Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIA POLÍTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAL 1º Ano Disciplina: Direito Constitucional Código: ISCED12 – CJURCFE002 TOTAL HORAS/2o SEMSTRE: 125 CRÉDITOS (SNATCA): 5 Número de Temas: 6 INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e contém reservados todos os Direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED). A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais em vigor no País. Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Direcção Acadêmica Rua Dr. Lacerda de Almeida, N.o 211, Ponta - Gêa Beira - Moçambique Telefone: 23323501 Cel: +258 823055839 Fax:23.324215 E-mail: direccao.geral@isced.ac.mz Website: www.isced.ac.mz http://www.isced.ac.mz/ Agradecimentos O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: Pela coordenação Direcção Acadêmica do ISCED Pelo design Direcção de Qualidade e Avaliação do ISCED Financiamento e logística Instituto Africano de Promoção da Educação à Distância (IAPED) Pela revisão final Dr. Mayden Lúcio Elaborado Por: Dr. Jorge Jeremias Chamussola, licenciado em Direito pela Universidade Eduardo Mondlane - Moçambique. ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL i Índice Visão geral 1 Bem vindo ao Módulo de Direito Constitucional ............................................................. 1 Objectivos do Módulo....................................................................................................... 1 Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 1 Como está estruturado este módulo ................................................................................ 2 Ícones de actividade ......................................................................................................... 3 Habilidades de estudo ...................................................................................................... 3 Precisa de apoio? .............................................................................................................. 5 Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................ 6 Avaliação ........................................................................................................................... 6 TEMA – I INTRODUÇÃO A TEORIA GERAL DO ESTADO 9 UNIDADE Temática 1.1. O Estado. .................................................................................... 9 Introdução ......................................................................................................................... 9 I – Definição ..................................................................................................................... 9 II - Processos de Formação do Estado ............................................................................ 10 III – Sociedades Politicas Pré-Estaduais ......................................................................... 10 IV – Os tipos Históricos de Estado ................................................................................. 10 V - Os Elementos do Estado ........................................................................................... 10 Sumário ........................................................................................................................... 11 Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 11 Exercícios ........................................................................................................................ 12 UNIDADE Temática 1.2. O Povo ..................................................................................... 12 Introdução ....................................................................................................................... 12 I – O povo ....................................................................................................................... 13 II – A Cidadania ou Nacionalidade ................................................................................. 14 III – A Situação dos Estrangeiros e dos Apátridas ......................................................... 16 IV - A nacionalidade na Constituição moçambicana ...................................................... 16 V - Condição jurídica das pessoas em razão da nacionalidade ou cidadania moçambicana .................................................................................................................. 17 Sumário ........................................................................................................................... 17 Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 18 Exercícios ........................................................................................................................ 19 UNIDADE Temática 1.3. O Território ............................................................................. 19 Introdução ....................................................................................................................... 19 I – O território ................................................................................................................. 20 II- Território terrestre, aéreo e marítimo ......................................................................... 20 III. Composição do território moçambicano ................................................................... 21 Sumário ........................................................................................................................... 21 Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 22 Exercícios ........................................................................................................................ 22 UNIDADE Temática 1.4. O Poder Político ...................................................................... 23 Introdução ....................................................................................................................... 23 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL ii I - Definição .................................................................................................................... 23 II - As formas de Estado ................................................................................................. 24 III - O Estado unitário: O Estado unitário centralizado e o Estado unitário regional ..... 25 IV - O Estado complexo. A união real. As federações. .................................................. 27 V - Os fins do Estado ......................................................................................................28 VI - As funções do Estado .............................................................................................. 30 VII - A organização do poder político do Estado ........................................................... 32 VIII - Órgão/ competência/ titular e cargo. Vontade funciona e imputação ................... 32 Sumário ........................................................................................................................... 34 Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 34 Exercícios ........................................................................................................................ 35 UNIDADE Temática 1.5. Exercícios do Tema I ................................................................ 35 TEMA – II: A CONSTITUIÇÃO COMO ESTATUTO DO PODER POLÍTICO 37 UNIDADE Temática 1.1. O Constitucionalismo e a Constituição. Direito Constitucional e fontes do Direito Constitucional. .................................................................................... 37 Introdução ....................................................................................................................... 37 I - Introdução: Constitucionalismo, Estado constitucional, e Direito Constitucional .... 37 II - A Constituição como acto jurídico ........................................................................... 38 III - Dimensões da Constituição ..................................................................................... 39 IV - Classificações materiais de Constituições ............................................................... 40 VI - As fontes das normas e dos princípios constitucionais ........................................... 42 Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 45 Exercícios ........................................................................................................................ 46 UNIDADE Temática 2.2. Exercícios do Tema II............................................................... 46 Sumário ........................................................................................................................... 46 TEMA – III: INTRODUÇÃO AO PODER CONSTITUINTE 47 UNIDADE Temática 3.1 O poder constituinte e o nascimento da Constituição. Manifestações típicas do poder constituinte. Tipologia dos actos constituintes. Limites jurídicos e políticos ao poder constituinte ..................................................................... 47 Introdução ....................................................................................................................... 47 I - O poder constituinte e o nascimento da Constituição ................................................ 47 II - Manifestações típicas do poder constituinte ............................................................. 48 III - Tipologia dos actos constituintes ............................................................................. 49 IV - Limites jurídicos e políticos ao poder constituinte? ................................................ 51 Sumário ........................................................................................................................... 52 Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 53 Exercícios ........................................................................................................................ 54 UNIDADE Temática 3.2. Exercícios do Tema III.............................................................. 54 TEMA – IV: FORMA DE GOVERNO, SISTEMA DE GOVERNO REGIME POLÍTICO E SISTEMA POLÍTICO 55 UNIDADE Temática 4.1. Formas de Governo, Sistema de Governo, Regimes Políticos e Sistemas Políticos. ........................................................................................................... 55 Introdução ....................................................................................................................... 55 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL iii I - Os regimes políticos ................................................................................................... 56 II - Sistemas de governo ................................................................................................. 59 Sumário ........................................................................................................................... 62 Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 62 Exercícios ........................................................................................................................ 64 UNIDADE Temática 4.2. Exercícios do Tema IV .............................................................. 65 TEMA – V: ESTADO DE DIREITO E CONSTITUIÇÃO 65 UNIDADE Temática 5.1. Princípio de Estado de Direito ................................................. 65 Introdução ....................................................................................................................... 65 I - Princípio de Estado de Direito ................................................................................... 66 II - Princípio da Legalidade da Administração ............................................................... 66 III - Princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso ................................... 67 IV - Princípio da universalidade e igualdade (artigo 35 CRM) ...................................... 68 V - Princípio da responsabilidade civil do Estado .......................................................... 68 VI - Princípio da Segurança Jurídica e da Protecção da Confiança dos Cidadãos ......... 69 VII - Princípio da protecção jurídica e das garantias processuais .................................. 71 Sumário ........................................................................................................................... 73 Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 73 Exercícios ........................................................................................................................ 74 UNIDADE Temática 5.2. O princípio democrático .......................................................... 74 Introdução ....................................................................................................................... 74 I - Princípio Democrático ............................................................................................... 75 II - Princípios concretizadores do princípio democrático ............................................... 75 Sumário ........................................................................................................................... 78 Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 79 Exercícios ........................................................................................................................ 79 UNIDADE Temática 5.3. Exercícios do Tema V .............................................................. 80 TEMA – VI: Garantia da Constituição 81 UNIDADE Temática 6.1. Meios e institutos de defesa da Constituição.......................... 81 Introdução ....................................................................................................................... 81 I - A vinculação constitucional dos poderes públicos ..................................................... 81 II - Os limites da revisão constitucional ......................................................................... 81 III - A fiscalização judicial da Constituição ...................................................................82 IV - A separação e interdependência dos órgãos de soberania ....................................... 82 Sumário ........................................................................................................................... 83 Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 83 Exercícios ........................................................................................................................ 84 UNIDADE Temática 6.2. A fiscalização da constitucionalidade e da legalidade ............. 84 Introdução ....................................................................................................................... 84 I - Sentido e Natureza ..................................................................................................... 85 II - Origem ...................................................................................................................... 85 III - Tipos de Fiscalização .............................................................................................. 86 IV - Os Vícios Geradores de Inconstitucionalidade ...................................................... 88 V - A Inconstitucionalidade Parcial ............................................................................... 89 VI - Objecto de Fiscalização de Constitucionalidade e da legalidade: actos normativos90 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL iv VII - Actos Administrativos e Decisões Jurisdicionais .................................................. 91 VIII - Órgãos de Fiscalização da Constitucionalidade das Leis .................................... 92 Sumário ........................................................................................................................... 93 Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 94 Exercícios ........................................................................................................................ 95 UNIDADE Temática 6.3. O Conselho Constitucional ....................................................... 95 Introdução ....................................................................................................................... 95 I - Natureza ..................................................................................................................... 95 II - Composição .............................................................................................................. 96 III - Balanço de Actividade do Conselho Constitucional ............................................... 97 Sumário ........................................................................................................................... 98 Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 99 Exercícios ...................................................................................................................... 100 UNIDADE Temática 6.4 Exercícios do Tema VI ............................................................ 100 Exercícios Finais do Módulo .......................................................................................... 100 BIBLIOGRAFIA 103 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 1 Visão geral Bem vindo ao Módulo de Direito Constitucional Objectivos do Módulo Ao terminar o estudo deste módulo de Direito Constitucional deverás ser capaz de saber definir o conceito de Estado e conhecer os seus elementos; conhecer o constitucionalismo a sua evolução e a supremacia da Constituição sobre as demais normas do ordenamento jurídico; conhecer o poder constituinte, sua origem, manifestação e seus limites jurídicos e políticos, saber diferenciar os conceitos de, forma de governo, regime político, sistema de governo e sistema político; conhecer as dimensões de Estado de direito e democrático; e conhecer as garantias e meios de controlo da Constituição. Objectivos Específicos Conhecer as fontes do Direito Constitucional e as relações com os demais ramos do Direito; Conhecer a evolução do constitucionalismo, a classificação e supremacia da Constituição; Demonstrar a relevância do Poder Constituinte; Identificar a origem e evolução do Estado Moçambicano; Estabelecer a organização e competência das entidades governativas; Conhecer os Direitos e Garantias Individuais e os Direitos Sociais; Identificar a nacionalidade e os Direitos Políticos; Conhecer os Instrumentos Jurídicos Constitucionais: Intervenção do Estado, Estado de Defesa e Estado de Sítio. Quem deveria estudar este módulo Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de licenciatura em Direito. Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem-vindos, não sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o manual. ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 2 Como está estruturado este módulo Este módulo de Direito Constitucional, para estudantes do 1º ano do curso Direito, à semelhança dos restantes do ISCED, está estruturado como se segue: Páginas introdutórias Um índice completo. Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo, como componente de habilidades de estudos. Conteúdo desta Disciplina / módulo Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez comporta certo número de unidades temáticas visualizadas por um sumário. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são incorporados antes exercícios de auto-avaliação, só depois é que aparecem os de avaliação. Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros exercícios teóricos, Problemas não resolvidos e actividades práticas algumas incluído estudo de casos. Outros recursos A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED pensando em si, num cantinho, mesmo o recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza nas bibliotecas física e virtual do seu centro de recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos. ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 3 Auto-avaliação e Tarefas de avaliação Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram apenas respostas. Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras. Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de avaliação é uma grande vantagem. Comentários e sugestões Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico- pedagógica. Pode ser que graçasas suas observações, o próximo módulo venha a ser melhorado. Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Habilidades de estudo O principal objectivo deste capítulo é o de ensinar aprender a aprender. Aprender aprende-se. Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, procedendo como se segue: ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 4 1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura. 2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). 3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR). 4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão. 5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou de estudo de caso se existir. IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, respectivamente como, onde e quando estudar, como foi referido no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc. É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada tema, no módulo. Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias. Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz! ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 5 Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está a se formar. Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar; Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página trocada ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, sms, e-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a preocupação. Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante – CR, etc. As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativa. ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 6 O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida em que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo. Tarefas (avaliação e auto-avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas semanas antes das sessões presenciais seguintes. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da disciplina/módulo. Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os Direitos do autor. O plágio1 é uma violação do Direito intelectual do(s) autor(es). Uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um autor, sem o citar é considerada plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos Direitos autorais devem caracterizar a realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED). Avaliação Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância, estando eles fisicamente separados e muito distantes do docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma avaliação mais fiável e consistente. Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A 1 Plágio - copiarou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização. ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 7 avaliação do estudante consta detalhada do regulamento de avaliação. Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de frequência para ir aos exames. Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhos e 1 (um) (exame). Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos Direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de Avaliação. ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 9 TEMA – I INTRODUÇÃO A TEORIA GERAL DO ESTADO UNIDADE Temática 1.1. O Estado UNIDADE Temática 1.2. O Povo UNIDADE Temática 1.3. O Território UNIDADE Temática 1.4. O Poder Político UNIDADE Temática 1.5. Exercícios do Tema UNIDADE Temática 1.1. O Estado. Introdução Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira conhecimentos sólidos sobre a noção de Estado, processo de formação do Estado e Sociedades políticas pré-estaduais Ao completar esta unidade, você será capaz de: Objectivos Saber definir o Estado; Conhecer os principais tipos históricos de Estado; Conhecer os processos de formação do Estado; Conhecer os elementos do Estado. I – Definição O Estado é segundo Marcelo Rebelo de Sousa, uma colectividade, um povo fixo num determinado território que nele institui, por autoridade própria, um poder político relativamente autónomo. A definição de Estado adoptada parte de um tipo de Estado concreto: ‘‘ O Estado nacional soberano que, nascido na Europa, se espalhou recentemente por todo o mundo ‘‘. Os traços fundamentais deste tipo de Estado, segundo o Prof. Jorge Miranda, citado por Bastos (1999) são os seguintes: Complexidade de organização e de actuação – com cada vez maior diferenciação de funções, órgãos e serviços; ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 10 Institucionalização do poder – ou subsistência do poder como ideia para além dos seus detentores concretos e actuais; Autonomia – ou formação de uma dinâmica própria do poder e do seu aparelho frente à vida social’’; Coercibilidade – ou o monopólio do uso legítimo da força; Uma peculiar sedentariedade – do enlace com certo território; A interdependência com o factor nacional ; II - Processos de Formação do Estado Nos processos de formação do Estado podem ser objecto de distinção as seguintes formas: Pacíficas Violentas De acordo com as leis vigentes no Estado ou na sociedade Contra essas leis Por desenvolvimento interno Por influência externa No plano da Antropologia história os processos mais importantes são: a conquista, a migração, a aglutinação por laços de sangue ou por laços económicos, a evolução social pura e simplesmente para organizações cada vez mais complexas. III – Sociedades Politicas Pré-Estaduais São qualificação como pré-estaduais as sociedades políticas em que o sistema de poder não esta organizado em funções diferenciadas, especializadas, ligadas umas às outras por uma rede complicada de relações hierárquicas. IV – Os tipos Históricos de Estado Existem diversas tipologias de Estado. Jellinek, citado por Bastos (1999) distingue entre: Estado oriental; Estado grego; Estado romano; Estado medieval; Estado moderno. V - Os Elementos do Estado ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 11 O Estado é constituído por três elementos, ou ‘‘ condições de existência ’’: Povo, Território e Poder político. Sumário Nesta Unidade temática estudamos e discutimos o conceito de Estado; definimos o Estado como sendo uma colectividade, um povo fixo num determinado território que nele institui, por autoridade própria, um poder político relativamente autónomo. Vimos os traços fundamentais do Estado moderno; os processos de formação do Estado, as sociedades pré estaduais e os elementos do Estado que são povo, território e poder político. Exercícios de Auto-Avaliação 1. O Estado é a única entidade com o monopólio do uso legítimo da força. Certo Errado Resposta: Certo 2. O conceito Estado não conheceu evolução ao longo do tempo. Certo Errado Resposta: Errado 3. O Estado é constituído por três elementos. Certo Errado Resposta: Certo 4. No plano da Antropologia história quais são os processos mais importantes de formação do Estado? ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 12 Resposta: São a conquista, a migração, a aglutinação por laços de sangue ou por laços económicos. 5. Um Estado não pode ser formado por influência Externa. Certo Errado Resposta: Errado 6. Um Estado não pode ser formado por via pacífica. Certo Errado Resposta: Errado Exercícios 1. Defina o Estado. 2. O que são Sociedades Politicas Pré-Estaduais? 3. Quais as formas de formação de Estado? 4. Enumere os tipos históricos de Estado. 5. Quais são as três condições de existência de um Estado? 6. Quais são os traços fundamentais do Estado actual? UNIDADE Temática 1.2. O Povo Introdução Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira conhecimentos sólidos sobre a noção de povo como um dos elementos do Estado, a distinção entre povo e população, a nacionalidade e diversos critérios da sua atribuição. ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 13 Ao completar esta unidade, você será capaz de: Objectivos Definir o conceito de povo; Saber distinguir o povo de população; Saber distinguir a nacionalidade originária da adquirida; Dominar os vários critérios para atribuição da nacionalidade. I – O povo O povo deve ser entendido, segundo o prof. Jorge Miranda, citado por Bastos (1999) como uma ‘‘ comunidade de pessoas’’ homens que o seu Direito reveste da qualidade de cidadãos ou de súbditos e que permanecem unidos na obediência às mesmas leis”. É, em conformidade, o ‘‘substrato humano do Estado’’. No mesmo sentido, o Prof. Rebelo de Sousa define o povo como ‘‘o conjunto de cidadãos ou nacionais de certo Estado ‘‘. 1. O povo é sujeito e objecto do poder. Sujeito do poder, na medida em que sujeito ao poder do Estado, ‘‘ como conjunto de homens livres, ele engloba pessoas dotadas de Direitos subjectivos umas diante das outras e perante o Estado ‘‘. Objecto do poder, dado que é o http://www.google.co.mz/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0CAcQjRw&url=http%3A%2F%2Fwww.opipoco.com.br%2F2013%2F03%2Fdeputado-tenta-se-explicar-mas-acaba.html&ei=9F1LVOG5G4TB7AbTz4H4Cw&bvm=bv.77880786,d.ZGU&psig=AFQjCNHc2MdOxWY32vz58etcFPNFoQSIqg&ust=1414311918806335 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 14 destinatário das normas que são criadas no âmbito do Estado, o qual deve ser ‘‘um Direito próprio, não um Direito estranho”. Sujeito do Poder Povo Objecto do Poder É necessário distinguir o conceito de povo, do conceito de população. População é um conceito demográfico e económicoe representa o conjunto de residentes em certo território, sejam cidadãos ou estrangeiros. II – A Cidadania ou Nacionalidade Sendo o povo a ‘‘comunidade dos cidadãos ou súbditos’’, é fundamental determinar quais é que são as pessoas que devem qualificadas dessa forma. Os Estados gozam nesta matéria, em conformidade com o Direito Internacional, de uma competência exclusiva na definição das regras de aquisição e de perda da cidadania, não obstante a necessidade de atenderem a existência de uma ligação efectiva entre o indivíduo e o Estado que atribui. Existem basicamente dois critérios quanto à atribuição da cidadania: O critério do jus sanguinis, que tem na sua base os laços de sangue ou de filiação (prevalecente nos Estados de formação mais antiga), e O critério do jus soli, que tem na sua base o local do nascimento (que é o mais utilizado em Estados mais recentes e onde existem movimentos de imigração). Distinguir também: Aquisição originária da cidadania, se produz efeitos desde, o nascimento e Aquisição derivada da cidadania, se produz efeitos a partir de um momento posterior. A cidadania deve ser apreciada actualmente numa dupla vertente: Enquanto um vinculo jurídico – político, que une um individuo ao seu Estado, e Enquanto um Direito do indivíduo com a natureza de Direito ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 15 fundamental. Daqui resulta que ter a qualidade de cidadão de um Estado implica um conjunto de Direitos e de deveres, tais como: Participar na vida política do Estado; Beneficiar da defesa dos seus Direitos dentro do território do Estado; Beneficiar da defesa dos seus Direitos fora do território do Estado, nomeadamente através de protecção diplomática; Participar na defesa do território, nomeadamente através da prestação de serviços militar. Deve ser tido em consideração que podem existir situações de cidadania dupla ou plural e de apátridia ou de apolidia. No primeiro caso, um indivíduo é considerado por mais de um Estado como seu nacional, em resultado de situações como o casamento. No segundo caso, um indivíduo não é considerado por nenhum Estado como seu nacional. No sentido de evitar estas situações, o artigo 15 da Declaração Universal dos Direitos do Homem prevê que: 1. Todo o indivíduo tem o Direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade” E o n.º 3 do artigo 24 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos consagra que: ‘‘ todas as crianças têm o Direito de adquirir uma nacionalidade ’’. Distinguir cidadania e nacionalidade. Cidadania deve estar reservada a pessoas singulares: os cidadãos que são pessoas físicas. Nacionalidade deve ser aplicado a pessoas colectivas ou a coisas: as empresas, por um lado, e os navios e as aeronaves, por outro2. Distinção entre cidadania e nacionalidade 2 O legislador moçambicano preferiu tratar indistintamente os dois termos ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 16 III – A Situação dos Estrangeiros e dos Apátridas Os estrangeiros e os apátridas ou apólidas gozam, em termos gerais, de um estatuto jurídico distinto do dos cidadãos do Estado. Actualmente, a principal diferença será o não ter, em princípio, o gozo de Direitos políticos, na medida em que devem ter um tratamento compatível com a dignidade da pessoa humana. Daqui resulta que esse estatuto pode variar, segundo o Prof. Jorge Miranda, entre: Um tratamento mínimo ou razoável dos estrangeiros como pessoas, à luz da consciência ética universal ou dominante no nosso tempo e; Equiparação ou tratamento mais favorável em consequência de convenções internacionais que sejam celebrados pelas Estados interessados. Deve ser no entanto, sublinhado que ‘‘ nenhum estrangeiro tem Direito de entrada no território de outro Estado (ao contrário do que sucede com os cidadãos deste), mas uma vez admitido, fica o Estado adstrito a trata-lo de modo razoável segundo um critério objectivo (que pode, no limite, ser superior ao conferido aos seus cidadãos)”. IV - A nacionalidade na Constituição moçambicana A nacionalidade na Constituição moçambicana está maioritariamente disposta no título II que vai dos artigos 23 à 34 da seguinte forma: ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 17 Título II da CRM Nacionalidade Capítulo Assunto Artigo I Nacionalidade originária Princípio da territorialidade 23 à 25 Princípio da consaguinidade Casamento 26 II Nacionalidade adquirida Naturalização 27 Filiação 28 Adopção 29 III Perda e reaquisição da Nacionalidade 31 à 32 IV Prevalência da nacionalidade e registo 33 à 34 V - Condição jurídica das pessoas em razão da nacionalidade ou cidadania moçambicana Da cidadania depende o exercício de certos Direitos fundamentais A CRM faz uma distinção entre cidadãos originariamente moçambicanos e cidadãos de nacionalidade adquirida: a) Os cidadãos de nacionalidade adquirida não são elegíveis para os cargos de deputados (art. 30/1 da CRM) e de presidente da República (art. 147/2 a) da CRM). Para os candidatos á presidência da República acresce a exigência de que o candidato não possua uma outra nacionalidade. b) Outras restrições ao exercício de funções (art. 30/1 da CRM) não podem ser membros do governo, titulares de órgãos de soberania e não tem acesso à carreira diplomática ou militar Sumário Povo é o conjunto de cidadãos ou nacionais decerto Estado. O povo é sujeito e objecto do poder. É necessário distinguir o conceito de povo, do conceito de população. ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 18 População é um conceito demográfico e económico e representa o conjunto de residentes em certo território, sejam cidadãos ou estrangeiros. Os Estados gozam de uma competência exclusiva na definição das regras de aquisição e de perda da cidadania, não obstante a necessidade de atenderem a existência de uma ligação efectiva entre o indivíduo e o Estado que atribui. Distinguir cidadania e nacionalidade. Cidadania deve estar reservada a pessoas singulares: os cidadãos que são pessoas físicas. Nacionalidade deve ser aplicada a pessoas colectivas ou a coisas: as empresas, por um lado, e os navios e as aeronaves, por outro. Exercícios de Auto-Avaliação 1. Pode haver casos de indivíduos sem nacionalidade. Certo Errado Resposta: Certo 2. Pode haver casos de indivíduos com dupla nacionalidade. Certo Errado Resposta: Certo 3. Em bom rigor cidadania é diferente de nacionalidade Certo Errado Resposta: Certo 4. A CRM faz uma distinção entre cidadãos originariamente moçambicanos e cidadãos de nacionalidade adquirida Certo Errado Resposta: Certo ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 19 5. O povo é sujeito e objecto do poder. Comente. 6. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade, nem do Direito de mudar de nacionalidade. Certo Errado Resposta: Certo Exercícios 1. O que entende por povo? 2. Distinga povo da população. 3. Ter a qualidade de cidadão de um Estado implica um conjunto de Direitos e de deveres. Diga quais são. 4. Existem basicamente dois critérios quanto à atribuição da cidadania. Quais são? 5. A cidadania deve ser apreciada actualmente numa dupla vertente. Comente 6. Distinga nacionalidade originária da nacionalidade adquirida. UNIDADE Temática 1.3. O Território Introdução Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira conhecimentos sólidos sobre a noção do Território como um dos elementos do Estado, a sua importância para o Estado e a composição do território moçambicano. Ao completar esta unidade, você será capaz de: Objectivos Saber definir o conceito Território; Saber a importância do território para o Estado; Conhecer e dominar a composição do território moçambicano; ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 20 I – O território O território de um Estado é fundamental para delimitar qual é o espaço em que o Estado pode exercer o seu poder soberano e, em conformidade, qual é o âmbito espacial de aplicação das normas jurídicas que são emitidas pelo poder político. O território é o espaço jurídico próprio do Estado, o que significa, segundo o Prof. Jorge Miranda, citado por Bastos (1999) que: Só existe poder do Estado quando ele consegue impor a sua autoridade, em nome próprio, sobre certo território; A atribuição de personalidade jurídica internacional ao Estado ou o seu reconhecimento por outros Estados dependente da efectividade desse poder; Os órgãos do Estado encontram-se sempre sediados, salvo em situação de necessidade, no seu território; No seu território cada Estado tem o Direito de excluir poderes concorrentes de outros Estados (ou de preferir a eles); No seu território, cada Estado só pode admitir o exercício de poderes doutro Estado sobre quaisquer pessoas com a sua autorização; Os cidadãos só podem beneficiar da plenitude de protecção dos seus Direitos pelo respectivo Estado no território deste. Daqui resulta, em conformidade, que o Direito do Estado sobre o seu território costuma ser entendido como um Direito ou poder indivisível, inalienável e exclusivo. Indivisível Território do Estado Inalienável Exclusivo II- Território terrestre, aéreo e marítimo O território de um Estado é constituído obrigatoriamente por território terrestre e por território aéreo e, no caso dos Estados que tem fronteira com mares ou oceanos, por território marítimo. A delimitação do território é feita tendo em consideração normas de Direito Internacional e normas de Direito interno. ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 21 III. Composição do território moçambicano Em termos de extensão o território moçambicano abrange toda a superfície terrestre, a zona marítima e o espaço aéreo delimitado pelas fronteiras nacionais art. 6/1 da CRM. Esquematicamente podemos representar o território moçambicano do seguinte modo: Território Moçambicano Território Limites Poder do Estado Superfície terrestre Fronteiras nacionais Soberania Completa e Exclusiva Águas Territoriais 12 milhas Soberania Completa e Exclusiva Zona marítima Zona Contígua 24 milhas Poderes de fiscalização Zona Económica Exclusiva 200 milhas Definição dos recursos Plataforma continental 200 - 350 milhas Soberania Completa e Exclusiva Espaço aéreo 48 km altitude Soberania Completa e Exclusiva Sumário O território de um Estado é fundamental para delimitar qual é o espaço em que o Estado pode exercer o seu poder soberano e, em conformidade, qual é o âmbito espacial de aplicação das normas jurídicas que são emitidas pelo poder político. O Direito do Estado sobre o seu território deve ser entendido como um Direito ou poder indivisível, inalienável e exclusivo. Em termos de extensão o território moçambicano abrange toda a superfície terrestre, a zona marítima e o espaço aéreo delimitado pelas fronteiras nacionais art. 6/1 da CRM. ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 22 Exercícios de Auto-Avaliação 1. O território de um Estado é fundamental para delimitar qual é o espaço em que o Estado pode exercer o seu poder soberano Certo Errado Resposta: Certo 2. O Direito do Estado sobre o seu território é um Direito ou poder divisível, alienável e não exclusivo Certo Errado Resposta: Errado 3. Como é constituída a zona marítima moçambicana? Resposta: É constituída pelas águas territoriais, zona contígua, zona Económica Exclusiva e plataforma continental 4. A que distância fica a zona contígua? Resposta: Fica às 24 milhas. 5. A que distância fica a zona económica exclusiva? Resposta: Fica à 200 milha. 6. Qual é o poder do Estado moçambicano sobre a sua superfície terrestre? Resposta: Poder de soberania completa e exclusiva. Exercícios 1. Defina território. 2. Qual é a composição do território de um Estado? 3. Qual é a composição do território moçambicano? 4. O território moçambicano é uno, indivisível e inalienável. Comente 5. Qual é o poder do Estado sobre o seu espaço aéreo? ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 23 6. Como é feita a delimitação de território de um Estado? UNIDADE Temática 1.4. O Poder Político Introdução Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira conhecimentos sólidos sobre a noção do Poder Político como um dos elementos do Estado, a divisão do poder político, fins e funções do Estado Ao completar esta unidade, você será capaz de: Objectivos Dominar a divisão do poder político; Conhecer e saber diferenciar as diversas formas do Estado Conhecer os fins do Estado; Conhecer as funções do Estado; I - Definição O terceiro dos elementos que caracterizam o Estado é o exército do poder político. Embora não se trate de uma característica exclusiva do Estado, importa salientar que a forma mais comum e paradigmática de poder político é a que tem lugar no âmbito dos Estados. Nestes termos, o poder político que se exerce nos Estados é: Um poder constituinte, originário, que tem um fundamento próprio e que não está dependente de qualquer outro poder; Um poder de auto-organização, que tem por objectivo permanente e continuado a criação de condições para a manutenção da segurança, a administração da justiça e a promoção do bem-estar da comunidade politica; Um poder de decisão que faz as opções consideradas adequadas à organização da vida da comunidade politica, nomeadamente através da produção de regras jurídicas. Poder constituinte ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 24 Poder Político Poder de auto- organização Poder de decisão O poder político é exercido no âmbito do Estado por um conjunto de órgãos do Estado, que são poderes constituídos e que devem autuar na estrita observância das competências previstas na lei. Daqui resulta que o poder político que é exercido no âmbito do Estado está limitado pelo Direito. Por um lado, e antes de mais, pelo Direito que é produzido internamente por esse mesmo poder político. É, por outro lado, em termos externos, pelo Direito Internacional. A organização política implica, nestes termos, a distinção entre governantes, no âmbito do povo. É, alias, de salientar que mesmo o modelo democrático de organização da sociedade não implica que todos os cidadãos devem (e possam) participar directa e efectivamente nos exercícios do poder político. Nesse sentido, afirma o Prof. Jorge Miranda que não são simples as relações entre os governantes e governados e configuração que patenteiam pode servir para classificar os diferentes sistemas e regimes. Mas nenhum sistema político, por mais democrático que seja, suprime a distinção; só a pode mitigar ou reordenar mais em coerência com os princípios. O fundamental é, assim, que os governantes actuem tendo em consideração o interesse dos governados e que os Direitos e vantagens resultantes do cargo sejam entendidos em termos funcionais e não transformados em vantagens pessoais. Importa, ainda, distinguir os governados entre cidadão activos, que são os titulares de Direitos políticos e cidadãos não activos, que são aqueles que não têm capacidade de participação política, nomeadamente em razão da idade. II - As formas de Estado Deve ser tida em consideração a distinção entre Estado unitário e o Estado complexo, com base na existência de um ou mais poderes políticos no mesmo Estado (sendo que,qualquer caso, só um deles é soberano). O critério que está assim, na base da distinção é o do modo de o Estado dispor o seu poder em face de outros poderes de igual natureza (em termos de coordenação e subordinação) e quanto ao povo e ao território (que ficam sujeitos a um ou a mais de um poder político). ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 25 Estado unitário Forma de Estado Estado complexo III - O Estado unitário: O Estado unitário centralizado e o Estado unitário regional No Estado unitário deve ser feita a distinção entre Estado unitário centralizado e Estado unitário regional. No primeiro, existe apenas um poder político estadual, enquanto no segundo existe um fenómeno de descentralização política. A descentralização política sempre a nível territorial: são provinciais ou regionais que se tornam politicamente autónomas por os seus órgãos desempenharem funções políticas, participarem ao lado dos órgãos estaduais, no exercício de alguns poderes ou competências de carácter legislativo ou governativo. As experiências de regionalismo político são recentes e remontam à Constituição espanhola de 1931 e à italiana de 1947. O Estado unitário regional tem na base uma situação e descentralização política que se traduz na atribuição a entidades infraestaduais de poderes ou funções de natureza política, relativas à definição do interesse público ou a tomada de decisões políticas (designadamente, de decisões legislativas). Segundo o prof. Jorge Miranda, existem várias categorias de Estados regionais: a) Estado regional integral – aquele em que todo o território se divide em regiões autónomas e Estado regional parcial – aquele em que o território não está todo dividido em regiões autónomas e em que encontram-se regiões politicamente autónomas e regiões ou circunscrições só com descentralização administrativa, verificando-se pois, diversidade de condições jurídico-políticas da região para região; b) Estado regional homogéneo – aquele em que a organização das regiões é, senão uniforme, idêntica (a mesma no essencial ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 26 para todos) e Estado regional heterogéneo – aquele em que a organização das regiões “… pode ser diferenciada ou haver regiões de estatuto comum das regiões de estatuto especial; c) Estado com regiões de fins gerais – aqueles em que as regiões são constituídas para a prossecução de interesses (e, em princípio, de todos os interesses) específicos das pessoas ou das populações de certas áreas geográficas e Estado com regiões de fins especiais – aqueles em que a descentralização política regional e moldada em razão de algum ou alguns interesses específicos (v.g. interesses culturais) e é, porventura, mesmo a partir da comunidade desses interesses que se recortam os territórios regionais. Distinguir a descentralização política ou político-administrativa que está na base do fenómeno do regionalismo de: Desconcentração: que consiste em existirem diferentes órgãos do Estado por que se dividem funções e competências, a diferente nível hierárquico ou não, e de âmbito central ou local; Descentralização administrativa: que designa o fenómeno de atribuição de poderes ou funções de natureza administrativa a entidades intraestaduais, tendências à satisfação quotidiana de necessidades colectivas; Regionalização: que se traduz em desconcentração regional e, sobretudo, na criação de autarquias supra municipais para fins de coordenação de actividades, de utilização de serviços em comum, de planeamento, de participação, de fomento cultural e económico; Autonomia política: que é um conceito empírico destinado a descrever algo situado entre a não autonomia territorial e o estatuto de Estado independente, em igualdade com quaisquer outras comunidades que deste façam parte; Federalismo. Deve ser sublinhado que a descentralização pode ser administrativa ou política e que não existem formas de descentralização jurisdicional, na medida em que a função jurisdicional é sempre atribuída a tribunais que são considerados órgãos do Estado. ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 27 Estado unitário clássico Estado unitário Estado unitário regional IV - O Estado complexo. A união real. As federações. No Estado complexo deve ser feita a distinção entre união real e federação. Na primeira, existe uma estrutura de poderes políticos sobrepostos, enquanto na segunda existe uma estrutura de fusão de poderes políticos das entidades componentes. A união real Na união real, estamos em presença de uma associação ou união de Estados, que dá lugar à criação de um novo Estado, na qual alguns dos órgãos dos Estados associados passam a ser comuns. Em conformidade, a união real é baseada na fusão ou na colocação em comum de alguns dos órgãos dos Estados que a constituem, de tal modo que fica a haver, ao lado dos órgãos particulares de cada Estado, um ou mais órgãos comuns (pelo menos, o Chefe de Estado é comum) com os respectivos serviços de apoio e execução. Exemplos de união real: Portugal e Brasil de 1815 a 1822, a Suécia e a Noruega de 1815 a 1905 e a Áustria e a Hungria de 1867 a 1918. Distinguir a união real da união pessoal, que é a situação em que o Chefe de Estado é comum a dois Estados, embora somente a título pessoal e não orgânico; o que é comum é o titular do órgão e não o próprio órgão. Exemplo de união pessoal: Portugal e Espanha de 1580 a 1640. União real ≠ União pessoal As federações Na federação, estamos em presença de uma associação ou união de Estados, que dá lugar à criação de um novo Estado, e em que surgem novos órgãos de poder político sobrepostos aos órgãos dos Estados federados. Em conformidade, para o prof. Jorge Miranda, o Estado federal ou federação é baseado numa dualidade: ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 28 Por um lado, numa estrutura de sobreposição, a qual recobre os poderes políticos locais (isto é, dos Estados federados), de modo a cada cidadão fica simultaneamente sujeito a duas Constituições - a federal e a do Estado federado a que pertence – e ser destinatário de actos provenientes de dois aparelhos de órgãos legislativos, governamentais, administrativos e jurisdicionais; e, por outro lado, numa estrutura de participação, em que o poder político central surge como resultante da agregação dos poderes políticos locais, independentemente do modo de formação: donde a terminologia clássica de “Estado de Estados”. A federação tem na sua origem uma Constituição federal, resultante do exercício de um poder constituinte autónomo, que contem o fundamento de validade e de eficácia do ordenamento jurídico federativo; e é ele que define a competência das competências. Distinguir federação de confederação que é uma associação de Estados em que os Estados participantes limitam a sua soberania em determinadas matérias em resultado de um tratado internacional com esse objectivo. Nestes termos, “do pacto confederativo resulta uma entidade a se, com órgãos próprios (pelo menos, uma assembleia ou dieta confederal). Não chega a emergir um novo poder político ou mesmo uma autoridade supraestadual com competência genérica”. Exemplos de confederação: os cantões suíços até 1848, os Estados Unidos da América entre 1781 e 1787, o Estados da Confederação do Reno de 1806, da Confederação Germânica de 1815 ou da Confederação da Alemanha do Norte de 1866 e o Estados da Comunidade de Estados Independentes, que foi criada em 1991 no surgimento da dissolução da União Soviética. Federação ≠ Confederação União real Estado complexo Federações V - Os fins do Estado ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 29 Os fins do Estado são objectivos prosseguidos pelo poder político doEstado. São normalmente considerados três fins do Estado: segurança, justiça e bem-estar. A segurança, tem várias facetas: a segurança interna, ou ordem interna, e a segurança externa, ou defesa da colectividade perante o exterior; a segurança individual, proporcionada pela definição, através de normas jurídicas executadas pelos órgãos do Estado, dos Direitos e deveres reconhecidos a dado cidadão, e a segurança colectiva, enquanto realidade que envolve toda a comunidade considerada. A justiça visa a substituição, nas relações entre os homens, dos arbítrios por um conjunto de regras capaz de consensualmente estabelecer uma nova ordem e, assim satisfazer uma aspiração por todos sentidos. O bem-estar, entendido como bem-estar económico, social e cultural que consiste na promoção das condições de vida dos cidadãos em termos de garantir o acesso, em condições sucessivamente aperfeiçoadas, a bens e serviços considerados fundamentais pela colectividade, tais como bens económicos que permitam a elevação do nível de vida de estratos sociais cada vez mais amplos, e serviços essenciais, por exemplo, os que contemplam a educação, a saúde e a segurança social”. Deve ser tida em consideração a distinção entre: Justiça comutativa – parte de uma ideia de igualdade abstracta e formal, que em paridade de circunstâncias, exige igualdade de tratamento e equivalência de prestações e contraprestações. Justiça distributiva – parte de uma ideia de igualdade material, o que implica que se forem desiguais as características ou a situação em que cada um se encontra, a igualdade terá de ser reposta pelo recurso à proporcionalidade ou a critérios de equitativa compensação, pois nada há de mais injusto, acentuava-o já Aristóteles, do que tratar como igual o que é desigual. Segurança Comutativa Fins de Esatdo Justiça ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 30 Distributiva bem estar VI - As funções do Estado As funções do Estado como actividades desenvolvidas pelos órgãos do poder político do Estado, tendo em vista a realização dos objectivos que se lhes encontram constitucionalmente cometidos. O prof. Marcelo Rebelo de Sousa, citado por Bastos (1999) propõe um esquema hierarquizado das funções do Estado: Em primeiro lugar, a função constituinte, através da qual o poder político define as regras essenciais da existência colectiva criando a lei das leis, a Constituição; Em segundo lugar, a função de revisão constitucional, através da qual vai revendo a Constituição para a adaptar ao devir colectivo; Em terceiro lugar, as funções independentes, principais ou primárias, constituídas por: A função política que traduz-se na definição e prossecução pelos órgãos do poder político dos interesses essenciais da colectividade, realizando, em cada momento, as opções para o efeito consideradas mais convenientes; A função legislativa que corresponde à prática de actos provenientes de órgãos constitucionalmente componentes e que revestem a forma externa de lei; E, em quarto lugar, as funções dependentes, subordinadas ou secundárias, constituídas por: A função jurisdicional que “…consiste no julgamento de litígios, resultantes de conflitos de interesses privados, ou público e privados, bem como a punição da violação da Constituição e das leis, através de órgãos entre si independentes, colocados numa posição de passividade e imparcialidade, e cujos titulares (os juízes) são inamovíveis e, em princípio não podem ser sancionados pela forma como exercem a sua actividade”. A função administrativa que consiste na satisfação das necessidades colectivas que, por virtude de prévia opção política ou legislativa se entende que incumbe ao Estado prosseguir, encontrando-se tal tarefa cometida a órgãos ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 31 interdependentes, dotados de iniciativa e de parcialidade na realização do interesse público, e com titulares amovíveis e responsáveis pelos seus actos. ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 32 Constituinte Revisão constitucional Funções do Estado Política Primárias Legislativa Jurisdicional Secundárias Administrativa VII - A organização do poder político do Estado O Estado é uma pessoa colectiva o que implica que seja destinta de cada uma das pessoas físicas que compõem a comunidade e dos próprios governantes e susceptível de entrar em relações jurídicas com outras entidades, tanto no domínio do Direito interno como no do Direito Internacional, tanto sob a veste de Direito Público como sob a do Direito privado. O Estado, enquanto pessoa colectiva, actua através de órgãos VIII - Órgão/ competência/ titular e cargo. Vontade funciona e imputação Órgão do Estado é, em conformidade com o pensamento do Prof. Jorge Miranda o centro autónomo institucionalizado de emanação de uma vontade que lhe atribuída, sejam quais forem a relevância, alcance, os efeitos (externos ou mesmo internos) que ela assuma. O centro de formação de actos jurídicos do Estado (e no Estado). Instituição, tornada efectiva através de uma ou mais de uma pessoa física, de que o Estado carece para agir (para agir juridicamente). O conceito de órgão, segundo o Prof. Jorge Miranda; desdobra-se em quatro facetas ou elementos que importa distinguir não obstante não poderem ser autonomizados: A instituição, ou, em certa acepção, o ofício - sendo instituição na célebre definição de HAURIOU, a ideia de obra ou de empreendimento que se realiza e perdura no meio social; ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 33 A competência, ou complexo de poderes funcionais cometidos ao órgão, parcela do poder público que lhe cabe; O titular, ou pessoa física ou conjunto de pessoas físicas que, em cada momento, encarnam a instituição e formam a vontade que há-de corresponder ao órgão; O cargo ou mandato (quando se trate de órgão electivo) Função do titular, papel institucionalizado que lhe e distribuído, relação específica dele com o Estado, traduzida em situações subjectivas, activas e passivas. O conceito de competência tem em Direito Público em geral, e no Direito Constitucional em particular, uma consequência fundamental e de grande alcance, a de que: O órgão não pode actuar sem ser em conformidade com a competência que está prevista na lei. No caso contrário, isto é, se o órgão praticar um acto que não recaia na sua competência, esse acto será inválido, irregular ou ineficaz por incompetência. Importa ter, no entanto, em consideração que tendo a competência o seu fundamento na norma, esta pode ser de dois tipos: explícita e implícita. Isso quer dizer, com base em diferentes graus de leitura, que, no primeiro caso, pode assentar numa norma que, explicitamente, a declare, enquanto, no segundo caso, pode assentar em norma cujo sentido somente seja descoberto através de técnicas interpretativas e que surja como consequência de outra norma -ou nela esteja contida. O princípio da prescrição normativa da competência é, numa ordem constitucional de Estado de Direito, manifestação de duas ideias mais fundas: a de limitação do poder público como garantia de liberdade das pessoas e a da separação e articulação dos órgãos do Estado entre si e entre eles e os órgãos de quaisquer entidades ou instituições publicas". Importa distinguir o conceito de órgão do conceito de agente. Nestes termos o agente é alguém que não forma, nem exprime a vontade colectiva; limita-se a colaborar na sua formação ou, o mais das vezes, a dar execução as decisões que dele derivam, sob a direcção e a fiscalização do órgão. O funcionamento do órgão, na medida em que se trata de uma ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 34 construçãojurídica e não de uma realidade física, implica a necessária intervenção de pessoas físicas. Isso significa que essas pessoas quando actuam no âmbito da sua esfera jurídica estão a manifestar uma vontade psicológica, mas quando estão a actuar como suporte do órgão estão a manifestar uma vontade funcional. A vontade funcional deve ser emendada como a manifestação de vontade do órgão, em conformidade com o fenómeno da imputação. Sumário O poder político que é exercido no âmbito do Estado está limitado pelo Direito. Por um lado, e antes de mais, pelo Direito que é produzido internamente por esse mesmo poder político. É, por outro lado, em termos externos, pelo Direito Internacional. Deve ser tida em consideração a distinção entre Estado unitário e o Estado complexo, com base na existência de um ou mais poderes políticos no mesmo Estado (sendo que, qualquer caso, só um deles é soberano). Assim temos como formas de Estado: Estado Simples e Estado Complexo. Os fins do Estado são objectivos prosseguidos pelo poder político do Estado. São normalmente considerados três os fins do Estado: segurança, justiça e bem-estar. As funções do Estado são as actividades desenvolvidas pelos órgãos do poder político do Estado, tendo em vista a realização dos objectivos que se lhes encontram constitucionalmente cometidos. Exercícios de Auto-Avaliação 1. O poder político é um poder: originário, de auto organização e de decisão. Certo Errado Resposta: Certo 2. Quais são as formas de Estado que conheces? Resposta: Estado simples ou unitário e Estado complexo ou composto. 3. Faça a distinção entre Estado unitário centralizado e Estado ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 35 unitário regional. Resposta: No primeiro, existe apenas um poder político estadual, enquanto no segundo existe um fenómeno de descentralização política. 4. As experiências de regionalismo político são antigas. Certo Errado Resposta: Errado 5. A descentralização pode ser jurisdicional? Resposta: Não. A descentralização pode ser administrativa ou política. É que não existem formas de descentralização jurisdicional, na medida em que a função jurisdicional é sempre atribuída a tribunais que são considerados órgãos do Estado 6. Quais são as formas de Estado complexo? Resposta: União Real e Federação Exercícios 1. Quais são as várias categorias de Estados regionais? 2. Diferencie a desconcentração da descentralização administrativa. 3. A federação e o “Estado dos Estados”. Comente 4. Quais são os fins do Estado? 5. Quais são as funções do Estado? 6. O que entende por funções do Estado? UNIDADE Temática 1.5. Exercícios do Tema I 1. O elemento do Estado População é constituído por cidadãos, apátridas e estrangeiros. Comente. 2. José Zingombere, de 18 anos de idade, filho de pais moçambicanos nasceu no Malawi, tendo os seus pais o registado como malawiano. Hoje ele pretende possuir a nacionalidade ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 36 moçambicana. Pode obtê-la? 3. Um grupo de deputados da Assembleia da República apresentou um projecto de lei onde que se pretende dividir o território moçambicano em três partes (Estados). Quid Juris? 4. A competência não se presume! Comente. 5. Defina órgão de Estado? ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 37 TEMA – II: A CONSTITUIÇÃO COMO ESTATUTO DO PODER POLÍTICO UNIDADE Temática 2.1. O constitucionalismo e a Constituição. Direito Constitucional e fontes do Direito Constitucional. UNIDADE Temática 2.2. Exercícios do Tema II UNIDADE Temática 2.1. O Constitucionalismo e a Constituição. Direito Constitucional e fontes do Direito Constitucional. Introdução Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira conhecimentos sólidos sobre o Constitucionalismo, Estado constitucional, e Direito Constitucional a Constituição como acto jurídico, Constituição e sistema jurídico, Dimensões da Constituição, Classificações materiais de Constituições e as fontes do Direito Constitucional Ao completar esta unidade, você será capaz de: Objectivos Saber definir o Constitucionalismo, Estado constitucional e a Constituição; Conhecer as dimensões da Constituição; Conhecer as classificações da Constituição; Conhecer as fontes do Direito Constitucional. I - Introdução: Constitucionalismo, Estado constitucional, e Direito Constitucional O Direito Constitucional moderno provém do constitucionalismo, e remete-nos para a ideia de Estado constitucional. O Estado constitucional nasce da luta contra o Estado absoluto. O objectivo do constitucionalismo era – e é – o de limitar juridicamente o poder do Estado (consequentemente, abolir o absolutismo real) através de uma Constituição escrita. E de que forma opera essa limitação? Entre outros aspectos, através de um ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 38 «instrumento básico, através do qual se procura alcançar esse objectivo», o princípio da separação de poderes. Mas também, e principalmente, através do reconhecimento de Direitos fundamentais dos cidadãos. Em consequência disso, é neste contexto que surgem as primeiras proclamações dos Direitos do Homem, e a proclamação da igualdade jurídica de todos os homens, independentemente do nascimento ou de outros factores. Em consequência disso, também, a abolição de privilégios. A limitação jurídica do poder do Estado, em conexão com a responsabilidade jurídica dos titulares dos cargos públicos, constitui o elemento essencial de legitimação do poder no contexto de um Estado de Direito. Segundo Gomes Canotilho Constitucionalismo é a teoria (ou ideologia) que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos Direitos em dimensão estruturante da organização político-social de uma comunidade. Neste sentido o constitucionalismo moderno representará uma técnica específica de limitação do poder com fins garantísticos. Diríamos, em síntese, que o constitucionalismo moderno tem sido essencialmente marcado por uma lógica de limitação do poder, e pela oposição às arbitrariedades desse mesmo poder, tendo em vista a salvaguarda dos Direitos fundamentais dos cidadãos. O Direito Constitucional é, por sua vez, a parte da ordem jurídica que rege o próprio Estado enquanto comunidade e enquanto poder. No contexto da sua inserção no Direito em Geral, consiste, por isso, no conjunto de normas e princípios que, por um lado, reconhecem um conjunto de Direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, e por outro, regulam a organização, o funcionamento e os limites do poder político. II - A Constituição como acto jurídico Por Constituição entendemos, hoje, a lei suprema do Estado (Lei Fundamental), que através do seu sistema de normas e princípios jurídicos, estabelece a “estrutura básica” do Estado: reconhecendo um conjunto de Direitos, liberdades e garantias dos cidadãos; e fixando as atribuições, as competências e, por conseguinte, os limites de actuação do poder político. Esta afirmação pode ser desdobrada em três elementos essenciais: (1) um elemento subjectivo; (2) um elemento formal; e (3) um elemento material. 1) A Constituição (normalmente, plasmada num documento escrito) é, ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 39 em primeiro lugar, uma lei, uma fonte legislativa, um acto jurídico- positivo. Nestes termos, é um acto jurídico intencional (elemento subjectivo). 2) Utilizando a metáfora kelsiana, esta lei encontra-se no topo de uma “estrutura escalonada” – a tal “pirâmide normativa”, ou seja, localiza- se num lugar cimeiro na hierarquia das fontes. Por isso, em segundo lugar, dizemos que a Constituição é dotada de supremacia máxima na ordem jurídica estadual (elemento formal). 3) A Constituição estabelece, por fim, a “estrutura básica” do Estado, ou a sua ordenação jurídico-política. Ou seja, a Constituição regula
Compartilhar