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Conforto acústico em edificações Apresentação Você já parou para analisar o quanto o ruído pode interferir no dia a dia, sendo, inclusive, um assunto de discussão em diversos pontos das grandes cidades? Trânsito e crescimento desordenado produzem ruídos em ruas e avenidas, diminuindo ainda mais a qualidade de vida. Para que um ambiente fique o mais agradável possível, existem normas e leis que oferecem diretrizes para uma boa formulação das edificações, garantindo a realização adequada de um projeto de construção. Com isso, aumenta a demanda por recursos de isolamento acústico nas edificações, para proteger os ocupantes dos ruídos externos. No entanto, como não existe uma fórmula pronta, é somente com a análise das necessidades de cada local, do uso das normas e das possibilidades que será possível realizar uma adaptação de cada ambiente, objetivando proporcionar conforto e bem-estar. Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá estudar o conforto acústico e saber como cada indivíduo o percebe. Além disso, você irá conhecer os elementos e materiais que auxiliam na percepção desse conforto acústico e, ainda, algumas normas que norteiam os projetos para que o planejamento do ambiente atenda a todas as especificações. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir conforto acústico e suas principais características aplicadas nas edificações.• Reconhecer os principais elementos que influenciam na obtenção de espaços sonoramente confortáveis. • Identificar as normas técnicas relativas ao conforto acústico e a seus principais regramentos.• Desafio Cada ambiente tem suas necessidades e uma função. Assim ocorre com uma sala de aula, uma sala de cinema e um auditório. Conhecer cada ambiente e ao que ele se propõe é fundamental para que se possa criar ou planejar melhor o espaço, oferecendo conforto e bem-estar aos usuários, pois a combinação de diversos materiais pode tornar o resultado satisfatório e reduzir a vulnerabilidade dos sons indesejados. Será que os materiais desses elementos foram escolhidos porque o espaço é um auditório? Ou será que foram escolhidos apenas pela estética? De que forma você acredita que esses elementos foram planejados para proporcionar conforto acústico nesse ambiente? Infográfico As normas e as leis devem ser um guia no momento da criação de um projeto, garantindo que ele esteja adequado e atenda às especificações solicitadas. Por isso, é fundamental conhecê-las e saber como cada uma delas deve ser utilizada. Neste Infográfico, você irá conhecer as NBRs 10.151, 10.152 e 15.575, que regulamentam o conforto acústico em diversos ambientes. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/164d2cff-42d3-4144-8088-aaf0851b5900/1093bfe8-e569-4495-9dda-cf61310df32c.png Conteúdo do livro Os altos níveis de ruído urbano estão aumentando a cada dia, se tornando uma das formas de poluição mais incômodas. Mesmo que você não perceba, esses ruídos interferem muito na sua rotina e na forma como você lida com seu trabalho, seus amigos e sua família. Entenda que um local silencioso pode não ser visto como totalmente confortável por todos, pois isso depende da percepção individual de cada um, que se baseia em seus costumes. Mesmo assim, existem formas, técnicas e meios para controlar e tornar um ambiente mais confortável para o maior número possível de pessoas. Com a leitura do capítulo Conforto acústico em edificações, da obra Acústica arquitetônica, você irá saber mais sobre conforto acústico e os elementos que o influenciam. Ainda, você irá conhecer algumas normas que norteiam o projeto de uma edificação. ACÚSTICA ARQUITETÔNICA Silvana Laiz Remorin Conforto acústico em edificações Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir conforto acústico e suas principais características aplicadas nas edificações. Reconhecer os principais elementos que influenciam na obtenção de espaços sonoramente confortáveis. Identificar as normas técnicas relativas ao conforto acústico e seus principais regramentos. Introdução Neste capítulo, você vai perceber que estudar e planejar um projeto pensando na acústica e em como ela vai interferir em ambientes como bares, restaurantes, cinemas e teatros é fundamental, embora ainda seja um aspecto pouco levado em consideração na construção de uma edificação para moradia. Esse assunto, muitas vezes, é esquecido, seja por falta de conhecimento ou por economia. Porém, nada justifica a ausência de uma solução para qualquer espaço, mas leva em consideração o bem-estar e a qualidade de vida dos habitantes. Principais características do conforto acústico e aplicação em edificações A palavra “acústica” normalmente remete ao som de instrumentos musicais ou algo relacionado à sonorização. Porém, no âmbito da arquitetura, a acús- tica é uma necessidade para que os projetos possam adequar o espaço a cada tipo de situação encontrada. A acústica é a ciência que dedica o estudo do som/ruído e a sua propagação, podendo ocorrer em meio líquidos, gasoso ou sólidos, e as suas relações com o ser humano. O som é a variação de pressão atmosférica que o ouvido humano capta. Podemos também defi nir como som algo agradável como músicas e vozes, e ruídos, com sensações indesejadas (CHING; BINGGELI, 2014). Tavares, Silva e Souza (2017) citam que o conforto está relacionado às questões psicológicas, como a identifi cação e a satisfação com o local, assim como assim como às condições físicas de temperatura, umidade, ventilação, iluminação e acústica. Temos, portanto, que o estudo do conforto acústico lida com a subjetividade e a percepção de cada indivíduo, valendo-se então com a avaliação humana. A palavra conforto se relaciona com o conceito de bem-estar, uma questão psicológica, e varia de pessoa a pessoa, dependendo também das características individuais. É mais facilmente percebido quando a execução de alguma tarefa é interrompida em razão da falta de concentração do indivíduo por causa do ruído que o cerca. Para Ching e Binggeli (2014), a acústica é o ramo da física que trata do controle, da transmissão e da recepção dos efeitos do som, e que, em espaços internos, é necessário preservar sons desejados e eliminar sons que interfiram nele. Baseado em uma convivência em um local de trabalho ou de lazer, onde se encontram cada vez mais pessoas que se sentem prejudicadas pela poluição sonora, podemos verificar que as pessoas têm aceitado que esse é um “pro- blema” de todas as cidades. Sendo assim, a maneira como o indivíduo percebe e interpreta as sensações do ambiente é individual, variando da relação dos usuários e do ambiente (CHING; BINGGELI, 2014). O som, de acordo com Ching e Binggeli (2014), pode ter diversas definições, dependendo da área: de senso comum: som é o que ouvimos; para a física: é uma energia que se propaga; para a psicologia: som é uma sensação individual; na fisiologia: a via como o som percorre até o cérebro. Hirashima e Assis (2017, p. 8) argumentam que: [...] quando o nível sonoro é inferior a certo valor, 70 dB(A), com o aumento do nível de pressão sonora equivalente contínuo, não há mudanças significativas na avaliação de conforto acústico, enquanto a avaliação dos níveis sonoros muda continuamente. Conforto acústico em edificações2 De acordo com Ching e Binggeli (2014), em um recinto fechado, primeiro vamos ouvir o som diretamente da fonte e depois com a série de reflexões que o som produz no ambiente. O que significa que sons refletidos também podem gerar eco e reverberação no ambiente. O ruído é considerado um som indesejável que exerce influência negativa sobre a saúde e, principalmente, sobre a qualidade de vida das pessoas. Conforme descrevem Hirashima e Assis (2017, p. 9), é um “som inútile sem informação relevante”, que começou a ser contemplado recentemente nos projetos urbanos. Hirashima e Assis (2017) e Ching e Binggeli (2014) defendem que muitos fatores, como tempo de duração do ruído, intensidade, repetições, variação e sensibilidade individual, influenciam no desconforto causado. Podemos então compreender que mensurar a percepção de conforto se tornou um trabalho que dependia de uma pesquisa de opiniões. Santana, Maués e Picanço (2016) comentam que essas pesquisas de opinião foram realizadas pelo Acoustical Society of Japan (ASJ), analisando o efeito do isolamento dos indivíduos e a comparação de resultados. Santana Maués e Picanço (2016) mencionam que 50% dos entrevistados se incomodam com o ruído em alguma forma e que 30% se incomodam moderadamente. O ruído que mais perturba é o ruído de obras e reformas. Na realidade, hoje já temos a norma de desempenho de edificações que exige que as construtoras realizem tratamentos que corrijam as interferências de som entre as unidades autônomas, mas exclusivamente para edificações residenciais. Porém, poucas estão aplicando essa normativa pela falta de fiscalização e também de conhecimento da população. Com a edificação já construída, alterar a base estrutural como paredes ou janelas dessa edificação seria pouco provável, então, pode-se pensar em algumas formas de como driblar os ruídos externos (HIRASHIMA; ASSIS, 2017). Santana, Maués e Picanço (2016) citam que o desempenho de uma edifi- cação é o conceito a que vai se utilizar esse imóvel e deve-se limitar o que é essencial, como conforto, segurança e durabilidade. Porém, os autores citam que o conforto acústico não recebe a devida importância e é sentido apenas após o início do uso do imóvel, do espaço. 3Conforto acústico em edificações Conforto acústico para o dia a dia inclui observar os limites de decibéis permitidos, respeitando vizinhos, familiares e a própria saúde. Controlar o número de decibéis dentro de casa ajuda a evitar alguns problemas como desconforto, irritação, falta de concentração e até mesmo insônia (CHING; BINGGELI, 2014). Para conhecimento, vamos aos efeitos dos decibéis descritos por Correia (2009): 35 dB: interferências nas conversas em ambiente fechado. 55 dB: distúrbios do sono. 70 dB: limite do considerado seguro. 75 dB: irritação e desconforto. 80 dB: aumento dos batimentos cardíacos. 90 dB: danos no sistema auditivo. 110 dB: danos permanentes à audição. Baseado nisso, podemos utilizar uma série de materiais para o controle do ruído e a classificação de um material absorvente, por exemplo, varia de acordo com a espessura, a densidade, a porosidade e a resistência ao fluxo de ar. Se você analisar um material fibroso, vai perceber que ele permite a passagem do ar, porém suas fibras vão absorver a energia do som, o que nos mostra, então, que é um bom material acústico. Amorim e Lincarião (2005) citam como exemplos fibra de vidro, lã de rocha, tecidos, espumas e aglome- rados. Os mesmos autores citam que há tipos de barreiras a serem utilizadas no conforto acústico: Barreiras reflexivas: sólidos homogêneos, como a madeira e o concreto. Barreira absortiva: poroso e geralmente opaco, como fibra de madeira, concreto granulado e lã mineral, revestidos por materiais robustos. Barreiras reativas: material opaco com cavidade, deixando o som pe- netrar por pequenas aberturas. Pensar em outras formas de controlar o som em paredes e pisos também é uma boa estratégia para o conforto acústico. Porém, você deve analisar com cautela a escolha desses elementos. Painéis revestidos com tecido e carpetes são os acabamentos que mais absorvem o som, limitando também o ruído de passos ou sons que possam vir de outros pavimentos (AMORIM; LINCARIÃO, 2005). Conforto acústico em edificações4 Os mesmos autores ainda comentam que, ao entrar em um restaurante, pode haver música ambiente, mesmo que com o volume baixo. Você já percebeu que esse som ambiente traz mais conforto, quando é, por exemplo, utilizado em locais que poderiam ser barulhentos? Esse som ambiente, chamado de som branco, é colocado no espaço de forma proposital, para mascarar ruídos que poderiam ser indesejáveis. Espaços sonoramente confortáveis A acústica arquitetônica é pensada para locais onde a exigência de controle de som seja necessária, como um ambiente com uma máquina barulhenta, por exemplo. Porém, em um ambiente comum de trabalho, como um escritório, pensar e planejar o espaço pode tornar o dia a dia de cada indivíduo melhor. A acústica arquitetônica se volta para dois campos, de acordo com Amorim e Lincarião (2005): 1. defesa de ruídos (eliminar ou tratar que ruídos externos não entrem no ambiente, com isolamento acústico); 2. controle do som (controlar para que o som do ambiente seja controlado, garantindo a qualidade e evitando ecos). Para o entendimento de uma conversa, se o som chegar ao ouvido antes de 0,05 segundo, aumenta a sensação auditiva, o som será claro e audível. Se o intervalo que o som chega até o ouvinte em um intervalo for maior que 5 segundos, causa confusão em razão da reverberação, pois o ouvido bloqueia antes desse tempo. Som é uma onda mecânica que depende de quatro fatores, segundo Amorim e Lincarião (2005): fonte (emissor do ruído); meio de propagação (caminho do som, isto é, sólido, líquido ou gasoso); receptor (quem recebe o som); superfície (produz as vibrações do som). Pode-se também trabalhar com materiais isolantes, que não permite que o som reverbere no espaço ou ambiente. A seguir, são descritos tipos de isolamento. 5Conforto acústico em edificações Isolamento aéreo: consiste em usar materiais pesados e densos a fi m de evitar a propagação do som. Materiais com mais resistividade devem ser utilizados nesses casos, assim como as paredes duplas. Essa é uma técnica que não permite a passagem de um som de um ambiente para o outro, como podemos perceber em um auditório, onde são criados diversos obstáculos para o som. Isolamento de impacto: ruído propagado por sólidos como em apartamentos, prédios ou indústrias. O uso de tecidos, feltros, lã de vidro ou pisos fl utuantes separando os ambientes pode ser uma boa escolha, pensando e planejando de acordo com a necessidade de cada ambiente. São formas de adequar o espaço de acordo com as normas. O ouvido humano reage de forma instintiva ao som, geralmente com uma resposta agradável para sons pouco intensos, pois sons elevados podem nos transmitir dor e desconforto, chegando até mesmo a danos irreversíveis, por exemplo, efeitos psicológicos como tensão e ansiedade. Como os sons são transmitidos por meio do ar e dos materiais sólidos, é indicado que sejam, sempre que possível, isolados das suas fontes. Analisar eficiência e funcionalidade e balancear custo e benefício antes de qualquer decisão é fundamental. Há materiais separados por classificação, variando de acordo com a ação que se deseja para cada ambiente, de acordo com Catai, Penteado e Dalbello (2006). Materiais convencionais: materiais de uso comum na construção e com a vanta- gem do isolamento acústico. São exemplos, blocos cerâmicos, blocos de concreto, madeira e vidro. Materiais não convencionais (inovações): materiais especialmente desenvolvi- dos e com vantagens térmicas: lã de vidro, lã de rocha, espumas e fibra de coco. Em projetos, é necessário estudar sobre a localização da edificação no terreno e então tomar medidas que possam diminuir e reduzir impactos de ruídos externos (quando não há controle sobre a fonte geradora) (CATAI; PENTEADO; DALBELLO, 2006). Veja a Figura 1. Conforto acústico em edificações6 Figura 1. Princípios da acústica e a sua reflexão em diferentes superfícies: (a) superfícies refletivas paralelas podem causar ecos e oscilação aerostática; (b) superfícies oblíquas podem fragmentar sons; (c) superfícies côncavas focalizam sons e as convexas difundem os sons. Fonte: Adaptada de Chinge Binggeli (2014). Superfícies planas e lisas refletem muito o som, enquanto materiais fibrosos e porosos têm a capacidade de absorver o som. Para ruídos externos, devem se tomar medidas como a implementação de obstáculos para que o ruído não chegue até o interior do prédio. Sendo assim, evitar colocar janelas para a área com ruído, paredes com materiais pesados e com revestimentos porosos também auxiliam. Outra forma natural de evitar ruídos externos é a disposição de árvores e painéis vivos com vegetação, potencializando o obstáculo para a propagação do som (GABRIEL, 2016). Isolamento acústico em tetos e paredes e vidros duplos nas janelas também são bons aliados quando consideramos uma edificação multifamiliar. Se pensarmos em um edifício, com vizinhos ao lado, com divisórias internas, o isolamento interno entre as unidades, realizado com materiais de qualidade, é uma ótima solução para manter a privacidade (GABRIEL, 2016). A má acústica nos ambientes internos de edificações é uma das principais causas de insatisfação dos moradores, pois ambientes ruidosos interferem no dia a dia, na satisfação, no descanso e no sono dos moradores. É importante pensar que algumas fontes de ruído estão além da nossa capacidade de controle e que, nesses casos, as implementações de soluções de isolamento acústico no prédio contribuem para a promoção do bem-estar. Janelas acústicas por exemplo, são ótimas para que o som externo não entre no ambiente. Já o uso do papel de parede também pode ser um aliado, desde que o espaço permita, de acordo com Ching e Binggeli (2014). A combinação de materiais pode 7Conforto acústico em edificações contribuir para a diminuição da propagação do som, como aliar forros, pisos e paredes com divisórias pode trazer um resultado satisfatório aos moradores, contribuindo para a diminuição do som indesejado. Veja, a seguir, como a tranquilidade em um ambiente, em relação ao ruído, também pode ser sentida se algumas instruções forem seguidas (SILVA, 2016). Tapetes e carpetes abafam sons de pessoas andando, principalmente com salto. Vedações de aberturas com borrachas ou feltros ajudam a diminuir o desconforto, pois diminuem a entrada de som no ambiente. Equipamentos que produzem barulho, como geladeira e frigobar, quando afastados da parede, ajudam a propagar menos o som, pois não são refletidos diretamente nas paredes que o cercam. Ching e Binggeli (2014) mencionam que há uma redução de ruídos quando a pressão entre dois espaços for diferente, podendo ser por: absorvência do espaço receptor; perda de transmissão em razão da parede, do piso e do teto; nível do som ambiente, diminuindo a percepção de sons que nos perturbam. Perda na transmissão é uma medida do desempenho de um material de construção ou de uma estrutura na prevenção da transmissão de sons aéreos à medida que passam por tal material ou estrutura (CHING; BINGGELI, 2014). Os materiais de construção podem ser classificados pelos seguintes fatores que enfatizam a classificação de perda na transmissão: Massa: em geral, quanto mais pesado e denso um corpo, maior sua resistência à transmissão de sons. Separação em camadas: a introdução da descontinuidade no material interrompe o percurso por meio do qual os sons estruturais podem ser transmitidos de um espaço a outro. Capacidade de absorção: materiais absorventes ajudam a dissipar tanto os sons refletidos quanto os transmitidos em um recinto. Conforto acústico em edificações8 Observe a Figura 2. Figura 2. Tipos de materiais. Fonte: Ching e Binggeli (2014, p. 283). Ao pensar na parte interna do escritório onde o desafio seja um ambiente para isolar ao máximo os sons, a combinação de parede e teto e o layout do espaço podem ajudar bastante nessa tarefa. Hoje vemos muitos ambientes em que a divisória não vai até o teto e ficam muito próximas, o que dificulta o arranjo do espaço. Parte do ruído é refletida pelo forro, e a aplicação de placas acústicas absorverá o ruído. Utilizar materiais acústicos nas divisórias, a fim de absorver o ruído, também pode auxiliar nessa tarefa, conforme Ching e Binggeli (2014). Veja a Figura 3. 9Conforto acústico em edificações Figura 3. Arranjo físico em um ambiente de trabalho, evitando a dissipação do som. Fonte: Ching e Binggeli (2014, p. 286). Conforto acústico em edificações10 Normas técnicas referentes ao conforto acústico Controlar o ruído é fundamental para a qualidade de vida e o bem-estar da população. Para isso, pode-se contar com as normas técnicas para que ruídos fi quem dentro de padrões de aceitação, tornando qualquer ambiente um bom local para concentração, passeio ou produtividades dos colaboradores. Se você precisa pensar em uma indústria, onde há muitos equipamentos e muitos ruídos, a medida protetiva para um conforto acústico do ambiente poderá ser também um equipamento de proteção coletiva, levando em consideração a Norma Regula- mentadora 15, que comenta sobre o tempo de exposição e a frequência, que devem ser controlados, a fim de evitar danos. Mateus (2008) afirma que normas europeias chegaram ao nosso país, o que contribui para o aparecimento de novas legislações sobre prevenção e controle de ruído, incluindo também sobre o conforto acústico no interior dos edifícios. Para esses controles, podemos contar com algumas normas e leis que têm suas especificidades voltada para cada consideração, conforme listadas a seguir. A NBR 15575 — Desempenho de edificações habitacionais (ASSO- CIAÇÃO..., 2013) traz critérios de uso dos imóveis, baseada em estudos das edificações, limitando o que é considerado conforto acústico pelos usuários. Essa norma, que visa a proporcionar bem-estar para todos, está em vigor desde 2012 e estabelece requisitos máximos de ruídos para cada edifício, estabelecendo níveis e atendendo às necessidades humanas, beneficiando a qualidade de vida dos moradores das edificações. Com a revisão e a aprovação em 2013, essa norma entra em uso para todas as novas edificações em todo o país. Ela chega como um marco na construção civil, passando a obrigar que as construtoras se adaptem e coloquem em prática, nas obras, o nível de desempenho específico para cada projeto, atendendo às indicações da norma. Os moradores, consumidores desses espaços, são os beneficiados pela norma, que garante a diminuição da poluição acústica e a proteção contra incêndios. Para a construtora, essa norma agrega maior qualidade dos espaços oferecidos à população, com vedação externa para isolamentos acústicos. 11Conforto acústico em edificações A norma ABNT NBR 15575 contém seis partes: requisitos gerais (NBR 15575-1); sistemas estruturais (NBR 15575-2); sistemas de pisos (NBR 15575-3); sistemas de vedações verticais internas e externas (NBR 15575-4); sistemas de coberturas (NBR 15575-5); sistemas hidrossanitários (NBR 15575-6). Sobre os itens indicados na norma: tempo de reverberação adequado, no caso de ecos; distribuição balanceada de energia sonora nas faixas de frequências, como curvas NC; proibição de tonais audíveis, como roncos, assobios e zumbidos; eliminação de variações bruscas de nível perceptíveis ao longo do tempo, como passagens de motos, elevadores e aviões; distribuição uniforme de som ao longo do espaço. Baring (2007) critica o governo pelas tentativas de regulamentar e eviden- ciar a necessidade para a criação de uma norma que estabeleça e evidencie parâmetros para uma melhor fiscalização, proporcionando melhor qualidade de vida em relação ao conforto acústico para a sociedade em lares, ambientes de trabalho, escolas, etc. O mesmo autor também explica que os automóveis, hoje, são mais confortáveis para os usuários, mesmo em relação a ruído e vibração, se comparados aos de duas décadas atrás, isso porque a entrada de carros importados no mercado trouxe mais conforto à experiência sem os ruídos externos ou internos. A NBR 10151, que entrou em vigorem julho de 2000 e teve a sua última errata em junho de 2003, tem como objetivo fixar as condições de avaliação aceitável do ruído em comunidades, indiferentemente de reclamações. Traz ainda os métodos para a medição de ruído e métodos para correções. O método de avaliação conta com a medição do nível de pressão sonora em decibéis e a norma também fala sobre a avaliação do ruído em áreas habitadas, visando ao conforto da comunidade. Também determina procedimentos e valores de referência para avaliação da pressão sonora e projetos acústicos de ambientes internos, dependendo da finalidade de uso. Essa norma ainda insere um quadro, mencionando o nível de decibéis em diversas áreas. Veja o Quadro 1 a seguir. Conforto acústico em edificações12 Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2000). Tipos de áreas Diurno Noturno Áreas de sítios e fazendas 40 35 Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas 50 45 Área mista, predominantemente residencial 55 50 Área mista, com vocação comercial e administrativa 60 55 Área mista, com vocação recreacional 65 55 Área predominantemente industrial 70 60 Quadro 1. Tabela de limites de decibéis por região A medição dos sons é fácil de ser executada. Um decibelímetro com um microfone capta a pressão sonora e pode informar as amplitudes geradas nos espaços, os decibéis. A precisão varia um pouco de acordo com a qualidade do equipamento, porém, com as tecnologias modernas, essa precisão é cada vez melhor, de acordo com Peixoto e Ferreira (2013). Podemos analisar a NBR 10152 — Acústica: níveis de pressão sonora em ambientes internos a edificação (ASSOCIAÇÃO..., 2017) e verificar que ela regula os níveis de ruído para que sejam compatíveis com conforto acústico, em diferentes tipos de ambiente. Essa norma nos traz como foco principal um padrão internacional a ambientes em que são necessários os cuidados com a acústica. Ao consultá-la, temos acesso a uma tabela (atualizada em 2015) na qual encontramos os níveis de ruído recomendáveis a cada tipo de edificação, além do procedimento detalhado para a medição de ruído (tempo, posicionamento dos microfones, entre outros). Outra norma aliada a quem estuda a acústica é a NBR 12179 — Tratamento acústico em recintos fechados (ASSOCIAÇÃO..., 1992), que tem como obje- 13Conforto acústico em edificações tivo os critérios para a execução de tratamentos acústicos em locais fechados e há indicações de documentos complementares. Essa norma estabelece que o tratamento dado ao recinto permita uma boa qualidade auditiva às pessoas presentes no espaço. Além das normas já citadas anteriormente, podemos contar também com as Leis nº 5.354/98 e nº 5.909/01. A Lei nº 5.354/98 fixa os horários e os limites permitidos para a emissão de sons e ruídos, variando os locais como indústria e residência, até sons dos geradores, variando ainda de ambientes internos ou externos. O art. 3º dessa Lei traz a seguinte informação: Art. 3º Para os efeitos desta Lei, os níveis máximos de sons e ruídos, de qualquer fonte emissora e natureza, em empreendimentos ou atividades re- sidenciais, comerciais, de serviços, institucionais, industriais ou especiais, públicas ou privadas assim como em veículos automotores são de: I ‐ 60 dB (sessenta decibéis), no período compreendido entre 22:00h e 7:00h; II ‐ 70 dB (setenta decibéis), no período compreendido entre 7:00h e 22:00h. Parágrafo único. Quando os sons e ruídos forem causados por máquinas, motores, compressores ou geradores estacionários os níveis máximos de sons e ruídos são de 55 dB (cinquenta e cinco decibéis), no período compreendido entre 7:00h e 18:00h e 50 dB (cinquenta decibéis), no período compreendido entre 18:00h e 7:00h (SALVADOR, 1998, documento on-line). Podemos perceber que as normas entraram em vigor para que sejam re- gulamentados os níveis de ruídos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que o ruído recomendável, sem prejuízo à audição humana, é de 50 dB, sendo que a maioria percebe como se 30 dB fosse algo silencioso e mais de 65 dB fosse um ruído que passa a ser incômodo, prejudicando a concentração. Se o ruído for acima de 85 dB, já pode levar a algum problema de audição ou insônia. Em contrapartida, ficar em um ambiente muito silencioso pode ser algo cansativo e monótono, podendo gerar sonolência. Sabemos, então, que o conforto acústico, além de ser uma percepção pessoal de indivíduos, deve ser planejado de acordo com as normas e leis existentes, para o bom convívio e a tranquilidade entre as pessoas. Dessa forma, é possível criar ambientes que respeitem o conforto acústico e as individualidades. Conforto acústico em edificações14 AMORIM, A.; LINCARIÃO, C. Conforto acústico: introdução ao conforto ambiental. 2005. Disponível em: <http://www.fec.unicamp.br/~luharris/galeria/ic042_05/TIDIA-ae_To- picoA_mat-apoio_S03_C-Acustico.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2018. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10151. Acústica – Avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2000. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10152. Acústica – Níveis de pressão sonora em ambientes internos a edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 2017. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12179. Tratamento acústico em recintos fechados – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 1992. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575. Edificações habitacionais – Desempenho. Rio de Janeiro: ABNT, 2013. BARING, J. G. A. Sustentabilidade e o controle acústico do meio ambiente. Acústica e Vibrações, n. 38, p. 1-6, mar. 2007. Disponível em: <http://www.ceap.br/material/ MAT16042009110622.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2018. CATAI, R. E.; PENTEADO, A. P.; DALBELLO, P. F. 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Conforto acústico em edificações16 Conteúdo: Dica do professor Relembrando as brincadeiras com eco que fazíamos quando crianças, podemos aprender um pouco sobre acústica. Você já parou para pensar por que aquele divertido fenômeno (eco) acontecia? Agora, traga isso para o seu dia a dia, pensando em como seria trabalhar em um local no qual uma conversa com seus colegas atrapalhasse o trabalho e a concentração de todos. Nesta Dica do Professor, você irá ver o que deve ser pensado no planejamento de um ambiente que vise ao conforto daqueles que o utilizam. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/3a563e6aa56ea291528116c007ff4951 Exercícios 1) O conforto acústico é uma percepção individual, mas segue algumas regras para que cada indivíduo possa ter bem-estar e tranquilidade para as atividades que irá realizar. Sendo assim, pode ser considerado conforto acústico: A) estar em um ambiente fechado, livre de ruído. B) trabalhar em um local confortável, sem ruídos externos. C) ouvir o som de vizinhos conversando. D) trabalhar em um local com sons externos e internos controlados. E) morar perto de um parque que promova shows e espetáculos ao ar livre. 2) O som é uma onda mecânica que se propaga em um meio (lembrando de que ele não se propaga no vácuo). Um menino, para descobrir se um trem está se aproximando ou não, encosta seu ouvido nos trilhos. Qual alternativa justifica a ação da criança? A) O trem está próximo o bastante para ele perceber que está se aproximando. B) A onda acaba abafada entre os trilhos de aço. C) A aproximação do trem faz os trilhos vibrarem. D) O vácuo que o trem cria nos trilhos melhora a propagação do som. E) O ferro dos trilhos não conduz nenhuma vibração. 3) Para trabalhar em um local organizado, com tranquilidade e concentração, seu layout deve ser ajustado, de forma que as estações de trabalho permitam privacidade e concentração. Conversas e reuniões não devem interferir no trabalho dos demais. O certo a se fazer no espaço é: A) criar um forro com material absorvente. B) criar um piso com material absorvente. C) criar divisórias com material absorvente. D) deixar as mesas isoladas. E) preparar a sala com materiais sólidos. 4) A NBR 10151 fixa a avaliação do ruído em áreas habitadas, visando ao conforto da comunidade. Sendo assim, qual item está de acordo com o critério de avaliação NCA para ambientes, seguindo a ordem diurno e noturno? A) Área industrial – 75-80. B) Área mista, predominantemente residencial – 55-50. C) Área mista, com vocação recreacional – 65-50. D) Área mista, com vocação recreacional – 55-65. E) Áreas comerciais e residenciais – 55-45. 5) Para o projeto acústico de um auditório, há necessidade especial na escolha dos revestimentos. Qual é essa necessidade? A) Material reflexivo próximo ao palco e absorvente ao fundo da plateia. B) Material reflexivo em todo o teto. C) Material absorvente em todo o teto. D) Material absorvente nas proximidades do palco e reflexivo no fundo da plateia. E) Material reflexivo nas proximidades do palco e isolante na plateia. Na prática Uma boa experiência em um restaurante envolve, além do momento, da companhia e da boa comida, um ambiente aconchegante. Mas você já reparou que alguns restaurantes nos deixam irritados ou cansados, mesmo que fiquemos pouco tempo neles? Um ambiente ruidoso pode trazer sensação de desconforto, causada por conversas, risadas, estalar de pratos e talheres, além de outros sons. Você irá ver agora como alguns elementos podem fazer com que um restaurante seja um local aconchegante, calmo e tranquilo, no qual se pode conversar, comer, beber e desfrutar de boa companhia ao som de uma agradável música ambiente. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/bcb349c0-4f04-465f-a7b5-b0735784c1c4/3e93659b-9ab9-4d2b-a9c6-249d5ddcd77e.png Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Ambiente urbano e percepção da poluição sonora Este artigo traz os resultados de uma pesquisa que objetivou avaliar a percepção da população de uma grande cidade em relação à poluição sonora (ruído urbano). Buscou-se identificar quais fontes sonoras são percebidas com maior frequência pela população e quais reações psicossociais relacionadas ao ruído urbano são identificadas por ela. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. A evolução das edificações Este capítulo, do livro Adaptação de edificações e cidades às mudanças climáticas, mostra como cuidar do ambiente interno e agrega conhecimentos sobre conforto acústico. Ambos são complemento um do outro e auxiliam na melhor execução de um projeto. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Estratégias de organização do espaço Neste capítulo, do livro A análise da arquitetura, você saberá mais sobre estratégias de organização do espaço, estudando a maneira como essa organização afeta o dia a dia. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! https://www.scielo.br/j/asoc/a/KKRbk6V8mFqfqNkChqmPWYJ/?format=pdf&lang=pt
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