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Indaial – 2021 Urinálise e Citopatologia ClíniCa Prof. Elder Ferri Lourenzi Profª. Maria Carolina Stipp Gonçalves 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof. Elder Ferri Lourenzi Profª. Maria Carolina Stipp Gonçalves Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: L892u Lourenzi, Elder Ferri Urinálise e citopatologia clínica. / Elder Ferri Lourenzi; Maria Carolina Stipp Gonçalves. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 201 p.; il. ISBN 978-65-5663-689-4 ISBN Digital 978-65-5663-687-0 1. Análise da urina. - Brasil. I. Gonçalves, Maria Carolina Stipp. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 610 apresentação Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Urinálise e Citopatologia Clínica. A análise da urina compreende fatores físicos, químicos e microscópicos, sendo essencial para a triagem de pacientes em diferentes condições patológicas, principalmente aquelas que afetam os sistemas geniturinário, renal, hepático e metabólico do organismo. Na Unidade 1, abordaremos a fisiologia do sistema renal, com foco no funcionamento das estruturas renais para formar a urina, tal como os glomérulos e túbulos renais. Em seguida, veremos a importância dos cui- dados nos parâmetros pré-analíticos, que envolvem a coleta e o transporte da amostra de urina tipo 1 de pacientes pediátricos e adultos, e da urina de 24 horas. Com esses conceitos introdutórios em mente, compreenderemos a análise analítica do exame de urina, como: análise macroscópica ou físi- ca, com avaliação da coloração, pH, densidade e aspecto; análise química, por meio da avaliação de glicose, bilirrubinas, urobilinogênio, leucócitos, sangue, nitritos e proteínas; análise microscópica, na qual se verifica a pre- sença de cristais, células, cilindros, entre outros componentes que fazem parte da urina. Na Unidade 2, estudaremos a citologia clínica, um ramo voltado ao rastreamento e à detecção de lesões celulares importantes do tipo neoplásica ou inflamatória, bem como à identificação de agentes patogênicos nas mais diversas amostras de material celular. Também conhecida como citopatologia ou citologia oncótica, veremos temas voltados aos aspectos históricos no Brasil e no mundo, suas aplicações e complicações, além da definição de citologia oncótica e seus objetivos, da estrutura de um laboratório e da epidemiologia do câncer, tema de fundamental importância para o entendimento da necessidade da atuação profissional nesse campo diagnóstico. Na Unidade 3, exploraremos a área da citopatologia que mais apresenta demanda: a citologia de colo uterino, que está ligada a muitos programas de prevenção do câncer dessa região anatômica, por meio do rastreamento. Assim, descreveremos células normais, inflamatórias e neoplásicas, micro-organismos e demais componentes presentes em uma amostra obtida do colo de útero – importantes para a o monitoramento interno e externo de qualidade, bem como para a nomenclatura padrão dos laudos citopatológicos. Boa leitura! Prof. Elder Ferri Lourenzi Profª. Maria Carolina Stipp Gonçalves Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sUmário UNIDADE 1 — URINÁLISE ................................................................................................................. 1 TÓPICO 1 — FORMAÇÃO DA URINA E PROCEDIMENTOS PRÉ-ANALÍTICOS .............. 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 FISIOLOGIA RENAL.......................................................................................................................... 4 2.1 FORMAÇÃO DA URINA ............................................................................................................. 5 2.2 COMPOSIÇÃO DA URINA ......................................................................................................... 8 3 FASE PRÉ-ANALÍTICA ................................................................................................................... 10 3.1 COLETA DE URINA TIPO 1 PARA PARCIAL DE URINA ................................................... 10 3.2 COLETA DE AMOSTRA EM BEBÊS ........................................................................................ 12 3.3 COLETA DE URINA EM TEMPO MARCADO (24 HORAS) ................................................ 13 4 TRANSPORTE, ARMAZENAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE AMOSTRA DE URINA ............................................................................................................. 14 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 15 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 16 TÓPICO 2 — ANÁLISE FÍSICA E QUÍMICA DA URINA .......................................................... 19 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 19 2 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA URINA ................................................................................ 20 2.1 COR ................................................................................................................................................ 20 2.1.1 Urina amarelo escuro, amarelo claro e transparente ...................................................... 21 2.1.2 Urina laranja, âmbar e mel ................................................................................................. 21 2.1.3 Urina verde/azul .................................................................................................................21 2.1.4 Urina rosa, vermelha, marrom ou preta ........................................................................... 22 2.2 VOLUME ........................................................................................................................................ 23 2.3 DENSIDADE ................................................................................................................................ 24 2.4 ASPECTO ...................................................................................................................................... 25 2.5 ODOR ............................................................................................................................................ 26 3 AVALIAÇÃO QUÍMICA DA URINA ........................................................................................... 27 3.1 PH URINÁRIO ............................................................................................................................. 28 3.2 GLICOSE ....................................................................................................................................... 30 3.3 CORPOS CETÔNICOS ............................................................................................................... 31 3.4 PROTEÍNAS ................................................................................................................................. 32 3.5 UROBILINOGÊNIO/BILIRRUBINA .......................................................................................... 32 3.6 HEMOGLOBINA E MIOGLOBINA .......................................................................................... 33 3.7 NITRITOS ....................................................................................................................................... 34 3.8 LEUCÓCITOS ............................................................................................................................... 34 3.9 ÁCIDO ASCÓRBICO .................................................................................................................. 35 3.10 RESULTADOS NA TIRA REATIVA ......................................................................................... 35 4 URINA DE 24 HORAS ..................................................................................................................... 36 4.1 CLEARANCE DE CREATININA ................................................................................................ 37 4.2 PROTEINÚRIA ............................................................................................................................. 39 4.3 SÓDIO URINÁRIO ....................................................................................................................... 39 4.4 CÁLCIO URINÁRIO .................................................................................................................... 40 4.5 ÁCIDO ÚRICO .............................................................................................................................. 41 4.6 POTÁSSIO ...................................................................................................................................... 42 4.7 UROPORFIRINAS ....................................................................................................................... 42 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 44 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 45 TÓPICO 3 — ANÁLISE SEDIMENTOSCÓPICA DA URINA ................................................... 47 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 47 2 CÉLULAS ............................................................................................................................................ 48 2.1 CÉLULAS EPITELIAIS ................................................................................................................ 48 2.2 LEUCÓCITOS NA URINA .......................................................................................................... 50 2.3 HEMÁCIAS NA URINA ............................................................................................................. 50 3 CRISTAIS ........................................................................................................................................... 51 3.1 CRISTAL DE FOSFATO TRIPLO ................................................................................................ 51 3.2 CRISTAL DE ÁCIDO ÚRICO ..................................................................................................... 52 3.3 CRISTAL DE OXALATO DE CÁLCIO ...................................................................................... 52 3.4 URATO AMORFO ....................................................................................................................... 53 3.5 OUTROS CRISTAIS ..................................................................................................................... 54 4 CILINDROS ........................................................................................................................................ 55 4.1 CILINDRO HIALINO ................................................................................................................. 56 4.2 CILINDRO HEMÁTICO ............................................................................................................. 56 4.3 CILINDRO LEUCOCITÁRIO ..................................................................................................... 57 4.4 CILINDRO EPITELIAL ............................................................................................................... 57 4.5 OUTROS CILINDROS ................................................................................................................ 57 5 OUTROS COMPONENTES URINÁRIOS ................................................................................... 58 5.1 BACTÉRIAS, LEVEDURAS E PARASITAS .............................................................................. 59 5.2 MUCO ............................................................................................................................................ 60 5.3 ESPERMATOZOIDES ................................................................................................................. 61 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 62 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 67 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 68 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 71 UNIDADE 2 — CITOLOGIA CLÍNICA .......................................................................................... 75 TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À CITOLOGIA CLÍNICA ............................................................ 77 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 77 2 ASPECTOS HISTÓRICOS E OBJETIVOS DA CITOLOGIA CLÍNICA ................................ 77 2.1 CITOPATOLOGIA NÃO GINECOLÓGICA ............................................................................ 79 2.2 CITOPATOLOGIA GINECOLÓGICA ...................................................................................... 81 3 ESTRUTURA LABORATORIAL ....................................................................................................83 3.1 LABORATÓRIO DE CITOLOGIA CLÍNICA ........................................................................... 85 3.1.1 Materiais de escritório e administrativo ........................................................................... 85 3.1.2 Área técnica .......................................................................................................................... 86 4 ARQUIVAMENTO ............................................................................................................................ 88 5 EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER ................................................................................................... 89 5.1 FATORES PARA O DESENVOLVIMENTO DAS NEOPLASIAS .......................................... 90 5.1.1 Hereditariedade ................................................................................................................... 91 5.1.2 Infecções ................................................................................................................................ 91 5.1.3 Exposição solar e a radiações ............................................................................................ 92 5.1.4 Tabagismo ............................................................................................................................. 93 6 FATORES PREVENTIVOS .............................................................................................................. 93 6.1 ALIMENTAÇÃO ........................................................................................................................... 94 6.2 EXERCÍCIOS FÍSICOS ................................................................................................................. 94 6.3 PREVENÇÃO DE CÂNCERES DE ETIOLOGIA MICROBIANA ......................................... 94 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 96 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 97 TÓPICO 2 — COLETA E PROCESSAMENTO DE AMOSTRAS CITOLÓGICAS................. 99 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 99 2 CITOLOGIA ESFOLIATIVA ........................................................................................................... 99 3 CITOLOGIA ASPIRATIVA ........................................................................................................... 100 3.1 PAAF GUIADA POR PALPAÇÃO ........................................................................................... 100 3.2 PAAF GUIADA POR ULTRASSOM ........................................................................................ 101 3.3 CITOLOGIA EM MEIO LÍQUIDO ........................................................................................... 102 4 COLETA E PROCESSAMENTO ................................................................................................... 103 4.1 COLETA DE EXAMES POR ESFOLIAÇÃO ........................................................................... 103 4.2 LAVADOS .................................................................................................................................... 105 4.3 MATERIAIS OBTIDOS ESPONTÂNEAMENTE ................................................................... 105 4.4 PUNÇÃO ASPIRATIVA POR AGULHA FINA (PAAF) ....................................................... 105 5 PROCESSAMENTO DO MATERIAL CITOLÓGICO ............................................................. 106 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 109 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 110 TÓPICO 3 — PRINCIPAIS APLICAÇÕES DA CITOLOGIA NÃO GINECOLÓGICA ........... 113 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 113 2 CITOLOGIA DA MAMA ............................................................................................................... 113 3 CITOLOGIA DA TIREOIDE ......................................................................................................... 117 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 120 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 125 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 126 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 128 UNIDADE 3 — CITOLOGIA GINECOLÓGICA ........................................................................ 133 TÓPICO 1 — ANATOMIA, HISTOLOGIA E FISIOLOGIA DO COLO UTERINO ............ 135 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 135 2 ANATOMIA DO TRATO GENITAL FEMININO .................................................................... 135 2.1 OVÁRIOS .................................................................................................................................... 136 2.2 TUBAS UTERINAS ..................................................................................................................... 137 2.3 ÚTERO .......................................................................................................................................... 137 3 FISIOLOGIA DO TRATO GENITAL FEMININO .................................................................. 139 4 COMPONENTES NORMAIS DO EXAME CITOPATOLÓGICO DE COLO DE ÚTERO ..................................................................................................................... 141 4.1 CÉLULAS EPITELIAIS .............................................................................................................. 141 4.1.1 Células escamosas.............................................................................................................. 142 4.1.2 Células glandulares endocervicais .................................................................................. 144 4.1.3 Metaplasia escamosa ......................................................................................................... 145 4.1.4 Células endometriais ......................................................................................................... 146 4.2 COMPONENTES NÃO EPITELIAIS ....................................................................................... 146 4.2.1 Hemácias ............................................................................................................................. 146 4.2.2 Leucócitos ........................................................................................................................... 147 4.2.3 Neutrófilos polimorfonucleares (PMN) ......................................................................... 147 4.2.4 Linfócitos e histiócitos ....................................................................................................... 148 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 149 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 150 TÓPICO 2 — CITOLOGIA INFLAMATÓRIA E MICRO-ORGANISMOS ........................... 153 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................153 2 CITOLOGIA INFLAMATÓRIA ................................................................................................... 153 2.1 VACUOLIZAÇÃO DO CITOPLASMA .................................................................................. 154 2.2 HALO PERINUCLEAR .............................................................................................................. 154 2.3 PSEUDOEOSINOFILIA ............................................................................................................. 155 2.4 CERVICITE FOLICULAR E VAGINITE ATRÓFICA............................................................. 155 2.5 HIPERQUERATOSE E PARAQUERATOSE ........................................................................... 156 3 REPARO TECIDUAL ...................................................................................................................... 156 4 MICRO-ORGANISMOS ................................................................................................................ 158 4.1 BACTÉRIAS ................................................................................................................................. 158 4.1.1 Bacilos de Döderlein (lactobacilos) ................................................................................... 158 4.1.2 Gardnerella vaginalis............................................................................................................ 159 4.1.3 Cocos e bacilos ................................................................................................................... 160 4.1.4 Actinomyces ......................................................................................................................... 160 4.2 MICOSES (FUNGOS) ................................................................................................................. 161 4.2.1 Candida sp ............................................................................................................................ 161 4.3 PROTOZOÁRIOS ....................................................................................................................... 162 4.3.1 Trichomonas vaginalis .......................................................................................................... 162 4.4 INFECÇÕES VIRAIS .................................................................................................................. 163 4.4.1 Herpes vírus ....................................................................................................................... 163 4.4.2 Papilomavírus humano (HPV) ........................................................................................ 164 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 168 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 169 TÓPICO 3 — LESÕES PRÉ-NEOPLÁSICAS E MALIGNAS DE COLO DE ÚTERO ........... 171 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 171 2 ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS .............................................................................................. 171 3 LESÕES INTRAEPITELIAIS ESCAMOSAS DO COLO UTERINO ..................................... 172 3.1 CRITÉRIOS CITOMORFOLÓGICOS DAS LESÕES INTRAEPITELIAIS DE BAIXO GRAU (LSIL)............................................................................................................ 174 3.1.1 Conduta médica recomendada após resultado ............................................................. 175 3.2 CARACTERÍSTICAS CITOMORFOLÓGICAS DAS LESÕES INTRAEPITELIAIS DE ALTO GRAU (HSIL) ......................................................................... 176 3.2.1 Conduta médica recomendada após resultado ............................................................. 177 3.3 ATIPIAS EM CÉLULAS ESCAMOSAS (ASC) ........................................................................ 177 3.3.1 Atipias em células escamosas de significado indeterminado: ASC-US ..................... 177 3.3.2 Atipias em células escamosas não podendo afastar lesão de alto grau: ASC-H ............. 177 3.4 CARCINOMA ESCAMOSO ...................................................................................................... 179 3.4.1 Características citológicas e subclassificação ................................................................. 179 3.5 TUMORES MENOS FREQUENTES ......................................................................................... 181 4 LESÕES GLANDULARES DO COLO UTERINO .................................................................... 181 4.1 ASPECTOS GERAIS ................................................................................................................... 181 4.1.1 Atipia em células glandulares: AGC ............................................................................... 182 4.2 ADENOCARCINOMA IN SITU (AIS)..................................................................................... 183 4.3 ADENOCARCINOMA INVASIVO.......................................................................................... 184 4.4 LAUDO CITOPATOLÓGICO DO COLO DE ÚTERO .......................................................... 185 4.4.1 Avaliação pré-analítica ...................................................................................................... 187 4.4.2 Adequabilidade do material ............................................................................................ 187 4.4.3 Epitélios representados na amostra ................................................................................ 187 4.4.4 Dentro dos limites da normalidade ................................................................................ 188 4.4.5 Microbiologia ..................................................................................................................... 188 4.4.6 Alterações celulares ........................................................................................................... 188 4.4.7 Observações ........................................................................................................................ 189 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 190 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 197 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 198 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 200 1 UNIDADE 1 — URINÁLISE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender os processos envolvidos na fisiologia renal para formação da urina e composição da urina; • realizar boas práticas laboratoriais para parâmetros pré-analíticos, como coleta e transporte de amostra de urina para diferentes análises; • interpretar as análises físicas e químicas da urina; • identificar células, cristais, cilindros, entre outros constituintes urinários observados no microscópio óptico. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – FORMAÇÃO DA URINA E PROCESSOS PRÉ-ANALÍTICOS TÓPICO 2 – ANÁLISE FÍSICA E QUÍMICA DA URINA TÓPICO 3 – ANÁLISE SEDIMENTOSCÓPICA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 FORMAÇÃO DA URINAE PROCEDIMENTOS PRÉ-ANALÍTICOS 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, será realizada uma introdução ao processo de formação da urina e aos aspectos pré-analíticos para a análise de amostras de urina. A formação da urina é um processo complexo, que envolve aspectos importantes da fisiologia renal e que, para ser compreendido, é necessário recordarmos a anatomia dos rins. Os rins (Figura 1) são órgãos com formato de feijão, encontrados abaixo do diafragma, um em cada lado da coluna vertebral. Cada rim é amplamente inervado pelo sistema nervoso central (SNC) e irrigado por vasos sanguíneos, além de conter um ureter. Os ureteres são responsáveis por direcionar a urina até a bexiga. Eles formam cálices na estrutura interna dos rins, que coletam a urina formada pelo tecido renal. Cada cálice encaixa-se em pirâmides renais, que constituem a medula do rim, e, no ápice das pirâmides, também conhecida como papila, projeta-se para um cálice menor. Esses componentes são constituídos por néfrons, túbulos e vasos sanguíneos, sendo localizados no interstício, em que podemos observar células como fibroblastos, responsáveis pela secreção de matriz extracelular e colágeno, proteoglicanos e glicoproteínas. Dessa forma, os rins somam uma série de importantes constituintes e funções fisiológicas que serão discutidas com mais detalhes mais adiante (EATON; POOLER, 2015). Entre elas, podemos destacar a formação da urina, que é analisada dentro da urinálise. Para que essa análise aconteça, torna-se necessária uma etapa denominada como fase pré-analítica, quando ocorre a coleta da amostra. UNIDADE 1 — URINÁLISE 4 FIGURA 1 – ANATOMIA DO SISTEMA URINÁRIO E RENAL FONTE: Os autores No entanto, a fase pré-analítica não compreende somente a coleta da amostra biológica, mas também as etapas de transporte e armazenamento da amostra. Embora sejam aspectos básicos, esses processos são essenciais, uma vez que grande parte dos erros em laboratórios clínicos ocorrem na fase pré- analítica. Para amostras urinárias, isso não é diferente. Assim, caso as etapas que correspondem a essa fase sejam realizadas de forma incorreta, a análise torna-se comprometida (XAVIER; DORA; BARROS, 2016). 2 FISIOLOGIA RENAL Os rins são essenciais e indispensáveis para a sobrevivência do ser hu- mano. Esses órgãos somam diferentes funções, que ajudam a manter a home- ostasia no organismo como um todo. Entre as suas principais funções se en- contram: a gliconeogênese, produção de vitamina D, manutenção do equilíbrio acidobásico, controle da resistência vascular, produção de eritropoetina para controle na produção de eritrócitos, regulação da osmolaridade plasmática, controle do volume do líquido extracelular, manutenção do equilíbrio hídrico e eletrolítico e, de modo especial, o processo de excreção de substâncias que não são úteis para o organismo. De maneira geral, essas substâncias em concentra- ções elevadas podem ser extremamente prejudiciais, levando à desregulação de condições fisiológicas de outros sistemas do corpo. Consequentemente, os rins atuam em conjunto, por exemplo, com outros órgãos, como fígado e coração (EATON; POOLER, 2015). TÓPICO 1 — FORMAÇÃO DA URINA E PROCEDIMENTOS PRÉ-ANALÍTICOS 5 2.1 FORMAÇÃO DA URINA Compreender a essência do funcionamento renal e, consequentemente, da formação da urina é simples, porque os rins recebem o líquido que chega pela corrente sanguínea, alteram a sua composição adicionando ou excluindo constituintes e formam a urina, que contém o equilíbrio de cada substância. Esse processo é realizado nos néfrons renais (Figura 2), responsáveis pela filtração do sangue, os quais precisam estar em perfeito estado de funcionamento (EATON; POOLER, 2015). FIGURA 2 – NÉFRON RENAL FONTE: Os autores Cada néfron é formado por um glomérulo e túbulos renais, que se encontram no ducto coletor. O glomérulo é formado por vasos sanguíneos e “coberto” pela cápsula de Bowman (corpúsculo renal). O sangue penetra pela cápsula de Bowman através das arteríolas aferentes para os capilares do glomérulo, e a arteríola eferente drena o sangue. Dentro da cápsula, há um espaço vazio, onde o líquido flui dos capilares glomerulares antes de penetrar na primeira porção do túbulo. Essa estrutura (Figura 3) forma uma barreira essencial para a filtração, similar a uma “peneira”, permitindo que passe grandes volumes e impedindo a passagem de grandes proteínas plasmáticas, como albumina (EATON; POOLER, 2015). UNIDADE 1 — URINÁLISE 6 FIGURA 3 – GLOMÉRULO RENAL FONTE: Os autores A filtração glomerular é a etapa inicial para a formação da urina. O conteúdo filtrado é muito semelhante ao plasma sanguíneo, contendo substâncias livremente filtradas, como íons inorgânicos (sódio, potássio, cloreto, bicarbonato), solutos orgânicos sem carga elétrica (glicose e ureia), hormônios peptídicos (insulina, hormônio antidiurético) e aminoácidos de baixo peso molecular (EATON; POOLER, 2015). O conteúdo filtrado é medido pela taxa de filtração glomerular (TFG), que é igual a 180 L/dia em um homem adulto, jovem e saudável. Consequentemente, o sangue total chega a ser filtrado cerca de 60 vezes ao dia, permitindo a excreção de substâncias biotransformadas e a manutenção da homeostasia do organismo. Como exemplo, podemos imaginar que, caso todo o conteúdo filtrado fosse excretado de forma íntegra, urinaríamos várias vezes ao dia e ficaríamos desidratados em questão de poucas horas. Por isso, o conteúdo filtrado será encaminhado aos túbulos renais, onde ocorrem processos de reabsorção e secreção tubulares (Figura 4), ou seja, o líquido recebido é modificado de modo específico em cada segmento, a fim de enviar o líquido para o outro segmento. A reabsorção é caracterizada pela remoção de substâncias do túbulo renal para o sangue circulante; enquanto a secreção se caracteriza pelo acréscimo de substâncias do sangue circulante para o lúmen do túbulo renal (EATON; POOLER, 2015). Os túbulos renais são formados logo após o glomérulo e são uma extensão da cápsula de Bowman, dividindo-se basicamente em túbulo contorcido proximal, alça de Henle, túbulo contorcido distal e ducto coletor. Essas estruturas são constituídas por células epiteliais conectadas por junções firmes, responsáveis por manter as células unidas (EATON; POOLER, 2015). O túbulo proximal é o primeiro, localizado logo após a cápsula de Bowman. Dessa forma, ele drena o conteúdo filtrado por esse compartimento para a sequência de túbulos. Ele é responsável pelo primeiro processo de rea- bsorção tubular, no qual são absorvidos novamente para o organismo cerca de dois terços da água filtrada, do sódio e do cloreto. Além disso, todas as moléculas TÓPICO 1 — FORMAÇÃO DA URINA E PROCEDIMENTOS PRÉ-ANALÍTICOS 7 orgânicas úteis como glicose e aminoácidos precisam ser reabsorvidas para se- rem conservadas no organismo. Compostos como potássio, fosfato, cálcio e bicar- bonato são reabsorvidos parcialmente. Apesar de ser essencial para reabsorção, esse compartimento é responsável pela secreção de algumas substâncias, como produtos biotransformados (creatinina, ácido úrico) e fármacos (penicilina) (EA- TON; POOLER, 2015). Logo após, encontramos a alça de Henle, que é um segmento dividido em ramo ascendente e descendente. De modo geral, é responsável por 20% da reabsorção do sódio e cloreto e 10% da água filtrada, líquido que se torna diluído em relação ao plasma normal, devido à concentração de sal absorvida ser superior à concentração de água. O túbulo distal reabsorve cerca de 10% de sal e água, já o ducto coletor mantém o processo de reabsorver sal e água, excretando, ainda, ácidos e bases, e regulando a excreção deureia (EATON; POOLER, 2015). FIGURA 4 – FILTRAÇÃO, REABSORÇÃO E SECREÇÃO RENAL FONTE: <https://bit.ly/3DbxyDb>. Acesso em: 29 abr. 2021. Para visualizar melhor esses processos renais, assista ao seguinte vídeo sobre o processo de filtração, reabsorção, secreção e excreção renal, acessando: https://www. youtube.com/watch?v=R4cNMryGOro. INTERESSA NTE https://www.youtube.com/watch?v=R4cNMryGOro https://www.youtube.com/watch?v=R4cNMryGOro UNIDADE 1 — URINÁLISE 8 Portanto, percebe-se que é indispensável que determinadas substâncias sejam excretadas pelos rins e que esse processo é controlado por diferentes mecanismos, os quais, geralmente, têm funções muito similares. Assim, quando há uma falha nos controles de um mecanismo, ela pode ser compensada por outro. Caso isso não seja possível, o organismo é capaz de se adaptar a determinadas condições crônicas, modulando sua eficiência com o passar do tempo. Por fim, para cada substância do plasma, existe uma combinação particu- lar de filtração, reabsorção e secreção, e a combinação desses fatores resulta no que será excretado e quanto. Os rins buscam regular as concentrações ideias de cada substância, de modo que, se algo está acima do normal, será excretado em maior quantidade ou vice-versa. 2.2 COMPOSIÇÃO DA URINA Como podemos perceber, a urina humana é constituída principalmente por água, que corresponde a cerca de 90 a 96% do volume total. A água é secretada através dos rins, coletada na bexiga e excretada na uretra. Além do componente líquido, a urina pode conter solutos, como sódio, potássio, cálcio, magnésio, cloreto, creatinina, ureia, vitaminas, hormônios, ácido úrico, dentro outros compostos orgânicos e inorgânicos (ROSE et al., 2015). Os compostos sólidos totais na urina chegam a pesar cerca de 59 g/cap/ dia. A matéria orgânica corresponde a 65% a 85% dos constituintes sólidos secos da urina. A ureia é mais predominante, variando de acordo com a ingestão de proteínas, mas constituindo cerca de 50% dos sólidos orgânicos totais. Íons como Na+, K+ e Ca2+ também variam de acordo com a dieta. Outros íons menos frequentes são amônio, sulfatos de ácidos aminados e fosfatos, que podem mudar de acordo com o nível hormonal da paratireoide. Portanto, a composição de soluto é modificada conforme as condições ambientais, como uma variação na alimentação, através da ingestão de proteínas, sal, cálcio, ou ainda, por modulação na secreção hormonal (Figura 5) (ROSE et al., 2015). TÓPICO 1 — FORMAÇÃO DA URINA E PROCEDIMENTOS PRÉ-ANALÍTICOS 9 FIGURA 5 – DIFERENÇA NA COMPOSIÇÃO DE SÓLIDOS NA URINA DE ACORDO COM A DIETA FONTE: Os autores A produção total de urina varia de acordo com a ingestão de líquidos, tamanho do corpo, prática de exercícios físicos excessivos (suor) e de acordo com a raça (ROSE et al., 2015). O Quadro 1 indica a relação entre esses fatores e a produção de urina por dia. QUADRO 1 – FATORES QUE LEVAM A VARIAÇÃO NA PRODUÇÃO TOTAL DE URINA FATOR PRODUÇÃO DE URINA Ingestão de líquidos O volume de água ingerido é, geralmente, igual ao volume de urina produzida. Tamanho do corpo Crianças produzem uma quantidade inferior de urina (50% a menos) do que adultos. Quanto maior o tamanho do corpo, maior a produção de urina. Exercícios físicos excessivos A prática excessiva leva ao suor, que, por sua vez, afeta a hidratação corpórea. Raça Mulheres negras têm volume urinário inferior (0,24 L/dia) do que mulheres brancas. FONTE: Os autores UNIDADE 1 — URINÁLISE 10 3 FASE PRÉ-ANALÍTICA A fase pré-analítica compreende fatores que antecedem a análise laboratorial, voltados ao preparo do paciente, à identificação, à coleta, à manipulação, ao armazenamento e ao transporte de uma amostra biológica. Consequentemente, é uma fase repleta de possibilidades para os grandes erros em laboratórios clínicos, que, muitas vezes, não são controlados e/ou detectados. Uma vez que os erros ocorrem e não são identificados, isso pode levar a resultados incorretos, que não condizem com a realidade do paciente (XAVIER; DORA; BARROS, 2016). No entanto, o laboratório pode e deve buscar minimizar esses erros, pelo treinamento adequado dos profissionais responsáveis pelas tarefas. Quando existe uma gestão da qualidade da fase pré-analítica, os erros podem ser facilmente identificados e corrigidos, antes que prejudiquem a qualidade dos serviços prestados pelo laboratório, evitando, assim, outros problemas. Por esse motivo, uma padronização dos processos deve ser adotada, aumen- tando a segurança e confiança do paciente. Considerando os parâmetros pré-analíticos para amostras de urina, eles podem fugir do controle do laboratório, uma vez que o paciente realiza a sua própria coleta. Contudo, uma orientação adequada possibilita que o paciente seja instruído da maneira correta para fazer a coleta do material, minimizando os principais erros pré-analíticos nessa área. Em relação à identificação do paciente, esta é de responsabilidade do laboratório, que deve confirmar o nome completo e dados pessoais do paciente respectivo a amostra recebida. Outro fator a ser analisado na entrega da amostra é se ela se encontra “apta” para análise, pois, em alguns casos, indica-se uma nova coleta. Esses casos incluem amostras em recipientes inadequados (vidros de conserva, potes de plásticos, entre outros); amostras com resquícios de fezes; amostras com tempo de coleta superior ao tempo de transporte permitido para a análise; amostras malconservadas. A seguir, poderemos entender mais sobre os processos de coleta e transporte da amostra de urina e sua importância da fase pré-analítica. 3.1 COLETA DE URINA TIPO 1 PARA PARCIAL DE URINA A coleta de amostra urinária para realização do parcial de urina é relativamente simples, mas precisa ser seguida à risca, caso contrário pode ocorrer contaminações importantes, que exigem a necessidade de uma nova coleta. De modo geral, ela é realizada pelo próprio paciente, por esse motivo, é necessário fazer uma correta orientação sobre as etapas, a fim de facilitar as fases analíticas (RAVEL, 1997). As recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) indicam que a primeira amostra da manhã é ideal para o exame de urina de rotina, porque ela se encontra mais concentrada, permitindo TÓPICO 1 — FORMAÇÃO DA URINA E PROCEDIMENTOS PRÉ-ANALÍTICOS 11 que os elementos e substâncias químicas presentes sejam adequadamente analisa- dos. Caso isso não seja possível, alguns laboratórios indicam um intervalo de 2 a 4 horas entre as micções para que, então, a coleta seja realizada (SBPC/ML, 2017). A urina é coletada em um frasco de material limpo, seco e à prova de vazamento. Os frascos não devem ser reutilizados, uma vez que a reutilização pode resultar em contaminação da amostra de urina. De modo geral, os laboratórios fornecem o frasco coletor ao paciente e solicitam que a amostra seja coletada em casa, a fim de que a primeira urina da manhã seja obtida (RAVEL, 1997). O paciente não precisa de nenhum preparo especial para realizar o exame, mas é importante informar que o uso de medicamentos ou os hábitos alimentares podem promover alterações significativas na amostra urinária (RAVEL, 1997). Além disso, o exame só será confiável se a amostra de urina for confiável. As regras para coleta adequada do material podem ser observadas nas Figuras 6 e 7. As regras são as mesmas para os exames parcial de urina ou cultura de urina (urocultura): • A região genital deve ser higienizada previamente com água e sabão neutro ou lenço umedecido. O uso de soluções antissépticas pode interferir na análise química do exame. • O paciente deve desprezar o primeiro jato de urina, para que as impurezas contidas no canal uretralsejam eliminadas. • Após, o paciente pode coletar o jato médio urinário até preencher o frasco. • Por fim, o paciente deve desprezar o restante de urina no vaso sanitário. FIGURA 6 – ILUSTRAÇÃO PARA COLETA DE AMOSTRA DE URINA EM HOMENS FONTE: <https://bit.ly/3zdqgwc>. Acesso em: 17 mar. 2021. UNIDADE 1 — URINÁLISE 12 FIGURA 7 – ILUSTRAÇÃO PARA COLETA DE AMOSTRA DE URINA EM MULHERES FONTE: <https://bit.ly/3zdqgwc>. Acesso em: 17 mar. 2021. 3.2 COLETA DE AMOSTRA EM BEBÊS A coleta em crianças pequenas é realizada com o auxílio de um saco cole- tor infantil (Figura 8) estéril e é realizada no laboratório. Assim como no adulto, é importante realizar uma higiene prévia no órgão genital do bebê com o auxílio de água e sabão, ou, então, com lenço umedecido, sempre de cima para baixo. Caso o bebê não urine por um período de 30 minutos a 1 hora, o saco coletor precisa ser trocado e inserido novamente (FLEMING, 2015). Para colocar o saco coletor da maneira adequada, deve-se retirar o papel que recobre a parte adesiva do saco coletor e dobrar o adesivo ao meio, deixando a parte adesiva do saco coletor para fora, pois está será “fixada” na região do interglúteo. Entretanto, o saco coletor deve ficar para baixo e há algumas variações para meninas e meninos (FLEMING, 2015). Para posicionar adequadamente o saco coletor: • Em meninos, é necessário colocar o órgão genital dentro da abertura do saco coletor, o qual é fixado na pele pela parte superior, a fim de evitar vazamentos. • Em meninas, é necessário abrir os grandes lábios da vagina, fixando a parte superior do adesivo. Isso é necessário para que a uretra fique dentro do círculo, a fim de evitar vazamentos. Em seguida, assim que a criança urinar, o saco coletor é retirado e o conteúdo é transferido para um pote coletor padrão. Caso o volume urinário seja muito baixo, pode ser necessário solicitar uma nova coleta de amostra. TÓPICO 1 — FORMAÇÃO DA URINA E PROCEDIMENTOS PRÉ-ANALÍTICOS 13 FIGURA 8 – SACO COLETOR DE URINA INFANTIL FONTE: <http://lfleming.com.br/INSTRUCOES-COLETAS.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2021. 3.3 COLETA DE URINA EM TEMPO MARCADO (24 HORAS) A coleta de urina em tempo marcado é simples e muito utilizada para determinação de algumas substâncias, cuja excreção pode variar no decorrer de 24 horas. Assim, não podemos coletar uma amostra pontual, sem saber exatamente se a substância está presente naquele momento ou será excretada em maiores concentrações posteriormente. Dessa forma, precisamos quantificar a excreção urinária no período de 24 horas, para que os efeitos envolvidos na variação da excreção durante diferentes condições ou períodos do dia, não sejam prejudiciais para o exame (REIS, 2020; PINHEIRO, c2008-2021). Para realizar a coleta, o paciente deve escolher o horário mais confortável para a sua realização. De modo geral, indica-se que a primeira urina seja desprezada, devendo-se anotar o horário em que isso ocorreu. Por exemplo, se o paciente acordar às 8 horas, ele pode esvaziar a bexiga completamente no vaso sanitário. Isso é necessário porque a urina armazenada na bexiga foi produzida no período da noite, ou seja, se coletássemos essa urina, estaríamos considerando um período maior do que 24 horas. Ao coletar somente após a primeira micção e o horário marcado, teremos certeza de que a próxima urina foi produzida no período adequado (REIS, 2020; PINHEIRO, c2008-2021). Em seguida, toda nova micção durante as próximas 24 horas devem ser armazenadas no frasco coletor (Figura 9) fornecido pelo laboratório, indepen- dente se for um volume grande, ou uma simples gota de urina. Caso seja ne- cessário mais de um frasco, o mesmo deve ser solicitado ao laboratório, mas é importante enfatizar que todo conteúdo de 24 horas deve ser coletado. No dia seguinte, a coleta deve ser finalizada no mesmo horário em que iniciou. Uma tolerância de 10 minutos é permitida para mais e para menos (7h50min ou 8h10min, por exemplo), mas, se o paciente tiver vontade de urinar mais cedo do que o horário final, ele deve tentar ingerir líquidos para conseguir urinar novamente no horário final (REIS, 2020; PINHEIRO, c2008-2021). UNIDADE 1 — URINÁLISE 14 FIGURA 9 – FRASCO COLETOR DE URINA DE 24 HORAS FONTE: <https://shutr.bz/3sJpO6y>. Acesso em: 19 mar. 2021. Alguns pontos devem ser enfatizados ao paciente, como a importância de coletar toda urina dentro desse período. Se o paciente urinar diretamente no vaso sanitário, no chuveiro, ou outro local, um novo ciclo deve ser iniciado. Além disso, o paciente só deve utilizar o frasco fornecido pelo laboratório, para evitar contaminações. Esses fatores são indispensáveis, pois, caso haja falha na coleta, o exame não será confiável e o laboratório não terá ciência disso, fazendo com o desfecho clínico para o paciente seja incerto, já que o médico pode tomar decisões incorretas de acordo com o resultado de uma amostra incompleta. 4 TRANSPORTE, ARMAZENAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE AMOSTRA DE URINA As amostras de urina, seja para parcial de urina, urocultura, ou urina de 24 horas, devem ser coletadas no recipiente fornecido pelo laboratório. Se o pa- ciente não realizar a coleta no laboratório, a amostra deve ser encaminhada para análise em um período de 1 a 2 horas. É muito importante que a amostra seja mantida refrigerada nesse período. A amostra de urina de 24 horas pode perma- necer fechada por até 48 horas em temperatura ambiente, contudo, o mais indica- do é que seja refrigerada e entregue rapidamente ao laboratório (STRASINGER; DI LORENZO, 2009). Ao receber amostras de urina, devemos verificar os dados do paciente, como nome completo, data da entrega e horário da coleta do material. Outro fator pré-analítico importante, é verificar se não há contaminação com fezes, menstruação ou coleta em outros recipientes, pois isso pode prejudicar as análises posteriores (STRASINGER; DI LORENZO, 2009). 15 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • O sistema urinário é formado pelos rins, ureter e bexiga. Os rins são órgãos vascularizados e que recebem inervação do sistema nervoso central. Já os ureteres, direcionam a urina até a bexiga, enquanto esta realiza o seu armazenamento, uma vez que será excretada pela uretra. • Os rins são indispensáveis para a sobrevivência do ser humano. Entre as principais funções dos rins estão a gliconeogênese, a produção de vitamina D, a manutenção do equilíbrio acidobásico, o controle da resistência vascular, a produção de eritropoetina para controle na produção de eritrócitos, a regulação da osmolalidade plasmática, o controle do volume do líquido extracelular, a manutenção do equilíbrio hídrico e eletrolítico e, de modo especial, o processo de excreção de substâncias que não são úteis para o organismo. • Os néfrons renais são formados por um glomérulo e túbulos renais, que se encontram no ducto coletor. O processo de filtração ocorre no glomérulo, por meio do qual os sólidos de baixo peso molecular e a água ultrapassam para os túbulos renais. Em seguida, uma série de processos de reabsorção e secreção é efetuada por túbulo contorcido proximal, alça de Henle, túbulo contorcido distal e ducto coletor. • A urina é composta principalmente por água (90 a 96% do volume total) e pode conter solutos, como sódio, potássio, cálcio, magnésio, cloreto, creatini- na, ureia, vitaminas, hormônios, ácido úrico, entre outros compostos organis- mos e inorgânicos. • A coleta para parcial de urina e cultura de urina segue como critérios: higienização da região genital; descarte do primeiro jato de urina; coleta do jato médio urinário até preencher o frasco; e descarte do restante no vaso sanitário. • A urina de 24 horas segue parâmetros diferentes dos estabelecidos pelo parcial de urina. A primeira urina do dia é desprezada, sendo o horárioanotado. Depois, o paciente coleta toda urina das próximas 24 horas e a armazena no frasco fornecido pelo laboratório. No dia seguinte, a coleta é finalizada no mesmo horário em que iniciou, com uma tolerância de 10 minutos, que é permitida para mais e para menos. • O transporte da amostra de urina deve ser realizado em um período de 1 a 2 horas após a coleta e o seu armazenamento, em geladeira. 16 1 Os parâmetros químicos da urina são úteis para predizer determinadas condições ou doenças que possam estar acometendo o paciente. De acordo com os parâmetros químicos da urina, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A gliconeogênese, produção de vitamina D e manutenção do equilíbrio acidobásico, correspondem a importantes funções renais. ( ) Entre as funções renais, está o processo de excreção de substâncias úteis para o organismo. ( ) Os rins auxiliam na produção de eritropoetina, na regulação da osmolalidade plasmática, no controle do volume do líquido extracelular, na manutenção do equilíbrio hídrico e eletrolítico. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 2 A coleta de amostra urinária é relativamente simples, mas precisa ser segui- da à risca, caso contrário pode ocorrer contaminações/falhas importantes, que exigem a necessidade de uma nova coleta. Com base nas regras para coleta de uma boa amostra de urina, analise as sentenças a seguir: I- A coleta da primeira urina do dia é essencial para o parcial de urina, mas, caso o paciente não possa esperar e já tenha urinado, ele pode coletar após o período de 2 a 4 horas sem urinar. II- A urina de 24 horas é requerida em situações específicas de substratos ex- cretados pela urina em diferentes períodos do dia, tornando-se necessário que o paciente colete toda a urina dentro de um período de 24 horas. III- A urina de 24 horas exige que o paciente colete a primeira urina da manhã e anote o horário, coletando toda a urina dentro do período de 24 horas, sem exceção. Após coletar a primeira urina da manhã do próximo dia, o paciente encerra a coleta e encaminha a amostra ao laboratório. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e III estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e II estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. AUTOATIVIDADE 17 3 Compreender a essência do funcionamento renal e, consequentemente, da formação da urina é simples, porque os rins recebem o líquido que chega pela corrente sanguínea, alteram a sua composição, adicionando ou excluindo constituintes e formam a urina, que contém o equilíbrio de cada substância. De acordo com os processos para filtração do sangue, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A filtração corre no glomérulo, que funciona como uma espécie de peneira, permitindo a passagem de constituintes sólidos de baixo peso molecular e água. b) ( ) A etapa de reabsorção ocorre no túbulo contorcido proximal, onde são reabsorvidas grandes quantidades de proteínas. c) ( ) A reabsorção permite que substâncias sólidas que não conseguiram atravessar pelo glomérulo, sejam excretadas nos túbulos renais. d) ( ) Os processos de excreção favorecem a retirada de substâncias dos túbulos renais para a corrente sanguínea, permitindo que as substâncias sejam armazenadas no organismo. 4 A coleta de urina em tempo marcado é muito utilizada para determinação de algumas substâncias, cuja excreção pode variar no decorrer de 24 horas. Disserte sobre a metodologia utilizada para essa coleta. 5 A fase pré-analítica compreende todos os processos que antecedem a análise laboratorial. Disserte sobre os principais erros pré-analíticos, relatando os cuidados necessários para evitá-los. 18 19 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 ANÁLISE FÍSICA E QUÍMICA DA URINA 1 INTRODUÇÃO A análise de urina, também denominada como urinálise, é considerada um parâmetro de baixo custo, não invasivo e relativamente simples, permitindo a obtenção de informações do sistema genito-urinário e demais sistemas do organismo. Isso é possível, devido às diversas funções dos rins em secretar substâncias e manter a homeostasia intrínseca. Dessa forma, quaisquer alterações podem ser detectadas por meio de uma análise simples da urina. Está análise se inicia após a coleta da amostra, que chega ao laboratório para a etapa analítica, ou seja, etapa em que ocorrem as avaliações da urina como um todo (ALVES, 2011; DALMOLIN, 2011; NETO, 2017). A fase analítica compreende todo o processo de avaliação física e química da amostra, assim como identificação de componentes microscópicos, que serão discutidos no tópico a seguir. Essas análises são de modo geral subjetivas, uma vez que o profissional responsável irá identificar visualmente aspectos físicos, como cor, turbidez, densidade e volume; ou ainda químicos, como bilirrubinas, urobilinogênio, hemácias, leucócitos, proteínas, glicose, e corpos cetônicos, através das tiras reagentes (ALVES, 2011; XAVIER; DORA; BARROS, 2016). É importante que a análise seja cautelosa, uma vez que se passar despercebida, pode prejudicar o diagnóstico do paciente. A análise de urina é realizada somente após a cultura da urina, a fim de evitar contaminações durante a manipulação da amostra. Uma sugestão de leitura sobre o tema está disponível em: http://www.rbac.org.br/artigos/diagnostico-laboratorial-das-infeccoes- urinarias-relacao-entre-urocultura-e-o-eas/. IMPORTANT E http://www.rbac.org.br/artigos/diagnostico-laboratorial-das-infeccoes-urinarias-relacao-entre-urocultura-e-o-eas/ http://www.rbac.org.br/artigos/diagnostico-laboratorial-das-infeccoes-urinarias-relacao-entre-urocultura-e-o-eas/ 20 UNIDADE 1 — URINÁLISE 2 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA URINA A avaliação das características físicas da urina corresponde a aspectos básicos e, que normalmente, são avaliados de modo subjetivo, como cor, aspecto/ turbidez, densidade e volume. Assim, precisamos olhar cada amostra e identificar se há ou não alteração nesses parâmetros, não necessitando de qualquer outra análise mais aprofundada. Uma exceção tem sido a avaliação da densidade, que pode ser feita através da análise da tira reativa, em conjunto com os demais testes bioquímicos. A seguir, veremos um pouco mais sobre a importância da análise física da urina. 2.1 COR Uma amostra de urina pode chegar ao laboratório com cores distintas do amarelo, como verde, azul, marrom, vermelha, rosa ou laranja. Cada uma dessas colorações é determinada por pigmentos endógenos ou exógenos, que modificam a coloração da urina. A alteração da cor urinária pode indicar modulações fisiológicas, que resultam na liberação de pigmentos endógenos, ou somente o resultado de pigmentos exógenos, oriundos da dieta alimentar. Apesar de ser um indicativo de que determinada condição esteja acometendo o paciente, a coloração da urina deve ser avaliada em associação aos demais dados da urinálise e ao quadro clínico do paciente, a fim de identificar possíveis quadros fisiológicos ou patológicos (DALMOLIN, 2011; RAMIREZ, 2021). A coloração considerada normal da urina varia de transparente a amarela. Algumas condições podem aumentar a concentração urinária, resultando em uma coloração amarela mais escura, enquanto urinas mais diluídas apresentam colorações amareladas mais claras (NETO, 2017; RAVEL, 1997; RAMIREZ, 2021). A Figura 10 demonstra as diferentes colorações de uma amostra de urina. FIGURA 10 – DIFERENTES COLORAÇÕES DA URINA FONTE: Os autores TÓPICO 2 — ANÁLISE FÍSICA E QUÍMICA DA URINA 21 2.1.1 Urina amarelo escuro, amarelo claro e transparente A urina considerada normal, ou seja, aquela com a quantidade adequadade água e substâncias sólidas, deve estar entre os tons de amarelo-claro e transparente. Essa coloração se deve à excreção do urocromo, que, quanto mais diluído, menor o seu grau de coloração. Pacientes que consumem uma quantidade grande de água diariamente costumam produzir uma quantidade maior de urina. Além disso, essa urina estará com uma quantidade de água superior à quantidade de solutos, podendo chegar a ser transparente, dependo do grau de hidratação do paciente. Quando a urina está com o tom amarelo-escuro, provavelmente está mais concentrada, indicando que o paciente consume uma quantidade menor de água do que o normal, podendo ficar desidratado. No entanto, a coloração escura ainda é um parâmetro dentro da normalidade, uma vez que o consumo de água varia de uma pessoa para outra (NETO, 2017; RABINOVITCH et al., 2009; RAVEL, 1997; RAMIREZ, 2021). 2.1.2 Urina laranja, âmbar e mel A coloração alaranjada ou até mesmo âmbar/mel da urina pode indicar a excreção de pigmentos exógenos, adquiridos através da dieta. Contudo, de modo geral, é indicativa de desidratação do paciente. Quanto menor o consumo de água, mais concentrada será a urina, permitindo que pigmentos como bilirrubinas se tornem mais presentes e modifiquem a coloração da urina. Além disso, essa coloração pode indicar problemas hepáticos ou na vesícula biliar, através do aumento de bilirrubinas no sangue do paciente, que, consequentemente, serão mais excretadas na urina (NETO, 2017; RABINOVITCH et al., 2009; RAVEL, 1997; RAMIREZ, 2021). 2.1.3 Urina verde/azul A urina de coloração esverdeada ou azulada indica o consumo de pigmentos exógenos, que podem chegar ao organismo pelo uso de medicações ou pela dieta. Os medicamentos que mais causam alteração da cor da urina para o verde são a amitriptilina, propofol, nitazoxanida, Sepurin® (metenamina e metiltionínio) e indometacina, enquanto para a coloração azulada são triantereno, amitriptilina, indometacina e viagra. Quanto à dieta, o consumo de aspargos pode resultar na alteração de cor para o verde, assim como de alimentos ricos em corantes verdes/azulados (NETO, 2011; RABINOVITCH et al., 2009; RAVEL, 1997; RAMIREZ, 2021). Apesar disso, pode ser indicativo de quadros de infecção urinária, pois uma bactéria denominada como Pseudomonas aeruginosa é muito conhecida pela liberação de pigmentos esverdeados ou azulados, que podem sair na urina (RABINOVITCH et al., 2009; RAVEL, 1997). 22 UNIDADE 1 — URINÁLISE 2.1.4 Urina rosa, vermelha, marrom ou preta A coloração avermelhada ou rosada da urina é um forte indicativo de hemácias ou hemoglobina na amostra, condição conhecida como hematúria ou hemoglobinúria. A urina vermelha e com aspecto turvo indica a presença de hemácias (hematúria) íntegras na urina, dando o aspecto turvo devido à membrana celular, enquanto a urina vermelha límpida indica a presença de hemoglobina ou mioglobina. Isso acontece em quadros que ocorre sangramento nas vias urinárias, como em doenças renais e na próstata, ou processos infecciosos e tumores. Contudo, a coloração também pode ser influenciada pela dieta, pelo consumo de beterraba e amoras, ou pelo uso de medicamentos, como a rifampicina e vitamina B (LOPES et al., 2018; MAYO, c1998-2021; NETO, 2011; RABINOVITCH et al., 2009; RAVEL, 1997; RAMIREZ, 2021). Já a coloração mais escura ou, até mesmo, preta indica a presença de hemoglobina, mioglobina ou, ainda, de bilirrubina na amostra, conhecidas, respectivamente, como hemoglobinúria, mioglobinúria e bilirrubinúria. A hemoglobina se torna marrom em condições de baixo pH, similar ao que ocorre com o sangue no fim da menstruação. Essas condições são normalmente relacionadas a problemas hepáticos ou casos de desidratação severa. Outro caso possível é a presença de melanina na amostra, que também pode deixar a urina escura (LOPES et al., 2018; MAYO, c1998-2021; NETO, 2011; RABINOVITCH et al., 2009; RAVEL, 1997; RAMIREZ, 2021). O uso de alguns medicamentos pode resultar na coloração preta ou marrom da urina, como metildopa, metronidazol, levodopa e cloroquina. Urina roxa Apesar de ser pouco comum, pode ocorrer em pacientes com infecções do trato urinário, principalmente de pacientes que usam cateter vesical em hospitais. As bactérias que são envolvidas nesse processo são Providencia stuartii, Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli ou Enterococcus, pois metabolizam o triptofano, resultando em pigmentos vermelhos e azuis, que, ao se misturarem, podem ficar roxos. Isso está associado à modificação do pH da urina e à insuficiência renal. Para saber mais sobre o assunto, sugerimos a seguinte leitura: https://bit.ly/3mtek60. INTERESSA NTE TÓPICO 2 — ANÁLISE FÍSICA E QUÍMICA DA URINA 23 2.2 VOLUME A avaliação do volume tem deixado de ser relevante na urinálise, uma vez que usamos um valor padronizado para análise de 10 mL e não conseguimos predizer, com uma única amostra, se o volume excretado resulta de um aumento do volume urinário. Contudo, a alteração no volume urinário pode ser descrita pelo paciente durante a anamnese e traz indícios essenciais para complementar a urinálise do paciente. De modo geral, o volume da urina indica a quantidade de água excretada pelos rins e determina o estado de hidratação do corpo, assim como a ingestão de fluidos, perda de fluidos por fontes não renais, variação na secreção do hormônio antidiurético ou, ainda, a necessidade de excretar grandes quantidade de solutos, como glicose e sais. Essa avaliação é mais bem observada na urina de 24 horas, em que o volume pode ser entre 800 e 1.500 mL/dia (STRASINGER; DI LORENZO, 2009; XAVIER; DORA; BARROS, 2016). O Quadro 2 indica a denominação para as variações no volume urinário, bem como as principais causas envolvidas. QUADRO 2 – VARIAÇÕES NO VOLUME URINÁRIO DENOMINAÇÃO ALTERAÇÃO DO VOLUME URINÁRIO CAUSAS Oligúria Redução do volume urinário Desidratação pela perda de água, seja por vômitos, diarreia, transpiração, queimaduras grades. Anúria Cessação do fluxo urinário Resultado da oligúria, ou lesão renal grave, assim como redução do fluxo sanguíneo para os rins. Nictúria Aumento na excreção noturna da urina Volume diurno é 2 a 3 vezes maior que o noturno. Poliúria Aumento do volume urinário diário Diabetes melito, uso de diurético, cafeína ou álcool. FONTE: Os autores 24 UNIDADE 1 — URINÁLISE 2.3 DENSIDADE A densidade da urina permite verificar qual a concentração da urina, ou seja, reflete se o rim é capaz de concentrar ou de diluir a urina, não sendo influenciada pelo tempo de armazenamento da amostra. Ela é definida como a relação entre a massa de um volume líquido e a massa de um mesmo volume de água destilada, sendo muito utilizada na prática clínica (STRASINGER; DI LORENZO, 2009). Existem dois métodos para avaliação desse parâmetro: a refratometria e a medida em tira reagente. Como a tira reagente é amplamente utilizada em laboratórios clínicos, dificilmente utilizamos a metodologia de refratometria (também conhecida como urodensímetro), pois, embora seja de uso simples, dificultaria a rotina do laboratório clínico. A Figura 11 ilustra o refratômetro. Para utilizá-lo, deve-se levantar a tampa de acrílico, pingar uma gota da urina no visor, fechar a tampa de acrílico e apontar o refratômetro para uma luz. Em seguida, irá aparecer uma divisão escuro/claro, com a medida da densidade da urina. FIGURA 11 – REFRATÔMETRO FONTE: Os autores Para a avaliação através da tira reagente, basta verificar o tom de cor da almofada respectiva (Figura 13), a densidade e indicar a densidade da urina do paciente. O princípio do teste é relativo à concentração iônica e se baseia na alteração aparente do pKa, cuja coloração pode variarentre o verde azulado- escuro ao verde amarelado. É preciso ter cautela durante a avaliação, pois, caso a glicose e proteína do paciente estejam alterados, pode ocorrer uma variação na cor da densidade, conduzindo a interpretação errônea de que o paciente está com a densidade aumentada. Ela deve estar entre 1005 e 1035, ou seja, quanto menor a densidade, mais diluída será a urina e, quanto maior a densidade, mais concentrada; portanto, ela varia de acordo com a hidratação do paciente e o consumo de líquidos (BIOTÉCNICA, 2019). TÓPICO 2 — ANÁLISE FÍSICA E QUÍMICA DA URINA 25 Assim como a avaliação dos parâmetros que correspondem à urinálise, a densidade precisa ser considerada em conjunto com as demais análises e com a clínica do paciente, porque uma diminuição na densidade pode indicar tanto poliúria (aumento do volume urinário) e polidipsia (aumento na ingestão de líquidos) quanto falência renal primária, já que uma lesão nos túbulos renais pode conduzir para uma dificuldade renal em concentrar a urina. Portanto, ao avaliar o grau de hidratação do paciente, é possível verificar se a urina concentrada é resultado de um paciente desidratado, eliminando falha renal como causa da desidratação (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009). A relação entre volume e densidade é inversa: quanto menos a quantidade água na urina, maior a densidade. DICAS 2.4 ASPECTO O aspecto da urina pode ser associado a avaliação da cor, uma vez que é um parâmetro subjetivo, avaliado a olho nu. Sua avaliação deve ser realizada rapidamente, logo após a coleta de preferência, pois o armazenamento pode facilitar a precipitação de cristais, principalmente se não for feito do modo correto ou com tempo superior a 2 horas (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). Como o paciente realiza a coleta à domicílio na maioria das vezes, é possível implementar a análise do aspecto logo que a urina chegar ao laboratório, para evitar que esse parâmetro se altere devido ao prazo para análise. Com a avaliação do aspecto, deve-se verificar a turbidez da urina, que pode ser influenciada pela concentração da urina. Quanto mais concentrada uma urina, mais turva ela será e, quanto menos concentrada, mais límpida. A sua des- crição segue exatamente esse princípio, sendo que a urina pode apresentar aspec- to turvo, levemente turvo ou límpido (Figura 12) (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). A presença de fatores celulares, como leucócitos, hemácias, cristais, cilindros, bactérias ou, ainda, muco, leveduras, material fecal e lipídeos, pode deixar a amostra mais turva. Contudo, só é possível identificar a causa de uma variação do aspecto na avaliação do sedimento urinário (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). 26 UNIDADE 1 — URINÁLISE FIGURA 12 – ASPECTOS DA AMOSTRA DE URINA FONTE: <https://bit.ly/38efEBy>. Acesso em: 23 mar. 2021. A amostra de urina pode aparecer com espuma, que, normalmente, está relacionada com a quantidade de proteína na amostra. Para entender mais sobre o assunto, sugerimos como leitura o seguinte texto da Associação Nacional de Atenção ao Diabetes: https://www.anad.org.br/por-que-minha-urina-e-espumosa/. INTERESSA NTE 2.5 ODOR O odor da urina não é usualmente utilizado como parâmetro avaliativo em laboratórios clínicos, mas é perceptível e pode indicar alguns fatores anormais da amostra. Contudo, assim como os demais parâmetros, precisa ser avaliado em conjunto com outros dados (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). A urina recém-coletada possui aroma de sui generis (único do seu gênero), mas não é desagradável. No entanto, o odor pode mudar de acordo com a alimentação do paciente, como a ingestão de alho e aspargos, ou ainda pela presença de infecções ou outras doenças. O odor fétido pode indicar presença de infecções, enquanto o odor frutal pode indicar paciente diabético, com aumento de corpos cetônicos (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). https://www.anad.org.br/por-que-minha-urina-e-espumosa/ TÓPICO 2 — ANÁLISE FÍSICA E QUÍMICA DA URINA 27 3 AVALIAÇÃO QUÍMICA DA URINA A avaliação química, também denominada como bioquímica da urina, é realizada através das tiras reagentes. Esse método é qualitativo ou semiquantitativo e permite monitorar aspectos bioquímicos da urina, como a presença de hemácias, leucócitos, nitrito, urobilinogênio, bilirrubinas, proteínas, além de avaliar o pH e a densidade urinária (discutida na avaliação física da urina) (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). No entanto, antes de desvendar o significado de cada parâmetro, é preciso entender como obtemos esses resultados – processo que pode ser observado na Figura 13. Sua metodologia é simples e rápida. Inicialmente, homogeneizamos a amostra de urina, retiramos as tiras reativas do tubo e fechamos o tubo imediatamente. Só então, as tiras são imersas na urina por cerca de 2 segundos. É importante lembrar que todas as almofadas devem entrar em contato com a urina. O excesso de urina deve ser retirado, acomodando a tira sob um papel toalha, para evitar que ocorra mistura de reagentes químicos das áreas da reação. Posteriormente, a leitura do resultado pode ser manual ou automatizada (BIOTÉCNICA, 2019). A leitura manual é acompanhada com a escala de cores das almofadas correspondentes no rótulo da embalagem nos tempos especificados pelo fabricante, indicando a presença ou a ausência de cada um dos parâmetros avaliados e ainda a quantidade dos parâmetros. É importante enfatizar que não podemos tocar nas tiras reativas para evitar contaminações e erros de leituras (BIOTÉCNICA, 2019). FIGURA 13 – TÉCNICA MANUAL PARA LEITURA DA TIRA REAGENTE FONTE: Os autores 28 UNIDADE 1 — URINÁLISE A leitura automatizada das tiras reagentes é realizada por instrumentos que identificam a coloração de cada almofada que compõe a tira. De modo similar à leitura manual, a tira é inserida pelo técnico na urina, mas, em seguida, é inserida no equipamento. Após a leitura, o equipamento emite o resultado, que pode ser observado em um painel digital ou ainda impresso. A automatização da leitura de tiras reagentes, além de diminuir o tempo da avaliação, minimiza a chance de erros ou diferenças de intepretação entre diferentes profissionais, devido à interpretação das cores, sendo muito utilizada em laboratórios de grande porte. A Figura 14 ilustra um equipamento que realiza esse tipo de leitura. Para desvendar cada uma das leituras realizadas pela tira reagente, a seguir, serão apresentadas informações muito importantes sobre cada parâmetro avaliado na análise química da urina. FIGURA 14 – LEITOR AUTOMÁTICO DE TIRA REAGENTE FONTE: <http://www.kovalent.com.br/equipamento/uriscan-pro/>. Acesso em: 26 mar. 2021. 3.1 PH URINÁRIO O pH urinário não é proporcional ao pH sanguíneo (7,35 a 7,45), sendo relativamente ácido no período da manhã, estando entre 5,0 e 6,0. No decorrer do dia, esse pH pode variar entre 4,5 e 8,5, podendo ser diretamente influenciado por equilíbrio acidobásico do sangue, função renal, dieta ou uso de medicamen- tos, presença de infecção bacteriana ou, ainda, pelo tempo de coleta e armaze- namento da urina (GRAFF, 1983; RABINOVITCH et al., 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). Todavia, o ponto mais importante para o pH urinário se deve ao fato dos rins, em conjunto com os pulmões, serem responsáveis pela manutenção do equilíbrio acidobásico do sangue, pois promovem a excreção de substâncias ácidas e básicas. A excreção de hidrogênio, por exemplo, ocorre através na forma de íons amônio, fosfato de hidrogênio e ácidos orgânicos fracos;
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