Prévia do material em texto
DESCRIÇÃO Determinação de preço e quantidade produzida em um monopólio. Ineficiência do monopólio. Estratégias de discriminação de preços praticadas em mercados de competição imperfeita. Modelo de competição monopolística. Modelos de competição oligopolista. PROPÓSITO Entender os diversos setores da economia caracterizados por competição imperfeita, como monopólios e oligopólios. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever o modelo de monopólio e seus impactos sobre eficiência econômica e preços. MÓDULO 2 Descrever o modelo de competição monopolística e os modelos de oligopólio. INTRODUÇÃO Vamos apresentar um panorama geral sobre o comportamento das empresas em um contexto de competição imperfeita, onde há apenas uma empresa operando no mercado (monopólio) ou algumas empresas com poder de mercado (oligopólio). No primeiro módulo, focaremos no problema de maximização de lucro do monopolista, determinando a quantidade produzida e o preço de equilíbrio do mercado. Ainda mostraremos a ineficiência do monopólio e as estratégias de discriminação de preços do monopolista. No segundo módulo, apresentaremos o modelo de competição monopolística, assim como os modelos de oligopólio, salientando as estratégias das empresas e suas consequências para o mercado. MÓDULO 1 Descrever o modelo de monopólio e seus impactos sobre eficiência econômica e preços PODER DE MERCADO E DETERMINAÇÃO DE PREÇOS NÍVEIS DE PRODUÇÃO E PREÇO NO MONOPÓLIO Nos modelos de competição perfeita, assumimos que tanto os consumidores quanto as firmas são tomadores de preços — ou seja, não têm capacidade de influenciar os preços de mercado. Logo, esses agentes econômicos tomam as suas decisões considerando os preços como dados. No entanto, em muitas situações, os agentes econômicos têm poder de mercado, isto é, têm a capacidade de alterar os preços de modo a mantê-los acima do nível competitivo, aumentando seus lucros. O exemplo mais simples (e extremo) de poder de mercado é o monopólio, estrutura na qual há apenas uma empresa vendedora de determinado produto, para o qual não há similares acessíveis ao consumidor. Um exemplo é o serviço de distribuição de água em uma cidade. Imagem: Caio Pederneiras/Shutterstock.com Sabesp Neste contexto, a empresa não toma os preços como dados, pois reconhece seu poder de influenciá-los. Se, no mercado competitivo, a empresa decidir praticar um preço maior que aquele de equilíbrio de mercado, ela perde toda a sua demanda para as empresas concorrentes. Já no monopólio, como não há concorrência, a empresa percebe que um pequeno aumento dos preços acima do nível competitivo gera apenas uma pequena redução da demanda, aumentando os lucros. O monopolista escolhe o preço e a quantidade produzida para maximizar seu lucro total. No entanto, essas escolhas são duas faces de uma mesma moeda. Para qualquer quantidade de produção escolhida A demanda dos consumidores determinará o preço do produto. Ou, de maneira recíproca, Para qualquer preço determinado pelo monopolista A quantidade produzida será aquela demandada pelos consumidores. Se escolher um valor muito alto, por exemplo, a empresa só conseguirá vender uma quantidade pequena. Uma pergunta que se coloca é a causa dos monopólios. Ou, de outra maneira, qual é a razão para que potenciais competidores não entrem no mercado? Os impedimentos à entrada de novas empresas em um mercado monopolizado são denominados barreiras à entrada. Segundo Mankiw (2019), as barreiras à entrada têm três origens principais: UM RECURSO-CHAVE É EXCLUSIVO DE UMA ÚNICA EMPRESA Caracteriza-se pela propriedade exclusiva de um importante insumo produtivo, acarretando o monopólio do mercado pela empresa. Por exemplo, só a Coca-Cola possui a fórmula do seu refrigerante. EXCLUSIVIDADE DE DIREITO CONCEDIDA PELO GOVERNO O governo impõe restrições legais para a operação no mercado. Por exemplo, os Correios são um monopólio concedido pelo governo brasileiro no envio e na entrega de correspondências. A lei de patentes e direitos autorais é outro exemplo de monopólio criado pelo governo com intuito de encorajar a inovação, em que os inventores e criadores detêm o direito exclusivo de beneficiar-se de suas inovações/criações. MONOPÓLIO NATURAL Caracteriza-se pelo fato de que os custos de produção e a tecnologia do setor tornam a operação de uma única empresa mais eficiente que um grande número de empresas. Ou, de outra maneira, a produção de determinado bem ou serviço por uma única firma minimiza o custo social. Em um monopólio natural, a curva de custo médio de longo prazo é decrescente para todos os níveis relevantes de produção. Isto é, há economias de escala para toda a faixa relevante de produção. Um exemplo de monopólio natural está na distribuição de gás encanado. Os custos fixos são muito grandes na criação e manutenção do sistema de canalização do gás, e o custo marginal de se ofertar unidades extras de gás é muito baixo. Muitas empresas de prestação de serviços de utilidade pública são monopólios naturais (água, luz, gás, entre outras). De maneira geral, se o nível de produção que minimiza o custo médio de operação da empresa for alto em relação ao tamanho do mercado, cria-se uma situação de monopólio natural. Agora que já sabemos como os monopólios surgem, podemos analisar o problema de determinação de preço e quantidade produzida em uma estrutura de mercado monopolista. Como já salientamos, ao contrário do mercado de competição perfeita, no monopólio, a firma pode alterar o preço do seu bem de acordo com sua decisão de produção. Ao escolher o nível ótimo de produção que maximiza seu lucro, a curva de demanda de mercado estabelecerá o preço de equilíbrio compatível com a quantidade produzida. No entanto, como a firma monopolista escolhe a quantidade a ser produzida? A quantidade produzida pela firma monopolista é determinada como solução do problema de maximização de lucro da empresa. O lucro da firma monopolista será dado pela diferença entre a receita e o custo de produção (vale lembrar que, em ciências econômicas, os custos de oportunidade são sempre incluídos): Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Seja q a quantidade produzida. Utilizando p(q) para representar a curva de demanda inversa do mercado, teremos que a receita da empresa monopolista será dada por r(q) = p(q)q. Assumindo c(q) como o custo total de produção da firma, podemos reescrever a função lucro da seguinte forma: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Sendo assim, o problema de maximização de lucros da firma monopolista assume a seguinte forma: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Vamos supor que a receita e o custo sejam funções diferenciáveis da quantidade. Pela condição de primeira ordem (CPO) desse problema de otimização, sabemos que, no ponto ótimo de produção, teremos que: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Lucro = Receita − Custo Lucro = r(q)−c(q) max { q≥0 } r(q)−c(q) = 0dLucro dq* Ou seja, para a quantidade ótima de produção q*, a derivada da função lucro do monopolista em relação à quantidade produzida deve ser igual a zero. Estamos supondo implicitamente que a restrição é respeitada na escolha ótima. Isso vale para as funções demanda e custo tipicamente usadas. Além disso, vamos supor que as condições de segunda ordem são respeitadas — isso vale se a receita for côncava e o custo for convexo, por exemplo. A CPO implica que: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Em que r’(q*) e c’(q*) representam, respectivamente, as derivadas das funções receita e custo no ponto de produção ótima, q*. Isto é, r’(q*) é a receita marginal (RMg) e c’(q*) é o custo marginal (CMg) em q*. A escolha ótima de produção pelo monopolista será aquela que iguala: Receita marginal (RMg) Custo marginal (CMg) É fácil entendera razão disso. Imagine que a receita marginal é maior que o custo marginal, RMg > CMg: Neste caso, vale a pena para a firma monopolista produzir quantidades adicionais do produto, já que a receita adicional com o aumento da produção será maior que o custo adicional, elevando os lucros. Da mesma forma, caso a receita marginal seja menor que o custo marginal, RMg < CMg, a empresa terá incentivos para diminuir a produção, na medida em que a redução da quantidade produzida gera uma economia de gastos maior que a receita perdida. Portanto, a empresa irá ajustar sua quantidade produzida até que, em equilíbrio, a receita marginal se iguale ao custo marginal, RMg = CMg ou r’(q*) = c’(q*). Neste ponto, a firma monopolista não terá incentivos a alterar sua produção. q ≥ 0 r'(q*)−c'(q*)= 0 r'(q*)= c'(q*) Vamos refazer essa conta olhando com mais detalhes a função receita. Como r(q) = p(q)q, podemos reescrever a função lucro do monopolista da seguinte maneira: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Assim, o problema de maximização de lucro do monopolista terá a forma a seguir: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal SAIBA MAIS Observe que usamos a quantidade como variável de escolha. Podemos fazer o mesmo exercício utilizando o preço como variável de escolha. Usaríamos, então, a função demanda (e não a demanda inversa). O problema seria: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Pela condição de primeira ordem e aplicando a regra do produto da derivação, teremos a forma alternativa da condição de primeira ordem do monopolista: Lucro = p(q)q − c(q) max { q≥0 } p(q)q − c(q) max {p≥0 } pq(p) − c(q(p)) p(q*)+p'(q*)q* − c'(q*)= 0 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal O resultado obtido é o mesmo que vimos antes — apenas abrimos o termo da receita marginal. No entanto, o interessante desse resultado é que ele nos permite comparar os casos das empresas competitivas com as monopolistas. A quantidade ótima produzida pelas firmas competitivas também é aquela que iguala a receita marginal ao custo marginal, RMg = CMg. Para as empresas competitivas, porém, a receita marginal é igual ao preço Dessa forma, em mercados competitivos, o preço será igual ao custo marginal. No caso do monopolista, no entanto, a receita marginal não se reduz simplesmente ao preço, como podemos ver no resultado anterior. Se o monopolista aumenta sua quantidade produzida, dois efeitos distintos afetarão sua receita marginal: EFEITO QUANTIDADE EFEITO PREÇO EFEITO QUANTIDADE Sua receita aumentará pela quantidade adicional do bem vendido ao preço de mercado. Esse impacto é exatamente o preço: p(q*). EFEITO PREÇO Ao ofertar mais produto no mercado, o preço cairá em toda a produção vendida. Esse impacto é o produto da variação do preço (a derivada) pela quantidade total: p’(q*)q*. Assim, o efeito total sobre a receita da produção de um bem adicional se dará pela expressão p(q*) + p’(q*)q*. Para a empresa competitiva, esse segundo termo não existe, exatamente porque a derivada do preço em relação à quantidade produzida pela firma é igual a zero: ou seja, a firma competitiva não consegue afetar o preço de mercado. Como a função demanda inversa, p(q*), é decrescente na quantidade (quanto maior a quantidade produzida, menor será o preço), então temos que sua derivada em relação à quantidade será negativa, p(q*)+p'(q*)q* = c'(q*) p’(q*) < 0. Com isso, teremos a seguinte implicação: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Ou seja, enquanto para as empresas competitivas, temos p* = RMg = CMg, para as empresas monopolistas, encontramos p* > RMg = CMg. No ponto ótimo de produção, a receita marginal será igual ao custo marginal para os mercados de concorrência perfeita e monopolista. No entanto, será a relação do preço com a receita marginal (e, portanto, com o custo marginal) que irá mudar, já que... A firma monopolista irá operar em um ponto em que o preço é maior que seu custo marginal de produção. Como salientado por Varian (2012), também podemos exprimir a receita marginal em termos da elasticidade. Em equilíbrio, temos que: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Colocando p(q*) em evidência: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Onde só mudamos o símbolo da derivada p’(q*) = dp(q*)/dq. Definindo-se a elasticidade de demanda do bem como ε(q*) = (dq/dp(q*))(p/q), podemos reescrever a receita marginal: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal RMg = p(q*)+p'(q*)q* < p(q*) RMg = p(q*)+p'(q*)q* = c'(q*)= CMg RMg = p(q*) (1 + )= CMg dp(q*) dq q p(q) RMg = p(q*) (1 + )= CMg1 ε(q*) Como a elasticidade é negativa, podemos reescrever a equação como: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Com essa última equação, também podemos verificar a relação entre o preço, a receita marginal e o custo marginal para as empresas competitivas e monopolistas. No caso de concorrência perfeita, a curva de demanda é infinitamente elástica, implicando que |ε(q*)|→ ∞ e, portanto, 1/|ε(q*)|→ 0. Assim, para um mercado competitivo, as empresas operarão no ponto de equilíbrio em que p* = Rmg = CMg. Na área onde a curva de demanda é inelástica, |ε(q*)| < 1, a receita marginal do monopolista torna-se negativa. Logo, a firma monopolista só irá operar na área em que a elasticidade da curva de demanda é unitária ou elástica, |ε(q*)| ≥ 1, implicando, portanto, que p* > RMg = CMg. Se a igualdade entre a receita marginal e o custo marginal da firma monopolista nos dá a quantidade ótima de produção, ou seja, a quantidade que maximiza o lucro da firma, resta-nos saber o preço que maximiza o lucro para seu produto. Esse preço será determinado pela capacidade que os consumidores estão dispostos a pagar pela quantidade ofertada pelo monopolista. Como fica claro pela figura a seguir, após decidir a quantidade de produção que maximiza seu lucro, igualando a receita marginal ao custo marginal, a curva de demanda estabelece o nível de preço que é consistente com essa produção. Em suma: a quantidade produzida que maximiza o lucro do monopolista é q*, tal que RMg = r’(q*) = c’(q*) = CMg. De q* e da curva de demanda, obtemos o nível de preço de equilíbrio do monopolista, p* = p(q*). Preço e Quantidade Produzida no Monopólio RMg = p(q*) (1 − )= CMg1 ∣∣ε ( q* ) ∣∣ Imagem: Pedro Américo de Almeida Ferreira Observe, no gráfico, que o monopólio não minimiza o custo médio de produção. Lembre-se de que o custo médio é minimizado pela firma competitiva no ponto em que CMe = CMg. Como o monopólio cobra um preço mais alto e produz uma quantidade menor do que sob competição perfeita, fica à esquerda do ponto mínimo de custo médio. Por fim, o lucro do monopolista será dado por r(q*) – c(q*). O lucro está representado na área destacada da figura, correspondendo à diferença entre o preço de equilíbrio e o custo médio, multiplicada pela quantidade produzida. Essa relação fica mais clara pela equação a seguir: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Que pode ser reescrita como: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Como r(q*)/q* é a receita média, que é simplesmente o preço, e sendo c(q*)/q* o custo médio (CMe), então: Lucro = r(q*)−c(q*) Lucro = ( − )q* r(q*) q* c(q*) q* Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Exatamente a área hachurada do gráfico. A INEFICIÊNCIA DO MONOPÓLIO Como já mostramos, em um mercado monopolista, a firma opera no ponto em que o preço é maior que o custo marginal de produção do bem. Esse preço, portanto, é maior que aquele correspondente ao mercado competitivo. Para os consumidores, umasituação de monopólio é pior que uma competitiva, por conta desse aumento dos preços. No entanto, para a firma, a situação do monopólio será melhor, já que, no geral, irá operar cobrando um preço maior pelo produto e produzindo uma quantidade menor em relação à estrutura competitiva. E do ponto de vista da sociedade como um todo? Se os consumidores perdem com o monopólio e os proprietários da empresa monopolista ganham, é possível chegar a alguma conclusão para a sociedade de forma geral? Podemos mostrar que o monopólio gera ineficiência. Isto é, o nível de produção do monopólio não é eficiente no sentido de Pareto. Como no monopólio o preço de equilíbrio é maior que o custo marginal de produção, p* > CMg, há consumidores dispostos a pagar um valor maior que o custo adicional de produção desse bem. Caso o monopolista conseguisse cobrar um preço específico para essa unidade adicional do produto, discriminando preços entre consumidores, ele aumentaria seu excedente. Logo, na produção dessa unidade adicional do produto, tanto o consumidor quanto o produtor estariam em uma situação melhor, ou seja, há uma melhoria de Pareto. Lucro = (p* − CMe)q* No entanto, o monopolista, ao não produzir esse bem, gera ineficiência, já que há consumidores dispostos a pagar mais que o custo de produção do bem. E o monopolista decide não produzir essa unidade adicional do bem. Afinal, caso fosse produzida, ele teria de baixar o preço de venda de todas as outras unidades produzidas (também chamadas de “unidades inframarginais” — ou seja, quase todas, à exceção da última). A ineficiência provocada pela estrutura de mercado monopolizada pode ser medida. Ela corresponde à perda do excedente total (excedente do produtor e consumidor) dissipado na economia, por conta da não realização de transações que beneficiariam produtores e consumidores. Essa ineficiência é denominada de ônus do monopólio, e corresponde à área hachurada da figura a seguir (se as curvas de demanda e custo marginal forem lineares, essa área será um triângulo). O ônus do monopólio Imagem: Pedro Américo de Almeida Ferreira O ônus do monopólio (também conhecido como peso morto causado pelo monopólio) mede o valor da produção perdida daqueles bens que poderiam ser transacionados com os consumidores que atribuem a esses bens um valor maior que o seu custo marginal de produção. Como a curva de demanda representa o quanto os consumidores estariam dispostos a pagar pelo bem e a curva de custo marginal indica o custo para a produção de uma unidade adicional do bem pelo monopolista, então a área entre a curva de demanda e a curva de custo marginal nos dá o ônus do monopólio. Mais especificamente, como q* e q’ da nossa figura medem, respectivamente, as quantidades ótimas de produção em um mercado monopolista e competitivo, o peso morto do monopólio corresponderá à região entre esses dois níveis produtivos que está entre as curvas de demanda e custo marginal, representando, assim, o valor do excedente perdido pelo fato de o monopólio operar em um ponto em que o preço é maior que o custo marginal, em que, portanto, a quantidade produzida será inferior àquela que maximiza o excedente total. Considere um exemplo simples. A demanda inversa é dada por , e, portanto: A receita é: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A receita marginal é: A curva de custo é: E, portanto, o custo marginal é constante: O monopolista fará receita marginal igual a custo marginal: , e escolhe , e, portanto, (basta usar a curva de demanda inversa com ). O equilíbrio competitivo é dado por preço igual a custo marginal: , e, portanto, . O preço é o próprio custo marginal, constante neste exemplo. Como calcular o peso morto? Precisamos calcular a área entre as curvas de demanda inversa e de custo marginal. Nesse exemplo, precisamos simplesmente calcular a área de um triângulo (desenhe o gráfico). A base é dada por 8 – 4 = 4, ou seja, a diferença entre a quantidade competitiva e a produção do monopolista. A altura é dada por 6 – 2 = 4, a diferença entre os preços cobrados em cada caso. A área é, portanto, igual p(q) = 10 − q p(q)q =(10 − q)q = 10q − q2 RMg = 10 − 2q c(q) = 2q CMg = 2 10 − 2q = 2 q = 4 p = 6 q = 4 10 − q = 2 q = 8 a (lembre-se de que a área do triângulo é base vezes altura dividido por 2). Esse é o peso morto. De forma geral, podemos ter funções não lineares, e precisaremos calcular a integral da diferença entre a demanda inversa e o custo marginal, entre as quantidades de monopólio e de competição perfeita: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Exatamente como encontramos antes. DISCRIMINAÇÃO DE PREÇOS A ineficiência do monopólio reside, como vimos, no seguinte fato: No seu ponto ótimo de produção, o preço cobrado pelo bem é maior que o custo marginal de produzi-lo. Portanto, há consumidores dispostos a pagar pelo bem um valor maior que o seu custo adicional de produção. No entanto, para o monopolista, não é de interesse produzir esse bem adicional, já que isso levaria a uma redução dos preços de venda de toda a sua produção. 4×4/2 = 8 8 ∫ 4 (p(q) − CMg(q))dq = 8 ∫ 4 (10 − q − 2)dq = = 8 ∫ 4 (8 − q)dq =(8 ×(8)− )−(8 ×(4)− )= 8( 8 ) 2 2 ( 4 ) 2 2 Até agora, no entanto, estamos supondo que a firma monopolista vende o bem pelo mesmo preço independentemente do comprador e da quantidade vendida a ele. E se o monopolista conseguisse diferenciar o preço do produto pela identidade do comprador e pela quantidade vendida? RESPOSTA Em tais situações, dizemos que há discriminação de preços. Esse tipo de estratégia, como mostraremos, pode afetar o peso morto do monopólio. Porém, a forma como os ganhos adicionais de eficiência irão se distribuir entre consumidores e monopolista depende do tipo de discriminação de preço. Podemos classificar as estratégias de discriminação de preços em três grupos distintos: 1 DISCRIMINAÇÃO DE PREÇOS DE PRIMEIRO GRAU OU DISCRIMINAÇÃO DE PREÇOS PERFEITA: O monopolista vende diferentes quantidades do produto a diferentes preços, que podem também diferir de acordo com o consumidor. O monopolista conhece o preço de reserva de cada consumidor. 2 DISCRIMINAÇÃO DE PREÇOS DE SEGUNDO GRAU: O monopolista vende diferentes quantidades do produto a diferentes preços, mas os preços não variam com os consumidores. O preço varia no que tange à quantidade vendida, mas não com respeito ao perfil do consumidor. Pense, por exemplo, em um desconto por quantidade. 3 DISCRIMINAÇÃO DE PREÇOS DE TERCEIRO GRAU: O monopolista vende o produto a preços diferentes para perfis diversos de consumidores. No entanto, cada unidade vendida a determinada pessoa tem o mesmo preço. Pense em descontos no ingresso do cinema para estudantes. A seguir, analisaremos cada um dos tipos de discriminação de preços: Discriminação de Preços de Primeiro Grau Neste caso, o preço do bem varia pela quantidade vendida e pela identidade do comprador. O monopolista venderá cada unidade produzida do bem para o consumidor que lhe atribui maior valor, recebendo o preço máximo que ele estaria disposto a pagar. Não é muito fácil acharmos casos práticos de aplicação desse tipo de estratégia de precificação; no entanto, como apontado por Varian (2012), um exemplo seria o médico de uma pequena cidade do interior que cobra preços diferentes de seus clientes, de acordo com a capacidade de cada um de pagar pela consulta. Imagem: Shutterstock.com O interessante deste tipo de estratégia de discriminação de preços é que ela elimina a ineficiência do monopólio: o resultado é eficiente no sentido de Pareto. Suponha que um monopolista seja capaz de vender cada unidade de sua produção ao maior preço que cada consumidor estaria disposto a pagar pela unidade do bem, ou seja, ao preço de reserva de cada consumidor. Enquanto alguém estiver disposto a pagar o custo marginal de produção, a firma venderá, e, portanto, aineficiência deixa de existir. Porém, como o monopolista irá cobrar de cada cliente exatamente a sua disposição a pagar pelo bem, o excedente total da transação irá inteiramente para o produtor. O excedente do consumidor nesse mercado é igual a zero: todo o excedente irá para o monopolista. Não há ineficiência, mas a alocação resultante é fortemente desigual. Na figura a seguir, apresentamos um exemplo de discriminação perfeita de preços. O monopolista mantém seu nível de produção no ponto em que o preço é igual ao custo marginal de produção de uma unidade adicional do bem. Caso contrário, haveria alguém propenso a pagar mais pelo bem que seu custo adicional de produzi-lo, fazendo com o que o monopolista produzisse essa unidade extra no intuito de aumentar seu lucro. Discriminação de Preços de Primeiro Grau Imagem: Pedro Américo de Almeida Ferreira Como todo excedente do mercado é capturado pelo produtor, seu objetivo será maximizar o excedente total da economia (e, consequentemente, seu lucro). Assim como no caso de competição perfeita, a soma dos excedentes do consumidor e produtor será maximizada, gerando um resultado eficiente no sentido de Pareto. No entanto, na discriminação de preços de primeiro grau, todo o excedente gerado pelo mercado irá para o produtor. O excedente do consumidor é todo apropriado pelo monopolista (área em azul da figura). Se compararmos com o caso de monopólio sem discriminação de preços, lembraremos que, nessa situação, o monopolista produz no ponto em que o preço é maior que o custo marginal de produção. Com discriminação perfeita de preços, o produtor venderá cada unidade de acordo com a propensão de compra de cada consumidor, operando no ponto em que o preço é igual ao custo marginal. Discriminação de preços de segundo grau Na discriminação de preços de segundo grau, os preços dos bens diferem com respeito à quantidade comprada, mas não variam com o perfil do consumidor. O principal exemplo deste tipo de estratégia são os descontos por quantidade. Por exemplo, muitos mercados e farmácias oferecem descontos por quantidade comprada de determinado produto. Isto é uma forma de discriminação de preço, pois o consumidor pagará um preço diferente pela primeira unidade comprada em relação à enésima unidade. Imagem: Tarcisio Schnaider/Shutterstock.com Como as empresas monopolistas não conhecem as curvas de demanda de cada consumidor, ou seja, não têm informação sobre a propensão a pagar de cada um, a discriminação de preços de segundo grau pode ser útil na geração de incentivo à autosseleção dos consumidores. Por exemplo, suponha que uma firma monopolista tenha dois tipos de consumidores, um com maior e outro com menor propensão a pagar pelo produto. Como a empresa não consegue distinguir esses dois grupos de consumidores, uma solução será criar pacotes diferenciados de preço-quantidade para tentar induzir cada grupo a escolher o pacote a ele destinado (o que chamamos aqui de autosseleção). Assim, a empresa consegue capturar parte do excedente do consumidor. Uma alternativa é fazer variações não de quantidade, mas de qualidade. A ideia é a mesma: induzir autosseleção. Pense, por exemplo, em companhias aéreas que oferecem dois pacotes distintos do serviço “transporte por avião”: Imagem: Shutterstock.com NA PRIMEIRA CLASSE Com preço caro Imagem: Shutterstock.com NA CLASSE TURÍSTICA Com preço mais barato Ao discriminar preços, a empresa busca cobrar mais de parte dos seus consumidores. Discriminação de Preços de Terceiro Grau A discriminação de preços de terceiro grau caracteriza-se pela diferenciação dos preços de acordo com o consumidor, sendo que todas as unidades vendidas a determinado consumidor terão o mesmo preço. Esse é o tipo mais comum de prática de diferenciação de preços. Descontos para estudantes no cinema ou idosos na farmácia são dois exemplos clássicos de discriminação de preço de terceiro grau. Imagem: Shutterstock.com No geral, as empresas irão trabalhar com preços mais baixos para o grupo de pessoas que é mais sensível às variações dos preços. Vamos ver isso formalmente. Imagine que um monopolista identifique dois tipos distintos de consumidores, cada qual tendo uma curva de demanda inversa própria, p1(q1) e p2(q2). Suponha que os consumidores não consigam revender os bens (caso um grupo conseguisse revender a outro o bem que comprou a um preço mais barato, a empresa não conseguiria fazer essa discriminação: bastaria que os estudantes vendessem seus ingressos baratos de cinema para os não estudantes). Sendo c(q1+q2) a função custo de produção da firma, então o problema de maximização de lucros da firma monopolista será dado por: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Pela condição de primeira ordem, e resolvendo o problema para q1 e q2, a solução ótima será aquela que iguala a receita marginal de cada bem ao custo marginal de produção: max q1,q2 p1(q1)q1 R(q1) + p2(q2)q2 R(q2) − c(q1 + q2) RMg(q1)= CMg(q1 + q2) Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Ou seja, a receita marginal obtida no mercado de cada grupo de consumidores deve ser igual ao custo marginal total de produção do bem. Se a receita marginal em um mercado for maior que o custo marginal, valeria a pena aumentar a produção nesse mercado. Portanto, as receitas marginais em cada mercado consumidor devem ser iguais e correspondentes ao custo marginal de produção total. Aplicando a fórmula de elasticidade-demanda do bem, como já fizemos anteriormente, obteremos o seguinte resultado: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Portanto: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Reorganizando: RMg(q2)= CMg(q1 + q2) RMg(q1) = p1(q1) (1 − )= CMg(q1 + q2)1|ε1 ( q1 ) | RMg(q2) = p2(q2) (1 − )= CMg(q1 + q2)1|ε2 ( q2 ) | p1(q1) (1 − )= p2(q2) (1 − )1|ε1 ( q1 ) | 1 |ε2 ( q2 ) | = p1 ( q1 ) p2 ( q2 ) ( 1− )1 ∣∣ε2 ( q2 ) ∣∣ ( 1− )1 ∣∣ε1 ( q1 ) ∣∣ Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Observemos agora que, se p1 > p2, teremos: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Logo: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Portanto: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal O que implica: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Ou seja, > 1 p1 ( q1 ) p2 ( q2 ) = > 1 ( 1− )1 ∣∣ε2 ( q2 ) ∣∣ ( 1− )1 ∣∣ε1 ( q1 ) ∣∣ (1 − )>(1 − ) 1 |ε2 ( q2 ) | 1 |ε1 ( q1 ) | ( )> ( )1 |ε1 ( q1 ) | 1 |ε2 ( q2 ) | |ε1(q1)|< |ε2(q2)| Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Portanto, o mercado que apresenta maior preço será aquele com menor elasticidade de demanda do bem. A empresa irá operar com preços mais baixos para o grupo de consumidores de maior elasticidade de demanda do bem. Ou seja, ela maximiza o lucro colocando preços mais baratos para o grupo de consumidores mais sensível às variações dos preços do produto (os estudantes no cinema ou os idosos na farmácia de nosso exemplo). Vejamos um exemplo simples. O monopolista atua em dois mercados, com demandas inversas dadas por e . O custo é . O problema da firma é: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal As condições de primeira ordem são (lembre-se de que há uma para cada variável de escolha, ou seja, uma para cada mercado): Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Ou seja, o preço é maior no mercado 2, o que significa que a curva de demanda é menos elástica nesse ponto. De fato, podemos calcular a elasticidade da demanda na solução para os dois mercados. Usaremos as funções demanda, obtidas a partir da demanda inversa emcada mercado: p1 = 10 − q1 p2 = 20 − 4q2 c(q1, q2) = q1 + q2 max q1,q2 (10 − q1)q1 +(20 − 4q2)q2 − q1 + q2 10 − 2q1 = 1⟹ q1 = 9/2 ⟹ p1 = 10 − 9/2 = 11/2 20 − 8q2 = 1⟹ q2 = 19/8 ⟹ p2 = 20 − 4 × 19/8 = 21/2 > p1 ε1 = = = (−1) = − 11/9 ≅−1,22 dq1 dp1 p1 q1 d ( 10−p1 ) dp1 p1 q1 11/2 9/2 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Ou seja, o mercado 2, onde a elasticidade é (em módulo) menor, tem o preço mais caro. PREÇO E PRODUÇÃO NO MONOPÓLIO COM DEMANDA LINEAR E RETORNOS CONSTANTES DE ESCALA Nesse vídeo, o especialista irá resolver um exercício para exemplificar o que foi ensinado até aqui. ε2 = = = − = − 21/19 ≅−1,10 dq2 dp2 p2 q2 d ( 5− p2/4 ) dp2 p2 q2 1 4 21/2 19/8 VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. DAS ALTERNATIVAS A SEGUIR, QUAL É A ÚNICA VERDADEIRA SOBRE A ESCOLHA ÓTIMA DE PRODUÇÃO DAS FIRMAS MONOPOLISTAS? A) O nível ótimo de produção pode ser obtido pela maximização da receita da firma monopolista. B) O nível ótimo de produção da firma monopolista será aquele em que a receita marginal é maior que o custo marginal. C) O nível ótimo de produção da firma monopolista será aquele em que a receita marginal é igual ao custo marginal de produção. D) No ponto de produção ótima da firma monopolista, o preço de equilíbrio será igual ao custo marginal de produção. E) A quantidade ótima produzida pela firma monopolista corresponde àquela em que o custo marginal de produção é maior que a receita marginal. 2. NO QUE DIZ RESPEITO ÀS ESTRATÉGIAS DE DISCRIMINAÇÃO DE PREÇOS DO MONOPOLISTA, INDIQUE A ÚNICA ALTERNATIVA VERDADEIRA: A) A discriminação de preços perfeita corresponde àquela em que o monopolista vende diferentes unidades do produto ao mesmo preço, independentemente da quantidade comprada do perfil do consumidor. B) Na discriminação de preços de terceiro grau, o preço da unidade vendida não varia com a quantidade comprada pelo consumidor, mas difere com o perfil do consumidor. C) Descontos para estudantes no cinema é um exemplo clássico de discriminação de preços de segundo grau. D) A prática de estratégia de discriminação de preços não é capaz de alterar a eficiência do mercado monopolista. E) Os descontos por quantidade são um exemplo de discriminação de preços de terceiro grau. GABARITO 1. Das alternativas a seguir, qual é a única verdadeira sobre a escolha ótima de produção das firmas monopolistas? A alternativa "C " está correta. Da maximização de lucro da firma monopolista, obtemos que, na escolha ótima de produção, a receita marginal é igual ao custo marginal de produção. Além disso, em equilíbrio, o preço será maior que a receita marginal e o custo marginal. 2. No que diz respeito às estratégias de discriminação de preços do monopolista, indique a única alternativa verdadeira: A alternativa "B " está correta. A discriminação de preços de terceiro grau caracteriza-se pela diferenciação dos preços de acordo com o perfil dos consumidores, apesar de não variar com a quantidade consumida. Os descontos para estudantes no cinema são um exemplo. A fim de maximizar seu lucro, as firmas estipulam preços mais baratos para grupos de consumidores mais sensíveis às variações dos preços. MÓDULO 2 Descrever o modelo de competição monopolística e os modelos de oligopólio CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA: EQUILÍBRIOS NO CURTO E LONGO PRAZOS Até agora, quando analisamos uma estrutura de mercado de monopólio, partimos do pressuposto de que há uma única firma detentora de poder de mercado total no comércio de determinado bem. No entanto, na maioria dos mercados onde há competição imperfeita, as firmas detêm algum grau de monopólio no comércio de seu produto, mas enfrentam alguma competição. EXEMPLO Imaginemos o mercado de pasta de dente, onde há várias empresas produzindo um bem que, apesar de semelhante, não é exatamente igual entre as empresas. Cada marca de pasta de dente terá seu diferencial. Imagem: Shutterstock.com Neste mercado, cada firma tem o monopólio de produção de sua marca, competindo, no entanto, com outras firmas que produzem um produto semelhante, já que, para o consumidor, as opções de pastas de dente são substitutas em algum grau: eu posso ter minha pasta preferida e aceito pagar um pouco mais por ela, mas não estou disposto a pagar qualquer preço. Uma estrutura de mercado deste tipo é denominada concorrência monopolística (ou competição monopolística). A concorrência monopolística compartilha características de competição perfeita e de monopólio. Como cada firma produz um bem substituto próximo ao das concorrentes, mas a substituição não é perfeita: cada firma deterá algum poder de mercado, ou seja, cada empresa terá algum grau de monopólio sobre o comércio do bem. E tal grau de monopólio será crescente no nível de diferenciação dos bens produzidos pelas diferentes firmas. Voltando ao nosso exemplo do mercado de pasta de dente, quanto maior for o nível de diferenciação do produto de determinada firma, maior será o seu poder de monopólio. Em um mercado onde há várias firmas que produzem pastas de dente convencionais, aquela empresa que produzir uma pasta de dente capaz de clarear os dentes terá maior poder de monopólio, por exemplo. O nível de diferenciação do produto em um cenário de concorrência monopolística determinará a curva de demanda que cada empresa enfrentará, já que as decisões de produção e preços das firmas que fabricam bens similares alteram a inclinação da curva de demanda das demais. Se um grande número de firmas produz um produto idêntico A curva de demanda tenderá a ser plana, próxima à curva de demanda de uma firma competitiva. Lembre-se: uma curva plana é muito elástica, e pequenas variações de preços geram grandes mudanças na quantidade demandada. Ou seja, qualquer tentativa de aumento de preços faria a firma perder todos os seus clientes para as concorrentes. Neste cenário, o poder de mercado da monopolista será pequeno. Agora, imaginemos um cenário alternativo de grande diferenciação de produto. Com isto, a curva de demanda tende a ser mais inclinada, e o aumento do preço geraria uma perda de clientes, mas não em seu total. O tamanho da perda de clientes dependerá do grau de diferenciação do produto: Quanto mais diferenciação Maior será o poder de mercado da firma produtora e, portanto, menor será a perda de clientes. Também podemos colocar esses resultados em termos de elasticidade de demanda: Quanto maior for a diferenciação dos produtos Menos elástica será a curva de demanda do produto e, portanto, maior poder de mercado terá a firma. Apesar de ser uma estrutura de mercado comum, a competição monopolística é de difícil modelagem. Em geral, a análise tem de ser feita especificamente para cada mercado, limitando a capacidade de generalização dos resultados. De toda maneira, resultados interessantes podem surgir quando analisamos os equilíbrios de curto e longo prazos da competição monopolística. Assumimos que, no curto prazo, o número de firmas no mercado é fixo. Já no longo prazo, há livre entrada e saída de firmas no mercado. As firmas, para maximizarem seu lucro, produzirão no ponto onde a receita marginal se iguala ao custo marginal. Neste ponto, o preço do bem será maior que o custo marginal e maior que o custo médio, assim como vimos no caso de uma firma monopolista. Portanto, no curto prazo, em um cenário de concorrência monopolística, as firmas terão lucro econômico positivo — ou seja, remuneração extraordinária dos fatores de produção. Por outro lado, no longo prazo, com a livre entrada e saída de firmas concorrentes, o lucro da firma tende a zero. Em um cenário de competição monopolística, se uma empresa está operando com lucros positivos, há uma tendência em longo prazo de entrada de novas firmas para capturar parte desse lucro. Com isso, mais e mais produtos similares seriam produzidos por diferentes empresas, tornando a curva de demanda mais elástica. Mais do que isso, no nível ótimo de produção,como a concorrência leva os lucros a zero, as firmas operarão no ponto em que a curva de demanda tangencia a curva de custo médio. Para ver isso, lembremos que, em equilíbrio, o lucro do monopolista pode ser escrito como: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal No longo prazo, com a entrada competitiva de outras firmas, esse lucro torna-se zero, implicando p* = CMe (ponto de tangência entre as curvas de demanda e custo médio). Graficamente, podemos representar os equilíbrios de curto e longo prazos de uma competição monopolística como mostram as figuras a seguir: Curto Prazo Imagem: Pedro Américo de Almeida Ferreira Longo Prazo Lucro = (p* − CMe)q* Imagem: Pedro Américo de Almeida Ferreira Pelo gráfico, fica claro que, no equilíbrio de curto prazo, a quantidade produzida pela firma será tal que a receita marginal é igual ao custo de marginal de produção. Neste ponto, como a empresa tem poder de mercado, o preço será maior que o custo marginal. Mais do que isso, a firma terá lucro positivo correspondente à diferença entre o preço de equilíbrio e o custo médio total vezes a quantidade produzida (área hachurada do gráfico de curto prazo). No longo prazo, com a entrada de novos competidores atraídos pelos lucros positivos do mercado, o poder de mercado da firma diminui e a curva de demanda torna-se mais elástica. Em equilíbrio, a empresa escolherá produzir a quantidade que iguala a receita marginal ao custo marginal. No entanto, agora, o preço de equilíbrio será igual ao custo médio de produção, fazendo com que o lucro da firma seja zero. Além disso, devemos destacar que o preço continuará sendo maior que o custo marginal de produção, já que ainda há alguma ineficiência de mercado decorrente do poder de monopólio restante da firma. RESUMINDO Podemos dizer que, tanto no equilíbrio de curto como no de longo prazos, o preço é maior que o custo marginal. No entanto, enquanto no curto prazo esse preço é maior que o custo médio, gerando lucros positivos, no longo prazo, o preço será igual ao custo médio de produção, acarretando lucro econômico igual a zero. O modelo básico de concorrência monopolística toma o grau de diferenciação de produtos como dado e, portanto, não permite interação estratégica entre as firmas. Entretanto, em geral, as firmas buscam ativamente diferenciar seus produtos daqueles produzidos pelas concorrentes. Uma ilustração importante é o modelo de Hotelling, em que a diferenciação do produto se dará pela distância do consumidor à firma vendedora. Apesar de os produtos serem homogêneos, há diferenciação por conta dos custos de deslocamento do consumidor. Esse exemplo salienta, entre outras coisas, que a diferenciação do produto pode se dar de inúmeras formas. A maneira mais simples de pensarmos em competição monopolística por localização é imaginarmos o caso em que os consumidores se distribuem de maneira homogênea ao longo do calçadão de Copacabana e escolhem onde comprar sua bebida preferida com base na distância necessária a ser percorrida. Um quiosque que deseje maximizar o bem-estar social irá escolher localizar-se na metade do calçadão, já que esse será o ponto de minimização da distância total percorrida por todos os consumidores. Da mesma maneira, se apenas dois quiosques detêm permissão de trabalho no calçadão, em equilíbrio, ambos os vendedores irão se estabelecer no meio do calçadão. 1 Imagine que cada vendedor esteja inicialmente nos pontos extremos. Se o vendedor que está no extremo esquerdo do calçadão se mover um pouco para a direita, ele ganha alguns consumidores de seu concorrente (torna-se a opção mais próxima para alguns clientes situados à sua direita) e não perde nenhum dos seus (continua sendo a opção mais próxima dos clientes à sua esquerda), aumentando sua fatia de mercado e seus lucros. 2 3 Pelo mesmo motivo, o quiosque da extrema direita do calçadão terá incentivos a se deslocar um pouco para a esquerda. O único ponto de equilíbrio, ou seja, aquele ponto do calçadão em que os quiosques não terão mais incentivos de deslocamento será o centro. Será nesse ponto que ambos se localizarão. 4 É importante percebermos que esse ponto não é o que maximiza o bem-estar social: para minimizar a distância total percorrida pelos consumidores, devemos colocar um vendedor em ¼ do comprimento do calçadão, e o outro em ¾. Destacamos ainda que o número de concorrentes altera o equilíbrio de localização desse mercado. No caso de três quiosques, por exemplo, não haverá equilíbrio de localização. O caso do calçadão exemplifica situações mais gerais em que, em equilíbrio, as firmas escolherão operar com pouca diferenciação entre os produtos. No entanto, não podemos concluir que esse é o comportamento padrão da firma em competição monopolística. Como já dissemos anteriormente, a análise da competição monopolística depende de inúmeras características do próprio mercado, como tecnologia, produto, arcabouço institucional, entre outras. MODELOS DE OLIGOPÓLIO: CONLUIO E EQUILÍBRIOS SIMULTÂNEOS DE COURNOT E BERTRAND Como vimos, o modelo básico de competição monopolística não considera interações estratégicas entre as firmas. Estudaremos agora os casos em que essas situações são relevantes. O contexto em que há mais de uma firma competindo em um mercado, mas não muitas, é denominado oligopólio. A característica mais relevante do oligopólio é que, apesar de várias firmas competirem, elas ainda detêm algum poder de mercado. Mais do que isso, a relação entre essas grandes firmas ocorrerá por interação estratégica, isto é, a estratégia de decisão de cada firma levará em consideração as ações das firmas rivais. Em um oligopólio, dado que as firmas interagem estrategicamente, como será o equilíbrio de mercado? Como as firmas percebem que suas ações podem resultar na diminuição do lucro das outras concorrentes, uma solução seria a formação de um cartel. Imagem: Shutterstock.com Aos formarem um conluio, as firmas oligopolistas iriam escolher as quantidades produzidas de modo a maximizar o lucro total de toda a indústria (lucro de todas as firmas somadas) — indústria referindo-se, aqui, a setor econômico, e não apenas a indústria no sentido tradicional — e, então, dividiriam o lucro entre si. Chamamos isso de alocação de conluio, em que as firmas se articulam para se comportarem como uma monopolista, maximizando a soma dos lucros totais do setor. Imaginemos o caso simples de um setor com apenas duas firmas oligopolistas formando um conluio. Assim, o objetivo das firmas será escolher o nível de produção que maximiza o lucro total. Sendo c1(q1) e c2(q2), respectivamente, as funções custos das firmas 1 e 2, então o problema de maximização pode ser escrito como: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Essa é uma situação igual ao nosso problema de monopólio já descrito anteriormente. Portanto, em equilíbrio, a receita marginal de produção de cada firma tem de ser igual ao seu custo marginal. As condições de primeira ordem para as quantidades ótimas de produção, , serão dadas por: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Portanto, na solução, temos que a receita marginal de produção de uma unidade adicional do bem tem de ser a mesma, não importando por qual firma seja produzido. Isso implica que os custos marginais de produção devem igualar-se em equilíbrio: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Devemos perceber que, se alguma das firmas tiver vantagem de custo, sua produção terá de ser maior em equilíbrio de conluio. Isso porque, em equilíbrio, os custos marginais das duas firmas devem ser iguais. max q1,q2 p(q1 + q2 )(q1 + q2 )− c1(q1)− c2(q2) q*1 e q * 2 p(q*1 + q * 2 )+(q * 1 + q * 2 )p '(q*1 + q * 2 )= c ' 1(q * 1 ) p(q*1 + q * 2 )+(q * 1 + q * 2 )p '(q*1 + q * 2 )= c ' 2(q * 2 ) c′1(q ∗ 1) = c ′ 2(q ∗ 2)No entanto, como mostraremos, a alocação de conluio é frágil: cada empresa terá incentivos para burlar a regra de produção definida pelo cartel. A grande questão do conluio é que ele não é estável: há incentivos econômicos para as firmas burlarem a solução de cartel. Sejam as quantidades produzidas em conluio pelas firmas 1 e 2. Assim, se a empresa 1 decidir aumentar um pouco sua produção, então seu ganho marginal de lucro será dado por: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Como pela CPO já sabemos que: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Então, podemos isolar na última equação e substituir na penúltima para concluir: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Pois : a curva de demanda tem inclinação negativa. Assim, concluímos que, para a firma 1, haverá incentivos para aumentar sua produção. Afinal, a derivada do lucro em relação à produção individual é estritamente positiva, ou seja, a firma pode aumentar seu lucro produzindo uma quantidade maior que a prevista no cartel. Em suma, caso a firma 2 mantenha sua produção, para a firma 1, um aumento de produção geraria aumento no lucro. Essa mesma conclusão valerá para a firma 2. Portanto, no conluio, sempre será lucrativo para uma empresa aumentar unilateralmente sua produção, caso a outra firma mantenha seu nível de produção fixo. Há fortes incentivos ao desvio. A estabilidade do (q*1 , q * 2 ) = p(q*1 + q * 2 )+q * 1 p '(q*1 + q * 2 )− c ' 1(q * 1) ∂π1(q*1 ,q * 2 ) ∂q1 p(q*1 + q * 2 )+(q * 1 + q * 2 )p '(q*1 + q * 2 )= c ' 1(q * 1 ) [p(q*1 + q * 2 ) + q * 1 p '(q*1 + q * 2 ) − c '(q*1 ) = − q*2 p '(q*1 + q * 2 )> 0 ∂π1(q*1 ,q * 2 ) ∂q1 p'(q*1 + q * 2 )< 0 conluio só se dará caso haja algum tipo de punição para as firmas que, porventura, decidam trair o acordo de cartel. Observe que temos aqui um problema de externalidade negativa. 1 Ao aumentar sua produção unilateralmente, a firma obtém todo o benefício (vende mais unidades a um preço positivo). Porém, tem apenas o custo de produção adicional, além de uma redução de preço causada pelo seu aumento de produção, o que não representa todo o custo decorrente de sua decisão. 2 3 Parte do custo recai sobre a outra empresa do cartel. Que é prejudicada por um preço mais baixo, decorrente do aumento da produção da rival. 4 A externalidade negativa entre as firmas faz com que, do ponto de vista delas, o resultado seja um excesso de produção. Se, em um conluio, as estratégias das firmas são cooperativas, em muitas situações, as interações estratégicas se darão de forma não cooperativa, isto é, as firmas não se juntarão para decidir o nível de produção; apenas escolherão a produção (ou preço) que maximize seu lucro individual, dadas as escolhas estratégicas das firmas concorrentes. Vamos agora analisar modelos em que as firmas oligopolistas tomam suas decisões de forma simultânea, isto é, tomam suas decisões sem saber as escolhas das firmas concorrentes. MODELO DE COURNOT No modelo de Cournot, as firmas escolhem a sua quantidade produzida de forma simultânea. Com base em sua previsão da produção das outras firmas, cada empresa escolherá seu nível de produção que maximize seu próprio lucro. Ou, de outra maneira, dizemos que: As firmas competem na quantidade produzida. No equilíbrio de Cournot, cada firma escolhe seu nível ótimo de produção, dadas suas crenças sobre as escolhas de produção das outras firmas e, mais do que isso, supondo que a crença de cada firma sobre o comportamento das demais seja correta. Comecemos com um caso simples em que há apenas duas firmas produzindo um bem homogêneo. Suponha que a firma 1 tenha uma função custo dada por c1(q1) para a quantidade produzida q1. Se tal firma acredita que sua concorrente produzirá q2e, e sendo a função demanda inversa de mercado p(q1+ q2e), então o problema de maximização de lucro da empresa 1 será: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal De maneira simétrica, e esperando que a firma 1 escolherá produzir q1e, então o problema de maximização de lucro da empresa 2 será: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Pela condição de primeira ordem para os problemas das firmas 1 e 2, teremos que: max q1 p(q1 + qe2 )q1 − c1(q1) max q2 p(qe1 + q2 )q2 − c2(q2) = p(q1 + qe2)+q1p '(q1 + qe2)− c ' 1(q1)= 0 ∂π1(q1,qe2) ∂q1 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Das condições de primeira ordem, fica claro que, para qualquer expectativa sobre a escolha de produção da firma concorrente, haverá uma escolha ótima de produção para cada empresa. Chamemos tal relação de função de reação, isto é, a função que nos fornece a produção maximizadora de lucro de determinada firma dada a expectativa sobre as escolhas da outra empresa. Denotando as funções de reação das firmas 1 e 2, respectivamente, por f1(q2e) e f2(q1e), então o equilíbrio de Cournot desse duopólio será a combinação de produção (q1*,q2*), em que cada firma confirma sua expectativa sobre a produção da outra firma, isto é, q1e = q1* e q2e = q2*. Portanto, no equilíbrio de Cournot, os níveis de produção (q1*,q2*) devem ser tais que: Q1* = F1(Q2*) Q2* = F2(Q1*) Em equilíbrio de Cournot, cada empresa escolhe o seu nível ótimo de produção com base em expectativas sobre a produção das firmas concorrentes, e tais expectativas são confirmadas (se não fossem confirmadas, não seria equilíbrio). Ao contrário do conluio, no equilíbrio de Cournot, as empresas não terão incentivos individuais em mudar seu nível de produção ótimo, ou seja, o equilíbrio de Cournot é estável. Devemos ressaltar ainda que o equilíbrio de Cournot será o par de níveis de produção em que as funções de reação se cruzam: essa é simplesmente a solução para o sistema de equações citadas anteriormente. Até o momento, e para simplificar o entendimento, trabalhamos com o duopólio de Cournot. No entanto, o caso mais geral pode nos trazer resultados interessantes. Suponha que temos um mercado com J firmas produzindo um bem homogêneo. Seja a produção de cada uma dessas firmas dada por q1,q2,...,qJ, tal que Q = q1 + q2 + ... + qJ. A função demanda inversa = p(qe1 + q2)+q2p '(qe1 + q2)− c ' 2(q2)= 0 ∂π2(qe1 ,q2) ∂q2 do mercado é representada por p(Q), e a função custo de cada firma i é ci(qi). O problema de otimização da firma oligopolista i será: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Assim, pela condição de primeira ordem, teremos que: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Essa equação determina o ponto em que a receita marginal se iguala ao custo marginal. Vamos colocar p(Q) em evidência e multiplicar o lado esquerdo por Q/Q. Além disso, vamos usar a notação . Obtemos então: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Definindo si = qi/Q como a participação da empresa i no mercado, e pela definição da elasticidade da demanda ( ), temos: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A última equação ilustra em que medida podemos interpretar o modelo de Cournot como algo intermediário entre os casos de monopólio e equilíbrio competitivo. Perceba que, se a participação da empresa no mercado for igual a 100% ( ), então temos exatamente o resultado de monopólio em que a curva de demanda com que a empresa se defronta é a max qi p(Q)qi − ci(qi) p(Q)+p'(Q)qi = c'i(qi) p'(Q)= dp dQ p(Q) (1 + )= c' i (qi) dp dQ Q p(Q) qi Q ε(Q)= dQ dp p(Q) Q p(Q) (1 − )= c' i (qi) si |ε (Q ) | si = 1 curva de demanda do mercado – temos, de fato, um monopolista. Já para a participação tendendo a zero, então o equilíbrio de Cournot aproxima-se de um equilíbrio competitivo com as empresas, defrontando-se com uma curva de demandaplana e o preço igualando-se ao custo marginal. Para visualizar esse último ponto, suponha por um instante que todas as firmas sejam iguais, ou seja, tenham a mesma função custo. Podemos obter um equilíbrio simétrico em que todas produzem a mesma quantidade e portanto, a participação de todas elas no mercado é igual: . A equação anterior se torna: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Se o número J de firmas tender ao infinito, o equilíbrio de Cournot tende ao equilíbrio de mercado competitivo. Um mercado oligopolista, onde as firmas competem em quantidades, é ineficiente no sentido de Pareto, pois as empresas não operam no ponto em que o preço se iguala ao custo marginal de produção. Apesar de a produção total no oligopólio ser maior que no monopólio, ainda será menor que no mercado competitivo. O peso morto desse mercado só desapareceria caso o número de firmas tendesse ao infinito (caso de concorrência perfeita). MODELO DE BERTRAND No modelo de Cournot, as empresas competem via quantidades produzidas. Já no modelo de Bertrand, a variável de escolha da firma é o preço, isto é, as firmas competem em preços. Vamos supor o caso mais simples: duas empresas que competem em preços pela venda de um bem homogêneo. Suponha ainda que as duas firmas têm custos marginais constantes e iguais. Observe, em primeiro lugar, que nenhuma empresa escolherá um preço menor que seu custo marginal, pois ela teria prejuízo, o que poderia ser reduzido ao fazer um preço maior ou igual a esse custo (na pior hipótese, ela teria lucro zero). si = Q J p(Q) (1 − )= c'i(qi) Q J×|ε (Q ) | 1 Se a empresa 1 escolher um preço maior que o custo marginal, A empresa 2 achará lucrativo anunciar um preço apenas um pouco menor, mas ainda maior que o custo marginal. 2 3 Dessa forma, obteria lucro econômico positivo ao roubar o mercado da firma 1 (que ficaria com lucro zero). No entanto, a empresa 1 pode pensar da mesma forma. 4 5 Sendo assim, o único equilíbrio será aquele em que o preço é igual ao custo marginal, isto é, o equilíbrio competitivo. Neste ponto, nenhuma das duas empresas teria incentivos em alterar o preço cobrado pelo bem, pois qualquer aumento de preço, por menor que fosse, levaria a empresa a perder todo o mercado para a concorrente. 6 Destacamos ainda que, no equilíbrio de Bertrand, os lucros das firmas serão nulos, já que cada unidade vendida do bem terá como preço seu próprio custo de produção. No modelo de Bertrand, as firmas se comportam como se fossem competitivas. Definindo um preço igual ao custo marginal de produção, não haverá ineficiência econômica nesse mercado. Os preços serão iguais ao custo marginal, e a demanda de mercado definirá a quantidade produzida. Se, no modelo de Cournot, a diferença entre o preço e o custo marginal declina com o aumento do número de firmas competidoras, no modelo de Bertrand, essa diferença é zero, mesmo para a competição de apenas duas empresas. Esse resultado não valeria se: 1 Os bens não fossem homogêneos. 2 As firmas que concorressem tivessem custos marginais distintos. 3 Uma única firma tivesse um limite de capacidade de produção que a impedisse de abastecer todo o mercado ao fazer um preço um pouco menor que o da rival. Observe o que ocorre se os bens forem diferenciados (ou seja, não homogêneos). Nesse caso, uma empresa não consegue roubar todo o mercado da concorrente ao cobrar um preço um pouco menor. Considere, por exemplo, que a demanda de cada firma é dada por: FIRMA 1 q1 = 10 – 2p1 + p2 FIRMA 2 q2 = 10 – 2p2 + p1 Observe que a demanda de cada firma é decrescente no seu preço e crescente no preço da rival – ou seja, os consumidores podem trocar de firma quando um produto fica caro. Os bens são substitutos imperfeitos. Vamos supor que a função custo seja a mesma para as duas firmas: para . A firma 1 escolhe seu preço para maximizar seu lucro, dado por: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Observe que temos uma função-objetivo semelhante à de Cournot, apenas trocando a variável de escolha, que passa a ser preço. Podemos resolver então de maneira análoga. A condição de primeira ordem é: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Resolvendo o mesmo problema para a firma 2, obtemos: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Podemos então resolver esse sistema de duas equações e duas variáveis, obtendo . DICA Como as firmas são simétricas (pelo lado da demanda e do custo), sabemos que os preços serão iguais. Portanto, podemos usar apenas uma condição de primeira ordem, e impor . Usando a condição de primeira ordem da firma 1, obtemos: c(qi)= qi i = 1,2 π1 = p1q1 − q1 = q1(p1 − 1)=( 10 – 2p1 + p2)(p1 − 1)= =( 10p1 – 2p12 + p2p1 − 10 + 2p1 − p2) 10 – 4p1 + p2 + 2 = 0 10 – 4p2 + p1 + 2 = 0 p1 = p2 = 4 p1 = p2 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Exatamente como encontramos antes. Também podemos usar esse atalho em Cournot, se as empresas forem simétricas. ATENÇÃO Só podemos fazer a substituição na condição de primeira ordem, e jamais na própria função objetivo! MODELOS DE OLIGOPÓLIO: LÍDERES E SEGUIDORES – STACKELBERG E LIDERANÇA DE PREÇOS Se, nos modelos apresentados anteriormente, as firmas escolhem as quantidades ou os preços de forma simultânea, há interessantes modelos de oligopólio em que as empresas escolhem quantidades ou preços, já sabendo das escolhas das firmas concorrentes. Ou seja, as interações estratégicas das firmas se dão de forma sequencial. Assim, haverá uma firma líder de quantidade (ou preço), que faz sua escolha produtiva antes das firmas concorrentes, e há as firmas seguidoras de quantidade (ou preço), que estabelecem sua quantidade ou preço posteriormente. Apresentaremos os modelos de liderança de quantidade (ou modelo de Stackelberg) e de liderança de preço, de forma separada, a seguir. LIDERANÇA DE QUANTIDADE (OU MODELO DE STACKELBERG) Neste tipo de modelo, a firma líder escolhe a quantidade que produzirá primeiro. Dada a sua escolha, as firmas seguidoras definirão sua produção. Como a firma líder tem primazia na decisão, ela incorpora a função de reação das firmas seguidoras em sua decisão de produção. 10 – 4p1 + p1 + 2 = 0⟹ 3p1 = 12⟹ p1 = 4 p1 = p2 Para simplificar, vamos supor o caso em que há apenas duas empresas no mercado, sendo que a empresa 1 é a líder e 2, a seguidora. Sendo q1 e q2 as quantidades produzidas para atender a uma demanda do tipo p(Q), tal que Q = q1 + q2, e dado que as firmas têm uma função custo de produção, respectivamente, c1(q1) e c2(q2), então o problema da seguidora será o seguinte: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Da condição de primeira ordem, temos que a receita marginal tem de ser igual ao custo marginal no ponto ótimo de produção: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Pela condição de otimização anterior, fica claro que a quantidade que maximiza o lucro da seguidora dependerá da escolha feita pela líder, ou seja, Para cada escolha da líder, haverá uma diferente quantidade de produção que maximizará o lucro da seguidora. Na nossa notação, é um parâmetro dado no problema da seguidora, exatamente porque é uma quantidade definida no período anterior. Dizemos que a firma líder tem capacidade de comprometimento: como a decisão de produção já foi tomada no período anterior, a líder não pode mais ajustá-la. Definindo essa função de reação da seguidora como f2(q1), a firma líder incorporará tal função de reação em seu problema de otimização. Como a líder escolhe a quantidade produzida primeiro, e como ela sabe que suas decisões afetam o comportamento da seguidora, então seu problema de maximização de lucro deve levar em consideração o comportamento da seguidora: max q2 p(q1 +q2)q2 − c2(q2) p(q1 + q2)+p'(q1 + q2)q2 = c′2(q2) q1 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Sujeito a: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Podemos reescrever o problema da firma líder como: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Assim, ao escolher seu nível de produção, a líder reconhece e incorpora sua capacidade de influência sobre a firma seguidora. Pela condição de primeira ordem, teremos: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal No modelo de Stackelberg, as firmas sempre preferirão serem líderes a seguidoras, pois isto lhes garantirá maiores lucros. Além disso, quando comparamos o equilíbrio de Stackelberg com o de Cournot, podemos concluir que a firma líder terá lucro maior ou igual como líder. Observe que resolvemos, primeiro, o problema da firma seguidora e, depois, usamos essa informação para resolver o problema da líder. Fizemos isso exatamente porque a seguidora toma a decisão da líder como dada, e a líder antecipa a decisão da seguidora e utiliza essa informação ao maximizar seu lucro – ou seja, a líder sabe que sua decisão afeta a escolha da seguidora. Chamamos esse processo de indução retroativa. max q1 p(q1 + q2)q1 − c1(q1) q2 = f2(q1) max q1 p(q1 + f2(q1))q1 − c1(q1) p(q1 + f2(q1))+p'(q1 + f2(q1))(1 + f2 '(q1))q1 = c'1(q1) LIDERANÇA DE PREÇO No modelo de liderança de preço, a firma líder escolhe seu preço, que a seguidora toma como dado. No entanto, para a firma líder tomar a melhor decisão sobre a escolha de seu preço, ela incorporará a decisão (posterior) da seguidora em seu problema de otimização. Assim como no modelo de Stackelberg, primeiro vamos derivar o comportamento da seguidora, e então analisaremos a decisão da firma líder. Supondo o caso mais simples de duas firmas vendendo um produto homogêneo, é fácil perceber que, em equilíbrio, o preço praticado pela seguidora tem de ser igual ao da firma líder. Caso contrário, uma das firmas capturaria todo o mercado. Assim, a firma seguidora tomará o preço como dado e escolherá a quantidade a ofertar que maximize seu lucro. Nessa quantidade, em equilíbrio, o preço será igual ao custo marginal de produção (como a seguidora toma o preço como dado, a solução de seu problema de otimização é como se fosse do modelo competitivo). Do problema de maximização da seguidora, obtemos sua curva de oferta. A líder se defrontará com uma curva de demanda residual: A demanda total do mercado A oferta da empresa seguidora Curva de demanda residual Assim, para maximizar o lucro, a líder se comportará como um monopolista escolhendo a combinação de preço e produção que igualam a receita marginal ao custo marginal; para a quantidade ótima de produção, o preço será determinado pela curva de demanda residual. Vamos formalizar isso. A líder escolhe um preço sabendo que a seguidora escolherá , e, portanto, as duas firmas dividirão igualmente o mercado. Se é a demanda total ao preço p, então o problema da líder é: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Observe que isso é análogo ao problema do monopolista – a única diferença é que, em vez de considerarmos a demanda total , usamos apenas metade dela, ou seja, a demanda residual que cabe à firma líder. PRODUÇÃO E PREÇO EM COURNOT E STACKELBERG COM DEMANDA E CUSTOS LINEARES Neste vídeo, o especialista irá resolver um exercício para exemplificar o que foi ensinado neste módulo. p1 p2 = p1 Q(p) max p1 p1 − c1( ) Q (p1 ) 2 Q (p1 ) 2 Q(p1) VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SOBRE O MODELO DE COURNOT, ASSINALE ABAIXO A ÚNICA ALTERNATIVA VERDADEIRA: A) Em um modelo de Cournot, as firmas tomam suas decisões sobre os preços de maneira sequencial. B) Em equilíbrio de Cournot, quanto menor o número de firmas, menor será a diferença entre o preço e o custo marginal. C) Um mercado oligopolista, onde as firmas competem via quantidade, é Pareto eficiente. D) Quando o número de firmas tende ao infinito, o preço de equilíbrio de Cournot tende ao custo marginal de produção. E) Em um modelo de Cournot, as firmas tomam suas decisões sobre as quantidades produzidas de maneira sequencial. 2. CONSIDERE DUAS FIRMAS COM FUNÇÃO CUSTO . SUPONHA QUE A DEMANDA INVERSA SEJA DADA POR: ATENÇÃO! PARA VISUALIZAÇÃO COMPLETA DA EQUAÇÃO UTILIZE A ROLAGEM HORIZONTAL EM QUE Q1 E Q2 SÃO AS QUANTIDADES PRODUZIDAS PELAS FIRMAS 1 E 2, RESPECTIVAMENTE. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA. c(q)= 2q p(q1 + q2) = 10 − q1 − q2 A) Se as firmas competem em quantidade, as firmas líder e seguidora cobram preços diferentes em equilíbrio. B) O preço de Cournot (14/3) é maior que o preço de Stackelberg. C) Se as firmas operassem em cartel, a produção total seria igual a 6, mas as firmas teriam incentivo unilateral a desviar dessa produção. D) A quantidade total em Stackelberg é maior que em Cournot. E) Em Stackelberg, a líder produz o dobro da quantidade da seguidora. GABARITO 1. Sobre o modelo de Cournot, assinale abaixo a única alternativa verdadeira: A alternativa "D " está correta. O resultado de equilíbrio da competição perfeita pode ser interpretado como um caso limite do modelo de Cournot, quando o número de firmas operando no mercado tende ao infinito. Assim, nesse extremo, o preço tenderá a ser igual ao custo marginal. 2. Considere duas firmas com função custo . Suponha que a demanda inversa seja dada por: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Em que q1 e q2 são as quantidades produzidas pelas firmas 1 e 2, respectivamente. Assinale a alternativa correta. A alternativa "E " está correta. Vamos resolver o problema por indução retroativa. O problema da firma seguidora é: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Podemos reescrever: c(q)= 2q p(q1 + q2) = 10 − q1 − q2 max q2 (10 − q1 − q2)q2 − 2q2 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A condição de primeira ordem é: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A função de reação da firma 2 é, portanto: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal O problema da firma líder é: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Como a líder sabe que a seguidora escolherá de acordo com sua função de reação, podemos reescrever: max q2 (10 − q1 − q2 − 2)q2 max q2 (8 − q1 − q2)q2 max q2 8q2 − q1q2 − q22 8 − q1 − 2q2 = 0 q2 = 8−q1 2 max q1 (10 − q1 − q2)q1 − 2q1 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Reorganizando: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A condição de primeira ordem é: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Usando a função de reação da seguidora, obtemos: max q1 (10 − q1 −( ))q1 − 2q1 8−q1 2 max q1 (8 − q1 −( ))q1 8−q1 2 max q1 (8 − q1 − 4 + )q1 q1 2 max q1 (4 − )q1 q1 2 max q1 (4q1 − ) q1 2 2 4 − q1 = 0⟹ q1 = 4 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Logo, a líder produz o dobro da quantidade da seguidora. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Apresentamos, neste tema, um panorama sobre os principais modelos de competição imperfeita. Apesar de o modelo de competição perfeita ser extremamente útil por motivos analíticos, na realidade, diversos agentes econômicos possuem algum poder de mercado, e é relevante entender as implicações disso. Os modelos de monopólio e oligopólio que estudamos nos permitem compreender melhor o funcionamento dos mercados e suas consequências. Ao longo do tema, mostramos que a presença de poder de mercado pelas firmas traz inúmeras consequências para as escolhas ótimas das empresas, alterando, portanto, o nível de bem-estar social.AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS q2 = = = 2 8−q1 2 8−4 2 MANKIW, N. G. Introdução à economia. 8. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2019. VARIAN, H. R. Microeconomia: uma abordagem moderna. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. EXPLORE+ Para uma abordagem aprofundada da microeconomia moderna, leia Advanced Microeconomic Theory, de Geoffrey A. Jehle e Philip John Reny. O livro A Course in Microeconomic Theory, de David M. Kreps, é um texto sobre microeconomia que pode ser entendido por iniciantes, ao mesmo tempo que é de interesse para estudantes mais avançados. Microeconomic Theory, de Andreu MAS-COLELL et al., faz uma análise aprofundada dos fundamentos da microeconomia. Microeconomia, de Robert S. Pindyck, Daniel L. Rubinfeld e Esther Rabasco, traz muitos exemplos para explicar a temática. O livro Salvando o capitalismo dos capitalistas, de Rajan e Zingales, explica como é importante preservar a concorrência contra a ação das próprias firmas, que buscam obter poder de mercado para aumentarem seus lucros. CONTEUDISTA Pedro Américo de Almeida Ferreira CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);