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Ciência e Profissão ( Ebook )

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ser 
educacional 
gente criando o futuro 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou 
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo 
fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de 
informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. 
Diretor de EAD: Enzo M oreira 
Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato 
Coordenadora de oroietos EAD: M anuela Martins Alves Gomes 
Coordenadora educacional: Pamela M arques 
Equipe de apoio educacional: Caroline Guglielmi, Danise Grimm, Jaqueline M orais, Laís Pessoa 
Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos,nago da Rocha 
Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz M eneghel, Vinicius Manzi 
Moreno, Bruno Stramandinoli. 
Ciência e Profissão/ Bruno Stramandinoli Moreno; Beatriz de Azevedo Siquei ra Campos. 
- São Paulo: Cengage, 2020. 
Bibliografia. 
ISBN 9786555581355 
l. Profissão. 2. Carreiras - Psicologia. 3. Campos, Beatriz de Azevedo Siqueira. 
Grupo Ser Educacional 
Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro 
CEP: 50100-160, Recife - PE 
PABX: {81) 3413-4611 
E-mail: sereducacional@sereducacional.com 
PALAVRADOGRUPOSEREDUCACIONAL 
"É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com 
isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns 
anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também 
passa por tais t ransformações. A demanda por mão de obra qualificada, o 
aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino 
Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil. 
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - Pronatec, 
t em como objetivo at ender a essa demanda e ajudar o País a qualificar 
seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento 
da economia, da crescent e globalização, além de garantir o exercício da 
democracia com a ampliação da escolaridade. 
Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar 
as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer-
lhes uma sólida formação técn ica, sempre pensando nas ações dos alunos no 
contexto da sociedade." 
Janguiê Diniz 
Autoria 
Bruno Stramandinoli Moreno 
Atua no(a) Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais {CEMADEN) como 
Analista em Ciência e Tecnologia - Núcleo de Gestão de Pessoas {NGP) desde 2014. Possui formação 
em Desenvolvimento Humano e Tecnologias (Doutorado). Suas aptidões são: Articulação, Criatividade, 
Flexibilidade, Gestão de conflitos, Liderança, Proatividade, Resil iência, Trabalho em equipe, 
Subjetividade e Trabalho Contemporâneo. 
Beatriz Marcondes de Azevedo 
Possui graduação em Psicologia pela UFSC (1994), graduação em Admi nistração pela UFSC (2004), 
mestrado em Psicologia pela UFSC (2002) e doutorado em Engenharia de Produção pela UFSC (2010), 
na área de Ergonomia, Pós-doutorado pela U FSC (2018). Atua na docência na área de graduação e pós-
graduação, nas modalidades de ensino presencial e EaD. Em relação à pesquisa, investiga temáticas 
referentes à Psicologia Organizacional e do Trabalho, Ergonomia, Gestão de Pessoas, Saúde e Segurança 
no Trabalho, avaliação do desempenho do sistema de produção hospitalar. 
SUMÁRIO 
Prefácio 
UNIDADE 1 - Psicologia: origens, primórdios de prárfcas cienrlficas e profissionais ........................ 9 
Introdução..................... ... ............................. . ............ 10 
1 Notas iniciais... ... .... ........ ........... 11 
2 Conceito e história da Psicologia Científica 
3 Psicologia e suas origens (percurso histórico-filosófico) 
4 Constitu ição da psicologia como ciência ...................... . 
............. 15 
............ 17 
. ... 22 
5 A construção do conhecimento em psicologia ................................................................................. 26 
PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 28 
REFERfNCIAS 8/Bl.lOGRAFICAS ...................................................................................................... 29 
UNIDADE 2 - Atuação e produção da conhecimento em psicologia ................................................. 31 
Introdução.............................................................. . ............ 32 
1 Construção do conhecimento em Psicologia ... 33 
2 Psicologia como profissão no Brasi l . . ............................................................ ................................ 36 
3 Processo de regulamentação da profissão no Brasil... . ........ 43 
4 Currículo mini mo do curso de Psicologia........ . ... 45 
PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 48 
REFERfNCIAS BIBUOGRAFICAS ............................... .......... ......................................... .................... 49 
UNIDADE 3 -As prórfcas profissionais: campos de atuação, normas e regulamentações ................ 53 
Introdução......................................... . .................................................................... 54 
1 A Psicologia enquanto profissão ...................................... 55 
2 Conselhos Regional e Federal De Psicologia ... . ........ 60 
3 Psicologias: Clínica, Escolar, Organizacional, Hospitalar, Comunitária, Social, do Esporte, Jurídica ... 63 
4 A prática profissional do psicólogo: diversidade de áreas de atuação ............................................. 68 
PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 69 
REFERfNCIAS BIBLIOGRAFICAS ...................................................................................................... 70 
UNIDADE 4 -A psicologia contemporlinea e os preceitos éticos ..................................................... 73 
Introdução..................................... ........................... ... .... ........ ... .. ....................................... 74 
1 A ética na área da Psicologia. 
2 A pesquisa em Psicologia .. 
.. .. 75 
. .... 81 
3 A situação atual da Psicologia no âmbito da formação e da prática profissional . .. ..... 84 
PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 89 
REFERÊNCIAS BIBUOGRÁFICAS ...................................................................................................... 90 
PREFÁCIO 
O objetivo deste livro é apresentar a Psicologia como profissão. Abordaremos os 
temas mais importantes para entender tudo o que envolve a profissão em quatro 
unidades, detalhadas a seguir. 
Na primeira unidade, vamos tratar da psicologia: origens, primórdios de práticas 
científicas e profissionais, onde discutiremos a evolução histórica da Psicologia e 
suas inter-relações com as Ciências Humanas e Sociais, além de discutir a Psicologia 
contemporânea e seus desafios. Será apresentada aqui uma visão geral sobre 
organização profissional, entidades e associações representativas na Psicologia, os 
diversos níveis de participação e as especialidades aprovadas pelo Conselho Federal de 
Psicologia. Falaremos ainda sobre os termos utilizados na área. 
Na sequência, a unidade 2 tratará da atuação e produção do conhecimento 
em Psicologia. Aqui serão mostrados os avanços e alternativas para a construção 
do conhecimento em Psicologia, trazendo à luz a importância desse estudo para o 
processo de legitimação e solidificação da imagem do psicólogo como alguém que pode 
ajudar a transformar a vida de indivíduos, grupos, comunidades e, por conseguinte, a 
própria sociedade. Vamos fazer aqu i também uma sinopse sobre a história e os marcos 
cronológicos da Psicologiacomo profissão no Brasil. Abordaremos a regulamentação 
da profissão e a relação entre a formação acadêmica e a prática profissiona l. 
Na terceira unidade trabalharemos as práticas profissionais: campos de atuação, 
normas e regulamentações. Aqui serão estudados o conjunto de medidas e ações, 
organizações e institucionalizações e formalizações da Psicologia. Os conhecimentos 
descritos aqui sobre a Psicologia Contemporânea como profissão prepara o aluno com 
uma base sólida, explicando os mecanismos de controle e a psicologia do cotidiano. 
A Psicologia contemporânea e os preceitos éticos serão temas da quarta unidade. 
Vamos discutir sobre o compromisso ético nas relações profissionais estabelecidas pelos 
psicólogos e o comportamento ético que deve ser perseguido tanto nas atividades de 
pesquisa quanto no exercício profissional. Entenda a relação da Psicologia com os Direitos 
Humanos e as Políticas Públicas nesta unidade e, por fim, conheça os principais tipos de 
pesquisa realizados na área e as possibilidades de assuntos que possam ser investigados. 
Se você quer ingressar nos estudos da Psicologia Contemporânea como profissão, 
este livro oferece importantes conhecimentos. Bons estudos! 
UNIDADE 1 
Psicologia: origens, primórdios de 
práticas científicas e profissionais 
Introdução 
Olá, 
Você está na unidade Psicologia: origens, primórdios de práticas científicas e profissionais. 
Conheça aqui a evolução histórica da Psicologia e suas inter-relações com as Ciências 
Humanas e Sociais. A Psicologia contemporânea e seus desafios. A organização 
profissional, as entidades e as associações representativas na Psicologia e os diversos 
níveis de participação. As especialidades na área aprovadas pelo Conselho Federal de 
Psicologia. Bem como as definições de termos básicos em Psicologia. Aprenda sobre as 
questões relativas a este campo de estudo, sua constituição enquanto conhecimento e 
prática profissional, sobre as principais pesquisas, as diversas áreas de atuação profissional 
e a formação e prática profissional da Psicologia Contemporânea. 
Bons estudos! 
11 
1 NOTAS INICIAIS 
Fazer uma análise das práticas profissionais da Psicologia enquanto campo de conhecimento, 
passa, inexoravelmente, por conhecer suas origens e seus primórdios. Isto significa proceder 
questionamentos que guiem entendimentos, compreensões e conclusões, tais como: sob 
qual propósito tais práticas foram e são prescritas? Qua is contextos serviram de cenário para 
que os saberes "psi" fossem produzidos? Como as práticas tidas científicas produziram os 
conhecimentos que hoje alicerçam à prática profissional do psicólogo? O que elas expõem? O que 
elas escondem? O que elas escamoteiam? Quais valores preconizam e são precon izados, a partir 
dos saberes "psi"? A quais fenômenos a Psicologia, enquanto ciência, se presta compreender? O 
que a História da Psicologia diz da própria Psicologia? De seus conhecimentos, de suas práticas e 
de seus resultados? 
Figura 1 - Psicologia Ciência e Profissão 
Fonte: Tetiana Lazunova, lstock, 2020. 
#ParaCegoVer: A Psicologia enquanto ciência e campo profissional caracteriza-se por várias 
perspectivas e escolas de pensamentos, que determinam desde concepções sobre o homem até 
as práticas de seus profissionais. 
Notada mente, a Psicologia é uma miríade de fluxos políticos, físicos e sociais. Um dos grandes 
desafios a serem enfrentados, nesta unidade, senão o maior, é determinar uma identidade à 
Psicologia, seja enquanto área de saber científico, seja enquanto atividade profissional 
reconhecida e legitimada (BRASIL, 1962). Sua condição multifacetada e multideterminada dota à 
Psicologia de uma singularidade significativa, pois, no seio de suas bases, encontramos diversas 
correntes de pensamento e diversas maneiras de conceber seu objeto de estudo, sua área de 
investigação e seu campo de atuação. 
12 
1.1 Paradoxos e outras miscelâneas 
Segundo Matos (2011), ao se discutir e debater a relação entre ciência e profissão, é preciso 
circunscrever um certo questionamento sobre a separação entre conhecimento científico e 
política, presentes na formação de qualquer cientista ou profissional, em especia l os provenientes 
das ciências psicológicas. Nesta perspectiva, precisa toda área que produz conheciment o deve ser 
crivada enquanto espaço social. Isto é, é necessário problematizar o campo das práticas "psi" 
e da formação em psicologia, para assim melhor compreendê-la. Não é possível tratar de um 
indivíduo sem considerar como este é entendido, sem conhecer o paradigma que o compreende 
e o concebe. Saberes e políticas se engendram a fim de determinar a maneira com este sujeito é 
encarado e como será alocado. 
Neste sentido, ao longo desta disciplina, você será convidado a questionar expressões, 
UIL.UlUI l lld:>, 1,JdldUlt:;I l ld:> I:' L.Ul ll..t='l,Jl_,.UI:':> UU I IUI llt!l l l 4UdlllU d :>Ud II llt!I IUI IUdUt!/ t!.X.lt!I IUI IUdUt::!1 4Udl llU 
a sua condição de indivíduo em um dado contexto social e sob quais modelos os conhecimento 
psicológicos são produzidos e que formulados. Cabe destacar que você será instigado a identificar 
quais paradoxos produziram o que se entende contemporaneamente como Psico logia. 
1.2 Nomenclaturas e expressões básicas 
Para discutir o campo científico e profissional d a Psicologia, é necessário conhecer algumas 
expressões e nomenclaturas que delimitam entendimentos e compreensões sobre a natureza (ou 
naturezas) e dimensão (ou dimensões) que a encerram. 
O termo contextualizar é o primeiro, segundo Tufano (2002) contextualizar refere-se a 
posicionar algo em um dado contexto. Ou seja, é situar uma dada situação (leia-se, um sujeito, 
um evento, um fenômeno) dentro de um fluxo de forças e vetores físicos e sociais, humanos e 
não-humanos que ocorrem em um dado espaço e tempo. De modo que, ao pôr em contexto, 
pretende-se revelar tudo o que se possa saber, por óbvio, sobre um determinado momento 
social. Trata-se de tornar o problema em tela compreensível e inteligível, pois ao se proceder 
assim, que se propicia é a aná lise e estudo de tudo o que se possa envolver sobre o fenômeno 
ali circunscrito. Ou seja, "[ ... ] contextualizando tentamos colocar algo em sintonia com o tempo 
e com o mundo, construímos bases sólidas [ ... ] sobre algo, [um] solo para criar um ambiente 
favorável, amigável e acolhedor para a construção do conhecimento" (TUFANO, 2002, p.41). 
Já o conceito de modelo para Ronca (2002, p.153) é definido como"[ ... ] mode los ampliam as 
nossas possibilidades de combinações[ ... ]" de entendimento e compreensão do mundo a volta, 
são "[ ... ] pontos de ancoragem, de apoio e de inspiração para a formação dos [tipos] diferentes 
profissionais". Um modelo é uma referência de ação, de compreensão de pensamento. 
13 
Contextualizar 
O termo contextualizar é o primeiro, segundo Tutano (2002) contextualizar refere-se a 
posicionar algo em um dado contexto. 
Observação e análise 
As noções observação e análise diferem-se por tratarem de conce itos distintos, mas 
intrinsecamente relacionados, mobil izados e assessoriamente articulados. 
Prática 
O conceito de prática é resultante de uma ação, de uma perspectiva, efeito de um modo de 
pensar (HASS, 2002). 
Espaço 
O termo espaço diz respeito a muitas formas de interpretar e conceber o termo, seja do latim 
spatium (área ou extensão). 
Pesquisa 
A pesquisa tem relação com a existência humana, sobretudo, aquela dos tempos civilizatórios 
até os contemporâneos, destaca-se pela inquietante construção da inteligibilidade sobre o mundo. 
Sistema 
O conceito de sistema que designa um conjunto de vetores e de forças que produzem uma 
condição, um evento, um resultado. 
As noções observação e análise diferem-se por tratarem de conceitos distintos, mas 
intrinsecamente relacionados, mobilizados e assessoriamente articulados. Muito do que se 
concebe enquanto existência, enquantodinâmica cotidiana se baseia na forma como dados, fatos 
e acontecimentos são encarados, captados, encarados: experimentados. Para Gonçalves (2002), 
a relação alinhavada na intersecção destas duas ações produz não apenas formas de entender o 
contexto (ciência), mas maneiras de atuar sobre ele (atuação profissional). Dela são produzidos 
saberes, e saberes sobre como fazer e como não fazer. 
O conceito de prática é resultante de uma ação, de uma perspectiva, efeito de um modo de 
pensar (HASS, 2002). A prática está relacionada a atuações de sujeitos sobre o mundo, sobre 
outros e sobre si mesmo. Envolve, desta maneira, formas de interação, com o que se tenta 
compreender, com o que se busca manter ou modificar. Trata-se de um movimento de ir e vir 
sobre o contexto, sobre a vida. 
14 
O termo espaço diz respeito a muitas formas de interpretar e conceber o termo, seja do latim 
spatium (área ou extensão), seja por seu sentido quantitativo (mensurando, tridimensionalmente, 
volumes e distâncias), seja, ainda, o lócus (real, virtual, factual ou fenomenológico), trata-se de 
uma delimitação que determina e é determinado pelos sujeitos, seja os que são estudados, seja 
os que produzem os saberes cientificas, seja os que recebem algum tipo de intervenção, sejam os 
que intervém (CAMPOS, 2002). 
A pesquisa tem relação com a existência humana, sobretudo, aquela dos tempos civilizatórios 
até os contemporâneos, destaca-se pela inquietante construção da inteligibilidade sobre o 
mundo. 1 nterrogar, investigar, perscrutar o que nos circunda e o que nos determina é o que se 
denomina pesquisa. Neste sentido, o ato de pesquisa discrimina-se por diferentes modulações 
que variam entre a busca, a procura, a indagação, a averiguação, a enquista, o informe, a arguição, 
a perq uirição sobre uma dada realidade com vistas a torná-la compreensível, significativa (MELLO, 
2002). Por mais técnica e precisa, descritiva e profunda, nanométrica e certeira, toda a pesquisa é 
política e social, pois ela parte de algum ponto de vista, de alguma perspectiva, de alguma crença 
anterior que conceba uma dinâmica contextual (ROSE, 2001). 
O conceito de sistema que designa um conjunto de vetores e de forças que produzem uma 
condição, um evento, um resultado. Designa uma totalidade que articula diferentes interações de 
objetos, elementos, pessoas, fatos, acontecimentos. Está relacionado a uma visão que concebe 
uma interconexão dinâmica entre diversos elementos na composição e no esclarecimento e um 
dado contexto. A compreensão da existência parte de uma premissa processual. 
Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 
Após essa breve preleção inicial, faz sentido nos seguirmos, em nosso itinerário, adentrando, 
especificamente, sobre os elementos conceituais e históricos da Psicologia, enquanto ramo 
científico. Sobre o conteúdo, é nosso intuito oferecer uma base que possibilite ampliar a 
perspectiva dos estudos relacionados a esse área, bem como aprofundar conceitos, através 
15 
da exemplificação de alguns modos de pensar e ver o mundo, escolas de pensamento e visões 
críticas sobre os primórdios e influências, e, assim, oferecer uma experiência prática e elucidativa 
de como se constitui a Psicologia Científica Contemporânea, tanto em termos de conhecimentos 
e práticas quanto de efetiva intervenção e posicionamento profissional. 
2 CONCEITO E HISTÓRIA DA PSICOLOGIA 
CIENTÍFICA 
Como destacado por Jacó-Vile la e Oliveira (2018), a história da Psicologia, de sua formação 
em campo de saber, é permeada e, em alguma medida, está condicionada a diferentes modos de 
fazer e produzir conhecimento. Esta é uma das primeiras marcas da Psicologia: sua pluralidade, 
em termos de fontes e influências, em termos de apl icabilidade e intersecção com outros saberes. 
Desta forma, seguiremos, aos principais pontos que definem a Psicologia, comentando 
defin ições e conceituações que alicerçam estas delimitações de seus conhecimentos em relação 
à outras ciências. 
2.1 O que é Psicologia? 
Do termo grego psykê (a lma, espírito, mente) em conjunção com a expressão logos (que 
designa estudo conhecimento), o termo Psicologia, poderia ser traduzido como sendo o estudo 
da alma, do espírito, da mente. Ainda que na época grega, a ideia de cientificidade não estava 
atrelado a esse conceito. Entretanto a concepção ;e oportuna para iniciarmos o debate do que 
vem o estudo da Psicologia. 
Figura 2 - Paradoxos 
Fonte: Dmitrii_ Guzhan in, lstock, 2020. 
# ParaCegoVer:A Psicologia ao longo de sua história, teve como principal condição, relações 
de antagonismo, de dua lidade, paradoxais e que situam seus conhecimentos e suas práticas. Na 
figura das faces viradas para lados opostos de silhueta, uma branca e uma preta . 
16 
Para Carrara (2015, p.27) "( .. . ] seja no cenário da experimentação, seja no da reflexão, a 
principal dificu ldade para o desenvolvimento e a consolidação [de um] conhecimento[ ... ]" passa 
por se conseguir "isolar" o seu fenômeno. Ao longo de seu processo histórico-constitutivo, a 
Psico logia, através de inúmeros personagens, desenhou esta relação dicotômica de saberes: 
objetividade versus subjetividade, inatividade versus ambiente, monismo versus dualismo, 
estruturalismo versus funcionalismo etc. Enfim, suas principais marcas são a incompletude e a 
polêmica, na busca por consolidar-se enquanto campo científico. 
Para a autora são estas contraposições que formam o terreno para a Psicologia erigir suas 
conceituações e demarcar seu objeto de estudo: as dimensões psicológicas. Ao longo de suas 
elucidações, os teóricos que compõe o exército de pesquisadores da Psicologia, caracterizadamente, 
oscilaram por estes antagonismos, sempre, por polos de 'constructos hipotéticos', a fim de denominar 
e erigir"[ ... ] teorias e sistemas explicativos no contexto da Psicologia" (CARRARA, 2015, p.28). 
2.2 O estudo objeto de Estudo da Psicologia 
Um dos grandes desafios para compreender a evolução histórica das chamas Ciências 
Psico lógicas, reside no fato de que as correntes de pensamento que a produzira, que a delimitaram 
e que a praticaram, mostram-se diversas, muitas vezes, antagônicas e dissonantes em seus modos 
de encarar o um dado (ou vários) objeto(s) de estudo (MATTOS, 2011). 
Neste sentido, cabe destacar o que Carrara (2015, p.28-29) expl ica, 
[ ... ] No exemplário dos episódios de vida, cada atividade dos organismos parece apresentar-se 
menos ou mais influenciada por variáveis da história biológica ou da história ambiental. Algumas 
situações são, ilusoriamente,exemplos"claros" de uma ou de outra, entre duas formas de determinação: 
1) as mudanças na dilatação da pupila em f unção da var iação claro/escuro; os comportamentos que 
compõem o "esti lo" de construção de ninho do pássaro joão-de--barro; o ato de seguir o primeiro 
objeto que se move, comum entre certas aves {o ímprínting, ou estampagem, no exemplo clássico de 
Lorenz, não importa se correto ou não);[ ... ] {2) quando respondemos mediante contração ou di latação 
pupi lar em função de acontecimento sonoro só por nós ouvido num filme; quando o elefante do 
circo, após fazer se us malabarismos, inclina-se para receber o "reconhecimento" do públ ico; quando 
legamos aos nossos descendentes um esti lo arquitetônico de construção residencial; quando o técnico 
em informática faz um reparo no nosso notebook. 
Neste sentido, definir o objeto de estudo da Psicologia, não parecer ser algo simples, mas tal 
qual a luta diária de Sísifo em levantar a pedra, dirimir o que se presta a Psicologia a compreender 
é tarefa complexa e árdua. Conforme os exemplos dados por Carrara (2015), nenhum deles 
configuram-se apenas em um dos pólos: objetivo e subjetivo. Tanto um quanto o outro encerram 
e engendram facetas de aspectos genéticos e ambientais. 
Mas, afinal, o que a Psicologia estuda? Que conhecimentos "psi" são gerados, a partir de 
pesquisas que façam uso de seu arcabouçoconceituai? É possível compreender que aqui lo que a 
Psico logia busca compreender, e foca seus mais variados estudos, diz respeito a algo privado ao 
sujeito humano, seja por analogia animal, ou mesmo sob a égide de premissas fisiológicas, seja a 
partir de elucubrações e ilações sócio-históricas. Em geral, tanto uma quanto outra abordagem, 
tratam de questões que sejam privativas dos seres humanos, nas mais diversas variações. E isto, 
podemos denominar 'fenômenos psicológicos', uma gama variada e ampla de ocorrências que 
circunscrevem e delimitam-se como objeto de estudo da Psicologia. Parece, assim, razoável não 
falar de uma psicologia, mas sim, de psicologias, que compreendem não um objeto de estudo, 
mas de objetos de estudos psicológicos. As diferentes influências científicas e sociais que erigiram 
a Psicologia, também, em alguma medida, determinam seus modos de pesquisa, suas práticas e, 
por conseguinte, seus saberes. E é isso que nos enveraremos no tópico seguinte. 
3 PSICOLOGIA E SUAS 
HISTÓRICO-FILOSÓFICO) 
ORIGENS (PERCURSO 
A Psicologia em seus primórdios tem raízes desde que o homem começou a se questionar 
sobre sua posição no meio em que vive (FIGUEIREDO, 2007). Entretanto, se remontarmos uma 
genealogia, por mais superficial que seja, de sua constituição, enquanto saber, veremos que a 
Psicologia começou a ser sistematizada com as civilizações grega. 
1- 0• ct.óbulo d• 1,nctos 
· Mostromo$ ouvN". mos $01bomos d1stlngu1r 
2· Oe Sólon de Atenas 
"Nunço d090s tudo o Q.,. so~· -
3- Oe TolH de Mileto 
"N&o r.,.,..,..,, pr<>1etos per&,, se f11lnar••· n6o seres motivo-de troça·. 
4· Oo Tolos de M,1.10 
"A moion,i.g,,o vom dopo~ do ob1oto omodo". 
5· Oe 8ios d• Pnene 
"A-do o sobor ouw" , 
6· De Pen,ondro de Connto 
"Oculto os desgostos, pero n6o dare-s mot,vo de gozo aos 1nim190S". 
7- O.. qullon de Loc:edem6nío 
·eo,,~-te o 11 m<nmo" 
Figura 3 - Os sete saberes gregos 
Fonte: ROSAS, 2010, p.46. 
#ParaCegoVer: Os apotegmas gregos, a Filosofia grega, rica em variedade e pensamentos, 
já esboçava questionamentos e máximas (apotegmas), que hoje subsidiam os questionamentos 
psicológicos. 
18 
Como ilustrado pela relaç~o apresentada por Rosa (2010) os filósofos gregos Já esboçavam 
inquietações e premissas que buscavam explicar a natureza humana. Além disso, buscavam 
desvendar o porquê e para que os sujeitos humanos agiam, pensavam e se mobilizavam. Ao 
longo da história humana, a Filosofia teve papel singular, enquanto suporte conceituai e analítico, 
especulando sobre o comportamento do homem, sobre as próprias experiências, um dos primórdios 
da introspecção, o que mais tarde seria adotado como método principal da Psicologia em seu início. 
FIQUE DE OLHO 
Uma discussão interessante acerca do papel da Filosofia sobre a formação da Psicologia 
é apresentada pelo texto de Rodrigues e Mattar (2012) intitulado: "Psicologia, Filosofia, 
encruzilhadas, experimentações:caminhos possíveis no diálogo com Kierkegaard e Foucault". 
Anterior à Psicologia Científica, um terreno foi preparado para sua criação e instauração. 
Figueiredo (2008, p.22) destaca que é preciso considerar não apenas os elementos científicos e 
conceituais, mas também, as "[ ... ] as condições sociais, econômicas e culturais [ .. .]". Destacando 
alguns pontos, o primeiro é o embate, entre, de um a lado, aqueles saberes não-científicos 
(introspectivos, privados e; de outro, a necessidade de colocar tais saberes sobre uma lógica 
validadora (leis, conceitos, regulações) que possibilitaria um controle técnico e de reprodução social. 
E O segundo as divergências e as oposições que contrapõe, em decorrência do primeiro ponto, que 
caracterizam diferentes perspectivas (a Medicina, a Administração, a Educação, as Ciências Sociais, 
a Filosofia, etc.), ou seja, uma ampla variedade de matrizes que reivindicam s saberes "Psi". 
3.1 As matrizes da Psicologia 
Figueiredo (2008), identificou diferentes tipos de matrizes, que refletem seu arcabouço 
teórico, caracterizam, ambíguo. Segundo o autor, por"[ ... ) causa disso, na história da psicologia, a 
ordenação no tempo das inovações teóricas e das descobertas empíricas só é tarefa razoável[ .. .]" 
quando estes estão contextualizados e localizados de modo bem preciso quanto á corrente que 
as produziu. Neste sentido, é possível citas as seguintes matrizes identificadas por ele. 
As Matrizes Cientificistas: a matriz nomotética e quantificadora; a matr iz atomicista e 
mencanicista; a matriz funcional e organista. 
As Matrizes Românticas e Pós-românticas: a matriz vitalista e naturista e; as matrizes 
compreensivas. 
É interessante notar que esta classificação sinaliza, como o próprio autor destaca, a condição 
antagônica e assimétrica que a Psicologia se construiu. Uma vez que, representa diversa posições, 
influências e orientações intelectuais (irredutíveis) e não intercambiáveis, umas com as outras. 
19 
Salienta ainda, que só é possível conceber tal Torre de Babel, justamente, se conjuntamente a isto, 
perscrutar-se"[ ... ) no contexto dos conjuntos culturais de que fazem parte e nas suas relações com 
o projeto[ ... ] de constituição da psicologia como ciência independente" (FIGUERDO, 2008, p.22). 
As matrizes cientificistas, concebem como objeto de estudo da Psicologia aquele especificado 
pela "[ ... ] imitação mais ou menos bem-sucedida e convincente de modelos de prática vigente, 
nas ciências médicas, exatas e naturais" (Ibidem, p.26-27). 
Ao passo que as matrizes românticas e pós-românticas que enfatizam e destacam um objeto de 
estudo, à Psicologia, mais delineado e centrado nos"[ ... ) atos e vivências de um sujeito, dotados de 
valor e significado para ele[ ... )" (Ibidem, p.27). Assim, a identidade cientifica da Psicologia, sob esta 
matriz, é outorgada sob a premissa da busca de novas referências que legitimem suas abordagens. 
3.2 As matrizes cientificistas 
As matrizes empreendidas nesta tipologia mais ampla da Científicidade, são marcadas pela 
adoção fiel dos modos naturais de fazer ciência. Como, por exemplo, a Matriz de ordem Nomotéticas 
e Quantificadoras. Trata-se daquelas correntes teóricas que compreendem a existência de uma 
ordem natural a ser descoberta e identificadas. Os fenômenos psicológicos e comportamentais, 
produtivamente, precisam ser compreendidos e catalogados. Para tanto, as técnicas e métodos 
criados, seguem a lógica de que "[ ... ) a ún ica operação efetuada é a mensuração, sustentada na 
pura observação ou na intervenção [ .. .]" (FIGUEIREDO, 2008, p.27). programada. O conhecimento 
produzido é guiado por uma lógica e autocorreção constante, em que todo o evento natural é revisado 
(através da experimentação), vez após vez a fim de situá-lo, corretamente, na ordem das coisas. 
Figura 4 - Olhares científicos 
Fonte: Amanda Goehlert, lstock, 2020. 
#ParaCegoVer: Os fenômenos das teor ias aqui abarcadas, são preconizados e concebidos em 
termos de validade e experimentação. 
20 
Já a Matriz Atomicista e Mecaniscista organiza suas premissas a partir "[ ... ] de relações 
deterministas e probabil ísticas, segundo uma concepção linear e unidirecional de causalidade" 
(FIGUEIREDO, 2008, p.28). 
Neste sentido, o conhecimento é fruto da identificação de elementos mínimo que irão 
constituir o fenômeno alvo, no qual a realidade é a produtora do fenômeno, através da 
combinação de diferentes elementos. Isto significa que há um começo, um meio e um fim, entre 
a causalidade e o fenômeno em si. Uma tempora lidade, ao mesmo tempo, atômica (estrutural), 
em que conceitos, configurações de fenômenos e, mecânica (linear), que apenas substitui o 
determinismo pelo probabilismo, na concepção do seu objeto de estudo. 
Surge, ainda, teorias que se alicerçam em uma matriz mais Funcionalista e Organicista. 
Segundo Figueiredo (2008, p.29), das três matrizes cientificistas, a que mais influenciou (até 
tempos atua is). Ainda sob a lógica cientificista, estamatriz recupera a concepção de que os: 
[ ... ] fenômenos v~ais precisam ser explicados em t ermos de funcionalidade, dos seus 'propósitos 
objetivos' [pois trata-se de] fenômenos que evolulram e se mantêm na interação com as suas 
consequências. Mais que isso: são fenômenos que incorporam seus efeitos nas suas próprias definições. 
Diferente das outras matrizes, esta concebe o fenômeno tanto em sua causa quanto em sua 
consequência, ou seja, numa dinâmica circular: um efeito é causa de outro efeito, uma causa é 
efeito de outra causa. Surge a premissa de que a parte (funcionalidade, organização, mecânica) 
é expressão de um todo: suas partes são interdependentes entre si, e do todo, e vice-versa. Isto 
implica que, a historicidade do fenômeno começa a implicar em seu acontecimento . De modo 
diferente do que se preconizou nas outras matrizes cientificistas (subdivisão e identificação de 
elementos), na Matriz Funcionalista e Organicista se enfatiza a identificação e análise de Sistemas 
Funcionais. Sob a égide da inteligibilidade científica, as escolas de pensamento oriundas desta 
matriz desenvolveram suas teorias sob uma lóeica que expressão aleum valor e sienifica. É daí a 
concepção de funcional idade entre as diferentes partes do sistema. 
3.3 As matrizes Românticas e Pós-Românticas 
As matrizes desta lógica são, literalmente, tudo o que foi refugado pelas Matrizes Cientificistas. 
Traduzidas em atitudes e perspectivas intelectuais que concebem um carácter qualitativo 
aos fenômenos psicológicos. No que tange à Matriz Vitalista e Naturalista, são enfatizados 
conhecimentos que favoreçam a v ida espiritual do homem, a natureza fluida das coisas, uma vez 
que o interesse científico é suplantado pelo interesse estético, de modo que "[ ... ] se anulam as 
diferenças entre sujeito e objeto docon hecimento e a diferença entresereconhecer" (FIGUEREDO, 
2008, p.32). Vale destacar as correntes humanistas e corporais da Psicologia, que mais forcam-se 
nas práticas clínicas e nas representações sociais do que em val idações conceituais. 
21 
= --il 
'' ... L. .J L ,, J\ Figura 5 - Olhares românticos 
Fonte: Undrey, lstock, 2020. 
l J 
#ParaCegoVer: Matrizes Românticas e Matrizes Pós-românticas Os fenômenos das teorias 
aqui abarcadas, são preconizados e concebidos em termos de validade e experimentação. 
Agora no que se refere às Matrizes Compreensivas, estas são guiados por um interesse 
comunicativo, não é à toa, que Figueiredo (2008) a classificou como de interesse comunicativo, 
em essência, pelas formas simbólicas do fenômeno psicológico. Estruturadas em três l inhas, 
vejamos a seguir. 
Historicismo Ideográfico 
Interessado em captar a vivência imediata do sujeito: significados, valores, sem generalizações 
e esquemas formalizantes. 
Estruturalismo 
Focado na compreensão das estruturas geradoras de mensagens, suas regras, organizações, 
formatos e processos. 
Fenomenologia 
Crédulo na premissa de que todo o conhecimento e juízo está alicerçado em uma estrutura 
cognitiva definidora de formas, de mecânicas, de processos, os quais se constituem e se validam, 
a si mesmos. 
Cabe destacar que, as matrizes compreensivas se caracterizam, talvez com exceção do 
estruturalismo, por secretarem o culto da experiência única. Isto é, algo que sinaliza a exclusividade 
da escolha e indeterminável do ser psicológico. Em contraponto às matrizes científicas valorizam 
um pensamento psicológico centrado na ideia de um sujeito, enquanto objeto de estudo, como 
qualquer outro. 
22 
Já as matrizes compreensivas concebem um pensamento psicológico norteado pela premissa 
de um sujeito retraído a si mesmo (subjetividade), livre à sua própria prisão: indeterminável, 
exclusivo e irreproduzível, em suma único. 
Este ziguezague conceituai, para estudiosos da História da Psicologia, tais como Schu ltz e 
Schultz (2009), Figueiredo (2008), Figue iredo; Santi (2008), Abib (2005), e muitos outros, é uma 
das marcas idenitárias. A história dos preceitos e conceitos psicológicos, em grande parte, reve la 
a presença de várias filosofias científicas, que "correm por baixo" (ADDIB, 2005) de suas correntes 
e escolas de pensamento, uma verdadeira 'colcha de retalhos', que entrelaça diferentes crenças 
metafísicas, epistemológicas, sociais etc. A cada intérprete de seus fenômenos, a Psicologia, com 
suas proposições e entendimentos, revela-se mais e mais modulável Figue iredo e Santi (2008). 
Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 
4 CONSTITUIÇÃO DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA 
Ao início de uma ciência, de um ramo científico, torna-se imprescindível a consecução de um 
projeto e, por conseguinte, de marcos que concretizam e materializam suas etapas. No caso da 
Psicologia, se, nos seus primórdios, houve todo um conjunto de pré-condições socioculturais, no sécu lo 
XIX, para sua condição científica, a citar: a experiência da subjetividade privatizada, a Modernidade e 
sua consequente crise e efeitos à subjetividade, o sistema mercantil e a individuação, a ideologia liberal 
iluminista, romântica e o regime disciplinar. Cabe destacar três projetos, como apresenta Figueiredo e 
Santi (2008): o projeto de Wundt, o projeto de Tichnere o projeto funciona lista, que se sinalizam como 
marcos para a emergência de uma ciência psicológica independente. 
4.1 A Psicologia Intermediária de Wundt 
Willhem Wundt, psicólogo alemão, ostenta o reconhecimento de fundar, pioneiramente, o 
23 
primeiro projeto de uma psicologia científica de forma independente. Ao cr iar de um conjunto de 
instituições voltadas a ações de pesquisa e ensino da Psicologia, formando assim um expressivo 
número de profissionais: psicólogos (FIGUEIREDO;SANTI, 2008; TORMAN, 2015). 
A partir de uma visão interscectiva, Wundt concebia a Psicologia como posicionada 
entremeada por out ras ciências: da natureza e da cu ltura. Neste sentido Wundt , produziu uma 
extensa obra que variou entre experimentos fisiológicos e sociais. Justamente, por quê Wundt 
interessou-se na experiência imediata do indivíduo, como ele a vivencia, antes mesmo de se pôr 
a pensar sobre ela. 
[ ... ] Contudo, wundt não reduz a tarefa da psicologia à descr'1ção dessa experiência subjetiva. Ele 
quer ir além e tenta fazê-lo de duas formas: a) util izando o método experimental, ele pretende. pesquisar 
os processos elementares da vida mental que são aqueles processos mais fortemente determinados 
pelas condições físicas do ambiente e pelas condições fisiológicas dos organismos. Com o método 
experimental, em situações controladas de laboratório, Wundt procura analisar os elementos da 
experiência imediata e as formas mais simples de combinação desses elementos. Mas isso é apenas o 
começo da psicologia, e não é o mais importante para w undt; e bl por meio da análise dos fenômenos 
culturais - como a linguagem, os sistemas religiosos, os mitos, etc. (FIGUEIREDO; SANTI, 2008, p.62-63). 
De modo muito característico, a Psicologia wu ndtiana posicionava-se entre duas causalidades: 
a física e a psíquica, entre pr incípios físicos/fisiológicos e princípios que explica riam a conduta 
humana. Os preceitos do projeto experimental de Wundt buscavam, justamente, articular estas 
duas causalidades, tentando explicar como elas interagia, integrando-se, em uma dinâmica 
psicofísica. Figueiredo; Santi (2008, p.63) destaca que, mesmo sem perceber, Wundt já iniciou 
não uma Psicologia, mas sim duas ciências psicológicas: 
[ ... ] a) a psicologiafísiológica experimental, em que a causal idade psíquica é reconhecida, mas não 
é enfocada em profundidade - e nesse sentido não se cria nenhum problema mais sério para ligar essa 
psicologia às ciências físicas e fisiológicas; e b) a psicologia social ou "dos povos", cuja preocupação é 
exatamente a de estudar os processos criativos em que a causalidade psfquica aparece com mais força. 
Em síntese, justamente, por conceber o fenômeno psicológico como sendo vasto e comp lexo,que demandava um suporte interseccional, entre as ciências naturais e as socioculturais, Wundt 
inaugurou um marco inaugural para a psicologia. 
LI. ? â Dc:.irnlnab J:'ct-r11t-11r"lict" ~ .. Tit-rht>nt>r 
Aluno de Wundt, o psicólogo americano Edward Bradford Titchener, é considerado o 
responsável pela divulgação da obra de seu mestre em terras estadun idenses. Suas premissas 
de estudo estabelecem não mais na experiência imediata de um sujeito psicofísico, mas sim, 
na experiência dependente de um puro organismo: um sistema nervoso. O foco vai além da 
experiência em sim, como pensado por Wundt. Titchener baseia-se nas justificativas fisiológicas 
da vida mental (FIGUEIREDO; SANTI, 2008). 
24 
FIQUE DE OLHO 
Para saber mais sobre a fundação do Laboratório de Wundt convido você a ler o texto de 
Saulo de Freitas Araujo (2009), intitulado "Wilhelm Wundt e a fundação do primeiro centro 
internacional de formação de psicólogos". 
ARAUJO, S.F. Wilhelm Wundt e a fundação do primeiro centro internacional de formação 
de psicólogos. Temas psicol., Ribeirão Preto, v.17, n.1, p.09-14, 2009. Disponível em: http:// 
pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scripbasci_arttext&pid=S1413-389X2009000100002&1ng=pt 
&nrm=iso. Acesso em: 28 mar. 2020. 
As explicações psicológicas do projeto de Titchener está alicerçada, de modo emprestado, de 
conceitos oriundos das ciências natura is, 
[ ... ] com isso,a psicologia deixa de sertão independente como pretendia Wundt. Em compensação, 
começa a desaparecer o problema com a unidade psicoffsica: Titchener defende a posição denominada 
paralel ismo psicofísico, em que os atos mentais ocorrem lado a lado a processos psicotis iológicos. Um 
não ,a11<a n nutro, mas ntisinlngirn P<plica n mental (FIGLJFIRFDO; SANTI, 2008, p .fiS). 
Titchener tem baseado na lógica de que é possível fazer uma Psicologia exclusivamente, 
em métodos como a experimentação e a observação. Sendo que, em terras psicológicas, tais 
métodos, em especial observação, seriam empreendidos a partir de auto execução. Os sujeitos 
(treinados) seriam capazes de descrever, objetiva e detalhadamente, suas experiências subjetivas 
(em experiências laboratoriais). 
Assim, em primeiro a Psicologia, em sua essência, precisaria focar, tão somente na descoberta 
e na compreensão da natureza das experiências conscientes elementares. Já em segundo lugar a 
consciência deveria ser analisada de forma estrutural (TORMAN, 2015). 
FIQUE DE OLHO 
Para saber mais sobre a proposta metodológica de Titchener, convido você a ler o texto de 
Cíntia Fernandes Marcellos (2014), intitulado "O lntrospeccionismo Ainda Não Considerado: 
O Caso de Edward Titchener". 
MARCELLOS, C.F. O lntrospeccionismo Ainda Não Considerado: O Caso de Edward 
Titchener. Psicol. pesq., Juiz de Fora, v.8, n.1, p.127-131, jun.2014. Disponível em: http:// 
pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scripbasci_arttext&pid=S1982-12472014000100012&1ng=pt 
&nrm=iso. Acesso em: 28 mar. 2020 
25 
Se Wundt serviu de subsídios para a moderna psicologias cogn itivas e a contemporânea 
psicologia social, e mesmo a psicolinguística; Titchener se esforçou e agregou à Psicologia seu 
caráter subordinativo às Ciências Naturais. muitas das correntes de pensamento atuais, em 
especial aquelas que se articulam com as Ciências Naturais, devem aos estudos de Titcherner, 
muitas de suas premissas e referências. 
4.3 A Psicologia Funciona lista de James 
William James, expoente da Psicologia Funcional, concebia uma Psicologia - alicerçada nas 
Ciências Naturais - interessada nos processos, operações e atos psíquicos (mentais) como forma 
de interação adaptativa (FIGUEIREDO; SANTI, 2008) . Sob a lógica evolutiva de que os seres vivos 
(homens e outros animais) só sobrevivem se portadores de características que permitam sua 
adaptação ao ambiente que os circundam. 
A Psicologia Funciona Ide James, pressu põe,q ue ascaracterísticasorgâ nicas e com porta mentais 
evoluem, e por efeito, adaptam o indivíduo (ou qualquer ser vivo) ao ambiente 
[ ... ] certo nfvel de adaptação envolve as capacidades de sentir, pensar, decidi r, etc., ou seja, o nfvel 
propriamente psíquico. As operações e processos mentais seriam, assim, instrumentos de adaptação e 
se expressariam claramente nos com portamentos adaptados (FIGUEIREDO; SANTI, 2008, p.65). 
Mas para compreender com tais processos mentais operam no cotidiano humano, é preciso uma 
ampla variedade de técnicas e métodos de pesqu isa. A mente pode ser estuda, de modo confiável, 
não pela introspecção titcheneriana, mas sim, pela observação dos comportamentos adaptativos. 
FIQUE DE OLHO 
Para saber ma is sobre a teoria funcionalista de James, leia o texto de Saulo de Freitas Araujo 
de Aldier Félix Honorato (2017), intitulado "Para Além dos Princípios de Psicologia: Evolução 
e Sentido do Projeto Psicológico de Wil liam James". 
4.4 A Psicologia Associativa de Thorndike 
Edward Lee Thorndike, é o principal representante do Projeto de Psicologia, denominado 
Associacionismo. Centrado, pr incipalmente, por desenvolver pesquisas comportamentais com 
animais de modo comparativo ao comportamento humano, especialmente, aqueles manifestos. 
Ou seja, aqueles que pudessem ser observados e mensurados (TORMAN, 2015). 
Thorndike concebe uma Psicologia centrada na objetividade. Seu foco era compreender 
a aprendizagem, não em termos subjetivos, mas sim, no âmbito das concessões concretas, 
26 
exclusivamente, via a relação entre estímulos e respostas. Suas descobertas tiveram grandes 
impactos na área da Educação, de modo à contribuir com a inserção da psicologia tanto 
como disciplina aplicada na área educativa quanto como um ramo diversificado (Psicologia da 
Educação). É dele a chamada Lei do Efeito (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009), bastante cara à correntes 
psicológicas mais contemporâneas, como o behaviorismo radical, por exemplo. 
5 A CONSTRUÇÃO 
PSICOLOGIA 
DO CONHECIMENTO EM 
( 
Como destacado por Figueiredo e Santi (2008, p.17) os projetos científicos para uma 
Psicologia independente, precisam ser entendidos em função das condições socioculturais que 
os circunscrevem 
[ ... ] as cond·1ções para a emergência de projetos de psicologia científica e ram duas: a) um 
alto nível de elaboração da experiência subjetiva privatizada; e b) a crise dessa experiência, com o 
reconhecimento de que o sujeito não é tão livre como julga, nem tão único como crê. É isso que leva à 
necessidade de superar a experiência imediata para compreendê-la e explicá-la melhor. 
Seja pela via das Ciências Naturais, em que alguns projetos tentaram explicar - fisiológica, 
biológica e objetivamente -os fenômenos psicológicos. Seja pela via das Ciências da Sociedade e 
das Culturas, em que foram enfatizados aspectos mais subjetivos e menos observáveis. Dois lados 
de uma moeda, facilmente perceptível e de difícil compatibilização. 
De um lado uma perspectiva científica em que a objetividade é a premissa básica, e que 
se vale da identificação das forças biológicas e ambientais que causa, produzem e controlam o 
comportamento, de modo a reproduzi-lo. 
No oposto, outra perspectiva que se presta a capturar as vivências, de modo íntimo e privativo, 
mas que não se interessa em causas nem efeitos, mas sim, no como, no estado, na condição. 
Tanto comportamentos quanto vivências são lados de uma moeda difíceis de articulação. 
Figueiredo e Santi (2008, p.87), tentam explicar esse aspectos, pontuando que 
[ ... ] nós não somos para nós mesmos faci lmente compreensíveis, nem sabemos ao certo como 
somos, por que somos e por que agimos de uma ou de outra maneira. Ora, isso reflete muito bem a 
nossa condição existencial: ternos uma clara noção, vivemos intensamente e atribuímos um alto valor à 
nossa experiência da subjetividade privatizada e, ao mesmo tempo, sentimos que nossa subjetividade 
e nossa individualidade estão ameaçadas. 
Estas diferentes linhas de pensamento, que dividem e compõe a psicologia científicacontemporânea, não ocorrem por acaso. Elas são expressão do estado natural produzido no 
seio de sua condição de ciência independente: a crise. seja a subjetividade a ser compreendida, 
27 
perscrutada; seja o comportamento a ser observado, mensurado e sequenciado; a Psicologia, 
encontra-se, desde seu início, em uma constante intermediação de seus conhecimentos com 
outros saberes científicos, naturais e sociais. 
Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 
A produção de conhecimento psicológico sobre a vida humana é perpassada por modos 
de pensar práticas científicas, sociais, profissionais e humanas. Esses modos atravessam tanto 
a execução de comportamentos quanto a sua observação. Neste sentido, a todo momento a 
Psicologia, enquanto ciência independente, designa-se em uma constante crise, intercambiando 
conhecimento com outras áreas do saber, seja para seus próprios movimentos, seja, para 
subsidiar os movimentos de outras áreas que de tais conhecimentos faça uso das Ciências Sociais 
Aplicadas, Educação, Pedagogia, Admin istração, Ciências da Saúde etc. 
28 
fJ 
Nesta unidade, você teve a oportunidade de: 
• descrever a evolução histórica da psicologia e suas relações com as ciências humanas 
e sociais; 
• demonstrar a psicologia na contemporaneidade e seus desafios; 
• introduzir as questões relativas à psicologia, sua constituição enquanto conhecimento 
científico. 
• conhecer a contrução do conhecimento em Psicologia. 
ABIB, J.A.D. Prólogo à história da psicologia. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, v.21, n.1, p.053-
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ARAUJO, S.F. Wilhelm Wundt e a fundação do primeiro centro internacional de 
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disciplinaridade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002. 
UNIDADE 2 
■ ■ ■ • 
Atuaçao e proauçao ao connec1men-
to em psicologia 
Introdução 
Você está na unidade Atuação e produção do conhecimento em Psico logia. Conheça 
aqui os avanços e alternativas para a construção do conhecimento em Psicologia, 
percebendo o quanto o estudo nessa área importante para o processo de legitimação e 
solidificação da imagem do psicólogo como alguém que pode ajudar a transformar a vida 
de indivíduos, grupos, comunidades e a própria sociedade, em última instância. Nesse 
sentido, compreenda a história e marcos cronológicos da Psicologia como profissão no 
Brasil. Entenda o processo de regulamentação da profissão, no Brasil, a partir da Lei n. 
4.119/1962 e, ao perceber a intrínseca relação entre a formação e acadêmica e a prática 
profissional, reflita sobre as críticas e propostas acerca do currículo mínimo do curso de 
Psicologia, delimitado pelo Parecer n. 403/1962. 
Bons estudos! 
33 
1 CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM 
PSICOLOGIA 
Ao partir do pressuposto de que a Psicologia é classificada como uma ciência pura e aplicada, 
podemos perceber que a teoria e a prática são indissociáveis, uma vez que o conhecimento 
científico desenvolvido pela Psicologia provê o alicerce para que o psicólogo possa atuar em 
diferentes campos e orientar sua atuação a partir de diversas abordagens teóricas. 
Também, podemos analisar a Psicologia como uma área de ensino, pesquisa e profissão. 
Entretanto, para que alguém possa atuar como psicólogo é necessário que possua graduação em 
Psicologia e, aqui, estamos destacando a importância da formação (ensino) deste profissional, 
bem como de todo o conhecimento construído e em construção (pesquisa) da ciência psicológica. 
O conhecimento empírico e do senso comum são utilizados cotidianamente pelas pessoas 
para orientar suas ações e decisões, mas, eles podem propiciar compreensões imprecisas ou 
equivocadas da realidade. Por outro lado, o conhecimento científico, por ser validado e pautado 
na fidedignidade, confiabilidade e racionalidade pode ser entendido como o principal insumo 
para potencializar intervenções profissionais assertivas. 
A conhecimento científico da Psicologia tem se estruturado ao longo do tempo pela diversidade 
e funcionalidade dos seus modelos teóricos-metodológicos de acesso e compreensão do fenômeno 
psicológico. "De fato, a abordagem científica em Psicologia é um processo dinâmico entre a reflexão 
teórica e a possibilidade de verificação de fenômenos psicológicos na realidade" (CRUZ, 2016a, p.251). 
Teoria ) 
rática 
Figura 1 - Relação teoria e prática 
Fonte: Media Pix, Shutterstock, 2020. 
ret roalimentam, ilustrando que a teoria e a prática formam uma relação dialética e ind issociável. 
34 
A análise das bases epistemológicas da Psicologia permitem compreender como se estruturou 
o modelo tradiciona l de atuação e produção do conhecimento nos principais espaçosde atuação 
do psicólogo que, por décadas, concentrou-se na clínica, na escola e na indústria. 
Quando pensamos nos avanços e alternativas para a construção do conhecimento em 
Psico logia, devemos ter em mente que as transformações da sociedade, impulsionadas pe lo 
desenvolvimento tecnológico e mudança de valores, direcionam as necessidades de redefinição 
das temáticas da Psicologia e dos métodos e procedimentos de acesso aos fenômenos psicológicos 
e de inte rvenção sobre os mesmos. 
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Em outras palavras, a construção do conhecimento em Psicologia e a apropriação de conceitos 
e métodos de outras áreas, ampliam as possibilidades descritivas, explicativas e preditivas dos 
fenômenos psicológicos. Portanto, é apoiada na ciência que a Psicologia conquista legitimidade e 
espaço de atuação em diferentes contextos. 
1.1 Avanços e alternativas para a construção do conhecimento em Psicologia 
Caro estudante, você sabe como caracterizados os primeiros modelos de intervenção em 
Psico logia? Vamos pensar, por exemplo, a respeito dos primórdios da Psicologia nas organizações. 
A atuação dos psicólogos industriais levava em consideração, apenas, os fatores individuais 
relacionados aos problemas que deveriam ser solucionados como o ajustamento no t rabalho, 
por meio da busca da pessoas certa para o lugar certo. 
O foco, aqui, era a aná lise do perfil de personalidade e de inteligência para apoiar as 
atividades de seleção e orientação profissional, desconsiderando outras variáveis do desempenho 
humano. Com o passar do tempo, os fatores sociais e ambientais passaram a ser incluídos para se 
compreender a multideterminação dos fenômenos psicológicos. Para tant o, novos conhecimentos 
se fizeram necessários. 
l lm::1 n11tr::1 fnrm::1 riiP ri::afliPtirmnc:. c:.nhri::i n n rnriPc:.c:.n fiiP iP\fnl11rSn rb rnnc::.tn 1rSn rliP rnnhiPrimiPnt n 
em Psicologia é pela análise de livros, que discorrem sobre a história da Psicologia e, com fins de 
exemplificação, poderíamos mencionar o trabalho de Jacó-Vilela et ai (2018) quando abordam o 
conhecimento produzido na área, nos últimos séculos, não restringindo-se, apenas, às produções 
europeias e norte-americanas, inclu indo as brasileiras. 
[ ... ] A Psicologia, organizada em torno de um corpus cientitico, ou seja, um conjunto de evidências 
e anál ises teóricas acerca de fatos e fenômenos humanos, produziu, ao longo da segunda metade do 
século XX, as condições necessárias ao processo de institucionalização da protissão de psicólogo no 
Brasil". Adjetivar a Psicologia como ciência e protissão, portanto, resulta da compreensão histórica da 
necessidade de associar um corpus cientifico a um projeto de intervenção protissional em diferentes 
conte><1os sociais (CRUZ, 2016 a, p. 251). 
Para caracterizar a Psicologia Contemporânea, enfatiza-se o diálogo da área com o contexto 
social, defendendo-se a premissa da influência sócio-histórica na constituição e formação do ser 
humano. Para subsidiar este entendimento, resgata-se as construções referentes à Psicologia 
das Massas, o pensamento das Escolas de Frankfurt e de Chicago, o movimento institucionalista, 
a teoria das representações sociais e a incorporação das ideias marxistas para subsidiar a 
abordagem crítica da Psicologia (JACÓ-VILELA et ai., 2018). 
Dizemos, ainda, que os avanços para a construção do conhecimento em Psicologia estão 
diretamente relacionados às atividades de pesquisa. Os achados das investigações científicas 
alimentam o desenvolvimento e a aplicação de princípios científicos em diferentes contextos de 
atuação do psicólogo, potencializando as intervenções profissionais, bem como instigando novas 
demandas sociopolíticas e tecnológicas a serem investigadas. 
Segundo Spector (2012), a pesquisa fornece princípios que podem ser utilizados na prática. 
A atuação profissional, portanto, incorpora princípios psicológicos que são colocados em prática 
para intervir em problemas do mundo real, por exemplo, desenvolvimento de competências 
gerenciais em programas de treinamento corporativos. 
Para que possamos ter uma ideia dos diferentes assuntos que são investigados no âmbito 
acadêmico nas diversas especialidades da Psicologia, tomemos como base a estruturação 
fornecida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Essa 
estrutura é conhecida como árvore do conhecimento, formada por uma hierarquia de quatro 
níveis, que viio do m;iis ger;il ;aios m;iis específicos, como: 1º nível - Gr;inde Áre;i; 2º nível- Áre;i; 
32 nível - Subárea; e 42 nível- Especialidade (CNPQ, 2018). 
Especificamente em relação à área da Psicologia, a mesma encontra-se subordinada à grande 
área de Ciências Humanas, derivando-se em diversas subáreas e especialidades. 
36 
(:§> 
FIQUE DE OLHO 
A classificação das Áreas do Conhecimento constitui um instrumento de sistematização da 
informação proveniente de atividades de pesquisa em ciência, tecnologia e inovação. Esse 
tipo de classificação permite organizar e padronizar as pesquisas na área Psicologia, bem 
como orientar a investigação doestado da arte da produção do conhecimento em Psicologia. 
Para que você possa ter uma ideia dos tipos de pesquisa em andamento ou concluídos, 
classificados na área Psicologia, no estado de São Paulo, por exemplo. 
A representação do conhecimento em uma estrutura classificatória e de organização dos 
dados da produção científica publicada e de outras atividades de Ciência, Tecnologia e Inovação 
(C&TI) serve como um instrumento de gestão e ava liação com fins de subsidiar o planejamento, 
implementação, monitoramento e avaliação de políticas públicas (SOUZA, 2004). 
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2 PSICOLOGIA COMO PROFISSÃO NO BRASIL 
Com relação à profissão do psicólogo faz-se pertinente considerar as questões de sua formação 
acadêmica, uma vez que a partir da regulamentação da profissão, a conclusão do ensino superior 
no curso de Psicologia é condição indispensável para o exercício legal da profissão. 
A temática formação acadêmica do profissional, já vem sendo estudada desde 1964 a partir dos 
trabalhos de Angelini e Maria, Benko e Azzi (YAKAMOTO et ai., 2010). Quase duas depois,já havia mais 
de cem trabalhos abordando esta temática. Em relação à profissão, Yakamotoetal (2010) afirmam que 
no início do século XXI já havia em torno de mil documentos de naturezas diversas sobre o assunto. 
Conforme abordado anteriormente, é claramente perceptfvel que a demanda social, 
cultural, tecnológica, política e econômica da sociedade e do mercado de trabalho influenciaram 
37 
diretamente as searas da academia. É com base neste entend imento que iremos abordar agora a 
História da Psicologia brasileira e seus marcos cronológicos. 
2.1 História da Psicologia brasileira e seus marcos cronológicos 
A profissionalização da Psicologia, no Brasil, foi marcada, segundo Pereira e Pereira Neto 
(2003) e Jacó-Vi lela (2012), por três momentos principais, assim denominados: pré-profissional; 
profissionalização e profissiona l. Vejamos, a seguir. 
Pré-profissional (1833-1890): período marcado pela falta de sistematização dos saberes e 
práticas psicológicas e não regulamentação da profissão de psicólogo; 
Profissionalização (1890-1975): período caracterizado pelos a gênese da institucionalização 
da prática psicológica até culminar com a regulamentação da profissão e o estruturação dos 
dispositivos formais; 
Profissional (1975): período marcado pela organização e consol idação da profissão e demanda 
crescente pelos serviços em função de significativas mudanças culturais, econômicas, sociais e 
políticas ocorridas no país e disseminação das facu ldades de Psicologia, gerando um excedente 
de profissionais no mercado do trabalho. 
Para discorrermos sobre os principais acontecimentos que impulsionaram a institucionalização 
e consolidação da profissão do psicólogo brasileiro,vamos conhecer alguns fatos marcantes 
ocorridos ao longo dos séculos XIX e XX, e compartilhados por meio das publicações do Conselho 
Federal e de Psicologia e de Conselhos Regionais, tais como o do estado de São Paulo, do Rio 
Grande do Sul e de Santa Catarina, para comemorar, em 2012, os 50 anos de profissionalização 
da Psicologia no Brasi l. 
No Brasil, até o início do século XXI, não existia a Psicologia enquanto campo de atuação 
profissional. Seu surgimento foi impu lsionado pelos interesses da classe dominante pela produção 
e aplicação de saber e práticas da área. 
A chegada da família real no Brasil, em 1808, e a proclamação da independência, em 1822, 
provocaram significativas mudanças de natureza social, cultural, econômica e política que 
cu lminaram com o surgimento dos primeiros cursos superiores e das sociedades científicas. 
Dentre eles, destaca-se a oferta do curso de Medicina, em 1833, na Bahia e no Rio de Janeiro. 
Os estudos ali desenvolvidos, norteavam-se, de preferência para a aplicação social da Psicologia, 
para a Criminologia, para Psiquiatria Forense e Higiene Mental (SOARES, 2010). 
38 
[ ... ] No século XIX, com a transferência da corte portuguesa para o Brasil, foram criadas instituições 
destinadas à administração pública e à vida cult ural, como bibliotecas, academias e instituições de 
ensino, Faculdades de Medicina e de Direito, Escolas Normais. Salvador e Rio de Janeiro tornam-se 
grandes centros urbanos, apresentando problemas relacionados ao aumento de um contingente 
populacional excluído das condições mínimas de dignidade, como os leprosos, loucos, prostitutas, 
alcoólatras, crianças abandonadas, muitos dos quais ex-escravos que, já não mais produtivos, eram 
abandonados à própria sorte e se tornavam alvos de práticas higienistas, como a reclusão em prisões e 
hospícios, respaldada pelo discurso médico (CRP/SP, 2011, p. 7). 
Nesta época, observava-se que a aplicação dos conhecimentos psicológicos para 
enfrentamento de problemas sociais de ajustamento e sua relação com a área da neuropsiquiatria 
e neurologia para compreensão e tratamento dos problemas de saúde mental. Soares (2010, p. 
12) corrobora este entendimento afirmando que"[ ... ] as primeiras contribuições para o estudo da 
Psicologia, no Brasil, são oferecidas por Médicos". A partir de 1840 foram constru ídos os primeiros 
hospícios no Brasil, com fins de oferecer tratamento adequado aos 'loucos' (CRP/SP, 2011, p. 8). 
Em 1890, houve uma importante reforma, denominada Reforma Benjamim Constant que 
incorporou a disciplina de Psicologia no currículo das Escolas Normais, podendo perceber aqui 
sua relação com as questões de aprendizagem. Segundo Soares (2010, p. 19), "[ ... ] a reforma 
introduziu noções de Psicologia para a disciplina de Pedagogia". 
Em 1906 é criado o primeiro Laboratório de Psicologia Experimental, no Rio de Janeiro. Em 
1922 foi instituída a Liga Brasileira de Higiene Mental, que dentre suas diversas ações, promoveu 
as Jornadas Brasileiras de Psicologia com fins de estimular o interesse pela pesquisa pura e 
aplicada em Psicologia (SOARES, 2010). Segundo Jacó-Vilela (2012, p. 35), "[ ... ] o movimento 
higienista aparece com um caráter missionário, progressista, de melhoria das condições de vida 
das camadas mais pobres da população". 
Mesmo com a organização do movimento higienista que, pregava melhoria nas condições 
das classes menos abastecidas da sociedade, a história da Psicologia brasileira demonstra ter tido 
pouca ou praticamente nenhuma contribuição de melhorias na vida da maioria da popu lação. 
Na verdade, durante um longo período, "[ ... ] o saber psicológico foi utilizado como instrumento 
político-ideológico ligado aos inte resses das elites brasileiras" (BOCK, 2004, p.1). O mote principal 
era livrar a sociedade da desordem e dos desviantes. 
Nesta direção, em 1923, também em terras fluminenses, foi insta lado o Laboratório de 
Psicologia Experimental, na Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro. Segundo Soares (2010, 
p. 15), o laboratório"[ ... ] preparou profissionais de diversas especia lidades. Foi o primeiro centro 
brasileiro de pesquisa pura, em Psicologia" 
Quase uma década depois, em 1932 é criado o Instituto de Psico logia da Secretaria Estadual de 
Educação e saúde Pública com fins de formar profissionais. Entretanto, o mesmo foi fechado em 
menos de um ano de funcionamento, sendo reaberto somente em 1937, quando foi incorporado 
à Universidade do Brasil. 
Em 1934, a disciplina Psicologia Geral passou a ser obrigatória nos cursos de Filosofia, Ciências Sociais 
e Pedagogia, na Universidade de São Paulo (USP) e assim surgiram as primeiras Cátedras de Psicologia. 
Pré-profissional {1833-1890) 
Período marcado pela falta de sistematização dos saberes e práticas psicológicas e não 
regulamentação da profissão de psicólogo. 
Profissionalização {1890-1975) 
Período caracterizado pelos a gênese da institucionalização da prática psicológica até culminar 
com a regulamentação da profissão e o estruturação dos dispositivos forma is. 
Profissional {1975 até os dias atuais) 
Período marcado pela organização e consolidação da profissão e demanda crescente pelos 
serviços em função de significativas mudanças culturais, econômicas, sociais e políticas ocorridas 
no país e disseminação das faculdades de Psicologia, gerando um excedente de profissionais no 
mercado do trabalho. 
O final dos anos de 1930, demandou a necessidade de amparar nos conhecimentos psicológicos 
para orientar os primórdios da industrialização brasileira e consequente urbanização dos grandes 
centros com fins de " [ ... ] favorecer a organização do trabalho, mas também para atuar nas 
escolas e clínicas infantis, principalmente" (BERNARDES, 2009, p.10, apud SILVA BAPTISTA, 2010, 
p. 172). Na década de 1940, os conhecimentos de Psicologia são demandados na área do trabalho 
para ajudar no processo de industrialização do país, buscar o ajustamento dos funcionários e 
realizar processos de recrutamento e seleção de pessoal. Segundo Jacó-Vilela (2012), são criadas 
neste período, as primeiras Associações de Psicologia e os primeiros periódicos científicos para 
disseminação do conhecimento em Psicologia. 
Conforme Angelini (2011), em 1945 é criada a Sociedade de Psicologia de São Paulo (SPSP) 
e seu periód ico intitu lado Boletim de Psicologia, tem sua primeira edição publicada quase me ia 
década depois. Segundo Costa et ai. (2010), o objetivo da SPSP estava ligado à articulação 
do desenvolvimento da Psicologia como ciência e profissão, por meio do intercâmbio entre 
profissionais e acadêmicos vinculados à área da Psicologia e à áreas afins. 
Com a criação das associações da área e a veiculação de periódicos especializados, a Psicologia 
se instituciona liza e se consolida como "[ ... ) uma ciência capaz de formular teorias, técnicas e 
práticas para orientar e integrar o processo de desenvolvimento demandado pela nova ordem 
política e socia l" (CRP/SC, 2011, p. 12). Os serviços psicológicos são praticados na área da clínica, 
trabalho e educação e subsid iados pelo uso de testes e procedimentos de avaliação psicológicos, 
principalmente, na região sudeste, nas instituições públicas de orientação infantil. 
40 
Em 1946, é elaborado o Decreto Lei n. 9.092, ampliando o regime didático das Faculdades 
de Filosofia, referindo-se à área da Psicologia, no art. 4, parágrafo 1, ao obrigar os alunos do 
quarto ano de licenciatura, a cumprirem um curso de Psicologia Aplicada à Educação. Dois meses 
depois, em abril, o Ministério da Educação e Saúde, publica a Portaria n. 272 que determina que 
os diplomas de especialização em Psicologia estão à aprovação nos três primeiros anos do curso 
de t-llosona, bem como em cursos de tlI0IogIa, t-IsI0IogIa, AntropoIogIa, t:stat1st1ca, e em cursos 
especializados de Psicologia e estágio em serviços psicológicos. 
Em 1947, Mira Y Lopez cria o Instituto de Seleção eOrientação Profissional (ISOP), no Rio 
de Janeiro, oferecendo diversos cursos de extensão (JACÓ-VILELA, 2012). No ano seguinte é 
publicada a obra "Psicologia Evolutiva da Criança e do Adolescente" (SOARES, 2010). 
[ ... ] Aqui encontramos explicitamente a atuação profissional do psicólogo, chamado ás vezes de 
psicotécnico ou de psicologista. Não mais subsumido sob o mando da educação, o profissional dotinal dos 
anos 40 em diante está no campo da seleção e da orientação profissional, como no ISOP (ou na Estrada 
de Ferro Sorocabana, em São Paulo, ou ainda no Banco da Lavoura, em Belo Horizonte), está nas escolas, 
principalmente MS experimentais, e começa a atuar na cl inica, realizando psicodíagnóstico i nfanto-
juventil, orientação de pa·1s e mesmo orientação vital. Em todos esses campos, os t estes psicológicos 
serão o instrumental privilegiado para a atuação do novo profissional (JACÓ-VILELA, 2012, p. 38). 
Em 1949 são proferidas palestras sobre "A profissão do psicólogo e a Associação de psicólogos 
norte-americanos: sugestões para a organização de nossa sociedade" e "Impressões de viagem de 
estudos a centros europeus". O objetivo subjacente a esses eventos era promover discussões com 
fins de esclarecer a existência da profissão e descrever atividades desenvolvidas em outros países 
que poderiam servir de inspiração (SILVA BAPTISTA, 2010). 
Em 1951 é publicado o artigo "Aspectos da orientação e seleção profissiona l na Eu rapa" e, em 
1953 o artigo "Requisitos básicos da formação de psicologista" (SILVA BAPTISTA, 2010). Em 1953 é 
ofertado o curso de especialização em Psicologia na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio 
Grande do Sul, bem como organizado o I Congresso Brasileiro de Psicologia. 
Em 1954, o problema da regulamentação da profissão é exposto num ante projeto de lei 
e apresentado ao Ministério da Educação, pela Associação Brasileira de Psicotécnica, que 
incorporava as áreas escolar, clínica e do trabalho. Entretanto, o ante projeto foi vetado no que 
dizia respeito à atuação clínica do psicólogo, uma vez que este só poderia atuar mediante à 
supervisão de um médico. 
Conforme Silva Baptista (2010, p. 180), em 1958, é elaborado, pela Comissão de Ensino 
Superior do Ministério de Educação, o Projeto de Lei n. 3825-A que discorria sobre a formação 
de psicologistas no Brasil. O Parecer n. 412 foi um complemento deste projeto que tratou dentre 
vários aspectos, "[ ... ] da denominação psicologista a ser dada ao profissional - considerada mais 
adequada do que a de psicólogo (muito ampla) e a de psicotécnico (muito restrita)" (BRASIL, 1962, 
online). Havia ainda uma ressalva de que era urgente regularizar a formação deste profissional, 
uma vez que existiam autod idatas exercendo a profissão, além de serem contabilizados na época, 
mais de mil pessoas atuando na área da Psicologia. 
Em 1962 é aprovada a Lei n. 4.119, em 27 de agosto, assinada pelo presidente João Goulart, 
dispunha sobre os cursos de formação em Psicologia e regulamentava a profissão de psicólogo. 
Essa lei será devidamente apresentada no próximo tópico desta unidade de estudo. Dois anos 
depois, em 1964 é aprovado o Decreto-lei n. 53464, discorrendo sobre as atribuições do psicólogo. 
É importante destacar que os cursos de Psicologia se organizavam em um modelo teórico-
metodológico que pudesse contribuir para a formação de um profissional liberal capacitado para 
ajudar o processo de ajustamento da sociedade aos interesses hegemônicos. 
Vianna et ai. (2012) explicam que o processo de ajustamento endereçado à Psicologia 
brasileira tem como alicerce o modelo ocidental de pensamento, no qual compreende o ser 
humano como individualizado. 
A compreensão individualizada do homem vai modificando-se com o avanço do conhecimento 
construído em Psicologia, principalmente, por meio da contribuição de Vigotsky, quando propôs 
um novo modelo à Psicoloeia . assentado a oartir da abordaeem histórica e cultural de análise dos 
processos psicológicos e consequente entendimento de que o ser humano deveria ser visto como 
produto e produtor de si mesmo e do meio no qual estava inserido (SILVA;HAI, 2011). 
Retomando a questão do marco cronológico, no que se refere ao âmbito da Pós-Graduação 
stricto sensu, Gomes e Hutz (2010) assinalam que em 1966 é criado o primeiro curso de mestrado 
em Psicologia Clínica na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e, oito anos 
depois, segundo, Otta et ai (2011), o primeiro curso de doutorado em Psicologia Escolar e 
Psicologia Experimental, na Universidade de São Paulo (USP). 
Na década de 1970 havia uma preocupação em relação ao que deveria ser feito com as pessoas 
que trabalhavam com demandas psicológicas, tais como os diplomados em curso de Psicologia 
Clínica, Educação, Trabalho, funcionários públicos psicólogos, psicologistas, psicotécnicos e 
doutores com teses relacionadas à área da Psicologia. 
1949 
Em 1949 são proferidas palestras sobre "A profissão do psicólogo e a Associação de psicólogos 
norteamericanos: sugestões para a organização de nossa sociedade" e "Impressões de viagem de 
estudos a centros europeus". 
1951 
Em 1951 é publicado o artigo "Aspectos da orientação e seleção profissional na Europa" e, em 
42 
1953 o artigo "Requisitos básicos da formação de psicologista" (SILVA BAPTISTA, 2010). 
1954 
Em 1954, o problema da regulamentação da profissão é exposto num ante projeto de lei 
e apresentado ao Ministério da Educação, pela Associação Brasileira de Psicotécnica, que 
incorporava as áreas escolar, clínica e do trabalho. 
1958 
Em 1958, é elaborado, pela Comissão de Ensino Superior do Ministério de Educação, o Projeto 
de Lei n. 3825-A que discorria sobre a formação de psicologias, no Brasil. 
Nesse período, também é observada uma crescente oferta de cursos superiores em Psicologia 
e um aumento da demanda por parte da sociedade, por serviços natureza psicológica. No âmbito 
das comunicações sociais, percebe-se que a Psicologia começa a fazer parte do cotidiano dos 
brasileiros por meio da disseminação de saberes psicológicos publicados em revistas, veiculados 
em programas televisivos, elaboração de manuais de comportamento e livros sobre a sexualidade. 
Botomé (2010, p.172) corrobora este entendimento assinalando que a Psicologia estava " [ ... ) 
na moda, não apenas nas revistas e livros, mas nas verbas de pesquisa, na proliferação de cursos 
e escolas e no 'milagroso' surgimento de novidades 'clínicas', 'terapêuticas' e outras capazes de 
fazer "tanto" pelos "problemas humanos". 
No que diz respeito à regulamentação, orientação e fiscalização do exercício profissional, em 
1971 foi aprovada a Lei n. 5. 766, de 20 de dezembro, assinada pelo presidente Emílio G. Médici, 
criando o Conselho Federal (CFP) e os Conselhos Regionais de Psicologia (CRP). Os conselhos são 
configurados como autarquias pautadas nestes propósitos. A Lei n. 5.766/1971, foi regulamentada 
pelo Decreto n. 79.822, de 17 de junho de 1977. 
Ainda discorrendo sobre a criação dos Conselhos, antes da criação dos Conselhos, durante 
uma Assembleia Geral da Associação Brasileira de Psicologia (ABP), realizada em Blumenau 
no ano de 1966, por determinação do Código de Ética dos Psicólogos Brasileiros, nomeou os 
integrantes do Conselho de Ética Profissional, com fins de "orientar a aplicação deste Código de 
Ética, zelar pela sua observância e fiscalizar o exercício profissional" (AMENDOLA, 2014, p. 666). 
O primeiro Código de Ética dos Psicólogos Brasileiros foi oficializado por meio da Resolução 
CFP n. 8, de 02 de fevereiro de 1975. 
Finalizamos aqui a retrospectiva histórica da profissão do psicólogo brasileiro, destacando 
com fins de ilustração que, segundo Portugal e Souza (2018), em 2018 a quantidade de 
profissionais registrados no Conselho Federal de Psicologia, chegou no patamar de 325.052 
43 
psicólogos, podendo inferir, portanto, a consolidação e importância da área

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