Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO (Teorias da Administração) Alice Carneiro de Castro; Erica Sarraf Fernandes Biondo; Flaviana Totti Custódio dos Santos. Os antecedentes históricos da ciência da administração UNIDADE 1 SST Copyright © 2023. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Os antecedentes históricos da ciência da administração 3 Apresentação da unidade A administração é uma ciência nova, se comparada, por exemplo, à astronomia, que é a ciência mais antiga de todas, com mais de cinco mil anos de registros. São pouco mais de cem anos de pesquisas e de estudos específicos sobre gestão de empreendimentos e seus impactos na vida das pessoas. No entanto, o ato de administrar é ainda mais antigo que a astronomia, pois está presente evidentemente na vida humana desde as primeiras civilizações, há cerca de seis mil anos, isso porque diversos aspectos da administração foram necessários para a organização das primeiras comunidades e cidades, conforme esta unidade apresentará. Ao evoluir com o ser humano, o ato de administrar foi adquirindo mais ferramentas e aprendizados, integrando mais elementos para lidar com civilizações, cidades, países, organizações e instituições formais (como exército e igreja, por exemplo), até chegarmos à Revolução Industrial e suas mudanças na história do mundo, representando a necessidade da administração, principalmente com o surgimento de empresas de maior porte e com mais elementos de tecnologia e produção em massa. Durante essa jornada, o pensamento administrativo foi sendo ampliado e modificado, adquirindo características, linguagem e significados próprios. Por conta disso, temos hoje metodologias e modelos variados, que se aplicam aos mais diversos tipos de organização. Nesta unidade, você vai conhecer as origens do pensamento administrativo e como o homem foi aprendendo a arte de administrar ao longo do tempo. Para Maximiano (2015), objetivos e recurso são conceitos centrais na definição de organização. Administrar consiste em tomar decisões sobre o uso do recurso para realizar objetivos. As decisões são agrupadas em quatro processos principais: planejar, organizar, liderar e controlar. Um quinto processo (executar) seria o efeito prático dos anteriores. Essa é uma adaptação da definição feita por Henri Fayol, divulgada em 1911. Fayol é um dos teóricos que estudaremos nesta unidade. Também aprenderemos sobre o fordismo e sua linha de montagem, sobre Fayol e a administração científica e sobre a burocracia de Max Weber. Tenha ótimos estudos e bom aprendizado! 4 1.1 A administração na antiguidade Para chegarmos ao que temos hoje, em relação a estudos organizacionais, muitas civilizações praticaram e aprenderam sobre gestão. Segundo Maximiano (2015), os antecedentes da administração atual são os seguintes: Quadro 1.1: Antecedentes da administração moderna Antecedentes Período Contribuição para os estudos da administração R e v o l u ç ã o Urbana 4000 a.C. Administração de grandes projetos de construção: cidades, pirâmides, templos, canais de irrigação e formação de uma classe de funcionários públicos. Grécia 500 a.C. Democracia, ética, método científico, qualidade. Roma 700 a.C. a 400 d.C. Administração de império multinacional, formação de executivos, grandes empresas privadas e exército profissional. Renascimento Século XVI – 1500 a 1600 d.C. Retomada dos valores humanistas, grandes empresas de comércio, invenção da contabilidade, Maquiavel. R e v o l u ç ã o Industrial Século XVIII – 1700 a 1800 d.C Invenções das fábricas, surgimento do moderno trabalhador industrial e dos sindicatos, início da administração como disciplina. Fonte: Adaptado de Maximiano (2015). a.C e d.C. são siglas que abreviam as expressões “antes de Cristo” e “depois de Cristo”, sendo utilizadas para apresentar as datas considerando o nascimento de Jesus Cristo como marco divisório na história. O calendário adotado no Brasil, assim como na maioria dos países do mundo, considera que estamos no ano de 2018 depois de Cristo. Saiba mais 5 Vamos agora aprender sobre cada um desses antecedentes, começando pela Revolução Urbana, por volta de 4000 anos a.C., na região da Mesopotâmia, hoje conhecida como Oriente Médio, quando se instalou a primeira civilização da qual se tem registro: os sumérios. 1.1.1 Suméria Os sumérios viveram entre os rios Tigre e Eufrates. Segundo Chiavenato (2014), os sumérios foram um dos primeiros povos a se fixar em um território, pois antes deles as comunidades eram nômades, ou seja, ficavam acampadas em algum espaço enquanto ali havia alimento disponível e depois se mudavam para outro local, vivendo em constante mudança de habitação. Ao se estabelecer em um espaço fixo, os sumérios desenvolveram técnicas de agricultura, pois começaram a escolher onde plantar os alimentos, e não apenas colher e partir para outro lugar. Também é deles a autoria da primeira urbanização, com a criação de cidades na região da Mesopotâmia. Um fator que contribuiu muito para o sucesso administrativo dos sumérios foi a abundância de água em seu território. Tal condição possibilitou a esse povo formar pequenas comunidades autossuficientes, interligadas pelo sistema de irrigação que inventaram na época. Sua escrita, a cuneiforme, também é considerada a mais antiga já registrada na história da humanidade. Na história dos sumérios, podemos perceber alguns aspectos de gestão que são muito conhecidos hoje por nós, como a coordenação das atividades laborais realizada pelos sacerdotes, sediados em templos que eram verdadeiros centros administrativos. Eles comandavam a gestão das comunidades em suas necessidades gerais (MAXIMIANO, 2015). Laborais: atividade desenvolvidas durante o trabalho. Atividade laboral é sinônimo de trabalho. Curiosidade Uma das características da administração é a formalização, ou seja, o registro de fatos e atos, e os sumérios iniciaram essa prática, tanto que foi possível conhecer sobre essa civilização devido aos registros deixados em placas de argila que resistiram ao tempo, nas quais estão lapidados livros primitivos de contabilidade, em 6 que registravam a entrada, a armazenagem e a saída de materiais de seus locais de armazenagem. Foi esta transição – de uma sociedade nômade para uma sociedade fixa – que exigiu novas modalidades de gestão e administração social. Junto da escrita e da contabilidade primitiva, os sumérios criaram a administração pública, com funcionários e procedimentos burocráticos que continuam sendo estudados por nós (MAXIMIANO, 2015). Com o declínio do império sumério, houve a ascensão da Babilônia e da Assíria. Suas histórias e legados serão abordados a seguir. Perceba que, ao aprender a lidar com a água e a terra, o homem começa a plantar e deixa de mudar de ambiente para procurar o que comer, interagindo de forma diferente com a natureza. De lá para cá, o uso de recursos naturais tornou-se a base da indústria e de quase todos os produtos que consumimos, mas hoje a sociedade tem mais clareza da importância da preservação para que as civilizações continuem evoluindo. E você, como tem preservado os recursos naturais em suas atividades diárias? Reflita 1.1.2 Babilônia A história da Babilônia registra um grande desenvolvimento social, econômico e político. Maximiano (2015) relata que herdamos dos babilônios o princípio de que a responsabilidade não se delega. A prova disso pode ser vista em uma mensagem do rei, ordenando que dez homens construíssem uma ponte e, caso o serviço não fosse satisfatoriamente executado, a responsabilidade seria do mestre de obras. Falar da Babilônia é também falar do famoso rei Hamurabi, um habilidoso homem que conquistou várias cidades ao redor. Para governá-las, criou severas leis conhecidas como o Código de Hamurabi. Uma das leis mais famosas é a chamada lei de talião, baseada na máxima “olho por olho, dente por dente”, ou seja, a pessoa que cometia um crime era punidada mesma forma e com a mesma intensidade. 7 Durante o governo de Hamurabi, a Babilônia tornou-se uma das regiões mais ricas daquele período. São também dessa época algumas das construções mais luxuosas do mundo antigo e as cidades babilônicas, a exemplo das sumérias, administradas pelos sacerdotes, que também tinham a função de tomar conta das finanças do governo. Após a morte de Hamurabi, a Babilônia foi invadida e conquistada por diversas tribos da região. Em 605 a.C., os babilônicos, sob o comando do rei Nabucodonosor, voltaram a ampliar suas áreas de domínio e influência. O rei ordenou a construção de muralhas em volta da cidade e de luxuosos templos e palácios. Conta a história que, para sua esposa, Nabucodonosor mandou construir os famosos Jardins Suspensos da Babilônia, considerados uma das sete maravilhas do mundo antigo. 1.1.3 Egito O Egito era formado por diversos povoados espalhados pelo nordeste da África. Somente por volta do ano 3100 a.C. foi unificado em um poderoso império sob a direção de um único comando. Da unificação até os primórdios da Era Cristã, quando foram dominados pelos romanos, em 30 a.C., os egípcios mantiveram um modo de vida estável, fundamentado no ciclo da inundação, cultivo e seca do Rio Nilo. Essa época foi caracterizada como um período de paz. (MAXIMIANO, 2015). Em termos de gestão dos recursos naturais, os egípcios foram exemplares. Em função da regularidade das inundações do Nilo, desenvolveram uma linha de raciocínio prático, orientada para o planejamento de longo prazo. O ciclo das inundações era calculado pelos egípcios com o auxílio da estrela Sirius. Como os intervalos entre o surgimento de Sirius eram separados por 365 dias, os egípcios criaram um calendário solar de 12 meses, com 30 dias cada, e mais cinco dias de festa (MAXIMIANO, 2015) – o calendário solar que, praticamente, é utilizado até hoje no Brasil. A organização social dos egípcios dá-nos uma ideia de como eles faziam a gestão de seu território, forma que influenciou a teoria da administração que você está estudando. A sociedade egípcia era organizada por meio de fundamentos religiosos e econômicos. O faraó ocupava o topo da hierarquia na condição de chefe de Estado e era considerado a encarnação de um deus. Em seguida, na hierarquia, encontravam- se os sacerdotes, responsáveis pelos cultos e festividades religiosas. Depois, vinham os nobres e os escribas, que realizavam as tarefas burocráticas para a manutenção do Estado egípcio. Na base da hierarquia, ficavam os soldados, mantidos pelo Estado para proteger o poder faraônico. Abaixo dos soldados ficavam os camponeses e os artesãos, responsáveis pelas plantações e colheitas. Eles também serviam de mão 8 de obra para as construções públicas necessárias ao desenvolvimento agrícola e comercial. Hierarquia: estrutura das relações de subordinação entre os membros de um grupo, com graus sucessivos de poderes, de situação e de responsabilidades. Saiba mais As pirâmides do Egito são outra fonte de inspiração para as modernas ferramentas de gestão. Chiavenato (2014) afirma que as pirâmides são os mais fabulosos testemunhos das aptidões administrativas dos egípcios. Para construir as pirâmides, os egípcios precisaram lidar com grandes problemas de gestão que até hoje são enfrentados por nós, tais como a administração de mão de obra numerosa e um planejamento logístico para aquisição e transporte dos materiais necessários. Figura 1.1: Registros do Egito Fonte: Plataforma Deduca (2018). Outra prova da excelência administrativa dos egípcios encontra-se em sua organização militar. Pensando na segurança do império, eles criaram um exército profissional, formado por soldados assalariados, e construíram uma rede de fortalezas, com muros de pedras e grandes celeiros, suficientes para alimentar centenas de homens durante um ano. 9 1.1.4 China A China é um grande exemplo de sociedade que empregava soluções inovadoras na administração de seu território. Prova disso é que foram os chineses os primeiros a utilizarem o princípio de assessoria para obter mais eficiência na administração das vastas terras de seu império: o imperador nomeava, em cada região do império, uma pessoa responsável por analisar a situação econômica sob sua responsabilidade e relatar suas conclusões aos funcionários do imperador. Essa técnica de assessoria tornou-se tradicional na administração pública da China. A China se notabilizou também pelas grandes guerras que travou para expandir suas fronteiras e manter sob seu domínio os territórios conquistados. Para tanto, desenvolveu estratégias bem fundamentadas de ataque e defesa, que podem ser estudadas no livro “A arte da guerra”, de Sun Tzu, muito utilizado nas escolas de administração. Esse livro é um manual de recomendações militares que sobreviveram por séculos e que abordam temas de planejamento, comando, controle e doutrina, reconhecidos como úteis à administração dos mais variados tipos de organizações. (MAXIMIANO, 2015). Alguns dos princípios apresentados no livro “A arte da guerra” são utilizados até hoje em ferramentas da administração, tais como: “conheça a ti mesmo” (forças e fraquezas), “conheça teu inimigo” (ameaças) e “conheça o campo de batalha” (oportunidades). A Matriz FOFA une esses princípios e é uma das ferramentas mais utilizadas pelos administradores. Curiosidade 1.1.5 Grécia A Grécia foi o berço da filosofia, uma forma de conhecimento fundamental para nós atualmente. As indagações dos filósofos levaram ao desenvolvimento das ciências, tão importantes hoje. Prova disso é que estamos estudando uma delas, a ciência da administração. Conforme Maximiano (2015), o século V a.C. foi o período mais produtivo da Grécia, em termos de conhecimentos que viriam a influenciar a administração de organizações de todos os tipos. Foi quando se desenvolveram conceitos como democracia, igualdade de todos perante a lei, ética na administração, planejamento, raciocínio metódico etc. 10 A democracia grega orientava-se pelo princípio de que todos são iguais perante a lei e que o povo tem o direito de governar a si mesmo. Por isso, a democracia é conhecida como o governo do povo. Vale destacar que esses direitos eram válidos apenas para o cidadão grego. Os escravos, por exemplo, não eram considerados cidadãos e não tinham esses direitos. Cidadão grego: homens livres e nascidos nas cidades-estados. Possuíam boa condição econômica e social e eram os únicos que possuíam direitos políticos. Saiba mais Dessa forma, os cidadãos gregos podiam participar das chamadas assembleias, expondo suas ideias sobre assuntos como paz e guerra, impostos, obras públicas etc. Outro princípio que fundamentava a democracia grega era o da representação direta: todo cidadão tem o direito de dar pessoalmente sua opinião nas assembleias. Assembleia: é o conjunto de representantes de uma comunidade que detêm o poder legislativo; também pode ser uma reunião de pessoas no mesmo local para discutir um assunto de interesse em comum. Saiba mais Além da democracia, a ética também é um forte legado dos gregos – tanto em nossa forma de pensar, como na forma de gerenciar atualmente. Segundo Maximiano (2015), Platão acreditava que a responsabilidade fundamental dos políticos era promover a felicidade dos cidadãos; e, para isso, era fundamental, então, administrar a cidade com ética absoluta, de acordo com os interesses destes. A ética normativa – aquilo que é estabelecido como norma, que deve ser seguido pelas pessoas – tem impacto na vida social, ou seja, o dever ético cabe a todos, para que a sociedade fique em paz e para que as pessoas sejam felizes. A ética diz respeito ao comportamento do ser humano nessa sociedade. Os gregos também deixaram como contribuição importante o método de investigação sistemática, isto é, em vez de aceitarem as explicações da mitologia, crença muito 11 forte dos povos anteriores, buscaram o conhecimento por meio da naturezae do ser humano. (MAXIMIANO, 2015). Outro conceito grego que é muito reforçado até hoje nos estudos da administração é o da qualidade. Para os gregos, a qualidade reflete o melhor que se pode fazer em qualquer campo de atuação. (MAXIMIANO, 2015). Qualidade e excelência caminham juntos e tal ideia vem de Platão até nossos dias, provocando o sujeito a ser melhor a cada dia e aproveitar seus talentos para melhorar também os ambientes por onde passa. Também é atribuído aos gregos o conceito de estratégia como a “arte dos generais”, a forma de se planejar para alcançar a vitória, hoje com diversos métodos e ferramentas. Esses e outros aspectos da sociedade grega influenciaram nossas formas atuais de viver em sociedade e de gerir os negócios. 1.1.6 Roma Conforme Maximiano (2015), a história do Império Romano cobre o período que vai do século VIII a.C. até o século IV d.C. Seu fim marca o começo da Idade Média. Roma precisou desenvolver eficientes formas de administração para manter o poder e a ordem durante os 12 séculos de sua existência. O domínio do Império Romano compreendeu as terras da Inglaterra e do Oriente Próximo - região da Ásia próxima ao Mediterrâneo, a oeste do Rio Eufrates e do norte da África. Assim, podemos perceber que a capacidade dos romanos em construir e manter o império é uma evidência de suas impressionantes habilidades administrativas. (MAXIMIANO, 2015). A experiência romana constituiu-se no primeiro caso no mundo de organização e administração de um império multinacional. Outras civilizações também conquistaram vastos territórios e incorporaram múltiplos povos, mas os romanos o fizeram de uma maneira diferente. Para conseguir administrar um império tão extenso, os romanos desenvolveram formas eficientes de controle dos territórios anexados, como coleta de impostos, implantação de sistemas de transporte e manutenção de funcionários burocráticos e militares. Os romanos criaram várias hierarquias e cargos que foram distribuídos pelos territórios conquistados e todos tinham que se reportar a Roma. Era um sistema de gestão que exigia organização, planejamento, comando e controle, detalhes que veremos nas próximas unidades. 12 Figura 1.2: Carruagem romana Fonte: Plataforma Deduca (2018). Após analisar o impacto dos modelos administrativos da antiguidade na administração atual, vamos ver como a estrutura das organizações militares e religiosas acabaram por ser absorvidas no âmbito empresarial. 1.2 Administração na igreja e nas forças armadas Ao dominar um território, o Império Romano levava o catolicismo como religião oficial, o que permaneceu depois de sua dissolução. Sem uma coordenação única, os nobres se fecharam em castelos e fortalezas, cada um com sua propriedade, servos e guerreiros, para defender-se dos bárbaros e saqueadores. No campo político, nesse período, a administração geográfica herdada dos romanos transformou-se em sistema feudal. Para se proteger, as pessoas se agrupavam em torno dos chamados senhores feudais, que, por sua vez, agregavam-se ao redor dos soberanos. Para Maximiano (2012), o principal aprendizado desse sistema para a ciência da administração é a importância do interesse comum, princípio que faltou aos senhores feudais. Isolados, tornaram-se frágeis para manter seu domínio. 13 O período que se estende da queda do Império Romano até o fim do século XV, chamado de Idade Média, foi marcado pelas crenças da Igreja Católica e pela forma de produção econômica conhecida como feudalismo. Feudalismo: o nome é derivado dos feudos (ou vilas), unidades de habitação e produção que eram características do período. Havia um castelo ou casa principal do senhor feudal, sua fazenda para trabalho e uma vila de servos ao seu entorno. Curiosidade Permaneceram como união a religião e os laços familiares – relações de sangue ou casamentos para ampliar o poder das famílias, bem como a soberania de alguns reis que venciam outros com seus exércitos, dando origem assim a algumas nações, sempre com o apoio da igreja. Nesse período, a Igreja Católica administrava os territórios europeus utilizando muitas ferramentas administrativas herdadas dos romanos. A igreja dividiu o território sob seu comando em dioceses e províncias e a isso acrescentou uma poderosa administração central, com diversas assessorias, criadas ao longo dos dez séculos de seu domínio. De acordo com Chiavenato (2014, p. 51), “ao longo dos séculos, a Igreja Católica estruturou sua organização com uma hierarquia de autoridade, um estado-maior (assessoria) e a coordenação funcional para assegurar integração”. Todo esse aparato administrativo estava a serviço da propagação da fé, da preservação da doutrina e da formação dos sacerdotes, ancorando-se fortemente na hierarquia, na disciplina, na divisão de tarefas e na centralização de comando. Simples e eficiente, essa estrutura possibilitou à igreja se espalhar pelo mundo todo, praticamente sem concorrência. (MAXIMIANO, 2015). Também é importante destacar a contribuição da organização militar para a administração, pois há mais de três mil anos os exércitos vêm criando soluções para a administração de grandes contingentes de pessoas envolvidas em operações complexas e arriscadas. Conceitos sobre estratégia, planejamento, logística e hierarquia, que são utilizados hoje não apenas nas forças armadas, mas também em todos os tipos de empreendimentos, nasceram com os militares de um passado distante. (MAXIMIANO, 2012). 14 Figura 1.3: Hierarquia militar Estratégico - General Tático - Oficiais Operacional - Soldados Fonte: Elaborada pelas autoras (2018). Vejamos alguns princípios que vêm da organização militar, segundo Chiavenato (2014): Unidade de comando Cada subordinado só pode ter um superior. Hierarquia Escala de níveis de comando de acordo com o grau de autoridade. Direção Ordens e normas para que todo soldado saiba o que se espera dele e o que deve fazer. A seguir, veremos as mudanças de pensamento que ocorreram no fim da Idade Média e sua influência na administração. 15 1.3 Contribuições do Renascimento, Mercantilismo e Protestantismo para a administração Após o fim da Idade Média, emerge o Renascimento, sob o qual artes e ciências humanistas florescem. O Renascimento é o período que marca a transição da Idade Média para a chamada Idade Moderna. A Idade Moderna apresenta grandes avanços em relação ao conhecimento que temos sobre o mundo. Isso fica evidente se você olhar o período que ficou conhecido como Iluminismo. Idade Moderna: período histórico que se inicia em 1453, com a ocupação de Constantinopla pelos turcos otomanos, e extingue- se com a Revolução Francesa, em 14 de julho de 1789. Curiosidade O Iluminismo representou a defesa da razão como a verdadeira forma de chegar-se ao conhecimento, opondo-se às crenças de todos os tipos, colocando em cheque o domínio que a Igreja Católica tinha sobre todos os aspectos da sociedade. São expoentes dessa época grandes filósofos que influenciaram o desenvolvimento das ciências sociais e das ciências da administração, tais como Voltaire, Jean-Jacques Rousseau, Montesquieu, Adam Smith e Immanuel Kant. Com essas mudanças de pensamento, o espaço de compra e venda de mercadorias – chamado mercado – foi ampliando e dando oportunidade de enriquecimento não só aos senhores feudais, mas a outras pessoas que não eram de origem nobre. A reforma protestante e o surgimento de outras religiões cristãs na Europa também auxiliaram a enfraquecer a tradição de concentração de riqueza em heranças familiares, trazendo a prosperidade para todos. Um dos teóricos marcantes do chamado período mercantil foi Adam Smith, que mostrou grande interesse por questões de natureza administrativa. Suas ideias exerceram muita influência sobre a burguesia europeia, fundamentando-se “no princípio de que o mercado transforma o egoísmo de cada um em um bem coletivo” (GIL, 2016, p. 206). 16 Adam Smith disseminou o liberalismo econômico,no qual defendia total liberdade econômica para que a iniciativa privada pudesse se desenvolver de forma autônoma e sem a intervenção do Estado. Assim, o mercado se regularia sozinho pela livre concorrência, o que levaria à queda de preços e à busca por inovações tecnológicas para melhorar a qualidade dos produtos e potencializar o ritmo de produção. Assim, do Renascimento à Revolução Industrial, houve grande desenvolvimento do conhecimento humano sobre matemática, mecânica, física e eletricidade, ciências que mudaram para sempre a história da humanidade. 1.4 Administração e Revolução Industrial Conforme relatado por Maximiano (2015), a Revolução Industrial foi fortemente marcada por dois eventos: o surgimento das fábricas e a invenção das máquinas a vapor. As organizações, a partir de então, tornaram-se centrais na sociedade. Antes, quem ocupava lugar de destaque eram os impérios, países, cidades, governantes, exércitos e organizações religiosas. Após o século XVIII, o desenvolvimento das forças produtivas concedeu à organização, do tipo empresa industrial, papel fundamental na modernidade. A Revolução Industrial representou uma enorme mudança nas formas de produção de mercadorias. Inicialmente, os comerciantes reuniam os trabalhadores em galpões para poder exercer maior controle sobre seu desempenho, visando ao aumento da produtividade. Com produtividade maior, conseguiriam baratear os preços do produto final. Embora o controle sobre os trabalhadores tenha contribuído para o nascimento do sistema fabril, o que marca o início da Revolução Industrial é a invenção da máquina a vapor, que possibilitou o avanço do ritmo de produção, impactando em toda economia da época. A necessidade de mão de obra tornou-se um assunto urgente: no fim do século XVIII, os trabalhadores eram continuamente trazidos da zona rural para as fábricas. Essa migração da área rural para os centros industriais fez crescer as cidades e, consequentemente, a necessidade de infraestrutura. (MAXIMIANO, 2015). No início da Revolução Industrial, as práticas de gestão eram precárias e a qualidade dos produtos variável: vigorava o princípio de que cabia ao comprador inspecionar o que adquiria. Os salários eram baixos e os capatazes garantiam a produtividade 17 com uso de força bruta. Com o tempo, no entanto, novos caminhos foram trilhados e a administração encontrou as condições ideais para se transformar em um corpo organizado de conhecimentos, alcançando a estatura de uma disciplina tal qual conhecemos atualmente, com destaque para a busca da eficiência (MAXIMIANO, 2015). A Revolução Industrial criou a demanda necessária por técnicas e conceitos que pudessem que pudessem ser utilizados por um contingente de pessoas que precisavam de treinamento especializado: os administradores profissionais de organizações (CHIAVENATO, 2014). Conforme Maximiano (2015), os Estados Unidos reuniram as condições mais favoráveis para essa tendência, uma vez que sua tecnologia industrial se desenvolveu mais do que em outros países. Assim, em 1881, a Universidade da Pensilvânia criou a primeira escola de administração do mundo. Na passagem para o século XX, surge, então, a administração científica, uma abordagem sobre as diferentes funções necessárias para a boa gestão, que você estudará a partir da próxima unidade. 2. Primeiras teorias da administração do século XX No início do século XX, dois importantes engenheiros desenvolveram os primeiros trabalhos a respeito da administração: o americano Frederick Winslow Taylor, considerado pai da administração e criador da escola da administração científica, com ênfase no estudo dos tempos e movimentos; e o francês Henri Fayol, que desenvolveu a chamada teoria clássica, com a aplicação de princípios gerais da administração em bases científicas. Figura 2.1: Base da administração Fonte: Plataforma Deduca (2018). 18 Taylor foi responsável pela proposição dos chamados princípios da administração científica e pelo estudo dos tempos e movimentos para a melhoria do processo produtivo, a redução de custos e o aumento de produtividade. Por sua vez, Fayol preocupou-se em melhorar o processo administrativo, por meio da formulação de seus famosos princípios: planejar, organizar, comandar e controlar. Segundo Maximiano (2015), Taylor defendeu que sempre haverá um método mais fácil e rápido de executar uma tarefa. Para tanto, esse engenheiro empreendeu o estudo dos tempos e movimentos na produção. Tal fato evidenciou que, com observação e análise de dados, a organização poderia produzir mais para o “patrão”, bem como melhorar, ao máximo, a prosperidade do empregado. Essa abordagem de Taylor ficou conhecida como organização racional do trabalho, transformando os métodos de trabalhos empíricos em métodos científicos. De acordo com Chiavenato (2014), essa tentativa de substituir métodos empíricos e rudimentares por métodos científicos recebeu o nome de Organização Racional do Trabalho (ORT), que se fundamenta nos seguintes aspectos: a. Estudo dos tempos e movimentos: o trabalho é metodicamente analisado, em sua totalidade, visando à eliminação de movimen- tos desnecessários. Nesse estudo, os movimentos úteis são sim- plificados, a fim de diminuir o tempo médio que o operário leva para desenvolver uma tarefa. Nesse tempo médio, são acrescen- tados os tempos considerados mortos, como, por exemplo, o tem- po de espera pela matéria-prima (com finalidade de padronizar o método de trabalho) e, também, o tempo destinado à execução desse trabalho. Conforme Chiavenato (2014), Taylor observou as seguintes vanta- gens no desenvolvimento de um método padrão de produção: • elimina desperdício de esforço humano e movimentos inúteis; • facilita e racionaliza a seleção e o treinamento de operários e melhora a eficiência e o rendimento da produção pela especiali- zação das atividades; • distribui uniformemente o trabalho e evita períodos de falta ou de excesso de trabalho; • define métodos e estabelece normas para execução do traba- lho; 19 • estabelece base uniforme para salários equitativos e prêmios de produção. b. Estudo da fadiga humana com base na anatomia e na fisiologia humana: possui dupla finalidade: • evita movimentos inúteis na execução de tarefas, do ponto de vista fisiológico; • reduz a fadiga para aumentar a eficiência. c. Divisão do trabalho e especialização do operário: há eliminação de movimentos desnecessários, economizando, assim, energia e tempo, consequentemente, elevando a produtividade do operário. d. Desenho de cargos e de tarefas: tem como finalidade criar, proje- tar e combinar cargos para que uma tarefa seja executada com os demais cargos existentes dentro da organização. A simplificação no desenho de cargos permite algumas vantagens, tais como: • admissão de empregados com qualificações mínimas, o que reduz os custos de produção; • minimização de custos de treinamentos; • redução de erros na execução do trabalho. e. Incentivos salariais e prêmios de produção: o operário é estimula- do a produzir mais e também a ganhar mais pelos seus serviços, uma vez que a remuneração é baseada na produção. f. Condições ambientais de trabalho: a eficiência depende não so- mente do método de trabalho e do incentivo salarial, mas de um conjunto de condições que garantam o bem-estar do trabalhador, o que inclui: • a adequação de instrumentos e ferramentas de trabalho e equi- pamentos de produção para minimizar o esforço do operador; • o arranjo físico das máquinas e equipamentos para racionali- zar o fluxo de produção. 20 g. Padronização: o objetivo é minimizar a variabilidade no processo produtivo e, consequentemente, eliminar desperdícios, aumentan- do, assim, a eficiência. Cabe observar, conforme Chiavenato (2014), que a Organização Racional do Trabalho, maior contribuição de Taylor à teoria administrativa, é, sobretudo, uma forma de executar melhor as tarefas, tendo como referência a observação no chão de fábrica.Ao desenvolver esses princípios, Taylor, de acordo com Chiavenato (2014), tinha como objetivo tornar a empresa mais eficiente e mais produtiva, algo que, para a época, era impensável. Foi também uma preocupação de Taylor desenvolver uma forma de aplicar esses princípios na prática administrativa das fábricas, porque, para ele, a ferramenta administrativa era uma prática estruturada que ajudaria a desenvolver não só o processo de administração, mas também a qualidade decisória das organizações. Chiavenato (2014) define que a preocupação de racionalizar, padronizar e prescrever normas de conduta ao administrador levou os engenheiros da administração científica a pensar que tais princípios pudessem ser aplicados em todas as situações possíveis. Dentre a profusão de princípios defendidos pelos autores, os mais importantes são: 1. Princípios de planejamento: substituir a improvisação por méto- dos baseados em procedimentos científicos, por meio de planeja- mento. 2. Princípio de preparo: os trabalhadores são selecionados de acor- do com suas aptidões e, então, é necessário prepará-los e treiná- -los para produzir mais e segundo o método planejado. 3. Princípio do controle: controlar o trabalho para certificar que es- teja sendo executado de acordo com os métodos estabelecidos e segundo o plano previsto. 4. Princípios da execução: distribuir atribuições e responsabilidades para que a execução do trabalho seja disciplinada. Posteriormente, o século XX foi marcado por grandes mudanças no ambiente econômico e social das organizações. Um exemplo disso foi o grande desenvolvimento econômico dos Estados Unidos, no início do século, em virtude do sucesso do modo de produção fordista, idealizado por Henry Ford. Também, em meados desse século, Max Weber, nos seus estudos sobre a ação social, descreveu as formas de autoridade 21 e de legitimidade que lhe permitiram refletir sobre as características da burocracia que se encaixariam em um tipo de autoridade racional-legal e que contemplariam alguns princípios centrais, como a impessoalidade, o profissionalismo, a hierarquia, o formalismo etc. O século XX foi marcado por grandes mudanças no ambiente econômico e social das organizações, tendo como grande exemplo o desenvolvimento econômico dos Estados Unidos, decorrente da mudança no modo de produção. Atenção Observe no quadro a seguir as principais ideias da administração no século XX. Quadro 2.1: Principais ideias da administração no século XX Ideias/Enfoques/ Teorias 1900-1925 1925-1950 1950-1975 1975-2000 Produção em massa, preocupação com eficiência (ênfase na eficiência dos processos produtivos). Administração científica, linha de montagem. Popularização do fordismo. Sistema toyota de produção. Modelo japonês, empresa de classe mundial, “Seis Sigma”, redesenho de processos. Humanismo, enfoque comportamental, escola das relações humanas (ênfase nas pessoas e na condição humana). Características individuais. Relações humanas, dinâmicas de grupo, liderança. Administração participativa. Gestão de pessoas, qualidade de vida no trabalho, ética. Escola da qualidade (ênfase na uniformidade, na conformidade e na adequação ao uso). Controle estatístico da qualidade. Administração da qualidade. Qualidade total, qualidade no Japão. Sistemas da qualidade, qualidade garantida, normas ISO. 22 Enfoque no processo administrativo (ênfase no papel dos gerentes e no processo de administrar organizações). Enfoque funcional da administração, políticas de negócios. Processo decisório, estruturação das grandes empresas, política de negócios, administração por objetivos. Planejamento estratégico. Administração de projetos, administração por processos, cadeia de suprimentos, papéis e competências gerenciais. Teorias das organizações (ênfase no entendimento da natureza das organizações). Tipo ideal de burocracia. Teoria das organizações. Modelos de organização. Imagens das organizações, aprendizagem organizacional. Pensamento sistêmico (ênfase na compreensão de totalidades e nas relações entre as partes). Aplicação do pensamento sistêmico na concepção de processos produtivos, especialmente na linha de montagem. Teoria geral dos sistemas. Pensamento sistêmico influenciando todas as ideias da administração. Fonte: Maximiano (2015). 2.1 A linha de montagem e o fordismo Segundo Chiavenato (2014), Henry Ford nasceu em 30 de julho de 1863, na cidade norte-americana Springwells. Em 1903, superando inúmeras adversidades, fundou a “Ford Motors Company”, com mais 11 acionistas, ficando com 25% das ações. Com o passar dos anos, comprou as ações dos demais investidores e, em 1919, passou a ser o controlador da companhia. Sua grande ambição sempre foi construir um carro para o povo e, então, em 1913, inaugurou a primeira fábrica com linha de produção em série. 23 Figura 2.2: Linha de produção Fonte: Plataforma Deduca (2018). Ford foi pioneiro no que ficou conhecido como linha de montagem e produção em série. Produzir em série significa fabricar produtos iguais, em grande quantidade, fato que reduz os custos de produção e aumenta sua velocidade. Pensando nisso, Ford entendeu que seria vantajosa a fabricação de automóveis padronizados. 2.1.1 O fordismo O processo produtivo inventado por Henry Ford ficou conhecido como fordismo e funcionava da seguinte maneira: o automóvel passava por uma esteira de montagem em movimento, e os operários colocavam as peças. Isso era possível em função da especialização dos funcionários, ou seja, cada um executava uma função específica (ou única) no processo. Por exemplo: alguns operários trabalhavam com a pintura; outros colocavam os pneus; alguns retificavam os motores, e assim por diante. Em apenas 98 minutos, o automóvel ficava pronto. O modelo de automóvel “T” foi o mais famoso produzido por Henry Ford. Também conhecido como “Ford Bigode”, esse veículo foi o mais vendido no fim do século XIX. Desse tempo, é famosa a frase de Ford a seus clientes, de que poderiam pedir a cor que quisessem para seus automóveis, desde que fosse preta. (MAXIMIANO, 2015). 24 Figura 2.3: Modelo Ford “T” Fonte: Plataforma Deduca (2018). Segundo Chiavenato (2014), foi utilizando as abordagens da administração científica que Henry Ford aplicou de forma intensiva o novo conceito de linha de montagem na sua indústria “Ford Motors Company”. Esse sistema revolucionou o mercado, em virtude da produção em massa, tornando os automóveis mais baratos. Cabe destacar que as inovações de Ford permitiram eliminar quase todos os movimentos desnecessários às atividades dos trabalhadores. Para Ford, era importante organizar o trabalho de forma a requerer o mínimo possível de força e de esforço físico dos trabalhadores. O sucesso do invento de Ford foi tão grande que, na década de 1920, chegou a produzir dois milhões de automóveis por ano. O sistema de produção de Ford foi muito importante para a sociedade, uma vez que democratizou o acesso à aquisição de automóveis. A estratégia de negócio no fordismo era produzir o automóvel o mais rápido possível e vendê-lo no mercado no menor prazo. A rapidez nesse processo é um fator importante, pois, quando a linha de montagem está parada, não gera lucros, o que deve ser evitado. Isso também requer um estoque de peças de reposição indispensáveis para que a linha de montagem não pare. Com essa forma de produção, Ford desenvolveu um sistema de pagamento com base em bônus, que crescia à medida que a produtividade aumentava. 25 O taylorismo e o fordismo são sistemas de trabalho que visavam à racionalização extrema da produção e, consequentemente, à maximização da produção e do lucro. O sucesso desses dois modelos fez com que várias empresas adotassem as técnicas desenvolvidas por Taylor e Ford, sendo utilizadas até hoje por algumas indústrias. O fordismo se baseou nas propostas do taylorismo e desenvolveualguns avanços. Assim, enquanto Taylor focava a divisão eficiente e racional das tarefas dentro da fábrica, Ford buscava colocar seus trabalhadores em posições fixas no sistema produtivo. Conforme Maximiano (2015), cabe destacar, ainda, que o fordismo era visto como um modelo de gestão da produção; mas, a partir de 1930, passou a ser concebido como um modelo técnico-econômico, irradiando-se pelo mundo no pós-guerra. Antes do fordismo, a produção de veículos era artesanal, dependente da habilidade técnica da mão de obra disponível e sem padronização. Outro fator importante que contribuiu para as ferramentas de gestão diz respeito à aplicação dos princípios da administração científica no sistema fordista de produção, que levou à redução da complexidade das tarefas e à padronização e ao controle do processo produtivo: o processo saiu das mãos dos trabalhadores e passou para a gerência, levando até às últimas consequências a ideia de separação entre o planejamento (engenheiros) e a execução (operário). A administração clássica de Taylor e o fordismo recuperaram o ideário do homem “economicus”, ou seja, o homem é um ser racional que toma suas decisões com base no conhecimento de todas as possibilidades de ações viáveis, bem como de suas consequências. Segundo Maximiano (2015), esse modelo de homem, reduzido e simplificado, serviu de fundamento para a construção de uma teoria da administração que tinha como base a concepção de um homem racional e previsível, que se satisfazia com incentivos financeiros, vigilância e treinamento. Investir nesses quesitos, portanto, auxiliaria a aumentar a produtividade esperada. Como consequência dessa visão de homem, os pensadores clássicos – Taylor, Fayol e Ford – compartilhavam da ideia de que o comportamento humano não era um problema em si. Isso quer dizer que, quando os gerentes percebiam nos trabalhadores 26 um comportamento inadequado, deduziam que o problema decorria de defeitos na estrutura da organização ou no processo produtivo. 2.2 Aportes de Fayol à Administração científica Henri Fayol nasceu em 1841, em Istambul, e faleceu em 1925, em Paris. Ele foi um importante pesquisador da chamada escola clássica da administração. Fayol dedicou-se a disseminar os princípios da administração, com base em seus anos de aprendizado prático na indústria. Para esse engenheiro, a administração compreende, basicamente, cinco funções: • planejamento; • organização; • comando; • coordenação; • controle. De acordo com Maximiano (2015), para Fayol, a administração é uma atividade que pode ser encontrada em todos os empreendimentos humanos, como a família, os negócios, as religiões e os governos, exigindo, mesmo que não nos demos conta, o uso de, pelo menos, alguma das cinco funções supracitadas. Fayol propôs a divisão das organizações em seis estruturas de operações específicas, mas que se relacionam mutuamente: • Técnica: produção, manufatura. • Comercial: compra, venda, troca. • Financeira: empréstimos, capital de giro. • Segurança: proteção da propriedade privada e das pessoas. • Contabilidade: registro de estoques, custos, estatísticas. • Administração: planejamento, organização, comando, coordenação e controle. Observe, na figura a seguir, as funções da empresa. 27 Figura 2.4: Funções da empresa EM PR ES A Função comercial Função financeira Função de administração Função de segurança Função de contabilidade Função técnica Planejamento Organização Comando Coordenação Controle Fonte: Maximiano (2015, p. 68). Lembre-se de que cada área empresarial tem, sob sua responsabilidade, diferentes funções. A área administrativa demanda planejamento, organização, comando, coordenação e controle. Atenção Perceba que, para Fayol, o conceito de administração está ligado ao ato de administrar, englobando as funções de administrador, as quais estão descritas a seguir, de acordo com Maximiano (2015): • prever o futuro e traçar o programa de ação; • organizar, isto é, constituir o duplo organismo material e social da em- presa; • comandar, o que significa dirigir e orientar o pessoal; • coordenar: ligar, unir e harmonizar todos os atos e esforços coletivos; • controlar compreende garantir que tudo ocorra de acordo com as re- gras estabelecidas e as ordens dadas. Chiavenato (2014) acha importante informar que nenhuma organização pode fazer mais do que permitem seus principais administradores, afinal de contas, o gargalo está sempre na parte superior da garrafa. De todas as tarefas de uma organização, a mais difícil, mas também a mais importante, é estruturar sua alta administração. 28 2.2.1 O nível gerencial As atividades para o nível gerencial são a essência da administração. Sua característica principal é conseguir resultados por meio de terceiros. Chiavenato (2014) afirma que as atividades gerenciais são divididas em três níveis, cada um com responsabilidades específicas, conforme apresentamos a seguir. Gerência geral Comando geral do processo produtivo e acionamento dos recursos disponíveis para a realização dos objetivos fixados pelo nível de direção. Gerencia unidades complexas, englobando mais de uma função. Às vezes, esses gerentes são responsáveis por empresas subsidiárias. Gerência média (ou funcional) Comando das atividades de operações especializadas, como: finanças, marketing, recursos humanos, manutenção etc. Supervisão imediata Comando da realização propriamente dita e das tarefas, implicando contato direto com os executores. São os supervisores de primeira linha. Ainda de acordo com Chiavenato (2014, p. 34-35): O papel dos gerentes é fundamental para obter a cooperação dos subordinados, para os quais ele representa a empresa e deve ser capaz de 29 motivá-los e fazê-los “vestir a camisa”. Por outro lado, deve ser capaz de levar aos níveis superiores as aspirações, os desejos e as necessidades do seu pessoal. Um gerente que não prestigia os subordinados não consegue mantê-los dedicados. 2.3 A burocracia de Weber Max Weber nasceu no dia 21 de abril de 1864, na Alemanha. Foi um sociólogo que se preocupou com o estudo da organização burocrática e, por isso, propôs a teoria da burocracia. (CHIAVENATO, 2014). Conforme Maximiano (2015), o ponto central dos estudos de Weber é a investigação sobre a ação social. Para esse sociólogo, as normas que compartilhamos na sociedade só se tornam concretas quando se manifestam em cada um de nós, sob forma de motivação. Cada sujeito age levado por um motivo, orientando-se pela tradição, por interesses racionais ou pela afetividade. Figura 2.5: A ação social Fonte: Plataforma Deduca (2018). Para Weber, a ação social consiste na conduta humana, dotada de sentido e orientada pela ação de outros, apresentando quatro formas distintas: 30 1. Ação racional com relação a fins: determinada pela expectativa de alcançar os objetivos racionalmente avaliados e perseguidos. 2. Ação racional com relação a um valor: definida pela crença cons- ciente no valor (moral, religioso e estético) de uma determinada conduta. 3. Ação afetiva: ditada por afetos ou por estados sentimentais e emocionais. 4. Ação tradicional: ditada pelos hábitos, pelos costumes e pelas crenças. Chiavenato (2014) afirma que a aplicação da burocracia de Weber levou, em muitos casos, a um excesso de normas e de regulamentos impessoais, não condizentes com a agilidade e a flexibilidade das organizações modernas. No entanto, ainda é empregada em grandes administrações públicas, por falta de substitutos eficazes para alguns casos. Para Weber, a burocracia deveria ter as seguintes características: 1. organização contínua de cargos, limitados por normas escritas, às quais estão subordinados os detentores de poder, o sistema administrativo e os dominados; 2. divisão de trabalho definida e sistemática, com áreas específicas de competência; 3. cargos organizados segundo o princípio hierárquico; 4. regras e normas técnicas claramente definidas porescrito; 5. separação entre propriedade e administração, ou seja, as ativida- des administrativas deverão ser exercidas por profissionais con- tratados em virtude de suas qualificações técnicas. Ainda na visão de Weber, as ênfases da burocracia serão as seguintes: 31 1. formalização (obediência a normas, rotinas, regras, regulamentos etc.); 2. divisão do trabalho; 3. hierarquia; 4. impessoalidade; 5. profissionalização e competência técnica dos empregados. De acordo com Chiavenato (2014), a descrição de Weber sobre a burocracia não levou em conta a chamada organização informal nem o excesso de formalismo, que é fonte das denominadas disfunções da burocracia. Vamos verificar quais são as características das disfunções da burocracia. 2.3.1 Disfunções da burocracia Quando as características da burocracia são levadas ao extremo, o excesso de rigidez e a falta de flexibilidade fazem surgir as disfunções da burocracia: no lugar de propiciar segurança e qualidade, acaba por emperrar o andamento dos serviços e a produção de bens, ou seja, é como se o sistema criasse vida própria. É a burocracia pela burocracia, que perde sentido e finalidade, beirando o absurdo, ao exigir carimbos e comprovantes desnecessários. Confira a seguir as principais características e disfunções da burocracia, conforme colocado por Chiavenato (2014). Quadro 2.2: Características e disfunções da burocracia 32 Engessamento de regras e regulamentos No modelo ideal de burocracia de Weber, as regras e os regulamentos têm objetivo de normatizar os procedimentos, ajudando, assim, a aumentar a produtividade e a melhorar a qualidade do que é produzido e realizado. No entanto, a falta de flexibilidade na aplicação de regras e regulamentos faz com que estes deixem de ser um meio para se atingir um dado fim, transformando-se em um objetivo em si mesmo: é o momento em que as pessoas cumprem regras e regulamentos sem saber o motivo pelo qual estão cumprindo. Excesso de documentação Para formalizar tudo e controlar a qualidade e a produtividade, é produzida uma quantidade excessiva de documentos, que geram perda de tempo – tanto no preenchimento de formulários e papéis quanto no resgate de informações. Despersonalização de relacionamentos Como nos sistemas burocráticos o poder está no cargo, e não nas pessoas, as relações interpessoais ficam em segundo plano. No entanto, o ser humano necessita de interações sociais. A despersonalização pode provocar estresse excessivo. Autoridade aparente Como a autoridade é exercida pelo cargo, busca-se exibir sinais exteriores que reforcem tal posição, como uniformes, crachás de identificação com o cargo em destaque, placas na porta etc. Autoridade descontrolada Como a pessoa está em um cargo de autoridade, passa a utilizar esse poder de maneira agressiva. Fonte: Adaptado de Chiavenato (2014). 33 Sintese Nesta unidade, aprendemos que a administração acompanha o ser humano há séculos e que as teorias que hoje estudamos têm origem nas civilizações antigas e vêm evoluindo com a humanidade. Desde os sumérios (3000 a.C) à Revolução Industrial (1800 d.C), o homem vem mudando sua forma de viver e produzir. Saindo da vida nômade, fixou-se em comunidades e aldeias, necessitando administrar as famílias, organizar as rotinas e aprender a cultivar a terra. A partir desse aprendizado e estudando os astros e as águas, começou a desenvolver técnicas de agricultura e irrigação, o que possibilitou a instalação das primeiras cidades, gerando uma necessidade de hierarquia e ordenação social. Essas escolhas de comando surgiram com base na religião e/ou na força física e foram se solidificando ao longo do tempo (lembre-se do faraó que acreditavam ser encarnação de um deus), passando de geração em geração. As lideranças das comunidades também queriam proteger seu poder e, para tanto, foram criando organizações militares para manter o comando, desenvolvendo também diversas técnicas gerenciais para controlar as forças armadas. Nos conflitos entre os povos, ocorreram muitas invasões e dominações, dando origem a impérios poderosos, como o egípcio e o romano, que tinham lideranças únicas para muitas pessoas, ou seja, precisavam de ferramentas administrativas para coordenar tudo isso. Tanto isso é verdade que a queda do Império Romano se deu justamente pela perda de controle das fronteiras e pela invasão de terras por parte dos bárbaros germânicos. Sem um comando central, os mais ricos cercaram suas propriedades para se proteger das invasões e levaram consigo servos e guerreiros. Nessas propriedades, chamadas de feudos, a atividade rural era a principal. Vendas e trocas eram realizadas em espaços separados, chamados de mercado. Com a evolução do pensamento sobre a ciência, a liberdade do mercado e o questionamento de ideias religiosas, os comerciantes passaram também a fabricar produtos em maior quantidade e a contratar pessoas para suas pequenas fábricas. 34 Dessa forma, começaram a enriquecer e a dominar os meios de produção, tornando as organizações formais as principais referências na sociedade, não mais as famílias ou a igreja. Essa nova estrutura, somada a avanços na tecnologia de produção, deu origem à Revolução Industrial: a indústria é o novo império. Para gerenciar esse novo mundo, com empresas e empregados, máquinas e produtos, técnica e ciência, surgem os estudos da administração científica no início do século XIX, que veremos na próxima unidade. Estudamos a abordagem clássica da administração, com ênfase nos seguintes tópicos: • As primeiras teorias da administração do século XX. • A administração científica de Frederick Winslow Taylor, com destaque para os conceitos relacionados à padronização das ferramentas e ao estudo dos tempos e movimentos. • O modelo de produção fordista, entendido e aplicado por Henry Ford, com sua linha de montagem e de inovação. • Os processos administrativos liderados por Henri Fayol, por meio da abordagem da estrutura das organizações, dos princípios da adminis- tração e do papel dos gerentes nas organizações. • A teoria da burocracia de Max Weber e suas disfunções. Conheça mais sobre o que foi e como aconteceu a Revolução industrial por meio deste documentário do canal “History Channel Brasil”: <https://www.youtube.com/watch?v=feO4X3_EgtU>. Acesso em: 15 jun. 2018. Conheça mais sobre as divergências e convergências entre os princípios da administração pública brasileira e os princípios de Henri Fayol. Acesse: <http://periodicos.uesc.br/index.php/ reflexoeseconomicas/article/view/1324/1493>. Saiba mais 35 Referências CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 9. ed. São Paulo: Manole, 2014. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 9. ed. São Paulo: Manole, 2014. GIL, A. C. Teoria geral da administração: dos clássicos à pós-modernidade. São Paulo: Pioneira, 2016. MAXIMIANO, A. A. Introdução à administração. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2012. ______. Fundamentos de administração: introdução à teoria geral e aos processos da administração. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. MAXIMIANO, A. A. Fundamentos de administração: introdução à teoria geral e aos processos da administração. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. A abordagem humanística da administração UNIDADE 2 SST Copyright © 2023. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. A abordagem humanística da administração 3 Apresentação da unidade Nesta unidade, você conhecerá os fatores que contribuíram para o surgimento da teoria das relações humanas, bem como os motivos que a levaram a contrapor-se à administração científica, sobretudo a Taylor e a Ford. Falaremos sobre temas básicos relacionados à abordagem humanística, com destaque para a análise do trabalho e a adaptação do trabalhador ao trabalho. Dentro dessa perspectiva, você conhecerá os assuntos predominantes, como o estudo da personalidade do trabalhador e do chefe; a motivação e os incentivos dotrabalho; a liderança; as comunicações; e as relações interpessoais e sociais dentro da organização. Nomes como Hugo Münsterberg, Ordway Tead, Mary Parker Follett e Chester Barnard foram marcantes para a construção desse pensamento, em uma linha do tempo que vai de 1860 a 1961, com suas ideias sobre a transição do classicismo para o humanismo. Você conhecerá também os principais fatos que deram origem à abordagem humanística, tais como a necessidade de humanização e democratização, o desenvolvimento das ciências humanas, as ideias de John Dewey e de Kurt Lewin e, principalmente, as conclusões da experiência de Hawthorne, que será tratada com mais detalhes, pois apresentaremos suas quatro fases: estudos da iluminação; condições de trabalho; entrevistas e pagamento por produtividade. Serão apresentados os fatores que contribuíram para o surgimento da teoria estruturalista e a sua importância para a Administração. Nesse sentido, veremos que essa corrente teórica representou certo avanço em relação à teoria burocrática de Max Weber, bem como teve uma aproximação com a teoria das relações humanas de Elton Mayo, ocasionando uma visão relativamente crítica da organização formal. No desenvolvimento dessas teorias, a abordagem estruturalista surgiu como um experimento de conceber a organização como um todo social complexo. Tendo isso em vista, você terá, nesta unidade, a oportunidade de conhecer os principais conceitos relacionados a essa abordagem, de maneira a identificar suas importantes contribuições para a ciência da Administração. 4 1.1 Relações humanas nas organizações Por conta do grande impacto causado pelos estudos de Taylor, Fayol e Ford nos processos produtivos, houve, também, a necessidade de voltar a atenção para o elo dessa corrente, o ser humano em sua complexidade, e não somente como um recurso a ser maximizado. Assim, conforme Maximiano (2015), o surgimento da escola humanista foi uma crítica à escola clássica da administração e resultado de estudos relacionados à Sociologia e à Psicologia. A escola humanista também questionou a necessidade da produtividade a qualquer preço, bem como estudou a influência dos sindicatos que lutavam por maior justiça e melhores condições de trabalho nas organizações. Chiavenato (2014) observa que, com a teoria das relações humanas, criada em 1930, nos Estados Unidos, a administração sofreu uma verdadeira revolução. Antes, a ênfase estava voltada para a tarefa (Taylor e Ford) e a estrutura organizacional (Fayol), ou seja, para os aspectos técnicos e formais. A partir da abordagem humanista, o foco passou a ser as pessoas e o seu grupo social, isto é, os aspectos psicológicos e sociológicos. Figura 3.1: Humanismo Fonte: Plataforma Deduca (2018). 5 Nos primeiros anos da emergência da teoria das relações humanas, dois assuntos básicos ocuparam duas etapas de seu desenvolvimento: a análise do trabalho e a adaptação do trabalhador ao trabalho. A análise do trabalho diz respeito à eficiência produtiva, por meio da verificação das características humanas que cada tarefa exige. Como decorrência desse interesse, a seleção dos empregados passa a ser científica, com a utilização de testes para identificar as características desejadas. A adaptação do trabalhador ao trabalho, por sua vez, diz respeito à crescente atenção voltada para os aspectos individuais e sociais do trabalho, sendo os temas predominantes: • O estudo da personalidade do trabalhador e do chefe. • A motivação e os incentivos do trabalho. • A liderança. • As comunicações. • As relações interpessoais e sociais dentro da organização. Liderança Essa palavra pode ser aplicada tanto nas situações em que o líder não tem nenhuma autoridade formal sobre os liderados quanto no caso dos chefes, que ocupam posições com autoridade formal. A liderança representa o papel que algumas pessoas desenvolvem por determinado espaço de tempo. (MAXIMIANO, 2015). Figura 3.2: Liderança Fonte: Plataforma Deduca (2018). 6 De acordo com Chiavenato (2014), alguns pensadores devem ser mencionados por conta do importante papel que exerceram na transição entre o classicismo e o humanismo na administração. Vamos conhecê-los? Quadro 3.1: Transição classicismo para humanismo Hugo Münsterberg (1863-1916) Introduziu a psicologia nas organizações e o uso de testes de seleção de pessoal. Ordway Tead (1860-1933) Tratou da liderança democrática na organização. Mary Parker Follett (1868-1933) Rejeitou qualquer fórmula única e padronizada e introduziu a lei da situação: é a situação concreta que deve determinar o que é certo e o que é errado. Toda decisão depende de conhecer o contexto em que está inserida. Chester Barnard (1886-1961) Trouxe a teoria da cooperação nas organizações. As limitações pessoais podem ser resolvidas por meio do trabalho em conjunto. Fonte: Adaptado de Chiavenato (2014). De acordo com Chiavenato (2014), a abordagem humanística teve origem nos seguintes fatos: • A necessidade de humanizar e democratizar: a abordagem humanís- tica configurou-se como um movimento direcionado a democratizar conceitos administrativos, estando voltada, sobretudo, para os novos padrões de vida dos americanos. • O desenvolvimento das ciências humanas: a proposta, na época, era provar que os princípios da teoria clássica eram inadequados. Houve grande enfoque no desenvolvimento da Psicologia (sua influência inte- lectual e suas aplicações em empresas do ramo industrial). • As ideias da Filosofia pragmática de John Dewey e da Psicologia dinâ- mica de Kurt Lewin: as ideias desses pensadores foram muitos impor- tantes para a fundamentação da abordagem humanística na adminis- tração. Dewey e Lewin foram fundamentais para a concepção da teoria das relações humanas. 7 • As conclusões da experiência de Hawthorne: datadas do período entre 1927 e 1932, tais conclusões se destacaram sobre os principais argu- mentos da teoria clássica. Figura 3.3: Abordagem humanística Fonte: Plataforma Deduca (2018). As conclusões obtidas por meio da experiência de Hawthorne foram marcantes e decisivas para a abordagem humanística. A partir de agora, convidamos você a conhecer um pouco mais sobre essa experiência! Atenção 1.2 A experiência de Hawthorne Segundo Chiavenato (2014), a teoria das relações humanas surgiu nos Estados Unidos como consequência imediata das conclusões obtidas por meio da chamada experiência de Hawthorne, desenvolvida por George Elton Mayo e seus colaboradores. Foi basicamente um movimento de reação e de oposição à teoria clássica da administração, para a qual a tecnologia e o método de trabalho eram as mais importantes preocupações do administrador. 8 Figura 3.4: George Elton Mayo Fonte: Wikimedia Commons (2018). George Elton Mayo nasceu em 1880, em Adelaide, Austrália. Foi sociólogo, psicólogo e pesquisador das organizações. Em 1923, foi para os Estados Unidos lecionar na “Harvard Business School”. Ele faleceu em 7 de setembro de 1949, em Guildford, Reino Unido. Curiosidade Por meio da experiência de Hawthorne, ficou evidente a importância de considerar os fatores sociais implicados nas situações de trabalho. Concluiu-se, também, que o trabalho é uma atividade essencialmente coletiva, ou seja, o operário reage como membro de um grupo, e não isoladamente. Então, para elevar a produtividade, é necessário descobrir e satisfazer às necessidades psicológicas dos indivíduos. Logo, a chave para os conflitos sociais estaria nas relações humanas. Os estudos de Elton Mayo representaram um importante ponto de mudança para a área da administração. A experiência de Hawthorne, realizada na fábrica “Western 9 Eletric Company”, em 1927, tinha como objetivo principal verificar a influência da iluminação na produtividade, no índice de acidentes e na fadiga dos trabalhadores. Vejamos algumas imagens da experiência de Hawthorne: Figura 3.5: Experiência de Hawthorne Fonte: Teoria das Relações Humanas (2012). Figura 3.6:Parque industrial de Hawthorne Fonte: Leal (2010). Essa experiência, conforme relata Maximiano (2015), revelou a influência de fatores psicológicos e sociais no resultado do trabalho e na produtividade. Com isso, a escola 10 das relações humanas contribuiu, sobremaneira, para destacar a importância dos grupos informais no âmbito das organizações. Conforme dito anteriormente, o objetivo principal da experiência de Hawthorne era verificar se a iluminação do ambiente de trabalho (ou a falta dela) tinha relação com a produtividade dos funcionários. Assim sendo, essa experiência ampliou os estudos sobre acidentes de trabalho, fadiga, rotatividade de funcionários e produtividade. (CHIAVENATO, 2014). A experiência de Hawthorne foi desenvolvida em quatro fases, de acordo com Chiavenato (2014): 1ª fase: a primeira fase estava direcionada aos estudos da iluminação. O objetivo era identificar o impacto da iluminação no rendimento dos operários. Dois grupos foram formados, colocados em salas diferentes, com iluminação também diferente (uma sala tinha iluminação variável e a outra sala tinha iluminação constante). Constatou- se, então, que a produtividade não estava diretamente relacionada à iluminação, mas que o fator psicológico imperava sobre o fisiológico, ou seja, os operários produziam mais quando a intensidade da luz aumentava, por conta de suposições pessoais (achavam que eram obrigados a produzir mais quando a luz ficava mais intensa). 2ª fase: foi criado um grupo experimental para observações. Havia dois grupos, um de referência (sujeito a mudanças nas condições de trabalho) e outro de controle (trabalho em condições constantes). O grupo de referência era composto por seis mulheres, separadas do restante do departamento por meio de uma divisória de madeira. As participantes eram informadas sobre as medidas a que estariam sujeitas, tais como: aumento salarial, intervalos de descanso com durações variadas, redução das horas trabalhadas. Essas mulheres tinham conhecimento dos objetivos e dos resultados do experimento. A segunda fase contou com 12 períodos de observação da produção. Mesmo com o conhecimento das medidas tomadas e dos resultados esperados, o impacto na produção foi mínimo, portanto, verificou-se que as condições de trabalho não eram fatores determinantes para o rendimento dos operários. No entanto, um fator psicológico, que já havia aparecido na primeira fase da experiência, voltou a surgir, proporcionando as seguintes conclusões: • a sala em que estavam trabalhando era mais divertida, pois a super- visão era mais branda (ao contrário da sala de controle, em que a su- pervisão era mais rígida), consequentemente, tinham mais liberdade e menos ansiedade; 11 • o ambiente era amistoso, sem pressão e permitia conversas; • o supervisor era visto como um orientador, não havia mais temor em relação a essa figura; • houve interação social, pois as operárias estavam fazendo amizade en- tre elas, ou seja, tornaram-se uma equipe, consequentemente, aumen- taram a produção, mesmo sendo orientadas a trabalhar normalmente. Comunicação Desenvolver a competência da comunicação deve ser um objetivo básico dos administradores de organizações e das pessoas de forma geral, o que compreende a recepção e a transmissão de informações e de significados. Em qualquer processo de comunicação, sempre há os seguintes elementos: emissor, receptor, mensagem, canal de comunicação, ruídos e feedback. (MAXIMIANO, 2015). Figura 3.7: Comunicação Fonte: Plataforma Deduca (2018). 3ª fase: essa foi a fase das entrevistas. Como foi observado que as mulheres do grupo separado por uma divisória de madeira se comportavam de maneira diferente das outras operárias, o enfoque deixou de ser o aspecto físico e passou a ser a perspectiva das relações humanas. Verificaram que, no grupo de controle, as operárias percebiam a supervisão como vigilante e constrangedora. Como a fábrica detinha pouco conhecimento sobre os fatores determinantes das atitudes das operárias, passaram a entrevistá-las para investigar melhor esse ambiente de produção. 12 Por conseguinte, um programa de pesquisas foi realizado. Percebeu-se, então, que há uma forma de organização informal dos operários que visa à proteção desse grupo contra as ameaças que podem vir da empresa. Logo, a organização passou a ter maior conhecimento sobre a lógica operária, no que diz respeito à empresa, à supervisão, aos equipamentos de trabalho, a sentimentos, atitudes, ouvir opiniões, entre outros aspectos. 4ª fase: o foco foi a análise da organização informal dos operários. Novamente, ocorreu a formação de um grupo experimental, constituído de nove operadores, nove soldadores e dois inspetores, assistido por um pesquisador e eventualmente entrevistado por outro. Para esse grupo, o pagamento tinha como base a produtividade, ou seja, quanto maior a produção, maior a remuneração. Durante a observação, quanto atingiam a produção ideal, verificou-se que os operários diminuíam o padrão de trabalho, ou seja, quando os operários julgavam ter alcançado o padrão normal de produção, diminuíam o ritmo, apresentando, assim, certa padronização de sentimentos e solidariedade grupal. Se alguém tentasse produzir mais do que o grupo determinou como padrão, era punido socialmente ou moralmente. Dessa forma, foi possível analisar a relação entre a organização formal da fábrica e a organização informal dos operários. O experimento foi suspenso em 1932 por conta da recessão ocasionada pela “Crise de 1929” nos Estados Unidos. Veja no quadro a seguir um resumo das fases da experiência de Hawthorne. Quadro 3.2: Fases da experiência de Hawthorne 1ª fase Estudos da iluminação Constatou-se que a produtividade dos operários não estava diretamente ligada à iluminação, mas que o fator psicológico imperava sobre o fisiológico. 2ª fase Condições de trabalho Verificou-se que as condições de trabalho não eram fatores determinantes para o rendimento dos operários. No entanto, percebeu-se a influência de fatores psicológicos. 13 3ª fase Entrevistas (divisória de madeira) Verificou-se que, no grupo de controle, as operárias percebiam a supervisão como vigilante e constrangedora. Percebeu-se, também, que há uma forma de organização informal dos operários que visa à proteção desse grupo contra as ameaças que podem vir da empresa. 4ª fase Pagamento por produtividade Quando atingiam a produção ideal, verificou-se que os operários diminuíam o ritmo de trabalho. Se alguém tentasse produzir mais do que o grupo determinou como padrão, era punido socialmente ou moralmente. Padronização de sentimentos e solidariedade grupal. Fonte: Adaptado de Chiavenato (2014). Vamos recapitular o que vimos até agora sobre a experiência de Hawthorne? Quais foram as decorrências dessa experiência? De acordo com Maximiano (2015), foi verificado que a integração social define o nível de produção, em detrimento da capacidade física, ou seja, o homem é um ser social, necessita da convivência com outras pessoas para poder produzir e não responde somente a benefícios econômicos. A conduta do ser humano está apoiada no grupo, que determina o que deve ser feito, pois os indivíduos não agem singularmente. Nesse sentido, são os grupos informais – não aqueles determinados pelas organizações – que ditam as regras de comportamento, surgindo de forma intrínseca, de acordo com a identificação por objetivos comuns, personalidades e amizades. Logo, esse é um fator crucial para as relações de confiança entre colegas de trabalho. Em função da observação dessa organização informal, foram revistos o conteúdo e a natureza do trabalho. A partir dos resultados dessa experiência, as organizações passaram a implementar seus métodos de trabalho tendo um perfil de trabalhador em vista, no intuito de que este esteja de acordo com a função e execute suas tarefas com motivação. 14 Motivação Estado psicológico de disposição, interesse ou vontadede perseguir ou realizar uma tarefa ou meta. Dizer que uma pessoa está motivada para o trabalho significa dizer que apresenta uma disposição favorável ou positiva para o labor; possui três propriedades principais: direção, intensidade e permanência. (MAXIMIANO, 2015). Figura 3.8: Motivação Fonte: Plataforma Deduca (2018). O trabalhador começa a ser visto como um ser humano complexo, e não somente como um recurso humano. Nesse sentido, suas emoções não devem ser ignoradas. Um dos pontos mais importantes trazidos à tona pela escola das relações humanas foram os grupos informais. Por meio dessa abordagem, ficamos sabendo que os grupos informais são inerentes à organização e são compostos por pessoas em interações sociais de amizade, inimizade, simpatia, antipatia etc., em busca de identidade, liderança e subordinação. Na dinâmica desses grupos, pode ocorrer, muitas vezes, a chamada “rádio peão”, que consiste em boatos que se espalham pela empresa, podendo causar, em alguns casos, desmotivação e apatia. Diante disso, caro(a) aluno(a), como você atuaria diante do desafio dos grupos informais? De que maneira você pensa que eles podem ser importantes para uma empresa? Reflita 15 Nesta unidade, vimos a abordagem humanística nas organizações e a importância dos estudos relacionados à experiência de Hawthorne. Na próxima unidade, trataremos da abordagem estruturalista da administração. 2. Teoria estruturalista Chiavenato (2014) afirma que, no fim da década de 1950, a teoria das relações humanas entrou em declínio. A oposição entre essa teoria e a teoria clássica criou um impasse dentro da Administração que nem mesmo a teoria da burocracia teve condições de superar. Desse modo, a teoria estruturalista significou um desdobramento da teoria da burocracia, aproximando-se levemente da teoria das relações humanas e representando uma visão crítica da organização formal. Chiavenato (2014) apresenta a teoria estruturalista como uma corrente baseada na sociologia organizacional, que procura consolidar e expandir os horizontes da administração. Ainda de acordo com Chiavenato (2014, p. 286), a origem da teoria estruturalista na administração teve como pressupostos: 1. A oposição que surgiu entre a teoria clássica e a teoria das relações humanas Elas são incompatíveis entre si. Então, tornou-se necessária uma posição mais ampla, compreensiva e que integrasse os aspectos que eram considerados por uma e omitidos por outra, e vice-versa. A teoria estruturalista pretendeu ser uma síntese da teoria clássica (formal) e da teoria das relações humanas (informal), inspirando-se na abordagem de Max Weber e, até certo ponto, nos trabalhos de Karl Marx. 2. A necessidade de visualizar a organização como uma uni- dade social grande e complexa Nessa unidade social grande e complexa, interagem grupos sociais que compartilham alguns dos objetivos da organização (como a viabilidade econômica), mas que podem incompatibilizar com outros (como a maneira de distribuir os lucros). Assim, o diálogo maior da teoria estruturalista foi com a teoria das relações humanas. 16 3. A influência do estruturalismo nas ciências sociais e sua repercussão no estudo das organizações O estruturalismo sofreu forte influência da Filosofia, da Psicologia (Gestalt), da Antropologia (Claude Lévi-Strauss), da Matemática (Nicolas Bourbaki) e da Linguística, chegando até a teoria das organizações (Thompson, Etzioni e Blau). 4. Novo conceito de estrutura O conceito de estrutura é bastante antigo. Heráclito, nos primórdios da história da Filosofia, concebia o “logos” como uma unidade estrutural que domina o fluxo ininterrupto do devir, tornando-o inteligível. A estrutura é o conjunto formal de dois ou mais elementos, permanecendo inalterada mesmo nas mudanças. A mesma estrutura pode ser apontada em diferentes áreas, bem como sua compreensão. Para iniciar nossos estudos e reflexões sobre o tema, observe a afirmação de Chiavenato (2014, p. 256): Embora tivesse escrito sobre a burocracia décadas antes, foi somente com a tradução do alemão para o inglês, em 1947, que Max Weber – considerado o fundador do movimento que se iniciou na sociologia – passou a ser conhecido e discutido nos meios acadêmicos e empresariais. A abordagem estruturalista é um movimento que provocou o surgimento da sociologia das organizações e que iria criticar e reorientar os caminhos da teoria administrativa. Para Taylor e Fayol, o homem era um ser econômico. Já para Elton Mayo, o homem seria um ser social. No entanto, para a teoria estruturalista, segundo Chiavenato (2014), o foco está voltado para o homem organizacional, ou seja, aquele que cumpre diferentes papéis, em inúmeras organizações. De acordo com Chiavenato (2014), para ser bem-sucedido, esse homem organizacional precisa ter as seguintes características: • Flexibilidade: para enfrentar as mudanças bruscas e a diversidade de papéis/funções, bem como novos relacionamentos. • Tolerância emocional: por causa do desgaste do enfrentamento dos conflitos gerados por necessidades individuais e organizacionais. 17 • Capacidade de adiar as recompensas: compensar o trabalho rotineiro em detrimento de preferências e vocações pessoais. • Permanente desejo de realização: garantir a conformidade das normas que controlam e asseguram o acesso às posições de carreira dentro da organização. Figura 4.1: Mapa mental da teoria estruturalista Sociedade de organizações • Etapa da natureza • Etapa do trabalho • Etapa do capital • Etapa da organização Análise das organizações (abordagem múltipla) • Organização formal x informal • Recompensas materiais x sociais • Enfoque racional x natural • Níveis de organização • Diversidade de organizações • Análise interorganizacional Conflitos organizacionais • Conhecimento x hierarquia • Coordenação x comunicação livre • Disciplina burocrática x especialização • Planejamento centralizado x iniciativa • Linha x assessoria (staff) Objetivos organizacionais • Visão da situação futura • Fonte de legitimidade • Padrões de desempenho • Unidades de medidas Apreciação crítica da teoria estruturalista • Convergência de abordagens divergentes • Ampliação da abordagem • Dupla tendência teórica • Análise organizacional mais ampla • Inadequação das tipologias organizacionais • Teoria da crise, transição e mudança Tipologias de organizações • Coercitivas • Utilitárias • Normativas • Benefícios mútuos • Interesses comerciais • Serviços • Estado Fonte: Chiavenato (2014). Lacombe e Heilborn (2015) afirmam que a teoria estruturalista surgiu a partir de críticas relacionadas à rigidez e à impessoalidade da teoria da burocracia, que tendia a transformar as organizações em sistemas fechados. A seguir, você terá a oportunidade de estudar algumas abordagens da teoria estruturalista. 18 2.1 Organizações contemporâneas Para os estruturalistas, a sociedade moderna e industrializada é uma sociedade de organizações, das quais o homem passa a depender para nascer, viver e morrer. De acordo com Chiavenato (2014, p. 288): Essas organizações são diferenciadas e requerem dos seus participantes determinadas características de personalidade que permitem a participação simultânea das pessoas em várias organizações, nas quais os papéis desempenhados variam. O estruturalismo ampliou o estudo das interações entre os grupos sociais – iniciado pela teoria das relações humanas – para as interações entre as organizações sociais. Da mesma forma como os grupos sociais interagem entre si, as organizações também interagem entre si. Figura 4.2: Os grupos sociais Fonte: Plataforma Deduca (2018). As organizações constituem a forma dominante de instituição da sociedade moderna, em que predomina uma manifestação altamente especializada e interdependente, caracterizada por um crescente padrão de vida. As organizações permeiam todos os aspectos da vida moderna e envolvem a participação de numerosas pessoas. Cada organização
Compartilhar