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Mito 2 – Que a igreja cristã medieval impediu o avanço da ciência O livro começa com John William draper junto com White que escreveram alguns livros “Fake News” que não é do século 21, mas é ali do final do século 19. White escreve alguns livros onde ele vai trabalhar essa questão de contextos e vai trazer alguns “fatos históricos” onde vai apontar que existia ou ainda existe na época dele um conflito entre a ciência e religião, e nesse conflito ele chega a colocar no título do livro por exemplo “história do conflito". Na cristandade a maior parte desse período longo (Ptolomeu a copérnico) foi consumida por disputas em relação à natureza de Deus e lutas por poder eclesiástico. a autoridade dos pais da igreja e a crença prevalente de que as escrituras contêm a soma de todo o conhecimento desencorajou a investigação da natureza...esta diferença continua até o fechar do século 15. O partido cristão (no início da idade média) declarou que todo o conhecimento deve ser encontrado nas escrituras e nas tradições da igreja...A igreja, então, se colocou como depositaria e arbitra do conhecimento; estava sempre pronta para usar o poder civil para forçar a obediência as suas decisões. assim, ela traçou o curso que determinou toda a sua futura carreira, ela se tornou pedra de tropeço do avanço intelectual na Europa por mais de mil anos. No início da história da igreja está amarrada intimamente com a história da teologia, a gente tem um desenvolvimento um pouco devagar da teologia, no início do século dois, onde os apologistas vão desenvolver a teologia dando respostas de uma forma reativa, aparecia algumas discussões e tinha uma reação a esse tipo de discussão e as fontes dessas intrigas nunca eram bíblicas, dentro do antigo testamento. A igreja foi responsável pela manutenção da educação e cultura romana no meio bárbaro, justamente depois da queda de Roma. Galileu foi perseguido pela igreja católica pela defesa do modelo heliocêntrico de copérnico, que foi até o fim da vida um cônico da igreja católica ,Isaac Newton escreveu sobre mecânica ,ótica e sobre as profecias de Daniel e do apocalipse, Darwin pra muitos deu um golpe fatal na religião e hoje está enterrado numa igreja na Inglaterra, afinal como entender realmente as relações entre ciência e religião ao longo da história? muitos acreditam que as relações entre ciência e religião ao longo da história foram geralmente conflituosas ,dois autores do século XIX ficaram especialmente famoso por defender essa ideia ,John William Draper e Andrew Dickson White, Draper considerava que “a história da ciência não é um mero registro de descobertas isoladas era uma narrativa do conflito entre dois poderes adversários”, a força expansiva do intelecto humano de um lado, e a compreensão decorrente da fé tradicional e dos interesses humanos do outro, já White dizia que, em toda a história Moderna a interferência sobre a ciência no suposto interesse da religião, não importa como bem intencionada tenha sido, resultou nos maiores males, tanto para a religião quanto para a ciência. Atualmente no entanto essa ideia de um conflito eterno é necessário entre ciências religião é pouquíssima aceita entre os historiadores e é considerada a mais relevante para entender o tempo dos próprios Draper e White do que o passado que eles quiseram descrever ,ambos os autores viveram no período da profissionalização da ciência na Inglaterra e nos Estados Unidos ,na segunda metade do século 19 ,quando o termo cientista mal tinha sido inventado e as principais instituições de ensino e de pesquisa ainda estavam nas mãos das igrejas ,nesse contexto Draper vivia pessoalmente engajado na luta pela autonomia da educação em relação ao controle da igreja católica ,e o White foi um dos fundadores da universidade de Cornell nos Estados Unidos que era uma instituição secular e não sectária enquanto a maioria das outras universidades do país eram dirigidas por padres ou pastores, esses conflitos de fato vivido por esses autores entendidos exclusivamente pela chave do conflito ciência x religião acabaram sendo fortemente projetados nos seus próprios estudos históricos ,que acabaram influenciando a visão de gerações até os dias de hoje. O problema é que na verdade quando a gente volta na história para verificar essa tese do conflito como essa perspectiva acabou ficando conhecida academicamente, o que a gente percebe é que a coisa não é tão simples assim, para começar essas duas palavras ciência e religião significaram coisas imensamente diferentes ao longo do tempo espaço ,ainda nos tempos da revolução científica no século 16 até o século 18 .A ideia de “scientia” de onde vem a nossa palavra “ciência” era bastante genérica ,significava basicamente conhecimento, tanto no sentido do ato de conhecer quanto no da coisa conhecida ,construir navios era uma ciência ,operar pacientes era uma ciência, e a teologia era chamada de Regina scientiarum (a rainha das ciências), e olha que nós só voltamos cerca de 400 anos para trás, e isso sem sair da tradição ocidental ,se a gente tentasse aplicar um modelão pronto sobre como foram as relações históricas entre ciência e religião que servisse tanto para o islã medieval quanto para a China antiga ou para o Brasil de mil anos atrás a capacidade desses conceitos de realmente dar conta dos fenômenos históricos verificados em cada um desses contextos seria praticamente nula. E o ponto é esse, as formas de interação entre o que hoje a gente costuma associar os conceitos modernos de ciência de religião foram diversas ao longo da história, nem sempre as coisas estiveram divididas nessas duas caixinhas “ciência e religião”, e mesmo quando já estavam ,várias outras caixinhas também tiveram um papel nessas relações, para realmente entender um caso como o do processo inquisitorial de Galileu não bastaria aplicar uma fórmula do tipo ciência x religião, é preciso entender o que cada um desses conceitos queria dizer no período, e que outros fatores estavam em jogo: filosóficos, econômicos, políticos,, pessoais psicológicos e por aí vai ,agora reconhecer essa complexidade não significa necessariamente abandonar qualquer tentativa de compreender de forma mais ampliada as relações históricas entre ciência e religião, o que é necessário é definir melhor o raio de aplicação dessas teorias ou modelos e permitir pelo menos algum espaço para que outros fatores sejam considerados como parte dessas relações, para dar um exemplo, o historiador John Hedley Brooke tentando compreender melhor as relações entre ciência e cristianismo na Europa Moderna, propôs uma análise dividida em 3 níveis dessa relação, os níveis da pressuposição, da sanção ,e da motivação ,o nível da pressuposição segundo ele seria um dos princípios teológicos e metafísicos participaram do conhecimento científico ,por exemplo, a ideia de leis da natureza nos séculos da revolução científica era muito mais do que só uma metáfora ,a pressuposição de que a natureza era regular e que o seu regulamento pudesse ser entendido pela investigação racional estava diretamente relacionada com a crença em um Deus regulador ,René Descartes por exemplo, dizia que em razão da imutabilidade de Deus pode se conhecer certas regras e leis da natureza ,Newton afirmava que o sistema astronômico “procede da intenção e do domínio de um ser inteligente ,esse ser o governo a todas as coisas e em razão do seu domínio ele costuma ser chamado de pantocrator, legislador universal”, ou seja, a crença religiosa em um Deus legislador era um pressuposto para a atividade científica e filosófica de descobrir leis da natureza. Já o segundo nível de interação entre ciência e religião proposto por Brooke ,o nível da sanção tem a ver com a legitimação do lugar da ciência na sociedade e na cultura, por exemplo, o estudo da natureza foi comparadopor diversos pensadores da época da revolução científica com a leitura da bíblia que era uma atividade muito mais prestigiada no período ,segundo esses pensadores ,Deus teria escrito dois livros, a scriptura e a creatura ,ou seja ,a bíblia e a natureza e por isso o prestígio social dos que se dedicavam ao segundo livro (a natureza) deveria ser elevado ao mesmo nível dos que se dedicavam ao primeiro livro (a bíblia), Johannes Kepler, pensando dessa forma, fazia questão de se referir aos seus colegas astrônomos como sacerdotes do Deus altíssimo com respeito ao livro da natureza. E finalmente o último nível de interação proposto por Brooke ,o nível da motivação se refere ao estímulo religioso envolvido na decisão de alguém se consagrar atividade científica, para Francis Bacon ,por exemplo, considerado por muitos o pai da ciência Moderna, a finalidade da investigação da natureza era "a Glória do criador e o Alívio da condição humana”, essa dupla motivação tinha a ver ao mesmo tempo com a adoração religiosa, porque entendia que através do conhecimento da criação as pessoas poderiam se aproximar do criador ,e também com a Redenção da humanidade ,porque no entendimento de Bacon, o domínio humano sobre a natureza que é mencionado ali no livro de Gênesis ,havia sido perdido com a queda, com a expulsão do Paraíso ,mas poderia ser restaurado pelo menos em parte pelo conhecimento científico, e assim a humanidade poderia superar novamente problemas materiais como a fome e as pestes. Bom isso é só para ilustrar uma abordagem ainda bastante geral ,mas que levam muito mais em conta as especificidades de outros tempos históricos sem projetar de forma tão simplista a mentalidade do presente sobre o passado, resumindo então, cravar uma única resposta para a questão de consciência e religião se relacionaram ao longo da história mais atrapalha em termos de compreensão histórica do que ajuda ,primeiro porque acaba desconsiderando totalmente a história dos próprios conceitos de ciência e de religião ,e segundo porque pode levar uma atitude de seleções de eventos convenientes ,escolhidos a dedo para confirmar uma opinião que já estava posta mesmo antes da pesquisa, e ai acaba sendo silenciada a multiplicidade de formas na verdade a gente encontra na história, pelas quais as pessoas ,instituições e culturas lidaram com essa questão.
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