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ser educacional gente criando o futuro Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Diretor de EAD: Enzo M oreira Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato Coordenadora de oroietos EAD: M anuela Martins Alves Gomes Coordenadora educacional: Pamela M arques Equipe de apoio educacional: Caroline Guglielmi, Danise Grimm, Jaqueline M orais, Laís Pessoa Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos,nago da Rocha Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz M eneghel, Vinicius Manzi Moreno, Bruno Stramandinoli. Ciência e Profissão/ Bruno Stramandinoli Moreno; Beatriz de Azevedo Siquei ra Campos. - São Paulo: Cengage, 2020. Bibliografia. ISBN 9786555581355 l. Profissão. 2. Carreiras - Psicologia. 3. Campos, Beatriz de Azevedo Siqueira. Grupo Ser Educacional Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: {81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com PALAVRADOGRUPOSEREDUCACIONAL "É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também passa por tais t ransformações. A demanda por mão de obra qualificada, o aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - Pronatec, t em como objetivo at ender a essa demanda e ajudar o País a qualificar seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento da economia, da crescent e globalização, além de garantir o exercício da democracia com a ampliação da escolaridade. Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer- lhes uma sólida formação técn ica, sempre pensando nas ações dos alunos no contexto da sociedade." Janguiê Diniz Autoria Bruno Stramandinoli Moreno Atua no(a) Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais {CEMADEN) como Analista em Ciência e Tecnologia - Núcleo de Gestão de Pessoas {NGP) desde 2014. Possui formação em Desenvolvimento Humano e Tecnologias (Doutorado). Suas aptidões são: Articulação, Criatividade, Flexibilidade, Gestão de conflitos, Liderança, Proatividade, Resil iência, Trabalho em equipe, Subjetividade e Trabalho Contemporâneo. Beatriz Marcondes de Azevedo Possui graduação em Psicologia pela UFSC (1994), graduação em Admi nistração pela UFSC (2004), mestrado em Psicologia pela UFSC (2002) e doutorado em Engenharia de Produção pela UFSC (2010), na área de Ergonomia, Pós-doutorado pela U FSC (2018). Atua na docência na área de graduação e pós- graduação, nas modalidades de ensino presencial e EaD. Em relação à pesquisa, investiga temáticas referentes à Psicologia Organizacional e do Trabalho, Ergonomia, Gestão de Pessoas, Saúde e Segurança no Trabalho, avaliação do desempenho do sistema de produção hospitalar. SUMÁRIO Prefácio UNIDADE 1 - Psicologia: origens, primórdios de prárfcas cienrlficas e profissionais ........................ 9 Introdução..................... ... ............................. . ............ 10 1 Notas iniciais... ... .... ........ ........... 11 2 Conceito e história da Psicologia Científica 3 Psicologia e suas origens (percurso histórico-filosófico) 4 Constitu ição da psicologia como ciência ...................... . ............. 15 ............ 17 . ... 22 5 A construção do conhecimento em psicologia ................................................................................. 26 PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 28 REFERfNCIAS 8/Bl.lOGRAFICAS ...................................................................................................... 29 UNIDADE 2 - Atuação e produção da conhecimento em psicologia ................................................. 31 Introdução.............................................................. . ............ 32 1 Construção do conhecimento em Psicologia ... 33 2 Psicologia como profissão no Brasi l . . ............................................................ ................................ 36 3 Processo de regulamentação da profissão no Brasil... . ........ 43 4 Currículo mini mo do curso de Psicologia........ . ... 45 PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 48 REFERfNCIAS BIBUOGRAFICAS ............................... .......... ......................................... .................... 49 UNIDADE 3 -As prórfcas profissionais: campos de atuação, normas e regulamentações ................ 53 Introdução......................................... . .................................................................... 54 1 A Psicologia enquanto profissão ...................................... 55 2 Conselhos Regional e Federal De Psicologia ... . ........ 60 3 Psicologias: Clínica, Escolar, Organizacional, Hospitalar, Comunitária, Social, do Esporte, Jurídica ... 63 4 A prática profissional do psicólogo: diversidade de áreas de atuação ............................................. 68 PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 69 REFERfNCIAS BIBLIOGRAFICAS ...................................................................................................... 70 UNIDADE 4 -A psicologia contemporlinea e os preceitos éticos ..................................................... 73 Introdução..................................... ........................... ... .... ........ ... .. ....................................... 74 1 A ética na área da Psicologia. 2 A pesquisa em Psicologia .. .. .. 75 . .... 81 3 A situação atual da Psicologia no âmbito da formação e da prática profissional . .. ..... 84 PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 89 REFERÊNCIAS BIBUOGRÁFICAS ...................................................................................................... 90 PREFÁCIO O objetivo deste livro é apresentar a Psicologia como profissão. Abordaremos os temas mais importantes para entender tudo o que envolve a profissão em quatro unidades, detalhadas a seguir. Na primeira unidade, vamos tratar da psicologia: origens, primórdios de práticas científicas e profissionais, onde discutiremos a evolução histórica da Psicologia e suas inter-relações com as Ciências Humanas e Sociais, além de discutir a Psicologia contemporânea e seus desafios. Será apresentada aqui uma visão geral sobre organização profissional, entidades e associações representativas na Psicologia, os diversos níveis de participação e as especialidades aprovadas pelo Conselho Federal de Psicologia. Falaremos ainda sobre os termos utilizados na área. Na sequência, a unidade 2 tratará da atuação e produção do conhecimento em Psicologia. Aqui serão mostrados os avanços e alternativas para a construção do conhecimento em Psicologia, trazendo à luz a importância desse estudo para o processo de legitimação e solidificação da imagem do psicólogo como alguém que pode ajudar a transformar a vida de indivíduos, grupos, comunidades e, por conseguinte, a própria sociedade. Vamos fazer aqu i também uma sinopse sobre a história e os marcos cronológicos da Psicologiacomo profissão no Brasil. Abordaremos a regulamentação da profissão e a relação entre a formação acadêmica e a prática profissiona l. Na terceira unidade trabalharemos as práticas profissionais: campos de atuação, normas e regulamentações. Aqui serão estudados o conjunto de medidas e ações, organizações e institucionalizações e formalizações da Psicologia. Os conhecimentos descritos aqui sobre a Psicologia Contemporânea como profissão prepara o aluno com uma base sólida, explicando os mecanismos de controle e a psicologia do cotidiano. A Psicologia contemporânea e os preceitos éticos serão temas da quarta unidade. Vamos discutir sobre o compromisso ético nas relações profissionais estabelecidas pelos psicólogos e o comportamento ético que deve ser perseguido tanto nas atividades de pesquisa quanto no exercício profissional. Entenda a relação da Psicologia com os Direitos Humanos e as Políticas Públicas nesta unidade e, por fim, conheça os principais tipos de pesquisa realizados na área e as possibilidades de assuntos que possam ser investigados. Se você quer ingressar nos estudos da Psicologia Contemporânea como profissão, este livro oferece importantes conhecimentos. Bons estudos! UNIDADE 1 Psicologia: origens, primórdios de práticas científicas e profissionais Introdução Olá, Você está na unidade Psicologia: origens, primórdios de práticas científicas e profissionais. Conheça aqui a evolução histórica da Psicologia e suas inter-relações com as Ciências Humanas e Sociais. A Psicologia contemporânea e seus desafios. A organização profissional, as entidades e as associações representativas na Psicologia e os diversos níveis de participação. As especialidades na área aprovadas pelo Conselho Federal de Psicologia. Bem como as definições de termos básicos em Psicologia. Aprenda sobre as questões relativas a este campo de estudo, sua constituição enquanto conhecimento e prática profissional, sobre as principais pesquisas, as diversas áreas de atuação profissional e a formação e prática profissional da Psicologia Contemporânea. Bons estudos! 11 1 NOTAS INICIAIS Fazer uma análise das práticas profissionais da Psicologia enquanto campo de conhecimento, passa, inexoravelmente, por conhecer suas origens e seus primórdios. Isto significa proceder questionamentos que guiem entendimentos, compreensões e conclusões, tais como: sob qual propósito tais práticas foram e são prescritas? Qua is contextos serviram de cenário para que os saberes "psi" fossem produzidos? Como as práticas tidas científicas produziram os conhecimentos que hoje alicerçam à prática profissional do psicólogo? O que elas expõem? O que elas escondem? O que elas escamoteiam? Quais valores preconizam e são precon izados, a partir dos saberes "psi"? A quais fenômenos a Psicologia, enquanto ciência, se presta compreender? O que a História da Psicologia diz da própria Psicologia? De seus conhecimentos, de suas práticas e de seus resultados? Figura 1 - Psicologia Ciência e Profissão Fonte: Tetiana Lazunova, lstock, 2020. #ParaCegoVer: A Psicologia enquanto ciência e campo profissional caracteriza-se por várias perspectivas e escolas de pensamentos, que determinam desde concepções sobre o homem até as práticas de seus profissionais. Notada mente, a Psicologia é uma miríade de fluxos políticos, físicos e sociais. Um dos grandes desafios a serem enfrentados, nesta unidade, senão o maior, é determinar uma identidade à Psicologia, seja enquanto área de saber científico, seja enquanto atividade profissional reconhecida e legitimada (BRASIL, 1962). Sua condição multifacetada e multideterminada dota à Psicologia de uma singularidade significativa, pois, no seio de suas bases, encontramos diversas correntes de pensamento e diversas maneiras de conceber seu objeto de estudo, sua área de investigação e seu campo de atuação. 12 1.1 Paradoxos e outras miscelâneas Segundo Matos (2011), ao se discutir e debater a relação entre ciência e profissão, é preciso circunscrever um certo questionamento sobre a separação entre conhecimento científico e política, presentes na formação de qualquer cientista ou profissional, em especia l os provenientes das ciências psicológicas. Nesta perspectiva, precisa toda área que produz conheciment o deve ser crivada enquanto espaço social. Isto é, é necessário problematizar o campo das práticas "psi" e da formação em psicologia, para assim melhor compreendê-la. Não é possível tratar de um indivíduo sem considerar como este é entendido, sem conhecer o paradigma que o compreende e o concebe. Saberes e políticas se engendram a fim de determinar a maneira com este sujeito é encarado e como será alocado. Neste sentido, ao longo desta disciplina, você será convidado a questionar expressões, UIL.UlUI l lld:>, 1,JdldUlt:;I l ld:> I:' L.Ul ll..t='l,Jl_,.UI:':> UU I IUI llt!l l l 4UdlllU d :>Ud II llt!I IUI IUdUt!/ t!.X.lt!I IUI IUdUt::!1 4Udl llU a sua condição de indivíduo em um dado contexto social e sob quais modelos os conhecimento psicológicos são produzidos e que formulados. Cabe destacar que você será instigado a identificar quais paradoxos produziram o que se entende contemporaneamente como Psico logia. 1.2 Nomenclaturas e expressões básicas Para discutir o campo científico e profissional d a Psicologia, é necessário conhecer algumas expressões e nomenclaturas que delimitam entendimentos e compreensões sobre a natureza (ou naturezas) e dimensão (ou dimensões) que a encerram. O termo contextualizar é o primeiro, segundo Tufano (2002) contextualizar refere-se a posicionar algo em um dado contexto. Ou seja, é situar uma dada situação (leia-se, um sujeito, um evento, um fenômeno) dentro de um fluxo de forças e vetores físicos e sociais, humanos e não-humanos que ocorrem em um dado espaço e tempo. De modo que, ao pôr em contexto, pretende-se revelar tudo o que se possa saber, por óbvio, sobre um determinado momento social. Trata-se de tornar o problema em tela compreensível e inteligível, pois ao se proceder assim, que se propicia é a aná lise e estudo de tudo o que se possa envolver sobre o fenômeno ali circunscrito. Ou seja, "[ ... ] contextualizando tentamos colocar algo em sintonia com o tempo e com o mundo, construímos bases sólidas [ ... ] sobre algo, [um] solo para criar um ambiente favorável, amigável e acolhedor para a construção do conhecimento" (TUFANO, 2002, p.41). Já o conceito de modelo para Ronca (2002, p.153) é definido como"[ ... ] mode los ampliam as nossas possibilidades de combinações[ ... ]" de entendimento e compreensão do mundo a volta, são "[ ... ] pontos de ancoragem, de apoio e de inspiração para a formação dos [tipos] diferentes profissionais". Um modelo é uma referência de ação, de compreensão de pensamento. 13 Contextualizar O termo contextualizar é o primeiro, segundo Tutano (2002) contextualizar refere-se a posicionar algo em um dado contexto. Observação e análise As noções observação e análise diferem-se por tratarem de conce itos distintos, mas intrinsecamente relacionados, mobil izados e assessoriamente articulados. Prática O conceito de prática é resultante de uma ação, de uma perspectiva, efeito de um modo de pensar (HASS, 2002). Espaço O termo espaço diz respeito a muitas formas de interpretar e conceber o termo, seja do latim spatium (área ou extensão). Pesquisa A pesquisa tem relação com a existência humana, sobretudo, aquela dos tempos civilizatórios até os contemporâneos, destaca-se pela inquietante construção da inteligibilidade sobre o mundo. Sistema O conceito de sistema que designa um conjunto de vetores e de forças que produzem uma condição, um evento, um resultado. As noções observação e análise diferem-se por tratarem de conceitos distintos, mas intrinsecamente relacionados, mobilizados e assessoriamente articulados. Muito do que se concebe enquanto existência, enquantodinâmica cotidiana se baseia na forma como dados, fatos e acontecimentos são encarados, captados, encarados: experimentados. Para Gonçalves (2002), a relação alinhavada na intersecção destas duas ações produz não apenas formas de entender o contexto (ciência), mas maneiras de atuar sobre ele (atuação profissional). Dela são produzidos saberes, e saberes sobre como fazer e como não fazer. O conceito de prática é resultante de uma ação, de uma perspectiva, efeito de um modo de pensar (HASS, 2002). A prática está relacionada a atuações de sujeitos sobre o mundo, sobre outros e sobre si mesmo. Envolve, desta maneira, formas de interação, com o que se tenta compreender, com o que se busca manter ou modificar. Trata-se de um movimento de ir e vir sobre o contexto, sobre a vida. 14 O termo espaço diz respeito a muitas formas de interpretar e conceber o termo, seja do latim spatium (área ou extensão), seja por seu sentido quantitativo (mensurando, tridimensionalmente, volumes e distâncias), seja, ainda, o lócus (real, virtual, factual ou fenomenológico), trata-se de uma delimitação que determina e é determinado pelos sujeitos, seja os que são estudados, seja os que produzem os saberes cientificas, seja os que recebem algum tipo de intervenção, sejam os que intervém (CAMPOS, 2002). A pesquisa tem relação com a existência humana, sobretudo, aquela dos tempos civilizatórios até os contemporâneos, destaca-se pela inquietante construção da inteligibilidade sobre o mundo. 1 nterrogar, investigar, perscrutar o que nos circunda e o que nos determina é o que se denomina pesquisa. Neste sentido, o ato de pesquisa discrimina-se por diferentes modulações que variam entre a busca, a procura, a indagação, a averiguação, a enquista, o informe, a arguição, a perq uirição sobre uma dada realidade com vistas a torná-la compreensível, significativa (MELLO, 2002). Por mais técnica e precisa, descritiva e profunda, nanométrica e certeira, toda a pesquisa é política e social, pois ela parte de algum ponto de vista, de alguma perspectiva, de alguma crença anterior que conceba uma dinâmica contextual (ROSE, 2001). O conceito de sistema que designa um conjunto de vetores e de forças que produzem uma condição, um evento, um resultado. Designa uma totalidade que articula diferentes interações de objetos, elementos, pessoas, fatos, acontecimentos. Está relacionado a uma visão que concebe uma interconexão dinâmica entre diversos elementos na composição e no esclarecimento e um dado contexto. A compreensão da existência parte de uma premissa processual. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: Após essa breve preleção inicial, faz sentido nos seguirmos, em nosso itinerário, adentrando, especificamente, sobre os elementos conceituais e históricos da Psicologia, enquanto ramo científico. Sobre o conteúdo, é nosso intuito oferecer uma base que possibilite ampliar a perspectiva dos estudos relacionados a esse área, bem como aprofundar conceitos, através 15 da exemplificação de alguns modos de pensar e ver o mundo, escolas de pensamento e visões críticas sobre os primórdios e influências, e, assim, oferecer uma experiência prática e elucidativa de como se constitui a Psicologia Científica Contemporânea, tanto em termos de conhecimentos e práticas quanto de efetiva intervenção e posicionamento profissional. 2 CONCEITO E HISTÓRIA DA PSICOLOGIA CIENTÍFICA Como destacado por Jacó-Vile la e Oliveira (2018), a história da Psicologia, de sua formação em campo de saber, é permeada e, em alguma medida, está condicionada a diferentes modos de fazer e produzir conhecimento. Esta é uma das primeiras marcas da Psicologia: sua pluralidade, em termos de fontes e influências, em termos de apl icabilidade e intersecção com outros saberes. Desta forma, seguiremos, aos principais pontos que definem a Psicologia, comentando defin ições e conceituações que alicerçam estas delimitações de seus conhecimentos em relação à outras ciências. 2.1 O que é Psicologia? Do termo grego psykê (a lma, espírito, mente) em conjunção com a expressão logos (que designa estudo conhecimento), o termo Psicologia, poderia ser traduzido como sendo o estudo da alma, do espírito, da mente. Ainda que na época grega, a ideia de cientificidade não estava atrelado a esse conceito. Entretanto a concepção ;e oportuna para iniciarmos o debate do que vem o estudo da Psicologia. Figura 2 - Paradoxos Fonte: Dmitrii_ Guzhan in, lstock, 2020. # ParaCegoVer:A Psicologia ao longo de sua história, teve como principal condição, relações de antagonismo, de dua lidade, paradoxais e que situam seus conhecimentos e suas práticas. Na figura das faces viradas para lados opostos de silhueta, uma branca e uma preta . 16 Para Carrara (2015, p.27) "( .. . ] seja no cenário da experimentação, seja no da reflexão, a principal dificu ldade para o desenvolvimento e a consolidação [de um] conhecimento[ ... ]" passa por se conseguir "isolar" o seu fenômeno. Ao longo de seu processo histórico-constitutivo, a Psico logia, através de inúmeros personagens, desenhou esta relação dicotômica de saberes: objetividade versus subjetividade, inatividade versus ambiente, monismo versus dualismo, estruturalismo versus funcionalismo etc. Enfim, suas principais marcas são a incompletude e a polêmica, na busca por consolidar-se enquanto campo científico. Para a autora são estas contraposições que formam o terreno para a Psicologia erigir suas conceituações e demarcar seu objeto de estudo: as dimensões psicológicas. Ao longo de suas elucidações, os teóricos que compõe o exército de pesquisadores da Psicologia, caracterizadamente, oscilaram por estes antagonismos, sempre, por polos de 'constructos hipotéticos', a fim de denominar e erigir"[ ... ] teorias e sistemas explicativos no contexto da Psicologia" (CARRARA, 2015, p.28). 2.2 O estudo objeto de Estudo da Psicologia Um dos grandes desafios para compreender a evolução histórica das chamas Ciências Psico lógicas, reside no fato de que as correntes de pensamento que a produzira, que a delimitaram e que a praticaram, mostram-se diversas, muitas vezes, antagônicas e dissonantes em seus modos de encarar o um dado (ou vários) objeto(s) de estudo (MATTOS, 2011). Neste sentido, cabe destacar o que Carrara (2015, p.28-29) expl ica, [ ... ] No exemplário dos episódios de vida, cada atividade dos organismos parece apresentar-se menos ou mais influenciada por variáveis da história biológica ou da história ambiental. Algumas situações são, ilusoriamente,exemplos"claros" de uma ou de outra, entre duas formas de determinação: 1) as mudanças na dilatação da pupila em f unção da var iação claro/escuro; os comportamentos que compõem o "esti lo" de construção de ninho do pássaro joão-de--barro; o ato de seguir o primeiro objeto que se move, comum entre certas aves {o ímprínting, ou estampagem, no exemplo clássico de Lorenz, não importa se correto ou não);[ ... ] {2) quando respondemos mediante contração ou di latação pupi lar em função de acontecimento sonoro só por nós ouvido num filme; quando o elefante do circo, após fazer se us malabarismos, inclina-se para receber o "reconhecimento" do públ ico; quando legamos aos nossos descendentes um esti lo arquitetônico de construção residencial; quando o técnico em informática faz um reparo no nosso notebook. Neste sentido, definir o objeto de estudo da Psicologia, não parecer ser algo simples, mas tal qual a luta diária de Sísifo em levantar a pedra, dirimir o que se presta a Psicologia a compreender é tarefa complexa e árdua. Conforme os exemplos dados por Carrara (2015), nenhum deles configuram-se apenas em um dos pólos: objetivo e subjetivo. Tanto um quanto o outro encerram e engendram facetas de aspectos genéticos e ambientais. Mas, afinal, o que a Psicologia estuda? Que conhecimentos "psi" são gerados, a partir de pesquisas que façam uso de seu arcabouçoconceituai? É possível compreender que aqui lo que a Psico logia busca compreender, e foca seus mais variados estudos, diz respeito a algo privado ao sujeito humano, seja por analogia animal, ou mesmo sob a égide de premissas fisiológicas, seja a partir de elucubrações e ilações sócio-históricas. Em geral, tanto uma quanto outra abordagem, tratam de questões que sejam privativas dos seres humanos, nas mais diversas variações. E isto, podemos denominar 'fenômenos psicológicos', uma gama variada e ampla de ocorrências que circunscrevem e delimitam-se como objeto de estudo da Psicologia. Parece, assim, razoável não falar de uma psicologia, mas sim, de psicologias, que compreendem não um objeto de estudo, mas de objetos de estudos psicológicos. As diferentes influências científicas e sociais que erigiram a Psicologia, também, em alguma medida, determinam seus modos de pesquisa, suas práticas e, por conseguinte, seus saberes. E é isso que nos enveraremos no tópico seguinte. 3 PSICOLOGIA E SUAS HISTÓRICO-FILOSÓFICO) ORIGENS (PERCURSO A Psicologia em seus primórdios tem raízes desde que o homem começou a se questionar sobre sua posição no meio em que vive (FIGUEIREDO, 2007). Entretanto, se remontarmos uma genealogia, por mais superficial que seja, de sua constituição, enquanto saber, veremos que a Psicologia começou a ser sistematizada com as civilizações grega. 1- 0• ct.óbulo d• 1,nctos · Mostromo$ ouvN". mos $01bomos d1stlngu1r 2· Oe Sólon de Atenas "Nunço d090s tudo o Q.,. so~· - 3- Oe TolH de Mileto "N&o r.,.,..,..,, pr<>1etos per&,, se f11lnar••· n6o seres motivo-de troça·. 4· Oo Tolos de M,1.10 "A moion,i.g,,o vom dopo~ do ob1oto omodo". 5· Oe 8ios d• Pnene "A-do o sobor ouw" , 6· De Pen,ondro de Connto "Oculto os desgostos, pero n6o dare-s mot,vo de gozo aos 1nim190S". 7- O.. qullon de Loc:edem6nío ·eo,,~-te o 11 m<nmo" Figura 3 - Os sete saberes gregos Fonte: ROSAS, 2010, p.46. #ParaCegoVer: Os apotegmas gregos, a Filosofia grega, rica em variedade e pensamentos, já esboçava questionamentos e máximas (apotegmas), que hoje subsidiam os questionamentos psicológicos. 18 Como ilustrado pela relaç~o apresentada por Rosa (2010) os filósofos gregos Já esboçavam inquietações e premissas que buscavam explicar a natureza humana. Além disso, buscavam desvendar o porquê e para que os sujeitos humanos agiam, pensavam e se mobilizavam. Ao longo da história humana, a Filosofia teve papel singular, enquanto suporte conceituai e analítico, especulando sobre o comportamento do homem, sobre as próprias experiências, um dos primórdios da introspecção, o que mais tarde seria adotado como método principal da Psicologia em seu início. FIQUE DE OLHO Uma discussão interessante acerca do papel da Filosofia sobre a formação da Psicologia é apresentada pelo texto de Rodrigues e Mattar (2012) intitulado: "Psicologia, Filosofia, encruzilhadas, experimentações:caminhos possíveis no diálogo com Kierkegaard e Foucault". Anterior à Psicologia Científica, um terreno foi preparado para sua criação e instauração. Figueiredo (2008, p.22) destaca que é preciso considerar não apenas os elementos científicos e conceituais, mas também, as "[ ... ] as condições sociais, econômicas e culturais [ .. .]". Destacando alguns pontos, o primeiro é o embate, entre, de um a lado, aqueles saberes não-científicos (introspectivos, privados e; de outro, a necessidade de colocar tais saberes sobre uma lógica validadora (leis, conceitos, regulações) que possibilitaria um controle técnico e de reprodução social. E O segundo as divergências e as oposições que contrapõe, em decorrência do primeiro ponto, que caracterizam diferentes perspectivas (a Medicina, a Administração, a Educação, as Ciências Sociais, a Filosofia, etc.), ou seja, uma ampla variedade de matrizes que reivindicam s saberes "Psi". 3.1 As matrizes da Psicologia Figueiredo (2008), identificou diferentes tipos de matrizes, que refletem seu arcabouço teórico, caracterizam, ambíguo. Segundo o autor, por"[ ... ) causa disso, na história da psicologia, a ordenação no tempo das inovações teóricas e das descobertas empíricas só é tarefa razoável[ .. .]" quando estes estão contextualizados e localizados de modo bem preciso quanto á corrente que as produziu. Neste sentido, é possível citas as seguintes matrizes identificadas por ele. As Matrizes Cientificistas: a matriz nomotética e quantificadora; a matr iz atomicista e mencanicista; a matriz funcional e organista. As Matrizes Românticas e Pós-românticas: a matriz vitalista e naturista e; as matrizes compreensivas. É interessante notar que esta classificação sinaliza, como o próprio autor destaca, a condição antagônica e assimétrica que a Psicologia se construiu. Uma vez que, representa diversa posições, influências e orientações intelectuais (irredutíveis) e não intercambiáveis, umas com as outras. 19 Salienta ainda, que só é possível conceber tal Torre de Babel, justamente, se conjuntamente a isto, perscrutar-se"[ ... ) no contexto dos conjuntos culturais de que fazem parte e nas suas relações com o projeto[ ... ] de constituição da psicologia como ciência independente" (FIGUERDO, 2008, p.22). As matrizes cientificistas, concebem como objeto de estudo da Psicologia aquele especificado pela "[ ... ] imitação mais ou menos bem-sucedida e convincente de modelos de prática vigente, nas ciências médicas, exatas e naturais" (Ibidem, p.26-27). Ao passo que as matrizes românticas e pós-românticas que enfatizam e destacam um objeto de estudo, à Psicologia, mais delineado e centrado nos"[ ... ) atos e vivências de um sujeito, dotados de valor e significado para ele[ ... )" (Ibidem, p.27). Assim, a identidade cientifica da Psicologia, sob esta matriz, é outorgada sob a premissa da busca de novas referências que legitimem suas abordagens. 3.2 As matrizes cientificistas As matrizes empreendidas nesta tipologia mais ampla da Científicidade, são marcadas pela adoção fiel dos modos naturais de fazer ciência. Como, por exemplo, a Matriz de ordem Nomotéticas e Quantificadoras. Trata-se daquelas correntes teóricas que compreendem a existência de uma ordem natural a ser descoberta e identificadas. Os fenômenos psicológicos e comportamentais, produtivamente, precisam ser compreendidos e catalogados. Para tanto, as técnicas e métodos criados, seguem a lógica de que "[ ... ) a ún ica operação efetuada é a mensuração, sustentada na pura observação ou na intervenção [ .. .]" (FIGUEIREDO, 2008, p.27). programada. O conhecimento produzido é guiado por uma lógica e autocorreção constante, em que todo o evento natural é revisado (através da experimentação), vez após vez a fim de situá-lo, corretamente, na ordem das coisas. Figura 4 - Olhares científicos Fonte: Amanda Goehlert, lstock, 2020. #ParaCegoVer: Os fenômenos das teor ias aqui abarcadas, são preconizados e concebidos em termos de validade e experimentação. 20 Já a Matriz Atomicista e Mecaniscista organiza suas premissas a partir "[ ... ] de relações deterministas e probabil ísticas, segundo uma concepção linear e unidirecional de causalidade" (FIGUEIREDO, 2008, p.28). Neste sentido, o conhecimento é fruto da identificação de elementos mínimo que irão constituir o fenômeno alvo, no qual a realidade é a produtora do fenômeno, através da combinação de diferentes elementos. Isto significa que há um começo, um meio e um fim, entre a causalidade e o fenômeno em si. Uma tempora lidade, ao mesmo tempo, atômica (estrutural), em que conceitos, configurações de fenômenos e, mecânica (linear), que apenas substitui o determinismo pelo probabilismo, na concepção do seu objeto de estudo. Surge, ainda, teorias que se alicerçam em uma matriz mais Funcionalista e Organicista. Segundo Figueiredo (2008, p.29), das três matrizes cientificistas, a que mais influenciou (até tempos atua is). Ainda sob a lógica cientificista, estamatriz recupera a concepção de que os: [ ... ] fenômenos v~ais precisam ser explicados em t ermos de funcionalidade, dos seus 'propósitos objetivos' [pois trata-se de] fenômenos que evolulram e se mantêm na interação com as suas consequências. Mais que isso: são fenômenos que incorporam seus efeitos nas suas próprias definições. Diferente das outras matrizes, esta concebe o fenômeno tanto em sua causa quanto em sua consequência, ou seja, numa dinâmica circular: um efeito é causa de outro efeito, uma causa é efeito de outra causa. Surge a premissa de que a parte (funcionalidade, organização, mecânica) é expressão de um todo: suas partes são interdependentes entre si, e do todo, e vice-versa. Isto implica que, a historicidade do fenômeno começa a implicar em seu acontecimento . De modo diferente do que se preconizou nas outras matrizes cientificistas (subdivisão e identificação de elementos), na Matriz Funcionalista e Organicista se enfatiza a identificação e análise de Sistemas Funcionais. Sob a égide da inteligibilidade científica, as escolas de pensamento oriundas desta matriz desenvolveram suas teorias sob uma lóeica que expressão aleum valor e sienifica. É daí a concepção de funcional idade entre as diferentes partes do sistema. 3.3 As matrizes Românticas e Pós-Românticas As matrizes desta lógica são, literalmente, tudo o que foi refugado pelas Matrizes Cientificistas. Traduzidas em atitudes e perspectivas intelectuais que concebem um carácter qualitativo aos fenômenos psicológicos. No que tange à Matriz Vitalista e Naturalista, são enfatizados conhecimentos que favoreçam a v ida espiritual do homem, a natureza fluida das coisas, uma vez que o interesse científico é suplantado pelo interesse estético, de modo que "[ ... ] se anulam as diferenças entre sujeito e objeto docon hecimento e a diferença entresereconhecer" (FIGUEREDO, 2008, p.32). Vale destacar as correntes humanistas e corporais da Psicologia, que mais forcam-se nas práticas clínicas e nas representações sociais do que em val idações conceituais. 21 = --il '' ... L. .J L ,, J\ Figura 5 - Olhares românticos Fonte: Undrey, lstock, 2020. l J #ParaCegoVer: Matrizes Românticas e Matrizes Pós-românticas Os fenômenos das teorias aqui abarcadas, são preconizados e concebidos em termos de validade e experimentação. Agora no que se refere às Matrizes Compreensivas, estas são guiados por um interesse comunicativo, não é à toa, que Figueiredo (2008) a classificou como de interesse comunicativo, em essência, pelas formas simbólicas do fenômeno psicológico. Estruturadas em três l inhas, vejamos a seguir. Historicismo Ideográfico Interessado em captar a vivência imediata do sujeito: significados, valores, sem generalizações e esquemas formalizantes. Estruturalismo Focado na compreensão das estruturas geradoras de mensagens, suas regras, organizações, formatos e processos. Fenomenologia Crédulo na premissa de que todo o conhecimento e juízo está alicerçado em uma estrutura cognitiva definidora de formas, de mecânicas, de processos, os quais se constituem e se validam, a si mesmos. Cabe destacar que, as matrizes compreensivas se caracterizam, talvez com exceção do estruturalismo, por secretarem o culto da experiência única. Isto é, algo que sinaliza a exclusividade da escolha e indeterminável do ser psicológico. Em contraponto às matrizes científicas valorizam um pensamento psicológico centrado na ideia de um sujeito, enquanto objeto de estudo, como qualquer outro. 22 Já as matrizes compreensivas concebem um pensamento psicológico norteado pela premissa de um sujeito retraído a si mesmo (subjetividade), livre à sua própria prisão: indeterminável, exclusivo e irreproduzível, em suma único. Este ziguezague conceituai, para estudiosos da História da Psicologia, tais como Schu ltz e Schultz (2009), Figueiredo (2008), Figue iredo; Santi (2008), Abib (2005), e muitos outros, é uma das marcas idenitárias. A história dos preceitos e conceitos psicológicos, em grande parte, reve la a presença de várias filosofias científicas, que "correm por baixo" (ADDIB, 2005) de suas correntes e escolas de pensamento, uma verdadeira 'colcha de retalhos', que entrelaça diferentes crenças metafísicas, epistemológicas, sociais etc. A cada intérprete de seus fenômenos, a Psicologia, com suas proposições e entendimentos, revela-se mais e mais modulável Figue iredo e Santi (2008). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 4 CONSTITUIÇÃO DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA Ao início de uma ciência, de um ramo científico, torna-se imprescindível a consecução de um projeto e, por conseguinte, de marcos que concretizam e materializam suas etapas. No caso da Psicologia, se, nos seus primórdios, houve todo um conjunto de pré-condições socioculturais, no sécu lo XIX, para sua condição científica, a citar: a experiência da subjetividade privatizada, a Modernidade e sua consequente crise e efeitos à subjetividade, o sistema mercantil e a individuação, a ideologia liberal iluminista, romântica e o regime disciplinar. Cabe destacar três projetos, como apresenta Figueiredo e Santi (2008): o projeto de Wundt, o projeto de Tichnere o projeto funciona lista, que se sinalizam como marcos para a emergência de uma ciência psicológica independente. 4.1 A Psicologia Intermediária de Wundt Willhem Wundt, psicólogo alemão, ostenta o reconhecimento de fundar, pioneiramente, o 23 primeiro projeto de uma psicologia científica de forma independente. Ao cr iar de um conjunto de instituições voltadas a ações de pesquisa e ensino da Psicologia, formando assim um expressivo número de profissionais: psicólogos (FIGUEIREDO;SANTI, 2008; TORMAN, 2015). A partir de uma visão interscectiva, Wundt concebia a Psicologia como posicionada entremeada por out ras ciências: da natureza e da cu ltura. Neste sentido Wundt , produziu uma extensa obra que variou entre experimentos fisiológicos e sociais. Justamente, por quê Wundt interessou-se na experiência imediata do indivíduo, como ele a vivencia, antes mesmo de se pôr a pensar sobre ela. [ ... ] Contudo, wundt não reduz a tarefa da psicologia à descr'1ção dessa experiência subjetiva. Ele quer ir além e tenta fazê-lo de duas formas: a) util izando o método experimental, ele pretende. pesquisar os processos elementares da vida mental que são aqueles processos mais fortemente determinados pelas condições físicas do ambiente e pelas condições fisiológicas dos organismos. Com o método experimental, em situações controladas de laboratório, Wundt procura analisar os elementos da experiência imediata e as formas mais simples de combinação desses elementos. Mas isso é apenas o começo da psicologia, e não é o mais importante para w undt; e bl por meio da análise dos fenômenos culturais - como a linguagem, os sistemas religiosos, os mitos, etc. (FIGUEIREDO; SANTI, 2008, p.62-63). De modo muito característico, a Psicologia wu ndtiana posicionava-se entre duas causalidades: a física e a psíquica, entre pr incípios físicos/fisiológicos e princípios que explica riam a conduta humana. Os preceitos do projeto experimental de Wundt buscavam, justamente, articular estas duas causalidades, tentando explicar como elas interagia, integrando-se, em uma dinâmica psicofísica. Figueiredo; Santi (2008, p.63) destaca que, mesmo sem perceber, Wundt já iniciou não uma Psicologia, mas sim duas ciências psicológicas: [ ... ] a) a psicologiafísiológica experimental, em que a causal idade psíquica é reconhecida, mas não é enfocada em profundidade - e nesse sentido não se cria nenhum problema mais sério para ligar essa psicologia às ciências físicas e fisiológicas; e b) a psicologia social ou "dos povos", cuja preocupação é exatamente a de estudar os processos criativos em que a causalidade psfquica aparece com mais força. Em síntese, justamente, por conceber o fenômeno psicológico como sendo vasto e comp lexo,que demandava um suporte interseccional, entre as ciências naturais e as socioculturais, Wundt inaugurou um marco inaugural para a psicologia. LI. ? â Dc:.irnlnab J:'ct-r11t-11r"lict" ~ .. Tit-rht>nt>r Aluno de Wundt, o psicólogo americano Edward Bradford Titchener, é considerado o responsável pela divulgação da obra de seu mestre em terras estadun idenses. Suas premissas de estudo estabelecem não mais na experiência imediata de um sujeito psicofísico, mas sim, na experiência dependente de um puro organismo: um sistema nervoso. O foco vai além da experiência em sim, como pensado por Wundt. Titchener baseia-se nas justificativas fisiológicas da vida mental (FIGUEIREDO; SANTI, 2008). 24 FIQUE DE OLHO Para saber mais sobre a fundação do Laboratório de Wundt convido você a ler o texto de Saulo de Freitas Araujo (2009), intitulado "Wilhelm Wundt e a fundação do primeiro centro internacional de formação de psicólogos". ARAUJO, S.F. Wilhelm Wundt e a fundação do primeiro centro internacional de formação de psicólogos. Temas psicol., Ribeirão Preto, v.17, n.1, p.09-14, 2009. Disponível em: http:// pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scripbasci_arttext&pid=S1413-389X2009000100002&1ng=pt &nrm=iso. Acesso em: 28 mar. 2020. As explicações psicológicas do projeto de Titchener está alicerçada, de modo emprestado, de conceitos oriundos das ciências natura is, [ ... ] com isso,a psicologia deixa de sertão independente como pretendia Wundt. Em compensação, começa a desaparecer o problema com a unidade psicoffsica: Titchener defende a posição denominada paralel ismo psicofísico, em que os atos mentais ocorrem lado a lado a processos psicotis iológicos. Um não ,a11<a n nutro, mas ntisinlngirn P<plica n mental (FIGLJFIRFDO; SANTI, 2008, p .fiS). Titchener tem baseado na lógica de que é possível fazer uma Psicologia exclusivamente, em métodos como a experimentação e a observação. Sendo que, em terras psicológicas, tais métodos, em especial observação, seriam empreendidos a partir de auto execução. Os sujeitos (treinados) seriam capazes de descrever, objetiva e detalhadamente, suas experiências subjetivas (em experiências laboratoriais). Assim, em primeiro a Psicologia, em sua essência, precisaria focar, tão somente na descoberta e na compreensão da natureza das experiências conscientes elementares. Já em segundo lugar a consciência deveria ser analisada de forma estrutural (TORMAN, 2015). FIQUE DE OLHO Para saber mais sobre a proposta metodológica de Titchener, convido você a ler o texto de Cíntia Fernandes Marcellos (2014), intitulado "O lntrospeccionismo Ainda Não Considerado: O Caso de Edward Titchener". MARCELLOS, C.F. O lntrospeccionismo Ainda Não Considerado: O Caso de Edward Titchener. Psicol. pesq., Juiz de Fora, v.8, n.1, p.127-131, jun.2014. Disponível em: http:// pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scripbasci_arttext&pid=S1982-12472014000100012&1ng=pt &nrm=iso. Acesso em: 28 mar. 2020 25 Se Wundt serviu de subsídios para a moderna psicologias cogn itivas e a contemporânea psicologia social, e mesmo a psicolinguística; Titchener se esforçou e agregou à Psicologia seu caráter subordinativo às Ciências Naturais. muitas das correntes de pensamento atuais, em especial aquelas que se articulam com as Ciências Naturais, devem aos estudos de Titcherner, muitas de suas premissas e referências. 4.3 A Psicologia Funciona lista de James William James, expoente da Psicologia Funcional, concebia uma Psicologia - alicerçada nas Ciências Naturais - interessada nos processos, operações e atos psíquicos (mentais) como forma de interação adaptativa (FIGUEIREDO; SANTI, 2008) . Sob a lógica evolutiva de que os seres vivos (homens e outros animais) só sobrevivem se portadores de características que permitam sua adaptação ao ambiente que os circundam. A Psicologia Funciona Ide James, pressu põe,q ue ascaracterísticasorgâ nicas e com porta mentais evoluem, e por efeito, adaptam o indivíduo (ou qualquer ser vivo) ao ambiente [ ... ] certo nfvel de adaptação envolve as capacidades de sentir, pensar, decidi r, etc., ou seja, o nfvel propriamente psíquico. As operações e processos mentais seriam, assim, instrumentos de adaptação e se expressariam claramente nos com portamentos adaptados (FIGUEIREDO; SANTI, 2008, p.65). Mas para compreender com tais processos mentais operam no cotidiano humano, é preciso uma ampla variedade de técnicas e métodos de pesqu isa. A mente pode ser estuda, de modo confiável, não pela introspecção titcheneriana, mas sim, pela observação dos comportamentos adaptativos. FIQUE DE OLHO Para saber ma is sobre a teoria funcionalista de James, leia o texto de Saulo de Freitas Araujo de Aldier Félix Honorato (2017), intitulado "Para Além dos Princípios de Psicologia: Evolução e Sentido do Projeto Psicológico de Wil liam James". 4.4 A Psicologia Associativa de Thorndike Edward Lee Thorndike, é o principal representante do Projeto de Psicologia, denominado Associacionismo. Centrado, pr incipalmente, por desenvolver pesquisas comportamentais com animais de modo comparativo ao comportamento humano, especialmente, aqueles manifestos. Ou seja, aqueles que pudessem ser observados e mensurados (TORMAN, 2015). Thorndike concebe uma Psicologia centrada na objetividade. Seu foco era compreender a aprendizagem, não em termos subjetivos, mas sim, no âmbito das concessões concretas, 26 exclusivamente, via a relação entre estímulos e respostas. Suas descobertas tiveram grandes impactos na área da Educação, de modo à contribuir com a inserção da psicologia tanto como disciplina aplicada na área educativa quanto como um ramo diversificado (Psicologia da Educação). É dele a chamada Lei do Efeito (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009), bastante cara à correntes psicológicas mais contemporâneas, como o behaviorismo radical, por exemplo. 5 A CONSTRUÇÃO PSICOLOGIA DO CONHECIMENTO EM ( Como destacado por Figueiredo e Santi (2008, p.17) os projetos científicos para uma Psicologia independente, precisam ser entendidos em função das condições socioculturais que os circunscrevem [ ... ] as cond·1ções para a emergência de projetos de psicologia científica e ram duas: a) um alto nível de elaboração da experiência subjetiva privatizada; e b) a crise dessa experiência, com o reconhecimento de que o sujeito não é tão livre como julga, nem tão único como crê. É isso que leva à necessidade de superar a experiência imediata para compreendê-la e explicá-la melhor. Seja pela via das Ciências Naturais, em que alguns projetos tentaram explicar - fisiológica, biológica e objetivamente -os fenômenos psicológicos. Seja pela via das Ciências da Sociedade e das Culturas, em que foram enfatizados aspectos mais subjetivos e menos observáveis. Dois lados de uma moeda, facilmente perceptível e de difícil compatibilização. De um lado uma perspectiva científica em que a objetividade é a premissa básica, e que se vale da identificação das forças biológicas e ambientais que causa, produzem e controlam o comportamento, de modo a reproduzi-lo. No oposto, outra perspectiva que se presta a capturar as vivências, de modo íntimo e privativo, mas que não se interessa em causas nem efeitos, mas sim, no como, no estado, na condição. Tanto comportamentos quanto vivências são lados de uma moeda difíceis de articulação. Figueiredo e Santi (2008, p.87), tentam explicar esse aspectos, pontuando que [ ... ] nós não somos para nós mesmos faci lmente compreensíveis, nem sabemos ao certo como somos, por que somos e por que agimos de uma ou de outra maneira. Ora, isso reflete muito bem a nossa condição existencial: ternos uma clara noção, vivemos intensamente e atribuímos um alto valor à nossa experiência da subjetividade privatizada e, ao mesmo tempo, sentimos que nossa subjetividade e nossa individualidade estão ameaçadas. Estas diferentes linhas de pensamento, que dividem e compõe a psicologia científicacontemporânea, não ocorrem por acaso. Elas são expressão do estado natural produzido no seio de sua condição de ciência independente: a crise. seja a subjetividade a ser compreendida, 27 perscrutada; seja o comportamento a ser observado, mensurado e sequenciado; a Psicologia, encontra-se, desde seu início, em uma constante intermediação de seus conhecimentos com outros saberes científicos, naturais e sociais. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: A produção de conhecimento psicológico sobre a vida humana é perpassada por modos de pensar práticas científicas, sociais, profissionais e humanas. Esses modos atravessam tanto a execução de comportamentos quanto a sua observação. Neste sentido, a todo momento a Psicologia, enquanto ciência independente, designa-se em uma constante crise, intercambiando conhecimento com outras áreas do saber, seja para seus próprios movimentos, seja, para subsidiar os movimentos de outras áreas que de tais conhecimentos faça uso das Ciências Sociais Aplicadas, Educação, Pedagogia, Admin istração, Ciências da Saúde etc. 28 fJ Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • descrever a evolução histórica da psicologia e suas relações com as ciências humanas e sociais; • demonstrar a psicologia na contemporaneidade e seus desafios; • introduzir as questões relativas à psicologia, sua constituição enquanto conhecimento científico. • conhecer a contrução do conhecimento em Psicologia. ABIB, J.A.D. Prólogo à história da psicologia. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, v.21, n.1, p.053- 060, Apr. 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php ?script=sci_arttext&pi- d=S0102-37722005000100008&Ing=en&nrm=iso. Acesso em: 27 mar. 2020. ARAUJO, S.F. Wilhelm Wundt e a fundação do primeiro centro internacional de formação de psicólogos. Temas psicol., Ribeirão Preto, v.17, n.1, p.09-14, 2009. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S1413-389X2009000100002&1ng=pt&nrm=iso. Acesso em: 28 mar. 2020. BRASIL. Lei n. 4.119, de 27 de agosto de 1962. Dispõe sõbre os cursos de formação em psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/l4119.htm. Acesso em: 27 mar.2020. CARRARA, K. Uma ciência sobre "coisa" alguma: relações f uncionais, comportamento e cultura. São Paulo: Editora UNESP, 2015. FIGUEIREDO, L.C.M. Matrizes do pensamento psicológico. Petrópolis: Vozes, 2008. FIGUEIREDO, L.C.M.; SANTI, P.L.R. Psicologia, uma (nova) introdução: uma visão histórica da psicologia como ciência. 3. ed. São Paulo: EDUC, 2008. GONÇALVES, F.R. Observação/Análise. ln: FAZENDA, I.C.A. (org.). Dicionário em constru- ção: interdisciplinaridade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002. HAAS, C.M. Prática. ln: FAZENDA, I.C.A. (org.). Dicionário em construção: interdisciplinari- dade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002. JACÓ-VILELA, A.M.; OLIVEIRA, D.M. Clio-Psyché: discursos e práticas na história da psico- logia. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2018. MARCELLOS, C.F. O lntrospeccionismo ainda não considerado: o caso de Edward Titchener. Psico 1. pesq., Juiz de Fora, v.8, n.1, p.127-131, jun. 2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S1982-12472014000100012&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 28 mar. 2020. MATOS, R.H. Espaço. FAZENDA, I.C.A. (org.). Dicionário em construção: interdisciplinari- dade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002. MELLO, M.C. Sistêmico. FAZENDA, I.C.A. (org.). Dicionário em construção: interdisciplina- ridade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002. MORAES, L.S. Pesquisa. FAZENDA, I .C.A. (org.). 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Nesse sentido, compreenda a história e marcos cronológicos da Psicologia como profissão no Brasil. Entenda o processo de regulamentação da profissão, no Brasil, a partir da Lei n. 4.119/1962 e, ao perceber a intrínseca relação entre a formação e acadêmica e a prática profissional, reflita sobre as críticas e propostas acerca do currículo mínimo do curso de Psicologia, delimitado pelo Parecer n. 403/1962. Bons estudos! 33 1 CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM PSICOLOGIA Ao partir do pressuposto de que a Psicologia é classificada como uma ciência pura e aplicada, podemos perceber que a teoria e a prática são indissociáveis, uma vez que o conhecimento científico desenvolvido pela Psicologia provê o alicerce para que o psicólogo possa atuar em diferentes campos e orientar sua atuação a partir de diversas abordagens teóricas. Também, podemos analisar a Psicologia como uma área de ensino, pesquisa e profissão. Entretanto, para que alguém possa atuar como psicólogo é necessário que possua graduação em Psicologia e, aqui, estamos destacando a importância da formação (ensino) deste profissional, bem como de todo o conhecimento construído e em construção (pesquisa) da ciência psicológica. O conhecimento empírico e do senso comum são utilizados cotidianamente pelas pessoas para orientar suas ações e decisões, mas, eles podem propiciar compreensões imprecisas ou equivocadas da realidade. Por outro lado, o conhecimento científico, por ser validado e pautado na fidedignidade, confiabilidade e racionalidade pode ser entendido como o principal insumo para potencializar intervenções profissionais assertivas. A conhecimento científico da Psicologia tem se estruturado ao longo do tempo pela diversidade e funcionalidade dos seus modelos teóricos-metodológicos de acesso e compreensão do fenômeno psicológico. "De fato, a abordagem científica em Psicologia é um processo dinâmico entre a reflexão teórica e a possibilidade de verificação de fenômenos psicológicos na realidade" (CRUZ, 2016a, p.251). Teoria ) rática Figura 1 - Relação teoria e prática Fonte: Media Pix, Shutterstock, 2020. ret roalimentam, ilustrando que a teoria e a prática formam uma relação dialética e ind issociável. 34 A análise das bases epistemológicas da Psicologia permitem compreender como se estruturou o modelo tradiciona l de atuação e produção do conhecimento nos principais espaçosde atuação do psicólogo que, por décadas, concentrou-se na clínica, na escola e na indústria. Quando pensamos nos avanços e alternativas para a construção do conhecimento em Psico logia, devemos ter em mente que as transformações da sociedade, impulsionadas pe lo desenvolvimento tecnológico e mudança de valores, direcionam as necessidades de redefinição das temáticas da Psicologia e dos métodos e procedimentos de acesso aos fenômenos psicológicos e de inte rvenção sobre os mesmos. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: Em outras palavras, a construção do conhecimento em Psicologia e a apropriação de conceitos e métodos de outras áreas, ampliam as possibilidades descritivas, explicativas e preditivas dos fenômenos psicológicos. Portanto, é apoiada na ciência que a Psicologia conquista legitimidade e espaço de atuação em diferentes contextos. 1.1 Avanços e alternativas para a construção do conhecimento em Psicologia Caro estudante, você sabe como caracterizados os primeiros modelos de intervenção em Psico logia? Vamos pensar, por exemplo, a respeito dos primórdios da Psicologia nas organizações. A atuação dos psicólogos industriais levava em consideração, apenas, os fatores individuais relacionados aos problemas que deveriam ser solucionados como o ajustamento no t rabalho, por meio da busca da pessoas certa para o lugar certo. O foco, aqui, era a aná lise do perfil de personalidade e de inteligência para apoiar as atividades de seleção e orientação profissional, desconsiderando outras variáveis do desempenho humano. Com o passar do tempo, os fatores sociais e ambientais passaram a ser incluídos para se compreender a multideterminação dos fenômenos psicológicos. Para tant o, novos conhecimentos se fizeram necessários. l lm::1 n11tr::1 fnrm::1 riiP ri::afliPtirmnc:. c:.nhri::i n n rnriPc:.c:.n fiiP iP\fnl11rSn rb rnnc::.tn 1rSn rliP rnnhiPrimiPnt n em Psicologia é pela análise de livros, que discorrem sobre a história da Psicologia e, com fins de exemplificação, poderíamos mencionar o trabalho de Jacó-Vilela et ai (2018) quando abordam o conhecimento produzido na área, nos últimos séculos, não restringindo-se, apenas, às produções europeias e norte-americanas, inclu indo as brasileiras. [ ... ] A Psicologia, organizada em torno de um corpus cientitico, ou seja, um conjunto de evidências e anál ises teóricas acerca de fatos e fenômenos humanos, produziu, ao longo da segunda metade do século XX, as condições necessárias ao processo de institucionalização da protissão de psicólogo no Brasil". Adjetivar a Psicologia como ciência e protissão, portanto, resulta da compreensão histórica da necessidade de associar um corpus cientifico a um projeto de intervenção protissional em diferentes conte><1os sociais (CRUZ, 2016 a, p. 251). Para caracterizar a Psicologia Contemporânea, enfatiza-se o diálogo da área com o contexto social, defendendo-se a premissa da influência sócio-histórica na constituição e formação do ser humano. Para subsidiar este entendimento, resgata-se as construções referentes à Psicologia das Massas, o pensamento das Escolas de Frankfurt e de Chicago, o movimento institucionalista, a teoria das representações sociais e a incorporação das ideias marxistas para subsidiar a abordagem crítica da Psicologia (JACÓ-VILELA et ai., 2018). Dizemos, ainda, que os avanços para a construção do conhecimento em Psicologia estão diretamente relacionados às atividades de pesquisa. Os achados das investigações científicas alimentam o desenvolvimento e a aplicação de princípios científicos em diferentes contextos de atuação do psicólogo, potencializando as intervenções profissionais, bem como instigando novas demandas sociopolíticas e tecnológicas a serem investigadas. Segundo Spector (2012), a pesquisa fornece princípios que podem ser utilizados na prática. A atuação profissional, portanto, incorpora princípios psicológicos que são colocados em prática para intervir em problemas do mundo real, por exemplo, desenvolvimento de competências gerenciais em programas de treinamento corporativos. Para que possamos ter uma ideia dos diferentes assuntos que são investigados no âmbito acadêmico nas diversas especialidades da Psicologia, tomemos como base a estruturação fornecida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Essa estrutura é conhecida como árvore do conhecimento, formada por uma hierarquia de quatro níveis, que viio do m;iis ger;il ;aios m;iis específicos, como: 1º nível - Gr;inde Áre;i; 2º nível- Áre;i; 32 nível - Subárea; e 42 nível- Especialidade (CNPQ, 2018). Especificamente em relação à área da Psicologia, a mesma encontra-se subordinada à grande área de Ciências Humanas, derivando-se em diversas subáreas e especialidades. 36 (:§> FIQUE DE OLHO A classificação das Áreas do Conhecimento constitui um instrumento de sistematização da informação proveniente de atividades de pesquisa em ciência, tecnologia e inovação. Esse tipo de classificação permite organizar e padronizar as pesquisas na área Psicologia, bem como orientar a investigação doestado da arte da produção do conhecimento em Psicologia. Para que você possa ter uma ideia dos tipos de pesquisa em andamento ou concluídos, classificados na área Psicologia, no estado de São Paulo, por exemplo. A representação do conhecimento em uma estrutura classificatória e de organização dos dados da produção científica publicada e de outras atividades de Ciência, Tecnologia e Inovação (C&TI) serve como um instrumento de gestão e ava liação com fins de subsidiar o planejamento, implementação, monitoramento e avaliação de políticas públicas (SOUZA, 2004). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 2 PSICOLOGIA COMO PROFISSÃO NO BRASIL Com relação à profissão do psicólogo faz-se pertinente considerar as questões de sua formação acadêmica, uma vez que a partir da regulamentação da profissão, a conclusão do ensino superior no curso de Psicologia é condição indispensável para o exercício legal da profissão. A temática formação acadêmica do profissional, já vem sendo estudada desde 1964 a partir dos trabalhos de Angelini e Maria, Benko e Azzi (YAKAMOTO et ai., 2010). Quase duas depois,já havia mais de cem trabalhos abordando esta temática. Em relação à profissão, Yakamotoetal (2010) afirmam que no início do século XXI já havia em torno de mil documentos de naturezas diversas sobre o assunto. Conforme abordado anteriormente, é claramente perceptfvel que a demanda social, cultural, tecnológica, política e econômica da sociedade e do mercado de trabalho influenciaram 37 diretamente as searas da academia. É com base neste entend imento que iremos abordar agora a História da Psicologia brasileira e seus marcos cronológicos. 2.1 História da Psicologia brasileira e seus marcos cronológicos A profissionalização da Psicologia, no Brasil, foi marcada, segundo Pereira e Pereira Neto (2003) e Jacó-Vi lela (2012), por três momentos principais, assim denominados: pré-profissional; profissionalização e profissiona l. Vejamos, a seguir. Pré-profissional (1833-1890): período marcado pela falta de sistematização dos saberes e práticas psicológicas e não regulamentação da profissão de psicólogo; Profissionalização (1890-1975): período caracterizado pelos a gênese da institucionalização da prática psicológica até culminar com a regulamentação da profissão e o estruturação dos dispositivos formais; Profissional (1975): período marcado pela organização e consol idação da profissão e demanda crescente pelos serviços em função de significativas mudanças culturais, econômicas, sociais e políticas ocorridas no país e disseminação das facu ldades de Psicologia, gerando um excedente de profissionais no mercado do trabalho. Para discorrermos sobre os principais acontecimentos que impulsionaram a institucionalização e consolidação da profissão do psicólogo brasileiro,vamos conhecer alguns fatos marcantes ocorridos ao longo dos séculos XIX e XX, e compartilhados por meio das publicações do Conselho Federal e de Psicologia e de Conselhos Regionais, tais como o do estado de São Paulo, do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, para comemorar, em 2012, os 50 anos de profissionalização da Psicologia no Brasi l. No Brasil, até o início do século XXI, não existia a Psicologia enquanto campo de atuação profissional. Seu surgimento foi impu lsionado pelos interesses da classe dominante pela produção e aplicação de saber e práticas da área. A chegada da família real no Brasil, em 1808, e a proclamação da independência, em 1822, provocaram significativas mudanças de natureza social, cultural, econômica e política que cu lminaram com o surgimento dos primeiros cursos superiores e das sociedades científicas. Dentre eles, destaca-se a oferta do curso de Medicina, em 1833, na Bahia e no Rio de Janeiro. Os estudos ali desenvolvidos, norteavam-se, de preferência para a aplicação social da Psicologia, para a Criminologia, para Psiquiatria Forense e Higiene Mental (SOARES, 2010). 38 [ ... ] No século XIX, com a transferência da corte portuguesa para o Brasil, foram criadas instituições destinadas à administração pública e à vida cult ural, como bibliotecas, academias e instituições de ensino, Faculdades de Medicina e de Direito, Escolas Normais. Salvador e Rio de Janeiro tornam-se grandes centros urbanos, apresentando problemas relacionados ao aumento de um contingente populacional excluído das condições mínimas de dignidade, como os leprosos, loucos, prostitutas, alcoólatras, crianças abandonadas, muitos dos quais ex-escravos que, já não mais produtivos, eram abandonados à própria sorte e se tornavam alvos de práticas higienistas, como a reclusão em prisões e hospícios, respaldada pelo discurso médico (CRP/SP, 2011, p. 7). Nesta época, observava-se que a aplicação dos conhecimentos psicológicos para enfrentamento de problemas sociais de ajustamento e sua relação com a área da neuropsiquiatria e neurologia para compreensão e tratamento dos problemas de saúde mental. Soares (2010, p. 12) corrobora este entendimento afirmando que"[ ... ] as primeiras contribuições para o estudo da Psicologia, no Brasil, são oferecidas por Médicos". A partir de 1840 foram constru ídos os primeiros hospícios no Brasil, com fins de oferecer tratamento adequado aos 'loucos' (CRP/SP, 2011, p. 8). Em 1890, houve uma importante reforma, denominada Reforma Benjamim Constant que incorporou a disciplina de Psicologia no currículo das Escolas Normais, podendo perceber aqui sua relação com as questões de aprendizagem. Segundo Soares (2010, p. 19), "[ ... ] a reforma introduziu noções de Psicologia para a disciplina de Pedagogia". Em 1906 é criado o primeiro Laboratório de Psicologia Experimental, no Rio de Janeiro. Em 1922 foi instituída a Liga Brasileira de Higiene Mental, que dentre suas diversas ações, promoveu as Jornadas Brasileiras de Psicologia com fins de estimular o interesse pela pesquisa pura e aplicada em Psicologia (SOARES, 2010). Segundo Jacó-Vilela (2012, p. 35), "[ ... ] o movimento higienista aparece com um caráter missionário, progressista, de melhoria das condições de vida das camadas mais pobres da população". Mesmo com a organização do movimento higienista que, pregava melhoria nas condições das classes menos abastecidas da sociedade, a história da Psicologia brasileira demonstra ter tido pouca ou praticamente nenhuma contribuição de melhorias na vida da maioria da popu lação. Na verdade, durante um longo período, "[ ... ] o saber psicológico foi utilizado como instrumento político-ideológico ligado aos inte resses das elites brasileiras" (BOCK, 2004, p.1). O mote principal era livrar a sociedade da desordem e dos desviantes. Nesta direção, em 1923, também em terras fluminenses, foi insta lado o Laboratório de Psicologia Experimental, na Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro. Segundo Soares (2010, p. 15), o laboratório"[ ... ] preparou profissionais de diversas especia lidades. Foi o primeiro centro brasileiro de pesquisa pura, em Psicologia" Quase uma década depois, em 1932 é criado o Instituto de Psico logia da Secretaria Estadual de Educação e saúde Pública com fins de formar profissionais. Entretanto, o mesmo foi fechado em menos de um ano de funcionamento, sendo reaberto somente em 1937, quando foi incorporado à Universidade do Brasil. Em 1934, a disciplina Psicologia Geral passou a ser obrigatória nos cursos de Filosofia, Ciências Sociais e Pedagogia, na Universidade de São Paulo (USP) e assim surgiram as primeiras Cátedras de Psicologia. Pré-profissional {1833-1890) Período marcado pela falta de sistematização dos saberes e práticas psicológicas e não regulamentação da profissão de psicólogo. Profissionalização {1890-1975) Período caracterizado pelos a gênese da institucionalização da prática psicológica até culminar com a regulamentação da profissão e o estruturação dos dispositivos forma is. Profissional {1975 até os dias atuais) Período marcado pela organização e consolidação da profissão e demanda crescente pelos serviços em função de significativas mudanças culturais, econômicas, sociais e políticas ocorridas no país e disseminação das faculdades de Psicologia, gerando um excedente de profissionais no mercado do trabalho. O final dos anos de 1930, demandou a necessidade de amparar nos conhecimentos psicológicos para orientar os primórdios da industrialização brasileira e consequente urbanização dos grandes centros com fins de " [ ... ] favorecer a organização do trabalho, mas também para atuar nas escolas e clínicas infantis, principalmente" (BERNARDES, 2009, p.10, apud SILVA BAPTISTA, 2010, p. 172). Na década de 1940, os conhecimentos de Psicologia são demandados na área do trabalho para ajudar no processo de industrialização do país, buscar o ajustamento dos funcionários e realizar processos de recrutamento e seleção de pessoal. Segundo Jacó-Vilela (2012), são criadas neste período, as primeiras Associações de Psicologia e os primeiros periódicos científicos para disseminação do conhecimento em Psicologia. Conforme Angelini (2011), em 1945 é criada a Sociedade de Psicologia de São Paulo (SPSP) e seu periód ico intitu lado Boletim de Psicologia, tem sua primeira edição publicada quase me ia década depois. Segundo Costa et ai. (2010), o objetivo da SPSP estava ligado à articulação do desenvolvimento da Psicologia como ciência e profissão, por meio do intercâmbio entre profissionais e acadêmicos vinculados à área da Psicologia e à áreas afins. Com a criação das associações da área e a veiculação de periódicos especializados, a Psicologia se instituciona liza e se consolida como "[ ... ) uma ciência capaz de formular teorias, técnicas e práticas para orientar e integrar o processo de desenvolvimento demandado pela nova ordem política e socia l" (CRP/SC, 2011, p. 12). Os serviços psicológicos são praticados na área da clínica, trabalho e educação e subsid iados pelo uso de testes e procedimentos de avaliação psicológicos, principalmente, na região sudeste, nas instituições públicas de orientação infantil. 40 Em 1946, é elaborado o Decreto Lei n. 9.092, ampliando o regime didático das Faculdades de Filosofia, referindo-se à área da Psicologia, no art. 4, parágrafo 1, ao obrigar os alunos do quarto ano de licenciatura, a cumprirem um curso de Psicologia Aplicada à Educação. Dois meses depois, em abril, o Ministério da Educação e Saúde, publica a Portaria n. 272 que determina que os diplomas de especialização em Psicologia estão à aprovação nos três primeiros anos do curso de t-llosona, bem como em cursos de tlI0IogIa, t-IsI0IogIa, AntropoIogIa, t:stat1st1ca, e em cursos especializados de Psicologia e estágio em serviços psicológicos. Em 1947, Mira Y Lopez cria o Instituto de Seleção eOrientação Profissional (ISOP), no Rio de Janeiro, oferecendo diversos cursos de extensão (JACÓ-VILELA, 2012). No ano seguinte é publicada a obra "Psicologia Evolutiva da Criança e do Adolescente" (SOARES, 2010). [ ... ] Aqui encontramos explicitamente a atuação profissional do psicólogo, chamado ás vezes de psicotécnico ou de psicologista. Não mais subsumido sob o mando da educação, o profissional dotinal dos anos 40 em diante está no campo da seleção e da orientação profissional, como no ISOP (ou na Estrada de Ferro Sorocabana, em São Paulo, ou ainda no Banco da Lavoura, em Belo Horizonte), está nas escolas, principalmente MS experimentais, e começa a atuar na cl inica, realizando psicodíagnóstico i nfanto- juventil, orientação de pa·1s e mesmo orientação vital. Em todos esses campos, os t estes psicológicos serão o instrumental privilegiado para a atuação do novo profissional (JACÓ-VILELA, 2012, p. 38). Em 1949 são proferidas palestras sobre "A profissão do psicólogo e a Associação de psicólogos norte-americanos: sugestões para a organização de nossa sociedade" e "Impressões de viagem de estudos a centros europeus". O objetivo subjacente a esses eventos era promover discussões com fins de esclarecer a existência da profissão e descrever atividades desenvolvidas em outros países que poderiam servir de inspiração (SILVA BAPTISTA, 2010). Em 1951 é publicado o artigo "Aspectos da orientação e seleção profissiona l na Eu rapa" e, em 1953 o artigo "Requisitos básicos da formação de psicologista" (SILVA BAPTISTA, 2010). Em 1953 é ofertado o curso de especialização em Psicologia na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, bem como organizado o I Congresso Brasileiro de Psicologia. Em 1954, o problema da regulamentação da profissão é exposto num ante projeto de lei e apresentado ao Ministério da Educação, pela Associação Brasileira de Psicotécnica, que incorporava as áreas escolar, clínica e do trabalho. Entretanto, o ante projeto foi vetado no que dizia respeito à atuação clínica do psicólogo, uma vez que este só poderia atuar mediante à supervisão de um médico. Conforme Silva Baptista (2010, p. 180), em 1958, é elaborado, pela Comissão de Ensino Superior do Ministério de Educação, o Projeto de Lei n. 3825-A que discorria sobre a formação de psicologistas no Brasil. O Parecer n. 412 foi um complemento deste projeto que tratou dentre vários aspectos, "[ ... ] da denominação psicologista a ser dada ao profissional - considerada mais adequada do que a de psicólogo (muito ampla) e a de psicotécnico (muito restrita)" (BRASIL, 1962, online). Havia ainda uma ressalva de que era urgente regularizar a formação deste profissional, uma vez que existiam autod idatas exercendo a profissão, além de serem contabilizados na época, mais de mil pessoas atuando na área da Psicologia. Em 1962 é aprovada a Lei n. 4.119, em 27 de agosto, assinada pelo presidente João Goulart, dispunha sobre os cursos de formação em Psicologia e regulamentava a profissão de psicólogo. Essa lei será devidamente apresentada no próximo tópico desta unidade de estudo. Dois anos depois, em 1964 é aprovado o Decreto-lei n. 53464, discorrendo sobre as atribuições do psicólogo. É importante destacar que os cursos de Psicologia se organizavam em um modelo teórico- metodológico que pudesse contribuir para a formação de um profissional liberal capacitado para ajudar o processo de ajustamento da sociedade aos interesses hegemônicos. Vianna et ai. (2012) explicam que o processo de ajustamento endereçado à Psicologia brasileira tem como alicerce o modelo ocidental de pensamento, no qual compreende o ser humano como individualizado. A compreensão individualizada do homem vai modificando-se com o avanço do conhecimento construído em Psicologia, principalmente, por meio da contribuição de Vigotsky, quando propôs um novo modelo à Psicoloeia . assentado a oartir da abordaeem histórica e cultural de análise dos processos psicológicos e consequente entendimento de que o ser humano deveria ser visto como produto e produtor de si mesmo e do meio no qual estava inserido (SILVA;HAI, 2011). Retomando a questão do marco cronológico, no que se refere ao âmbito da Pós-Graduação stricto sensu, Gomes e Hutz (2010) assinalam que em 1966 é criado o primeiro curso de mestrado em Psicologia Clínica na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e, oito anos depois, segundo, Otta et ai (2011), o primeiro curso de doutorado em Psicologia Escolar e Psicologia Experimental, na Universidade de São Paulo (USP). Na década de 1970 havia uma preocupação em relação ao que deveria ser feito com as pessoas que trabalhavam com demandas psicológicas, tais como os diplomados em curso de Psicologia Clínica, Educação, Trabalho, funcionários públicos psicólogos, psicologistas, psicotécnicos e doutores com teses relacionadas à área da Psicologia. 1949 Em 1949 são proferidas palestras sobre "A profissão do psicólogo e a Associação de psicólogos norteamericanos: sugestões para a organização de nossa sociedade" e "Impressões de viagem de estudos a centros europeus". 1951 Em 1951 é publicado o artigo "Aspectos da orientação e seleção profissional na Europa" e, em 42 1953 o artigo "Requisitos básicos da formação de psicologista" (SILVA BAPTISTA, 2010). 1954 Em 1954, o problema da regulamentação da profissão é exposto num ante projeto de lei e apresentado ao Ministério da Educação, pela Associação Brasileira de Psicotécnica, que incorporava as áreas escolar, clínica e do trabalho. 1958 Em 1958, é elaborado, pela Comissão de Ensino Superior do Ministério de Educação, o Projeto de Lei n. 3825-A que discorria sobre a formação de psicologias, no Brasil. Nesse período, também é observada uma crescente oferta de cursos superiores em Psicologia e um aumento da demanda por parte da sociedade, por serviços natureza psicológica. No âmbito das comunicações sociais, percebe-se que a Psicologia começa a fazer parte do cotidiano dos brasileiros por meio da disseminação de saberes psicológicos publicados em revistas, veiculados em programas televisivos, elaboração de manuais de comportamento e livros sobre a sexualidade. Botomé (2010, p.172) corrobora este entendimento assinalando que a Psicologia estava " [ ... ) na moda, não apenas nas revistas e livros, mas nas verbas de pesquisa, na proliferação de cursos e escolas e no 'milagroso' surgimento de novidades 'clínicas', 'terapêuticas' e outras capazes de fazer "tanto" pelos "problemas humanos". No que diz respeito à regulamentação, orientação e fiscalização do exercício profissional, em 1971 foi aprovada a Lei n. 5. 766, de 20 de dezembro, assinada pelo presidente Emílio G. Médici, criando o Conselho Federal (CFP) e os Conselhos Regionais de Psicologia (CRP). Os conselhos são configurados como autarquias pautadas nestes propósitos. A Lei n. 5.766/1971, foi regulamentada pelo Decreto n. 79.822, de 17 de junho de 1977. Ainda discorrendo sobre a criação dos Conselhos, antes da criação dos Conselhos, durante uma Assembleia Geral da Associação Brasileira de Psicologia (ABP), realizada em Blumenau no ano de 1966, por determinação do Código de Ética dos Psicólogos Brasileiros, nomeou os integrantes do Conselho de Ética Profissional, com fins de "orientar a aplicação deste Código de Ética, zelar pela sua observância e fiscalizar o exercício profissional" (AMENDOLA, 2014, p. 666). O primeiro Código de Ética dos Psicólogos Brasileiros foi oficializado por meio da Resolução CFP n. 8, de 02 de fevereiro de 1975. Finalizamos aqui a retrospectiva histórica da profissão do psicólogo brasileiro, destacando com fins de ilustração que, segundo Portugal e Souza (2018), em 2018 a quantidade de profissionais registrados no Conselho Federal de Psicologia, chegou no patamar de 325.052 43 psicólogos, podendo inferir, portanto, a consolidação e importância da área
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