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Epidemiologia, Vigilância e Educação em Saúde Pública 02 1. Introdução 4 Saúde/Doença – Conceitos Básicos 5 Critérios Diagnósticos 6 Medindo a Ocorrência de Doenças 7 População em Risco 8 Incidência e Prevalência 8 Alguns Coeficientes Usados para Medir Saúde e Doença 12 2. Epidemiologia 15 Avanços Recentes da Epidemiologia 17 Área de Atuação da Epidemiologia 18 Epidemiologia e Saúde Pública 18 Epidemiologia Molecular e Genética 19 Epidemiologia Clínica 20 Epidemiologia Ambiental e Ocupacional 20 Epidemiologia dos Acidentes 22 3. Vigilância em Saúde 25 Vigilância Epidemiológica 25 Objetivos da Vigilância Epidemiológica 25 Princípios da Vigilância Epidemiológica 26 Vigilância Epidemiológica na Prática 27 Vigilância Sanitária 28 4. Educação em Saúde 32 5. Referências Bibliográficas 36 03 4 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 1. Introdução Fonte: www.institutomaissaude.org.br1 os esforçamos para oferecer um material condizente com a graduação daqueles que se candida- taram a esta especialização, procu- rando referências atualizadas, em- bora saibamos que os clássicos são indispensáveis ao curso. As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras, afinal, opiniões e bases in- telectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos educacionais, mas deixamos claro que não há in- tenção de fazer apologia a esta ou aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento cien- tífico, testado e provado pelos pes- quisadores. 1 Retirado em www.institutomaissaude.org.br Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específi- cos, nos colocamos abertos para crí- ticas e para opiniões, pois temos consciência que nada está pronto e acabado e com certeza críticas e opi- niões só irão acrescentar e melhorar nosso trabalho. Como os cursos baseados na Metodologia da Educação a Distân- cia, vocês são livres para estudar da melhor forma que possam organi- zar-se, lembrando que: aprender sempre, refletir sobre a própria ex- periência se somam e que a educa- ção é demasiado importante para nossa formação e, por conseguinte, N 5 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA para a formação dos nossos/ seus alunos. Segundo Tinoco (1984) as in- formações em saúde são essenciais para a realização do planejamento das ações em saúde, planejamento este que pode ser um processo medi- ante o qual se lança o desenvolvi- mento, da forma mais racional e rá- pida possível. O mesmo autor destaca que os administradores de sistemas de sa- úde dispõem atualmente de recursos técnico-administrativos que lhes permitem atuar com mais segurança na solução dos problemas em saúde. Com o processo de planejamento implantado, podem ser utilizadas técnicas que lhes facilitem a tomada de decisão. Alguns fatores estão di- retamente relacionados à aplicação dessa técnica, podendo apresentar maior ou menor efetividade. Entre os fatores, podemos destacar: A informação estatística dis- ponível deve ser em quali- dade e quantidade adequa- das; Conhecimento epidemiológico — apesar de avançado, não se apresenta em extensão sufici- ente para abranger todas as doenças e agravos à saúde; Esforço metodológico despen- dido na operacionalização das técnicas — necessidade de pes- soal especializado. Para estabelecer o diagnóstico de uma situação de saúde, a maté- ria–prima básica é a informação es- tatística. Essa matéria–prima im- prescindível para o diagnóstico tam- bém o é para a elaboração do plano, para a avaliação e o controle dos re- sultados dos programas desenvolvi- dos (CERCHIARI E ERDMANN, 2008). Essas premissas acima nos levam aos objetivos desta apostila: entender o caminho percorrido pela vigilância epidemiológica e sanitá- ria, áreas estas que o gestor de saúde deve conhecer, pois a partir das in- formações obtidas ele e sua equipe poderão traçar as metas para pro- moção da saúde. Ressaltamos que essa apostila trata-se de uma reu- nião do pensamento de vários auto- res que entendemos serem os mais importantes para a disciplina. Para maior interação com o aluno deixamos de lado algumas re- gras de redação científica, mas nem por isso o trabalho deixa de ser cien- tífico. Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacu- nas, ao final da apostila encontrarão nas referências consultadas e utili- zadas aporte para sanar dúvidas e aprofundar os conhecimentos. Saúde/Doença – Conceitos Básicos A definição de saúde (um es- tado de completo bem-estar físico, 6 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA mental e social e não apenas a mera ausência de doença) pro- posta pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1948, embora cri- ticada devido à dificuldade de defi- nir e mensurar bem-estar, perma- nece sendo um ideal. Em 1977, a Assembleia Mun- dial de Saúde decidiu que a principal meta de todos os países membros da OMS seria alcançar para todas as pessoas, até o ano 2000, um nível de saúde que permitisse o desempenho de uma vida social e economicamente pro- dutiva. Esse compromisso de ―Sa- úde para todos‖ foi renovado em 1998 e novamente em 2003 (BO- NITA; BEAGLEHOLE; KJELL- STRÖM, 2010). Definições mais práticas de sa- úde e doença tornam-se necessárias; a epidemiologia concentra-se em as- pectos da saúde que são relativa- mente fáceis de medir e prioritários à ação. As definições dos estados de saúde utilizadas pelos epidemi- ologistas tendem a ser extrema- mente simples, como, por exemplo, ―doença presente‖ ou ―doença au- sente‖. O desenvolvimento de crité- rios para determinar a presença de uma doença requer a definição de ―normalidade‖ e ―anormalidade‖. Entretanto, pode ser difícil definir o que é normal, e frequentemente não há uma clara distinção entre normal e anormal, especialmente quando são consideradas as variáveis contí- nuas com distribuição normal que podem estar associadas a diversas doenças (BONITA; BEAGLEHOLE; KJELL-STRÖM, 2010). Por exemplo, algoritmos so- bre o ponto de corte para o tra- tamento da pressão arterial são ar- bitrários. Isso ocorre porque há um contínuo aumento no risco de do- ença cardiovascular a cada nível de aumento da pressão. Um ponto de corte específico para um valor anor- mal é baseado na definição operaci- onal e não somente em um valor ab- soluto qualquer. Considerações si- milares aplicam-se para riscos à sa- úde: por exemplo, os algoritmos que consideram o nível seguro da pres- são sanguínea são baseados no jul- gamento da evidência disponível, que são passíveis de modificações ao longo do tempo. Critérios Diagnósticos Os critérios diagnósticos são frequentemente baseados nos sinto- mas, sinais, história clínica e resul- tados de testes. Por exemplo, a hepa- tite pode ser identificada pela pre- sença de anticorpos no sangue; a asbestose pode ser identificada pe- los sinais e sintomas específicos de alterações pulmonares, comprova- ção radiográfica de fibrose do tecido 7 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA pulmonar ou espessamento pleural e história de exposição ao asbesto. Em algumas situações, o uso de critérios mais simples é sufici- ente. Por exemplo, a redução de mortalidade por pneumonia bacte- riana em crianças de países em de- senvolvimento, depende de detecção precoce e tratamento rápido. O algo- ritmo para manejo de casos pro- posto pela OMS recomenda que a detecção dos casos de pneumonia seja baseada somente nos sinais clí- nicos, sem ausculta, radiografia pul- monar ou testes laboratoriais. O único equipamento reque- rido é um relógio paracontar a fre- quência respiratória. O uso de anti- bióticos em casos suspeitos de pneu- monia, baseada apenas nos achados clínicos, está recomendado em lo- cais onde existe alta taxa de pneu- monia bacteriana e onde há falta de recursos que permitam diagnosticar outras causas (BONITA; BEA- GLEHOLE; KJELLSTRÖM, 2010). Do mesmo modo, em 1985, a OMS definiu o critério diagnóstico para AIDS para ser utilizado em lo- calidades com recursos diagnósti- cos limitados. Essa definição requer a presença de somente dois sinais maiores (perda de peso de pelo me- nos 10% em relação ao peso total, presença de diarreia crônica ou fe- bre prolongada) e um sinal menor (tosse persistente, herpes-zóster, linfadenopatia generalizada, etc.). Em 1993, o Center for Disease Con- trol (CDC) decidiu considerar como portador da doença todos os indiví- duos infectados com o vírus HIV com contagem de CD4+ e células T menores que 200 por microlitro. Assim, a população em risco é constituída somente por trabalhado- res. Em alguns países, a brucelose só ocorre entre as pessoas que manipu- lam animais infectados, neste caso a população em risco consiste so- mente daquela que trabalha em fa- zendas e matadouros. Os critérios diagnósticos podem se modificar ra- pidamente em consequência do avanço do conhecimento científico ou do aperfeiçoamento de técnicas diagnósticas. Podem ainda mudar de acordo com o contexto em que es- tão sendo usados. Por exemplo, o critério diagnóstico inicialmente definido pela OMS para infarto agudo miocárdio em estudos epide- miológicos foi modificado quando foi introduzido do eletrocardio- grama na década de 1980 (o Código de Minnesota) 8,9 e quando foi pos- sível dosar as enzimas cardíacas na década de 1990. Medindo a Ocorrência de Do- enças Várias medidas da ocorrência de doenças são baseadas nos concei- tos fundamentais de incidência e 8 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA prevalência. Infelizmente, os epide- miologistas ainda não chegaram a um consenso quanto à definição de muitos termos por eles utilizados. População em Risco Um importante fator a consi- derar no cálculo das medidas de ocorrência de doenças é o total de pessoas expostas, ou seja, indiví- duos que podem vir a ter a doença. Idealmente, esse número deveria in- cluir somente pessoas que são po- tencialmente suscetíveis de adqui- rir a doença em estudo. Por exem- plo, os homens não deveriam ser in- cluídos no cálculo da ocorrência de câncer de colo uterino (Figura abaixo). População em risco em um estudo sobre carcinoma de colo uterino Fonte: www.slideserve.com As pessoas susceptíveis a de- terminadas doenças são chamadas de população em risco e podem ser estudadas conforme fatores demo- gráficos, geográficos e ambientais. Por exemplo, acidentes de tra- balho só ocorrem entre pessoas que estão trabalhando. Assim, a popula- ção em risco é constituída somente por trabalhadores. Em alguns paí- ses, a brucelose só ocorre entre as pessoas que manipulam animais in- fectados, neste caso a população em risco consiste somente daquela que trabalha em fazendas e matadouros. Incidência e Prevalência Incidência indica o número de casos novos ocorridos em um certo período de tempo em uma popula- ção específica, enquanto prevalência refere-se ao número de casos (novos e velhos) encontrados em uma po- pulação definida em um determi- nado ponto no tempo. Estas são, fundamentalmente, as diferentes formas de medir a ocorrência de doenças nas popula- ções. Diferença entre incidência e preva- lência Fonte: slideplayer.com.br 9 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA A relação entre incidência e prevalência varia entre as doenças. Uma mesma doença pode apresen- tar baixa incidência e alta prevalên- cia – como no diabetes – ou alta in- cidência e baixa prevalência – como no resfriado comum. Isso implica dizer que o resfri- ado ocorre mais frequentemente do que o diabetes, mas por um curto pe- ríodo, enquanto que o diabetes apa- rece menos frequentemente, mas por um longo período. A medida da prevalência e da incidência envolve, basicamente, a contagem de casos em uma popula- ção em risco. A simples quantifica- ção do número de casos de uma do- ença, sem fazer referência à popula- ção em risco, pode ser utilizada para dar uma ideia da magnitude do pro- blema de saúde ou da sua tendência, em curto prazo, em uma população como, por exemplo, durante uma epidemia. O Boletim Epidemioló- gico Semanal da OMS contém dados de incidência na forma de número de casos, os quais, apesar de apre- sentados na forma bruta, podem for- necer informações úteis sobre o desenvolvimento de epidemias de doenças transmissíveis. O termo ―taxa de ataque‖ é frequentemente utilizado, ao invés de incidência, durante uma epide- mia de doença em uma população bem definida em um curto período de tempo. A taxa de ataque pode ser calculada como o número de pessoas afetadas dividido pelo número de pessoas expostas. Por exemplo, no caso de uma epidemia por intoxica- ção alimentar, a taxa de ataque é cal- culada para cada tipo de alimento ingerido e, então, essas taxas são comparadas para se identificar a fonte de infecção. Dados sobre prevalência e in- cidência tornam-se mais úteis quando transformados em taxas. Uma taxa é calculada dividindo-se o número de casos pelo número de pessoas em risco e é expressa como casos por 10n pessoas. Alguns epide- miologistas utilizam o termo ―taxa‖ somente para medir a ocorrência de doença por unidade de tempo (se- mana, ano, etc.). Aqui o termo ―do- ença‖ será utilizado no seu sentido mais amplo. Taxa de prevalência de uma doença: Nem sempre os dados sobre população em risco estão disponí- veis. Por essa razão, em muitas situ- ações, a população total da área es- tudada é utilizada como uma aproxi- mação. A taxa de prevalência é fre- quentemente expressa como casos 10 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA por 100 (%) ou por mil (‰) pessoas. Neste caso, ―P‖ tem de ser multipli- cado por 10n. Se o dado for coletado para um ponto específico de tempo, ―P‖ é a ―taxa de preva- lência pontual‖. Algumas vezes é mais conveniente utilizar a ―taxa de prevalência no período‖, calcu- lada como o número total de pessoas que tiveram a doença em um deter- minado período de tempo, dividido pela população em risco de ter a do- ença no meio desse período. Sem levar em conta a idade das pessoas acometidas (ou em risco), os principais fatores que de- terminam a taxa de prevalência são: A severidade da doença (se muitas pessoas que desenvol- vem a doença morrem, a pre- valência diminui); A duração da doença (se uma doença é de curta duração, sua taxa prevalência é menor do que a de uma doença com longa duração); O número de novos casos (se muitas pessoas contraírem a doença, sua taxa de prevalên- cia será maior do que se pou- cas pessoas a contraírem). Uma vez que a prevalência pode ser determinada por muitos fa- tores não relacionados à causa da doença, estudos de prevalência, em geral, não proporcionam fortes evi- dências de causalidade. Medidas de prevalência são, entretanto, úteis na avaliação de necessidades em saúde (curativas ou preventivas) e no pla- nejamento dos serviços de saúde. A taxa de prevalência é uma medida útil para condições cujo início é insidioso, gradual, como o diabe- tes ou artrite reumatoide. A taxa de prevalência de diabe- tes tipo 2 (não insulinodependente) tem sido medida em várias popu- lações utilizando-se o critério pro- posto pela OMS. Essa tabela mos-tra a importância dos fatores sociais e ambientais na determinação dessa doença bem como a necessidade por serviços de saúde entre diabéticos em diferentes populações. A incidência refere-se à veloci- dade com que novos eventos ocor- rem em uma determinada popula- ção. A incidência leva em conta o pe- ríodo de tempo em que os indivíduos estão livres da doença, ou seja, em risco de desenvolvê-la. A maneira mais precisa de cal- cular a incidência é através da ―taxa de incidência pessoa-tempo em risco‖ proposta por Last (1995 apud SOARES, ANDRADE, CAMPOS, 2001). Para cada ano de observação, e até que a pessoa desenvolva a do- ença ou seja perdida do acompanha- mento, cada pessoa da população em estudo contribui com uma pes- soa-ano ou dia, semana, mês no de- nominador. 11 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA A taxa de incidência é calcu- lada da seguinte forma: O numerador refere-se estrita- mente à primeira manifestação da doença. A unidade da densidade de incidência deverá incluir sempre uma dimensão de tempo (dia, mês, ano, etc.). Para cada indivíduo na popu- lação, o tempo em risco é aquele du- rante o qual a pessoa permaneceu li- vre da doença. Para o cálculo da den- sidade de incidência, o denomina- dor é constituído pela soma de todos os períodos livres de doença para to- dos os participantes do estudo (BO- NITA; BEAGLEHOLE; KJELLS- TRÖM, 2010) A densidade de incidência leva em conta o período de tempo du- rante o qual cada indivíduo esteve li- vre da doença e, portanto, em risco de desenvolvê-la. Uma vez que, em geral, não é possível medir esses pe- ríodos de maneira precisa, o deno- minador é obtido de maneira apro- ximada, multiplicando-se a popula- ção média ao longo do estudo pelo tempo de acompanhamento. Se a população em estudo for grande e estável e a doença de baixa incidên- cia, esse método é razoavelmente acurado. Em um estudo realizado nos Estados Unidos, foi medida a taxa de incidência de acidente vascular cere- bral em 118.539 mulheres com idade entre 30-55 anos que, em 1976, não tinham história de doença corona- riana, acidente vascular cerebral ou câncer. Um total de 274 casos de aci- dente vascular cerebral foi obser- vado ao longo de oito anos de acom- panhamento (908.447 pesso- as/ano). A taxa de densidade de in- cidência de acidente vascular cere- bral para toda a população foi de 30,2 por 100 mil pessoas/ano de ob- servação; a taxa foi maior entre as mulheres fumantes do que entre as não fumantes e intermediária entre as ex- fumantes (BONITA; BEA- GLEHOLE; KJELLSTRÖM, 2010). A incidência cumulativa ou risco é a maneira mais simples de medir a ocorrência de uma doença. Diferente da densidade de in- cidência, o denominador na taxa de incidência cumulativa é a população em risco no início do estudo. A incidência cumulativa é cal- culada da seguinte forma: A incidência cumulativa é fre- quentemente apresentada como o número de casos por mil pessoas. Do ponto de vista estatístico, a incidência cumulativa refere-se à 12 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA probabilidade (ou risco) de um indi- víduo da população vir a desenvol- ver a doença durante um período es- pecífico de tempo. O período de estudo pode ter qualquer duração, mas geralmente dura vários anos ou até mesmo a vida toda. Assim, o conceito de inci- dência cumulativa é similar ao con- ceito de ―risco de morte‖ usado nas tábuas de vida e nos cálculos atuari- ais. A incidência cumulativa, dada sua simplicidade, é adequada para divulgar informações em saúde para o público em geral. A letalidade mede a severidade de uma doença e é definida como a proporção de mortes dentre aqueles doentes por uma causa específica em um certo período de tempo. A prevalência depende da inci- dência e da duração da doença. Se a prevalência é baixa e não varia de forma significativa com o tempo, pode ser calculada da seguinte forma: P = Incidência X duração média da doença A incidência cumulativa de uma doença depende da densidade de incidência e da duração do acom- panhamento. Uma vez que a densi- dade de incidência varia com a idade, recomenda-se utilizar valores específicos para cada grupo etário. Quando a densidade de incidên- cia é baixa ou quando o período de acompanhamento é curto, a inci- dência cumulativa é uma boa apro- ximação da densidade de incidência. Alguns Coeficientes Usados para Medir Saúde e Doença Frequentemente os epidemio- logistas iniciam uma investigação sobre o estado de saúde de uma po- pulação a partir de informações que são rotineiramente coletadas. Em muitos países desenvolvidos, os óbi- tos e suas causas são registrados nos atestados de óbitos, os quais, tam- bém, contem informações sobre idade, sexo, data de nascimento e lo- cal de residência. A Classificação In- ternacional de Doenças e de Proble- mas Relacionados à Saúde (CID) fornece a classificação dos óbitos. Sobre a CID-10 é importante frisar: Começou a ser utilizado em 1992. Essa classificação é a mais recente de uma série ini- ciada em 1850. O CID tornou- se o padrão de classificação di- agnóstica para todos os pro- pósitos epidemiológicos e de registros em saúde. 13 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA É utilizado para classificar doenças e outros problemas de saúde em diferentes tipos de registros, incluindo atesta- dos de óbito e registros hospi- talares. Essa classificação per- mite resgatar informações clí- nicas e epidemiológicas e com- pará-las com estatísticas naci- onais de morbimortalidade. É revisado periodicamente le- vando em consideração o sur- gimento de novas doenças e mudanças nos critérios diag- nósticos de doenças já conhe- cidas. A Classificação Interna- cional de Doenças está, atual- mente, em sua décima revisão, sendo, por essa razão, cha- mada de CID 10. A taxa de mortalidade geral (ou coeficiente de mortalidade ge- ral) é calculada da seguinte forma: A principal desvantagem da taxa de mortalidade geral é o fato de não levar em conta que o risco de morrer varia conforme o sexo, idade, raça, classe social, entre outros fato- res. Não se deve utilizar esse coefici- ente para comparar diferentes perí- odos de tempo ou diferentes áreas geográficas. Por exemplo, o padrão de mortalidade entre residentes em áreas urbanizadas, famílias muito jovens, é provavelmente diferente daquele verificado entre residentes a beira-mar, locais onde há um nú- mero maior de pessoas aposentadas. Quando se compara o coeficiente de mortalidade entre grupos com dife- rente estrutura etária, deve-se utili- zar coeficientes padronizados. O coeficiente (ou taxa) de mor- talidade infantil é comumente utili- zado como um indicador do nível de saúde de uma comunidade. Essa taxa mede o número de óbitos du- rante o primeiro ano de vida, divi- dido pelo número de nascidos vivos no mesmo ano. A taxa de mortalidade infantil é calculada da seguinte maneira: 15 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 2. Epidemiologia Fonte: www.mantisdiagnosticos.com.br2 palavra ―epidemiologia‖ de- riva do grego (epi = sobre; de- mos = população, povo; logos = es- tudo). Portanto, em sua etimologia, significa ―estudo do que ocorre em uma população. Para a Associação Internacional de Epidemiologia, cri- ada em 1954, a Epidemiologia tem como objeto o ―estudo de fatores que determinam a frequência e a distribuição das doenças nas coleti- vidades humanas‖ (ALMEIDA FI- LHO e ROUQUAYROL, 1992). O Dicionário de Epidemiolo- gia de John Last a define como ―o estudo da distribuiçãoe dos deter- minantes de estados ou eventos re- lacionados à saúde, em populações 2 Retirado em www.mantisdiagnosticos.com.br específicas, e a aplicação desse es- tudo para o controle de problemas de saúde (SOARES, ANDRADE, CAMPOS, 2001). Com a ampliação de sua abrangência e complexidade, a Epi- demiologia, segundo Almeida Filho e Rouquayrol (1992), não é fácil de ser definida. Ainda assim, esses au- tores ampliam as definições já colo- cadas, na medida em que a concei- tuam como a ciência que estuda o processo saúde-doença na socie- dade, analisando a distribuição po- pulacional e os fatores determinan- tes das enfermidades danos à saúde e eventos associados à saúde cole- tiva, propondo medidas específicas A 16 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA de prevenção, controle ou erradica- ção de doenças e fornecendo indica- dores que sirvam de suporte ao pla- nejamento, administração e avalia- ção das ações de saúde. Ou seja, diferentemente da Clínica, que estuda o processo saúde doença em indivíduos, com o obje- tivo de tratar e curar casos isolados, a Epidemiologia se preocupa com o processo de ocorrência de doenças, mortes, quaisquer outros agravos ou situações de risco à saúde na comu- nidade, ou em grupos dessa comuni- dade, com o objetivo de propor es- tratégias que melhorem o nível de saúde das pessoas que compõem essa comunidade. Um dos meios para se conhecer como se dá o pro- cesso saúde doença na comunidade é elaborando um diagnóstico comu- nitário de saúde (SOARES, AN- DRADE, CAMPOS, 2001). O obje- tivo principal da epidemiologia é melhorar a saúde das populações; explicar os princípios de causalidade das doenças com maior ênfase nos fatores modificáveis do ambiente, incluindo comportamentos por ele determinados, além de: Encorajar a aplicação da epi- demiologia na prevenção das doenças e na promoção da sa- úde; Preparar profissionais da área da saúde para atender de forma integral a crescente de- manda de serviços de saúde da população e assegurar que os recursos destinados à saúde sejam usados da melhor ma- neira possível; Encorajar a boa prática clínica através da introdução dos con- ceitos de epidemiologia clí- nica; A epidemiologia originou-se das observações de Hipócrates feitas há mais de 2000 anos de que fatores ambientais influenciam a ocorrência de doenças. Entretanto, foi somente no século XIX que a distribuição das doenças em grupos humanos especí- ficos passou a ser medida em larga escala. Isso determinou não so- mente o início formal da epidemio- logia como também as suas mais es- petaculares descobertas. Os acha- dos de John Snow de que o risco de contrair cólera em Londres es- tava relacionado ao consumo de água proveniente de uma determi- nada companhia, proporcionaram uma das mais espetaculares con- quistas da epidemiologia. Os estu- dos epidemiológicos de Snow foram apenas um dos aspectos de uma sé- rie abrangente de investigações que incluiu o exame de processos físicos, químicos, biológicos, sociológicos e políticos. A abordagem epidemiológica que compara os coeficientes (ou ta- xas) de doenças em subgrupos po- pulacionais tornou-se uma prática 17 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA comum no final do século XIX e iní- cio do século XX. A sua aplicação foi inicialmente feita visando o controle de doenças transmissíveis e, posteri- ormente, no estudo das relações en- tre condições ou agentes ambientais e doenças específicas. Na segunda metade do século XX, esses mé- todos foram aplicados para do- enças crônicas não transmissíveis tais como doença cardíaca e cân- cer, sobretudo nos países indus- trializados. Avanços Recentes da Epidemi- ologia A epidemiologia atual é uma disciplina relativamente nova e usa métodos quantitativos para estudar a ocorrência de doenças nas popula- ções humanas e para definir estraté- gias de prevenção e controle. Por exemplo, por volta de 1950, Richard Doll e Andrew Hill es- tudaram a relação entre hábito de fumar e a ocorrência de câncer de pulmão entre médicos britânicos. Esse trabalho foi precedido de estu- dos experimentais sobre o poder carcinogênico do tabaco e por obser- vações clínicas relacionando o há- bito de fumar e outros possíveis fa- tores ao câncer de pulmão. Estudando coortes com longos períodos de acompanhamento, eles foram capazes de demonstrar a as- sociação entre o hábito de fumar e o câncer de pulmão. A epidemiologia (estudo dos fatores que determinam o surgi- mento, frequência, distribuição, evolução, medidas de controle, erra- dicação e prevenção das doenças) ci- tada por Dever (1998, p. 48), ―pode e deve ser usada para fins de admi- nistração dos serviços da saúde. Ela contribui para fazer o diagnóstico de uma comunidade da presença, natu- reza e distribuição de saúde e do- ença‖. Dessa forma é possível mo- nitorar a saúde da população e projetar mudanças de acordo com a necessidade. A epidemiologia definida por Last (1995 apud SOARES, AN- DRADE, CAMPOS, 2001) como ―o estudo da distribuição e dos deter- minantes de estados ou eventos re- lacionados à saúde em populações específicas, e sua aplicação na pre- venção e controle dos problemas de saúde‖ deixa claro que os epidemio- logistas estão preocupados não so- mente com a incapacidade, doença ou morte, mas, também, com a me- lhoria dos indicadores de saúde e com maneiras de promover saúde. O termo ―doença‖ compreende todas as mudanças desfavoráveis em sa- úde, incluindo acidentes e doenças mentais. 18 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA Área de Atuação da Epidemio- logia O alvo de um estudo epidemi- ológico é sempre uma população hu- mana, que pode ser definida em ter- mos geográficos ou outro qualquer. Por exemplo, um grupo específico de pacientes hospitalizados ou tra- balhadores de uma indústria pode constituir uma unidade de estudo. Em geral, a população utilizada em um estudo epidemiológico é aquela localizada em uma determinada área ou país em um certo momento do tempo. Isso forma a base para definir subgrupos de acordo com o sexo, grupo etário, etnia e outros aspec- tos. Considerando que as estrutu- ras populacionais variam conforme a área geográfica e o tempo, isso deve ser levado em conta nas análi- ses epidemiológicas. Epidemiologia e Saúde Pú- blica Em termos gerais, saúde pú- blica refere-se a ações coletivas vi- sando melhorar a saúde das popu- lações. A epidemiologia, uma das ferramentas para melhorar a saúde pública, é utilizada de várias formas. Os primeiros estudos epidemiológi- cos tinham por objetivos investigar a causa (etiologia) das doenças transmissíveis. Tais estudos conti- nuam sendo essenciais porque pos- sibilitam a identificação de métodos preventivos. Nesse sentido, a epide- miologia é uma ciência médica bá- sica que tem por objetivo me- lhorar a saúde das populações, especialmente dos menos favoreci- dos. Embora algumas doenças se- jam causadas unicamente por fa- tores genéticos, a maioria delas re- sulta da interação destes com fatores ambientais. A diabetes, por exem- plo, apresenta os componentes ge- néticos e ambientais. Nesse con- texto, o ambiente é definido da forma mais ampla possível para permitir a inclusão de qualquer fa- tor biológico, químico, físico, psi- cológico, econômico e cultural, que possa afetar a saúde. O comporta- mento e o estilo de vida são de grande importância nessa conexão, e a epidemiologia é cada vez mais usada para estudar a influência e a possibilidade deintervenção pre- ventiva através da promoção da sa- úde. A epidemiologia está, também, preocupada com a evolução e o des- 19 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA fecho (história natural) das doen- ças nos indivíduos e nos grupos populacionais. A aplicação dos princípios e métodos epidemiológicos no manejo de problemas encontrados na prá- tica médica com pacientes, levou ao desenvolvimento da epidemiologia clínica. A epidemiologia é frequen- temente utilizada para descrever o estado de saúde de grupos popula- cionais. O conhecimento da carga de doenças que subsiste na população é essencial para as autoridades em saúde. Esse conhecimento permite melhor utilização de recursos atra- vés da identificação de programas curativos e preventivos prioritários à população. Em algumas áreas especializa- das, tais como na epidemiologia ocupacional e ambiental, a ênfase está no estudo de populações com exposições muito particulares. A aplicação de princípios e mé- todos epidemiológicos na solução de problemas encontrados na prática médica com pacientes resultou no desenvolvimento da epidemiologia clínica. Similarmente, a epidemiologia tem expandido para outros campos tais como a fármaco-epidemiologia, epidemiologia molecular e a epide- miologia genética. Epidemiologia Molecular e Ge- nética A Epidemiologia molecular mede a exposição a substâncias es- pecíficas e a resposta biológica pre- coce através: Da avaliação das característi- cas do hospedeiro mediante resposta aos agentes externos; e Do uso de marcadores bioquí- micos de efeito específico para separar categorias de doenças. A Epidemiologia genética lida com a etiologia, distribuição e con- trole de doenças em grupos famili- ares e com a herança genética de doenças nas populações. As pesquisas em epidemiolo- gia genética nas famílias ou nas po- pulações têm por objetivo estabele- cer: O componente genético da do- ença; A magnitude do efeito gené- tico em relação a outras fontes de variação no risco de do- ença; e, Identificar o gene ou genes responsáveis pela doença. A epidemiologia genética den- tro da saúde pública inclui: Programas de rastreamento populacional; Organização e avaliação dos serviços de saúde para pacien- 20 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA tes com doenças genéticas; e, Avaliação do impacto da gené- tica na prática médica. Epidemiologia Clínica A epidemiologia clínica é a aplicação dos princípios e métodos epidemiológicos na prática clínica diária. Envolve, geralmente, estudos conduzidos em ambiente clínico e, na maioria das vezes, por médicos clínicos tendo como pacientes os su- jeitos do estudo. A disciplina refina métodos desenvolvidos na epidemiologia e os integra à clínica médica. O objetivo da epidemiologia clínica é auxiliar na tomada de decisão sobre os casos de doença identificados. A epidemi- ologia clínica, que incluiu métodos utilizados pelos clínicos para auditar processos e os resultados de seus trabalhos, é uma ciência médica bá- sica. Pelo fato de a epidemiologia trabalhar com populações enquanto a medicina clínica trabalha com o in- divíduo, tem se sugerido que a epi- demiologia clínica é uma contradi- ção. Esse aparente conflito é resol- vido ao se observar que a epidemio- logia clínica lida com uma população definida de pacientes mais do que uma população baseada na comuni- dade. Os temas centrais da epidemi- ologia clínica são: Definições de normalidade e de anormalidade; Acurácia dos testes diagnósti- cos; História natural e prognósti- cos das doenças; Efetividade do tratamento; e Prevenção na prática clínica. Epidemiologia Ambiental e Ocupacional A principal ênfase da epidemi- ologia ambiental e ocupacional tem sido na realização de estudos sobre as causas das doenças. Medidas preventivas específicas para reduzir exposições e o impacto de serviços de saúde ocupacional também de- vem ser avaliadas. A exposição a fatores de risco ambientais é frequentemente o re- sultado de atividades industriais ou agrícolas que trazem benefícios econômicos para a comunidade, e o custo de eliminar tais exposições pode ser considerável. Entretanto, a poluição ambiental é por si só muito cara podendo causar danos à agricultura ou às propriedades in- dustriais, como também à saúde das pessoas. Análises epidemiológicas, avaliações de impacto sobre a saúde e análises de custo- benefício aju- dam as autoridades de saúde pública a encontrar um balanço aceitável en- tre riscos à saúde e custos econômi- cos da prevenção. 21 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA O ambiente humano é consti- tuído por vários elementos básicos: o ar respirado, a água bebida, o ali- mento consumido, o clima ao redor dos corpos e o espaço disponível para movimentos. Além disso, exis- timos em um ambiente social e cul- tural, que é de grande importância para nossa saúde física e mental. A maioria das doenças é cau- sada ou influenciada por fatores am- bientais. O entendimento da ma- neira pela qual um agente do meio ambiente interfere na saúde é im- portante para o delineamento de programas de prevenção. A epidemiologia ambiental fornece as bases científicas para o estudo e a interpretação das relações entre o ambiente e a saúde nas po- pulações. A epidemiologia ocupacio- nal lida especificamente com os fa- tores ambientais no local de traba- lho. As lesões físicas dependem for- temente de fatores presentes no am- biente de trabalho ou de moradia, mas também são fortemente influ- enciadas por fatores comportamen- tais. Normalmente a palavra ―aci- dente é aplicada aos eventos que precederam um agravo à saúde, mas isso pode ser errôneo uma vez que a palavra acidente implica ocorrência de um evento ao acaso ao invés de ser resultante de uma combinação de fatores causais que poderiam ser prevenidos. A carga de doenças ambientais é maior nos países com baixa renda do que naqueles com alta renda, apesar de certas doenças não trans- missíveis, tais como as cardiovascu- lares e câncer, terem maior carga per capita em países de alta renda. As crianças apresentam a maior carga de mortalidade, com mais de 4 milhões de óbitos anuais causados por fatores ambientais, a quase totalidade deles nos países em desenvolvimento. A taxa de mortali- dade infantil por causas ambientais é 12 vezes maior nos países de baixa renda do que nos de alta renda, indi- cando o ganho que poderia ser al- cançado se fosse estimulado que os ambientes se tornassem saudáveis. Nos estudos epidemiológicos sobre fatores ambientais, as exposições são frequentemente analisadas de forma isolada. Entretanto, é importante ter em mente que existem inúmeros mecanismos através dos quais as ex- posições ambientais podem influen- ciar o efeito de outras exposições. Multicausalidade e uma clara hie- rarquia das causas são, com fre- quência, evidentes; isto pode expli- car diferenças entre os resultados de estudos epidemiológicos conduzidos em diferentes locais. 22 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA A forma como uma exposição ambiental afeta um indivíduo pode também depender da exposição a outros fatores de risco e característi- cas individuais, tais como: Idade e sexo; Fatores genéticos; Presença de doença; Nutrição; Personalidade; Condicionamento físico. A epidemiologia ocupacional, geralmente, está preocupada com a população adulta, jovem ou de meia- idade, e, em geral, predominante- mente masculina. Além disso, na epidemiologia ocupacional a maio- ria das pessoas expostas está relati-vamente saudável, pelo menos quando começam a trabalhar. Ao contrário, estudos epide- miológicos sobre exposições ambi- entais normalmente incluem crian- ças, pessoas idosas e doentes. Pes- soas expostas na população geral são provavelmente mais sensíveis a tais fatores do que trabalhadores na in- dústria. Isso é de grande importância quando os resultados de estudos da epidemiologia ocupacional são usa- dos para estabelecer padrões de se- gurança para agentes ambientais es- pecíficos. Por exemplo, o efeito do chumbo ocorre em menor nível de exposição em crianças do que em adultos. O nível de chumbo no san- gue é uma maneira aceitável de me- dir a exposição, e os níveis apresen- tados para os dois diferentes desfe- chos em saúde são aqueles que mais provavelmente protegeriam a maio- ria da população. Epidemiologia dos Acidentes Um tipo especial de análise epidemiológica que desempenha pa- pel importante na saúde ambiental e ocupacional é a epidemiologia dos acidentes e violências. As lesões causadas pelos aci- dentes de trânsito estão aumen- tando em muitos países, sendo a principal causa de óbito e incapaci- dade entre jovens e crianças, com grande impacto em saúde pública. Um clássico exemplo da epide- miologia dos acidentes em virtude de colisões com automóveis é a rela- ção dose-resposta entre velocidade do veículo (dose) e a frequência das lesões (resposta) em motoristas com e sem cinto de segurança. Essa informação tem sido muito útil para a tomada de deci- sões a respeito de duas diferentes abordagens preventivas: redução da velocidade e uso do cinto de segu- rança. As lesões por acidentes estão entre os importantes problemas de 23 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA saúde causados por fatores existen- tes no local de trabalho. Os fatores ambientais associados a esses aci- dentes geralmente são mais difíceis de serem identificados e quantifica- dos do que aqueles que causam, por exemplo, envenenamento químico. Entretanto, aperfeiçoamentos tec- nológicos e administrativos que ocorreram ao longo dos anos têm re- sultado em grandes reduções nas ta- xas de lesões ocupacionais na maio- ria dos países ricos. A violência é outro problema de saúde pública que tem sido iden- tificado pelos estudos epidemiológi- cos realizados nas últimas décadas. Em alguns países de renda alta, os homicídios são a principal causa de óbito entre jovens do sexo mascu- lino, e a situação é ainda pior em al- guns países de renda baixa e média. Por exemplo, o banco de dados da OMS sobre mortalidade mostra que no Brasil os homicídios são respon- sáveis por 40% dos óbitos em indiví- duos do sexo masculino com idade entre 15 e 24 anos. As armas de fogo são frequentemente usadas para co- meter homicídios, e em muitos paí- ses isso tem aumentado. O suicídio é outra importante causa de óbito. Os fatores ambientais associa- dos à intenção suicida são basica- mente sociais ou econômicos, mas a realização do suicídio depende tam- bém do acesso a métodos suicidas, que podem ser considerados como fatores ambientais. 25 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 3. Vigilância em Saúde Fonte: abstartups.com.br3 vigilância em saúde é a coleta, análise e interpretação siste- mática de dados em saúde para o planejamento, implementação e avaliação das atividades em saúde pública. Os dados obtidos pela vigi- lância devem ser disseminados, per- mitindo a implementação de ações efetivas para a prevenção da doença. Os mecanismos de vigilância in- cluem a notificação compulsória de algumas doenças, registros de doen- ças específicas (base populacional ou hospitalar), pesquisas populacio- nais repetidos ou contínuos e a agre- 3 Retirado em abstartups.com.br gação de dados que mostram pa- drões de consumo e atividade econô- mica. Vigilância Epidemiológica Objetivos da Vigilância Epide- miológica Os objetivos da vigilância epi- demiológica são amplos, indo de sis- temas de alerta precoce para uma resposta imediata a doenças trans- missíveis, a respostas planejadas aos casos de doenças crônicas, que ge- A 26 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA ralmente têm um longo intervalo en- tre a exposição e a ocorrência da do- ença. A maioria dos países tem leis regulando a notificação compulsória de algumas doenças. As doenças que devem ser notificadas frequente- mente incluem as que são prevení- veis pela vacinação, tais como, poli- omielite, sarampo, tétano e difteria, além de outras doenças transmissí- veis, como, por exemplo, tubercu- lose, hepatite, meningite e lepra. Também pode ser requerida a noti- ficação de óbito materno, acidentes e doenças ocupacionais e ambien- tais, como, por exemplo, a intoxica- ção por pesticidas. A notificação compulsória de algumas doenças constitui parte da vigilância. Usos da vigilância epidemioló- gica A vigilância é uma caracterís- tica essencial da prática epidemioló- gica e pode ser usada para: Identificar casos isolados ou agrupados; Avaliar o impacto de eventos para a saúde pública e avaliar tendências; Medir fatores de risco para do- enças; Monitorar a efetividade e ava- liar o impacto de medidas de prevenção e controle, estraté- gias de intervenção e mudan- ças nas políticas de saúde; e Planejar e fornecer atenção aos doentes. Além disso, ao estimar a mag- nitude de uma epidemia e monitorar a sua tendência, os dados também podem ser usados para: Aumentar o comprometimen- to das pessoas; Mobilizar as comunidades; e Defender a necessidade de maiores recursos. Princípios da Vigilância Epide- miológica Um princípio-chave é a inclu- são apenas de condições que a vigi- lância possa efetivamente prevenir. Outro princípio importante é que os sistemas de vigilância refli- tam a carga da doença na comuni- dade. Outros critérios para selecio- nar uma doença, incluem: Incidência e prevalência; Indicadores de severidade (le- talidade); Taxa de mortalidade e morta- lidade prematura; Um indicador de perda de pro- dutividade (dias de incapaci- dade no leito); Custos dos cuidados médicos; Potencial de prevenção; Potencial para causar epide- mia; e 27 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA Falta de informações sobre no- vas doenças. Fontes de dados As fontes de dados podem ser gerais ou específicas para uma do- ença e incluem: Relatórios de mortalidade e morbidade; Registros hospitalares; Diagnósticos laboratoriais; Relatos de surtos; Utilização de vacinas; Registros de ausência ao tra- balho em decorrência da do- ença; Mudanças na biologia do agente, dos vetores ou dos re- servatórios; e Bancos de sangue. A vigilância pode coletar da- dos sobre qualquer elemento da ca- deia causal de uma doença – fator de risco comportamental, ações pre- ventivas e custos de um programa ou tratamento. O objetivo de um sistema de vigilância é geralmente restrito à quantidade de recursos humanos e financeiros disponíveis. Vigilância Epidemiológica na Prática A vigilância é baseada em um sistema que relata rotineiramente os casos suspeitos de uma doença iden- tificados no sistema de saúde e acompanhados para validar e confir- mar a suspeita diagnóstica. Uma resposta apropriada varia desde me- didas locais de investigação até a contenção por uma equipe alta- mente especializada. A vigilância requer o escrutí- nio constante de todos os aspectos relacionados à ocorrência e disper- são de uma doença, geralmente usando métodos que são reconheci- dospor serem práticos, uniformes e relativamente rápidos, e não por te- rem acurácia elevada. A análise de dados de um sis- tema de vigilância indica se tem ha- vido um aumento significativo no número relatado de casos. Em mui- tos países, infelizmente, os sistemas de vigilância são inadequados, prin- cipalmente se eles dependem de no- tificação voluntária. Uma grande rede, incluindo organizações não governamentais, grupos de discus- são eletrônica, ferramentas de busca na internet e redes de treinamento e laboratórios, oferece poderosos mecanismos para a obtenção de in- formações que podem levar a uma organizada resposta internacional. O sistema sentinela de infor- mação em saúde, no qual um nú- mero limitado de médicos registra em uma lista cuidadosamente esco- lhida, com tópicos (que podem ser mudados de tempo em tempo) tem sido cada vez mais utilizado para 28 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA fornecer informações adicionais para a vigilância tanto de doenças transmissíveis como de doenças crô- nicas. Uma rede sentinela mantém uma amostra da população sob vigi- lância, fornecendo registros siste- máticos e padronizados sobre doen- ças específicas e procedimentos em atenção primária à saúde. O retorno da informação ocorre regularmente e os participantes têm normalmente um contato permanente com os pes- quisadores (BONITA; BEA- GLEHOLE; KJELLSTRÖM, 2010). Vigilância Sanitária Desde o nascimento das cida- des, na idade antiga, que temos re- gistros das preocupações com as do- enças e, obviamente, com a morte. A humanidade não conhecia ainda os processos de contaminação que espalhavam a peste, a cólera, a varíola, a febre tifoide e outras doen- ças que marcaram a história; mas, mesmo não conhecendo todo o pro- cesso de transmissão de doenças, era sabido que a água poderia ser uma via de contaminação e que os alimentos de igual maneira pode- riam ser meios de propagação de do- enças. Com as populações aglome- rando-se em cidades, estes proble- mas foram crescendo e se tornando mais complexos. Entende-se por Vigilância Sa- nitária um conjunto de ações capa- zes de eliminar, diminuir ou preve- nir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e da circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo: 1. O controle de bens de con- sumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde, compre- endidas todas as etapas de processo, da produção ao consumo; 2. O controle da prestação de ser- viços que se relacionam direta ou in- diretamente com a saúde. Interessante notar que o cui- dado com a vigilância implicou na atividade profissional de especialis- tas voltados para o estudo da água, dos alimentos que eram consumidos e para a remoção do lixo produzido por cidades cada vez mais populo- sas, com diferentes condições eco- nômicas. Assim, por volta dos sécu- los 17 e 18 na Europa e 18 e 19 no Brasil, teve início a Vigilância Sani- tária, como uma resposta a este novo problema da convivência social. Sur- giram então as regras e providências sanitárias. Por exemplo, a água para abastecer as cidades passou a ser transportada através de aquedutos, que se constituíam na tecnologia de 29 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA ponta para a época. O lixo produzido passou a ter um local próprio para depósito e outras providências bási- cas vieram compor a agenda pública, garantindo a higiene e evitando a propagação das epidemias. As preocupações com a saúde das populações, e especialmente com as ações de Vigilância Sanitária, emergiram do poder público desde os tempos mais remotos. A Vigilância Sanitária tem como missão a proteção e promoção à saúde da população e defesa da vida. Para cumpri-la, deve ter uma interação muito grande na socie- dade. Por este motivo, a Vigilância Sanitária deve procurar uma partici- pação efetiva na rede de Controle Social do SUS, contando com a cola- boração dos Conselhos de Saúde para as suas ações (BRASIL, 2002). O Conselho de Saúde, além de contribuir no acompanhamento das políticas direcionadas às ações de Vigilância Sanitária, pode ser um importante parceiro nos objetivos deste serviço. É a Agência Nacional de Vigi- lância Sanitária, a ANVISA quem faz a gestão de todo serviço de Vigilân- cia Sanitária, que compete ao nível federal. A responsabilidade destes ór- gãos está a cargo do gestor, ou seja, ele gerencia e administra os serviços de saúde. Na verdade, ela significa mais do que isto, pois é da compe- tência do gestor dar as diretrizes da atuação do órgão que ele dirige. Neste sentido, o gestor formula, exe- cuta, supervisiona, controla e pode rever as políticas de saúde (BRASIL, 2002). Para citar alguns exemplos, o gestor nacional do Sistema Único da Saúde, SUS, é o Ministro, já o esta- dual é o secretário de estado e o mu- nicipal, o secretário municipal de sa- úde. O gestor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária é seu diretor- presidente. O Conselho de Saúde, através de seus conselheiros, for- mula as prioridades e as diretrizes para a saúde. Isso também é parte da gestão do sistema de saúde. No caso do Brasil, a ANVISA é a responsável pela Vigilância Sanitá- ria que possui um Conselho Consul- tivo, de caráter recomendativo, que tem como principal atribuição acompanhar e apreciar o desenvol- vimento das atividades realizadas pela Agência, requerendo informa- ções e formulando proposições a respeito destas ações. Este conse- lho é composto por representan- tes de instituições da administra- ção pública, sociedade civil e comu- nidade científica. O governo tem a obrigação de promover e proteger a saúde da po- pulação. Para isto ele diz quais são as regras, as normas que devem ser 30 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA consideradas e respeitadas na pro- dução, uso e circulação de produtos que apresentam algum tipo de risco para a saúde das pessoas (BRASIL, 2002). O transporte de alimentos, por exemplo, tem que ser feito em con- dições tais que protejam o produto da deterioração ou contaminação e, por conseguinte, protejam a saúde daqueles que vão consumir. São muitos os riscos que devem ser con- trolados pela Vigilância Sanitária. Abaixo temos os riscos que a AN- VISA procura controlar: Riscos ambientais: água (con- sumo e mananciais hídricos), es- goto, lixo (doméstico, industrial, hospitalar), vetores e transmissores de doenças (mosquitos, barbeiro, animais), poluição do ar, do solo e de recursos hídricos, transporte de pro- dutos perigosos, etc. Riscos ocupacionais: processo de produção, substâncias, intensida- des, carga horária, ritmo e ambiente de trabalho. Riscos iatrogênicos: (decor- rentes de tratamento médico e uso de serviços de saúde) medicamen- tos, infecção hospitalar, sangue e he- moderivados, radiações ionizantes, tecnologias médico-sanitárias, pro- cedimentos e serviços de saúde. Riscos institucionais: creches, escolas, clubes, hotéis, motéis, por- tos, aeroportos, fronteiras, estações ferroviárias e rodoviárias, salão de beleza, saunas, etc (BRASIL, 2002). No quadro abaixo temos algu- mas das principais Leis e Normas que dão instrumentos para a ação da Vigilância Sanitária e regulam o seu funcionamento: 31 32 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 4. Educação em Saúde Fonte: brasil61.com4 formação do profissional da saúde deveria passar pelo quadrilátero: ensino, gestão, aten- ção e controle social, mas não é bem assim o que temos observado nos cursos voltados para a área de saúde. A educaçãoem saúde é o campo de prática e conhecimento do setor saúde que tem se ocupado mais diretamente com a criação de vínculos entre a ação médica e o pensar e fazer cotidiano da popula- 4 Retirado em brasil61.com ção. Diferentes concepções e práti- cas têm marcado a história da edu- cação em saúde no Brasil. Mas, até a década de 1970, a educação em saúde no Brasil foi ba- sicamente uma iniciativa das elites políticas e econômicas e, portanto, subordinada aos seus interesses. Voltava-se para a imposição de nor- mas e comportamentos por elas con- siderados adequados (VASCONCE- LOS, 2004). A 33 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA A formação dos profissionais de saúde tem permanecido alheia à organização da gestão setorial e ao debate crítico sobre os sistemas de estruturação do cuidado, mos- trando-se absolutamente imper- meável ao controle social sobre o se- tor, fundante do modelo oficial de saúde brasileiro. As instituições for- madoras têm perpetuado modelos essencialmente conservadores, cen- trados em aparelhos e sistemas or- gânicos e tecnologias altamente es- pecializadas, dependentes de proce- dimentos e equipamentos de apoio diagnóstico e terapêutico (FEUER- WERKER, 2002; FEUERWERKER, LLANOS E ALMEIDA, 1999). Merhy (1994) coloca que justa- mente o modo como se estruturam e são gerenciados os processos de tra- balho configuram ―um dos grandes nós críticos‖ das propostas que apos- tam na mudança do modelo técnico- assistencial em saúde no Brasil, ―que se tem mostrado comprome- tido com muitos tipos de interesse, exceto com a saúde dos cidadãos‖. Uma das características que dá ao SUS singularidade histórica e in- ternacional é que, no Brasil, a parti- cipação popular não é para a avalia- ção do grau de satisfação com a aten- ção, para a cooperação ou extensão comunitária, para a organização de programas de educação para a saúde ou consultiva. No Brasil, a população tem as- sento nas instâncias máximas da to- mada de decisões em saúde, por isso a denominação controle social dada à participação da sociedade no SUS (CÔRTES, 1996). A formação não deveria ape- nas gerar profissionais que possam ser absorvidos pelos postos de traba- lho do setor. O trabalho em saúde é um trabalho de escuta, em que a in- teração entre profissional de saúde e usuário é determinante da quali- dade da resposta assistencial. A in- corporação de novidade tecnológica é premente e constante, e novos pro- cessos decisórios repercutem na concretização da responsabilidade técnico-científica, social e ética do cuidado, do tratamento ou do acom- panhamento em saúde. A área da sa- úde requer educação permanente. A educação permanente parte do pressuposto da aprendizagem significativa (que promove e produz sentidos) e propõe que a transfor- mação das práticas profissionais deva estar baseada na reflexão crí- tica sobre as práticas reais de profis- sionais reais em ação na rede de ser- viços (HADDAD, ROSCHKE E DA- VINI, 1994 apud CECCIM; FEUER- WERKER, 2004). Portanto, os processos de qua- lificação do pessoal da saúde deve- riam ser estruturados a partir da problematização do seu processo de 34 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA trabalho. Seu objetivo deve ser a transformação das práticas profissi- onais e da própria organização do trabalho, tomando como referência as necessidades de saúde das pes- soas e das populações, da gestão se- torial e do controle social em saúde. De acordo com a Norma Ope- racional Básica sobre Recursos Hu- manos do Sistema Único de Saúde (NOB/RH-SUS), a qualidade da atenção à saúde está relacionada com a formação de pessoal especí- fico, que disponha do domínio tanto de tecnologias para a atenção indivi- dual de saúde, quanto para a saúde coletiva. Segundo esse documento, re- sultado da ação direta do Conselho Nacional de Saúde na formulação de uma proposta política para a área, novos enfoques teóricos e de produ- ção tecnológica no campo da saúde passaram a exigir novos perfis pro- fissionais. Por isso, tornou-se imprescin- dível e obrigatório o comprometi- mento das instituições de ensino em todos os níveis, desde o ensino fun- damental, com o SUS e com o pro- jeto técnico-assistencial definido nas Leis n. 8.080/90 e 8.142/90 (CECCIM; FEUERWERKER, 2004). Para a NOB/RH-SUS, uma formulação de diretrizes curricula- res deve contemplar: as prioridades expressas pelo perfil epidemiológico e demográfico das várias regiões do país; a implementação de uma polí- tica de formação de docentes orien- tada para o SUS; a formação de ges- tores capazes de romper com os atu- ais paradigmas de gestão e a garan- tia de recursos necessários ao desen- volvimento do ensino, da pesquisa e da extensão. 35 35 36 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 36 5. Referências Bibliográficas ALMEIDA FILHO, N.; ROUQUAYROL, M.Z. Introdução à epidemiologia mo- derna. 2. ed. Belo Horizonte: Coopmed; Salvador: APCE Produtos do Conheci- mento; Rio de Janeiro: Abrasco, 1992. BONITA, R. R. BEAGLEHOLE, T. KJELLSTRÖM; Epidemiologia básica / R. Bonita, R. Beaglehole, T. Kjellström; [tradução e revisão científica Juraci A. Ce- sar]. - 2.ed. - São Paulo, Santos. 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Princípios e diretrizes para NOB/RH-SUS. 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