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Apostila_Técnicas_Procedimentos_Operacionais

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Técnicas e Procedimentos Operacionais 
 
 
Índice 
 
Apresentação 02 
 
Contextualização 02 
 
Relevância 03 
 
Bibliografia 04 
 
Avaliação 05 
 
Aula 1 – Vigilância 06 
 
Aula 2 – Controle e Mediação de Manifestações Coletivas 11 
 
Aula 3 - Mediação e Resolução de Conflitos 20 
 
Aula 4 - Patrulhamento e Presença no Território 28 
 
Aula 5 - Preservação do Local de Ocorrência 35 
 
Aula 6 - Análise Criminal e Planejamento Operacional 43 
 
Trabalho final 50 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Apresentação: 
 
O estudo dessa disciplina pretende identificar algumas técnicas e procedimentos 
operacionais de vigilância, controle e mediação de manifestações coletivas, mediação e 
resolução de conflitos, patrulhamento e presença no território, preservação do local de 
ocorrência e análise criminal. 
 
Inicialmente, vivendo em um Estado Democrático de Direito, devemos ter ciência que 
toda e qualquer política de segurança a ser criada deve estar em sintonia com os ditames 
inerentes a este modelo constitucional, o qual define uma intervenção regrada e limitada 
pela lei. 
 
Esta lei, quando respaldada pelo modelo supracitado, ao definir os crimes e as regras 
processuais, legitimará o poder público na prevenção e intervenção punitiva tendo por 
fim a proteção dos bens jurídicos tidos como relevantes pela sociedade. 
 
 
 
 
Contextualização: 
 
O Estado Democrático de Direito idealizado e desejado pelo constituinte originário 
caminha a passos firmes rumo a sua solidificação no Brasil e a Constituição Republicana 
de 1988 é defendida por todos. Nesse contexto, o Estado deixou de ser um fim em si 
mesmo e, gradativamente, focou seus esforços na satisfação dos legítimos interesses da 
sociedade. 
O cidadão passou a ter consciência de seu papel e importância no contexto social, isto é, 
podemos dizer que abandou as praxes passivas e, em postura ativa, exige, a todo 
instante, a concretização e preservação de seus direitos e garantias, sejam individuais, 
coletivos ou difusos. 
Neste cenário, imposições arbitrárias, apoiadas exclusivamente na vontade da 
autoridade, não são mais aceitas como outrora. 
Toda e qualquer restrição a direitos deve encontrar fundamento na legalidade, 
proporcionalidade, necessidade e adequação; caso contrário, será combatida pelos seus 
destinatários. 
 
Nesse contexto é de extrema importância o conhecimento de algumas técnicas e 
procedimentos operacionais da atividade de polícia de manutenção da ordem pública. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Relevância: 
Ainda é preciso fazer muito para que o cidadão tenha serviços públicos condizentes com 
a sua dignidade, porém, são explícitas as melhoras já alcançadas. 
Nesse contexto, é importante salientar a exigência de concurso público para a investidura 
em cargo ou emprego público, as diversas formas de controle da administração e a 
transparência vivenciada atualmente e os diversos órgãos públicos e civis que aos poucos 
se inteiram da destinação das ações e verbas públicas. 
No entanto, em todo esse desenvolvimento experimentado, o certo é que a vida em 
sociedade ainda clama pela presença do Estado. A sociedade para manter sua 
sobrevivência impõe normas de conduta a serem seguidas. Ao ser humano não é 
permitida a livre e incondicionada satisfação dos seus interesses. 
Se fosse assim, retornaríamos à barbárie, a um estado de natureza, situação em que só 
os mais fortes encontrariam voz. E mais, por vezes, a harmonia social é quebrada por 
conflitos de interesses. 
Diante disso, dependendo da natureza do bem jurídico, o Estado deixa à vontade a sua 
solução ou intervém de modo brando. Mas, quando os valores de maior relevo para a 
sociedade são violados, o Estado age de forma mais enérgica, impondo punições mais 
graves, inclusive privando a liberdade de seus transgressores. 
A atividade policial, com nítida natureza de ato administrativo, encontra limites que 
buscam tutelar (proteger) a dignidade humana, bem como a legitimidade da atuação 
estatal. 
O profissional de Segurança Pública deverá agir dentro das balizas definidas em lei, 
alinhado com o propósito firme de ser um agente defensor da dignidade da pessoa 
humana. O bom policial é justamente aquele que defende a sociedade por meio da 
proteção de seus indivíduos, e isso implica, obrigatoriamente, enxergar o cidadão, 
mesmo que infrator, como detentor de direitos e garantias fundamentais, inerentes à sua 
condição humana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Bibliografia: 
 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
 
AGUIAR, Christiano Ferreira. Manual de Atendimento a Ocorrência. Volume 6, 
Instituto de Segurança Pública, Rio de Janeiro, 2008. 
 
BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasil, DF. 
Senado, 1988. 
 
GOLDENZWEIG, Roman Eduardo. Interação Polícia e Sociedade. Série Formação 
Policial, Volume 8, Instituto de Segurança Pública, Rio de Janeiro, 2008. 
 
POLICIA MILITAR DO ESTADO RIO DE JANEIRO, Nota de Instrução NI 005, 27 Mar 
1992; 
 
POLICIA MILITAR DO ESTADO RIO DE JANEIRO, Nota de Instrução - NI 1/84; NI 9/84; 
RIO DE JANEIRO. Cadernos de Polícia. Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. 1998; 
 
ROSETTE, Aleana Carrijo. Manual de Preservação do Local de Crime. Volume 11, 
Instituto de Segurança Pública, Rio de Janeiro, 2008. 
 
OLIVEIRA, Alexandre Fontenele Ribeiro de. Manual de Gerenciamento de Crises. 
Volume 8, Instituto de Segurança Pública, Rio de Janeiro, 2008. 
 
_______. Manual de Negociação de Conflitos. Volume 9, Instituto de Segurança 
Pública, Rio de Janeiro, 2008. 
 
OLIVEIRA, João Batista Porto & COSTA, Renato Lira da & GOMES, Adriana Silva. Gestão 
de Novas Tecnologias da Informação. Série Formação Policial, Volume 5, Instituto 
de Segurança Pública, Rio de Janeiro, 2008. 
 
SÃO PAULO. Manual do Curso de Controle de Distúrbios Civis. Gráfica da PMESP. 
2000. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Avaliação 
 
Em todas as disciplinas da pós-graduação online existem: 
 
Avaliação formativa 
Não vale ponto, mas é importante para o aprofundamento e fixação do conteúdo: 
 
 Atividades de fixação: são atividades de passagem, presentes 
dentro das aulas; são testes contextualizados ao conteúdo 
explorado. 
 Exercícios de autocorreção: questões para verificação da 
aprendizagem; são essenciais, pois marcam a sua presença em 
cada aula; 
 
Avaliação somativa 
Forma a sua nota final nesta disciplina: 
 Temas para discussão em fórum: aprofundam e atualizam os temas 
estudados em aula, além de ser um espaço para tirar suas dúvidas. Sua 
participação vale ponto; 
 
 Prova em data especificada no calendário acadêmico do curso, que será 
realizada no seu Polo; 
 
 Trabalho final da disciplina: Fundamentado nas discussões das aulas 
online, escolha um dos temas propostos abaixo, escreva uma resenha de 
no máximo uma lauda em arquivo do Word e envie para seu professor 
online: 
Tema 1: Análise Criminal e Planejamento Operacional 
Tema 2: Preservação de local de Crime 
Tema 3: Gerenciamento de Crises 
Tema 4: Vigilância 
 
 
Orientações sobre a realização do trabalho podem ser obtidas com o professor online no 
Fórum de Discussão , no tópico Orientações do Trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 1: Vigilância 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1) Reconhecer o conceito de vigilância de bairro e comunitária; 
2) Reconhecer a aplicação da teoria das oportunidades na implementação da política 
pública de segurança; 
3) Descrever as habilidades necessárias às técnicas de observação. 
 
Estudo dirigido da aula: 
1. Leia o texto condutor da aula; 
2. Participe do fórum de discussão desta aula; 
3. Realize a atividade proposta; 
4.Leia a síntese da sua aula; 
5. Leia a chamada para a aula seguinte; 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
 
Olá! Seja bem-vindo à primeira aula da disciplina Técnicas e Procedimentos 
Operacionais. 
 
Nesta aula, você analisará a expressão vigilância, em que ela afeta o policiamento 
comunitário e de bairro e de que forma a associação com a sociedade local, em torno de 
objetivo comum e interesse coletivo, pode e deve alicerçar as ações envolvidas na 
atividade de polícia administrativa de preservação da ordem pública. 
 
Você estudará ainda suas formas de execução e analisará de forma clara e objetiva as 
exigências que o Estado Democrático de Direito impõe aos profissionais de segurança 
pública, no sentido da proteção da dignidade da pessoa humana. 
 
Bom estudo! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O sistema de justiça criminal lida com o crime após ele ter sido cometido. Entretanto, é preciso 
que seja instituído um enfoque pré-ocorrência do fato, se quisermos, de forma adequada, 
evitá-lo e, de forma eficaz, anteciparmo-nos ao sistema de justiça criminal. 
 
Para que isso ocorra, é imprescindível o envolvimento da sociedade, o qual depende do 
estabelecimento de uma relação de mútua confiança, que não se constrói tão rápido. 
 
Estudos mostram que o envolvimento ativo dos cidadãos na prevenção do crime tem tido o 
efeito de melhorar a atuação da polícia no serviço prestado à comunidade; o que, por sua vez, 
tem incrementado, em um círculo virtuoso, o espírito de cooperação entre os cidadãos e a 
polícia. 
 
Leia o texto Teoria das Oportunidades, disponível na Biblioteca da Disciplina, link Material de 
Aula. 
 
A maioria dos crimes residenciais ocorre porque existiram oportunidades para sua perpetração. 
 
Podemos classificá-las em duas categorias: 
 
1- A oportunidade criada pela vítima por displicência e falta de atenção à segurança, e 
ausência de cooperação com seus vizinhos e colegas de trabalho; 
 
2- A oportunidade criada pelo criminoso, através de sua habilidade, falta de escrúpulos e 
ousadia. 
 
Essa última categoria supõe a existência do que denominamos criminoso profissional. A polícia 
acredita que uma pequena minoria dos crimes é resultante de atividade criminosa profissional. 
O grosso do crime envolve amadores, habilidosos ou não, que se beneficiam de oportunidades 
criadas pelas próprias vítimas. 
 
Os próprios cidadãos convidam os criminosos todos os dias abertamente, ao deixarem ― em 
contextos socioculturais como o nosso, em que a solidariedade, a cooperação e o respeito 
mútuo nem sempre dão a tônica dos relacionamentos e dos atos individuais e coletivos ― as 
portas sem trancar, as chaves do carro na ignição ou ao anunciar sua ausência de casa 
mantendo as luzes desligadas, permitindo que jornais se empilhem. 
 
A vigilância de bairro fornece os meios para a redução das oportunidades de ocorrência de 
crimes, através da participação ativa da população em sua prevenção. Os cidadãos aprendem 
a tornar suas residências menos convidativas a ladrões, tornando seus pertences pessoais 
menos desejáveis, e descobrindo de que maneira devem estar alertas ante qualquer atividade 
suspeita em seus bairros. 
 
Pouquíssimas pessoas podem proteger totalmente seus lares e propriedades o tempo todo. 
Férias, viagens de negócios, saídas para compras ou até mesmo uma noite fora deixará as 
residências sós e vulneráveis a roubos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A Vigilância de Bairro é um programa de assistência mútua entre vizinhos, visando reduzir o 
crime na comunidade, em que se encoraja um forte sentimento comunitário e a união da 
vizinhança em torno dos objetivos ― paz e segurança. O programa fortalece laços de amizade 
e torna o lugar mais interessante para a convivência cotidiana. 
 
 
Esse objetivo será alcançado através da implementação de um programa que: 
 
 Oferecerá uma maneira de utilizar os talentos e as energias dos cidadãos 
interessados em reduzir a atividade criminosa, usando seus olhos e seus ouvidos para 
apoiar a polícia; 
 Servirá como uma agência de comunicação e coordenação entre o público e o 
governo local, relativamente aos problemas com a criminalidade e a programas 
preventivos; 
 Proverá consultoria e assessoria ao governo local para dotá-lo de uma base mais 
ampla de informações e ideias na área de polícia e de administração de justiça 
criminal. 
 
 
Algumas habilidades que deverão ser desenvolvidas incluem: 
 
 Observar qualquer coisa que pareça fora da normalidade; 
 Evitar pressa, preconceitos, distrações, descuidos; 
 Lembrar-se da observação, associá-la a crimes definidos ou crimes em potencial, 
classificá-los referindo-os às leis que estejam transgredindo. 
 
 
Outras recomendações são pertinentes: 
 
 Observe de forma sã e atenta; 
 Desconfie e verifique, sempre, se está havendo algum problema; 
 Não suponha que outra pessoa já tenha reportado o crime que você está observando; 
 A memória é uma parte essencial da observação. Os fatos são mais bem lembrados se 
associados a alguma outra coisa passada que conheçamos ou lembremos; 
 Tenha sempre em mente a descrição física (sexo, idade, altura, peso, tipo de corpo ― 
baixo, forte, magro, cabelos, olhos ―, tatuagens, piercing e peculiaridades); 
 A descrição da roupa (sapatos, meias, calça, casaco, saia, acessórios, joias ou 
bijuterias, aspecto geral, roupa estranha e imprópria para o clima etc.); 
 A descrição de armas e ferramentas (martelo, chave de fenda, lanterna, furadeira e 
outras ferramentas, além de rifle, pistola, faca, revólver e outras armas); 
 A descrição do veículo (número da placa, marca, modelo, tipo, cor, sinais de 
identificação, avarias, adesivos, películas etc.). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aqui, vale a pena consultar a Constituição Federal: 
 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 
TÍTULO V - CAPÍTULO III - DA SEGURANÇA PÚBLICA 
 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida 
para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através 
dos seguintes órgãos: 
 
I - polícia federal; 
II - polícia rodoviária federal; 
III - polícia ferroviária federal; 
IV - polícias civis; 
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. 
 
Urge que tenhamos consciência de que a segurança pública é dever do Estado, mas direito e 
responsabilidade de todos, conforme literalmente expressa o texto constitucional. 
 
Esse programa de vigilância de bairro é um excelente exemplo de como a sociedade civil 
organizada pode e deve cooperar com a atividade de polícia ostensiva e judiciária, 
desenvolvendo habilidades que, sem sombra de dúvidas, auxiliarão os órgãos encarregados de 
aplicar a lei e tornarão o seu bairro mais humanizado e menos egoísta, valorizando 
sentimentos mais nobres e menos mesquinhos. 
 
Além das habilidades desenvolvidas no programa, existem várias novidades tecnológicas que 
nos auxiliam na vigilância, tais como: disque-denúncia, câmeras de vídeo conectadas à 
internet, sensores de presença com raios infravermelhos, alarmes à distância, alarmes 
sonoros, rondas particulares, empresas especializadas em segurança patrimonial com 
novidades eletrônicas a cada dia. Entretanto, nenhuma delas substitui a relação humana entre 
vizinhos com objetivos comuns. 
 
 
 
 
Acesse o Fórum de Discussão e debata sobre as formas de aproximar a polícia da 
comunidade, canais de diálogo, conselhos de segurança ou formas que você conhece na 
sua cidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Nesta aula, você: 
Compreendeu a concepção básica do que vem a ser vigilância de bairro, sua importância 
para a atividade de polícia administrativa e judiciária, reconheceu as formas de execução 
da vigilância e analisou a teoria das oportunidades na implementaçãode políticas 
públicas de segurança. 
 
 
 
Após ter estudado as questões relacionadas à atividade de vigilância, na próxima aula 
você estudará o controle e mediação de manifestações coletivas, sempre alicerçados nos 
direitos e garantias individuais e na dignidade da pessoa humana em sintonia com o 
Estado Democrático de Direito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 2: Controle e Mediação de Manifestações Coletivas 
 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1) Reconhecer o conceito de psicologia das massas, turba, multidão, distúrbios civis; 
2) Reconhecer um bom posicionamento das forças de segurança em uma operação 
de controle de distúrbios civis na implementação da política pública de segurança 
com cidadania; 
3) Descrever as habilidades necessárias às técnicas de controle de distúrbios civis. 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula; 
2. Participe do fórum de discussão desta aula; 
3. Realize a atividade proposta; 
4. Leia a síntese da sua aula; 
5. Leia a chamada para a aula seguinte; 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
 
 
Olá! Seja bem-vindo à aula Controle e Mediação de Manifestações Coletivas. 
 
Nesta aula, você estudará o controle e a mediação de manifestações coletivas, entenderá 
um pouco da psicologia das massas e terá ainda a oportunidade de 
desenvolver um olhar crítico sobre as exigências a que são submetidas às autoridades 
encarregadas da manutenção da ordem, no momento crítico de distúrbio, sabendo-se 
que elas devem alicerçar suas ações nas determinações que emanam do Estado 
Democrático de Direito, as quais garantem a proteção da dignidade da pessoa – mesmo 
quando o cidadão se opõe ao poder de polícia. 
 
Boa aula! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Psicologia das Massas 
 
 
 
 
 
 
 
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Na Europa, o interesse pelo estudo das massas nasceu no contexto marcado pelas 
transformações políticas e tecnológicas decorrentes da Revolução Francesa e da Revolução 
Industrial. Como desdobramento desses processos históricos, surgiram as aglomerações 
urbanas, as fábricas, os movimentos operários e um novo tipo de comportamento: o coletivo, 
mobilizando multidões. 
 
A escola de criminologia italiana considera Scipio Sighele o precursor da Psicologia das Massas. 
Construindo suas teorias a partir de reflexões sobre os conflitos decorrentes da Revolução 
Francesa, Sighele abordou o fenômeno das multidões como produtor de um estado psicológico 
coletivo, o qual despersonalizaria cada um de seus integrantes. 
 
A escola de criminologia italiana, ao estudar as reações das pessoas quando faziam parte das 
massas, e afirmar que elas se tornavam coletivamente violentas, atacando, matando ou 
saqueando, qualificou o termo massa de forma pejorativa, sempre o ligando à patologia. 
 
Para Sighele, a multidão resultava da aglomeração de pessoas, de onde emergia o contágio 
coletivo da cólera, transformador dos sentimentos: da irritação ao estado de furor, com a 
emoção da cólera irradiando-se para todos, através do contato face a face. 
 
A multidão, sensível à emoção transmitida por seus líderes através da gesticulação, da palavra 
ou das atitudes, transformava-se em um ser coletivo passional. Todavia, Sighele não situou a 
passionalidade como um estado de loucura inerente à multidão ou ao seu condutor. 
 
Gustave Le Bom enfocou o tema das massas numa perspectiva psicossociológica, analisando-o 
a partir do comportamento das pessoas em determinadas circunstâncias. Podemos 
acrescentar que, na produção de Le Bon, o conceito central era a “alma da massa”, 
significativo da despersonalização das pessoas que a constituíam. 
 
Para Le Bom, a “alma da massa” era o espírito coletivo, onde as mentes pessoais davam lugar 
à mente coletiva, retirando de cada um a individualidade. Em decorrência, as pessoas 
transformavam-se em sujeitos sem vontade própria, reduzidos a portadores das mesmas 
intenções e emoções de seu condutor. 
 
No processo, os seres humanos perdiam o controle sobre os instintos mais primários e 
passavam a reagir irracionalmente, emotivamente, de modo extremo, irresponsável e irritável. 
De acordo com Le Bon, devido a tais características, as massas tinham natureza feminina. Não 
é demais acrescentarmos (sem, obviamente, endossar esse ponto de vista preconceituoso) 
que Darwin defendeu a superioridade racional e intelectual masculina, qualificando a mulher 
como ser portador de mais emocionalidade e irracionalidade, e menor inteligência. 
 
Existe uma loucura que raciocina, e, na loucura das multidões, existe um louco que as conduz 
e cuja lucidez, convicção e semelhança com os delírios dos demais indivíduos envolvidos, 
fazem com que as pessoas normais a ele (ou a ela) se associem. A loucura seria, portanto, 
dessa perspectiva tradicional e limitada (mas nem por isso menos influente), um estado 
 
 
 
 
 
 
 
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psicológico característico da multidão e esta, mais do que uma reunião de pessoas, seria uma 
associação psicológica. 
 
Outra especificidade da multidão, identificada por essa corrente intelectual, seria sua 
individualidade, decorrente da coletividade: esta, enquanto estado mental compartilhado, 
diferiria da constituição mental de cada pessoa em separado. Esse fenômeno permitiria que, 
no coletivo, além da dissolução da singularidade pessoal, desaparecessem também as 
desigualdades, as diferenças, e se formasse uma unidade psicológica, caracterizada pela 
impulsividade primitiva e pela inconstância. 
 
O conceito de multidão, no âmbito dessa tradição teórica seria: estado passional de exaltação 
coletiva, cuja especificidade faria submergir o controle cerebral, a personalidade e o 
discernimento. Tal estado, deflagrado pelo contágio mental e pela excitação de um dado 
momento, requereria uma causa próxima para eclodir: o meneur, chefe, diretor da multidão. 
 
Também ressaltavam os autores dessa linhagem teórica que na multidão existiam os mais 
exaltados e sensíveis às sugestões, os quais, inconscientemente, ajudariam a conduzi-la. O 
estado seria transmissível com facilidade às pessoas predispostas, pois estas não seriam 
capazes, enquanto membros da multidão, de avaliar as consequências dos seus atos. 
 
Na dinâmica das multidões, a violência poderia produzir um estado delirante transitório e, 
como consequência, as emoções violentas modificar-se-iam, dando lugar a estados mórbidos. 
O crescimento das aglomerações, a intensidade das emoções e a repercussão da sugestão dos 
sentimentos propiciariam a transformação da cólera dos meneurs em um estado patológico. Na 
dinâmica, os líderes transmitiriam à multidão, por contágio, a loucura e seus sentimentos 
derivados. 
 
É claro que há muitas outras teorias, diferentes concepções e distintos pontos de vista sobre o 
comportamento social coletivo, passando por Freud, Gabriel Tarde e chegando aos psicólogos 
sociais, sociólogos e antropólogos contemporâneos. A visão tradicional aqui exposta foi 
superada e seus preconceitos foram severamente criticados. 
 
No entanto, talvez ainda seja esta a percepção dominante nos órgãos policiais e nas 
instituições da Justiça criminal, sobretudo nas esferas responsáveis pela abordagem das 
multidões, nas ruas, em suas múltiplas manifestações nos espaços urbanos e rurais brasileiros. 
Por isso, é interessante trazê-la à baila quando se trata de problematizar as práticas policiais, 
nessas abordagens. 
 
Se a concepção que estigmatiza as “massas” ou multidões como irracionais ou expressões da 
loucura se aplicasse ainda hoje e orientasse a formulação das leis, as manifestações coletivas, 
certamente, seriam banidas como ameaças não só à ordem pública, mas à razão, ao 
discernimento, à civilidade e até mesmo à civilização. Felizmente, não é o caso. Nossa 
Constituição não se filia a essa linhagem intelectual reducionista e, por isso, não veta o 
protagonismodas multidões. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A liberdade de manifestação do pensamento, de expressão, de locomoção e de reunião está 
acolhida no art. 5º, da Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), in verbis: 
 
“Art. 5º [...] 
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; 
[...] 
 
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de 
comunicação, independentemente de censura ou licença; 
[...] 
 
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer 
pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; 
 
XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao 
público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião 
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido o prévio aviso 
à autoridade competente.” 
 
 
Frustrar o direito de reunião pode significar a restrição de outras liberdades, a lesão do poder 
emanado do povo e, por fim, ofensa à democracia. 
 
A respeito da relação entre o direito de reunião e a democracia, França (2007, p.295) expõe: 
 
A liberdade de reunião constitui um dos mais importantes instrumentos para a 
construção e consolidação da democracia. Sem o respeito e a efetividade desse 
direito fundamental, o alcance da liberdade de expressão restringe-se ao convívio 
privado. Numa democracia, todo o cidadão deve ter a oportunidade de canalizar em 
grupo a sua voz, de clamar pela empatia dos outros setores da sociedade e pela 
ação (ou omissão) dos governantes. 
 
Depreende-se que o assunto não é novo e que existem estudos a respeito. Nas fontes 
nacionais, alguns textos que se tornaram referência foram produzidos por militares, das Forças 
Armadas ou das Polícias Militares. A expressão técnica “distúrbio” designa, indistintamente, 
multidão descontrolada, tumulto, manifestação violenta, turba. Distúrbio não foi encontrado 
nos textos nacionais com o sentido de “turba que foge”, ou “turba em pânico” (“panic mob”), 
multidão que foge de um perigo, imaginário ou real (incêndio ou desabamento, por exemplo). 
Por essa razão, esse significado não será considerado. 
 
Conde et. al. (2003) apresentam um conceito de “distúrbio civil”, retirado do Manual de 
Campanha do Exército Brasileiro C 19-15, Distúrbios Civis e Calamidades Públicas, edição de 
1973: “Manifestação de atos de violência dentro do país, resultantes de uma situação de 
inquietação ou tensão civil, prejudicial à manutenção da lei e da ordem. Poderá provir da ação 
de uma turba ou iniciar-se de um tumulto”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Os autores, policiais militares do Estado do Rio de Janeiro, afirmam que tal definição “foi 
imposta às polícias militares face à sua histórica vinculação àquela força terrestre, que ainda 
perdura nos dias atuais.” E os mesmos autores explicam que “o manual C 19-15 contém em 
seu bojo conceitos básicos, princípios gerais, processos e normas de comportamento que 
sistematizam as atividades do Exército como Força Armada da Nação, tratando-se, portanto, 
de um instrumento de difusão de doutrina militar, mais precisamente, de doutrina militar 
terrestre.” 
 
Barbosa e Ângelo (2001, p. 151), igualmente policiais militares do Estado do Rio de Janeiro, 
também falam em “distúrbios civis”. Surge, ainda, outra categoria de conflitos internos, 
distintos dos conflitos armados, caracterizados por situações de perturbações ou tensões 
internas, tais como tumultos, atos isolados e esporádicos de violência e outros de natureza 
semelhante não classificados como conflitos armados. Essa categoria recebe o título geral de 
Distúrbios Civis. 
 
Além de Conde et. al. (2003) e de Barbosa e Ângelo (2001), Alves (2006), policial militar do 
Estado de Minas Gerais, e, excepcionalmente, Cortês (2007), militar do Exército, utilizam a 
expressão Controle de Distúrbios Civis (CDC), para indicar a atividade de controle de 
distúrbios. 
 
Os militares das Forças Armadas, e os policiais, militares e civis, envolvidos em Operações de 
Controle de Distúrbios e Controle de Distúrbios Civis, respaldam-se, fundamentalmente, nos 
comandos constitucionais de preservação da ordem pública e materializam o exercício de um 
dos poderes administrativos do Estado, o Poder de Polícia, que recebe uma definição precisa 
no Código Tributário Nacional, in verbis: 
 
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, 
limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou 
abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à 
higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao 
exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do 
Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos 
individuais ou coletivos. 
 
Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando 
desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância 
do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, 
sem abuso ou desvio de poder. 
 
A limitação do direito, interesse ou liberdade do cidadão que abusa dessas prerrogativas e 
participa de um distúrbio, promovida pelos agentes do Estado em uma atividade de Operações 
de Controle de Distúrbios (OCD) e Controle de Distúrbios Civis (CDC), nos limites da lei, sem 
abuso ou desvio de poder, provavelmente constitui a situação mais difícil do exercício do Poder 
de Polícia da Administração, pela quantidade expressiva de pessoas envolvidas e pelo aspecto 
emocional exaltado de quem participa de uma manifestação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
16/55 
 
 
Dois conceitos, o de armas não letais e o de regras de engajamento, estão relacionados a três 
princípios descritos por Pinheiro (2004) como “Princípios de Emprego”: “Princípio da 
Proporcionalidade, Princípio da Progressividade e Princípio da Autodefesa”. Armas não letais 
foram definidas por Roos (2004) como “sistemas de armas explicitamente desenvolvidos e 
primariamente empregados a fim de incapacitar pessoas e materiais, enquanto que ao mesmo 
tempo minimizam mortes, invalidez permanente e danos indesejáveis à propriedade e ao meio 
ambiente”. Herbert (2001, p.48) identifica as ocasiões em que a utilização de armas não letais 
se torna adequada: 
 
“As armas não letais são indispensáveis às operações militares de não guerra. Não somente 
preenchem um vazio no nível tático, como também no estratégico. Oferecem opções em 
circunstâncias onde a diplomacia não é suficiente e a força letal é demasiada”. 
 
Girotto (2005, p. 25) define regras de engajamento como as que “vêm prevendo o 
esgotamento dos meios pacíficos antes do uso da força”. 
 
Pinheiro (2004) explica que: “A exemplo do que se desenvolve por parte das forças 
multinacionais em diferentes partes do mundo, as Regras de Engajamento têm como objetivo 
evitar, ao máximo, o desgaste da força legal durante a operação; limitar o uso da força ao 
mínimo necessário ao cumprimento da missão; e limitar ao máximo as restrições impostas à 
população durante a operação”. 
 
A aplicação dos Princípios de Emprego (Progressividade, Autodefesa e Proporcionalidade) em 
OCD torna-se compreensível com o comentário de Roos (2004): 
 
“Outro ponto a ser observado é que, mesmo quando atua com armamento 
ou munição não letal, o Policial ou Militar deve estar de posse de um 
armamento letal, com munição letal, de forma individual ou coletiva, para 
sua proteção. Isto porque, na eventualidade dele ser atacado com força letal, 
com armas de fogo, proporcionalmente ele pode responder aquela 
agressão com o uso moderado dos meios”. 
 
Alves (2006), no entanto, destaca que em operações de OCD apenas os que detêm funções de 
comando e os encarregados pela proteção da tropa devem portar armamento letal:“O objetivo de centrar esse armamento apenas em funções de comando é 
para evitar que ações coletivas, no uso do armamento, sejam desencadeadas de 
modo indiscriminado. Assim, durante um provável confronto entre manifestantes e 
a força legal, o uso de armamento ficaria limitado aos policiais naquela função, 
bem como aos policiais incumbidos da segurança da tropa”. 
 
Outra evidência relacionada à importância da adoção de princípios para a atividade de OCD 
pode ser vislumbrada na leitura do art. 3º, do Decreto nº 5.289, de 29/11/2004, que disciplina 
a organização e o funcionamento da administração pública federal para o desenvolvimento do 
programa de cooperação federativa denominado Força Nacional de Segurança Pública: 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Art. 3º Nas atividades da Força Nacional de Segurança Pública serão atendidos, 
dentre outros, os seguintes princípios: 
 
I – respeito aos direitos individuais e coletivos, inclusive à integridade 
moral das pessoas; 
 
II – uso moderado e proporcional da força; 
 
III – unidade de comando; 
 
IV – eficácia; 
 
V – pronto atendimento; 
 
VI – emprego de técnicas proporcionais e adequadas de controle de 
distúrbios civis; 
 
VII – qualificação especial para a gestão de conflitos; e 
 
VIII – solidariedade federativa. 
 
 
Em resumo, os Princípios que regem as OCD são: 
 
 Amparo em normas internacionais de Direitos Humanos (antes de aplicar 
a força, deve-se buscar uma solução por meios não violentos; a força só 
deve ser usada quando estritamente necessária para as finalidades 
legítimas do cumprimento da lei; as vítimas de tumultos, que estiverem 
feridas e doentes, devem ser recolhidas e cuidadas, e as pessoas 
desaparecidas devem ser procuradas; todas as pessoas devem ser 
tratadas com humanidade e com respeito pela dignidade inerente à 
pessoa humana; uma pessoa envolvida em um distúrbio civil não é um 
inimigo, e sim um cidadão que está perturbando a ordem); 
 
 Princípios marciais (do objetivo; da unidade do comando; da massa; da 
surpresa; da segurança; e da manobra); 
 
 Adoção de armas não letais e de regras de engajamento; 
 
 Princípios de Emprego (Progressividade; Autodefesa; e 
Proporcionalidade). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Para tornar exequíveis esses Princípios, no entanto, não basta enunciá-los. Dois aspectos, que 
dependem de meios logísticos, devem ser considerados: 
 
 A utilização de equipamentos adequados. Barbosa (2001, p. 42) enuncia: 
“A disponibilidade de equipamentos para controle de distúrbios viabilizou 
respostas graduais às ameaças enfrentadas, permitiu estabelecer regras 
de engajamento mais adequadas ao tipo de operação, contribuiu para as 
demonstrações de força e proporcionou maior proteção à tropa”. 
 
 As demonstrações de força. Barcellos (2002, p. 119) relata: “é 
importante que seja executada, pois possibilita aos manifestantes, 
principalmente àqueles não muito convictos da causa que os levou 
até aquela situação, dispersarem-se antes da ação da tropa”. 
 
 
 
Acesse o Fórum de Discussão e opine: no seu ponto de vista, qual a maior dificuldade 
das autoridades encarregadas de cumprir a lei durante uma Operação de Controle de 
Distúrbios – OCD? 
 
 
Nas atividades da Força Nacional de Segurança Pública serão atendidos, dentre outros, 
os seguintes princípios: 
I – respeito aos direitos individuais e coletivos, inclusive à integridade moral 
das pessoas; 
II – uso moderado e proporcional da força; 
III – unidade de comando; 
IV – eficácia; 
V – pronto atendimento; 
VI – emprego de técnicas proporcionais e adequadas de controle de distúrbios 
civis; 
VII – qualificação especial para a gestão de conflitos; e 
VIII – solidariedade federativa. 
Faça uma reflexão sobre os princípios e sua importância no contexto atual de segurança 
cidadã. 
 
 
 
 
 
 
 
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Para complementar seu estudo, assista aos seguintes filmes didáticos: 
http://www.youtube.com/watch?v=5aJhGgxp8g0; 
http://www.youtube.com/watch?v=t1aI9r_uNMY&feature=related; 
http://www.youtube.com/watch?v=WZH4g4NYLfw&feature=related; 
http://www.youtube.com/watch?v=-wQA2bsGkf4&feature=related. 
 
 E leia o livro Psicologia das Massas, de Gustave Le Bom. 
 
 
 
 
Nesta aula, você: 
Compreendeu a concepção básica do que vem a ser controle e mediação de 
manifestações coletivas, psicologia das massas e posicionamento adequado das forças de 
segurança na implementação de políticas públicas de segurança com cidadania. 
 
 
 
Após ter estudado as questões relacionadas à atividade de controle e mediação de 
manifestações coletivas, a psicologia das massas e o posicionamento adequado das 
forças de segurança, na próxima aula você estudará a mediação e resolução de conflitos, 
sempre alicerçados nos direitos e garantias individuais e na dignidade da pessoa humana 
em sintonia com o Estado Democrático de Direito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 3: Mediação e Resolução de Conflitos 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1) Reconhecer o conceito de Crise e Negociação de Conflitos; 
2) Reconhecer as técnicas de negociação na implementação da política pública de 
segurança com cidadania; 
3) Descrever as habilidades necessárias na negociação de conflitos. 
 
Estudo dirigido da aula: 
 
1. Leia o texto condutor da aula; 
2. Participe do fórum de discussão desta aula; 
3. Realize a atividade proposta; 
4. Leia a síntese da sua aula; 
5. Leia a chamada para a aula seguinte; 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
 
 
 
Olá! Seja bem-vindo à aula Mediação e Resolução de Conflitos. 
 
Nesta aula, você estudará a mediação e resolução de conflitos, a origem das crises, a 
negociação de conflitos e técnicas de negociação, sempre com olhar crítico em face das 
exigências a que são submetidos às autoridades encarregadas da manutenção da ordem, 
no momento de crise, devendo alicerçar suas ações nas exigências que o Estado 
Democrático de Direito impõe aos profissionais de segurança pública no sentido da 
proteção à dignidade da pessoa humana. 
 
Boa aula! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A atividade policial, talvez uma das mais complexas atividades profissionais 
desempenhadas na sociedade contemporânea, ainda é pouco conhecida pelos cidadãos 
de uma maneira geral e pouco sistematizada pelas corporações policiais. Há inúmeros 
questionamentos sobre o que faz a polícia1 e, sobretudo, como ela faz o que faz. 
 
É consenso aceitar que há mesmo uma zona cinzenta que se lhe é sobreposta, tornando-
a mais complexa pelos mais variados motivos. Primeiro, porque o rol de conhecimentos 
que o policial tem para lançar mão no desempenho de sua função social é extenso. 
 
Principalmente, na chamada hora da verdade2, que abrange os momentos críticos onde 
ocorre o contato com seu público alvo, momentos que, não raro, vêm envolvidos por 
uma atmosfera de tensão, em um limiar tênue entre a legalidade e a ilegalidade, entre a 
vida e a morte, e entre a decisão de agir e de não agir. Tudo isso ocorrendo em ínfimas 
frações de tempo para a tomada da melhor decisão que nem sempre tem suporte em um 
manual didático. 
 
Por outro lado, ao concordarmos com essa complexidade da atividade policial, somos 
obrigados a concordar também que a formação profissional do policial em um Estado 
Democrático de Direito é ainda mais complexa. Tal complexidade encontra-se 
exatamente na arte de poder sistematizar um saber que seja capaz de tornar menos 
complexo o fazer policial, que encontre a exata medida entre a materialização do império 
do Estado e o respeito aos direitos e garantias do cidadão, na promoção da segurança 
pública, e que oriente o uso comedido da força legítima concedida ao Estado pela própria 
cidadania. 
 
No contexto policial, podemos falar que crise é também conhecida como evento crítico(decisivo), definido como uma manifestação violenta e inesperada de rompimento do 
equilíbrio, da normalidade, podendo ser observada em qualquer atividade humana (neste 
caso abordaremos somente no campo da segurança pública), pode ser uma tensão ou 
um conflito, situação grave em que os fatos da vida em sociedade, rompendo modelos 
tradicionais, perturbam a organização de alguns ou de todos os grupos integrados na 
coletividade. 
 
A Academia Nacional do FBI (Federal Bureal of Investigation) dos Estados Unidos da 
América define crise como “um evento ou situação crucial, que exige uma resposta 
especial da polícia, a fim de assegurar uma solução aceitável”, podemos citar alguns 
exemplos de crises em que a polícia tem que dar uma resposta especial: 
 
 Assalto com tomada de reféns; 
 Sequestro de pessoas; 
 
 
 
 
1 MONJARDET, Dominique. O que faz a Polícia: sociologia da força pública. São Paulo, EDUSP, 2003. 
2 ALBRECHT, Karl. Revolução nos Serviços: como as empresas podem revolucionar a maneira de tratar os 
seus clientes. São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1992. 
 
 
 
 
 
 
 
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 Rebelião em presídios; 
 Assalto a bancos com reféns; 
 Ameaça de bombas; 
 Atos terroristas; 
 Sequestro de aeronaves; 
 Capturas de fugitivos em zona rural; 
 Outras. 
 
Diferença entre Refém e Vítima 
 
Para efeito de melhor orientar a conduta do negociador na alternativa tática para a 
resolução do evento crítico, é necessário conceituar as duas situações em que a pessoa 
capturada se enquadra. Será refém, quando a pessoa capturada tem valor real para o 
causador do evento crítico, que dela se valerá para a obtenção de algum tipo de 
vantagem ou benefício real, palpável, claramente expresso e, muitas vezes quantificável. 
 
Por exemplo, quando o causador do evento crítico foi surpreendido pela polícia e no 
momento da prática de um delito, como forma de garantir sua sobrevivência física em 
uma fuga eventual, captura pessoas e tenta trocá-las por veículos. Não existe nenhuma 
intenção clara do causador do evento crítico em cometer violências contra os capturados, 
antes, tal atitude lhe será prejudicial. Esta é, claramente, uma situação em que a pessoa 
capturada é refém. 
 
E quando o causador do evento crítico foi surpreendido pelo polícia em meio a um ritual 
bizarro, no qual se prepara à execução de uma criança. O causador do evento crítico 
alega que somente o sacrifício humano apaziguará sua divindade, que com ele mantém 
incessantes diálogos. Avisa aos policiais que a mera interrupção do ritual provocará 
tragédias imensas que atingirão toda a humanidade, e prepara-se para degolar a criança. 
 
Essa criança é uma vítima, pois não apresenta nenhum valor para o causador do evento 
crítico, exceto o de possibilitar a consecução de seus objetivos, que incluem 
necessariamente a sua morte. O desequilíbrio mental do causador do evento crítico é 
evidente, e a ação tática é inevitável. 
 
Uma negociação de sucesso começa, necessariamente, por esta etapa: a identificação 
das pessoas capturadas que merecem especial atenção. A definição de quem é refém ou 
vítima proporciona uma clara delimitação do trabalho inicial do negociador. 
 
Negociação de Conflitos 
 
Negociação é toda ação que objetiva conseguir uma transação na qual as partes estão 
dispostas a ceder algo para conseguir um acordo proveitoso para ambos. 
 
O policial, ao necessitar estabelecer um canal de comunicação polícia ― gerador do 
conflito ― vítima(s) do conflito deve seguir os procedimentos abaixo descritos, 
 
 
 
 
 
 
 
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sempre pautados pela preservação da segurança de todos os envolvidos, visando um 
resultado satisfatório. 
A necessidade insatisfeita é o motor principal de toda a negociação. Por isso é importante 
para o policial: identificar as necessidades da parte contrária e trabalhar com base nas 
mesmas. 
 
Deve-se identificar o problema real, a necessidade verdadeira e primordial, não os 
simples desejos. Exemplo: Fome (necessidade), Tipo de alimento específico (desejo). 
 
Elementos necessários para se chegar a um acordo 
 
 Dialética 
Capacidade de raciocinar logicamente, com coerência no encadeamento interno 
das ideias, fundamentando seu raciocínio em ideias prováveis, considerando 
sempre a possibilidade de sofrer uma refutação; 
 
 Comunicação 
Habilidade de dialogar e se fazer entender; 
 
 Interação 
Capacidade de trabalhar de forma integrada; 
 
 Finalidade Conciliatória 
Busca pela harmonização do conflito, solucionando a situação; 
 
 Disposição para o Acordo 
Capacidade de decidir o conflito, levando em conta as demandas dos envolvidos. 
 
 
A análise criteriosa de casos concretos direcionou a polícia à criação de fases que devem 
ser obedecidas no processo de negociação: 
 
 Preparação – Necessidade de buscar informação, possibilidades ou 
permissões, definir estratégias e táticas; 
 
 Discussão – Desenvolvimento do diálogo e/ou preparação, identificação dos 
interesses, ciclo ataque/defesa, identificação e trânsito ao comportamento 
destrutivo ou construtivo e busca de uma resposta positiva; 
 
 Propostas – Delimitar a zona de negociação, encontrar pontos em comum e 
escutar propostas; 
 
 Acordo – Estabelecer “Como e Quando”, avaliar as alternativas do acordo e 
estabelecer normas de garantia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24/55 
 
 
 
 
Tipos de Negociação Policial 
 
Negociação Real ou Pura: Processo de convencimento de rendição dos tomadores de 
reféns por meios pacíficos, trabalhando-se com psicologia, barganha ou atendimento de 
reivindicações razoáveis; e 
 
Negociação Tática: Processo de coleta e análise de informações visando suprir as 
demais alternativas táticas caso sejam necessárias na resolução da crise; ou mesmo para 
preparar o ambiente para o que chamamos de assalto tático, que consiste na entrada no 
ambiente de policiais especializados e extremamente habilidosos com essa situação e 
considerando todos os riscos a ela inerentes. 
 
Critérios da Negociação 
 
 O objetivo maior será sempre o de poupar vidas: de reféns, de policiais e dos 
próprios tomadores de reféns. Muitas vezes, o tomador de reféns é um indivíduo 
que está mentalmente perturbado, seja por medo, efeito de álcool e/ou drogas ou 
por qualquer outro motivo. Se ele realmente quisesse matar os reféns, já o teria 
feito. Se os tomou é porque busca negociar. Paciência e tranquilidade são armas 
do negociador; 
 
 As unidades especiais de táticas de assalto devem ficar em segundo plano. (Se 
elas ficarem ostensivamente à vista, pode ser que o tomador de reféns pense que 
a negociação é uma farsa. Se ele acreditar que vai ser morto, é bem possível que 
não queira morrer sozinho e mate os reféns que pretendia usar como barganha na 
negociação); 
 
 Os negociadores que mantêm a conversação não devem ter grau hierárquico que 
os habilite a tomar decisões definitivas (Com isso, evita-se que decisões cruciais 
venham a ser tomadas sob pressão durante a conversação. O negociador, diante 
de uma exigência incomum, poderá sempre dizer: “Olha, eu quero te ajudar, mas 
não sei se „eles‟ concordarão com isso... Preciso consultá-los”); 
 
 Todas as decisões ou acordos devem subordinar-se ao objetivo nº 1 ― poupar 
vidas; 
 
 Nunca devem ser atendidas todas as exigências dos envolvidos. É uma 
negociação, não uma rendição (Nunca devem ser fornecidas armas ao tomador de 
reféns. Se ele pedir armas, provavelmente é porque não as tem ou as suas estão 
defeituosas); 
 
 Iniciada a negociação, a maior e melhor arma é a paciência. (O tempo trabalha a 
favor da polícia. O tomador de reféns será atingido pelo cansaço, sono, fome e 
todas as exigências da condição humana); 
 
 
 
 
 
 
 
25/55 
 
 
 
 Um princípio de lealdade deve reger a negociação. Jamais a negociaçãodeve ser 
usada como mera manobra de dispersão, para permitir um ataque de surpresa. 
(Uma polícia que agir desta forma negociará apenas uma vez. Perdida a 
credibilidade, o próximo tomador de reféns dirá, por exemplo: “Não acredito em 
vocês, quero aqui um juiz, um governador.”); 
 
 Entre as exigências que jamais devem ser atendidas destaca-se a não aceitação 
de proposta de troca de reféns. (Às vezes, acontece que terceiros ― jornalistas ou 
outros ― se oferecem como reféns substitutos. A polícia deve considerar que, se 
concordar, o refém substituto passou a ser de sua inteira responsabilidade – antes 
havia apenas a responsabilidade do tomador de reféns. Pior é quando há 
exigência de troca por uma pessoa determinada. Pode ser que o substituto exigido 
seja alguém que o tomador de reféns realmente queira matar); 
 
 Iniciada a negociação, as decisões devem ser tomadas em critérios técnicos e 
profissionais, evitando-se cursos de ação ditados por impulsos emocionais ou de 
natureza meramente política. (É comum, nessas situações críticas, surgirem 
propostas amadoras, em geral bem intencionadas. Todavia, a negociação de 
reféns é tarefa para profissionais, o “achar” aqui pode ser perigoso para as vidas 
em jogo); 
 
 A decisão deve ser tomada de forma cautelosa como diretriz a ser seguida pela 
polícia: negociar com paciência, poupar vidas; 
 
 Operações de assalto devem ser feitas apenas como último recurso, por 
significar o reconhecimento do fracasso na capacidade de negociar. 
 
 
 
Legenda: 
 
EXTERNO – Perímetro Externo 
UIT – Unidade de Intervenção Tática 
UI – Unidade de Isolamento 
UA – Unidade de Apoio 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CGC – Comando e Gerência da Crise 
INTERNO – Perímetro Interno 
UN – Unidade de Negociadores 
EL – Elemento de Ligação 
LOCAL DA CRISE – Zona Estéril 
Táticas de Negociação 
 
 Tática Introdutória – O início é fundamental para que o negociador projete o 
êxito de sua missão. Deve-se observar o adequado momento para realizar o 
primeiro contato, esperando-se o decurso de 30 a 45 minutos, tempo necessário 
para que os tomadores de reféns possam reduzir suas euforias iniciais 
relacionadas com o sentido de sobrevivência; 
 
 Tática de Tranquilização – Objetiva reduzir a tensão do ambiente, induzindo o 
tomador de reféns a raciocinar e visualizar a situação que o envolve. Nessa 
oportunidade, cabe ao negociador garantir a não invasão do local crítico, 
combinada com a oportunidade de conversação e a contrapartida do tomador que 
não produzirá agressões; 
 
 Tática de Envolvimento – Objetiva fazer o tempo passar, buscando o 
envolvimento do sequestrador com algumas manobras simples, como a de não 
dar uma resposta de pronto a um pedido, argumentando que há uma dificuldade 
momentânea. Tudo pode ser motivo para dilatação do tempo, enquanto a 
negociação estiver prosseguindo e mostrando sinais de avanço; 
 
 Tática do Medo – Consiste na movimentação proposital da polícia, produzindo 
sensação de insegurança no perpetrador da crise, induzindo-o a uma solução 
negociada. 
 
 
Após a apresentação do negociador, é garantida a não invasão do local, mas enfatizando 
que a polícia não irá embora dali. Com isso, o profissional da negociação fica fortalecido 
como ente garantidor de que o cenário tende à resolução pacífica. 
 
O negociador é um manipulador de incertezas. É melhor ouvir do que falar. Assim, você 
aprende mais sobre as pessoas. 
 
 
 
Acesse o Fórum de Discussão e opine: “No seu ponto de vista qual a maior 
dificuldade das autoridades encarregadas de cumprir a lei durante uma Operação de 
Resgate de Reféns?”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27/55 
 
 
 
 
 
http://www.youtube.com/watch?v=t15JrZzigwE 
http://www.youtube.com/watch?v=Oc7Qj_mQxAw 
http://www.youtube.com/watch?v=A8tuE2KCAdU 
http://www.youtube.com/watch?v=ryOnAiHes4s 
http://www.youtube.com/watch?v=HqzB68Z2GAc 
 
 Assista ao filme O Negociador, com Eddie Murphy. 
 
 
 
Nesta aula, você: 
Compreendeu a concepção básica do que é crise e resolução de conflito no contexto da 
segurança pública e identificou técnicas de negociação, de modo que atenda às forças de 
segurança pública na implementação de políticas públicas de segurança com cidadania. 
 
 
 
Após ter estudado as questões relacionadas à atividade de mediação e resolução de 
conflitos, na próxima aula você estudará as atividades de patrulhamento e presença no 
território, sempre alicerçados nos direitos e garantias individuais e na dignidade da 
pessoa humana em sintonia com o Estado Democrático de Direito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 4: Patrulhamento e Presença no Território 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1) Reconhecer o Conceito de Polícia Moderna; 
2) Reconhecer as variáveis do Patrulhamento Moderno; 
3) Descrever as qualidades de um bom policiamento. 
 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula; 
2. Participe do fórum de discussão desta aula; 
3. Realize a atividade proposta; 
4. Leia a síntese da sua aula; 
5. Leia a chamada para a aula seguinte; 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
 
Olá! Seja bem-vindo à aula Patrulhamento e Presença no Território. 
 
Nesta aula, você estudará a origem do patrulhamento e a presença no território, 
noções de comando, segurança individual e coletiva e trabalho com cidadãos locais, 
em um Estado Democrático de Direito. 
 
Para que os direitos e deveres atinjam toda a população, as ações da polícia devem 
ser pautadas por uma regularidade administrativa, funcional e operacional, mesmo 
que ocorra o uso da força, observando a garantia, em suas práticas, da legalidade, da 
legitimidade, previsibilidade, necessidade e proporcionalidade. 
 
Sob esta perspectiva, de acordo com suas práticas na administração dos conflitos na vida 
social, a polícia pode tanto atuar como sustentáculo de uma sociedade democrática e 
republicana como também se tornar um instrumento de ações ditatoriais. 
 
Diante desse contexto, podemos sinalizar que a polícia, por ser a instituição mediadora 
através da qual a ação do Estado efetua diretamente o poder político junto à população, 
desempenha assim papel fundamental no propósito de uma sociedade que almeja a 
promoção da cidadania diante de um sistema de governo democrático. 
 
Bom estudo! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29/55 
 
 
Origens 
 
Até o início do século XIX, na maior parte dos países ocidentais, as funções policiais eram 
desenvolvidas por grupos de cidadãos convocados, por voluntários ou por pessoas 
comissionadas pelos governos, e se concentravam em ações de fiscalização ou 
vinculadas à arrecadação de tributos. 
 
A ausência de uma organização policial profissional está intimamente ligada à própria 
concepção de segurança pública existente na época, que se encontrava na necessidade 
de conter as diversas manifestações populares existentes nas cidades e nos campos. A 
forma comumente utilizada pelos governantes para lidar com as revoltas era o emprego 
de forças militares, mas essas medidas já não produziam o resultado esperado. 
 
Em primeiro lugar porque essa estratégia provocava uma sucessão de cenas violentas e 
de mortes. E também pelo fato dessas ações produzirem um efeito imediato que tinha 
uma curta duração, ou seja, após as intervenções de força, as manifestações e 
desordens reapareciam. Surge, então, a ideia de instituir uma força permanente e 
profissional que estivesse sempre nas ruas. 
 
Na Europa, a partir do final do século VIII, desenvolveram-se dois modelos de 
organizações policiais. Na França, e em boa parte da Europa continental, surge um 
modelo bipartido, onde há uma força policial militar que atua nos campos (Gendarmerie 
Nacional) e outra força policial civil com atuação na capital (Polícia Nacional). Na 
Inglaterra, oMinistro do Interior, Sir Robert Peel, reorganiza e amplia as funções policiais 
das organizações existentes no Reino Unido, fundando a Polícia Metropolitana de 
Londres, em 1829. 
 
França 
 
Na França, as origens de um modelo bipartido antecedem o final do século XVIII. De um 
lado havia uma Intendência Geral de Polícia, com funções amplas, que iam da luta contra 
a delinquência à fiscalização econômica. Era a encarregada do controle da ordem em 
Paris e, após a Revolução Francesa, deu origem à Polícia Imperial, que foi o berço da 
Policia Nacional Francesa. 
 
Fora da capital e nos campos, a força policial existente era a de organizações 
denominadas maréchaussées ― forças militares encarregadas de assegurar a ordem, 
sendo considerada uma das mais antigas instituições francesas. Em 1720, essas forças 
sofrem uma grande reformulação de modo a assegurar a autoridade do Imperador em 
todo país. 
 
Com a Revolução Francesa, novas necessidades surgem em relação à manutenção da 
ordem e, em 16 de janeiro de 1791, é criada a Gendarmerie Nacional. Com o foco na 
consolidação do Novo Regime, essa nova força de estrutura militar, mas com atuação 
regular na segurança pública, acaba influenciando outros países europeus. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Portugal 
 
Segundo Cosme (2006), a organização do policiamento em Lisboa, na transição do 
século XVIII para o século XIX, foi inspirada em modelos estrangeiros, como o espanhol 
e o francês. A Guarda Real de Polícia, origem da Polícia Militar no Rio de Janeiro, foi 
criada em 1801, e o Conde de Navion encarregou-se de adaptar as características da 
Gendarmerie às necessidades lusas. 
 
Fruto do mesmo processo de organização das forças policiais europeias continentais, a 
instituição encarregada de patrulhar ostensivamente as ruas da Cidade do Rio de Janeiro 
foi implantada em 13 de maio de 1809, junto com outras instituições trazidas pela Coroa 
Portuguesa. 
 
Organizada como força militar da Corte, com Batalhões de Infantaria e Cavalaria, passa a 
cuidar da ordem da Capital, de acordo com o modelo existente em Lisboa. Segundo 
Bretas (1997, p.40), no Brasil “as forças policiais foram organizadas a nível estadual, não 
como força nacional, como a francesa, ou local, como a inglesa. O Rio de Janeiro, sendo 
a capital, era uma exceção, com sua força local sob o controle do governo central”. 
 
Inglaterra 
 
Diferente do modelo francês, a fundação da polícia inglesa está fortemente associada ao 
desenvolvimento de uma sociedade urbana industrial, que incrementou os crimes contra 
o patrimônio, e teve influência em várias partes do mundo, principalmente nos Estados 
Unidos da América. 
 
Naquela época havia uma premissa fundamental: construir uma polícia diferente da 
francesa, que era considerada como um forte instrumento para a manutenção do poder 
do Estado. A opinião pública inglesa via a polícia como uma instituição opressiva, cuja 
atividade se orientava unicamente no sentido de disciplinar o dia a dia das pessoas e 
controlar as nascentes organizações políticas e industriais. 
 
Segundo Bittner (2003), “os métodos herdados do controle do crime e os de manutenção 
da paz não apenas deixavam de alcançar os objetivos desejados, mas também eram 
considerados incompatíveis com a ética da sociedade civil”. Assim, as mudanças 
ocorridas na polícia encontram-se em um contexto mais amplo que envolve a criação de 
novas teorias penais (a prisão é estabelecida como espinha dorsal do sistema punitivo) e 
na instituição dos tribunais modernos (com a prevalência do júri). 
 
Ao criar a Polícia Metropolitana, Peel buscava o “estabelecimento de uma polícia próxima 
dos cidadãos, dos quais obtém a sua legitimidade afastando, deste modo, o clima de 
desconfiança existente em relação à instituição policial” (Cardoso Valente, 2002). 
 
O conceito de um policiamento baseado no consentimento dos cidadãos aparece de 
forma inequívoca nesse modelo, onde a ideia chave é a interdependência entre um 
elevado grau de consentimento por parte da população e um poder policial reduzido. O 
 
 
 
 
 
 
 
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que reforça a tese de alguns autores de que nas origens do policiamento moderno havia 
uma significativa identidade entre os policiais e as pessoas que seriam beneficiadas pelos 
seus serviços. 
 
Através dessa proximidade social, cuidadosamente elaborada, a polícia visava conquistar 
o respeito das pessoas, obtendo desse modo a sua adesão voluntária em relação às 
normas que regem a sociedade. Mas, esse modelo de policiamento nem foi capaz de 
reduzir os problemas de criminalidade nem as manifestações sociais da época. 
 
A incapacidade de reduzir o crime aumentou a desconfiança das pessoas nas forças 
policiais. Ocorreu um reforço na ideia de que a polícia era uma força voltada para o 
controle das organizações sociais, especialmente as organizações políticas e sindicais. 
Aliado a isso, havia uma insatisfação dos policiais em relação às atribuições que vinham 
sendo destinadas à organização como serviço de despertador (human alarm clock 
service). 
 
Diversas comissões de inquérito investigaram a atividade policial entre 1895 e 1920, 
identificando como principais causas da degradação da polícia, a “excessiva 
descentralização do poder de decisão, a falta de disciplina e a falta de lideranças 
capazes” eram “circunstâncias que favoreciam a corrupção e o controle”. (Carlos Valente, 
2002) 
 
A resposta a esses problemas corresponde ao modelo que ficou conhecido como a 
“profissionalização” da polícia, que implicou na transformação das estruturas policiais 
existentes em um modelo quase militar de policiamento, que se inicia no início do século 
XX (em torno de 1920, atingindo seu auge nos anos 1950). Esse processo implicou em 
mudanças nos sistemas hierárquicos e na aplicação de princípios militares na própria 
gestão das forças policiais. 
 
O combate ao crime passou a consumir a maioria dos recursos das forças policiais e, 
dentro dessa lógica, o combate à corrupção foi interpretado como uma forma de 
melhorar tanto a colaboração por parte da população quanto à eficácia policial. Segundo 
Bittner (2003), “como condição básica para todas as outras mudanças, os reformadores 
exigiam a total independência em relação ao sistema político deteriorado”. 
 
Essa filosofia de atuação, implantada pelos reformadores, teve várias consequências, 
dentre as quais se destacam a priorização das detenções em detrimento da atuação em 
eventos não criminais, como no auxílio ao público, e uma tendência a tornar os efetivos 
policiais cada vez mais fortes para o pronto emprego em caso de emergências, o que os 
impedia de terem um relacionamento habitual com a população. 
 
Esse modelo foi bem sucedido no que tange a um aumento na eficiência administrativa 
dos departamentos policiais. Superou a dependência policial da pressão política e andou 
um bom caminho em direção à eliminação da corrupção sistêmica a ela associada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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As três principais categorias de atividades policiais que caracterizavam esse modelo eram 
a patrulha preventiva, a pronta resposta dos chamados e o trabalho de investigação de 
crimes. 
 
Entre 1950 e 1970, novos meios passam a ser utilizados na atividade policial, como o 
automóvel e os rádios de comunicação. Destaca-se nessa fase a atuação do Chefe de 
Polícia de Chicago, O.W Wilson, que nos anos 1960 viria a influenciar as organizações 
policiais em toda a América do Norte e em alguns outros países. 
 
O patrulhamento motorizado possibilitou o aumento da cobertura de maiores áreas 
geográficas e do controle sobre os recursos policiais, mas também trouxe vários 
problemas, motivados pelo declínio das oportunidades de contato, familiaridade e 
formação de confiança entre a população e a polícia, afetando até a obtenção de 
informações para investigações. 
 
Esse distanciamentotambém causou uma hipertrofia das estruturas policiais que 
passaram a serem complexas, dotadas de múltiplas especializações, com cadeias de 
comando cada vez maiores. O que levou diversos autores a dizer que nesta época havia 
uma prevalência dos meios sobre os fins. A ideia de reduzir a corrupção nas forças 
policiais através de mecanismos de controles internos não foi muito bem sucedida. 
 
As particularidades dos anos 1960 evidenciaram a inadequação dos dispositivos policiais 
para lidar com as questões e conflitos sociais que emergiram. O distanciamento chegou a 
tal ponto que, muitas vezes, policiais e cidadãos se encontravam apenas em momentos 
de crise, em ações de manutenção da ordem. Nessa época, a legitimidade da ação 
policial se restringia à força da lei e do poder que o Estado lhe conferia. 
 
Logo após a Segunda Guerra Mundial, alguns países começaram a refletir a necessidade 
de mudanças nos conceitos que regiam as suas organizações policiais. Alguns novos 
conceitos de policiamento em equipes (team policing) foram implementados 
experimentalmente em cidades da Grã-Bretanha. 
 
A partir dos anos 1960, muitos foram os estudos desenvolvidos sobre a atividade policial. 
Eles tratavam a polícia como uma organização que não era destinada apenas à 
manutenção da ordem pública em um sentido estrito, mas que também era destinada a 
prestar um serviço público ininterrupto. 
 
A aferição dessa premissa se dava a partir da análise das chamadas dirigidas às polícias. 
Muitas solicitações eram de ordem meramente assistencial e a maioria se voltava para a 
resolução de pequenos problemas, acidentes de trânsito, ameaças, conflitos de 
vizinhança e outros semelhantes. Muito menos tempo era destinado à identificação e 
prisão de delinquentes, que aos demais serviços. Isso levou a uma reflexão do novo 
papel da polícia em uma sociedade em mudança. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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No final dos anos 1960, este conceito também foi introduzido nos Estados Unidos da 
América. Os principais elementos que caracterizavam esse modelo foram: 
 
 A vinculação de um grupo regular de policiais para policiar uma determinada área 
geográfica; 
 Grande interação no interior da equipe; 
 A comunicação entre o serviço de polícia e a comunidade; 
 A realização de reuniões oficiais entre a polícia e membros da comunidade; 
 Uma participação efetiva da comunidade no trabalho da polícia; e 
 O envio de certos casos para os organismos sociais especializados e responsáveis 
por determinadas áreas; 
 
Apesar de ser aparentemente mais evoluído que o modelo anterior, muitos autores 
fazem um balanço não muito positivo dele. 
 
Os motivos foram: a dificuldade de estabelecer equipes preparadas e dotadas de poderes 
adequados, além da resistência de setores da própria polícia. Mas eles foram importantes 
para o desenvolvimento do que se chamou Polícia de Orientação Comunitária e Polícia de 
Proximidade. 
 
Nos estudos desenvolvidos a partir dos anos 1960 a respeito do real conteúdo do 
trabalho policial, podemos encontrar as origens intelectuais da maioria dos recentes 
esforços de reforma das instituições policiais. 
 
O que é certo é que todo esse movimento, intimamente cruzado com algumas 
experiências reformistas da polícia e do serviço policial, foi aprofundado, já durante a 
década de 1970. A necessidade era ter uma nova polícia, uma polícia que fosse ao 
encontro dos cidadãos e das instituições locais, uma polícia flexível, capaz de se 
adaptar e acompanhar a mudança, uma polícia em permanente diálogo com a 
sociedade, uma polícia que fosse buscar a sua essência à ideia de Polícia de Robert 
Peel. 
 
Para complementar seu estudo, leia a Diretriz Geral de Operações – DGO, da Polícia 
Militar do Estado do Rio de Janeiro, disponível na Biblioteca da Disciplina, link Material de 
Aula. 
 
 
 
Acesse o Fórum de Discussão e opine: “Quais são os óbices para que a Polícia do 
Brasil possa estar próxima daquela idealizada por Robert Peel?” 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A partir dos anos 1960, muitos foram os estudos desenvolvidos sobre a atividade 
policial. Eles tratavam a polícia como uma organização que não era destinada apenas à 
manutenção da ordem pública em um sentido estrito, mas que também era destinada a 
prestar um serviço público ininterrupto. 
 
A aferição dessa premissa se dava a partir da análise das chamadas dirigidas às 
polícias. Muitas solicitações eram de ordem meramente assistencial e a maioria se 
voltava para a resolução de pequenos problemas, acidentes de trânsito, ameaças, 
conflitos de vizinhança e outros semelhantes. Muito menos tempo era destinado à 
identificação e prisão de delinquentes, que aos demais serviços. Isso levou a uma 
reflexão do novo papel da polícia em uma sociedade em mudança. 
 
Esta ainda é uma realidade brasileira? Em caso afirmativo, justifique com um exemplo. 
 
 
 
Assista ao filme Salve Geral, de Sergio Rezende. 
Filmes Didáticos: 
http://www.youtube.com/results?search_query=PATRULHAMENTO&search
_type=&aq=f 
http://www.youtube.com/watch?v=1Nsvzdl6I9c 
http://www.youtube.com/watch?v=rZSxWgxSWmI 
 
 
Nesta aula, você: 
Compreendeu a origem da atividade policial e sua evolução ao longo do tempo, pôde 
identificar um bom policiamento, trabalhando com cidadãos locais e, sobretudo refletir 
sobre os óbices da polícia para conquistar a confiança da sociedade. 
 
Na próxima aula você terá uma noção sobre Preservação do Local de Ocorrência, com 
ênfase na importância da preservação e procedimentos básicos. Ocorrência é a situação 
de ameaça ou de dano a um direito protegido por lei, com o qual o policial se depara no 
dia a dia de sua atividade externa. 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 5: Preservação do Local de Ocorrência 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
 
1) Reconhecer um local de crime e sua importância para o trabalho do sistema de 
justiça criminal; 
 
2) Descrever as diversas classificações de local de crime; 
 
3) Defender a necessidade de boas práticas policiais no sentido da preservação de 
local de crime. 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula; 
2. Participe do fórum de discussão desta aula; 
3. Realize a atividade proposta; 
4. Leia a síntese da sua aula; 
5. Leia a chamada para a aula seguinte; 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
 
 
Olá! Seja bem-vindo à aula Preservação do Local de Ocorrência. 
 
Nesta aula, você estudará a importância da preservação de local de ocorrência policial 
ou local de crime, no sentido da percepção de que os elementos ou indícios que forem 
recolhidos nesse local são imprescindíveis para a busca da autoria e prova da 
materialidade ― exigências legais para a propositura da competente ação penal e início 
do processo penal. 
 
Impunidade é a ausência de castigo para determinado fato ou ausência da obrigação de 
reparar um dano. No caso do Direito Penal, impunidade é a não aplicação da pena 
criminal prevista a determinado caso concreto. Para cada crime, a lei estipulou um 
“castigo”, uma pena. Quando essa penalidade não é aplicada, pela fuga, pela 
deficiência da investigação ou por um ato de “tolerância”, o delito fica impune. 
 
Deixar um crime impune estimula a prática de outros. É inadmissível permitir falhas na 
investigação, e elas começam no local do crime. 
 
Bom estudo! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Levando-se em consideração que apenas esgotando o processo investigatório será possível 
concluir algo a respeito da ilicitude de um fato, denominar o lugar como “LOCAL DE CRIME” é 
prematuro. Contudo, é o termo comumente utilizado, podendo ser definido como qualquer 
área onde tenha ocorrido um evento que interessa à justiça ou que assuma a configuração de 
delito. 
 
Somente através do levantamento e análise de todos os elementos subjetivos (testemunhais, 
por exemplo)e objetivos (perícias em geral), chegar-se-á à total elucidação do fato. 
 
Segundo Eraldo Rabelo, “local de crime constitui um livro extremamente frágil e delicado, 
cujas páginas, por terem a consistência de poeira, desfazem-se, não raro, ao simples toque de 
mãos imprudentes, inábeis ou negligentes, perdendo-se desse modo para sempre, os dados 
preciosos que ocultavam, à espera da argúcia dos peritos.” 
 
A fragilidade e a importância dos elementos deixados em um local de crime são igualmente 
consideráveis. Sendo assim, devem os profissionais de segurança tratá-los com tal zelo que os 
mantenha intactos o maior tempo possível, e que esse tempo seja, ao menos, até a chegada 
do perito criminal. 
 
O maior obstáculo com que um perito poderá deparar-se em seu trabalho é a ineficiente ou 
nula preservação do local de crime. Esse óbice poderá acarretar a não conclusão sobre a 
dinâmica do fato, o autor do crime e quaisquer outras questões levantadas. 
 
O esclarecimento de um crime está proporcionalmente relacionado ao grau de preservação a 
que foi submetido o local. Mais que uma necessidade, face aos benefícios que proporciona, a 
preservação do local é um dever legal. 
 
O Código de Processo Penal brasileiro, em seu artigo 6º, prevê: 
 
Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial 
deverá: 
 
I – Dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado das coisas, 
até a chegada dos peritos criminais. 
 
A preservação do local de crime deverá ser tratada com a importância que lhe é 
devida, sob a pena da perda da validade do exame daquela área como peça de 
inquérito ou como prova material. 
 
Geralmente, os policiais militares, por sua atividade diuturna, são os primeiros a chegar ao 
local de infração penal, sendo, portanto, de absoluta necessidade que apliquem todas as 
medidas que visem a preservá-lo, ou seja, mantê-lo inalterado, resguardando os vestígios por 
ali existentes. 
 
Ao perito é dada, não apenas como opção, mas como dever, a possibilidade de afirmar 
alterações no local e citar quais danos à investigação essas modificações causaram. 
 
 
 
 
 
 
 
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De acordo como Código de Processo Penal brasileiro em seu artigo 169: 
 
Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade 
providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a 
chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou 
esquemas elucidativos. 
 
Parágrafo Único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das 
coisas e discutirão, no relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica 
dos fatos. 
 
 
Classificação do Local de Crime 
 
Classificar os locais de crime, sabendo-se que é impossível mensurar as formas para a prática 
de ilícitos, sem contar que podem acontecer em qualquer espaço físico, é apenas uma 
formalidade didática para facilitar os procedimentos de preservação. 
 
Quanto ao aspecto físico 
 
Quanto ao aspecto físico, podemos classificar os locais de crime como internos e externos. 
Locais internos são aqueles delimitados fisicamente, ou seja, limitados por cerca, muro etc. 
Os externos são aqueles constituídos por extensão aberta. Essa classificação não importa ao 
juiz, e serve somente para que seja feita uma delimitação da área onde ocorrerão os trabalhos 
periciais. 
 
Ainda quanto as aspecto físico, os locais podem subdividir-se em imediatos, que são as áreas 
onde ocorrem os fatos, e mediatos, que são as adjacências, ou seja, as áreas entre o local 
imediato e a área que não tem relação com o fato. 
 
Local Interno: Área compreendida no interior das habitações de quaisquer espécies, isto é, 
em todo instante fechado. O fato ocorrendo em terreno cercado ou murado será a área 
considerada como local interno, por constituir recinto fechado. 
 
Local Externo: Área constituída por extensão aberta, ou seja, fora das habitações. Exemplo: 
rua, terreno baldio etc. 
 
Ambiente Imediato: Área onde ocorreu o fato. É nesse ambiente que se procede ao exame 
cuidadoso de todos os detalhes, presumindo-se que o local tenha sido convenientemente 
preservado desde o comparecimento do primeiro policial militar. 
 
Ambiente Mediato: Compreende as adjacências do local onde ocorreu o fato. É, por assim 
dizer, a área intermediária entre o local onde ocorreu o fato (local propriamente dito) e o 
grande ambiente exterior. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Quanto à natureza do fato 
 
Quanto à natureza do fato, o local de infração penal se apresenta sob as seguintes formas: 
 
 Local de Homicídio; 
 Local de Furto; 
 Local de Furto Qualificado; 
 Local de Incêndio; 
 Local de Contravenção Penal etc. 
 
Estudando-se o local de infração penal sob esses dois primeiros aspectos, quanto ao local em 
si e quanto à natureza do fato, buscamos atingir as seguintes finalidades: 
 
 Determinar a natureza da área onde o mesmo ocorreu; e 
 Determinar a natureza do fato ocorrido. 
 
Em resumo, a natureza da área responde a seguinte pergunta: Onde ocorreu o fato? 
 
Já a natureza do fato ocorrido responde à pergunta: O que aconteceu? 
 
 
Quanto à idoneidade 
 
Quanto à idoneidade, pode ser classificado como idôneo, quando o estado das coisas foi 
perfeitamente mantido, de forma que os atores do fato o deixaram. 
 
Definem-se como atores dos fatos todos os entes presenciais do crime, sendo autor ou vítima. 
 
Inidôneo é o local que sofreu alterações em relação ao seu estado imediatamente após o 
fato, por pessoas não relacionadas com o delito. 
 
 
Local Idôneo: É aquele que não foi violado, isto é, que não sofreu qualquer alteração desde a 
ocorrência do fato ou, ao menos, desde o comparecimento do policial militar; 
 
Local Inidôneo, Violado, Alterado ou Desfeito: É aquele que foi alterado, isto é, que 
sofreu qualquer alteração após a ocorrência do fato ou depois que o policial militar tomou 
conhecimento do mesmo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Isolamento e Preservação 
 
No Brasil ainda não há uma cultura adequada de preservação, tanto por parte da população 
em geral, o que é menos grave, como pelos órgãos de segurança pública. 
 
Os objetivos dos órgãos policiais são: 
 
 Para a polícia militar, evitar que o crime ocorra, ou seja, manter a ordem através do 
policiamento ostensivo; 
 No caso da polícia civil (judiciária), buscar a solução para o crime ocorrido através do 
processo investigativo e subsidiar o poder judiciário com material probatório para que o 
processo judicial tenha fundamentação suficiente para seu desenvolvimento. 
 
É no local do crime que as funções se encontram. Na maioria das vezes, o primeiro agente do 
Estado a chegar à cena onde ocorreu o crime é um policial militar responsável pelo 
policiamento ostensivo da área. 
 
Seu trabalho de preservação irá influenciar diretamente na solução do crime, garantindo a 
preservação da cena do crime e possibilitando um trabalho pericial criminal preciso que 
proporcionará uma boa investigação a ser realizada pela Polícia Civil. Não preservar o local do 
crime diminui em muito as chances de elucidação do delito, com a consequente identificação 
dos responsáveis. 
 
Há primeiramente que diferenciar-se isolamento de preservação: 
 
Isolamento do Local: É o ato de limitar. No caso do local de crime, o primeiro agente do 
Estado que tiver acesso à área deverá impedir que qualquer pessoa adentre nele, até a 
chegada dos peritos. Isolando o local de evento, principalmente a área imediata e suas vias de 
acesso, impedindo o ingresso e permanência de parentes, curiosos, jornalistas ou quaisquer 
pessoas que não sejam habilitadas. 
 
Preservação do Local: Consiste, estando o local devidamente isolado, em manter intactos

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