Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Setembro/ 2009 ABBC - Associação Brasileira de Bancos e Centro de Estudos de Governança da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI) Fortalecendo a política de Governança nas Instituições Financeiras de Pequeno e Médio Porte Cartilha de Governança Corporativa Cartilha de Governança Corporativa ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS Agradecimentos Tendo em vista um trabalho coletivo como este é muito difícil sublinhar a colaboração dos participantes, há sempre o risco de se cometer alguma injustiça. Contudo, pelo significado desta iniciativa da ABBC - Associação Brasileira de Bancos de buscar o fortalecimento das melhores práticas de padrões de governança corporativa nas instituições financeiras de pequeno e médio porte, se fazem necessários alguns agradecimentos e reconhecimentos. Em primeiro lugar, deve-se agradecer a disposição da Diretoria e Conselho da ABBC em viabilizar o desenvolvimento deste projeto. Sem este interesse, com certeza, a empreitada não teria sido bem sucedida. Em particular, a acolhida propiciada pelos seus dois últimos presidentes, os Srs. Milto Bardini e Renato Martins Oliva. De importância similar, o trabalho contou com o imprescindível apoio técnico do Centro de Estudos Técnicos de Governança Corporativa (CEG) da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI). Principalmente, agradece-se a capacidade de ouvir, discutir e dar um bom termo aos debates entre os representantes das instituições financeiras da equipe do CEG formada por Alexandre Di Miceli da Silveira, Marcelo de Aguiar Coimbra e Dominique Marie Lebl do Amaral. Deve-se, ainda, reconhecer o papel dos profissionais das instituições filiadas à ABBC que participaram das inúmeras reuniões e discussões do material. Especialmente, é importante que se enalteça o comprometimento com as tarefas de Claudio Rotolo, Claudio Eustáquio Freire e Patrícia Borba. Finalmente, vale destacar que a Cartilha de Governança Corporativa serve como leitura recomendada para todos que estejam interessados na compreensão dos princípios básicos da governança desde um contexto global até a sua aplicação específica em instituições financeiras de pequeno a médio porte. Everton P.S.Gonçalves - Assessor Econômico 1 Prefácio Ao longo dos últimos anos, em que o mercado de capitais teve o registro tanto de escândalos corporativos como também de tempos pautados de grande desenvolvimento econômico, principalmente nos países emergentes conhecidos como BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), cada vez mais se confirma a importância da disseminação das boas práticas de governança corporativa. Essas boas práticas de governança corporativa vêm-se mostrando como um item essencial, não somente de proteção aos acionistas minoritários e de uma melhor divulgação e prestação de contas dos administradores ao mercado, mas também como grandes responsáveis pela criação de valor nas corporações que as colocam como prioridade. A adoção dessas boas práticas de governança contribui também para a evolução da estrutura interna das empresas, aprimorando seus processos decisórios, bem como os sistemas de controles internos, e viabilizando maior monitoramento por parte de seus conselheiros e administradores. O resultado dessas ações traz um ambiente de maior transparência e segurança ao mercado e a todos os interessados na empresa, os chamados stakeholders. Em linha com a necessidade de constante aprimoramento dessas práticas e sua contínua disseminação, a ABBC lança esta Cartilha de Boas Práticas de Governança Corporativa em Instituições Financeiras de Pequeno e Médio Porte, contribuindo de forma única e pioneira para o aprimoramento da governança corporativa no setor financeiro. O momento em que essa iniciativa é realizada não poderia ser melhor. Após o desencadeamento da crise financeira em setembro de 2008, as práticas de governança das empresas passaram a ser amplamente questionadas. A crise, que teve em sua originação fatores como: operações financeiras agressivas, em muitas vezes tão elaboradas que poucos agentes do mercado eram capazes de compreendê-las; uso excessivo de operações alavancadas; pouco conhecimento dos riscos aos quais as empresas estavam expostas: ou apetite ao risco também muito agressivo, adicionados a planos de remuneração insustentáveis e a uma sensação de otimismo exacerbado, acabou por resultar no desaparecimento de 3 instituições aparentemente sólidas e vistas como inatingíveis. O que fica claro, após esses meses de incerteza e insegurança, em que muitas empresas foram obrigadas a reavaliar a forma de gerir seus negócios, é que aquelas que possuem as boas práticas enraizadas em sua cultura se têm mostrado mais bem preparadas para se adaptar aos momentos turbulentos e mais ágeis na sua recuperação, estes são momentos de crise que permitem uma reflexão nas atitudes e um aprendizado com os fracassos e com os êxitos. Com certeza as boas práticas de governança corporativa, que em um momento eram utilizadas como um rótulo para prospecção de bons negócios, passam a ser vistas pelo mercado como a realidade de uma empresa sólida, transparente e estruturada para sobreviver a todas as circunstâncias, mesmo as mais difíceis. Sidney Ito – Sócio-Líder KPMG Risk Advisory Services Todas as informações apresentadas neste documento são de natureza genérica e não têm por finalidade abordar as circunstâncias de nenhum indivíduo específico ou entidade. Embora tenhamos nos empenhado em prestar informações precisas e atualizadas, não há nenhuma garantia de sua exatidão na data em que forem recebidas nem de que tal exatidão permanecerá no futuro. Essas informações não devem servir de base para se empreender qualquer ação sem orientação profissional qualificada, precedida de um exame minucioso da situação em pauta. 4 Sum rioá a a a a a a 1. Introdução – Governança Corporativa em Bancos 2. Melhores Práticas de Governança Corporativa 3. Fatores favoráveis à adoção de boas práticas de Governança Corporativa em bancos 4. Indicações de melhores práticas de Governança Corporativa e, função do nível de complexidade da instituição financeira. 1.1. Importância da Governança Corporativa 1.2. Benefícios e Custos da Governança Corporativa 1.3. Por que um código de governança para bancos? 1.4. Casos de boas e más práticas de governança corporativa e suas conseqüências 1.5. Mecanismos de governança 1.5.1. Mecanismos internos 1.5.2. Mecanismos externos 2.1. O desenvolvimento das práticas de Governança Corporativa 2.2. Código de Melhores Práticas Corporativas no Brasil 2.3. Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC 2.4. Recomendações da CVM sobre Governança Corporativa 2.5. Novo Mercado e Níveis Diferenciados de Governança Corporativa 3.1. Recomendações do Banco de Compensações Internacionais (BIS) 3.2. Governança e mecanismos regulatórios do sistema financeiro brasileiro 3.2.1. Controle Acionário 3.2.2. Exercício de cargos em órgãos estatutários 3.2.3. Auditoria Independente 3.2.4. Implementação da nova estrutura de Basiléia II 3.2.5. Nova Lei das Sociedades Anônimas 3.2.6. Crimes contra o Sistema Financeiro •Anexo – Sustentabilidade em Bancos •Bibliografia •Websites Recomendados •Leitura Recomendada 5 1. Introdução - Governança Corporativa em Bancos A governança corporativa pode ser definida como o conjunto de princípios e mecanismos que orientam as relações entre acionistas, gestores, funcionários, entre outros stakeholders de uma companhia, visando aumentar a probabilidade de obtenção pelos investidores da empresa de um retorno adequado sobre o seu capital investido. Mais especificamente, o objetivo da boa governança é reduzir o risco de mau-emprego ou de desvio dos recursos dos fornecedores de capital, decorrentes dos naturais conflitos de interesse que surgem quando os investidores externos não participam diretamente das decisões corporativas,contribuindo ainda para uma maior eficiência na utilização desses recursos. Nesse sentido, as boas práticas de governança podem resultar no aumento do valor da sociedade, melhoria do seu desempenho e maior facilidade de acesso ao capital. No sistema capitalista moderno, podemos identificar uma separação crescente de funções entre os proprietários das empresas – seus acionistas – e aqueles profissionais que dirigem cotidianamente a companhia – os gestores -, na medida em que as instituições alcançam maior porte e complexidade. Esta separação entre propriedade e gestão pode dar origem a interesses conflitantes entre estas duas partes, levando à tomada de decisões prejudiciais ao valor da empresa. Os mecanismos de governança objetivam atenuar ou corrigir estas falhas. Dentre os principais mecanismos a serem empregados para minimizar tais problemas, podemos destacar: a atuação do conselho de administração; a política de remuneração por desempenho dos gestores; a estrutura de propriedade e controle da empresa; o grau de competitividade do mercado; o compromisso com a disponibilização periódica de informações detalhadas para o público externo; e a própria estrutura de capital do negócio (seu nível de endividamento). As instituições financeiras, assim como companhias de outros setores, estão igualmente inseridas no ambiente de mercado. As práticas de governança corporativa de um banco podem afetar o seu custo de capital, o desempenho de sua gestão e a eficiência de seu processo decisório. 6 mercado; o compromisso com a disponibilização periódica de i m Em um nível mais geral, a boa governança das instituições bancárias de um país contribui para garantir a saúde do sistema financeiro como um tudo, que é essencial para a alocação eficiente e intermediação dos recursos financeiros disponíveis. As boas práticas de governança nos bancos são, assim, igualmente relevantes para a redução dos riscos inerentes ao setor, atenuando a possibilidade de crises sistêmicas provocadas por má gestão. Há, portanto, um benefício duplo das boas práticas de governança corporativa nos bancos: resultados positivos para a companhia e para o setor bancário e para o desenvolvimento econômico do país como um todo. Por outro lado, falhas de governança corporativa diminuem a capacidade dos bancos de administrar riscos e de assegurar a qualidade de suas operações financeiras, o que afeta a confiança e a saúde do sistema financeiro, tornando-o mais vulnerável, inclusive a crises econômicas. A recente crise financeira global, desvelada no segundo semestre de 2008, reforça a necessidade de aprimoramento na forma de governo das instituições financeiras. Trata-se de um processo que deve ser iniciado internamente pelas instituições, tendo em vista inclusive as potenciais mudanças regulatórias nos próximos anos. O que nos motiva à elaboração de um documento de boas práticas de governança corporativa para bancos , e instituições financeiras de modo geral, são as suas peculiaridades enquanto corporações. Os bancos são, em geral, companhias mais complexas e mais regulamentadas que as empresas em geral. Eles estão submetidos a um maior controle governamental, seguem legislações mais rígidas; com isso, muitos dos mecanismos de governança que poderiam funcionar em corporações não-financeiras não são aplicáveis aos bancos. Diversos estudos mostram que certas particularidades da estrutura de propriedade, do controle acionário, da legislação bancária, da menor transparência de suas atividades, dentre outras características, inibem alguns dos tradicionais mecanismos de governança corporativa, tornando-se necessária a 7 1 Considera-se banco para efeito deste Manual, instituição financeira de grande, médio e pequeno porte que tenha como atividade, principal ou acessória, a concessão de crédito, captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros e, inclusive, podendo ser estendido este conceito às cooperativas de crédito. 1 mercado; o compromisso com a disponibilização periódica de i mvvvvvvv a adoção de práticas diferenciadas e a criação de recomendações específicas para os bancos. Este é o propósito deste documento. Desta maneira, a Associação Brasileira de Bancos (ABBC), em parceria com o CEG (Centro de Estudos de Governança Corporativa), da FIPECAFI, uniram os seus esforços na iniciativa de produzir uma Cartilha de Governança para instituições financeiras, a fim de propagar a cultura e as boas práticas de governança corporativa entre os seus associados, principalmente com foco em instituições de pequeno e médio porte. Esta cartilha de boas práticas de Governança Corporativa para empresas financeiras está estruturada de maneira a possibilitar a compreensão desde os princípios básicos da governança em um contexto global até a sua aplicação em instituições de pequeno a médio porte. Partimos do pressuposto que a adoção das melhores práticas de governança corporativa é um processo evolutivo, sobretudo quando pensamos em estruturas menores, em muitas das quais o próprio acionista atua diretamente à frente da gestão. Em tal situação, eventualmente a adoção dos níveis mais avançados de governança poderia representar um custo muito elevado vis-à-vis os benefícios por ela trazidos. Por isso, estruturamos uma matriz evolutiva em vários estágios, conforme a realidade de cada instituição financeira. 1.1. Importância da Governança Corporativa O tema da governança corporativa, principalmente a partir do final dos anos oitenta, ganhou destaque no âmbito acadêmico e empresarial e, mais recentemente, junto a um público mais amplo, tendo em vista a crescente publicação de matérias em jornais e revistas de grande circulação. Além disto, alguns fenômenos importantes ocorridos nos últimos vinte anos contribuíram para que a governança corporativa se tornasse um dos principais focos de discussão sobre alta gestão em todo o mundo: •O crescimento e maior ativismo dos investidores institucionais. Os investidores institucionais (fundos de pensão, fundos mútuos, 8 De acordo com dados do Federal Reserve norte-americano os investidores institucionais possuíam cerca de 50% das ações de todas as empresas norte-americanas no final de 2002. Muitos analistas chegam em algumas ocasiões a utilizar o ativismo dos investidores institucionais como um sinônimo de governança corporativa. São exemplos de investidores institucionais com perfil ativista os fundos CALPERS – California Public Employees Retirement System (US$ 200 bilhões sob gestão ao final de 2005) e TIAA-CREF – Teachers' Insurance and Annuity Association - College Retirement Equities Fund (US$ 265 bilhões no mesmo período). 2 investidores institucionais (fundos de pensão, fundos mútuonnns, companhias de seguro, fundos de hedge, etc.) reúnem a poupança coletiva de milhares de indivíduos. Tipicamente, esses investidores buscam retornos de mais longo prazo, atuando em geral como minoritários em muitas companhias, com o intuito de diversificar o risco de sua carteira de ativos. Seu forte crescimento em todo o mundo criou um grupo de investidores com escala e poder suficiente para influenciar as práticas de governança das empresas. •A onda de aquisições hostis nos EUA nos anos 80. As muitas aquisições hostis (hostile takeovers) ocorridas durante a década de 80 evidenciaram a deficiência dos mecanismos internos de controle das empresas, entre os quais o conselho de administração. Para se defender, os gestores de empresas-alvo passaram a lançar mão de diferentes artifícios com o objetivo de dificultar o takeover, freqüentemente benéfico para os acionistas externos. Por sua vez, a utilização crescente de mecanismos anti-takeover nos EUA contribuiu para o ativismo dos investidores institucionais e para o aumento das discussões sobre governança corporativa. •A onda de privatizações nos países europeus e em desenvolvimento. A onda de privatizações começou noReino Unido, nos anos 80, espalhando- se para outros países da Europa Ocidental, no início dos anos 90. Durante esta década, o movimento continuou pela América Latina, Europa Oriental, Ásia e no antigo bloco soviético. Além das privatizações levantarem a questão sobre como as novas empresas deveriam ser controladas e dirigidas, uma vez que a maior parte das operações se deu por meio de ofertas públicas de ações, as privatizações aumentaram o papel dos mercados de capitais e a necessidade de proteção aos acionistas minoritários. 2 9 •A desregulamentação e integração global dos mercados de capitais. A maior integração dos mercados de capitais e o crescimento do mercado de ações durante os anos 90 fomentaram as discussões sobre governança corporativa. Neste período, disseminou-se a listagem de empresas em bolsas de valores de outros países (cross-listing). Tal fenômeno contribuiu para a adoção de novas práticas de governança e para a difusão da cultura do mercado de ações fora dos países anglo-saxões. •As crises nos mercados emergentes no final do século XX (crise asiática em 1997, crise russa em 1998, etc.). A crise asiática em 1997 evidenciou as deficiências das práticas de governança nos países emergentes e a necessidade de aumentar a proteção aos investidores. Ademais, as crises sistêmicas também levaram a uma reavaliação do modelo de organização societária e financeira das empresas dos países onde ocorreram. Os organismos políticos internacionais concluíram que apenas uma boa gestão macroeconômica dos países emergentes não seria suficiente para prevenir crises e o contágio de outros mercados, ressaltando que, além do governo, as empresas desses países também precisam ser bem administradas e governadas. Desde então, órgãos como o FMI, Banco Mundial, IFC e OCDE enfatizam, como uma questão de alta prioridade para os emergentes, a reforma das práticas de governança. •A série de escândalos corporativos nos EUA e Europa. Os problemas de fraudes contábeis e financeiras nos EUA no período de 2001 a 2003 (Enron, WorldCom, Tyco, Adelphia, etc.) mostraram que a governança corporativa precisa ser aprimorada não apenas nos países emergentes, mas também nos mercados mais desenvolvidos. Adicionalmente, a posterior ocorrência de escândalos na Europa Continental (Parmalat, Royal Ahold, Vivendi, etc.) mostrou que o problema é mais amplo e não decorre exclusivamente da alegada pressão excessiva no mercado norte-americano por resultados de curto prazo. Os diversos escândalos corporativos evidenciaram um problema envolvendo diferentes agentes do mercado financeiro (auditores, advogados, analistas de mercado, banqueiros de investimento, etc.) e não apenas os executivos das empresas. A resposta legislativa norte-americana à onda de escândalos, traduzida principalmente na 10 •A onda de privatizações nos países europeus e em desenvolvimento. A α aprovação da Lei Sarbanes-Oxley, em julho de 2002, vem causando impacto em companhias de todo o mundo. • As evidências de que melhores práticas de governança elevam o valor e desempenho das companhias. A importância da governança corporativa também reside no fato de que suas práticas são percebidas pelos agentes de mercado e investidores como algo relevante e positivo para as companhias. Isso se reflete tanto no maior interesse de investidores por companhias com boa governança, quanto no maior número de discussões, códigos e recomendações produzidos sobre o tema – realizados por agentes de mercados, órgãos reguladores, bolsas de valores, etc. Reportagens em jornais econômicos brasileiros apontam um crescimento significativo de reportagens sobre o tema. A BOVESPA, por sua vez, lançou em 2000 os segmentos de listagem especiais para companhias com boas práticas de governança corporativa, os chamados 'níveis diferenciados' e o Novo Mercado. O Banco Mundial e a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) dedicam atenção especial ao tema ao redor do mundo e também elaboram códigos de boas práticas de governança. A recente crise financeira reforçou a importância da governança corporativa para a economia moderna, particularmente para as instituições financeiras. Pois ela evidenciou, de como a ausência de níveis adequados de transparência e a presença de conselhos passivos permitiram sistemas de incentivo inadequados para os executivos e a formação de estruturas de gerenciamento de risco frágeis. 1.2. Benefícios e custos da governança corporativa A adoção de boas práticas de governança pode trazer dois tipos de benefícios para as empresas: externos e internos. Os chamados benefícios externos relacionam-se com a maior facilidade de captação de recursos para investimentos e com a redução do custo de capital do empreendimento. Já os benefícios internos vinculam-se ao aprimoramento do processo decisório da alta gestão das corporações. 11 As evidências mostram que, mantidos constantes outros fatores, empresas com melhor governança são mais atraentes para os fornecedores de capital em razão do menor risco de expropriação dos investidores, o que se reflete em uma maior demanda por seus títulos. A conseqüência direta da oferta mais abundante de recursos para financiar os investimentos é a redução do custo médio ponderado de capital do negócio, conhecido como WACC (weighted average cost of capital), incluindo tanto o custo do capital próprio (ações) quanto o de terceiros (debêntures, bônus e empréstimos de longo prazo). O WACC costuma ser utilizado como a taxa mínima de atratividade para a seleção dos projetos de investimento que serão empreendidos e para a mensuração do seu valor econômico. Logo, a redução do custo de capital pode tornar atraentes projetos que antes seriam rejeitados, além de aumentar o valor dos projetos existentes e, por extensão, o valor de mercado da empresa como um todo. Um sistema de governança eficiente também pode contribuir para o aperfeiçoamento de processos internos da empresa. Tais avanços operacionais, na medida em que melhoram as perspectivas do negócio, refletem-se nos benefícios externos da governança (mencionados acima) e podem ser de vários tipos, destacando-se os relacionados a seguir: •A separação mais clara de papéis entre acionistas, conselheiros e executivos, especialmente em empresas de controle familiar; •O aprimoramento do processo decisório da alta gestão, com definição mais clara dos responsáveis pelas etapas de iniciação (geração de idéias), ratificação (aprovação/rejeição das idéias), implementação (execução da idéia aprovada) e monitoramento (estabelecimento de recompensas ou punições); •O aprimoramento dos mecanismos de avaliação de desempenho e recompensa dos executivos, incluindo a elaboração de pacotes de remuneração (sistema de incentivos) mais adequados; •A diminuição da probabilidade de fraudes em decorrência do a a a a 12 mercado; o compromisso com a disponibilização periódica de i m a a a a a a a estabelecimento de sistemas formais de gestão de riscos e do aprimoramento dos controles internos e processos de trabalho; •A maior institucionalização (menor dependência de pessoas) e maior transparência para as partes interessadas na empresa. No que diz respeito aos benefícios trazidos para instituições financeiras, devido à boa governança, podemos destacar: •A maior cautela e, consequentemente, a maior eficiência no direcionamento de aplicação de recursos; •A redução de riscos regulatórios; •A redução de risco dos créditos concedidos aos devedores relacionados a problemas sócio-ambientais; •O aumento da credibilidade da instituição e, consequentemente, de ganhos de imagem. A governança não é importante apenas para resguardar a empresa de riscos associados à sua atividade, mas também para evitar, ou ao menos reduzir, o risco de responsabilização do seu administrador por fraudes e atos de má-gestão praticados internamente. Especificamente, no que se refere às instituiçõesbancárias, há que se considerar ainda que a legislação é mais rigorosa, podendo ocasionar uma série de crimes por desvios dos administradores. Embora um bom sistema de governança possa trazer benefícios consideráveis para a empresa, a sua implementação envolve custos por vezes substanciais. Por exemplo, a adoção de uma política de maior transparência da organização pode demandar gastos adicionais necessários para a produção de relatórios financeiros mais sofisticados e adequados aos padrões internacionais e para a estruturação de uma área dedicada exclusivamente ao relacionamento com os investidores. Os princípios da boa governança recomendam que o conselho de administração deveria ser composto por uma maioria de membros independentes, com mandato fixo e remuneração adequada, impondo gastos adicionais. Em seu conjunto, estes custos explícitos podem ser proibitivos para 13 mercado; o compromisso com a disponibilização periódica de i m a a empresas de menor porte ou podem superar os benefícios esperados com a melhor governança. Além das despesas explícitas, um sistema de governança aperfeiçoado pode envolver custos mais difíceis de contabilizar. Uma maior transparência organizacional, por exemplo, poderia comprometer a posição competitiva da empresa se facilitar a observação de suas estratégias pelos concorrentes. Neste ponto, o propósito deste Manual é exatamente apresentar níveis diferenciados e evolutivos de adoção das melhores práticas de governança, de forma a tornar esta relação custo vs. benefício também adequada à realidade societária e econômica dos bancos de pequeno e médio porte. A resistência de muitas empresas em adotar padrões mais avançados de governança também pode ser explicada pelo apego dos gestores aos benefícios pessoais proporcionados pelo controle do negócio. Em particular, os gestores (que, em muitos casos, são também os acionistas controladores da organização) podem encarar como um custo substancial de governança a perda parcial do controle sobre as principais decisões corporativas, assim como a redução do espaço para a realização de operações informais ou de transações que não são do interesse dos investidores externos. 1.3. Por que um código de governança para bancos? As estruturas e melhores práticas de governança precisam levar em consideração as especificidades do setor econômico e da atividade das empresas. Estudos apontam alguns aspectos especialmente relacionados à atividade bancária que motivam a elaboração de um documento de governança exclusivo para bancos. Contudo, certas particularidades ou características podem significar dificuldades na implementação de políticas de governança nas empresas deste setor, tais como: •Uma legislação excessivamente rígida sobre os bancos pode inibir o desenvolvimento de certos mecanismos de governança. Visto que processos de liquidação bancária geram externalidades negativas para toda ociedade, os governos ao redor do mundo regulam rigidamente o setor bancário. Entretanto, a excessiva regulação sobre bancos pode inibir a s 14 toda a sociedade, os governos ao redor do mundo regulam rigidamente o certos mecanismos de governança. A menor freqüência de aquisições hostis no setor é um exemplo. Em muitos países, devido às legislações sobre limites à concentração de propriedade ou de participação de capital estrangeiro no setor bancário, a possibilidade de aquisições hostis torna- se reduzida. Soma-se a isso a necessidade de prévia aprovação governamental quando da aquisição de um banco, retardando o processo de aquisição. Como resultado, tem-se uma redução da pressão sobre os gestores, que podem não se empenhar suficientemente na maximização do valor da companhia. •A estrutura de capital com alta proporção de dívida pode reduzir o monitoramento externo sobre os gestores dos bancos. De modo geral, os bancos possuem uma estrutura de capital distinta de companhias não financeiras. Pesquisas em diversos países mostram que a maior parte das fontes de financiamento dos bancos provém da emissão de títulos de dívida e não da emissão de ações. Esta característica afeta diretamente o grau de monitoramento da gestão da companhia. Detentores de títulos de dívida, em geral, não possuem o mesmo poder de monitoramento, se comparados aos acionistas, que podem votar em assembléias e eleger os conselheiros da empresa. Além disso, detentores de dívida também não recebem um maior retorno se a companhia apresentar melhor desempenho, reduzindo seu empenho de supervisão. Tais fatores contribuem para que o monitoramento externo sobre os gestores de um banco seja menor que em outras companhias. •Sigilo das operações bancárias (como preservação do negócio) afeta a transparência de suas atividades. Bancos operam em um ambiente mais opaco, isto é, de maior assimetria informacional entre insiders e o mercado. Algumas das informações prestadas são direcionadas exclusivamente ao Banco Central e não são acessíveis às demais partes interessadas. Como resultado, eleva-se a possibilidade de ações auto- interessadas dos gestores em prejuízo dos acionistas ou de acionistas controladores em detrimento de minoritários. Assim, a maior opacidade dos bancos pode elevar a incerteza sobre suas atividades, reduzindo a confiança dos investidores e elevando seu custo de capital. 15 a •A legislação governamental pode influenciar a tomada de decisão. A estabilidade do setor financeiro é considerada um bem público, sendo essencial para o desenvolvimento do mercado financeiro e, em última instância, para a economia como um todo. A teoria da agência, segundo Jensen e Meckling (1976), pressupõe que a tomada de decisão dos agentes seguirá os interesses de um único principal. Não é este o caso dos bancos, já que os gestores devem considerar igualmente os interesses dos acionistas e os da sociedade, objetivados pela regulação governamental. Assim, a tomada de decisão dentro dos bancos considera os interesses dos proprietários e também os limites da legislação. •Em geral, a estrutura de propriedade dos bancos é mais concentrada. A concentração acionária apresenta dois efeitos comumente citados na literatura: por um lado, pode ser benéfica para o valor da empresa na medida em que grandes acionistas mostram maior interesse na busca por resultados positivos na empresa, elevando o monitoramento da corporação. Por outro lado, a influência dos grandes acionistas também pode levá-los a tomar decisões em seu interesse pessoal, muitas vezes prejudicando acionistas minoritários. Vale ressaltar também que uma estrutura de propriedade mais concentrada reduz a possibilidade de aquisições hostis, inibindo a pressão sobre os gestores. •A proteção à falência bancária pode ampliar o moral hazard dos gestores. A fim de se evitar que falências bancárias se alastrem por toda economia, foram criadas legislações de auxílio a bancos em falência, assim como a garantia sobre os depósitos (deposit insurance), na qual o Banco Central garante aos depositantes a devolução dos recursos aplicados, em caso de falência da instituição bancária. Essa característica faz com que os gestores sejam mais propensos à tomada de decisões com risco (moral hazard), pois em caso de insucesso da operação, o prejuízo é compartilhado entre os acionistas do banco e o governo. Por essa razão, apontam Demirguc- Kunt e Detragiache (2003), países com maiores garantias sobre depósitos tendem a possuir maior chance de crises bancárias. •Exposição maior a riscos. Os bancos estão sujeitos a uma variedade de 16 riscos nas suas operações, incluindo riscos de crédito, liquidez, juros, câmbio, settlement e operações internas, sendo ainda mais dependente da confiança do público geral do que as empresas de demais setores. Uma das melhores práticas de governança corporativa consiste exatamente na adequada identificação, monitoramento e controle de riscos. •Relação entre a estrutura da governança e o incentivoà tomada de riscos. O aumento da competitividade no setor bancário tem efeitos positivos tais como: maior eficiência e diversidade de operações mas, também, traz desafios como a sofisticação e complexidade dos produtos financeiros, com a elevação do grau de risco sistêmico. As boas práticas de governança nos bancos favorecem a redução dos riscos sistêmicos. •Stakeholders. Os bancos possuem duties of care não apenas em relação aos seus shareholders, mas também em relação aos seus stakeholders, em especial depositantes e clientes, considerando ainda as exigências e posições do órgão regulador do setor. O problema da agência nos bancos é mais complexo, pois a quebra de um banco afeta os recursos não apenas dos seus investidores, mas também de seus depositantes, podendo ainda provocar prejuízos para o sistema financeiro como um todo. Por outro lado, as empresas e, consequentemente, a comunidade dependem dos recursos providos pelo sistema financeiro. A atuação do órgão regulador, enquanto uma terceira parte, interfere na relação principal-agente, podendo atuar em favor da governança corporativa. 1.4. Casos de boas e más práticas de governança corporativa e suas conseqüências Evidências empíricas mostram que, em geral, empresas que adotam melhores práticas de governança apresentam melhor desempenho operacional e maior valor de mercado, ceteris paribus. Esta relação mostra-se válida também para os bancos. A seguir, apresentamos casos de boas e más práticas de governança em bancos e suas conseqüências. •Privatizações em bancos argentinos - Segundo estudo realizado por câmbio, settlement e operações internas, sendo ainda mais dependente da 17 argentinos na década de 1990, foi constatado que bancos sob controle a a pesquisadores do Banco Mundial, utilizando uma amostra de bancos argentinos na década de 1990, foi constatado que bancos sob controle estatal apresentavam piores indicadores de valor e desempenho operacional, devido à influência política sobre a gestão, assim como a ausência de critérios objetivos para a tomada de decisão e descuido na alocação do portfolio. Bancos que foram privatizados, por exemplo, melhoraram suas estruturas decisórias e realocaram seu portfolio, elevando os indicadores contábeis de retorno sobre patrimônio líquido. Além disso, reduziram a quantidade de empréstimos mal-sucedidos, muitos obtidos por influência política, apresentando maior rentabilidade após o período de reestruturação. • – Segundo pesquisa de La Porta, Lopes-de-Silanes e Zamarripa (2002), 20% dos empréstimos realizados por uma amostra de 17 bancos mexicanos eram destinados a companhias controladas por eles. Esses empréstimos apresentavam uma taxa de juros, em média, 4% menor que os empréstimos para companhias não relacionadas aos bancos. Além disso, os emprestadores recebiam um maior prazo para pagamento da dívida. O resultado era prejudicial para a companhia: tais empréstimos destinados a companhias relacionadas possuíam uma taxa de não-pagamento 33% superior aos demais empréstimos. •Barreiras à concentração de propriedade no setor bancário – Ao analisar uma amostra de 107 países, Barth, Caprio e Levine (2003) apontam que 38% deles possuíam algum tipo de legislação que impedia uma única entidade de possuir mais de 50% das ações do banco. Outros 35% dos países limitavam essa concentração de propriedade de um único acionista a apenas 25%. Ademais, muitos países possuíam restrições a que tipo de instituições poderiam ser acionistas dos bancos, como proibições a seguradoras, empresas não bancárias, securitizadoras, entre outras. Essas restrições objetivam combater uma excessiva concentração de poder na economia. Por outro lado, elas podem induzir práticas nocivas, como estruturas piramidais de controle acionário, a fim de potencializar os direitos de controle dos majoritários; ou podem igualmente inibir eventuais aquisições hostis. Empréstimos para partes relacionadas no México 18 a a a •Bancos estatais e a regulação governamental: conflitos de interesse – La Porta, Lopes de Silanes e Shleifer (2002) afirmam que cerca de 40% dos ativos no sistema bancário de nações pertencentes a mercados emergentes está sob o controle de bancos estatais. Corroborando essa estatística, o Banco Mundial (2001) afirma que 40% da população mundial vivem em países onde a maioria dos ativos bancários pertence a bancos estatais. A propriedade governamental dos bancos pode levar a potenciais conflitos de interesse quando a entidade supervisora – o governo – é, ao mesmo tempo, o elemento supervisionado. O monitoramento independente do governo pode ser prejudicado quando o mesmo também é proprietário de bancos. Nesse sentido, Barth, Caprio e Levine (2001) mostram que a propriedade bancária estatal é negativamente correlacionada com o desenvolvimento do setor bancário e positivamente associado a medidas de ineficiência, como altos spreads bancários e maiores despesas operacionais. •Incentivos de participação na propriedade para gestores – Pesquisas realizadas por Spong e Sulivan (2007) mostram que gestores de bancos que possuíam ações das companhias em que trabalhavam apresentavam melhor desempenho, evidenciado por um maior valor relativo da firma. Particularmente, aqueles gestores cujo patrimônio pessoal envolvia uma parcela maior de ações de seus bancos apresentavam um desempenho ainda mais elevado. A remuneração baseada em desempenho é um mecanismo comumente utilizado em companhias para motivar os gestores e alinhar seus interesses com os objetivos dos acionistas. •Conflitos de interesse e o problema de agência - os mecanismos de governança corporativa têm como objetivos o monitoramento e o disciplinamento dos atos dos gestores, para assim, reduzir o prejuízo potencial decorrente de conflitos de interesse entre estes agentes e os investidores externos à empresa. A Teoria da Agência, proposta por Jensen e Meckling (1976), oferece um arcabouço conceitual que nos permite entender porque tais conflitos surgem naturalmente e como eles se manifestam em diferentes contextos. Um relacionamento de agência pode ser definido como “um contrato 19 a a a a no qual uma ou mais pessoas (o principal) empregam outra pessoa (o agente) para desempenhar alguma tarefa em seu favor, envolvendo a delegação de autoridade para a tomada de decisão pelo agente”. Esta teoria prevê que nem sempre o agente agirá no melhor interesse do principal, assumindo que ambas as partes buscam maximizar sua satisfação pessoal. No contexto corporativo, os problemas de agência se traduzem na tendência dos gestores, em certas circunstâncias, de realizar gastos improdutivos, de tomar decisões com um grau de risco maior que o aceitável pelos acionistas, de vender ativos da companhia para partes relacionadas abaixo do preço de mercado (tunneling), escolher investimentos que reduzem o valor da empresa e prejudicar o acionista externo, incentivar o crescimento da empresa além do ponto ótimo que maximiza o valor (empire building), entre outros exemplos. Para que se configure o conflito de interesse, é necessária a verificação simultânea de três requisitos: •O administrador ou empregado tem competência para realizar alguma tarefa no interesse da empresa; •O administrador ou empregado tem outro interesse no resultado daquela tarefa; •O administrador ou empregado exerce livre julgamento sobre o interesse da companhia no cumprimento da tarefa. Para a configuração do conflito de interesse basta a mera existência de um interesse conflitante com o da companhia, independentemente de o administrador ou empregado atuar segundo esse interesse. Não são apenas interesses financeiros que provocam conflitos de interesse que podem abranger também interesses subjetivos, como, por exemplo, a concessão de privilégios a um parceiro econômico em razão da relação pessoal que o administrador empregado mantém com outra empresa. O conflito de interesse é contrárioao acordo de fidelidade do 20 administrador ou empregado à empresa. O administrador ou empregado que se encontra em situação de potencial conflito de interesse deve agir de modo a impedir a configuração desse conflito, abrindo mão de alguma das posições que geram interesses contrários. No caso dos bancos, em especial, os conflitos de interesse podem surgir de outras situações, como: transações que envolvam empregados da empresa; favorecimentos impróprios do banco; posições conflitantes do banco com relação ao cliente. Algumas medidas podem ser tomadas pela empresa para que se evite a configuração de conflitos de interesse, a saber: •A definição e o estabelecimento de critérios para as relações que os diretores e empregados da empresas mantém com concorrentes, compradores e fornecedores; •A imposição aos membros do alto escalão que se abstenham de fazer investimentos em outras companhias; •A identificação de transações e benefícios potencialmente inapropriados para que se evite o conflito de interesses ou, se for o caso, se realize um procedimento de divulgação e autorização da conduta. •Fragilidade da governança corporativa em bancos – um estudo realizado pelo Banco Central da Nova Zelândia , apontou pontos críticos na governança corporativa dos bancos. Segundo este estudo, os diretores demonstraram despreparo e falta de experiência para ocuparem seus cargos. Neste estudo foram apontados significativos conflitos de interesse no exercício de sua função. Os diretores e gerentes seniores detinham conhecimento insuficiente sobre a natureza de riscos bancários. Observou-se ainda, pouca representação dos administradores não a a a 3 MORTLOCK, Geof. Corporate governance in the financial sector. Economics Department, Reserve Bank of New Zealand, Bulletin Vol. 65, No. 2, p. 12-25, June, 2002. a 3 21 executivos e diretores independentes no conselho de administração. Os sistemas de gestão de risco, controles internos e sistema de auditoria interna, bem como relatórios destinados ao conselho de administração estavam inadequados. Por fim, foi constatado que os acionistas detinham poucos direitos, inclusive no que diz respeito ao acesso às informações e à possibilidade acompanhar os atos do conselho de administração. 1.5. Mecanismos de governança Um sistema de governança eficiente, combinando diferentes mecanismos internos e externos à empresa, é capaz de mitigar os problemas de agência descritos na seção anterior, reduzindo os danos potenciais causados pelos conflitos de interesse entre agentes e principais. Adicionalmente, a implementação de mecanismos adequados de governança pode não apenas diminuir riscos, como também agregar valor às instituições, por meio do aprimoramento do processo decisório e da qualidade das decisões tomadas. 1.5.1. Mecanismos internos •Conselho de administração. Um dos principais mecanismos de governança corporativa, o conselho de administração é o órgão que representa os acionistas da empresa. As suas atribuições geralmente incluem a escolha e o monitoramento da diretoria executiva, além da participação em decisões importantes, a exemplo de mudanças no sistema de remuneração dos gestores, fusões, aquisições e mudanças na estrutura de financiamentos da organização. De fato, um conselho atuante e eficaz é um elemento fundamental para todo o sistema de governança, influenciando a adoção de outros mecanismos e, mais genericamente, de práticas adequadas de gestão. Nem sempre, entretanto, este órgão funciona como deveria, por vezes associando-se mais aos interesses dos gestores do que dos acionistas. Conselhos dominados pelos gestores são comuns, por exemplo, em empresas nas quais o principal executivo exerce forte liderança, cuja substituição é difícil ou quando possui o controle acionário. a 22 • executivos pode influenciar significativamente o grau de desalinhamento de interesses entre gestores e acionistas, constituindo-se, por esta razão, num mecanismo de governança potencialmente relevante. A busca por maior alinhamento responde, em boa medida, pela tendência registrada internacionalmente de aumento da parte variável dos pacotes de remuneração e, em particular, pela proliferação dos programas de stock options e de distribuição de ações da empresa a seus executivos. •Concentração acionária e investidores institucionais. A estrutura de propriedade da empresa também pode influenciar no comportamento dos gestores, reduzindo ou exacerbando os problemas de agência. O benefício essencial associado à presença de um (ou mais de um) grande acionista com direito a voto entre os investidores aumenta a probabilidade de que os gestores sejam eficazmente monitorados e cobrados, reduzindo, desta forma, o espaço para comportamentos destruidores de valor. Em anos recentes, este papel de monitoramento ativo tem sido exercido com zelo crescente por fundos de pensão ou outros investidores institucionais. Por outro lado, os grandes acionistas (os quais, em muitos casos, ocupam cargos de gestão e usufruem dos benefícios pessoais do controle) podem usar seu poder de forma egoísta, expropriando de diferentes formas os demais investidores. •Administração de conflitos de interesse e garantia do controle interno. O conselho de administração deve zelar pelo alto padrão de conduta de seus profissionais a fim de evitar práticas abusivas (inclusive abuso de autoridade e conflitos de interesse) e sempre observar a rápida evolução do setor financeiro e as novas exigências. Através de programa de ética eficaz, os bancos devem buscar definir internamente, em conjunto com os seus colaboradores, os valores éticos e de conduta que orientarão a postura da instituição, inclusive no relacionamento com os demais stakeholders. Algumas recomendações são necessárias para evitar o conflito de interesse dentro dos processos de administração dos bancos. Referimo-nos Sistema de remuneração. O sistema de remuneração dos principais a a 23 especialmente ao controle interno implementado pela alta administração da empresa, que tem como escopo garantir o correto funcionamento e bom gerenciamento das atividades bancárias, ou seja, a conformidade com as normas e regulamentos, a eficiência e efetividade das operações, o alinhamento das ações ao plano estratégico e a segurança e confiabilidade da procedência das demonstrações contábeis. Através dos mecanismos de controle interno procura- se mitigar os riscos relacionados às atividades bancárias. O controle interno envolve a participação de diretores, gerentes e funcionários, embora seja responsabilidade do Conselho de Administração definir as diretrizes relacionadas à otimização do processo de supervisão e da Diretoria Executiva, garantir o cumprimento das diretrizes estabelecidas. Para evitar ao máximo conflito de interesse entre as atividades internas, a literatura da governança corporativa determina algumas medidas como: a segregação de funções entre o Conselho de Administração e da Diretoria Executiva; a difusão de uma cultura de gerenciamento de riscos, o que requer a difusão de uma forte estrutura de gerenciamento e monitoramento constante de riscos no âmbito interno da empresa; e uma auditoria interna independente livre da possibilidade de auto-avaliação ou auto-monitoramento por parte dos auditores ou gestores do compliance. A reputação da instituição torna-se um ponto fundamental na concorrência do mercado financeiro, o que invariavelmente exige o fortalecimento dos padrões da governança interna e independência do controle interno. 1.5.2. Mecanismos externos •Proteção legal ao investidor. Os mecanismos externos de governança relacionam-se de forma mais específica, com o ambiente institucional e regulatório no qual se insere a empresa e com as diferentes formas de pressão exercidas pelos mercados onde ela atua. Em particular, uma extensa literatura empírica internacional (vide, por exemplo, La Porta et al., 2000) sugere que os danoscausados por problemas de agência tendem a ser menores nos países com melhor proteção legal aos investidores. a a a a 24 a •Possibilidade de aquisição hostil e nível de competitividade do mercado. O receio dos gestores de perderem seus empregos como conseqüência de uma aquisição hostil do controle da empresa motivada por ineficiências gerenciais é freqüentemente citado na literatura de governança como um poderoso mecanismo disciplinador da conduta destes agentes. Logo, mantidos constantes outros fatores, podemos esperar que os problemas de agência sejam menos graves nas empresas mais expostas a este tipo de operação. Por sua vez, a possibilidade de aquisição hostil depende essencialmente da existência de um mercado de capitais desenvolvido e da relativa pulverização das ações com direito a voto. Em mercados com elevada concentração acionária nas mãos do grupo controlador, como é o caso do Brasil, este mecanismo de governança não é na prática relevante. Um raciocínio análogo se aplica ao nível de competitividade dos mercados de trabalho e de produtos nos quais atua a organização. Novamente, podemos esperar que as ineficiências motivadas por conflitos de interesse sejam menores nas empresas que enfrentam forte concorrência nos seus mercados de produtos. Similarmente, é mais fácil substituir um gestor ineficiente quando a oferta de mão- de-obra para os cargos de alta gestão é abundante. •Fiscalização dos participantes do mercado. Um dos principais benefícios associados a um maior nível de transparência da empresa (disclosure), materializada na divulgação periódica de informações para seus investidores, é a possibilidade de um escrutínio externo mais efetivo dos atos dos gestores. A maior fiscalização exercida pelos participantes do mercado, por sua vez, soma-se a outros fatores de pressão que contribuem para aproximar as decisões gerenciais daquelas que maximizam o valor da empresa. 25 2. Melhores Práticas de Governança Corporativa Após conceituarmos a governança corporativa, mostrando a sua importância, benefícios e custos, bem como as especificidades para Bancos, cumpre apresentar as chamadas “boas práticas de governança”. Tais recomendações são descritas em documentos específicos elaborados por agentes de mercado, os chamados Códigos de Melhores Práticas de Governança Corporativa. Os diversos Códigos assumem, em geral, os mesmos princípios fundamentais, tais como equidade, transparência, prestação de contas (accountability) e conformidade (compliance). Os quatro valores conceituais da governança corporativa expressos, nos códigos de boas práticas de governança, conforme Andrade e Rossetti (2007, p. 140), podem ser sintetizados da seguinte maneira: • (Fairness): senso de justiça, equidade no tratamento de acionistas. Respeito aos direitos dos minoritários, por participação equânime com a dos majoritários, tanto no aumento da riqueza corporativa, quanto nos resultados das operações, ou, ainda na presença ativa em assembléias gerais. •Transparência (Disclosure): transparência das informações, especialmente as de alta relevância que causam impacto nos negócios e envolvem resultados, oportunidades e riscos - desde que não sejam conflitantes com a salvaguarda de seus interesses. •Prestação de contas (Accountability): prestação responsável de contas fundamentada nas melhores práticas de contábeis e de auditoria. •Conformidade (Compliance): conformidade no cumprimento de normas reguladoras expressas nos estatutos sociais, regimentos internos e instituições legais do país. Equidade 4 4 ANDRADE, Adriana e ROSSETTI, José Paschoal. governança corporativa : fundamentos, desenvolvimentos e tendências. São Paulo: Atlas, 2007. 26 Os Códigos variam de acordo com as peculiaridades inerentes à estrutura econômica de cada país, apresentando diferenças quanto ao estilo, estrutura e enfoque. Esses documentos proliferaram por todo mundo, sobretudo no início desta década. Atualmente, estima-se que haja mais de duas centenas de tais documentos, elaborados para mais de uma centena de países. No Brasil, dois Códigos merecem destaque, o Código de Melhores Práticas do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) e a Cartilha da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Este capítulo tem como objetivo apresentar as principais recomendações de ambos os documentos com o propósito de facilitar o seu entendimento e implementação pelos associados à ABBC. Nesta oportunidade, também serão apresentados os requisitos para a entrada de companhias de capital aberto nos Níveis Diferenciados da Bolsa de Valores de São Paulo (“BOVESPA”), segmento especial que estabelece regras de listagem mais rigorosas para garantir melhores padrões de governança corporativa. 2.1. O desenvolvimento das práticas de governança corporativa A OCDE exerceu um papel fundamental na consolidação das práticas de governança corporativa. Em conjunto com governos nacionais, organizações vinculadas ao mercado de capitais e corporações privadas, a OCDE publicou, em 1999, os Princípios de Governança Corporativa. Sem desconsiderar a necessidade de cada país adaptar a aplicação destes princípios de acordo com o seu ambiente regulatório jurídico e econômico, eles proporcionaram orientações gerais para iniciativas de regulação e para diversos códigos de melhores práticas. Em 2004, a OCDE, em parceria com Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, mapearam novos pontos essenciais para a edição da nova versão da publicação. Nesta revisão houve uma clara opção pela concepção de stakeholder oriented , mas com uma ampla preservação dos direitos de acionistas, conselhos, direção executiva e outras partes interessadas. Nesse sentido, foram 5 Além do interesses dos acionistas, consideram-se também os interesses dos públicos interno e externo (clientes, empregados, fornecedores, etc.). 5 27 desenvolvidas orientações para assessorar membros e não membros da OCDE, bem como proporcionar diretrizes para bolsas de valores, investidores, corporações e entidades preocupadas em seguir as melhores práticas de governança. A partir de 1999, os mercados de cada país passaram a propor novos modelos corporativos de gestão, motivados pela iniciativa da OCDE e por fatores internos e externos. Até 1998, apenas oito países elaboraram códigos de melhores práticas e somente no ano de 2006, esse número saltou para 50. Segundo o European Corporate Governance Institute , a expectativa é que 110 países tenham códigos em 2009. 2.2. Código de Melhores Práticas Corporativas no Brasil Nos anos 90, a economia brasileira iniciou uma fase muito positiva, com maior estabilidade econômica e abertura do mercado. A nova orientação da economia fez com que as empresas brasileiras se adaptassem aos padrões de governança e, principalmente, conforme nota Silveira (2002, p. 58), com maior consideração dos interesses dos acionistas minoritários, maior transparência das informações ao mercado e profissionalização do conselho de administração. O autor faz referência a algumas iniciativas institucionais e governamentais que também influenciam na melhoria dessas práticas nas empresas brasileiras. São elas: •A criação do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (“IBGC”), em 1995; •A Lei das S.A.s (n° 10.303, de 31 de outubro de 2001); •A criação dos níveis 1 e 2 de governança corporativa e do novo mercado pela Bolsa de Valores de São Paulo (“Bovespa”); a a a 6 7 Website do Instituto Europeu de Governança Corporativa (European Corporate Governance Institute). SILVEIRA, Alexandre di Miceli da. Governança Corporativa, desempenho e valor da empresa no Brasil. São Paulo: FEA/USP, 2002. 6 7 28 •O estabelecimento de novas regras pela Secretaria de Previdência Complementar (“SPC”), visando definir os limites de aplicação dos recursos dos fundos de pensão; •A definição, pelo BNDES, da adoção de práticas de boa governança corporativa comoum dos requisitos preferenciais para a concessão de financiamentos. Devido à necessidade de adoção de boas práticas, o IBGC foi o precursor na elaboração de um código de melhores práticas de governança. Após três anos, a CVM lançou a sua cartilha, visando oferecer orientações sobre as questões que afetam o relacionamento entre administradores, conselheiros, acionistas, controladores, minoritários e auditores independentes. A seguir, definiremos as recomendações de melhores práticas dos dois modelos. 2.3. Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC Fundado em 1995 e primeiramente denominado Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração (IBCA), o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) é uma entidade não governamental e sem fins lucrativos que tem como escopo conhecer, desenvolver e fomentar os melhores conceitos e práticas de governança corporativa no Brasil. Em 1999, o IBGC lançou o primeiro código brasileiro de governança, focado principalmente no Conselho de Administração, em seu funcionamento, composição e atribuições, influenciado pelas discussões sobre a Lei das Sociedades Anônimas. A revisão do código, em 2001, resultou em sua segunda versão, dividida em 6 partes: propriedade (sócios), conselho de administração, gestão, auditoria independente, conselho fiscal, ética e conflito de interesses; e ainda abordou argumentos técnicos ao princípio da eqüidade entre os diferentes acionistas. Em 2004, ele foi novamente atualizado, com o lançamento da terceira versão, com a manutenção da segunda edição. O objetivo central dessa terceira a 29 versão é indicar caminhos para sociedades por ações de capital aberto ou fechado, limitadas ou civis, visando: (i) melhorar seu desempenho; (ii) aumentar o valor da sociedade; (iii) facilitar o acesso ao capital a custos mais baixos; e (iv) contribuir para sua perenidade. Ademais, norteiam as suas diretrizes, os seguintes princípios: a transparência, equidade, a prestação de contas (accountability) e a responsabilidade corporativa. O IBGC define responsabilidade corporativa como o zelo que conselheiros e executivos devem ter para garantir a sustentabilidade da organização, devendo incorporar considerações de ordem social e ambiental nas definições dos negócios e operações. 30 Itens do Código IBGC 1.2 Conceito uma ação - um voto 1.3 Acordo entre sócios 1.6 Aquisição controle acionário 1.10 Conselho de Família Capítulo 1 - Propriedade • sócios,independentemente da espécie ou classe de suas ações/quotas e na proporção destas - uma ação/quota deverá assegurar o direito a um voto; •A vinculação proporcional entre poder de voto e participação no capital é fundamental para o alinhamento de interesses entre todos os sócios. O direito de voto deverá ser assegurado a todos os α α • vincular ou restringir o exercício do direito de voto de quaisquer membros do Conselho de Administração; •Os acordos entre sócios devem abster-se de indicar quaisquer diretores para a sociedade. α a α Os acordos entre sócios não devem, de qualquer forma, •A oferta de compra de ações/quotas que resulte em transferência do controle deve ser dirigida a todos os sócios e não apenas aos detentores do bloco de controle; •Todos devem ter a opção de vender suas ações nas mesmas condições. Se o adquirente paga um prêmio de controle, ele deve ser dividido entre todos os sócios. α a α •Sociedades famil iares devem considerar a implementação de um Conselho de Família; •Os objetivos do Conselho de Família não devem confundir-se com os do Conselho de Administração, que são dirigidos para a sociedade. α a α O quadro a seguir sintetiza as melhores práticas de governança corporativa recomendadas pelo IBGC: 31 Itens do Código IBGC 2.1 Conselho de Administração 2.5 Missão do Conselho de Administração 2.3 Missão do Conselho de Administração 2.8 Comitês Capítulo 2 - Conselho de Administração a a α •Independentemente de sua forma societária e de ser companhia aberta ou fechada, toda organização deve ter um CA, eleito pelos sócios; •Os conselheiros devem sempre decidir no melhor i n t e r e s s e d a o r g a n i z a ç ã o c o m o u m t o d o , independentemente da parte que os indicou ou elegeu. α a a α •Proteger e valorizar o patrimônio, bem como maximizar o retorno do investimento; •Deve prevenir e administrar situações de conflitos de interesses ou de divergência de opiniões, a fim de que o interesse da empresa sempre prevaleça. α a a α •Várias atividades do CA podem ser melhor exercidas por comitês especializados. Diversos comitês, cada um com alguns membros do Conselho, podem ser formados: comitê de auditoria, de remuneração, de finanças, de governança, etc.; •Os comitês estudam assuntos de sua competência e preparam as propostas ao CA, com recomendações de voto. Só o Conselho pleno deve tomar decisões. α •As atividades do CA devem estar normatizadas em um regimento interno, que torne claras as responsabilidades e atribuições e previna situações de conflito com a diretoria executiva, notadamente com o executivo principal (CEO). α 32 2.11 Conselheiros independentes, externos, internos 2.15 Avaliação do conselho e do conselheiro •Há três classes de conselheiros: – Independentes ; – Externos: conselheiros que não têm vínculo atual com a organização, mas não são independentes. Por exemplo: ex-diretores e ex-funcionários, advogados que prestam serviços à empresa, parentes próximos de diretores, etc.; – Internos: conselheiros que são diretores ou funcionários da empresa. α a a a a a •Avaliação formal do desempenho do conselho e de cada um dos conselheiros deve ser feita a cada ano; •A condução do processo de avaliação é de responsabilidade do presidente do CA; •A aval iação indiv idual dos conselheiros – particularmente nos aspectos de freqüência e participação nas reuniões – é chave para a indicação à reeleição. α aa α aa α 2.34 Auditoria Interna •Deve reportar-se ao comitê de auditoria ou, na falta deste, ao CA; •O Conselho de Administração deve aprovar o planejamento anual, analisar os resultados e monitorar a implementação das recomendações apresentadas pela Auditoria interna. α aa α 33 Itens do Código IBGC 3.1 Competências do executivo principal (CEO) 3.4 Transparência 3.6 Controles internos Capítulo 3 - Gestão a α a α responsável pela execução das diretrizes por este fixadas; •Seu dever de lealdade é para com a sociedade. •O executivo principal deve prestar contas ao CA e é o a α a α a α a α pertinentes, além das que são obrigatórias por lei ou regulamento, tão logo estejam disponíveis, e a todos os interessados, prevalecendo a substância sobre a forma; •A Diretoria deve buscar a clareza e objetividade das informações, por meio de linguagem acessível ao público- alvo; •Toda informação que possa influenciar decisões de invest imento deve ser divulgada imediata e simultaneamente a todos os interessados; •Internet e outras tecnologias devem ser exploradas para buscar a rapidez e larga difusão de tais informações. •O CEO deve prestar todas as informações que sejam a α a α sistemas de controles internos que organizem e monitorem um fluxo de informações corretas, reais e completas sobre a organização, como as de natureza financeira, operacional, de obediência às leis e outras que apresentem fatores de risco importantes; •A efetividade de tais sistemas deve ser revista no mínimo anualmente. •O principal executivo é responsável pela criação de 34 Itens do Código IBGC 4.2 Parecer dos Auditores Independentes 4.5 Contratação e independência 4.6 Serviços extra- auditoria Capítulo 4 - Auditoria independente a α expressar opinião sobre se as demonstrações financeiras elaboradas pela diretoria apresentam, adequadamente, a posição patrimonial e financeira e os resultados do período. •De forma clara, os auditoresindependentes devem •Recomenda-se que os auditores, em benefício de sua independência, sejam contratados por período predefinido, podendo ser recontratados após avaliação formal e documentada efetuada pelo Comitê de Auditoria e/ou CA; •Recomenda-se que a eventual renovação do contrato com a firma de auditoria, após prazo máximo de 5 (cinco) anos, seja submetida à aprovação da maioria dos acionistas presentes em assembléia geral, incluindo ordinaristas e preferencialistas. α a α •O CA deve assegurar-se de que os procedimentos adotados pelos auditores garantam independência e objetividade, especialmente quando os mesmos auditores prestam outros serviços; •O Comitê de Auditoria ou, na sua ausência, o CA deve estar ciente de todos os serviços (inclusive os respectivos honorários) prestados pelos auditores independentes, de forma a garantir que não seja colocada em causa a independência do auditor. α a α 35 Itens do Código IBGC Capítulo 5 - Conselho Fiscal 5.1 Conselho Fiscal 5.2 Composição a a α •Parte integrante do sistema de governança das organizações brasileiras é um órgão não-obrigatório que tem como objetivos fiscalizar os atos da administração, opinar sobre determinadas questões e dar informações aos sócios; •Deve ser visto como uma das ferramentas que visam agregar valor para a sociedade, agindo como um controle independente para os sócios. α a α prerrogativa de eleger a maioria dos membros, permitindo que o último membro do CF seja eleito por sócios que representem a maioria do capital social, em assembléia na qual a cada ação – independentemente de espécie ou classe – corresponda um voto. •Os sócios controladores devem abrir mão da 5.5 Relacionamento com Comitê de Auditoria •O Conselho Fiscal não substitui o Comitê de Auditoria. Enquanto este é órgão de controle com funções delegadas pelo Conselho de Administração, aquele é instrumento de fiscalização com atribuições definidas diretamente pelos sócios; •Quando ambos estiverem em funcionamento, é natural haver alguma superposição de funções, hipótese em que os dois órgãos devem coordenar suas atividades. α a α 36 Itens do Código IBGC Capítulo 6 - Conduta e Conflito de Interesses 6.1 Código de Conduta comprometa administradores e funcionários, elaborado pela Diretoria de acordo com os princípios e políticas definidos pelo Conselho de Administração e por este aprovado. •Toda sociedade deve ter um código de conduta que α 6.2 Conflito de Interesses 6.2.1 Partes relacionadas a α a α independente em relação à matéria em discussão e pode influenciar ou tomar decisões motivadas por interesses distintos daqueles da sociedade; •Essa pessoa deve manifestar, tempestivamente, seu conflito de interesses ou interesse particular, sob pena de qualquer outra pessoa fazê-lo. •Há conflito de interesses quando alguém não é •É dever dos membros do CA monitorar e administrar potenciais conflitos de interesses dos executivos, dos membros do Conselho e dos sócios, de forma a evitar o mau uso dos ativos da organização e, especialmente, abusos em transações entre partes relacionadas; •Em princípio, empréstimos entre a organização e partes relacionadas devem ser proibidos. α a α 37 Assembléias Estrutura Acionária Decisões Relevantes •Descrever com precisão os temas que serão tratados; •Incluir matérias sugeridas pelos minoritários. •Facilitar o acesso dos acionistas;α a α a α acionistas; •Dar publicidade à relação dos acionistas e respectivas quantidades de ações; •Definir com clareza as exigências para o voto e representações. •Tornar acessíveis os termos de acordos de α a α a α •Cada ação um voto, independentemente de classe ou espécie; •Temas relevantes: o Avaliação de ativos incorporáveis. o Alteração do objeto social. o Fusão, cisão, incorporação. o Transações com partes interessadas. •Deliberação pela maioria do capital social;α a α a α a a a a 2.4. Recomendações da CVM sobre governança corporativa Com a publicação da Cartilha em 2002, a CVM buscou estimular o desenvolvimento do mercado brasileiro através da divulgação de práticas de boa governança corporativa. O seguinte quadro sintetiza os princípios incorporados pela referida Cartilha: 38 TAG ALONG Proteção aos Minoritários ações pelo mesmo preço, independentemente de classe ou espécie; •Tratamento igual a todos os acionistas. •Alienação de controle: oferta pública de aquisição de α a α pagamento de dividendos; •Divergências entre controladores e minoritários solucionadas por arbitragem; •Proporção de ações ordinárias e preferenciais: limite de 50%; •Transações entre partes interessadas: alinhadas aos interesses de todos os acionistas. •Direito a voto para ações preferenciais no caso de não α a α a α a α Conselho de Administração a a α a α a a α a α a α a a α Funções e Objetivos •Proteger o patrimônio da corporação; •Orientar a direção para maximizar o retorno do investimento. Constituição •De 5 a 9 conselheiros, tecnicamente qualificados; •Pelo menos 2 conselheiros com capacitação em finanças e técnicas contábeis; •Em corporações com controle compartilhado, o número pode ser maior. Funcionamento •Definir em seu regimento, detalhando atribuições e procedimentos. 39 Conselho Fiscal e Auditoria Demonstrações Financeiras Conselho Fiscal e Auditores •Constituição definida por titulares de ações ordinárias e preferenciais. •Adoção de regimento com atribuições e procedimentos. •Relacionamento com auditores supervisionados por Comitê de Auditoria. •Acesso sem limitação a quaisquer informações. Análise Trimestral •Exame e divulgação de fatores que influenciaram o resultado. •Indicação de fatores de risco a que a corporação está sujeita. •Perspectivas do ambiente de negócios: o Macroeconômicas. o Relacionados ao setor. a α a α a α a α a a α a α a α a a a a a Adoção de normas internacionais: – – GAAP - United States Generally Accepted Accounting Principles. IASB – International Accounting Standards Board. Continuação ... Conselho de Administração •Submeter a Diretoria Executiva, anualmente, a uma avaliação formal; •Admitir participação de detentores de ações preferenciais; •Os cargos de presidente do conselho (Chairman) e da direção (CEO) devem ser exercidos por pessoas diferentes. α a α a α Fonte: ANDRADE, Adriana e ROSSETTI, José Paschoal. Governança corporativa : fundamentos, desenvolvimentos e tendências. São Paulo: Atlas, 2007. 40 2.5. Novo Mercado e Níveis Diferenciados de Governança Corporativa O Novo Mercado é uma iniciativa da BOVESPA, que propõe às companhias o seu comprometimento voluntário à adoção de práticas de governança corporativa mais rigorosas do que o exigido pela legislação, relacionadas principalmente à ampliação dos direitos concedidos aos acionistas e a uma maior transparência na divulgação das informações da empresa. Esta medida pretende elevar o interesse dos investidores pelo mercado de capitais e, consequentemente, a valorização das companhias. Para a inclusão da empresa no Novo Mercado, ela deverá seguir uma série de exigências estabelecidas pelo “Regulamento de Listagem do Novo Mercado”, a saber: •O capital social da companhia deve ser composto exclusivamente por ações ordinárias. •Extensão para todos os acionistas das mesmas condições obtidas pelos controladores, quando da venda do controle da companhia (tag along). •Realização de uma oferta pública de aquisição de todas as ações em circulação, no mínimo, pelo valor econômico, nas hipóteses de fechamento do capital ou cancelamento do registro de negociação no Novo Mercado. •Conselho de Administração com mínimo de 5 (cinco) membros e mandato unificado de até 2 (dois) anos, permitida a reeleição. No mínimo, 20% (vinte por cento) dos membros deverão ser conselheiros independentes. •Melhoria nas informações prestadas, adicionandoàs Informações Trimestrais (ITRs) – documento que é enviado pelas companhias listadas à CVM e à BOVESPA, disponibilizado ao público e que contém demonstrações financeiras trimestrais – entre outras: demonstrações financeiras consolidadas e a demonstração dos fluxos de caixa. •Melhoria nas informações relativas a cada exercício social, adicionando às Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFPs) – documento enviado pelas companhias listadas à CVM e à BOVESPA, disponibilizado ao público a a a a a 41 e que contém demonstrações financeiras anuais – entre outras, a demonstração dos fluxos de caixa. •Divulgação de demonstrações financeiras, de acordo com padrões internacionais IFRS ou US GAAP. •Melhoria nas informações prestadas, adicionando às Informações Anuais (IANs): documento que é enviado pelas companhias listadas à CVM e à BOVESPA, disponibilizado ao público e que contém informações corporativas, entre outras: a quantidade e características dos valores mobiliários de emissão da companhia detidos, pelos grupos de acionistas controladores, membros do Conselho de Administração, diretores e membros do Conselho Fiscal, bem como a evolução dessas posições. •Realização de reuniões públicas, ao menos uma vez por ano, com analistas e investidores. •Apresentação de um calendário anual, no qual conste a programação dos eventos corporativos, tais como assembléias, divulgação de resultados etc. •Divulgação dos termos dos contratos firmados entre a companhia e partes relacionadas. •Divulgação, em bases mensais, das negociações de valores mobiliários e derivativos, de emissão da companhia, por parte dos acionistas controladores. •Manutenção em circulação de uma parcela mínima de ações, representando 25% (vinte e cinco por cento) do capital social da companhia. •Quando da realização de distribuições públicas de ações, adoção de mecanismos que favoreçam a dispersão do capital. •Adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado para resolução de conflitos societários. As exigências dos Níveis Diferenciados de Governança Corporativa são mais brandas, se comparadas ao Novo Mercado, e subdividem-se em Nível 1 e Nível 2, sendo este último um estágio mais avançado de governança. a a a a a a a a a a 42 As empresas listadas no Nível 1 devem respeitar regras de transparência, com divulgação mais detalhadas de suas atividades, para que seus acionistas e investidores possam acompanhar a sua performance com maior facilidade. Também é exigida a dispersão acionária estabelecida no Novo Mercado e no Nível 2. Seguem algumas obrigações adicionais à legislação: •Melhoria nas informações prestadas, adicionando às Informações Trimestrais (ITRs) – documento que é enviado pelas companhias listadas à CVM e à BOVESPA, disponibilizado ao público e que contém demonstrações financeiras trimestrais – entre outras: demonstrações financeiras consolidadas e a demonstração dos fluxos de caixa. •Melhoria nas informações relativas a cada exercício social, adicionando às Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFPs) – documento que é enviado pelas companhias listadas à CVM e à BOVESPA, disponibilizado ao público e que contém demonstrações financeiras anuais – entre outras, a demonstração dos fluxos de caixa. •Melhoria nas informações prestadas, adicionando às Informações Anuais (IANs) – documento que é enviado pelas companhias listadas à CVM e à BOVESPA, disponibilizado ao público e que contém informações corporativas – entre outras: a quantidade e características dos valores mobiliários de emissão da companhia detidos pelos grupos de acionistas controladores, membros do Conselho de Administração, diretores e membros do Conselho Fiscal, bem como a evolução dessas posições. •Realização de reuniões públicas com analistas e investidores, ao menos uma vez por ano. •Apresentação de um calendário anual, do qual conste a programação dos eventos corporativos, tais como assembléias, divulgação de resultados, etc. •Divulgação dos termos dos contratos firmados entre a companhia e partes relacionadas. •Divulgação, em bases mensais, das negociações de valores mobiliários e derivativos de emissão da companhia por parte dos acionistas controladores. a a a a a a 43 •Manutenção em circulação de uma parcela mínima de ações, representando 25% (vinte e cinco por cento) do capital social da companhia. •Quando da realização de distribuições públicas de ações, adoção de mecanismos que favoreçam a dispersão do capital. Diferentemente do Novo Mercado, as companhias do Nível 2 podem ter ações preferenciais na sua estrutura de capital, mas devem contemplar regras de transparência e de dispersão acionária, bem como o equilíbrio de direitos entre acionistas controladores e minoritários, respeitando ainda as exigências do Nível 1. Seguem alguns dos padrões que devem seguir as companhias listadas no Nível 2: •Divulgação de demonstrações financeiras de acordo com padrões internacionais IFRS ou US GAAP. •Conselho de Administração com mínimo de 5 (cinco) membros e mandato unificado de até 2 (dois) anos, permitida a reeleição. No mínimo, 20% (vinte por cento) dos membros deverão ser conselheiros independentes. •Direito de voto às ações preferenciais em algumas matérias, tais como, transformação, incorporação, fusão ou cisão da companhia e aprovação de contratos entre a companhia e empresas do mesmo grupo sempre que, por força de disposição legal ou estatutária, sejam deliberados em assembléia geral. •Extensão para todos os acionistas detentores de ações ordinárias das mesmas condições obtidas pelos controladores quando da venda do controle da companhia e de, no mínimo, 80% (oitenta por cento) deste valor para os detentores de ações preferenciais (tag along). •Realização de uma oferta pública de aquisição de todas as ações em circulação, no mínimo, pelo valor econômico, nas hipóteses de fechamento do capital ou cancelamento do registro de negociação neste Nível; •Adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado para resolução de conflitos societários. Além das práticas acima, recomenda-se fortemente a criação de um processo estruturado de gerenciamento de riscos corporativos. Tal processo a a a a a a a a 44 consiste na identificação dos fatores de risco mais relevantes, na sua quantificação, e em ações para mitigar determinados riscos. Em linhas gerais, os riscos podem ser divididos em duas grandes categorias: • • O bom exercício do gerenciamento dos riscos corporativos propicia à alta administração instrumentos para tomada de decisão que permitem aos gestores lidar eficientemente com a incerteza, reduzindo a variabilidade futura dos resultados da instituição. Como visto, a adoção destas práticas supera as exigências da lei ou regulamentações vigentes. No entanto, as empresas são estimuladas a adotá-las pelo reconhecimento dos benefícios subseqüentes de uma boa governança corporativa. Diante disso, e devido ao caráter evolutivo das práticas de governança, o mercado e órgãos relacionados ao tema devem participar na elaboração e revisão de novos códigos, à medida que fatores internos e/ou externos pressionem por mudanças nessas práticas. A adoção das melhores práticas de governança corporativa contribui para atingir e manter a confiança do público e dos órgãos reguladores nas instituições financeiras e, consequentemente, para o bom funcionamento do setor bancário e da economia como um todo. Por estes motivos, os órgãos reguladores têm um grande interesse e preocupação em assegurar o funcionamento transparente, ético e adequado dos bancos, a fim de reduzir riscos que possam afetar o sistema financeiro e causar uma crise sistêmica. a a a a a a Riscos Operacionais ou do Negócio: aqueles que a instituição está disposta a assumir como parte de sua atividade fim. Inclui as incertezas quando às decisões estratégicas do negócio e do meio-ambiente onde atua. Riscos Financeiros: relacionados a possíveis perdas
Compartilhar