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Teologia Bíblica da Missão

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Abril/ 2019
Professor: Dr. Jorge Henrique Barro
Coordenadoria de Ensino a Distância: Dr. Marcos Orison Nunes de Almeida
Projeto Gráfico e Capa: Departamento de desenvolvimento institucional
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por:
Rua: Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR
86055-670 Tel.: (43) 3371.0200
3Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
SUMÁRIO
Teologia Bíblica da Missão
Unidade 1 - Defi nições e contextos da missão
1. O que é missão...................................................................................................05
2. Defi nição de termos relacionados a missão.....................................................13
3. Os contextos da missão......................................................................................18
Unidade 2 - Bíblia, teologia e missão - Parte I
1. A Bíblia como a base da missão......................................................................37
2. As dimensões da missão...................................................................................45
3. Missão centrípeta e centrífuga..........................................................................55
Unidade 3 - Bíblia, teologia e missão - Parte II
1. A missão no Antigo Testamento........................................................................64
2. A missão no Novo Testamento..........................................................................77
Unidade 4 - A prática da missão
1. A igreja misssional............................................................................................92
2. O Reino de Deus e a sua justiça.......................................................................102
Para assistir os vídeos, ouvir os podcasts e fazer os exercícios,
acesse o AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem)
Atenção! Lembre-se que faz parte de suas obrigações:
1 - Participação na disciplina por meio da realização dos exercícios;
2 - Exercício integrativo - Resumo da disciplina, 1500 palavras;
3 - 2 Provas objetivas (5 questões cada);
4- Leitura de textos complementares (100 páginas);
Consulte o “Programa de curso” e veja mais detalhes!
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA4
5Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
UNIDADE I - INTRODUÇÃO A MISSÃO INTRODUÇÕES E 
CONTEXTOS DA MISSÃO
Introdução
Nesta unidade refl etiremos sobre os desafi os e contextos da missão 
hoje. Podemos classifi car os desafi os em duas categorias: ad intra e 
ad extra. Ad intra são os desafios internos da própria igreja e, por ad 
extra, os desafi os externos que o mundo (país, cidade, sociedade, bairro, 
comunidade etc) lança sobre a igreja.
Por mais incrível que possa parecer, o maior desafi o para a missão é a 
própria igreja. Assim como Israel, como povo eleito de Deus, não entendeu 
o projeto de Deus e teve difi culdades para ser um instrumento dele, a ponto 
de precisar ser levado ao cativeiro babilônico por um período de 70 anos, 
também as igrejas nem sempre entendem o que é a missão de Deus.
Por isso, antes de falarmos dos desafi os externos e dos contextos da missão, 
olhemos esse desafi o interno (ad intra) para discernir o que não é missão.
1. O que não é missão
Já são mais de dois mil anos de história do movimento cristão ou do 
cristianismo. Dois mil anos através dos quais compartilhou-se a mesma 
fé, no mesmo Cristo ressurreto, por meio de pessoas que fazem parte da 
mesma igreja, o grande Corpo de Cristo – visível e invisível – espalhado por 
toda a terra, mas que são diferentes, que vivem em épocas diferentes, que 
habitam em lugares diferentes, com formas de pensar, de sentir, de julgar 
que também são diferentes. Imagine todas essas pessoas pensando sobre 
temas bíblicos e extra bíblicos e com suas percepções culturais distintas.
Por exemplo, o próprio Cristo, em quem todos nós, como cristãos, cremos, 
não é entendido sem controvérsias – a dupla natureza, humana e divina, 
é um dos exemplos. A Bíblia é muito clara ao falar das ações que ele fez 
e ensinou. A Bíblia pode até ser clara, mas nós, que a lemos com nossos 
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA6
óculos culturais – cosmovisão – corremos o risco de não entender a 
total clareza com a qual ela fala. O que isso signifi ca? Signifi ca que nossa 
mente, mesmo sendo iluminada pelo Espirito, não é capaz de dar conta 
de modo integrativo de toda a revelação expressa na Palavra, isto é , não 
possuímos as chaves que nos conduzem à interpretação absoluta e 
única da Palavra de Deus. Assim, ainda que conheçamos a Cristo hoje, 
prosseguimos em conhecê -lo todos os dias. 
Isso pode ir um pouco contra o que você já aprendeu até hoje, mas não é , e 
vou tentar explicar o porquê . Pense comigo: se tudo passa, mas a Palavra 
de Deus nunca passará ; se ela é viva e efi caz e mais cortante que uma 
faca de dois gumes; se ela é lâmpada para nossos pés e luz para nossos 
caminhos; se é nosso prazer noite e dia, e tantas outras referências que 
sobre ela conhecemos por meio dela mesma, isso implica afi rmar que: 1) 
a Palavra de Deus é maior que as nossas palavras; 2) nossa capacidade 
de expressá –la está condicionada pelo nosso espaço e tempo, o que 
implica em dizer que temos nossos próprios condicionamentos culturais; 
3) por isso, ela se renova permanentemente à medida que mudamos 
Isso é apenas para que você comece a pensar sobre a questão. O que 
importa, agora, é refl etir sobre esse desafi o ad intra: o que é , afi nal de 
contas, missão? Como defi nir uma prática que tem quase cinco mil anos 
de história – começando em Gênesis – e que está desgastada por tantas 
controvérsias, nomenclaturas, termos, e pior, os modismos? Como 
podemos dizer o que é e o que não é missão, quando tantos biblistas, 
teólogos, missiólogos, pastores, missionários e agências missionárias 
fazem afi rmações tão diferentes, e às vezes até opostas, sobre a 
compreensão da missão?
Antes de prosseguir, é fundamental que você defi na o que compreende 
ser missão. Quando afi rmamos o que não é missão é nosso dever e 
responsabilidade fazer isso não em função do que achamos ou gostamos, 
mas sim à luz de referenciais que cremos e que estejam fi rmados na Palavra 
de Deus. Ou seja, se você afi rma que missão não é, signifi ca que você está 
convicto do que missão é. E qual é, então, sua defi nição de missão?
7Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
Exercício de reflexão - 01
Defi na com suas palavras o que é missão.
Acesse o AVA para fazer os exercícios e ver a reação!
1.1. Algumas percepções possíveis
Defi nir é estabelecer limites e delimitar, que busca indicar o verdadeiro 
sentido, a signifi cação precisa de algum assunto e/ou objeto de estudo. 
Há um risco a correr quando a tarefa se refere ao ato de defi nir. Foi 
precisamente pensando nisso que David Bosch disse que “a missão 
permanece indefi nível; ela nunca deveria ser encarcerada nos limites 
estreitos de nossas próprias predileções” (Bosch, 2002, p. 26). Em outras 
palavras, na tentativa de defi nir missão, corremos o risco de deixar 
algumas itens de fora e estes podem ser essencias. Um exemplo disso 
foi o derramar do Espírito Santo sobre os gentios na casa de Cornélio:
Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre 
todos os que ouviam a palavra. E os fi éis que eram da circuncisão, que 
vieram com Pedro, admiraram–se, porque também sobre os gentios 
foi derramado o dom do Espírito Santo; pois os ouviam falando em 
línguas e engrandecendo a Deus. Então, perguntou Pedro: Porventura, 
pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes 
que, assim como nós, receberam o Espírito Santo? E ordenou que 
fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Então, lhe pediram que 
permanecesse com eles por alguns dias (At 10:44–48).
Note a expressão “também sobre os gentios”, destacada no texto. Isso 
fi ca ainda mais evidente quando Pedro precisou dar explicações sobre 
tal fato, ou seja, de que já era do conhecimento dos apóstolos, e dos 
irmãos que estavam na Judéia, que também os gentios haviamrecebido 
a palavra de Deus, pois o próprio Pedro havia entrado na casa de homens 
incircuncisos e tinha comido com eles. O apóstolo fez uma longa 
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA8
justifi cativa do que aconteceu e ao fi m disse: “Pois, se Deus lhes concedeu 
o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, 
quem era eu para que pudesse resistir a Deus?” (At 11:17,18). Parece 
que está dizendo: “Que culpa tenho eu?” É nítido o conceito de missão 
por detrás de tudo isso! Os gentios estavam excluídos do amor de Deus, 
e um novo paradigma missional se erguia: “E, ouvindo eles estas coisas, 
apaziguaram-se e glorifi caram a Deus, dizendo: Logo, também aos 
gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida” (At 10:18). 
É o paradigma da inclusividade – “também aos gentios”. Então perceba 
como é possível incluir ou excluir à luz das nossas defi nições.
Cada vez que falamos o que a missão é, acabamos também falando 
uma série de frases sobre o que a missão não é. Excluir algum elemento 
essencial da missão pode produzir consequências trágicas na vida 
da igreja. É necessário mais do que cuidado; é necessário uma leitura 
missional de toda a Escritura.
Saiba mais
Você vai ouvir falar muito desse conceituado 
missiólogo chamado David Jacobus Bosch 
e, em particular, seu livro chamado Missão 
transformadora: mudanças de paradigma na 
teologia da missão. Sugerimos fortemente que 
você compre, pois lhe será muito útil em sua 
vida e ministério.
Nasceu em 13 de dezembro de 1929 e 
morreu 15 de abril de 1992 em um trágico acidente automobilístico, uma 
perda irreparável. Ele foi membro da Igreja Reformada Holandesa na 
África do Sul (NGK). No Dia da Liberdade, 27 de abril de 2013, ele recebeu 
postumamente a Ordem do Baobá do Presidente da África do Sul por sua 
luta altruísta pela igualdade e dedicação ao desenvolvimento da sociedade, 
e viveu os valores do não–racismo diante de sua própria cultura e igreja 
que dava suporte ao apartheid, palavra do idioma africânder que signifi ca 
9Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
separação. Esse foi o nome dado ao sistema político que esteve em vigor 
na África do Sul e que exigia a segregação racial da população negra, que 
vigorou entre 1948 e 1994, comandado pela minoria branca daquele país.
Juntamente com seu vasto conhecimento no campo dos estudos 
bíblicos, teologia, história da igreja e missiologia, David Bosch tinha a 
rara capacidade de destilar o discernimento e a sabedoria para atender 
às demandas do dia. Sua ampla simpatia por todos 
os que constituem a família cristã e seu dom de 
comunicação fi zeram dele um amigo confi ável e 
respeitado onde quer que fosse.
Foi um infl uente missiólogo, uma expressão 
contracultural, um profeta entre nós, e mesmo 
depois de sua morte, continua sendo um dos mais 
infl uentes e disseminadores da missiologia cristã
Vamos tomar alguns exemplos. Se entendemos que missão é a 
pregação do Evangelho em terras onde nunca se ouviu falar de Jesus 
– as chamadas missões transculturais – deixamos de fora, entre outras 
coisas, nossa própria cultura – missões nacionais ou culturais –, como 
também todas as outras nações que já foram evangelizadas. Além disso, 
deixamos de fora todas as ações que não são obrigatoriamente verbais, 
bem como não defi nimos quem é o seu agente. Aqui é evidente que se 
defi ne a missão como missões, no plural. Você já deve ter percebido 
como muitas igrejas focam mais em missões, especialmente pela 
enormidade de conferências e congressos que possuem primazia sobre 
os demais temais. Por exemplo, não se ouve com tanta frequência sobre 
congressos de diaconia, de educação cristã, etc.
Só que existe outro extremo nessa história. Se, por um lado, corremos o 
risco de fechar demais o nosso conceito de missão, também corremos o 
risco de exagerarmos em sua abertura. Daí, convém lembrar a conhecida 
frase do missiólogo Stephen Neil, que diz “quando tudo é missão, 
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA10
nada é missão”. Ou seja, quando banalizamos o conceito de missão e 
entendemos que qualquer coisa feita pela igreja é cumprimento da obra 
missionária, essa falta de intencionalidade e consciência missional leva a 
uma tendência muito comum: a missão passa a ser manutenção, ou seja, 
a igreja passa a lutar apenas para manter suas conquistas, voltando-se 
para si e não para fora – mantenha o ad intra versus o ad extra sempre em 
perspectiva. E aqui vive-se uma inversão de foco: monumento (templo) 
versus movimento. 
Tendo essa consciência e advertência bem diante de nós, precisamos buscar 
uma defi nição de missão que leve em consideração toda a Escritura porque 
somente ela “é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, 
para a correção, para a educação na justiça, a fi m de que o homem de Deus 
seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3:16-17). 
Mas antes disso, vamos discernir agora o que não é missão.
Em primeiro lugar, a missão não é da igreja, ela é de Deus! É muito comum 
falarmos a missão da igreja. Mas o certo mesmo é falarmos da missio 
Dei, cuja expressão signifi ca missão de Deus em latim. Esse termo será 
usado várias vezes, porque este é o que melhor expressa o conceito 
de missão. Afi rmar que a missão é de Deus não signifi ca que devemos 
desprezar a igreja ou que Deus realizará sua missão no mundo sozinho, 
sem a nossa participação. O que signifi ca é colocar a igreja no seu devido 
lugar. E que lugar é este? O apóstolo Paulo responde:
Deus, que criou todas as coisas, para que, pela igreja, a multiforme 
sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e 
potestades nos lugares celestiais, segundo o eterno propósito 
que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor, pelo qual temos 
ousadia e acesso com confi ança, mediante a fé nele (Ef 3:10-12). 
A igreja é um instrumento de Deus para a realização da sua missão no 
mundo. É pela igreja e não por causa da ou para a igreja. Note quão 
elucidadora é a preposição pela em grego:
11Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
δια (dia) é uma preposição primária que denota o canal de um ato: 
1) através de
1a) de lugar 1b) de tempo 1c) de meios
1a1) com 
1a2) 
em, 
para 
1b1) por 
tudo, do 
começo 
ao fi m 
1b2) 
durante
1c1) através, pelo
1c2) 
por 
meio 
de 
2) por causa de
2a) o motivo ou razão pela qual algo é ou não é feito 
2a1) por 
razão de 
2a2) por causa 
de 
2a3) por 
esta razão 
2a4) portanto, 
consequentemente
2a5) 
por este 
motivo.
A missão de Deus é instrumentalizada pela igreja. Ela é um canal, um 
meio pelo qual o próprio Deus usa para tornar conhecida sua multiforme 
sabedoria diante dos principados e potestades nos lugares celestiais, 
segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus. Vamos 
refl etir tudo isso mais à frente, especialmente esse fato de ela ser um 
instrumento, mas por hora é fundamental estabelecer a compreensão de 
que a missão não é da igreja, mas de Deus que por ela é servido.
Em segundo lugar, o conteúdo da missão não é a doutrina da igreja ou 
da denominação, mas sim o Evangelho do reino de Deus. O conteúdo da 
missão é toda a Escritura centralizada no reino de Deus, personifi cada e 
modelada na pessoa de Jesus de Nazaré, em suas palavras (pregação) 
e obras (manifestação), e realizada no poder do Espírito Santo. É do reino 
que a missão trata, e este reino que Jesus veio inaugurar em nossa história.
Nos ensinamentos de Jesus, o Reino de Deus compreende todos 
os anseios e os gritos de angústia do povo de Israel. Responde à 
mensagem fundamental do Antigo Testamento e revela o propósito, 
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA12
o caráter e o poder do futuro domínio de Deus. Convida o povo a 
responder com obediência radical. A proclamação do Reino é sempre 
acompanhada por um chamado à decisão, para seguir Jesus, para 
participar da missão de Deus. Para Jesus, a vinda do Reino é o domínio 
transformador de um Deus compassivo” (Castro, 1986, p. 67).
O próprio Jesus deixa claro queo Evangelho do reino de Deus é o 
conteúdo da missão: “Ele, porém, lhes disse: É necessário que eu anuncie 
o evangelho do reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é 
que fui enviado. E pregava nas sinagogas da Judéia” (Lc 4:42-43).
Em terceiro lugar, o lócus da missão não é a igreja, mas o mundo. O 
campo da missão é o mundo. Jesus disse: “Não dizeis vós que ainda há 
quatro meses até à ceifa? Eu, porém, vos digo: erguei os olhos e vede os 
campos, pois já branquejam para a ceifa” (Jo 4:35). Os campos estão 
preparados para a colheita. É nesse mundo que a missão se realiza. E 
é por amor ao mundo que ela existe. Como a igreja é parte do mundo, 
pode-se também acrescentar, como afi rma Andrew Kirk, “que a missão 
de Deus é cumprida tanto no mundo quanto na igreja; num grau menor 
na história que não foi tocada pelo Evangelho, e num grau maior onde o 
Evangelho é crido e obedecido” (Kirk, 2006, p. 58).
Jamais podemos esquecer que Jesus foi enviado “porque Deus amou o 
mundo” (Jo 3:16). O mundo é objeto do amor de Deus e a igreja, como um 
instrumento de Deus, existe por amor ao mundo. 
René Padilla disse:
De acordo com o que foi dito, qual é o papel da igreja local em 
relação à missão? Lembrando as palavras de McLaren: ‘Equipar e 
mobilizar homens e mulheres para a missão de Deus no mundo’ – 
não exclusivamente no ‘templo’, que pode ou não existir, mas sim 
em todos os campos de ação humana: em casa, na empresa, no 
hospital, na universidade, no escritório, na ofi cina... Enfi m, em todo 
lugar, já que não há lugar que esteja fora da soberania de Jesus 
Cristo” (Padilla, 2009, p. 19). 
13Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
Resumindo: A missão é Deus e não da igreja; o conteúdo da missão é o 
Evangelho do reino de Deus e não a doutrina da igreja/denominação; e o 
lócus da missão é o mundo e não somente a igreja.
Exercício de fi xação - 02
Qual é o risco em defi nir missão como “pregar o Evangelho aos 
povos não alcançados”?
a) deixar de lado as nações que já foram evangelizadas e não dar 
atenção às ações não verbais da igreja.
b) priorizar estudos bíblicos missionais.
c) compreender que o conceito de missão e de missões são diferentes.
Acesse o AVA para fazer os exercícios e ver a reação do professor!
2. Defi nição de termos relacionados à missão
Para prosseguir, creio ser importante mencionar uma diferença que, às vezes, 
as pessoas não percebem na igreja: missão é diferente de missões. Estamos 
mais ou menos acostumados a falar sobre missões na igreja. Vemos e ouvimos 
os testemunhos de missionários, os dados estatísticos sobre a evangelização 
mundial, sobre os povos não alcançados, a chamada Janela 10/40, as 
campanhas fi nanceiras para missões, os departamentos de missões na igreja 
e assim por diante. Isso tudo diz respeito a missões, diante de uma imensa 
tarefa inacabada, cuja responsabilidade pesa sobre os ombros da igreja. Nada 
disso deve deixar de existir ou de ser incentivado na igreja. Todavia, a missão, 
no singular, da igreja, como ainda veremos na unidade seguinte, é maior e 
mais ampla. Também tem a ver com o testemunho e serviço do reino em 
nossa sociedade, com a edifi cação da nossa comunidade, com a celebração e 
adoração ao nosso Deus, que por sua vez é mais do que momentos íntimos ou 
comunitários de contemplação, com o ensino responsável de todo conselho 
de Deus expresso nas Escrituras, entre outros. 
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA14
Missões, portanto, é uma parte importantíssima, mas não o todo, da 
missão da igreja. É muito esclarecedora a análise de Chris Wright (2014), 
na introdução de seu livro A Missão de Deus, sobre alguns termos que 
serão recorrentes nesta disciplina.
a. Missão e Missões
Missão não está relacionada apenas com missões, pois é mais do que a 
descrição de esforços e atividades missionárias de envio e sustento de 
pessoas que vão, para pregar transculturalmente o Evangelho aos pagãos, 
aos lugares não alcançados. David Bosch ilustra bem essa ideia quando 
observa que o signifi cado de missão, entre a maioria dos cristãos do 
ocidente até os anos 1950, foi parafraseado como: “a) propagação da fé; 
b) expansão do reinado de Deus; c) conversão dos pagãos; e d) fundação 
de novas igrejas”. Assim, segundo ele, “o termo ‘missão’ pressupõe 
alguém que envia, uma pessoa ou pessoas enviadas por quem envia, as 
pessoas para as quais alguém é enviado e uma incumbência” (Bosch, 
2002, p. 17). 
Wright, por sua vez, demonstra certa insatisfação com abordagens sobre 
a missão que reduzem sua defi nição por meio da menção à raiz latina da 
palavra, mitto, que literalmente signifi ca envio. Com isso, ele não pretende 
negligenciar a importância desse sentido, mas chamar a atenção ao 
fato de que se defi nimos missão somente nesses termos, excluímos 
necessariamente de nosso inventário de recursos relevantes muitos 
outros aspectos do ensinamento bíblico que, direta ou indiretamente, 
afetam nossa compreensão da missão de Deus e de nossa participação 
nela. Assim, para esse autor, missão tem a ver com a nossa participação 
comprometida como povo de Deus, pelo chamado e comando de Deus, 
em sua missão (missio Dei) no meio da história do mundo em prol da 
redenção de sua criação (Wright, 2006, p. 23). Em suma, missão tem a ver 
com a natureza e identidade, sendo a razão da igreja existir; missões tem 
a ver com uma das responsabilidades da igreja que é a de levar – pregar, 
proclamar – o Evangelho a outras culturas do mundo, assim chamada de 
missão transcultural.
15Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
b. Missionário
Esse termo designa a pessoa que se engaja em missões, normalmente 
em outra cultura que não a sua. É uma atividade que implica em cruzar 
barreiras. Missionários são tipicamente aqueles enviados por suas igrejas 
ou agências missionárias. Wright também alerta que esse conceito 
carrega consigo a ideia de missão como envio ou missões, como 
também evoca a imagem de cristãos, ocidentais e brancos, expatriados 
para países distantes. Além disso, evoca o risco de se entender que 
missionários são apenas os profi ssionais. No entanto, o povo de Deus, 
cada novo nascido, possui uma vocação comum sendo ele também um 
missionário. Wright prefere descrevê -los como parceiros de missão. 
Afi nal de contas, missionários são mais do que pessoas enviadas para 
uma tarefa específi ca fora de sua cultura; são pessoas que, por serem 
cristãs, são chamadas a viver o Evangelho de modo digno do intento 
divino de reconciliação do mundo consigo mesmo, inclusive onde estão. 
Amplia-se, portanto, a ideia de missionário e de campo missionário, uma 
vez que, como observa Brian McLaren (2007, p. 121), “todo cristão é um 
missionário e todo lugar é um campo missionário”.
Isso não signifi ca afi rmar que não se deve ter missionários sustentados 
por igreja e agências missionárias para contextos e situações específi cas, 
que requer inclusive competências e habilidades específi cas. Por 
exemplo, pessoas que vão às outras culturas onde não existem bíblias 
traduzidas em suas línguas nativas.
c. Missional
Esse é um adjetivo relativamente recente que denota alguma coisa que 
está relacionada com ou é caracterizada pela missão. Indica algum 
substantivo que carrega qualidades, atributos ou dinâmicas da missão. 
Uma igreja missional, por exemplo, é uma igreja que explora em sua razão 
de ser, sua natureza, atributos ou qualidades que estão voltados para 
a missão de Deus, que entende que foi chamada para uma missão no 
mundo, e que Jesus não veio criar uma religião exclusivista apenas para 
salvos, mas que ama o mundo e deseja sua completa e total reconciliação, 
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA16
restauração e redenção. Assim, exemplos de uma comunidade missional 
podem ser percebidos ou não na visão por ela expressa, como por 
exemplo: “ser uma igreja de Deus de modo autêntico e para o mundo”. 
Essa frase revela, nas palavras de McLaren, uma equação missional.
d. Missiologia e Missiológico
Missiologia é o estudoda intersecção entre o Evangelho, a cultura e a 
igreja. Tal estudo é multidisciplinar porque incorpora outras áreas do 
saber, tais como Teologia, Antropologia, Sociologia, História, Línguas, 
entre outras. Por causa dessa complexidade, a missiologia constitui sua 
própria disciplina ou área de saber. Sendo uma disciplina acadêmica, toda 
missiologia é teológica e toda teologia é missiológica e ambas possuem 
implicações pastorais. Por isso falamos de teologia bíblica da missão, 
singular e não plural.
Muito provavelmente você já deve ter visto como título de palestra ou até 
mesmo um curso inteiro chamado de Bases Bíblicas da Missão. Podemos 
dizer, que existe alguma inconsistência nessa ideia, pois, a Bíblia toda é a 
base da missão. Elencar versículos isolados, como até mesmo os textos 
da chamada Grande Comissão e afirmar que estes, e também Atos 1:8, 
são as bases bíblicas da missão, é outro risco. Podemos estar fazendo 
uma colcha de retalhos da Bíblia e dar prioridade e preferências para 
determinados textos em função de outros. Uma das consequências é 
que não se sabe o que fazer com os textos poéticos como Provérbios, 
Cantares, Salmos, Jó. Qual o lugar, por exemplo, de Cantares na missão 
de Deus? Portanto, não devemos falar de bases bíblicas da missão, mas 
sim a Bíblia como a base da missão. Afi nal, “toda a Escritura é inspirada 
por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para 
a educação na justiça, a fi m de que o homem de Deus seja perfeito e 
perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3:16-17). A Bíblia , 
“toda a Escritura”, é o tratado missional de Deus.
Um missiólogo, ou missiologista, deve pensar a missão de uma 
maneira bíblica e integral, porque busca compreender os propósitos do 
Deus Criador visando uma perspectiva mais profunda dos anseios de 
17Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
homens e mulheres como seres criados à sua imagem. A missiologia 
é a teologia prática. Sendo a missiologia o estudo bíblico teológico da 
missão, ela é uma disciplina que, em suas elaborações e rigores, procura, 
segundo Bosch (2002, p. 26), “olhar o mundo a partir da perspectiva do 
compromisso com a fé́ cristã ”, e por outro lado discernir como o mundo 
infl uencia a fé cristã. Este é um processo hermenêutico: a infl uência na 
comunidade de fé e, por sua vez, a comunidade de fé é chamada para 
infl uenciar o mundo por meio dos valores bíblicos. Para isso, cruza as 
barreiras entre o mundo da fé e não-fé. De acordo com Chris Wright (2006, 
p. 25), o termo missiológico deve ser usado toda vez que tal aspecto 
bíblico teológico ou refl exivo estiver implicado. Sobre isso, van Engen 
(2007, p. 3) diz que “a missiologia é um todo unifi cado; é uma disciplina 
em si, centrada em Jesus e em sua missão. Como a igreja participa da 
missão de Jesus Cristo, ela participa da missão de Deus no mundo de 
Deus, por meio do poder do Espírito Santo”.
Esse breve aporte aos usos e designações desses conceitos será de 
extrema importância para o restante desse curso, pois, desde já, você 
tem ferramentas para identifi car o que efetivamente está se dizendo 
quando se aplica tais termos ao estudo da teologia bíblica de missão.
Acesse o AVA para assistir o vídeo: Teologia Bíblica da Missão 
com o profº Antônio Carlos Barro.
Exercício de aplicação - 03
A partir dos conceitos de missão, missões e missionário acima, 
pense na realidade da sua igreja. Qual é a importância de relacionar 
os conceitos com sua a realidade, no sentido missional? Cite 
exemplos.
Acesse o AVA para fazer os exercícios e ver a reação do professor!
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA18
3. O contexto da missão: uma perspectiva urbana
A missão de Deus, realizada por meio do seu povo, sempre será exercida 
e desenvolvida em contextos específi cos que possuem suas demandas 
e desafi os específi cos. Estudar tais contextos e desafi os é uma tarefa 
imprescindível que deve ser levada a sério visando a efi cácia da missão. 
É conhecida a frase, atribuída ao teólogo suíço Karl Barth (1886–1969), 
que disse: “É preciso segurar numa mão a Bíblia e na outra o jornal”. Com 
isso quis dizer que jamais devemos negligenciar o estudo das questões 
contextuais contemporâneas sempre em diálogo com a Palavra de 
Deus. Qual o risco de não se fazer isso? O risco é o de uma mensagem 
descontextualizada. Por isso a contextualização se tornou um tema 
indispensável no estudo da Missiologia. Isso se aplica à interpretação 
das Escrituras: um bom missiólogo não despreza o fato de que o texto 
tem seu contexto, tanto do autor original quanto em sua comunicação ao 
leitor atual.
Muitos são os contextos da missão: urbano, rural, indígena, ribeirinhos, 
transculturais, ciganos, etc. Para o nosso exercício momentâneo de 
refl exão missiológica, focalizaremos aqui – não por preferência, mas 
urgência – o contexto urbano brasileiro.
Quando falamos e refl etimos sobre a missão, seguramente temos que 
considerar o “onde” da mesma, e isso chamamos de contexto. Ignorar o 
contexto da missão é ignorar sua possibilidade de pertinência e relevância. 
Precisamos relembrar constantemente que Jesus era conhecido como 
“Jesus de Nazaré” (Lc 4:34; 18:37; 24:19) e que “Pilatos mandou preparar 
uma placa e pregá-la na cruz, com a seguinte inscrição: “Jesus Nazareno, 
o rei dos Judeus” (Jo 19:19).
19Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
3.1. O contexto urbano brasileiro
O Brasil hoje é majoritariamente urbano. Os números demonstram que:
Saiba mais
No ano de 1900, 
15% da população Brasileira vivia em cidades. 
No ano de 1950, passou para 28%.
No ano de 1975, passou para 41%.
A projeção para o ano 2000 era de 55% da população, e foi 83%.
Esse gráfi co demonstra que 16% refere–se à população rural e 84% 
a urbana.
É comum aceitar que o processo da aceleração da urbanização brasileira 
se deu a partir de 1950. “A urbanização brasileira, só começou a ocorrer 
no momento em que a indústria tornou-se o setor mais importante da 
economia nacional. Assim, representa um dos aspectos da passagem 
de uma economia agrário-exportadora para uma economia urbano-
industrial, fato que só ocorreu no século XX e intensifi cou-se a partir de 
1950”1.
Surge assim o processo de metropolização, que trata da concentração 
demográfi ca nas principais áreas metropolitanas do país. A tabela a 
1 Metropolização e problemas sociais urbanos. Extraído de <http://www.algosobre.
com.br/geografi a/metropolizacao–e–problemas–sociais–urbanos.html>. Acessado em 
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA20
seguir traz os dados da população brasileira colhidos nos Censos do 
IBGE de 2000 e 2010:
Total Rural Urbana Masculino Feminino
2000 169.799.170 31.845.211 137.953.993 83.576.015 86.223.155
2010 190.732.694 29.852.986 160.879.708 93.390.532 97.342.162
+20.933.524 –1.999.225 +22.925.715 +9.814.517 +11.119.007
Comparando os números, destaca-se o aumento de mais de 20 milhões 
no total da população, cerca de 2 milhões por ano nesses últimos 10 
anos. Vemos também a diminuição de quase 2 milhões de habitantes 
nas áreas rurais.
Os dados do gráfi co abaixo demonstram a população urbana versus a 
rural em todos os Estados do Brasil. Perceba que o Brasil é 84% urbano2.
Os três estados mais urbanos do Brasil são: Distrito Federal (96,62%), Rio 
17 MAI 2011, 17h11.
2 IBGE – Censo 2010 – www.ibge.org.br
21Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
de Janeiro (96,71%) e São Paulo (95,88%). Os três estados mais rurais 
são: Maranhão (36,93%), Piauí (34,23%) e Pará (31,51%). A conclusão é 
clara: os mais urbanizados estão no eixo sul-sudeste e os mais rurais no 
eixo norte-nordeste. 
O fenômeno chamado urbanização tem trazido muitas consequências 
para as cidades e seus habitantes. Para muitos as cidades são símbolos 
negativos da vivência humana.
3.2. Cidade: símbolo de caos, desordem social e 
artifi cialidade
Para a maioria das pessoas, a cidade não passa de um espaço geográfi co 
para se viver. Este espaço, muitas vezes hiperlotado, é sinônimo ou 
símbolo de anarquia,de caos, de desordem social e de vida artifi cial. 
Existem pelo menos quatro atitudes carregadas de sentimentos e ações 
como consequências desta visão negativa e situação: 
a) Despersonalização
O sentimento de que na cidade as pessoas não passam de um número, 
de um dado estatístico.
b) Medo com ansiedade
Na cidade as pessoas morrem de medo e vivem apavoradas. Têm medo de 
roubos, assaltos, delinquências, trânsito, risco de desemprego, não conseguir 
uma vaga para o fi lho estudar, morrer na fi la do SUS, não ter comida, ser 
despejado da casa. As pessoas vivem debaixo de pressão o tempo todo.
c) Intimidação
São tantos os problemas e, na maioria das vezes, maiores do que a 
nossa capacidade de resolver que fi camos intimidados, acuados, e 
quase nada conseguimos fazer. Sentimos que não temos capacidade 
de resolver os problemas da violência urbana ou dos desafi os que 
existem em uma favela, etc.
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA22
d) Individualização
Muitos dizem e praticam o “cada um por si e Deus por todos”. A 
individualização é uma proposta da secularização: a religião sem igreja. 
Quantas pessoas dizem: “eu não vou à igreja, mas leio a Bíblia, rezo, oro, 
sou muito ligado a Deus”. Pessoas que beiram o sincretismo religioso, 
que procuram mostrar que todas as religiões são boas são pessoas que 
vivem uma religião individual, ao estilo selfservice.
e) Insensibilidade
O volume dos problemas sociais, o aumento da pobreza urbana que 
vai encurralando as pessoas para os morros e periferias da cidade, 
a crescente população de mendigos, indigentes, usuários de drogas, 
pedintes, crianças nas ruas que vão se tornando parte da geografi a e do 
cotidiano das pessoas que já não mais sofrem ou têm compaixão. São 
tantas mazelas que provocam a perda de sensibilidade e de humanidade.
f) Impotência
A impotência é o sentimento ou a sensação de incapacidade diante da 
imensidão dos desafi os e problemas. As pessoas passam a se justifi car 
alegando não conseguirem cuidar de seus pórpios problemas quanto 
mais os dos outros.
g) Indiferença
A insensibilidade gera a indiferença. Indiferença é o estado de não se 
importar que leva a pessoa à apatia. Neste sentido, a parábola do Bom 
Samaritano é muito familiar para nós.
Ninguém sai desses estados e sentimentos intrapsíquicos com 
pensamento positivo. Apenas a Palavra de Deus é poderosa, pela força 
do Espírito, de nos tirar dessa letargia e nos mover para ações concretas 
transformadoras. Quantos não foram as situações de pavor e medo que 
o povo de Deus se encontrava e receberam a palavra de encorajamento: 
não temam.
23Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
Estamos refl etindo esse tema da questão urbana pelo fato de que o 
principal locus atual, mas não único, da missão é o contexto urbano. 
Muito me encanta a citação de João Batista Libânio, que disse:
“Aí estão os dados estatísticos. O Brasil já caminha para uma população 
79 por cento urbana. A igreja rural tende a desaparecer. É verdade que 
os arquétipos rurais, o imaginário agrário acompanham ainda muitas 
pessoas da primeira geração que migrou para as cidades. Pouco a pouco, 
os nascidos do mundo urbano criam novo horizonte de pensar e de agir. 
A teologia e a pastoral não podem desconhecer tais mudanças. Desafi a–
nos construir uma matriz teológica urbana que responda a perguntas 
diferentes. O Cristianismo em seus primórdios proliferou antes em áreas 
urbanas. Tem uma conaturalidade com esse mundo. Sua ruralização veio 
depois. E impregnou–o de tal que hoje nos parece difícil pensa–lo fora 
desse paradigma. A teologia da cidade continua ainda mais um desejo 
que uma realidade, mais um programa que uma realização, mais uma 
proposta que um fato. Tem sido mais trabalhada pela pastoral e menos 
pela sistemática. Talvez porque não aparece claramente sua identidade. 
A cidade atual e a moderna confundem–se em muitos aspectos. 
Modernização – a modernidade tecnológica – e urbanização massiva 
caminham juntas” (Libânio, 2012, p. 13). 
A cidade se constitui um dos principais objetos de estudo hoje para a 
concretude e realização da missão e ministérios. Não basta colocar uma 
igreja em um bairro, abrir suas portas, e esperar que o povo venha. É 
necessário estudar profundamente a geografi a, onde a igreja e ministério 
estão inseridos.
No desenvolvimento da Teologia Bíblica de Missão perceba que ela, 
teologia, é um ato segundo – uma perspectiva muito defendida pelo 
teólogo Gustavo Gutiérrez (FONTENELE, 2016). O ato primeiro é do próprio 
Deus que age e intervém na história da humanidade. É, portanto, a partir 
do agir de Deus – a misso Dei – no mundo que tudo o que fazemos se 
torna uma resposta a esse agir. Entendida desta forma, a teologia jamais 
será um fi m em si mesma, mas antes um instrumento. Não se estuda 
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA24
teologia com a fi nalidade de se tornar um erudito ou obter um título. A 
educação teológica é um instrumento que visa capacitar as pessoas para 
a missio Dei. Só existe teologia porque existe a missão. Sem missão não 
há necessidade de teologia, como também, a necessidade da igreja.
Exercício de aplicação - 04
Quais são as principais consequências da urbanização que você 
percebe em sua cidade (positivas e negativas)?
Acesse o AVA para fazer os exercícios e ver a reação do professor!
3.3. Sem necessidade não há missão
Isso fi ca muito claro na compreensão que o próprio Jesus tem sobre o 
motivo de ter sido enviado pelo Pai ao mundo. Jesus, como agente de 
Deus e de sua missão, tem plena consciência de que fora enviado. Foi 
enviado para suprir as necessidades das pessoas:
“Sendo dia, saiu e foi para um lugar deserto; as multidões o 
procuravam, e foram até junto dele, e instavam para que não os 
deixasse. Ele porém lhes disse: É necessário que eu anuncie o 
evangelho do Reino de Deus também às outras cidades, pois para 
isso é que fui enviado. E pregava...” (Lc 4:43-44).
O dia nem quase havia rompido e um bando de gente já estava atrás 
de Jesus: “as multidões o procuravam” (Lc 4:42). E tendo-o achado, 
“insistiram que não as deixasse”. A resposta de Jesus a essa multidão é 
o texto de Lucas 4:43. O apelo da multidão pode ser um símbolo ou uma 
representação de um dos grandes desafi os que se percebe na igreja hoje 
ou que tem perpassado a sua história. O que notamos é a tendência 
25Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
ad intra em sobreposição ao ad extra, ou seja, a tentação de privatizar 
aquele que é de todos.
Essa mesma tentação é percebida no episódio do Monte da Transfi guração. 
Sabemos que a fé se alimenta no relacionamento particular com Jesus: 
“tomou Jesus consigo a Pedro e aos irmãos Tiago e João e os levou, 
em particular, a um alto monte” (Mt 17:1). Esse é o aspecto do secreto: 
“Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, 
orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te 
recompensará” (Mt 6:6). Pedro deseja que esse momento especial seja o 
centro da sua relação com o mestre: “Então, disse Pedro a Jesus: Senhor, 
bom é estarmos aqui; se queres, farei aqui três tendas; uma será tua, 
outra para Moisés, outra para Elias” (Mt 17:4). No enanto, o locus da sua 
manifestação está no público. Tão logo desceram do monte, no espaço 
público, surge uma situação de possessão demoníaca:
“E, quando chegaram para junto da multidão, aproximou-se dele 
um homem, que se ajoelhou e disse: Senhor, compadece-te de 
meu fi lho, porque é lunático e sofre muito; pois muitas vezes cai no 
fogo e outras muitas, na água. Apresentei-o a teus discípulos, mas 
eles não puderam curá-lo. Jesus exclamou: Ó geração incrédula e 
perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? 
Trazei-me aqui o menino. E Jesus repreendeu o demônio, e este 
saiu do menino; e, desde aquela hora, fi cou o menino curado” (Mt 
17:14-18).
De certa forma, podemos afi rmar que é no público que a missão 
acontece, mas é no privado que a fé é nutrida. A multidão queria reter 
Jesus para ela, queriaque Jesus fosse seu refém, de suas necessidades, 
sem perceber as necessidades das outras pessoas que ali não gozavam 
do mesmo privilégio. Assim, a resposta de Jesus está encharcada de 
teologia bíblica da missão. Olhemos com mais cuidado essa resposta de 
Jesus que revela os seguintes elementos da missão:
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA26
a) A importância: “é necessário”
A principal visão que precisamos ter e desenvolver é esta: “Porque 
Deus amou a cidade”. A cidade é alvo do amor de Deus. Deus amou 
tanto as pessoas e suas cidades que enviou seu único Filho para que 
elas encontrassem esperança. E Jesus compreende esse amor do Pai e 
engaja-se em sua missão nos centros urbanos. Se a multidão vê Jesus 
como uma oportunidade para o isolamento, numa atitude de egoísmo e 
desprezo para com os que estão de fora, Jesus olha a necessidade dos 
outros de forma inclusiva. “O egoísmo não é amor por nós próprios, mas 
uma desvairada paixão por nós próprios” (Aristóteles). Jesus entende 
e vê a vida humana por meio da necessidade. A multidão não vê a 
necessidade do outro, apenas a dela. Jesus, além de ver, se percebe como 
o agente de Deus para a cidade. Da mesma forma que o apóstolo João 
nos informa: “E era-lhe necessário atravessar a província de Samaria” (Jo 
4:4). Jesus ainda disse: “Estai vós de sobreaviso, porque vos entregarão 
aos tribunais e às sinagogas; sereis açoitados, e vos farão comparecer 
à presença de governadores e reis, por minha causa, para lhes servir de 
testemunho. Mas é necessário que primeiro o evangelho seja pregado 
a todas as nações” (Mc 13:9-10). “É necessário que façamos as obras 
daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém 
pode trabalhar” (Jo 9:4), disse Jesus em seu senso de que a necessidade 
está diante de nós, seus discípulos.
O que justifi ca a missão? A necessidade. Entender isso é fundamental 
para justifi car a presença da igreja e dos cristãos em uma determinada 
cidade. Deixar de se envolver e de se perceber como um instrumento 
de Deus para suprir as necessidades das pessoas é deixar de realizar a 
missão de Deus. E, normalmente, as necessidades vêm carregadas de 
problemas, difi culdades, crises, dores, e tantas outras coisas. Jesus é 
a resposta de Deus para as necessidades do mundo. Se os discípulos 
de Jesus e sua igreja se recusarem a abençoar as pessoas em suas 
necessidades, nada mais resta, se não, ser “pisado pelos homens” (Mt 
5:13). Devemos, portanto, por mais difícil que seja, ver as necessidades 
27Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
das pessoas como oportunidades missionais. E nos dias de hoje, diante 
de tantas necessidades e problemas, a porta está escancarada para 
realizarmos a missão de Deus. Suprir as necessidades não é sinônimo 
de fazer os caprichos das pessoas e nem mesmo fazer por elas. Fazer 
por elas ou no lugar delas é gerar dependência e paternalismo. Nosso 
desafi o é fazer com elas.
O que justifi ca a missão é a necessidade. Se não houver necessidade 
(espiritual, material, emocional etc), não há necessidade da missão.
b) O agente: “que eu”
Só existe missão porque existem necessidades. Missão é sempre 
resposta à necessidade. Quem age primeiro é Deus. Mas se há 
necessidade, alguém precisa supri-la. Jesus se coloca como o agente de 
Deus: “é necessário que eu”. Existem dois tipos de cristãos: os que não 
percebem a necessidade dos outros — neste caso aqui representados 
por essas multidões — e os que percebem a necessidade dos outros — 
representados por Jesus. Ou imitaremos as multidões ou imitaremos 
Jesus. A igreja só é missional quando todas as pessoas que dela 
participam se percebem como agentes da missão. Cada discípulo é 
um agente da missão de Deus no mundo, e isso, onde estiver. É esse eu 
missional, esse “Cristo em vós, a esperança da glória” (Cl 1:27). Se cada 
discípulo não tiver a consciência — “é necessário que eu” — a missão 
trunca, paralisa e se torna dependente dos pastores e missionários 
profi ssionais. Cada pastor tem a responsabilidade de conscientizar, 
educar e capacitar cada pessoa para que ela diga: “eu um missionário(a)”. 
E a missão acontece majoritariamente no ad extra, nessa geografi a da 
Parábola da Grande Ceia: “sai depressa para as ruas e becos da cidade” 
(Lc 14:21) e “sai pelos caminhos e atalhos” (Lc 14:23). Nenhuma geografi a 
pode escapar ou fi car de fora da esfera do agente missional: ruas, becos 
da cidade, caminhos e atalhos. A direção é que este agente missional 
saia e depressa, porque “ainda há lugar” e “para que fi que cheia a minha 
casa” (Lc 14:23).
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA28
c) O método: “anuncie”
“É necessário que eu anuncie”. Esse “anuncie”, em algumas versões 
“pregue”, em grego, é ε�αγγελίσασθαί (euangelisasthai). Esse anúncio 
não pode ser interpretado como sendo apenas palavras. Ao estudar 
os relatos de Lucas sobre o ministério urbano de Jesus e da igreja 
primitiva fi camos perplexos ao vê-lo em ação: “Jesus começou a fazer e 
a ensinar” (At 1:1). Ele é “poderoso em obras e palavras, diante de Deus 
e de todo o povo” (Lc 24:19). Seu anúncio é integral: obra e palavras em 
Jesus são inseparáveis. A transformação da cidade acontece por meio 
da manifestação concreta do amor de Deus e poder transformador do 
Evangelho. O Evangelho é o próprio Jesus. Ele é a boa notícia manifestada 
em atitudes e em palavras. Quando agimos em nome de Jesus estamos 
pregando por meio do nosso testemunho de vida imitando-o. Quando 
anunciamos Jesus estamos pregando por meio de palavras de vida 
baseadas nele. 
É bem perceptível a força dessa bênção que o apóstolo Paulo deu à Igreja 
em Tessalônica. Em suas palavras, lemos: “Que o próprio Senhor Jesus 
Cristo e Deus nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna consolação e 
boa esperança pela graça, dê ânimo aos seus corações e os fortaleça 
para fazerem sempre o bem, tanto em atos como em palavras” (2 Ts 
2:16-17).
d) O conteúdo: “o Evangelho do r eino”
É o Evangelho do reino que transforma, tanto as pessoas como as cidades. 
Jesus disse: “Quando entrarem numa cidade e forem bem recebidos, 
comam o que for posto diante de vocês. Curem os doentes que ali houver 
e digam-lhes: O reino de Deus está próximo de vocês” (Lc 10:8-9). O 
evangelho do reino não trata de distração, mas de atração. Somente ele 
tem o poder de atrair as pessoas para Deus. Só o evangelho do reino – 
βασιλεία tο� Θεο� (basileia tou Theou) – cujo centro é a cruz, tem o poder 
de transformar. Infelizmente, existem comunidades que já abriram mão 
da cruz na sua pregação do Evangelho. Pode até ser Evangelho, ou seja, 
29Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
não deixa de ser uma notícia, que distrai as pessoas, mas certamente não 
é o Evangelho do reino que atrai as pessoas para Deus por meio da cruz. 
Jesus disse de forma muito enfática que este e não outro Evangelho é 
que deve ser pregado: “E este evangelho do reino será pregado em todo 
o mundo como testemunho a todas as nações” (Mt 24:14). Ninguém tem 
o direito de inventar conteúdos novos. Já nos foi indicado: é o Evangelho 
é este, do reino de Deus. As formas como esse Evangelho é anunciado 
e manifestado fi ca por conta da nossa criatividade, desde que não seja 
motivo e escândalo para o próprio Evangelho.
e) A inclusividade: “também às outras cidades”
O desejo e pedido das multidões é justamente o contrário: serem 
exclusivas. A exortação de Deus com as pessoas sempre foi essa: 
enquanto ele busca a humanidade, o ser humano busca a si mesmo. 
Dois exemplos de inclusividade nos são dados pelo próprio Jesus na 
sinagoga de Nazaré: a viúva de Sarepta e Naamã, o sírio. Jesus acabara 
de reafi rmar sua identidade missional, confi rmada na unção do Espírito, 
para servir especialmente aos excluídos e desfavorecidos do seu 
tempo. Os judeus, assim como as multidões, achavam que eles eram os 
destinatários exclusivos da missão. Estavam errados, e Jesus tratou logo 
de desenganá-los dessa ilusão. A missão de Deus é para todos. E a raiva 
tomou conta dos corações das pessoas(Lc 4:28-29). Mas Jesus em sua 
vocação missionária não desiste. Ele “passou por entre eles e retirou-
se. Então ele desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e, no sábado, 
começou a ensinar o povo” (Lc 4:30-31). Ele não mudou o foco porque 
sabia exatamente seu propósito de vida.
f) A fi nalidade: “pois para isso é que fui enviado”
“Para isso” implica em vocação, propósito e senso de destino. Jesus se 
percebe enviado com esse propósito. A obra não é de Jesus, mas do 
Pai. E Jesus tem uma profunda compreensão da missio Dei. A missão 
é de Deus, que convoca seus agentes para realizá-la. Assim, Jesus é 
aquele “que andava de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando 
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA30
e anunciando o Evangelho do reino de Deus” (Lc 8:1) e como resultado 
vinha “ter com ele gente de todas as cidades” (Lc 8:4).
Jesus é nosso modelo de missão para e com a cidade. Seu ministério 
aconteceu nas cidades e regiões do seu tempo: Galiléia (Lc 4:41-9:50); 
Samaria-Judéia (Lc 9:51-19:27) e Jerusalém (Lc 19:28-24:53). E Ele nos 
convida para andar e visitar as cidades que tanto abençoou com o poder 
do Evangelho.
Exercício de fi xação - 05
Considerando o conteúdo acima, quando falamos em missão, 
devemos considerar:
a) As necessidade que eu quero atender; o que os outros podem 
fazer; o anúncio do Evangelho integral. 
b) O que eu percebo como necessidade; o que eu posso fazer; 
somente o anúncio da vida espiritual. 
c) O que a igreja percebe como necessidade; o que nós, como 
missionários, podemos fazer; o anúncio do Evangelho de modo 
integral.
d) O que eu percebo como necessidade; o que os outros cristãos 
podem fazer; somente o anúncio da vida espiritual. 
Acesse o AVA para fazer os exercícios e ver a reação do professor!
Conclusão 
Surge deste modo uma pergunta básica: para qual contexto a teologia 
responde? Obviamente que para todos porque o Evangelho do reino não 
faz acepção de pessoas e nem de geografi as e contextos. Contudo, 
deve fi car claro para nós que o contexto emergente que produz um 
volume enorme de desafi os são os contextos urbanos. E em particular, 
31Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
as cidades, metrópoles e megalópoles do mundo ques estão nos dois-
terços-do-mundo: Ásia, África e América Latina. 
Saiba mais
A população mundial deve crescer em mais de 2,2 bilhões de 
pessoas até 2050, de acordo com estudo da ONU, e mais da 
metade deste crescimento (1,3 bilhão) deve acontecer na África 
subsaariana. A Índia, a China e a Nigéria vão impulsionar o reforço 
da urbanização, representando 35% do crescimento da população 
urbana entre 2018 e 2050. Cerca de 55% da população mundial 
vive atualmente em cidades. O estudo estima que nas próximas 
décadas esse número suba para 68%. A expressão “dois terços 
do mundo” passou a ser utilizada no lugar da expressão “terceiro 
mundo”. Terceiro mundo carregou conceitos pejorativos, como 
sendo países de categoria inferior por estarem em continentes 
subdesenvolvidos. Busca–se com essa mudança de nomenclatura 
colocar o peso não nos aspectos econômicos mas populacional, 
ou seja, dois terços da população do mundo estão na América 
Latina, África e Ásia.
https://nacoesunidas.org/mundo–tera–22–bilhoes–de–
pessoas–a–mais–ate–2050–indica–onu/
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA32
[...] enquanto na Europa e América do Norte a urbanização levou séculos, 
estimulada pela industrialização e aumento constante da renda per 
capita, no mundo em desenvolvimento ocorrerá no espaço de duas ou 
três gerações. Em muitos países em desenvolvimento, o crescimento 
urbano está sendo impulsionado não pela oportunidade econômica, mas 
por altas taxas de nascimento e um afl uxo maciço de habitantes rurais 
que procuram escapar da fome, pobreza e insegurança. A maioria das 
cidades que mais crescem no mundo encontra–se nos países de baixa 
renda da Ásia e África com populações jovens. Nos próximos 10 anos, 
o número de habitantes urbanos na África Subsaariana deverá crescer 
quase 45%, de 320 milhões para 460 milhões. Kinshasa, capital de um 
dos países mais pobres do mundo, hoje é a megalópole futura que mais 
cresce no mundo. Em 2025, a população urbana dos países menos 
desenvolvidos da Ásia terá crescido de 90 milhões para cerca de 150 
milhões, e Dhaka deverá ser a quinta maior cidade do mundo, com 21 
milhões de habitantes (FAO, 2012, p. 1).
Como não levar em consideração essas consequências e desafi os da 
urbanização? Esse fenômeno resultará ainda mais em altos níveis de 
pobreza, desemprego e insegurança alimentar. Estima–se que em todo o 
mundo um bilhão de pessoas vivam em favelas, sem acesso a serviços 
básicos de saúde, água e saneamento. Cerca de 30% da população 
urbana do mundo chamado em desenvolvimento, ou seja, 770 milhões 
de pessoas, está desempregada ou são trabalhadores pobres, com renda 
abaixo da linha de pobreza.
Esses pobres urbanos gastam a maior parte de sua renda com 
alimentação. Porém, muitas vezes seus fi lhos apresentam níveis de 
desnutrição tão altos quanto os das áreas rurais. Para sobreviver, milhões 
de favelados cultivam seus próprios alimentos em cada pedaço de terra 
disponível: em seus quintais, ao longo dos rios, estradas e ferrovias e sob 
as linhas de transmissão de energia. 
33Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
O crescimento das favelas ultrapassa o crescimento urbano por uma 
ampla margem. Em 2020, a proporção da população urbana pobre poderá 
chegar a 45%, ou 1,4 bilhão de pessoas. 85% dos pobres da América 
Latina, e quase metade dos pobres da África e Ásia, se concentrarão em 
áreas urbanas.
Já sem tem nome para isso: a nova bomba demográfi ca. Esse é um 
desafi o ou pesadelo não apenas para os governos como também 
para a educação teológica e a missão da igreja: aglomerados urbanos 
degradados e empobrecidos, com grandes populações vulneráveis de 
pessoas socialmente excluídas, jovens e desempregadas e, claro, no 
entorno de tudo isso, a criminalidade e violência urbana.
Quando percebo essas realidades percebo também o quanto temos sido 
egoístas como igreja. Enquanto o mundo está vivendo um processo de 
uma nova bomba demográfi ca muitas igrejas vivem e se preocupam, 
com elas mesmas, seus membros seus templos e suas denominações e 
instituições.
Parafraseando, talvez de modo impróprio, o que disse Jesus: “Hoje 
haverá culto para refl etirmos o que a Palavra tem a nos dizer. Vocês 
sabem interpretar as escrituras, mas não sabem interpretar os sinais dos 
tempos” (Mt 16:3). Os sinais dos tempos estão dizendo que devemos 
levar em consideração os espaços urbanos.
O Congresso de Lausanne III, em 2010, realizado na Cidade do Cabo, 
percebeu a importância de destacar as cidades como um dos maiores 
desafi os para a missão: “What Is God’s Global Urban Mission?”
(https://www.lausanne.org/content/what-is-gods-global-urban-mission).
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA34
Glossário
Dois terços do mundo
Terminologia que passou a ser utilizada no lugar da expressão “Terceiro 
Mundo”. Terceiro mundo carregou conceitos pejorativos, como sendo 
países de categoria inferior por estarem em continentes subdesenvolvidos. 
Busca-se com essa mudança de nomenclatura colocar o peso não 
nos aspectos econômicos mas populacional, ou seja, dois terços da 
população do mundo estão na América Latina, África e Ásia.
Missão
A natureza/identidade e razão de existir, em nosso caso, da igreja.
Missiologia, Missiológico
Missiologia é o estudo da intersecção entre o evangelho, a cultura e a 
igreja. Tal estudo é multidisciplinar porque incorpora outras áreas do 
saber, tais como Teologia, Antropologia, Sociologia, História, Línguas, 
entre outras.
Missional
É um adjetivo que denota alguma coisa que está relacionada com ou é 
caracterizada pela missão. Indica algo que carrega qualidades, atributos 
ou dinâmicas da missão. 
Missionário
No senso comum, são tipicamente aquelas pessoas enviadas por suas 
igrejas ou agências missionárias para lugares normalmente distante 
da igreja enviadora.Em nossa perspectiva missiológica, são todos os 
cristãos em resposta à missio Dei, agindo em seus contextos de vida.
Missões
Esforços e atividades missionárias de envio e sustento de pessoas 
que vão pregar o evangelho, implicando cruzar fronteiras geográfi cas e 
culturais. Também chamada de missão transcultural.
Urbanizacão
É o processo-fenômeno que está ligado ao crescimento populacional 
e territorial das cidades no qual as pessoas deixam as áreas rurais, 
agrícolas e indígenas em direção aos centros urbanos.
35Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
Referências
BOSCH, David. Missão transformadora.: mudanças de paradigma na 
teologia da missão. São Leopoldo: EST; Sinodal, 2002.
CASTRO, Emílio. Servos livres: missão e unidade na perspectiva do reino. 
Rio de Janeiro: CEDI, 1986.
FONTENELE, Regina. “Gustavo Gutiérrez avalia atualidade da Teologia da 
Libertação e o papado de Francisco”. In Missões: a missão no plural. Texto 
acessado em 14/03/2019 e disponível em http://www.revistamissoes.
org.br/2016/02/gustavo-gutierrez-avalia-atualidade-da-teologia-da-
libertacao-e-o-papado-de-francisco/
KIRK, Andrew. O que é missão: teologia bíblica de missão. Londrina: 
Descoberta, 2006.
LIBÂNIO, João Batista. As lógicas da cidade: o impacto sobre a fé e sob 
o impacto da fé. 2.ed. São Paulo: Editora Loyola, 2012. 
MCLAREN, Brian. Uma ortodoxia generosa: a igreja em tempos de pós– 
modernidade. Brasília: Palavra, 2007.
PADILLA, C. René. O que é missão integral? Viçosa: Ultimato, 2009.
WRIGHT, Christopher J. H. A missão de Deus: desvendando a grande 
narrativa da Bíblia. São Paulo: Edições Vida Nova, 2014
FAO – Food and Agriculture Organization of United Nations. Criar cidades 
mais verdes. Roma: FAO, 2012.
VAN ENGEN, Charles. Misión en el camino: refl exiones sobre la teologia 
de la misión. Grand Rapids: Baker Book House Company, 2007.
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA36
37Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
UNIDADE II - BÍBLIA, TEOLOGIA E MISSÃO – PARTE 1
Introdução
Nesta unidade refl etiremos sobre missio Dei, Bíblia, teologia e missão. 
Temos alguns desafi os no Brasil relacionados à missão. O primeiro é 
justamente compreender o signifi cado de missão. Por isso refl etimos 
na Unidade I o que não é missão. O segundo desafi o é compreender o 
que é missio Dei. O terceiro é discernir o relacionamento entre Bíblia e 
missão, tanto no Antigo como no Novo Testamento. E, em quarto lugar, 
entender qual é a compreensão clássica da integralidade do Evangelho. 
Estes temas serão tratados nesta e na próxima unidade.(ou nessa e nas 
próximas unidades) Elas estarão se referindo ao processo hermenêutico-
metodológico que tem por fi nalidade interpretar. Na Unidade I utilizamos 
o momento observar, ou seja, a partir do que vemos, em nossos contextos 
e realidades, somos convocados, à luz da Palavra de Deus, a interpretar, 
para que o próximo momento do círculo hermenêutica aconteça, o agir. 
Assim, toda ação é contextual e refl etida visando a transformação. 
Essa é a intencionalidade do método, ou seja, um processo de missão 
transformadora contextual à luz da Palavra de Deus.
Nessa unidade, trataremos de aspectos mais amplos da missão, como a 
defi nição de Teologia da Missão, suas dimensões e uma maneira geral de 
caracterizarmos e diferenciarmos a missão do ponto de vista do Antigo e Novo 
Testamento. Na próxima unidade, ainda construindo a relação entre Bíblia, 
teologia e missão, observaremos alguns conteúdos textuais das Escrituras.
Exercício de aplicação - 06
Esse exercício consiste em tentar encontrar a palavra missão — em 
Português — na Bíblia e entender o seu uso e signifi cado nas Escrituras. 
Como existem várias versões de traduções do texto, para que tenhamos 
um mesmo resultado, realize essa busca no seguinte site: http://biblia.
com.br/joaoferreiraalmeidarevistaatualizada/. Indique em quais textos 
a palavra aparece e qual o signifi cado da mesma naquele texto. A seguir, 
sintetize o qual o conceito teológico da palavra missão em função 
daquilo que encontrou.
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA38
1. A Bíblia como a base da missão
Podemos deizer que não existe uma base bíblica para missão e sim 
que a Bíblia toda é a base da missão. Em primeiro lugar, a Teologia 
Bíblica da Missão é teologia porque fundamentalmente envolve refl exão 
sobre Deus e as coisas de Deus. Procura compreender a sua missão, 
suas intenções e propósitos, seu uso dos instrumentos humanos e sua 
ação, por meio do seu povo, que atua no mundo por ele criado. Assim, 
a Teologia da Missão lida com todos os temas teológicos tradicionais 
da Teologia Doutrinária ou Sistemática. Por outro lado, difere no modo 
como os teólogos sistemáticos trabalharam classicamente através dos 
séculos. A diferença surge na orientação missiológica multidisciplinar de 
seu pensar e fazer teológico.
1.1. O aspecto teológico da missão
A Teologia Sistemática é considerada a organizadora do pensamento 
teológico através dos séculos. Seu eixo teológico foi organizado em sete 
áreas clássicas — que dependendo da tradição teológica pode variar: 
(1) Teontologia, (2) Antropologia, (3) Cristologia, (4) Soteriologia, (5) 
Eclesiologia, (6) Pneumatologia e (7) Escatologia. A Teontologia é área 
da sistemática que estuda Deus, Deus Pai ou o Criador para alguns. A 
Antropologia ou Antropologia Teológica estuda a criação com especial 
atenção para o ser humano. A Cristologia se ocupa do estudo da pessoa 
de Jesus Cristo. A Soteriologia é o estudo da salvação promovida por 
Deus. A Eclesiologia estuda o fenômeno da igreja. A Pneumatologia é 
o estudo do Espírito Santo. E fi nalmente, Escatologia é o estudo das 
chamadas últimas coisas ou da esperança futura.
De modo geral, a Teologia Sistemática desenvolvida na história da igreja 
não se preocupou em desenvolver uma perspectiva missiológica. Assim, 
a Missiologia surgiu, mais recentemente, como uma disciplina isolada. 
Minha intenção aqui é advogar a urgente necessidade de perceber um 
possível fl uxo missiológico por trás das áreas da Teologia Sistemática.
Pensemos assim: o princípio de todas as coisas é Deus (Teontologia), que 
39Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
apesar do pecado do ser humano, demostra sua graça e misericórdia para 
com a ser humano e humanidade (Antropologia). Por meio de Cristo, sua 
vida, obra, morte e ressurreição (Cristologia), a humanidade, junto com toda 
a criação, é redimida e salva (Soteriologia). Os salvos recebem o Espírito da 
promessa, passam a ser templos do Espírito, empoderados para cumprir 
os planos de Deus no e a favor do mundo (Pneumatologia), passando a 
ser membros do novo povo de Deus, a comunidade de fé, chamados a 
viver em comunhão, santidade e em comunidade missional (Eclesiologia). 
Finalmente, a marca distinta desta comunidade missional é a esperança 
do Reino que vem, vivendo na tensão do “já-ainda não” (Escatologia), até a 
consumação dos séculos. Esse é um resumo das setes áreas.
No gráfi co, apresento esse fl uxo missiológico, demonstrando que a 
Teologia deve ser apta a seguir a ação misericordiosa de Deus em Cristo 
Jesus, o Verbo – transcendente - que se fez carne e habitou entre nós – 
imanente. Por isso, a Teologia é sempre um ato segundo, como discurso 
humano, pois o ato primeiro é o agir de Deus na história. Assim sendo, a 
Teologia é uma resposta ao agir de Deus, um meio, nunca um fi m. Fica 
claro que a Teologia é um serviço e está a serviço de Deus e seu reino.
Este fl uxo missiológico indica a fi nalidade da Teologia; ela deve estar a 
serviço da missão de Deus (missio Dei). Este precisamente foi, e continua 
sendo, o equívoco hermenêutico de muitos teólogos sistemáticos: não 
perceber a teologia como um instrumento a serviço da missão. Qual é 
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA40
o sentido da Teologia sem a Missiologia? Como, por exemplo, estudar a 
Cristologia e a Eclesiologia sem a perspectiva missiológica? Ou ainda, a 
quem serve esta Teologia? Teologia sem missão é refl exão estéril, sem 
relaçãocom a práxis de Jesus e da igreja. Por outro lado, uma Missiologia 
que não seja teológica será imatura, inconsequente e sem fundamento 
sólido. Assim, é urgente o repensar sobre elementos integrativos nas 
disciplinas missiológicas e teológicas. Devemos desenvolver uma teologia
missiológica e uma missiologia teológica. A refl exão e práxis missiológica 
precisam de fundamentos teológicos, assim como os fundamentos 
teológicos precisam motivar, encorajar e impulsionar a missão. Este divórcio 
entre Teologia e Missiologia já causou muitas consequências negativas. 
Por exemplo, a refl exão teológica sem implicações missiológicas nada 
mais é do que domesticação e institucionalização doutrinária.
Desde já é necessário que você vá aprendendo a fazer integrações e 
diálogos entre Teologia e Missiologia. Pensar a Teologia na perspectiva da 
Missiologia é imprescindível, porque você perceberá em sua caminhada 
que raramente algo foi escrito nas sistematizações a partir da perspectiva 
missiológica. Se a Teologia não está a serviço da missão da igreja, ela 
está a serviço de quem? Ouso dizer que estaria a serviço de teólogos, 
denominações e confi ssões e doutrinas. Chegou o momento de fazer 
teologia não para a tradição eclesiástica, pois isso é manutenção do status 
quo, mas essencialmente com a igreja, como servos submissos da missio 
Dei, de uma igreja a caminho nas sendas do reino.
Se o desafi o é repensar a Teologia na perspectiva da Missiologia, propomos 
o seguinte fl uxo, utilizando aqui expressões em latim:
41Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
Est e gráfi co nos mostra a centralidade da Trindade na tarefa missional. É 
a partir da Trindade que devemos desenvolver uma Missiologia Trinitária, 
ou seja, missio Dei (missão de Deus), missio Christi (missão de Cristo), e 
missio Spiritu Sancti (missão do Espírito Santo). Isto implica em concluir 
que a missão do povo de Deus (missio ecclesiarum) é consequência, um 
ato segundo, da missão Trinitária, que é o ato primeiro. A igreja, portanto, 
não vive para si mesma – ela é uma serva da Trindade em missão, vivendo e 
encarnando as boas novas do Evangelho, tanto em obras como em palavras, 
como peregrina e forasteira. Como nos exorta Pedro, a que sigamos em 
“santo procedimento e piedade, esperando e apressando a vinda do Dia de 
Deus” (2 Pe 3:11-12) porque “segundo a sua promessa, esperamos novos 
céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2 Pe 3:13), claramente uma 
referência a expectativa do reino que virá (missio adventus).
Portanto, a refl exão da Teologia sem a perspectiva Missiológica é a morte 
da própria missão. É na práxis missiológica, a partir da refl exão bíblica e 
contextual, que a igreja diz para veio e existe. E, existindo assim, glorifi ca 
a Trindade em seu compromisso de encarnação missional.
Exercício de fi xação - 07
É possível dizer que existe uma base bíblica para missão? 
 ( ) Sim ( ) Não 
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Missiologia - Profº Marcos Orison
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Missiologia - Profº Marcos Orison
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA42
1.2. O aspecto bíblico da missão
Em segundo lugar, a Teologia Bíblica da Missão é bíblica devido ao seu 
compromisso de permanecer fi el às intenções, perspectivas e propósitos 
da Palavra de Deus. A Teologia da Missão mostra uma preocupação 
fundamental sobre a relação da Bíblia com a missão, tentando permitir 
que as Escrituras não apenas forneçam as motivações fundamentais 
para a missão, mas, essencialmente, questione, molde, oriente e avalie os 
esforços missionais. Isso porque, paradoxalmente, existem motivações 
impuras na realização da missão. Por isso o renomado missiólogo 
holandês Johannes Verkuyl nos alerta de que nem tudo o que a igreja 
faz tem uma intenção missional. É possível realizar a obra de Deus com 
intenções impuras e com maus propósitos, seja de forma consciente 
ou inconsciente. Verkuyl indica quatro motivações impuras que a igreja 
pode assumir na pretensa realização da missão:
- a motivação imperialista: é a tentativa de usar outra pessoa ou 
povo como um meio para alcançar o seu próprio objetivo.
- o motivação cultural: frequentemente ao comunicar o 
evangelho a cultura do comunicador vem acoplada e já não se 
distingue entre o que é evangelho e o que é cultura.
- o motivação comercial: é a relação entre comércio e fé, ou seja, 
ter uma igreja guiada por interesses comerciais e mercantilistas.
- o motivação do colonialismo eclesiástico: é o processo de 
imposição do modelo da igreja mãe sobre as igrejas nativas, 
não dando a oportunidade para que essas igrejas tenham suas 
características respeitadas e encorajadas.
Você provavelmente já encontrou algumas dessas motivações sendo 
expressas por igrejas em sua caminhada. E por que esses motivos 
impuros, entre outros, existem? Por causa do abandono da orientação 
bíblica e sua relação com a missão. A missão, para ser fi el a Deus, é aquela 
revelada nas Sagradas Escrituras e não conforme uma denominação ou 
eu e minha comunidade queremos. Fidelidade a Deus e sua Palavra não é 
apenas no púlpito por meio da pregação. Essa Palavra deve permear tudo 
o que somos, pensamos e fazemos.
43Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
Agora você pode entender porque começamos essa unidade com 
aquele exercício. Você percebeu que a palavra missão, por si só, não é 
encontrada na Bíblia. Por outro lado, há várias referências paulinas sobre 
envio, ou seja, ser enviado ao mundo para cumprir a missão de Deus. 
Uma das razões de não encontramos a palavra missão na Bíblia é porque 
sua origem é latina (mitto). Mas não por isso, o princípio do envio está 
presente. Aliás, toda a Sagrada Escritura é a revelação da história da 
missão de Deus. Novamente, toda a Bíblia, Antigo e Novo Testamento, é
a revelação da missão de Deus no mundo. Sempre enfatizaremos isso: 
a missão de Deus, não a missão da Igreja, ou a sua ou a minha missão. 
Pois, fi nalmente, é a missão de Deus que nosso Senhor Jesus veio para 
dar testemunho, e consequentemente, é a missão de Deus que a Igreja 
proclama no mundo hoje. É a missão de Deus que compartilhamos.
1.3. O aspecto da missão em si
Em terceiro lugar a Teologia Bíblica da Missão é sobre a missão. Ou 
seja, ela é especialmente orientada para a missão. Nem a Teologia nem 
a Missiologia podem restringir-se apenas à refl exão. Como Johannes 
Verkuyl afi rmou,
A missiologia nunca pode ser um substituto para a ação e participação. 
Deus chama participantes e voluntários em sua missão. Em parte, o 
objetivo da missiologia é se tornar uma “estação de serviço” ao longo 
do caminho. Se o estudo não leva à participação, seja em casa ou 
no exterior, a missiologia perdeu seu humilde chamado... Qualquer 
boa missiologia é também uma missiologia viatorum - “missiologia 
peregrina” (1978: p. 6,18).
A Teologia da Missão, então, deve desembocar em uma ação missional 
biblicamente informada e contextualmente apropriada. A conexão íntima 
entre refl exão e ação é absolutamente essencial para a Missiologia. Ao 
mesmo tempo, se nossa ação missiológica não transforma nossa refl exão, 
podemos vir a ter grandes ideais, mas elas podem ser irrelevantes, ou 
inúteis, às vezes até mesmo destrutivas ou contraproducentes. Portanto, 
nossa orientação missional, que surge como fruto de nossa Teologia da 
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA44
Missão deve se traduzir em ação. E a ação missional sempre ocorre em 
um contexto. Nossa peregrinação em missão é a caminho, que exige 
refl etir sobre uma hermenêutica do contexto, que por sua vez exige uma 
releitura das Escrituras que provoque novas ideias e ações missionais. 
Uma das formas mais úteis de interligar a refl exão à ação é através do 
processo conhecido como práxis. Embora tenha havido vários signifi cados 
diferentes descritos para esta ideia, parece que a formulação de Orlando 
Costas é umadas mais construtivas:
[...] é fundamentalmente um fenômeno praxiológico. Trata-se de 
uma refl exão crítica que se realiza na práxis da missão [...] [Ocorre] 
na concreta situação missionária, como parte da obediência 
missionária e participação da Igreja na missão de Deus, e ela 
mesma se atualiza nessa situação [...] Seu objetivo é sempre o 
mundo... homens e mulheres em suas múltiplas situações de vida 
[...] Em referência a esta ação de testemunho saturada e conduzida 
pela soberana ação redentora do Espírito Santo [...] o conceito de 
práxis missionária é utilizado. A missiologia surge como parte 
de um compromisso de testemunho ao evangelho nas múltiplas 
situações da vida (1976: p. 8).
O conceito de práxis nos ajuda a entender que não apenas a refl exão, 
mas profundamente a ação também fazer parte de uma Teologia Bíblica 
de Missão que busca descobrir como a igreja pode participar da missão 
de Deus no mundo. A ação deve ser em si mesma teológica e bíblica e 
serve para informar a refl exão, que por sua vez interpreta, avalia, critica e 
projeta um novo entendimento na ação transformadora. Resumindo, toda 
teologia é bíblica e a toda a narrativa bíblica é missional.
Exe rcício de reflexão - 08
Ao fazer uma breve análise da práxis missional em sua igreja, o 
quanto você considera que ela está próxima ou afastada da visão 
bíblica de missão? Quanto ela aproxima a igreja do mundo ou se 
afasta dele? 
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45Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
2. As dimensões da missão
A missão possui grande aproximação com o tema da salvação. Contudo, 
precisamos atentar para o fato de que fruto da infl uência dualista 
e dicotômica, a salvação para muitos, hoje, signifi ca apenas salvar 
almas. Das muitas palavras hebraicas usadas para salvação, yasha — 
salvar, ajudar em afl ição, resgatar, livrar, libertar — é a que aparece mais 
frequentemente no Antigo Testamento.
Comumente, o livramento ou libertação, no discurso do Antigo 
Testamento, é de natureza material, embora haja exceções importantes. 
Em contraste, o emprego de soter — raiz grega aplicada ao conceito de 
salvação — no Novo Testamento, embora possa incluir a preservação 
material, geralmente signifi ca uma libertação com um signifi cado 
especialmente espiritual. Além da noção de libertação, a Bíblia também 
usa a salvação para denotar saúde, bem-estar e cura.
De acordo com o signifi cado mais amplo usado nas Escrituras, o termo 
salvação engloba a obra total de Deus pela qual ele busca resgatar o ser 
humano da ruína, destruição e poder do pecado, concedendo-lhe a riqueza 
de sua graça abrangendo a vida eterna, provisão por vida abundante agora 
e glória eterna (Ef 1:3-8; 2:4-10; 1 Pe 1:3-5; Jo 3:16, 36; 10:10).
A palavra salvação comunica o pensamento de libertação, segurança, 
preservação, integridade, restauração e cura. Na Teologia, no entanto, 
seu principal uso é denotar uma obra de Deus em favor da humanidade, 
que inclui as pessoas e criação. Como tal, é uma doutrina importante 
da Bíblia que inclui os conceitos de redenção, reconciliação, propiciação, 
convicção, arrependimento, fé, regeneração, perdão, justifi cação, 
santifi cação, preservação e glorifi cação. Por um lado, a salvação é descrita 
como a obra de Deus que resgata o ser humano de seu estado perdido, 
que por si só, jamais conseguiria sair, sendo exclusivamente uma obra de 
Deus por meio do mediador Jesus Cristo. Também descreve o estado de 
uma pessoa que foi salva e que é vitalmente renovada, fazendo parte da 
herança dos santos. Não podemos esquecer e nem mesmo negligenciar 
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA46
a salvação da criação, apontada pelo apóstolo Paulo em Romanos: “A 
ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos fi lhos de Deus. 
Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por 
causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será 
redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos fi lhos 
de Deus” (Rm 8:19-21).
Portanto, precisamos, ainda que de modo resumido e condensado, 
entender que a salvação engloba a obra total de Deus formulada, 
entendida e incentivada pelo Apóstolo Paulo:
[...] o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a 
criação; porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus 
e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, 
sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para 
ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por 
ele. E ele é a cabeça do corpo da igreja; é o princípio e o primogênito 
dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência, porque 
foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse e que, 
havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele 
reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão 
na terra como as que estão nos céus (Cl 1:15-20).
A palavra missão, no sentido que aqui será refl etido, não está na Bíblia. 
Quando a palavra aparece, e poucas vezes, é no sentido de uma tarefa 
particular, como por exemplo, a missão dos espias (Js 2:14, 20). Isso 
gera algumas difi culdades porque, uma vez que não existe uma defi nição 
explícita, a mesma se torna implícita e passível de interpretações. 
E é justamente aqui que muitos problemas surgem. Toda defi nição e 
interpretação implicam e resultam em práticas em função do que se 
defi niu e interpretou. Se, por exemplo, defi nimos a missão da igreja 
como salvar almas, isso defi nirá o método, as práticas e os resultados 
esperados. O método será pregar verbalmente, cuja ênfase recairá no 
47Teologia Bíblica da Missão | FTSA | 
ir por todo o mundo — prática — para que as pessoas se convertam — 
resultado. Toda defi nição corre o risco de incluir e excluir elementos. 
Neste exemplo, a defi nição de missão está certa no que inclui, mas 
equivocada no que exclui.
Como já afi rmado, é necessário compreender que a Bíblia, e não textos 
isolados, é a base da missão. Ela é a peça missional de Deus. Uma 
coletânea de 66 livros que formam uma única peça. A Palavra veio a existir 
para revelar o plano de Deus para a humanidade e sua criação. Ela revela 
os propósitos de Deus para mundo e a isso chamamos de missio Dei.
É fundamental entender o que signifi ca a missão de Deus, porque é ela 
que determina a missão do povo de Deus no Antigo Testamento, e a de 
Jesus e da igreja no Novo. Consequentemente, isso determina a nossa 
missão hoje. Isso porque nem tudo o que é feito em nome da missão é de 
fato a missão de Deus. Assim, como podemos defi nir a missão de Deus? É 
necessário começar pelo princípio de tudo: a narrativa da criação no livro 
de Gênesis. Ali encontramos o projeto original, o ambiente harmônico em 
que tudo o que Deus fez era bom. Esse ambiente era marcado por quatro 
dimensões de relacionamentos que devem ser percebidas como alvo da 
missão-salvação: (1) o relacionamento de Deus com o ser humano; (2) 
do ser humano com o próximo; (3) do ser humano consigo mesmo e (4) 
do ser humano com a criação.
As quatro dimensões da missão de Deus fi cam assim representadas:
Desde já é fundamental perceber que a missão de Deus tem a ver com 
relacionamento. Para a maioria das igrejas, líderes eclesiais e pessoas, 
quando se pensa em missão pensa-se em atividades, projetos, programas, 
eventos. É claro que não há nada de errado em utilizar essas ferramentas. 
Porém, são ferramentas que devem visar os relacionamentos. Vejamos 
cada uma das dimensões de relacionamentos.
| Teologia Bíblica da Missão | FTSA48
2.1. Dimensão pessoal: relacionamento de Deus com o ser 
humano
Estou chamando a primeira dimensão de pessoal. Acredito que muitos 
teriam a tendência de chamar de espiritual, no entanto, nós ocidentais 
somos profundamente infl uenciados por uma visão dualista da vida e da 
teologia que contribuem para essa outra possível identifi cação. Exemplo: 
• pensamos que a salvação só trata da alma

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