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Estatística e Probabilidade Apresentação De acordo com a Base Nacional Comum Curricular — BNCC (2017), a ação pedagógica deve ter como foco a alfabetização a fim de garantir condições para que os alunos se apropriem do sistema de escrita alfabética de modo articulado ao desenvolvimento de outras habilidades de leitura e de escrita e ao seu envolvimento em práticas sociais. Sendo assim, o pensamento estatístico e probabilístico deve ser desenvolvido desde os anos iniciais do ensino fundamental, oportunizando aos estudantes compreender os fatos e construir suas opiniões fundamentadas em previsões válidas. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer conceitos de estatística e probabilidade e observar onde eles estão presentes no cotidiano, além de descobrir as ideias fundamentais para organização, interpretação e análise de dados para a tomada de decisões. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever os conceitos de probabilidade e estatística.• Identificar sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos presentes em situações- problema da vida cotidiana. • Utilizar conceitos, representações e índices estatísticos para descrever fenômenos. • Desafio A probabilidade de um evento é a medida da possibilidade de este evento ocorrer. Você pode determiná-la seguindo dois caminhos: por meio de análise lógica da situação (a que chamamos de probabilidade teórica) ou a partir de uma coleção de dados obtidos (a probabilidade experimental). Por exemplo, se alguém lhe perguntar “qual a chance de obter cara quando lançamos uma moeda?”, você pode: a) pensar logicamente em todos os possíveis resultados e chegar à seguinte conclusão: há dois resultados igualmente prováveis; sendo assim, a probabilidade teórica de obter cara é 1⁄2; ou b) experimentar, lançando uma moeda algumas vezes e registrando os resultados. Assim, você encontra a frequência relativa do evento e, quanto mais lançamentos você fizer, mais a frequência relativa se aproximará da probabilidade teórica. Imagine, agora, uma abordagem desse tema em sala de aula a partir do seguinte jogo: Esse é um jogo que pode ser aplicado com alunos que estão iniciando a construção do conceito de probabilidade. Você pode finalizar a atividade perguntando: “você considera esse jogo justo? Crie um argumento que defende sua ideia sobre se o jogo é justo ou não. É possível fazer predições sobre quem ganhará a próxima partida?” Em relação ao jogo apresentado e à proposta de reflexão, responda as seguintes perguntas: a) Qual seria a resposta adequada para um aluno que considera o jogo injusto? b) Em caso de algum aluno considerar que o jogo é justo, por que você acha que ele chegou a essa conclusão? Infográfico Dados podem estar representados por números, nomes, características, entre outras variáveis que se referem a alguma observação. Dados sem contexto são inúteis: é preciso fornecer cenário e argumentação para sua apresentação e futura análise. A probabilidade e a estatística utilizam-se de dados como matéria-prima e, para sua aplicação, alguns conceitos prévios são indispensáveis. Veja, no Infográfico, algumas ideias fundamentais para a análise de dados. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/b58c7439-82f2-407f-a5d7-5684a74cae6b/84167937-9e07-48eb-9443-dafcd71174af.png Conteúdo do livro A presença da estatística no cotidiano é notada principalmente nas mídias que comunicam informações relevantes para a tomada de decisão de uma população. Os dados estão por toda parte e nos auxiliam de maneira muito importante na formação de opinião e na previsão de fenômenos. O capítulo Estatística e probabilidade, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você irá conhecer conceitos da estatística e da probabilidade que lhe darão subsídios para observar aspectos que possibilitam confiar ou não em dados que lhe são apresentados. Boa leitura. FUNDAMENTOS E METODOLGIAS DE MATEMÁTICA Ana Laura Bertelli Grams Estatística e probabilidade Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever os conceitos de probabilidade e estatística. Identificar sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos pre- sentes em situações-problema da vida cotidiana. Utilizar conceitos, representações e índices estatísticos para descrever fenômenos. Introdução Índice de criminalidade, expectativa de vida, nível de aceitação de alguma figura pública e quantidade de chuva esperada são alguns assuntos que se utilizam da estatística para transmitir com eficácia e consistência suas mensagens. Que a sociedade está rodeada de informações e dados estatísticos é fácil perceber, basta acessarmos um site de notícias, ligarmos o rádio ou mesmo lermos alguma pesquisa científica que se baseou em algum fato. No entanto, precisamos saber como utilizar esses dados e informações da melhor maneira, sem nos deixarmos levar pelo sensa- cionalismo que, algumas vezes, está intrínseco neles. Neste capítulo, você terá acesso aos conceitos que envolvem a esta- tística, sua interpretação e análise, buscando subsídios para decifrar os dados e auxiliar na tomada de decisão. Além disso, este texto se dedica à discussão de estratégias para ensinar probabilidade e estatística no Ensino Fundamental, conforme orienta a Base Nacional Comum Curricular. Tratamento da informação Os conceitos básicos sobre análise de dados também são chamados de trata- mento da informação, que deve fazer parte do rol de conteúdos ao longo dos anos escolares, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, pois, desde cedo, os estudantes aprendem a colecionar, organizar e classifi car objetos, e procedimentos como esses os preparam para coleta, organização e interpre- tação de dados. Mas, afinal, o que são dados? Recorremos a dados quando queremos entender o todo a partir de suas partes; quando queremos analisar os perfis dos consumidores, para melhor “agradá-los”; ao estudar melhores estratégias nos esportes e analisar o adversário, quais suas principais jogadas, quais seus pontos fracos; na otimização do transporte coletivo, buscando saber qual a quantidade de passageiros por linha, ou qual o horário de maior fluxo de passageiros, entre outros casos, mais e menos complexos. Dados são informações (fatos ou números) objetivos a partir de uma coleta e sintetizados com o auxílio de tabelas, gráficos, valores descritivos, com a finalidade de interpretar um fenômeno. São a matéria-prima dos estudos estatísticos. Os dados podem ser apresentados e analisados de diferentes maneiras. Ao escolher os gráficos e as tabelas, você estará representando as informa- ções com imagens visuais, porém as medidas são passos fundamentais para quantificar os seus atributos, ou seja, descrevê-los. As medidas mais utilizadas, principalmente nos Ensinos Fundamental e Médio, são diferenças entre os maiores e menores dados, quais valores estão no centro de um conjunto de dados e o quanto os valores se distanciam a partir um valor de referência; estas são chamadas, respectivamente, de amplitude, média e dispersão. Os números que fazem toda essa descrição dos dados são estatísticas. A capacidade de ler e interpretar os dados apresentados de maneira organizada é um objetivo ao se ensinar estatística. Toledo e Toledo (2010) avaliam pesquisas sobre a percepção dos estudantes na coleta e análise de dados e apresentam três níveis progressivos de compre- ensão, resumidos no Quadro 1. Estatística e probabilidade2 1º nível de compreensão 2º nível de compreensão 3º nível de compreensão No primeiro contato dos estudantes com esta linguagem, a compreensão deve se restringir à leitura e à decodificação dos dados, além de desenvolver habilidades para construção de tabelas e gráficos com dados coletados poreles mesmos. Este nível deve contribuir para desenvolver a capacidade argumentativa. Nesta etapa, é possível estabelecer relações a partir da leitura e da comparação dos dados, identificando variáveis e escolhendo a melhor maneira de representá-las. O estudante neste nível de compreensão tem a capacidade de discernimento sobre previsões embasadas na análise dos dados e destreza para reduzir um conjunto de dados às medidas de representação destes, como a média, por exemplo. Quadro 1. Níveis progressivos de compreensão Após a coleta e a apresentação dos dados de maneira organizada, surge a necessidade de analisá-los e, por fim, utilizá-los para a tomada de decisão. Para tomar melhores decisões, faz-se necessária a avaliação das possibilidades de acontecimentos aleatórios, para qual se utiliza dos conceitos de probabilidade. Quando algo acontecerá com certeza, atribuímos ao acontecimento 100% de probabilidade, ao passo que, quando temos a certeza de que ele é impossível de ocorrer, atribuímos 0% de probabilidade. Entre estes, temos os casos que não temos certeza de que acontecerão ou não acontecerão; se é mais provável que aconteça, sua probabilidade se aproxima mais de 100% do que de 0%; se é mais provável que não aconteça, sua probabilidade se aproxima mais de 0% do que de 100%. O que nos remete a concluir que, se um acontecimento tem 50% de probabilidade, então ocorrer ou não tem, de fato, a mesma chance (ACZEL, 2007). A Figura 1, a seguir, apresenta uma interpretação da probabilidade e as possibilidades ao longo de uma quantidade contínua entre o impossível e o certo, a partir das chances de se obter a cor azul nas roletas. 3Estatística e probabilidade Figura 1. Interpretação da probabilidade ou “linha das chances”. Fonte: Adaptada de Van de Walle (2009). As noções sobre probabilidade estão cada vez mais presentes no nosso cotidiano, e essas situações devem ser aproveitadas na escola, de modo que os estudantes aprendam a fundamentar melhor suas decisões. Van de Walle (2009) sugere, de maneira muito adequada, que o ensino da probabilidade se inicie no desenvolvimento do conceito de chance como uma quantidade contínua, a fim de mostrar à criança que alguns eventos são mais ou menos prováveis que outros, como, por exemplo, se dois times de futebol estão em campo e o time A está vencendo o time B, faltando menos de um quarto do tempo de jogo, a chance de o time A ganhar o jogo não é certa, mas é muito provável. Exercícios semelhantes a esse exemplo, os quais sugerem que se classi- fiquem eventos em “certos, impossíveis ou possíveis”, são apropriados para a compreensão inicial dos conceitos de probabilidade. Além dos conceitos abordados até aqui, é importante ressaltar que o estudo da probabilidade é composto por diversas leis e definições, que variam de acordo com cada situação, seja a ocorrência de um entre dois eventos, ou a probabilidade de que um evento ocorra desde que outro evento também ocorra (probabilidade condicional), entre outros casos. Sobretudo, para avaliar a medida quantitativa da possibilidade de determinado acontecimento, ou seja, obter a probabilidade, é necessário contar as possibilidades de um evento e dividir o resultado pelo número total de possibilidades. Estatística e probabilidade4 Sempre que surge uma situação com resultados de possibilidades iguais (como em um dado perfeitamente simétrico, no qual há seis possibilidades igualmente prováveis), a probabilidade de qualquer resultado é a proporção entre o número total de resultados correspondentes ao evento e o número total de resultados (seis, no caso do dado) (ACZEL, 2007). Por exemplo, ao lançarmos um dado, qual a probabilidade de obtermos um número par? ao lançarmos o dado, seis são os resultados possíveis. São eles: 1, 2, 3, 4, 5 ou 6; dentre estes, temos três que satisfazem nosso evento de ser par: 2, 4 e 6; sendo assim, dividimos: . Temos que a probabilidade de obtermos um número par no lançamento de um dado é . Situações-problema da vida cotidiana Ao ensinar matemática, deve-se proporcionar aos estudantes a oportunidade de construir seu conhecimento a partir de situações problematizadas, utilizando as experiências sobre o tema abordado. Nesse contexto, a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) articula as competências gerais com a área da matemática, exigindo como uma das competências específi cas da área: […] as observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos presen- tes nas práticas sociais e culturais, de modo a investigar, organizar, representar e comunicar informações relevantes, para interpretá-las e avaliá-las crítica e eticamente, produzindo argumentos convincentes (BRASIL, 2017, p. 267). 5Estatística e probabilidade Graças ao crescimento da cultura digital, estamos rodeados por dados, e a imprensa, escrita ou televisionada, utiliza-se cada vez mais de gráficos e tabelas para a divulgação das informações. Os benefícios da inclusão da estatística no currículo escolar são categóricos quando se busca evitar que os leitores sejam ludibriados ou desconsiderem aspectos importantes para a interpretação de informações do cotidiano. Apresentaremos aqui alguns casos, revelados pela autora americana Rumsey (2010) em seu livro Estatística para leigos, que se utilizam de estatística para expor diversas situações diferentes e, principalmente, convencer o leitor de fatos ocorridos, seja para uma preocupação excessiva com o estado da saúde pública, ou com o objetivo de consumir um produto novo. O objetivo da expo- sição desses casos é buscar identificar problemas e exageros nas estatísticas, a fim de aplicá-las do modo correto. Conferir as contas A primeira coisa a fazer, ao buscar efetivar a estatística, é conferir seus nú- meros. Em todas as pesquisas, ou resultados delas, os grupos apresentados com percentuais devem sempre somar 100%. Veja, por exemplo, o resultado de uma pesquisa sobre os brinquedos mais vendidos para crianças de 3 a 7 anos. A notícia informava que 29% dos pais das crianças nessa faixa etária compravam apenas jogos educativos para seus fi lhos; 42% compravam os brinquedos dos comerciais de canais de desenho animado; e 20% adquiriam apenas os brinquedos que as próprias crianças escolhiam na loja. Ao conferir a soma, temos 29 + 42 + 20 = 91%. O que aconteceu com os 9%? A estatística não confere. Por isso, o resultado de pesquisas assim não são válidos. Saber o tamanho da amostra Muitas pesquisas de opiniões são lançadas e seus resultados apresentados sem alguns dados importantes, como, por exemplo, o número total de entrevistados. Veja um exemplo de um comercial de creme dental: “9 em cada 10 dentistas recomendam branquinha para seus pacientes”. Nesse caso, para garantir a confiabilidade da estatística, o leitor precisa se perguntar quantos dentistas, de fato, foram entrevistados. Imagine que somente 10 dentistas responderam ao questionamento sobre o tal creme dental. Dessa forma, num universo enorme de dentistas no mundo, 9 recomendações não seria algo assim tão atraente para o consumidor. Todavia, se a pesquisa de opinião Estatística e probabilidade6 foi aplicada para 10.000 dentistas, conforme o resultado apresentado, 9.000 dentistas estão recomendando o produto, e, assim, é mais provável que você possa confiar nele. Ou seja, em notícias, ou comerciais, como estes, você não terá uma perspectiva da confiabilidade das informações se os dados citados não estiverem apresentados. Distorcendo a verdade com exageros sutis (ou não) Analisemos uma manchete divulgada em um jornal escrito, a qual envolve estatística, mas que possui grandes lacunas entre a realidade e a mensagem que ela transmite: “Tempo de consulta com pacientes evita processos por imperícia médica”. Essa manchete foi publicada após um estudo que avaliou 1.265 consultas e 59 médicos de pronto-socorro e concluiu que os médicos que não foram processados por erro médico gastaram18 minutos, em média, com cada consulta, ao passo que os processos abertos eram com médicos que dedicaram 16 minutos por paciente. A notícia induz o leitor a concluir que, para não ser processado, o que o médico precisa é passar mais tempo com seus pacientes e, assim, tudo estará resolvido. E ainda, bastam dois minutos para fazer toda a diferença. Vamos explorar algumas hipóteses: pode ser que o médico que não foi pro- cessado possua menos pacientes e, por isso, gastou mais tempo em cada consulta; e se os médicos processados estivessem realizando procedimentos de maior risco?; ou, simplesmente, os médicos que não foram processados sejam médicos melhores, que ouvem e perguntam mais e, consequentemente, gastam mais tempo em suas consultas. Há muitos outros pressupostos que podem estar envolvidos, mas que a manchete, geralmente enorme, não lhe conta. Por isso, ao utilizar-se de esta- tística para se informar, procure sempre por lacunas entre a manchete e o que o estudo realmente demonstra. Omissão (ou desconhecimento) dos dados Algumas dicas de como conferir se a junção dos números percentuais soma 100% são necessárias na leitura e na interpretação da estatística, mas não são sufi cientes. É preciso estar atento e questionar como os dados foram manipulados antes da sua apresentação. 7Estatística e probabilidade Consideremos o seguinte caso sobre a criminalidade em um país: ao mostrar em uma tabela o número de crimes anuais do país, de 1987 a 1997, algumas interpretações totalmente divergentes podem ser feitas, mesmo com todos os cálculos efetuados de maneira correta. Isso ocorre devido à maneira como a informação é medida, podendo afirmar que a criminalidade aumentou e tam- bém diminuiu. Sabemos que isso é impossível de acontecer, então avaliemos o caso por trás dos cálculos. Suponha que, em 1987, o número estimado de crimes foi igual a 13.508.700, que, em 1993, o número era de 14.144.800 e, ainda, em 1997, passou a ser 13.175.100. Aparentemente, a criminalidade aumentou durante os 6 anos iniciais. Mas, se avançarmos com os demais dados, em 1997, o total de crimes foi menor que em 1993, afirmando que a criminalidade está diminuindo. Ou seja, dependendo do interesse de quem está informando, é possível utilizar-se dos dados acima para interpretar diferentes perspectivas do mesmo fato. E ainda, provavelmente mais importante, essas informações podem não ser suficientes para esclarecimento e representação real do fato, pois, além do número absoluto de crimes, algo também pode ter aumentado entre 1987 e 1993: a população do país, dado que desempenha um papel importante na estatística da criminalidade, pois se espera que esta aumente quando o número de pessoas que vivem no mesmo país aumenta. Sendo assim, é preciso recorrer para a taxa de criminalidade, representada pela razão entre o número de crimes e o total da população. Ou seja, se, em 1987 o número de habitantes era de 243.400.00 e, em 1993, passou para 257.908.000, a taxa de criminalidade passa de 5,55%, em 1987, para 5,48%, em 1993, distorcendo a primeira hipótese de aumento da criminalidade, quando analisado somente o número de crimes. Ao se deparar com resultados numéricos de um evento, pergunte-se qual o tipo de estatística que foi utilizado, se está tratando de números absolutos ou de taxas; e se a medida é justa para o caso, ou algo está sendo desconsiderado. Estatística e probabilidade8 Representação dos dados Agora que estudamos um pouco sobre os conceitos envolvidos no tratamento da informação e sobre situações que envolvem estatística e como ela deve ser evitada, abordaremos maneiras de representar os dados e como abordar esse tema em sala de aula. A visualização dos dados: gráficos e tabelas Apresentar situações reais envolve decidir como organizar os dados da melhor maneira possível. Nem sempre um gráfi co, ou um tipo específi co de gráfi co, é a melhor maneira para representar algumas informações (principalmente quando a quantidade de dados é demasiadamente grande, o que poderia possibilitar um agrupamento de dados que facilite sua interpretação). Contudo, ao abordar esse conteúdo em sala de aula, os alunos devem se envolver na decisão de como representar os dados, e mesmo as crianças com poucas experiências com os diversos métodos possíveis podem ser orientadas a fazer tentativas diferentes a partir de sugestões do professor e, na sequência, optar qual delas melhor atinge seu objetivo de apresentar os dados. O ensino da construção de gráficos não deve estar focado na técnica do “desenho”, pois, mais tarde, pode-se utilizar a tecnologia para detalhes da construção. É preciso oportunizar e garantir que os alunos aprendam a co- municar uma mensagem sobre seus dados, pois isso é mais valioso do que a técnica ou o enfeite do gráfico. Os gráficos de linhas Os gráfi cos em linhas (ou curvas) são descritos em um espaço de dois eixos ortogonais — são eixos coordenados — e são utilizados, principalmente, por dados que tenham ordem numérica, e são mais úteis quando estão ordenados ao longo de uma escala contínua. Para sua construção, é preciso corresponder um elemento do eixo hori- zontal com outro dado no eixo vertical, utilizando um segmento de reta para conectar os pontos. Por exemplo, na Figura 2, podemos observar um gráfico de linhas que indica a variação da temperatura durante um dia, exibindo que, à meia-noite, a temperatura foi de 10°C. 9Estatística e probabilidade Figura 2. Gráfico de linha. Fonte: Van de Walle (2009, p. 495). Um fato importante para ser discutido com os estudantes é que, nesse tipo de gráfico, todo ponto na linha deve ter um valor, por isso ele não é indicado para a representação de dados discretos, ou dados qualitativos. Os gráficos de barras ou colunas A representação dos dados por gráfi cos de barras ou colunas também pode utilizar-se da correspondência entre dois eixos perpendiculares, mas, em vez de conectar os pontos por segmentos de linhas, faz-se uma ilustração com retângulos ou fi guras de objetos, ou o próprio objeto, e, neste último caso, nenhuma escala numérica precisa ser aplicada (ver Figura 3). Estatística e probabilidade10 Figura 3. Gráficos de barras e colunas. Fonte: Van de Walle (2009, p. 493). Os exemplos da Figura 3 sugerem construções lúdicas para iniciar o trabalho com gráficos, de modo que os alunos compreendam as principais caracterís- ticas dos dados por meio da comunicação visual e percebam que esse tipo de representação é mais rápido para interpretar os dados descritos em um texto. O que diferencia os gráficos de barras e colunas é a orientação, pois as barras são horizontais, e as colunas, verticais. Os gráficos de setores Os gráfi cos de setores, também conhecidos como gráfi cos de pizza, apresen- tam seus dados por meio de um círculo e, geralmente, mediante percentuais (ver Figura 4). Sendo assim, o cálculo e o conceito de porcentagens são pré- -requisitos para sua construção. Entretanto, sua interpretação pode ser baseada no tamanho dos setores. Um benefício de gráfi cos desse tipo é a facilidade para praticar comparações entre as informações e introduzir o conceito de fração, já que o gráfi co sempre terá a referência do todo (com o preenchimento inteiro do círculo) e suas partes (as fatias do círculo). 11Estatística e probabilidade Figura 4. Gráfico de setores. Fonte: Van de Walle (2009, p. 496). Estatística descritiva A abordagem da estatística descritiva em sala de aula pode se dar desde muito cedo, sem a necessidade de utilizar a nomenclatura das medidas, muito menos os procedimentos que as defi nem numericamente. Todavia, apresentar os conceitos de média, amplitude e dispersão com materiais manipuláveis é válido para aumentar a afi nidade das crianças com a estatística. As ideias para defi nir as medidas descritivas precisam ser informais, partindo de uma proposta do professor e de sugestões dos alunos. Uma maneira para apresentar a média, sem definições numéricas,é utilizando peças de encaixe (como Lego®). A ideia é apresentar algumas barras com diferentes quantidades de peças encaixadas umas sobre as outras e, então, solicitar aos alunos que busquem uma solução para que as barras fiquem com a mesma quantidade de peças, sem que o número de barras seja alterado. Estatística e probabilidade12 A atividade proposta envolve uma abordagem para a média como um conceito nivelador, uma atribuição para os elementos, se eles forem nivela- dos. Um fator importante em atividades como essa é criar um contexto para a proposta, transformando as barras em “quantidade de alunos por turma”, “preços de lanches”, “notas em atividades”, entre outros. Para o cálculo exato da média, após trabalhar o conceito com materiais concretos, basta fazer duas contas simples: adicionar todos os números do conjunto e dividir a soma pelo total de números do conjunto. Por exemplo, se um estudante possui as seguintes notas em atividades de matemática: 9,7; 7,0; 8,5 e 6,8, a média de suas notas é obtida da seguinte maneira: ACZEL, A. D. Quais são suas chances? Rio de Janeiro: BestSeller, 2007. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. RUMSEY, D. Estatística para leigos. Rio de Janeiro: Alta Books, 2010. TOLEDO, M.; TOLEDO, M. Teoria e Prática de Matemática: como dois e dois. São Paulo: FTD, 2010. VAN DE WALLE, J. A. Matemática no ensino fundamental: formação de professores e aplicação em sala de aula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. Leituras recomendadas CAMPOS, C. R.; WODEWOTZKI, M. L. L.; JACOBINI, O. R. Educação estatística: teoria e prática em ambientes de modelagem matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. WHEELAN, C. Estatística: o que é, para que serve, como funciona. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. 13Estatística e probabilidade Dica do professor O estudo da estatística e da probabilidade está sempre relacionado com a tomada de decisões e não é fundamental apenas para grandes empresas ou em época de campanhas políticas, mas também para todo cidadão se informar e se tornar crítico em determinado contexto, tendo a chance de entender e tomar a melhor decisão diante da situação apresentada. Por isso, o estudo desses temas é essencial desde o ensino fundamental, conforme orienta a BNCC. Veja, nesta Dica do Professor, como abordar o tema em sala de aula, com uma proposta de jogo que depende de diversas estratégias e de tomada de decisão dos jogadores envolvidos, contribuindo, assim, para que os alunos desenvolvam essa habilidade. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/de969738a49dae3c8284757226e40a0b Exercícios 1) A figura mostra o gráfico feito por uma aluna com o objetivo de registrar a idade dos alunos de sua turma. A aluna apresentou seu gráfico dizendo que juntou as crianças de nove anos em uma coluna mais larga que a coluna das crianças com 10 anos, pois, na classe, havia 15 alunos com nove anos e oito com 10 anos. Além disso, colocou a inicial de cada criança no eixo horizontal. Confira o gráfico, a seguir, e assinale a resposta correta: A) A aluna inseriu as crianças de nove anos em uma coluna, assim como as de 10 anos, deixando-as com larguras diferentes. Isso ocorreu porque ela escolheu o eixo horizontal para as frequências. B) A aluna não estava preocupada com as frequências da variável idade, enfatizando apenas os de nove e 10 anos. C) A aluna escolheu o tipo de gráfico “barras” para representar corretamente as frequências da variável idade no eixo vertical. D) A aluna não tem nenhuma experiência com construção de gráfico de colunas. Por isso, não é possível considerar seu raciocínio nessa representação. E) O tipo de gráfico escolhido não é o mais adequado, pois há muitos dados para apresentar, o que o torna visualmente confuso. 2) No gráfico a seguir, temos uma representação do ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de alguns países, incluindo os da União Europeia (EU), em 2015 e em 2019: Com base nas informações, assinale a alternativa que indica o país com maior crescimento percentual em 2019 em relação a 2015. A) Brasil. B) Estados Unidos. C) China. D) Rússia. E) Índia. 3) A média aritmética das notas de uma turma com 17 meninas e 11 meninos é igual a 7. Se a média aritmética das notas dos meninos é igual a 6, a das notas das meninas é igual a: A) 7,6. B) 6,5. C) 6,7. D) 2,1. E) 4,5. 4) Uma das novidades da BNCC é a inclusão do estudo de probabilidade nos anos iniciais do ensino fundamental. O assunto propõe a abordagem de conceitos, fatos e procedimentos presentes em situações-problema do cotidiano. Assinale a alternativa que justifica a abordagem desse tema no ensino fundamental. A) Abordar o tema probabilidade no ensino fundamental se tornou um objetivo na BNCC porque falta base de cálculo numérico aos alunos quando chegam ao ensino médio. Assim, é preciso que eles tenham experiências anteriores com conceitos e fórmulas numéricas para a estruturação do conteúdo. B) As crianças acreditam muito em sorte e azar. Por isso, trabalhar conceitos de probabilidade no ensino fundamental as ajuda a justificar o aleatório e o acaso nos sorteios. C) Tudo ao nosso redor tem potencial para ser um fenômeno determinístico. Por isso, é importante trabalhar probabilidade desde o ensino fundamental a fim de que as crianças consigam determinar os eventos do cotidiano. D) É no ensino fundamental que as crianças precisam fazer a transição do lúdico para o trabalho com fórmulas abstratas. Sendo a probabilidade um assunto com diversos conceitos teóricos, é preciso iniciar seu trabalho a fim de que as crianças aprendam corretamente a resolver problemas. E) O trabalho com probabilidade e estatística com as crianças promove a compreensão de que nem todos os fenômenos são determinísticos e de que o acaso tem papel importante no cotidiano. Quando se aborda estatística na escola, independentemente do nível de ensino, o que se tem em mente é a demonstração de fórmulas e cálculos complicados não acessíveis para a maioria da população. Esse pensamento existe sobretudo entre os professores de educação infantil, o que é um obstáculo para a implementação do estudo estatístico nesse nível de ensino. Cálculos e trabalho exclusivo com números, porém, não são objetivos da estatística no início de sua abordagem. 5) Constitui(em) fase(s) para iniciar o estudo e o desenvolvimento da estatística: A) coletar dados; calcular as probabilidades numericamente; tomar decisão. B) copiar gráficos dos meios de comunicação. C) coleta de dados; tabulação; representação gráfica dos dados; sua interpretação e conclusão; comunicação. D) aprender a utilizar a calculadora para facilitar os cálculos de probabilidade. E) recortar e colar números que envolvam contexto de estatística. Na prática A contextualização e a significação dos conceitos, a fim de vincular o conhecimento com a aplicação, são fundamentais para o ensino de qualquer tema. Um dos desafios que os professores encontram na abordagem dos conceitos das medidas estatísticas é essa contextualização sem o uso de regras e cálculos matemáticos. Veja, neste Na Prática, um modo eficaz para apresentar a definição de média como conceito de equilíbrio. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/823183b9-3f42-485d-b57e-8b4090f1bc55/66200cc5-5ef8-4a83-a2a9-1a6aa69bcccd.jpg Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Mostre-me os dados O vídeo a seguir conta a história de Thalitia Williams, que se utilizou de dados para argumentar, contra seu médico, que não havia necessidade de parto induzido para seu terceiro filho. Assista a essa história motivadora e não permita ser manipuladopela estatística. Não se esqueça de ativar a legenda. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Mentir com estatística Veja, nesta reportagem, algumas críticas ao uso da estatística de maneira tendenciosa para maquiar dados e abalizar opiniões. Confira também a apresentação do livro Como mentir com estatística, de Darrell Huff. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Conceitos iniciais de probabilidade – Probabilidade e estatística Acesse este vídeo para saber mais sobre probabilidade https://www.ted.com/talks/talithia_williams_own_your_body_s_data#t-348199 https://www.observatoriodaimprensa.com.br/feitos-desfeitas/como-mentir-com-estatistica/ Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Ensino de probabilidade e estatística por meio da análise exploratória de dados e resolução de problemas Confira este artigo, que tem por objetivo avaliar a proposta em relação ao processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos básicos de estatística e probabilidade dos cursos de licenciatura em matemática. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Probabilidade e estatística desde a educação infantil O trabalho com estatística e probabilidade deve iniciar bem cedo, ou seja, desde os primeiros anos das crianças na escola. Acompanhe este vídeo e observe como os princípios da matemática são trabalhados de maneira lúdica no cotidiano escolar de uma turma de primeiro ano do ensino fundamental. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/watch?v=eFyAyz6Xy6g https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/riesup/article/view/8652708 https://www.youtube.com/embed/Cml-8MhEIko