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APG 13 - Consciência

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Carla Bertelli – 5° Período 
Consciência 
1 – Reconhecer as alterações de consciência no âmbito qualitativo 
e quantitativo (nível de consciência, alerta, responsividade, 
orientação, atenção e campo da consciência). 
2 – Debater sobre as alterações patológicas e fisiológicas da 
consciência (sono, estado crepuscular, transe, dissociação). 
3 – Discutir as doenças que podem provocar alterações da 
consciência (Delirium, estado crepuscular, estado de transe e 
experiência de quase morte). 
ê
• Dalgalarrondo 
• Chenia VX 
• DSM 5 
 
Revisão sobre a Consciência 
A çã ó emprega o termo 
“consciência” no sentido de estado vígil (vigilância), o que, 
de certa forma, iguala a consciência ao grau de clareza 
do sensório. Consciência, aqui, é fundamentalmente o 
estado de estar desperto, acordado, vígil, lúcido. Trata-se 
especificamente do nível de consciência. 
Já a çã ó a conceitua como a soma total 
das experiências conscientes de um indivíduo em 
determinado momento. Nesse sentido, consciência é o 
que se designa campo da consciência. É a dimensão 
subjetiva da atividade psíquica do sujeito que se volta para 
a realidade. Na relação do Eu com o meio ambiente, a 
consciência é a capacidade do indivíduo de entrar em 
contato com a realidade, perceber e conhecer os seus 
objetos. 
Segundo o Sistema Research Domain Criteria, deve-se 
salientar que o nível de consciência é o continuum de 
sensibilidade e alerta do organismo perante os estímulos, 
tanto internos como externos. As principais 
características e propriedades do nível de consciência 
são: 
• O nível de consciência facilita a interação da pessoa 
com o ambiente de forma adequada ao contexto. 
 
• O nível de consciência adequado pode ser evocado 
tanto por estímulos externos ambientais quanto 
internos, como pensamentos, emoções e 
recordações; 
• O nível de consciência pode ser modulado tanto 
pelas características dos estímulos externos como 
pela motivação que o estímulo implica para o 
indivíduo em questão 
 
• O nível de consciência varia ao longo de um 
continuum que incluem desde o estado total de 
alerta, passando por níveis de redução da 
consciência até os estados de sono (variação normal) 
ou coma (variação patológica) 
 
Bases Neuroanatômicas e Neurofuncionais 
do Nível de Consciência 
O primeiro elemento do sistema nervoso relacionado ao 
nível de consciência é o Sistema Reticular Ativador 
Ascendente (SRAA). Alguns autores partiram da noção 
de que estar desperto e agir conscientemente depende 
da atividade do tronco cerebral e do diencéfalo, essas 
estruturas desempenham uma poderosa influencia sobre 
os hemisférios cerebrais, ativando-os e mantendo o tônus 
necessário para que eles funcionem. 
O SRAA se origina no tronco cerebral e sua ação se 
estende até o córtex por meio de Projeções Talâmicas. 
Elementos do Sistema Reticular Ativador Ascendente 
particularmente importantes para a ativação cortical dos 
neurônios são os Neurônios da Parte Superior da Ponte 
e os do Mesencéfalo. Tais neurônios recebem impulsos 
da maioria das vias ascendentes, as quais trazem 
estímulos intrínsecos (proprioceptivos e viscerais) e 
extrínsecos (órgãos dos sentidos). Lesões ou disfunções 
no SRAA produzem alterações do nível de consciência 
e prejuízo a todas as funções psíquicas. 
É de fundamental importância para a atividade mental 
consciente a atividade do lobo parietal direito – 
intimamente relacionado com o reconhecimento do 
próprio corpo, objetos e mundo. 
As áreas pré-frontais são fundamentais na organização 
da atividade mental consciente. Por fim, reconhece-se a 
importância das interações talamocorticais na ativação e 
na integração da atividade neuronal cortical relacionada à 
consciência 
O tálamo é uma estrutura posicionada no centro do 
cérebro para filtrar, integrar e regular as informações que 
Consciência 
 
 Carla Bertelli – 5° Período 
chegam ao córtex cerebral, dados que partem da 
periferia do organismo e meio externo e se dirigem ao 
córtex cerebral. O tálamo é extensiva e reciprocamente 
interligado a todas as áreas do córtex cerebral, de forma 
que uma pequena lesão talâmica pode produzir graves 
alterações do nível de consciência 
Estão relacionadas às alterações no nível de consciência 
na síndrome denominada delirium, as regiões do córtex 
parietal posterior direito superficial, o córtex pré-frontal 
bilateral, o córtex fusiforme, o giro lingual o tálamo 
anterior direito e os núcleos da base. 
 
Campo da Consciência 
Ao voltar-se para a realidade, a consciência demarca um 
campo, no qual se pode delimitar um foco, ou parte 
central mais iluminada da consciência, e 
uma margem (franja ou umbral), que seria sua periferia 
menos iluminada, mais nebulosa. Segundo a 
psicopatologia clássica, é na margem da consciência que 
surgem os chamados automatismos mentais e os 
estados ditos subliminares. 
 
Alterações Normais da Consciência 
Ritmo Circadiano 
As alterações normais da consciência ocorrem no 
contexto dos chamados ritmos circadianos. Os ritmos 
circadianos são oscilações endógenas autossustentadas 
do ritmo biológico no período de um dia de 24 horas 
(que inclui centralmente as oscilações do nível de 
consciência da vigília e do sono), as quais, nesse intervalo, 
organizam a temporalidade dos sistemas biológicos do 
organismo e otimizam a fisiologia, o comportamento e a 
saúde. 
Quanto às suas propriedades, os ritmos circadianos: 
1 – São sincronizados por pistas ambientais recorrentes 
(nível de luminosidade) 
2 – Permitem respostas eficientes perante os desafios 
e oportunidades no ambiente físico e social 
3 – Modulam a homeostase interna do cérebro 
4 – Se expressam em vários níveis de funcionamento 
do organismo, desde o molecular, órgãos e circuitos 
 
Sono 
Sono e vigília são estados comportamentais endógenos 
e recorrentes que expressam mudanças dinâmicas na 
organização da função cerebral e que otimizam aspectos 
como fisiologia, comportamento e saúde. Processos 
circadianos (do período de um dia de 24 horas) 
homeostáticos regulam a propensão do organismo à 
vigília e ao sono. 
O sono se caracteriza por: 
1 – Ser um estado reversível, tipicamente expresso 
pela postura de repouso, comportamento quieto 
e redução da responsividade; 
2 – Ter uma arquitetura neurofisiológica complexa, com 
estados cíclicos de sono não REM e de sono REM, tendo 
tais estados substratos neuronais distintos 
(neurotransmissores, moduladores, circuitos específicos) 
e propriedades oscilatórias do eletrencefalograma (EEG); 
3 – Ter duração e intensidade dos seus vários períodos 
afetadas por mecanismos de regulação homeostáticos; 
4 – Ser afetado por experiências ocorridas durante 
a vigília; 
5 – Ter efeitos restauradores e transformadores que 
otimizam funções neurocomportamentais da vigília. 
Descreve-se o sono como um estado especial da 
consciência, que ocorre de forma recorrente e cíclica 
nos organismos superiores e também, ao mesmo tempo, 
um estado comportamental e uma fase fisiológica normal 
e necessária do organismo. 
2 fases do sono: 
• Sono sincronizado, sem movimentos oculares 
rápidos (sono não REM) 
• Sono dessincronizado, com movimentos oculares 
rápidos – rapid eye movements (sono REM) 
O sono sincronizado não REM caracteriza-se por 
atividade elétrica cerebral síncrona, com elementos 
eletrencefalográficos próprios, como os fusos do sono, 
os complexos K e as ondas lentas de grande amplitude. 
Há, nesse tipo de sono, diminuição da atividade do 
sistema nervoso autônomo simpático e aumento relativo 
do tônus do sistema nervoso autônomo parassimpático, 
permanecendo vários parâmetros fisiológicos estáveis 
em um nível de funcionamento mínimo, como as 
frequências cardíaca e respiratória, a pressão arterial, o 
débito cardíaco e os movimentos intestinaisCarla Bertelli – 5° Período 
Durante o sono não REM ocorrem 4 estágios: 
• á mais leve e superficial, com atividade 
regular do EEG de baixa voltagem, de 4 a 6 ciclos 
por segundo (2-5% do tempo total de sono). 
• á um pouco menos superficial, com traçado 
do EEG revelando aspecto fusiforme de 13 a 15 ciclos 
por segundo (fusos do sono) e algumas espículas de 
alta voltagem, denominadas complexos K (45-55% 
do tempo total de sono). 
• á sono mais profundo, com traçado do EEG 
mais lentificado, com ondas delta, atividade de 0,5 a 
2,5 ciclos por segundo, ondas de alta voltagem (3-
8% do tempo total de sono). 
• á : estágio de sono mais profundo, com 
predomínio de ondas delta e traçado bem lentificado. 
É mais difícil de despertar alguém nos estágios 3 e 
4, podendo o indivíduo apresentar-se confuso ao ser 
despertado (10-15% do tempo total de sono). 
O sono REM, por sua vez, não se encaixa em nenhuma 
dessas quatro fases. Sua duração total em uma noite 
perfaz de 20 a 25% do tempo total de sono. O sono 
REM não é, entretanto, um sono leve, tampouco 
profundo, mas um tipo de sono qualitativamente 
diferente. Caracteriza-se por instabilidade no sistema 
nervoso autônomo simpático, com variações das 
frequências cardíaca e respiratória, da pressão arterial, do 
débito cardíaco e do fluxo sanguíneo cerebral. No sono 
REM, há um padrão de movimentos oculares rápidos e 
conjugados (movimentos oculares sacádicos), bem como 
um relaxamento muscular profundo e generalizado 
(atonia muscular), interrompido esporadicamente por 
contrações de pequenos grupos musculares, como os 
dos olhos 
Em uma noite normal de sono, as fases não REM e REM 
se repetem de forma cíclica a cada 70 a 110 minutos, com 
4 a 6 ciclos completos por noite. O sono se inicia com o 
tipo não REM, havendo a sucessão dos Estágios de 1 a 4. 
O primeiro período REM, que geralmente é bem curto, 
ocorre cerca de 70 a 120 minutos após o indivíduo 
adormecer. Ao longo da noite, os períodos REM vão se 
tornando mais frequentes e prolongados, desaparecendo 
os Estágios 3 e 4. A maior quantidade de sono REM 
ocorre no último terço da noite, geralmente de 
madrugada (das 4 às 7h da manhã), momento em que 
a maioria das pessoas mais sonha. O Estágio 4, de forma 
oposta, ocorre predominantemente no primeiro terço da 
noite 
 
Alterações Patológicas da Consciência 
 
Quantitativas 
Em diversos quadros neurológicos e psicopatológicos, o 
nível de consciência diminui de forma progressiva, desde 
o estado normal, vígil, desperto, até o estado de coma 
profundo, no qual não há qualquer resquício de atividade 
consciente. 
Grau 1 – Obnubilação. turvação da consciência ou 
sonolência patológica leve. Trata-se do rebaixamento da 
consciência em grau leve a moderado. À inspeção inicial, 
o paciente pode já estar claramente sonolento ou 
parecer desperto, o que pode dificultar o diagnóstico 
desse estado. De qualquer forma, há sempre diminuição 
do grau de clareza do sensório, com lentidão da 
compreensão e dificuldade de concentração. Nota-se 
que o indivíduo tem dificuldade para integrar as 
informações sensoriais oriundas do ambiente. Assim, 
mesmo não se notando a sonolência do paciente de 
forma evidente, observa-se, nos quadros de obnubilação, 
que a pessoa se encontra um tanto perplexa, com a 
compreensão dificultada, podendo o pensamento que 
expressa revelar confusão mental. No geral, o 
indivíduo diminui a atenção para as solicitações externas, 
dirigindo-se para a sonolência. Já se pode observar 
alguma lentificação do traçado eletrencefalográfico. 
Grau 2 – Torpor. é um grau mais acentuado de 
rebaixamento da consciência. O paciente 
está evidentemente sonolento; responde ao ser 
chamado apenas de forma enérgica e, depois, volta ao 
estado de sonolência evidente. A resposta aos estímulos 
externos, quando solicitado energicamente, é mais curta 
do que nos estados de obnubilação, mas menos frustra 
que no estado de sopor. Na obnubilação e no torpor, o 
paciente pode ainda apresentar traços de crítica e pudor, 
tentando cobrir as partes íntimas de seu corpo com o 
cobertor, quando em uma enfermaria ou emergência de 
hospital. No sopor e no coma, tal pudor e crítica da 
situação não existe mais, estando o indivíduo totalmente 
indiferente à exposição de partes íntimas (o que deve 
ser evitado sempre que possível, em respeito à pessoa) 
 Carla Bertelli – 5° Período 
Grau 3 – Sopor. é um estado de marcante e 
profunda turvação da consciência, de sonolência intensa, 
da qual o indivíduo pode ser despertado apenas por um 
tempo muito curto, por estímulos muito enérgicos, do 
nível de uma dor intensa. Nesse momento, o paciente 
pode revelar fácies de dor e ter alguma gesticulação de 
defesa. Retorna, então, muito rapidamente, em segundos, 
à quase ausência de atividade consciente. Portanto, aqui, 
ele sempre se mostra intensamente sonolento, quase 
em coma. Embora ainda possa apresentar reações de 
defesa muito esporádicas, é incapaz de qualquer ação 
espontânea. A psicomotricidade encontra-se mais inibida 
do que nos estados de obnubilação e de torpor. O 
traçado eletrencefalográfico acha-se global e 
marcadamente lentificado, podendo surgir as ondas mais 
lentas, do tipo delta e teta. 
Grau 4 – Coma. é a perda completa da consciência, 
o grau mais profundo de rebaixamento de seu nível. No 
estado de coma, não é possível qualquer atividade 
voluntária consciente. Além da ausência de qualquer 
indício de consciência, os seguintes sinais neurológicos 
podem ser verificados: movimentos oculares errantes 
com desvios lentos e aleatórios, nistagmo, transtornos do 
olhar conjugado, anormalidades dos reflexos 
oculocefálicos (cabeça de boneca) e oculovestibular 
(calórico) e ausência do reflexo de acomodação. Além 
disso, dependendo da topografia e da natureza da lesão 
cerebral, podem ser observadas rigidez de decorticação 
ou de decerebração, anormalidades difusas ou focais do 
EEG com lentificações importantes e presença de ondas 
patológicas. 
 
Perdas Abruptas da Consciência 
Vários fatores e condições médicas e/ou psicopatológicas 
podem produzir a perda abrupta da consciência. Tal 
perda pode ser causada por fatores emocionais, 
neurofuncionais ou orgânicos de diversas naturezas. 
Podem também ser rapidamente reversíveis ou 
irreversíveis, indicando quadros orgânicos mais graves. As 
perdas abruptas e transitórias (duram geralmente 
segundos a minutos) da consciência recebem várias 
denominações médicas e populares: lipotimia, síncope, 
desmaios e perdas da consciência de outra natureza 
A lipotimia se caracteriza por perda parcial e rápida da 
consciência (dura apenas segundos), geralmente 
com visão borrada, palidez da face, suor frio, vertigens e 
perda parcial e momentânea do tônus muscular dos 
membros, com ou sem queda do corpo ao chão. A 
pessoa tem a sensação desagradável de que vai 
desmaiar. A lipotimia é rápida e completamente 
reversível. Às vezes, utiliza-se o termo “lipotimia” para 
descrever a fase inicial da síncope. 
A síncope designa um colapso bem súbito, com perda 
abrupta e completa da consciência, perda total do tônus 
muscular, com queda completa ao chão. O mecanismo 
básico é a instalação rápida de irrigação cerebral 
insuficiente por causas diversas. A síncope pode ou não 
ser reversível, dependendo dos fatores causais 
envolvidos. 
O termo “desmaio” é uma designação não médica, da 
linguagem comum, que geralmente significa uma perda 
abrupta da consciência. Corresponde de forma genérica 
aos termos médicos “síncope” ou “lipotimia”. 
 
 Carla Bertelli – 5° Período 
Síndromes psicopatológicas associadas ao 
rebaixamento prolongado do nível de 
consciência 
– É o termo atualmais adequado para designar 
a maior parte das síndromes confusionais agudas (o 
termo “paciente confuso”, muito usado em serviços de 
emergência e enfermarias médicas, refere-se a tais 
síndromes confusionais, ou seja, ao delirium). Cabe 
ressaltar que esses termos (síndrome 
confusional e paciente confuso) dão ênfase ao aspecto 
confuso do pensamento e do discurso do paciente (fala 
incongruente, com conteúdos absurdos e sem 
articulação lógica), um dos traços do delirium, mas não 
necessariamente o mais importante ou mais frequente. 
Daí a opção preferencial de se utilizar o 
termo delirium em vez de síndrome confusional. 
O delirium é uma das síndromes mais frequentes na 
prática clínica diária, principalmente em pacientes com 
doenças somáticas (emergências e enfermarias médicas 
e geriátricas) e idade avançada. O delirium diz respeito, 
portanto, aos vários quadros com rebaixamento leve a 
moderado do nível de consciência, acompanhados 
de desorientação temporoespacial, dificuldade de 
concentração, perplexidade, ansiedade em graus 
variáveis, agitação ou lentificação psicomotora, discurso 
ilógico e confuso e ilusões e/ou alucinações, quase 
sempre visuais. Trata-se de um quadro que oscila muito 
ao longo do dia. 
Geralmente, o paciente está com o sensório claro pela 
manhã, e, no início da tarde, o nível de consciência 
“afunda”, piorando no fim da tarde e à noite. Podem 
surgir, então, ilusões e alucinações visuais, bem como 
intensificar-se a desorientação e a confusão do 
pensamento e do discurso, com a possibilidade de haver 
também agitação psicomotora e sudorese. 
Não se deve confundir (quadro sindrômico 
causado por alteração do nível de consciência, em 
pacientes com distúrbios cerebrais agudos) com o 
termo “ í ” (ideia delirante; alteração do juízo de 
realidade encontrada principalmente em psicóticos 
esquizofrênicos ou em outras psicoses). 
 
Alterações Qualitativas da Consciência 
Além dos diversos estados de redução global do nível de 
consciência, a observação psicopatológica registra uma 
série de estados alterados da consciência, nos quais se 
tem mudança parcial ou focal do campo da consciência. 
Uma parte do campo da consciência está preservada, 
normal, e outra, alterada. De modo geral, há quase 
sempre, nessas alterações qualitativas, algum grau de 
rebaixamento (mesmo que mínimo) do nível de 
consciência 
1 – Estados crepusculares – Consistem em um 
estado patológico transitório no qual 
uma obnubilação leve da consciência (mais ou menos 
perceptível) é acompanhada de relativa conservação da 
atividade motora coordenada. os estados crepusculares, 
há, portanto, estreitamento transitório do campo da 
consciência e afunilamento da consciência (que se 
restringe a um círculo de ideias, sentimentos ou 
representações de importância particular para o sujeito 
acometido), com a conservação de uma atividade 
psicomotora global mais ou menos coordenada, 
permitindo a ocorrência dos chamados atos automáticos. 
O estado “crepuscular” caracteriza-se por surgir e 
desaparecer de forma abrupta e ter duração variável, de 
poucos minutos ou horas a algumas semanas. Durante 
esse estado, ocorrem, com certa frequência, atos 
explosivos violentos e episódios de descontrole 
emocional (podendo haver implicações legais de 
interesse à psicologia e à psiquiatria forense). Geralmente 
ocorre amnésia lacunar para o episódio inteiro, podendo 
o indivíduo se lembrar de alguns fragmentos isolados. Os 
estados crepusculares foram descritos classicamente 
como associados à epilepsia (relacionados à turvação da 
consciência após uma crise ou a alterações pré-ictais ou 
ictais), mas também podem ocorrer em intoxicações por 
álcool ou outras substâncias, após traumatismo craniano, 
em quadros dissociativos histéricos agudos e, 
eventualmente, após choques emocionais intensos 
2 – Estado segundo. Estado patológico transitório 
semelhante ao estado crepuscular, caracterizado por 
uma atividade psicomotora coordenada, a qual, 
entretanto, permanece estranha à personalidade do 
sujeito acometido e não se integra a ela. Com certa 
frequência, alguns autores utilizam os termos “estado 
segundo” e “estado crepuscular” de forma indistinta ou 
intercambiável. Em geral, atribui-se, ao estado segundo, 
uma natureza mais psicogenética, sendo produzido 
por fatores emocionais (choques emocionais intensos). Já 
ao estado crepuscular, são conferidas causas mais 
frequentemente orgânicas (confusão pós-ictal, 
intoxicações, traumatismo craniano, etc.). 
 Carla Bertelli – 5° Período 
3 – Dissociação da consciência. Tal expressão 
designa a fragmentação ou a divisão do campo da 
consciência, ocorrendo perda da unidade psíquica 
comum do ser humano. O termo “dissociação” pode 
cobrir não apenas a consciência como também a 
memória, a percepção, a identidade e o controle moto 
A dissociação da consciência ocorre com mais frequência 
nos quadros anteriormente chamados histéricos (crises 
histéricas de tipo dissociativo). Nessas situações, observa-
se dissociação da consciência, um estado semelhante ao 
sonho (ganhando o caráter de estado onírico), em geral 
desencadeada por acontecimentos psicologicamente 
significativos (conscientes ou inconscientes) que 
produzem grande ansiedade para o paciente. Essas crises 
duram de minutos a horas, raramente permanecendo 
por dias. 
Alguns pacientes têm crises ou estados dissociativos 
agudos que se iniciam com queda ao chão, abalos 
musculares e movimentação do corpo semelhante à 
crise convulsiva (da epilepsia). Nesses casos, designa-se 
tal crise como crise pseudoepiléptica (em relação à crise 
epiléptica verdadeira). 
A dissociação da consciência pode ocorrer também 
em quadros de ansiedade intensa, independentemente 
de se tratar de paciente com personalidade histriônica ou 
traços histéricos, sendo a dissociação, então, vista como 
uma estratégia defensiva inconsciente (i.e., sem a 
deliberação voluntária plena) para lidar com a ansiedade 
muito intensa; o indivíduo desliga da realidade para parar 
de sofrer. Quadros dissociativos são também frequentes 
em pessoas com o diagnóstico de transtorno da 
personalidade borderline. 
4 – Transe. Estado de alteração qualitativa da 
consciência que se assemelha a sonhar acordado, 
diferindo disso, porém, pela presença em geral 
de atividade motora 
automática e estereotipada acompanhada de suspensão 
parcial dos movimentos voluntários. 
O estado de transe ocorre sobretudo em contextos 
religiosos e culturais (espiritismo kardecista, religiões afro-
brasileiras e religiões evangélicas pentecostais e 
neopentecostais). O transe dito extático pode ser 
induzido por treinamento místico-religioso, ocorrendo 
geralmente a sensação de fusão do eu com o universo. 
Não se deve confundir o transe religioso, culturalmente 
contextualizado e sancionado, com o chamado transe 
histérico, que é um estado dissociativo da consciência 
relacionado frequentemente a conflitos interpessoais e 
alterações psicopatológicas. 
Os estados de transe e possessão culturalmente 
contextualizados e sancionados são fenômenos muito 
difundidos nas várias culturas em todo o mundo, vistos, 
na atualidade, como um recurso religioso e sociocultural 
que permite às pessoas, sobretudo às mulheres, lidar 
com as dificuldades da vida por meio de estratégias 
religiosas socialmente legitimadas. 
4 – Estado hipnótico. É um estado de consciência 
reduzida e estreitada e de atenção concentrada, que 
pode ser induzido por outra pessoa (hipnotizador). Trata-
se de um estado de consciência semelhante ao transe, 
no qual a sugestionabilidade do indivíduo está aumentada, 
e sua atenção, concentrada no hipnotizador. Nesse 
estado, podem ser lembradas cenas e fatos esquecidos 
e podem ser induzidos fenômenos como anestesia, 
paralisias, rigidez muscular,alterações vasomotoras. Não 
há nada de místico ou paranormal na hipnose. É apenas 
uma técnica refinada de concentração da atenção e de 
alteração induzida do estado da consciência. 
 
 
Experiência de quase-morte (near death 
experience – NDE) 
Um estado especial de consciência é verificado em 
situações críticas de ameaça grave à vida, como parada 
cardíaca, hipoxia grave, isquemias, acidente 
automobilístico grave, afogamento, quedas com trauma 
craniano, entre outras, quando alguns sobreviventes 
afirmam ter vivenciado as chamadas experiências de 
quase-morte (EQMs). São experiências muito rápidas (de 
segundos a minutos) em que um estado de consciência 
particular é vivenciado e registrado por essas pessoas 
 
 
 
 Carla Bertelli – 5° Período 
Ê
Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos 
transtornos mentais . Disponível em: Minha Biblioteca, (3ª 
edição). Grupo A, 2019. 
Damiani D. Disorders of Consciousness: Practical 
Management in an Emergency Room. Arq. Bras. Neurocir, 
2019; 38(04):263-71. DOI: http://dx.doi.org/10.1055/s-0036-
1594251. 
Ferreira De Andrade, A., Do, R., Carvalho, C., Oliveira De 
Amorim, R. L., Paiva, W. S., Figueiredo, G., & Teixeira, J. 
(2007). Coma e outros estados de consciência. Revista de 
Medicina, 86(3), 123–131. https://doi.org/10.11606/ISSN.1679-
9836.V86I3P123-131 
Pires, F. C., Vilaça, L. V. E., Pereira, C. B. de M., Ruiz, M. T., 
Ohl, R. I. B., & Chavaglia, S. R. R. (2021). Instrumentos para a 
avaliação do nível de consciência em adultos e 
idosos: revisão integrativa. Revista Enfermagem UERJ, 
29(1), 57053. https://doi.org/10.12957/REUERJ.2021.57053

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