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FARMACOLOGIA APLICADA À NUTRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS

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FARMACOLOGIA APLICADA À NUTRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS
UNIDADE 1
1 Fundamentos em farmacologia
A farmacologia é uma ciência antiga que estuda os fármacos, sua aplicação, atividade, reações adversas, posologias, dose, concentração, forma farmacêutica, toxicidade, via de administração, absorção, excreção enfim, tudo aquilo que está relacionado aos medicamentos. E todos estes estudos, ainda evoluindo de forma intensa, iniciaram a partir dos usos baseados em conhecimento popular.
1.1 Termos e definições
Para conhecer a farmacologia é preciso compreender algumas definições, como a diferenciação entre remédio, droga, fármaco e medicamento. Remédio pode ser definido como tudo aquilo que pode ser utilizado com o intuito de trazer a cura ou alívio de uma enfermidade, ou até mesmo a melhoria da qualidade de vida do paciente, e pode ser um chá, medicamento, acupuntura, fisioterapia, atividade física, massagem, entre outros.
Já a droga é qualquer substância que quando em contato com organismo possui a capacidade de causar alteração em alguma função fisiológica. Esta alteração pode ser benéfica ou não, e ter ou não uma estrutura química definida. Exemplo: cigarro, maconha, dipirona, álcool etc.
O fármaco, ou também conhecido como princípio ativo (PA), também é uma substância que tem capacidade de causar alteração da função fisiológica, mas com uma diferença: o PA possui uma estrutura química definida, uma atividade farmacológica conhecida e com aplicação terapêutica. Neste caso, podemos citar como exemplo o paracetamol, a dipirona, o diclofenaco, entre outros.
Chama-se de medicamento somente o produto farmacêutico, quando elaborado e tecnicamente obtido, que tenha finalidade terapêutica, paliativa, curativa e/ou para fins diagnósticos. Ou seja, aquele produto vendido nas farmácias de manipulação e drogarias (também conhecidas por farmácias comerciais ou farmácias comunitárias).
Outra definição importante é referente à substância tóxica e placebo. Define-se como tóxica toda substância que, quando absorvida pelo organismo, poderá colocar a vida do ser em risco e até mesmo levar a óbito. E o placebo é um tipo de produto inativo, ou seja, não provoca nenhuma alteração fisiológica importante, agindo no estado psicológico e suprindo a necessidade de tomar/consumir um medicamento. Popularmente, o placebo é conhecido como “pílula de farinha”.
Portanto, costuma-se dizer que todo medicamento é uma droga, mas nem toda droga é um medicamento. Por exemplo:
Álcool é uma droga, mas não é medicamento.
Paracetamol é uma droga e também um medicamento.
Posologia é outro termo importante a ser entendido. Na prescrição está a orientação de como e quantas vezes ao dia o medicamento deve ser tomado, a descrição da dose e por qual período de tempo. Isto se denomina posologia.
Alguns medicamentos, quando tomados por um determinado tempo (variável de uma pessoa para outra), podem levar o paciente a desenvolver uma tolerância àquela substância, ou seja, ocorre uma redução na sensibilidade em relação ao fármaco. Quando a tolerância acontece, o paciente relata que ”o medicamento não está fazendo mais efeito”.
Portanto, ao prescrever um medicamento, além de observar a posologia e verificar se existe algum caso de tolerância ou alergia, o prescritor também determina a forma farmacêutica a ser utilizada. Ou seja, define se será em comprimidos, cápsulas, drágeas, comprimidos revestidos, comprimidos efervescentes, cápsulas gelatinosas (formas sólidas), soluções, xaropes, tinturas, suspensões, elixir, emulsões (formas líquidas), géis, cremes, pomadas, unguentos (formas semissólidas) ou aerossóis (forma gasosa). Essas diferentes formas farmacêuticas encontradas no mercado têm diversas funções, e entre elas está a de facilitar a administração do fármaco e fazer com que a dose seja o mais correta possível.
1.2 Principais classes de medicamentos e suas aplicações
Uma das formas de classificar os medicamentos é através do seu efeito principal. São inúmeras as classes farmacológicas. Abaixo, conheceremos grande parte delas e suas principais aplicações terapêuticas.
1. Medicamentos controlados
Antidepressivos - Indicados para depressão e transtornos de humor (Exemplo: amitriptilina, fluoxetina, paroxetina, sertralina e duloxetina); Estabilizadores de humor - indicados para o tratamento de transtorno de bipolaridade de humor. (Exemplo: carbonato de lítio); Ansiolíticos, hipnóticos e sedativos - indicados para transtornos de ansiedade como transtornos por estresse pós-traumático, transtorno de ansiedade generalizada (TAG) além de indicação como indutores do sono. (Exemplo: bromazepam, diazepam, clonazepam, midazolan, zolpidem e trazodona); Anticonvulsivantes – indicados para casos de epilepsias e convulsões. (Exemplo: carbamazepina e topiramato); Antiparkinsonianos – indicados para tratamento do Mal de Parkinson. (Exemplo: biperideno e carbidopa + levodopa).
2. Fármacos que atuam no sistema cardiovascular
Antiarrítmicos – indicados para tratamento de arritmias cardíacas. (Exemplo: adenosina e sotalol); Anti-hipertensivo – indicados para tratamento da hipertensão arterial. (Exemplo: propranolol, captopril, lLosartana e atenolol); Anticoagulantes – prevenir formação de coágulos de sangue. (Exemplo: clopidogrel, heparina, rivaroxabana, e ácido acetilsalicílico); Diuréticos – indicado para tratamentos de hipertensão arterial, retenção hídrica entre outras doenças que necessitem de um maior volume de eliminação de líquidos. (Exemplo: furosemida, hidroclorotiazida e espironolactona).
3. Fármacos que têm resposta no sistema respiratório
Antitussígeno - utilizados para inibir o reflexo da tosse. (Exemplo: dropropizina, levodropropizina e cloperastina); Expectorantes e mucolíticos – auxiliam na expectoração e eliminação do muco. (Exemplo: ambroxol, carbocisteína e acelticisteína); Broncodilatadores – alívio de espasmos brônquicos, bronquites, falta de ar. (Exemplo: Hedera helix, salbutamol, fenoterol e ipratrópio); Antigripais – indicados para alívio dos sintomas do resfriado comum. (Exemplo: fenilefrina e nafazolina). Podendo ser utilizado também o paracetamol e dipirona para alívio de sintomas como dor e febre; Antiasmáticos – utilizados para tratamento e prevenção de crises asmáticas e/ou para alívio de broncoespasmos. (Exemplo: salbutamol, salmeterol, fenoterol, ipratrópio, zafirlucaste e montelucaste).
4. Fármacos que atuam no trato gastrointestinal (TGI)
Antiácidos – aumentam o PH gástrico neutralizando o ácido clorídrico, o famoso “suco gástrico”. (De ação sistêmica: bicarbonato de sódio. De ação local: hidróxido de magnésio, hidróxido de alumínio, carbonato de cálcio e trissilicato de magnésio); Antiflatulento – indicado para alívios de gases no tubo digestivo, sensações de estufamento. (Exemplo: dimeticona e simeticona); Antiespasmódicos - utilizado para aliviar as dores abdominais causadas pelo aumento da frequência e força da contração da musculatura lisa de forma involuntária, chamados de espasmos. (Exemplo: escopolamina); Antidiarreicos – indicados para diarreias e disenterias. (Exemplo: loperamida e bismuto). Também podem ser utilizados os repositores de microbiota intestinal como os Lactobacillus casei, Lactobacillus acidophilus, Saccharomyces boulardii e Saccharomyces cerevisiae. Além destes, os fluidos ou soros de reidratação oral; Antiulcerosos – tratamento e prevenção de problemas estomacais como úlceras e refluxo. (Exemplo: omeprazol, pantoprazol e lansoprazol); Antieméticos – alívio de sintomas como enjoo, êmese (vômitos) e náuseas. (Exemplo: dimenidrinato, meclizina, ondasertrona, bromoprida e metoclorpramida); Estimulantes de apetite – Exemplo: buclizina e ciproeptadina. Laxantes e purgativos – utilizados para facilitar a eliminação das fezes. (Exemplo: óleo mineral, sorbitol, lactulose e sais de magnésio).
5. Outras classes importantes
Analgésicos e antitérmicos – indicados para alivio de dor e febre respectivamente. (Exemplo: opioides: morfina, metadona e tramadol. Não opioides: dipirona, paracetamol e ácido acetilsalicílico);Anestésicos – utilizados para redução dos estímulos, reflexos e dor. (Exemplo: xilocaína, lidocaína e bupivacaína); Anti-inflamatórios – utilizados para amenizar sintomas como febre, dor e edemas decorrentes de alguma agressão ao organismo. (Exemplo: não-esteroidais: Ibuprofeno, diclofenaco sódico e potássico, naproxeno, cetoprofeno, ácido mefenâmico e piroxican. Esteroidais ou também chamados de corticoides: dexametasona, prednisona e hidrocortisona); Antivertiginosos – indicado para vertigens, zumbido, alteração na audição e tonturas. (Exemplo: betadine, cinarizina e betaistina); Antialérgicos ou anti-histamínicos – indicados para alívio de alergias em geral. (Exemplo: dexclorfeniramina, loratadina e hidroxizina); Antivirais – indicados para tratamento de infecções virais. (Exemplo: aciclovir, tamiflu, ganciclovir e entecavir); Antilipêmicos – utilizados no tratamento de níveis elevados de colesterol. (Exemplo: atorvastatina e sinvastatina); Anticoncepcionais – prevenção de gravidez, tratamentos de cistos e acnes. (Exemplo: etinilestradiol, gestodeno e ciproterona); Manutenção das articulações – tratamento de artrose primária, secundária, osteoartrite, osteoartrose, espondiloses e condropatias. (Exemplo: glicosamina + condroitina)
2 Farmacocinética
A farmacocinética inclui os processos de absorção, distribuição, metabolismo e a excreção dos fármacos. Os quando bem seguidos podem ampliar a probabilidade de sucesso terapêutico e reduzir, por exemplo, a ocorrência de efeitos adversos.
A farmacocinética lida com a absorção, distribuição, biotransformação e excreção das drogas. Esses fatores, associados à dosagem, determinam a concentração da droga em seus sítios de ação, e, por consequência, a intensidade de seus efeitos em função do tempo (BRUNTON et al , 2012).
2.1 Absorção e distribuição
A absorção é a transferência do fármaco do seu local de administração para o compartimento central e a amplitude com isso ocorre. No caso das preparações sólidas, a absorção depende inicialmente da dissolução do comprimido (ou da cápsula), que então libera o fármaco (ou liquido biológico).
Primeiro essa absorção se dá pelo trato GI (gastrointestinal), quando administrado por via oral. Porém, a quantidade de absorção final pode ser limitada pelas características da preparação do fármaco, por suas propriedades físico-químicas, pelo metabolismo intestinal (características intrínsecas ao paciente) e/ou pela transferência do fármaco de volta ao lúmen intestinal por ação dos transportadores.
Essa absorção pode ocorrer por difusão passiva, difusão facilitada, transporte ativo ou endocitose. E outros diversos fatores podem influenciar na absorção, tais como o pH, fluxo de sangue no local de absorção, características da área ou superfície disponível para absorção e o tempo de contato com a superfície de absorção. Portanto, a absorção é o processo pelo qual os medicamentos administrados, principalmente por via oral, intramuscular ou retal, chegam ao meio tissular, iniciando o a segunda fase, a distribuição.
A distribuição é a fase em que o fármaco penetra na circulação. Esta fase passa a ser a primeira quando se trata de administração venosa do medicamento, visto que neste caso o fármaco já está em sua forma ativa ao ser colocado diretamente na circulação sistêmica. O volume é o segundo parâmetro fundamental útil, quando se consideram os processos de distribuição dos fármacos. O volume de distribuição relaciona a quantidade do fármaco administrada no organismo a sua concentração no sangue ou plasma, dependendo do líquido dosado. Esse volume não se refere necessariamente a um volume fisiológico determinável, mas simplesmente ao volume de líquido que seria necessário para conter todo o fármaco presente no corpo na mesma concentração dosada no sangue ou plasma.
Alguns livros e artigos científicos chamam a farmacocinética de Sistema Ladme. Essa sigla corresponde a: L- Liberação; A-Absorção; D-Distribuição e E-Excreção! Memorize essa sigla e vocês rapidamente conseguirá se lembrar de todas as fases da farmacocinética.
O volume de distribuição é altamente variável, dependendo dos graus relativos de ligações aos receptores de alta afinidade, dos níveis das proteínas plasmáticas e teciduais, do coeficiente de distribuição do fármaco no tecido adiposo e de sua acumulação nos tecidos poucos irrigados. Este volume de distribuição de cada fármaco pode variar de acordo com idade, o sexo, a composição corporal do paciente e com a existência de doenças.
A distribuição é dependente além do volume de distribuição, de fatores como a taxa de fluxo sanguíneo, a permeabilidade capilar, a ligação dos fármacos às proteínas plasmáticas e dos tecidos, e a lipofilicidade.
2.2 Metabolismo e excreção
Diversos fatores alteram o metabolismo: elementos genéticos, idade, diferenças individuais, fatores ambientais como o fumo, propriedades químicas dos fármacos, sexo, via de administração, dosagem, entre outros.
A primeira reação denomina-se Reação de Fase I. E essa biotransformação pode aumentar ou diminuir a atividade farmacológica, ou não ter efeito sobre esta.
A Reação de Fase II consiste na fase de conjugação, como a glicorunidação, deixando o fármaco altamente polar e assim consegue ser excretado pelos rins ou bile e eliminado nas fezes.
O fígado é o principal local onde ocorre a biotransformação, mas existem outros tecidos que contém as enzimas metabolizadoras que contribuem para a biotransformação de alguns fármacos e, consequentemente, para a sua eliminação. As enzimas responsáveis por esse processo estão localizadas nos microssomos hepáticos chamados de enzimas microssomais do sistema CYP- 450.
Estas enzimas podem reduzir oxidar, hidrolisar ou conjugar compostos. Nenhum teste de função hepática fornece informação totalmente específica sobre a habilidade metabólica do fígado e, consequentemente, é difícil prever o efeito de problemas de funções hepáticas no metabolismo de diferentes fármacos.
Os rins são importantes para a excreção dos fármacos e de seus metabolitos. As estimativas da depuração da creatinina do sangue fornecem informações importantes sobre o grau de funcionamento renal e sua habilidade de eliminar os medicamentos. Além destas vias, o fármaco pode ser eliminado pelo leite materno, suor e saliva.
3 Farmacodinâmica
A farmacodinâmica proporciona o conhecimento dos efeitos bioquímicos e fisiológicos dos fármacos e seus mecanismos de ação para o uso terapêutico racional, além do suporte para o desenvolvimento de outros agentes terapêuticos mais novos e eficazes. Desse modo, as e sua farmacocinética contribuem para a segurança e o êxito do tratamento.
3.1 Conceitos em farmacodinâmica
Conforme relatam Brunton et al (2012), a farmacodinâmica compreende
O estudo das ações das drogas no organismo vivo [...] é uma das mais novas ciências médicas experimentais, e data somente do final da segunda metade do século XIX... é uma ciência limítrofe. Ela toma emprestada livremente temas e técnicas da fisiologia, química fisiológica, patologia e bacteriologia. Porém, é a única [dessas ciências] que tem sua atenção focada na ação das drogas. Como implica seu nome, seu assunto é de caráter dinâmico (BRUNTON et al , 2012).
A interação dos fármacos com os componentes macromoleculares altera a função e inicia as alterações bioquímicas e fisiológicas que caracterizam a resposta do fármaco. O termo receptor ou alvo farmacológico refere-se à macromolécula (ou ao complexo macromolecular) com o qual o fármaco interage para produzir uma resposta celular.
Alguns fármacos interagem com aceptores (por exemplo, albumina sérica) existentes no organismo. Os aceptores são componentes que não causam diretamente qualquer alteração na resposta bioquímica ou fisiológica. Entretanto, a interação dos fármacos com os aceptores pode alterar a farmacocinética das suas ações.
As proteínas constituem o grupo mais importante de receptores farmacológicos. Como exemplo, podemos citar os receptores dos hormônios, dos fatores de crescimento e de transcrição, os neurotransmissores,as enzimas das vias metabólicas (por exemplo, diidrofolato redutase, acetilcolinesterase e fosfodiesterases dos nucleotídeos cíclicos), as proteínas envolvidas nos processos de transporte (por exemplo, Na+, K+-ATPase) e as glicoproteínas secretadas e as proteínas estruturais (por exemplo, tubulina).
A ligação específica dos fármacos aos outros componentes celulares (como o DNA) também é explorada com finalidades terapêuticas. Por exemplo, os ácidos nucleicos são receptores farmacológicos particularmente importantes para determinados agentes quimioterápicos usados no tratamento do câncer e fármacos antivirais.
3.2 Receptores fisiológicos
Muitos fármacos atuam em receptores fisiológicos e são particularmente seletivos porque os receptores fisiológicos reconhecem e respondem com alta seletividade às moléculas sinalizadoras específicas. Os fármacos que se ligam aos receptores fisiológicos e imitam os efeitos reguladores dos compostos endógenos são conhecidos como agonistas.
Se o fármaco se ligar ao mesmo local de reconhecimento que o agonista endógeno (substância própria do organismo responsável pela função em questão), diz-se que o fármaco é um agonista primário. Os fármacos que bloqueiam ou reduzem a ação de um agonista são conhecidos como antagonistas. Na maioria dos casos, o antagonismo resulta de uma competição com um agonista pelo mesmo (ou sobreposto) sítio de ligação do receptor, mas também pode ocorrer por interação com outros sítios do receptor por combinação com o agonista, chamamos então de antagonismo químico, ou por antagonismo funcional com inibição indireta dos efeitos celulares ou fisiológicos do agonista. Os compostos que mostram apenas eficácia parcial como os agonistas, independentemente da concentração utilizada, são descritos como agonistas parciais.
3.3 Especificidade do fármaco
A afinidade de um fármaco por seu receptor e sua atividade intrínseca são determinadas pela estrutura química da substância. A estrutura química do fármaco também contribui para sua especificidade farmacológica. Um fármaco que interage com apenas um tipo de receptor, presente em apenas algumas células diferenciadas, é altamente específico.
Muitos fármacos importantes na prática clínica apresentam especificidade ampla porque conseguem interagir com vários receptores em diversos tecidos. Essa especificidade ampla poderia aumentar a utilidade clínica de um fármaco, mas também contribui para a ocorrência de vários efeitos adversos, já que acontecem diversas interações entre o medicamento e diferentes receptores.
As propriedades farmacológicas de muitos fármacos diferem dependendo se o fármaco é utilizado por períodos curtos ou longos. Em alguns casos, a administração prolongada de um fármaco produz hiper-regulação ou dessensibilização dos receptores e isto pode exigir ajustes da dose para manter a eficácia do tratamento. Os medicamentos para tratar infecções, como os antibióticos, os antivirais e antiparasitários, têm como alvo receptores ou processos celulares fundamentais à proliferação ou à sobrevivência do agente infeccioso, mas que não são essenciais ou não existem no organismo do receptor.
Desse modo, o objetivo terapêutico dos agentes anti-infecciosos depende da liberação dos fármacos aos microrganismos patogênicos em concentrações suficientes para destruir ou suprimir a proliferação do patógeno, sem causar efeitos indesejáveis ao paciente. Por exemplo, os antibióticos como a penicilina inibem uma enzima fundamental necessária à síntese das paredes celulares das bactérias, e esta enzima não existe nos seres humanos ou nos animais. Um problema significativo encontrado com muitos agentes anti-infecciosos é o desenvolvimento rápido de resistência aos fármacos. A resistência aos antibióticos, aos antivirais e outros fármacos pode ser causada por vários mecanismos, inclusive mutação do receptor-alvo, ampliação da expressão das enzimas que decompõem ou aumentam, a expulsão do fármaco pelo agente infeccioso e desenvolvimento de reações bioquímicas alternativas, que evitam os efeitos dos fármacos no agente infeccioso.
4 Sistema nervoso autônomo
A farmacologia do SNA (Sistema Nervoso Autônomo) referente à divisão simpática é modulada pelos neurotransmissores endógenos: adrenalina, noradrenalina (NA) e dopamina (DA). Estes atuam regulando funções importantes realizadas pela musculatura lisa no sistema respiratório (brônquios), cardiovascular (força e frequência cardíaca), endócrino (liberação de insulina), entre outros.
4.1 Catecolaminas
As catecolaminas podem ser endógenas ou exógenas. Entre elas estão a epinefrina, também chamada de adrenalina, norepinefrina (noradrenalina), dopamina, acetilcolina.
A adrenalina é uma substância de ação direta e não seletiva estimulando os receptores α e β. Tem uma alta atividade vasopressora, estimulante cardíaca e no controle da asma. Esta catecolamina não tem eficácia quando administrada por via oral sendo rapidamente absorvida quando administrada via intramuscular, portanto, essa substância deve ser administrada lentamente para reduzir a possibilidade da ocorrência de vasoespasmos e outros problemas cardiovasculares.
A NA (noradrenalina ou norepinefrina) tem ação vasoconstritora promovendo o aumento da pressão arterial. É considerada um potente agonista dos receptores α e tem pouca atividade em β2. Sua absorção por via oral também não é eficaz e seus efeitos colaterais são semelhantes aos da adrenalina, mas a elevação da pressão arterial é mais intensa e, por este motivo, seu uso deve ser monitorado devido ao risco de causar hipertensão grave.
A dopamina (DA) é indicada para tratamentos de insuficiência cardíaca congestiva (ICC) em pacientes com diminuição da produção de urina (oligúria) e com resistência vascular periférica (RVP) baixa ou normal. Esta catecolamina produz uma melhora nas funções cardíacas e renais de forma aguda em pacientes hospitalizados por problemas cardíacos ou insuficiência renal.
4.2 Fármacos adrenérgicos e anti-adrenérgicos
Os receptores adrenérgicos são do tipo metabotrópicos, ou seja, acoplados à proteína G e estão designados em duas famílias: Alfa (α) e Beta (β). Além disso, receptores α são divididos em α1 e α2, bem como os β são divididos em β1, β2 e β3. A noradrenalina excita principalmente os receptores α, com menor intensidade os β e nenhuma em β2, enquanto a adrenalina excita α e β com intensidade similar.
Entre os fármacos que atuam como agonistas dos receptores β-adrenérgicos podemos citar o isoproterenol que é um medicamento utilizado em casos de emergência para aumentar a frequência cardíaca em pacientes com bradicardia ou bloqueio cardíaco. É um potente agonista não seletivo de β e pode ser administrado pela via endovenosa ou respiratória. Os principais efeitos adversos são palpitações, cefaleias, taquicardia sinusal e arritmias graves. Já a dobutamina é um agonista seletivo de β1 que exerce efeitos ionotrópicos, aumentando a força de contração do coração por aumento dos níveis de cálcio. É indicada para descompensação cardíaca em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva ou infarto agudo do miocárdio.
Os receptores β2-adrenérgicos têm ação no relaxamento da musculatura lisa, como os brônquios por exemplo. Os fármacos que pertencem a esta classe têm ação curta e longa. Entre os agonistas seletivos de receptores β2-adrenérgicos: salbutamol (Aerolin ®) é um dos medicamentos mais conhecidos, junto ao fenoterol (Berotec®). O salbutamol age como broncodilatador e é usado no controle e prevenção das crises asmáticas, bronquite crônicas, enfisemas pulmonares, entre outros. Pode ser administrado por via inalatória e em 15 minutos já são observados seus efeitos, estes são mantidos por 3 até 5 horas. O fenoterol também é administrado por via inalatória na maioria dos casos e tem efeito perceptível de imediato, durando de 4 a 6 horas.
Dentre os de ação longa, podemos citar dois bem conhecidos: Salmeterol e formoterol. O salmeterol possui uma seletividade ainda maior que o salbutamol e também está indicado para asmáticos (mas não de formaaguda) e pacientes do DPOC (Doença pulmonar obstrutiva crônica). Sua administração é também por via inalatória, mas não pode ser realizada mais de 2 vezes ao dia. O principal efeito colateral associado a esta substância é taquicardia.
E o formoterol também tem as mesmas indicações acima, mas possui uma específica, para condições de asma noturna. Seus efeitos ocorrem em minutos após ser administrado.
Entre os fármacos agonistas α1-seletivos, podemos citar a fenilefrina, substância comumente presente nos medicamentos antigripais como o Naldecon®, Cimegripe®, entre outros. A fenilefrina tem ação para descongestionamento nasal, mas também possui efeitos cardiotônicos, midriáticos e, se administrada via endovenosa, causa uma intensa vasoconstrição das artérias. Como agonistas α2-seletivos temos a clonidina, metildopa, guanfacina e apraclonidina.
4.3 Fármacos colinérgicos e anticolinérgicos
Os fármacos chamados de colinérgicos atuam em receptores do SNA que são ativados/estimulados pela acetilcolina (Ach). Estes receptores estão divididos em duas famílias: muscarínicos (M) e nicotínicos (N).
Os muscarínicos são receptores do tipo metabotrópicos, ou seja, acoplados à proteína G. Esse nome se dá pelo fato de que esses receptores, além de se ligar a Ach, também reconhecem a muscarina, uma substância que está presente em cogumelos venenosos. São divididos em 5 subclasses: M1, M2, M3, M4 e M5.
Como exemplo de fármacos agonistas muscarínicos podemos citar a pilocarpina utilizada no tratamento de glaucoma e de xerostomia (boca seca), betanecol (para estímulo de bexiga atônica) e carbacol. Outros agonistas de M1 são estudados para tratamento de Alzheimer e antagonistas de M3 para DPOC (doença Pulmonar Obstrutiva Crônica).
O edrofônio é um agonista colinérgico com ação indireta, também chamado de anticolinesterásico, utilizado para diagnóstico de miastenia gravis. Ele age bloqueando a atividade da enzima acetilcolinesterase, impedindo sua ação na degradação da Ach e aumento da concentração da mesma na fenda sináptica. Nesta mesma classe está a rivastigmina e donepezila, fármacos utilizados no tratamento do Alzheimer.
Todos estes anticolinesterásicos acima citados são de ação reversível, mas existem os de ação irreversível, entre eles os chamados organofosforados que são compostos usados como inseticidas agrotóxicos sendo altamente tóxicos, podendo causar paralisia e até óbito.
Na classe dos antagonistas colinérgicos, ou antimuscarínicos, estão substâncias bastante conhecidas, a escopolamina e o ipratrópio. A escopolamina é o princípio ativo do medicamento Buscopam® e o ipratrópio o princípio ativo do Atrovent®.
Os receptores nicotínicos, além de se ligar a Ach, reconhecem a nicotina e por isto a sua denominação. São receptores do tipo ionotrópico, ou seja, funcionam como um canal iônico operado por ligantes e são de dois tipos: Nn e Nm. A nicotina quando em baixa concentração estimula o receptor e em alta concentração o bloqueia. Estes receptores estão no SNC, nos gânglios autonômicos, nas suprarrenais e na junção neuromuscular (JNM) nos músculos esqueléticos.
A nicotina é um componente do cigarro e tem efeitos maléficos no organismo podendo levar a aumento da frequência cardíaca (taquicardia) e da pressão arterial (Hipertensão).
5 Vias de administração
Em geral, existem algumas opções de vias (locais) pelas quais uma substância pode ser administrada e, por esta razão, o conhecimento das vantagens e desvantagens das diferentes vias de administração é fundamental.
Para que a via de administração de um fármaco seja definida, consideram-se fatores como as propriedades químicas (hidrossolubilidade, lipossolubilidade, ionização), o objetivo da terapia, a necessidade de um início rápido de ação, uma manutenção de concentração por maior período de tempo, restrição de fármaco a um local específico, entre outros.
Silva (2010) destaca as seguintes vias:
· Oral
· Sublingual ou bucal
· Parenteral
· Tópica
· Transdérmica
· Intraocular
· Intrarrespiratória
· Retal
· Intravaginal
· Intrauterina
· Uretral e peniana
· Novos sistemas de administração de drogas
5.1 Vias de administração oral, sublingual e retal
A ingestão oral é o método mais utilizado para administrar os medicamentos por sua segurança, conveniência e por ser o mais econômico. Entre suas desvantagens estão: a absorção limitada de alguns fármacos, em função das suas características como hidrossolubilidade reduzida ou uma baixa permeabilidade nas membranas; vômitos causados pela a irritação da mucosa gastrintestinal; destruição de alguns fármacos pelas enzimas digestivas ou pelo pH baixo do estomago; irregularidades na absorção ou propulsão na presença de alimentos ou outros fármacos, além da necessidade de contar com a colaboração do paciente.
Os fármacos que possam atingir as secreções gástricas e, portanto, serem alterados pelo pH ácido, ou que o seu princípio ativo tenha característica de irritar o estômago, podem ser fabricados em preparações com revestimento entérico. Este revestimento impede a dissolução do fármaco no conteúdo ácido do estômago. Os revestimentos entéricos são úteis para os fármacos como o ácido acetilsalicílico, que pode causar irritação gástrica significativa em muitos pacientes.
As preparações de liberação controlada têm liberação prolongadas, controladas, ampliadas e continuadas. O que pode auxiliar em manutenção de dose, ou diminuição de tomadas de medicamentos durante o dia, facilitando a posologia e consequentemente o uso racional de medicamentos.
A administração via sublingual ocorre pela mucosa oral e tem importância especial para alguns fármacos. Apesar da superfície disponível para a absorção ser pequena, a vascularização local é intensa. A drenagem venosa da boca segue à veia cava superior e isto provoca um desvio da circulação e, deste modo, protege o fármaco do metabolismo de primeira passagem, ou também chamado de metabolismo de fase 1.
Na administração por via retal cerca de 50% do fármaco que é absorvido pelo reto passará pelo fígado, o metabolismo hepático de primeira passagem quando comparado à preparação oral. Além disso, uma enzima metabólica importante desse fármaco (CYP3A4) está presente nos segmentos proximais do intestino, mas não nos segmentos distais. Entretanto, a absorção retal pode ser irregular e incompleta e alguns fármacos podem causar irritação da mucosa retal.
5.2 Vias de administração parenteral, transmucosa e tópica
A injeção parenteral dos fármacos tem algumas vantagens em comparação à administração oral. Em alguns casos, a administração parenteral é essencial para que o fármaco seja liberado em sua forma ativa, como ocorre com os anticorpos monoclonais. A biodisponibilidade é mais rápida, ampla e previsível quando o fármaco é administrado por via injetável. Por essa razão, a dose eficaz pode ser administrada com maior precisão. No tratamento de emergência e/ou quando o paciente estiver inconsciente, impossibilitado de colaborar ou incapaz de reter ou deglutir algo por via oral, o tratamento parenteral pode ser necessário. Essa via de administração apresenta algumas desvantagens como a necessidade de manutenção da assepsia (muito importante, principalmente quando os fármacos são administrados repetidamente), as injeções podem ser dolorosas e os pacientes em sua maioria têm dificuldade de realizar a autoaplicação (no caso da insulina, por exemplo).
As principais vias de administração parenteral são a intravenosa, a subcutânea, intradérmica e a intramuscular, mas ainda pertencem a este grupo a via intra-arterial, intratecal, intraperitoneal, intrapleural, intravesical, intraarticular, intraraquídea, intraóssea e intracardíaca.
Na via intravenosa, por exemplo, os problemas relacionados à fase farmacocinética de absorção não existem porque a biodisponibilidade é completa e rápida. Nesta via a liberação do fármaco pode ser controlada com precisão e agilidade. Quando se necessita induzir anestesia em um paciente, a dose de anestésico administrada não é 100% predeterminada e sim ajustada no decorrer do processoanestésico, de acordo com a resposta do paciente. Algumas substâncias irritantes podem ser administradas apenas por via intravenosa de forma lenta. Assim, ela se distribui de modo amplo na corrente sanguínea.
Mesmo com todas essas vantagens, a via intravenosa também possui desvantagens e só deve ser utilizada por profissionais habilitados. Aplicação de maneira errada pode gerar hematomas, feridas e atém amputação de membro ou óbito.
Quanto a injeção subcutânea, ela só pode ser realizada com as substâncias que não causam irritação dos tecidos pois caso contrário, pode desencadear dor intensa, necrose no tecido e descamação.
E a via transdérmica? Nem todos os fármacos penetram facilmente pela pele intacta. A absorção daqueles que o fazem depende da superfície sobre a qual são aplicados e de sua lipossolubilidade, pois a epiderme comporta-se como uma barreira lipídica.
A absorção sistêmica dos fármacos ocorre mais facilmente pela pele que sofreu abrasão, queimadura ou desnudamento, inflamação e outros distúrbios que venham a produzir um aumento do fluxo sanguíneo cutâneo ampliando a absorção. A absorção através da pele também pode ser ampliada pela produção do fármaco com base em substâncias oleosas e pela fricção desta preparação na pele. Como a pele hidratada é mais permeável do que a seca, a formulação pode ser modificada ou pode-se aplicar um curativo oclusivo para facilitar a absorção.
Outro local de administração são as mucosas da conjuntiva, nasofaringe, orofaringe, vagina, colo, uretra e bexiga, principalmente em decorrência de seus efeitos locais. Em alguns casos, como na aplicação do hormônio antidiurético sintético na mucosa nasal, o objetivo é a absorção sistêmica. Vale ressaltar que a absorção pelas mucosas ocorre rapidamente.
- Botulismo é uma doença relacionada à não atividade colinérgica, que se dá por uma bactéria, que se prolifera em produtos enlatados amassados, derivados de mel etc. O botox é retirado dessa bactéria. A doença é caracterizada por uma paralisia sistêmica progressiva.
UNIDADE 2
Você está na unidade Interações Nutricionais e Medicamentosas. Conheça aqui como alguns fármacos podem interferir no estado nutricional e na ingestão de alimentos, e compreenda o conceito de biodisponibilidade e sua importância para o entendimento das interações. Veja exemplos de interações positivas e negativas entre os nutrientes e compreenda a importância desse conhecimento para o planejamento dietético eficiente. Nesta unidade você será capaz de compreender que fatores antinutricionais podem afetar a biodisponibilidade de nutrientes e que o processamento de alimentos pode reduzi-los. Você também aprenderá que os medicamentos podem interagir entre si, e que o planejamento alimentar deve considerar a medicação utilizada pelo paciente para prevenir e/ou evitar deficiências alimentares e efeitos colaterais relacionados a ingestão de alimentos, absorção e metabolismo dos mesmos.
1 Nutrição e interferência de fármacos
A ingestão de alimentos, para além de sua função de integração social, supre a necessidade básica de nutrir o organismo. Logo, o estado nutricional de um indivíduo é altamente dependente de sua ingestão alimentar. Contudo, desequilíbrios funcionais, metabólicos ou patológicos podem interferir no estado de saúde geral de uma pessoa.
Para reencontrar a homeostasia, a medicina possui o recurso farmacológico para reduzir os danos causados por tais desequilíbrios. Mas algumas vezes, tanto um quadro patológico, como o uso de medicamentos para seu tratamento, pode afetar toda a cinética de utilização de alimentos, desde a nível de ingestão como a nível de absorção, metabolismo e até a excreção de seus metabólitos finais. Da mesma forma, o alimento ou nutriente pode interagir com um fármaco e alterar seu efeito ou até mesmo induzir uma reação adversa do mesmo.
O profissional nutricionista, que acompanha pacientes em tratamento medicamentoso, deve avaliar periodicamente o estado nutricional do mesmo, assim é possível identificar sintomas clínicos e possíveis alterações que podem afetar o estado nutricional e consequentemente a saúde do paciente.
Como nosso foco aqui é a farmacologia, nesse primeiro momento vamos discutir de maneira mais aprofundada a interferência dos fármacos, e não da patologia, na nutrição (ingestão alimentar, sintomas gastrointestinais e percepção alimentar). Posteriormente você verá com mais detalhe a interação entre fármaco e nutriente.
De maneira geral, podemos dizer que terapia farmacológica interfere afetando a ingestão alimentar ou causando a má absorção de nutrientes, seja por interação físico-química direta do fármaco com o alimento, seja por causar alterações nas funções fisiológicas ou até lesões no trato gastrointestinal (REIS, 2009).
1.1 Interferência do fármaco na ingestão alimentar
A terapia medicamentosa é utilizada a fim de minimizar os sintomas de uma doença e restaurar a saúde. Porém, em alguns casos, além da ação positiva frente à doença, o uso de alguns medicamentos pode causar efeitos colaterais que interferem no consumo alimentar.
Alguns fármacos, por exemplo, possuem a recomendação de não serem consumidos com determinados alimentos, ou em horários distantes das refeições, conforme você pode verificar na tabela “Exemplos de fármacos que interferem no apetite e na ingestão alimentar de alimentos”. Essas recomendações visam a melhor absorção e consequente ação do medicamento. Contudo, dependendo da situação fisiológica do indivíduo (idosos, por exemplo), o uso prolongado desse medicamento pode levar a deficiências nutricionais tanto pela constante rejeição de alimentos ou até omissão de refeições próximas ao horário de consumo do medicamento.
Dentre os efeitos colaterais de alguns medicamentos que levam a alteração de apetite e ingestão alimentar, podemos citar a anorexia e perda de peso ou o aumento do apetite e ganho de peso.
1.2 Interferência do fármaco no trato gastrointestinal
Os principais causados por medicamentos são náuseas, vômitos e alterações na motilidade do trato gastrointestinal (constipação ou diarreia). Alguns medicamentos podem causar alteração de pH e da composição da microbiota, fatores que também alteraram a biodisponibilidade dos nutrientes em geral.
 A imagem mostra uma tabela com três colunas e duas linhas apresentando exemplos de fármacos associados a sintomas gastrointestinais.
Como visto, podemos inferir que o principal efeito colateral de importância para a nutrição associado a esses sintomas é a interferência na absorção de nutrientes. Mas além dos distúrbios de absorção de nutrientes que esses sintomas podem provocar, indiretamente pode haver também uma redução da ingestão alimentar.
A tabela “Exemplos de fármacos associados a sintomas gastrointestinais” lista alguns medicamentos cujos efeitos colaterais podem afetar o trato gastrointestinal.
1.3 Interferência do fármaco na percepção do alimento
A percepção de que um alimento é saboroso é influenciada pela aparência, cheiro, textura e sabor do mesmo. Qualquer alteração nesses aspectos pode levar a sua rejeição. Alguns medicamentos, conforme descrito na tabela “Exemplos de fármacos que interferem na percepção do alimento”, possuem como efeito colateral a interferência no paladar ou no olfato, ou afetam a produção de saliva, deixando a sensação de boca seca.
A produção de saliva é importante para o início da digestão dos alimentos e sua falta impede a formação do bolo alimentar e a digestão adequada dos alimentos.
A hipogeusia, que é uma diminuição do paladar, e a disgeusia, caracterizada pela percepção alterada do paladar, como a presença de um sabor amargo ou metálico, são os distúrbios do paladar mais comuns ocasionados por medicamentos.
O olfato é primordial para a percepção de sabor, juntamente com o paladar. Portanto, a alteração no olfato afeta tanto a percepção do alimento, como o apetite e em consequência a ingestão alimentar.
2 Efeito dos nutrientes na cinética dos alimentos
Vamos agora dar uma pausa na temática farmacológica e falar um pouco sobrenutrientes. Em breve, você verá que os medicamentos e nutrientes podem interagir e que isso pode ser benéfico ou maléfico para ação de um ou ambos desses compostos. Mas antes, você precisa entender que nutrientes podem interagir entre si, e essas interações também devem ser consideradas quando um medicamento também é consumido simultaneamente.
Tendo isso em vista, e sabendo que uma adequada ingestão de alimentos em quantidade e qualidade são essenciais para um bom estado nutricional, é importante entendermos os mecanismos que os nutrientes ingeridos sofrem até sua efetiva utilização.
Durante a digestão o alimento sofre sucessivas transformações, com rearranjo molecular de nutrientes para facilitar a absorção. Após a absorção, os nutrientes são distribuídos aos tecidos para enfim serem utilizados. A quantidade de nutrientes efetivamente utilizado pelo organismo reflete o conceito de biodisponibilidade.
A forma química como os nutrientes se apresentam no alimento, livres, ionizados ou complexados, por exemplo, a quantidade ingerida e até a presença de outros alimentos/nutrientes ingeridos ao mesmo tempo pode afetar a utilização de um nutriente específico.
2.1 Tipos de Interações Nutricionais
Vamos pensar um pouco… Você concorda que não consumimos os nutrientes de forma isolada? Consumimos alimentos e refeições e inúmeros nutrientes são ingeridos nesse processo. Espera-se com isso que todos eles sejam absorvidos, principalmente por um indivíduo saudável. Porém, muitos nutrientes disputam o mesmo sítio de absorção, ou promovem maior excreção de outros, ou de alguma forma interagem entre si. As interações entre nutrientes, principalmente quando se tem desequilíbrio na ingestão, podem aumentar ou diminuir a biodisponibilidade de um ou ambos. A ingestão em excesso ou em baixa quantidade de um nutriente pode interferir em uma das fases do metabolismo de outro (absorção, transporte, excreção, armazenamento, função).
São unidirecionais ou diretas as interações em que um dos nutrientes afeta a biodisponibilidade do outro.
São bidirecionais ou indiretas as interações em que ambos nutrientes têm sua biodisponibilidade afetada quando coadministrados.
2.2 Classificação das Interações Nutricionais
São as interações em que se tem o aumento da biodisponibilidade do nutriente, ou seja, a presença de um nutriente é necessária ao metabolismo de outro. são aquelas interações em que a biodisponibilidade de nutriente é diminuída pela presença de outro.
A imagem mostra uma tabela com três colunas e 4 linhas apresentando oito exemplos de interações entre micronutrientes, suas respectivas classificações de tipo de interação e nível de ocorrência
Para minerais e elementos, os compostos que mais diminuem sua biodisponibilidade são os fitatos, fosfatos e taninos, que veremos logo mais. Os compostos que promovem uma melhor biodisponibilidade são ácido cítrico e ascórbico.
2.3 Interações entre micronutrientes
Vamos listar abaixo algumas interações entre nutrientes. Algumas acontecem com a presença de outros compostos associados. Veja a interação do cálcio com zinco, por exemplo, esses minerais, principalmente na presença de fitatos, formam um complexo cálcio-fitato-zinco, que afeta a biodisponibilidade de zinco, resultado de uma menor absorção.
O zinco também se relaciona com o cobre. O excesso de zinco diminui a absorção do cobre como resultado do aumento de uma proteína com afinidade para o cobre, proteína e mineral se ligam o que limita sua absorção.
A proteína ligadora do retinol, responsável pelo transporte da vitamina A do fígado para os tecidos alvos é dependente de zinco. O baixo consumo crônico ou a deficiência de zinco pode, portanto, levar a uma baixa utilização de vitamina A pelo organismo.
O zinco pode interagir também com metais pesados formando um complexo que pode aumentar sua excreção. É o caso do complexo formado pelo cádmio com o zinco. Mercúrio com o selênio interagem de maneira semelhante. Indivíduos com baixa ingestão desses minerais e que vivem em ambientes poluídos correm maior risco de deficiência.
O selênio se relaciona também com o iodo. Ele é importante para o metabolismo do iodo pois participa da formação de T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina). Portanto, um baixo consumo de selênio resulta em uma baixa utilização de iodo.
A interação entre o selênio e a vitamina E pode ser explicada pela menor necessidade de uso da vitamina E para reparo de dano celular por radicais livres na presença de selênio. Isso por que a ação antioxidante desse mineral, diminui a necessidade da vitamina.
Já a vitamina D se relaciona com o cálcio. Para absorção intestinal desse mineral é necessário a presença da vitamina D. Osteopenia e osteoporose são riscos quando se tem um quadro de deficiência de vitamina D.
Outra vitamina que pode interagir com outros micronutrientes é a vitamina C. O excesso de vitamina C pode alterar a forma química do cobre, tornando-o menos biodisponível e prejudicando a absorção desse mineral. A vitamina C também interage com o ferro, e vamos tratar dessa relação em um tópico à parte.
3 Alimentos promotores e inibidores da absorção de ferro
Vamos falar sobre a interação de nutrientes com o ferro em separado, uma vez que a diminuição de sua biodisponibilidade pode levar a deficiência e causar anemia ferropriva.
Esse quadro patológico é considerado um problema de saúde pública que afeta principalmente crianças, gestantes e idosos. A dietoterapia relacionada ao tratamento dessa condição é realizada fundamentalmente com o aumento do consumo de fontes de ferro. Mas também com a combinação da ingestão de alimentos ricos em outros nutrientes para aumentar a biodisponibilidade deste mineral, assim como a recomendação de se evitar os alimentos fontes de nutrientes ou compostos que diminuem a biodisponibilidade de ferro.
3.1 Interação de micronutrientes com o ferro
A vitamina A interage com o ferro a nível de utilização por prejudicar o transporte de ferro. Tanto que níveis baixos de hemoglobina são associados a deficiência de vitamina A. Nesse sentido, a dietoterapia deve prever o aumento de fontes dietéticas de vitamina A e, a depender do caso, de suplementação desses nutrientes.
· Vitamina A
É essencial para melhorar a absorção do ferro não heme, presente em vegetais.
· Ácido Ascórbico (vit c)
Permite a mudança (redução) da forma química do ferro para uma melhor absorção e também é capaz de formar um complexo com o mineral, melhorando sua absorção.
· Zinco
Pode interferir na absorção e utilização de ferro, assim como o contrário. Essa interação deve ser observada, principalmente nos casos de suplementação em que a ingestão alimentar não esteja adequada para o outro nutriente. O consumo exagerado de cálcio também pode interferir na absorção de ferro por competir pelo mesmo sítio de absorção.
Essas informações são importantes para o planejamento dietético, que deve se preocupar com os alimentos fontes desses nutrientes em uma mesma refeição.
Além das interações com os nutrientes citados, a absorção e utilização de ferro pode ser afetada por outros compostos, denominados fatores antinutricionais que veremos a seguir.
3.2 Recomendações para melhorar as reservas de ferro
Como dito, o tratamento dietoterápico para a promoção da absorção de ferro deve levar em consideração as interações com outros nutrientes para formulação do plano dietético.
O aumento do consumo de fontes alimentares de ferro em todas as refeições, como alimentos de origem animal (carnes, vísceras, peixes, dentre outros) é fundamental para evitar e corrigir as deficiências. Aliado a isso, principalmente para vegetarianos, é importante o consumo de alimentos ricos em vitamina C em todas as refeições, associado a ingestão de alimentos vegetais ricos em ferro. Essa combinação permite uma melhor absorção do ferro de vegetais, que naturalmente é menos biodisponível por sua forma química. Aumentando as fontes alimentares de ferro e de vitamina C, conseguimos um melhor aporte de ferro absorvível na dieta.
Nesse sentido, é necessário orientar o pacientesobre a necessidade de evitar o consumo de alimentos lácteos junto a alimentos ricos em ferro, assim como o consumo exagerado de chás e cafés, que podem impedir a absorção adequada de ferro disponível na refeição.
4 Fatores antinutricionais
Alguns compostos químicos, além dos já citados, podem reduzir a biodisponibilidade e qualidade nutricional de nutrientes, e são os chamados fatores antinutricionais. Esses fatores são encontrados naturalmente nos alimentos vegetais e além de interferir na absorção ou utilização de nutrientes, o consumo excessivo desses compostos pode ser tóxico.
4.1 Tipos de fatores antinutricionais
Podemos citar, entre outros, os inibidores de proteínas, oxalatos, taninos, nitritos, ácido cianídrico.
Alguns desses compostos antinutricionais são termolábeis, ou seja, sofrem alteração com a presença de calor. Isso faz com que o processamento térmico seja suficiente para evitar a interferência desses fatores com os nutrientes ingeridos, mas veremos logo mais que outros processamentos podem auxiliar na redução do consumo desses compostos.
Outros podem ser considerados, quando consumidos em pequenas quantidades, compostos antioxidantes e, portanto, serem interessantes para saúde. Esse é o caso dos compostos fenólicos, porém os taninos, um exemplo desses compostos, podem interferir na qualidade nutricional de proteínas. O complexo entre taninos e proteínas as tornam insolúveis e inativam as enzimas, prejudicando a absorção de aminoácidos.
Fitatos podem formar complexos insolúveis com minerais e proteínas. Já oxalatos podem formar complexos com o cálcio e diminuir a disponibilidade desse mineral. O nitrato pode interferir no metabolismo da vitamina A. Veja na tabela a seguir os principais fatores nutricionais que interferem na biodisponibilidade de nutrientes.
A imagem mostra uma tabela com duas colunas e sete linhas apresentando exemplos de fatores antinutricionais e seus efeitos sobre a disponibilidade de nutrientes.
4.2 Fatores antinutricionais e processamento de alimentos
Esses compostos químicos, apesar de interferirem na biodisponibilidade de nutrientes, podem ser inativados pelo em etapas como remolho, corte, cocção, secagem, fermentação.
O remolho trata-se de deixar os alimentos imersos em água para hidratação. Compostos solúveis dos alimentos migram para água, principalmente se houver condições ideais de temperatura e pH. Para que seja uma ação efetiva, é necessário que a água seja sempre desprezada. É uma etapa muito interessante no preparo de leguminosas em que os compostos antinutricionais são eliminados com a água de remolho e não agem sobre a absorção de nutrientes, além de prevenir o desconforto gástrico causado por eles.
Alimentos ricos em oxalato, como a beterraba por exemplo, quando cozidos, ocorre a migração desse composto, que é solúvel, para água de cozimento. Com a migração é importante não utilizar a água de cozimento, para não ocorra o consumo do oxalato.
O fitato pode formar complexos com cálcio, ferro e outros minerais como vimos acima. Para evitar essa complexação é importante que alimentos ricos neste composto, como as leguminosas, sejam preparados com remolho, ou passem por processos de fermentação, germinação ou ainda tratamento térmico. Dessa forma, ocorre a desfosforilação do composto, perdendo a capacidade inicial de se complexar com os minerais. O remolho também é interessante para diminuir o teor de inibidores de proteases. A germinação também é útil para eliminação de oligossacarídeos.
5 Interações medicamentosas
Como foi dito no início, o uso de medicamentos objetiva a recuperação da saúde. Porém, sempre há a descrição de efeitos adversos nas bulas, e muitos deles causados por interações e pela doença principal ou outras associadas.
Como você pode perceber até aqui, tudo que é ingerido, pode sofrer algum tipo de interação com outros compostos. O mesmo acontece com a ingestão de medicamento, que pode interagir com o que for consumido concomitantemente ou com o que já estiver presente no trato gastrointestinal. Essa interação pode ser entre fármaco e fármaco, fármaco e fitoterápico, fármaco e alimento, fármaco e suplemento.
A interação medicamentosa pode ser definida como a alteração do metabolismo de um fármaco por outro. A modificação da ação pode ser independente ou integrada, com aumento ou diminuição da ação de um ou ambos medicamentos ou até com risco de toxicidade.
Acabamos de ver acima que as interferências e as interações dos medicamentos com os alimentos/nutrientes podem afetar o estado nutricional do paciente. Porém, lembre-se que não é uma prerrogativa do profissional nutricionista o diagnóstico clínico e a prescrição de medicamentos. Ao nutricionista cabe o diagnóstico nutricional e lhe é permitido a prescrição apenas de suplementos nutricionais e fitoterápicos.
Saiba mais em: Resolução CFN n° 525/2013, alterada pela Resolução CFN n° 556/2015 - regulamenta a prática da Fitoterapia pelo Nutricionista, atribuindo-lhe competências para, nas modalidades que especifica, prescrever plantas e chás medicinais, medicamentos fitoterápicos, produtos tradicionais fitoterápicos e preparações magistrais de fitoterápicos como complemento da prescrição dietética. Resolução CFN n° 390/2006 que regulamenta a prescrição dietética de suplementos nutricionais pelo Nutricionista.
O efeito positivo pode ser visto, por exemplo, na relação entre a prescrição de hipertensivos e diuréticos, em que ambos agem sinergicamente no organismo. Um exemplo de interação negativa seria o consumo de antiácido e antibiótico, onde o primeiro causa a excreção do antibiótico não permitindo que ele complete sua ação.
O uso de anti-inflamatório não esteroide com o anticoagulante varfarina, exemplifica o risco de toxicidade na interação de fármacos, por essa relação provocar sangramento.
 5.1 Fatores interferentes nas interações medicamentosas
Além do consumo concomitante de dois ou mais medicamentos, outros fatores podem interferir na interação medicamentosa relacionados ao paciente ou ao medicamento.
O estado de saúde, a idade, a velocidade do esvaziamento gástrico, as funções renais e hepáticas em adequado funcionamento são condições inerentes ao paciente e que podem intensificar ou não as interações entre os fármacos.
Em relação à administração dos medicamentos, é necessário se considerar a sequência de uso dos fármacos, a dosagem utilizada e o tempo de tratamento.
5.2 Classificação das interações medicamentosas
As interações entre fármacos podem ser do tipo físico-química ou terapêuticas, e podem se limitar ao efeito de sintomas clínicos, ou chegar a aumentar o quadro patológico do paciente, ou ser extrema, com ameaça a vida e risco de morte. As interações físico-químicas, são denominadas também interações farmacêuticas, acontecem antes da absorção e podem indicar incompatibilidade.
As alterações organolépticas, a presença de precipitados, formação de gás ou calor, alteração de pH e motilidade intestinal, oxidação e inativação de componentes por adsorção, quelação, incompatibilidade, são alguns exemplos de modificações que podem ocorrer com a mistura de dois ou mais medicamentos conflitantes. Essas reações comprometem a ligação dos fármacos aos seus sítios de absorção.
As interações terapêuticas acontecem após absorção e podem ser divididas por sua ação na farmacocinética (o que o corpo pode fazer com o medicamento) ou na farmacodinâmica (o que o fármaco pode fazer ao organismo) de um ou mais dos fármacos relacionados. A interação farmacodinâmica provoca modificação no efeito bioquímico ou fisiológico de um ou mais fármacos, provocando efeitos de sinergismo ou antagonismo de ação entre eles. O efeito sinérgico pode ser tanto terapêutico como tóxico, a depender do tipo de interação, que pode ser de adição, somação ou potenciação:
	Adição
	Quando os fármacos possuem mesmo mecanismo de ação.
	Somação
	Quando os mecanismos de ação são diferentes.
	Potenciação
	Quando um fármaco potencializa a ação de outro.
A interação farmacodinâmica antagônica ocorre quando a relaçãoentre os fármacos cria uma resposta suprimida ou reduzida de um medicamento na presença de outro. Pode ocorrer a nível farmacológico, fisiológico, químico ou físico.
As interações farmacocinéticas são as mais importantes quando o assunto é interação entre medicamentos e podem acontecer a nível de absorção, distribuição, biotransformação/metabolização, com efeito de indução ou inibição enzimática, e a nível de excreção, principalmente renal.
Possuem maior efeito clínico as interações farmacocinéticas a nível de absorção, como resultado de alterações do trato gastrointestinal de pH, motilidade, flora, função da mucosa e complexação com micronutrientes.
A distribuição significa a saída do fármaco da corrente sanguínea em direção aos órgãos por meio da ligação com proteínas plasmáticas transportadoras. Essa ligação fármaco-proteína de transporte é dependente da afinidade do fármaco com a proteína (risco de competição entre os medicamentos) e da hemodiluição dessas proteínas. Portanto, medicamentos que necessitam desse transporte proteico de maneira similar a outros, podem não chegar ao local de ação, o que interfere na terapêutica esperada por eles.
Como dito, na etapa de metabolização pode ocorrer efeito de indução ou inibição enzimática no fígado, relacionada ao citocromo P450. As interações de indução estimulam a biotransformação de um ou ambos fármacos, muitas das vezes, disponibilizando mais metabólitos que o desejado. Enquanto as interações de inibição, como o próprio nome diz, inibem o metabolismo de um ou de todos os fármacos que interagem, aumentando o risco de acumulação.
Essas classificações das interações medicamentosas irão nos ajudar a entender melhor posteriormente as diversas formas de interação que podem surgir entre os fármacos e nutrientes/fitoterápicos/suplementos/outros fármacos.
UNIDADE 3
1 Interações drogas e nutrientes
Os nutrientes presentes no alimento podem interagir com os fármacos e isso é um fator que deve ser avaliado com bastante cautela na prática clínica. Essas alterações podem trazer tanto benefícios quanto prejuízos para o paciente em questão.
Para o profissional de saúde é imprescindível reconhecer as interações de forma sistemática, como integrante no processo de avaliação e durante o tratamento medicamentoso.
Antes de prosseguir com nosso estudo, vamos relembrar alguns conceitos importantes:
	Droga
	Considera-se uma droga, qualquer substância que quando consumida altera a fisiologia do organismo. Seja ela o álcool, cigarro, dipirona, maconha, entre outros.
	Fármaco
	Também chamado de princípio ativo, é a substância “principal” do medicamento, ou seja, aquela responsável pelo efeito terapêutico do medicamento.
	Medicamento
	É um produto farmacêutico que contem um princípio ativo (fármaco) e se apresenta em formas variadas como comprimidos, cápsulas, xaropes, soluções, pomadas, géis etc.
	Farmacocinética
	Corresponde ao que o organismo faz com a droga – compreende a absorção, distribuição, biotransformação e excreção.
	Farmacodinâmica
	Corresponde ao que a droga faz com o organismo – compreende as interações moleculares, o efeito, a ligação no receptor etc.
1.1 Interações entre drogas e nutrientes
As interações entre drogas e nutrientes acontecem facilmente, pois grande parte dos medicamentos é administrada por via oral. São vários os fatores farmacocinéticos que podem ser influenciados pelos alimentos, dentre eles temos a absorção, a distribuição, a biotransformação e a excreção.
A interação medicamento-nutriente é definida como uma alteração da cinética ou dinâmica de um medicamento ou nutriente, ou ainda, o comprometimento do estado nutricional como resultado de administração de um medicamento, compreendendo-se a cinética como a descrição quantitativa de um medicamento ou sua disposição, o que inclui a absorção, distribuição, metabolismo e excreção (Tabela 1); a dinâmica caracteriza-se pelo efeito clínico ou fisiológico do medicamento. Em outras palavras, as interações medicamentosas entre alimentos e medicamentos são tipos especiais de respostas farmacológicas, em que os efeitos de um ou mais medicamentos são alterados pela administração simultânea ou anterior de outros, ou através da administração concorrente com alimentos (SCHWEIGERT et al, 2008).
Alguns nutrientes são absorvidos pelo mesmo mecanismo que os fármacos, competindo pelo local de absorção no trato gastrintestinal.
2 Características gerais da interação fármaco x nutriente
A seguir, conheceremos as características das diferentes interações, de acordo com as fases distintas.
2.1 Interação na fase biofarmacêutica e absorção
A grande maioria dos fármacos, quando tomados por via oral, é absorvida por passiva e os nutrientes preferenciam o . O primeiro momento após a administração do medicamento chama-se fase biofarmacêutica.
“Compreende todos os processos que ocorrem com o medicamento a partir da sua administração, incluindo as etapas de liberação e dissolução do princípio ativo. Esta fase deixa o fármaco disponível para a absorção. Entretanto, sua natureza química, estado físico, tamanho e superfície da partícula, quantidade e tipo dos excipientes utilizados, processo farmacêutico empregado e formulação são fatores os quais podem influir na biodisponibilidade do princípio ativo, fazendo variar o tempo de absorção e a quantidade absorvida (MOURA; REYES, 2002).”
Durante o processo de absorção vários são os fatores que podem influenciar: alteração do pH do conteúdo do trato gastrintestinal, velocidade do esvaziamento do estômago, aumento do peristaltismo intestinal, competição pelos sítios de absorção, fluxo sanguíneo e alguns complexos formados pelo nutriente e o fármaco (uma ligação direta entre eles).
Quando alimento e/ou líquido é ingerido, o pH do estômago altera, mudando de 1,5 para cerca de 3. Essa alteração do potencial hidrogeniônico pode afetar diretamente a desintegração dos medicamentos sólidos (comprimidos, drágeas, cápsulas) e então, pode influenciar também a absorção ou a estrutura química do princípio ativo, substância responsável pela terapêutica.
Essa alteração pode ser benéfica ou maléfica. Por exemplo, o comprimido de fenitoína tende a desintegrar mais facilmente com o pH mais alto, portanto será absorvido mais rápido. Já no caso do antibiótico eritromicina essa ação é lentificada, então o efeito será mais demorado.
Também influenciado pela presença do alimento, o estômago tende a esvaziar mais lentamente fazendo com que a absorção também seja mais demorada. Enquanto no intestino delgado, o peristaltismo favorece a dissolução e consequentemente a absorção, mas também pode prejudicar a biodisponibilidade. Vamos exemplificar:
	Alendronato
	O medicamento utilizado para tratamento de osteoporose tem sua absorção diminuída em 60% quando tomado com café ou suco. Devendo então ser tomado 2 horas antes de se alimentar.
	Cefuroxima
	A substância, com atividade antibiótica, tem sua absorção aumentada na presença de alimentos.
	Tetraciclina e Ciprofloxacino
	Estes antibióticos formam quelatos com cálcio, magnésio, ferro e zinco reduzindo a absorção destes nutrientes.
	Cimetidina
	O medicamento para problemas estomacais, pode alterar a acidez e com isso diminuir a absorção de vitamina B12, tiamina e ferro.
	Furosemida
	Medicamento diurético que aumenta a excreção de sódio, cloro e magnésio.
2.2 Interação na fase de metabolismo e excreção
Na fase de metabolismo, o propranolol tem alteração quando na presença de alimentos e este medicamento se trata de um dos anti-hipertensivos mais utilizados pela população. O metabolismo dos fármacos compreende os processos de biotransformação que ocorre no fígado e chamamos de mecanismo de fase I e fase II.
No mecanismo de fase I temos as reações conhecidas como “Reações de ativação” que são: oxidação, hidroxilação, alquilação, hidrólise. Já na fase II, as reações de conjugação: glicuronidação, glucosidação, sulfatação, metilação, acetilação, por exemplo, que irão formar um conjugado.
Conheça um caso gravíssimo de interação alimento x medicamentoque resultou em sérias reações adversas e internação hospitalar com necessidade de oxigenação mecânica. Este caso foi publicado no site da UOL em 2013.
“A paciente de 42 anos mal reagia quando seu marido a trouxe ao pronto-socorro. Sua frequência cardíaca tornava-se mais lenta ao mesmo tempo em que a pressão arterial baixava. Para reanimar a paciente, os médicos tiveram que colocá-la em um respirador e depois colocar um marca-passo. Eles ficaram perplexos quando o marido afirmou que ela tinha enxaqueca e tomava um remédio para hipertensão arterial chamado verapamil como forma de prevenir a doença. Mas os exames de sangue revelaram a presença de uma quantidade assustadora do medicamento no corpo da paciente, um nível cinco vezes maior que o considerado seguro. Em circunstâncias normais, o medicamento é metabolizado no trato gastrointestinal e uma quantidade relativamente pequena é absorvida, pois uma enzima existente no intestino, chamada CYP3A4, o torna inativo. Contudo, a toranja possui substâncias químicas naturais, chamadas furanocumarinas, que inibem a enzima. Sem sua presença, o intestino absorve uma quantidade bem maior do medicamento e os níveis da droga no sangue aumentam de forma significativa (UOL, 2013).”
São muitos os medicamentos que interagem com a toranja, cerca de 85, e entre eles estão a sinvastatina e o anticoncepcional que contenha etinilestradiol, podendo causar rabdomiólise e coágulos graves respectivamente.
Sobre a excreção, vários alimentos e nutrientes podem alterar a excreção dos fármacos através dos rins. Por exemplo, o sódio presente nos alimentos pode competir com o carbonato de lítio, medicamento utilizado para casos de transtornos de humor bipolar. O aumento do consumo de sódio aumenta a excreção do lítio e, o contrário, a redução do consumo de sódio aumenta a retenção renal do lítio aumentando assim seus níveis no sangue.
3 Terapia nutricional enteral x fármacos
Pacientes em nutrição entérica também possuem recomendações para a administração de medicamentos por via oral, portanto é imprescindível que os profissionais conheçam as possíveis complicações e quais as limitações, além da necessidade da aplicação de técnicas corretas na realização da administração oral por sonda de nutrição.
3.1 Interação terapia enteral x fármaco
As interações neste caso passam além da alteração de estabilidade do medicamento, da liberação e biodisponibilidade ou alterações no trato gastrintestinal, mas também problemas com a sonda utilizada como a obstrução da passagem.
A atenção voltada à interação fármaco x fármaco merece uma atenção intensa, assim como a interação alimento x fármaco. Como já estamos percebendo desde o início da unidade, essas interações podem levar o paciente a graves problemas que, se não revertidos em tempo hábil, podem levá-lo a óbito.
Alguns problemas associados à alimentação enteral por sonda nem sempre ocorrem por essa causa. De acordo com Keef (2009), a diarreia muitas vezes associada à nutrição entérica é em sua maioria causada por outros fatores como a hiperosmolaridade, sorbitol, intestino inativo ou até mesmo a terapia antibiótica.
3.2 Potenciais fármacos nesse modelo de interação
Os imunossupressores, hormônios, antibióticos, anti-inflamatórios esteroidais, citostáticos são fármacos com alto poder irritativo e devem ser manipulados com muito cuidado. A própria manipulação de substâncias para colocar na sonda, como o citostático, deve obedecer a critérios de boas práticas para proteção do paciente, mas também do profissional, principalmente os que precisam ser triturados para administrar, produzido pó que dispersa pelo ar e pode ser aspirado ou entrar em contato com mucosas e causar alergias, entre outros.
Lavar a sonda antes e após a realização de cada administração auxilia na prevenção da obstrução da sonda, assegura que a quantidade de medicamento administrada chegue ao local desejado sem restar retenção dela no decorrer da sonda garantindo a dose, além de reduzir a possibilidade de ocorrência de interação entre o fármaco e a nutrição que irá ser administrada posteriormente.
Portanto, antes de administrar qualquer produto é preciso confirmar a sua viabilidade para esta via, identificar as melhores formas de manipulação e administração para evitar demais problemas.
Para administrar medicamento em forma farmacêutica xarope, deve-se diluir o xarope 1:1 em água, ou seja, no mínimo o volume de xarope deve ser diluído em um mesmo volume de água. Caso seja administrado 10mL de xarope, deve-se diluir em no mínimo 10mL de água e posteriormente realizar a lavagem da sonda com um volume considerado de água. No caso do antibiótico ciprofloxacino, deve-se parar a nutrição pelo menos 1 hora antes de administrar o medicamento ou somente inserir o antibiótico duas horas após a alimentação. E não se recomenda macerar, pois se trata de comprimido que possui revestimento, não podendo destruí-lo.
O mesmo da maceração se recomenda, por exemplo, para a hidralazina, pois possui revestimento, é uma drágea. Monitoramento da pressão deve ser constante e é preferível deixar a administração da dieta de forma contínua.
Então, atenção para as formas farmacêuticas que não podem ser maceradas: comprimidos revestidos e comprimidos de liberação lenta, pois pode fazer com que a liberação da dose do principio ativo seja imediata e neste caso, é necessário que a liberação ocorra de forma lenta para melhor resposta terapêutica. Cápsulas preenchidas por micro grânulos não devem ser abertas, pois corre o risco de obstruir a sonda e também de perder o efeito do medicamento.
4 Interações provocadas por agentes usados nas alterações gastroenterológicas
Grande parte dos medicamentos são administrados por via oral, ou seja, o processo necessita de todo trato gastrintestinal. Com isso, as interações com os alimentos e os nutrientes tem maior probabilidade de acontecer. O nutricionista precisa ter uma atenção redobrada ao programar os horários das refeições e suplementações para não prejudicar o tratamento farmacológico já realizado pelo paciente para alguma doença.
4.1 Interações com medicamentos para alterações no TGI
Vamos começar pelo omeprazol, um medicamento utilizado para úlceras, gastrites e refluxos. Este medicamento tem sua absorção reduzida em até 50% quando tomado junto de alimento, então se indica o consumo em jejum, preferencialmente pela manhã, e o paciente só deve se alimentar de 40 a 60 minutos depois da ingestão. Quando for necessária outra administração durante o dia, segue a recomendação de aguardar pelo menos 2 horas após alguma refeição e só voltar a ingerir alimentos após 40/60 minutos.
Outra interação importante a ser mencionada é a ingestão de café após uma refeição. A cafeína reduz em 40% a absorção de ferro não-hêmico, o mesmo acontece quando tomado simultaneamente à refeição ou após 1 hora da mesma. Pode ser ingerido então, 1 hora antes de alimentar-se, desta forma não é observada redução na absorção do ferro.
4.2 Interações com vitaminas lipossolúveis
O orlistat, fármaco utilizado para redução de peso e obesidade, atua inibindo a absorção de gordura e as vitaminas A, D, E e K são lipossolúveis, consequentemente são eliminadas nas fezes, precisando então suplementar.
Grandes doses de óleo mineral também interferem na absorção destas vitaminas acima citadas além do betacaroteno, cálcio e fosfatos devido à barreira física e também à redução do tempo do trânsito intestinal.
5 Interações provocadas por agentes que atuam na inflamação e nos processos infecciosos
Neste tópico abordaremos as interações referentes às inflamações, portanto a interação entre alimentos e anti-inflamatórios esteroidais (também conhecidos como corticoides) e os anti-inflamatórios não esteroidais, assim como de processos infecciosos onde estão os antibióticos, antivirais, antiparasitários.
Muitos destes processos também envolvem dor, então aqui abordaremos também os analgésicos (opioides e não-opioides) e suas possíveis interações com alimentos e nutrientes.
5.1 Anti-inflamatórios e analgésicos
Um dosanalgésicos mais utilizados é o paracetamol e ele interage com carboidratos. O produto final da degradação do carboidrato é a glicose e lá no enterócito (intestino) ocorrerá um antiporte glicose x paracetamol. Como o corpo precisará de glicose, ele não captará o paracetamol. Com isso, o paracetamol vai seguir pela luz do intestino delgado e grosso até ser eliminado na forma inalterada não chegando a ser absorvido. A dor não passa, a febre não baixa e leva o paciente a achar que o medicamento não presta ou não serve, mas na realidade pode ter sido aquela “comidinha” antes de tomar o medicamento.
Outra interação importante a ser citada é com relação ao tramadol, um analgésico opioide com alta potencia muito utilizado em dores fortes e pós-procedimentos cirúrgicos. Quando em contato com alimento, o pH do estômago é alterado, desta forma modifica a absorção do tramadol e consequentemente seu efeito também é afetado.
Diclofenaco de colestiramina, utilizado para dores e inflamações, pode sequestrar ácidos biliares e com isso interferir na absorção das gorduras prejudicando então as vitaminas lipossolúveis A, D, E K. Portanto, quando tomado por um longo período de tempo, carece de suplementação destas vitaminas.
Grande parte dos anti-inflamatórios não-esteroidais (nimesulida, ibuprofeno, cetoprofeno, diclofenaco, etc.) podem causar irritação gástrica e náuseas, prejudicando diretamente a ingestão alimentar.
5.2 Antibióticos, antiparasitários e antivirais
O albendazol comumente utilizado para matar vermes e parasitas tem sua absorção melhorada quando consumido com gorduras. Os ácidos graxos facilitam, gerando um simporte, a absorção do albendazol pela luz do intestino para a corrente sanguínea, aumentando de 4 a 5 vezes. Este medicamento tem certa dificuldade de ser absorvido então é importantíssima a orientação dessa associação. Muitos prescritores indicam tomar na hora do almoço para garantir a presença de algum ácido graxo durante a absorção do medicamento, mas o nutricionista pode auxiliar muito neste momento ofertando na dieta as oleaginosas, abacates, queijos, chocolates e até uma fritura. Qual pessoa não iria gostar de comer uma coxinha ou pastel neste momento, hein?
Com o antibiótico cloridrato de tetraciclina o alimento evitado deve ser o leite e seus derivados lácteos, pois quando juntos, formam quelatos e isso diminui a absorção da tetraciclina e do cálcio. Portanto, consumir leite e derivados até uma hora antes de tomar o medicamento ou somente duas horas após.
O metronidazol, também da classe dos antibióticos, altera o paladar e deixa a boca seca por alterar o fluxo salivar além de possíveis estomatites, isso pode interferir diretamente na adequação do paciente à dieta, à ingestão dos alimentos como um todo.
Outro costume é, durante períodos de gripes, resfriados com infecções de garganta, se tomar antibiótico e junto, a vitamina C. Ambos interagem quando consumidos juntos inibindo a ação dos antibióticos.
Outro dado importante é a destruição da microbiota intestinal pelos antibióticos em geral podendo gerar quadros diarreicos. Suplementar com probióticos é uma boa opção nestes momentos.
6 Fármacos anti-hipertensivos e suas interações com os alimentos
A seguir, discutiremos as interações dos fármacos anti-hipertensivos com alimentos durante as fases farmacocinética e farmacodinâmica.
6.1 Interações com medicamentos anti-hipertensivos durante a fase farmacocinética
Um dos medicamentos pertencentes a esta classe com alto volume de prescrição é o propranolol. Este fármaco tem interação em nível de absorção, pois a modificação do pH do conteúdo gastrointestinal pode afetar diretamente sua absorção e consequentemente o efeito terapêutico esperado, de reduzir a pressão arterial, poderá não ser alcançado. Além disto, dietas hiperproteicas reduzem o metabolismo de fase I do propranolol.
A amilorida interage diretamente com cálcio, leite e queijo diminuindo sua biodisponibilidade, enquanto a nifedipina tem esta mesma redução com alimentos em geral e a metildopa com sais de ferro. O atenolol e medicamentos pertencentes à classe dos bloqueadores de canais de cálcio não devem ser consumidos com suco de laranja, pois essa associação diminui a absorção dos fármacos.
Os diuréticos, utilizados para reduzir a retenção hídrica e, por este fator, altera a excreção de nutrientes importantes. O furosemida, um diurético potente, aumenta a excreção de íons de potássio, cálcio, magnésio, sódio além da água e em contrapartida aumenta o ácido úrico no organismo.
Enquanto a hidroclorotiazida também aumenta no organismo o ácido úrico, assim como a glicose e triglicerídeos, e intensifica a excreção de íons de potássio, magnésio e sódio. Para pacientes com câimbras devido ao excesso de eliminação de potássio é recomendado associar o uso do espironolactona, diurético pertencente à classe dos “diuréticos poupadores de potássio”.
6.2 Interação com anti-hipertensivos na fase farmacodinâmica
Vamos começar pelo atenolol, metoprolol, nadolol e prazosina. Estes anti-hipertensivos interagem com alguns alimentos específicos como gengibre (muito presente em dietas atualmente), ginseng e pimenta caiena podendo alterar o efeito anti-hipertensivo. O propranolol interage com aipo, alho, gengibre, ginseng, melão e pode aumentar o efeito colateral de reduzir a glicemia.
Os medicamentos que estão na classe dos betabloqueadores, bloqueadores de canal de cálcio, diuréticos e inibidores da enzina conversora de angiotensina também interagem com gengibre, ginseng e pimenta caiena, mas chamo atenção para a interação com a erva-de-são-joão, comumente prescrita como aliada aos planos alimentares.
7 Fármacos utilizados no tratamento da obesidade
Muitos mitos se escondem por traz das terapias da obesidade e grande parte envolve medicamento. O tratamento da obesidade deve ser realizado em um e individual para cada paciente, levando sempre em consideração suas características individuais, comorbidades, dificuldades, entre outros.
7.1 Obesidade e diagnóstico
A obesidade é doença da alteração da constituição corporal, com determinantes genéticos e ambientais, definida pelo excesso das reservas corporais de gordura, que ocorre quando, cronicamente, a oferta de calorias é maior que o gasto de energia, o que resulta com frequência em prejuízos significantes para a saúde. Segundo dados mais recentes da Organização Mundial de Saúde, 2,3 bilhões de pessoas no mundo estão com sobrepeso ou obesidade. No Brasil, aproximadamente 20% da população está obesa e mais da metade em sobrepeso, o que gera cerca de 80 mil mortes por ano decorrentes das complicações desta doença.
As principais comorbidades associadas à obesidade são: hipertensão, diabetes, osteoartrite, distúrbios respiratórios, câncer, além de depressão e ansiedade. Por se tratar de doença multifatorial, está atrelada à genética, fatores ambientais, estilos de vida, determinantes sociais, doenças (por exemplo, hipotireoidismo, hipogonadismo, Síndrome de Cushing, transtornos alimentares e psiquiátricos) e medicamentos (por exemplo, benzodiazepínicos, corticosteroides, antipsicóticos, antidepressivos tricíclicos, anticoncepcionais, dentre outros).
O diagnóstico de sobrepeso e obesidade no Brasil é realizado através do cálculo do índice de massa corporal (IMC) e consiste na divisão entre o peso (em quilogramas) e o quadro da altura (em metros). Valores entre 20 e 25 são considerados normopesos e baixo risco de complicações. No entanto, quanto maior for, o risco aumenta. Entre 25 e 30, sobrepeso e acima de 30 obesidade.
7.2 Tratamentos da obesidade
O tratamento da obesidade deve ser realizado por equipe multidisciplinar de modo a abordar questões como: alimentação adequada, realização de exercício físico, psicoterapia, e ainda farmacoterapia. A indicação do tratamento medicamentoso é para aqueles pacientes que exibem um IMC maior que 30, ou quando o indivíduo tem doenças associadas ao excesso de peso com IMC superior a 25, em situações na quais o tratamento com dieta, exercício ou aumento da atividade física

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