Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Copyright 2021 © Mari Mendes Diagramação: Matheus e Mari Mendes Capa: Capista: Horus editorial Imagem capa: Oto Winkler @lifestyle_photography_eu (Unsplash) Primeira Revisão: Carla Fernanda Segunda Revisão: Marcia Condor Revisão Final: Mari e Matheus Mendes 1ª Edição Brasil, 2021 Todos os direitos reservados todos. Proibido a reprodução total ou parcial desta obra, sem a autorização expressa do autor. Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, artigo 184. “Violar direitos autorais, pode acarretar pena de 3 (três) meses a 1 (um) ano ou multa.” Plágio é crime! Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. “LIVRO REGISTRADO NA AVCTORIS” Hoje, Sugar Dark. No passado, Anjo Malone. Ele foi criado para ser bom, para acreditar na bondade das pessoas, amá-las e respeitá-las. Até que uma traição o quebrou de todas as formas possíveis. No processo, ele perdeu seu coração e a fé na raça humana. Hoje, ele tem um objetivo claro e simples: vingar-se de quem o destruiu, mas com requintes de crueldade. Agora não tem mais um coração e sim um poço negro onde arde o desejo de vingança regado a ódio puro. Ele leva a cabo sua vingança e o sabor é doce como mel..., mas as consequências são mais amargas que fel. ... minha pombinha. Nesse livro vocês acompanharão o quanto um homem pode suportar na vida..., mas verão que tem determinadas coisas que jamais são superadas, amenizadas sim, mas esquecidas? Impossível! Venham conhecer e se emocionar com o casal, Anjo e Paloma. Uma luz que se apagou com a maldade humana, e uma que brilha com intensidade, apesar da maldade humana. Se acomodem, preparem os petiscos, um lencinho e venham atravessar o mesmo caminho trilhado por Anjo e Pombinha. Com carinho, Mari Mendes — Meu Deus! Você está bem? — Tento passar a mão em seu rosto, mas não alcanço. Ele percebe e me ergue pela cintura. — Não... nunca estou bem, nunca tenho paz. Sou na verdade, um produto destruído do passado, que vive um presente de merda. — Baixa a cabeça e me beija com vontade. Enlaço minhas pernas em sua cintura musculosa e ele me devora. Morde meus lábios e pescoço. — Você é tão perfeita, querida. Não te mereço. Um dia irá me odiar. — Chupa minha orelha e volta a me beijar. Beija-me tanto, que quando termina estamos sem ar. — Nunca irei odiá-lo... — Ele me olha fixamente e vejo lágrimas nos olhos do homem que parece um tanque de guerra fisicamente, mas o interior é tão frágil, tão quebrado. — Meu Deus... vamos logo para o alto dessa porra de ponte. — Caminha comigo agarrada a ele como um polvo. Adoro. Beijo seu pescoço grosso e tatuado. Ele geme. — Eu sinto tanto... tanto por tudo... me perdoe. — Tira minhas mãos de seu pescoço e me coloca no chão suavemente. Olhamos para rio, que está agitado, mas as águas são cristalinas. Pega-me pela cintura e sorrio para ele. — Eu te amo. — digo e ele fecha os olhos me atirando na água. — Hora de aprender a nadar... — Olho para ele incrédula, quando não sinto o chão aos meus pés e vejo a água se aproximando. Meus olhos ardem e choro. — Anjo! — O vejo me olhando até as águas geladas me abraçarem, engolindo-me... Agradeço sempre a Deus em primeiro lugar, por me permitir fazer o que, no fundo do coração já sabia amar, escrever. Obrigada, querido Deus por tudo, por ter me escolhido, por ter me capacitado e por colocar pessoas abençoadas em minha vida. Amo você Matheus, meu maior incentivador. Espero de coração que apreciem, e uma boa leitura! Aviso: Esse livro contém cenas pesadas e podem despertar gatilhos emocionais. Aconselhável a leitura para maiores de 18 anos. Capítulo 01 Capítulo 02 Capítulo 03 Capítulo 04 Capítulo 05 Capítulo 06 Capítulo 07 Capítulo 08 Capítulo 09 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 Capítulo 23 Capítulo 24 Capítulo 25 Capítulo 26 Capítulo 27 Capítulo 28 Capítulo 29 Capítulo 30 Capítulo 31 Capítulo 32 Capítulo 33 Capítulo 34 Capítulo 35 Capítulo 36 Capítulo 37 Capítulo 38 Capítulo 39 Capítulo 40 Epílogo Bônus Extra Prosinha Final Outras Obras Vinte anos atrás... Estou voltando de uma viagem que fiz, fiquei duas semanas em outro estado, resolvendo um pequeno desvio a princípio, mas quando começamos a averiguar mais a fundo, vimos um rombo gigante. Esses furtos, aparentemente pequenos, eram feitos há anos. Deu trabalho, mas descobrimos para onde estavam sendo contrabandeados grande parte dos produtos. Infelizmente não chegamos ao líder, para meu desgosto ele conseguiu se safar. Demiti os que estavam envolvidos e os deixei nas mãos dos meus advogados. Contratamos detetives para descobrirem quem era o líder da quadrilha. Deixei bem claro que queria todos trabalhando sem descanso até encontrar o maldito traidor. Trabalhamos com produtos de beleza para pessoas de classe alta. Nossos artigos, são uma das marcas mais caras do mercado e, mesmo assim, somos líder de vendas. São de altíssima qualidade e somente modelos belíssimas e famosas promovem nossa marca. Por isso tentam contrabandeá-los de toda forma... e muitos conseguem, como é o caso do desvio que está sendo feito há anos. Volto a pensar em quem poderia ser o cabeça da quadrilha. Meus advogados e eu acreditamos que pode ser alguém próximo ou mesmo um funcionário, quem sabe? Infelizmente, não temos uma única pista. Todos os que estavam envolvidos eram laranjas[1]. Isso tudo que estava vivendo era novo para mim... administrar empresas tão grandes como a nossa era uma tarefa assustadora para um jovem de apenas 20 anos. Ainda mais eu, que fui criado acreditando que as pessoas eram boas... Meus pais, me ensinaram isso. Penso que pecaram aí... Meus olhos ardem quando me lembro deles. Os amava demais, eles eram o amor encarnado. Mas agora que se foram, eu tinha que aprender a ser mais rigoroso, frio e rígido. Meu coração era muito mole, infelizmente pagaria um preço alto demais por ser assim, em um futuro bem próximo... *** Estava cansado e angustiado com tudo que me aconteceu tão recentemente... às vezes, pensava em fazer alguma merda. Grandes responsabilidades para um homem tão jovem como eu, me deixava em pânico e à mercê de pessoas maliciosas. Comecei a ver coisas que nunca imaginei que existissem: ganância, traições, roubos, avareza, inveja e manipulações. Esse era o mundo que eu estava entrando. Tudo novo para mim e muito decepcionante... meus pais sempre me protegeram dessa imundície que estava vendo agora. Penso com desgosto. Eles me tratavam com tanto amor, que para mim todos eram perfeitos. Até a porra de meu nome... merda! É motivo de chacota por todo lado que vou e me recuso a usá-lo. Sendo assim uso A. Malone, ou como prefiro que me chamem, Malone. Somente meus pais tinham o direito de usá-lo. Eles morreram há pouco mais de um ano e está sendo difícil lidar com tantos problemas em nossas empresas. Estava na faculdade quando faleceram em um acidente, vivendo sem compromissos mais sérios quando tudo isso aconteceu. Tive que dar uma volta em minha vida de 180 graus. Fui obrigado a assumir tudo e lidar com pessoas experientes em maldades. Estou ficando igual eles, penso com desgosto, até me envolvi com Mara, minha secretária. A mulher era uma explosão na cama e me agarrou pelo pau sem nenhuma dúvida. Além de me orientar com o conhecimento que tinha, ela era secretária de papai e por ser sempre tão solícita, permaneceu. Juntei o útil ao prazeroso. Me orientava em minha entrada no mundo dos negócios e ainda trepávamos. Pacote completo, pensei com arrogância na época. Mal sabia eu a desgraça que estava prestes a acontecer e que mudaria minha vida para sempre... *** Gerson, meu motorista, me aguarda. Saímos do aeroporto e peço para irmos direto para casa de minha amante. Mara me aguarda e estou ansioso para vê-la; apesar deser mais de vinte anos mais velha que eu, a mulher me deixa louco. Sua experiência e a disponibilidade em ser aberta a tantas coisas novas na área sexual e na vida me faz mantê-la como amante, ainda que tenha outras. Ela sabe e me assegurou que não se importa. Claro que o tempo que fiquei fora, me esbaldei em uma chuva de bocetas. Estava com os hormônios à flor da pele, 20 anos... porra! Idade que a cabeça de baixo comanda a de cima, ou não? Vi muitos senhores, se esbaldando nas casas de shows de luxo que íamos quase todas as noites. Sorrio de asco desses homens, a grande maioria casados. Eu era um dos poucos solteiros lá. Suas senhoras em casa, cuidando de seus filhos e eles comendo outras. Não estou sendo hipócrita aqui, somente dizendo que acho um absurdo, traição. Tenho 20 anos e casos. Nada fixo. Eu sou livre, mas se um dia me casar, ou firmar algum compromisso sério com alguém serei fiel e exigirei o mesmo. Odeio traições. Odeio mentiras. Odeio falsidades e manipulações. Simplesmente odeio. Meus pais me criaram para viver com princípios, claro que os teria em minha vida. *** Quando estamos atravessando a rodovia, uma chuvinha fina começa a cair. Fecho os olhos e encosto a cabeça no banco, vejo meu motorista atento. O conheço desde pequeno, ele é um homem de inteira confiança e pouca conversa. — Como estão as coisas por aqui, Gerson? — pergunto e vejo meu celular tremular ao meu lado. Olho... É Mara. Ignoro. — Tudo tranquilo, meu filho, exceto a louca de sua amante. — Ele tem liberdade para falar comigo informalmente, afinal me viu crescer. — O que ela aprontou dessa vez? — indago, vendo o celular brilhar novamente. Às vezes me questiono se vale mesmo a pena ficar com uma mulher somente por sua boceta... — Trata todos como lixo, Malone, porque é amante do chefe, grita isso diariamente. — Fecho os olhos com um longo suspiro. Já falei para Mara que o fato de sermos amantes, não lhe o direito de maltratar ninguém, mas parece que ela resolveu se rebelar. Tenho que cortar as asas dela, mas não quero ofender e magoá-la no processo. Sou assim mesmo, acredito que é o maldito nome que me faz ser assim... Caralho! Terei uma conversa séria com ela e se não começar a se comportar, terminarei nosso caso. Ponto. — Vou resolver isso, Gerson, pode ficar tranquilo. Ele sorri aliviado, ela deve tê-lo maltratado de alguma forma. Mulher Infeliz. *** Estou tão cansado que começo a cochilar e vejo a noite chegando, as luzes se acendendo... A chuva aumenta lá fora e já tenho mais de vinte ligações de Mara. Isso sem contar as mensagens, perguntando sem parar se está tudo bem... insistência do caralho! Estava até com vontade de comê-la, mas depois do que Gerson me disse, brochei. Odeia pessoas soberbas. Acredito que cochilo, quando sou acordado por um grito de pavor e puro desespero de Gerson, abro meus olhos rapidamente, tempo suficiente para vê-lo gritar em terror absoluto. — Os freios não funcionam, meu filho, abaixe-se! — Ouço o barulho de vidros quebrados e o mundo girar, conforme o carro capota várias vezes. Vou encontrar meus pais mais cedo do que pensei. Não vejo mais nada... tudo fica escuro e silencioso. *** Ouço barulhos abafados, pelo cheiro deve ser um hospital, parece que estou mergulhado em uma bolha de plástico, o som chega abafado e longe. Estou em um hospital mesmo ou morri? Não! Estou vivo, porque sinto tanta dor em meu corpo que peço a morte. Dói até minha alma. Tento me mexer, impossível... Sinto tanta agonia que não consigo nem gemer. Por que estou paralisado? Não consigo abrir os olhos, parecem colados; tento mexer a boca, nada; mas posso ouvir tudo e isso é bom, eu acho. Forço minha memória e relembro tudo que aconteceu. As imagens do acidente pipocam em minha mente. Estremeço, entro em pânico quando me lembro de Gerson... como ele estará? Será que está bem? O que aconteceu com os freios? Gerson sempre é muito cuidadoso com tudo e... Ouço a voz de Mara e apuro os ouvidos. Tento mais uma vez abrir os olhos e perguntar sobre Gerson, mas não consigo, tento chamá-la, mas a voz não sai. Parece que estou morto... caralho, será que morri e não aceitei deixar esse plano? Ouço Mara arrastar uma cadeira e se sentar ao meu lado. Pega minha mão e finalmente me sinto acolhido. Sou um homem de toque, mamãe e papai nunca esconderam de ninguém o quanto me amavam. Eles me ensinaram a apreciar o toque humano, o calor, os mini abraços que são dados quando entrelaçamos nossas mãos. Mara me dá esse pequeno abraço, quando interliga nossas mãos e sinto suas unhas afiadas cutucarem meus dedos. Estranho, onde está aquele calor que sinto quanto toco as pessoas? Estou sentindo um tremor ruim aqui e seus dedos são gelados... como nunca percebi esse pequeno detalhe que aprendi ser tão importante, durante minha criação? Gelo e confirmo minhas suspeitas quando sua voz gelada se faz ouvir... a essência da maldade... Meu corpo inútil quer correr, mas infelizmente ele está morto para o mundo. Penso que é exatamente por isso que estou ouvindo esse lado podre e nojento dessa mulher... um lado que não conhecia. — Muito bem! Quem temos aqui em um hospital? O filhinho amado do papai? Aquele que acredita que o mundo é uma grande bolha azul, com fadinhas voando para todo lado e realizando desejos? — Aperta minha mão com tanta força que os dedos que já estão quebrados estalam, fazendo um barulho bizarro. A dor é tanta que acho que saio de minha consciência por alguns minutos. Ouço sua voz longe, mas não entendo mais nada. Acho que fico inconsciente bastante tempo, pois quando volto a ouvir sons, só ouço o bipe das máquinas conectadas a mim. Apago novamente. *** Sinto uma dor aguda em minhas pernas e tento fugir, me mexer, sair desse tormento, mas é inútil. — Tenho péssimas notícias, anjinho, acredito que você nunca sairá do coma... que tristeza, não é? — Mara! Desgraçada, vou matar esse demônio, juro que vou. Agora a dor excruciante é em meu braço direito. Mas não consigo me mexer. — Infelizmente, estou consternada com meu namorado, amante, em coma... choro de tristeza diariamente... — Finca suas unhas gigantes em meus braços inúteis. — Oportunidade perfeita para fazer grandes desvios... quem você pensa que é a cabeça dos desvios milionários, bebê? — Leva minha mão à sua boca e beija o dedo quebrado, apertando-o com força. — Isso, meu anjinho, eu mesmo, sua amante burra... você não tem noção da quantidade de dinheiro que consegui ao longo de meu tempo nas empresas Malone. Queria seu pai, mas o imbecil tinha a loucura de ser fiel à sonsa de sua mãe. Tentei de tudo, mas o palerma não me quis. Então tinha que me vingar dele e comecei a desviar pequenas quantias até desviar grandes sem medo. Ele estava ocupado brincando de família. A sonsa e o filho anjinho... — Passa o dedo em minha barriga. — O pai eu não consegui, tinha mais caráter e força de vontade, mas o trouxa do filho foi fácil... — meu estômago retorce, porque sei que o pior está por vir. — Estou te falando tudo isso, porque sei que vegetará na cama o resto da vida e se por um milagre sair desse coma, não se lembrará de nada. Contar como eu manipulei essa família de merda, me enche de prazer e satisfação. Vi que venci no final! — Empurra uma mão em minhas costelas sem cuidado algum, a dor é tão forte que tento gritar, mas nada acontece. — Oh, meu Deus! Perdão, anjinho, te machuquei... — cada palavra que esse demônio fala, mata um pouco da bondade dentro de mim. — Pois muito bem, tem mais novidades, doce anjinho... — debocha. — O acidente dos velhos, quem planejou cada detalhe? Mara! A mulher que você come desde que voltou do enterro... — Gargalha com demência. Estremeço, minha alma chora e grita. Meus pais foram assassinados por esse demônio... Ela ri baixinho em êxtase, se sair vivo daqui ela me pagará com a vida... com muita tortura... Esse ser abominável irá desejar a morte e não darei a ela esse livramento... juro a mim mesmo. Externamente não tenho nenhuma reação, isso é bom, assim ela me diztudo com mais liberdade. Por dentro, choro e sangro a perda de meus pais, um casal que era só amor. — Bebê, cuidei de cada detalhezinho para livrar à terra daqueles vermes imundos, que cagava arco-íris — fala e arrasta a cadeira para mais perto. — Infelizmente, Gerson estava no caminho e pagou com a vida. — Estremeço de dor, mais uma vida ceifada por essa desgraça de pessoa. — Você, meu anjo? Era para ter morrido, não ele. Gerson era somente um velho metido a protetor. Mas se fodeu! Disse-lhe para não ir e deixar outro motorista te buscar, mas não! O protetor tinha que ir, se fodeu! Morreu! — gargalha. Não tem ninguém nessa porra de hospital para prender esse cão sarnento? A demente continua soltando veneno pela boca imunda. — Quem tinha que morrer está aqui vivo, mas com a mentalidade de um brócolis. No final foi ainda melhor! Você não imagina a alegria de te ver aqui, imóvel, quebrado e sem memória... caralho, acho que posso até gozar vendo você morto e imóvel nessa cama... meu pequeno brócolis... não, melhor couve-flor, que me lembra branco, pureza, anjo... — provoca, tento me mover para matá-la agora, mas sei que continuo estático. Choro por dentro… velo o corpo do que foi o Anjo Malone... Ela sabe que odeio que me chamem de Anjo, usou meu nome com deboche e ainda no diminutivo. Desgraçada, reza e muito, porque se sair daqui com vida, te farei viver o inferno aqui na terra, antes de ir para o real. Hoje, aqui e agora, nasce um novo homem. O Anjo bom morreu e ressuscitou como Mal... ou Anjo Mal, como quiserem... e jamais aceitarei ser julgado. Essa mulher me destruiu, e vai pagar com sangue, cada minuto de sua maldita vida. Eu Malone juro por minha vida... Anjo Mal. Ela solta a bomba que me fará ser o homem que viverá para executar essa vingança que enche minha boca inútil de água. Ela me deu a chave... o motivo certo e justo, viverei para isso, juro a mim mesmo. — E sabe o melhor, anjinho, você vai ser pai... mentira! — debocha, apertando minha mão inteira, acho que agora ela quebrou meus dedos novamente, ouço estalos e desmaio, mas não sem antes ouvir o que me motivou a sair desse coma maldito com ganância e propósito. — Na verdade, não sei quem é o pai, mas escolhi um brócolis, para ser o pai adotivo da criança, que será meu passaporte final para o grande golpe nas empresas Malone. Quem questionará a paternidade? Como duvidar do pai em coma, vegetando e da pobre secretária que continua fiel ao homem que caga nas calças, ou melhor, fraldas? — debocha com tanta malícia que sinto o ambiente pesado. — Parabéns, papai... — Cospe em mim. — Agora vou representar o papel de amante boazinha. Não se preocupe, alface, virei vê-lo todos os dias... — ri baixinho com deboche e maldade. — Até breve salada de verduras! Sorrio internamente, de puro ódio quando a porta bate. A escuridão enche minha alma, com sede de vingança, sangue e justiça. Três meses depois... Ouço um berro e abro meus olhos. Viro a cabeça e vejo uma Mara cheia de cólera e ódio. — Como assim acordou do coma? Vocês disseram que ele iria viver como um pedaço de carne o resto da vida! — grita com fúria, a grande maldita. A médica a olha sem entender, qualquer mulher ficaria feliz com a volta de seu suposto parceiro do mundo dos mortos. Mas não esse demônio à minha frente... agora a conheço realmente e me lembro com perfeição de cada palavra que essa desgraçada me disse. Sinto as lágrimas correrem... ela matou meus pais, Gerson, tentou me assassinar e roubou por anos nossas empresas. A médica volta e fecho os olhos rapidamente. — Ele está adormecido, está fraco... — murmura e sai, ainda sem entender a louca ao meu lado. Foda-se, essa mulher! Se quiser que meu plano dê certo, terei que fazê-la acreditar que não me lembro de nada e é exatamente o que farei. Tenho uma missão nesse mundo fodido. — Mara... amor... — murmuro, ela me fita com os olhos arregalados. — Malone, querido... — corre para o meu lado e beija meu rosto. — Como ansiei por esse momento, meu amor... — fala com lágrimas nos olhos. Quem é esse ser execrável à minha frente? Gente, isso não é! Muito menos animal... seria uma ofensa compará-lo aos bichinhos que são tão amorosos e inocentes. — Voltei... e não tem preço ver a mulher de minha vida me esperando ansiosa. — Ela sorri largamente, vejo alívio em seus olhos. Acredita que não me lembro de nada. Vejo a altivez e confiança voltando ao seu rosto e junto com isso a arrogância. — Sim! Você não se lembra de nada, Malone? — Por segundos, vejo uma ponta de receio em seus olhos, mas desaparece rapidamente. Sorrio com carinho, por dentro quero vê-la sangrar até morrer. — Sim, me lembro do quanto a amo... Ela sorri com soberba. — Sim, na verdade, você é louco por mim. Prometeu que iríamos nos casar, meu amor... principalmente depois que soube que carrego seu filho... — fala sorrindo com confiança. — Sim, amor, filho... — Estremeço por dentro... vou matá-la devagar, quero saborear cada minuto, sua desgraçada. — Vou cuidar de você, meu amor, com todo carinho do mundo, aliás nós dois, eu e nosso filho... — vomita essa merda. O ódio me faz ver vermelho por instantes, na verdade, iria matar ela e o feto maldito. Mas pensando bem, teria e queria tempo para elaborar algo mais articulado... — Sim, querida, juro que cuidarei de vocês dois, com cuidado e zelo. Terei bastante tempo para isso... — faço a bizarra promessa e sorrio de puro ódio. Mas ela é tão burra e está tão centrada em si mesma que não percebe nada. *** Recebo alta, dois meses depois e estou pronto para ir para a casa. Claro que com uma junta médica me acompanhando. Fisioterapeutas e uma imensa parafernália que os médicos exigiram para me liberar. O demônio não queria, talvez para tentar me matar mais uma vez... o que a maldita não sabia é que agora estava preparado. Convido Mara para morar comigo em minha cobertura. A mulher quase surta. Primeiro passo do plano: trazer o inimigo para perto. Sorrio com o espírito negro, corrompido por ódio e vingança. Assim vamos para casa e os meses passam, a barriga de Mara se distende... tenho que me controlar para não matar às duas. Agora sei que será uma menina. Caminho com passos lentos, mas já ando sozinho. Meus ossos religaram. Os dedos das mãos ficaram tortos e vou mancar o resto de minha vida. Arrastarei uma perna, as cicatrizes nelas e em meus braços seriam eternas. Marcas que me lembrarão sempre que tenho que matar essa assassina de maneira requintada, nada de uma morte normal. Ao longo dos anos seguintes, cobri todas as cicatrizes com tattoo e meu corpo virou um mosaico de pinturas, o acidente me machucou demais... *** Hoje quero dar o segundo e mais importante passo para minha nova vida: viver para vingar... meu lema. Chego arrastando uma perna, essa ainda dói muito e o médico disse que com o tempo a dor atenuaria, mas sempre que a forçasse demais doeria. Não consigo correr mais. Tudo isso culpa dessa maldita que está sorrindo largamente à minha frente, com uma barriga, imensa, fruto de alguma trepada aleatória por aí. A desgraçada nem sabe quem é o pai dessa coisa que carrega. Olho para esse lixo de mulher e digo mansamente. — Querida, estava pensando... vamos para uma casa que tenho no interior, até nossa filha nascer. Depois poderemos nos casar no mesmo dia que a batizarmos. O que acha? Estou precisando descansar... os últimos meses não foram fáceis para nós... — Ela se levanta e arrasta sua barriga asquerosa, acariciando-a. — Eu e nossa filha, iríamos adorar querido. Olho com desgosto para esse monstro à minha frente. — Então vou marcar o dia e iremos, vocês vão adorar... e eu ainda mais... — Depois de meses estou dizendo a mais pura e genuína verdade... eu iria adorar... *** No dia seguinte, informo na matriz Malone que iremos ficar de férias por um tempo e deixo tudo nas mãos do vice-presidente, o homem que meu pai me disse que poderia confiar minha vida. Vou tranquilo e preparado para fazer o que tem que ser feito. Mara passa a viagem toda reclamando.Prometi a ela que no dia do parto, teria médicos capacitados e todo equipamento necessário para trazer a bebê ao mundo. Ela acreditou. Sorrio com pura maldade. Chegamos, e ela surta, a casa imensa é linda, rodeada de árvores gigantes, cobertas de barba de velho[2]. — Malone, nunca me disse que tinha uma mansão dessa! — grita com os olhos cheios de cobiça. — Me perdoe, querida... — Dizer a você, verme imundo? Para que iria te contar o que tenho, se é apenas uma rameira assassina? Não tenho mais coração, somente um pedaço de pedra no lugar. Alma? Também não... somente esse desejo insano de matar as malditas com requintes de crueldade. — Vem, querida, vou te mostrar sua nova residência... quero dizer nossa. — Ela está tão centrada na ganância que não percebe meu pequeno deslize, na verdade, proposital. Já me sinto no controle e quem comanda o jogo, agora sou eu. Seja muito bem-vinda ao inferno, maldita assassina. Tenho todas as provas do mundo de suas maldades... e se precisar usá-las algum dia as usarei sem hesitar, desgraçada, mas creio que não precisará. Tenho coisas melhores em mente. A noite cobre à terra com sua negritude, assim como minha vida está coberta há muito tempo por essa escuridão tão conhecida e espessa. Passado... Estou passando em revista como sempre faço, gosto de olhar como estão os pacientes, antes de ir embora. Uma mania que tenho ou um compromisso com os que não tem condições de agir ou reagir. Aqui nesse hospital me preocupo menos com isso... porque é de alto padrão. Mas veja bem, injustiças e covardias acontecem em todos os lugares. Já presenciei coisas tenebrosas e macabras em hospitais. Considero-me um justiceiro, espero que nunca descubram o que faço, ocultamente, mas que já livrou tantas pessoas até mesmo da morte. Já presenciei filhos desligando aparelhos que mantinham os pais vivos, pais fazendo o mesmo, esposas... maridos... todos que tinham o dever cuidar e zelar de quem está internado e indefeso, fazerem totalmente o contrário. Isso foi gerando dentro de mim uma revolta tão grande que tive que fazer algo a respeito. Claro que teve o começo de tudo isso, o grande estopim... Aqui estou eu novamente em uma noite fria, fazendo a averiguação noturna... o horário que os covardes mais atacam, infelizmente. Aproveitam os horários que todos estão cansados e dão vazão a maldade que habitam seus corações. Paro em frente a um quarto, aqui fica um jovem milionário. Sofreu um acidente e vi uma mulher estranha entrar em seu quarto, o que me deixou alarmado. Vi maldade em cada gesto seu... por isso passei a acompanhar de perto esse paciente, sabia que ela tentaria algo. Nunca me enganava. Conferi se as câmeras estavam bem instaladas, e estava tudo perfeitamente funcionando. Todos os quartos tinham, alto padrão, lembram? Câmeras de alta tecnologia. Claro que tinha que ser o melhor, a diária cobrada nesse quarto era peso em ouro. Aqui somente milionários tinham acesso. Sorrio de ranço ao ver a mulher entrar e fechar a porta. Vou para a sala onde os quartos são monitorados. Tenho amizade com o senhor que cuida da manutenção e com os seguranças que monitoram tudo. Tomo meu café conversando com eles observando atentamente, vejo a mulher arrastar uma cadeira e se sentar ao lado do paciente em coma. Vejo ela o agredir dissimuladamente... eu sabia! Observo que ela o aperta com maldade, cutuca em lugares lesados... esse é o pior tipo... matam sem dó. Vejo que fala muito e sua expressão de ódio e deboche são notórias. Preciso dar um jeito e ajudar esse jovem. Saio da sala e ando apressadamente para o quarto dele... entro por uma porta lateral. Aqui posso ouvi-la com perfeição. Maldita! Mais uma vida salva, graças a Deus! Justiceiro ataca, sorrio com tristeza... quantas pessoas não morrem assim? Aperto o play de meu celular e gravo tudo que essa mulher renascida dos infernos diz... Confesso que estou arrepiado, aterrorizado e enojado. Nunca vi tanta maldade junto em uma única pessoa... essa coisa aí dentro é um demônio... Quando ela termina sua devastação com o pobre jovem, sinto lágrimas descerem por meu rosto. Salvo as monstruosidades que ela disse e vou para casa satisfeito. Mais um monstro pego em sua própria ganância. *** Meses depois... Vou à casa de Malone, consigo entrar fácil... Afinal, faço parte da equipe de médicos. O chamo em particular, conto tudo a ele, que me ouve atentamente. Olha-me no fundo dos olhos e diz com sinceridade na voz que será eternamente grato por tanta generosidade. Ele me diz que, quando já acreditava que o ser humano não valia nada, eu surjo e balanço sua nova crença. Pergunta meu nome e digo-lhe, que pode me chamar apenas de justiceiro. — Terei uma dívida eterna com você, justiceiro. Se um dia precisar, não hesite em me procurar. Você me mostrou que a raça humana ainda não está totalmente perdida... — fala com voz grossa e aperta minha mão com força. Promete-me e reforça mais uma vez que, se precisar de qualquer coisa, é somente procurá-lo. Vejo incredulidade em seus olhos mortos. Olhos apagados por decepções imensuráveis. O entendo... Entrego a gravação, vou embora com a sensação de dever cumprido e mais uma vida salva. Tanto naquele dia que ela o ameaçou, quanto no futuro, porque agora o jovem Malone tem provas contra essa mulher, que a colocará na cadeia para sempre. Mas algo em seus olhos, uma escuridão regada a ódio, me diz que ele tinha outros planos para ela. Confesso que seria melhor ela ir para a prisão perpétua, porque o olhar que vi no rosto de Malone me deixou arrepiado e aterrorizado. Mas isso não me cabe mais, minha parte eu fiz, agora é com ele... E assim saio da vida do jovem milionário Malone... para reencontrá-lo, mais de duas décadas depois em uma situação completamente inusitada e inacreditável... Levo uma Mara sorridente para o quarto principal da casa, claro que ela adora. Ela me olha sedutora e me causa asco, esse ser é doente mental. — Malone, hoje finalmente vamos trepar? — pergunta e lambe os lábios com a mesma vulgaridade que via antes, mas achava atraente. Paguei um médico para confirmar o que havia dito a essa assassina: que eu não tinha condições de trepar tão cedo. Assim o demônio em forma humana me deixou em paz. Agora vem com essa conversa maldita mais uma vez? — Você sabe que estou tendo problemas, devido à quantidade de remédios e medicamentos que estou tomando. — Me masturbo no banheiro todos os dias, prefiro cortar meu pau fora a me enfiar nessa imunda novamente. — Mas aqui você descansará, e assim diminuirá as doses absurdas de remédios que toma... Ela pensa que ainda tomo grandes doses de remédios, tudo combinado com um médico conhecido. Claro que ainda tomo remédios para ansiedade, depressão e para dormir, mas agora menos do que antes. Tomo muito remédio para a dor, minha perna dói demais, tem dias que dá vontade de arrancá-la fora. Culpa dessa maldita desgraçada! Tudo devido a maldade desse demônio que sorri ao meu lado. Minha vontade é dar um murro grande nessa boca de merda, quebrando assim todos os seus dentes. Tudo isso somente na porrada, mas terei paciência, o que farei com calma será ainda melhor. — Com certeza, descansarei e aproveitarei muito, ou melhor, aproveitaremos, você terá tudo que merece... — falo sombriamente, ela sorri largamente. Mulher estúpida e ridícula. Caminha para onde estou, arrastando sua barriga imensa. Tenho pena dessa criança que já vai nascer condenada, filha dessa maldita assassina. Arrasta a unha gigante em meu peito coberto por uma camisa branca de linho. — Sinto falta do seu pau, Malone. Desde que, teve o acidente nunca mais ficamos juntos... — Tenta me beijar e me afasto, meu estômago retorce de nojo. — Vou descer, o casal que cuida da casa está lá embaixo me aguardando. Eles cuidarão de você e da bebê... — falo e ela fecha a cara. — Quero pessoas especiais para cuidar de nossa filha. Não uma velha caduca e caseira, sem instrução nenhuma — fala já tirando a roupa. Meu Deus, sua barriga éimensa! Parece que vai explodir. É normal isso? Como essa criança passará por sua vagina? Sorrio com maldade. Terá que sair. Desço a escada e encontro o casal me aguardando. Quando me veem se levantam. Os chamo para o escritório e passo as próximas horas conversando com eles, sei que são de confiança e conto tudo que aconteceu. Eles choram e isso me quebra ainda mais. — Como pode existir pessoas assim, meu filho? — dona Nadir fala e limpa as lágrimas. Seu Carlos tem os olhos vermelhos. — Me sinto destruído com tudo que essa mulher fez... essa assassina! — falo sentindo o ódio me tomar por completo, passo a mão na mesa e jogo tudo no chão. O casal Rossi se levanta e vêm me abraçar. — Não fique assim, meu filho. Sei que a sua dor não tem limites, mas você já tem um plano em mente com a mãe assassina e não pense em momento algum que o julgaremos — Seu Carlos fala e sua voz endurece. — Sei o que é lidar com pessoas como essa mulher. Fui policial mais de 30 anos de minha vida. Lidei e vi tantas bizarrices, que pensei que nada mais me surpreenderia. Mas aqui está o filho de uma das pessoas mais honestas e íntegras que conheci, me dizendo que estou errado. Esse monstro que está lá em cima, é uma aberração. Estaremos aqui por você, filho, sem nunca condenar ou julgá-lo. Mas a menina não tem culpa, pense nisso — fala e me olha nos olhos, vejo que posso contar com eles, precisarei muito do apoio de ambos. Claro que não digo que quero me vingar das duas, eles já estão protegendo a cria do demônio antes de nascer... não gostei disso, mas deixo para lá por enquanto. — Obrigado — digo com ranço dessa cria maldita, que já tem defensores. Eles concordam e fico mais aliviado por saber que não estou sozinho, ao menos até descobrirem o que farei. Depois que vão embora, subo e vou para o meu quarto. Quando chego, vejo Mara dormindo nua, e se essa não é a visão do inferno, nada mais será. Mulher grávida é linda, mas nessa mulher a feiura vem de dentro. Saber que ela matou meus pais, seu Gerson e queria matar a mim, me faz vê-la como um ser asqueroso, a mais vil e feia das criaturas. Tomo banho e saio. Desço para a sala e espero amanhecer, pensando, planejando e chegando aos detalhes finais. Agora é só esperar a maldita começar o trabalho de parto. Sorrio mais uma vez, aí começará minha vingança. Uma semana depois... O casal Rossi chega cedo todos os dias e deixam tudo pronto, à tarde eles voltam para a sua casa, que fica depois do rio que temos aqui. A infeliz os trata como lixo, mas pedi a eles para terem paciência somente mais um pouco, depois eu cuidaria de tudo. *** Seu Carlos e dona Nadir foram embora e estou aqui na cozinha jantando, quando ouço um berro. Sorrio. Começou. — Malone, vem aqui agora! — berra a aloprada. — Liga agora para a equipe médica e veja o porquê estão demorando tanto a chegar! Malditos infelizes! — Mara grita ofegante, está sentindo dores desde cedo. Disse-lhe que os médicos estavam a caminho. Uma porra que estão! Ela começará a sentir um pouco da dor que sinto começando com esse parto maldito. Continuo jantando como se fosse um nada que estivesse gritando aos berros de dor. Termino tranquilamente, enquanto os gritos aumentam. Ela se arrasta do quarto e grita no alto da escada. — Liga novamente, seu palerma. Estou sentindo dores que vem direto do inferno — fala e se curva. Vejo sua barriga torcendo, uma coisa bizarra de se ver. — Volte para o quarto, em breve subirei, Mara — falo com frieza. A satisfação me toma por inteiro e sinto o sabor da vingança se espalhando pelo meu corpo. Esperei tanto tempo por isso. Vou ao escritório e pego um celular do cofre. Volto e vejo que a infeliz não aquentou ficar me esperando, a dor deve estar forte. Entro no quarto e a vejo deitada, pálida e suando demais. — Filho da puta! Aaaaaaaaaai! — Curva e geme em agonia. — Liga... liga para eles! Caralho, essa porra dói demais — fala e se contorce, coisa sinistra de se ver. — Mara, preciso te mostrar algo — digo e me sento em uma poltrona vermelha, cruzo a perna e pego o celular. — Preste muita atenção. — Ela me olha com ódio. — Enfia esse telefone no rabo, maldito, não está vendo que estou parindo essa porra? — soluça de dor e vejo lágrimas descendo e isso é um deleite para mim. — Cale a porra de boca e ouça! — falo com gelo na voz e ela me olha assustada. Aperto o play e sua voz nojenta enche o quarto. — Muito bem! Quem temos aqui em um hospital? O filhinho amado do papai? Aquele que acredita que o mundo é uma grande bolha azul com fadinhas voando para todo lado e realizando desejos? O cão sarnento em minha cama abre tanto os olhos, que parece que saltarão para fora. Sua palidez chega a um nível de total esverdeamento. Ela tenta se levantar e uma dor forte a faz gemer alto e se deitar novamente. Sua voz fodida saindo do celular, continua a cravar facas na falsidade desse lixo em minha cama, a sujando e poluindo. — Tenho péssimas notícias, anjinho, acho que você nunca sairá do coma. Que tristeza, não é? Ela fecha os olhos e seu corpo treme ao ouvir cada palavra que disse a mim, naquele dia, quando pensou que nunca mais acordaria, ou se eu acordasse não me lembraria de nada. Continuo encarando-a com frieza e asco. — Tem algo mais a acrescentar, maldita dos infernos? — falo com calma colérica. Ela tenta se levantar e correr, mas é acometida de outra dor forte. Ela geme e se curva. — É mentira, caralho! Porra, que dor. Não fui eu que disse essas coisas horríveis, foi armação. Isso foi armação. — Consegue chegar até onde estou e tenta pegar em mim. Agora que chegou o momento que estava aguardando com ansiedade, esse demônio nunca mais encosta um dedo em mim. — Não. Encosta. Em. Mim, sua rameira assassina! Ela começa a chorar e se curva novamente. Geme alto. — Malone, me ajuda... dói demais — fala baixinho e chorando. Sorrio. — Não. — Nego baixinho e com um sorriso maligno. — Nunca vi um parto antes, quero ver o seu, será um show ao vivo. — Volto e me sento na cadeira. — Continua o show, vagabunda, põe essa cria maldita para fora, sua imunda. — Sorrio de prazer. Ela geme e chora ao mesmo tempo. — Uma senhora de mais de 40 anos era para trepar com camisinha... ainda mais tão promíscua. Uma hora, com certeza algum garanhão, iria engravidá-la. Ela tenta gritar e vir até mim. Está irada. — Maldito! Desgraçado, foi tudo um plano para foder com minha vida? — Sorrio. — Até que enfim a secretária burra conseguiu pensar — debocho e ela grita. Fico irado, quem ela pensa que é para gritar? — Mais um grito e amarro sua boca pestilenta. — Ela me olha com ódio e grita novamente. Vejo tudo vermelho, me levanto irado, procuro algo para calar a boca desse verme imundo e não encontro nada. Olho para o meu pé e arranco minha meia e caminho colérico até ela. A pego pelos cabelos e jogo na cama. Amarro sua boca, enquanto ela tenta lutar e me atingir de alguma forma. — Só não te enfio a mão na cara, desgraçada, porque está embuchada, e não cheguei em seu nível ainda... miserável. Mas chegarei lá, pode apostar! — A empurro com força e ela geme. Sento-me na cadeira e acompanho com prazer o tormento da mulher que matou meus pais e meu motorista. Horas depois, ela continua gemendo, agora com mais força. Vejo sangue saindo do meio de suas pernas. — Maldito — murmura sem força. — Vou te matar. — Estarei esperando, víbora, mas agora bem preparado. Ela dá um grito horripilante e chora. Me levanto com cara de tédio. — Me cansei, está demorando demais a botar essa cria maldita para fora. Vou dormir, amanhã volto. — Ela grita. Sorrio com maldade. — Já ia me esquecendo de avisar. — Debocho com ódio no coração. — As janelas tem grades. Mas e a porta? Hum... somente usando senha ou minhas digitais... então não tem para onde fugir, assassina! — gargalho de puro ódio e saio. Ouço seus gritos desesperados, até cair no sono. Depois de tanto tempo, tenho um sono sem pesadelos. Estou no último quarto do corredor, quero distância desse demônio. Acordo com gritos de desesperoe dor. Sorrio de felicidade, isso é somente o começo das dores. Tomo um banho demorado, aproveito enquanto os gemidos da infeliz ecoam na casa, regando o prazer de minha vingança. Desço e tomo meu café em paz, feliz como não me sentia há muito tempo. Saio e ando ao redor do casarão com calma e satisfação. Lembro-me da época que vim aqui em minha adolescência, amava subir nas árvores e nadar no rio que tem aqui perto. Adorava ir à casa dos Rossi, eles sempre me enchiam de comidas gostosas. Volto ao presente e vejo as árvores balançarem suavemente suas folhas verdes com uma brisa suave. Suspiro e fecho os olhos. Meus pais amavam esse lugar. Eu estou começando a odiá-lo. Hoje liguei para o casal Rossi, avisando que não precisavam vir trabalhar. Quero apreciar o show sozinho. Deixaram tudo pronto ontem. Já está na hora do almoço, entro preparo tudo com calma e como, ouvindo com prazer os gritos alucinados da maldita. Depois de escovar os dentes, vou para o quarto da megera, que está rouca de tanto gritar. Um bálsamo para meus ouvidos. Ele geme baixinho, está muito rouca. Será que a cria ainda não nasceu? Sorrio, coisa boa que fique na barriga da maldita bastante tempo e morra às duas. O ódio e dor me enche o peito. Abro a porta e vejo-a na cama, acabada, destruída e ainda com o barrigão. — Caralho, emperrou? — debocho e ela me olha com ódio mortal. — Vou matá-lo. Não consegui da primeira vez, mas não falharei na segunda, desgraçado — geme com cólera, mas não pode fazer muita coisa, o barrigão não deixa. Finalmente a desgraçada confessou o que já sabia. — Deixa de moleza, mulher, defeca logo pela vagina. Põe essa merda que carrega para fora. Aí veremos o que faremos com essa cria imunda. — Ela mostra os dentes. — Você, seu verme, vai ficar longe da menina. Desgraçado — ela diz e curva novamente a dor a fez mijar. — O banheiro é logo ali. Como assim? Fazendo xixi na cama, porca inútil! — falo com ironia e raiva ao mesmo tempo. Ela vai me afrontar quando uma nova onda de dor a faz curvar. — Você defecou? — pergunto incrédulo, quando a vejo encher a cama. Que nojo! — Maldito! Maldito! — fala e curva novamente, gemendo alto. — Vai tomar um banho, pedaço de merda! — falo com ira e nojo dessa assassina. Ela cospe e isso me ira. A pego e a arrasto pelo cabelo jogando debaixo do chuveiro. Abro e a água gelada cai nessa mulher, que anseio matar. Ela grita e se encolhe. Sorrio de prazer maligno. — Deixa de ser mole, sua vaca. Suas antepassadas passaram pior situação e olha que não eram miseráveis e assassinas como você — falo devagar e apreciando a dor desse verme. — Eu odeio você — geme tão baixo que quase não ouço. — Deve odiar mesmo, para assassinar meus pais, meu motorista e tentar me matar, só pode ser muito ódio. Mas tenho uma novidade para você, assassina, eu te odeio mais, na verdade, tenho sede de seu sangue. — Sorrio com tanta maldade que até eu fico surpreso. Realmente o Anjo morreu, essa desgraça o matou e fez nascer o Mal, porque estou sentindo tanto prazer em ver essa mulher sofrendo que estou em êxtase. A maldade me domina. — Vou limpar seu chiqueiro, enquanto limpa a bunda — cantarolo e saio do quarto. Torço o nariz ao ver a nojeira que está em sua cama. Enrolo tudo e jogo em um canto. Vai ficar sem forro, para aprender. Volto ao banheiro e vejo que ela tenta se lavar com dificuldade. — Acabou seu tempo. — Ela me olha incrédula. A arrasto pelo cabelo e a jogo no colchão sem lençol. Ela continua o festival de gemidos. Sento-me na cadeira e fico observando com prazer sua dor. — Caralho, emperrou mesmo! Nem a cria maldita quer conhecer o demônio que a gerou e abrigou durante nove meses — debocho. Ela não responde, suas torções estão mais constantes. Vejo ela gemer, morder a mão e o sangue descer. Porra, deve doer pra caralho! Sorrio, se for um terço da dor que senti, a puta está sofrendo horrores. As horas passam e nada da mulher parir. Parece que encalhou mesmo. — Me cansei, você está fazendo charminho, só pode. Piranha charmosa. Cansei desse festival de gemidos, agora só volto nesse chiqueiro, quando ouvir o choro dessa coisa que carrega. Ponha logo esse pedaço de carne para fora, assassina! — Ela me olha sem forças até para falar. Isso, vadia, sinta um décimo do que senti, quando me disse aquelas coisas que acabaram com minha vida. Saio de lá com a maldita chorando em agonia e gemendo baixinho sem forças. *** Um dia depois... A mulher continua a berrar. Puta merda, que demora é essa? Será que ela vai morrer antes de completar minha vingança? À noite, resolvo ir ao quarto novamente e, quando entro, a vejo deitada e pálida na cama. — Morreu, sua infeliz? — Ela me fita com os olhos mortiços, mas coléricos. Ela não responde mais, as pernas estão abertas e sua boceta sangrando. Uma cena de terror. Ela geme rouca e contorce. Vejo sua boceta alargando e uma cabeça apontando. Coloco a mão na boca e meu estômago retorce. Ela empurra quase sem forças, estremeço. Ando rápido e me sento na poltrona, a cena é feia e chega a ser doentia de se ver. Meu Deus! A partir de hoje serei mais solidário com mulheres, claro que será com as que não assassinam pessoas inocentes. Ela geme alto e a cabeça sai. Puta merda. Vai rasgar sua boceta e ânus. Faz mais força, em meio aos gritos e gemidos, os ombros saem, junto com sangue e um monte de água. Ela grita e a menina sai de uma vez. Levanto-me e saio correndo daquele lugar. Chamo Nadir e digo que nasceu. Ela sobe com uma bacia de água. Uma hora depois retorna com a menina embrulhada em uma manta rosa, a cria que nasceu da maldita assassina. — E a vadia? — pergunto com asco da menina. — Desmaiada na cama — fala e olha para a menina. — Anjo, a menina é linda. — Olho com ira para ela. — Não me chame por essa porra de nome nunca mais! — falo com tanta frieza e cólera que ela me olha assustada. — Perdoa, meu filho, não direi mais. Como quer que o chame? — Segura a bebê com carinho. — Mal — digo com frieza. Ela me olha assustada. — Quer ver a bebê? — pergunta me olhando fixamente. — Não. Já sabe o que tem que fazer... — saio da sala e vou para a biblioteca. — Sim, Mal, sei o que temos que fazer, o que nos disse para fazer... — ouço seu sussurro e a vejo saindo com a cria da imunda que está no quarto desmaiada, segundo Nadir. Em breve, subirei. Não tenho paz vendo o casal Rossi sair com a cria imunda. Vou atrás, sem que eles percebam é claro, é mais forte que eu. No dia seguinte, pego o que resta da desgraçada que matou tantas pessoas e a levo para o porão que temos nesse casarão, que virou sinônimo de inferno para mim, lugar maldito. Biblioteca. Entramos por uma parede falsa que papai fez aqui. Uma imensa biblioteca disfarça bem o porão que tem logo atrás. Ali ele ficava quando queria se isolar de tudo e todos. Era confortável, tinha poltronas macias e tapetes felpudos, na época de minha infância. Mas mandei tirar o que ainda restava de confortável nesse lugar, deixei somente um cobertor e balde para a infeliz. A água descia por uma torneira enferrujada. Pois, tinha muitos anos que não vínhamos aqui e esse lugar acabou sendo esquecido. Mas eu me lembrei bem dele, quando planejei a vingança contra essa mulher vil e cruel. *** Ela chorava e gritava. Mas nada disse me comoveu. Perguntava sem parar se tinha matado a menina. Somente sorria e saía do porão. Meu prazer era deixá-la na dúvida. Cortei a luz também. Fiquei aqui no casarão quase um ano e todos os tipos de torturas que pude aprender, pratiquei na assassina de meus pais. Ao final de um ano, ela estava quebrada e uma casca do que foi. Mas eu sempre tinha o cuidado de não matá-la, a queria sofrendo e não morta, pelo menos por um tempo. Eu era seu carrasco e algoz, quando pegava muito pesado, cuidava das mazelas da infeliz, afinal a queria viva... Iria voltar para a minha vida agora, meus pais e Gerson estavam vingados. Agora faltava vingar por mim, afinal a maldita quase me matou, mas a minha vingança iria demorar umas duas décadaspara acontecer. — Vou deixar uma corda aqui, assassina. Quando quiser usar, fique à vontade. Nos faz um favor? Nos livre de sua presença, a humanidade agradece. Ela não diz nada, está completamente quebrada. Eu a deixo no porão, costumo largá-la por dias sem comida. Mas não ao ponto de morrer, aprendi todos os tipos de torturas sem ter que matar a pessoa. A satisfação enche meu corpo, como é doce a vingança. Às vezes ela grita de fome, muitas vezes de sede, quando fecho o registro. Outras de dor devido às torturas que pratiquei e aprimorei nela. Sorrio com maldade. Às vezes, me desconheço. Em que me transformei? Monstro? Demônio? Balanço a cabeça com raiva. Jogo esses pensamentos no inferno e volto com força maior para torturar a mulher que destruiu minha vida, de meus pais e de Gerson. Isso é o que sei sobre ela, mas deve ter feito muito mais merdas. Resolvo ir embora desse inferno, já estou satisfeito, a mulher virou um bagaço e pagou com juros tudo que fez, mas ainda tenho algo preparado para a assassina maldita. Já mandei providenciar. *** No dia seguinte, pego um saco de farinha com dez quilos e jogo no porão. — Dá para viver uns seis meses se souber regrar. Não pode comer muito, porque, senão, adivinha? Ficará sem alimento. Água tem à vontade na torneira, mas não beba demais, porque estarei ausente por um tempo. Balde cheio de suas imundícies, sem trocar pode feder muito e dar bichos — falo com ruindade e maldade exalando por minha boca, ela se arrasta e me olha suplicante. — Não me deixe aqui sozinha, por favor. — Olho com desprezo para esse ser asqueroso e rastejante a minha frente. — Volto em seis meses para renovar sua ração, cadela! — falo e cuspo no chão, coberto de sangue dela. Nosso festival de torturas, marcando o chão com bizarrice. Adoro esses momentos! — Nãoooooooooo! Não me deixe aqui sozinha! Eu te suplico! — grita e chora aos berros. Ignoro e saio, aqui nesse inferno somente eu abro e tenho acesso. Ninguém conhece esse lugar, é acústico, ela pode gritar até estourar a garganta. Saio e empurro a estante de livros, voilà. Tudo limpo e lindo. Biblioteca perfeita e com centenas de livros; exemplares raríssimos. Sorrio de crueldade. Pego minha mala e volto para a minha vida, agora um homem com o coração quebrado e destruído por uma mulher gananciosa que matou três pessoas: meus pais, que amava com tudo de mim; e seu Gerson, que eu admirava e gostava demais. Mas a maldita não contava que a quarta pessoa, eu no caso, que queria matar se safaria e voltaria para se vingar. Malone missão cumprida com a assassina de seus pais e amigo. Mas, antes de ir embora, vou à casa do casal Rossi reforçar a conversa que tivemos há um tempo atrás. Estou sentado aqui em minha biblioteca, me recordo bem do dia que o casal Rossi saiu daqui com a cria da imunda, recém- nascida. Quando eles saíram com a menina, sabia que não fariam o que mandei. Então, pensei bem e resolvi mudar meus planos. Saí logo atrás deles e os segui, não deixei que me vissem. Eles pararam perto do rio e olharam um para o outro. Falaram alguma coisa e seguiram, eu sabia! Mas foi ótimo mudarem de ideia quanto ao que mandei fazerem, porque eu mesmo havia mudado. Os segui apenas para constatar o que já sabia. Na verdade, tenho outros planos para a menina, que não envolve morte por enquanto. Sorrio de satisfação e vou para a casa dos Rossi, sem que eles percebam. Vejo a alegria com que olham para a recém-nascida. Espero eles entrarem e dou um tempo, entro quando a menina está chorando aos berros. Quando eles me veem, ficam surpresos. Sorrio de lado. A senhora Nadir fica pálida e seu marido também. Sabem que quebraram uma ordem expressa minha: matar a menina, atirando-a no rio. Meu estômago embrulha quando penso que poderiam ter feito isso, acho que foi por isso que os segui. Essa ideia de matar uma inocente me incomodou e vi que esse não era eu. Me senti mal somente por pensar em jogá-la no rio. Se, porventura, a tivessem jogado, com certeza eu pularia e a pegaria. Matar um inocente. Porra! — Mal! Achei que tinha ido embora. — Fala e passo por eles os ignorando, vou em direção aos berros da menina. Chego na porta do quarto e um rolinho rosa se mexe na cama. A coisa chora tanto, que meus ouvidos ardem. Olho para trás e os vejo horrorizados, pálidos e suando muito. Nadir cai de joelhos e implora pela vida da cria da assassina. — Por favor, Anjo, eu te suplico. Não tive coragem de matar a bebê como nos instruiu. Não a machuque, é um anjinho inocente — fala aos prantos e seu marido também está acabado, vejo angústia em sua posição derrotada. — Por que concordaram então, quando sugeri que a matassem? — pergunto com frieza. Quero saber a resposta vinda da boca deles. — Porque assim poderíamos salvá-la — fala entre soluços. — Mas você se arrependeu, não é? Olha, você está aqui... — fala se arrastando até onde está a menina pegando-a, como se fosse protegê-la de mim se quisesse realmente matá-la. — Levante-se, Nadir, não quero matá-la e me tornar um assassino como a desgraçada da mãe — peço, ela se levanta receosa. Caminho para onde está e puxo o cobertor que envolve a menina. Ela escolhe exatamente esse momento para me olhar e fico impactado com a cor de seus olhos — azuis, muito azuis — e os fiapos de cabelos que tem são loiros. Quem será o pai dessa menina? Nunca saberá, pobre criança, sua genitora dava para qualquer um sem o mínimo de precaução. Ainda bem que, mesmo com apenas vinte anos, eu tive juízo e encapava meu pau toda vez que trepava com a meretriz. Essa não tem nada da genitora: Mara é morena de olhos pretos e malignos como as trevas. Saio rápido de perto da menina. Ela me causou sentimentos bons... esses que matei. Anjo está morto. Mal que vive agora. Eles me observam calados e ansiosos, vejo medo em seus olhos pela vida da menina. — Decidi deixá-la viver, tenho outros planos. Cuidem dela, vou mandar dinheiro mensal para pagá-los e para as necessidades da menina — falo, mas no momento minha vontade é pegar essa cria maldita e jogá-la eu mesmo no rio. Sentimentos contraditórios me tomam, mas me controlo. Voltarei e terminarei o que já está em andamento. Esse pensamento me acalma e me dá força para recomeçar minha vida. Uma que foi destruída de todas as formas possíveis. Mais uma vez, Nadir Rossi cai de joelhos e me agradece. — Obrigada, meu filho, seus pais estão com certeza orgulhosos de você. Mal, você fez a melhor escolha do mundo, ao não agir como a mãe desse pequeno anjo. — Vejo-a beijar a cabeça minúscula da maldita cria. — Bom... peço a vocês que mantenham o casarão sempre limpo e cuidado, como sempre fizeram. Podem deixar a menina ficar à vontade lá e não pensem nunca em fugir, porque eu os acharei. A menina pertence a esse lugar e a mim. — Sorrio com maldade, vejo eles empalidecerem. — Adeus e um dia voltarei, com toda certeza do mundo. — Me viro e saio da vida deles, voltaria seis meses depois para renovar a ração da assassina, isto é, se ela não morresse antes. Depois do suicídio daquele demônio pestilento, se passaram mais de duas décadas sem eu voltar a esse lugar maldito. Só não estava preparado para o que aconteceria em um futuro muito, muito distante, nem em sonhos... Hoje mamãe e papai estão limpando o casarão e estou ajudando-os. Fiz faculdade on-line, os ajudo em tudo que posso. Na verdade, o senhor Malone pediu para eles se mudarem para o casarão há mais de cinco anos. Disse que era bobagem ficar mantendo às duas casas. Era trabalhoso para meus pais velhinhos, disse também que eu tinha que estudar. Minha admiração por ele só cresceu. Morando aqui, confesso que ficou mais fácil, pois manter às duas casas e os jardins de ambas, não era tarefa fácil para nós. O senhor Malone, ainda mantêm a casa antiga, uma vez por mês, vem alguém limpar. Ele nos liberou de limpá-la. Olho meus pais, sorrindo e fazendo almoço. Eles são perfeitos juntos. Cheguei na vida deles, quando já tinha mais de 50 anos e hoje eles têm mais de 73. Eles são descendentesde italianos, meus pais amados combinam tanto, que até a idade deles é a mesma. Olho para eles com ternura. Adorava vir aqui no casarão e passar horas na biblioteca do senhor Malone. Pulei de alegria quando nos mudamos para cá. Além da biblioteca maravilhosa, a casa era linda, cercada de árvores choronas que contornavam o lago artificial que a família Malone mandou fazer. Hoje, se você quer me achar procure-me na biblioteca. Adoro esse lugar. Grande, arejado, as estantes chegam ao teto e estão abarrotadas de toda categoria de obras literárias. A imensa mesa me faz lembrar do senhor Malone. O sofá é gigante e macio, tudo aqui é grande. Mas tem que ser, sempre vejo ele na internet, cercado por belíssimas mulheres. Sinto um calor percorrer meu corpo todas às vezes. Ele é um homem gigante e tem cabelos longos. Anjo Malone tem uma cara de mal tão grande, que dá medo somente de olhar. Se não o conhecesse e soubesse de seu coração de ouro, correria dele quilômetros sem olhar para trás. Seus olhos cinza gelo, são quase brancos e seu semblante carregado põe medo em qualquer um, que não o conheça como eu e meus pais. Tenho muita vontade conhecê-lo pessoalmente, mamãe diz que ele é um bom homem, aliás ela nem precisa falar. O que ele fez e faz por mim e meus pais, somente um homem de bom coração faria. Tem uma foto dele em sua biblioteca, mas está com minha idade nessa foto, bem jovem, deve ter uns 20 poucos anos. Mamãe diz que ele ainda é um belo homem. Tadinha, não sabe que já o vi várias vezes na internet. Aliás, o rastreio sem vergonha alguma. Sorrio. Ele nunca quis falar comigo, somente com meus pais e confesso que isso me magoou, pois, o admirava demais por toda sua generosidade. Tinha também um sentimento estranho no peito. Ele me atraía de uma maneira confusa. Mas sempre que o olhava, via um belo homem e não nosso senhorio. — Mamãe, quando o senhor Malone virá passear aqui? Nunca veio, estranho, não é? — falo sem entender como um homem não visita uma casa tão linda como essa. Mamãe fica pálida. — Filha, ele é muito ocupado. Não sei se algum dia virá. É melhor que não — sussurra a frase final baixinho. Na verdade, não entendo porque nunca veio aqui. Fico curiosa, claro, porém não pergunto nada. Eles são muito reservados em relação ao senhor Malone. Papai a puxa e cochicha algo em seu ouvido. — Vem, Paloma, vamos jantar, filha — ele desconversa e me puxa com suavidade. — Vamos sim, mas antes vou tomar um banho, não demoro nada, prometo! — Eles sorriem. Meus pais dormem no único quarto que tem no andar de baixo. Não gostam de subir escadas. Meu quarto fica perto da suíte principal da casa. Onde um dia foi o quarto do casal Malone, segundo mamãe. Subo as escadas correndo. Entro no banheiro e me olho no espelho sorrindo. Vejo uma mulher feliz, com imensos olhos azuis, contornados por um tom de azulado quase preto. Meus pais dizem que nunca viram olhos mais lindos que os meus. Fico envaidecida. Meus cabelos loiros são longos e brilhantes. Meu orgulho. Meu nariz pequeno e arrebitado é pontilhado de sardas. Não sinto falta de cidade, já fomos em várias aqui perto, mas anseio sempre voltar para a paz que temos nesse lugar. Me acostumei a viver aqui, tudo tranquilo, sem trânsito, excesso de pessoas, somente eu e meus pais. Sonho em conhecer meu protetor, o senhor Anjo Malone, mamãe disse que ele odeia que o chamem pelo nome, Anjo. Meu anjo protetor. Sorrio e às duas covinhas se acentuam em minhas bochechas. Vou para o banho feliz com a vida que tenho e com às três pessoas que me protegeram: mamãe, papai e Anjo. Uma vez questionei-lhes, poque ele era tão bom para nós, principalmente para mim. Me olharam receosos, mas logo em seguida sorriram largamente. Disseram que Anjo, tinha herdado o coração bondoso dos pais, que os ajudaram muito quando eles precisaram, os acomodando no casarão e dando serviço a eles. Anjo resolveu ajudá-los a criar a filha que adotaram... claro que sei que aí tem coisa! Quando pergunto algo sobre a mulher que me gerou, meus pais desconversam, não insisto porque não quero saber da mulher que não me quis por algum motivo. Um dia descubro, sei esperar, mamãe sempre diz que sou a mãe da paciência. Para alguma coisa me tirar do sério tem que ser algo extraordinário, ou mexer muito comigo, do contrário, fico tranquila. Sorrio feliz com tanto altruísmo por parte de meus pais e do senhor Malone. Essas mais de duas longas décadas me transformaram em um homem completamente duro e centrado. Mas sempre vazio e triste. Não ajo mais por impulso. Aprendi a ser moderado, analisar, ponderar e agir; e o principal, não confiar em ninguém. Lembro-me do que aconteceu há mais de vinte anos atrás e estremeço. Ainda acordo gritando devido a tudo que passei, e tenho crises de depressão. A maneira como me vinguei da maldita assassina me assombra. Não que eu tenha me arrependido, mas, se fosse hoje, acho que faria diferente. Será? Entregaria para a polícia e com as provas que meu justiceiro me entregou, a maldita mofaria na cadeia. Talvez. Mas creio e sei, bem no fundo de meu coração, que faria tudo exatamente como fiz da primeira vez. *** Seis meses depois voltei ao cárcere da assassina. Ver sua miséria me deixou pensativo se era certo agir da forma como fiz, mas espantei os pensamentos ridículos. Ela mereceu cada segundo de tudo que passou. Essa mulher foi uma desgraça em minha vida e na de pessoas inocentes. Foi pouco o que fiz a ela. Mara estava só pele e ossos, rodeada por bichos. O lugar fedia tanto que vomitei ali mesmo. Sabia com certeza que essa cena degradante jamais sairia de minha cabeça. Quando ela me viu, sorriu com uma maldade tão grande, que parecia um monstro. Seus dentes estavam podres, seus cabelos embolados e sua pele estava preta de sujeira. Meu Deus! — Minha farinha acabou, tive fome e sede, desgraçado. Queria que me visse antes de ir desse inferno para outro. Quero que se lembre de mim, tirando minha vida e sabendo que você me assassinou. — Observo agora que ela está com a corda que deixei pendurada, enrolada em seu pescoço magro e sujo. Ela se levanta com dificuldade e sobe no balde e o chuta. Tudo acontece muito rápido. Ela agita buscando ar, seu rosto fica vermelho até ficar roxo. Ouço um estalo e seus olhos me fixam dessa vez sem vida, embotados, vazios. Fico imóvel. Ela mereceu esse final. A assassina tirou sua própria vida. Seu corpo balança no ar como um mau agouro. Na verdade, eu a matei. Sou tão assassino quanto ela. Deixei a corda amarrada com o nó pronto para se enforcar em uma janela bem alta. Janela não, um cubículo alto. Viro, me agacho e vomito novamente, agora uma água esverdeada. Me tornei um assassino indiretamente, levanto-me e a olho mais uma vez. Saí enojado com tudo que aconteceu, procurei os Rossi, que me ajudaram com a sujeira, mas eu mesmo dei um sumiço no corpo. O enterrei em um lugar de difícil acesso. Coloquei uma pedra grande marcando onde jazia um demônio. Eles acabaram por tornarem-se meus cúmplices. Os joguei em minha vingança. *** Vi a menina de longe, e parecia muito bem cuidada e amada. Meus valores e conceitos, depois de ver o suicídio da mulher que destruiu meu mundo, me fez repensar e tomar algumas ações e atitudes. Olhei a infeliz dentro do buraco que cavei. Resolvi nesse momento deixar a vingança morrer e enterrá-la com a mulher que me fez tanto mal. Jogo a última pá de terra sobre a defunta e sepulto junto com ela o ódio que me tomou por tanto tempo. Não vou estender minha vingança, a menina não tem culpa de nada. Resolvo deixá-la em paz, porque não sei se vê-la me fará ter essa firmeza de que não tem culpa, de que é inocente. Sempre a verei como filha da assassina e isso pode desencadear meu lado sombrio, um que adquiri nesse caminho de angústias, traições e assassinatos. Estou satisfeito em ter acabado com a mulher, não vou negar. Sorrio. — Pai, mãe e seu Gerson, vocês podem descansar em paz. A assassina de vocês partiu para o inferno. Agora poderei viver em paz, eu acho quesim. Meus advogados cuidaram de explicar o sumiço de Mara, que, a uma hora dessas, com certeza ardia no inferno. Eu não quis saber o que fizeram, só sei que deu resultado, pois nunca mais falaram o nome dessa mulher perto de mim ou a associaram comigo. Minha vida nesses longos anos, foi trabalhar feito burro de carga, comer todas as mulheres que desse mole em meu caminho e nunca me envolver, é claro. Elas não são dignas de confiança. Nenhuma. Todas são falsas e traidoras, nunca em meus 43 anos conheci uma mulher que fosse honesta, íntegra e que não fosse interesseira, ao menos ao meu redor. Faço terapia até hoje, acho que foi isso que me fez repensar tudo que fiz. Depois que vi aquela mulher se suicidar, voltei louco, insano. Fui ao médico aconselhado por um funcionário, agradeço a ele até hoje, se não fosse a terapia teria feito merda, com certeza. Foi muita coisa para um jovem de vinte e poucos anos passar. Desenvolvi também um hábito que não me deixou enlouquecer e me ajudou muito com minhas assombrações internas: praticar Rope training[3]. Ficava horas treinando com meu personal trainer[4] em uma academia completa que montei em minha casa, tudo com moderação, devido à minha perna que foi quebrada em vários lugares. Tinha dias que doía tanto, que me dava vontade de arrancá-la. Praticava várias modalidades de exercícios, mas essa era a que mais me satisfazia. Minha perna doente era um empecilho que ignorava a maioria das vezes e pagava um alto preço depois. Tinha noites que não dormia de dor. A adrenalina ia a mil, meu coração disparava e ia ao limite, o que me deixava em êxtase. Além dos vários benefícios do Rope training que meu personal sempre citava[5]. Não é só movimento ondulatório que tem no treino Rope, você ainda pode fazer aquela força para escalar, se pendurar, puxar e se erguer. Fazia tudo, menos escalar. A maldita perna não me permitia fazer coisas mais ousadas. Já participei de vários campeonatos e ganhei alguns, perdi muitos devido à minha perna. Cada vez que olhava as cicatrizes e a perna doente, eu me alegrava que a assassina estivesse ardendo no inferno. Cada lugar que fico, tenho minha corda naval reservada para meus treinos. Não fico sem praticar, virou um hábito. Expandi nossas empresas, hoje sou um dos homens mais ricos do mundo e mais vazios também, ainda que ninguém saiba disso. A vida de glamour que levo, oculta esse meu lado sombrio e solitário. Tatuei meu corpo quase todo e cada tatuagem tem um significado para mim. Deixei meus cabelos crescerem e barba. Claro que cuidava com o máximo zelo deles. Ainda restava um pouco de vaidade nesse senhor aqui. Sorrio sem mostrar os dentes. Usava camisas justas e calças para destacar meus músculos dos braços e pernas. As mulheres me olhavam com luxúria por onde quer que eu passasse, e claro que aproveitava cada oportunidade e traçava todas. Minhas angústias e passado sombrio não afetavam meu desejo e luxúria, pelo contrário, era nessas trepadas que ainda conseguia esquecer, por alguns momentos, a porra do passado que ainda me assombrava. Mas o que mais chamava atenção em mim, segundo essas mesmas mulheres, eram os meus olhos cinza tão claros, que eram quase transparentes. Isso me dava uma aparência sinistra, má e as mulheres adoram um homem mau, bad boy. Mas creio que minha cara de mau colaborava, vivia de cara fechada, não tinha motivo nenhum para sorrir. Então, como elas adoravam dizer, eu era o pacote completo. Ao menos externamente, por dentro era completamente vazio, triste e quebrado. Vivia à base de remédios para depressão, insônia e ansiedade. Mas tirando o abatimento constante, vazio, tristeza, angústia, melancolia e solidão, eu era um sortudo. Tinha dinheiro e mulheres aos montes, segundo a mídia. Evitei ao máximo ir para o casarão, mas chegou o dia que não deu mais. Depois de anos dormindo mal, às vezes passando dias sem dormir, meu terapeuta me aconselhou a tirar um tempo de descanso. Sugeriu que eu confrontasse meu passado, indo para o casarão onde ficava o casal Rossi e a menina. Eu havia dito a ele sobre coisas ruins que passei lá, em várias sessões. Obviamente que não contei o que fiz a ele. Somente coisas leves e que não me comprometeriam. Evitei ao máximo voltar para aquele inferno... a cria da desgraçada vivia lá. Aliás, nunca pergunto sobre ela e nunca tive vontade de vê- la. Receio que a vontade de vingar e fazer merda volte, por isso evito saber sobre ela. Tenho medo de vê-la e acionar velhos gatilhos, que luto contra todos os dias. Por isso me mantive longe por décadas. Mas, para sua infelicidade ou minha, voltarei e veremos o que farei... Ligo para o casal Rossi. Finalmente conhecerei a filha da desgraçada que arde no inferno há mais de 20 anos, mas que ainda me atormenta. Estou na biblioteca, um dos lugares que mais gosto de ficar na casa do senhor Malone. A quantidade de livros que ele tem aqui é imensa. E todo mês chega novos livros. Mamãe contou-lhe que adoro ler. E, como o anjo que é, manda livros novos sem falhar todos os meses, desde que eu tinha 15 anos. Agora tenho um serviço, sorrio satisfeita. Mais ainda ajudo meus pais a manter esse imenso casarão no tempo que sobra de meu trabalho on-line. Trabalho como freelancer[6], faço vários serviços on-line. Agora mesmo estou terminando de montar um site para uma empresa de uniformes. No caso desse site, e de vários outros que já montei, recebo mensalmente o que acordamos, para mantê-los sempre atualizados. Esse tipo de serviço me permite ficar com meus pais e não preciso deixá-los sozinhos. Eles cuidaram de mim, agora cuidarei deles até o dia que Deus permitir que fiquem comigo. Aí verei o que faço. Sou grata a eles e ao senhor Malone, que não gosta que use seu nome, o que, aliás, acho lindo e combina perfeitamente com ele. Anjo, penso sonhadora. Meus pais já estão bem velhinhos e se não os ajudar, eles não dão conta mais. Aproveito que terminamos mais cedo e fico aqui na biblioteca lendo, ou trabalhando em algum site. Estou distraída, atualizando um site, quando ouço o telefone tocando. Aqui ainda tem telefone fixo e deve custar uma fortuna, é uma peça rara da família Malone. Agora me sinto um pouco dona desse lugar maravilhoso, cheios de peças raras. Principalmente da biblioteca imensa. Meus pais brincam comigo e dizem que é a toca da pequena leoa, eu, no caso. Sorrio, sou obrigada a concordar com eles. Se pudesse moraria somente nessa linda e imensa biblioteca. Não vou negar, às vezes durmo no sofá gigante que tem aqui. Ouço a voz de mamãe, saio da biblioteca e olho para ela, que conversa ao telefone com voz baixa. Noto que está agitada e apuro os ouvidos para escutar o que a deixou assim. — Sim. — Ela encosta na mesinha. Vejo-a empalidecer. — Será uma honra recebê-lo, meu filho. — Ela limpa a testa e vejo meu pai entrar e caminhar rápido para o seu lado. Ele percebeu. Fala algo a ela, mamãe acena afirmativamente e vejo meu pai empalidecer também. Fico preocupada e desço. — Amanhã? — Ela olha para cima e me vê descendo as escadas rápido. — Claro, estaremos esperando-o. — Mamãe, está tudo bem? — digo baixinho. Papai coloca a mão em meu ombro e aperta com suavidade. A pessoa do outro lado fala mais um pouco e desliga. Mamãe fica olhando fixamente o telefone e, quando me vê, seus olhos estão marejados. — Mamãe? — A abraço. — O que aconteceu? Ela me abraça forte, trêmula. — O senhor Malone virá para cá amanhã, minha filha — diz e olha para papai. — Mas isso é muito bom! — falo com o coração cheio de alegria, finalmente o verei pessoalmente. — Mamãe era para você estar feliz! Não entendo... por que ficou triste? — falo olhando-a sem entender. Ela fita papai intensamente e volta a me olhar. — É que, quando o vejo, me lembro... recordo dos pais de Malone, querida, e sinto muita falta deles... recordo-me de outras coisas que não vem ao caso agora. Sorrio e beijo sua bochecha rosada. — Os pais do senhor Malone estão bem, mamãe, você mesmo disse que eram pessoas boas, então estão bem, em umlugar de paz. E do senhor Malone, cuidaremos tão bem quanto pudermos, por que ele sempre foi muito bom conosco, não é? Ela sorri e me abraça. — Filha, seu coração é tão bom e puro... não tem nada de sua mãe — fala e empalidece. — Minha mãe? Vocês a conheceram? — pergunto curiosa, já perguntei muitas vezes, mas sempre desviam a conversa, e agora sei que não será diferente. — Sim, mas foi por pouco tempo. Não vale a pena nem lembrar. Ela foi uma alma ruim, filha. Morreu. — Me puxa para a cozinha. — Vem, vamos fazer coisas gostosas para esperar o Malone — diz com voz baixa. Tento perguntar mais sobre a mulher que me pariu. Agora descobri que foi má, ao menos tenho essa informação. Meus pais sempre desconversam e resolvo mais uma vez deixar para lá. Na verdade, tenho pouco interesse em saber sobre a vida dessa mulher. Sinto no fundo do coração que, se explorasse esse assunto mais a fundo, sairia muito machucada. Então me concentrei em fazer pães, bolos e biscoitos com mamãe, para receber o senhor Malone. Claro que estava ansiosa para conhecê-lo pessoalmente. *** Terminamos tarde, subo cansada e tomo um longo banho. Visto meu pijama confortável e vou para a biblioteca. Será que perderei esse privilégio quando o senhor Malone chegar? Claro que a preferência é dele, pois ele é o dono. Vou aproveitar muito hoje e se ele gostar tanto desse lugar como eu, pego os livros quando ele não estiver aqui e leio em meu quarto. Já aproveito e pego logo uns três exemplares e deixo separado. Fico na biblioteca até tarde, quando termino de atualizar um site, já estou com muito sono. Levanto-me, pego meu notebook e os livros que separei e vou para o meu quarto. Caio na cama e apago. Sonho com o senhor Malone. Estou em uma orgia de um conhecido meu. Ele adora dar esse tipo de festa. Depois da conversa que tive com dona Nadir, dizendo que no dia seguinte estaria chegando, resolvi aceitar o convite dele para suas festas regadas a orgias. Participava de todas. Eu era figurinha carimbada em orgias. Esse era um dos caminhos de fuga da realidade que me assombrava, que achei e me afundei nele. Estou sentado em uma poltrona nu, já comi várias aqui hoje. Vejo as mulheres caminharem nuas, como se desfilassem, se exibindo com orgulho. Olho para os lados e vejo casais trepando sem parar. Pessoas bêbadas e algumas cheirando. Realmente eu estou no fundo do poço. Por um segundo, meus olhos ardem, mas balanço a cabeça e me levanto. Puxo uma mulher aleatória que está passando e a jogo no sofá de quatro. Enfio uma camisinha, já estou duro. Meto sem pedir permissão e ela adora, pois, geme alto. Olho para cima e vejo Rafael se aproximar sorrindo. Tira o pau e enfia na garganta da mulher que estou comendo. — Já cheirou hoje, Mal? — pergunta para provocar, pois, sabe que isso é meu limite. — Já cheirei muitas bocetas hoje, por quê? — debocho, metendo na mulher que geme alto, pura falsidade, pois a vejo olhando para o lado e piscando para um homem que come outra mulher ao meu lado. — Quer ele, sua puta? — Saio de dentro dela e a jogo para o lado. Pego a ruiva que o outro estava comendo e entro nela com força. — Porra, cara, perdi meu boquete! — Rafael reclama de pau duro. — Pare de reclamar, porra, olha a boca da ruiva desocupada, caralho. — Meto com força e raiva. Sou meio bipolar em certos momentos. Agarro o cabelo da ruiva e ajeito seu rosto para facilitar para Rafael, que enfia até o fundo de sua garganta. Ela tosse e geme ao mesmo tempo. Sorrimos. Olho para a outra mulher que partilhávamos, ela nem se levanta, empina a bunda e o homem que estava dentro da ruiva mete com força. Ambos gemem. Olho para Rafael e sorrio. — Somos todos uns putos pervertidos! — falo e sincronizo com Rafael, comemos a ruiva e gozamos todos ao mesmo tempo. A empurro e saio quase correndo como se fosse perseguido por um bando de assassinos. Rafael vira a mulher com brusquidão comendo-a por trás agora. “Esse cara nunca se cansa?”, penso desgostoso, como se eu fosse diferente. Subo e vou para o quarto que fico aqui sempre que venho. Tiro a camisinha cheia e jogo no lixo. Tomo um banho demorado e fecho os olhos pensando que amanhã, uma hora dessas, já estarei de cara com meu passado. Paloma Rossi, a filha da assassina de meus pais e amigo. Vou te conhecer, menina, e ver se tem a mesma alma podre de mãe. Deus a livre e proteja se você tiver. Meus dois lados ficarão em pé de guerra. Anjo bom contra Anjo mau, qual vencerá? Quando saio da casa de Rafael, a orgia rola solta. Saio me desviando dos casais que parecem bichos no cio. Será que fico assim? Claro que fica, seu imbecil. Sinto meu estômago dar um nó e saio de lá quase correndo. Chego em casa e vou direto para o meu quarto. Uma mansão que me perco nela. Somente eu e as pessoas que a mantêm. Pobre homem milionário. Anjo Malone. Um silêncio absurdo reina aqui. Odeio isso. Quando era mais jovem, cheio de sonhos, almejava um lar, uma família, como meus pais. Isso foi antes da desgraça se abater em minha vida em forma de mulher. Mara foi a destruição encarnada, que veio ao mundo somente para me foder. A amaldiçoada me tirou tudo que mais amava, deixou somente um homem quebrado, aleijado e com traumas severos. Um homem que vivia com ajuda de calmantes e remédios contra ansiedade. Um homem que era acometido de crises de choro e gritos durante a noite. Esse é o legado da desgraçada. Sempre repito para mim mesmo que faria diferente, que a entregaria para a polícia, mas em outros momentos rejubilo com tudo que fiz a ela e estremeço de prazer. Sou uma confusão há mais de duas décadas. Será que algum dia, conseguirei sair dessa vida maldita em que estou atolado até a alma? Sinto-me sufocar mais e mais a cada dia que passa. *** Horas depois dentro de um avião, desembarco, cansado e irritado. Deixei tudo nas mãos dos meus homens de confiança. São uma equipe de 10 no total, escolhidos a dedo por mim, todos absolutamente de confiança, trabalharam com meu pai desde a fundação da primeira empresa. Um deles irá liderar tudo, esse começou a trabalhar com papai quando ainda eram solteiros. Quando preciso me ausentar, os deixo cuidando de tudo sem preocupação alguma. Somente deixo instruções de me chamarem em caso de extrema necessidade. Sempre faço ao menos uma reunião por semana, virtual. Já fiz isso vezes sem conta. Caminho para o carro que me espera. Tudo acertado por minha secretária. Minhas malas com roupas e pertences pessoais serão enviadas depois. Trouxe somente o básico. Odeio carregar malas. Pretendo ficar ao menos uns seis meses, ordens médicas e pretendo seguir à risca, senão ficarei louco, não sei o que é dormir há dias. Nem tomando os remédios. Eles parecem não funcionar mais. Às vezes, penso em fazer merda, não vejo motivo algum em viver, mas volto ao meu terapeuta e saio de lá mais animado, assim tem sido minha vida, nessas últimas duas décadas. O motorista abre a porta e entro. Saímos do aeroporto em direção ao meu passado. Meus olhos brilham de ódio. Porra! Fecho os olhos e deito a cabeça no encosto do banco. Hoje nos levantamos mais cedo, eu quebrada, porque fui dormir tarde ontem. Fiquei pensando no senhor Malone, consegui dormir quase ao amanhecer. Estava nervosa e na expectativa. Sempre quis conhecê-lo pessoalmente e hoje realizaria esse desejo. Ajudei meus pais a arrumarem tudo para aguardar a chegada do senhor Malone. — Mamãe, vou na outra casa buscar umas flores, para colocar nos vasos, vai que o senhor Malone aprecia flores. Ela me olha com carinho. — Sim, meu amor, quem não gosta de flores? Caminho até ela e a beijo. Saio feliz demais, e atravesso a ponte que me leva até a antiga casa que morávamos. Sempre venho aqui nesse rio e fico horas sentada somente observando, parece que tenho uma conexão estranha com ele. Sinto algo inquietante aqui, que não sei definir bem. Por isso nunca quis aprender a nadar... apesar de meus pais insistirem. Gosto muito de parar no meio da ponte curvada, e olhar a água deslizando suavemente.
Compartilhar