Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S 2 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S 3 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S Núcleo de Educação a Distância GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO Diagramação: Rhanya Vitória M. R. Cupertino Revisão Ortográfica: Clarice Virgilio Gomes PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira. O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho. O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem. 4 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S Prezado(a) Pós-Graduando(a), Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional! Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as suas expectativas. A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra- dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a ascensão social e econômica da população de um país. Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida- de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas pessoais e profissionais. Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi- ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atu- ação no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe- rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de ensino. E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos conhecimentos. Um abraço, Grupo Prominas - Educação e Tecnologia 5 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S 6 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo- sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve- rança, disciplina e organização. Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho. Estude bastante e um grande abraço! Professora: Tatiana Scaranello 7 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc- nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela conhecimento. Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in- formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao seu sucesso profisisional. 8 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S A referida unidade tem como objetivo apresentar o conceito de consultoria ambiental e a necessidade de sua realização de for- ma eficaz para fins de evitar danos ambientais de proporções imen- suráveis, tais como os oriundos da indústria EXPROPER, e, conse- quentemente, a existência de custos ambientais. Para tanto, alguns pontos sobre responsabilidade ambiental serão abordados. Também, um estudo mais aprofundado sobre o Código Florestal, que é de extre- ma importância para o exercício da consultoria e para o agronegócio, dado que se trata de uma vertente que mais avança em nosso país. É indispensável um conhecimento mais abrangente quanto às áreas de Reserva Legal e às áreas de Preservação Permanente, bem como a questão envolvendo o imposto territorial rural (ITR). Custos Ambientais. Externalidades Negativas. Consultoria Ambiental. 9 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 01 A IMPORTÂNCIA DA CONSULTORIA AMBIENTAL PARA A EMPRESA Apresentação do Módulo ______________________________________ 11 12 33 13 Conceito ______________________________________________________ Opinião Consultiva 23/17 _______________________________________ A Importância da Consultoria Ambiental para a Empresa _________ CAPÍTULO 02 A NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE CONSULTORIA AMBIENTAL PARA AS EMPRESAS Impacto Ambiental ____________________________________________ 32 28Recapitulando ________________________________________________ Biossegurança _________________________________________________ 36 13Atividades Correlacionadas com a Consultoria Ambiental _______ 34Gestão de Florestas Públicas ___________________________________ Gestão de Recursos Hídricos ___________________________________ 41 17 21 Áreas de Reserva Legal (ARL) no Código Florestal _______________ Sustentabilidade e a Consultoria Ambiental ______________________ 24A Importância dos Princípios da Prevenção e da Precaução _____ Recapitulando _________________________________________________ 47 10 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S Responsabilidade Administrativa Ambiental _____________________ 52 O Código Florestal ______________________________________________ 56 CAPÍTULO 03 ASPECTOS DO CÓDIGO FLORESTAL, O AGRONEGÓCIO E A RES- PONSABILIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL Recapitulando __________________________________________________ 65 Fechando a Unidade ____________________________________________ 69 Referências _____________________________________________________ 72 11 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S Neste módulo, o aluno encontrará assuntos de tamanha im- portância na seara da consultoria ambiental. Um destaque importante é para o conceito da denominação da unidade. Por consultoria ambiental, pode-se compreender o estudo empresarial referente às possíveis ex- ternalidades negativas que determinado produto, serviço ou prática da empresa possa vir a causar ao meio ambiente ecologicamente equili- brado. Assim sendo, é o setor que preza pelo cumprimento das políticas ambientais adotadas pela empresa, garantindo que seus atos não pre- judiquem o meio ambiente, gerando custos ambientais. A partir disso, o conhecimento acerca das principais questões envolvendo a elaboração da consultoria ambiental bem realizada, assim como as consequências de um estudo incorreto ou com lacunas oriun- das de omissão, tanto na esfera penal, quanto também na esfera cível e na administrativa, sendo essa última a ser estudada nesta unidade, já as demais estudadas na unidade sobreresponsabilidades. Outro ponto de extrema relevância é no que concerne à consul- toria voltada ao agronegócio. Para tanto, torna-se necessário um apro- fundamento sobre o Código Florestal e seus aspectos principais, ganhan- do destaque as áreas de Reserva Legal e de Preservação Permanente. Também a questão envolvendo o Imposto Territorial Rural (ITR), objeto de planejamento tributário e de consultoria ambiental bem elaborada, podendo, inclusive o proprietário da propriedade rural fazer jus a isenções ou redução da base de cálculo do referido imposto ou agraciado por alíquotas inferiores, conforme o grau de utilização da ter- ra. A consultoria ambiental, cujo estudo se propõe nesta unidade, é to- talmente voltada à prática das empresas e do agronegócio, sendo esse último um grande destaque, uma vez que o Brasil é um grande expor- tador de commodities agrícolas, sendo indispensável que profissionais gabaritados atuem orientando os empreendedores do mercado. Sem mais delongas, torna-se indispensável iniciar o estudo com um tópico introdutório sobre conceitos e elaboração da consultoria ambiental. 12 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S CONCEITO Por consultoria ambiental pode-se compreender o estudo empre- sarial referente às possíveis externalidades negativas que determinado produto, serviço ou prática da empresa possa vir a causar ao meio ambien- te ecologicamente equilibrado. Assim sendo, é o setor que preza pelo cum- primento das políticas ambientais adotadas pela empresa, garantindo que seus atos não prejudiquem o meio ambiente, gerando custos ambientais. Os custos ambientais não se referem apenas aos aspectos, mas também às externalidades negativas que a prática da atividade empresarial possa vir a causar, sendo objeto de estudo da consulto- ria ambiental, mas, também, as ações a serem adotadas para fins de preservação do meio ambiente, tais como: o reflorestamento, a adoção A IMPORTÂNCIA DA CONSULTORIA AMBIENTAL PARA A EMPRESA C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S 12 13 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S de práticas de sustentabilidade, o gerenciamento de resíduos sólidos e outras ações regulamentadas. A IMPORTÂNCIA DA CONSULTORIA AMBIENTAL PARA A EMPRESA Além da imagem da empresa ou da marca comercializada, a consultoria ambiental visa evitar a aplicação de multas administrativas ambientais consideráveis, em decorrência do descumprimento da legis- lação ambiental doméstica e internacional. O estudo referente às responsabilidades de uma pessoa jurídica será feito oportunamente, sendo um ponto indispensável para esta unidade em questão. Tal estudo é imprescindível para fins de conhecimento das ex- ternalidades negativas e os custos ambientais que ocasionam à empresa. ATIVIDADES CORRELACIONADAS COM A CONSULTORIA AM- BIENTAL O licenciamento ambiental é um ponto correlacionado com a consultoria ambiental, sendo, inclusive, um dos principais assuntos do es- tudo desta unidade, assim como as avaliações de impactos ambientais. Por se tratar de um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente, o licenciamento ambiental visa a garantia da preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo fruto do exercício do poder de polícia prévio, exercido pelo Poder Público, fundamentado, inclusive, no caput do art. 225, da CF/88. Embora a própria Lei Complementar n. 140/2011 traga, em seu artigo 2º, I, o conceito de licenciamento ambiental: “o procedimento ad- ministrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utili- zadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental”, re- ferindo-se a um procedimento, na verdade, o licenciamento ambiental possui natureza de processo administrativo. O artigo 10, caput, da Lei 6.938/1981, com redação dada pela Lei Complementar 140/2011 trata sobre o assunto. Celso Antônio Pa- checo Fiorillo compreende que se trata de um ato administrativo com discricionariedade sui generis, pois, a mesma Resolução CONAMA, em seu art. 19, atribui competência para suspensão ou revogação da li- cença concedida pelo órgão competente, ou seja, a licença ambiental é precária, deixando de ser um ato vinculado, passando a ser um ato discricionário de natureza sui generis (FIORILLO, 2015, p. 245). 14 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S Ademais, por este dispositivo, entende-se que não há direito adquirido a poluir, ou seja, o órgão ambiental competente poderá mo- dificar os condicionantes fixados na ocasião do deferimento da licença ambiental, desde que por ato motivado, sendo tal dispositivo adotado pela jurisprudência pátria em diversos julgados. Em regra, temos três espécies de licenças ambientais. Primei- ramente, é importante saber que as licenças em destaque serão conce- didas de forma sucessiva, logo, para que se obtenha a licença de insta- lação, é indispensável que o empreendimento possua a licença prévia ou isoladamente. Embora haja a menção de três licenças, a depender da atividade, poderemos ter mais licenças a serem pleiteadas durante o licenciamento ambiental. Como também, no caso do empreendimento não causar significativo impacto ambiental, nos termos do art. 12, da Resolução CONAMA 237/97, poderá ser dispensado o licenciamento trifásico e a adoção do licenciamento unifásico. O órgão ambiental competente possuirá o prazo de seis meses para análise do pleito das licenças, podendo o prazo máximo ser de até doze meses, caso haja audiência pública e/ou elaboração do EIA/RIMA, sendo possível que tais prazos sejam suspensos caso o empreendedor apresente documentos ou esclarecimentos. Se tais prazos não forem respeitados, haverá a possibilidade de atuação supletiva de um órgão ambiental de outro ente. É importante mencionar que ocorrerá tal atu- ação supletiva em caso de decurso do prazo, não havendo a emissão tácita de licenças em caso de omissão do órgão competente primário. Ainda quanto ao licenciamento ambiental, dentro do estudo da consultoria ambiental, é importante conhecer os principais aspectos das avaliações de impacto ambiental. No âmbito da legislação infracons- titucional, o artigo 9º, III, da Lei n. 6.938/81, contemplou a avaliação de impactos ambientais como um importante instrumento de defesa do meio ambiente, mais precisamente através da elaboração do estudo e formação de um documento técnico de impactos ambientais (EIA) e seu relatório (RIMA). É muito comum a confusão dos estudiosos quanto aos conceitos. Vale lembrar que os conceitos são distintos, sendo importan- tes quanto à publicidade, pois, na verdade, é o relatório de conclusão do EIA para acessibilidade pública, o RIMA, a ser publicado para conheci- mento da população. Paulo de Bessa Antunes compreende que “[...] os estudos prévios de impacto ambiental são modalidades de avaliação de impactos constitucionais” (ANTUNES, 2016, p. 690). Em recorrência do princípio da informação, previsto no art. 225, da CF/88, vale destacar ser imprescindível a publicidade do EIAs e RIMA, por conta de mandamento constitucional, como prevê o art. 11, da Resolução CONAMA n. 1/86. Vale destacar o entendimento juris- 15 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S prudencial no sentido de que não é viável a exigência do EIA para em- preendimentos instalados antes da exigência regulamentar (STJ, REsp 200501147867, j. 04.08.2008). Quando exigido, o EIA/RIMA é requisito para a localização, ins- talação, operação e ampliação de uma atividade ou de um empreendi- mento. Quanto ao destinatário, este é o Poder Público, conforme o art. 225, §1º, IV,CF/88 e a Resolução CONAMA n. 001/86, isto é, trata-se de um documento elaborado para auxiliar a Administração Pública durante o processo administrativo de licenciamento ambiental. Através das infor- mações obtidas, o órgão ambiental competente proferirá a decisão sobre o deferimento ou não da concessão da licença ambiental ao requerente, sempre fundamentado no Princípio da Precaução, o qual orienta: no caso de dúvida, aplica-se o in dubio pro natura, não viabilizando o funciona- mento do empreendimento em questão. Mas, também, se os riscos forem conhecidos, o empreendimento será autorizado, desde que sejam adota- das medidas efetivas visando à contenção e a mitigação de um eventual dano ambiental, adotando-se aqui, o Princípio da Prevenção. Vale destacar que as conclusões proferidas no EIA não obri- gam a Administração Pública, pois o documento, simplesmente, analisa os impactos que podem ser previstos, logo, nada impede que outros impactos sejam previstos pelo ente público posteriormente, uma vez que as análises no documento são iniciais. Logo, o EIA não é vinculante para a Administração, não sendo capaz de impor uma obrigação ao Poder Público de conceder a licença ambiental ou não, conforme nos ensina ANTUNES (ANTUNES, 2016, p. 714). Embora seja destinado ao Poder Público, o proponente do proje- to é quem contratará uma equipe técnica multidisciplinar para elaboração, composta por biólogos, engenheiros, geólogos, físicos e outros profissio- nais altamente capacitados, cujo objetivo é a realização de um estudo apro- fundado, completo e detalhado, não sendo tal equipe considerada indepen- dente do proponente, mas também não é dependente, entretanto, embora seja contratada as expensas daquele, a equipe deverá ser imparcial. Conforme mencionado no artigo em questão, a equipe se tor- nará responsável solidária por eventuais omissões ou erros contidos no documento de estudos de impactos ambientais e seu respectivo relatório, inclusive estarão sujeitos à responsabilidade criminal do tipo previsto na Lei de Crimes Ambientais, além de multa aplicável no caso de informação enganosa presente no documento (art. 82, Decreto n. 6.514/2008). Em relação à lista de empreendimentos que geram a degrada- ção ambiental e necessitam do EIA/RIMA, o art. 2º, Resolução 01/86, não é exauriente. Perceba que se trata de um rol exemplificativo, isto é, podendo outras atividades, conforme previsto em demais atos normati- 16 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S vos, necessitarem do estudo de impacto ambiental e seu relatório. Acaso o órgão ambiental competente para o licenciamento dis- pense a elaboração do EIA/RIMA, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu no REsp 1330841/2013 que, por ser uma decisão vinculada, devendo o Poder Público exercer seu poder de polícia ambiental, po- derá ser reapreciada pelo Poder Judiciário, respaldado no Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição. O relatório de ausência de impacto ambiental (RAIAS) consiste em uma espécie de estudo de impacto ambiental (EIA) que conterá as informações relatadas por técnicos habilitados quanto à desnecessida- de da realização de um EIA/RIMA, já que a presunção é relativa (juris tantum) quanto às atividades serem causadoras de impacto ambiental, cabendo ao proponente do projeto, no início do procedimento de licen- ciamento ambiental, apresentar o RAIAS, o qual deverá ter o conteúdo mínimo do EIA. No Estado de São Paulo, o Relatório Ambiental Prelimi- nar, por força da Resolução da Secretaria do Meio Ambiente (SMA) n. 42/94 faz às vezes do RAIAS, sendo que, nos termos do art. 3º da refe- rida resolução da SMA, cabe ao proponente instruir o pleito de licença ambiental com a solicitação ou dispensa da elaboração do EIA/RIMA. Quanto à composição, o conteúdo mínimo necessário que deve constar no EIA é: a) Diagnóstico da área de influência do projeto. b) Impactos positivos (benefícios ambientais) e os impactos negativos (danos ao meio ambiente). c) Medidas mitigadoras dos impactos ambientais. d) Medidas de monitoramento. e) Viabilidade ou não do empreendimento. Também, deverá atender às seguintes diretrizes (art. 5º, Re- solução CONAMA n. 001/86), podendo outras serem adicionadas pelo IBAMA, pelo órgão ambiental estadual e pelo municipal, além de aten- der à legislação, em especial os princípios e objetivos expressos na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente. Outra atividade relacionada com a consultoria ambiental empre- sarial é a gestão ambiental realizada no âmbito empresarial. Por gestão socioambiental empresarial, entende-se um instrumento de planejamento estratégico cujo objetivo é mitigar ou tentar evitar impactos ambientais oriundos de suas atividades que possam causar externalidades negativas ao meio ambiente, assim como a otimização de processos produtivos, uti- lizando menos produtos poluentes, recursos ambientais e menor geração de resíduos sólidos. Também, a preocupação com o capital humano que compõe o corpo de trabalhadores e a sociedade em um aspecto geral são considerados pontos próprios de uma gestão socioambiental. 17 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S Vale salientar que o conceito de gestão socioambiental empre- sarial é totalmente compatível com os preceitos dispostos em diversos instrumentos internacionais que tratam sobre o meio ambiente ecologi- camente equilibrado, principalmente no que concerne à implementação de práticas de sustentabilidade, observando o princípio do desenvol- vimento sustentável e seus três pilares: desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado, nos termos da Declaração de Joanesburgo, de 2010. Dentre os benefícios econômico-financeiros oriundos das prá- ticas de sustentabilidade adotadas pelas empresas em decorrência de uma gestão socioambiental empresarial, destacam-se: reciclagem de resíduos; redução das emissões de gases de efeito estufa na atmos- fera; redução de resíduos que não são reaproveitáveis; economia de insumos, principalmente, de recursos não renováveis, nos processos produtivos; imagem verde perante a sociedade, alcançando um público mais diversificado de consumidores e outros. Destaca-se a ISO 14000, a qual traz um rol de diretrizes vi- sando que determinadas empresas públicas e privadas implementem a gestão ambiental, cujo objetivo é garantir o equilíbrio e proteção ambiental, prevenindo a poluição e os potenciais problemas que esta poderia trazer para a sociedade e economia. A série ISO 14000 é um conjunto de normas voltadas para a Gestão Ambiental de empresas de qualquer nível, tamanho ou área. Estas normas têm o objetivo principal de criar na empresa um Sistema de Gestão Ambiental e, com isso, re- duzir os danos causados ao meio ambiente. ÁREAS DE RESERVA LEGAL (ARL) NO CÓDIGO FLORESTAL Para fins de consultoria ambiental, é indispensável conhecer al- gumas áreas consideradas de preservação ambiental, nas quais algumas limitações são vislumbradas. Esse assunto é de extrema importância para os profissionais que tratam do agronegócio, sendo considerado em pauta. Consistem no percentual da vegetação nativa a ser preserva- da, existentes, apenas, em áreas rurais (artigo 12), cuja função é de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural (art. 3º, III, do Novo Código Florestal). Novamente, semelhante às áreas de Preservação Permanente (APPs), a natureza jurídica das áreas de Reserva Legal é de limitação administrativa à propriedade rural, não gerando indenização, por os- tentarem caráter de gratuidade. Neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça (STJ): 18 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S 3. "A obrigação de reparação dos danos ambientais é propter rem" (REsp1.090.968/SP, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 3.8.2010), sem pre- juízo da solidariedade entre os vários causadores do dano, descabendo falar em direito adquirido à degradação. O "novo proprietário assume o ônus de manter a preservação, tornando-se responsável pela reposição, mesmo que não tenha contribuído para o desmatamento. Precedentes" (REsp 926.750/ MG, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, DJ 4.10.2007; em igual sentido, entre outros, REsp 343.741/PR, Rel. Min. Franciulli Netto, Segunda Turma, DJ 7.10.2002; REsp 843.036/PR, Rel. Min. José Delgado, Primeira Turma, DJ 9.11.2006; EDcl no Ag 1.224.056/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Se- gunda Turma, DJe 6.8.2010; AgRg no REsp 1.206.484/SP, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 29.3.2011; AgRg nos EDcl no REsp 1.203.101/ SP, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Primeira Turma, DJe 18.2.2011). Logo, a obrigação de reflorestamento com espécies nativas pode "ser imediatamen- te exigível do proprietário atual, independentemente de qualquer indagação a respeito de boa-fé do adquirente ou de outro nexo causal que não o que se estabelece pela titularidade do domínio" (REsp 1.179.316/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 29.6.2010). 4. "O § 1º do art. 18 do Código Florestal quando dispôs que, 'se tais áreas estiverem sendo utilizadas com culturas, de seu valor deverá ser indeniza- do o proprietário', apenas criou uma regra de transição para proprietários ou possuidores que, à época da criação da limitação administrativa, ainda possuíam culturas nessas áreas" (REsp 1237071/PR, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 11.5.2011). 5. Recurso Especial não provido. (REsp 1240122/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 28/6/2011, DJe 11/9/2012) Outro importante julgado do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre a questão da inclusão da área de Reserva Legal na contabilidade do quantum debeatur devido na desapropriação do imóvel rural median- te apuração do cálculo de sua produtividade é o REsp. 1.235.220/ PR, 22/04/2014. Nele, o STJ entendeu que “não se encontrando averbada no registro imobiliário antes da vistoria, a reserva florestal não poderá ser excluída da área total do imóvel desapropriando para cálculo da produtividade do imóvel rural”. O Supremo Tribunal Federal (STF), tam- bém, já se pronunciou sobre o tema: 4. Para a exclusão das áreas de Preservação Permanente ou de Reserva Legal, estas devem estar devidamente averbadas no respectivo registro de imóvel. Não se encontrando individualizada na averbação, a reserva florestal não poderá ser excluída da área total do imóvel desapropriado para efeito de cálculo de produtividade (STF, MS 24924/ DF, 24/02/2011). Entretanto, deverá ser indenizada a cobertura florestal na área de Reserva Legal quando possível a exploração sustentável via manejo florestal, embora seja limitada, sendo inferior à área onde é permitido o corte raso da vegeta- 19 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S ção, nos termos do entendimento do Superior Tribunal de Justiça por ocasião do julgamento do REsp 867085/2007. A legislação prevê, no artigo 12, os percentuais de Reserva Legal a serem preservados nas propriedades rurais. Recomenda-se a leitura de tal dispositivo para fins de melhor compreensão. Há a possibilidade de elevação destes percentuais, a critério do Poder Público Federal, quando indicado pelo zoneamento ecológico econômico estadual para cumprimento de metas nacionais de proteção à biodiversidade ou de redução de gases de efeito estufa. Mas, tam- bém, podem ser reduzidos em relação às propriedades rurais localiza- das na Amazônia Legal. Quanto à localização da área de Reserva Legal no imóvel rural, deverá levar em consideração os seguintes estudos e critérios previstos no artigo 14: I - o plano de bacia hidrográfica. II - o Zoneamento Ecológico-Econômico. III - a formação de corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com Área de Preservação Permanente, com Unidade de Conservação ou com outra área legalmente protegida. IV - as áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade; e V - as áreas de maior fragilidade ambiental. Referente ao registro da área de Reserva Legal, esse deverá ser realizado no órgão ambiental competente por meio de inscrição no cadastro ambiental rural (CAR) sendo vedada a alteração de sua desti- nação nos casos de transmissão, a qualquer título, ou de desmembra- mento, salvo exceções. O registro da Reserva Legal no CAR dispensa a averbação no Cartório de Registro de Imóveis, sendo que, no período entre a data da publicação da nova legislação florestal e o registro no cadastro ambien- tal rural (CAR), cujo término foi adiado para 2018, o proprietário ou que desejar fazer a averbação terá direito à gratuidade deste ato. Apesar de ser facultativa, a averbação da Reserva Legal no Cartório de Registro de Imóveis, mediante entendimento jurispruden- cial, é recomendável para fins de obtenção de isenção do imposto terri- torial rural (ITR) para áreas de Reserva Legal. No final do julgado, perceba que a conclusão é de que a ne- cessidade do referido registro para obtenção da isenção do ITR não recai sobre as áreas de Preservação Permanente (APPs), mas apenas quanto às áreas de Reserva Legal. Outra questão referente ao ITR não contemplada pelo registro 20 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S é quanto à exclusão da base de cálculo deste imposto às áreas de flo- resta nativa, áreas de Preservação Permanente, áreas de Reserva Le- gal, de interesse ecológico e às imprestáveis para qualquer exploração agrícola, pecuária, granjeira, aquícola ou florestal, e as que estiverem sob regime de servidão ambiental, consoante ao previsto no artigo 10, II, §1º, da Lei n. 9.393/96. Para maior proteção às áreas de Reserva Legal, é vedado o des- matamento e o corte raso, entretanto, é admissível a exploração econômi- ca da Reserva Legal mediante manejo sustentável, previamente aprovada pelo órgão competente do Sisnama. Em regra, o proprietário do imóvel rural deverá manter a vegetação nativa para cômputo dos percentuais exigíveis, entretanto, o artigo 54 do Novo Código Florestal prevê a exceção de serem computados os plantios de árvores frutíferas, ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóticas, cultivadas em sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas da região em sistemas agroflorestais. Apesar de toda a exigência da previsão de área de Reserva Legal corroborando para a proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado, há a possibilidade de sua dispensa quanto às obras públi- cas; empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto, e nas áreas adquiridas ou desapropriadas por concessão, permissão ou autorização para explorar potencial hidráulico, visando à geração de emergência elétrica, linhas de transmissão e distribuição. Não obstante à dispensa apresentada no parágrafo acima, as áreas de Reserva Legal poderão ser extintas quando ocorrer o registro do parcelamento do solo, ou seja, conter as melhorias que se caracte- rizam como zona urbana, aprovada conforme a legislação específica e diante das diretrizes do Plano Diretor. Antes disso, não está desobriga- do o proprietário ou posseiro da manutenção da área de Reserva Legal. Por último, a área de Preservação Permanente (APP) prevista em uma propriedade rural poderá ser utilizada para o cômputo da área de Reserva Legal. Por fim, vale destacar que haverá a possibilidade de o possuidor recompor, a qualquer título, a área de Reserva Legal, caso detivesse, até 22 de julho de 2008, área inferior ao expresso no art. 12, independentemente de adesão ao Programa de Regularização Ambien- tal (PRA), desde que adote as alternativas dispostas no art. 66. A recomposição poderá ser realizada mediante o plantioin- tercalado de espécies nativas com exóticas ou frutíferas, em sistema agroflorestal, desde que o plantio de espécies exóticas seja combinado com as espécies nativas de ocorrência regional. A área recomposta com espécies exóticas não poderá exceder a 50% (cinquenta por cento) da área total a ser recuperada. As medidas de compensação não poderão ser utilizadas como 21 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S forma de viabilizar a conversão de novas áreas para uso alternativo do solo. É importante destacar que nos imóveis rurais que detinham, em 22 de julho de 2008, área de até 4 (quatro) módulos fiscais e que pos- suíam remanescente de vegetação nativa em percentuais inferiores ao previsto no art. 12, a Reserva Legal foi constituída com a área ocupada com a vegetação nativa existente em 22 de julho. Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais que realizaram supressão de vegetação nativa respeitando os percentuais de Reserva Le- gal previstos pela legislação em vigor à época em que ocorreu a supressão são dispensados de promover a recomposição, compensação ou regene- ração para os percentuais exigidos pelo Novo Código Florestal de 2012. Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais, na Amazônia Legal, e seus herdeiros necessários que possuam índice de Reserva Legal maior que 50% (cinquenta por cento) de cobertura florestal e não realiza- ram a supressão da vegetação nos percentuais previstos pela legislação em vigor à época poderão utilizar a área excedente de Reserva Legal tam- bém para fins de constituição de servidão ambiental, Cota de Reserva Am- biental - CRA e outros instrumentos congêneres previstos nesta Lei. SUSTENTABILIDADE E A CONSULTORIA AMBIENTAL O princípio do desenvolvimento sustentável visa harmonizar o crescimento econômico, a preservação ambiental e a equidade social. Quanto à equidade social, vale salientar que faz parte do desenvolvi- mento sustentável, porque foi abandonado o paradigma do preserva- cionismo para o ambientalismo social. Não adianta ter unidade de con- servação ao redor de favelas e pessoas carentes, pois acabar-se-ia por incentivar invasões à unidade de conservação; o ser humano é incrus- tado na análise da questão ambiental. A primeira vez que o desenvolvimento sustentável foi tratado foi na Conferência de Estocolmo, em 1972, em que se referiu à abor- dagem do ecodesenvolvimento, no entanto, nesta ocasião, o termo “de- senvolvimento sustentável”, não foi utilizado. Pode-se dizer que é o casamento com a solidariedade ou equida- de intergeracional, a fim de atender as necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade das gerações futuras de também terem suas necessidades atendidas. Trata-se, assim, de usar recursos naturais para satisfazer as necessidades atuais, mas, também, olhar para frente em uma ética solidária, apresentando-se, aqui, o aspecto ético do Direito Ambiental. Há, também, o aspecto do diálogo da economia com a ecologia. Percebe- -se que, como a sustentabilidade trabalha com o crescimento econômico e 22 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S com o desenvolvimento com preservação, é inevitável analisar as relações entre economia e ecologia do ponto de vista da sustentabilidade. Entretanto, ainda que esse conceito seja criticado por alguns especialistas, ele é consolidado e pode ser utilizado, olhando-se para o porvir, com uma ética solidária. Por exemplo, é possível evitar a chama- da obsolescência programada, exemplificada com empresas de celular que deixam defeitos nos aparelhos —como lentidão e problemas com a bateria — de modo a forçar uma nova compra. Esse exemplo pode ser analisado sob a vertente do direito do consumidor e sob a vertente do Direito Ambiental: lixo eletrônico danoso ao meio ambiente. O princípio do desenvolvimento social foi trabalhado, também, na Declaração do Rio/92, em que o princípio 4 trata do desenvolvimento com proteção ambiental e o princípio 5 trata da erradicação da pobreza. Está consubstanciado, também, nos arts. 170 e 225, ambos da Consti- tuição Federal de 1988. Conforme visto, a sustentabilidade trabalha com o aspecto éti- co de proteger o meio ambiente, fazer crescer a economia e garantir a equidade social — esses três elementos corporificam o conceito do direito sustentável. Contudo, somente o aspecto ético não resolve o pro- blema, sendo necessários, também, estímulos, induções econômicas, a sanção premial, o método indutor de condutas que reflete em serviços ecossistêmicos que serão prestados em favor de todos. Suponha que o juiz, ao julgar um dano ambiental, como o ocorri- do em Mariana por exemplo, não olhe somente para trás, como disposto na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro; ele deve ser con- sequencialista, ou seja, como é seu papel clássico, deve olhar para trás, para o dano, de forma a fixar indenização, mas, também, deve olhar para frente, para evitar que as tragédias do passado se repitam no presente. Da mesma maneira, os estímulos econômicos têm esse as- pecto consequencialista, ou seja, o pagamento por serviços ambientais. Porém, isso ocorre na mão inversa: enquanto na responsabilidade ci- vil direciona-se para um dano que já ocorreu, aplicando-se o princípio do poluidor/pagador, que densifica a responsabilidade civil. Na questão dos estímulos econômicos são induções, aplicando-se o princípio do protetor-recebedor, que traz benefícios que irão se reverter em favor da coletividade. Paga-se, nesse caso, por um serviço ambiental, pois o ser- viço ecossistêmico que o particular ajuda a preencher, mantendo uma Reserva Legal em área maior do que a exigida ou colocando placas de energia solar na residência, por exemplo, reverterá em estímulos, como linhas de financiamento vantajosas e reduções tributárias, de forma que vale a pena prestar serviços ambientais. Busca-se, assim, que a econo- mia predatória torne-se uma economia circular, sustentável. O princípio 23 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S do protetor/recebedor está na Lei nº 12.305/02, da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ainda, há a Lei nº 13.186/15, que institui a Política de Educação para o consumo sustentável, que traz, em seu art. 1º, pará- grafo único, o conceito que deve ser objeto de leitura pelo aluno. Pelo conceito exposto no referido dispositivo, tem-se que o consu- mo sustentável é o que densifica o desenvolvimento sustentável. Consumo sustentável existe apenas se houver desenvolvimento sustentável. O de- senvolvimento sustentável tem sido cobrado em prova com certa frequên- cia, principalmente, no tocante à noção de Direito Ambiental como direito econômico ou da natureza econômica das normas de Direito Ambiental. Como exemplo de desenvolvimento sustentável fundamental tem-se o Informativo 830 do STF, que se refere à atividade econômica de mineração e meio ambiente no Estado do Pará. Nesse caso, há o meio ambiente do trabalho, que diz respeito aos trabalhadores, e o meio ambiente natural, com as severas implicações que a mineração causa. Inclusive, existe intenção de extração de ouro da região de Belo Monte pelo Projeto Volta Grande, da mineradora Canadense Belo Sun. Esse informativo diz respeito aos índios Xikrin, no Pará. Vale ressaltar que o então Presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, suspendeu uma liminar do TRF1 em ação movida pelo MPF. No tocante à suspensão de liminar, cabem alguns questiona- mentos, dentre eles, se o instrumento foi recepcionado. É interessante defender a crítica da suspensão de liminar, pois se trata de instrumento da ditadura, que fere o princípio do juiz natural, já que, nessa situação, o juiz natural decide e a decisão é suspensa até o trânsito em julgado. Desse modo, quando ocorrer o trânsito em julgado da decisão, a hidro-elétrica já estará construída e os recursos minerais já terão sido extra- ídos. Com isso, pelo fato consumado, ocorre violação da Súmula 613, do STJ, que determina que não é admitida a aplicação da teoria do fato consumado em Direito Ambiental. No caso concreto, o Supremo Tribunal Federal manifestou-se no sentido de que a exploração dos recursos naturais, portanto, deve dar-se de maneira sustentável, para preservar o ecossistema e a biodi- versidade para as presentes e futuras gerações. Entretanto, na espécie, afirmou que a paralisação das atividades econômicas de mineração na região poderia causar prejuízos elevados, imediatos e de difícil repara- ção ao estado do Pará. É curioso o fato de que, nesse caso concreto, o desenvolvi- mento sustentável se assemelha à dignidade da pessoa humana, tendo um baixo grau de densidade semântica, ou seja, é alegado por todos os lados da ação. O Plenário reformou a decisão do então presidente para inde- 24 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S ferir a suspensão de liminar, tendo em conta a proteção constitucional do art. 225, do art. 231 e da atividade econômica, ou seja, o desenvolvi- mento sustentável, passando novamente a valer a antecipação de tute- la recursal proferida pelo Desembargador Souza Prudente. Na decisão do desembargador, foi determinada a suspensão das atividades de mi- neração, o depósito de um milhão para as aldeias e, ainda, multa diária. Há, de um lado, o meio ambiente cultural, presente na comuni- dade indígena e, de outro, o crescimento econômico, que diz respeito à arrecadação, ao trabalho, à prestação de serviço. A análise do julgado se dá a partir da sustentabilidade, ressaltando-se que a suspensão de liminar é medida excepcional que pressupõe a existência de dano inafas- tável. Sendo assim, percebe-se, como no caso concreto, que a economia dialoga com a ecologia, sob o prisma da sustentabilidade. Existem as necessidades da economia, mas deve-se analisar se tais necessidades são predatórias ou prejudiciais para as gerações que estão por vir — a sustentabilidade fica bastante ligada à equidade intergeracional. A sustentabilidade atua do ponto de vista da sanção, em casos de violação do direito, para que o uso de um recurso ambiental seja pago e para que quem proteja esse recurso receba por isso. Nessa es- teira, há programas como o ICMS ecológico, AES "Recicle mais, pague menos", isenção de ITR para quem instituir Reserva Particular de Patri- mônio Natural, Programa Palmas Solar, entre outros. O ponto principal compreende a sustentabilidade, que exige o desestímulo daquilo que polui o planeta, como, por exemplo, combus- tíveis fósseis, redirecionando investimentos para energia limpa. A título de exemplo, em algumas cidades, quem usa gás natural nos veículos recebe abatimento no IPVA. Deve-se analisar em conjunto com a propriedade privada, que não mais é absoluta, a função socioambiental, o limite condicionante, a defesa do meio ambiente, a redução das desigualdades regionais e so- ciais. No tocante ao princípio da igualdade acima citado, cabe ressaltar que a defesa do meio ambiente e da sustentabilidade são adequadas para fazer o discrimen. A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO E DA PRE- CAUÇÃO Ambos os princípios buscam evitar a ocorrência dos danos ambientais. Contudo, a prevenção incide nos danos já conhecidos e a precaução incide nos danos que ainda não são conhecidos. Busca-se evitar o dano ambiental, pois é melhor do que ter que remediá-lo. Muitas 25 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S vezes, o dano ambiental é irreversível ou de difícil reparação in natura; nesse caso, dá-se preferência à recomposição específica; se não for possível, somente em última instância pensa-se em sucedâneo econô- mico. Embora teoricamente e doutrinariamente prefira-se a recomposi- ção específica, a depender da peculiaridade do caso concreto, o MPF já pede diretamente o sucedâneo econômico (quando, por exemplo, a recomposição específica é muito difícil). A precaução que incide quando os danos ainda não são conhe- cidos possui efeito material, in dubio pro natura, e a inversão do ônus da prova como efeito processual, nos termos da "Jurisprudência em Teses". Em outras palavras, a prevenção ocorre quando há certeza científica e a precaução ocorre quando há incerteza científica. A preven- ção, por ser mais óbvia, foi estabelecida na Declaração de Estocolmo de 72 e a precaução, por ser mais indireta, foi estabelecida somente na Declaração do Rio de 92. Ambos os princípios são extraídos do art. 225 da Constituição. No tocante ao EIA, disposto no art. 225, § 1º, inciso IV, este densifica a prevenção, embora a precaução também seja avaliada no EIA; en- tretanto, o foco principal do EIA é a prevenção (o EIA é eminentemen- te preventivo; ele concretiza a prevenção, pois trabalha com medidas mitigadoras, compensatórias e de controle para danos já conhecidos). Pode-se dar como exemplo de prevenção a mineração, visto que já se sabe quais os danos da atividade de exploração de minerais. No tocante à PNMA, vale a leitura dos arts. 2º e 4º. O art. 2º trata de fins abstratos para a doutrina, e o 4º trata de fins concretos. O art. 2º fala em "princípios", embora elenque muitos incisos que não são, de fato, princípios. Entretanto, se a questão cobrar os "princípios" da PNMA, deve-se responder de acordo com o previsto nesse artigo (a recuperação de áreas degradadas, embora não seja princípio, foi elencada nesse artigo como princípio — e para as minera- doras é uma exigência constitucional). O art. 4º fala que "visará" (objetivará) compatibilizar o cresci- mento econômico com a preservação ambiental — assim, se a questão afirmar que segundo a lei da PNMA se visará à compatibilização do desenvolvimento com a preservação, a questão estará correta, pois, embora seja um princípio, a lei trata como objetivo. No tocante aos transgênicos e às antenas de telefonia celular (ERB — estação de rádio base), referem-se a estas situações de precau- ção, pois não é possível ter certeza acerca dos danos que podem causar. Acerca do tema dos transgênicos, sob a ótica da repartição de competências, é importante destacar que existe lei federal que per- mite transgênicos, desde que atendidas condições de segurança e o 26 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S princípio da informação (o consumidor deve saber que está comprando transgênico). Foi editada, portanto, uma lei no Paraná proibindo, em seu território, o consumo e a comercialização de transgênicos. Em face des- sa lei, foram propostas a ADI nº 3035 e a ADI nº 3045, através das quais o STF determinou que não pode a lei estadual, a pretexto de exercer a competência legislativa concorrente (art. 23, VI, CF e art. 24, VI, CF), desdizer a norma geral estabelecida pela União, dessa forma, a lei do Paraná foi declarada inconstitucional. Diferente é o caso do amianto crisotila — a norma federal tor- nou-se inconstitucional (art. 2, Lei 9.055), permitindo que os estados de SP e do RS editassem leis proibindo o amianto crisotila. Retornando à análise da prevenção, o art. 225, IV traz a questão do EIA (já comenta- da): é exemplo de prevenção, mas, também, materializa a precaução. O art. 225, V, traz a questão dos agrotóxicos, que possuem um risco já conhecido. Trata-se, assim, de outro exemplo de dever do Poder Público que materializa a prevenção. Portanto, são exemplos de prevenção os incisos IV e V do art. 225, que trazem, respectivamente, o EIA e os agrotóxicos. A precaução, por sua vez, está no Princípio 15 da Declaração do Rio de 92. É necessário, entretanto, haver uma válvula de escape, pois se houver aplicação da precaução para tudo o que não é conhe- cido, haverá paralisação da economia. Por isso,a precaução se aplica somente para riscos graves, sérios e irreversíveis. Portanto, com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utiliza- da como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental. O STJ decidiu pela inversão do ônus da prova, pela precaução e pelo diálogo de fontes. Assim, a inversão do ônus da prova é prevista no CDC pelo conceito de hipossuficiência, enquanto no Direito Ambiental ela é prevista pela relevância do bem jurídico tutelado, principalmente nos casos em que a precaução se aplica (danos graves, sérios e irreversíveis). Por- tanto, embora no direito do consumidor a inversão do ônus da prova pos- sua outro fundamento, existe um diálogo de fontes no microssistema pro- cessual coletivo (sistema de vasos comunicantes/influências recíprocas). Os diplomas internacionais que mencionam a precaução são: a Convenção sobre a Diversidade Biológica, a Declaração do Rio de 1992, o Protocolo de Kyoto e a Convenção Quadro sobre mudanças do clima. Além disso, tem-se a Encíclica do Papa Francisco "Laudato Si", que visava à COP de Paris. 27 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S Quanto à expressão "refugiados ambientais", trata-se de uma expressão consagrada, que pode ser utilizada, mas que não existe na Lei Brasileira do Refúgio (Lei nº 9.433/97). Entretanto, na Lei Nova de Migrações (Lei nº 13.445/17) há a possibilidade de acolhimento, por questões ambientais, mas não como refugiados. Essa nova lei revogou o antigo Estatuto do Estrangeiro — tratando-se de lei nova, é importante a sua leitura, pois, certamente, será cobrada em provas. Esse acolhi- mento, que não se trata de situação de refúgio, já foi realizado no Brasil antes da nova Lei de Migrações, mas, agora, está positivado em lei. São exemplos de causas passíveis de gerar nova onda de re- fugiados: as mudanças climáticas, a inflação e os eventos climáticos ex- tremos. O fracking (fraturamento hidráulico) está proibido no Brasil, por liminares judiciais, pelo princípio da precaução, pois não se sabe quais são os seus possíveis danos. Há documentário disponível na internet sobre o fracking. Há, ainda, o Informativo 829 do STF, que concedeu in- terpretação restritiva ao princípio da precaução, em relação aos campos eletromagnéticos de energia hidroelétrica. 28 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 (OAB — IX EXAME DE ORDEM — FGV — 2012) A Lei Complementar n. 140 de 2011 fixou normas para a cooperação entre os entes da federação nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativa ao meio ambiente. Sobre esse tema, assinale a afirmativa correta. a) Compete à União aprovar o manejo e a supressão de vegetação, de florestas e formações sucessoras em Áreas de Preservação Ambientais – APAs. b) Compete aos Estados e ao Distrito Federal controlar a introdução no País de espécies exóticas potencialmente invasoras que possam amea- çar os ecossistemas, habitats e espécies nativas. c) Compete aos municípios gerir o patrimônio genético e o acesso ao conhecimento tradicional associado, respeitadas as atribuições setoriais. d) Compete à União aprovar a liberação de exemplares de espécie exó- tica da fauna e da flora em ecossistemas naturais frágeis ou protegidos. QUESTÃO 2 (CELG/D-GO — ANALISTA TÉCNICO - ENGENHEIRO DE MEIO AM- BIENTE — CS-UFG — 2014) A sequência das etapas de licenciamento ambiental é: a) Concepção do sistema, projeto básico e projeto executivo. b) Estudo preliminar, estudo primário e estudo secundário. c) Licença de concepção, licença de implantação e licença de operação. d) Licença preliminar, licença de instalação e licença de operação. e) Licença preliminar, licença posterior e licença final. QUESTÃO 3 (TJ-RJ — JUIZ — VUNESP — 2013) A natureza jurídica do licenciamento ambiental é: a) de competência concorrente do Poder Executivo e do Poder Legislativo. b) de poder de polícia, exclusivamente vinculado ao Poder Executivo. c) dependente da definição estabelecida pelas Constituições Estaduais. d) de poder de polícia, passível de apreciação complementar do Poder Legislativo. QUESTÃO 4 (UNESP — ASSISTENTE DE SUPORTE ACADÊMICO II/ENGENHA- RIA AMBIENTAL — VUNESP — 2015) O licenciamento ambiental é realizado quando: 29 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S a) houver instalação, ampliação e operação de empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos naturais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras. b) a Prefeitura do Município onde se implantará o empreendimento uti- lizador de recursos naturais julgar necessária a realização desse pro- cedimento. c) o Ministério Público de Meio Ambiente determinar tal procedimento, independentemente de o empreendimento ou a atividade ser conside- rada perigosa. d) a atividade ou o empreendimento que, sob qualquer forma possa cau- sar degradação ambiental, sofre alteração de projeto social e trabalhista. e) ocorrer a implantação de todo e qualquer tipo de empreendimento ou atividade em área urbana com população acima de 100000 habitantes. QUESTÃO 5 (SP-URBANISMO — ANALISTA DE DESENVOLVIMENTO — VU- NESP — 2014) O procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental autori- za a localização, instalação, ampliação e operação de empreendi- mentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, conside- radas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental é: a) O Direito Ambiental. b) O impacto ambiental. c) O licenciamento ambiental. d) O exploração ambiental. e) O zoneamento ambiental. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE As avaliações de impactos ambientais são consideradas como instru- mentos da Política Nacional do Meio Ambiente e estão presentes du- rante o licenciamento ambiental, quando indispensável à elaboração do EIA/RIMA. Sobre este importante estudo, correlacione-o com o sistema de gestão ambiental, principalmente, sobre sua importância no cená- rio atual das grandes empresas diante da implementação da AGENDA 2030 pelo Brasil na posição de um consultor jurídico que preste consul- toria a uma grande empresa mineradora. TREINO INÉDITO Sobre as licenças ambientais previstas na Resolução CONAMA 237/97, assinale a alternativa correta: a) A referida norma contempla, apenas, a licença de instalação. 30 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S b) A referida norma prevê as seguintes licenças: prévia, de instalação e de operação. c) O estudo de impacto ambiental, quando solicitado, deverá ser apre- sentado antes da concessão da licença prévia. d) Acaso o empreendedor opere seu empreendimento desamparado da licença de operação não ocorrerão repercussões na esfera penal. e) O estudo de impacto ambiental sempre será exigido. NA MÍDIA BOMBRIL MUDA EMBALAGEM APÓS DENÚNCIA DE FALSO APE- LO ECOLÓGICO Conar pediu retirada do termo “100% ecológico” e advertiu empresa. Denúncia de “maquiagem ambiental” foi apresentada pela Proteste em 2013. A Bombril decidiu mudar a embalagem da sua esponja de aço e retirar a expressão “100% ecológico”, após ter seu recurso rejeitado pelo Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) em julgamen- to de processo por falso apelo ambiental. Data: 04 ago. 2016. FONTE: (PORTAL G1, 2016). Disponível em: <http://g1.globo.com/eco- nomia/midia-e-marketing/noticia/2016/08/bombril-muda-embalagem- -apos-denuncia-de-falso-apelo-ecologico.html>. Acesso em: 25/02/22 NA PRÁTICA O consumo sustentávelvem ganhando força no Brasil, principalmente, no público jovem, em decorrência da viabilidade da educação ambiental na prática. Este fenômeno vem contribuindo significativamente para que as gran- des empresas adotem práticas de sustentabilidade, consoante se reco- menda uma consultoria ambiental bem elaborada. Tal fato é de extrema importância, ainda mais no cenário que vivenciamos referente ao aque- cimento global. No âmbito empresarial, é importante que os grandes empreendedores adotem tais práticas para fins de amenizar os impactos gerados. Um grande exemplo é a adoção da coleta seletiva, a qual contribui para a diminuição da produção de resíduos sólidos, como no caso de Santos/ SP, noticiado no jornal DIÁRIO DO LITORAL. Data: 17 abr. 2019 FONTE: (DIÁRIO DO LITORAL, 2019). Disponível em: < https://www. diariodolitoral.com.br/cotidiano/coleta-seletiva-gera-emprego-e-promo- ve-consciencia-ambiental-em-santos/124790/>. Acesso em: 25/02/22. 31 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S PARA SABER MAIS Título: O impacto do vazamento de petróleo no Nordeste. Data: 14 out. 2019. Fonte: (ISTO É, 2019). Disponível em: <https://www.istoedinheiro.com. br/o-impacto-do-vazamento-de-petroleo-no-nordeste/>. Acesso em: 25/02/22. 32 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S Como mencionado no capítulo anterior, a consultoria ambiental é de extrema importância, uma vez que possui como finalidade principal afastar eventuais custos ambientais que oneram as pessoas jurídicas, em decorrência das externalidades negativas oriundas de práticas que ensejam danos ambientais. IMPACTO AMBIENTAL Importante é a definição sobre impacto ambiental trazida pela Resolução CONAMA 01/86, em seu art. 1º (a leitura pelo aluno se faz necessária). Embora o conceito amplo que a Resolução CONAMA 01/86 trouxe, outra Resolução CONAMA, a 237/1997, em seu art. 1º, III, A NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE CONSULTORIA AMBIENTAL PARA AS EMPRESAS C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S 32 33 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S estabeleceu a definição de impacto regional, indispensável para a defi- nição de parâmetros quanto ao licenciamento de atividades ambientais que possuam características próprias. Por fim, vale a pena conhecer a definição da ISO 14001. A nor- ma exige que as empresas se comprometam com a prevenção da po- luição e com melhorias contínuas, como parte do ciclo normal de gestão empresarial: “Qualquer modificação do ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no seu todo ou em parte, das atividades, produtos e servi- ços de uma organização”. OPINIÃO CONSULTIVA 23/17 Uma situação interessante, a qual decorre de uma provável ausência de consultoria ambiental empresarial, ou de uma má presta- ção do serviço, é o desastre ambiental oriundo da indústria EXPRO- PER. Destaca-se uma questão recente analisada pela Corte Interame- ricana de Direitos Humanos na Opinião Consultiva 23/17, proferida em 15.11.2017, solicitada em 14 de março de 2006, pela Colômbia, no que tange às obrigações dos Estados quanto ao meio ambiente ecologica- mente equilibrado e o direito à vida e à integridade pessoal, tutelados pela Convenção Americana (artigos 1.1, 2º, 4º e 5º), cujo objeto prin- cipal é quanto à interpretação do Pacto de Sam José diante do risco eminente de grandes obras de infraestruturas que possam afetar o meio ambiente marinho na região do mar caribenho e, em decorrência disso, o pleno gozo dos direitos humanos dos habitantes da região costeira. Quanto aos questionamentos realizados pelo Estado da Co- lômbia, a Corte Interamericana, ao proferir sua opinião consultiva já mencionada, correlacionou a proteção ao meio ambiente ecologica- mente equilibrado e outros direitos humanos, respaldando-se em diver- sas normas e sistemas internacionais que compreendem tal correlação. Mazuolli (MAZUOLLI, 2019, p. 777) discorre que a Corte com- preendeu que os Estados-parte da Convenção Americana possuem a obrigação de tutelar os direitos consagrados a todo indivíduo sujeito à sua jurisdição, devendo o Estado ser responsável perante condutas le- sivas, não se limitando ao espaço territorial do próprio Estado, com isso, respondendo aos questionamentos feitos no item 1. Interessante destacar que a Corte, ao proferir o entendimento de que os Estados possuem o dever de fiscalizar e supervisionar as ativi- dades de empresas que possam lesar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, também compreendeu que as próprias empresas devem atu- ar conforme os preceitos legais no que concerne às boas práticas de sus- 34 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S tentabilidade e proteção do meio ambiente com o intuito de mitigarem ao máximo os impactos que suas atividades possam ocasionar, isto porque os “Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos”, docu- mento formado por 31 princípios, aprovado pelo Conselho de Direitos Hu- manos da ONU, em 16 de junho de 2011, cujo objetivo é de impedir que as empresas violem os Direitos Humanos ao exercerem suas respectivas atividades, implementando o programa “Proteger, Respeitar e Reparar”, previstos em três pilares (MAZZUOLLI, 2018, p. 536 - 537). No cenário atual, imprescindível é correlacionar tais obriga- ções com os desastres de Mariana e Brumadinho, ocasionados pelo rompimento de barragens, operadas pela empresa Vale, no Estado de Minas Gerais, ocasionando danos ambientais e prejuízos a uma quanti- dade exorbitante de indivíduos domiciliados ao longo dos rios e bacias hidrográficas afetadas, além da morosidade de serem indenizados. Os princípios do “Acesso à Reparação” garantem que, quando os indivíduos forem prejudicados por atividades empresariais, deve ocorrer tanto a responsabilização efetiva e a reparação adequada, judicial e não judicial, algo que não é colocado em prática, muitas vezes, por empresas que operam no Brasil, autoras de grandes desastres ambientais, como os citados. Ocorre que tais princípios são considerados como meras reco- mendações, isto é, normas soft law, não obrigando os Estados a segui-los ou desrespeitá-los, entretanto, as normas domésticas, conforme dispõem Convenções e Tratados Internacionais sobre Direito Ambiental, de natureza hard law, devem prever mecanismos de proteção aos Direitos Humanos, além da fiscalização e da repressão aos infratores que ocasionem lesão a qualquer direito humano, dentre eles, o direito ao meio ambiente ecologica- mente equilibrado, seja o autor do dano uma pessoa física ou uma pessoa jurídica. É inaceitável que quem lese um direito humano seja considerado impune, principalmente, em âmbito judicial, além da morosidade quanto à resposta aos terceiros, vítimas de desastres ambientais. GESTÃO DE FLORESTAS PÚBLICAS Neste ponto da matéria, será abordada a gestão de florestas públicas, que está prevista na Lei 11284/06, a qual complementa o regi- me de proteção às florestas, previsto no Código Florestal, a ser objeto de estudo na próxima unidade, com a proteção das florestas públicas. A referida legislação visa a gestão de florestas públicas para produção sustentável. Institui o Sistema Florestal Brasileiro e cria um fundo. É preciso fazer a leitura dos princípios das florestas públicas, previstos no art. 2º. Também, é preciso ler os conceitos legais, previstos 35 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S no art. 3º, sendo o conceito de concessão florestal o mais importante, previsto no inciso VII, a ser consultado pelo leitor. A gestão de florestas públicas pode se dar, segundo o art. 4º da Lei n. 11284/06,através da criação de floresta nacional, estadual ou muni- cipal, de destinação às comunidades locais ou de concessão florestal, que está prevista no art. 3º, VII da L 11284/06. A estrutura da Lei n. 11284/06 visa à proteção de florestas públicas e o principal elemento trazido é a concessão florestal. Vale mencionar que a concessão florestal é um ins- trumento econômico da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) (art. 9º, XIII, da Lei n. 6938/81). Esse dispositivo dá um rol exemplificativo de instrumentos econômicos, dentre os quais está a concessão florestal. Essa concessão é regulamentada na Lei n. 11284/06 (Lei das Florestas Públicas). Essas florestas públicas podem ser concedidas por licitação; pode ser criada uma RESEX (Reserva Extrativista) ou REDE- SUS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável); ou pode haver uma concessão de uso. A RESEX e REDESUS são unidades de conservação de uso sustentável da Lei n. 9985/00 (Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC) que visam a tutelar o meio ambiente cultural. A destinação das florestas públicas deve ser feita antes de uma concessão florestal. O art. 17 da Lei do SNUC também trabalha com a ideia de Floresta Nacional (Flona), que é justamente o objeto da concessão florestal. A Flona, que é uma floresta pública e pode ser concedida por concessão florestal, segundo o art. 17 da Lei 9985/00, é, necessariamente, de posse ou domínio público. Antes da concessão florestal, que é por licitação para pessoa jurídica, as florestas públicas que já estejam ocupadas ou utilizadas de- vem ser identificadas e destinadas, portanto, à ação. Recorda-se de uma ação em Itaituba: queriam fazer uma concessão florestal e o MPF alegava que estava ocupada por comunidade local. Era preciso, antes disso, haver criado uma reserva extrativista ou concedido o uso. Não podia, assim, ser feita a concessão florestal. A destinação prevista no §1º é feita de forma não onerosa para o beneficiário, ao contrário da concessão florestal, que é um instrumen- to econômico. No âmbito da gestão florestal, é indispensável conhecer um pouco sobre as licenças ambientais indispensáveis. Os conceitos de licença prévia, de instalação e de operação estão no art. 18, da Re- solução CONAMA 237/97, os quais devem ser conhecidos pelo leitor a partir da leitura do dispositivo em questão, destacando a licença prévia, a licença de instalação e a licença de operação. O prazo de validade da licença prévia é de até 5 anos; já o da li- 36 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S cença de instalação é de até 6 anos. Ambas podem ser prorrogadas, des- de que se respeite o prazo máximo indicado. A licença de instalação pode ter entre 4 e 10 anos e pode ser renovada, devendo ser solicitada com o prazo mínimo de antecedência de 120 dias. Se não for apreciado, há a prorrogação automática (art. 18, §4º, da Resolução CONAMA 237/97). Suponha que se faz a licitação, nesse caso, sendo determina- da a pessoa jurídica, torna-se vencedora. Ela terá a licença prévia e o plano de manejo florestal sustentável. Nesse caso, ela já terá a licença de instalação e de operação. Portanto, cada situação tem sua particularidade. A Resolução CONAMA 237/97 é a norma geral. Entretanto, se houver a concessão florestal, a licitação automaticamente ganhará a licença prévia de insta- lação e operação. Vale destacar que a Lei n. 11284/2006 também cria o Serviço Florestal Brasileiro, o qual realiza a gestão das florestas públicas. Outro artigo bastante importante é o art. 13, segundo o qual a licitação deve ser por concorrência e é vedada a decretação da inelegibilidade da lici- tação. Desse modo, as licitações para concessão florestal observarão essa determinada legislação e, apenas supletivamente, a lei própria. BIOSSEGURANÇA Das leis centrais de Direito Ambiental, em termos de uma políti- ca nacional, a Lei da Biodiversidade é a mais recente. Antes dela, havia uma Medida Provisória de 2001 que era sucessivamente reeditada; eram as Medidas Provisórias antes da Emenda 32/2001 que tiveram efeito ex nunc, ou seja, as Medidas Provisórias que eram sucessivamente reedita- das poderiam continuar a sê-lo, mesmo após a vigência da EC 32/2001. A Lei da Biodiversidade protege o patrimônio genético e o co- nhecimento tradicional a ele associado. Já a Lei da Biossegurança tu- tela o patrimônio genético humano, bem como a questão da clonagem, reprodução e utilização de células- tronco. Registra-se que o ponto principal da Lei de Biodiversidade re- side nas chamadas condições in situ (dentro do habitat natural) e ex situ (fora do habitat natural). Como sempre, nas leis ambientais, o início é muito importante. Primeiramente, o fundamento das Leis 13.123/15 e 11.105/95 é o art. 225, da CF/88. Observa-se que a parte final do dispositivo diz respeito à Lei de Biossegurança, e a parte inicial — patrimônio genético e o conhe- cimento tradicional a ele associado — corresponde à Lei da Biodiversida- de. O Brasil é o país com a maior biodiversidade do mundo, sendo que 37 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S a Lei de Biodiversidade também regulamenta o art. 225, §4º, da CF/88. Neste assunto, há convenções internacionais das quais o Brasil é signatário, basicamente: a CDB (Convenção da Diversida- de Biológica) e o Protocolo de Nagoya ou de Cartagena, que estão juntos com a CDB. O ponto é que a Lei 13.123/15 buscou, dentro do Brasil, con- cretizar as bases estabelecidas na Convenção da Diversidade Bioló- gica, sendo que o Brasil possui a maior diversidade do mundo, e boa parte dela está na Amazônia. A questão da biodiversidade está presente na indústria farma- cêutica e de cosméticos que vem ao Brasil, pega um princípio ativo de uma árvore e faz um perfume ou um remédio. Como isso tem um valor agregado muito elevado, deve-se ter uma repartição de benefícios com aqueles que detêm o conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético, que temos em razão da nossa biodiversidade. Trata-se de regular a parte mais forte (empresas farmacêuticas e cosméticas) e a parte mais fraca (os povos e comunidades tradicionais). Ressalta-se que a Lei protege o in situ e o ex situ se for encon- trado in situ no Brasil, na plataforma continental, no mar territorial ou na zona econômica exclusiva, conceitos que estão na Lei 8.617/93. Regis- tra-se que o conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético é muito relevante, ainda que detido por um único membro da comunidade. O inciso V, do art. 1º, da Lei n. 13.123/2015 é muito importante. Versa sobre a repartição de benefícios, a qual deve ser justa e equita- tiva, podendo ser monetária ou não monetária, derivada, por exemplo, da exploração do remédio, produto acabado ou cosmético, e que tem elevado valor. Destaca-se que a parte do conhecimento tradicional as- sociado é muito relevante para a formação desse valor. Vale destacar que deve ser paga a repartição de benefício, mo- netário ou não, e também a propriedade material ou imaterial, pois se trata de outra coisa e não há relação. Por exemplo, se houver o registro pela indústria farmacêutica, ainda assim, deve haver a repartição de benefícios sobre patrimônio genético ou conhecimento tradicional a ele associado. Tem-se que a Lei n. 13.123/15 trata do patrimônio genético como bem de uso comum do povo, sendo que os conceitos estão pre- vistos em seu art. 2º. O in situ corresponde ao patrimônio genético que 38 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S está em ecossistemas e habitats naturais. Portanto, in situ é dentro do habitat — enquanto ex situ é fora — e inclui espécies domesticadas ou cultivadas e populações espontâneas. O ex situ diz respeito ao patrimônio genético mantido fora de seu habitat natural. Porém, somenteé protegido se for encontrado em condi- ções in situ no Brasil ou na plataforma continental, no mar territorial e na zona econômica exclusiva, por outro lado, o in situ é sempre protegido. Em relação aos conceitos legais, há muitos no art. 2º da Lei de Biodiversidade. Alguns muito relevantes para fins de prova e outros nem tanto; outros mais usuais para a prática. Por exemplo, o conhecimento tradicional associado é importante. Registra-se que a Convenção 169 da OIT, quando menciona os povos indígenas, refere-se aos povos indígenas e tribais, sendo que os últimos são entendidos como as comunidades tradicionais. Essa é a li- nha adotada pelo Ministério Público Federal. O conhecimento tradicional associado pode ser de origem identificável ou não identificável. Será não identificável quando não houver possibilidade de identificar sua origem. Pontua-se que as comunidades tradicionais possuem uma an- cestralidade e uma posteridade, ou seja, um ontem, um hoje e um ama- nhã, aspecto que foi inclusive estabelecido no caso da Raposa Serra do Sol. Ademais, os conhecimentos utilizados pelas comunidades tradicio- nais recebem tratamento coletivo ainda que somente um indivíduo da comunidade detenha o conhecimento tradicional associado. Também, é importante o consentimento prévio e informado, con- forme o art. 2º, VI, da Lei n. 13.123/15, isto é, não é necessariamente a re- gra da maioria. Deve-se verificar como funciona o uso, costume, tradição ou protocolo da comunidade, sem impor definições de forma heterônoma. É interessante observar que a Convenção 169 da OIT fala em consulta prévia e informada, isto é, não precisa do consentimento, ape- nas da consulta. A Lei da Biodiversidade, por sua vez, vai além e men- ciona sobre o consentimento. Suponha que há um princípio ativo que uma determinada indústria farmacêutica necessita, contudo, a comuni- dade não concorda com aquilo, nem se houver repartição de benefícios. Como possui origem identificável, o conhecimento tradicional associado a esse patrimônio genético pertence àquele grupo. Portanto, o acesso fica condicionado ao consentimento prévio da comunidade e vai além da Convenção 169 da OIT, que fala em consulta prévia e informada. O conceito de agricultura tradicional também é relevante e con- siste em uma pessoa que mantém e conserva a diversidade genética, in- cluindo o agricultor familiar, nos termos do art. 2º, XXXI, da Lei n.13.123/15. Destaca-se ainda: 39 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S Art. 3º O acesso ao patrimônio genético existente no País ou ao conhecimento tradicional associado para fins de pesquisa ou desenvolvimento tecnológico e a exploração econômica de produto acabado ou material reprodutivo oriundo desse acesso somente serão realizados mediante cadastro, autorização ou noti- ficação, e serão submetidos a fiscalização, restrições e repartição de benefícios nos termos e nas condições estabelecidos nesta Lei e no seu regulamento. Parágrafo único. São de competência da União a gestão, o controle e a fiscali- zação das atividades descritas no caput, nos termos do disposto no inciso XXIII do caput do art. 7º da Lei Complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011. Esse aspecto é importante, porque aparece em prova. Consta no art. 7º da LC 140/2011, que se trata de uma ação administrativa da União em gerir o patrimônio genético e o conhecimento tradicional a ele associado. Salienta-se que a Lei de Biodiversidade (art. 6º) criou um Con- selho de Gestão do Patrimônio Genético com representação de vários setores: empresa, academia, povos indígenas, comunidades tradicio- nais e agricultores tradicionais. Além disso, a Lei protege conhecimen- tos tradicionais associados a utilização e exploração ilícita, ou seja, ela tem algo semelhante à substituição para frente (do direito tributário) na medida em que o único sujeito à repartição de benefícios é o último da cadeia, aquele que faz o produto acabado. Com isso, fica mais fácil fiscalizar. O sujeito não pode alegar que um princípio ativo é da fase anterior da cadeia produtiva. Assim como na substituição tributária para frente fiscaliza-se o último da ca- deia, na temática em estudo também. Entretanto, ressalta-se que não se chama substituição tributária para frente na matéria em análise, tra- ta-se apenas de uma analogia. Ainda, há a possibilidade de participar da tomada de decisões. O Estado reconhece o direito de populações indígenas, de comunida- des tradicionais e de agricultores tradicionais de participar da tomada de decisões, no âmbito nacional, sobre assuntos relacionados à conserva- ção e ao uso sustentável de seus conhecimentos tradicionais associa- dos ao patrimônio genético do país (princípio da participação). Destaca-se que a Lei veda o acesso ao patrimônio genético (que é bem de uso comum do povo) ou conhecimento tradicional a ele associado por uma pessoa natural estrangeira, conforme art. 11, § 1º, Lei 13.123/15. Pretende-se evitar a privatização pela parte mais forte do bônus/ lucro sem que a comunidade tradicional, que tem um elemento forte de valor desse patrimônio genético, seja também beneficiada. Por isso, exis- te a repartição justa e equitativa do benefício, sendo que, no produto final, o componente do patrimônio genético ou conhecimento tradicional a ele associado é um dos elementos principais de agregação de valor. 40 C O N SU LT O R IA E R E SP O N SA B IL ID A D E A M B IE N TA L - G R U P O P R O M IN A S Logo, para o perfume ou remédio que possui um princípio ativo encontrado em uma espécie localizada apenas na Amazônia, essa bio- diversidade da Amazônia — sobre a qual a comunidade tradicional tem um conhecimento tradicional a ele associado — é um dos elementos principais de agregação de valor do fármaco ou do cosmético, como não poderia deixar de ser. Nesse ponto, tem-se que a repartição de benefício pode ser mo- netária ou não monetária, sendo que sobre esta lei traz um rol exemplifi- cativo. Conforme mencionado, é sujeito a fazer a repartição de benefícios somente o fabricante do produto acabado ou produtor do material repro- dutivo, independente de quem tenha realizado o acesso anteriormente. Portanto, aqueles que fabricam processos ou produtos intermediários que não sejam produtos acabados estão isentos da repartição de benefício. Ademais, com base na ideia de tratar os desiguais desigual- mente e de haver um critério do discrímen em relação à igualdade de material, tem-se que não precisam repartir benefícios à microempresa, à empresa de pequeno porte e ao microempreendedor individual, por- tanto, estão isentos dessa obrigação. A Lei de Biodiversidade também dispõe que a repartição entre usuário e provedor será negociada de forma justa e equitativa entre as partes, atendendo a parâmetros de clareza, lealdade e transparência nas cláusulas pactuadas, que deverão indicar condições, obrigações, tipos e duração dos benefícios de curto, médio e longo prazo. Salienta-se que, assim como faz a Lei n. 9.605 no art. 70 e a Lei da Biossegurança, a Lei da Biodiversidade traz um guarda-chuva genéri- co de infrações administrativas, sendo que o Superior Tribunal de Justiça já decidiu, em relação à Lei n. 9.605, que isso é legítimo. Dessa maneira, a norma infralegal pode minudenciar esse grande guarda-chuva. Nota-se que é algo muito amplo, mas é o fundamento de vali- dade da norma infralegal. Quanto à competência, trata-se de ação ad- ministrativa da União, prevista no art. 7º, XXIII, LC 140/11. Recobra-se que a referida lei complementar (que regulamentou o exercício da com- petência material comum, regra geral no Direito Ambiental) prevê em seu 7º as atribuições da União; no art. 8º as atribuições dos Estados (que é residual); e no 9º as atribuições dos Municípios. Percebe-se, in- clusive, que é uma questão lógica, porque, assim, a União regulamenta de modo uniforme para todos os locais do
Compartilhar