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1 DEFICIÊNCIAS MÚLTIPLAS 1 Sumário Deficiências Múltiplas ...................................................................................... 3 Breve histórico ............................................................................................. 4 Fatores e causas da deficiência múltipla .................................................. 7 Características Gerais da Criança com Deficiência Múltipla .................. 12 A criança com deficiência múltipla e a escola ............................................ 13 Crianças com deficiência auditiva associada a outra(s) deficiência(s) ... 15 Crianças com deficiência visual associada a outra(s) deficiência(s) ...... 18 Crianças com deficiência física associada a outra(s) deficiência(s) ....... 23 Crianças com múltipla deficiência sensoriais (surdas-cegas) ................ 26 Necessidades Educacionais da criança com Deficiência Múltipla .......... 29 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 31 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Deficiências Múltiplas A deficiência múltipla é uma associação de duas ou mais deficiências primárias como física, mental, visual ou auditiva, no mesmo indivíduo. As pessoas com deficiência múltipla apresentam comprometimento que causam atrasos no desenvolvimento, na aprendizagem e na capacidade administrativa. De acordo com Política Nacional de Educação Especial (PNEE) a deficiência múltipla é uma “associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiência primárias (mental/ visual/auditiva/física) com comprometimento que acarretam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa (MEC,1994). O programa TECNEP (2008) afirma que deficiência múltipla: É a deficiência auditiva ou a deficiência visual associada a outras deficiências (mental e/ou física), como também a distúrbios neurológicos, emocionais, linguagem e desenvolvimento educacional, vocacional, social e emocional, dificultando a sua autossuficiência. Ainda no campo da definição da deficiência múltipla, o decreto federal nº 5.296 explica que é uma “ associação de duas ou mais deficiências” podendo ser de ordem física, sensorial, mental, emocional ou de comportamento social, podendo ser agravada por alguns aspectos, tais como a idade de aquisição, o grau das deficiências e a quantidade de associações que o indivíduo apresenta. No entanto, não é a soma da associação de deficiências que irá caracterizar a deficiência múltipla, mas sim o “nível de desenvolvimento, as possibilidades funcionais, de comunicação, interação social e de aprendizagem que determinam as necessidades educacionais dessas pessoas” (GODÓI, 2006, p. 11). 4 Breve histórico Ao longo da história, é possível perceber como é difícil a convivência em sociedade, principalmente para as pessoas que não se enquadram nas expectativas de normalidade estabelecidas como padrões sociais, como por exemplo, ser capaz de andar, falar ou desenvolver algum tipo de trabalho. A sociedade valoriza o que culturalmente se convencionou como belo, sadio, forte, eficiente e produtivo. Dentro desta perspectiva, quem possui estas características é um ser normal. Todavia, os indivíduos que não se enquadram nesses padrões e que apresentam algum tipo de anomalia, seja ela congênita ou adquirida, são pessoas que trazem consigo o estigma da diferença, maior ainda se essa diferença for expressa na forma de uma deficiência. Na história da deficiência, as pessoas que não apresentavam os padrões de comportamento ou de desenvolvimento, ou seja, os padrões da normalidade, eram totalmente excluídas do contexto social e da convivência com os demais, inclusive da família. As pessoas com deficiência não tinham direito a participarem do mercado de trabalho e dos processos educacionais. Portanto, não eram considerados cidadãos. Dessa forma, as pessoas com deficiência carregam consigo a marca do defeito, da degeneração humana devendo ser isolados e castrados para que não procriassem, gerando assim mais pessoas defeituosas. No século XIX que surgem as instituições especializadas em pessoas com deficiência. Essas instituições, de acordo com Sassaki (apud SASSAKI, 2003, p. 31) “eram em geral muito grandes e serviam basicamente para dar abrigo, alimento, medicamento e alguma atividade para ocupar o tempo ocioso”. Paralelo a isso, observa-se também no século XIX o surgimento da Educação Especial. Em uma rápida análise da trajetória da Educação especial, é possível identificar que o período que antecede o século XX é marcado por atitudes sociais de exclusão educacional de pessoas com deficiência, uma vez que eram consideradas indignas ou incapazes de receberem educação escolar. Na década de 50, de acordo com a SILVA (2006, p.11), “começaram a surgir as primeiras escolas especializadas e as classes especiais. A Educação Especial se consolidava como um subsistema da Educação comum”. Essa época, foi um período 5 no qual predominou a concepção científica da deficiência, acompanhada ainda, pela atitude social do assistencialismo, no qual a pessoa com deficiência recebia atendimentos médicos a era preparada de maneira resignada, a uma posição social de submissão. Nesta época os deficientes são considerados cidadãos, com direitos e deveres, mas de forma assistencialista. Ainda neste mesmo período, as pessoas com deficiência, começam a ter acesso às salas regulares de ensino desde que se adaptassem e não causassem nenhum transtorno ao contexto escolar. No início da década de 80, quando houve um considerável número de alunos com deficiência começando a frequentar classes regulares de ensino, começou-se a projetar a fase da inclusão. Dessa forma, intensificou-se a atenção à necessidade de educar os alunos com deficiência no ensino regular, como consequência do aumento de matrículas e insatisfações existentes em relação às modalidades de atendimento em Educação Especial, que para muitos não atendia as necessidades educacionais e sociais dos alunos. Porém, trabalhar com crianças, com deficiência múltipla, que apresentam “dificuldades acentuadas no processo de desenvolvimento e aprendizagem é um grande desafio, com o qual podemos aprender e crescer como pessoas e profissionais, buscando compreender e ajudar o outro” (GODÓI, 2006, p. 13). Ainda de acordo com a autora, os alunos com deficiência múltipla possuem várias potencialidades, possibilidades funcionais e necessidades concretas que necessitam ser compreendidas e consideradas. Apresentam, algumas vezes, interesses inusitados, diferentes níveis de motivação, formas incomuns de agir, comunicare expressar suas necessidades, desejos e sentimentos (GODÓI, 2006, p. 13). Sendo assim, inclusão de alunos com deficiências múltiplas na escola comum requer não apenas a aceitação da diversidade humana, mas implica em transformação significativa de atitudes e posturas, principalmente em relação à prática pedagógica. Ao trabalhar com pessoas com deficiência múltipla espera-se que o educador, tenha conhecimentos adequados sobre o que pretende ensinar e que tenha uma metodologia de ensino adequada para que seus alunos assimilem os conteúdos ministrados. 6 Para que haja um eficaz aprendizado escolar do aluno com necessidades educacionais especiais, é necessário ainda, que o projeto político pedagógico e o currículo da escola estejam em consonância com as necessidades educativas dos alunos, sendo na metodologia de trabalho e formas de avaliação. É imprescindível que o currículo seja adaptado às necessidades e realidade dos alunos. De acordo com a Associação dos deficientes físicos de Betim (adefib), “as adaptações são recursos necessários para facilitar a integração dos educandos com necessidades especiais nas escolas”. As adaptações do currículo são “modificações ou provisão de recursos espaciais, temporais, materiais ou de comunicação que favorecem o aluno com necessidades educacionais especiais no desenvolvimento do currículo regular” (GUIJARRO, 1992, p.134 apud GODÓI, 2006, p. 33). Entretanto, as adaptações de acesso ao currículo são de responsabilidade da escola, e envolvem segundo Godói (2006, p. 34) mobiliário adequado (mesas, cadeiras, triângulo para atividades no solo, equipamentos para atividades em pé e locomoção independente); equipamentos específicos e tecnologia assistida; sistemas alternativos e ampliados de comunicação; adaptação do espaço e eliminação de barreiras arquitetônicas, ambientais, play ground; recursos materiais e didáticos adaptados; recursos humanos especializados ou de apoio; situações diversificadas de aprendizagem e apoio para participação em todas as atividades pedagógicas e recreativas; adaptações de atividades, jogos e brinquedos. A deficiência múltipla mais do que a soma de várias deficiências, trás diversas consequências no desenvolvimento da criança tanto na sua maneira de conhecer o mundo quanto no desenvolvimento das habilidades adaptativas. 7 No âmbito escolar, é imprescindível o educador estar atento às competências e necessidades do aluno com deficiência múltipla. É necessário ainda propiciar um ambiente lúdico, buscar atividades adaptadas e funcionais que favoreçam o desenvolvimento da comunicação e das interações sociais dos alunos, respeitando os limites é o tempo de cada educando. Esses fatores podem determinar o sucesso na aprendizagem dos alunos com deficiência múltipla. Fatores e causas da deficiência múltipla As causas que envolvem a deficiência múltipla podem ser várias. Elas podem ser de ordem sensorial, motora e linguística e originada de “ fatores pré-natais, perinatais ou natais e pós-natais, além de situações ambientais tais como: acidentes e traumatismos cranianos, intoxicação química, irradiações, tumores e outras” (SILVA, 2011). As causas também podem ser por má-formação congênita, Hipotireoidismo, Síndrome de Rett, e por infecções virais como Síndrome da rubéola congênita, ou por doenças sexualmente transmissíveis. De acordo com Campos (2003) as causas da deficiência múltipla ainda podem ser por Icterícia, infecção do ouvido, falta de oxigênio no cérebro, sarampo, glaucoma, traumatismos, tumor cerebral, toxoplasmose, catarata e casamentos consanguíneos. O programa TECNEP (2008), também menciona algumas causas como prematuridade, a sífilis congênita e a meningite. Outros fatores também podem ser atribuídos às causas para a deficiência múltipla como doenças venéreas, gravidez de risco, falta de saneamento básico e infecções hospitalares. De acordo com a Associação Brasileira de Pais e Amigos dos Surdo-cegos e dos Múltiplos Deficientes Sensoriais (Abrapacem), a forma como a deficiência afetará a vida, o aprendizado de atividades simples e o desenvolvimento da comunicação do indivíduo, varia de acordo com o 8 grau de comprometimento proporcionado pelas deficiências, associado aos estímulos que essa pessoa irá receber ao longo da vida. Conhecer alguns fatores e etiologias da deficiência múltipla são importantes para ampliar as reflexões no campo educacional e até mesmo em outras áreas do conhecimento como é o caso da saúde pública. Segundo Silva (2011) uma pessoa que apresente este tipo de deficiência, pode ter adquirido o quadro por conta de fatores que vão desde antes de seu nascimento, passando por situações ocorridas durante o parto ou até mesmo por eventos ocorridos posteriormente. O apontamento da autora explicita que a deficiência múltipla também pode decorrer de acidentes ou doenças. Isto é, esta deficiência não ocorre somente por conta de condições relacionadas à gestação e ao momento do nascimento. De acordo com informações explicitadas no documento redigido por Carvalho (2000), assim como na pesquisa realizada por Araújo (2011), apresentaremos nos próximos parágrafos, maior detalhamento das etiologias apontadas por Silva (2011), relacionando-as às condições em que podem ocorrer. A respeito destas alterações os casos de deficiência múltipla se enquadram dentro dos fatores pré-natais. Neste caso, pesquisadores apontam erros congênitos do metabolismo como um dos possíveis eventos que levam a danos no desenvolvimento fetal, resultando em deficiências graves e em outros tipos de complicações. O uso de medicamentos pela mãe, durante a gestação, também pode ser desencadeador destes tipos de quadros, prejudicando no desenvolvimento normal do embrião. Outros autores também citam esta questão, apontando inclusive, exemplos de substâncias que podem acarretar consequências. Dentre estas substâncias destacamos a talidomida que geralmente é utilizada como sedativo e já é expressamente contra indicada para o uso de gestantes por conta dos efeitos que pode provocar no feto. Com relação ao parto, as complicações decorrentes da anoxia ― falta prolongada de oxigenação ― costuma levar à destruição de células cerebrais e neste caso, o dano geralmente é irreversível, como é o caso da paralisia cerebral que pode 9 estar relacionada a diferentes casos de deficiência, assim como aos quadros de deficiência múltipla. Segundo Leite e Prado (2004) a paralisia cerebral é um distúrbio permanente, embora não invariável, do movimento e da postura, devido a defeito ou lesão não progressiva do cérebro no começo da vida. O evento lesivo pode ocorrer no período pré, peri ou pós natal e não apenas no momento do parto. A paralisia cerebral é caracterizada por uma alteração dos movimentos controlados ou posturais dos pacientes, aparecendo cedo, sendo secundária a uma lesão, danificação ou disfunção do sistema nervoso central. A respeito do período pós-natal, doenças infecciosas podem levar as células do cérebro a um processo inflamatório; a consequente destruição neurológica costuma trazer danos consideráveis, ocasionando também a ocorrência de mais de uma deficiência na mesma pessoa. Somando-se a estas doenças, há ainda a possibilidade da influência de fatores ambientais, como da decorrência de tumores, bem como outros tipos de eventos como intoxicações, traumas e acidentes que igualmente podem ser apontados como causas que levam a quadros de deficiência múltipla. Além destas situações descritas, há também o consenso de que algumas doenças estão efetivamente relacionadas a casos de deficiência múltipla. Carvalho (2000), assim como Maia, Giacomini e Araóz (2009) destacam algumas, relacionando-as às associações que costumam fazer. O quadro a seguir sintetiza as sinalizaçõesdas referidas autoras. 10 Doenças que costumam estar relacionadas a casos de deficiência múltipla Com base nesta relação notamos os efeitos significativos que muitas doenças podem trazer para a vida das pessoas por elas acometidas. Percebe-se também a importância do acesso à informação adequada, uma vez que algumas são até mencionadas no cotidiano com certa frequência (hipotireoidismo, toxoplasmose), porém, sem a devida atenção à seriedade das mesmas; isso sem mencionar o fato de que a maioria das enfermidades e síndromes citadas são praticamente desconhecidas. De acordo com esta questão, assim como Carvalho (2000) “a forma mais eficiente de prevenir a múltipla deficiência é evitar sua ocorrência” (p.56). Neste sentido, consideramos que ações mais específicas como políticas públicas para a prevenção destes tipos de quadros são fundamentais para que se reduzam os fatores que costumam levar aos casos de deficiência múltipla. Além disso, é preciso instrumentalizar o sistema público de saúde com a devida estrutura para o 11 acompanhamento adequado de gestantes desde o pré-natal até o momento do nascimento, oportunizando partos com menores riscos de complicação. De acordo com a FENAPAES (2007) a caracterização da deficiência múltipla deve ser levado em consideração que ela pode apresentar-se mediante a associação das seguintes categorias apresentadas no quadro abaixo, dentre outras. Tais considerações parecem necessárias para conhecer melhor as especificidades dessa população e, assim, planejar e implementar políticas públicas que potencializem a sua escolarização e o seu desenvolvimento. A deficiência múltipla costuma se apresentar mediante a associação de diferentes categorias ou condições em que se podem evidenciar as deficiências, algumas são exemplificadas no quadro a seguir. Condições e possibilidades de associações em quadros de deficiência múltipla No entanto, é importante destacar que os efeitos da associação de deficiências não são simplesmente aditivos, ao contrário, tendem a ser multiplicativos (BRASIL, 1995). Assim, a função deste quadro é a de trazer alguns exemplos da associação de deficiências a partir de diferentes condições (física, psíquica ou sensorial). A caracterização da deficiência múltipla, em geral, aponta a observância de determinados aspectos. Dentre os quais destaca que a pessoa deve ter duas ou mais deficiências (psíquicas, físicas e sensoriais); essas deficiências não têm de ter relação de dependência entre si, quer dizer, uma das deficiências não condiciona que exista outra ou outras deficiências; também não tem de haver uma deficiência mais 12 importante do que a outra ou outras. Neste sentido, uma pessoa com deficiência auditiva que não apresenta fala devido a sua surdez, não pode ser considerada como uma pessoa que apresente quadro de deficiência múltipla. Desta colocação, também é notório destacar o alerta sobre a prática de se buscar o estabelecimento de importância e comparação entre as deficiências apresentadas pelo indivíduo que tenha deficiência múltipla. Além da complexidade deste tipo de análise, a comparação em questão acaba exaurindo esforços que poderiam ser investidos em áreas que efetivamente tragam benefícios para a vida destes sujeitos como, por exemplo, ampliar as possibilidades de intervenções pedagógicas precoces. Por isso, em casos mais severos de deficiência é muito importante elaborar propostas individualizadas de desenvolvimento para essas pessoas a partir do trabalho de equipes formadas por profissionais da educação como professores e da saúde (terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, fisioterapeutas, psicólogos e outros). Características Gerais da Criança com Deficiência Múltipla Crianças com deficiência múltipla apresentam algumas características distintas que as diferem das outras. De acordo com Nascimento (2006) essas características são: - dificuldade na abstração das rotinas diárias, nos gestos ou na comunicação; - dificuldades no reconhecimento de pessoas do seu cotidiano; - movimentos corporais involuntários; - respostas mínimas a estímulos causados por barulhos, toques, entre outros. De acordo Sbaraini, as crianças com deficiência múltipla, também - Aprendem mais lentamente; - Tendem a esquecer o que não praticam; -Tem dificuldade em generalizar habilidades aprendidas separadamente; - Necessitam de instruções organizadas e sistematizadas; 13 - Necessita de ter alguém que possa mediar seu contato com o meio que o rodeia. Percebe-se assim, que as crianças com deficiência múltipla podem apresentar movimentos estereotipados e repetitivos, não demonstrar conhecer as funções dos objetos, não se comunicar da forma convencional, apresentar resistência ao contato físico, não reter informações entre outros. Portanto, trabalhar com pessoas com deficiências múltiplas requer um compromisso no que se refere à autonomia da criança ou adolescente, seja na escola, na vida diária ou para a inserção no mundo do trabalho. A criança com deficiência múltipla e a escola Ao longo da história, é possível perceber como é difícil a convivência em sociedade, principalmente para as pessoas que não se enquadram nas expectativas de normalidade estabelecidas como padrões sociais, como por exemplo, ser capaz de andar, falar ou desenvolver algum tipo de trabalho. A sociedade valoriza o que culturalmente se convencionou como belo, sadio, forte, eficiente e produtivo. Dentro desta perspectiva, quem possui estas características é um ser normal. Todavia, os indivíduos que não se enquadram nesses padrões e que apresentam algum tipo de anomalia, seja ela congênita ou adquirida, são pessoas que trazem consigo o estigma da diferença, maior ainda se essa diferença for expressa na forma de uma deficiência. O período correspondente à educação infantil é muito propício para crianças com deficiência, porque as atividades acadêmicas são mais simples, e o enfoque é maior no índice sobre o desenvolvimento e a aprendizagem das habilidades psicomotoras, cognitivas e sócio afetivas. 14 De igual modo, incentiva-se a vivência lúdica do brinquedo, das brincadeiras, dos jogos, do exercícios da fantasia e da criatividade. Essas experiências educacionais são apropriadas para todas as crianças dessa faixa etária, independentemente de serem portadoras, ou não, de deficiências. O ideal é que as crianças estudem nas escolas regulares, para terem um convívio desafiador e estimulante, com uma diversidade de situações e de pessoas. Espera-se, no entanto, que o ambiente de aprendizagem seja realmente adequado a suas necessidades e potencialidades. Não adianta colocar as crianças juntas, se ficarem excluídas da participação efetiva em sala de aula. A escola precisa ser realmente inclusiva, ou seja, possa flexibilizar o currículo para dar respostas às demandas reais da criança. Quando as deficiência múltipla comprometem severamente a criança e as instituições educacionais regulares não estão estruturadas para seu atendimento, costumam indicar-se as escolas especializadas, até que seja possível e recomendável sua integração escolar. Mesmo quando as crianças estão atendidas em escolas inclusivas, desenvolvendo um currículo adequado, o apoio especializado faz-se necessário. Esse apoio é diferenciado e contingente em relação às condições individuais identificadas do aluno. Alguns necessitam do apoio por tempo limitado, mas há educando com múltiplas deficiências que o exige durante toda a vida. Um currículo regular adequado pode requerer a complementação, a priorização ou a redução de conteúdos objetivos e sistemas de avaliação, de modo a dar respostas adequadas às necessidades e potencialidades do aluno com deficiências. Com relação às crianças com múltipla deficiência, predominao atendimento nas instituições especializadas públicas ou privadas, sobretudo as filantrópicas. Durante muitos anos, os educandos com deficiências mais limitadoras nem tinham acesso a essas instituições, por serem considerados “não educáveis”. Felizmente, essa concepção não encontra mais espaço no âmbito educacional. Todas 15 as pessoas têm perspectivas de desenvolvimento e aprendizagem. Os profissionais que defendiam o atendimento dessas crianças apenas pela área da saúde têm mudado suas convicções em favor da confiança nos bons resultados evidenciados pela ação educativa. As crianças com múltipla deficiência menos agravantes, podem beneficiar-se do ambiente integrador das escolas regulares. Existem resistências por parte das escolas, com a alegação de as crianças estarem despreparadas; no entanto, os esforços dos educadores e dos legisladores tendem a superar essas restrições. Espera-se que o novo milênio traga melhores oportunidades educacionais para esses alunos e fortaleça as perspectivas inclusivas da escola e da sociedade como um todo. Crianças com deficiência auditiva associada a outra(s) deficiência(s) A criança com múltipla deficiência necessita, como as demais de sua idade, de estímulos favoráveis a seu desenvolvimento, aprendizagem e formação da personalidade. Quando a deficiência auditiva – surdez ou hipocrisia – está presente, algumas intervenções especificas precisam ser realizadas. Como o problema de comunicação é significativo para essas crianças, uma forma alternativa necessita ser desenvolvida. É importante que antes da fase dos quatro aos seis anos esse procedimento já deva ser iniciado, pois os primeiros anos de vida possibilitam maiores aquisições e transformações no desenvolvimento infantil. A autonomia motora da criança e sua evolução cognitiva permitem-lhe mais atividade de exploração e compreensão da realidade ambiental. Sua curiosidade está aguçada, bem como o interesse e o desejo de aprender. É indispensável que a criança tenha acesso aos recursos tecnológicos especializados para a educação de surdos: a prótese auditiva, os treinadores de fala, e equipamentos não especializados, apropriadamente adaptados para o processo ensino-aprendizagem, como é o 16 caso dos computadores, ferramentas eficientes para apoiar e desenvolver a comunicação desses alunos. A apropriação da linguagem de sinais pelo aluno e o uso de sinais e gestos de apoio por parte do professor têm sido defendidos por grande número de educadores especializados no atendimento educacional de crianças surdas. Formas de linguagem estimula a participação da crianças e favorece seu desenvolvimento, além da capacidade de comunicação; a aprendizagem da linguagem de sinais não desestimula nem impede a realização da fala da criança surda, como afirmam seus defensores. A pluralidade de linguagens parece gerar na criança surda atitude positiva, de maior autoestima e segurança para estabelecer novas interações e interagir com o ambiente. A surdez pode acarretar, além dos problemas de comunicação auditivo- oral, dificuldades na formação de conceitos e na capacidade de abstração. Em decorrência dessas limitações, a integração social da criança pode ser prejudicada. À escola cabe o papel de estimular o desenvolvimento de sua capacidade auditiva e melhorar seu desempenho linguístico, bem como facilitar a aquisição de conhecimentos e sua integração social. A pré-escola deve enfatizar aquisição da linguagem; a estimulação linguística, visual, auditiva e psicomotora; a iniciação à leitura audiovisual, à escrita e à matemática; a expressão artística e os programas de atividade da vida diária. O objetivo do atendimento é atuar nas áreas sensório-motora, cognitiva, afetiva e social, visando a atingir o pleno desenvolvimento do aluno. A flexibilidade curricular para atender às necessidades específicas desses alunos inclui, além dos conteúdos e procedimentos metodológicos usuais, os seguintes componentes curriculares (FEDF, 1992): Treinamento auditivo Visa a desenvolver as funções auditivas necessárias à aquisição e ao desenvolvimento da linguagem oral: análise e síntese auditiva, discriminação auditiva, 17 memória auditiva e a evocação. O treinamento auditivo precisa ser associado ao treinamento da percepção visual e tátil-cinestésica, que servem de apoio à compreensão do ambiente da criança, uma vez que a via auditiva se encontra alterada. Atividades que podem ser desenvolvidas no treinamento auditivo envolvem a percepção auditiva do mundo sonoro (sons produzidos pelos objetos e pelo corpo humano); a identificação da presença ou ausência de sons ambientais (ruídos e sons instrumentais, da voz humana, etc.); a localização de fontes sonoras; o reconhecimento de sons ambientais diversos, entre outros exercícios que podem ser realizados com as crianças, normalmente, na sala de aula ou em sessões individuais de atendimento, em horário contrário em que frequenta a escola. Treinamento fonoarticulatório e de fala Visa à produção da fala e à aquisição da linguagem. Envolve o sistema fonêmico, apoiado pelas habilidades rítmicas e das funções auditivas residuais da criança. O treinamento envolve atividades que atuam sobre a respiração do aluno; sobre os órgãos fonoarticulatórios (palato, língua, lábios, alvéolos, dentes, bochechas, mandíbula, etc.); sobre a tensão e o relaxamento muscular do corpo, como um todo, e dos órgãos fonoarticulatórios; sobre a voz e a produção e automatização na emissão de fonemas. Muitas atividades podem ser realizadas na sala de aula com as demais crianças, como apoio ao treinamento individual, que se realiza em sessões fora do horário normal de aula: exercícios de inspirar e expirar; fazer mímicas variadas com os lábios, as bochechas; sugar líquidos; soprar velas, penas, apitos; brincar com a língua em várias posições e direções; produzir sons altos, fortes, lentos, longos, etc. Treinamento rítmico Visa à aquisição do ritmo prosódico (próprio da linguagem, que possibilita a emissão da fala), por meio da movimentação e do controle corporal; da percepção das relações espaciais, temporais e proprioceptivas. O treinamento abrange atividades que desenvolvem o esquema corporal, o equilíbrio, a lateralidade, as 18 relações espaciais e temporais, o relaxamento e a respiração, bem como os movimentos que facilitam a produção vocal. As atividades que produzem movimentos corporais ritmados; sensações corporais de relaxamento e de tensão das partes específicas do corpo; que associam tempo e movimento; vocalizações ritmadas, entre outros, são importantes para o desenvolvimento e a aquisição da linguagem. As crianças com deficiência múltipla, dentre as quais se ressalta a deficiência auditiva, precisam da adaptações curriculares que contemplem suas dificuldades específicas nas demais áreas defasadas e que promovam suas capacidades e habilidades nos demais aspectos do desenvolvimento. Deve evitar-se fragmentação de atividades de atendimentos, para que a criança não fique sobrecarregada. A integração de procedimentos que visam a aproveitar as atividades para atingir vários objetivos e aspectos do desenvolvimento é sempre mais eficiente e proveitoso. O ambiente físico para o atendimento das crianças com múltipla deficiência associada à deficiência auditiva deve incluir ambientes para o trabalho de ritmo, de estimação auditiva e de treinamento de fala, com os equipamentos e recursos didáticos adequados (objetos sonoros, recursos para estimular a respiração, treinadores individuais e coletivos da fala, amplificador, gravador, instrumentos musicais, tablado, brinquedos e objetos para exercitar o sopro, etc.). Crianças com deficiência visual associada a outra(s) deficiência(s) Quando a deficiência múltipla inclui a deficiênciavisual – cegueira ou baixa visão – o currículo proposto deve contemplar o aprimoramento da visão residual, se for o caso, para o uso eficiente das pistas visuais preservadas. 19 Quando a criança for cega, o treinamento dos sentidos remanescentes é importante para que a criança consiga compensar a ausência do sentido visual pelo uso integrado dos demais sentidos. Nessa faixa etária, a criança já tem as habilidades de linguagem, o controle dos movimentos e condições de ampliar seu repertório de ações corporais e de exploração do meio físico e social, com mais eficiência. O apoio à realização dessas atividades é importante para estimular, encorajar, motivar o educando, além de possibilitar a aquisição de conceitos e o conhecimento da realidade de uma maneira mais proveitosa. O desenvolvimento de experiências sensório-motoras integradas, a organização e o controle corporal são meios e fins para aquisições de habilidades cognitivas e afetivas; a mobilidade favorece o desejo de aprender. A criança com deficiência visual tende a realizar poucas atividades físicas, em função do desestímulo ao movimento e ao deslocamento. Despertar e encorajar essas possibilidades de vivência corporal, espacial e temporal faz parte da ação docente, viabilizando melhor integração sensorial, à medida que o processo evolutivo vai sendo promovido. Em todas as situações de intervenções educativas, é muito importante considerar as finalidades essenciais da educação, que consistem na formação do cidadão, na melhoria de sua qualidade de vida, no exercício da independência e da autonomia crescente e na conquista de sua integração social. Toda ação educativa deve extrapolar os limites dos procedimentos didáticos e do processo ensino- aprendizagem de habilidades e capacidades, e contemplar o ser humano em sua plenitude. 20 Toda aprendizagem escolar baseada na exploração do ambiente físico e social, na formação de conceitos apropriados da realidade vivenciada, precisa ter significado e contextualização sociocultural historicamente fundamentada. A família precisa estar envolvida na atividade escolar desde o planejamento, a intervenção e o processo avaliatório para favorecer o processo e apoiar a aplicação e o uso das habilidades e dos conhecimentos adquiridos. O currículo escolar para o atendimento da criança com múltipla deficiência deve ser o mesmo adotado para as demais crianças, sendo adequado a suas limitações e capacidades. As atividades devem ser prioritariamente as mesmas adotadas para as crianças de sua faixa etária não portadoras de deficiências e acrescidas dos componentes curriculares específicos que complementam o trabalho educativo. Bruno (1997) propõe atividades a serem desenvolvidas com alunos pré- escolares com deficiência visual, adequadas, também, para os que têm deficiências associadas. Para propiciar a formação dos esquemas sensóriomotores, sugere as seguintes atividades: – explorar objetos e experiências do meio físico, utilizando o sentido tátil- cinestésico, o visual, o olfativo e o gustativo; – explorar objetos com as mãos, pés, corpo, descobrindo sua textura e consistência; – identificar e localizar características e detalhes nos objetos: orifícios, diferenças, sons, textura, formato, peso, etc.; – usar esquemas motores no manuseio de objetos: bater, puxar, empurrar, etc. – localizar objetos no espaço, em relação ao próprio corpo: em cima, atrás, do lado, etc.; 21 Para favorecer a construção das noções espaciais: – vivenciar diferentes posições no espaço com o corpo, utilizando objetos: entrar e sair de caixas, pneus, tubos, etc.; – puxar, arrastar, empurrar objetos diversos, com diferentes características; – subir em mesas, cadeiras, escada, (etc.), experimentando diferenças relativas à largura, altura, profundidade, etc.; – realizar diferentes movimentos corporais que promovam noções diferenciadas de espaço: abaixar, subir, pular, etc.; – orientar-se em relação aos colegas: dentro, fora, ao lado, etc.; – o mesmo, com relação aos colegas: na frente, no final da fila, ao lado, etc.; – localizar e guardar objetos. Para favorecer à construção da noção de tempo: – estabelecer horários e locais para que as crianças percebam uma rotina temporal; – sequenciar ações, identificando início, meio, fim, durante, etc.; – ouvir e perceber ritmos e movimentos corporais; – marchar, seguindo sons; – perceber a velocidade dos objetos; – tocar instrumentos em ritmos diferentes; – observar calendário tátil, Orientação e mobilidade: – explorar o ambiente da sala de aula e as dependências da escola, tocando com as mãos as portas, janelas, mobiliários; – explorar os pisos, paredes, banheiros, cozinha, corredores, áreas externas; 22 – brincar no parque; – caminhar entre os móveis, de uma porta para outra, da porta para a janela, etc.; – caminhar entre obstáculos; – utilizar pistas: ruídos, odores, corrente de ar, sol, etc.; – verbalizar a proximidade ou distanciamento de objetos, pessoas, ruídos, etc.; – explorar a posição das janelas, dos móveis, das portas, a largura dos espaços, por meio da técnica do rastreamento e do guia vidente. Outras atividades: – imitar ações; – realizar atividades de conhecimento, controle e vivência corporal; – perceber semelhanças e diferenças entre os objetos; – classificar e seriar objetos; – comparar qualidades de objetos; – acomodar objetos em espaços limitados; – contar objetos, acrescentar, retirar, dividir; – fazer jogos de construção, de memória, de parear, etc.; – estabelecer semelhanças entre os objetos, associações, discriminações, relações de causa e efeito, etc.; – interpretar e expressar sentimentos diversos; – ouvir histórias; – nomear objetos, pessoas, animais, plantas e ações; feijão e milho; – organizar e sequenciar atividades, vivenciando as noções de antes, agora, depois. – descrever cenas, objetos, pessoas, animais, etc.; 23 – gravar e ouvir a própria voz; – brincar de adivinhações, dar recados, evocar fatos, conversar, etc.; – contar histórias; – planejar uma rotina diária; – planejar atividades; – reviver acontecimentos; – representar objetos, fatos, acontecimentos de modelagens, papéis, argila, tinta grossa, desenho, etc.; – confeccionar livros de história; – jogos em grupo; – brincar com pneus, caixas, cordas, bolas, sacos de areia, brincar de rodas; – fazer jogos de mesa; – fazer jogos simbólicos: representar personagens da família, casinha, brincar de faz-de-conta, médico, escola, história/teatro (fantoches, bonecos); – realizar atividades de artes e educação física. Crianças com deficiência física associada a outra(s) deficiência(s) Quando o atendimento educacional orienta-se pelas competência e habilidades da criança e considera também suas necessidades especiais, a ênfase da intervenção recai principalmente sobre as capacidades do aluno, realizando, ainda a análise funcional e qualificada de suas condições, de modo a definir as respostas educacionais mais adequadas para sua formação. A análise funcional focaliza: 24 – as dificuldades que o aluno apresenta na execução de movimentos corporais ou a ausência deles; – a permanência ou a transitoriedade das alterações motoras que apresenta; – a origem das dificuldades motoras – sistema ósseo, sistema muscular, sistema nervoso ou a associação dos três sistemas; – o nível individual da disfunção, que pode provocar maior ou menor limitação motora. Acontece de algumas crianças com deficiência física serem portadoras, também, de outras deficiências – intelectuais, sensoriais ou mentais – associadas. É importante mencionar que essas dificuldades não são inerentes à deficiência física, ou seja, nemtodas as deficiências físicas estão associadas a múltiplas deficiências. Quando comparadas aos colegas da mesma idade, as crianças com deficiência física ficam em desvantagem, em decorrência das limitações motoras e de comunicação. Entretanto, esses aspectos não podem ser confundidos com déficit cognitivo, ou seja, a deficiência física não implica deficiência mental, embora possa acontecer. O que ocasiona esse equívoco é o fato de a criança muitas vezes não conseguir falar e movimentar- se. Uma avaliação cuidadosa, entretanto, reduz os erros de diagnóstico. Quando a deficiência física tem uma origem cerebral, a exemplo dos traumatismos crânio- encefálicos, da paralisia cerebral ou de tumores, as limitações podem atingir proporções maiores, muitas vezes gerando deficiência mental, auditiva ou visual. As deficiências múltiplas podem ocorrer, portanto, como resultado de lesões mais extensas. 25 É muito importante observar se na escola a educação dos alunos está de acordo com suas potencialidades e se há respeito às limitações impostas pelas deficiências. A equipe docente precisa considerar: a necessidade de apoio requerida pelo aluno, de modo a facilitar a realização das atividades escolares; a melhor forma de adequar o currículo e organizar os materiais, equipamentos e procedimentos educacionais para atender ao aluno; a adaptação do espaço físico de modo a facilitar o desenvolvimento do aluno, sua comunicação e o acesso aos materiais que necessita utilizar. A área de socialização é uma das mais comprometidas no aluno com deficiências múltiplas e motora associadas, porque depende de suas condições de desenvolvimento, aprendizagem e relacionamento com o mundo. É evidente a importância dos aspectos relacionados ao autoconceito e à autoestima, que podem estar alterados em decorrência das dificuldades dos aluno em realizar as tarefas escolares, em participar e comunicar-se com os colegas e professores. Atividades individuais e grupais devem favorecer o conhecimento das possibilidades e limitações do aluno. As expectativas otimistas e as atitudes positivas dos professores e familiares favorecem suas realizações, motivações e resultados escolares. O professor deve selecionar cuidadosamente as atividades, o apoio, os recursos técnicos e materiais para melhorarem as possibilidades de comunicação, mobilidade e participação desses alunos. As seguintes questões podem orientar o professor: necessitam de um sistema de comunicação alternativo? Qual? De que período o aluno necessita para desenvolver suas habilidades de comunicação? que objetos e conteúdos devem ser priorizados em sua educação? que atividades complementares devem ser providenciadas para o aluno? O atendimento ao aluno deve ser grupal, podendo ser individualizado nas situações que requerem: respeito ao ritmo próprio de aprendizagem; 26 uso de materiais e equipamentos especializados; apoio do professor para atividades que envolvam adaptações curriculares específicas. Outros cuidados devem ser observados: utilização do mobiliário adequado; postura cômoda e que facilite a visão geral do grupo, a interação e a realização das atividades escolares; respeito ao ritmo e a forma de falar de cada um; supressão de barreiras arquitetônicas; apoio dos colegas e dos familiares; uso de equipamentos e instrumentos para atividades manipulativas. A resposta da escola às necessidades educacionais dos alunos com deficiência física associada a outras deficiências, portanto, deve considerar a adaptação do contexto de ensino-aprendizagem às necessidades apresentadas pelo aluno. Crianças com múltipla deficiência sensoriais (surdas-cegas) As crianças surdas-cegas, em decorrência de suas dificuldades multissensoriais, podem apresentar dificuldades para comunicar-se de maneira inteligível e de perceber adequadamente o mundo que a cerca. Muitas vezes, a origem de sua deficiência indica comprometimentos de saúde, acarretando atrasos no desenvolvimento e afetando a aparência, muitas vezes interpretados, equivocadamente, como sendo decorrentes de deficiência mental ou perturbação emocional. A criança surda-cega na fase pré-escolar tem razões que justificam suas dificuldades nas relações espaço-temporais, que se encontram prejudicadas pela falta das pistas fornecidas pela visão e audição, resultando em dificuldades ou impossibilidades de captar informações ambientais. Nessa fase, de maneira espontânea, as crianças envolvem-se em atividades de expressiva movimentação e exploração do mundo físico e social. 27 Privada de dois sentidos importantes, essas crianças estão sujeitas a dificuldades na percepção e integração com o ambiente circundante, porque o conhecimento dos objetos e das pessoas a seu redor requer proximidade física, que viabilize o contato e o manuseio dos elementos presentes no ambiente. A motivação natural para explorar é, portanto, mínima e deve ser estimulada pelos colegas, familiares, professores e pessoas que estão envolvidas em seu convívio. A falta ou insuficiência de visão e audição dificultam o estabelecimento e a manutenção de relações interpessoais, principalmente com as demais crianças de sua idade, requerendo uma intervenção que viabilize e estimule essas relações. Conquanto se possa pensar que as dificuldades dessas crianças sejam semelhantes, há muitas diferenças entre elas, mesmo quando a perda visual e auditiva sejam do mesmo nível. Um aspecto importante a considerar é a possibilidade de que as outras vias sensoriais estejam, ou não, alteradas. É óbvio que uma situação como essa torna a situação da criança muito mais agravada. Uma concepção interativa de deficiência chama a atenção para a necessidade de se considerar os aspectos ambientais que podem agravar ou atenuar o nível de comprometimento das crianças. Se as possibilidades de participação e interação estão presentes, bem como o estímulo e o encorajamento à ação, essa criança demostra maior funcionalidade em seu ambiente e melhores expectativas de desenvolvimento e aprendizagem. Quanto ao aspecto educacional, os estudiosos asseguram que desenvolvem estilos de aprendizagem individuais que as ajudam a compensar sua múltipla deficiência. Desse modo, crianças surdas-cegas podem alcançar bom nível de aprendizagem escolar e desenvolvimento de habilidades adaptativas. Evidentemente, esses resultados requerem condições individuais favoráveis e condicionantes ambientais que viabilizam o seu êxito. O ambiente familiar e educacional deve ser, portanto, favorável ao desenvolvimento e à aprendizagem. As crianças surdas-cegas são considerada mais comprometidas do que o são na realidade. Mesmo em ambiente especializado e preparado para seu atendimento educacional, podem ser confundidas e haver dificuldade de avaliação com relação às crianças que apresentam deficiência mental ou autismo. 28 A educação das crianças com deficiência visual e auditiva deve considerar os seguintes aspectos, entre outros: as reduzidas experiências de êxito na relação com o ambiente físico e social; as limitações das vias sensoriais, que dão pouco incremento às iniciativas e à motivação para as atividades motoras e cognoscitivas, como ocorre com as demais crianças; a necessidade de tocar e aproximar-se dos objetos e das pessoas, que lhe permitam conhecê-los; as dificuldades para antecipar ações e eventos ambientais; a escassez de estímulos e atrativos para motivar a exploração, a participação, a curiosidade, a interação, ou seja, o contato com a realidade; despreparo do ambiente familiar e comunitário para atuar adequadamente com a criança. A atuação educacional dos alunos deve considerar suas potencialidades e limitações, para não ampliar as exigências ou minimizar os desafios.Em ambos os casos, a criança fica prejudicada. Também é importante considerar e aprimorar os resíduos visuais e auditivos do aluno, quando presentes, além de estimular os demais sentidos preservados para melhorar a sua eficiência perceptivo-sensorial. Atuar de modo a envolver a criança globalmente, é um princípio que não pode ser negligenciado pelos educadores. Precisa-se evitar focalizar apenas as áreas de dificuldades ou aspectos isolados do desenvolvimento e da aprendizagem infantil, mas destacar suas potencialidades e capacidades como base para a atuação pedagógica. Deve observar-se que os programas educacionais precisam tornar-se compatíveis com as habilidades acadêmicas e a competência curricular do aluno. Não há sempre a necessidade de um currículo diferente mas, de sua adequação. Os procedimentos educacionais devem resguardar as medidas de acesso ao currículo, ou seja, máquinas Braille, leitores ópticos, bengalas, material ampliado ou em relevo, entre outros, para que seja possível a eficiência do processo de ensino e aprendizagem. 29 Necessidades Educacionais da criança com Deficiência Múltipla Para que haja um desenvolvimento e aprendizado significativo das crianças com deficiência múltipla, não basta somente as adaptações no currículo, é também necessário, de acordo com Sbaraini, observar algumas necessidades educacionais dos alunos tais como: - Posicionamento e manejo apropriado: evitará dores e complicações posturais, o posicionamento adequado do aluno permitirá que ele veja, ouça, alcance objetos e movimente-se nas diversas atividades; - Oportunidades de escolha: oportunizar o aluno a fazer escolhas, para a sua maior e melhor autonomia; - Métodos apropriados de comunicação; todas as formas de comunicação devem ser usadas; - Estimulação constante, de pessoas que se comuniquem de forma adequada e que proporcionem situações de interação; - Planejamento de toda a aprendizagem, incluindo aspectos simples e básicos de vida diária; - Interação em ambientes naturais, incluindo pessoas e objetos; - Oportunidades de aprendizagem centradas em experiências de vida real; - Organização e estruturação dos ambientes para lhes trazer segurança. Esses são fatores essenciais e capazes de atender à necessidades específicas de aprendizagem dos alunos com deficiência múltipla. O avanço no processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças com deficiência múltipla compreende uma ação coletiva maior, intersetorialidade e responsabilidade social compartilhada, sendo essenciais e imprescindíveis para que as necessidades educacionais especiais sejam atendidas. Elas requerem a integração entre: educação, família e assistência social. Todavia, para que a criança com deficiência múltipla participe das atividades pedagógicas relevantes para o processo do desenvolvimento e aprendizagem, é 30 necessário um professor atento, capacitado, disponível para dialogar e efetuar a mediação, tanto em termos de comunicação, quanto de ajuda física, na realização das brincadeiras e atividades escolares. 31 REFERÊNCIAS ARAÚJO, G. A. de. O tratamento musicoterapêutico aplicado à comunicação verbal e não verbal em crianças com múltiplas deficiências. Dissertação (Mestrado em Medicina). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Medicina. Porto Alegre, 2011. BRASIL. Subsídios para Organização e Funcionamento de Serviços de Educação Especial – área de Deficiência Múltipla. Brasília: MEC/SEESP, 1995. BRASIL, Decreto nº. 5.296 de 2 de dezembro de 2004 – DOU de 3/12/2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/_Ato2004- 2006/2004/Decreto/D5296.htm#art70. ________, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília: MEC/Seesp, 1994. BRUNO, M. G. O desenvolvimento integral do portador de deficiência visual: da intervenção precoce à integração escolar. São Paulo: NEWSWORK,1993. CAMPOS, Shirley de. SurdoCegueirae Múltipla Deficiência Sensorial. Disponível em: http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/13379 . Acessado em 29/12/2013. CARVALHO, E. N. S. Programas e capacitação de recursos humanos do Ensino Fundamental – Deficiência Múltipla. 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