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A Virgem do Sugar Dark - Mari Mendes

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Copyright 2021 © Mari Mendes
Diagramação: Matheus e Mari Mendes
Capa: Capista: Horus editorial
Imagem capa: Oto Winkler @lifestyle_photography_eu (Unsplash)
Primeira Revisão: Carla Fernanda
Segunda Revisão: Marcia Condor
Revisão Final: Mari e Matheus Mendes
1ª Edição
Brasil, 2021
 
Todos os direitos reservados todos.
Proibido a reprodução total ou parcial desta obra, sem a autorização
expressa do autor. Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, artigo 184.
“Violar direitos autorais, pode acarretar pena de 3 (três) meses a 1
(um) ano ou multa.”
 
Plágio é crime!
 
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
“LIVRO REGISTRADO NA AVCTORIS”
 
Hoje, Sugar Dark. No passado, Anjo Malone.
Ele foi criado para ser bom, para acreditar na bondade das
pessoas, amá-las e respeitá-las. Até que uma traição o quebrou de
todas as formas possíveis. No processo, ele perdeu seu coração e a
fé na raça humana.
Hoje, ele tem um objetivo claro e simples: vingar-se de quem
o destruiu, mas com requintes de crueldade. Agora não tem mais
um coração e sim um poço negro onde arde o desejo de vingança
regado a ódio puro.
Ele leva a cabo sua vingança e o sabor é doce como mel...,
mas as consequências são mais amargas que fel.
... minha pombinha.
 
Nesse livro vocês acompanharão o quanto um homem pode
suportar na vida..., mas verão que tem determinadas coisas que
jamais são superadas, amenizadas sim, mas esquecidas?
Impossível! Venham conhecer e se emocionar com o casal, Anjo e
Paloma. Uma luz que se apagou com a maldade humana, e uma
que brilha com intensidade, apesar da maldade humana.
Se acomodem, preparem os petiscos, um lencinho e venham
atravessar o mesmo caminho trilhado por Anjo e Pombinha.
Com carinho, Mari Mendes
 
 
— Meu Deus! Você está bem? — Tento passar a mão em seu
rosto, mas não alcanço. Ele percebe e me ergue pela cintura.
— Não... nunca estou bem, nunca tenho paz. Sou na
verdade, um produto destruído do passado, que vive um presente
de merda. — Baixa a cabeça e me beija com vontade. Enlaço
minhas pernas em sua cintura musculosa e ele me devora. Morde
meus lábios e pescoço. — Você é tão perfeita, querida. Não te
mereço. Um dia irá me odiar. — Chupa minha orelha e volta a me
beijar. Beija-me tanto, que quando termina estamos sem ar.
— Nunca irei odiá-lo... — Ele me olha fixamente e vejo
lágrimas nos olhos do homem que parece um tanque de guerra
fisicamente, mas o interior é tão frágil, tão quebrado.
— Meu Deus... vamos logo para o alto dessa porra de ponte.
— Caminha comigo agarrada a ele como um polvo. Adoro. Beijo seu
pescoço grosso e tatuado. Ele geme.
— Eu sinto tanto... tanto por tudo... me perdoe. — Tira
minhas mãos de seu pescoço e me coloca no chão suavemente.
Olhamos para rio, que está agitado, mas as águas são cristalinas.
Pega-me pela cintura e sorrio para ele.
— Eu te amo. — digo e ele fecha os olhos me atirando na
água.
— Hora de aprender a nadar... — Olho para ele incrédula,
quando não sinto o chão aos meus pés e vejo a água se
aproximando. Meus olhos ardem e choro.
— Anjo! — O vejo me olhando até as águas geladas me
abraçarem, engolindo-me...
 
 
Agradeço sempre a Deus em primeiro lugar, por me permitir
fazer o que, no fundo do coração já sabia amar, escrever. Obrigada,
querido Deus por tudo, por ter me escolhido, por ter me capacitado
e por colocar pessoas abençoadas em minha vida. Amo você
Matheus, meu maior incentivador.
Espero de coração que apreciem, e uma boa leitura!
Aviso: Esse livro contém cenas pesadas e podem despertar
gatilhos emocionais. Aconselhável a leitura para maiores de 18
anos.
 
 
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Epílogo
Bônus Extra
Prosinha Final
Outras Obras
 
Vinte anos atrás...
 
Estou voltando de uma viagem que fiz, fiquei duas semanas
em outro estado, resolvendo um pequeno desvio a princípio, mas
quando começamos a averiguar mais a fundo, vimos um rombo
gigante. Esses furtos, aparentemente pequenos, eram feitos há
anos.
Deu trabalho, mas descobrimos para onde estavam sendo
contrabandeados grande parte dos produtos. Infelizmente não
chegamos ao líder, para meu desgosto ele conseguiu se safar.
Demiti os que estavam envolvidos e os deixei nas mãos dos
meus advogados. Contratamos detetives para descobrirem quem
era o líder da quadrilha. Deixei bem claro que queria todos
trabalhando sem descanso até encontrar o maldito traidor.
Trabalhamos com produtos de beleza para pessoas de classe
alta. Nossos artigos, são uma das marcas mais caras do mercado e,
mesmo assim, somos líder de vendas. São de altíssima qualidade e
somente modelos belíssimas e famosas promovem nossa marca.
Por isso tentam contrabandeá-los de toda forma... e muitos
conseguem, como é o caso do desvio que está sendo feito há anos.
Volto a pensar em quem poderia ser o cabeça da quadrilha.
Meus advogados e eu acreditamos que pode ser alguém próximo ou
mesmo um funcionário, quem sabe?
Infelizmente, não temos uma única pista. Todos os que
estavam envolvidos eram laranjas[1].
Isso tudo que estava vivendo era novo para mim...
administrar empresas tão grandes como a nossa era uma tarefa
assustadora para um jovem de apenas 20 anos. Ainda mais eu, que
fui criado acreditando que as pessoas eram boas...
Meus pais, me ensinaram isso. Penso que pecaram aí...
Meus olhos ardem quando me lembro deles. Os amava
demais, eles eram o amor encarnado.
Mas agora que se foram, eu tinha que aprender a ser mais
rigoroso, frio e rígido.
Meu coração era muito mole, infelizmente pagaria um preço
alto demais por ser assim, em um futuro bem próximo...
 
***
 
 
Estava cansado e angustiado com tudo que me aconteceu
tão recentemente... às vezes, pensava em fazer alguma merda.
Grandes responsabilidades para um homem tão jovem como eu, me
deixava em pânico e à mercê de pessoas maliciosas. Comecei a ver
coisas que nunca imaginei que existissem: ganância, traições,
roubos, avareza, inveja e manipulações. Esse era o mundo que eu
estava entrando. Tudo novo para mim e muito decepcionante...
meus pais sempre me protegeram dessa imundície que estava
vendo agora. Penso com desgosto.
Eles me tratavam com tanto amor, que para mim todos eram
perfeitos. Até a porra de meu nome... merda! É motivo de chacota
por todo lado que vou e me recuso a usá-lo. Sendo assim uso A.
Malone, ou como prefiro que me chamem, Malone. Somente meus
pais tinham o direito de usá-lo.
Eles morreram há pouco mais de um ano e está sendo difícil
lidar com tantos problemas em nossas empresas.
Estava na faculdade quando faleceram em um acidente,
vivendo sem compromissos mais sérios quando tudo isso
aconteceu. Tive que dar uma volta em minha vida de 180 graus. Fui
obrigado a assumir tudo e lidar com pessoas experientes em
maldades.
Estou ficando igual eles, penso com desgosto, até me envolvi
com Mara, minha secretária. A mulher era uma explosão na cama e
me agarrou pelo pau sem nenhuma dúvida. Além de me orientar
com o conhecimento que tinha, ela era secretária de papai e por ser
sempre tão solícita, permaneceu. Juntei o útil ao prazeroso. Me
orientava em minha entrada no mundo dos negócios e ainda
trepávamos.
Pacote completo, pensei com arrogância na época. Mal sabia
eu a desgraça que estava prestes a acontecer e que mudaria minha
vida para sempre...
 
***
 
Gerson, meu motorista, me aguarda. Saímos do aeroporto e
peço para irmos direto para casa de minha amante. Mara me
aguarda e estou ansioso para vê-la; apesar deser mais de vinte
anos mais velha que eu, a mulher me deixa louco. Sua experiência
e a disponibilidade em ser aberta a tantas coisas novas na área
sexual e na vida me faz mantê-la como amante, ainda que tenha
outras. Ela sabe e me assegurou que não se importa.
Claro que o tempo que fiquei fora, me esbaldei em uma
chuva de bocetas. Estava com os hormônios à flor da pele, 20
anos... porra! Idade que a cabeça de baixo comanda a de cima, ou
não? Vi muitos senhores, se esbaldando nas casas de shows de
luxo que íamos quase todas as noites. Sorrio de asco desses
homens, a grande maioria casados. Eu era um dos poucos solteiros
lá.
Suas senhoras em casa, cuidando de seus filhos e eles
comendo outras. Não estou sendo hipócrita aqui, somente dizendo
que acho um absurdo, traição. Tenho 20 anos e casos. Nada fixo.
Eu sou livre, mas se um dia me casar, ou firmar algum compromisso
sério com alguém serei fiel e exigirei o mesmo.
Odeio traições. Odeio mentiras. Odeio falsidades e
manipulações. Simplesmente odeio.
Meus pais me criaram para viver com princípios, claro que os
teria em minha vida.
 
***
 
Quando estamos atravessando a rodovia, uma chuvinha fina
começa a cair. Fecho os olhos e encosto a cabeça no banco, vejo
meu motorista atento. O conheço desde pequeno, ele é um homem
de inteira confiança e pouca conversa.
— Como estão as coisas por aqui, Gerson? — pergunto e
vejo meu celular tremular ao meu lado. Olho... É Mara. Ignoro.
— Tudo tranquilo, meu filho, exceto a louca de sua amante.
— Ele tem liberdade para falar comigo informalmente, afinal me viu
crescer.
— O que ela aprontou dessa vez? — indago, vendo o celular
brilhar novamente. Às vezes me questiono se vale mesmo a pena
ficar com uma mulher somente por sua boceta...
— Trata todos como lixo, Malone, porque é amante do chefe,
grita isso diariamente. — Fecho os olhos com um longo suspiro. Já
falei para Mara que o fato de sermos amantes, não lhe o direito de
maltratar ninguém, mas parece que ela resolveu se rebelar. Tenho
que cortar as asas dela, mas não quero ofender e magoá-la no
processo. Sou assim mesmo, acredito que é o maldito nome que me
faz ser assim... Caralho!
Terei uma conversa séria com ela e se não começar a se
comportar, terminarei nosso caso. Ponto.
— Vou resolver isso, Gerson, pode ficar tranquilo.
Ele sorri aliviado, ela deve tê-lo maltratado de alguma forma.
Mulher Infeliz.
 
***
 
Estou tão cansado que começo a cochilar e vejo a noite
chegando, as luzes se acendendo...
A chuva aumenta lá fora e já tenho mais de vinte ligações de
Mara. Isso sem contar as mensagens, perguntando sem parar se
está tudo bem... insistência do caralho!
Estava até com vontade de comê-la, mas depois do que
Gerson me disse, brochei. Odeia pessoas soberbas.
Acredito que cochilo, quando sou acordado por um grito de
pavor e puro desespero de Gerson, abro meus olhos rapidamente,
tempo suficiente para vê-lo gritar em terror absoluto.
— Os freios não funcionam, meu filho, abaixe-se! — Ouço o
barulho de vidros quebrados e o mundo girar, conforme o carro
capota várias vezes. Vou encontrar meus pais mais cedo do que
pensei.
Não vejo mais nada... tudo fica escuro e silencioso.
 
***
 
Ouço barulhos abafados, pelo cheiro deve ser um hospital,
parece que estou mergulhado em uma bolha de plástico, o som
chega abafado e longe. Estou em um hospital mesmo ou morri?
Não! Estou vivo, porque sinto tanta dor em meu corpo que peço a
morte. Dói até minha alma. Tento me mexer, impossível...
Sinto tanta agonia que não consigo nem gemer. Por que
estou paralisado?
Não consigo abrir os olhos, parecem colados; tento mexer a
boca, nada; mas posso ouvir tudo e isso é bom, eu acho.
Forço minha memória e relembro tudo que aconteceu. As
imagens do acidente pipocam em minha mente. Estremeço, entro
em pânico quando me lembro de Gerson... como ele estará? Será
que está bem? O que aconteceu com os freios? Gerson sempre é
muito cuidadoso com tudo e...
Ouço a voz de Mara e apuro os ouvidos.
Tento mais uma vez abrir os olhos e perguntar sobre Gerson,
mas não consigo, tento chamá-la, mas a voz não sai. Parece que
estou morto... caralho, será que morri e não aceitei deixar esse
plano?
Ouço Mara arrastar uma cadeira e se sentar ao meu lado.
Pega minha mão e finalmente me sinto acolhido. Sou um homem de
toque, mamãe e papai nunca esconderam de ninguém o quanto me
amavam. Eles me ensinaram a apreciar o toque humano, o calor, os
mini abraços que são dados quando entrelaçamos nossas mãos.
Mara me dá esse pequeno abraço, quando interliga nossas
mãos e sinto suas unhas afiadas cutucarem meus dedos. Estranho,
onde está aquele calor que sinto quanto toco as pessoas?
Estou sentindo um tremor ruim aqui e seus dedos são
gelados... como nunca percebi esse pequeno detalhe que aprendi
ser tão importante, durante minha criação?
Gelo e confirmo minhas suspeitas quando sua voz gelada se
faz ouvir... a essência da maldade...
 
Meu corpo inútil quer correr, mas infelizmente ele está morto
para o mundo. Penso que é exatamente por isso que estou ouvindo
esse lado podre e nojento dessa mulher... um lado que não
conhecia.
— Muito bem! Quem temos aqui em um hospital? O filhinho
amado do papai? Aquele que acredita que o mundo é uma grande
bolha azul, com fadinhas voando para todo lado e realizando
desejos? — Aperta minha mão com tanta força que os dedos que já
estão quebrados estalam, fazendo um barulho bizarro. A dor é tanta
que acho que saio de minha consciência por alguns minutos. Ouço
sua voz longe, mas não entendo mais nada.
Acho que fico inconsciente bastante tempo, pois quando volto
a ouvir sons, só ouço o bipe das máquinas conectadas a mim.
Apago novamente.
 
***
 
Sinto uma dor aguda em minhas pernas e tento fugir, me
mexer, sair desse tormento, mas é inútil.
— Tenho péssimas notícias, anjinho, acredito que você nunca
sairá do coma... que tristeza, não é? — Mara! Desgraçada, vou
matar esse demônio, juro que vou. Agora a dor excruciante é em
meu braço direito. Mas não consigo me mexer.
— Infelizmente, estou consternada com meu namorado,
amante, em coma... choro de tristeza diariamente... — Finca suas
unhas gigantes em meus braços inúteis. — Oportunidade perfeita
para fazer grandes desvios... quem você pensa que é a cabeça dos
desvios milionários, bebê? — Leva minha mão à sua boca e beija o
dedo quebrado, apertando-o com força. — Isso, meu anjinho, eu
mesmo, sua amante burra... você não tem noção da quantidade de
dinheiro que consegui ao longo de meu tempo nas empresas
Malone. Queria seu pai, mas o imbecil tinha a loucura de ser fiel à
sonsa de sua mãe. Tentei de tudo, mas o palerma não me quis.
Então tinha que me vingar dele e comecei a desviar pequenas
quantias até desviar grandes sem medo.
Ele estava ocupado brincando de família. A sonsa e o filho
anjinho... — Passa o dedo em minha barriga. — O pai eu não
consegui, tinha mais caráter e força de vontade, mas o trouxa do
filho foi fácil... — meu estômago retorce, porque sei que o pior está
por vir. — Estou te falando tudo isso, porque sei que vegetará na
cama o resto da vida e se por um milagre sair desse coma, não se
lembrará de nada. Contar como eu manipulei essa família de merda,
me enche de prazer e satisfação. Vi que venci no final! — Empurra
uma mão em minhas costelas sem cuidado algum, a dor é tão forte
que tento gritar, mas nada acontece. — Oh, meu Deus! Perdão,
anjinho, te machuquei... — cada palavra que esse demônio fala,
mata um pouco da bondade dentro de mim. — Pois muito bem, tem
mais novidades, doce anjinho... — debocha. — O acidente dos
velhos, quem planejou cada detalhe? Mara! A mulher que você
come desde que voltou do enterro... — Gargalha com demência.
Estremeço, minha alma chora e grita. Meus pais foram
assassinados por esse demônio...
Ela ri baixinho em êxtase, se sair vivo daqui ela me pagará
com a vida... com muita tortura...
Esse ser abominável irá desejar a morte e não darei a ela
esse livramento... juro a mim mesmo. Externamente não tenho
nenhuma reação, isso é bom, assim ela me diztudo com mais
liberdade. Por dentro, choro e sangro a perda de meus pais, um
casal que era só amor.
— Bebê, cuidei de cada detalhezinho para livrar à terra
daqueles vermes imundos, que cagava arco-íris — fala e arrasta a
cadeira para mais perto. — Infelizmente, Gerson estava no caminho
e pagou com a vida. — Estremeço de dor, mais uma vida ceifada
por essa desgraça de pessoa. — Você, meu anjo? Era para ter
morrido, não ele. Gerson era somente um velho metido a protetor.
Mas se fodeu! Disse-lhe para não ir e deixar outro motorista te
buscar, mas não! O protetor tinha que ir, se fodeu! Morreu! —
gargalha. Não tem ninguém nessa porra de hospital para prender
esse cão sarnento?
A demente continua soltando veneno pela boca imunda.
— Quem tinha que morrer está aqui vivo, mas com a
mentalidade de um brócolis. No final foi ainda melhor! Você não
imagina a alegria de te ver aqui, imóvel, quebrado e sem memória...
caralho, acho que posso até gozar vendo você morto e imóvel nessa
cama... meu pequeno brócolis... não, melhor couve-flor, que me
lembra branco, pureza, anjo... — provoca, tento me mover para
matá-la agora, mas sei que continuo estático. Choro por dentro…
velo o corpo do que foi o Anjo Malone...
 Ela sabe que odeio que me chamem de Anjo, usou meu
nome com deboche e ainda no diminutivo. Desgraçada, reza e
muito, porque se sair daqui com vida, te farei viver o inferno aqui na
terra, antes de ir para o real.
Hoje, aqui e agora, nasce um novo homem. O Anjo bom
morreu e ressuscitou como Mal... ou Anjo Mal, como quiserem... e
jamais aceitarei ser julgado. Essa mulher me destruiu, e vai pagar
com sangue, cada minuto de sua maldita vida.
Eu Malone juro por minha vida... Anjo Mal.
Ela solta a bomba que me fará ser o homem que viverá para
executar essa vingança que enche minha boca inútil de água. Ela
me deu a chave... o motivo certo e justo, viverei para isso, juro a
mim mesmo.
— E sabe o melhor, anjinho, você vai ser pai... mentira! —
debocha, apertando minha mão inteira, acho que agora ela quebrou
meus dedos novamente, ouço estalos e desmaio, mas não sem
antes ouvir o que me motivou a sair desse coma maldito com
ganância e propósito. — Na verdade, não sei quem é o pai, mas
escolhi um brócolis, para ser o pai adotivo da criança, que será meu
passaporte final para o grande golpe nas empresas Malone. Quem
questionará a paternidade? Como duvidar do pai em coma,
vegetando e da pobre secretária que continua fiel ao homem que
caga nas calças, ou melhor, fraldas? — debocha com tanta malícia
que sinto o ambiente pesado. — Parabéns, papai... — Cospe em
mim. — Agora vou representar o papel de amante boazinha. Não se
preocupe, alface, virei vê-lo todos os dias... — ri baixinho com
deboche e maldade. — Até breve salada de verduras!
Sorrio internamente, de puro ódio quando a porta bate. A
escuridão enche minha alma, com sede de vingança, sangue e
justiça.
 
Três meses depois...
 
Ouço um berro e abro meus olhos. Viro a cabeça e vejo uma
Mara cheia de cólera e ódio.
— Como assim acordou do coma? Vocês disseram que ele
iria viver como um pedaço de carne o resto da vida! — grita com
fúria, a grande maldita.
A médica a olha sem entender, qualquer mulher ficaria feliz
com a volta de seu suposto parceiro do mundo dos mortos. Mas não
esse demônio à minha frente... agora a conheço realmente e me
lembro com perfeição de cada palavra que essa desgraçada me
disse. Sinto as lágrimas correrem... ela matou meus pais, Gerson,
tentou me assassinar e roubou por anos nossas empresas.
A médica volta e fecho os olhos rapidamente.
— Ele está adormecido, está fraco... — murmura e sai, ainda
sem entender a louca ao meu lado.
Foda-se, essa mulher! Se quiser que meu plano dê certo,
terei que fazê-la acreditar que não me lembro de nada e é
exatamente o que farei. Tenho uma missão nesse mundo fodido.
— Mara... amor... — murmuro, ela me fita com os olhos
arregalados.
— Malone, querido... — corre para o meu lado e beija meu
rosto. — Como ansiei por esse momento, meu amor... — fala com
lágrimas nos olhos. Quem é esse ser execrável à minha frente?
Gente, isso não é! Muito menos animal... seria uma ofensa
compará-lo aos bichinhos que são tão amorosos e inocentes.
— Voltei... e não tem preço ver a mulher de minha vida me
esperando ansiosa. — Ela sorri largamente, vejo alívio em seus
olhos. Acredita que não me lembro de nada. Vejo a altivez e
confiança voltando ao seu rosto e junto com isso a arrogância.
— Sim! Você não se lembra de nada, Malone? — Por
segundos, vejo uma ponta de receio em seus olhos, mas
desaparece rapidamente.
Sorrio com carinho, por dentro quero vê-la sangrar até
morrer.
— Sim, me lembro do quanto a amo...
Ela sorri com soberba.
— Sim, na verdade, você é louco por mim. Prometeu que
iríamos nos casar, meu amor... principalmente depois que soube
que carrego seu filho... — fala sorrindo com confiança.
— Sim, amor, filho... — Estremeço por dentro... vou matá-la
devagar, quero saborear cada minuto, sua desgraçada.
— Vou cuidar de você, meu amor, com todo carinho do
mundo, aliás nós dois, eu e nosso filho... — vomita essa merda. O
ódio me faz ver vermelho por instantes, na verdade, iria matar ela e
o feto maldito. Mas pensando bem, teria e queria tempo para
elaborar algo mais articulado...
— Sim, querida, juro que cuidarei de vocês dois, com cuidado
e zelo. Terei bastante tempo para isso... — faço a bizarra promessa
e sorrio de puro ódio. Mas ela é tão burra e está tão centrada em si
mesma que não percebe nada.
 
***
 
Recebo alta, dois meses depois e estou pronto para ir para a
casa. Claro que com uma junta médica me acompanhando.
Fisioterapeutas e uma imensa parafernália que os médicos exigiram
para me liberar.
O demônio não queria, talvez para tentar me matar mais uma
vez... o que a maldita não sabia é que agora estava preparado.
Convido Mara para morar comigo em minha cobertura. A
mulher quase surta. Primeiro passo do plano: trazer o inimigo para
perto.
Sorrio com o espírito negro, corrompido por ódio e vingança.
Assim vamos para casa e os meses passam, a barriga de
Mara se distende... tenho que me controlar para não matar às duas.
Agora sei que será uma menina.
Caminho com passos lentos, mas já ando sozinho. Meus
ossos religaram. Os dedos das mãos ficaram tortos e vou mancar o
resto de minha vida. Arrastarei uma perna, as cicatrizes nelas e em
meus braços seriam eternas.
Marcas que me lembrarão sempre que tenho que matar essa
assassina de maneira requintada, nada de uma morte normal.
Ao longo dos anos seguintes, cobri todas as cicatrizes com
tattoo e meu corpo virou um mosaico de pinturas, o acidente me
machucou demais...
 
***
 
Hoje quero dar o segundo e mais importante passo para
minha nova vida: viver para vingar... meu lema.
Chego arrastando uma perna, essa ainda dói muito e o
médico disse que com o tempo a dor atenuaria, mas sempre que a
forçasse demais doeria. Não consigo correr mais. Tudo isso culpa
dessa maldita que está sorrindo largamente à minha frente, com
uma barriga, imensa, fruto de alguma trepada aleatória por aí. A
desgraçada nem sabe quem é o pai dessa coisa que carrega.
Olho para esse lixo de mulher e digo mansamente.
— Querida, estava pensando... vamos para uma casa que
tenho no interior, até nossa filha nascer. Depois poderemos nos
casar no mesmo dia que a batizarmos. O que acha? Estou
precisando descansar... os últimos meses não foram fáceis para
nós... — Ela se levanta e arrasta sua barriga asquerosa,
acariciando-a.
— Eu e nossa filha, iríamos adorar querido.
Olho com desgosto para esse monstro à minha frente.
— Então vou marcar o dia e iremos, vocês vão adorar... e eu
ainda mais... — Depois de meses estou dizendo a mais pura e
genuína verdade... eu iria adorar...
 
***
 
No dia seguinte, informo na matriz Malone que iremos ficar
de férias por um tempo e deixo tudo nas mãos do vice-presidente, o
homem que meu pai me disse que poderia confiar minha vida. Vou
tranquilo e preparado para fazer o que tem que ser feito.
Mara passa a viagem toda reclamando.Prometi a ela que no
dia do parto, teria médicos capacitados e todo equipamento
necessário para trazer a bebê ao mundo. Ela acreditou. Sorrio com
pura maldade.
Chegamos, e ela surta, a casa imensa é linda, rodeada de
árvores gigantes, cobertas de barba de velho[2].
— Malone, nunca me disse que tinha uma mansão dessa! —
grita com os olhos cheios de cobiça.
— Me perdoe, querida... — Dizer a você, verme imundo?
Para que iria te contar o que tenho, se é apenas uma rameira
assassina? Não tenho mais coração, somente um pedaço de pedra
no lugar. Alma? Também não... somente esse desejo insano de
matar as malditas com requintes de crueldade. — Vem, querida, vou
te mostrar sua nova residência... quero dizer nossa. — Ela está tão
centrada na ganância que não percebe meu pequeno deslize, na
verdade, proposital. Já me sinto no controle e quem comanda o
jogo, agora sou eu.
Seja muito bem-vinda ao inferno, maldita assassina. Tenho
todas as provas do mundo de suas maldades... e se precisar usá-las
algum dia as usarei sem hesitar, desgraçada, mas creio que não
precisará. Tenho coisas melhores em mente.
A noite cobre à terra com sua negritude, assim como minha
vida está coberta há muito tempo por essa escuridão tão conhecida
e espessa.
 
 
 
 
Passado...
Estou passando em revista como sempre faço, gosto de olhar
como estão os pacientes, antes de ir embora. Uma mania que tenho
ou um compromisso com os que não tem condições de agir ou
reagir.
Aqui nesse hospital me preocupo menos com isso... porque é
de alto padrão. Mas veja bem, injustiças e covardias acontecem em
todos os lugares. Já presenciei coisas tenebrosas e macabras em
hospitais.
Considero-me um justiceiro, espero que nunca descubram o
que faço, ocultamente, mas que já livrou tantas pessoas até mesmo
da morte.
Já presenciei filhos desligando aparelhos que mantinham os
pais vivos, pais fazendo o mesmo, esposas... maridos... todos que
tinham o dever cuidar e zelar de quem está internado e indefeso,
fazerem totalmente o contrário.
Isso foi gerando dentro de mim uma revolta tão grande que
tive que fazer algo a respeito. Claro que teve o começo de tudo isso,
o grande estopim...
Aqui estou eu novamente em uma noite fria, fazendo a
averiguação noturna... o horário que os covardes mais atacam,
infelizmente. Aproveitam os horários que todos estão cansados e
dão vazão a maldade que habitam seus corações.
Paro em frente a um quarto, aqui fica um jovem milionário.
Sofreu um acidente e vi uma mulher estranha entrar em seu quarto,
o que me deixou alarmado. Vi maldade em cada gesto seu... por
isso passei a acompanhar de perto esse paciente, sabia que ela
tentaria algo. Nunca me enganava.
Conferi se as câmeras estavam bem instaladas, e estava
tudo perfeitamente funcionando. Todos os quartos tinham, alto
padrão, lembram? Câmeras de alta tecnologia. Claro que tinha que
ser o melhor, a diária cobrada nesse quarto era peso em ouro. Aqui
somente milionários tinham acesso.
Sorrio de ranço ao ver a mulher entrar e fechar a porta. Vou
para a sala onde os quartos são monitorados.
Tenho amizade com o senhor que cuida da manutenção e
com os seguranças que monitoram tudo.
Tomo meu café conversando com eles observando
atentamente, vejo a mulher arrastar uma cadeira e se sentar ao lado
do paciente em coma.
Vejo ela o agredir dissimuladamente... eu sabia!
Observo que ela o aperta com maldade, cutuca em lugares
lesados... esse é o pior tipo... matam sem dó.
Vejo que fala muito e sua expressão de ódio e deboche são
notórias. Preciso dar um jeito e ajudar esse jovem.
Saio da sala e ando apressadamente para o quarto dele...
entro por uma porta lateral. Aqui posso ouvi-la com perfeição.
Maldita!
Mais uma vida salva, graças a Deus!
Justiceiro ataca, sorrio com tristeza... quantas pessoas não
morrem assim?
Aperto o play de meu celular e gravo tudo que essa mulher
renascida dos infernos diz...
Confesso que estou arrepiado, aterrorizado e enojado. Nunca
vi tanta maldade junto em uma única pessoa... essa coisa aí dentro
é um demônio...
Quando ela termina sua devastação com o pobre jovem, sinto
lágrimas descerem por meu rosto.
Salvo as monstruosidades que ela disse e vou para casa
satisfeito. Mais um monstro pego em sua própria ganância.
 
***
 
Meses depois...
 
Vou à casa de Malone, consigo entrar fácil... Afinal, faço parte
da equipe de médicos.
O chamo em particular, conto tudo a ele, que me ouve
atentamente. Olha-me no fundo dos olhos e diz com sinceridade na
voz que será eternamente grato por tanta generosidade. Ele me diz
que, quando já acreditava que o ser humano não valia nada, eu
surjo e balanço sua nova crença. Pergunta meu nome e digo-lhe,
que pode me chamar apenas de justiceiro.
— Terei uma dívida eterna com você, justiceiro. Se um dia
precisar, não hesite em me procurar. Você me mostrou que a raça
humana ainda não está totalmente perdida... — fala com voz grossa
e aperta minha mão com força. Promete-me e reforça mais uma vez
que, se precisar de qualquer coisa, é somente procurá-lo. Vejo
incredulidade em seus olhos mortos. Olhos apagados por
decepções imensuráveis. O entendo...
Entrego a gravação, vou embora com a sensação de dever
cumprido e mais uma vida salva. Tanto naquele dia que ela o
ameaçou, quanto no futuro, porque agora o jovem Malone tem
provas contra essa mulher, que a colocará na cadeia para sempre.
Mas algo em seus olhos, uma escuridão regada a ódio, me diz que
ele tinha outros planos para ela. Confesso que seria melhor ela ir
para a prisão perpétua, porque o olhar que vi no rosto de Malone me
deixou arrepiado e aterrorizado.
Mas isso não me cabe mais, minha parte eu fiz, agora é com
ele...
E assim saio da vida do jovem milionário Malone... para
reencontrá-lo, mais de duas décadas depois em uma situação
completamente inusitada e inacreditável...
 
Levo uma Mara sorridente para o quarto principal da casa,
claro que ela adora. Ela me olha sedutora e me causa asco, esse
ser é doente mental.
— Malone, hoje finalmente vamos trepar? — pergunta e
lambe os lábios com a mesma vulgaridade que via antes, mas
achava atraente. Paguei um médico para confirmar o que havia dito
a essa assassina: que eu não tinha condições de trepar tão cedo.
Assim o demônio em forma humana me deixou em paz. Agora vem
com essa conversa maldita mais uma vez?
— Você sabe que estou tendo problemas, devido à
quantidade de remédios e medicamentos que estou tomando. — Me
masturbo no banheiro todos os dias, prefiro cortar meu pau fora a
me enfiar nessa imunda novamente.
— Mas aqui você descansará, e assim diminuirá as doses
absurdas de remédios que toma...
Ela pensa que ainda tomo grandes doses de remédios, tudo
combinado com um médico conhecido. Claro que ainda tomo
remédios para ansiedade, depressão e para dormir, mas agora
menos do que antes. Tomo muito remédio para a dor, minha perna
dói demais, tem dias que dá vontade de arrancá-la fora. Culpa
dessa maldita desgraçada! Tudo devido a maldade desse demônio
que sorri ao meu lado. Minha vontade é dar um murro grande nessa
boca de merda, quebrando assim todos os seus dentes. Tudo isso
somente na porrada, mas terei paciência, o que farei com calma
será ainda melhor.
— Com certeza, descansarei e aproveitarei muito, ou melhor,
aproveitaremos, você terá tudo que merece... — falo sombriamente,
ela sorri largamente. Mulher estúpida e ridícula.
Caminha para onde estou, arrastando sua barriga imensa.
Tenho pena dessa criança que já vai nascer condenada, filha dessa
maldita assassina.
Arrasta a unha gigante em meu peito coberto por uma camisa
branca de linho.
— Sinto falta do seu pau, Malone. Desde que, teve o acidente
nunca mais ficamos juntos... — Tenta me beijar e me afasto, meu
estômago retorce de nojo.
— Vou descer, o casal que cuida da casa está lá embaixo me
aguardando. Eles cuidarão de você e da bebê... — falo e ela fecha a
cara.
— Quero pessoas especiais para cuidar de nossa filha. Não
uma velha caduca e caseira, sem instrução nenhuma — fala já
tirando a roupa. Meu Deus, sua barriga éimensa! Parece que vai
explodir. É normal isso?
Como essa criança passará por sua vagina? Sorrio com
maldade. Terá que sair.
Desço a escada e encontro o casal me aguardando. Quando
me veem se levantam.
Os chamo para o escritório e passo as próximas horas
conversando com eles, sei que são de confiança e conto tudo que
aconteceu.
Eles choram e isso me quebra ainda mais.
— Como pode existir pessoas assim, meu filho? — dona
Nadir fala e limpa as lágrimas. Seu Carlos tem os olhos vermelhos.
— Me sinto destruído com tudo que essa mulher fez... essa
assassina! — falo sentindo o ódio me tomar por completo, passo a
mão na mesa e jogo tudo no chão.
O casal Rossi se levanta e vêm me abraçar.
— Não fique assim, meu filho. Sei que a sua dor não tem
limites, mas você já tem um plano em mente com a mãe assassina
e não pense em momento algum que o julgaremos — Seu Carlos
fala e sua voz endurece. — Sei o que é lidar com pessoas como
essa mulher. Fui policial mais de 30 anos de minha vida. Lidei e vi
tantas bizarrices, que pensei que nada mais me surpreenderia. Mas
aqui está o filho de uma das pessoas mais honestas e íntegras que
conheci, me dizendo que estou errado. Esse monstro que está lá em
cima, é uma aberração. Estaremos aqui por você, filho, sem nunca
condenar ou julgá-lo. Mas a menina não tem culpa, pense nisso —
fala e me olha nos olhos, vejo que posso contar com eles, precisarei
muito do apoio de ambos. Claro que não digo que quero me vingar
das duas, eles já estão protegendo a cria do demônio antes de
nascer... não gostei disso, mas deixo para lá por enquanto. —
Obrigado — digo com ranço dessa cria maldita, que já tem
defensores.
Eles concordam e fico mais aliviado por saber que não estou
sozinho, ao menos até descobrirem o que farei.
Depois que vão embora, subo e vou para o meu quarto.
Quando chego, vejo Mara dormindo nua, e se essa não é a
visão do inferno, nada mais será.
Mulher grávida é linda, mas nessa mulher a feiura vem de
dentro. Saber que ela matou meus pais, seu Gerson e queria matar
a mim, me faz vê-la como um ser asqueroso, a mais vil e feia das
criaturas.
Tomo banho e saio. Desço para a sala e espero amanhecer,
pensando, planejando e chegando aos detalhes finais.
Agora é só esperar a maldita começar o trabalho de parto.
Sorrio mais uma vez, aí começará minha vingança.
 
Uma semana depois...
 
O casal Rossi chega cedo todos os dias e deixam tudo
pronto, à tarde eles voltam para a sua casa, que fica depois do rio
que temos aqui.
A infeliz os trata como lixo, mas pedi a eles para terem
paciência somente mais um pouco, depois eu cuidaria de tudo.
 
***
 
Seu Carlos e dona Nadir foram embora e estou aqui na
cozinha jantando, quando ouço um berro. Sorrio. Começou.
— Malone, vem aqui agora! — berra a aloprada. — Liga
agora para a equipe médica e veja o porquê estão demorando tanto
a chegar! Malditos infelizes! — Mara grita ofegante, está sentindo
dores desde cedo.
Disse-lhe que os médicos estavam a caminho. Uma porra
que estão! Ela começará a sentir um pouco da dor que sinto
começando com esse parto maldito.
Continuo jantando como se fosse um nada que estivesse
gritando aos berros de dor.
Termino tranquilamente, enquanto os gritos aumentam. Ela
se arrasta do quarto e grita no alto da escada.
— Liga novamente, seu palerma. Estou sentindo dores que
vem direto do inferno — fala e se curva. Vejo sua barriga torcendo,
uma coisa bizarra de se ver.
— Volte para o quarto, em breve subirei, Mara — falo com
frieza. A satisfação me toma por inteiro e sinto o sabor da vingança
se espalhando pelo meu corpo. Esperei tanto tempo por isso.
Vou ao escritório e pego um celular do cofre.
Volto e vejo que a infeliz não aquentou ficar me esperando, a
dor deve estar forte.
Entro no quarto e a vejo deitada, pálida e suando demais.
— Filho da puta! Aaaaaaaaaai! — Curva e geme em agonia.
— Liga... liga para eles! Caralho, essa porra dói demais — fala e se
contorce, coisa sinistra de se ver.
— Mara, preciso te mostrar algo — digo e me sento em uma
poltrona vermelha, cruzo a perna e pego o celular. — Preste muita
atenção. — Ela me olha com ódio.
— Enfia esse telefone no rabo, maldito, não está vendo que
estou parindo essa porra? — soluça de dor e vejo lágrimas
descendo e isso é um deleite para mim.
— Cale a porra de boca e ouça! — falo com gelo na voz e ela
me olha assustada. Aperto o play e sua voz nojenta enche o quarto.
— Muito bem! Quem temos aqui em um hospital? O filhinho
amado do papai? Aquele que acredita que o mundo é uma grande
bolha azul com fadinhas voando para todo lado e realizando
desejos?
O cão sarnento em minha cama abre tanto os olhos, que
parece que saltarão para fora. Sua palidez chega a um nível de total
esverdeamento. Ela tenta se levantar e uma dor forte a faz gemer
alto e se deitar novamente.
Sua voz fodida saindo do celular, continua a cravar facas na
falsidade desse lixo em minha cama, a sujando e poluindo.
— Tenho péssimas notícias, anjinho, acho que você nunca
sairá do coma. Que tristeza, não é?
Ela fecha os olhos e seu corpo treme ao ouvir cada palavra
que disse a mim, naquele dia, quando pensou que nunca mais
acordaria, ou se eu acordasse não me lembraria de nada.
Continuo encarando-a com frieza e asco.
— Tem algo mais a acrescentar, maldita dos infernos? — falo
com calma colérica.
Ela tenta se levantar e correr, mas é acometida de outra dor
forte. Ela geme e se curva.
— É mentira, caralho! Porra, que dor. Não fui eu que disse
essas coisas horríveis, foi armação. Isso foi armação. — Consegue
chegar até onde estou e tenta pegar em mim.
Agora que chegou o momento que estava aguardando com
ansiedade, esse demônio nunca mais encosta um dedo em mim.
— Não. Encosta. Em. Mim, sua rameira assassina!
Ela começa a chorar e se curva novamente. Geme alto.
— Malone, me ajuda... dói demais — fala baixinho e
chorando. Sorrio.
— Não. — Nego baixinho e com um sorriso maligno. —
Nunca vi um parto antes, quero ver o seu, será um show ao vivo. —
Volto e me sento na cadeira. — Continua o show, vagabunda, põe
essa cria maldita para fora, sua imunda. — Sorrio de prazer. Ela
geme e chora ao mesmo tempo.
— Uma senhora de mais de 40 anos era para trepar com
camisinha... ainda mais tão promíscua. Uma hora, com certeza
algum garanhão, iria engravidá-la.
Ela tenta gritar e vir até mim. Está irada.
— Maldito! Desgraçado, foi tudo um plano para foder com
minha vida? — Sorrio.
— Até que enfim a secretária burra conseguiu pensar —
debocho e ela grita.
Fico irado, quem ela pensa que é para gritar?
— Mais um grito e amarro sua boca pestilenta. — Ela me
olha com ódio e grita novamente. Vejo tudo vermelho, me levanto
irado, procuro algo para calar a boca desse verme imundo e não
encontro nada. Olho para o meu pé e arranco minha meia e
caminho colérico até ela. A pego pelos cabelos e jogo na cama.
Amarro sua boca, enquanto ela tenta lutar e me atingir de alguma
forma.
— Só não te enfio a mão na cara, desgraçada, porque está
embuchada, e não cheguei em seu nível ainda... miserável. Mas
chegarei lá, pode apostar! — A empurro com força e ela geme.
Sento-me na cadeira e acompanho com prazer o tormento da
mulher que matou meus pais e meu motorista.
Horas depois, ela continua gemendo, agora com mais força.
Vejo sangue saindo do meio de suas pernas.
— Maldito — murmura sem força. — Vou te matar.
— Estarei esperando, víbora, mas agora bem preparado.
Ela dá um grito horripilante e chora. Me levanto com cara de
tédio.
— Me cansei, está demorando demais a botar essa cria
maldita para fora. Vou dormir, amanhã volto. — Ela grita. Sorrio com
maldade. — Já ia me esquecendo de avisar. — Debocho com ódio
no coração. — As janelas tem grades. Mas e a porta? Hum...
somente usando senha ou minhas digitais... então não tem para
onde fugir, assassina! — gargalho de puro ódio e saio. Ouço seus
gritos desesperados, até cair no sono. Depois de tanto tempo, tenho
um sono sem pesadelos. Estou no último quarto do corredor, quero
distância desse demônio.
 
Acordo com gritos de desesperoe dor. Sorrio de felicidade,
isso é somente o começo das dores.
Tomo um banho demorado, aproveito enquanto os gemidos
da infeliz ecoam na casa, regando o prazer de minha vingança.
Desço e tomo meu café em paz, feliz como não me sentia há
muito tempo. Saio e ando ao redor do casarão com calma e
satisfação.
Lembro-me da época que vim aqui em minha adolescência,
amava subir nas árvores e nadar no rio que tem aqui perto.
Adorava ir à casa dos Rossi, eles sempre me enchiam de
comidas gostosas. Volto ao presente e vejo as árvores balançarem
suavemente suas folhas verdes com uma brisa suave. Suspiro e
fecho os olhos. Meus pais amavam esse lugar. Eu estou começando
a odiá-lo.
Hoje liguei para o casal Rossi, avisando que não precisavam
vir trabalhar. Quero apreciar o show sozinho.
Deixaram tudo pronto ontem. Já está na hora do almoço,
entro preparo tudo com calma e como, ouvindo com prazer os gritos
alucinados da maldita. Depois de escovar os dentes, vou para o
quarto da megera, que está rouca de tanto gritar. Um bálsamo para
meus ouvidos.
Ele geme baixinho, está muito rouca. Será que a cria ainda
não nasceu? Sorrio, coisa boa que fique na barriga da maldita
bastante tempo e morra às duas. O ódio e dor me enche o peito.
Abro a porta e vejo-a na cama, acabada, destruída e ainda
com o barrigão.
— Caralho, emperrou? — debocho e ela me olha com ódio
mortal.
— Vou matá-lo. Não consegui da primeira vez, mas não
falharei na segunda, desgraçado — geme com cólera, mas não
pode fazer muita coisa, o barrigão não deixa. Finalmente a
desgraçada confessou o que já sabia.
— Deixa de moleza, mulher, defeca logo pela vagina. Põe
essa merda que carrega para fora. Aí veremos o que faremos com
essa cria imunda. — Ela mostra os dentes.
— Você, seu verme, vai ficar longe da menina. Desgraçado
— ela diz e curva novamente a dor a fez mijar.
— O banheiro é logo ali. Como assim? Fazendo xixi na cama,
porca inútil! — falo com ironia e raiva ao mesmo tempo.
Ela vai me afrontar quando uma nova onda de dor a faz
curvar.
— Você defecou? — pergunto incrédulo, quando a vejo
encher a cama. Que nojo!
— Maldito! Maldito! — fala e curva novamente, gemendo alto.
— Vai tomar um banho, pedaço de merda! — falo com ira e
nojo dessa assassina.
Ela cospe e isso me ira.
A pego e a arrasto pelo cabelo jogando debaixo do chuveiro.
Abro e a água gelada cai nessa mulher, que anseio matar.
Ela grita e se encolhe. Sorrio de prazer maligno.
— Deixa de ser mole, sua vaca. Suas antepassadas
passaram pior situação e olha que não eram miseráveis e
assassinas como você — falo devagar e apreciando a dor desse
verme.
— Eu odeio você — geme tão baixo que quase não ouço.
— Deve odiar mesmo, para assassinar meus pais, meu
motorista e tentar me matar, só pode ser muito ódio. Mas tenho uma
novidade para você, assassina, eu te odeio mais, na verdade, tenho
sede de seu sangue. — Sorrio com tanta maldade que até eu fico
surpreso. Realmente o Anjo morreu, essa desgraça o matou e fez
nascer o Mal, porque estou sentindo tanto prazer em ver essa
mulher sofrendo que estou em êxtase. A maldade me domina.
— Vou limpar seu chiqueiro, enquanto limpa a bunda —
cantarolo e saio do quarto. Torço o nariz ao ver a nojeira que está
em sua cama. Enrolo tudo e jogo em um canto. Vai ficar sem forro,
para aprender.
Volto ao banheiro e vejo que ela tenta se lavar com
dificuldade.
— Acabou seu tempo. — Ela me olha incrédula. A arrasto
pelo cabelo e a jogo no colchão sem lençol.
Ela continua o festival de gemidos. Sento-me na cadeira e
fico observando com prazer sua dor.
— Caralho, emperrou mesmo! Nem a cria maldita quer
conhecer o demônio que a gerou e abrigou durante nove meses —
debocho.
Ela não responde, suas torções estão mais constantes.
Vejo ela gemer, morder a mão e o sangue descer.
Porra, deve doer pra caralho! Sorrio, se for um terço da dor
que senti, a puta está sofrendo horrores.
As horas passam e nada da mulher parir. Parece que
encalhou mesmo.
— Me cansei, você está fazendo charminho, só pode.
Piranha charmosa. Cansei desse festival de gemidos, agora só volto
nesse chiqueiro, quando ouvir o choro dessa coisa que carrega.
Ponha logo esse pedaço de carne para fora, assassina! — Ela me
olha sem forças até para falar.
Isso, vadia, sinta um décimo do que senti, quando me disse
aquelas coisas que acabaram com minha vida.
Saio de lá com a maldita chorando em agonia e gemendo
baixinho sem forças.
 
***
 
Um dia depois...
 
A mulher continua a berrar. Puta merda, que demora é essa?
Será que ela vai morrer antes de completar minha vingança?
À noite, resolvo ir ao quarto novamente e, quando entro, a
vejo deitada e pálida na cama.
— Morreu, sua infeliz? — Ela me fita com os olhos mortiços,
mas coléricos.
Ela não responde mais, as pernas estão abertas e sua boceta
sangrando. Uma cena de terror.
Ela geme rouca e contorce. Vejo sua boceta alargando e uma
cabeça apontando. Coloco a mão na boca e meu estômago retorce.
Ela empurra quase sem forças, estremeço.
Ando rápido e me sento na poltrona, a cena é feia e chega a
ser doentia de se ver. Meu Deus!
A partir de hoje serei mais solidário com mulheres, claro que
será com as que não assassinam pessoas inocentes.
Ela geme alto e a cabeça sai. Puta merda. Vai rasgar sua
boceta e ânus. Faz mais força, em meio aos gritos e gemidos, os
ombros saem, junto com sangue e um monte de água.
Ela grita e a menina sai de uma vez. Levanto-me e saio
correndo daquele lugar.
Chamo Nadir e digo que nasceu. Ela sobe com uma bacia de
água.
Uma hora depois retorna com a menina embrulhada em uma
manta rosa, a cria que nasceu da maldita assassina.
— E a vadia? — pergunto com asco da menina.
— Desmaiada na cama — fala e olha para a menina. — Anjo,
a menina é linda. — Olho com ira para ela.
— Não me chame por essa porra de nome nunca mais! —
falo com tanta frieza e cólera que ela me olha assustada.
— Perdoa, meu filho, não direi mais. Como quer que o
chame? — Segura a bebê com carinho.
— Mal — digo com frieza. Ela me olha assustada.
— Quer ver a bebê? — pergunta me olhando fixamente.
— Não. Já sabe o que tem que fazer... — saio da sala e vou
para a biblioteca.
— Sim, Mal, sei o que temos que fazer, o que nos disse para
fazer... — ouço seu sussurro e a vejo saindo com a cria da imunda
que está no quarto desmaiada, segundo Nadir. Em breve, subirei.
Não tenho paz vendo o casal Rossi sair com a cria imunda.
Vou atrás, sem que eles percebam é claro, é mais forte que eu.
 
 
 
 
No dia seguinte, pego o que resta da desgraçada que matou
tantas pessoas e a levo para o porão que temos nesse casarão, que
virou sinônimo de inferno para mim, lugar maldito. Biblioteca.
Entramos por uma parede falsa que papai fez aqui. Uma imensa
biblioteca disfarça bem o porão que tem logo atrás. Ali ele ficava
quando queria se isolar de tudo e todos. Era confortável, tinha
poltronas macias e tapetes felpudos, na época de minha infância.
Mas mandei tirar o que ainda restava de confortável nesse lugar,
deixei somente um cobertor e balde para a infeliz. A água descia por
uma torneira enferrujada. Pois, tinha muitos anos que não vínhamos
aqui e esse lugar acabou sendo esquecido. Mas eu me lembrei bem
dele, quando planejei a vingança contra essa mulher vil e cruel.
 
***
 
Ela chorava e gritava. Mas nada disse me comoveu.
Perguntava sem parar se tinha matado a menina. Somente
sorria e saía do porão. Meu prazer era deixá-la na dúvida.
Cortei a luz também. Fiquei aqui no casarão quase um ano e
todos os tipos de torturas que pude aprender, pratiquei na assassina
de meus pais. Ao final de um ano, ela estava quebrada e uma casca
do que foi. Mas eu sempre tinha o cuidado de não matá-la, a queria
sofrendo e não morta, pelo menos por um tempo. Eu era seu
carrasco e algoz, quando pegava muito pesado, cuidava das
mazelas da infeliz, afinal a queria viva...
Iria voltar para a minha vida agora, meus pais e Gerson
estavam vingados. Agora faltava vingar por mim, afinal a maldita
quase me matou, mas a minha vingança iria demorar umas duas
décadaspara acontecer.
— Vou deixar uma corda aqui, assassina. Quando quiser
usar, fique à vontade. Nos faz um favor? Nos livre de sua presença,
a humanidade agradece.
Ela não diz nada, está completamente quebrada.
Eu a deixo no porão, costumo largá-la por dias sem comida.
Mas não ao ponto de morrer, aprendi todos os tipos de torturas sem
ter que matar a pessoa. A satisfação enche meu corpo, como é
doce a vingança.
Às vezes ela grita de fome, muitas vezes de sede, quando
fecho o registro. Outras de dor devido às torturas que pratiquei e
aprimorei nela.
Sorrio com maldade. Às vezes, me desconheço. Em que me
transformei? Monstro? Demônio? Balanço a cabeça com raiva.
Jogo esses pensamentos no inferno e volto com força maior
para torturar a mulher que destruiu minha vida, de meus pais e de
Gerson. Isso é o que sei sobre ela, mas deve ter feito muito mais
merdas.
Resolvo ir embora desse inferno, já estou satisfeito, a mulher
virou um bagaço e pagou com juros tudo que fez, mas ainda tenho
algo preparado para a assassina maldita. Já mandei providenciar.
 
***
 
No dia seguinte, pego um saco de farinha com dez quilos e
jogo no porão.
— Dá para viver uns seis meses se souber regrar. Não pode
comer muito, porque, senão, adivinha? Ficará sem alimento. Água
tem à vontade na torneira, mas não beba demais, porque estarei
ausente por um tempo. Balde cheio de suas imundícies, sem trocar
pode feder muito e dar bichos — falo com ruindade e maldade
exalando por minha boca, ela se arrasta e me olha suplicante.
— Não me deixe aqui sozinha, por favor. — Olho com
desprezo para esse ser asqueroso e rastejante a minha frente.
— Volto em seis meses para renovar sua ração, cadela! —
falo e cuspo no chão, coberto de sangue dela. Nosso festival de
torturas, marcando o chão com bizarrice. Adoro esses momentos!
— Nãoooooooooo! Não me deixe aqui sozinha! Eu te suplico!
— grita e chora aos berros. Ignoro e saio, aqui nesse inferno
somente eu abro e tenho acesso. Ninguém conhece esse lugar, é
acústico, ela pode gritar até estourar a garganta.
Saio e empurro a estante de livros, voilà. Tudo limpo e lindo.
Biblioteca perfeita e com centenas de livros; exemplares raríssimos.
Sorrio de crueldade.
Pego minha mala e volto para a minha vida, agora um
homem com o coração quebrado e destruído por uma mulher
gananciosa que matou três pessoas: meus pais, que amava com
tudo de mim; e seu Gerson, que eu admirava e gostava demais.
Mas a maldita não contava que a quarta pessoa, eu no caso, que
queria matar se safaria e voltaria para se vingar.
Malone missão cumprida com a assassina de seus pais e
amigo. Mas, antes de ir embora, vou à casa do casal Rossi reforçar
a conversa que tivemos há um tempo atrás.
 
 
Estou sentado aqui em minha biblioteca, me recordo bem do
dia que o casal Rossi saiu daqui com a cria da imunda, recém-
nascida. Quando eles saíram com a menina, sabia que não fariam o
que mandei. Então, pensei bem e resolvi mudar meus planos.
Saí logo atrás deles e os segui, não deixei que me vissem.
Eles pararam perto do rio e olharam um para o outro. Falaram
alguma coisa e seguiram, eu sabia!
Mas foi ótimo mudarem de ideia quanto ao que mandei
fazerem, porque eu mesmo havia mudado.
Os segui apenas para constatar o que já sabia. Na verdade,
tenho outros planos para a menina, que não envolve morte por
enquanto.
Sorrio de satisfação e vou para a casa dos Rossi, sem que
eles percebam. Vejo a alegria com que olham para a recém-nascida.
Espero eles entrarem e dou um tempo, entro quando a
menina está chorando aos berros.
Quando eles me veem, ficam surpresos. Sorrio de lado. A
senhora Nadir fica pálida e seu marido também. Sabem que
quebraram uma ordem expressa minha: matar a menina, atirando-a
no rio. Meu estômago embrulha quando penso que poderiam ter
feito isso, acho que foi por isso que os segui. Essa ideia de matar
uma inocente me incomodou e vi que esse não era eu. Me senti mal
somente por pensar em jogá-la no rio.
Se, porventura, a tivessem jogado, com certeza eu pularia e a
pegaria. Matar um inocente. Porra!
— Mal! Achei que tinha ido embora. — Fala e passo por eles
os ignorando, vou em direção aos berros da menina.
Chego na porta do quarto e um rolinho rosa se mexe na
cama. A coisa chora tanto, que meus ouvidos ardem.
Olho para trás e os vejo horrorizados, pálidos e suando
muito.
Nadir cai de joelhos e implora pela vida da cria da assassina.
— Por favor, Anjo, eu te suplico. Não tive coragem de matar a
bebê como nos instruiu. Não a machuque, é um anjinho inocente —
fala aos prantos e seu marido também está acabado, vejo angústia
em sua posição derrotada.
— Por que concordaram então, quando sugeri que a
matassem? — pergunto com frieza. Quero saber a resposta vinda
da boca deles.
— Porque assim poderíamos salvá-la — fala entre soluços.
— Mas você se arrependeu, não é? Olha, você está aqui... — fala
se arrastando até onde está a menina pegando-a, como se fosse
protegê-la de mim se quisesse realmente matá-la.
— Levante-se, Nadir, não quero matá-la e me tornar um
assassino como a desgraçada da mãe — peço, ela se levanta
receosa. Caminho para onde está e puxo o cobertor que envolve a
menina. Ela escolhe exatamente esse momento para me olhar e fico
impactado com a cor de seus olhos — azuis, muito azuis — e os
fiapos de cabelos que tem são loiros. Quem será o pai dessa
menina? Nunca saberá, pobre criança, sua genitora dava para
qualquer um sem o mínimo de precaução. Ainda bem que, mesmo
com apenas vinte anos, eu tive juízo e encapava meu pau toda vez
que trepava com a meretriz.
Essa não tem nada da genitora: Mara é morena de olhos
pretos e malignos como as trevas.
Saio rápido de perto da menina. Ela me causou sentimentos
bons... esses que matei. Anjo está morto. Mal que vive agora.
Eles me observam calados e ansiosos, vejo medo em seus
olhos pela vida da menina.
— Decidi deixá-la viver, tenho outros planos. Cuidem dela,
vou mandar dinheiro mensal para pagá-los e para as necessidades
da menina — falo, mas no momento minha vontade é pegar essa
cria maldita e jogá-la eu mesmo no rio. Sentimentos contraditórios
me tomam, mas me controlo. Voltarei e terminarei o que já está em
andamento. Esse pensamento me acalma e me dá força para
recomeçar minha vida. Uma que foi destruída de todas as formas
possíveis.
Mais uma vez, Nadir Rossi cai de joelhos e me agradece.
— Obrigada, meu filho, seus pais estão com certeza
orgulhosos de você. Mal, você fez a melhor escolha do mundo, ao
não agir como a mãe desse pequeno anjo. — Vejo-a beijar a cabeça
minúscula da maldita cria.
— Bom... peço a vocês que mantenham o casarão sempre
limpo e cuidado, como sempre fizeram. Podem deixar a menina ficar
à vontade lá e não pensem nunca em fugir, porque eu os acharei. A
menina pertence a esse lugar e a mim. — Sorrio com maldade, vejo
eles empalidecerem. — Adeus e um dia voltarei, com toda certeza
do mundo. — Me viro e saio da vida deles, voltaria seis meses
depois para renovar a ração da assassina, isto é, se ela não
morresse antes. Depois do suicídio daquele demônio pestilento, se
passaram mais de duas décadas sem eu voltar a esse lugar maldito.
Só não estava preparado para o que aconteceria em um
futuro muito, muito distante, nem em sonhos...
 
Hoje mamãe e papai estão limpando o casarão e estou
ajudando-os. Fiz faculdade on-line, os ajudo em tudo que posso. Na
verdade, o senhor Malone pediu para eles se mudarem para o
casarão há mais de cinco anos. Disse que era bobagem ficar
mantendo às duas casas. Era trabalhoso para meus pais velhinhos,
disse também que eu tinha que estudar. Minha admiração por ele só
cresceu. Morando aqui, confesso que ficou mais fácil, pois manter
às duas casas e os jardins de ambas, não era tarefa fácil para nós.
O senhor Malone, ainda mantêm a casa antiga, uma vez por mês,
vem alguém limpar. Ele nos liberou de limpá-la. Olho meus pais,
sorrindo e fazendo almoço. Eles são perfeitos juntos.
Cheguei na vida deles, quando já tinha mais de 50 anos e
hoje eles têm mais de 73. Eles são descendentesde italianos, meus
pais amados combinam tanto, que até a idade deles é a mesma.
Olho para eles com ternura.
Adorava vir aqui no casarão e passar horas na biblioteca do
senhor Malone. Pulei de alegria quando nos mudamos para cá.
Além da biblioteca maravilhosa, a casa era linda, cercada de
árvores choronas que contornavam o lago artificial que a família
Malone mandou fazer.
Hoje, se você quer me achar procure-me na biblioteca. Adoro
esse lugar. Grande, arejado, as estantes chegam ao teto e estão
abarrotadas de toda categoria de obras literárias. A imensa mesa
me faz lembrar do senhor Malone. O sofá é gigante e macio, tudo
aqui é grande. Mas tem que ser, sempre vejo ele na internet,
cercado por belíssimas mulheres. Sinto um calor percorrer meu
corpo todas às vezes. Ele é um homem gigante e tem cabelos
longos.
Anjo Malone tem uma cara de mal tão grande, que dá medo
somente de olhar. Se não o conhecesse e soubesse de seu coração
de ouro, correria dele quilômetros sem olhar para trás. Seus olhos
cinza gelo, são quase brancos e seu semblante carregado põe
medo em qualquer um, que não o conheça como eu e meus pais.
Tenho muita vontade conhecê-lo pessoalmente, mamãe diz
que ele é um bom homem, aliás ela nem precisa falar. O que ele fez
e faz por mim e meus pais, somente um homem de bom coração
faria.
Tem uma foto dele em sua biblioteca, mas está com minha
idade nessa foto, bem jovem, deve ter uns 20 poucos anos. Mamãe
diz que ele ainda é um belo homem.
Tadinha, não sabe que já o vi várias vezes na internet. Aliás,
o rastreio sem vergonha alguma. Sorrio.
Ele nunca quis falar comigo, somente com meus pais e
confesso que isso me magoou, pois, o admirava demais por toda
sua generosidade. Tinha também um sentimento estranho no peito.
Ele me atraía de uma maneira confusa.
Mas sempre que o olhava, via um belo homem e não nosso
senhorio.
— Mamãe, quando o senhor Malone virá passear aqui?
Nunca veio, estranho, não é? — falo sem entender como um
homem não visita uma casa tão linda como essa. Mamãe fica
pálida.
— Filha, ele é muito ocupado. Não sei se algum dia virá. É
melhor que não — sussurra a frase final baixinho. Na verdade, não
entendo porque nunca veio aqui. Fico curiosa, claro, porém não
pergunto nada. Eles são muito reservados em relação ao senhor
Malone. Papai a puxa e cochicha algo em seu ouvido.
— Vem, Paloma, vamos jantar, filha — ele desconversa e me
puxa com suavidade.
— Vamos sim, mas antes vou tomar um banho, não demoro
nada, prometo! — Eles sorriem.
Meus pais dormem no único quarto que tem no andar de
baixo. Não gostam de subir escadas. Meu quarto fica perto da suíte
principal da casa. Onde um dia foi o quarto do casal Malone,
segundo mamãe.
Subo as escadas correndo. Entro no banheiro e me olho no
espelho sorrindo. Vejo uma mulher feliz, com imensos olhos azuis,
contornados por um tom de azulado quase preto. Meus pais dizem
que nunca viram olhos mais lindos que os meus. Fico envaidecida.
Meus cabelos loiros são longos e brilhantes. Meu orgulho. Meu nariz
pequeno e arrebitado é pontilhado de sardas.
Não sinto falta de cidade, já fomos em várias aqui perto, mas
anseio sempre voltar para a paz que temos nesse lugar. Me
acostumei a viver aqui, tudo tranquilo, sem trânsito, excesso de
pessoas, somente eu e meus pais.
Sonho em conhecer meu protetor, o senhor Anjo Malone,
mamãe disse que ele odeia que o chamem pelo nome, Anjo. Meu
anjo protetor. Sorrio e às duas covinhas se acentuam em minhas
bochechas. Vou para o banho feliz com a vida que tenho e com às
três pessoas que me protegeram: mamãe, papai e Anjo.
Uma vez questionei-lhes, poque ele era tão bom para nós,
principalmente para mim. Me olharam receosos, mas logo em
seguida sorriram largamente.
Disseram que Anjo, tinha herdado o coração bondoso dos
pais, que os ajudaram muito quando eles precisaram, os
acomodando no casarão e dando serviço a eles. Anjo resolveu
ajudá-los a criar a filha que adotaram... claro que sei que aí tem
coisa!
Quando pergunto algo sobre a mulher que me gerou, meus
pais desconversam, não insisto porque não quero saber da mulher
que não me quis por algum motivo.
Um dia descubro, sei esperar, mamãe sempre diz que sou a
mãe da paciência. Para alguma coisa me tirar do sério tem que ser
algo extraordinário, ou mexer muito comigo, do contrário, fico
tranquila.
Sorrio feliz com tanto altruísmo por parte de meus pais e do
senhor Malone.
 
Essas mais de duas longas décadas me transformaram em
um homem completamente duro e centrado. Mas sempre vazio e
triste. Não ajo mais por impulso. Aprendi a ser moderado, analisar,
ponderar e agir; e o principal, não confiar em ninguém. Lembro-me
do que aconteceu há mais de vinte anos atrás e estremeço.
Ainda acordo gritando devido a tudo que passei, e tenho
crises de depressão. A maneira como me vinguei da maldita
assassina me assombra. Não que eu tenha me arrependido, mas,
se fosse hoje, acho que faria diferente. Será? Entregaria para a
polícia e com as provas que meu justiceiro me entregou, a maldita
mofaria na cadeia. Talvez. Mas creio e sei, bem no fundo de meu
coração, que faria tudo exatamente como fiz da primeira vez.
 
***
 
Seis meses depois voltei ao cárcere da assassina. Ver sua
miséria me deixou pensativo se era certo agir da forma como fiz,
mas espantei os pensamentos ridículos. Ela mereceu cada segundo
de tudo que passou. Essa mulher foi uma desgraça em minha vida e
na de pessoas inocentes. Foi pouco o que fiz a ela.
Mara estava só pele e ossos, rodeada por bichos. O lugar
fedia tanto que vomitei ali mesmo.
Sabia com certeza que essa cena degradante jamais sairia
de minha cabeça.
Quando ela me viu, sorriu com uma maldade tão grande, que
parecia um monstro. Seus dentes estavam podres, seus cabelos
embolados e sua pele estava preta de sujeira. Meu Deus!
— Minha farinha acabou, tive fome e sede, desgraçado.
Queria que me visse antes de ir desse inferno para outro. Quero que
se lembre de mim, tirando minha vida e sabendo que você me
assassinou. — Observo agora que ela está com a corda que deixei
pendurada, enrolada em seu pescoço magro e sujo. Ela se levanta
com dificuldade e sobe no balde e o chuta. Tudo acontece muito
rápido. Ela agita buscando ar, seu rosto fica vermelho até ficar roxo.
Ouço um estalo e seus olhos me fixam dessa vez sem vida,
embotados, vazios. Fico imóvel. Ela mereceu esse final.
A assassina tirou sua própria vida. Seu corpo balança no ar
como um mau agouro.
Na verdade, eu a matei. Sou tão assassino quanto ela. Deixei
a corda amarrada com o nó pronto para se enforcar em uma janela
bem alta. Janela não, um cubículo alto.
Viro, me agacho e vomito novamente, agora uma água
esverdeada.
Me tornei um assassino indiretamente, levanto-me e a olho
mais uma vez.
Saí enojado com tudo que aconteceu, procurei os Rossi, que
me ajudaram com a sujeira, mas eu mesmo dei um sumiço no
corpo. O enterrei em um lugar de difícil acesso. Coloquei uma pedra
grande marcando onde jazia um demônio. Eles acabaram por
tornarem-se meus cúmplices. Os joguei em minha vingança.
 
***
 
Vi a menina de longe, e parecia muito bem cuidada e amada.
Meus valores e conceitos, depois de ver o suicídio da mulher
que destruiu meu mundo, me fez repensar e tomar algumas ações e
atitudes.
Olhei a infeliz dentro do buraco que cavei.
Resolvi nesse momento deixar a vingança morrer e enterrá-la
com a mulher que me fez tanto mal. Jogo a última pá de terra sobre
a defunta e sepulto junto com ela o ódio que me tomou por tanto
tempo.
Não vou estender minha vingança, a menina não tem culpa
de nada. Resolvo deixá-la em paz, porque não sei se vê-la me fará
ter essa firmeza de que não tem culpa, de que é inocente.
Sempre a verei como filha da assassina e isso pode
desencadear meu lado sombrio, um que adquiri nesse caminho de
angústias, traições e assassinatos.
Estou satisfeito em ter acabado com a mulher, não vou negar.
Sorrio.
— Pai, mãe e seu Gerson, vocês podem descansar em paz.
A assassina de vocês partiu para o inferno.
Agora poderei viver em paz, eu acho quesim.
Meus advogados cuidaram de explicar o sumiço de Mara,
que, a uma hora dessas, com certeza ardia no inferno. Eu não quis
saber o que fizeram, só sei que deu resultado, pois nunca mais
falaram o nome dessa mulher perto de mim ou a associaram
comigo.
 
Minha vida nesses longos anos, foi trabalhar feito burro de
carga, comer todas as mulheres que desse mole em meu caminho e
nunca me envolver, é claro. Elas não são dignas de confiança.
Nenhuma. Todas são falsas e traidoras, nunca em meus 43 anos
conheci uma mulher que fosse honesta, íntegra e que não fosse
interesseira, ao menos ao meu redor.
Faço terapia até hoje, acho que foi isso que me fez repensar
tudo que fiz. Depois que vi aquela mulher se suicidar, voltei louco,
insano. Fui ao médico aconselhado por um funcionário, agradeço a
ele até hoje, se não fosse a terapia teria feito merda, com certeza.
Foi muita coisa para um jovem de vinte e poucos anos passar.
Desenvolvi também um hábito que não me deixou
enlouquecer e me ajudou muito com minhas assombrações
internas: praticar Rope training[3].
Ficava horas treinando com meu personal trainer[4] em uma
academia completa que montei em minha casa, tudo com
moderação, devido à minha perna que foi quebrada em vários
lugares. Tinha dias que doía tanto, que me dava vontade de
arrancá-la.
Praticava várias modalidades de exercícios, mas essa era a
que mais me satisfazia. Minha perna doente era um empecilho que
ignorava a maioria das vezes e pagava um alto preço depois. Tinha
noites que não dormia de dor.
A adrenalina ia a mil, meu coração disparava e ia ao limite, o
que me deixava em êxtase. Além dos vários benefícios do Rope
training que meu personal sempre citava[5].
Não é só movimento ondulatório que tem no treino Rope,
você ainda pode fazer aquela força para escalar, se pendurar, puxar
e se erguer. Fazia tudo, menos escalar. A maldita perna não me
permitia fazer coisas mais ousadas.
Já participei de vários campeonatos e ganhei alguns, perdi
muitos devido à minha perna.
Cada vez que olhava as cicatrizes e a perna doente, eu me
alegrava que a assassina estivesse ardendo no inferno.
Cada lugar que fico, tenho minha corda naval reservada para
meus treinos. Não fico sem praticar, virou um hábito.
Expandi nossas empresas, hoje sou um dos homens mais
ricos do mundo e mais vazios também, ainda que ninguém saiba
disso. A vida de glamour que levo, oculta esse meu lado sombrio e
solitário.
Tatuei meu corpo quase todo e cada tatuagem tem um
significado para mim. Deixei meus cabelos crescerem e barba. Claro
que cuidava com o máximo zelo deles. Ainda restava um pouco de
vaidade nesse senhor aqui. Sorrio sem mostrar os dentes.
Usava camisas justas e calças para destacar meus músculos
dos braços e pernas.
As mulheres me olhavam com luxúria por onde quer que eu
passasse, e claro que aproveitava cada oportunidade e traçava
todas. Minhas angústias e passado sombrio não afetavam meu
desejo e luxúria, pelo contrário, era nessas trepadas que ainda
conseguia esquecer, por alguns momentos, a porra do passado que
ainda me assombrava. Mas o que mais chamava atenção em mim,
segundo essas mesmas mulheres, eram os meus olhos cinza tão
claros, que eram quase transparentes.
Isso me dava uma aparência sinistra, má e as mulheres
adoram um homem mau, bad boy. Mas creio que minha cara de
mau colaborava, vivia de cara fechada, não tinha motivo nenhum
para sorrir.
Então, como elas adoravam dizer, eu era o pacote completo.
Ao menos externamente, por dentro era completamente vazio, triste
e quebrado. Vivia à base de remédios para depressão, insônia e
ansiedade.
Mas tirando o abatimento constante, vazio, tristeza, angústia,
melancolia e solidão, eu era um sortudo. Tinha dinheiro e mulheres
aos montes, segundo a mídia.
Evitei ao máximo ir para o casarão, mas chegou o dia que
não deu mais.
Depois de anos dormindo mal, às vezes passando dias sem
dormir, meu terapeuta me aconselhou a tirar um tempo de
descanso. Sugeriu que eu confrontasse meu passado, indo para o
casarão onde ficava o casal Rossi e a menina. Eu havia dito a ele
sobre coisas ruins que passei lá, em várias sessões. Obviamente
que não contei o que fiz a ele. Somente coisas leves e que não me
comprometeriam.
Evitei ao máximo voltar para aquele inferno... a cria da
desgraçada vivia lá.
Aliás, nunca pergunto sobre ela e nunca tive vontade de vê-
la.
Receio que a vontade de vingar e fazer merda volte, por isso
evito saber sobre ela.
Tenho medo de vê-la e acionar velhos gatilhos, que luto
contra todos os dias. Por isso me mantive longe por décadas. Mas,
para sua infelicidade ou minha, voltarei e veremos o que farei...
Ligo para o casal Rossi. Finalmente conhecerei a filha da
desgraçada que arde no inferno há mais de 20 anos, mas que ainda
me atormenta.
 
Estou na biblioteca, um dos lugares que mais gosto de ficar
na casa do senhor Malone. A quantidade de livros que ele tem aqui
é imensa. E todo mês chega novos livros. Mamãe contou-lhe que
adoro ler. E, como o anjo que é, manda livros novos sem falhar
todos os meses, desde que eu tinha 15 anos.
Agora tenho um serviço, sorrio satisfeita. Mais ainda ajudo
meus pais a manter esse imenso casarão no tempo que sobra de
meu trabalho on-line. Trabalho como freelancer[6], faço vários
serviços on-line.
Agora mesmo estou terminando de montar um site para uma
empresa de uniformes. No caso desse site, e de vários outros que já
montei, recebo mensalmente o que acordamos, para mantê-los
sempre atualizados. Esse tipo de serviço me permite ficar com meus
pais e não preciso deixá-los sozinhos. Eles cuidaram de mim, agora
cuidarei deles até o dia que Deus permitir que fiquem comigo. Aí
verei o que faço. Sou grata a eles e ao senhor Malone, que não
gosta que use seu nome, o que, aliás, acho lindo e combina
perfeitamente com ele. Anjo, penso sonhadora.
Meus pais já estão bem velhinhos e se não os ajudar, eles
não dão conta mais. Aproveito que terminamos mais cedo e fico
aqui na biblioteca lendo, ou trabalhando em algum site.
Estou distraída, atualizando um site, quando ouço o telefone
tocando. Aqui ainda tem telefone fixo e deve custar uma fortuna, é
uma peça rara da família Malone. Agora me sinto um pouco dona
desse lugar maravilhoso, cheios de peças raras. Principalmente da
biblioteca imensa. Meus pais brincam comigo e dizem que é a toca
da pequena leoa, eu, no caso. Sorrio, sou obrigada a concordar com
eles. Se pudesse moraria somente nessa linda e imensa biblioteca.
Não vou negar, às vezes durmo no sofá gigante que tem aqui.
Ouço a voz de mamãe, saio da biblioteca e olho para ela, que
conversa ao telefone com voz baixa. Noto que está agitada e apuro
os ouvidos para escutar o que a deixou assim.
— Sim. — Ela encosta na mesinha. Vejo-a empalidecer. —
Será uma honra recebê-lo, meu filho. — Ela limpa a testa e vejo
meu pai entrar e caminhar rápido para o seu lado. Ele percebeu.
Fala algo a ela, mamãe acena afirmativamente e vejo meu pai
empalidecer também. Fico preocupada e desço.
— Amanhã? — Ela olha para cima e me vê descendo as
escadas rápido. — Claro, estaremos esperando-o.
— Mamãe, está tudo bem? — digo baixinho. Papai coloca a
mão em meu ombro e aperta com suavidade.
A pessoa do outro lado fala mais um pouco e desliga. Mamãe
fica olhando fixamente o telefone e, quando me vê, seus olhos estão
marejados.
— Mamãe? — A abraço. — O que aconteceu?
Ela me abraça forte, trêmula.
— O senhor Malone virá para cá amanhã, minha filha — diz e
olha para papai.
— Mas isso é muito bom! — falo com o coração cheio de
alegria, finalmente o verei pessoalmente. — Mamãe era para você
estar feliz! Não entendo... por que ficou triste? — falo olhando-a sem
entender.
Ela fita papai intensamente e volta a me olhar.
— É que, quando o vejo, me lembro... recordo dos pais de
Malone, querida, e sinto muita falta deles... recordo-me de outras
coisas que não vem ao caso agora.
Sorrio e beijo sua bochecha rosada.
— Os pais do senhor Malone estão bem, mamãe, você
mesmo disse que eram pessoas boas, então estão bem, em umlugar de paz. E do senhor Malone, cuidaremos tão bem quanto
pudermos, por que ele sempre foi muito bom conosco, não é?
Ela sorri e me abraça.
— Filha, seu coração é tão bom e puro... não tem nada de
sua mãe — fala e empalidece.
— Minha mãe? Vocês a conheceram? — pergunto curiosa, já
perguntei muitas vezes, mas sempre desviam a conversa, e agora
sei que não será diferente.
— Sim, mas foi por pouco tempo. Não vale a pena nem
lembrar. Ela foi uma alma ruim, filha. Morreu. — Me puxa para a
cozinha. — Vem, vamos fazer coisas gostosas para esperar o
Malone — diz com voz baixa.
Tento perguntar mais sobre a mulher que me pariu. Agora
descobri que foi má, ao menos tenho essa informação. Meus pais
sempre desconversam e resolvo mais uma vez deixar para lá. Na
verdade, tenho pouco interesse em saber sobre a vida dessa
mulher. Sinto no fundo do coração que, se explorasse esse assunto
mais a fundo, sairia muito machucada.
Então me concentrei em fazer pães, bolos e biscoitos com
mamãe, para receber o senhor Malone.
Claro que estava ansiosa para conhecê-lo pessoalmente.
 
***
 
Terminamos tarde, subo cansada e tomo um longo banho.
Visto meu pijama confortável e vou para a biblioteca. Será que
perderei esse privilégio quando o senhor Malone chegar? Claro que
a preferência é dele, pois ele é o dono.
Vou aproveitar muito hoje e se ele gostar tanto desse lugar
como eu, pego os livros quando ele não estiver aqui e leio em meu
quarto. Já aproveito e pego logo uns três exemplares e deixo
separado.
Fico na biblioteca até tarde, quando termino de atualizar um
site, já estou com muito sono.
Levanto-me, pego meu notebook e os livros que separei e
vou para o meu quarto.
Caio na cama e apago. Sonho com o senhor Malone.
 
Estou em uma orgia de um conhecido meu. Ele adora dar
esse tipo de festa.
Depois da conversa que tive com dona Nadir, dizendo que no
dia seguinte estaria chegando, resolvi aceitar o convite dele para
suas festas regadas a orgias.
Participava de todas. Eu era figurinha carimbada em orgias.
Esse era um dos caminhos de fuga da realidade que me
assombrava, que achei e me afundei nele.
Estou sentado em uma poltrona nu, já comi várias aqui hoje.
Vejo as mulheres caminharem nuas, como se desfilassem, se
exibindo com orgulho. Olho para os lados e vejo casais trepando
sem parar. Pessoas bêbadas e algumas cheirando.
Realmente eu estou no fundo do poço. Por um segundo,
meus olhos ardem, mas balanço a cabeça e me levanto.
Puxo uma mulher aleatória que está passando e a jogo no
sofá de quatro. Enfio uma camisinha, já estou duro. Meto sem pedir
permissão e ela adora, pois, geme alto.
Olho para cima e vejo Rafael se aproximar sorrindo. Tira o
pau e enfia na garganta da mulher que estou comendo.
— Já cheirou hoje, Mal? — pergunta para provocar, pois,
sabe que isso é meu limite.
— Já cheirei muitas bocetas hoje, por quê? — debocho,
metendo na mulher que geme alto, pura falsidade, pois a vejo
olhando para o lado e piscando para um homem que come outra
mulher ao meu lado. — Quer ele, sua puta? — Saio de dentro dela e
a jogo para o lado. Pego a ruiva que o outro estava comendo e entro
nela com força.
— Porra, cara, perdi meu boquete! — Rafael reclama de pau
duro.
— Pare de reclamar, porra, olha a boca da ruiva desocupada,
caralho. — Meto com força e raiva. Sou meio bipolar em certos
momentos. Agarro o cabelo da ruiva e ajeito seu rosto para facilitar
para Rafael, que enfia até o fundo de sua garganta. Ela tosse e
geme ao mesmo tempo. Sorrimos. Olho para a outra mulher que
partilhávamos, ela nem se levanta, empina a bunda e o homem que
estava dentro da ruiva mete com força. Ambos gemem. Olho para
Rafael e sorrio.
— Somos todos uns putos pervertidos! — falo e sincronizo
com Rafael, comemos a ruiva e gozamos todos ao mesmo tempo.
A empurro e saio quase correndo como se fosse perseguido
por um bando de assassinos.
Rafael vira a mulher com brusquidão comendo-a por trás
agora. “Esse cara nunca se cansa?”, penso desgostoso, como se eu
fosse diferente.
Subo e vou para o quarto que fico aqui sempre que venho.
Tiro a camisinha cheia e jogo no lixo. Tomo um banho demorado e
fecho os olhos pensando que amanhã, uma hora dessas, já estarei
de cara com meu passado.
Paloma Rossi, a filha da assassina de meus pais e amigo.
Vou te conhecer, menina, e ver se tem a mesma alma podre de
mãe.
Deus a livre e proteja se você tiver. Meus dois lados ficarão
em pé de guerra. Anjo bom contra Anjo mau, qual vencerá?
Quando saio da casa de Rafael, a orgia rola solta. Saio me
desviando dos casais que parecem bichos no cio. Será que fico
assim? Claro que fica, seu imbecil.
Sinto meu estômago dar um nó e saio de lá quase correndo.
Chego em casa e vou direto para o meu quarto. Uma mansão
que me perco nela. Somente eu e as pessoas que a mantêm. Pobre
homem milionário. Anjo Malone.
Um silêncio absurdo reina aqui. Odeio isso. Quando era mais
jovem, cheio de sonhos, almejava um lar, uma família, como meus
pais. Isso foi antes da desgraça se abater em minha vida em forma
de mulher. Mara foi a destruição encarnada, que veio ao mundo
somente para me foder. A amaldiçoada me tirou tudo que mais
amava, deixou somente um homem quebrado, aleijado e com
traumas severos. Um homem que vivia com ajuda de calmantes e
remédios contra ansiedade.
Um homem que era acometido de crises de choro e gritos
durante a noite. Esse é o legado da desgraçada. Sempre repito para
mim mesmo que faria diferente, que a entregaria para a polícia, mas
em outros momentos rejubilo com tudo que fiz a ela e estremeço de
prazer. Sou uma confusão há mais de duas décadas. Será que
algum dia, conseguirei sair dessa vida maldita em que estou atolado
até a alma? Sinto-me sufocar mais e mais a cada dia que passa.
 
***
 
Horas depois dentro de um avião, desembarco, cansado e
irritado. Deixei tudo nas mãos dos meus homens de confiança. São
uma equipe de 10 no total, escolhidos a dedo por mim, todos
absolutamente de confiança, trabalharam com meu pai desde a
fundação da primeira empresa. Um deles irá liderar tudo, esse
começou a trabalhar com papai quando ainda eram solteiros.
Quando preciso me ausentar, os deixo cuidando de tudo sem
preocupação alguma. Somente deixo instruções de me chamarem
em caso de extrema necessidade. Sempre faço ao menos uma
reunião por semana, virtual.
Já fiz isso vezes sem conta. Caminho para o carro que me
espera. Tudo acertado por minha secretária. Minhas malas com
roupas e pertences pessoais serão enviadas depois. Trouxe
somente o básico. Odeio carregar malas.
Pretendo ficar ao menos uns seis meses, ordens médicas e
pretendo seguir à risca, senão ficarei louco, não sei o que é dormir
há dias. Nem tomando os remédios. Eles parecem não funcionar
mais.
Às vezes, penso em fazer merda, não vejo motivo algum em
viver, mas volto ao meu terapeuta e saio de lá mais animado, assim
tem sido minha vida, nessas últimas duas décadas.
O motorista abre a porta e entro. Saímos do aeroporto em
direção ao meu passado. Meus olhos brilham de ódio. Porra!
Fecho os olhos e deito a cabeça no encosto do banco.
 
 
Hoje nos levantamos mais cedo, eu quebrada, porque fui
dormir tarde ontem. Fiquei pensando no senhor Malone, consegui
dormir quase ao amanhecer. Estava nervosa e na expectativa.
Sempre quis conhecê-lo pessoalmente e hoje realizaria esse desejo.
Ajudei meus pais a arrumarem tudo para aguardar a chegada
do senhor Malone.
— Mamãe, vou na outra casa buscar umas flores, para
colocar nos vasos, vai que o senhor Malone aprecia flores.
Ela me olha com carinho.
— Sim, meu amor, quem não gosta de flores?
Caminho até ela e a beijo.
Saio feliz demais, e atravesso a ponte que me leva até a
antiga casa que morávamos.
Sempre venho aqui nesse rio e fico horas sentada somente
observando, parece que tenho uma conexão estranha com ele.
Sinto algo inquietante aqui, que não sei definir bem. Por isso nunca
quis aprender a nadar... apesar de meus pais insistirem.
Gosto muito de parar no meio da ponte curvada, e olhar a
água deslizando suavemente.

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