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CONTRIBUIÇÃO DA PSICANALISE PARA A PSICOPEDAGOGIA E PSICOMOTRICIDADE 1 Sumário PSICANÁLISE E PSICOPEDAGOGIA ............................................................... 3 Psicopedagogia e psicanálise: a clínica como possibilidade de uma interface .. 4 A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: Um enfoque psicopedagógico .............................................................................................. 21 O conceito de psicomotricidade ....................................................................... 24 A PSICOMOTRICIDADE E ALGUMAS ABORDAGENS: O CORPO EM AÇÃO ......................................................................................................................... 26 PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL ......................................... 30 PSICOPEDAGOGIA E PSICOMOTRICIDADE ................................................ 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 37 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 PSICANÁLISE E PSICOPEDAGOGIA Estudar a complexidade estrutural e funcional do sujeito, sua subjetividade e aprendizagem é um tema importante para o universo psicopedagógico. Entende-se que a psicanálise e a psicopedagogia tecem redes de significados e saberes que buscam dar conta do sujeito e seu aprender. Perguntas como: Por que não aprendo? Por que esqueço? São questionamentos comuns na clínica psicopedagógica. São questionamentos que vêm com um pensamento insistente na busca de um saber que deseja saber. Quem é esse sujeito que aprende considerando-o na singularidade de suas expressões, gestos, movimentos, pensamentos, sentimentos, emoções, interesses, desejos, vivências, habilidades, potencialidades e limitações? As queixas emergentes sobre dificuldade de relacionamento como o outro, conflitos emocionais, o não aprender expressam um mal-estar que o sujeito sente frente a algumas situações vividas por ele. Pode-se pensar que essas queixas são “sintomas”, que traduzem uma dificuldade, um transtorno no campo do aprender. O atendimento terapêutico para sujeitos cujos sintomas estão atravessados por questões que dizem respeito à subjetividade e ao processo de aprendizagem deve ser trabalhado numa clínica psicopedagógica que resgate o amor e a confiança do sujeito em si próprio e a diminuição de sua angústia frente à vida. Onde seja possível uma escuta dos sintomas e a reinserção do sujeito no universo do desejo de saber, de aprender. Construir uma prática clínica capaz de dialogar com o texto no contexto, com o sujeito e sua subjetividade, com as tramas do conhecimento e do saber é um desafio constante que exige do psicopedagogo uma escuta terapêutica fundamentada em sólidos referenciais teóricos e bom senso. A Psicanálise é um campo do saber humano que fornece um conhecimento que jamais poderá ser usado como instrumento de dominação: ela é instrumento de atravessamento do ser. Ao se analisar a interface entre a Psicanálise e a Psicopedagogia, considera-se que o fazer terapêutico evoca o 4 humano e sua contradição, nas suas formas de sentir, pensar e agir. Interessante a maneira pela qual nós dimensionamos, relacionamos, interpretamos o mundo em que vivemos. Psicopedagogia e psicanálise: a clínica como possibilidade de uma interface Será que a Psicopedagogia padece de novos sintomas? Quais são as queixas mais comuns na clínica? O que se pode fazer? Para que a criança aprenda e o desejo se articule é imprescindível que alguém demande isso dela. A falta de afetividade, um problema também ligado à família, compromete seriamente o desenvolvimento da criança, encontrando-se no aspecto psicológico da aprendizagem. Em suas pesquisas sobre a causa e funcionamento das neuroses, Freud (1895/1996), teorizou que os conflitos de natureza sexual são desencadeados pelos desejos reprimidos e, o impulso sexual interfere no comportamento humano. Desenvolveu a escuta terapêutica na clínica psicanalítica, com método de associação livre para investigar o universo psíquico de seus pacientes. A psicanálise lida com o sujeito do desejo e permite a singularidade do sujeito, oferece um lugar onde o discurso individual pode ser escutado, levando-o a refletir profundamente sobre a essência de seu desejo. A análise é a do sujeito. Na análise o sujeito é o sujeito da própria experiência analítica. É aprofundar sua história e também sair de si. É dizer que a psicanálise não quer fazer a adequação do sujeito ao meio, mas que esse sujeito possa singularizar- se, estruturar-se psiquicamente. Vejamos o significado do conceito de sujeito no Dicionário de Psicanálise: O termo corrente em psicologia, filosofia e lógica. É empregado para designar ora um indivíduo, como alguém que é simultaneamente observador dos outros e observado por eles, ora uma instância com a qual é relacionado um predicado ou um atributo. Em filosofia, desde René Descartes (1596-1650) 5 e Immanuel Kant (1724-1804) até Edmund Hunsserl (1859-1938), o sujeito é definido como o próprio homem enquanto fundamento de seus próprios pensamentos e atos. É, pois, a essência da subjetividade humana, no que ela tem de universal e singular. Nessa acepção, própria da filosofia ocidental, o sujeito é definido como sujeito do conhecimento, do direito ou da consciência, seja essa consciência empírica, transcendental ou fenomênica. (ROUDINESCO e PLON, 1994 p. 742). Importante citar-se os estágios psicossexuais discutidos por Freud (1905/1996). As fases de desenvolvimento das estruturas de personalidade ocorrem durante os cinco primeiros anos de vida da criança, durante os quais se estabelece, em grande parte, a estrutura psíquica. Concebe o processo de desenvolvimento da personalidade como contínuo. As diferenças individuais na personalidade adulta são fundamentalmente, decorrentes da maneira específica pela qual o sujeito vive e lida com os conflitos ocorridos nesses estágios. Os estágios psicossexuais são as fases: oral, anal, fálica, de latência e genital. Quando não à transição normal de uma fase para outra, ou o sujeito permanece “fixado” em uma das fases. Esse sujeito preferirá satisfazer suas necessidades de forma mais simples e infantil, ao invés dos modos mais adultos que resultariam de um desenvolvimento maduro. Ainda de acordo com ele, a sexualidade tem grande importância na estruturação da personalidade do ser humano. As fases psicossexuais e os complexos (de Édipo e de Castração) começariam a ser desenvolvidos. O conceito de infância é correspondente ao de sexualidade infantil, que é dividido em dois momentos:antes e depois do período de latência. Enfatiza-se a fase fálica neste trabalho, mas ressalta-se que todas as fases são importantes para a constituição do sujeito e a estruturação da personalidade. O Complexo de Édipo (conflito edipiano) acontece entre os três e cinco anos, durante a fase fálica dos estágios psicossexuais do desenvolvimento. Numa relação edipiana, a mãe é objeto de desejo do menino e o pai é o rival 6 que impede seu acesso ao objeto desejado. Para a menina na fase edípica, o objeto de desejo é o pai e a mãe é a rival. Nesse período, ocorre a identificação com o progenitor do mesmo sexo. A criança ama o progenitor do sexo oposto e procura assemelhar-se ao progenitor do mesmo sexo, com o intuito de também ganhar a atenção e o amor do sexo oposto. Esta fase apresenta um conflito interior para a criança (tensão e dificuldades). Passar por ela de modo satisfatório é fundamentalmente importante para o desenvolvimento normal. É sumamente importante que educadores, pedagogos, psicopedagogos entre outros profissionais da área da Educação e Saúde conheçam os estágios de desenvolvimento psicossexuais de Freud e seus conceitos porque práticas profissionais inadequadas podem prejudicar o desenvolvimento psíquico. Compreende-se de acordo com a teoria freudiana, que o comportar, aprender, sentir e relacionar do sujeito não ocorre por acaso, mas há sempre uma casa para cada pensamento, memória revivida, sentimento e ação. Ao se estudar as ideias de Lacan (1998), compreende-se que sua teoria é uma releitura contemporânea das teorias freudianas. O autor cria os conceitos: Real, Simbólico e Imaginário. Reafirma o Édipo como fundador do inconsciente. Elabora os conceitos: o sujeito do inconsciente, o outro e o desejo. Desenvolve uma teoria psicanalítica onde a linguagem, signos, símbolos ajudam a expressar ideias, sentimentos, pensamentos e emoções. Tem-se mais possibilidades de significação, ressignificação, socialização e simbolização através do domínio da linguagem falada e escrita. O objetivo da psicanálise é desvelar o que está velado no inconsciente humano, propiciar que o sujeito do inconsciente possa advir conduzindo o sujeito ao encontro com sua própria verdade inconsciente e assim, ter acesso ao seu desejo. Tornar o desejo inconsciente, consciente. Neste processo, a linguagem ocupa lugar importante na psicanálise porque é uma característica de expressividade do pensamento, uma mediadora entre o sujeito e o mundo, as palavras são signos fundamentais para que o sujeito compreenda o seu mundo e os seus significados. 7 De acordo com Costa (2007), para Lacan o inconsciente é efetivamente estruturado como uma linguagem, o sujeito pode ser definido como o sujeito do inconsciente, sujeito dividido entre o sujeito e si próprio. O sujeito dividido aparece no discurso do analista: Em psicanálise, Freud empregou o termo, mas somente Jacques Lacan, entre 1950 e 1965, conceituou a noção lógica e filosófica do sujeito no âmbito de sua teoria do significante, transformando o sujeito da consciência num sujeito do inconsciente, da ciência e do desejo. Foi em 1960, em “Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano, que Lacan, apoiando-se na teoria saussuriana do signo linguístico, enunciou sua concepção da relação do sujeito com o significante: “Um significante é aquilo que representa o sujeito para o outro significante”. Esse sujeito, segundo Lacan, está submetido ao processo freudiano de clivagem. (do eu) (ROUDINESCO e PLON, 1994, p. 742). Lacan (1998), diz que no imaginário humano situa-se o “Eu desconhecido” sede do narcisismo. É o momento do Estádio do Espelho. Difere-se do sujeito do inconsciente. Esse registro é o do Simbólico, é o campo da linguagem, do significante. Este é o Grande Outro que antecede o sujeito, que só se constitui através deste – “o inconsciente é o discurso do Outro”, “o desejo é o desejo do Outro”. No campo do Simbólico é feito o registro do Desejo com a Lei e a Falta, através do Complexo de Castração, operador do Complexo de Édipo. O desejo é uma falta-a-ser metaforizada na interdição edipiana, a falta possibilitando a deriva do desejo, desejo enquanto metonímia. A psicanálise influenciou o pensamento psicopedagógico por possibilitar pensar o sujeito em sua subjetividade, identidade, aprendizagem, limites, habilidades e potencialidades, ou seja, pensar sua estrutura de personalidade e como esse sujeito se relaciona consigo mesmo e com o mundo. A intervenção psicopedagógica é sempre da ordem do conhecimento relacionado com o processo de aprendizagem. Sua natureza é Inter, multi e transdisciplinar. Utiliza-se das áreas do conhecimento humano como a psicanálise, psicologia, filosofia, antropologia, sociologia, biologia para a 8 compreensão do ser humano e da aprendizagem. Atua na prevenção, no diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. A psicopedagogia se ocupa da aprendizagem do sujeito. Segundo Visca (1987), está encontra-se fundamentada na Epistemologia Convergente de Jorge Visca, com aporte teórico nas escolas do biólogo e psicólogo Jean Piaget, com psicogenética a teoria da Psicologia Genética, na Psicanálise teoria freudiana e na teoria do Vínculo da Psicologia Social de Enrique Pichon Rivière. De acordo com Fontana e Cruz (1997), para Piaget a criança para aprender deve estar pronta, isto é, ter uma maturação biológica e uma condição psicológica para a aquisição de informações de acordo com essa prontidão. É de a natureza humana adaptar-se ao seu ambiente. Trata-se de um processo ativo, Piaget não acredita que o ambiente modele a criança, assim que a criança (tal com o adulto) busca, ativamente, compreender seu ambiente. No processo de compreensão, ela explora, manipula, examina os objetos e as pessoas no mundo ao seu redor. Pode-se dizer que o sujeito é ativo no processo de construção do seu próprio conhecimento. O desenvolvimento da criança provém também dessa interação. Segundo Visca (1987), Enrique Pichon Rivière com a teoria do Vínculo mostra que os fatores afetivos representam um papel fundamental na aprendizagem, sobretudo no que diz respeito à autoestima. Portanto, uma das primeiras tarefas do terapeuta (psicopedagogo) é o resgate da autoestima da criança/adolescente, pois ninguém consegue aprender se não conseguir investir no ato de aprender e acreditar na sua capacidade, no seu potencial. Na ação diagnóstica o terapeuta utiliza instrumentos como: entrevistas, provas projetivas, provas operatórias, anamnese entre outros recursos. Na clínica, o psicopedagogo faz uma entrevista inicial com os pais ou responsáveis para conversar sobre horários, quantidades de sessões, honorários, a importância da frequência e do que ocorrer, ou seja, fará o enquadramento. Sobre o diagnóstico psicopedagógico segundo Weiss: 9 Todo diagnóstico psicopedagógico é, em si, uma investigação, é uma pesquisa do que não vai bem com o sujeito em relação a uma conduta esperada. Será, portanto, o esclarecimento de uma queixa, do próprio sujeito, da família e, na maioria das vezes, da escola. No caso, trata-se do não- aprender, do aprender com dificuldade ou lentamente, do não-revelar o que aprendeu, do fugir de situações de possível aprendizagem. (2006, p. 27). Neste momento não é recomendável falar sobre o histórico do sujeito, já que isto poderá contaminar o diagnóstico interferindo no olhar sobre o sujeito. O histórico do sujeito, desde seu nascimento, será relatado ao final das sessões numa entrevista chamada anamnese, com os pais ou responsável. O objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar os desvios e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem, do sujeito que, o impedem de crescer na aprendizagemdentro do esperando pelo meio social. Assim, para conhecer esse Modelo de Aprendizagem, conta-se, nos dois eixos descritos, com dados oriundos das observações da escola, da família e obtidos diretamente pelo terapeuta e por outros profissionais. (WEISS, 2006, p. 32). A avaliação diagnóstica é composta por no mínimo cinco e no máximo dez encontros semanais (sessões). Desses encontros, dois são dedicados aos pais e/ou responsáveis, filhos quando necessário e a criança ou adolescentes que realizará os testes. No primeiro encontro é feita a entrevista como os pais e/ou responsáveis, bem como, com a criança. No último encontro é dada devolutiva tanto para os pais como para a criança ou adolescente, ou seja, devolver o resultado das avaliações e também do parecer e indicações. É entregue um relatório escrito para a escola com parecer do psicopedagogo, com o objetivo de criar parcerias no momento da construção do conhecimento da criança ou do adolescente em questão. A intervenção é o segundo momento do atendimento, posterior ao diagnóstico, em que se passa a desvendar e intervir junto ao sujeito. A cada semana os pais ou responsáveis terão uma devolutiva do trabalho desenvolvido, bem como, dos progressos e resultados. 10 O diagnóstico poderá confirmar ou não as queixas e as suspeitas do psicopedagogo. O profissional poderá identificar problemas de aprendizagem. Neste caso ele indicará um tratamento psicopedagógico, mas poderá também identificar outros problemas e aí poderá indicar um psicanalista, psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista e/ou outro profissional a depender do caso. O tratamento e/ou acompanhamento poderá ser feito com o psicopedagogo que fez o diagnóstico e com outro psicopedagogo. De acordo com Weiss (2006), durante o tratamento são realizadas diversas atividades, com o objetivo de identificar a melhor forma de se aprender e o que poderá estar causando este bloqueio. Para isto, o psicopedagogo utilizará recursos como jogos, desenhos, brinquedos, brincadeiras, música, histórias, computador e outros instrumentos que forem oportunos. O profissional solicitará, algumas vezes, as tarefas escolares, observando cadernos, olhando a organização e os possíveis erros, ajudando-o a compreender estes erros. Irá ajudar a criança ou adolescente, a encontrar a melhor forma de estudar para que ocorra a aprendizagem, organizando, assim, o seu modelo de aprendizagem. Poderá ir até a escola para conversar com o professor, afinal é ele que tem um contato maior com a criança e poderá dar muitas informações que possam ajudar no acompanhamento, tratamento e terapias psicopedagógicas. Entende-se que o psicopedagogo precisar estudar muito. E muitas vezes serão necessárias recorrer a outro profissional para conversar, trocar ideias, pedir opiniões, ou seja, fazer uma supervisão psicopedagógica. Durante todo o processo de acompanhamento deve-se observar: os aspectos pedagógico, cognitivo, afetivo-emocional e corporal, percepção pessoal e familiar, construção de vínculos: afetivos, sociais e escolares. Partindo do pressuposto que são várias as razões que determinam o sucesso ou fracasso da aprendizagem. Estas observações devem objetivar: favorecer e auxiliar aqueles sujeitos que se sentem impedidos para o saber; com dificuldades de aprendizagem; reintegra-lo a uma vida escolar e social mais tranquila, bem como, a uma 11 relação mais afetiva consigo mesmo e com o outro; levar o sujeito ao reconhecimento de suas potencialidades; auxiliar no reconhecimento dos limites e como agir diante deles; ajudar na busca de alternativas para alcançar o saber e ressignificar conceitos que influenciam no momento do aprender. O que é fundamental na atuação psicopedagógica? A escuta é fundamental para que se possa conhecer como o sujeito aprende, “perceber o Inter jogo entre o desejo de conhecer e o de ignorar”, para que se possa operar. O psicopedagogo deve estar preparado para lidar com possíveis reações frente a algumas tarefas, tais como: resistências, bloqueios, sentimentos de raiva, lapsos, etc. E não parar de buscar, de conhecer, para compreender de forma mais ampla esses sujeitos, já tão criticados por não corresponderem às expectativas dos pais e professores. A especificidade do trabalho psicopedagógico consiste no fato de que existe um objetivo a ser alcançado, a eliminação dos sintomas. Pode dizer que o que é percebido pelo próprio indivíduo ou pelos outros é chamado de sintoma. O sintoma está sempre mostrando algo, é um epifenômeno. Com o sintoma o sujeito sempre “diz alguma coisa aos outros”, se comunica, e “sobre o sintoma sempre se pode dizer algo [...]” (WEISS, 2006, p. 28). Assim, a relação terapeuta/paciente é mediada por atividades bem definidas cujo objetivo é solucionar os efeitos nocivos dos sintomas. Como exemplo, pode-se apontar os casos de problemas de aprendizagem em relação à leitura. É possível que uma criança não aprenda a escrever porque lhe faltam recursos materiais para elaborar e testar suas hipóteses acerca desse novo objeto de conhecimento. Ao psicopedagogo cabe, indiscriminadamente, trabalhar as duas variantes da aprendizagem: de forma preventiva para que sejam detectadas as dificuldades de aprendizagem antes que os processos se instalem como também na elaboração do diagnóstico e trabalho conjunto com a família e escola frente às intercorrências advindas das dificuldades no processo do aprender. 12 Partindo da ideia de que toda criança aprende, o profissional da área psicopedagógica terá que encontrar entre as diversas teorias educacionais a que mais se enquadra em cada caso diagnosticado. A absorção de conhecimento pela criança depende da maneira pela qual a informação lhe foi ensinada, que, por sua vez, depende da condição social que determinará à qualidade deste mesmo ensino. Professores em instituições educacionais desestruturadas e sem nenhum apoio material ou pedagógico não terão como tornar real e atraente um conhecimento. É preciso que o educador, competente e valorizado, encontre prazer em ensinar para que possibilite o prazer de aprender. A psicopedagogia busca uma leitura minuciosa dos processos subjetivos e cognitivos, dos mecanismos psíquicos que estão atrelados ao sintoma, do comportamento que se faz visível na situação de aprendizagem. Esta leitura dos processos de aprendizagem cria uma nova necessidade: a intervenção psicopedagógica, pois feita à leitura do que está por “traz” da cena apresentada na aprendizagem é que se possibilita a construção e a sistematização de uma metodologia que visa o desenvolvimento do sujeito como ser de aprendizagem múltipla, na sua relação com o mundo, integrando os aspectos subjetivos e cognitivos. O trabalho clínico deve se pautar nas reflexões acerca do sujeito, seus vínculos e desejos que o influenciam na aprendizagem. A psicopedagogia não é uma, não é única. Ela constitui-se de relações integradas de situações multi e interdisciplinares. Sendo uma ciência plural, trabalha tanto a individualmente o sujeito, o grupo e, sobretudo, as relações que esse sujeito estabelece com seu meio. Assim as relações podem ser negativas ou positivas, tendo em cada eixo respostas favoráveis ou desfavoráveis ao seu desenvolvimento: Vygotsky, considera a aprendizagem e o desenvolvimento processos que caminham juntos desde o primeiro dia da vida da criança e que o primeiro o aprendizado impulsiona o segundo o desenvolvimento. Ou seja, tudo aquilo que a criança aprende com o adulto ou com outra criança mais velha vai sendo 13 elaborado por ela, vai se incorporando a ela, transformando seus modos de agir e pensar (FONTANA e CRUZ, 1997, p. 63). A criança conhece o mundo por meio de suas relações com os outros. O bom aprendizadoé somente aquele que se adianta ao desenvolvimento. A atividade criadora é uma manifestação exclusiva do ser humano, pois só este tem a capacidade de criar algo novo a partir do que já existe. Através da memória, o sujeito pode imaginar situações futuras e formar outras imagens. Sendo assim, a ação criadora reside no fato da não-adaptação do ser, isto é, de não estar acomodado e conformado com uma situação, buscando através do imaginário e da fantasia, um equilíbrio, a construção de algo novo. É mediante este pressuposto, que o trabalho psicopedagógico se faz atuante, descobrindo no sujeito suas capacidades e desenvolvendo atividades que o auxiliam na ordenação e coordenação de suas ideias e manifestações intelectuais, psíquicas e afetivas. No diagnóstico psicopedagógico, não se pode desconsiderar as relações entre produção escolar e as oportunidades reais que a sociedade dá às diversas classes sociais. Muitas vezes, as crianças e adolescentes de baixa renda são classificados como deficientes nas questões do aprendizado. Para Weiss (2006), “É preciso não confundir o aluno com dificuldade de aprendizagem com o aluno que aprende, mas não tem a produção esperada pelo professor ou pela família”. Na realidade, faltam-lhe oportunidade de crescimento cultural, de rápida construção cognitiva e desenvolvimento de linguagem, o que, certamente, aumentaria suas chances de uma aprendizagem significativa. Com o sujeito que não aprende, o trabalho investigativo está em saber se ele deseja ou não aprender, se deixa seu desejo se manifestar a partir da sua vontade e se constrói seu mundo de significados. A aprendizagem refere- se a um confrontamento objetivo e uma motivação: para aprender; é necessário um vínculo e para que este vínculo se instale ele passa, também, pelo afeto e pela via do desejo. 14 O conhecimento é (re) construído de forma reflexiva e na interação ativa com o meio. Entende-se que “as dificuldades de aprendizagem” devem impulsionar sempre as alternativas para o enfrentamento e superação das mesmas. Cada um tem seu próprio tempo, uns precisam de um tempo a mais para poder processar as informações que recebem para construção do conhecimento e aprendizagem. Tal processo está intimamente ligado à estruturação da personalidade do sujeito, mas também à estrutura familiar e social, da relação “eu e o Outro” e de uma rede de significados entre o subjetivo e objetivo. Com isso cada vez mais, surge a necessidade de se buscar na clínica psicanalítica um suporte para a clínica psicopedagogia para o bem-estar individual, grupal, social. O sujeito convive diariamente com o não saber, e não deve desestabilizá-lo demasiado, mas sim o suficiente para que aprenda coisas novas. É neste momento que a intervenção alcança seu maior grau de desempenho, fazendo com que o sujeito exercite, através de estímulos, a afetividade, atenção, memória e o pensamento lógico-crítico. Como o saber jamais se dará como acabado, o terapeuta deve fazer com que o sujeito descubra qual a melhor forma de reconhecer e desenvolver suas habilidades. A teoria psicanalítica imprime sua marca na construção da clínica psicopedagógica do Desenvolvimento e Aprendizagem do Sujeito. A ideia é buscar um olhar que permita “visualizar” melhor a constituição Sujeito na tentativa percebê-lo na sua singularidade. Sempre que se depara com alguma questão intrigante na vida tem-se a oportunidade de buscar informações e a possibilidade de se construir novos conhecimentos e transformá-los em saberes. Esse movimento serve de estímulo a reflexão do saber. Surgem questionamentos sobre a própria pessoa, sua história, sua realidade, seu mundo psíquico. Porém às vezes tem-se dificuldades para tal movimento. “Quem sou eu? Não aprendo? Por quê?” Quais são os limites, bloqueios, habilidade e potencialidades? 15 Levando para o campo da análise, será isso, uma demanda individual? Todas essas perguntas entre outras possuem um refletir profundo sobre o sujeito. Com novos arranjos e demandas contemporâneas encontram-se algumas possibilidades de respostas às indagações. As “zonas de incerteza” sempre assombrarão, mas o mais importante é se tentar desvelar o que pode estar velado por falta de conhecimento, de saber na tentativa de identificarmos as razões dos nossos sentimentos, pensamentos e ações. Acredita-se que muito do que sabemos são respostas influenciadas por vários fatores que vão desde as habilidades ligadas a senso-percepção, educação, cultura ao contexto social em que nós sujeitos humanos estamos inseridos. Na tentativa de se encontrar respostas para questões do não aprender que por muitas vezes estão no obscurantismo, por falta de estudo, de pesquisa que possam elucidar muitas situações de aprendizagem e não aprendizagem humana, tanto no âmbito escolar quanto familiar, busca-se na teoria psicanalítica um melhor embasamento. Segundo Papalia e Olds: Os estudiosos do desenvolvimento humano ofereceram muitas explicações, ou teorias, sobre por que as pessoas se comportam da maneira como o fazer. Uma teoria é o conjunto coerente de conceitos relacionados que procura organizar e explicar dados obtidos por meio de pesquisa. As teorias são dinâmicas; e servem como fonte contínua de hipótese a serem testadas pela pesquisa. Às vezes se a pesquisa sustenta uma hipótese e a teoria na qual ela se baseia. Noutras os cientistas têm que modificar suas teorias para explicar dados inesperados. Nenhuma teoria do desenvolvimento humano e universalmente aceita, e nenhuma sozinha é capaz de explicar todas as facetas do desenvolvimento humano. (1998, p. 40). Ainda as pesquisadoras referem-se sobre as cinco importantes teorias do desenvolvimento humano: [...] as teorias e as pesquisas influentes na área de desenvolvimento humano: (1) psicanalítica (que se concentra nas emoções); (2) da aprendizagem (que enfatiza o comportamento observável), (3) cognitiva (que 16 enfatiza os processos de pensamentos); (4) etológica (que focaliza os fundamentos evolutivos do comportamento; e (5) contextual (que enfatiza o impacto do contexto social e cultural). Uma sexta perspectiva, a perspectiva humanista. (PAPALIA e OLDS, 1998, p. 40). Sabe-se que a aprendizagem ocorre espontaneamente ao longo da vida de qualquer ser humano desde que não haja nenhum distúrbio de saúde mental com manifestações significativas na fala, na leitura, na escrita e no raciocínio. O conhecimento é construído com a participação ativa do sujeito. Refletir sobre o desenvolvimento e aprendizagem do sujeito é uma prática constante (ou pelo menos deveria ser!) entre educadores, pedagogos, psicopedagogos, psicanalistas que lidam com as questões da subjetividade humana. O sujeito deve desenvolver capacidades e habilidades que o propicie amadurecer, aprender e crescer com suas experiências. Assim, é impossível estudar desenvolvimento e aprendizagem sem vinculá-las à subjetividade, para compreender como se dá este processo é preciso conhecer quem é esse sujeito que aprende e qual sua história de vida. Cada vez mais, surge a necessidade de se buscar na clínica psicanalítica um suporte para a clínica psicopedagógica, para o bem-estar individual, grupal e social. Neste contexto clínico, o que se percebe é que parece haver um desencontro de ritmos e desejos no sujeito. Há aquele sujeitado questionador que busca mudança, como há aquele que não sabe como agir diante da angustia, do medo do “não-aprender”. A clarificação das ansiedades que bloqueiam a aprendizagem, dos medos da criança, das fantasias inconscientes que mascaram a percepção do real, da descrença em si mesmas, decorrentes na maioria dos casos, são caracterizadas por uma estruturação vincular deficitária nos primeiros anos de vida. Toma-se a teoria psicopegógica da EpistemologiaConvergente de Jorge Visca (1987), com aporte teórico nas teorias, nas escolas de Jean Piaget, Sigmund Freud e Enrique Pichon Rivière para se conhecer e saber mais sobre a construção do que será chamado de Psicopedagogia do Desenvolvimento e 17 Aprendizagem do Ser. Para isso, é necessário se aprofundar na compreensão dos conflitos afetivos, quando acontecem os “distúrbios afetivos” que podem interferir no desenvolvimento e produzir sintomas. De acordo com Freud, (citado por Papalia e Olds 1998, p. 42): “Para avaliar sintomas sem causa física aparente (...) Ele concluiu que a origem das perturbações emocionais se situa em experiência traumáticas reprimidas da primeira infância”. As emoções traumáticas podem senão trabalhadas influenciar de forma negativa no desenvolvimento e aprendizagem das crianças. Num mundo globalizado, com várias culturas, com os avanços da ciência, da tecnologia nos vários ambientes de aprendizagem onde tempo e espaço são redefinidos, compreende-se o importante papel da Psicanálise na clínica psicopedagógica. Por quê? O sujeito vive intensamente, as emoções do “não- saber”, de não conseguir expressar suas ideias, suas emoções, do saber e não poder discutir uma ideia de forma mais profunda, do não estar entendendo tudo. Não é difícil avaliar como é difícil para a criança e para o adolescente não conseguir corresponder às expectativas dos seus professores, pais, colegas e as suas próprias. Como é sofrido viver intensamente, as emoções decorrentes da dificuldade de expressar sentimentos através das palavras. Então, evidencia-se que não é possível desenvolver a habilidade cognitiva e social sem que a emoção seja trabalhada. Conta-se com a psicanálise para uma aproximação maior do sujeito e de possibilitá-lo a se responsabilizar por seus sintomas e aprender a lidar com eles. Elogiar a criança por seus esforços, pelo que ela é capaz de criar, produzir para que possa sentir-se segura para aprender, aumentando sua confiança em si e nas outras pessoas. A concepção de infância não é uma ideia fechada, algo definido e imutável, mas se constitui de acordo com o contexto sociocultural. Consiste num momento próprio da vida e cada criança aprende de acordo com seu próprio ritmo de desenvolvimento. 18 A Psicopedagogia no Brasil está se consolidando, cada vez mais, num movimento de busca concreta por respostas e alternativas aos problemas vinculados ao aprender, que se avolumam no cotidiano da escola, cujas consequências se fazem, cada vez, mais presentes no contexto social. Enquanto campo do conhecimento em construção sobre a articulação entre o psíquico e o cognitivo e suas profundas relações com a gênese da aprendizagem, a Psicopedagogia tem se constituído num espaço plural e multidisciplinar, na procura constante de aportes teóricos construtores de sua epistemologia e propiciadores de sua fundamentação (BEAUCLAIR, 2004, p. 24). É necessário querer conhecer o universo infantil, saber sobre as primeiras aprendizagens do sujeito, seu desenvolvimento biopsicossocial, compreender as características do pensamento infantil nos seus diversos estágios de desenvolvimento. A psicopedagogia nos ajuda a compreender que significa educar e aprender. Procurar saber sobre o desenvolvimento e a aprendizagem; compreender como ocorrem a assimilação e a acomodação, necessárias para entender como a criança aprende (o equilíbrio). Respeitar a produção da criança é muito importante para ela. Valorizar o grau de persistência nas tentativas em aprender. Ajudar a criança ficar mais calma diminuindo o grau de ansiedade e medo diante da tarefa proposta, de um aprendizado novo, muito contribui para o sucesso escolar. Refletir sobre as condições de aprendizagem oferecidas e ajustar sua prática as necessidades colocadas pelas crianças, é um elemento indissociável do processo do aprender. Possibilita ao psicopedagogo definir critérios para planejar as atividades e acompanhar, orientar, regular e redirecionar esse processo como um todo. Também conhecer as teorias que sustentam as práticas, os fazeres psicopedagógicos, desconstruir, reconstruir e construir novas ideias para a atuação e intervenção, é imprescindível na atuação do profissional. 19 Na clínica psicopedagógica há necessidade de se compreender o sujeito na sua subjetividade e isso implicará a compreensão quanto à história, desejo, linguagem, sua cultura para o desenvolvimento e amadurecimento psicossocial – envolve saber sobre o universo da criança. A prática psicopedagógica está associada a (re)inserção do sujeito no universo do desejo de saber. A especificidade do tratamento psicopedagógico consiste no fato de que existe um objetivo a ser alcançado, a eliminação dos sintomas. É uma decisão de acolher essa demanda e manejá-la. [...] O sintoma é, portanto, o que emerge da personalidade em interação com o sistema social em que está inserido o sujeito. Assim, o problema manifestado pelo aluno numa determinada escola, turma ou em relação a um dado professor, pode não se manifestar de forma clara em outro contexto escolar. Tal fato torna evidente que há um certo tipo de desvio em relação a determinados parâmetros existentes no meio, que são representados por suas exigências (WEISS, 2006, p. 28). Tem-se dificuldades de aprendizagem escolares que evidenciam serem pedagógicas, mas pode-se dizer que esse sintoma muitas vezes está relacionado com outras questões (pode ser também familiar). A criança/adolescente faz um sintoma, por exemplo, “não aprender” na escola, como uma forma de comunicação, um meio que a criança busca para mostrar que não está bem. Na clínica psicopedagógica o paciente vem com um sintoma, uma demanda as entrevistas, os testes são os recursos para fazer uma avaliação e um diagnóstico, mas que, sobretudo não se pode esquecer de uma clínica relacional. O processo terapêutico acontece porque há duas pessoas que se encontram num ambiente onde há uma busca, desejo e espera por algo que opera e que muitas vezes escapa dos sentidos. A entrevista (concluindo entrevista de anamnese) com os pais e com as crianças, e quem sabe, com professores e coordenadores pedagógicos objetiva compreender melhor a queixa e/ou diagnóstico muitas vezes é elaborado pela família e ou pela escola. Essa demanda pode ser uma 20 recomendação dos professores, da escola pediatra, oftalmologista e dos próprios pais. Muitos casos de atendimentos infantis que aparecem na clínica psicanalítica estão relacionados com “as dificuldades de aprendizagem” e os “distúrbios escolares” como na clínica psicopedagógica. Portanto, é necessário que se perceba a necessidade de um trabalho psicanalítico, juntamente com o psicopedagógico, avaliar a demanda para concluir pela necessidade ou não do tratamento e possíveis encaminhamentos. Pontos importantes no trabalho clínico com crianças: Como a criança chegou até o terapeuta, quem a levou? Para que? Qual o sintoma da criança? O motivo da consulta (manifesto e latente), a história do sujeito, a relação familiar, avaliação, interpretação, intervenção como podem ser as sessões (livre, direcionada) e a devolutiva. Uma queixa pode traduzir uma dificuldade, um transtorno, um “sintoma”. A mãe diz, “ele não consegue aprender”! O “não aprender” pode ser um sintoma relacionado ao não querer crescer. Que pode ser um desejo da criança, mas também um desejo demandado a ela, ou seja, um desejo da mãe, do pai etc. Podendo ser um sintoma familiar. A criança utiliza esse recurso para denunciar algo de errado com ela ou no âmbito familiar. Vale citar algumas estratégias de intervenção psicopedagógica utilizadas para ajudar a criança/adolescente a desenvolver sua autoestima, superar as dificuldades emocionais: atravésde sessões livre (ludo terapia) – análise da criança através dos seus brinquedos, a criança desloca para o exterior seus medos e ansiedades. É uma técnica muito apropriada para a criança, realizada através do “brincar” tendo como objetivo, facilitar a expressão da criança, pois é através do brincar que a criança tem maior possibilidade de expressar seus sentimentos e conflitos e buscar melhores alternativas para lidar com suas emoções. 21 No brincar, a criança descobre seus limites, potencialidades e individualidade através dos jogos simbólicos, da criação artística (desenho, pintura, colagem, modelagem), das histórias dos contos de fadas como, por exemplo, a história do patinho feio, que vai enfatizar a constituição do sujeito, sua relação consigo mesmo e com o outro, o grupo e seu lugar no mundo. A “ludo psicoterapia” a “artetrapia” condensa dois pontos de apoio à intervenção: o lúdico, que fornece informações do indivíduo através dos elementos do brincar; e da arte, que proporciona a realização de um trabalho direcionado e caracterizado para aplicação específica, permitindo ao psicopedagogo, encontrar na brincadeira e na arte o meio “impressionante” necessário ao tratamento da criança. Quando a criança brinca, pode-se observar o processo de sua forma de brincar, de se aproximar do material, do que escolhe e o que evita seu estilo geral, as dificuldades de ultrapassar etapas, a organização, o padrão adotado o modo como brinca e o que fala sobre a sua vida. É necessário o refletir sobre a prática clínica, a cautela no diagnóstico clínico com observação e interpretação clara da escuta psicopedagógica é um fator importante para que o sujeito faça o resgate da sua subjetividade. O trabalho clínico sob uma nova luz de uma clínica do aprender a ser psicopedagogo (a). Dá-se na relação entre um sujeito com a sua história pessoal e sua modalidade de aprendizagem, buscando compreender a mensagem de outro sujeito, implícita no não aprender. A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: Um enfoque psicopedagógico O corpo de uma criança é um espaço infinito onde cabem todos os universos. Quanto mais forem estes universos, maiores serão os voos das borboletas, maior será o fascínio, maior será o número de melodias que saberá tocar, maior será a responsabilidade de amar, maior será a felicidade (ALVES, 1994, p.70). 22 A Educação Infantil corresponde à primeira etapa da Educação Básica, e assim considerada essencial, ela dá os fundamentos primordiais desta fase. Tendo grandes responsabilidades no crescimento infantil, porque educar é tarefa difícil e delicada, de um pouco de ciência, de experiência e de muito bom senso, mas, sobretudo de infinito amor e carinho. Dentro desse contexto a escola é vista como ambiente favorável de interação entre a criança e o saber. Ser criança é estudar brincando, conversar e aprender, criar e ensinar, ser e ousar, rir e chorar, assim é a criança na Educação Infantil, fascinante. Compreende o mundo interpretando-o e respeitando-o, vive intensamente, brinca e sem saber constrói conhecimentos importantíssimos que irão acompanhá-la por toda vida. Neste sentido Dornelles (apud CRAIDY e KAERCHER, 2001) afirma que a brincadeira é algo que pertence à criança, a infância. Através do brincar, a criança experimenta, organiza-se, regula-se, constrói normas para si e para o outro. O brincar é uma forma de linguagem que a criança usa para compreender e interagir consigo, com o outro e com o mundo. Brincando a criança (ré) significa seu mundo, posto que o início da capacidade de significar não está nas palavras, mas nas brincadeiras. Enquanto brinca a criança, o jovem ou adulto experimenta a possibilidade de reorganizar-se internamente de forma constante, pulsante, atuante e permanente. Por isso, incentivar as brincadeiras na Educação Infantil é uma tarefa indispensável ao educador, pois na atividade lúdica o que importa não é apenas o produto da atividade, o que dela resulta, mas a própria ação, o momento vivido, possibilitando quem vivencia momentos de fantasia e de realidade. Ressalta-se a ideia de que é preciso que os Educadores (Profissionais de Educação) reconheçam o real significado do lúdico, estabelecendo relações entre o brincar e o aprender a aprender. O desenvolvimento psicomotor se processa de acordo com a maturação do sistema nervoso central, assim a ação do brincar não deve ser considerada vazia e abstrata, pois é dessa forma que a criança capacita o organismo a responder aos estímulos oferecidos pelo ato de brincar, manipular a situação 23 será uma maneira eficiente da criança ordenar os pensamentos e elaborar atos motores adequados a requisição (VELASCO, 1996, p.27). Na Educação Infantil a criança tem que ser criança, poder brincar, amar, conhecer interagir, pois a criança se desenvolve brincando. Sendo assim, o desafio e o faz-de-conta, precisam estar presentes constantemente na rotina escolar. É fundamental a boa acolhida, a segurança o espaço para a emoção, a sensibilização, a expressão, como também, a ampliação das habilidades, o desvendar do corpo e do espaço na formação da identidade e autonomia de cada um. Piaget (1987 apud OLIVEIRA, 2000), estudando as estruturas cognitivas, descreve a importância do período sensório motor e da motricidade, principalmente antes da aquisição da linguagem, no desenvolvimento da inteligência. O desenvolvimento mental se constrói através de uma equilibração progressiva, uma passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para ele, significa uma compensação, uma atividade, uma resposta ao sujeito, frente às perturbações exteriores ou interiores. A descoberta do corpo, das sensações, dos limites e movimentos é muito importante para a criança da Educação Infantil, pois nesta etapa ela está construindo a sua imagem corporal. Assim, ela precisa descobrir seu corpo e também o corpo do outro. As atividades psicomotoras são essenciais para que ocorra esta construção, pois brincando e explorando o espaço, ela se organiza tanto nos aspectos motor e sensorial, como emocional, ampliando seus conhecimentos de mundo. Neste momento, a linguagem corporal é a forma de comunicação mais utilizada pela criança. Kyrillos e Sanches completam dizendo que, Na Educação Infantil começamos a exploração intensa do mundo, das sensações, das emoções, ampliando estas vivências como movimentos mais elaborados. A linguagem corporal começa então, a ser substituída pela fala e pelo desenho, no entanto, é essencial que continue sendo explorada. O trabalho com movimentos e ritmos, de grande relevância para a organização das descobertas feitas, torna-se mais sofisticado. Nesta etapa, a atenção é 24 voltada para o desenvolvimento do equilíbrio e de uma harmonia nos movimentos (2004, p.154). A função motora, o desenvolvimento intelectual e o afetivo estão intimamente ligados na criança. A Psicomotricidade quer justamente destacar a relação entre a motricidade, a mente e a afetividade que existe na etapa da Educação Infantil e facilitar o desenvolvimento global da criança. O conceito de psicomotricidade O termo psicomotricidade surgiu no final do século XIX, a partir do discurso médico que afirmava a necessidade de se nomear as zonas do córtex cerebral situadas mais além das regiões motoras. No entanto, a história da psicomotricidade se faz presente desde que o homem é humano, ou seja, desde que o homem fala e se movimenta (SANTOS; CAVALARI, 2010). Em 1925, o médico e psicólogo Henry Wallon ocupou-se de estudar o movimento humano, considerando-o como instrumento fundamental na construção do psiquismo (CASTRO et al., 2011). Wallon então relacionou o movimento à afetividade, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos do indivíduo.Segundo Nicola (2004), a psicomotricidade se caracteriza como uma ciência nova, cujo objeto de estudo é o homem nas suas relações com corpo em movimento. E que a partir da intervenção psicomotora, esse homem busca modificar a sua atitude em relação ao seu corpo como um lugar de sensação, expressão e criação. A Associação Brasileira de Psicomotricidade (1980) a conceitua como uma ciência que estuda o homem através do seu movimento nas suas diversas relações, tendo como objeto de estudo o corpo e a sua expressão dinâmica. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas e é sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. Portanto, o termo “psicomotricidade” é empregado para uma concepção de movimento 25 organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é resultante de sua individualidade, de sua linguagem e de sua socialização. Para Alves (2007), a psicomotricidade é a integração psiquismo- motricidade, sendo a motricidade definida como o resultado da ação do sistema nervoso sobre a musculatura e o psiquismo como o conjunto de sensações, percepções, imagens, pensamentos e afeto. Portanto, a função psicomotora é a unidade onde se integram a incitação, a preparação, a organização temporal, a memória, a motivação, a atenção, entre outras (GONÇALVES, 2004). De acordo com Fonseca (2008), existem sete fatores que trabalham de forma integrada para que haja a organização psicomotora global: a tonicidade, o equilíbrio, a lateralidade, a noção de corpo, a estruturação espaço-temporal, a praxia global e por último, a praxia fina. A tonicidade ocorre através das aquisições neuromusculares, do conforto tátil e da integração de padrões motores antigravídicos (muito presente do nascimento aos 12 meses). O equilíbrio se manifesta na aquisição da postura bípede, da segurança gravitacional e do desenvolvimento de padrões locomotores (dos 12 meses aos 2 anos). A lateralidade se dá a partir da integração sensorial, do investimento emocional, do desenvolvimento das percepções difusas e dos sistemas aferentes e eferentes (dos 2 aos 3 anos). A noção de corpo ocorre através da noção do Eu, da conscientização corporal, da percepção corporal e das condutas de imitação (dos 3 aos 4 anos). A estruturação espaço-temporal se manifesta por meio do desenvolvimento da atenção seletiva, do processamento de informações, da coordenação espaço-corpo e da aptidão da linguagem (dos 4 aos 5 anos). A praxia global ocorre através da coordenação óculo manual e óculo pedal, da planificação motora e da integração rítmica (dos 5 aos 6 anos). Já a praxia fina se dá através da concentração, da organização e da especialização hemisférica (dos 6 aos 7 anos). Para Nicola (2004), conhecer seu esquema corporal é ter consciência do próprio corpo, das partes que o compõem, das suas possibilidades de movimentos, posturas e atitudes. Sendo assim, o esquema corporal constitui- 26 se como elemento básico e indispensável para a formação da personalidade de qualquer criança e pode ser definido como “a organização das sensações relativas ao próprio corpo em relação com os dados do mundo exterior” (QUEIROZ; JORDANO, 2010, p. 14). A Associação Brasileira de Psicomotricidade (1980) ressalta que, diante do somatório de forças que atuam no corpo – choros, medos, alegrias, tristezas, entre outras – a criança estrutura suas marcas, buscando qualificar seus afetos e elaborar suas ideias, ou seja, ela vai constituindo-se como pessoa. Para Fonseca (1998), atualmente a psicomotricidade possui crescente importância nos trabalhos que se relacionam com o desenvolvimento infantil, tanto na fase pré-escolar como depois dela, sendo concebida como uma integração superior da motricidade, produto de uma relação compreensível entre a criança e o meio. Nesse sentido, a psicomotricidade se distingue como ciência onde se pode encontrar variados pontos de vistas e diferentes contribuições, sendo elas biológicas, psicológicas, psicanalíticas, sociológicas, entre outras (SANTOS; CAVALARI, 2010). Além disso, segundo os autores, a psicomotricidade serve como ferramenta para todas as áreas de estudos voltadas para a organização afetiva, motora, social e intelectual do indivíduo, já que acredita que o homem é um ser ativo, capaz de se conhecer cada vez mais e de se adaptar às diferentes situações e ambientes. A PSICOMOTRICIDADE E ALGUMAS ABORDAGENS: O CORPO EM AÇÃO O ser humano é um complexo de emoções e ações propiciadas por meio do contato corporal, nas atividades psicomotoras que também favorece o desenvolvimento afetivo entre as pessoas, o contato físico, as emoções e as ações. O objetivo da Psicomotricidade é desenvolver as possibilidades motoras e criativas do ser humano em sua globalidade, partindo do seu corpo, levando a centralizar sua atividade e a procura do movimento e do ato. A Psicomotricidade age de forma atuante e com uma visão de ciência e técnica, tendo como foco a Educação Física, a partir de uma visão mais ampla 27 em que o homem deixa de ser percebido como um ser essencialmente biológico, para ser concebido por visão abrangente, na qual se considera os processos sociais históricos e culturais. Com a educação psicomotora a Educação Física passa a ter como objetivo principal incentivar a prática do movimento em todas as etapas da vida de uma criança. É importante ressaltar que na psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem, toda obra de Henri Wallon e de Jean Piaget colocam em evidência o papel da atividade corporal no desenvolvimento de funções cognitivas. Wallon (1968) afirma que o pensamento nasce para retornar a ele. Piaget (1987, apud OLIVEIRA, 2000) diz que, mediante a atividade corporal a criança pensa, aprende, cria e enfrenta os problemas. Assim a atividade motora e a mental passaram a ser vistas como atividades que estão intimamente em interrelação, influenciando uma com a outra, através de seus dois componentes essenciais, o sócio afetivo e o cognitivo. A Psicomotricidade contribui de maneira expressiva para formação do esquema corporal, o que facilitará a orientação espacial. Ela deve ser entendida e compreendida em sua integridade, pois o nosso corpo está presente em todas as situações, e é através do movimento, que o ser humano participa do mundo manifestando suas intenções. A Psicomotricidade, como toda a ciência tem um objetivo de estudo próprio e assim retira sua unidade e especificação, isso quer dizer que o corpo e a sua expressão dinâmica são fundamentados, de acordo com Kyrillos e Sanches, em três conhecimentos básicos: O movimento, que segundo os conhecimentos atuais ultrapassa o ato mecânico e o próprio indivíduo, sendo à base das posturas e posicionamentos diante da vida; o intelectivo, que encerra a gênese e todas as qualidades da inteligência do pensamento humano, seu desenvolvimento depende do movimento para estabelecer, desenvolver e operar; o afeto, que é a própria pulsão interna do indivíduo, que matiza a motivação e envolve todas as relações do sujeito com os outros, com o meio e consigo mesmo (2004, p.167). 28 Sendo assim, a aprendizagem da criança está ligada diretamente ao desenvolvimento psicomotor. Este fator é importante para unir a Psicomotricidade com a Educação Física, desenvolvendo a criança como um todo. Pois a educação psicomotora é baseada em uma ação educativa baseada e fundamentada no movimento natural consciente e espontâneo com a finalidade de normalizar, completar ou aperfeiçoar a conduta global da criança. O mundo psicomotor surge na escola, tanto nas aulas de Educação Física como na sala de aula e assim cria-se um espaço para o corpo: os movimentos,o dinamismo e a liberdade são vividos pelas crianças. E alguns fatores influenciam para que crianças com a mesma idade tenham comportamentos diferentes, como: o meio, o ambiente familiar e as possibilidades físicas. Por isso percebe-se a necessidades que os Educadores conheçam e compreendam as capacidades de seus alunos, proporcionando o bem-estar, a felicidade e o crescimento, dentro dos limites de cada um, pois cada criança é única. Piaget (1987 apud OLIVEIRA, 2000), estudando as estruturas cognitivas, descreve a importância do período sensório motor e da motricidade, principalmente antes da aquisição da linguagem, no desenvolvimento da inteligência. A criança se desenvolve desde os primeiros dias de vida. Por isso, a vida emotiva e a vida motora não são isoladas, elas se complementam orientadas pelos elementos psicomotores. Onde destacamos alguns deles: Esquema Corporal: é básico e indispensável para a formação da personalidade da criança. É a representação relativamente global, científica que a criança tem de seu próprio corpo. A criança irá se sentir bem na medida em que conhecer seu corpo e poder utilizá-lo não somente para movimentar- se, mas também para agir. Lateralidade: se define naturalmente durante o crescimento onde acontece uma dominância lateral na criança onde será mais forte, mais ágil do lado direito ou do lado esquerdo. A lateralidade corresponde a dados 29 neurológicos e também é influenciada por certos hábitos sociais. É importante ressaltar que não se confunda lateralidade com dominância de um lado em relação ao outro, em nível de força e precisão. O conhecimento “esquerdo-direito” decorre da noção de dominância lateral. É a generalização, da percepção do eixo corporal, da percepção do eixo corporal, a tudo que cerca a criança. Com efeito, se a criança percebe que trabalha naturalmente com “aquela mão”, guardará sem dificuldade que “aquela mão” é à esquerda ou à direita. Estruturação Espacial: é a orientação e estruturação do mundo exterior, referindo-se primeiro ao eu (como referência), depois a outros objetos ou pessoas em posição estática ou em movimento. É tomada de consciência da situação de seu próprio corpo em um meio ambiente, isto é, do lugar e da orientação que pode ter em relação às pessoas. A tomada de consciência da situação das coisas entre si. A possibilidade, para o sujeito, de organizar-se perante o mundo que o cerca, de organizar as coisas entre si, de colocá-las em um lugar, de movimentá-las, refere-se à possibilidade de estabelecer relações entre elementos para formar um todo. A estruturação espacial não nasce com o indivíduo ela é uma construção mental que se opera através de seus movimentos em relação aos objetos que estão em seu meio. Segundo Barreto (2000), o desenvolvimento psicomotor é de suma importância na prevenção de problemas da aprendizagem e na reeducação do tônus, da postura, da direcionalidade, da lateralidade e do ritmo. A educação da criança deve evidenciar a relação através do movimento de seu próprio corpo, levando em consideração sua idade, a cultura corporal e os seus interesses. A educação psicomotora para ser trabalhada necessita que sejam utilizadas as funções motoras, perceptivas, afetivas e sócio motoras, pois assim a criança explora o ambiente, passa por experiências concretas, indispensáveis ao seu desenvolvimento intelectual, e é capaz de tomar consciência de si mesma e do mundo que a cerca. 30 PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL A psicomotricidade contribui de maneira expressiva para a formação e estruturação do esquema corporal, assim incentivando a prática do movimento em todas as etapas da vida de uma criança. Por meio de atividades variadas às crianças, além de se divertirem, criam, interpretam e se relacionam com o mundo em que vivem. Mendonça cita que Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento psicomotor infantil. É preciso estar atento para que nenhuma perturbação passe desapercebida e seja tratada a tempo, para que a capacidade futura da criança não seja afetada e prejudique a aprendizagem da leitura e da escrita (2004, p.20-21). O movimento é a primeira manifestação na vida do ser humano, pois desde a vida intrauterina realiza-se movimentos com o corpo, no qual vão se estruturando e exercendo enormes influências no comportamento. Sendo assim, considera-se que a psicomotricidade é um instrumento riquíssimo que auxilia a promover preventivos de intervenção, proporcionando resultados satisfatórios em situações de dificuldades no processo de ensino- aprendizagem. É pela psicomotricidade e pela visão que a criança descobre o mundo dos objetos, e é manipulando-os que ela redescobre o mundo: porém esta descoberta a partir dos objetos só será verdadeiramente frutífera quando a criança for capaz de segurar e de largar, quando ela tiver adquirido a noção de distância entre ela e o objeto que ela manipula, quando o objeto não fizer mais parte de sua simples atividade corporal indiferenciada (OLIVEIRA, 2000, p.34). Psicomotricidade é, portanto, a relação entre pensamento e a ação, e envolve, também, as emoções. Tem a finalidade de assegurar o desenvolvimento funcional, tendo em conta as possibilidades da criança, e ajudar sua afetividade a se expandir e equilibrar-se, através do intercâmbio com o ambiente humano. 31 Os movimentos expressam o que se sente, os pensamentos e atitudes que muitas vezes estão arquivadas no inconsciente. O desenvolvimento envolve aprendizagem de vários tipos, expandindo e aprofundando a experiência individual. Por isso, cada vez mais os educadores recomendam jogos e brincadeiras desde a Educação Infantil. Segundo Mendonça (2004) a função do professor é trabalhar no aluno cada uma das dimensões, para levá-lo à construção da unidade corporal e à afirmação da identidade. A Psicomotricidade tem ação educativa e preventiva. A Psicomotricidade se relaciona através da ação, como um meio de tomada de consciência que une o corpo, a mente, o espírito, a natureza e a sociedade. Ela está associada à afetividade e à personalidade, pois a criança utiliza seu corpo para demonstrar o que sente. Na Educação Infantil, a criança está sempre em busca de experiências e novidades em seu próprio corpo, formando ideias, conceitos e assim progressivamente organizando o seu esquema corporal. O professor deve estar sempre atento às etapas do desenvolvimento do aluno, colocando-se na posição de facilitador da aprendizagem e calcando seu trabalho no respeito mútuo, na confiança e no afeto. A psicomotricidade, no processo de ensino-aprendizagem, está intimamente ligada aos aspectos afetivos com a motricidade, com o simbólico e o cognitivo. Ela enfoca a unidade da educação dos movimentos, ao mesmo tempo que põe em jogo as funções intelectuais. As primeiras evidências de um desenvolvimento mental normalmente são manifestações puramente motoras. As atividades motoras desempenham na vida da criança um papel importantíssimo, em muitas das suas primeiras iniciativas intelectuais. Enquanto explora o mundo que a rodeia com todos os órgãos dos sentidos, ela percebe também os meios com os quais fará grande parte dos seus contatos sociais. 32 A base do trabalho com as crianças na Educação Infantil consiste na estimulação perceptiva e desenvolvimento do esquema corporal. A criança organiza aos poucos o seu mundo a partir do seu próprio corpo. A abordagem que a psicomotricidade proporciona é permitir a compreensão da forma como a criança toma consciência do seu corpo e das possibilidades de se expressar por meio desse corpo, localizando-se no tempo e no espaço. Entende-se que o movimento humano é construído em função de um objetivo, a partir de uma intenção comoo desejo de expressar-se e esse movimento transforma-se em comportamento significante. Por isso, é necessário que toda criança passe por todas as etapas em seu desenvolvimento. Através da ação, a criança vai descobrindo as suas preferências e adquirindo a consciência do seu esquema corporal. Para isso é necessário que ela vivencie diversas situações durante o seu desenvolvimento, nunca esquecendo que a afetividade é a base de todo o processo de desenvolvimento, principalmente o de ensino-aprendizagem. Mendonça cita que, O desenvolvimento psicomotor quando acontece harmoniosamente, prepara a criança para uma vida social próspera, pois, já domina seu corpo e utiliza-o com desenvoltura, o que torna fácil e equilibrado seu contato com os outros. As reações afetivas e as aprendizagens psicomotoras estão interligadas. A psicomotricidade é abrangente e pode contribuir de forma plena para com os objetivos da educação (2004, p.25). O trabalho da Educação Psicomotora prevê a formação de uma base indispensável para o desenvolvimento motor, afetivo e psicológico, dando oportunidade para que por meio de jogos e atividades lúdicas a criança se conscientize sobre seu corpo. A educação lúdica, na essência, além de ajudar e influenciar na formação da criança possibilita um crescimento sadio, um enriquecimento permanente. Na atividade lúdica, o que importa é a sua própria ação, o 33 momento vivido, possibilita quem a vivencia movimentos de encontro consigo mesmo e com o outro, momentos de fantasia e de realidade. Segundo Luckesi (2000) as atividades lúdicas são aquelas que propiciam uma experiência de plenitude em que se envolve por inteiro, estando flexíveis e saudáveis. A educação da criança deve evidenciar a relação através do movimento do seu próprio corpo, levando em consideração sua idade e cultura corporal. Pode-se dizer que o lúdico, através de atividades afetivas e psicomotoras, constitui-se num fator de equilíbrio expresso na interação entre o espírito e o corpo, a afetividade e a energia, o indivíduo e o grupo, promovendo a totalidade do ser humano. Uma das principais propostas deste trabalho na Educação Infantil, portanto é o de criar espaços e oportunidades onde às crianças se vejam podendo realizar várias atividades, sempre experimentando, pois acredita-se que é só assim que elas podem de fato, tornar-se cada vez mais saudáveis, confiantes e autônomas. PSICOPEDAGOGIA E PSICOMOTRICIDADE A psicopedagogia nasceu com a intenção de “sanar” os problemas de aprendizagem, dos quais a pedagogia não dava conta de resolver nas escolas. Lida com o processo de aprendizagem humana: seus padrões normais e patológicos considerando a influência do meio no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios. É um campo de conhecimento caracterizado pela interdisciplinaridade, utiliza-se de várias correntes teóricas. Cabe ressaltar que A psicopedagogia implica também, uma metodologia específica de trabalho. Essa metodologia precisa levar em conta, necessariamente o contexto em que se encontra a ação pedagógica: família, escola, comunidade. No caso da instituição de educação infantil, é preciso levar em conta não apenas as características dos educadores e da própria instituição (SISTO, 1996, p.209). 34 Sara Paín (1985) em sua proposta teórico-prática em psicopedagogia, coloca que a aprendizagem depende da articulação de fatores internos e externos ao sujeito. Os internos referem-se ao funcionamento do corpo: Corpo, considerado como um instrumento responsável pelos automatismos, coordenações e articulações, que leva o indivíduo a registrar, gravar, reconhecer tudo que o cerca, através dos sistemas sensoriais, permitindo-o regular o funcionamento total; Desejo, entendido como o que se refere as estruturas inconscientes, representa o “motor” da aprendizagem e deve ser trabalhado a partir da relação que com ela se estabelece; Estruturas cognitivas, representando aquilo que está na base da inteligência. A autora cita ainda que a aprendizagem possui três funções: Socializadora, porque a partir do momento em que o indivíduo aprende, ele se submete a um conjunto de normas, identificando- se com o grupo social do qual pertence, transformando-se em um ser social; Repressora, porque pode significar uma forma de controle, com o objetivo de garantir a sobrevivência específica do sistema que rege a sociedade; Transformadora, que deve direcionar a atuação dos psicopedagogos, permitindo ao sujeito uma participação na sociedade, não na perspectiva de reproduzi-la, mas de transformá-la. Estas funções devem estar presentes na visão dos psicopedagogos e de todos os profissionais que se envolvem com o desenvolvimento do ser humano, principalmente no âmbito educacional, pois acredita-se possuir através destas funções, um grande poder, que possibilita ajudar ou não as crianças, jovens e adultos, no espaço de relação. 35 Ainda em sua abordagem Sara Paín (1985) enfatizando o trabalho psicopedagógico, traz o significado aos problemas de aprendizagem, que é considerado, não como o contrário de aprender, mas como um processo diferente deste, um estado particular de um sistema que, para equilibrar-se, precisou adotar um determinado tipo de comportamento que define o não aprender e que cumpre assim uma função positiva. O que tira do problema de aprendizagem a visão preconceituosa e ligada a patologia, daqueles que aprendem algo diferente da norma. Neste contexto surge a Psicomotricidade, enquanto possível ferramenta para uma prática psicopedagógica mais completa e interdisciplinar. O equilíbrio, a tonicidade, a orientação espacial e temporal, o esquema corporal, a imagem corporal, a lateralidade e a coordenação motora são estruturas psicomotoras necessárias para que nosso organismo explore o ambiente, perceba-se nesse mesmo ambiente, perceba o outro e, com isso, se desenvolva. A psicopedagogia e a psicomotricidade abandonam o treinamento e a reeducação, não mais partindo das dificuldades que a criança possui, situando o fazer na psicomotricidade, dentro de um marco relacional. Na prática psicopedagógica há necessidade de trabalhar os aspectos que podem se encontrar deficitários na estruturação das crianças, que são muitas vezes chamadas de hiperativas. A psicomotricidade amplia seu fazer, oferecendo à educação infantil a possibilidade de desenvolvimento. No momento em que a psicomotricidade amplia sua concepção para uma psicopedagogia geral, ela não mais dá conta sozinha do recado que lhe é incumbido. Da mesma maneira, que o sujeito aprendente, é visto como um ser cognoscente, ou seja, engajado no processo de construção do conhecimento, e que possui estruturas de aprendizagem que se compartilham num mesmo espaço, com seu ensinantes. A Psicomotricidade está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. 36 Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização. A Psicomotricidade nos enriquece com a ideia do fazer e do conhecer com o corpo. Mostrar ou não mostrar a ação. E a Psicopedagogia nos direciona para o mostrar ou não mostrar o conhecimento. A Psicopedagogia utiliza-se dos conhecimentos da área da psicomotricidade não para treino de um organismo, mas sim, como possibilidade de se ter um corpo enquanto instrumento de conhecimento, de articulação do pensamento.37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEAUCLAIR. João. Olhar, ver, tecer: a busca permanente da teoria no campo psicopedagógico. SCOZ. Beatriz Judith Lima. (Org.). In: Psicopedagogia. Contribuições para uma educação pós-moderna. Petrópolis, RJ: Vozes; São Paulo: ABPp, 2004. COSTA, Terezinha. Psicanálise com crianças. Rio de Janeiro: Jorge Zanhar, 2007. BARRETO, Sidirley de Jesus. Psicomotricidade, educação e reeducação. 2.ed. Blumenau: Livraria Acadêmica, 2000. CRAIDY, Carmen; KAERCHER, Gládis Elise P. da Silva (org.). Educação Infantil Pra que te quero? Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. KYRILLOS, Michel Habib M.; SANCHES, Tereza Leite. 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