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Apostila Análise_do_Discurso_-_2021 2 (1)

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Prévia do material em texto

Disciplina 
Análise do Discurso 
 
 
Coordenador da Disciplina 
Prof. Nelson Barros da Costa 
 
 
10ª Edição 
 
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, 
transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autore s. 
 
Créditos desta disciplina 
 
Realização 
 
 
Autor 
 
Prof. Nelson Barros da Costa 
 
 
 
Sumário 
 
Aula 01: Caracterização Inicial da Análise do Discurso ....................................................................... 01 
 Introdução .............................................................................................................................................. 01 
 Tópico 01: O que é a Análise do Discurso ............................................................................................ 03 
 Tópico 02: "Análise do Discurso": O que nos diz o Título da Disciplina ............................................. 08 
 Tópico 03: Discurso: Uma Palavra, Dois Conceitos ............................................................................. 15 
 
Aula 02: Contexto e Discurso................................................................................................................... 21 
 Tópico 01: Contexto: Uma Palavra, Múltiplos Sentidos ....................................................................... 21 
 Tópico 02: Materialidade Linguística E Contexto ................................................................................. 25 
 Tópico 03: O ethos................................................................................................................................. 30 
 Tópico 04: Da Cena de Enunciação ....................................................................................................... 35 
 
Aula 03: Contexto Interdiscursivo .......................................................................................................... 42 
 Tópico 01: Polifonia e dialogismo......................................................................................................... 42 
 Tópico 02: Intertextualidade, Interdiscursividade e Metadiscursividade .............................................. 49 
 
Aula 04: Reflexões Discursivas sobre o Ensino do Português .............................................................. 68 
 Tópico 01: O Ensino da Língua enquanto Prática Discursiva ............................................................... 68 
 Tópico 02: Uma Visão Discursiva do Ensino da Língua....................................................................... 74 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Análise do Discurso 
Aula 01: Caracterização Inicial da Análise do Discurso 
Tópico: Introdução
A Análise do Discurso foi fundada nos anos sessenta do século passado, década que ficou na 
história por concentrar acontecimentos de grande relevância para a Humanidade e que levaram a 
transformações políticas e comportamentais decisivas no mundo ocidental.
É na década de 60 que se dá o auge da chamada “guerra fria [1]”, tensão gerada pela disputa de 
hegemonia entre dois grandes blocos mundiais de poder. Também nesse período eclode uma série de 
movimentos de categorias que se sentiam marginalizadas ou oprimidas na sociedade da época. Na 
França, por exemplo, no mês de maio de 1968, ano de fundação da AD, os estudantes confrontaram a 
polícia criando barricadas e verdadeiras trincheiras de guerra nas ruas de Paris.
DOIS GRANDES BLOCOS MUNDIAIS DE PODER
Os países organizados em torno da OTAN e aqueles pertencentes ao Pacto de Varsóvia.
Todo um status quo cultural e social foi questionado: o excessivo disciplinamento das crianças em 
escolas francesas; o lugar inferior da mulher diante do pai, do marido, dos filhos homens; o preconceito e 
a discriminação dos homossexuais, diagnosticados pelos médicos como doentes; o racismo, etc. Alguns 
anos antes, as colônias francesas na África lutavam contra a dominação encontrando grande apoio e 
simpatia nesses movimentos. Esses movimentos se aliaram também aos sindicatos operários e 
intelectuais promovendo grandes manifestações e propagando ideias libertárias em todo o Ocidente que 
inauguraram novas maneiras de pensar as liberdades civis democráticas, os direitos das minorias, a 
igualdade entre homens e mulheres; brancos e negros; heterossexuais e homossexuais; velhos, jovens e 
crianças.
PARADA OBRIGATÓRIA
Sendo assim, nesse momento histórico, a Análise do Discurso nasce sob o signo da polêmica. A 
ideia original é que ela pudesse servir como um instrumento político capaz de desmascarar as 
estratégias de manipulação ocultas por trás dos textos.
Acreditando que a linguagem encobria interesses e ideologias inconfessáveis, a AD é proposta como 
recurso metodológico capaz de por a nu tais interesses e ideologias. Com o tempo, ao se distanciar dessa 
época de grande acirramento ideológico, a AD supera esse finalismo para se tornar, sem perder seu 
caráter crítico, uma reflexão sobre a discursividade e a linguagem que pode, dependendo da perspectiva, 
se apoiar em uma ferramenta metodológica de leitura textual mais ou menos rigorosamente formulada.
1
A história de como a disciplina evoluiu de uma posição que tinha essa meta de modo mais unificado, 
nos anos 60, para se multiplicar, nos dias de hoje, em uma série de propostas diferentes, dentre as quais a 
que apresentamos aqui, está contada em muitos textos, aos quais remetemos o leitor:
LEITURA COMPLEMENTAR
COSTA, Nelson Barros da. “O primado da prática: uma quarta época para a Análise do Discurso” In: 
COSTA, Nelson Barros da (org.). Práticas discursivas: exercícios analíticos. p. 17-48. Campinas: 
Pontes, 2005.
MUSSALIN, Fernanda. “A Análise do discurso”. In MUSSALIN, F.; BENTES, Anna Christina. Introdução à 
lingüística 2 – domínios e fronteiras. p. 101-142. São Paulo: Cortez, 2001.
PÊCHEUX, Michel. “A Análise de Discurso: três épocas (1983)”. In: GADET, F.; HAK, T. (orgs.). Por uma 
Análise Automática do Discurso - uma introdução à obra de Michel Pêcheux. p. : 311-319. 
Campinas: Ed. da Unicamp, 1990. 
POSSENTI, S. Apresentação da Análise do Discurso. São José do Rio Preto: Glota, 1990.
OLHANDO DE PERTO
Partiremos, portanto, de uma perspectiva mais contemporânea da Análise do Discurso, advertindo 
o aluno/leitor de que se trata de uma dentre muitas outras abordagens que podem ser encontradas no 
atual quadro acadêmico brasileiro e mundial.
FÓRUM 01
Já encontra-se aberto o Fórum 01, onde você pode discutir com o tutor os conteúdos gerais da 
disciplina.
2
Análise do Discurso 
Aula 01: Caracterização Inicial da Análise do Discurso 
Tópico 01: O que é a Análise do Discurso
Utilizaremos, para nos aproximarmos de uma definição da Análise do Discurso, de princípios e 
procedimentos da própria disciplina:
a. Como qualquer outra disciplina, ela será encarada como um discurso, ou seja, um dizer e 
uma ação sobre o real. Numa palavra: uma prática. Não se pretende uma verdade sobre a 
realidade discursiva, mas uma interpretação desta realidade sob óculos peculiares. Por outro 
lado, esta realidade, tal como a realidade não discursiva, não é um mundo estável, estanque e 
imune à própria discursividade produzida pela Análise do Discurso.
b. Partindo do princípio de que o advento de qualquer discurso só existe se posicionando em 
um campo já habitado, procuraremos indicar em que a disciplina se aproxima e se diferencia 
de outras conforme suas diversas dimensões.
c. Supondo que os títulos das disciplinas não são nem inteiramente transparentes ao objeto 
das mesmas nem rótulos inocentes e alheios a seus modos de dizer e fazer, iremos submeter a 
expressão Análise do Discurso a uma análise discursiva.
• As múltiplas dimensões da Análise do Discurso e sua relação com disciplinas concorrentes
Podemosdizer que a Análise do Discurso tem múltiplas dimensões. De um lado trata-se de uma 
disciplina que se dedica a um modo de leitura de textos. Nesse sentido, ela se filia a uma linhagem de 
disciplinas que historicamente vêm se dedicando a essa prática, como a Hermenêutica, a Filologia e a 
Teoria Literária.
HERMENÊUTICA.
Hermenêutica: (do grego “ermēneutikē”), trata-se de disciplina que tem por fim a interpretação 
correta e objetiva de textos religiosos ou filosóficos, especialmente das Sagradas Escrituras. Hermes, 
deus grego da comunicação e do entendimento humano, é o patrono da hermenêutica.
FILOLOGIA
A filologia (do grego antigo Φιλολογία, “amor ao estudo, à instrução”) – disciplina que estuda a 
língua, a literatura e a cultura de um povo numa perspectiva histórica a partir de documentos escritos. 
Por vezes, o termo pode também denominar o estudo científico da história de uma língua ou família 
linguística, porém esse estudo é mais apropriadamente chamado hoje de Linguística Histórica. Assim, 
os filólogos propriamente ditos se dedicam ao estudo material e crítico dos textos. São ramos da 
filologia a Ecdótica (arte de descobrir e corrigir os erros de um documento escrito, preparando-lhe 
uma edição em que se procura estabelecer o texto perfeito), a Crítica Textual (estudo dos textos 
3
antigos e da sua preservação ou corrupção ao longo do tempo), a Crítica Genética (investiga a gênese 
da obra literária através do estudo dos mecanismos de produção e caminhos seguidos pelo escritor 
na preparação dos originais de sua(s) edição(ões)), Paleografia (estuda textos manuscritos antigos e 
medievais; estuda também a origem, a forma e a evolução da escrita) e a Epigrafia (estuda as 
inscrições antigas, ou epígrafos, gravados em material sólido visando decifrar, interpretar e classificar 
as inscrições.
TEORIA LITERÁRIA
Teoria Literária: Disciplina que tem como objeto o texto literário, que vai ser estudado ao nível 
das suas propriedades, da sua ligação com outros textos similares, do papel do autor e do gênero. A 
Teoria Literária ou Teoria da Literatura trabalha em conjunto com a História da Literatura tentando 
integrar os diversos textos numa corrente literária. Enquanto ciência, deve produzir conceitos, 
hipóteses explicativas, métodos e instrumentos de análise que vão lhe permitir obter um 
conhecimento profundo sobre uma obra, tendo em conta o gênero, a corrente e a linguagem literária 
em que se insere.
Quanto à Hermenêutica, entendida como disciplina preocupada com a leitura "correta" dos textos ou 
com o estabelecimento da melhor interpretação de um texto, a distância se dá pelo fato de a AD não 
pretender a busca do Sentido, isto é, a revelação do verdadeiro sentido de um texto. Ao contrário, a Análise 
do Discurso pretende liberar os múltiplos sentidos de um texto porque segundo seus princípios, conforme 
veremos adiante, todo texto é sempre legível de múltiplas formas. Embora a AD pretenda, sim, efetuar uma 
interpretação de textos, interpretação que se pretende rigorosa, na medida em que amparada em sua 
materialidade, ela não se pretende o desvelamento do Sentido do texto. Um ponto crucial, portanto, marca 
o distanciamento entre as duas disciplinas: uma vez que não considera o texto como uma unidade 
fechada, mas sempre aberta a múltiplas interpretações, a AD está em constante atenção ao fato de que o 
sentido sempre pode ser outro.
VERSÃO TEXTUAL 
Como qualquer disciplina do campo da cientificidade, a AD deve rejeitar uma leitura 
normativa, se recusando a tentar responder questões como "qual a melhor maneira de se 
descobrir o que realmente este texto quis dizer?", "como atingir o real sentido de um texto?", etc. 
Interessa para a AD o que de fato foi dito, os múltiplos sentidos liberados, o como foi dito...
Quanto à Filologia, podemos dizer que não se trata para a AD de ler o texto com o pretexto de 
estabelecer ou compreender seu contexto cultural. Isso pressuporia uma visão do contexto de um texto 
como uma moldura, numa relação de exterioridade, como se o contexto de um texto fosse uma realidade 
constante, muda, indiferente e pré-existente ao texto. Veremos que, para a AD, todo texto supõe seu 
contexto. Ele é interferido por esse contexto e nele interfere diretamente.
Embora muitos analistas estabeleçam objetivos diversos para a análise e, 
de algum modo, um certo finalismo tenha marcado a própria origem da 
4
disciplina, a AD deve rejeitar a ideia de pretexto, pois esta supõe uma 
secundarização da análise em função de fins ou objetos supostamente mais 
nobres.
À Teoria Literária a AD deve bastante...
Esta disciplina tem grande influência nas práticas de leitura e interpretação de textos em ambiente 
escolar, sendo praticamente, hoje em dia, no Brasil, a responsável quase isolada pelas práticas analíticas 
voltadas para o texto e para o discurso com as quais os usuários leigos da língua têm contato durante a 
infância e a adolescência. O estudo dos textos literários historicamente desenvolveu importantes 
conceitos hoje apropriados pela Análise do Discurso, como gênero, intertextualidade e posicionamento. É 
clara, no entanto, a diferença entre as duas disciplinas em diversos aspectos. Em primeiro lugar, a 
apreensão da AD pretende-se muito mais abrangente, podendo inclusive tomar o próprio discurso da 
Teoria Literária e seu objeto como objetos de análise. No entanto, e este é o segundo lugar, a abordagem 
discursiva, mesmo a de textos literários, não será estética. Ou seja, sem pretender substituir e sem que o 
aspecto estético seja negligenciado, o texto literário não será examinado com o objetivo de apreender sua 
literariedade, não será julgado em suas qualidades artísticas através de conceitos como “belo” ou “bom 
gosto”, mas como uma enunciação (como tantas outras) que funciona ligada a uma instituição discursiva 
específica.
Por outro lado, a Análise do Discurso é uma disciplina preocupada com a formulação de uma teoria 
geral da linguagem, uma vez que a prática de leitura que realiza pressupõe um modo de conceber o 
processo que tornou possíveis os textos de que se ocupa.
E aí, por esse aspecto, a Análise do Discurso é também uma teoria do discurso, o que a aproxima das 
disciplinas científicas voltadas para a compreensão teórica da linguagem, como a Linguística e a 
Semiótica. Sem entrar na questão do modo como compreendem a linguagem e o discurso, podemos 
afirmar que a AD comunga com esses campos de saber no sentido não abrir mão de princípios universais 
de cientificidade tais como a busca da universalidade, a validação prática de suas descobertas, crenças e 
criações, a investigação metódica, etc. Diferentemente dessas disciplinas, porém, na medida em que a AD 
pretende, mais do que propor modelos de análise, verificar os condicionamentos sócio-históricos da 
produção linguística concreta, ou ainda, investigar os nexos que condicionam as formas linguísticas, ela 
esclarece e contribui para a emancipação crítica do falante-ouvinte. Além do mais, a AD não separa o 
produto do processo de produção. Para ela, a exterioridade é constitutiva do texto, isto é, o falante 
(escritor), o ouvinte (leitor) e o contexto social e histórico no qual estão inseridos, bem como as próprias 
formulações linguísticas fixadas na memória discursiva, são levados em conta na sua prática. Dessa 
forma, ela procura evitar tanto o distanciamento presente nas ciências, quanto o pragmatismo inerente ao 
senso comum, procurando descrever, explicitar e problematizar a discursividade. Diante desta, o 
procedimento da AD é, portanto, de reflexão crítica, pois procura problematizar continuamente as 
evidências e explicitar seu caráter político-ideológico (ORLANDI, 1987). Note-se que a AD não se pretende 
colocar como uma alternativa para a Linguística e a Semiótica - ciências positivas que pretendem 
descrever e explicar a linguagem verbal humana, mas como proposta crítica que pretende problematizar 
as formasde reflexão estabelecidas (ORLANDI, op. cit.).
LINGUÍSTICA
Linguística: Setor das Ciências Humanas cujo objetivo é descrever e explicar cientificamente as 
línguas naturais humanas, tanto do ponto de vista dos sistemas subjacentes (mentais ou sociais) 
quanto do ponto de vista dos processos históricos que conduzem à mudança desses sistemas. Pode 
5
também investigar os processos de aprendizagem, produção, processamento e transposição material 
e variação social da linguagem verbal humana. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Semi%C3%B3tica)
SEMIÓTICA
Semiótica: (do grego semeiotiké ou “a arte dos sinais”) - ciência geral dos signos, estuda os 
fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação. Ocupa-se do 
estudo do processo de significação ou representação, na natureza e na cultura, do conceito ou da 
ideia. Mais abrangente que a Linguística, a qual se restringe ao estudo dos signos linguísticos, ou seja, 
do sistema sígnico da linguagem verbal, esta ciência tem por objeto qualquer sistema sígnico.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Semi%C3%B3tica)
Um aspecto importante dessa diferença entre a Análise do Discurso e as outras perspectivas 
elencadas diz respeito à forma de encarar o objeto linguagem. A AD olha seu objeto como parte da 
totalidade social e histórica, procurando articular aquilo que a olho nu aparece como desarticulado: a 
linguagem, a história, a sociedade, os sujeitos. Daí o caráter interdisciplinar da Análise do Discurso que 
não hesita em buscar de outras áreas do saber elementos para tentar compreender a linguagem.
De outra parte, consideramos que a Análise do Discurso se aproxima do saber filosófico acerca 
da linguagem. Naturalmente que essa aproximação tem grande relação com o fato de serem filósofos 
alguns de seus precursores como Mikhail Bakhtin, Louis Althusser e Michel Foucault, além de ser 
filósofo seu próprio fundador oficial, Michel Pêcheux. Mas seria redutor creditar unicamente a esse 
fato, certamente relevante, a “aura” filosófica da Análise do Discurso. Pensamos que isso tem a ver 
com uma postura reflexiva, crítica e de não neutralidade, a nosso ver irredutível, diante de seu objeto e 
do mundo. Diante, por exemplo, da descoberta de estratégias de manipulação do leitor/ouvinte ou de 
mascaramento de determinados mecanismos de poder, o analista não pode deixar de se posicionar e 
de denunciar. Mas não apenas isso. Além dessa dimensão ética, pensamos que outra herança do 
discurso filosófico incorporado pela AD compõe um aspecto de seu instrumental metodológico 
baseado na reflexão sobre seu objeto em oposição a uma linguagem meramente descritiva, que se 
pretenderia transparente, reflexo do real. Mais do que desvendar a realidade discursiva, o discurso da 
Análise do Discurso pretende problematizá-la. Essa problematização passa por um uso da linguagem 
que problematiza ela própria a linguagem comum das ciências positivas da linguagem. Daí o uso de 
metáforas, alegorias, aparentes paradoxos, construções inusitadas, de um código de linguagem aberto 
à visita da subjetividade, mas sempre preso ao rigor e avesso à especulação.
6
Quadro com Síntese
Análise do 
Discurso Hermenêutica Filologia
Teoria 
Literária
Linguistica / 
Semiótica
Aproximação
Tem como fim a 
interpretação de 
textos. 
Interessa-se pela 
leitura textual e 
pelo contexto 
textual. 
Igualmente, se 
interessa pela 
leitura do texto 
e seu contexto 
(dependendo 
da tendência, 
no caso deste 
último). 
Interessa-se pelo 
estabelecimento 
de uma teoria da 
linguagem 
humana guiando-
se por princípios 
gerais de 
cientificidade.
Distanciamento
A AD não tem por 
objetivo alcançar o 
verdadeiro e único 
sentido, nem 
propor a 
interpretação 
correta de um 
texto .
A AD evita o 
dissociamento 
entre texto e 
contexto. Além 
disso, o objetivo 
da leitura da AD 
não é a 
compreensão do 
contexto, mas 
compreender o 
discurso como 
articulação entre 
o texto e seu 
contexto.
A AD não se 
limita ao estudo 
dos textos 
literários. Ela 
pode ter como 
objeto o próprio 
discurso da 
Teoria 
Literária, bem 
como seu 
objeto, sobre o 
qual, no 
entanto, não 
aplicará um 
olhar estético.
Trata-se de uma 
perspectiva crítica, 
rejeitando uma 
ótica meramente 
descritiva e neutra 
da linguagem. 
Nesse sentido, 
admite a presença 
da subjetividade 
na análise. 
Descrição da tabela:
Análise do Discurso: Aproximação, Hermenêutica: Tem como fim a interpretação de 
textos. Filologia: Interessa-se pela leitura textual e pelo contexto textual. Teoria Literária: 
Igualmente, se interessa pela leitura do texto e seu contexto (dependendo da tendência, no 
caso deste último). Linguística / Semiótica: Interessa-se pelo estabelecimento de uma 
teoria da linguagem humana guiando-se por princípios gerais de cientificidade. Análise do 
Discurso: Distanciamento, Hermenêutica: A AD não tem por objetivo alcançar o verdadeiro e 
único sentido, nem propor a interpretação correta de um texto. Filologia: A AD evita o 
dissociamento entre texto e contexto. Além disso, o objetivo da leitura da AD não é a 
compreensão do contexto, mas compreender o discurso como articulação entre o texto e 
seu contexto. Teoria Literária: A AD não se limita ao estudo dos textos literários. Ela pode 
ter como objeto o próprio discurso da Teoria Literária, bem como seu objeto, sobre o qual, 
no entanto, não aplicará um olhar estético. Linguística / Semiótica: Trata-se de uma 
perspectiva crítica, rejeitando uma ótica meramente descritiva e neutra da linguagem. 
Nesse sentido, admite a presença da subjetividade na análise. 
7
Análise do Discurso 
Aula 01: Caracterização Inicial da Análise do Discurso 
Tópico 02: Análise do Discurso: O que nos diz o Título da Disciplina
Michel Pêcheux - (1938-1983): uma das figuras mais importantes da Análise do Discurso. [2]
A denominação “Análise do Discurso” dá poucas pistas para uma compreensão mais precisa dos 
objetivos da disciplina, diferentemente de outras e de outros segmentos do campo de saber da 
Linguística:
PSICOLINGUÍSTICA → PSICO + LINGUÍSTICA
SOCIOLINGUÍSTICA → SOCIO + LINGUÍSTICA
OBSERVAÇÃO
Como se pode perceber, mesmo que não se tenha uma visão completa do que tratam as 
disciplinas acima, seus títulos dão alguma ideia de seus assuntos. Sabe-se, a partir do título 
Psicolinguística, por exemplo, que ela relaciona de alguma maneira “mente” e “linguagem”. E o que se 
sabe da Análise do Discurso a partir de seu título? Pouca coisa!
Diante da palavra “análise”, pode-se perguntar: que tipo de análise? Linguística? Estética? Crítica? 
Ideológica? Independente do sentido que se possa atribuir à palavra “análise”, antecedendo a palavra 
“discurso”, o leitor pode supor que exista um objeto passível de análise: o “discurso”, do mesmo modo que 
outros objetos, como a sintaxe, a morfologia e a fonologia. Porém, em nenhuma dessas “análises” o 
objeto toma a forma substantiva definitivada como em “análise do discurso”. Não são conhecidas as 
expressões “análise do sintagma”, “análise do fonema” ou “análise do morfema” enquanto títulos de 
disciplinas ou setor de disciplinas.
DEFINITIVADA
A definitivação é a utilização de uma expressão seguida de artigo definido. Este recurso dá à 
expressão um caráter de informação já conhecida.
Noutras palavras, a expressão “análise do discurso” não se enquadra com sucesso no paradigma 
abaixo:
8
“Análise fonológica” = análise da fonologia de uma língua
“Análise morfológica” = análise da morfologia de uma língua
“Análise sintática” = análise da sintaxe de uma língua
“Análise do discurso” = análise do discurso de uma língua”
Assim, a expressão “análise do discurso” é obscura no tocante a dizer o que realmente a disciplina 
consiste nos limites do que um título pode dizer do que consiste uma disciplina.
Isso se agrava pelo fato de que, diferentemente dos termos “fonologia”, “morfologia” e “sintaxe”, que 
sãomais técnicos, o termo “discurso” é saturado:
A) PELO SENSO COMUM: RETÓRICA, PALAVRAS VAZIAS, FALA 
EM SITUAÇÃO SOLENE 
Estes sentidos não são, naturalmente, os do termo “discurso” que está 
no título de nossa disciplina, embora eles devam ser considerados pela 
Análise do Discurso, uma vez que fazem parte, como qualquer palavra da 
língua, de um campo de produção de sentido, nesse caso, o que se  tem 
chamado discurso do cotidiano.
B) PELO SENTIDO DICIONARIZADO: VERBETE DISCURSO 
N substantivo masculino 
1 mensagem oral, ger. solene e prolongada, que um orador profere 
perante uma assistência
Ex.: d. De posse, de despedida, de formatura etc.
2 rubrica: literatura.
Peça de oratória ger. para ser proferida em público, ou escrita como se 
fosse para esse fim; sermão, oração
Ex.: Rui Barbosa ficou famoso por seus discursos.
3 série de enunciados significativos que expressam formalmente a 
maneira de pensar e de agir e/ou as circunstâncias identificadas com um 
certo assunto, meio ou grupo
Ex.: Discurso psicanalítico
4 rubrica: literatura. Diacronismo: obsoleto. Texto em que se trata com 
profundidade algum assunto; estudo, tratado, dissertação
9
Ex.: o professor aconselhou a leitura do discurso do método, de 
Descartes
5 rubrica: filosofia.
Raciocínio que se realiza por meio de movimento sequencial que vai de 
uma formulação conceitual a outra, segundo um encadeamento lógico e 
ordenado.
obs.: p. opos. A intuição
6 derivação: por metonímia.
A exposição do raciocínio assim conduzido; pensamento discursivo
7 rubrica: linguística.
A língua em ação, tal como é realizada pelo falante [para muitos 
linguistas, a palavra discurso é sinônimo de fala e figura em igualdade de 
sentido na dicotomia língua/discurso..
obs.: cf. fala
8 rubrica: linguística.
Segmento contínuo de fala maior do que uma sentença
obs.: cf. Análise de discurso
9 rubrica: linguística.
Enunciado oral ou escrito que supõe, numa situação de comunicação, 
um locutor e um interlocutor
10 rubrica: linguística.
Reprodução que alguém faz das palavras atribuídas a outra pessoa 
Obs.: cf. discurso direto, discurso indireto, discurso indireto livre 
Como se pode ver, o verbete do dicionário (tomamos HOUAISS (2001), mas o mesmo vale para 
qualquer outro dicionário) já reflete a multiplicidade de sentidos do termo, ao mesmo tempo em que opera 
uma seleção e uma fixação, cujos critérios não são explicitados, desses sentidos. Em que medida 
poderemos indicar o dicionário como um auxiliar na compreensão da expressão “análise do discurso” tal 
como queremos explicitar aqui? Em nenhuma medida, como esperamos que se torne claro adiante.
Deixando de lado os sentidos do senso comum, da literatura, da filosofia e da psicanálise, colocados 
em primeiro plano pelo dicionário em questão, mas que podemos descartar, consideremos aqueles que 
foram reservados pelos 4 últimos verbetes para a Linguística, sendo que em um deles a expressão 
“análise do discurso” entra como exemplo de emprego do termo.
O “circuito da fala” - Ilustração do livro “Curso de Linguística Geral”, de Ferdinand de Saussure
10
Fonte [3]
O primeiro deles, de número 7, assimila o conceito a fala, opondo-o a língua, evocando a célebre 
dicotomia saussureana. Evidentemente, discurso não se confunde com fala. Se Análise do Discurso 
equivalesse a análise da fala, no sentido que Saussure dá a esse termo, aquela não passaria de um 
dispositivo técnico de análise da materialidade dos sons. Isso porque, para Saussure, a fala é o 
mecanismo psicofísico de execução da língua. Em suma, conforme a 7ª definição de Houaiss para 
discurso, a Análise do Discurso seria o mesmo que análise fonética, o que absolutamente não bate com a 
realidade (os próprios foneticistas não se diriam praticando análise do discurso).
Ferdinand de Saussure (1857-1913) [4]
Na oitava definição, temos a consideração do discurso, mais uma vez, como objeto relacionado à 
fala. Ele é identificado como “maior do que a sentença”. Vale ainda dizer que esse sentido do dicionário, 
que inclusive dá como exemplo o nome de nossa disciplina, advém certamente do que é considerada a 
primeira utilização da expressão “análise do discurso”: “Discourse analysis” (em português “Análise do 
discurso” ou “Análise de discurso”) foi o título de um artigo do linguista norte-americano Zellig Sabbetai 
Harris, publicado no número 28 da revista Language, em 1952, traduzido para o francês e publicado no 
número 13 da revista francesa Langage, em 1969, apenas um ano após a fundação oficial da Análise do 
Discurso francesa. Visando aplicar a descrição sintática da frase ao texto, Harris considera discurso o 
conjunto articulado de sentenças. Assim, para Harris, do mesmo modo que, na frase, a análise sintática 
procede verificando as regras de articulação entre os elementos constituintes (nomes, verbos, 
preposições, artigos, etc.), a análise do discurso deveria proceder verificando as regras de articulação 
entre as frases em um texto. Desse modo, o discurso é definido como um conglomerado de frases 
articuladas e, portanto, como diz o dicionário, maior do que a sentença. De fato, o discurso como realidade 
empírica tem natureza diferente da sentença. Porém não em relação ao tamanho, mas à sua própria 
condição de existência. Enquanto que o discurso é uma realização concreta de uma interação entre 
sujeitos, a sentença é a realização de uma estrutura linguística. Nesse sentido, o discurso pode ser menor 
(ex.: “bom, eu... ”) ou maior (ex.: um romance), não sendo, portanto, o tamanho que os diferencia. 
Voltaremos mais adiante a essa questão. Para aprofundar essa discussão sugerimos o artigo Zellig 
Harris: 50 anos depois [5], de Carlos Alberto Faraco.
Passemos à definição de número 10, para depois nos voltarmos para a 9. O sentido 10 aponta para 
um uso muito específico da palavra discurso: “discurso direto, discurso indireto, discurso indireto livre”. A 
rigor, trata-se de esquemas de reportação de enunciados ou de recortes de enunciados. Ou seja, fórmulas 
usadas para o encaixamento de trechos da enunciação alheia. São fartamente conhecidos não apenas por 
ser procedimento comum na enunciação, mas também por serem muito trabalhados na escola. Embora 
seja um fenômeno importantíssimo para a AD, como veremos na aula 03, não é esse o sentido de discurso 
tomado pela AD, uma vez que será preferível tomar como discurso o enunciado reportador, não o 
reportado nem o esquema da reportação. Ainda mais se considerarmos que o “discurso” no discurso é 
sempre modificado de alguma maneira, nunca se conservando tal qual ele aconteceu, diferentemente do 
que a expressão “discurso direto” sugere. Em poucas palavras, podemos dizer que o discurso reportado 
não é de fato um discurso no sentido privilegiado pela AD.
11
REPORTAÇÃO
Ação de trazer em um enunciado fragmento de um enunciado supostamente de outro. Deriva: 
“reportar” e “reportado.
Por fim, analisemos a definição 9: “enunciado oral ou escrito que supõe, numa situação de 
comunicação, um locutor e um interlocutor”. É a que mais se aproxima de um dos sentidos preferenciais 
de discurso que a AD se utiliza, ainda que incompleto. Ela é criticável nos seguintes aspectos:
Aspecto 1
a) define discurso utilizando a palavra “enunciado”, sem definir a própria palavra 
“enunciado”;
Aspecto 2
b) adota o conceito de “comunicação” de modo acrítico. Veremos que a AD 
manifesta reservas a esse conceito;
Aspecto 3
c) na prática, é redutor falar-se apenas em “um locutor e um interlocutor”. A 
interlocução é sempre múltipla e sempre co-enunciativa. Ou seja, há sempre muitas 
“vozes”, muitos sujeitos “falando” em qualquer enunciado, ao mesmo tempo em que, 
na maioria das vezes, a enunciação sempre envolve mais de um enunciador, que co-
enunciam junto com o enunciador.
C) PELA LINGUÍSTICA: DISCURSO = TEXTO 
Nas últimas décadas, a Linguística tem se dedicado cada vez mais aos 
estudos da interação linguística. Trata-se de um grande avanço,porque, no início 
da disciplina, a proposta era o estudo das formas, funções e regras do sistema 
linguístico. A partir da proposta de Ferdinand de Saussure, os linguistas europeus 
e americanos de grande parte do século 20 tomaram como encargo sobretudo a 
descrição dos sistemas linguísticos analisando sua estrutura fonológica, 
morfológica e sintática, considerando apenas esses níveis passíveis de 
sistematização. Os sistemas linguísticos que possibilitam a comunicação eram 
estudados independente dos usuários e do contexto de uso, seguindo a máxima 
de Saussure que recomendava que a Linguística deveria ter “como único e 
verdadeiro objeto a língua em si mesma e por si mesma”. No entanto, 
aproximadamente a partir da metade do século vinte, influenciada por estudos de 
outras áreas das ciências humanas e da filosofia, essa proposta estruturalista 
vai gradativamente se abrir não apenas para a consideração do uso linguístico, 
mas também para a análise de unidades que não se restringem ao campo da 
sintaxe. Começa um interesse maior semântica, pela pragmática, pela 
conversação, pela enunciação e pelo texto.
SEMÂNTICA
12
A semântica (do grego σημαντικός, derivado de sema, sinal) refere-se ao 
estudo do significado, em todos os sentidos do termo. A semântica opõe-se 
com frequência à sintaxe, caso em que a primeira se ocupa do que algo 
significa, enquanto a segunda se debruça sobre as estruturas ou padrões 
formais do modo como esse algo é expresso.
PRAGMÁTICA
Pragmática: Ramo da Linguística que se interessa pelas relações entre 
os signos e os usuários considerando a influência sobre aqueles do contexto 
situacional, da cultura dos falantes e das regras sociais.
Fonte [6]
A Análise do Discurso, campo desde o início já interdisciplinar, que se desenvolve independentemente 
da Linguística, vai tanto receber influências como influenciar tais estudos. Não discutiremos no curto 
espaço deste curso essa influência mútua. Queremos apenas chamar atenção para o uso que muitos dos 
ramos pós-estruturalistas da Linguística têm feito da expressão “discurso” e de como esse uso se 
distancia do principal sentido de discurso trabalhado pela AD. Tanto a chamada Teoria da Enunciação, 
quanto a Pragmática, bem como a Análise da Conversação, foram muito influenciadas por uma 
concepção de discurso explicitada por Émile Benveniste , quando ele opõe enunciados ancorados na 
situação de enunciação (“discurso”) e enunciados recortados de sua situação de enunciação (“história” ou 
“narrativa”). Nos primeiros, próprios das situações de conversação, há a clara manifestação dos 
elementos de subjetividade seja dos agentes da enunciação (como “eu”, “mim”, “comigo” - e derivados: 
“tu”, “te”, “contigo” -, formas verbais correlativas, etc.), seja dos elementos temporais e espaciais que 
tomam por referência esses agentes a partir da enunciação do “eu” (“agora”, “hoje”, “ontem”, “aqui”, “lá”, 
“acolá”, etc.). O não discurso seria, para Benveniste, formado por aqueles enunciados em que tais marcas 
estão ausentes, como no caso dos textos científicos, narrativos, historiográficos, etc.
TEORIA DA ENUNCIAÇÃO
Teoria da Enunciação: Perspectiva, atribuída a Émile Benveniste, voltada para a análise dos 
mecanismos formais que possibilitam o uso da língua pelos sujeitos.
13
ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO
Análise da Conversação: Ramo da Linguística que pretende descrever e analisar como as regras 
da fala são estrutural e socialmente (co)construídas no decorrer da interação face-à-face.
Embora esses estudos sejam preciosos para a AD, eles não contemplam o seu objeto em sua 
integridade, pois não dão conta nem da discursividade como um todo, que não se resume às trocas 
verbais situacionais, nem dão conta do sentido mais amplo do discurso, isto é, das ordens ou campos 
discursivos que são o contexto em que se dá qualquer tipo de troca verbal. 
No caso da Linguística Textual, que, por conta de reformulações recentes, tem sido chamada também 
de “Linguística de Texto”, a problemática do uso do conceito de discurso se dá de modo diferente. É 
interessante notar o caminho inverso que essa disciplina seguiu em relação ao daquelas elencadas acima. 
Isso porque ela parte da noção de texto (termo fortemente habitado pela ideia da escrita) para tentar 
extrapolá-la para os enunciados não escritos. No entanto, há uma forte tendência entre os adeptos dessa 
disciplina em assimilar a noção de texto a discurso, o que se dá em detrimento do sentido de discurso 
como instância mais ampla de produção simbólica, dentro da qual os textos adquirem sentido. A 
denominação “gênero textual” substituindo a de “gênero do discurso”, tal como propusera Bakhtin, é um 
exemplo dessa elisão da dimensão do discurso, inaceitável para a AD. 
Logo:
O fato de estarem combinadas as palavras “análise” e “discurso”, pela locução gramatical “do”, 
não implica que o sentido de “análise do discurso” seja igual à soma sintático-semântica de tais 
termos (“análise do discurso é uma disciplina que tem por objetivo analisar o objeto 
discurso”);
O sentido dos termos da expressão “análise do discurso” não pode ser compreendido sem a 
verificação do que na prática é a análise do discurso;
Assim, “análise”, “do” e “discurso” têm seus sentidos “reciclados” pelo novo contexto 
pragmático que o simples uso combinado desses termos adquire em determinado momento 
histórico;
Em síntese, os conceitos expressos pelos termos em questão não são dados previamente, mas 
construídos por uma prática científica situada histórico e socialmente.
É preciso que se diga, aliás, antes de começar qualquer discussão, que a análise do discurso é 
dilacerada por uma grande variedade de perspectivas. Algumas vão até divergir quanto ao título da própria 
disciplina. Umas vão preferir análise do discurso; outras, análise de discurso; outras, análise de discursos; 
e outras ainda, análise crítica do discurso ou análise do discurso crítica. O fato de termos analisado 
apenas a primeira denominação já indica nossa opção por uma dessas perspectivas. Mas mesmo aqueles 
que concordam com essa denominação se dividem em variadas linhas conforme alguns critérios. Devido 
à exiguidade de tempo, não exploraremos essa questão, limitando-nos a explicitar nossa concepção.
14
Análise do Discurso 
Aula 01: Caracterização Inicial da Análise do Discurso 
Tópico 03: Discurso: Uma Palavra, Dois Conceitos
Agora vejamos o que é o discurso a partir da ótica da Análise do Discurso ou, pelo menos, do que 
seria a ótica da Análise do Discurso sob a nossa ótica. No discurso científico tradicional, é normal a 
preocupação com a univocidade dos termos técnicos. No entanto, em AD, podemos identificar pelo menos 
dois importantes conceitos de discurso. O primeiro está relacionado à noção de acontecimento e 
enunciado. Vejamos:
Acontecimento
Trata-se de um evento de interação simbólica.
Enunciado
Algo dito (não necessariamente através da oralidade) por um sujeito concreto 
em um momento histórico concreto, em oposição ao conceito abstrato de frase.
Conforme Maingueneau (2001), mais do que um objeto diferenciado, trata-se do resultado de um 
modo novo de conceber a linguagem. Por essa perspectiva, o discurso nunca se repete, porque são 
sempre diferentes as condições de sua produção. Assim, tomemos os enunciados “eu só quero é ser feliz” 
abaixo:
Fonte [7]
Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.
(...)
(“Rap da Felicidade” [8], Julinho Rasta/Kátia) 
15
Veja o leitor que, do ponto de vista gramatical, trata-se da mesma frase, pois em ambos os casos a 
estrutura é exatamente a mesma. No entanto, do ponto de vista discursivo, trata-se de dois enunciados ou 
discursos diferentes. O primeiro se encontra em um blog, encabeçando uma foto seguida por um texto. A 
sua veiculação se deu através da Internet, de modo escrito. O ambiente em que ele está écolorido e as 
letras da expressão têm cor diferente do restante do texto. Ao passo que o outro, embora esteja 
apresentado por escrito aqui, tem veiculação oral, na forma melódica de uma canção, e encabeça uma 
estrofe que se repete várias vezes no que se costuma chamar de “refrão”.
DUVIDA
O aluno poderia questionar: os exemplos em questão não são adequados, pois não são 
enunciados autônomos, sendo na verdade parte de enunciados maiores. Porém, pode-se retrucar: 
existem realmente enunciados autônomos? É possível encontrar expressões que não sejam partes de 
um contexto, partes de enunciados maiores?
Se alguém pronunciasse essa expressão (“Eu só quero é ser feliz”) para um interlocutor certamente 
seria no contexto de uma conversa (um enunciado maior); dificilmente ele a diria isolada e, mesmo se 
dissesse, esse dizer seria em resposta a algo que ele ouviu, a alguém, por exemplo, que, anteriormente 
tivesse censurado suas atitudes egocêntricas. Mas mesmo se pensarmos em enunciados supostamente 
autônomos, aos quais reconhecêssemos uma autoria, como uma poesia, por exemplo, devemos nos 
perguntar se esse tipo de texto não está sempre inserido em um contexto enunciativo mais amplo (livro de 
poemas, livro didático, recital, etc.).
OBSERVAÇÃO
Desse modo, já temos uma boa característica do discurso: sua indissociabilidade do contexto. 
Qualquer enunciado é inseparável do contexto graças ao qual ele existe. Daí que, como todo contexto 
é único e irrepetível, os discursos nunca se repetem. O discurso é, portanto, um acontecimento e, 
enquanto tal, é sempre único e sempre histórico, no sentido de que é sempre marcado pelo contexto 
histórico.
Nesse sentido, que temos chamado de específico, “discurso” é o mesmo que “enunciado” . O 
termo “texto” também pode ser usado com o mesmo sentido. Porém a palavra “texto” tende a ser 
empregada mais quando se trata de enunciados acabados, fixados e mais suscetíveis de circulação e 
armazenamento. Assim, dificilmente se fala em texto quando se trata de enunciados proferidos em 
uma conversação. Ao contrário, pode-se chamar indiferentemente de discurso, enunciado ou texto 
exemplares de um poema, de um romance, de uma receita de bolo, de uma notícia de jornal, etc. Seja 
como for, tenhamos claro que tais conceitos têm em comum o fato de serem objetos empíricos da 
Análise do Discurso. Isto significa que é sobre esses objetos, que têm realidade material, concreta, 
que o analista se debruçará.
O fato de nunca se repetirem não impede que os discursos componham tipos. No caso do enunciado 
“Eu só quero é ser feliz”, que ocorre no segundo exemplo, é notório que podemos relacioná-lo a outros que 
têm o mesmo modo de veiculação (outras canções populares ou outros raps). Ou seja, os discursos se 
enquadram em gêneros, importante categoria tipológica da qual voltaremos a falar mais adiante. Por outro 
lado, podemos associar o enunciado em questão a outros tantos enunciados que tematizam a felicidade 
do indivíduo, como o que segue abaixo, também retirado de um blog:
16
Fonte [9]
Ou como esse que segue abaixo, na capa de um livro de auto-ajuda:
Fonte [10]
Ou ainda, como o que se vê nos dois panfletos abaixo:
17
Fonte [11]
Apesar da diferença em termos gramaticais, um analista do discurso não pode ignorar que os 
enunciados “Eu só quero ser feliz” (do blog e da canção), “Eu quero ser feliz” (do blog), “Eu quero mais é 
ser feliz”, do livro de autoajuda), “Você feliz da vida” e “A felicidade sempre chega quando menos se 
espera” (estes últimos, dos panfletos publicitários) fazem parte do que poderíamos chamar de discurso 
sobre (ou da) felicidade individual. Não pode ignorar também que o acontecimento desses enunciados 
pressupõe um momento histórico que propicia não só que eles ocorram da forma como ocorrem, mas 
também que eles possam falar na ideia de felicidade individual e mesmo na própria ideia de indivíduo, algo 
certamente indizível na Idade Média, uma vez que nesse estágio da Humanidade conceitos como os de 
indivíduo, de felicidade individual, pelo menos tal como concebemos hoje, mereciam quase nenhuma 
importância.
OLHANDO DE PERTO
Em suma, o analista deve tanto investigar como determinado enunciado muda de sentido 
conforme o contexto apesar de conservar a estrutura (polissemia), quanto compreender como o 
sentido pode permanecer apesar da variação da estrutura em diferentes contextos (paráfrase).
Porém o que queremos que você perceba é que já estamos trabalhando com outro sentido de 
discurso. Quando remetemos diversos discursos (no sentido específico) a uma instância anônima que, 
digamos assim, os “dispersa” em diferentes gêneros e na “boca” de diferentes enunciadores, estamos 
18
propondo que cada um desses discursos é manifestação material de um DISCURSO, ou do que Michel 
Foucault chamou de formação discursiva. Este sentido “ampliado” de discurso não é estranho ao 
senso comum. Ele aparece quando falamos em “discurso político” ou “discurso religioso”. Porém é 
mais comum pensarmos nesse sentido ligado a um sistema institucional que produziria um tipo 
determinado de discurso. É o que se dá quando falamos de “discurso religioso”, por exemplo. 
Pressupõe-se, quando se utiliza essa expressão, que uma dada instituição (a Igreja Católica, a Igreja 
Evangélica, etc.) gera a partir de um centro uma série indefinida de discursos que iremos qualificar 
genérica (discurso religioso) ou especificamente (discurso católico). No entanto, embora reconheça a 
existência e o papel dessas instâncias, a AD pensa o discurso como uma dispersão. Isso significa que 
o DISCURSO não se concentra em um lugar ou lugares específicos na sociedade, produzindo a partir 
daí seus efeitos sob seu controle. Também esse sentido de dispersão está em certo uso comum da 
palavra: quando, na linguagem cotidiana, falamos em “discurso machista” ou “racista”, por exemplo, 
não pensamos em uma instância tal como pensamos quando falamos em “discurso religioso”. Assim, 
o “discurso racista” pode estar presente na novela, na conversação familiar, no parlamento, na escola, 
em qualquer lugar. Mas a AD não deve se contentar com essas imagens de discurso do senso comum 
(sejam ligadas a uma instância central (político, pedagógico, etc.), sejam ligadas a um tipo de 
ideologia abstrata (conservador, nacionalista, etc.)), mas vai examinar como os discursos se 
constroem (se materializam) se atualizando historicamente, interagindo e influenciando-se 
reciprocamente, e, sobretudo, mediando as relações inter-humanas e condicionando a visão que 
temos do mundo.
Michel Foucault - (1926 — 1984) - filósofo e professor do Collège de France.
Exerceu grande influência sobre a Análise do Discurso. [12]
Resumo: dois sentidos da palavra discurso
Discurso/enunciado 
"sentido específico"
Acontecimento. 
Irrepetível, em relação 
indissociável com o 
contexto, materialização 
dos DISCURSOS.
Objeto empírico, ou seja, 
trata-se do ponto de 
partida do trabalho 
analítico.
Confunde-se com 
enunciado ou texto (termo 
reservado para 
enunciados acabados, 
disponíveis para 
circulação).
Discurso
"sentido geral"
Instância anônima e de 
caráter dispersivo, 
institucionalizado ou 
não, de onde emanam e 
adquirem sentido os 
discursos/enunciados.
Objeto teórico. É, a um 
só tempo, pressuposto e 
hipótese do analista, que 
deve (re)construí-lo a 
partir do corpus de 
discursos/enunciados.
Aproxima-se do conceito 
de "formação 
discursiva" (FOUCAULT 
1995).
19
Descrição da tabela:
Discurso/enunciado "sentido específico": Acontecimento. Irrepetível, em relação 
indissociável com o contexto, materialização dos DISCURSOS. Objeto empírico, ou seja, 
trata-se do ponto de partida do trabalho analítico. Confunde-se com enunciado ou texto 
(termo reservado para enunciados acabados, disponíveis para circulação).
Discurso "sentido geral": Instância anônima e de caráter dispersivo, institucionalizado ou 
não, de onde emaname adquirem sentido os discursos/enunciados. Objeto teórico. É, a um 
só tempo, pressuposto e hipótese do analista, que deve (re)construí-lo a partir do corpus de 
discursos/enunciados. Aproxima-se do conceito de "formação discursiva" (FOUCAULT 
1995). 
FÓRUM 02
Em que sentido utilizamos a palavra discurso no cotidiano? Em que esses sentidos se aproximam 
e se distanciam do uso em Análise do Discurso?
Fontes das Imagens
1 - https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Fria
2 - http://www.ple.uem.br/geduem/img/pecheux.jpg
3 - http://www.infoamerica.org/teoria_imagenes/saussure_a.gif
4 - http://paulwadey.co.uk/deSaussure
5 - http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/letras/article/viewFile/2889/2371
6 - http://lh4.ggpht.com/Oaxk2bD1UwYpHKLLbNUQ2NvHkrg3St2J8P6P6QwlC5jjjLefDvxFs1ZMGCun=s1200
7 - http://eusoqueroserfeeliz.blogspot.com/2014/11/amem.html
8 - http://www.youtube.com/watch?v=ESFv8Izjt3c
9 - http://www.angelamoura.com.br/mensagem/eu_quero_ser_feliz.htm
10 - https://www.saraiva.com.br/eu-quero-mais-e-ser-feliz-9960291.html# 
11 - http://3.bp.blogspot.com/_2PbB4SG2L-4/Rpj0CTD3njI/AAAAAAAAAIw/BUXM-
lHj_qs/s1600-h/ODONTOCARD_FELICIDADE_PANFLETO+verso.jpg
12 - http://www.fondamentaux.org/2013/05/16/michel-foucault-face-aux-gouvernements-les-droits-de-lhomme/
20
Análise do Discurso 
Aula 02: Contexto e Discurso 
Tópico 01: Contexto: Uma Palavra, Múltiplos Sentidos
Se consultarmos o livro Termos-chave da Análise do Discurso (MAINGUENEAU, 2000), veremos que 
seu primeiro verbete, que trata justamente da Análise do Discurso, assim a define:
Disciplina que, em vez de proceder a uma análise linguística do texto em 
si ou a análise sociológica ou psicológica de seu 'contexto', visa a articular 
sua enunciação sobre um certo lugar social. Ela está, portanto, em relação 
com os gêneros de discurso trabalhados nos setores do espaço social (um 
café, uma escola, uma loja...) ou nos campos discursivos (político, 
científico...)
(p. 13, grifos do autor).
Observemos que, conforme a definição, tem-se a preocupação em definir a AD como uma disciplina 
que objetiva estudar a relação entre texto e contexto, este referido pelas expressões “lugar social”, 
“espaço social” e “campos discursivos”. Ela não abre mão de ter como objeto a matéria verbal, uma vez 
que se debruça primordialmente sobre enunciados ou textos, o que a situa institucionalmente no campo 
da Linguística; mas também se recusa em situar-se apenas no nível puramente linguístico-textual, o que, 
de certo modo, a distancia de tal campo.
Os 3 sentidos elencados por Maingueneau são apenas alguns dos sentidos da palavra “contexto”. 
Uma aula proferida por um professor, por exemplo, tem necessariamente múltiplos contextos: este 
pode ser a sala de aula enquanto espaço físico (as paredes, o quadro, os móveis, os aparelhos 
elétricos, a porta, etc.), a sala de aula enquanto lugar social (o professor, os alunos, um eventual 
estagiário ou ouvinte), a instituição (pode tratar-se de uma escola de 1º ou 2º grau, pública ou privada, 
de uma universidade pública ou privada, de um curso de graduação ou pós-graduação), o campo 
discursivo (o chamado “discurso pedagógico”), o contexto da nacionalidade (trata-se de uma 
instituição brasileira, a língua usada é o português, os assuntos são pertinentes à sociedade e à 
cultura brasileira), a conjuntura sócio-histórica (dá-se em um momento de economia neoliberal, onde o 
Brasil passa por uma grave crise econômica e é governado por um presidente de extrema direita, em 
um cenário mundial em estágio avançado de globalização)
Pode-se pensar, ainda, num contexto menos óbvio, que é o chamado contexto ideológico: se 
pensarmos que uma aula só se dá porque em nossa sociedade se acredita que existe algo chamado de 
“conhecimento” ou “saber” que tem um valor e que precisa ser disseminado por aqueles que o detêm entre 
aqueles que não o detêm; se admitirmos que, desde crianças, em nossa sociedade, somos convencidos a 
21
ir pra escola sob a promessa de que o saber que lá vamos adquirir nos servirá pelo resto da vida e que 
sem ele estaremos “perdidos”, incapazes de “sobreviver” na “civilização”, ou que não conseguiremos obter 
a “cidadania” e seremos como cegos por falta da “luz” dos números, das letras e dos “conhecimentos 
gerais”, e que sem isso não haveria aulas, temos que levar em consideração que este evento discursivo é 
tornado possível em um contexto ideológico. 
Outra dimensão contextual pouco óbvia, mas nem por isso menos importante, é a dimensão 
interdiscursiva. Uma aula é um discurso que se relaciona com outros discursos. Não apenas porque uma 
aula dada por um professor pressupõe uma orientação para um público ouvinte concreto, que são os 
alunos; mas também porque é preciso sempre pensar que uma aula nunca é um evento isolado: a ela se 
seguiu uma aula e a ela se seguirão outras. Pode-se pensar na aula como um exemplar de uma linhagem 
histórica de eventos discursivos semelhantes que vieram se transformando no tempo até se aproximar do 
modelo atual. Por outro lado, o que se chama aula é uma enunciação derivada de outras, talvez de um 
antigo modelo de diálogo familiar, onde um único interlocutor de um grupo tinha o poder de fala e de 
distribuição da fala, seja para permiti-la, seja para exigi-la. Podemos pensar ainda que o que o professor 
fala em sala de aula se apoia e adquire legitimidade a partir de um outro discurso, o discurso científico. É 
ele que, na nossa sociedade, produz enunciados com poder de crença suficiente para dar suporte ao 
discurso pedagógico, que o comenta e o retextualiza para disseminá-lo na instituição escolar se nutrindo 
de seu prestígio e o reforçando. 
PARADA OBRIGATÓRIA
Por fim, nessa questão do contexto interdiscursivo, vale à pena mencionar o fato de que é comum 
o professor em sua aula trazer a manifestação de outros discursos. Por exemplo, se trata de uma aula 
de literatura, certamente irão ser convocados textos literários o mais diversos, bem como textos de 
críticos literários e de biógrafos.
Merece destaque também, pelo pouco que tem sido levado em conta na história da própria Análise do 
Discurso, o que podemos chamar de contexto posicional ou posicionamento. Conforme Maingueneau e 
Charaudeau (2004),
O posicionamento corresponde à posição que um locutor ocupa em um campo de discussão, 
os valores que ele defende (consciente ou inconscientemente) e que caracterizam 
reciprocamente sua identidade social e ideológica. Esses valores podem ser organizados em 
sistemas de pensamento (doutrinas) ou podem ser simplesmente organizados em normas de 
comportamento social que são mais ou menos conscientemente adotadas pelos sujeitos 
sociais e que os caracterizam identitariamente. Pode-se falar, portanto, em posicionamento 
também para o discurso político, midiático, escolar... (p. 392)
Também a teoria literária já há muito tempo trabalha com a ideia de posicionamento. Mas trata-se de 
um conceito que pode, assim como os de gênero e ethos (cf. mais adiante), ser expandido para o conjunto 
da discursividade. Embora os posicionamentos sejam mais claramente observáveis em discursos 
estritamente institucionais como a Literatura, a Ciência e a Religião, também nos discursos não 
institucionais como a Mídia e a Pedagogia eles existem. Para prosseguir no caso anteriormente tratado, o 
da sala de aula, perceba-se que há diferentes posicionamentos em relação a que tipo de aula um 
professor deve dar. Há aqueles que pensam que uma aula deve ser não diretiva, com grande liberdade na 
relação entre os alunos e entre professor e alunos. Mas há também aqueles que julgam que uma tradição 
pedagógica deve ser mantida: o professor deve impor sua “moral” diante dos alunos, que devem se 
comportar de acordo com regras rigorosas. Cada um desses posicionamentos deve implicar até mesmo 
um ordenamento dos móveis da sala de aula e a posição física dos alunos de modos diferenciados.
22
Fonte [1] Fonte [2]
OLHANDO DE PERTOComo dar conta dessa dimensão contextual assim tão ampla e múltipla? É impossível apreender 
o discurso em todas essas dimensões de uma só vez. Por isso, o analista do discurso é forçado a 
fazer recortes e, ao mesmo tempo, admitir a existência de todas essas dimensões contextuais bem 
como a indissociabilidade entre o discurso e as mesmas. Em princípio, não há razão para quaisquer 
uma delas ser privilegiada ou negligenciada. O que vem acontecendo é que uns focalizam os aspectos 
mais imediatos e outros os mais mediatos. Pode ser desconcertante uma perspectiva científica 
admitir que, por mais abrangente que seja seu trabalho analítico, ela forçosamente deixa na sombra 
uma boa gama de aspectos. No entanto, é melhor assim do que se propor ilusoriamente uma 
totalidade inalcançável ou pretender que a dimensão explorada dispensa as outras, negligenciando 
sua importância e jogando-as para debaixo do tapete da ciência.
Este curso consistirá em introduzir questões relativas à articulação da materialidade linguística em 
relação com algumas dessas dimensões contextuais, deixando ao leitor a questão de quais recortes fazer. 
Apesar de estarem imbricadas, propomos separá-las do seguinte modo:
Contexto físico (ambiente, midium e suporte)
Situação social (papéis sociais dos interlocutores)
Contexto institucional 
Comunidade discursiva
Contexto genérico (do gênero discursivo)
Posicionamento
Formação ideológica
23
Contexto histórico
Contexto interdiscursivo
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Análise do Discurso 
Aula 02: Contexto e Discurso 
Tópico 02: Materialidade Linguística E Contexto
Os Gêneros do Discurso
Na interface linguística do discurso, temos que atentar que um enunciado, se considerado do ponto 
de vista do acontecimento de que ele consiste, se materializa de diferentes formas conforme o contexto 
discursivo. Um dos aspectos mais importantes dessa materialidade, que foi evidenciado pelo pensador 
russo Mikhail Bakhtin, é o dos gêneros do discurso. Dimensão desde sempre negligenciada em função da 
priorização histórica de uma ou outra família de gêneros (Teoria Literária, Retórica ou Gramática 
Descritiva) ou da sequer colocação dessa realidade na reflexão sobre a língua (Gerativismo), ela é 
ressaltada pelo autor russo, que a resgata do domínio estrito da arte e do lugar secundário a ele relegado 
pelas perspectivas formalistas, para expandi-la ao todo das relações sociais, vinculando-a às situações 
interativas das múltiplas esferas da comunicação social (da discursividade espontânea do cotidiano 
àquela dos sistemas complexos da ciência, da arte, da filosofia, etc.).
A retórica é a técnica ou arte de convencer o interlocutor através da oratória, ou outros meios de 
comunicação. Classicamente, o discurso no qual se aplica a retórica é verbal, mas há também — e 
com muita relevância — o discurso escrito e o discurso visual. Em verdade, a oratória é um dos meios 
pelos quais se manifesta a retórica, mas não o único. Pois, certamente, pode-se afirmar que há 
retórica na música ("Para não dizer que não falei da Flores", de Geraldo Vandré: retórica musical 
contra a ditadura), na pintura (O quadro "Guernica", de Picasso: retórica contra o fascismo e a guerra) 
e, obviamente, na publicidade. Logo, a retórica, enquanto método de persuasão, pode se manifestar 
por todo e qualquer meio de comunicação. A retórica aristotélica, de certa forma herdeira daquela de 
Sócrates, procura fazer o interlocutor convencer-se de que o emissor está correto, através de seu 
próprio raciocínio. Retórica não visa distinguir o que é verdadeiro ou certo mas sim fazer com que o 
próprio receptor da mensagem chegue sozinho à conclusão de que a ideia implícita no discurso 
representa o verdadeiro ou o certo. A retórica era parte de uma das "três artes liberais" ou "trivium" 
ensinadas nas faculdades da Idade Média (as outras duas corresponderiam à dialética e gramática).
(adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Ret%C3%B3rica [3]
A gramática descritiva é uma gramática que se propõe a descrever as regras de como uma 
língua é realmente falada, a despeito do que a gramática normativa prescreve como "correto". É a 
gramática que norteia o trabalho dos linguistas que pretendem descrever a língua tal como é falada. 
As gramáticas descritivas estão ligadas a uma determinada comunidade linguística e reúnem as 
formas gramaticais aceitas por estas comunidades. Como a língua sofre mudanças, muito do que é 
prescrito na gramática normativa já não é mais usado pelos falantes de uma língua. A gramática 
descritiva não tem o objetivo de apontar erros, mas sim identificar todas as formas de expressão 
existentes e verificar quando e por quem são produzidas.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gram%C3%A1tica_descritiva [4]
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Conforme Bakhtin (1997), os gêneros são tipos de enunciados relativamente estáveis sempre 
relacionados a uma esfera de atividade humana. Quanto mais complexa for uma sociedade, mais 
diversificada será essa esfera e, consequentemente, maior a profusão de gêneros em uso, de modo que o 
estudo dos gêneros utilizados muito pode nos dizer sobre o funcionamento de uma sociedade em seus 
aspectos econômico, cultural e intelectual. Essa estreita imbricação com as relações sociais dá ao gênero 
uma natureza histórica, uma vez que qualquer mudança nessas relações conduzirá a uma modificação 
dos gêneros a elas articulados. Daí a relativa estabilidade dos gêneros que é também, por dedução lógica, 
uma relativa instabilidade. Instabilidade que faz também com que os gêneros reflitam de modo sensível 
as mínimas mudanças na formação social.
VERSÃO TEXTUAL 
Para Bakhtin, os gêneros remetem a conjuntos de enunciados que, vinculados estreitamente 
a uma atividade social, têm em comum uma construção composicional, um estilo e um conteúdo 
temático. Noutras palavras, gênero são artefatos a um só tempo formais e conteudísticos, 
assumindo sempre uma feição própria capaz de ser projetada e identificada cognitivamente 
pelos usuários. Essas características praticamente tornam possível a comunicação, pois seria 
tremendamente oneroso termos de, a cada situação comunicativa, inventar dispositivos 
comunicacionais novos. 
Vejamos cada um desses componentes, só separáveis para efeito didático:
• Conteúdo
• Construção composicional
• Estilo
Dos conteúdos: 
Os conteúdos são o objeto dizível através do gênero.
OS CONTEÚDOS SÃO O OBJETO DIZÍVEL ATRAVÉS DO GÊNERO 
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Fonte [5]
Dizemos dizível porque, em princípio, o gênero não se confunde com o enunciado concreto, já que se 
trata de uma classe de enunciados. Sendo assim, podemos afirmar que o conteúdo de um gênero é um 
campo de possibilidades ou de preferências. O gênero receita culinária, por exemplo, tem como conteúdo 
preferencial a elaboração de pratos e secundariamente a preparação de bebidas. Raramente esse 
conteúdo será diferente. No entanto, veja o exemplo abaixo, retirado do endereço Receitas de produtos de 
limpeza ecológicos [6]:
CLIQUE AQUI 
O exemplo mostra que o conteúdo temático de um gênero como receita 
pode ter uma certa variabilidade, podendo chegar às raias da metáfora, como 
quando usamos ou ouvimos/lemos expressões do tipo: “receita para segurar 
marido” ou “receita da felicidade”. 
Mas essa variabilidade depende do tipo de gênero. Há gêneros extremamente abertos a uma 
variedade enorme de conteúdos. Os gêneros literários, por exemplo, podem, em princípio, tratar de 
qualquer assunto. No caso desses gêneros, outras variáveis como o posicionamento do autor, conceito 
que comentamos na aula 01, vão determinar que assuntos serão preferenciais. Por outro lado, há outros 
que praticamente só admitem um tipo de conteúdo, como a lista telefônica, o mandato de busca e 
apreensão, o boletim meteorológico e a bula de remédio. Esses gêneros são tão ligados a seus conteúdos 
que têm sua denominação inseparável dos mesmos.
Aliás, essa relação do gênero com o conteúdo põe problemas importantes 
para sua caracterização.Por exemplo: as cartas de amor formam um gênero à 
parte? Ou a carta íntima é um gênero aberto, podendo eventualmente tratar de 
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amor? Tomando um dos casos citados acima: a lista telefônica é um gênero à 
parte, ou a lista é um gênero e a lista telefônica é apenas um dos usos desse 
gênero?
Construção Composicional
As configurações de determinadas partes de um texto, bem como a presença de determinadas 
estruturas sintático-textuais (também chamadas “sequências discursivas”), podem aparecer em muitos 
outros. Essa recorrência, conjuntamente com outros aspectos abordados aqui, contribuem para que 
consideremos que esses textos são espécies de um mesmo gênero. A receita de produtos de limpeza 
ecológicos que vimos acima, por exemplo, será identificada como uma receita (mesmo se não contivesse 
o nome “receita”) apesar do conteúdo um tanto discrepante das expectativas que temos quanto ao 
conteúdo de uma receita, devido justamente a sua construção composicional, qual seja, a enumeração de 
elementos (ingredientes) dispostos em frases nominais encabeçadas sempre por um numeral 
(quantidade). Muitas vezes essas frases são constituídas por uma medida em forma de metonímia (X 
colher(es) de Y, X xícara(s) de Y, etc.). Após essa lista, segue-se um texto, muitas vezes “corrido”, com 
estruturas frasais compostas quase sempre por verbos no imperativo ou no infinitivo. Não há descrições 
extensas ou argumentações. O texto estabelece uma sequência de ações bem precisas que se 
desenrolam temporalmente no mais das vezes repletas de referências aos elementos listados antes e à 
suposta realidade resultante da ação do leitor.
SEQUÊNCIAS DISCURSIVAS
São estruturas responsáveis pela organização interna do enunciado seja ele oral ou escrito. A 
tipologia de sequências discursivas mais comum é a que as classifica como narrativas, descritivas, 
argumentativas, injuntivas e conversacionais. Dificilmente aparecem sozinhas em um enunciado. 
Assim, um mesmo enunciado geralmente estrutura-se com base em mais de uma sequência 
discursiva. Entretanto, geralmente, uma delas é predominante.
METONÍMIA
É a substituição de um nome por outro devido haver entre eles alguma relação de sentido. As 
relações mais comuns são causa/efeito (“o álcool foi a sua desgraça”, parte/todo (“um rebanho de 12 
cabeças de gado”), continente/conteúdo (“pediu o prato mais caro”), instrumento/finalidade (“ele é um 
bom garfo”), etc. No caso das receitas, por exemplo, quando se fala numa receita culinária em “colher 
de sopa” a relação se dá entre o objeto e seu tamanho ou sua capacidade.
O aluno deve ter notado, nesta rápida descrição dos aspectos composicionais do gênero receita a 
presença de expressões como “muitas vezes”, “quase sempre” e “no mais das vezes”. O uso dessas 
expressões torna-se forçoso justamente devido à relativa estabilidade do gênero que, decorrente de seu 
caráter histórico, lhe proporciona uma plasticidade que torna inevitável uma descrição aproximativa.
Do estilo
Do exposto, conclui-se que os gêneros não são moldes previamente acabados conforme os quais os 
falantes viriam modelar seus enunciados. Ao contrário, os gêneros são estreitamente ligados à 
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enunciação concreta e, enquanto tal, sujeitos a se adaptar ao uso dos falantes. Podemos mesmo dizer 
que este é justamente o fator que dá a relativa es(ins)tabilidade ao gênero. As marcas singulares que os 
falantes dão ao gênero é o que se chama estilo. Há gêneros extremamente dóceis às singularidades de 
seus usuários. É o caso dos gêneros literários. Não seria exagero afirmar que se trata de gêneros 
concebidos especialmente para pôr em relevo a singularidade de seu usuário, o que não significa dizer que 
estejam totalmente infensos aos constrangimentos institucionais, sociais, históricos, etc. Outros gêneros 
são assaz resistentes à manifestação da individualidade dos usuários. Os gêneros usados na burocracia 
(ofícios, requerimentos, declarações, etc.) e em muitas outras situações de trabalho como nos hospitais 
(prontuário, laudo médico, etc.) e no comércio (balancete, nota fiscal, etc.) são bons exemplos.
CLIQUE AQUI, LEIA A RECEITA E IDENTIFIQUE ELEMENTOS 
ESTILÍSTICOS 
Bolo Luiz Felipe da Bela
3 xícaras de açúcar
1 vidro pequeno de leite de coco e a mesma medida de leite de vaca
4 ovos inteiros
5 colheres de sopa de queijo parmesão (aquele que vc compra de saquinho 
mesmo)
5 colheres de sopa de farinha
1 colher de sopa de manteiga
Bata tudo no liquidificador. Unte uma forma de furo no meio generosamente com 
manteiga e farinha de trigo. Bote pra assar em fogo forte e deixe esfriar com a 
porta do forno entreaberta.
ps: Eu deletei a calda (por motivos preguiçoides & calóricos) e não senti falta. A 
não ser que vc seja mais doceira do que eu muuuuito. 
Faça um café. 
Coma um pedaço.
Agora responda: Não dá uma felicidade imediata?
Fonte do texto: Bela Caleidoscópica [7]
A descrição dos diversos gêneros textuais tem-se constituído em um ramo 
à parte dos estudos do discurso e da Linguística Textual. Para a Análise do 
Discurso, no entanto, a realidade genérica é apenas uma das dimensões da 
materialidade discursiva: uma descrição em si e por si mesma dessa realidade 
é insatisfatória. Para a AD, é necessário pensar nas implicações do que 
Maingueneau chama de “investimento genérico” e “cena genérica” pensados no 
âmbito de uma prática discursiva, conceitos que abordaremos mais adiante.
FÓRUM 03
O que são os gêneros do discurso? Qual a importância dos gêneros do discurso na nossa vida 
cotidiana?
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Análise do Discurso 
Aula 02: Contexto e Discurso 
Tópico 03: O Ethos
Observe a figura abaixo:
Descrição da imagem:
Imagem de um professor com o rosto de macaco.
Fonte [8]
Trata-se evidentemente da figura de um macaco. No entanto, não é apenas isso. Trata-se da imagem 
de um macaco professor. Dizemos isso não apenas porque há um giz em sua mão e por trás dele um 
quadro verde escrito. Se esse macaco estivesse sem roupa, curvado, pulando e brincando com o giz, não o 
identificaríamos com um professor. O que acontece é que identificamos nesse macaco uma postura 
professoral, caracterizada não apenas por sua roupa, mas pela forma de segurar o giz, de olhar para 
frente, de empostar o tronco, de colocar a mão no bolso. Reconhecemos essa postura pelo fato de termos 
tido em nossa experiência discursiva contato direto ou indireto com indivíduos que assumiram essa 
postura nas instâncias pedagógicas da nossa sociedade. Toda sociedade constrói um repertório de 
posturas como essa que aprendemos formal ou informalmente e que fica armazenado na memória 
coletiva. Um habitante de uma sociedade em que não existe a figura do professor certamente não 
reconhecerá no macaco a postura professoral, identificando, no máximo, o aspecto humano de sua 
postura devido a suas roupas e o fato de estar de pé.
Trata-se do fenômeno do ethos, que desde a antiguidade já começa a ser estudado. Já então se 
percebe a estreita ligação com a postura corporal e a linguagem verbal. O ethos era, para Aristóteles, a 
imagem que um orador deveria mostrar juntamente com o conteúdo de suas palavras. Ao dizer palavras 
que se pretendam sinceras, não basta ao orador dizer expressões como “nunca fui tão sincero em toda 
minha vida” ou “falando sinceramente”, etc. Ele deve sobretudo se mostrar sincero. Maingueneau (1989), 
que atualiza o conceito aristotélico, considera o ethos um importante aspecto da materialidade linguística. 
O autor ressalta que, sendo todo texto uma “enunciação estendida a um co-enunciador”, ele implica uma 
vocalidade de base, um tom de uma voz que atesta o que é dito, o ethos. Assim como na oratória é 
necessário não apenas dizer-se, mas também e principalmente mostrar-se não só com o tom da voz, mas 
também com gestos, jeitos de corpo, modo de vestir, todo enunciado se apresenta necessariamente como 
vinculado a uma corporalidade que lhe confere legitimidade. Qualquer texto, para ser consistente,precisa 
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constituir-se como corpo: um jeito (do texto, do autor, das vozes citadas, dos elementos referidos ou 
personagens) de habitar os espaços sociais. 
Tal representação, por sua vez, baseia-se no imaginário social de um lugar e de uma época acerca do 
corpo. Assim, por exemplo, um texto religioso está, no mais das vezes, associado um tom profético e de 
autoridade, com suas maneiras características de dizer e de gesticular. Igualmente, as receitas culinárias 
estão muitas vezes associadas a um ethos de sabedoria e domínio de uma técnica artesanal, de um saber 
ancestral acerca do sabor, do cozimento e da mistura dos alimentos, etc., onde a certeza da eficácia 
prevalece e origina um tom de segurança com que as instruções são transmitidas; e assim por diante.
OLHANDO DE PERTO
É preciso lembrar que o ethos é uma categoria social. Ele não se confunde com o estilo, pois não 
diz respeito a uma individualidade, mas ao que Dominique Maingueneau (2008) denomina de “mundo 
ético”. Nesse sentido ele não se confunde com o estilo, dado que não se refere a uma imagem 
singular de um indivíduo, mas se relaciona a uma maneira social de ser:
... o ethos implica uma maneira de se mover no espaço social, uma 
disciplina tácita do corpo apreendida através de um comportamento. O 
destinatário a identifica apoiando-se num conjunto difuso de representações 
sociais avaliadas positiva ou negativamente, em estereótipos que a 
enunciação contribui para confrontar ou transformar: o velho sábio, o jovem 
executivo dinâmico, a mocinha romântica…(p. 18)
OBSERVAÇÃO
Cabe observar ainda que o fenômeno do ethos suscita, conforme Maingueneau (1995), a 
dimensão analógica da comunicação, como aquela dimensão da enunciação em que, ao se dizer algo, 
imita-se esse algo no movimento mesmo da enunciação. Ao dizermos algo gentil, o dizemos 
gentilmente e os discursos mais elaborados não fazem senão efetuar um processo semelhante em 
nível muito mais complexo.
Para entender melhor o ethos é mister comparar dois textos sobre um mesmo tema e identificar 
como os autores, através da escrita, tentam simular de diferentes modos o corpo falante baseando-se em 
um esquema ético (gestualidade, tom de voz, postura corporal, etc.):
Texto 01: O que é a Fé
Fé significa ...
Agora observe: a fé é o firme fundamento – a certeza – das coisas que se 
esperam (Hb 11:1). Portanto, a fé vem primeiro, antes de possuirmos o que 
desejamos.
Uma vez que tenha recebido e tomado posse do que deseja, você não mais tem 
esperança de recebê-lo. Entretanto, mesmo antes de receber, você já o tem em 
essência; e esta essência, que é substância – a certeza de que você chegará a 
possuí-lo – chama-se FÉ!
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Então, repetindo, fé é a evidência ou a prova – "a prova das coisas que se não 
vêem". A fé antecede o recebimento tangível daquilo que se pede. E fé é a prova – a 
evidência – de que você o possuirá, antes mesmo que o veja! É a prova de coisas 
ainda não vistas. Você não possui, não vê, não sente – contudo a fé é para você a 
evidência dele e a prova de que você receberá o que pediu. E qual é esta prova – esta 
evidência? Será o recebimento específico da resposta, quando você vê, ouve ou 
sente que recebeu? Não! O que vemos, o que sentimos, não é uma evidência 
verdadeira. Possuir a coisa pedida, vê-la, não é fé. A fé precede a posse, porque FÉ 
significa confiança – certeza de que possuiremos o que pedimos.
Fonte [9]
NdoP.: Trechos destacados pelo autor.
Texto 02: A Fé
Fé (do Latim fides, fidelidade e do Grego pistia[1] ) é a firme opinião de que algo 
é verdade, sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação, pela 
absoluta confiança que depositamos nesta ideia ou fonte de transmissão.
A fé acompanha absoluta abstinência à dúvida pelo antagonismo inerente à 
natureza destes fenômenos psicológicos e lógica conceitual. Ou seja, é impossível 
duvidar e ter fé ao mesmo tempo. A expressão se relaciona semanticamente com os 
verbos crer, acreditar, confiar e apostar, embora estes três últimos não 
necessariamente exprimam o sentimento de fé, posto que podem embutir dúvida 
parcial como reconhecimento de um possível engano. A relação da fé com os outros 
verbos, consiste em nutrir um sentimento de afeição, ou até mesmo amor, por uma 
hipótese a qual se acredita, ou confia, ou aposta ser verdade.[2] Portanto se uma 
pessoa acredita, confia ou aposta em algo, não significa necessariamente que ela 
tenha fé. Diante dessas considerações, embora não se observe oposição entre 
crença e racionalidade, como muitos parecem pensar, deve-se atentar para o fato de 
que tal oposição é real no caso da fé, principalmente no que diz respeito às suas 
implicações no processo de aquisição de conhecimento, que pode ser resumidas à 
oposição direta à dúvida e ao importante papel que essa última desempenha na 
aprendizagem.
Fonte [10]
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Leia em voz alta e expressivamente esses textos. Faz sentido ler os dois da mesma forma, com o 
mesmo tom de voz? Descreva as diferenças que você encontrou. Que elementos da escrita orientaram 
cada leitura?
O conceito de ethos é utilizado não apenas nos estudos linguísticos, mas também em vários campos 
das ciências humanas, como a Antropologia e a Sociologia, que destacam diferentes aspectos da noção 
aristotélica. Mas a questão do ethos, tal como a do gênero, não interessa em si mesma para a AD. Em 
primeiro lugar, interessa o ethos discursivo, isto é, aquele que se materializa na enunciação verbal que 
naturalmente vem sempre acompanhada de uma materialidade não verbal. Há uma tendência muito forte 
nos analistas principiantes de buscarem o ethos nas imagens que, sobretudo em um mundo 
superimagético como o que vivemos hoje, tendem cada vez mais a acompanhar os textos escritos. Porém, 
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o avanço no resgate do conceito clássico está justamente em captar o ethos nas linguagens oral e escrita, 
não apenas nos discursos de persuasão e convencimento no sentido estrito, como era o caso dos estudos 
clássicos, nem apenas nas imagens que acompanham os textos escritos, tentação à qual incorrem os 
analistas iniciantes, mas em toda e qualquer situação discursiva. E não apenas o ethos discursivo em si 
mesmo, mas sua articulação com o contexto em suas diferentes dimensões (ordem discursiva, lugares 
sociais, o posicionamento sócio-discursivo, a correlação de forças na interação face à face, as relações 
interdiscursivas, etc.). No caso da receita, por exemplo, a disposição em lista dos ingredientes, a 
especificação das quantidades e unidades de medida, a presença de verbos no imperativo ou infinitivo, a 
separação/contraste entre uma lista e um texto “corrido”, tudo isso é inseparável do ethos inscrito em tal 
gênero, que, como vimos, encarna uma espécie de lógica artesanal acerca da transformação dos 
alimentos. Para finalizar esta sessão, vejamos o texto abaixo:
Descrição da imagem:
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Extraído da Revista NET – Tecnologia Cabo – Fortaleza / CE, março, 2007.
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Textos do gênero publicitário como estes são geralmente multimodais, ou seja, envolvem mais de 
uma modalidade semiótica (simbólica). Portanto, ele conjuga uma variedade de ethé (plural da palavra 
ethos). Mas examinemos apenas o que se traduz pelo texto escrito central intitulado “Promoção Net 
Satisfação Automática”. Observe que o texto mostra uma corporalidade/vocalidade muito ligada à 
imagem dos apresentadores de

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