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1 Questão terminológica O estudioso dos direitos humanos não pode, portanto, deixar de considerar esta questão terminológica envolvendo os conceitos de direitos do homem, direitos humanos e direitos fundamentais. Os dois primeiros muito ligados à aspiração de universalidade, atemporalidade e supranacionalidade. Completamente diferente é a noção de direitos fundamentais, conceito mais restrito e ligado a uma específica Constituição, a um determinado Estado nacional. Destarte, os direitos fundamentais são os direitos naturais que foram efetivamente positivados na Constituição de um determinado Estado nacional. Isto significa dizer por outras palavras que cada Estado tem sua própria concepção de direitos fundamentais. É por isso que os direitos fundamentais são limitados no espaço e no tempo. Nas palavras de J.J. Canotilho, direitos fundamentais são os direitos do homem, jurídico-institucionalmente garantidos e limitados espaço- temporalmente. É bem de ver que o conceito de direitos fundamentais é função da ideologia, dos valores éticos, sociais e culturais da sociedade de um determinado Estado nacional. Não há falar em universalidade dos direitos fundamentais, o que evidentemente demonstra que os conceitos de direitos humanos e direitos fundamentais não se confundem. Nesse sentido, precisa a lição de Ingo Sarlet, verbis: Neste contexto, de acordo com o ensinamento de Pérez Luno, o critério mais adequado para determinar a diferenciação entre ambas as categorias é o da concreção positiva, uma vez que o termo "direitos humanos" se revelou con- ceito de contornos mais amplos e imprecisos que a noção de direitos fundamentais, de tal sorte que estes possuem sentido mais preciso e restrito, na medida em que constituem o conjunto de direitos e liberdades institucionalmente reconhecidos e garantidos pelo direito positivo de determinado Estado, tratando-se, portanto, de direitos delimitados espacial e temporalmente, cuja denominação se deve ao seu caráter básico e fundamentador do sistema jurídico do Estado de Direito.(Cf. A. E. Perez Luño, Los Derechos Fundamentales, p. 46-7). Assim, ao menos sob certo aspecto, parece correto afirmar, na esteira de Pedro Cruz Villalon, que os direitos fundamentais nascem e acabam com as Constituições (Cf. P. C. Villalon, Revista Española de documentación cientifica 25:41-2, 1989) resultando, de tal sorte, da confluência entre os direitos naturais do homem, tais como reconhecidos e elaborados pela doutrina jusnaturalista dos séculos XVII e XVIII, e da própria idéia de Constituição. (Cf. ob.cit.p.63). 2 Em conclusão, a questão terminológica envolvendo os conceitos de direitos humanos e de direitos fundamentais é importante, pois permite compreender a trajetória lenta e gradual de seu processo de evolução. Direitos humanos e evolução social do Estado caminham na mesma direção quando vislumbrados sob a ótica da positivação. Destarte, a idéia de direitos humanos se cristaliza com a Carta das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos e Culturais, uma vez que tais documentos positivam os direitos naturais em seara internacional, consolidando definitivamente o processo de internacionalização dos direitos do homem, até então situados no plano jusnatural. Já o conceito de direitos fundamentais se aplica mais especificamente a um catálogo de direitos constitucionais de um determinado Estado nacional, que mediante processo legislativo próprio, optou por garantir positivamente determinados direitos humanos. É a própria constitucionalização que os transforma em direitos fundamentais. Com isso estamos querendo ressaltar que a positivação dos direitos fundamentais é fruto de lutas sociopolíticas de uma determinada sociedade, ou seja, os direitos fundamentais são conquistados mediante um processo histórico cheio de obstáculos, antes de serem reconhecidos como direitos efetivamente positivados. Como veremos na próxima aula, o caminho percorrido foi longo até alcançar-se esta nossa atual fase de constitucionalização dos direitos humanos.
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