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Resenha crítica Na presença do sentido - Culpa e Desculpa João Augusto Pompéia e Bilê Tatit Sapienza O texto traz uma reflexão acerca de um tema comum de ser evitado tratar em nossa sociedade atual. A culpa. Estamos acostumados a sempre evitá-la, pois, como afirma o autor, ela sempre vem acompanhada de sentimentos íntimos como remorso, medo e vergonha. Porém são esses sentimentos, mesmo que ruins, que fazem com que de algum forma a culpa possa ser realmente sentida. A culpa é algo muito íntimo nosso, porém, não fica apenas em nosso interior, ela existe em relação a algo, sempre diz respeito ao mundo, envolve um outro. Existe um movimento nosso de querer diminuir ou apartar a culpa de alguém, com uma intenção boa, muitas vezes, de querer livrar a pessoa do desconforto. Porém o sentir a culpa, se aproximar dos sentimentos que vem com ela, o desconforto gerado, são da pessoa, e ela precisa viver tais consequências, para que assuma assim o controle de sua própria vida. Tirar esse direito dela é de alguma forma dizer-lhe que a mesma não importa. A culpa vem acompanhada de uma sensação de conflito, são reflexões minhas comigo mesmo, sobre minhas vontades, desejos e ações. A culpa escancara uma diferença que existe entre aquilo que eu quero ser e aquilo que de fato eu sou. O conflito vem em perceber o que fui capaz de ser e a pessoa que eu gostaria de ser, sentindo assim uma perda de integridade. Temos sonhos sobre nós mesmos, de quem gostaríamos de ser. A culpa acentua a realidade, que não corresponde com nosso sonho. Então, pode ser que esse sonho morra decorrente dessa decepção nossa, conosco mesmo. Importante destacar que, de certa forma, o fato de sonhar com quem eu gostaria de ser, me impulsiona a ser melhor. Logo quando um sonho morre é preciso sonhar de novo, pois, esse sonho é um objetivo, é aquilo que ainda não existe e eu quero realizar, onde eu quero chegar, quem eu quero ser. Em uma vida sem o sonho teríamos que aceitar que somos aquilo que seríamos se a culpa fosse apagada, irresponsáveis, inconsequentes dentre outras consequências ruins. Quando aceitamos a culpa reconhecemos assim nossa humanidade e nossa própria vontade, não estamos a favor do destino, eu faço escolhas e eu me responsabilizo por elas. Em outro momento o texto nos traz uma importante distinção entre castigo e punição. Quando pensamos em culpa palavras castigo geralmente vem associada, porém não em seu sentido em si, mas, sim como punição. A punição se executa de forma mais fácil, e alivia a culpa de quem foi prejudicado, porém de certa forma não leva a pensar a aprender com seu erro, já o castigo é mais difícil, e complexo, demanda paciência em ajudar a pessoa a recuperar a integridade perdida, por isso punir acaba se tornando mais frequente e não gerando bons resultados. Para finalizar, a respeito da desculpa. Toda culpa tem alguma desculpa, porém, a culpa é sempre maior que a desculpa. A desculpa não pode e nem deve apagar a culpa, mas, já é uma busca por preencher o vazio que a falta deixa. Vazio que pode ser preenchido pela justiça. A culpa precisa ser sentida e refletida e não apenas jogada de lado e esquecida. Se sentirmos culpa é por que sonhamos em sermos melhores, e que ela possa servir então de lembrete sobre qual caminho precisamos seguir.
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