo como um autômato só reproduzindo normas e regras sociais sem ao menos reconhecer que o meu agir e o meu pensar estavam desconectados? Sei lá!... Só sei que levou um tempo para passar de papagaio e autônomo, para alguém capaz de pensar, agir e sentir de acordo com a minha consciência, buscando construir a minha identidade.” O texto do quadro é parte do artigo “A história da Psicologia Social contada da perspectiva do aluno que não fez ‘a tarefa de sempre’”. Com uma narrativa bem humorada, o artigo, na íntegra, aborda conteúdos teóricos e históricos da Psicologia Social. Lucas Roberto Pedrão Paulino, o tal aluno que decide contar a história da Psicologia Social do seu jeito, proporciona, por meio de sua reflexão, a possibilidade de analisar como o que somos é resultado da Sociedade em que vivemos. Neste contexto, esta Unidade procura apresentar uma breve história da Psicologia Social, destacando como diferentes abordagens teóricas influenciam uma Ciência e, especialmente, como diferentes formas de compreensão de um mesmo fenômeno podem afetar a análise que dele fazemos. 6 7 A psicologia e suas abordagens A busca pela compreensão do ser humano é bastante remota. Podemos afirmar que entre os registros mais antigos das indagações do homem para compreender o comportamento humano, bem como suas relações com o ambiente que o cerca, estão aqueles que se referem ao pensamento socrático, no século IV antes da Era Cristã. Pensadores gregos como Sócrates, Platão e Aristó- teles já buscavam compreender questões relacionadas à imortalidade da alma e ao conhecimento nela con- tido, sendo assim considerados pensadores primitivos da Psicologia. Sócrates, primeiro filósofo que se ocupou em es- tudar o comportamento humano, atribuiu ao homem a razão, distinguindo-o dos demais seres da natureza. Discípulo de Sócrates, Platão também se ocupou da busca por compreender o ser humano, especialmente questões relacionadas à distinção corpo e alma, pos- tulando que a alma inteligente e imortal estaria presa ao corpo mortal. Fig. 01 – Sócrates Fonte: wikimedia/commons Já Aristóteles, o discípulo de Platão, avançou em seus estudos, buscando respostas às questões relacionadas não só à razão, mas também à percepção e às sensações, entre outras. Fig. 02 – Wilhelm Fonte: wikimedia/commons A história da Psicologia mais contemporânea, também destaca importantes pensadores. Entre eles, um dos estudiosos que merece destaque é o médico, psicólogo e filósofo Wilhelm Wundt (1832-1920). Entre as grandes contribuições de Wundt, está a criação do primeiro laboratório de Psicologia Experi- mental na Universidade de Leipzig, na Alemanha, no ano de 1879. A inauguração do primeiro Laborató- rio de Psicologia Experimental contribuiu por trazer à psicologia status de Ciência, conferindo à Wundt importante destaque. 7 UNIDADE O que é Psicologia Social Fig. 03 – Universidade de Leipzig Fonte: wikimedia/commons Sucessivo à criação do laboratório de Psicologia Experimental, a Universidade de Leipzig, oficializa, em meados da década seguinte, 1880, a criação de um Instituto de Psicologia Experimental, Instituto este que se tornou referência internacional na formação de psicólogos. E, à medida que a Psicologia passava a contar com Metodologia Científica própria e estudos em laboratórios, esta se afastava da Filosofia que havia marcado o início de sua história, passando a adquirir status de Ciência (BOCK, FURTADO & TEIXERA, 2008). “Seu status de ciência é obtido à medida que se ‘liberta’ da Filosofia, que marcou sua história até aqui, e atrai novos estudiosos e pesquisadores” (BOCK, FURTADO & TEIXERA, 2008, p. 41). No entanto, é importante considerar que, ainda que o Laboratório de Leipzig marque o surgimento da Psicologia Científica, a constituição de uma Psicologia Científica não pôs fim à Psicologia Filosófica. Ou seja, a despeito de a inauguração do Laboratório de Psicologia na Universidade de Leipzig ser um importante marco de constituição da Psicologia Científica, é certo considerar que os experimentos ali desenvolvidos não representavam todo o debate da Psicologia da época, mas sim parte dele. Se por um lado as preocupações dos pesquisadores do Instituto de Psicologia da Universidade de Leipzig, muitos deles doutorandos orientados por Wundt, era a compreensão, por meio de experimentos, de fenômenos relacionados às sensações, percepções, associações e memória; por outro lado, investigações de uma Psicologia de caráter menos experimental eram desenvolvidas por outros pensadores, em outros centros de pesquisa. Importante! Entre os objetivos a que se propôs Wundt, estava a criação de uma Psicologia Social? Para Wundt fenômenos coletivos não poderiam ser reduzidos àconsciência individual, mas sim à coletividade. Você Sabia? 8 9 A diversidade metodológica existente no passado é ainda hoje uma forte marca da Psicologia. Esta ciência tem se aventurado por diferentes formas do saber. A Psicologia atual é constituída tanto por abordagens que tendem mais ao caráter científico, como também por abordagens que tendem ao caráter mais filosófico. Ou seja, as abordagens teóricas que vigoram na Psicologia na atualidade são oriundas das diferentes formas de compreensão e de produção do conhecimento acerca do ser humano que eram desenvolvidas nos séculos passados. Psicologia Cientí�ca Psicologia Filosó�ca ≠ Fig. 04 Fonte: Adaptado de istock/getty images Entre tais abordagens podemos citar, por exemplo, a Análise do Comportamento ou a Comportamental Cognitiva, oriundas de movimentos behavioristas ligados aos laboratórios experimentais; ou, ainda, abordagens junguiana e lacaniana, que tiveram origem na Psicanálise, abordagem desenvolvida por Sigmund Freud e de caráter mais filosófico. Psicologia e outras ciências A Psicologia, como vimos, apresenta abordagens e metodologias de estudo distintas, conforme suas linhas de pensamento. Bock, Furtado e Teixeira afirmam, e entendo que não sem razão, que “provavelmente, a Psicologia jamais terá um único paradigma confiável que possa ser adotado por todos, sem questionamento”, visto que, “as diferentes formas de pensar a Psicologia representam a própria riqueza do ser humano e suas capacidades múltiplas de pensar sobre si mesmo” (2008, p. 21). “[...] as diferentes formas de pensar a Psicologia representam a própria riqueza do ser humano e sua capacidade múltiplas de pensar sobre si mesmo” (BOCK, FURTADO & TEIXERA, 2008, p. 21). No entanto, saiba que essa multiplicidade de abordagens teóricas não é exclusiva da Psicologia; tal multiplicidade ocorre, também, com as chamadas Ciências Humanas Sociais, que, tal como a Psicologia, apresentam diferentes e, porque não dizer, divergentes abordagens teóricas. 9 UNIDADE O que é Psicologia Social Além de compartilhar a multiplicidade de abordagens com as demais Ciências Humanas E Sociais, a Psicologia, ao longo de seu desenvolvimento, tem demonstrado também aplicabilidade de seu conhecimento em diversas outras áreas do saber e tem, por outro lado, buscado também a contribuição dessas outras áreas para seu próprio desenvolvimento. Entre essas diversas áreas do saber estão, por exemplo, a Sociologia, a Antropologia e as Ciências Políticas, entre outras. Bock, Furtado e Teixeira (2008) comentam que diante da complexidade da sociedade em que vivemos, a interdisciplinaridade do saber torna-se essencial para a compreensão do ser humano. A união dessas diversas formas de saber pode enriquecer umas as outras. “Operários”, 1933, de Tarsila do Amaral. Disponível em: https://goo.gl/PmGuHGEx pl or A importância da união da Psicologia com outras áreas do saber, ou seja, da interdisciplinaridade, está na possibilidade de cada uma contribuir com seus conhecimentos sobre o ser humano (BOCK, FURTADO & TEIXEIRA, 2008). Psicologia Social Da relação com as Ciências Sociais surge um ramo da Psicologia cujo foco de estudos está na compreensão da relação do homem com a Sociedade, além das expectativas e reações provenientes de tal relação. Tal ramo da Psicologia é denominado Psicologia Social. Rodrigues, Assmar e Jablonski definem a Psicologia Social como “O estudo científico da influência recíproca entre as pessoas (interação social) e do processo cognitivo gerado por esta interação (pensamento social)” (2009, p.13). Ou seja, a Psicologia Social busca compreender, por meio de uma metodologia científica, como se dão as relações sociais e como estas relações afetam os indivíduos, gerando novas ações e reações. A Psicologia Social é a área da Psicologia que busca estudar a interação social e procura estudar cientificamente a influência recíproca entre as pessoas (interação social) e o processo cognitivo gerado por esta interação (pensamento social)” (RODRIGUES, ASSMAR & JABLONSKI, 2009, p.13). Ex pl or Mas, se a Psicologia, de forma geral, sofre influência de uma multiplicidade de abordagens, com a Psicologia Social não há diferença. Esse ramo da Psicologia que busca compreender a interação social e o pensamento social também recebe influência de distintas abordagens, ou, mais especificamente, de distintas Ciências. 10 11 O estudo dessas relações que os indivíduos mantém entre si, influenciando-se mutuamente, resulta em uma “pluralidade e multiplicidade de abordagens teóricas” (FERREIRA, 2010, p.51), que por um lado favorece a produção de conhecimento, mas de outro dificulta a delimitação do objeto de estudo desta Ciência. Sociologia e psicologia: infl uências na psicologia social Robbins (2005) é contundente ao definir a Psicologia Social como uma mistura de conceitos da Psicologia e da Sociologia. Bock, Furtado e Teixeira (2008) reiteram tal definição, confirmando a influência das duas ciências na constituição da Psicologia Social, mas ampliam a discussão ao introduzir a noção de antagonismo dessas duas ciências na forma como influenciaram a Psicologia Social. Desse modo, é correto afirmar que a Psicologia Social se desenvolve acolhendo quer a visão sociológica, quer a visão psicológica: ainda que se mostrem antagônicas. Enquanto a Sociologia defende que o comportamento dos indivíduos é determinado pela sociedade; a visão da Psicologia sustenta que o individuo autodetermina seu comportamento a partir da percepção que tem da Sociedade na qual está inserido. Importante! Sociologia: é Comportamento dos indivíduos determinado pela sociedade. Psicologia: é Comportamento dos indivíduos é autodeterminado a partir da percepção que tem da Sociedade na qual está inserido. Importante! Infl uência da Sociologia No que se refere à visão da Sociologia, temos a chamada Teoria dos Papéis Sociais, que embasa tal visão. Na concepção da Teoria dos Papéis Sociais, o indivíduo se comporta de acordo com as normas e valores sociais, desempenhando, ao longo da vida, diferentes papéis que lhes são estabelecidos. Pense em uma situação, um jovem que pertence a um determinado grupo social. Por exemplo: o grupo pode ser de colegas da escola, do trabalho, da igreja que frequenta, do bairro, enfim, qualquer grupo social. Pertencer a este grupo é importante para esse jovem? Se sim, ele seguirá as normas desse grupo, ainda que não concorde com elas, pois buscará manter- se coeso e pertencente ao grupo. Por outro lado, se não for importante para ele pertencer ao grupo, ele tenderá a não obedecer as normas. 11 UNIDADE O que é Psicologia Social De acordo com a Teoria dos Papéis Sociais, desempenhamos diversos papéis ao longo da vida e nos diversos grupos sociais aos quais pertencemos; podemos ser filho, pai, profissional, cônjuge, vizinho e tantos outros personagens na Sociedade na qual estamos inseridos. Em cada grupo, desempenhamos um determinado papel, adaptando-nos às diferentes situações sociais. Vamos a mais um exemplo? Pensemos em um determinado homem, a quem chamaremos de José. José é bastante competente e bem sucedido profissionalmente – papel profissional; mostra-se bastante apegado à família, dedicado, responsável e amoroso com os filhos – papel pai, além de ser bom companheiro para com a esposa – papel cônjuge. Contudo, José tem se mostrado relapso com os pais, a quem pouco visita. Delega aos irmãos os cuidados e o acompanhamento dos pais, não se envolvendo nesta tarefa – papel filho. José é também pouco participativo nos debates e na tomada de decisão do condomínio no qual reside ou em questões políticas – papel condômino e papel de cidadão. Fig. 05 Fonte: iStock/Getty Images José, de acordo com o que lemos, tem desempenhado vários papéis. Muitos outros papéis José pode desempenhar em sua vida, assim como nós desempenhamos vários papéis em nossas vidas também. No exemplo, vemos queJosé se dedica mais a alguns de seus papéis e menos a outros. De acordo com a visão sociológica, podemos justificar suas escolhas acerca de a quais papéis se dedicará mais ou menos e qual valorização que ele dá em pertencer ou não a determinados grupos. Quanto maior for a valorização por pertencer a um grupo, mais seguiremos suas normas e suas regras, tornando-nos mais coeso com esse grupo. 12 13 Ainda sobre o exemplo de José, podemos afirmar que os comportamentos apresentados por ele certamente receberão elogios, mas também críticas por parte dos diferentes grupos sociais e tais opiniões poderão influenciar a maneira como ele continuará se comportando. Esses elogios e críticas representarão o que se chama de pressão social ou controle social. O quanto este controle social influenciará o comportamento de José nos mostrará quanto há de controle social sobre suas ações, sobre seu comportamento. Sobre a pressão social, Durkheim (1858-1917), um dos principais estudiosos da Sociologia e da Psicologia Social, afirma que quando o homem não se submete a tais regras sociais sofre uma penalidade por não fazê-lo. Nas palavras do teórico: “Se não me submeto às convenções do mundo (...) os costumes observados em meu País (...) o riso que provoco, o afastamento em relação a mim produzem, embora de maneira mais atenuada, os mesmos efeitos que uma pena propriamente dita” (2007, p.3). Assim, o fato de sermos seres sociais nos molda à forma como nos relacionamos com o mundo que nos cerca. Não estamos alheios a isso! “A construção do ser social, feita em boa parte pela Educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios – sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento – que balizam a conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela” (Émile Durkheim). Ex pl or Em contrapartida às influências sociológicas temos as influências da Psicologia. Infl uência da Psicologia A compreensão dos diferentes papéis que o indivíduo desempenha na sociedade também é comum à visão psicológica do indivíduo. No entanto, para a Psicologia, as pressões sociais só influenciarão o indivíduo caso ele às perceba. Se não houver percepção pelo indivíduo da pressão social, ela não influenciará seu comportamento. Se, por um lado, a compreensão das normas e dos papéis grupais são fundamentais para a compreensão da visão sociológica; conceitos como percepção, formação de atitudes e processo de socialização tornam-se essenciais para a compreensão da visão psicológica acerca de como se comporta o homem na Sociedade. Para a Psicologia, o homem se comportará de acordo com a forma como percebe a si mesmo e percebe a situação que o cerca. 13 UNIDADE O que é Psicologia Social Robbins define a percepção como “O processo pelo qual os indivíduos orga- nizam e interpretam suas impressões sensoriais com a finalidade de dar sentido ao ambiente” (2005, p.104). Ou, mais especificamente, a forma como os indi- víduos organizarão e interpretarão os diversos estímulos aos quais se submetem receberá influência direta do repertório que ele possui. As crenças, valores e conhecimento de uma determinada pessoa influenciará a forma como ela julgará um determinado acontecimento. Vamos a um exemplo diferente? Você já deve ter reparado que, diante de um acidente de trânsito, algumas pessoas se ocupam em ajudar a socorrer as vítimas, auxiliando profissionais que trabalham no socorro; como também há pessoas que apenas observam; há os que passam pela situação sem se ater ao que está ocorrendo; como também há aqueles que aproveitam para registrar o momento com uma self e divulgar nas redes sociais, evidenciando que presenciaram o ocorrido: isso para pensarmos em apenas algumas das possíveis formas de reagir a uma mesma ocorrência. Não estamos aqui para julgar qual ação é melhor ou qual é pior, mas apenas para ilustrar como diferentes pessoas diante de uma mesma ocorrência (acidente) organizam e interpretam a situação (percebem) e, consequentemente, reagem a ela. Essas diferentes formas de agir e de reagir serão influenciadas, como já dito, pelo repertório que cada pessoa possui. Ou seja, o que tais pessoas vivenciaram, o que aprenderam na vida e com a vida, quais são seus grupos sociais e como reagem a eles, em qual cultura essas pessoas estão inseridas, e assim por diante. Em síntese, a visão psicológica considera que o comportamento dos indivíduos é autodeterminado a partir da percepção que tem da Sociedade na qual está inserido. O comportamento sofre, sim, influência social, mas não é predeterminado, mas sim dependerá de quem esse indivíduo é e de como ele reagirá nas diversas situações. “O mundo importante para o comportamento é o mundo na forma em que é percebido” (ROBBINS, 2005, p. 104). Para usar as palavras de Ferreira a “pluralidade e multiplicidade de abordagens teóricas” (2010, p.51) acerca da Psicologia Social não se encerram aqui. Há ainda uma visão que se opõe quer às influencias sociológicas, quer às influencias psicológicas, inaugurando o que se chama a Nova Psicologia Social. 14 15 A nova Psicologia Social Nos anos 1970, conforme afirmam Bock, Furtado e Teixeira (2008), há uma crítica às visões da Psicologia Social que vigoravam até então, isto é, aquela influenciada quer pela visão sociológica, quer pela visão psicológica. A Psicologia Social aqui procura aprofundar o conhecimento da natureza social do fenômeno psíquico, passando a estudar o psiquismo humano, entendendo que a construção do mundo interno do ser humano se dá a partir das relações sociais vividas por ele. O que chamamos de subjetividade humana, na qual “o mundo objetivo passa a ser visto não como fator de influência para o desenvolvimento da subjetividade, mas como fator constitutivo” (BOOK, FURTADO & TEIXEIRA, 2001, p. 141). Os pesquisadores mais contemporâneos, entre eles Pichon-Riviére, defendem que o indivíduo é constituído quer pelas influências externas, quer pelas influências internas. Fig. 06 – Pichon-Riviére Fonte: kennedy.edu.ar “Desde as primeiras experiências, as necessidades do sujeito se transformam, e, em consequência, o próprio sujeito se transforma” (GAYOTTO, 1992, p.64). Ou ainda, nas palavras de Bock, Furtado e Teixeira “[...]o indivíduo age sobre o mundo, transformando-o, e, ao fazer isso, transforma a sim mesmo” (2008, p. 184). A Nova Psicologia Social irá aprofundar-se em estudos inerentes aos conceitos básicos de atividade, de consciência e de identidade. Estas são características da essência do ser humano, que demonstram e expressam a manifestação humana. Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2001), é pela atividade que o homem se apropria do mundo em que vive. A atividade que oferece condições para a transição do que está do lado externo dele para seu interior. Por exemplo: um bebê se apropria do mundo explorando o ambiente, engatinhando e manuseando os objetos e brinquedos. É nesse movimento de exploração que o homem constrói a base do conhecimento e do pensamento. Na consciência humana, temos a forma como o homem se relaciona com o mundo externo (objeto). Ela é o resultado das relações sociais que os homens estabelecem. 15 UNIDADE O que é Psicologia Social O homem é capaz de entender o mundo por meio de imagens, símbolos e de estabelecer relações entre os objetos desse mundo. Essas relações podem estar no trabalho, na vida social e na linguagem. Esta última, podemos entender como as expressões da consciência. Assim, quando alguém diz alguma coisa ou algum tema, ele está se reportando ao mundo real e expressa sua consciência por meio de representações sociais. “A representação social é a denominação dada ao conjunto de ideias que articula os significados sociais” (BOCK, FURTADO & TEIXEIRA, 2001, p.144). Ainda segundo o autor, a representação social também pode ser definida pelo sentido construído de forma coletiva atribuída ao objeto, com o sentido pessoal. Podemosconsiderar aqui os valores, as crenças e as imagens que os seres humanos constroem ao logo de suas vidas, em decorrência da vivência em Sociedade. Outro ponto importante para essa nova Psicologia Social é o conceito de identidade. Ela é o conceito dado às representações e sentimentos que o homem desenvolve a respeito de si próprio, a partir do universo de suas experiências. Ou seja, “A síntese pessoal sobre o si-mesmo, incluindo dados pessoais (cor, sexo, idade), biografia (trajetória pessoal), atributos que os outros lhe conferem, permitindo uma representação a respeito de si” (BOCK,FURTADO & TEIXEIRA, 2001, p.145). Ao pensarmos em como as inovações tecnológicas tem influenciado as pessoas nos grandes centros urbanos, desencadeando no ser humano a necessidade de rever regras sociais, criando, por exemplo, a netiqueta ou, ainda, criar normas jurídicas que controlem os possíveis crimes digitais, uso exacerbado da tecnologia tem feito com que as relações do ser humano com seus pares e com a Sociedade de forma geral seja modificada. Netiqueta: Neologismo que se refere a um conjunto de normas e de boas maneiras que devem ser adotadas pelos usuários da internet.Ex pl or Todavia, sabemos que, a despeito da evolução da tecnologia ocorrida no Brasil nos últimos anos, há muitas regiões do país ainda sem acesso a essas modernidades. E, em tais regiões, nas quais o avanço tecnológico ainda não chegou, certamente as relações sociais e culturais, bem como o contato com o ambiente, são muito distintas daquelas que ocorrem nas regiões com mais recursos tecnológicos. Por isso é relevante compreender que a Psicologia Social busca compreender o ser humano como um ser social, inserido em um grupo social e em um ambiente social, isto é, um ambiente humanizado. Esse ser humano afetará seu grupo social e o ambiente no qual vive, mas também será por eles afetado. Entre vários possíveis exemplos de como o ser humano interfere no modo como seu grupo age e seu ambiente social está o livro A Terceira Onda, de Alvin Toffler – fica o convite para a leitura completa da obra. 16 17 Toffler (1980) faz vários apontamentos acerca das modificações vividas pela sociedade ao longo dos tempos. Entre os apontamentos, Toffler destaca as mudanças ocorridas na família, que passa de uma estrutura estendida na Era Agrícola, vista como uma unidade econômica e formada por todos os parentes de um mesmo clã, para uma estrutura mais enxuta na Era Industrial, denominada família nuclear e formada apenas por pai, mãe e filhos, até chegar à Era Tecnológica, na qual ó conceito de família é novamente modificado dando lugar às famílias formadas por apenas um dos pais, casais sem filhos e pessoas solteiras que vivem sozinhas, entre outras. É certo que a depender do grupo social, a visão de família hoje, para muitos, ainda seja a mesma descrita na primeira onda e família seja representada por todos os parentes. A verdade é que não há certo ou errado, mas isso só evidencia como o grupo social, o ambiente social influencia o ser humano e, este, influencia os demais. E você, consegue pensar em outras questões em nossa sociedade que sofrem infl uencia direta de fatores sociais? Bom, fi ca o convite à refl exão. Ex pl or Enfim, a Psicologia Social, esse ramo da Ciência denominada Psicologia, sofre diferentes influências que regerão a forma como tal ramo procurará compreender e explicar a relação do homem com o mundo que o cerca. 17 UNIDADE O que é Psicologia Social Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Durkheim – Sociologia RODRIGUES, A. (Org.) e FERNANDES, F. (Coord.). Durkheim – Sociologia. 9.ed.11. imp. São Paulo: Ática, 2008; Vídeos A Psicologia Social e o Social na Psicologia A história da Psicologia Social no Brasil e seus ícones podem ser conhecidos em: https://youtu.be/PeOqV1zvXkE Leitura A história da psicologia social contada da perspectiva do aluno que não fez a “tarefa de sempre” A história da psicologia social contada da perspectiva do aluno que não fez “a tarefa de sempre”. Autores Lucas Roberto Pedrão Paulino e Marilicia Witzler Antunes Ribeiro Palmieri. https://goo.gl/24dNoe Psicologia Social e Serviço Social: uma relação interdisciplinar na direção da produção de conhecimento Para aprofundar o assunto sobre a interdisciplinaridade, recomendamos o artigo disponível em: https://goo.gl/xZvPCx 18 19 Referências BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 14.ed. São Paulo: Saraiva, 2008. ________. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2001. ________. Psicologia Fácil. São Paulo: Saraiva,2011. DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. Tradução de Paulo Neves. Revisão de tradução Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2007. FERREIRA, Maria Cristina. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26 n. especial, p. 51-64, 2010. GAYOTTO, Maria Leonor Cunha. Socialização segundo Pichon-Rivière. In: ________. et. al. Creches: desafios e contradições da criação coletiva da criança pequena. São Paulo: Ícone, 1992. LANE, Silvia Tatiana Maurer. A dialética da subjetividade versus objetividade. In: Odair Furtado e Fernando L. González Rey (Ed.). Por uma epistemologia da subjetividade: Um debate entre a teoria sócio-histórica e a teoria das representações sociais. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002, p. 11-7. ________. O que é Psicologia Social. 22 ed. São Paulo: Brasiliense, 2001. PAULINO, L. R. P.; PALMIERI, M. W. A. R. A história da psicologia social contada da perspectiva do aluno que não fez “a tarefa de sempre”. Athenea Digital,n.17, p.163-178, mar. 2010. ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. Tradução técnica de Reynaldo Marcondes. 11.ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. RODRIGUES, Aroldo; ASSMAR, Eveline Maria Leal; JABLONSKI, Bernardo. Psicologia Social. 27.ed. Petrópolis: Vozes, 2009. TOFFLER, Alvin. A terceira onda. 16.ed. Rio de Janeiro: Record, 1980. 19 Psicologia Social Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Nirley Dragonetti Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin Desenvolvimento Humano • Teorias do Desenvolvimento Humano • A Teoria da Aprendizagem • A Aprendizagem Social • A Teoria Cognitiva • Teoria do Desenvolvimento Humano Emergente – Sociocultural • Domínios Predominantes do Desenvolvimento Humano · Por que estudar o desenvolvimento humano?; · Quais são as teorias predominantes do desenvolvimento humano? Quais suas contribuições para as Ciências Sociais?; · Para que conhecer os aspectos de desenvolvimento humano psicossocial e sua importância para as Ciências Sociais. OBJETIVO DE APRENDIZADO Olá, aluno(a) como vai? Nesta Unidade, vamos conhecer um pouco sobre o Desenvolvimento Humano, tão importante para que norteemos qualquer ação ou trabalho voltado para pessoas. Então, procure dedicar tempo aos estudos, esteja atento a todos os conceitos para que possamos aproveitá-los integralmente. Procure ler o conteúdo disponibilizado e o material complementar. Este último é tão importante quanto o conteúdo básico. As dúvidas que por ventura tiver, anote e tire-as com o seu tutor. Além disso, na pasta de atividades, você encontrará as avaliações referentes ao conteúdo apresentado, uma atividade reflexiva e a videoaula. Esses são elementos importantes para seu entendimento e sua compreensão. Bons estudos! ORIENTAÇÕES Desenvolvimento Humano UNIDADE Desenvolvimento Humano Contextualização “O EXTENSO PERÍODO DE DEPENDÊNCIA INFANTIL O bebê humano nasce numa condição de quase completa dependência. Em comparação com as outras espécies, temos instintos extremamente rudimentares e um período de maturação muito prolongado. Erikson nota que esse fato acarreta, para os adultos, a tentação de se aproveitarem do período de dependência e de controlar e manipular as criançaspara satisfazerem suas próprias necessidades (deles, adultos). Por exemplo: podemos forçar crianças de 3 a 6 anos a agir de acordo com nossos desejos, manipulando seus sentimentos de culpa, pois é nessa idade que elas estão mais propensas a se sentirem culpadas. Façamos com que se sintam culpadas, e elas nos obedecerão. Do mesmo modo, podemos conseguir submissão de crianças de 1 ano e meio a 3 anos de idade pelo uso específico da vergonha. Por exemplo: podemos conseguir sucesso no “treinamento-de-banheiro” envergonhando-as todas as vezes que cometerem uma falha. Isto as ensinará a controlar os intestinos, mas a um terrível preço. Se nós, adultos, controlamos e manipulamos as crianças por esses meios, nós as estamos prejudicando, impedindo- lhes um crescimento saudável. Erikson diz: ‘Essa infância tão prolongada expõe os adultos à tentação de, impensada e por vezes cruelmente, aproveitarem-se da dependência da criança, fazendo-a pagar os pecados psicológicos cometidos por outros contra nós, ao submetê-las a tensões que não desejaríamos ou não ousaríamos corrigir em nós mesmos ou nos que nos rodeiam. Já aprendemos a não prejudicar o desenvolvimento físico de uma criança com trabalho corporal; temos, agora, de aprender a não perturbar seu desenvolvimento espiritual, tornando-a vítima de nossas ansiedades’”. (SPRINTHALL, R. C.; SRINTHALL, N. A. Educational psychology. Reading, Addison-Wesley, p.201, 1977). O texto apresentado nos remete à reflexão da influência dos adultos no desenvolvimento psicossocial das crianças. Da mesma forma que podemos acrescentar e contribuir para a formação de um ser humano emancipado, íntegro e equilibrado podemos, de forma cruel, transferir toda ansiedade e insatisfação com as nossas próprias vidas; como se as crianças fossem “latas de lixo” psicológicas. Nós adultos temos que ter a consciência de que somos uma ponte para o crescimento e desenvolvimento de outro ser que merece todo respeito e amor. Mais do que compreender que podemos positivamente contribuir para o desenvolvimento físico de uma criança, é zelar pelo seu desenvolvimento espiritual. Como profissionais de Ciências Humanas Sociais possuímos a missão de identificar, também, o quanto as pessoas que rodeiam são responsáveis pelos semelhantes e próximos, sejam eles crianças, adultos ou idosos. Elucidando seus papéis e educando-os para a promoção de um mundo melhor. 6 7 Introdução O esforço pela compreensão do desenvolvimento humano é contínuo. Os estudos do desenvolvimento humano parecem estar sempre incompletos diante da complexidade que é o ser humano. Para que possamos entender o desenvolvimento humano, foi necessário organizarmos os aspectos relevantes do estudo e organizá-los para atingirmos um conhecimento mais profundo do assunto. Isso caracteriza uma Teoria. A Teoria tem o objetivo de interligar fatos e aspectos observados, organizando os detalhes dessa observação e atribuindo sentido à vida humana. As Teorias sempre dão origem a novas investigações, precisam visar à aplicabilidade e um destino utilitário e prático. Novas pesquisas possibilitam visões e orientações para problemas do dia a dia, formulando hipóteses para as situações-problema e interesses do pesquisador. Em se tratando de Teorias do Desenvolvimento Humano, podemos resgatar os primórdios dos importantes estudos voltados para o entendimento humano. Na primeira metade do século XX, tínhamos duas grandes teorias dominantes, a Teoria Psicanalítica e a Teoria da Aprendizagem (Behaviorismo), que contribuíram muito para os estudos do desenvolvimento humano. Em meados do século, uma importante teoria emergia, a Teoria Cognitiva, grande germinadora de pesquisas nesse campo, superando, assim, as duas primeiras no que se referia aos estudos e princípios relacionados ao desenvolvimento humano. A Teoria Psicanalítica A Teoria Psicanalítica originou-se com um famoso médico austríaco, Sigmund Freud (1856-1939), que se preocupou em criar uma Teoria que interpretava o desenvolvimento humano por meio do entendimento dos impulsos e motivos interiores, o que chamamos de intrínsecos, muitos deles irracionais e de origem inconsciente. Essa teoria entende que o ser humano possui fases universais (estágios) de desenvolvimento. Para essa teoria, o desenvolvimento nos seis primeiros anos acontece em três fases, respectivamente, pelo interesse e pelos prazeres sexuais concentrados em uma parte do corpo. Figura 1: Sigmund Freud Fonte: Wikimedia Commons 7 UNIDADE Desenvolvimento Humano Freud nomeou a primeira infância de fase oral, na qual o foco está na boca; a segunda de fase anal, na qual o foco de interesse está no ânus, coincidindo com os anos pré-escolares, e a terceira nomeada de fase fálica, cujo interesse está no órgão genital masculino (pênis). Freud afirmava que “em cada uma dessas fases, a satisfação sensual proveniente da estimulação da boca, ânus ou do pênis está ligada às principais necessidades e desafios do desenvolvimento associados a cada fase” (BERGER, 2001, p. 25). Vamos dar um exemplo prático para entendermos melhor o que Freud está nos falando: Quando um bebê recebe alimento por meio de sucção, também experimenta prazer sensual e se torna emocionalmente ligado à mãe, porque ela lhe propicia satisfação oral. Na fase anal, os prazeres relacionados ao controle e autocontrole são os mais importantes. O fato de a criança poder controlar o esfíncter e o ato de defecar trazem imensa satisfação. Esfíncter: é uma estrutura, geralmente um músculo de fibras circulares concêntricas, dispostas em forma de anel, que controla o grau de amplitude de um determinado orifício. O sistema digestivo humano tem três esfíncteres importantes: o esfíncter cárdico, o esfíncter anal e o esfíncter pilórico, que faz comunicação entre o estômago e o duodeno” Ex pl or Já na fase fálica, as crianças ficam maravilhadas pelas diferenças físicas entre os sexos, o que leva, inclusive, à identificação sexual e à orientação sexual. Nessa fase, a criança desenvolve padrões morais. Obviamente que esse processo irá ser diferente tanto para os meninos, quanto para as meninas. Terminada a fase fálica, a criança se depara com o período de latência sexual (aproximadamente aos 5 e 6 anos), na qual as forças sexuais estarão adormecidas. Aos 12 anos, aproximadamente, o ser humano entra na fase genital. Essa fase se caracteriza por interesses sexuais mais maduros, que se estenderão até a idade adulta. As emoções possuem papel fundamental nessas fases. “As emoções relativas a cada fase permanecem como forças poderosas, mas disfarçadas na personalidade adulta, parte do legado inconsciente da infância” (BERGER, 2001, p.26). Segundo Freud, cada fase possui seus conflitos, e a forma como a criança resolve e enfrenta esses conflitos determina a personalidade, assim como os padrões de comportamento para a vida toda. Famosos teóricos foram seguidores de Sigmund Freud. Entre eles, Erik Erikson (1902-1994), que desenvolveu e transformou as ideias de Freud. Figura 2: Erik Erikson Fonte: Wikimedia Commons 8 9 Erikson considerou as fases de Freud insuficientes e muito limitadas, desenvolvendo uma Teoria que contemplou oito fases do desenvolvimento humano. Em cada fase, o ser humano se depara com um desafio. “As primeiras fases de Erikson tem estreita relação com as fases de Freud”. (BERGER, 2001, p.27). Ele entendia que os conflitos da vida adulta são reflexos de problemas mal resolvidos na infância. À primeira fase, atribui o nome de Confiança versus Desconfiança; a segunda nomeou de Autonomia versus Vergonha e Dúvida; a terceira, de Iniciativa versus Culpa; a quarta, de Diligência versus Inferioridade; a quinta, de Identidade versus Confusão de Papéis; a sexta, Intimidade versus Isolamento; à sétima, de Generatividade versus Estagnação, e oitava e última, o nome de Integridade versus Desesperança. Quando nos deparamos com adultos que têm difi culdades de estabelecere manter relacionamentos seguros e de reciprocidade com seus parceiros durante a vida, podemos pensar que provavelmente não resolveu a crise da primeira infância na fase Con� ança versus Descon� ança! Ex pl or Na primeira fase (do nascimento a 1 ano), a criança experiencia confiar em sua mãe e, por consequência, confiar nas outras pessoas, o que refletirá na sua vida adulta. Já na segunda fase (de 1 a 3 anos), Autonomia versus Dúvida, as crianças aprendem a autossuficiência em muitas atividades, duvidando de suas próprias capacidades. Na terceira fase (de 3 a 6 anos), Iniciativa versus Culpa, as crianças desenvolvem sua identidade como menino ou menina. É o momento de se identificar com o progenitor de seu próprio sexo e copiar aspectos do comportamento adulto e também querem executar muitas atividades adultas. Nessa fase, podem ultrapassar limites estabelecidos pelos pais e sentir culpa por isso. Na quarta fase (de 7 a 11 anos), Diligência versus Inferioridade, “A principal realização deste estágio é aprender habilidades, tanto na escola como fora dela” (BARROS, 2008, p. 93). Na quarta fase, a criança rapidamente assimila o que é ser competente e ativa de forma produtiva nesse controle de novas habilidades, da mesma forma como pode se sentir inferior por não conseguir desenvolver qualquer atividade. A criança precisa ser incentivada a participar de grupos sociais, nos quais exercitará o sentimento de domínio e de competência. Na quinta fase (adolescência), Intimidade versus Confusão de Papéis, como o próprio nome já diz, o jovem fica confuso sobre que papéis desempenhará, vez que tenta descobrir “Quem sou eu?”, além de “[...] estabelecer uma identidade sexual, política e de carreira” (BERGER, 2001, p.26). 9 UNIDADE Desenvolvimento Humano Na sexta fase (idade adulta), Intimidade versus Isolamento, o adulto estará pronto para relacionamento mais afetivo e duradouro. Nessa fase, tende a encarar o casamento e uniões mais estáveis, mesmo com amigos e grupos sociais. Segundo Barros (2008), para que possa estabelecer uma união estável, o jovem deve conhecer-se profundamente (identidade pessoal); caso contrário, poderá ter experiências de autoabandono, de temor por perder sua identidade pessoal e, consequentemente, uma sensação de distanciamento e isolamento. Na sétima fase (adultos de meia-idade), Generatividade versus Estagnação, os adultos contribuem para a próxima geração por meio de atividades significativas, como o trabalho, por exemplo, a criação e a manutenção de uma família. Podemos dizer que nessa fase o adulto busca estabilidade, por isso a palavra Estagnação. Segundo Barros (2008), na oitava e última fase para Erikson (após 60 anos), o adulto mais velho busca sentido para a vida. O adulto que superou todos os conflitos e crises das fases anteriores adquire senso de solidariedade em relação aos outros, tendo integridade pessoal para enfrentar a crise final relacionada à sua desintegração e morte. Caso o adulto, nessa fase, não tenha estabelecido sentido à sua vida, poderá desenvolver sentimento de desesperança diante dos objetivos que por ventura não tenha alcançado. Como já vimos, cada fase de Erikson é caracterizada por um desafio ou crise do desenvolvimento, e “a solução de cada crise do desenvolvimento depende da interação entre as características do indivíduo e qualquer que seja o suporte oferecido pelo ambiente social” (BERGER, 2001, p.27). A Teoria da Aprendizagem A Teoria da Aprendizagem surge de uma das mais antigas abordagens da Psicologia, o Associacionismo, cujo principal pensador foi Edward L. Thorndike (1874-1949). Thorndike formulou a primeira teoria da aprendizagem da Psicologia. Denominada a Lei do Efeito, a teoria define que todo organismo vivo tenderá a repetir um comportamento se ele for seguido por algo agradável (reforço), e deixará de emiti-lo caso ele seja seguido por algo desagradável (punição). Figura 3: Edward L. Thorndike Fonte: Wikimedia Commons 10 11 Thorndike, citado por Goodwin (2005, p. 244), afirma que [...] a Lei do Efeito é das várias reações apresentadas na mesma situação, as que são acompanhadas ou seguidas de perto pela satisfação do animal serão, sendo os outros fatores iguais, mais estreitamente conectadas à situação, de modo que, quando essa situação voltar a ocorrer; as que são acompanhadas ou seguidas de perto pelo desconforto do animal terão, sendo os outros fatores iguais, suas conexões aquela situação enfraquecidas, de modo que, quando essa situação voltar a se apresentar, elas terão menos probabilidade de voltar a ocorrer. Quanto maior a satisfação ou o desconforto, maior o fortalecimento ou enfraquecimento do vínculo. O trabalho de Thorndike, especialmente a formulação da Lei do Efeito, influenciou Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), principal teórico da Análise do Comportamento e teórico do comportamento operante. O comportamento operante inclui todas as reações – ou respostas – do organismo – ou indivíduo – que têm algum efeito sobre o ambiente. A partir da teorização do conceito de comportamento operante, Skinner desenvolve toda a sua teoria, grande parte dedicada à Educação. Figura 3: Burrhus Frederic Skinner Fonte: Wikimedia Commons Entre os desdobramentos do conceito de comportamento operante está o condicionamento operante que, nas palavras de Bolton e Warwink, “é o processo pelo qual a resposta de um indivíduo é seguida por uma consequência (positiva ou negativa), e essa consequência nos ensina a repetir a resposta ou diminuir sua consequência” (2005, p. 115). Imagine a seguinte situação: uma professora faz, ao longo da aula, diversas perguntas aos alunos que participam, respondendo a cada novo questionamento. Ainda que as respostas não sejam completas, a professora, os auxilia a completarem a resposta e os incentiva, parabenizando prontamente a cada aluno pela participação. Esses alunos, muito provavelmente tenderão a voltar a participar da aula dessa professora outras vezes, pois a participação dos alunos (resposta) frente às questões da professora (estímulo) são consequenciadas com elogios (reforço positivo). Temos a sequência S (estímulo) ⇒ R (resposta) ⇒ S (estímulo reforçador = elogio), ou seja, S ⇒ R ⇒ S. De acordo com a teoria skinneriana, toda a resposta de um organismo (homem ou animal) que for seguida de um reforço, tenderá a se repetir. Vale, no entanto, destacar que temos duas formas de reforço, o reforço positivo, como o exemplo anteriormente citado, e o reforço negativo. Em qualquer uma das formas de reforço é certo afirmar que todo reforço aumenta a probabilidade de resposta de um indivíduo, quer o reforço seja positivo, quer o reforço seja negativo. 11 UNIDADE Desenvolvimento Humano Então, qual a diferença entre os dois tipos de reforço? O reforço positivo aumenta a probabilidade de resposta que provocou tal estímulo. Já o reforço negativo, aumenta a probabilidade de resposta que eliminou ou atenuou uma situação desagradável ou aversiva. Vamos a alguns exemplos? Na família de uma determinada criança, as manifestações de afeto são comuns e valorizadas. Cada vez que essa criança diz aos pais que os ama, ela recebe em troca algum tipo de demonstração de afeto por parte deles. Temos aqui um exemplo de reforço positivo. Essa criança tenderá a repetir tal resposta (dizer aos pais que os ama), pois ela é seguida de algo favorável (demonstração de afeto). Figura 5 Fonte: iStock/Getty Images Já na família de outra criança, os pais costumam discutir na frente do filho. Quando isso acontece, a criança aumenta o volume da TV ou vai para o seu quarto (resposta) de forma a evitar ouvir os pais brigando. Temos aqui um exemplo de reforço negativo, pois também há aumento da probabilidade da resposta, mas não da resposta que resulta em algo positivo, como um elogio ou demonstração de afeto, mas que elimina ou atenua algo desagradável ou aversivo, como ver os pais brigando. Figura 6Fonte: iStock/Getty Images 12 13 Compreenderam a diferença entre reforço positivo e reforço negativo? O reforço sempre aumentará a probabilidade de uma resposta se repetir. Todavia, será reforço positivo o que resultar em uma consequência favorável e reforço negativo aquilo que livrará o indivíduo de algo desfavorável. Mais um conceito deve ser abordado quando se trata da Análise do Comportamento: o conceito de Punição. Todo comportamento seguido de uma punição tenderá a ser extinto. Se determinada pessoa age de modo incorreto, ela deverá ser punida, e a continuidade da punição tenderá a diminuir a probabilidade de repetição de tal ação (ao contrário do reforço que aumenta a probabilidade, a punição diminui a probabilidade de uma resposta). Todavia, vale ressaltar que diversos autores da Análise do Comportamento, incluindo Skinner, comentam sobre a pouca eficácia da punição e que o ideal sempre será utilizar reforço positivo quando o indivíduo agir corretamente em vez de punição quando ele agir de forma incorreta. A discussão acerca dos motivos que tornam o uso da punição tão frágil é bastante ampla e não caberia nesta Unidade. Mas para ter uma ideia, vamos a um exemplo. Imagine você dirigindo sozinho em um local desconhecido, deserto e com fama de perigoso em plena madrugada. De repente, o semáforo fica vermelho para você, que deve parar e esperar que abra novamente para liberar sua passagem. Naquele exato momento, no que você pensará? a) “Não vem vindo nenhum carro. Não vou ficar parado aqui essa hora da madrugada”. E segue seu caminho. Figura 7 Fonte: iStock/Getty Images 13 UNIDADE Desenvolvimento Humano b) “Se não parar, posso receber uma multa e pontos na carteira de motorista”. Figura 8 Fonte: iStock/Getty Images Muito provavelmente, a opção (a), que é uma forma de reforço negativo, pois sair daquele local será sair de uma situação aversiva, controlará sua reação naquele momento. E, pouco provavelmente, a multa, que é uma punição a um comportamento incorreto, ultrapassar o farol vermelho, não controlará o comportamento ali. E, talvez, quando e, se a multa de fato chegar, você já não se lembrará exatamente da situação vivida. Por esses motivos, Skinner afirma que na Educação as contingências devem ser programadas de forma a aumentar a frequência de reforçadores e evitar ao máximo o uso de punições. A Aprendizagem Social Os estudiosos do comportamento humano evidenciaram que os seres humanos podem aprender novos comportamentos pela simples observação de como os outros se comportam, mesmo sem vivenciar qualquer condicionamento. Esses teóricos chamaram a extensão da teoria da aprendizagem de aprendizagem social. Sendo uma parte dela a modelagem, na qual as pessoas observam um comportamento e depois moldam seu próprio comportamento segundo ele. A aprendizagem social também é influenciada pelo autoconhecimento. “Os padrões que estabelecemos para nós mesmos e a confiança que temos na nossa capacidade de cumpri-los afetam nossa disposição para aprender com outras pessoas” (BERGER, 2001, p.29). A teoria da aprendizagem abarca visões da Teoria Cognitiva, no esforço de entender o conhecimento e do autoconhecimento social. 14 15 A Teoria Cognitiva A Teoria Cognitiva enfatiza a estrutura e o desenvolvimento dos processos de pensamento e do conhecimento humano. A grande preocupação é compreender como o ser humano pensava. Seu grande ícone é Jean Piaget (1896-1980). O grande desafio de Piaget foi conhecer e entender como as crianças pensavam e concluiu que como as pessoas pensam revela como elas interpretam suas vivências e experiências num processo de construção de seus valores e suas premissas. Figura 9: Piaget Fonte: Wikimedia Commons Piaget considerava quatro períodos de desenvolvimento cognitivo (aquisição do conhecimento). Esses períodos correspondem às idades do ser humano. Para ele, o ser humano necessita de equilíbrio cognitivo, ou seja, um estado de equilíbrio mental, no qual cada ser humano concilia as novas experiências àquelas que já fazem sentido em sua vida e foram aprendidas. Segundo Piletti, N.; Rossato, S. M. & Rossato, G. (2014, p. 43), Piaget: [...] compreende o desenvolvimento cognitivo como algo que contém uma dinamicidade, posto que a inteligência existe na ação, modificando- se numa sucessão de estágios que compreendem: uma gênese, uma estrutura e a mudança das mesmas. Nessa perspectiva, o ser humano se ajusta às novas experiências em uma adaptação cognitiva que ocorre de duas formas: a primeira reinterpreta as novas experiências num processo de ajustamento às ideias antigas (assimiladas); a segunda modifica as ideias antigas acomodando-as às novas ideias. Para Piaget, o desenvolvimento humano se dá por meio de estágios cognitivos: o primeiro deles (do nascimento aos 2 anos) o Sensoriomotor, segundo Berger (2001, p.29), “A criança aprende que um objeto continua existindo mesmo quando não está à vista (permanência do objeto) e começa a pensar por meio de ações mentais além de ações físicas”. No segundo (dos 2 anos aos 6 anos), Pré-operacional, a criança utiliza a imaginação e a linguagem para se expressar a respeito de si, recebendo e percebendo a influência dos outros. Ela se torna menos egocêntrica e já é capaz de coordenar pontos de vista variados. No terceiro estágio (dos 7 aos 11 anos), Operacional concreto, “A criança conhece e aplica operações, ou princípios lógicos como recurso para interpretar as experiências de maneira objetiva e racional, em vez de intuitiva” (BERGER, 2001, p. 29). 15 UNIDADE Desenvolvimento Humano O último estágio (12 anos à idade adulta), Operacional formal, diz respeito à capacidade do adolescente ou adulto de ter pensamentos abstratos e criar situações hipotéticas para problemas do dia a dia vivenciados por eles. Temas como ética, política e questões sociais fazem parte do repertório desse estágio. Teoria do Desenvolvimento Humano Emergente – Sociocultural O maior representante dessa teoria foi o psicólogo Lev Vygotsky (1896-1934), da antiga União Soviética. Ele foi um discípulo de A. R. Luria, que atraiu muitos pesquisadores para essa nova abordagem da Psicologia do Desenvolvimento Humano. “Vygotsky estava especialmente interessado nas qualificações cognitivas que se desenvolviam entre as pessoas culturalmente diversas da então recém-criada União Soviética” (BERGER, 2001, p.33). Seu interesse se concentrava no estudo das habilidades das pessoas com a utilização de maquinários e ferramentas de uma comunidade agrícola e a utilização adequada das palavras abstratas por pessoas analfabetas. Esse fenômeno foi chamado de aprendizado do pensamento, vez que essas habilidades são desenvolvidas a partir da interação entre pessoas mais novas dessa sociedade e os veteranos. Os veteranos atuam como orientadores/mentores desse processo, que proporciona a educação e o suporte para os mais novos que precisam obter todo o conhecimento e as qualificações valorizados pela sua Cultura. Esse fenômeno é chamado de participação dirigida, na qual o mentor se preocupa em envolver o novato em atividades coletivas/conjuntas. Os mentores proporcionam situações favoráveis à aprendizagem, por meio da instrução cuidadosa de cada passo nessa aprendizagem. Vygotsky dá ênfase às origens sociais do pensamento. Este, para ele, evolui e aprimora-se com o contato social (interações grupais). Segundo Cória- Sabini (2010), os processos de interações sociais contam com sistemas de signos, neles consideramos a linguagem, a escrita, o sistema numérico e os instrumentos para a transformação da natureza. Diante disso, podemos dizer que “A internalização dos sistemas de signos provoca transformações comportamentais e estabelece o elo entre as formas iniciais e avançadas do desenvolvimento cognitivo” (CÓRIA-SABINI, 2010, p.151). Figura 10: Vygotsky Fonte: Wikimedia Commons 16 17 O mais interessante é que todo esse processo de aprendizagem estávinculado à interação social; assim, o novato e o veterano, em conjunto, moldam o conhecimento da cultura local. “Os adultos aprendem com as crianças e vice-versa, e todos aprendem tanto com seus iguais como com indivíduos mais velhos ou mais novos” (BERGER, 2001, p. 33). A grande diferença entre as teorias anteriores apresentadas e a sociocultural é o fato de o adulto aprender em conjunto com a criança, e a grande mola propulsora é a interação social. Figura 11 Fonte: iStock/Getty Images Os estudiosos da abordagem sociocultural, ao estudar o desenvolvimento humano, enfatizam a Cultura, principalmente no processo de reconhecimento das habilidades, desafios e das oportunidades proporcionadas por esse desenvolvimento. Quando falamos em cultura, damos destaque aos valores, crenças e estruturas da sociedade estudada. Para conhecer o processo do desenvolvimento de uma determinada cultura, os pesquisadores primeiro estudam como os valores afetam os indivíduos. Depois estudam como os indivíduos moldam o contexto cultural específico de maneira sistemática, cada componente afetando o todo. (BERGER, 2001, p.34) Como será que uma pessoa com idade avançada se comporta diante das exigências das modernas sociedades multiculturais, na qual os recursos, as habilidades, os costumes e os valores por meio dos quais a cultura atua pressiona para mudanças constantes? Ex pl or Para responder a essa pergunta, é necessário entender os paradigmas dessas novas sociedades relacionadas ao progresso tecnológico. As gerações mais antigas podem ter aprendido com seus pais que um conhecimento vale para uma vida toda e se deparam com as novas sociedades na qual as constantes mudanças é o grande lema. 17 UNIDADE Desenvolvimento Humano Vamos dar um exemplo: do telefone convencional (de fio) para o telefone celular dos dias atuais. Eles são verdadeiros computadores, e nos dão a condição de conversarmos com pessoas do mundo inteiro em segundos, sem que usemos a voz. Elas podem não entender a necessidade constante de trocas de aparelhos por parte dos jovens para que possam ter equipamentos que comportem um número maior de aplicativos para atender às suas necessidades. Para os mais antigos, pelo fato de os aparelhos estarem em condições de conservação externa, não há necessidade de trocá-los; é difícil compreender que apesar da conservação aparente, eles possuem um limite tecnológico. Obviamente que a Teoria Sociocultural não dá conta de explicar o desenvolvimento humano integralmente, assim como as demais teorias apresentadas aqui. O conhecimento está se construindo e certamente todas elas são alvo de críticas. Mas, o que realmente importa nesse momento para nós é que conheçamos o que cada uma delas tem de positivo a oferecer para o entendimento humano e seu desenvolvimento. Para recapitular, vimos aqui três grandes teorias de desenvolvimento humano. Além dessas, temos a Teoria Bioecológica sob uma perspectiva contextual, na qual o psicólogo Urie Bronfenbrenner (1917-2005) descreve que o ser humano é influenciado por cinco níveis de influência ambiental: microssistema, mesossistema, exossistema, macrossitema e cronossitema. Segundo Papalia e Feldman (2013, p. 67), “para entender a complexidade das influências sobre o desenvolvimento, devemos ver a pessoa dentro do contexto desses múltiplos ambientes”. Por mesossistema entendemos o ambiente do dia a dia mais íntimo do ser humano; por mesossistema compreendemos a interligação entre vários microssistemas, por exemplo, o lar e a escola. ”Envolvendo os microssistemas está o exossistema, que inclui todas as redes externas, tal como as estruturas comunitárias e os sistemas educacionais [...]”, entre outros (BERGER, 2001,p. 5) que influenciam os microssistemas. O macrosssistema pode ser entendido como o grupo de valores culturais e crenças, incluindo padrões econômicos e condições sociais. E, por último, o cronossistema que se refere à dimensão do tempo, a constância da pessoa nos espaços que frequenta e ambientes. Segundo Papalia e Feldman (2013, p. 68), “ ao observar os sistemas que afetam os indivíduos na família e além dela, essa abordagem bioecológica nos ajuda a ver a variedade de influências sobre o desenvolvimento”. 18 19 Outra perspectiva de desenvolvimento é a Evolucionista/Sociobiológica, que se debruça nas bases evolucionistas e biológicas do comportamento humano. Ela sofreu influências da Teoria da Evolução de Darwin, que enfatiza a evolução das espécies no que se refere à adaptação e seletividade natural dos indivíduos. Os psicólogos dessa abordagem, por exemplo, estudam “...tópicos como estratégias de parentalidade, diferenças de gênero no brincar e relações entre colegas, além de identificar comportamentos que sejam adaptativos em diferentes idades” (PAPALIA & FELDMAN, 2013, p. 69).1 Importante! Segundo Papalia e Feldman (2013, p.69): “Nenhuma teoria do desenvolvimento humano é universalmente aceita, e nenhuma perspectiva teórica explica todas as facetas do desenvolvimento”. Ao estudarmos o desenvolvimento humano, para que possamos aproveitar os conceitos na prática profi ssional do dia a dia, é necessário entendermos que o ser humano é uma totalidade e inserido nos contextos histórico, socioeconômico e cultural. E isso cabe em todas as áreas de conhecimento, principalmente naquelas relacionadas às Ciências Humanas Sociais1. Importante! Domínios Predominantes do Desenvolvimento Humano Para que possamos entender e estudar o desenvolvimento humano, é necessário dividirmos o desenvolvimento em três domínios. O domínio biossocial, o domínio cognitivo e o domínio psicossocial. Os três domínios são fundamentais para todas as idades. O que também é importante saber em relação aos domínios predominantes é que poucos fatores pertencem exclusivamente a um domínio ou a outro. Lembrando que cada um deles se inter-relaciona com os outros dois. No domínio biossocial, incluímos o cérebro, o corpo e as alterações que neles ocorrem e as interferências sociais que as direcionam. “O domínio cognitivo inclui os processos de pensamento, as aptidões de percepção e o domínio da linguagem, além das instituições de ensino que os estimulam” (BERGER, 2001, p.3). O domínio psicossocial compreende a personalidade do indivíduo, as emoções e as relações interpessoais mais íntimas, de amizade e com a comunidade em geral. 1 O conceito contextual está ligado “ à visão do desenvolvimento humano que vê o indivíduo como inseparável do contexto social” (PAPALIA e FELDMAN, 2013, p. 67) 19 UNIDADE Desenvolvimento Humano No domínio biossocial do desenvolvimento, incluímos também os fatores genéticos e de saúde que impactam o crescimento da pessoa. As habilidades motoras e a busca de um corpo ideal também se inserem nesse domínio. No domínio cognitivo podemos incluir os processos mentais para a obtenção de conhecimento e a consciência do ambiente em que estamos inseridos no momento. Aqui também consideramos a percepção, a imaginação, o discernimento, a memória e, como falamos anteriormente, a linguagem. Podemos englobar aqui o processo de tomada de decisões e a educação formal das escolas e a informal propiciada pela família e pelas pessoas que rodeiam o indivíduo. O resultado da curiosidade e da criatividade que as pessoas apresentam também fazem parte desse domínio. No domínio psicossocial, podemos considerar o campo das emoções, do temperamento de uma pessoa e das habilidades sociais. Todas as influências que o indivíduo tem da família, dos amigos, da comunidade, da cultura e da sociedade em que está inserido. “As diferenças culturais relativas ao valor das crianças, ou relativas a ideias sobre os papéis ‘apropriados’ a cada sexo, ou ainda quanto ao que é considerada a estrutura familiar ideal” (BERGER, 2001, p.4) fazem parte desse domínio. Quando estudamos desenvolvimento humano, temos de lembrar que o desenvolvimento deve ser visto sempre sob um olhar holístico. Ou seja, cadaindivíduo cresce de forma integral e o fato de dividirmos em domínio é meramente uma forma organizada e didática de facilitar aos cientistas seus estudos acadêmicos sobre o tema em questão. Desenvolvimento Humano Psicossocial dos dois Primeiros Anos até a Idade Adulta Avançada É de suma importância estudarmos o desenvolvimento humano psicossocial para que possamos entender melhor como as coisas acontecem ao longo da vida do ser humano. Trabalhamos direta ou indiretamente com pessoas, esse é o nosso “negócio”. Compreender o ser humano nos habilita para sermos mais empáticos e assertivos quando temos de tomar decisões para favorecer o crescimento das pessoas. Desde os primeiros anos até a vida adulta avançada, o ser humano sofre inúmeras modificações. Veja os bebê, por exemplo, eles já apresentam personalidades diferentes. São diferentes, vez que possuem históricos de vida distintos, que provocam emoções diferentes e únicas, assim como temperamentos, pensamentos e comportamentos também diferentes. Uma pessoa se torna única pelo conjunto de todos esses aspectos. Empatia: é a capacidade do ser humano de ser colocar no lugar do outro. Ex pl or 20 21 Ou seja, o modo peculiar de cada pessoa de sentir, pensar e agir é influenciado tanto pelas características inatas quanto ambientais. Isso denota como as crianças irão responder às outras pessoas e como se adaptam aos seus mundos. Na tentativa de compreender o desenvolvimento psicossocial, é necessário conhecermos os aspectos mais importantes desse desenvolvimento do nascimento aos dois anos de vida. Segundo Papalia & Feldman (2013), é importante sabermos que durante a gestação o feto identifica a voz da mãe e tem sua preferência. Do zero aos três meses, os bebês são abertos à estimulação. Eles iniciam a demonstração de interesse e curiosidade em relação ao mundo externo, além de sorrirem para as pessoas prontamente. Dos três meses aos seis meses, eles sorriem e riem com bastante frequência, além de se apresentarem zangados quando se decepcionam com algo, em um movimento de antecipação de fatos. Os bebês se despertam socialmente e estabelecem trocas recíprocas com os cuidadores. Aos nove meses são capazes de “jogos sociais” e buscam respostas das pessoas quando tentam “conversar”. Agradam e tocam outras crianças para obter respostas delas. Demonstram e expressam emoções como medo, raiva e alegria, por exemplo. Dos nove meses a um ano, os bebês preocupam-se com o principal cuidador, apresentando medo de estranhos e podem agir de forma submissa em situações novas e inesperadas. Com um ano conseguem comunicar suas emoções claramente, apresentando oscilações de humor. Após um ano até um ano e meio exploram bastante o ambiente por meio de pessoas que apresentam segurança e que estão mais ligadas. Tendem a apresentar ansiedade para se autoafirmarem, a partir do momento em que dominam o ambiente. Dos dezoito meses até os 3 anos, inicia-se a fase de identificação com os adultos pela brincadeira e são capazes de perceber o quanto estão se separando do cuidador. Na fantasia e também na brincadeira, eles estabelecem a consciência de suas limitações. Nessa fase, os vínculos afetivos com os pais e com outras pessoas são estabelecidos. Essa fase caracteriza-se pela busca da independência e da autonomia, e se percebe um relativo aumento pelo interesse por outras crianças 21 UNIDADE Desenvolvimento Humano Figura 12 Fonte: iStock/Getty Images Dos três aos seis anos, a criança já tem o autoconceito e a compreensão das suas emoções, tornando-se mais complexa. Além de aumentar a independência, o autocontrole e desenvolver a identidade de gênero. O significado do brincar se aprimora e “torna-se mais imaginativo, mais elaborado e, geralmente, mais social” (PAPALIA & FELDMAN, 2013, p. 41) As crianças nessa faixa etária consideram que a família ainda é o foco da vida social, e atribuem importância considerável às outras crianças. O autoconceito torna-se ainda mais complexo influenciando na autoestima. Nessa fase, tendem a controlar mais as situações. Na adolescência (11 a aproximadamente 20 anos), a busca central é pela identidade e identidade sexual. Os amigos podem influenciar positiva ou negativamente. Geralmente, o relacionamento com os pais tende a ser bom. Se formos recorrer a Erik Erikson (apud PAPALIA & FELDMAN, 2013, p. 422) “A principal tarefa da adolescência é confrontar a crise de identidade versus confusão de papel, de modo a se tornar um adulto singular com uma percepção coerente do self e um papel valorizado pela sociedade”. Para Erikson, a identidade se concretiza quando os adolescentes conseguem resolver três aspectos: quando escolhem uma ocupação, quando adotam valores referentes a como viver e o desenvolvimento de uma satisfatória identidade sexual. Durante a terceira infância, as crianças adquirem as habilidades necessárias para obter sucesso em suas respectivas culturas. Quando adolescentes, elas precisam encontrar maneiras para usar essas habilidades. Quando jovens têm problemas para fixar-se em uma identidade ocupacional – ou quando suas oportunidades são artificialmente limitadas, eles correm risco de apresentar comportamento com consequências negativas sérias, tal como atividades criminosas (PAPALIA & FELDMAN, 2013, p.422). No início da vida adulta (20 a 40 anos), existe uma estabilidade dos traços e estilos de personalidade. Nessa fase, o ser humano toma decisões em relação a relacionamentos mais íntimos e estilos de vida, que tendem a ser mais duradouros, ou seja, casa-se e tem filhos, por exemplo. 22 23 Na fase posterior (40 a 65 anos), pode acontecer de o adulto necessitar cuidar de seus pais idosos e de seus filhos, o que pode trazer muitas situações de stress para ele. Outra possibilidade é a saída dos filhos para uma vida mais externa, muitos deles ingressando para o mercado de trabalho, ocorrendo possivelmente uma transição para a meia idade e o senso de identidade continua em desenvolvimento. Aqui é constante a avaliação e a reavaliação que um adulto faz em relação à própria vida; nessa revisão ou avaliação de prioridades e valores. Algumas pessoas podem experienciar crises nessa fase, outras se veem no auge de suas capacidades e habilidades. Outras, ainda, podem se encontrar em uma posição intermediária, na qual crises e tumultos tenham sido enfrentados em outra fase, por exemplo (PAPALIA & FELDMAN, 2013). Nessa fase, as pessoas iniciam o processo de envelhecimento que está ligado a mudanças físicas, mentais e emocionais; nesse momento, também se deparam com outras vivências associadas aos desafios do esquema de identidade. Esquema de Identidade são percepções que as pessoas tem de si mesmas que provêm de relacionamentos mais íntimos, de situações de trabalho, de atividades ligadas a comunidades e de outras experiências (PAPALIA & FELDMAN, 2013). Na fase seguinte, caracterizada como vida adulta tardia (65 anos em diante) a procura é de significado para a vida, essa de fundamental importância nessa etapa. A pessoa com idade mais avançada cria estratégias flexíveis para encarar perdas pessoais e/ou a morte iminente. Com a aposentadoria, o idoso pode pensar melhor sobre aproveitar o tempo e canalizar suas energias. Tempo inclusive destinado à família e aos amigos íntimos, já que estes podem ser um ponto de apoio em diversas situações. Ainda segundo Kinsella e Phillips (2005, apud Papalia e Feldman 2013), é comum que pais com idade avançada continuem ajudando financeiramente seus filhos e, em países em desenvolvimento, eles participam da dinâmica familiar com tarefas domésticas, cuidando dos filhos e netos, podendo, inclusive, assumir a total educação desses netos, caracterizando uma “paternidade ativa” inesperada, na qual poderão estar despreparados para esse papel. Como você se imagina chegando à velhice? Ex pl or Erik Erikson (apud PAPALIA & FELDMAN, 2013) ressalta que é necessário que as pessoas estejam envolvidasde forma vital na sociedade para um envelhecer saudável. Ainda segundo ele, a fase final da vida nos remete à sabedoria. Podemos acrescentar que a interação social garante esse bem-estar e saúde, vez que promove a satisfação com a vida. É de extrema importância que os profissionais de Ciências Humanas Sociais compreendam as fases de desenvolvimento humano e suas principais características, para uma atuação mais assertiva e produtiva; contribuindo, assim, com a sociedade e, consequentemente, com um mundo melhor. 23 UNIDADE Desenvolvimento Humano Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites A Epistemologia Genética de Piaget e o construtivismo Para aprofundar os conhecimentos sobre as fases de desenvolvimento humano segundo Jean Piaget leia o artigo científico. https://goo.gl/5nuLUB Livros Psicologia e Desenvolvimento Humano ESCORSIN, A. P. Psicologia e Desenvolvimento Humano. Curitiba: Intersaberes, 2016. p.153-72. E-book. Filmes Shaolin - Trailer Legendado Como exemplo de processo de interação social na abordagem sócio-histórica, assista ao trailer Shaolin. https://youtu.be/KhS2C5jQrfw 24 25 Referências BARROS, C. S. G. Pontos de Psicologia do Desenvolvimento. 12.ed. São Paulo: Ática, 2008. BERGER, K. S. O Desenvolvimento da Pessoa – da infância à terceira idade. Tradução de Dalton de Alencar. 5.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001. CÓRIA-SABINI, M.A. Psicologia do Desenvolvimento.2.ed.8.imp. São Paulo: Ática, 2010. ESCORSIN, A. P. Psicologia e Desenvolvimento Humano. Curitiba: Intersaberes, 2016. PAPALIA, D.; FELDMAN. R. D. Desenvolvimento Humano. Tradução de Cristina Monteiro e Mauro de Campos Silva.12.ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. PILETTI, N.; ROSSATO, S. M.; ROSSATO, G. Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Contexto, 2014. 25 Psicologia Social Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Nirley Dragonetti Revisão Textual: Prof. Dra. Selma Aparecida Cesarin O Ser Humano nos Ambientes Sociais • Introdução • A Significação da Interação Social • Atitudes e Comportamento • As Pessoas em Ambientes de Grupos · Esta Unidade tem por objetivo fazer com que entendamos a significação da Interação Social para o ser humano, assim como compreender as formas pelas quais os processos psicológicos acontecem e estão interligados com as experiências vividas em um contexto grupal e cultural. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta Unidade, vamos aprender um pouco mais sobre o importante tema “O ser humano nos ambientes sociais”. Então, procure ler o conteúdo disponibilizado e o material complementar; eles ajudarão você na compreensão da Unidade. Lembre-se! A leitura é um momento oportuno e feliz para registrar suas dúvidas; por isso, registre-as e as transmita ao professor-tutor. Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra no ambiente mais interativo possível, na pasta de atividades, você também encontrará as atividades de Avaliação, uma Atividade Reflexiva e a videoaula. Cada material disponibilizado é mais um elemento para seu aprendizado; por favor, estude todos com atenção! ORIENTAÇÕES O Ser Humano nos Ambientes Sociais UNIDADE O Ser Humano nos Ambientes Sociais Contextualização “Fernando é um estudante universitário muito preocupado com problemas sociais. Pertence ao Diretório Acadêmico, é filiado a um partido político de esquerda, participa ativamente de movimentos políticos, tanto no ambiente restrito da Universidade, como no da comunidade em que vive, e não se furta a dar sua colaboração quando seu partido necessita dele para participar de atividades de âmbito estadual ou nacional. Embora não seja estudante de Psicologia, Fernando decide matricular-se no Curso de Psicologia Social I, oferecido pelo departamento de Psicologia de sua universidade. Seu objetivo, ao fazê-lo, não era outro senão o de preparar- se melhor para o desempenho de sua atividade política em geral e, mais especificamente, aprender a lidar com as massas e habilitar-se melhor para resolver os graves problemas sociais dos países do Terceiro Mundo. Fernando é um aluno assíduo e interessado. Entretanto, após dois meses e meio de curso, ele decide trancar a matrícula na disciplina e diz para si mesmo: “Que vim eu fazer aqui? Nunca pensei que num curso de psicologia social se pudesse passar quase três meses sem uma referência sequer aos problemas da miséria, da injustiça social, da violência urbana, da iníqua distribuição de renda, do menor abandonado, enfim, dos graves ´problemas sociais´ que estão a exigir solução urgente. Não estou aqui para saber como se formam as atrações interpessoais, nem como uma unanimidade errada influencia o julgamento de outrem, nem por que minhas atribuições suscitam determinadas emoções e comportamentos, e muito menos para entender por que procuro justificar um comportamento contrário a minhas convicções íntimas. Vou deixar este curso já, pois isto de social não tem nada!” O texto apresentado foi extraído de RODRIGUES, A. Psicologia Social para principiantes – Estudo da Interação Humana. 10.ed.atual.acresc. Rio de Janeiro: Vozes, 2005. Ele nos fala sobre a inquietação de um estudante de Psicologia que ao ingressar na Disciplina esperava participar de discussões acaloradas ou ´receitas prontas´ para os grandes problemas sociais. Mas, a Psicologia Social contribuirá sensivelmente para o entendimento de muitos problemas sociais e até mesmo ofertará subsídios e bases para a solução de alguns deles, de acordo com a natureza dos problemas enfrentados. Pelo fato de os seres humanos não estarem isolados e vivermos constantemente em interação com os nossos pares e demais integrantes do nosso meio social, ela nos faz pensar também sobre as nossas contribuições particulares à Sociedade; principalmente porque à medida que nos propomos a estudar e entender essa realidade, nós nos tornamos atores de uma transformação social. Assim, ao estudarmos a Psicologia Social, no que se refere ao convívio social e como ele se processa, ela nos dá a oportunidade de entender a interação social (com todos os elementos culturais), bem como de agirmos respaldados em conhecimento e argumentos sólidos em prol dessa sociedade. Afinal, o trancamento da matrícula de Fernando pode ser caracterizado como um ato precipitado, vez que, por menor que pareça, o conhecimento ainda é a chave para o agir no mundo e modifica-lo. Ampliaria seu spectro de como ver esse mundo, já que é também composto por um fazer cotidiano e inevitavelmente grupal. 6 7 Introdução A Psicologia Social Contemporânea tem particular preocupação com o entendimento do ser humano e sua interação social. O ponto de partida para essa compreensão é processo perceptivo humano que abarca “uma série de variáveis que se interpõem entre o momento da estimulação sensorial e a tomada de consciência daquilo que foi responsável pela estimulação sensorial” (RODRIGUES, 1973, p.223-4). O que isso efetivamente quer dizer? Quer dizer que a partir do momento em que o ser humano entra em contato com o ambiente social, ele é capaz de perceber os outros e fazer interferências, inclusive julgamentos a partir da informação obtida por meio desse ambiente. A Signifi cação da Interação Social No contato com o ambiente social que nos cerca, fazemos uma imagem de nós mesmos, o que chamamos de autoconceito, e tendemos a criar categorias do nosso ambiente de forma a facilitar o relacionamento com ele. O termo mais adequado para todo esse processo é Cognição Social. Ao interagirmos com as pessoas e ambientes, podemos estabelecer rótulos, antes mesmo de conhecê-los, fazendo com que as primeiras impressões determinem a forma como vamos nos relacionar, formando “uma teoria acerca da personalidade de uma pessoa”. Assim, “os psicólogos sociais têm estudado esse processo pelo qual formamos impressões sobre nós mesmos em relação ao mundo social em que vivemos e sobre o próprio contexto social no qual
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