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Profª Me. Regina Ruete Medicina - 2023 Conceitos Básicos Os Parasitas, o Homem e a Sociedade • Doenças parasitárias são graves e constantes no nosso meio tropical, do México à Argentina. • Ocorrem nas camadas sociais pobres, sem condições adequadas de trabalho, de educação, de moradia e principalmente sanitárias. ⚫ Segundo Neves, duas razões levaram o nosso país a conviver com o desnível social e as doenças parasitárias: ⚫ 1. A forma de colonização da América Latina ⚫ 2. A submissão do povo em relação à Igreja Católica, aos nobres, militares e comerciantes :- donos do poder e o povo. • Falência de políticas públicas leva à falta de educação e de saneamento básico. • O aumento das doenças parasitárias é causa e consequência do subdesenvolvimento, acompanhadas do analfabetismo, subnutrição, alienação do povo, corrupção e irresponsabilidade de políticos e empresários. Aspectos importantes que devem ser observados em relação às Doenças Parasitárias:- - Urbanização da sociedade - Migração interna - Zoogeografia - Presença ou ausência de vetores - Ciclo pobreza e saúde Ciclo doença e pobreza Tratamento médico elevado e baixa aplicação em profilaxia. baixa produção energia humana deficiente salários de subsistência doença Relação parasita x hospedeiro 1. Atitudes predatórias para o meio ambiente, estrutura política e econômica voltada para pequenos grupos sãos os principais fatores responsáveis pela manutenção do país no subdesenvolvimento, com aumento considerável de várias parasitoses. 2. O meio ambiente e os seres vivos estão em permanente processo de adaptação. Distribuição Geográfica das Parasitoses • Presença de hospedeiros suscetíveis • Migrações humanas • Condições ambientais(temperatura, umidade, altitude) • Potencial biótico elevado • Densidade populacional • Hábitos religiosos • Falta de princípios higiênicos • Baixas condições de vida e ignorância “O homem não nasce, vive, sofre e morre de maneira idêntica nas diversas partes do mundo” Analise a frase acima sob uma ótica parasitológica. Podemos dizer que os relacionamentos entre os seres vivos existem devido à procura de alimento e/ou proteção. Você concorda, sim ou não. Justifique. Reflexões sobre parasitologia Origem do parasitismo • O parasitismo ocorreu quando na evolução de uma associação entre um organismo menor e seu hospedeiro, este sentiu-se beneficiado, quer pela proteção, quer pela obtenção de alimento. • Esta relação ocorreu ao acaso e no decorrer de milhares de anos houve uma evolução efetivando o relacionamento. Tipos de adaptações • 1. Morfológicas:- a. degenerações (perdas ou atrofias de orgãos locomotores, aparelho digestivo, etc) b. hipertrofia (órgãos de fixação, resistência ou proteção e reprodução) • 2. Biológicas:- capacidade reprodutiva com variedade sexuada e assexuada, produção de antiquinases (resistência à agressão do hospedeiro) e tropismos. Associações entre os seres vivos Relações Harmônicas: -comensalismo -mutualismo -cooperativismo Associações entre os seres vivos Relações Desarmônicas: -competição -canibalismo -predatismo -parasitismo Exercícios • Compare comensalismo com parasitismo. • A unilateralidade de benefícios é típica do parasitismo ? Justifique. • A mosca doméstica é um parasita do ser humano ? Justifique. Tipos de parasitas ⚫ 1. Ocasional ou acidental : é o que parasita outro hospedeiro que não o seu normal. Ex: Dipylidium caninum, parasitando criança. ⚫ 2. Facultativos ou oportunistas : Parasito facultativo: é o que pode viver parasitando um hospedeiro ou não, isto é, pode ter hábitos de vida livre ou parasitária. Ex.: as larvas de moscas Sarcophagiae podem provocar miíases humanas, desenvolver-se em cadáveres ou ainda fezes. • 3. Obrigatórios, necessários ou absolutos : só sobrevivem às custas de um hospedeiro. Os parasitas obrigatórios classificam-se em : 1. Permanente :- com a morte do hospedeiro eles não sobrevivem. Ex: piolho 2.Temporário : - usa o hospedeiro para se alimentar. Ex:- hematófagos (pulgas). 3.Periódicos :- podem parasitar o hospedeiro na fase larval (Proteleanos –ex: berne) ou na fase adulta (Teleanos –ex: Schistosoma mansoni). Conceitos sobre Parasitas Ectoparasita ; parasita externo, como a pulga, o carrapato, etc. Endoparasita : parasita interno, como a maioria dos protozoários, platelmintos e nematelmintos. Parasita Monoxeno : necessitam de um único hospedeiro para completar seu ciclo de vida. Parasita Heteroxeno : necessitam de dois ou mais hospedeiros para completar seu ciclo de vida. ⚫ Parasitas Monogenéticos: apresentam apenas um tipo de reprodução ( sexuada ou assexuada). ⚫ Parasitas Heterogeneticos: apresentam dois ou mais tipos de reprodução (sexuada/assexuada). ⚫ Parasita Estenoxeno: parasita apenas um tipo de espécie de ser vivo ou espécies muito próximas. ⚫ Parasita Eurixeno: parasita várias espécies diferentes de seres vivos. ⚫ Especificidade Parasitária –relaciona-se com a capacidade do parasita em completar seu ciclo de vida em um único tipo de ser vivo ou em várias espécies de seres vivos. ⚫ Parasita estenoxeno possui alta especificidade parasitária. ⚫ Parasita eurixeno possui baixa especificidade parasitária. Conceito de Hospedeiros • Hospedeiro definitivo: é aquele onde o parasita se reproduz sexuadamente. • Hospedeiro intermediário: é aquele onde o parasita se reproduz assexuadamente. Exercícios de fixação de conceitos 1. Ancilostoma duodenale é um parasita monogenético, porque apenas completa o seu ciclo de vida na espécie humana. C ou E? Justifique . 2. O parasita Toxoplasma gondii é considerado eurixeno, pois completa o seu ciclo de vida apenas na espécie humana. C ou E ? Justifique. 3. Parasitas heteroxenos podem ser heterogenéticos. Comente justificando. 4. O homem, normalmente, é o hospedeiro definitivo na maioria das doenças parasitárias, pois nele ocorre reprodução sexuada do parasita. C ou E? Justifique. 5. O parasitismo é uma associação desarmônica que visa, apenas, o benefício do parasita. Você concorda? Justifique. 6. Na doença esquistossomose, o caramujo é o hospedeiro intermediário pois, nele ocorre a reprodução sexuada do parasita. Você concorda? Justifique. 7.Normalmente, o homem é considerado o hospedeiro definitivo nas doenças parasitárias pois, apresenta alta especificidade parasitária. Certo ? Justifique 8.No parasitismo facultativo do tipo proteleano, o parasita vive sua fase larval como parasita. Certo ? Justifique . Analise os textos abaixo e discuta-os 1. O Ascaris lumbricóides é o causador de uma verminose. Ele é considerado um parasita eurixeno, pois completa o seu ciclo de vida apenas na espécie humana. Sua alta especificidade parasitária deve-se ao fato de ser monogenético. 2. O Toxoplasma gondii é um protozoário que completa o seu ciclo de vida em várias espécies animais (coelho, papagaio, homem, etc) devido a este fato possui alto potencial biótico. Possui o homem como hospedeiro definitivo, pois os gatos liberam em suas fezes oocistos, resultado de uma reprodução sexuada . 3. O causador da lumbriga é um verme que vive, apenas, dentro do intestino humano e sua contaminação ocorre ao ingerir-se alimentos ou água contendo ovos do parasita. Ele é considerado monogenético, ectoparasita com alto potencial biótico e baixa especificidade parasitária. Conceitos importantes • Agente etiológico: ser vivo responsávelpor uma doença; causador da doença(agente etiológico). • Agente transmissor: ser vivo veiculador da doença, normalmente é o H.I. (agente transmissor). • Profilaxia: medidas realizadas para impedir a ocorrência de uma parasitose. • Fômites: objetos que podem veicular A.E., como o garfo, a toalha,etc • Ciclo evolutivo: é o ciclo de vida do A.E. desde um ovo ou cisto até adulto. Mecanismos de transmissão Transmissão de parasitas. Os parasitas que entram pela boca são deglutidos e podem permanecer no intestino ou penetrar pela parede intestinal invadindo outros órgãos. Muitas vezes os parasitas penetram na boca por transmissão fecal-oral. Porta de entrada :- boca, pele e contato direto (relação sexual). Veículos de contaminação :-fômites (objetos de uso pessoal), poeira, água, mãos sujas, solo, vetores, etc. Vetores Tipos de vetores :- biológico(H.I.), mecânico (moscas), inanimado (fômites : talher, seringa, espéculo, toalha, etc). Ser vivo ou outro veículo capaz de transmitir o parasita entre dois hospedeiros. Podem ser: vetor biológico:- quando o parasita se reproduz ou se desenvolve nele. vetor mecânico:- apenas transporta o parasita. vetor inanimado ou fômite:- quando o parasita é transportado por objetos, lenço, seringas, espéculo, etc Noções de epidemiologia Epidemiologia: As doenças não ocorrem por acaso, e, sim por fatores que determinam sua ocorrência e distribuição: fonte de contaminação, forma de dispersão, hábitos da população, etc A relação entre o parasita, o hospedeiro e o meio ou as circunstâncias em que ambos ocorrem determinam as causas de uma doença. Nos dá os detalhes da doença para que possamos perceber os pontos vulneráveis nos quais existe a intervenção profilática. Três perguntas básicas, segundo os princípios da Epidemiologia;- 1.Quem adoece e por que adoece ; 2.Onde a doença ocorre; 3.Quando a doença ocorre e por que apresenta variações em sua ocorrência? Destas identificamos as características demográficas (sexo, idade, raça, etc), biológicas(ac,hormônios etc), sociais( nível social e escolar), pessoais(fumante) e genéticas; área geográfica específica; ocorre a longo tempo ou é recente. Princípios básicos de epidemiologia Fatores que determinam a ocorrência de doenças:- fonte de contaminação, forma de dispersão, hábitos da população, condições sociais e sanitárias, nível de escolaridade e presença de vetores. Em relação ao doente:- características demográficas (sexo, idade, raça), sociais, pessoais (dieta, uso de álcool, fumo) e genéticas. Objetivos da epidemiologia Identificar a etiologia da doença Conhecer a história da doença. Determinar o estado da saúde da população e a extensão das doenças. Avaliar as intervenções profiláticas e os programas de saúde existentes. Conhecer em detalhes a cadeia epidemiológica (interação entre o agente etiológico, hospedeiro e meio ambiente), nos dá a importância da Epidemiologia. Dinâmica da transmissão das doenças Fonte de infecção ou reservatório é o local onde a doença se origina; o reservatório perfeito é o local onde o A.E. se instala sem apresentar sintomas (humanos e animais). Dependendo o reservatório podemos ter:- Zoonose:- quando o reservatório é humano ou animal e a doença se manifesta em ambos. Ex. toxoplasmose, doença de Chagas Enzoose:- reservatório animal e doença em animais. Ex. peste suína, anemia infecciosa em equinos. Antroponose:- reservatório humano, doença em humanos. Ex. sarampo, amarelão, filariose etc Quando a doença existe em uma população sua dinâmica de distribuição pode ser caracterizada por :- Endemia:- a doença ocorre em um número esperado da população. Epidemia :- a doença ocorre em um número muito acima do esperado em determinada população. Pandemia :- a doença ocorre de forma epidêmica em vários países simultaneamente. Ex. Aids, COVID Resposta imunológica contra os parasitos Para que uma infecção desenvolva-se em um indivíduo são necessárias complexas interações entre o micro-organismo e o hospedeiro, como por exemplo a entrada do patógeno, a invasão e colonização dos tecidos, o escape do sistema imune e a lesão tecidual. As infecções parasitárias são aquelas causados por protozoários (Plasmodium sp., T. gondii, T. cruzi etc.), helmintos (S. mansoni, Taenia sp., F. hepatica, E. vermicularis etc.) e ectoparasitos (pulgas, carrapatos, piolhos etc.). A maioria dessa infecções é crônica devido a fraca imunidade inata e a capacidade de os parasitas evadirem ou resistirem à eliminação pela imunidade adaptativa. Imunidade inata Protozoários e helmintos ativam mecanismos diferentes de imunidade inata. A principal resposta imunológica inata aos protozoários é a fagocitose, porém a maioria desses são resistentes à morte fagocítica, replicando-se dentro de macrófagos. Os helmintos são muito grandes para serem fagocitados e, além disso, possuem tegumentos espessos que os tornam resistentes às substâncias microbicidas secretadas pelos fagócitos (neutrófilos e macrófagos). Imunidade adaptativa Helmintos e protozoários variam muito suas propriedades estruturais e bioquímicas e ciclos de vida, por isso induzem a imunidade adaptativa. O principal mecanismo de defesa contra protozoários intracelulares é semelhante à defesa contra bactérias intracelulares, ou seja, imunidade mediada por células, particularmente a ativação de macrófagos por citocinas derivadas de linfócitos Th1. Protozoários que se replicam no interior de células do hospedeiro e causam lise dessas células, como por exemplo o Plasmodium sp., estimulam a produção de anticorpos específicos e ativação dos linfócitos T CD8+ (similar à resposta contra os vírus citopáticos). A principal defesa contra os helmintos é mediada por linfócitos Th2, resultando na produção de IgE e ativação de eosinófilos. A interleucina 4 (IL-4) estimula a produção de anticorpos IgE e a IL-5 a ativação e desenvolvimento de eosinófilos e mastócitos. Os eosinófilos produzem enzimas oxidativas e hidrolíticas que são tóxicas para os parasitos. Dentre os mecanismos de escape estão a mudança de antígenos de superfície; os protozoários “se escondem” do sistema imunológico (vivem dentro da célula ou formam cistos); e há estímulo de linfócitos T reguladores que suprimem a resposta imunológica.Dentre os mecanismos de escape estão a mudança de antígenos de superfície; os protozoários “se escondem” do sistema imunológico (vivem dentro da célula ou formam cistos); e há estímulo de linfócitos T reguladores que suprimem a resposta imunológica. Dentre os mecanismos de escape estão a mudan- ça de antígenos de superfície; os protozoários “se escondem” do sistema imunológico (vivem dentro da célula ou formam cistos); e há estímulo de linfócitos T reguladores que suprimem, a resposta imunológica. Premunição ou imunidade concomitante: é um tipo especial de estado imunitário ligado à necessidade da presença do agente etiológico, com a manutenção de taxas elevadas da resposta imune. Normalmente durante o estado da premunição há certa dificuldade do paciente em se reinfectar, havendo um equilíbrio entre o parasito e o hospedeiro. Ocorre na fase crônica de várias doenças. Mecanismos de defesa do hospedeiro Barreiras inespecíficas :- pele e seu pH ácido, movimentos ciliares da árvore brônquica, fagocitose, fagócitos fixos (sistema mononuclear fagocitário) presentes no baço, fígado, linfonodo, por exemplo, processo inflamatório (granuloma esquistossômico ). Barreiras específicas (resposta imunológica), realizada pelas:- Células T –imunidade celular, linfócitos timo dependentes; mais comum em rejeição de tecidos implantados e infecções virais, fúngicas e parasitárias. Células B –resposta humoral (Ig), linfócitos timo independentes; mais comum em infecções bacterianas. Imunogamaglobulinas: IgA, IgG, IgM, IgD e IgE Imunidadeativa (natural-doença /artificial-vacina) Imunidade passiva (natural - amamentação e artificial- uso de soro) Imunidade parasitária Os protozoários, assim como os vírus e bactérias, se reproduzem dentro do hospedeiro, induzindo um tipo de resposta diferente da infecção por helmintos. Quando o hospedeiro é infectado, este reconhece o agente como estranho e desenvolve uma resposta imune para eliminá-lo em 2 ou 3 semanas. O hospedei- ro passa a ser resistente à uma reinfecção da mesma espécie. Entretanto na maior parte das doenças causa- das por protozoários, estes, conseguem se desenvolver e permanecer no hospedeiro; assim apenas parte dos parasitas conseguem ser eliminados. Imunidade conco- mitante. Nas doenças causadas por Leishmanias, ocorre um fenômeno interessante, no qual esse proto- zoário é fagocitado pelos macrófagos, porém o vacúolo formado e o lisossomo não são capazes de eliminar o parasito, pelo contrário, funcionam como escudo de defesa para a Leishmania, permitindo sua multiplicação de forma intensa, com posterior rompimento do macrófago e libe- ração dos protozoários, que serão fagocitados por outros macrófagos. Mecanismos de ação dos parasitas • As doenças parasitárias são pouco numerosas se comparadas ao elevadíssimo número de pessoas parasitadas. A prevalência é muito alta mas a morbi- dade é baixa. Na realidade, a doença parasitária é um acidente que ocorre em consequência de um desequi- líbrio entre hospedeiro e parasito. A manutenção desse equilíbrio depende da espécie do parasito, idade, estado nutricional, condições sanitárias e nível de resposta imunitária do hospedeiro. Ação patogênica dos parasitos Espoliativa: Quando o parasito absorve nutrientes ou mesmo sangue do hospedeiro. É o caso dos Ancylostomatidae, que ingerem sangue da mucosa intestinal (utilizam esse sangue para obtenção de Fe e O, e não para se nutrirem dele diretamente) e deixam pon- tos hemorrágicos na mucosa, quando aban- donam o local da sucção. Outro exemplo é o hematofagismo dos triatomíneos ou de mosquitos. •Tóxica: Algumas espécies produzem enzimas ou metabólitos que podem lesar o hospedeiro. Exemplos: as reações alérgicas provocadas pelos metabólitos do A. lumbricoides, as reações teciduais (intestino, figado, pulmões) produzidas pelas secreções no miracídio dentro do ovo do S. mansoni etc. • Irritativa:Deve-se a presença constante do parasito que, sem produzir lesões traumáticas, irrita o local parasitado. Como exemplo, temos a ação das ventosas dos Cestoda ou dos lábios dos A. lumbricoides na mucosa intestinal. a presença constante do parasito em um tecido ou órgão pode provocar sua lesão por meio de seus órgãos de fixação; •Mecânica: Algumas espécies podem impedir o fluxo de alimento, bile ou absorção alimentar. Assim, o enovelamento de A. lumbricoides dentro de uma alça intestinal, obstruindo-a; a G. lamblia, "atapetando" o duodeno etc. •Traumática:É provocada, principalmente, por formas larvárias de helmintos, embora vermes adultos e protozoários também sejam capazes de fazê-lo. Assim, a migração cutânea e pulmonar pelas larvas de Ancylostomatidae; as lesões hepáticas pela migração de Fasciola hepática jovem; as úlceras intestinais provocadas pelos Ancylostomatidae e T. trichiura; o rompimento das hemácias pelos Plasmodium etc. • Consequências da ação parasitária Hipóxia ou anóxia tecidual causando isquemia Lesão da membrana celular levando a morte celular Alteração da resposta imune Inflamação aguda ou crônica do tecido conjuntivo Regeneração e cicatrização que pode ser exacerbada promovendo reconstituição inadequada Hiperplasia, hipertrofia, metaplasia e neoplasia, alterações que podem ocorrer pela ação do parasito, muitas vezes agravando sua presença no órgão. Doença Parasitária A doença parasitária é um reflexo da luta parasita x hospedeiro. A simples presença do parasita nem sempre significa doença parasitária, pois são necessários inúmeros fatores para que ela se instale ( número de exemplares, tamanho do parasita, sua localização, multiplicação, virulência, etc). Em relação ao hospedeiro precisamos considerar sua imunidade, doenças recorrentes, uso de medicação imunossupressora, hábitos alimentares, etc. Glossário David Pereira Neves Agente Etiológico. É o agente causador ou responsável pela origem da doença. Pode ser um vírus, bactéria, fungo, protozoário, helminto. Agente Infeccioso. Parasito, sobretudo, microparasitos (bactérias, fungos, protozoários, vírus etc.), inclusive helmintos, capazes de produzir infecção ou doença infecciosa (OMS, 1973). Antroponose. Doença exclusivamente humana. Por exemplo, a filariose bancrofiiana, a necatoríasese, a gripe etc. Antropozoonose. Doença primária de animais, que pode ser transmitida aos humanos. Exemplo: brucelose, na qual o homem é um hospedeiro acidental. Enzoose. Doença exclusivamente de animais. Por exemplo, a peste suína, o Dioctophime renale, parasitando rim de cão e lobo etc. Endemia. É a prevalência usual de determinada doença com relação a área. Normalmente, considera-se como endêmica a doença cuja incidência permanece constante por vários anos, dando uma idéia de equilíbrio entre a doença e a população, ou seja, é o número esperado de casos de um evento em determinada época. Exemplo: no início do inverno espera-se que, de cada 100 habitantes, 25 estejam gripados. Epidemia ou Surto Epidêmico. É a ocorrência, numa coletividade ou região, de casos que ultrapassam nitidamente a incidência normalmen- te esperada de uma doença e derivada de uma fonte comum de infecção ou propagação. Quando do aparecimento de um único caso em área indene de uma doença transmissível (p. ex.: esquis- tossomose em Curitiba), podemos considerar como uma epidemia em potencial, da mesma forma que o aparecimento de um único caso onde havia muito tempo determinada doença não se registrava (p. ex.: varíola, em Belo Horizonte). Epidemiologia. É o estudo da distribuição e dos fatores determinantes da frequência de uma doença (ou outro evento). Isto é, a epidemiologia trata de dois aspectos fundamen- tais: a distribuição (idade, sexo, raça, geografia etc.) e os fatores determinantes da freqüência (tipo de pató- geno, meios de transmissão etc.) de uma doença. Exemplo: na epidemiologia da esquistossomose mansoni, no Brasil, devem ser estudados: idade, sexo, raça, distribuição geográfica, criadouros peridomi- ciliares, suscetibilidade do molusco, hábitos da população etc. Fase Aguda. É aquele período após a infecção em que os sintomas clínicos são mais marcantes (febre alta etc.). É um período de definição: o indivíduo se cura, entra na fase crônica ou morre. Fase Crônica. É a que se segue a fase aguda; caracteriza-se pela diminuição da sintomatologia clínica e existe um equilíbrio relativo entre o hospedeiro e o agente infeccioso. O número do parasitos mantém uma certa constância. E importante dizer que este equilíbrio pode ser rompido em favor de ambos os lados. Hábitat. É o ecossistema, local ou órgão onde determinada espécie ou população vive. Ex.: o Ascaris lumbricoides tem por hábitat o intestino delgado humano. Hospedeiro. É um organismo que alberga o parasito. Exemplo: o hospedeiro do Ascaris lumbricoides é o ser humano. Hospedeiro Definitivo. É o que apresenta o parasito em fase de maturidade ou em fase de atividade sexual. Hospedeiro Intermediário. É aquele que apresenta o parasito em fase larvária ou assexuada. Hospedeiro Paratênico ou de Transporte. É o hospedeiro intermediário no qual o parasito não sofre desenvolvimento, mas permanece encistado até que o hospedeiro definitivo o ingira. Exemplo: Hymenolepis nana em coleópteros. Incidência. É a frequência com que uma doença ou fato ocorre num período de tempo definido e com relação à população (casos novos, apenas). Exemplo: a incidência de piolho (Pediculus humanus)no Grupo Escolar X, em Belo Horizonte, no mês de dezembro, foi de 10%. (Dos 100 alunos com piolho, 10 adquiriram o parasito no mês de dezembro.) Morbidade. Expressa o número de pessoas doentes com relação a população. Exemplo: na época do inverno, a morbidade da gripe é alta [isto é, o número de pessoas doentes (incidência) é grande]. Mortalidade. Determina o número geral de óbitos em determinado período de tempo e com relação a população. Exemplo: em Belo Horizonte morreram 1 .O32 pessoas no mês de outubro de 2004 (acidentes, doenças etc.). Parasitemia. Reflete a carga parasitária no sangue do hospedeiro. Exemplo: camundongos X apresentam 2.000 tripanossomas por cm3 de sangue. Parasito Estenoxênico. É o que parasita espécies de vertebrados muito próximas. Exemplo: algumas espécies de Plasmodium só parasitam primatas; outras, só aves etc. Parasito Eurixeno. É o que parasita espécies de vertebrados muito diferentes. Exemplo: o Toxoplasma gondii, que pode parasitar todos os mamíferos e até aves. Parasito Heterogenético. É o que apresenta altemância de gerações. Exemplo: Plasmodium, com ciclo assexuado no mamífero e sexuado no mosquito Parasito Monogenético. É o que não apresenta alternância de gerações (isto é, possui um só tipo de reprodução sexuada ou assexuada). Exemplos: Ascaris lumbricoides, Ancylostomatidae, Entamoeba histolytica. Parasito Heteroxênico. É o que possui hospedeiro definitivo e intermediário. Exemplos: Trypanosoma cruzi, S. mansoni. Parasito Monoxênico. É o que possui apenas o hospedeiro definitivo. Exemplos: Enterobius vermicularis, A. lumbricoides. Partenogênese. Desenvolvimento de um ovo sem interferência de espermatozóide (parthenos = virgem, mais genesis = geração). Ex.: Strongvloides stercoralis. Patogenia ou Patogênese. É o mecanismo com que um agente infeccioso provoca lesões no hospedeiro. Ex.: o S. mansoni provoca lesões no organismo através de ovos, formando granulomas. Patogenicidade. É a habilidade de um agente infeccioso provocar lesões. Ex.: Leishmania braziliensi tem urna patogenicidade alta; Taenia saginata tem patogenicidade baixa. Patognomônico. Sinal ou sintoma característico de uma doença. Ex.: sinal de Romana, típico da doença de Chagas. Portador. Hospedeiro infectado que alberga o agente infeccioso, sem manifestar sintomas, mas capaz de transmiti-lo a outrem. Nesse caso, é também conhecido como "portador assinto- mático"; quando ocorre doença e o portador pode conta- minar outras pessoas em diferentes fases, temos o "porta- dor em incubação", "portador convalescente", "portador temporário", "portador crônico". Prevalência. Termo geral utilizado para caracterizar o número total de casos de uma doença ou qualquer outra ocorrência numa população e tempo definidos (casos antigos somados aos casos novos). Ex.: no Brasil (população definida), a prevalência da esquistossomose foi de 8 milhões de pessoas em 1992. Profilaxia. É o conjunto de medidas que visam a prevenção, erradica- ção ou controle de doenças ou fatos prejudiciais aos seres vivos. Essas medidas são baseadas na epiderniologia de cada doença. (Prefiro usar os termos "profilaxia", quando uso medidas contra uma doença já estabelecida e "prevenção", quando uso medidas para evitar o estabelecimento de uma doença.) Vetor. É um artrópode, molusco ou outro veículo que transmite o parasito entre dois hospedeiros. Vetor Biológico. É quando o parasito se multiplica ou se desenvolve no vetor. Exemplos: o T cruzi, no T infestans; o S. mansoni, no Biomphalaria glabrata. Vetor Mecânico. É quanto o parasito não se multiplica nem se desenvolve no vetor, este simplesmente serve de transporte. Ex.: Tunga penetrans veiculando mecanicamente esporos de fungo. Classificação dos seres vivos Taxonomia ou sistemática é o estudo teórico da classificação, com suas regras, princípios e normas. A classificação no início visava aspectos morfológicos (baleia / tubarão),hoje analisam-se aspectos biológicos e evolutivos (homem/ baleia ). A espécie é a unidade básica da classificação biológica. A organização do Sistema de Classificação Biológica é baseada nas idéias de Lineu. Categorias Básicas de classificação: - Reino>Filo>Classe> Ordem>Família>Gênero>Espécie Espécies parecidas entre si formam os gêneros; gêneros ~ formam famílias; famílias parecidas formam as ordens que são agrupadas em classes, que constituem os filos que fazem parte de um reino. Exemplo de Classificação Classificação da espécie humana REINO : Animalia SUBREINO :Metazoa FILO :Chordata CLASSE :Mamalia ORDEM :Primata FAMÍLIA :Hominidae GÊNERO :Homo ESPÉCIE :Homo sapiens Regras internacionais de Nomenclatura Zoológica • Nomenclatura binária (gênero e espécie) --Linnaeus,1758 • Latina e binominal - primeiro gênero em letra maiúscula e depois a espécie em letra minúscula; devem ser grifadas ou escritas em itálico. • Quando um nome científico foi descrito pela primeira vez em um trabalho (ou livro), a primeira deverá ter a citação do autor. Ex: Polygenis guimaraesi Linardi,1978 • Quando a espécie possuir subgênero, este virá interposto entre o gênero e a espécie, separado por parênteses. Protozoários Os protozoários, organismos do Reino Protoctista, são unicelulares, eucarióticos e heterotróficos. "Os protozoários são organismos unicelulares, eucarióticos e que apresentam nutrição heterotrófica. Apesar de ser um termo bastante usado, não apresenta nenhum valor taxonômico, sendo considerado, portanto, um agrupamento artificial. Os protozoários, em sua grande maioria, apresentam vida livre e são encontrados em diferentes ambientes aquáticos e úmidos. Existem, no entanto, espécies que vivem em associação com outros organismos, como é o caso dos parasitas." "Entre as doenças humanas causadas por protozoários, podemos citar a amebíase, tricomoníase, toxoplasmose, leishmaniose (visceral e tegumentar), doença de Chagas e malária." "Os protozoários apresentam reprodução assexuada com divisão binária, mas há algumas espécies que apresentam reprodução sexuada. Nesse último caso, observa-se a fusão desses organismos, a formação de zigoto e uma posterior divisão. Esse processo garante a recombinação genética. Outra forma de recombinação é a conjugação, que é considerada por alguns autores como um tipo de reprodução sexuada. Outros protozoários são capazes de produzir esporos que se espalham pelo ambiente." "Classificação dos seres vivos Um tipo bastante comum de classificação dos protozoários usa como critério o modo de locomoção desses seres no meio aquático. De acordo com esse sistema, existem protozoários ciliados, flagelados, rizópodos e esporozo- ários." "Os protozoários ciliados são aqueles que se locomovem por auxílio de estruturas denominadas de cílios, como o Paramecium. Os flagelados, por sua vez, utilizam como meio de locomoção os flagelos, como é o caso do Tripanosoma cruzi, causador da doença de Chagas." "Existem ainda protozoários que se movimentam com a ajuda de pseudópodes, que são prolongamentos citoplasmáticos que modificam a forma do corpo do organismo e promovem a locomoção. Esse grupo, do qual fazem parte as amebas, é chamado de rizópodos. Os esporozoários, por sua vez, não apresentam nenhum tipo de estrutura locomotora e são levados, na forma de esporos, pelo ar, água e até mesmo por animais. Como exemplo desse grupo, podemos citar o Plasmodium vivax, responsável por provocar a malária." "Os protozoários possuem uma classificação bastante controversa e complexa. Atualmente, alguns pesquisadores classificam esses seres em dezenas de filos diferentes dentro do Reino Protoctista. Como esses sistemas de classificação são inviáveis para estudo por leigos, muitos livros didáticos consideram apenas seis filos principais.” São eles: → Filo Rhizopoda: refere-se aos protozoários rizópodos, ou seja, que se locomovem por pseudópodes. "→ Filo Actinopoda: refere-seaos protozoários que apresentam locomoção por pseudópodes, mas com essa estrutura em formato afilado. → Filo Foraminifera: Engloba os protozoários que possuem carapaça externa à célula, rica em perfurações de onde saem os pseudópodes. → Filo Aplicomplexa: refere-se aos protozoários esporozoários, ou seja, que não possuem meios de locomoção. → Filo Zoomastigophora: Engloba os protozoários que apresentam flagelos como estrutura locomotora. → Filo Ciliophora: Engloba os protozoários ciliados, ou seja, que possuem cílios como meio de locomoção." Reprodução nos protozoários "A reprodução assexuada dos protozoários pode ocorrer de duas formas: ● Divisão binária → também chamada por alguns autores de cissiparidade, a divisão binária é o tipo de reprodução assexuada em que uma célula se divide ao meio originando duas células idênticas. Ela ocorre em protozoários do filo Sarcodina, filo Cilliophora, filo Zoomastigophora e filo Apicomplexa. " "● Divisão múltipla → nesse tipo de reprodução assexuada, o núcleo de uma célula se multiplica várias vezes, originando várias células-filhas. Muitos autores não consideram a conjugação realizada por alguns protozoários como reprodução sexuada por esse processo não resultar em aumento de indivíduos, enquanto que outros consideram esse processo como sendo um tipo de reprodução sexuada por haver troca de material genético. Discussões à parte, vamos ao que interessa." "A conjugação é um processo que consiste na união parcial de dois indivíduos que se emparelham e através de uma ponte citoplasmática trocam material genético. Após a troca, esses indivíduos, que passam a ter novas combinações genéticas, separam-se e dividem-se por divisão binária. Esse processo ocorre nos protozoários ciliados." Generalidades sobre Protozoários São organismos unicelulares, microscópicos, com formas variadas. Pertencem ao Reino Protista ( organismos unicelulares eucariontes). São desprovidos de clorofila vivem isolados ou em grupos formando colônias, nos mais variados tipo de habitat. Podem apresentar vida livre no meio ambiente ou associar-se a outros organismos. Nesse caso, alguns se comportam como simples comensais, isto é , alojam-se num determinado hospedeiro, nutrindo-se de seus restos alimentares; é o caso da Entamoeba coli, protozoário comensal que pode ser encontrado no intestino humano. Em outros casos podem se comportar como parasitas. Classificação ou Sistemática • Toma como base a característica de poderem ser fixos ou se deslocar no ambiente onde vivem por meio de cílios, flagelos, ou pseudópodes, além de servirem para a captura de alimentos. • Dessa forma, de acordo com o tipo e a presença de organelas locomotoras, situam-se em várias classes :- Classe Rhizopoda : rizópodes ou sarcodinos locomovem-se por meio de pseudópodes. Ex: amebas Classe Flagellata : flagelados ou mastigofaros, locomovem-se por meio de flagelos. Ex: Giardia, Tripanosomas Classe Ciliophora : locomovem-se por meio de cilíos. Ex: Paramecium Classe Sporozoa : desprovida de organelas locomotoras, sendo parasitas humanos ou de outros animais. Ex: Plasmodium Fisiologia dos Protozoários Possuem digestão do tipo intracelular onde o alimento será digerido através de um vacúolo digestivo. As suas células são delimitadas pela membrana plasmática, permitindo a movimentação de gases e de moléculas de água, mas não de açcares e sais. Reprodução assexuada por divisão binária; alguns da classe flagelata podem apresentar reprodução sexuada por conjugação. Atividade de fixação 1. A respeito dos protozoários, são feitas as afirmações a seguir: I. Todos eles apresentam vacúolos contráteis em suas células. II. Todos eles são heterótrofos e de respiração aeróbia. III. Alguns podem se reproduzir sexuadamente. Assinale: a) se todas estiverem corretas. b) se todas estiverem erradas. c) se apenas I e II estiverem corretas. d) se apenas I e III estiverem corretas. e) se apenas III estiver correta. 2. Sabemos que os protozoários são seres unicelulares e eucariontes que, juntamente às algas, fazem parte do Reino Protista. A respeito da reprodução desse grupo de seres vivos, marque a alternativa correta: a) Os protozoários reproduzem-se apenas por reprodução assexuada. b) Os protozoários reproduzem-se exclusivamente por reprodução sexuada. c) Na conjugação, um processo assexuado, os protozoários trocam material genético. d) Na divisão binária, um indivíduo divide-se ao meio, formando dois. e) A grande maioria dos protozoários reproduz-se por divisão múltipla. 3. São doenças causadas por protozoários flagelados: 1. Amebíase. 2. Doença de Chagas. 3. Leishmaniose tegumentar (úlcera de bauru). 4. Tricomoníase. 5. Malária (febre terçã). Estão corretas apenas a) 1,2 e 4. b) 2 e 4. c) 2, 3 e 4. d) 3 e 5. 4. Os protozoários são um grupo de organismos heterotróficos que não constituem uma categoria taxonômica válida. Didaticamente, muitos autores dividem esse grupo baseando-se principalmente na forma de locomoção. No filo Rhizopoda, por exemplo, os protozoários locomovem-se graças a expansões citoplasmáticas chamadas de: a) flagelos. b) cílios. c) pseudópodes. d) tentáculos. 5. Geralmente os protozoários são classificados com base em seu método de locomoção. Diante disso, marque a alternativa que indica corretamente a estrutura locomotora presente nos protozoários zoomastigóforos. a) Cílios. b) Flagelos. c) Pseudópodes. d) Não apresentam estrutura locomotora. Morfologia • Forma Trofozoítica - forma comum, normal e ativa, nutre-se por fagocitose e reproduz-se por cissiparidade. • Forma Cística - forma de resistência no meio externo; quando melhorarem as condições, voltam a viver e a reproduzir na forma trofozoítica. Principais protozoários Endolimax nana Entamoeba histolytica Giardia lamblia Giardia lamblia Amebas Trichomonas vaginalis
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