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1 ASPECTOS CLÍNICOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Daryane Raupp – UNISC 2026.2 CASO 01 - Apendicite Um paciente de sexo masculino, 28 anos, procura serviço de emergência por sentir dor abdominal. - O quadro havia iniciado há 36 horas de sua chegada com aparecimento de dor difusa em cólica e náuseas. Nas últimas 12 horas, a dor passa a ser constante e localizada no quadrante inferior direito, acompanhada de um episódio de vômito e de temperatura axilar 37,8ºC. A dor piora com contração da parede abdominal e a deambulação. - Ao realizar exame físico, o paciente encontra-se prostrado e imóvel. À palpação do abdome, ele tem contração involuntária da musculatura da parede abdominal no quadrante inferior direito (defesa) e dor forte à retirada súbita de compressão manual nessa região (rebote – sinal de Blumberg) - A partir de hemograma solicitado, evidencia-se leucocitose (14.000/mm3) com desvio a esquerda (11% de bastonados e 61% de segmentado) CASO 02 – Pneumoperitônio -abdome agudo perf. Paciente do sexo masculino, 39 anos, atendido no PA com quadro de dor abdominal difusa, intensa e de início súbito, com cerca de 3 horas de evolução. - Trazido à sala de exame em cadeira de rodas, com fáceis de dor e gemendo. Acompanhamento relatou episódios de náuseas e vômitos após o início do quadro - Ao exame encontrava-se pálido, sudorético, taquipneico, apresentando abdome difusamente doloroso com tensão aumentada e dor a descompressão difusa. A frequência cardíaca era de 120 bpm e a pressão arterial de 110x60mmHg. CASO 03 – DIVERTICULITE Coronel Otavio, político de uma pequena cidade do interior resolve comprar uma fazenda com seu cartão corporativo. Como em tempos de fiscalização acirrada é impossível realizar a compra dessa maneira, resolve utilizar meios mais tradicionais. Contratou um capanga e resolveu tomar o imóvel a força. “A vida, às vezes, dificulta o cabra a ser honesto” – disse em tom de ensinamento para um de seus aliados. Desfrutando da sua bela propriedade, em sua rede bordada por habilidosas artesãs cearenses, começou a sentir uma forte dor abdominal difusa, mais predominantemente do lado esquerdo, seguida de diarreia com urgência para defecar e disuria. Já experimentava a mesma dor em outras ocasiões, mas nunca procurou um médico. Essa seria, aliás, a primeira vez em 61 anos de existência que seria atendido num hospital. Não havia sangue, muco nas fezes, e, ao exame físico, Otavio estava febril 38ºC e em regular estado geral. O clínico que o atendeu percebeu o que descreveu como uma massa em quadrante inferior esquerdo, solicitando uma TC do abdome. CASO 04 – Estamos no ano 23 A.C. e o imperador Augusto está à espera do seu médico Antonius Musa que vem lhe tratando com sessões de banho frio. E pensar que, faz apenas alguns dias, ardia em febre. Agora, esta regredia, restando apenas uma dor abdominal e umas manchas vermelhas que lhe coloriam a barriga e o peito. “Antonius chegou!” – Gritava-se pelo palácio. Diante de toda sua robustez e seriedade, ele toma o braço do imperador e conta-lhe as pulsações, “ah, essa bradicardia que não passa” – deixa escapar o médico, Augusto, no entanto, parece estar em outro mundo, ficando a repetir desvaneios e previsões. A verdade é que isso não importava ao médico nesse momento, que estava confiante na recuperação de seu ilustre paciente. Dias semanas se passaram e Augusto era outro. Já comandava seu exército, discutia com o Senado e caminhava diariamente pelo calçadão. Numa tarde, enquanto cavalgava, sentiu uma dor súbita em mesogástrio, muito intensa, e desmaiou. Seu médico foi chamado as pressas. Já era tarde, Augusto colocava sangue pelo ânus e Antonius sabia exatamente o que isso queria dizer. A única coisa que ainda lhe deu tempo de fazer foi percutir a topografia hepática e percebeu o hipertimpanismo. LEUCOGRAMA: Absoluto: Acima de 12.000/mm3 sugere aumento. Formas jovens: Bastonados, mielocitos = formação de células -> Sugere infecção 2 ASPECTOS CLÍNICOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Daryane Raupp – UNISC 2026.2 NÃO TRAUMÁTICO • Causa mais comum de internação cirúrgica de emergência (10% das consultas em emergências); • Engloba várias condições que variam desde causas banais até situações de elevada mortalidade (10% complicações graves); • Evolução pode várias de minutos a horas ou mesmo semanas ✓ 40% da população: Dor abdominal recorrente; ✓ 30% dos pacientes com câncer; ✓ 24% das mulheres com dor pélvica. Raciocínio lógico: Anatomia e fisiopatologia. 15% das questões de prova de residência. Prevalência das doenças: - Apendicite - Perfuração de vísceras ocas - Colicistite - Obstrução intestinal - Diverticulite - Causas ginecológicas Revisão da anatomia: - Parede abdominal: Inervação dos dermátomos T6-T12 + L1 CAUSAS ABDOMINAIS CAUSAS EXTRA-ABDOMINAIS 3 ASPECTOS CLÍNICOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Daryane Raupp – UNISC 2026.2 Cavidade peritoneal - peritônio Membrana serosa que reveste os órgãos e a parede da cavidade abdominal, semipermeável e bidirecional. Promove o sequestro e remoção de bactérias na cavidade peritoneal e facilita e migração de células inflamatórias. Barreira passiva – Área se superfície 1m2 Células mesoteliais Contém, em condições normais, menos de 50ml de líquido. Nos homens a cavidade peritoneal é totalmente fechada. Nas mulheres apresenta uma abertura para o exterior, através do óstio das tubas uterinas. Peritônio parietal – cobre as superfícies da parede abdominal anterior, lateral e posterior e a superfície inferior do diafragma e pelve. Peritônio visceral – envolve a maior parte da superfície dos órgãos e a face anterior dos órgãos retroperitoneais • Órgãos Intraperitoneal tem meso - camada dupla. (estômago, jejuno, íleo, cólon transverso, fígado e baço) • Órgãos retroperitoneais - Uma parte revestida por peritônio, outra não. (duodeno, cólons direito e esquerdo, pâncreas, rins e glândulas adrenais) Mesentério e omento Omento corresponde a dobras peritoneais complexas. Promove a proteção das vísceras abdominais. Alta concentração de macrófagos que auxiliam na remoção de corpos estranhos e bactérias. Aderência aos sítios intraperitoneais de inflamação, impedindo peritonite difusa (por exemplo, diverticulite e apendicite aguda) Omento maior/Grande epiplon - Parte da maior curvatura gástrica e vai até o colo transverso. Ele serve para proteção e possui 4 camadas de peritônio - é ativo (movimentos por quimiotaxia) Pequeno omento – entre o estômago e o fígado Espaço/bolsa omental – retro cavidade dos omentos/epiplon Cavidade superior ou uma cavidade inferior, vai ser dividido mais ou menos pela altura do colo transverso (mesocólon transverso). Dividir em - omento superior, omento inferior e bolsa omental. Dobra do peritonio em volta da via biliar - ligamento hepatoduodenal. Forame omental/epiploico/winslow - comunicação natural da bolsa com o restante da cavidade, entre via biliar a parede posterior (ligamento hepatoduodenal e veia cava). Peritônio visceral Peritônio parietal Omento menor Bolsa omental Forame omental Omento maior Órgãos retroperitonial – pâncreas, duodeno (3ª porcao), rins. 4 ASPECTOS CLÍNICOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Daryane Raupp – UNISC 2026.2 ACESSOS CIRURGICOS À BOLSA OMENTAL Acesso cirúrgico à bolsa omental: seccionara parte anterior do grande omento para acessar o pâncreas, por exemplo. Outra forma, é seccionar junto ao bordo livre do cólon transverso, levanta-se todo o omento (mais comum). • Ligamento falciforme é uma dobra do peritônio parietal. • Cápsula de glisson – peritônio do fígado Tipos de dores abdominais DOR VISCERAL: Sensação dolorosa profunda, surda (mal definida) e mal localizada (as fibras se cruzam e por isso o cérebro não sabe distinguir onde está a dor) - Paciente não consegue ficar parado - Fibras aferentes do SNA - Pode ser causada por distensão, isquemia ou contração exagerada da musculatura da víscera. - Dor na linha média (exceto: inervação de órgãos bilaterais como rins, ureteres). - Acompanhada de resposta vagal DOR PARIETAL (SOMÁTICA): Nervos somáticos (fibras aferentes de T6-L1); Dor bem localizada e nem definida; dor aguda em pontada e constante. - Paciente se mexe o mínimo possível - Pode ser causada por inflamação, edema ou congestão vascular - Distribuição cutânea unilateral com contratura de musculatura (defesa muscular) - Agravada com estímulo do peritônio parietal (Ex.: Tosse) - Frequentemente CAUSA CIRÚRGICA. DOR REFERIDA: Dor sentida em local diferente do estímulo nocivo; ocorre em área inervada pelo mesmo neuro segmento (Arco reflexo medular) do órgão envolvido. Geralmente ocorre por inflamação (Ex.: paciente com cálculo na pelve renal e refere dor no testículo do mesmo lado). - Diafragma: Dor no ombro - Trato biliar: Dor no ombro D - Intestino delgado: Dor na região dorsal DOR DE CAUSAS NÃO ABDOMINAIS: AFECÇÕES TORÁCICAS: - Processos inflamatórios pulmonares que irritam a pleura parietal - Afecções da pleura parietal - Pneumotórax e hemopneumotórax; - Pericardite aguda - Embolia e infarto pulmonares - Infarto do miocárdio Dor na região epigástrica. Dor na região periumbilical Dor na região supra púbica 5 ASPECTOS CLÍNICOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Daryane Raupp – UNISC 2026.2 Abdome agudo não traumático ✓ 5 a 10 % das consultas em Emergências; ✓ 15 a 40% dos casos necessitam tratamento cirúrgico; ✓ Desafios: – 1/3 dos casos não tem apresentação típica – Se diagnóstico incorreto – mortalidade aumenta 2,5 vezes em idosos Menos de 50 anos: 1. Dor inespecífica – 39% 2. Apendicite – 32% 3. Colicistite – 6% Mais de 50 anos: 1. Colicistite – 20% 2. Dor inespecífica – 15,6% 3. Apendicite – 15,4% Cirúrgico: Apendicite, colicistite, úlcera perfurada, gravidez ectópica e diverticulite. Não cirúrgico: Cálculo renal, pielonefrite, apendicite, hepatite aguda, adenite mesentérica AVALIAÇÃO CLÍNICA Diagnóstico: • Etiológico • Sindrômico: 1. Inflamatório. 2. Perfurativo. 3. Obstrutivo. 4. Vascular. 5. Hemorrágico. ANAMNESE – EM RELAÇÃO A DOR: Localização e irradiação: Modo de início: - Abrupto: Isquemia, perfuração de víscera oca, ruptura de aneurisma, gravidez ectópica rota. - Rápido (até 1-2h): Colicistite, pancreatite. - Gradual (várias horas): Inicialmente desconforto, após, bem localizada – irritação peritoneal: apendicite, hérnia encarcerada, diverticulite. Continua x intermitente: - Intermitente: Obstrução (digestiva, urinária). - Contínua: Inflamação ou isquemia. Duração: -Persistente, por mais de 6h, forte intensidade: TRATAMENTO CIRÚRGICO. Ex.: Perfurativo Ex.: Obstrução Ex.: Inflamatório 6 ASPECTOS CLÍNICOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Daryane Raupp – UNISC 2026.2 Fatores de alívio e piora: Estímulo peritoneal – respiração profunda, tosse, caminhar...Imobilidade no leito, posição antálgica- Peritonite Estímulo visceral – paciente inquieto. Frequência: Episódios prévios: menos provável que seja doença CIRÚRGICA. História médica: História médica pregressa: Especialmente CIRURGIAS PRÉVIAS. Uso de drogas: Corticoides, anticoagulantes e cocaína. Sintomas associados: Vômitos associados: -Pela dor ou pela doença primária. -Vômitos precedendo a dor: em geral não- cirúrgico. Obstrução intestinal: Alta – vômitos biliosos, precoces. Baixa – vômitos fecalóides, tardios. Hábito intestinal: Diarreia: Doença inflamatória intestinal (Crohn) Constipação: Obstrução (atenção: diarreia paradoxal, primeiro sinal é a constipação - o gás é mais difícil de passar). Atentar: Icterícia, hematêmese, hematúria e amenorreia QUESTIONÁRIOS QUE DEVE SER RESPONDIDO: 1. Quantos anos? (atentar para pacientes acima de 65 anos) 2. O que veio primeiro? Dor ou vomito? 3. Quanto tempo tem a dor? 4. Já fez alguma cirurgia abdominal? 5. Dor constante ou intermitente? 6. Já teve a dor antes? 7. História de diverticulose, pancreatite, insuficiência renal, litíase biliar ou doença intestinal inflamatória 8. Portador de HIV? 9. Ingesta alcoólica diária? 10. Está grávida? 11. Tomando antibiótico ou corticoide? 12. Dor começou central e migrou para o quadrante inferior direito? 13. Tem doença vascular ou cardíaca, hipertensão ou fibrilação atrial? Por que saber se paciente tem fibrilação atrial ou não? Fibrilação atrial – fluxo não laminar formará trombos que irão formar êmbolos e que vão acabar chegando na aorta, obstruindo assim, a artéria mesentérica superior. Obstrução da artéria mesentérica superior, por exemplo, causa isquemia de quase todo o intestino delgado - Causa normalmente provem de um embolo arterial originário do coração (átrio) Exame físico: Aspecto geral: -Atitude: (imóvel, curvado, ou inquieto, movimentando-se); -Posição antálgica; -Capacidade de responder e expressão facial. Sinais vitais: -Febre: Baixa: Colicistite, apendicite, diverticulite; Alta: Pneumonia, ITU, infecções ginecológicas, colangite. - Hipotermia: Sinal de gravidade. - Taquicardia e hipotensão: Maior gravidade. Exame físico do abdome: Inspeção: Cicatrizes, hérnias, distensão, equimoses (em flancos – pancreatite), massas. Ausculta: Ruídos hidroaéreos (sem, aumentados, intermitentes) – som metálico: Gás - obst. Intestinal no início. Percussão: Timpanismo (obstrução) ou maciçez (ascite). Tamanho de órgãos, peritonite. Palpação: Abdome rígido, defesa voluntária ou involuntária. Examinar o ponto mais doloroso por último. Dor à descompressão (outras manobras – geralmente para dores parietais). • Pesquisar hernias • Toque retal e vaginal 7 ASPECTOS CLÍNICOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Daryane Raupp – UNISC 2026.2 Sinal dos Olhos Fechados: Pacientes sem doença intra-abdominal específica mantêm os olhos caracteristicamente fechados durante a palpação abdominal. Ao contrário, pacientes com condições inflamatórias significativas mantem os olhos abertos e bem atentos as regiões que o examinador está palpando. O valor preditivo positivo deste teste foi de 79%. A função deste teste seria indicar o forte componente psicológico da dor em alguns pacientes. Exames complementares: Hemograma: Pode demonstrar leucocitose, anemia (sangramento, oncológico?). - Leucocitose: Sugere processo inflamatório. Eletrólitos: Pouco benefício diagnóstico. Glicemia: Exclui cetoacidose (diagnóstico diferencial) - não é diabético não adianta. Creatinina: Casos selecionados. Amilase/lipase: Pancreatite (elevada), mas também úlcera perfurada e isquemia intestinal - > 3x pancreatite. - Pancreatite grave c/ necrose, n altera. Enzimas hepáticas: Suspeita de doenças hepáticas (hepatite, obstrução biliar). - Bilirrubinas: Suspeita de obstrução da via biliar. EQU: Para ITU, hematúria, proteinúria. - Hematúria: Cálculo e ureter, bexiga ou rim. Entretanto, na apendiciteé comum ter hematúria. Beta-HCG: Mulheres em idade fértil. Fosfato e Lactato: Isquemia mesentérica. Exame de imagem: Radiografia: -Tórax AP e perfil; - Abdome normalmente em 3 incidências: - 2 em AP (Uma paciente em pé, outro deitado); - 1 com o paciente de lado. Pneumonia, obstrução intestinal, perfuração intestinal, Cálculos urinários, fecalito, gás no sistema porta hepático, aneurisma calcificado, borramento do psoas, ar na parede dos cólons etc – lembrar de ver a cúpula da pleura. • Lugares que é normal ter ar: reto, bolsa gástrica e cólons. EM Torno do psoas tem muita gordura, onde forma a linha. Pneumoperitônio. NUNCA ESQUECER DO RAIO X DE TORAX PARA AVALIAR O ABDOME AR NAS VIAS BILIARES -Pode vir de visceras ocas, pode ter o esfíncter de oddie aberto após procedimento, colédoco, vesícula (faz uma fistula em comunicação com o duodeno. CALCIFICAÇÃO Cálculo na vesícula biliar (10% são visíveis no RX) Mais comum pedir ecografia. Borramento do psoas - sinal indireto de processo inflamatório retroperitônio. 8 ASPECTOS CLÍNICOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Daryane Raupp – UNISC 2026.2 Colón distendido Obstrução baixa, colón sigmoide Distensão de uma alça. Austrações- risquinhos nas bolhas Intestino delgado (aderências ou bridas – causas de obstrução intestinal.) - Diâmetro ajuda a diferenciar Obstrução antes de colón (jejuno ou íleo) Sem distensão grosseira Como se fossem vários tubos Estômago DISTENSÃO DE INTESTINO DELGADO – imagem de empilhamento de moedas. Obstrução funcional (sem obstáculo físico) – processo inflamatório, parada de peristaltismo. Níveis hidroaéreos Líquido (maior opacidade) dentro do intestino Vários níveis OBSTRUÇÃO DE INTESTINO GROSSO? Ceco é a área que mais distende (válvula ileocecal competente – sistema de alça fechada) – pode romper espontaneamente o ceco (mais que 9cm) Válvula incompetente – distensão do ceco e do delgado (vômitos com fezes). Diferenciar intestino delgado x grosso no rx: Eletrocardiograma Pode ser útil, por um dor epigástrica que pode ser de causa extra-abdominal (ex.: infarto agudo do miocárdio) ou caso da suspeita de abdome agudo vascular, uma das causas é uma embolia em artéria mesentérica superior e a origem nesses êmbolos geralmente são no coração quando se tem uma fibrilação atrial. Ultrassom Rápido, barato, seguro, disponível, porém, é examinador dependente. -Patologias pélvicas, apendicite, colicistite, doenças inflamatórias (líquidos perivesiculares). Ecogenicidade – geralmente há um reforço dos líquidos, agora quando há cálculos/estruturas solidas não há transmissão do som, hiperecogenica, fica uma sombra acústica. Limitações da ecografia: - Quadro de abdome agudo obstrutivo (ar não transmite bem os sons) - Obesidade, tecido adiposo não transmite bem os sons. 9 ASPECTOS CLÍNICOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Daryane Raupp – UNISC 2026.2 Tomografia computadorizada: Demorada, cara, necessita de um radiologista, uso de contraste iodado EV, indicada seletivamente após avaliação clínica criteriosa. Principais indicações: - Diverticulites, diagnostico em 93%, terapêutica - drenagem percutânea. - Obstrução intestinal. - Pancreatite (controle da evolução). Contraste no fígado – 3 partes. - Antes dos primeiros 20 segundos: Artéria hepática - Depois dos 20 segundos: Veia porta - 1 minuto: Drenagem venosa Laparoscopia (diagnóstica/terapêutica) Raramente necessária, útil na mulher pré- menopausa no diagnostico diferencial entre patologia anexial ou apendicite. CONDUTAS FRENTE A UM ABDOME AGUDO: Anamnese, exame físico e exames complementares. Cirurgia, se cirúrgico. Observar. Laparoscopia. Laparoscopia exploradora. TRATAMENTO INICIAL: -Reposição volêmica endovenosa, independente da causa há perda de líquido para o 3º espaço. -Descompressão nasogástrica (SNG) – grande parte dos casos de abdômen agudo, principalmente o cirúrgico, os pacientes acabam tendo uma distensão gástrica, por distensão ou ílio dinâmica, que acaba gerando um risco de vômitos. Caso o paciente estiver com o sensório rebaixado, pode fazer uma bronco aspiração em casos de vômitos. -Antibioticoterapia (se suspeita de infecção) – suspeita de abdômen agudo com infecção associada, iniciar de forma precoce. -Analgesia Geralmente se usa um analgésico potente, mas de curta duração – morfina é bom, por ter uma meia vida curta (2h) –Prós: Permite uma história e exame físico melhores. –Contra: Pode mascarar a dor e suas características. QUANDO OPERAR? Peritonite - exceto primária- Irritação do peritonio parietal, se diagnostica pela avaliação do tipo da dor. Dor e quadro de septicemia associada Isquemia intestinal Pneumoperitôneo DIAGNÓSTICO Etiológico – em alguns casos já se pode determinar por história clínica e exames complementares. Sindrômico - de acordo com características das causas 1. INFLAMATÓRIO 2. PERFURATIVO 3. OBSTRUTIVO 4. VASCULAR 5. HEMORRÁGICO 10 ASPECTOS CLÍNICOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Daryane Raupp – UNISC 2026.2 1. INFLAMATÓRIO -Mais comum, envolve tanto apendicite e colicistite (causas mais comuns) -Dor progressiva, moderada a intensa e localizada; -Percussão e palpação com muita dor localizada com sinais de irritação peritoneal. (Quando difuso pensar em complicações) -Frequente ter leucocitose com desvio à esquerda -RHA diminuídos ou ausentes -Distensão abdominal precoce -Vômitos reflexos -Febre em geral presente -Posição antálgica -Toque retal ou genital pode ser doloroso; - Sinal de Murphy: colicistite aguda (dor hipo d., eco, cólica biliar) - Blumberg positivo: apendicite (ecografia, exceto obeso e distensão abdominal importante) 2. PERFURATIVO -Não é o mais comum - perfuração de víscera oca como estômago e cólon. Dor a percussão, a palpação com sinais de irritação peritoneal. Essa irritação é difusa, e logo há perda dos movimentos peristálticos e distensão de todo o intestino por perda desses movimentos, isso irá levar a diminuição dos RHA ou sua ausência. -Extravasamento de ar e líquidos da víscera. -Dor (parietal) súbita, intensa e localizada. -Náuseas e vômitos reflexos e pouco marcantes; -Distensão abdominal -Febre de início está ausente -Posição antálgica (imóvel) -RHA estão diminuídos ou ausentes - Raio X de abdômen agudo - TC 3. OBSTRUTIVO -Obstrução em intestino delgado – várias causas. -Dor gradual e em cólica -Náuseas e vômitos reflexos no início e após fecalóides -Parada de eliminação de gases e fezes – sons metálicos -Distensão abdominal -Afebril -Desidratação precoce e marcante -RHA de luta e após ausentes -Percussão com timpanismo acentuado -Palpação pouco dolorosa e sem sinais de irritação peritoneal -Toque retal pode revelar a causa – neoplasia de reto pode ser diagnosticada. 11 ASPECTOS CLÍNICOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Daryane Raupp – UNISC 2026.2 4. VASCULAR -Causado por obstrução no sistema circulatorio do intestino. Pode ser na chegada (arterial – embolia que se inicia no atrio e obstrui a arteria mesentérica superior, isquemiando todo intestino delgado e o grosso até a metade do colo transverso transverso) – retirar o êmbolo. Obstrução venosa é geralmente uma trombose do sistema portal, geralmente é difusa, iniciando das pequenas veias e indo para as maiores – mais complicado. -Isquemia não pode passar de 6 a 8h, há necrose do intestino. -Dor súbita, intensa, contínua e difusa (podendo ser em cólica e surda)-A percussão e palpação não modificam muito a intensidade da dor -Náuseas e vômitos reflexos no início e após fecalóides -Parada de eliminação de gases e fezes -Distensão abdominal pouco marcante no início -Desidratação precoce e marcante -Afebril, podendo a temperatura retal estar abaixo da axilar -RHA progressivamente ausentes -O exame clínico não condiz com a dor -Angiotomografia -Arteriografia (padrão ouro – aula Balzan) 5. HEMORRÁGICO -Hemorragia digestiva -Aneurisma abdominal roto -Cisto ovariano hemorrágico roto -Gravidez ectópica rota Achados: Taquicardia, hipotensão, sudorese, palidez (hipovolemia) Abdome: Dor leve e aumenta progressivamente Ecografia e laparoscopia. 12 ASPECTOS CLÍNICOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Daryane Raupp – UNISC 2026.2 ABDOMEN AGUDO NA GESTAÇÃO 1/500 necessitam cirurgia não-obstétrica durante a gravidez Causas mais comuns: - Apendicite aguda - Colicistite - Obstrução intestinal - Pancreatite - Trauma Particularidades: - Sinais de peritonite podem não estar presentes, dificultando o diagnóstico. - Útero pode obstruir e inibir o movimento do omento para área de inflamação. Exames: Ecografia: - Segura - Boa sensibilidade e especificidade - Exame de escolha para maioria dos casos Exames com radiação: -Primeiro trimestre: tudo ou nada fenômeno, gera abortamento caso tenha alguma mudança pela radiação. -Período crítico para teratogênese SNC: 10-17 semanas. Incidência: 1 a cada 6 indivíduos Idade: Rara antes dos 2 anos Pouco frequente em idosos Mais comum em adolescentes e adultos jovens. Obstrução do lúmen apendicular: Hiperplasia dos folículos linfoides - 60%; Fecalitos - 35% (maior causa nos idosos) Corpos estranhos, estenoses inflamatórias, parasitas e outras causas - 5% Sequência de eventos: secreção mucosa estagnada na luz ➨ proliferação bacteriana ➨ secreção de toxinas ➨ dano epitelial e ulceração da mucosa ➨ invasão bacteriana e estabelecimento do processo inflamatório. Aumento da pressão intraluminal e intersticial ➨ isquemia ➨ infarto e gangrena ➨ perfuração do apêndice: plastrão e abscesso localizado ou peritonite difusa. Quadro clínico característico: Dor ➨ anorexia, náuseas e/ou vômitos. Desconforto no abdome ou pelve. Febre ➨ leucocitose Sinais: Dor à palpação: em geral ausente no quadro inicial. Dor à palpação do “ponto de McBurney” é precoce, dentro do quadro de dor na FID, porém inconstante. Dor à percussão da FID: irritação do peritônio parietal. Dor ao toque retal e/ou vaginal: apêndice de localização pélvica. Sinal de Blumberg. Sinal de Rovsing. Sinal do músculo psoas: dor à extensão do MID. Sinal do músculo obturador: dor à rotação externa do MID fletido. Rigidez muscular localizada na FID: percebida à palpação ou nos movimentos respiratórios. Rigidez do psoas e do quadrado lombar: localização posterior do apêndice. Febre: em geral não excede 38°C antes da perfuração, a qual ocorre, em geral, entre 24 a 36 horas após o início dos sintomas. Taquicardia frequente (dor ou translocação bacteriana ou perfuração) 13 ASPECTOS CLÍNICOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Daryane Raupp – UNISC 2026.2 Distensão abdominal (por íleo a dinâmico) - (apêndices retroceais e subserosos ou, quando difusa e intensa, possibilidade de perfuração e peritonite difusa) Dor e/ou retração testicular – inervação comum de ambas as estruturas (T10). Dados Laboratoriais: –Leucocitose: em geral entre 10 a 20.000 ou apenas desvio nuclear à esquerda (leve). Pode haver contagem normal, especialmente em idosos. –Hematúria, se houver irritação do ureter ou bexiga. Escore de alvarado: 8 pontos ou mais, apendicite. Bactérias em apendicite perfurada: POLIMICROBIANO Aeróbicos e facultativos: Escherichia coli, Streptococcus viridans, Pseudomonas aeruginosa, Streptococcus do grupo D e Enterococcus Anaeróbios: Bacterioides fragilis, Peptostreptococcus micros, Bilophila, Lactobacilos e Fusobacterium Tratamento: -Reposição volêmica -Antibióticos com espectro para anaeróbios e aeróbios, especialmente gram-negativos (cefoxitina; clindamicina ou metronidazol e aminoglicosídeo; ceftriaxona e metronidazol) – Se não houver perfuração - suspender em 24 horas Cirurgia: Convencional: Opções de incisão, drenagem de abscessos localizados, associação com peritonite difusa e apêndice normal. Acesso laparoscópico: Especialmente quando o diagnóstico é incerto, em pacientes obesos e peritonite difusa
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