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ANA LUISA ARRABAL DE ALMEIDA – VET360 -Morfologia do coração: miocárdio revestido internamente por uma superfície conjuntiva denominada endocárdio e externamente pelo pericárdio. Nos processos inflamatórios do coração, localiza-se a região na nomenclatura – pericardite, endocardite, miocardite. -Na vida embrionária, o sistema circulatório é completamente diferente da vida pós-natal, já que o sangue já chega oxigenado através da mãe. Dessa forma, não há circulação sistêmica e pulmonar e existem comunicações entre grandes vasos e câmaras cardíacas. O esperado é que após o nascimento essas comunicações se fechem – caso isso não aconteça, o filhote nasce com uma alteração congênita, uma persistência morfológica da vida embrionária na vida pós-natal. -Durante o desenvolvimento do coração, existem três comunicações arteriovenosas: entre átrios (pelo septo atrial e forame oval), entre ventrículos (pelo septo ventricular) e entre os grandes vasos (pelo ducto arterioso). O fechamento dos septos atrial e ventricular ocorre durante a vida intrauterina, e o fechamento do forame oval e do ducto arterioso ocorre no período neonatal. A partir do momento em que não há o fechamento adequado dessas estruturas, defeitos congênitos que propiciem a passagem de sangue do lado direito para o lado esquerdo, e vice-versa, podem se desenvolver. -O coração tem capacidade de aumentar o volume das fibras musculares quando há necessidade de um aporte sanguíneo por um período maior. Por exemplo, suponha- se que há um problema valvular que, quando a válvula atrioventricular deveria estar fechada, ela não fecha completamente e na contração ventricular, parte do sangue retorna da artéria aorta. Interpreta-se que essa alteração é crônica e, naturalmente, o coração começa a se adaptar – aumento da frequência cardíaca em um primeiro momento e posteriormente aumentando sua força contrátil. Essa é a chamada hipertrofia (aumento do volume das células musculares). Hipertrofia ventricular esquerda concêntrica. -Um outro exemplo é uma obstrução da artéria aorta um pouco mais distante do coração. Uma placa de gordura nesse caso pode dificultar a passagem de sangue e há uma diferença marcante: é necessário uma pressão maior para o sangue seguir seu fluxo. Dessa forma, o coração começa a hipertrofiar e expandir para dentro – hipertrofia concêntrica. No caso anterior, o coração começa a hipertrofiar para fora, denominada hipertrofia excêntrica. -Ou seja, a hipertrofia concêntrica acontece pela sobrecarga de pressão na câmara cardíaca. -Outro processo é a dilatação cardíaca, uma expansão ainda maior do volume ventricular que inicialmente aumenta a capacidade contrátil. É um processo que acontece após a hipertrofia excêntrica quando a demanda ainda não está sendo suprida. É uma insuficiência cardíaca. -Persistência do ducto arterioso: ligação entre artéria aorta e pulmonar. Quando o animal nasce, os pulmões são insuflados, diminuindo assim a resistência ao fluxo nesses órgãos e, ao mesmo tempo, a pressão na aorta se eleva pela interrupção do fluxo placentário. Dessa forma, o sangue reflui da aorta para a artéria pulmonar e em poucas horas a parede muscular do ducto arterioso sofre contração acentuada. Dentro de 1 a 8 dias, a constrição é suficiente para o fechamento funcional do canal. Quando esse canal não se fecha, tem-se a condição chamada persistência do ducto arterioso. A: artéria aorta; P: artéria pulmonar; *Ducto arterioso. Persistência do ducto arterioso. -Persistência do forame oval: ligação entre átrio direito e esquerdo. -Defeito do septo interventricular: ligação entre ventrículos. Logicamente, a gravidade da patologia é relacionada com a extensão da abertura entre os ventrículos. Parede do ventrículo também delgada tentando compensar o defeito do septo interventricular. Defeito do septo interventricular em gato. -Em todos os casos de anomalias do desenvolvimento, há mistura de sangue oxigenado e sangue menos oxigenado. -Estenose subaórtica – estenose com tecido conjuntivo que necessita de carga de pressão maior – causa hipertrofia cardíaca. Ou seja, é tecido fibroso impedindo a abertura completa das válvulas. É mais comum em cães e suínos. -Ectopia cordis: coração em posição errática. Por vezes está na região cervical, fora da caixa torácica. É uma patologia de fácil diagnóstico. -Transposição dos grandes vasos (TGV): inversão do posicionamento entre artéria pulmonar e aórtica. Nesse caso não há oxigenação sistêmica e a intervenção precisa ser imediata. Se a TGV estiver associada à persistência de forame oval ou ao defeito do septo interventricular, isso possibilita a mistura de sangue arterial e venoso, o que pode propiciar sobrevida ao animal. -Tetralogia de Fallot: quatro alterações congênitas simultâneas – dextroposição da aorta (origem biventricular), defeito do septo interventricular, estenose (constrição) da artéria pulmonar e hipertrofia ventricular direita secundária concêntrica. São 3 alterações congênitas e uma adaptativa. Tetralogia de Fallot. -Endocardiose valvular: processo degenerativo e necrótico do endocárdio, especificamente a válvula cardíaca. Ocorre proliferação de um tecido conjuntivo (mixomatoso) com espessamento da válvula cardíaca, chegando a um nível de insuficiência valvular. Também é chamada de doença dos cães velhos e degeneração mixomatosa. Consequência dessa patologia está relacionada com sua intensidade. Macroscopicamente, a endocardiose é vista com aumento do volume da válvula, muitas vezes com aspecto nodular, além de ser lisa e brilhante. Essa patologia é frequentemente diagnosticada em cães. -A sobrecarga de volume à qual o ventrículo estará submetido desencadeia um quadro de hipertrofia excêntrica do ventrículo esquerdo, quando é a válvula mitral que está acometida, ou hipertrofia excêntrica do ventrículo direito, quando a acometida é a válvula tricúspide. Associada a essas alterações tem-se também a dilatação do átrio. Coração de cão. Válvula mitral com endocardiose de grau moderado. Obs.: o tecido conjuntivo nas válvulas pode estar posicionado antes da válvula (subaórtica), na válvula (endocardiose) ou depois da válvula. -Possui cunho inespecífico, ou seja, várias patologias podem culminar em processos patológicos no coração, mas ainda sim é importante de ser descrita. Alguns patógenos que podem causar hemorragia cardíaca são: -Carbúnculo sintomático (bovinos) por Clostridium. -Clostridium perfringens: toxinas chegam aos cardiomiócitos também pode causar hemorragia. -Doença do coração de amora: é uma doença nutricional de vitamina E e selênio em que os vasos sanguíneos do coração são danificados e ocorre hemorragia. Doença do coração de amora. -Hemorragias restritas ao saco pericárdico (hemopericárdio): o sangue presente impede fisicamente que o coração relaxe de uma forma natural (tamponamento cardíaco), ficando entre o pericárdio visceral e parietal. As causas mais comuns são: Hemopericárdio, coração de cão. • Ruptura de vasos ou átrios por trauma; • Perfuração do coração; • Ruptura intrapericárdica da aorta, que pode ocorrer em cavalos após esforço físico excessivo; • Ruptura de hemangiossarcomas; • Ruptura dos átrios devida à endocardite atrial ulcerativa nos casos de uremia em cães; • Ruptura da artéria coronária por deficiência de cobre em suínos. -Hidropericárdio: coleção de líquido (edema) no pericárdio. Tem consequência semelhantes ao do extravasamento de sangue, considerando que também impede o processo fisiológico de contração e relaxamento (tamponamento). As causas são as mesmas causasgerais do edema: diminuição da pressão oncótica, aumento da pressão hidrostática, falha na drenagem linfática, aumento da permeabilidade vascular. -O líquido acumulado no saco pericárdico é considerado transudato. -O acúmulo lento e em grande quantidade pode causar hipertrofia concêntrica do coração, a qual, com o tempo, pode progredir para insuficiência cardíaca. Quando o líquido se acumula rapidamente, pode ocasionar um tamponamento cardíaco agudo, devido à dificuldade de enchimento do ventrículo direito durante a diástole, levando o animal à morte por choque cardiogênico. Hidropericárdio em ave. Hidropericárdio, coração de búfalo. Puncionamento do saco pericárdico em que conteúdo sanguinolento sai na seringa. O sangue não é extravasado para a cavidade ventricular por sua anatomia. -Inflamação das três regiões do coração: endocardite, miocardite e pericardite. -Endocardite: -Patogênese: pode haver uma bactéria com capacidade de invadir o organismo e tomar a corrente circulatória. Nesse caso, ocorre septicemia ou bacteremia – presença de bactérias no sangue. A partir dessa situação, o animal está susceptível que essa bactéria se deposite em outros localizações do corpo. Dessa forma, para que se tenha endocardite, faz-se necessário bactérias circulantes, além de microlesões, ou seja, algumas área de perda da integridade do endocárdio. As microlesões podem acontecer pelo constante turbilhonamento nas câmaras cardíacas e, por causa disso, o local mais frequente de endocardite é na válvula atrioventricular esquerda. Endocardite mural: ocorre no lúmen do endocárdio ventricular ou atrial. Obs.: em bovinos, a válvula mais acometida é a atrioventricular direita. -Características macroscópicas: difere da endocardiose nos aspectos visuais. Ao contrário da endocardiose que tem superfície lisa e brilhante, na endocardite há deposição de infecção nas válvulas cardíacas, vista como uma estrutura ressecada e heterogênea. Patologistas afirmam que a lesão parece uma couve-flor. -Causas: depende das características do microrganismo em termos de patogenicidade e fatores de virulência. Os mais frequentes são bactérias do gênero Streptococcus, algumas cepas mais patogênicas de Escherichia coli, Erysipelothrix etc. Obs.: endocardite específica de cães em caso de insuficiência renal – acúmulo de ureia que não é eliminada pelos rins (uremia) é tóxica para a superfície endocardial e endotélio vascular, causando microlesões no endocárdio nos ventrículos e átrios. Denomina-se endocardite atrial. -Consequências: endocardite causa insuficiência valvular e cardíaca. -Miocardite: -Patogênese: sendo o miocárdio também estéril, é também necessário um organismo circulante. Parasitas, bactérias e vírus encontram no miocárdio um microambiente adequado para proliferação e iniciação de processo inflamatório. Toxinas também causam essa inflamação. Miocardite supurada em cão. Miocardite linfocítica em cão. -Características macroscópicas: manchas brancas no coração, já que linfócitos possuem coloração branca. No caso da Listeria, seria possível visualizar áreas com pus, liquefeitas. Clostridium faz lesões vasculares que extravasam sangue – miocardite hemorrágica. Infiltrado inflamatório linfocítico e corpúsculo de inclusão intranuclear (seta) em cardiomiócito. -Características microscópicas: há miocardite linfocitária, sendo possível observar os linfócitos. -Causas: virais, bacterianas, parasitárias, tóxicas, bactérias especiais que fazem granulomas. -Consequências: também relacionado com a intensidade, a inflamação possui os sinais cardiais: dor, calor, rubor, edema e perda de função. Pode ocorrer perda da função contrátil dos cardiomiócitos e insuficiência cardíaca. Obs.: parvovírus tem tendência a infectar células com alto índice mitótico. Dessa forma, é uma infecção que se dá na vida intrauterina e o organismo já nasce com miocardite causada por esse vírus. Miocardite com presença de várias células inflamatórias (linfócitos) substituindo os cardiomiócitos. -Pericardite: -Patogênese: também pode ocorrer por invasão linfocitária ou de vasos sanguíneos por agentes etiológicos que vão se depositar na região do pericárdio. Tem classificações relacionadas à cronologia dos eventos: nos estágios iniciais, há exsudato com líquido gelatinoso mais claro na superfície do pericárdio. Com aumento da proliferação endotelial, evolui para um quadro fibrinoso. Depois, com proliferação bacteriana, o exsudato terá um aspecto mais turvo e líquido, semelhante a pus. A pericardite purulenta é quando há proliferação bacteriana marcante. Na formação de lesões granulomatosas, como acontece com. Lesões traumáticas de extensão caracterizam reticulopericardite traumática. Invariavelmente ocorre no pericárdio visceral e parietal, isso faz com que, no processo evolutivo da pericardite, começa a haver cicatrização entre os dois folhetos que, fisiologicamente, deveriam deslizar entre si. -Resumo: • Pericardite serosa: acúmulo de líquido rico em proteínas no saco pericárdico, com conteúdo hemorrágico variável e escassa fibrina. • Pericardite fibrinosa: tipo mais comum nos animais domésticos e é resultante, geralmente, de infecção hematógena, mas também pode ocorrer por via linfática ou por extensão de processos inflamatórios adjacentes, como pleuropneumonia fibrinosa. • Pericardite supurada: causada por bactérias piogênicas, acontece em bovinos em decorrência da reticulopericardite traumática. -Características macroscópicas: relacionadas ao tipo de exsudato, exemplo, pericardite fibrinosa e serosa. Macroscopicamente, nas lesões recentes, a superfície do pericárdio é recoberta por quantidade variável de material filamentoso friável (fibrina) de coloração amarelo acinzentada, que pode estar misturado com sangue. -Consequências: relacionadas com a extensão e evolução da lesão. Apesar de o agente etiológico ser eliminado, a aderência entre os folhetos do pericárdio causa danos (tamponamento). Remoção do folheto parietal do pericárdio, sendo essa região espessa e de coloração avermelhada, caracterizando inflamação. A porção interna do pericárdio parietal tem deposição de filamentos de origem fibrosa, uma rede de fibrina. Se ao invés de fibrina houvesse fibrose, não seria possível remover, com a mão, o pericárdio parietal, já que a aderência é muito mais firme. Obs.: pleurite – quando há casos de pleurite crônica em abatedouro e tenta-se remover o bloco torácico, a pleura parietal está aderida à pleura visceral e, na remoção, parte da estrutura pleural pulmonar fica aderida na parede torácica. Exsudato purulento que possui aspecto de ovo – “lesão de pão com manteiga”. -Poliserosite: inflamação em várias serosas. -Reticulopericardite traumática: ocorre em ruminantes. O animal ingere um objeto perfuro cortante e, na porção do retículo, o objeto pode perfurar e alcançar estruturas vizinhas. Para desenvolver a patologia, a perfuração precisa ser na região cranial. Se for de forma caudal, por exemplo, ter-se-ia reticuloperitonite diafragmática. -Mesmo que o objeto ingerido fosse estéril, ele deixa de ser ao entrar em contato com o conteúdo estomacal bovino. Ou seja, o quadro de reticuloperitonite traumática cursa com um quadro inflamatório muito intenso pelo intenso grau de contaminação. -Bovinos não são seletivos quanto a sua alimentação, fator importante para que se desenvolva reticulopericardite traumática. Dessa forma, é válido evitar que objetos perfuro cortantes estejam na pastagem. Situações fisiológicas do próprio retículo permitem que o objeto perfure e, além disso, as estruturasvizinhas cardíacas podem ser alcançadas. Prego atravessando a parede reticular. -Neoplasia: aumento da proliferação celular desordenada, sem seguimento de características anatômicas e morfológicas, caracterizada como aumento de volume e perda de forma. -Só é possível caracterizar uma neoplasia quanto a sua malignidade por avaliações microscópicas. -Proliferação de tecido muscular estriado: rabdomiossarcoma (maligno) e rabdomioma (benigno). -Proliferação de tecido muscular liso: leiossarcoma (maligno) e leiomioma (benigno). -Proliferação de vasos sanguíneos: hemangioma (benigno) e hemangiossarcoma (maligno). Pode acontecer em qualquer localização que há vasos sanguíneos. É uma proliferação das células endoteliais dos vasos. -Linfoma: “tumor de células redondas”. O termo “linfossarcoma” e “linfomioma” não são utilizados, já que é muito comum que células tumorais linfocíticas, apesar de serem benignas, consigam tomar a corrente sanguínea e ocasionar metástase. Linfonodos são comumente sedes de metástase. Obs.: leucose enzoótica – doença infecciosa causa por um vírus da família Retroviridae em bovinos. Os animais infectados podem desenvolver formas tumorais malignas ou benignas (formação de linfomas). -Quimiodectoma: ocorre nos quimiorreceptores do coração. É possível ver um processo neoplásico, mas para determinar com certeza o tipo de célula neoplásica faz-se necessário a microscopia. Características macroscópicas: estrutura nodular mais avermelhada, irrigada. Forte suspeita de hemangioma ou hemangiossarcoma atrial. Presença também de um nódulo mais avermelhado, suspeita de hemangioma ou hemangiossarcoma. Porém, a confirmação mesmo do diagnóstico só é possível com microscopia. Linfoma atrial – quadro de leucose zoótica.
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