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Direito Penal Militar - CAS 2023

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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
1 
 DIREITO PENAL 
MILITAR 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
6 
INTRODUÇÃO 
O Direito Militar sempre figurou como item das constituições republicanas brasileiras, 
assinalando seus princípios e normas, bem como norteando a administração militar seu objetivo 
é disciplinar as relações orgânicas dentro da caserna, através da proteção maximizada dos bens 
jurídicos castrenses. 
O ordenamento militar é composto por leis, regulamentos e princípios que prescrevem 
os deveres e os direitos dos militares, conjugando aspectos de uma cultura própria da 
administração pública. 
Logo, torna-se imprescindível que os militares conheçam sua própria legislação, a qual 
lhes atribui sua esfera de responsabilidade e direitos dentro das corporações. Por conseguinte, 
o conhecimento do ramo do direito penal militar, tanto na posição de tutelado quanto na posição
de operador, é essencial para a vida na caserna, devendo ser adquirido nos cursos de formação 
e relembrado nos cursos de aprimoramento. 
Como nos ensinou o físico Stephen Hawking: "O maior inimigo do conhecimento não é 
ignorância, mas a ilusão do conhecimento”. 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
7 
1 - RESUMO HISTÓRICO 
Não podemos demarcar o exato momento na 
história da humanidade que surgiu o Direito Penal Militar. 
Contudo, pode-se afirmar que ele se originou na 
Antiguidade, junto com os primeiros exércitos.1 
Simultaneamente, surgiram os primeiros órgãos 
julgadores cuja finalidade seria analisar os crimes 
praticados por militares durante as guerras. 
Indo por vias diversas do Direito Penal Comum, 
que teria a função de tutelar “os bens mais importantes e 
necessários para a sobrevivência da própria sociedade”2 
(vida, liberdade, integridade física, patrimônio, e etc.), o Direito Penal militar tem como 
fundamento a proteção das próprias instituições militares, e, por conseguinte, da manutenção da 
“hierarquia e disciplina”3, fatores de preponderância para a coesão e o regular funcionamento 
dessas organizações. 
Neste sentido, segundo a visão do professor Univaldo Correa, o Direito Castrense nasce 
da “necessidade de contar, a qualquer hora e em qualquer situação, com um corpo de soldados 
disciplinados”4, por meio de uma legislação peculiar e específica. 
No Brasil, o Direito Militar tem suas raízes na legislação portuguesa. As Ordenações 
Filipinas (1595) e os Artigos de Guerra do Conde de Lippe (1763) positivavam previsões legais 
próximas à legislação castrense. Em 1808, foi criado no Brasil, pelo Príncipe Regente D. João 
VI, o Conselho Supremo Militar e de Justiça, com funções administrativas (promoções, soldos, 
etc.) e judiciárias (julgamentos de processos criminais cujos réus fossem militares). 
A Constituição brasileira imperial, outorgada por Dom Pedro I, em 1824, já 
constitucionalizava as forças militares, prevendo a existência da “Força Armada de Mar e Terra”, 
as quais tinham como missão a segurança e a defesa do Império. Com a Proclamação da 
República, a própria justiça militar é, pela primeira vez, constitucionalizada, ou seja, passa a 
existir no ordenamento constitucional, bem como é criado o Código Penal da Armada/Marinha 
(1891). 
Em 24 de janeiro de 1944, através do Decreto-Lei nº 6.227, foi instituído o Código Penal 
Militar voltado às Forças Armadas e que vigorou até dezembro de 1969. Em 1º de janeiro de 
1970, através do Decreto-Lei nº 1.001, o atual Código Penal Militar entrou em vigor, 
permanecendo, com poucas alterações, até os dias atuais. 
2 – OS MILITARES E A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA 
DO BRASIL 
8 
No tópico anterior vimos que na primeira Constituição brasileira, em 1824, já era prevista a 
“Força Militar”, constituída pela “Força Armada de Mar e de Terra”. E na atual Constituição 
Federal de 1988, onde estão as previsões as forças militares e quais são elas? 
2.1 As instituições militares e seus membros 
A Constituição Federal de 1988 prevê, atualmente, duas 
espécies de militares: 
1) Militares da União – membros das Forças Armadas
2) Militares dos estados – membros das Polícias e Bombeiros
militares. 
Em relação à primeira espécie de militares, o Art. 142 da 
Carta Constitucional de 1988 prevê que as Forças Armadas são 
compostas pela Marinha, Exército e Aeronáutica, sendo elas 
instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com 
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do 
Presidente da República, destinando-se à defesa da Pátria, à 
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes Poderes, da lei e da 
ordem. Importante destacar que a Constituição, em momento algum, prevê que as Forças 
Armadas sejam alguma espécie de Poder Moderador ou tenham atribuição interventora, 
tampouco possam ser intérpretes da Constituição. As Forças Armadas são órgão do Poder 
Executivo que atendem, quando necessário, à solicitação dos outros Poderes da 
República. 
A segunda espécie de militares está prevista no art. 42 da Constituição da República, onde 
especifica que os membros das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares, instituições 
igualmente organizadas com base na hierarquia e 
disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. Tais forças pertencem ao 
Poder Executivo Estadual e são subordinadas aos respectivos governadores. 
Mas e as Justiças Militares? Em qual ponto da Constituição elas estão previstas e a qual Poder 
da República pertencem? 
2.2 A Justiça Militar Da União 
A Justiça Militar da União (JMU) pertence ao Poder Judiciário, tendo sua previsão e 
competência prescritas nos artigos 122 ao 124 da Constituição Federal. Seus órgãos são os 
Tribunais e juízes militares e o Superior Tribunal Militar, os quais discutiremos na disciplina de 
Processo Penal Militar. Em relação a sua competência, a Carta Magna define que: 
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. 
9 
Assim, ao definir no artigo 124 tão somente quais o crime a Justiça Militar da União 
processa e julga-os crimes militares definidos em lei -, o legislador constituinte não restringiu sua 
competência aos militares das Forças Armadas. Pelo contrário, a ampliou para todo e qualquer 
indivíduo que cometa um crime militar. 
Dessa forma, tanto militares quanto civis poderão ser processados e julgados na Justiça 
Militar da União desde que cometam um crime militar, cujo bem jurídico atingido seja o das 
Forças Armadas. 
2.3 A Justiça Militar dos Estados e do Distrito Federal 
Em relação à Justiça Militar Estadual (JME), também pertencente ao Poder Judiciário, a 
Constituição da República previu, em seu artigo 125, §4º, que: 
Art. 125. [...] 
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os 
militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e 
as ações judiciais contra atos disciplinares militares, 
ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, 
cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do 
posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. 
Dessa forma, o legislador, diferentemente do definido para a Justiça Militar da União, 
delimitou a competência da JME tanto quanto ao tipo de crime quanto ao agente. Ou seja, 
somente militares estaduais (policiais e bombeiros militares) poderão, quando cometerem crimes 
militares definidos em lei, ser processados e julgados pela Justiça Militar Estadual. 
Como o art. 125, §4º, restringe os agentes que serão julgadas pela JME (policiais e 
bombeiros militares), civis nunca poderão responder perante ela. É essa a principal diferença entre 
a Justiça Militar da União e a Justiça Militar Estadual, pois enquanto a primeira tem 
competência para processar e julgar militares e civis, a segunda somente tem competência para 
processar e julgar militares estaduais. 
Cabe ressaltar que desde 1996, com o advento da Lei nº 9.299, foi retirada a 
competência da JustiçaMilitar Estadual para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida 
praticados por militares contra civis. Nesse sentido, se um policial ou bombeiro militar vier a 
atingir fatalmente um civil, restando comprovado o dolo por parte do agente, a competência para 
o julgamento será sempre da justiça comum (Tribunal do Júri).
Isso foi posteriormente reforçado no ano de 2004, com a Emenda Constitucional 45, que 
positivou no artigo 125, §4º da CRFB/88 - acima descrito - que os crimes dolosos contra a vida de 
civis, cometido por policiais e bombeiros militares, em quaisquer circunstâncias, fossem 
processados e julgados pelo Tribunal do Júri. 
10 
3 - PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 
O Direito Penal Militar é regido por diversos princípios. Segundo o ensinamento de 
Cícero Robson Coimbra Neves e Marcello Streifinger5, os princípios norteadores e 
limitadores do jus puniendi (direito que corresponde ao Estado criar e aplicar o direito penal) do 
Direito Penal Militar são: o Princípio da Legalidade, o Princípio da Intervenção Mínima, o 
Princípio da Insignificância, 
o Princípio da Culpabilidade e o Princípio da
Humanidade. A seguir, estudaremos cada um desses princípios. 
3.1 Princípio da Legalidade: 
De acordo com o Princípio da Legalidade Penal, não há crime sem lei anterior que o 
defina, não há pena sem prévia cominação legal. Tal princípio vem esculpido no Art. 5º, XXXIX, 
da Constituição Federal de 1988 e no artigo 1º do Código Penal Militar. 
Você sabia que o Princípio da Legalidade é um dos princípios 
mais celebrados do direito moderno, não sendo por coincidência que 
surge logo no primeiro artigo do CPM e é previsto no rol dos direitos e 
garantias fundamentais na Constituição Federal? 
Este princípio delimita o poder estatal, instituindo a chamada reserva legal. Ou seja, o 
estado somente pode aplicar as penas de acordo com uma tipificação penal já existente 
anteriormente à prática do fato delituoso. 
5 Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves, 
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 97. 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
11 
3.2 Princípio da Intervenção Mínima: 
Esse princípio aponta que o Direito Penal Militar deva se preocupar com a proteção dos 
bens jurídicos mais importantes. Como nos mostra Greco6, “o legislador, por meio de um critério 
político que varia de acordo com o momento em que vive a sociedade, sempre que entender que 
os outros ramos do direito se revelem incapazes de proteger devidamente aqueles bens mais 
importantes para a sociedade, seleciona, escolhe as condutas, positivas ou negativas, que 
deverão merecer a atenção do Direito Penal”. 
3.3 Princípio da Insignificância: 
Seguindo o ensinamento de Claus Roxin7, de acordo com este princípio “chega-se à 
conclusão de que nem toda conduta é dotada da lesividade necessária para merecer reprimenda 
penal. Nullum crimen sine iniuria, ou seja, não há crime sem que haja o dano, digno de 
reprovação ao bem jurídico”. 
Em outras palavras, o princípio da insignificância - ou da “bagatela” - sustenta que o 
direito de punir do Estado não deve ser clamado a interceder quando a lesão produzida ao bem 
jurídico for de pequeníssima monta. 
3.4 Princípio da Culpabilidade: 
Este princípio encontra lastro na Constituição Federal de 1988. Remonta do brocardo 
nullum crimen sine culpa. Nesse entendimento, a pena só pode ser imposta ao indivíduo com 
dolo ou culpa (imprudência, imperícia ou negligência). 
EXEMPLO: A corporação militar adquiri e distribui um veículo zero quilômetro ao 
Batalhão X, o qual o designa para determinado serviço de policiamento. Após a 
regulamentar manutenção para a assunção de serviço, dois policiais militares 
saem às ruas. Em dado momento, o culpa de qualquer agente em relação ao 
acidente ocorrido. Esse assunto será melhor policial condutor acessa uma 
rodovia e se mantém dentro da velocidade regulamentar quando, minutos 
depois, ouve um forte barulho oriundo de uma das peças do mecanismo de direção do veículo. 
Uma das peças se solta e a viatura fica desgovernada, atingindo um muro e ferindo o policial que 
se encontrava no banco do carona. No caso em tela, apesar de haver alguém lesionado, não se 
pode imputar a ninguém uma responsabilidade criminal, já que não houve dolo ou desenvolvido 
mais à frente, ao tratarmos de crimes dolosos e culposos. 
6 Greco, Rogério. Curso de Direito Penal/Rogério Greco -12 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2010 
7 ROXIN, Claus. Derecho penal: parte general. Tradução para o espanhol e notas de Diego-Manuel Luzón 
Pena, Miguel Díaz García Conlledo e Javier de Vicente Remesal. Madrid: Civitas, 1997, t. 1, p. 217. 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
12 
3.5 Princípio da Humanidade: 
Um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito é a dignidade da pessoa 
humana, presente no inciso III, do artigo 1º, da Constituição Federal de 1988. O Art. 5º, inciso 
XLVII, da Carta Magna, não tolera penas de morte (exceto em caso de guerra declarada), de 
caráter perpétuo, de trabalhos forçados, banimentos ou cruéis, declarando, ainda, que nenhuma 
pena poderá ser ofensiva a dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, impossível se pensar 
no Direito Penal Militar sem que ele se adeque aos preceitos constitucionais. Essa hegemonia 
dos princípios carreia ao entendimento de que estes devem ser reverenciados a todo momento, 
pelo fato de corporificar a matriz do Direito. 
4 - CONCEITO DE CRIME MILITAR (ART. 9º DO CPM) 
De acordo com Assis (2010, p. 44): “O conceito 
de Crime Militar não é tão fácil de entender, pelo 
contrário, é difícil, uma vez que os tipos penais militares 
tutelam bens de interesses das instituições militares e 
por cuidar a legislação castrense, não só dos crimes 
praticados pelo militar no exercício da função.” 
Dessa feita, o Código Penal Militar não define o 
que seja crime militar. Tampouco é pacífica, entre os doutrinadores, uma conceituação, fazendo 
com que os estudiosos da ciência criminal adotem vários critérios para suplantar essa 
dificuldade. 
Mirabete (2004) já afirmava que “árdua por vezes é a tarefa de distinguir se o fato é crime 
comum ou militar, principalmente nos casos de ilícitos praticados por policiais militares. ”. 
Para Jorge Alberto Romeiro (1994) “crime militar é o que a lei define como tal”. Esta 
conceituação se baseia no critério ratione legis, adotado pela Constituição Federal, quando 
prescreve que “à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei”. 
Em verdade, crime militar é todo aquele cometido em determinadas situações previstas 
pela lei. Assim, as circunstâncias para que ocorram crimes militares estão especificadas nos 
artigos 9º e 10 do Código Penal Militar. 
Tendo em vista o art. 10 do CPM ser exclusivo para situações em “Tempos de Guerra”, 
ou seja, quando o Brasil estiver em um Estado de Guerra contra outra nação, e isso não ocorrer 
desde 1945, além das circunstâncias serem muito específicas para as Forças Armadas, não 
interessa aqui analisarmos essa conjuntura. Portanto, no presente curso, nos debruçaremos 
exclusivamente no artigo 9º, que identifica as hipóteses para ocorrer os crimes militares em 
“Tempos de Paz”. 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
13 
4.1 Dos crimes militares em tempos de paz 
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: 
I os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo 
diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja 
o agente, salvo disposição especial;
 II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam 
com igual definição na lei penal comum, quando praticados: 
II os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação 
penal, quando praticados: (Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017) 
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra
militar na mesma situação ou assemelhado; 
b) por militarem situação de atividade ou assemelhado, em lugar
sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, 
ou assemelhado, ou civil; 
c) por militar em serviço, em comissão de natureza militar, ou em
formatura, ainda que fora do lugar sujeito a administração militar contra 
militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; 
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em
comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar 
sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, 
ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996). 
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra
militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; 
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o
patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa 
militar; 
f) por militar em situação de atividade ou assemelhado que, embora
não estando em serviço, use armamento de propriedade militar ou 
qualquer material bélico, sob guarda, fiscalização ou administração 
militar, para a prática de ato ilegal; 
f) revogada. (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)
III os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por 
civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só 
os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes 
casos: 
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a
ordem administrativa militar; 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
14 
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em
situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de 
Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente 
ao seu cargo; 
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão,
vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, 
acantonamento ou manobras; 
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra
militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de 
vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou 
judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em 
obediência a determinação legal superior. 
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando 
dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão da competência 
da justiça comum. (Parágrafo incluído pela Lei nº 9.299, de 
8.8.1996) 
 Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando 
dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da 
justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar 
realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 
1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação dada pela 
Lei nº 12.432, de 2011) 
§ 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida
e cometidos por militares contra civil, serão da competência do Tribunal 
do Júri. (Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017) 
§ 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida
e cometidos por militares das Forças Armadas contra civil, serão da 
competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto: 
(Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) 
I do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas 
pelo Presidente da República ou pelo Ministro de Estado da Defesa; 
(Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) 
II de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de 
missão militar, mesmo que não beligerante; ou (Incluído pela Lei nº 
13.491, de 2017). 
III de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia 
da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em 
conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
15 
forma dos seguintes diplomas legais: (Incluído pela Lei nº 13.491, 
de 2017) 
a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de
Aeronáutica; (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) 
b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999; (Incluída pela
Lei nº 13.491, de 2017) 
c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de
Processo Penal Militar; e (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) 
d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código
Eleitoral. (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) 
O artigo 9º do CPM possui três incisos 
delineadores da existência de crimes militares: 
a) O inciso I refere-se aos delitos praticados por
militares da ativa, em relação aos crimes que 
constem exclusivamente no Código Penal Militar ou 
que tenham redação diferente da lei penal comum. 
Exemplos de crimes que constam exclusivamente no Código Penal Militar: 
Violência contra superior 
Art. 157. Praticar violência contra superior: 
Pena - detenção, de três meses a dois anos. 
Chantagem 
Art. 245. Obter ou tentar obter de alguém, para si ou para outrem, indevida vantagem 
econômica, mediante a ameaça de revelar fato, cuja divulgação pode lesar a sua reputação 
ou de pessoa que lhe seja particularmente cara: 
Pena - reclusão, de três a dez anos. 
Exemplos de crimes que existem na legislação penal comum, porém tem 
redação/sentido diferente no Código Penal Militar: 
CÓDIGO PENAL COMUM CÓDIGO PENAL MILITAR 
Falsidade ideológica 
Art. 299 - Omitir, em documento público 
ou particular, declaração que dele devia 
constar, ou nele inserir ou fazer inserir 
declaração falsa ou diversa da que devia 
ser escrita, com o fim de prejudicar 
direito, criar obrigação ou alterar a 
verdade sobre fato juridicamente 
relevante. 
Falsidade ideológica 
 Art. 312. Omitir, em documento 
público ou particular, declaração que 
dele devia constar, ou nele inserir ou 
fazer inserir declaração falsa ou diversa 
da que devia ser escrita, com o fim de 
prejudicar direito, criar obrigação ou 
alterar a verdade sobre fato 
juridicamente relevante, desde que o 
fato atente contra a administração ou 
o serviço militar.
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
16 
b) inciso II refere-se aos crimes previstos no Código Penal Militar e àqueles existentes na
legislação penal comum (Lei 13.491/2017), todos quando praticados por militares da ativa. Caso 
o crime conste igual tanto no Código Penal Militar quanto na legislação penal comum, de acordo
com o princípio da especialidade deve-se utilizar a lei castrense. 
Exemplo de crime que consta, com o mesmo sentido, tanto na legislação penal 
comum quanto no Código Penal Militar: 
CÓDIGO PENAL COMUM CÓDIGO PENAL MILITAR 
 Roubo 
 Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, 
para si ou para outrem, mediante grave 
ameaça ou violência a pessoa, ou depois 
de havê-la, por qualquer meio, reduzido 
à impossibilidade de resistência 
Roubo 
 Art. 242. Subtrair coisa alheia 
móvel, para si ou para outrem, mediante 
emprego ou ameaça de emprego de 
violência contra pessoa, ou depois de 
havê-la, por qualquer modo, reduzido à 
impossibilidade de resistência 
Exemplo de crime que consta somente na legislação penal comum, porém, após a 
Lei 13.491/2017, é considerado crime militar: 
Crime de Tortura 
Lei 9.455/1997 
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
I - Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe 
sofrimento físico ou mental: 
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
c) O inciso III condensa as hipóteses em que um civil ou militar inativo (reformado ou
da reserva remunerada) figurem como sujeito ativo do crime militar. É fato que os
incisos I e II não mencionam, em seu caput, o fato de aplicarem-se somente a
militares da ativa. Contudo, sabendo que o inciso III refere-se aos inativos e aos civis,
o que faz expressamente, por contraposição os dois primeiros incisos só podem se
referir aos militares da ativa. 
Na diferenciação entre os incisosI e II, deve-se notar que a lei penal 
militar usa o critério de semelhança, ou não, do delito militar a um delito 
previsto na legislação penal comum. Assim, quando um militar da ativa 
praticar um crime militar que somente esteja capitulado no Código Penal 
Militar, ou que esteja neste capitulado de forma diversa da legislação penal 
comum, aplicaremos o inciso I, o qual não possui alíneas complementadoras 
da tipicidade. Por outro lado, se o crime praticado pelo militar da ativa 
possuir capitulação igual tanto no Código Penal Militar quanto na legislação 
penal comum, aplicaremos o inciso II com suas alíneas complementadoras. Visando aprofundar 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
17 
o tema, segue o texto do Juiz Federal e professor Marcio André Lopes Cavalcante sobre o Art.
9º do CPM: Competência da Justiça Militar, podendo ser encontrado em 
http://www.dizerodireito.com.br/2017/10/comentarios-lei-134912017-competencia.html. 
Resumindo, compete à Justiça Militar processar e julgar os crimes militares definidos em lei (art. 
124 da CF/88). 
 No art. 9º do CPM são conceituados os crimes militares em tempo de paz.
 No art. 10 do CPM são definidos os crimes militares em tempo de guerra.
Assim, para verificar se o fato pode ser considerado crime militar, sendo, portanto, de
competência da Justiça Militar, é preciso que ele se amolde em uma das hipóteses previstas nos 
artigos 9º ou 10 do Código Penal Militar. 
4.2 As mudanças da lei 13.491/2017 aos crimes militares em tempos 
de paz 
A Lei nº 13.491/17 trouxe grande mudança em relação à abrangência dos crimes 
militares, aumentando, substancialmente, a competência das Justiças Militares. 
Como podemos perceber, o Inciso II, do art. 9º do Código Penal Militar foi alterado por 
essa lei, a qual acrescentou as palavras “e os previstos na legislação penal comum”. Portanto, 
essa mudança fez com que, a partir da promulgação da Lei 13.491/17, não somente os crimes 
existentes no Código Penal Militar, mas também os previstos em toda a legislação penal comum, 
nas circunstâncias do art. 9º, passassem a ser considerados crimes de natureza militar. Dessa 
feita, os crimes constantes do Código Penal Militar, bem como aqueles das legislações penais 
comuns (Lei de Tortura, Lei de Abuso de Autoridade, Código de Trânsito etc), passaram a ser, 
também, considerados crimes militares. Senão, vejamos abaixo: 
ALTERAÇÃO 1: CRIMES MILITARES 
PODERÃO SER PREVISTOS NA LEGISLAÇÃO 
PENAL COMUM. 
Alteração no inciso II do art. 9º. 
A primeira mudança ocorrida foi no inciso II do art. 9º. Veja: 
CÓDIGO PENAL MILITAR 
REDAÇÃO ORIGINAL REDAÇÃO DADA PELA LEI 
Nº 13.491/2017 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
18 
Art. 9º Consideram-se crimes 
militares, em tempo de paz: 
II - os crimes previstos neste 
Código, embora também o sejam com 
igual definição na lei penal comum, 
quando praticados: 
Art. 9º Consideram-se crimes 
militares, em tempo de paz: 
II - os crimes previstos neste 
Código e os previstos na legislação 
penal, quando praticados: 
Sargento, o que significa essa mudança? 
 Antes da Lei: para se enquadrar como crime militar com base no inciso
II do art. 9º, a conduta praticada pelo agente deveria ser obrigatoriamente 
prevista como crime no Código Penal Militar. 
 Agora: a conduta praticada pelo agente, para ser crime militar com base no inciso II do
art. 9º, pode estar prevista tanto no Código Penal Militar ou na legislação penal “comum”.
Vejamos com um exemplo concreto a relevância dessa alteração: 
João, coronel da PM, contratou, sem licitação, empresa ligada à sua mulher para prestar 
manutenção na ambulância utilizada no HCPM. 
Qual foi o crime praticado, em tese, por João? 
O delito do art. 89 da Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações): 
Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em 
lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à 
inexigibilidade: 
Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa. 
De quem é a competência para julgar esta conduta? 
 Antes da Lei nº 13.491/2017: Justiça comum.
 Agora (depois da Lei nº 13.491/2017): Justiça Militar Estadual.
Por quê? 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
19 
João, militar da ativa, praticou uma conduta que não é prevista como crime no Código 
Penal Militar. A conduta de dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, 
tipificada no art. 89 da Lei nº 8.666/93, não encontra figura correlata no Código Penal Militar. 
Assim, antes da Lei nº 13.491/2017, apesar de o crime ter sido praticado por militar 
(coronel PM) contra a administração militar, o caso não se enquadrava em nenhuma das 
hipóteses previstas no art. 9º do CPM. Isso porque o art. 9º exigia que o crime estivesse 
expressamente previsto no Código Penal Militar. 
E agora? 
Atualmente, com a mudança da Lei nº 13.491/2017, a conduta de 
João passou a ser crime militar e se enquadra no art. 9º, II, “e”, do CPM: 
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: 
II - os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando 
praticados: 
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a
administração militar, ou a ordem administrativa militar; 
ALTERAÇÃO 2: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO PARA 
PROCESSAR E JULGAR MILITARES DAS FORÇAS ARMADAS NOS CRIMES DOLOSOS 
CONTRA A VIDA DE CIVIS EM DETERMINADAS CIRCUNSTÂNCIAS. 
Outra grande modificação que a Lei. 13.491/17 trouxe foi o deslocamento da 
competência dos crimes dolosos contra a vida de civis, cometidos por membros das Forças 
Armadas, em determinadas situações. 
Inicialmente, é preciso retroceder ao histórico relativo à questão da competência 
jurisdicional para julgar os crimes dolosos contra a vida de civis praticados por militares, e a 
definição dos crimes militares, para entendermos melhor a efetiva mudança. 
Na redação originária da CRFB/88 havia a previsão expressa de que os crimes 
militares definidos em lei (sem excepcionar os crimes dolosos contra a vida de civil) seriam da 
competência da Justiça Militar da União ou da Justiça Militar dos Estados, conforme vínculo 
do sujeito ativo do delito às Forças Armadas ou às Polícias e Bombeiros Militares. 
Sucede que, por meio da Lei nº 9.299/96, o Congresso Nacional, atendendo aos apelos 
de setores da sociedade e do clamor público, diante de confrontos com resultado morte, alterou 
a competência da Justiça Castrense nos crimes dolosos contra a vida de civis, atribuindo-a ao 
Tribunal do Júri. 
Com a promulgação da Emenda Constitucional n.º 45 (Reforma do Judiciário), 
conforme narrado alhures, foi incluída expressamente a competência do Tribunal do Júri para 
processar e julgar os crimes dolosos contra a vida de civis praticados por militares 
estaduais. 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
20 
Ressalte-se que, inobstante essa previsão constitucional ampliasse a competência do 
Tribunal do Júri apenas em relação aos militares estaduais, adotou-se a interpretação 
sistemática de que tal norma era aplicável, também, aos militares das Forças Armadas. Ou 
seja, os membros das Forças Armadas estariam, igualmente, sujeitos ao Tribunal do Júri 
quando cometessem crimes dolosos contra a vida de civis. 
Porém, como a previsão para os militares das Forças Armadas serem julgados pelo 
Tribunal do Júri se baseava apenas na legislação ordinária (art. 9º do CPM), e não na 
Constituição da República, bastava uma modificação no Código Penal Militar para alterar essa 
norma. 
Foi o que se sucedeu em duas ocasiões. A primeira, com a aprovação da Lei nº 
12.432/11, que retirou do âmbito do Tribunal Júri a competência para julgar crimes dolosos 
contra a vida de civis praticados por militares das Forças Armadas, nas circunstâncias 
previstas no art. 303, do Código Brasileiro de Aeronáutica. Essa lei se relacionava ao abate de 
aeronaves hostis em sobrevoo no espaço aéreo brasileiro, as quais não obedecessemàs 
ordens para pouso. Portanto, caso uma aeronave das Forças Armadas abatesse outra 
aeronave hostil, ocasionando a morte dos tripulantes, o militar que efetuou o disparo não seria, 
nesse caso, processado e julgado pelo Tribunal do Júri, mas sim pela Justiça Militar da União. 
A segunda mudança ocorreu em 2017, através da Lei nº 13.491/17, que ampliou as 
hipóteses em que a competência para julgamento de crimes dolosos contra a vida de civil não 
fosse mais do Tribunal do Júri para os militares das Forças Armadas, dilatando o espectro de 
atuação da jurisdição militar da União. 
É imprescindível frisar que, em regra, o julgamento dos crimes dolosos contra a vida 
de civis continua da competência do Tribunal do Júri; e somente nas circunstâncias 
excepcionais incluídas no art. 9º, §2º do CPM, pela Lei nº 13.491/17, é que será atribuído à 
Justiça Castrense. 
Sargento, se um militar federal ou estadual, no exercício de sua 
função, realiza uma lesão corporal contra vítima civil, qual será o juízo 
competente? 
JUSTIÇA MILITAR, considerando se tratar de crime militar (art. 9º, II, “c”, do CPM): 
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
21 
II os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação 
penal, quando praticados: 
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em
comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do
lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou
reformado, ou civil;
Isso não sofreu nenhuma mudança. Já era assim antes da Lei nº
13.491/2017 e continuou da mesma forma. 
E no caso de crime doloso contra a vida de um civil? Se um 
militar federal ou estadual, no exercício de sua função, pratica 
tentativa de homicídio (ou qualquer outro crime doloso contra a 
vida) contra vítima civil, qual será o juízo competente? 
Em se tratando de militares estaduais (policiais militares e bombeiros militares), estes, 
nos crimes dolosos contra a vida de civis, sempre serão processados e julgados pelo Tribunal 
do Júri. 
Em relação aos militares das Forças Armadas, temos agora que analisar antes e depois 
da Lei nº 13.491/2017. 
Antes da Lei nº 13.491/2017: 
 REGRA: os crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil eram julgados
pela Justiça comum (Tribunal do Júri). Isso com base na antiga redação do parágrafo
único do art. 9º do CPM.
 EXCEÇÃO: se o militar, no exercício de sua função, praticasse tentativa de homicídio ou
homicídio contra vítima civil ao abater aeronave hostil (“Lei do Abate”), a competência
seria da Justiça Militar. Tratava-se de exceção à regra do parágrafo único do art. 9º do
CPM.
Depois da Lei nº 13.491/2017:
 REGRA: em regra, os crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil
continuam sendo julgados pela Justiça comum (Tribunal do Júri). Isso com base no novo
§ 1º do art. 9º do CPM:
Art. 9º (...) 
§ 1º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por
militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri. 
 EXCEÇÕES: Os crimes dolosos contra a vida praticados por militar das Forças Armadas
contra civil serão de competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto:
I do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da
República ou pelo Ministro de Estado da Defesa;
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
22 
II de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que 
não beligerante; ou 
III de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem (GLO) 
ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da 
CF/88 e na forma dos seguintes diplomas legais: 
a) Código Brasileiro de Aeronáutica;
b) LC 97/99;
c) Código de Processo Penal Militar; e
d) Código Eleitoral.
Previsão existente no novo § 2º, do art. 9º do CPM. 
Obs.: As previsões do §2º do art. 9º são tão grandes que, na prática, quase todas as 
situações envolvendo os crimes dolosos contra a vida de civis, praticados por membros das 
Forças Armadas, serão julgadas pela Justiça Militar da União, por se enquadrarem em alguma 
das exceções existentes. 
5 - CRIMES MILITARES PRÓPRIOS, IMPRÓPRIOS E 
EXTRAVAGANTES (OU POR EXTENSÃO) 
Como já sabemos, os crimes constantes no Código Penal Militar e nas leis penais 
comuns - nas circunstâncias do art. 9º do códex castrense - são, hoje, crimes de natureza militar. 
Porém, tanto a Constituição Federal quanto o Código Penal comum fazem menção a uma 
espécie de crimes denominados “crimes propriamente militares”. 
Não obstante, não existe positivado em nossa legislação pátria a definição de crimes 
propriamente ou impropriamente militares, ficando tal distinção a cargo da doutrina e da 
jurisprudência. Além disso, com o advento da Lei 13.491/17, foi criada pela doutrina mais uma 
classificação, chamada de crimes militares por extensão ou extravagantes. 
Contudo, independente de classificações, as três categorias (próprios, impróprios ou 
extravagantes) são consideradas crimes militares, sendo processados e julgados pelas Justiças 
Militares Estaduais ou da União. 
Afinal, o que são os crimes militares próprios e impróprios? 
5.1 Crimes propriamente militares
O crime propriamente militar, na lição de Célio Lobão, recebeu definição precisa no 
direito romano e consistia naquele “que só o soldado pode cometer”, porque “dizia 
particularmente respeito à vida militar, considerada no conjunto da qualidade funcional do 
agente, da materialidade especial da infração e da natureza peculiar do objeto danificado, que 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
23 
deveria ser o serviço, a disciplina, a administração ou a economia militar8”. Nesse prisma, são 
as infrações previstas exclusivamente no Código Penal Militar e que somente poderão ser 
praticadas por militar. 
EXEMPLOS: 
Abandono de Posto: 
Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o posto ou lugar de serviço 
que lhe tenha sido designado, ou o serviço que lhe cumpria, antes de 
terminá-lo. 
Dormir em Serviço: 
Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como oficial de quarto 
ou de ronda, ou em situação equivalente, ou, não sendo oficial, em 
serviço de sentinela, vigia, plantão às máquinas, ao leme, de ronda ou 
em qualquer serviço de natureza semelhante. 
Deserção: 
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da Unidade em que serve, 
ou do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias: 
5.2 Crimes impropriamente militares 
Já os crimes impropriamente 
militares seriam aqueles previstos no 
Código Penal Militar, dentro das 
condicionantes do seu art. 9º, que podem 
ser cometidos tanto por civis quanto por 
militares. Nesse sentido, um civil que entra 
em uma instalação militar (desde que 
fosse das Forças Armadas) e efetua o roubo ou o furto de um armamento, ficaria sujeito a 
processo na Justiça Militar da União. Se o mesmo cidadão efetuar o roubo ou furto em alguma 
Unidade da Polícia Militar ou Corpo de Bombeiro Militar dos Estados, apesar desse fato 
igualmente ser tipificado no Código Penal Militar, este civil será processado pela justiça comum, 
uma vez que há restrição constitucional de competência da Justiça Militar Estadual, que só 
poderá processar e julgar policiais e bombeiros militares (Art. 125, §4º). 
8 LOBÃO, Célio. Direito penal militar. Brasília: Brasília Jurídica, 2006. p. 81; 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
24 
EXEMPLOS: 
Incêndio: 
Art. 268. Causar incêndio em lugar sujeito à 
administração militar, expondo à perigo a vida, 
a integridade física ou o patrimônio de outrem. 
Desacato a militar: 
Art. 299. Desacatar militar no exercício de 
função de natureza militar ou em razão dela. 
 
5.3 Crimes militares extravagantes (ou por extensão) 
 
Extravagantes - ou por extensão - foi a nomenclatura dada pela doutrina aos novos 
crimes militares inseridospela Lei 13.491/17. Ou seja, todos aqueles 
crimes que não estão no Código Penal Militar, mas somente nas leis 
penais comuns, não são classificados como crimes militares próprios ou 
impróprios, recebendo a classificação de crimes militares extravagantes ou 
por extensão. 
EXEMPLOS: 
Lei 13.869/2019 
Abuso de autoridade: 
Art. 13. Constranger o preso ou o detento, 
mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de 
resistência, a: 
I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública; 
II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não 
autorizado em lei; 
III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da 
pena cominada à violência. 
 
Lei 8.069/90 
Estatuto da Criança e do Adolescente: 
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda 
ou vigilância a vexame ou a constrangimento: 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 
 
Por que devo saber o que são crimes impropriamente militares, 
propriamente militares e por extensão? 
 
Devido a existência de aplicações penais e processuais que só cabem a determinadas 
espécies de crimes militares. Por exemplo, no caso dos crimes propriamente militares, podemos 
identificar as previsões legais abaixo apontadas: 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
25 
 A permissão para a prisão do militar, mesmo ausentes o estado de flagrância ou o
mandado de prisão expedido por autoridade judiciária, conforme dicção do art. 5º inc.
LXI: “Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei”.
 A detenção do indiciado em um IPM, prevista no art. 18 do CPPM, por um prazo de até
30 dias prorrogáveis por mais 20. Essa é uma espécie de prisão processual cautelar que
é determinada meramente por autoridade de polícia, a qual será apenas comunicada à
autoridade judiciária. Para se coadunar com o artigo 5º, inciso LXI, da CRFB/88, a
detenção do indiciado poderá ser aplicada tão somente para os crimes propriamente
militares.
 O crime militar próprio não gera reincidência ao agente que responder a processo por
crime comum, nos termos do art. 64, II, do CP.
Dica: Crime propriamente militar é aquele que está previsto somente no CPM e só 
pode ser praticado por militar. Exemplo: deserção (art. 187); abandono de posto (art. 195); 
abandono de posto (art. 196); embriaguez em serviço (art. 202); dormir em serviço (art. 203). 
 Todos os crimes propriamente militares enquadram-se no inc. I, do art. 9º, do CPM. Mas
cuidado, pois nem todos os crimes que se enquadram neste inciso são propriamente
militares, como, por exemplo, o ingresso clandestino (art. 302) e a chantagem (art. 245).
 Crime impropriamente militar (ou militar impróprio) é aquele previsto no Código Penal
Militar, conforme o inciso II, do art. 9º, do CPM, porém pode ser praticado tanto por um
militar quanto por um civil. Exemplo: lesão corporal (art. 129); homicídio (art. 205);
ameaça (art. 223); furto (art. 240); falsidade ideológica (art. 319).
6 - APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR 
6.1 Lei Penal Militar no tempo (momento do crime) 
O Código Penal Militar, em seu primeiro título, 
conclama a “aplicação da lei penal militar”. 
Logo em seu Art. 1º, o Código Penal Militar 
também expressa como será aplicada a lei 
penal no tempo quando afirma que: “não há 
crime sem lei anterior que o defina, não há 
pena sem prévia cominação legal”. Nesse 
sentido, para que uma conduta possa ser considerada crime, necessariamente tem que haver a 
tipificação penal anterior à ação do agente. 
Assim, se um militar pratica uma conduta e posteriormente o legislador cria uma nova 
tipificação penal, definindo essa conduta como crime, o militar não será alcançado por aquela. 
Neste caso, sua conduta foi atípica, já que, na época em que realizou a ação, não havia lei 
incriminadora. 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
26 
Neste mesmo entendimento, se o militar pratica uma conduta que, naquele momento, é 
considerada crime e, tempos depois, esta conduta passar a não mais ser considerada criminosa, 
todos os efeitos penais irão cessar, até mesmo a condenação. Isso é o que vem previsto no Art. 
2º do CPM, também conhecido como abolitio criminis: 
Lei supressiva de incriminação 
Art. 2° Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de 
considerar crime, cessando, em virtude dela, a própria vigência de 
sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos de 
natureza civil. 
Para definir o tempo do crime, o CPM acolheu a chamada teoria da atividade: 
Art. 5º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou 
omissão, ainda que outro seja o do resultado. 
Desse jeito, para que uma conduta possa ser considerada crime é preciso avaliar se, no 
momento da ação ou omissão, ela era tipificada como tal, bem como se o agente tinha condições 
de responder pelo delito, pouco importando quando ocorreu o resultado. 
EXEMPLO: Mévio, com a idade 17 anos, 11 meses e 25 dias, desfere golpes de faca 
em Tício, que somente após 10 dias vem a óbito. Mévio não praticou crime de homicídio, mas 
ato infracional, por ser inimputável no momento da conduta. 
COMENTÁRIOS: 
O nosso Código Penal Militar adotou a teoria da ação ou da atividade, afastando, assim, 
as teorias do resultado e mista, uma vez que o momento da conduta (ação ou omissão) será 
considerado o da prática do crime. 
6.2 Lei penal militar no espaço (lugar do Crime) 
Para tratar sobre o lugar do crime no direito penal militar, vamos analisar primeiramente 
o art. 6º do CPM:
Art. 6º Considera-se praticado o fato, no lugar 
em que se desenvolveu a atividade criminosa, no todo 
ou em parte, e ainda que sob forma de participação, 
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o 
resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se 
praticado no lugar em que deveria realizar-se a ação 
omitida. 
Diante da previsão legal retro citada, houve a adoção da chamada teoria da ubiquidade, 
a qual considera tanto o local no qual se deu a ação ou omissão como o local em que ocorreu o 
resultado. 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
27 
O Direito Penal Militar também adotou o princípio da territorialidade/ extraterritorialidade, 
conforme art 7º do CPM: 
Art. 7º Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de convenções, 
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido, no todo 
ou em parte no território nacional, ou fora dele, ainda que, neste caso, 
o agente esteja sendo processado ou tenha sido julgado pela justiça
estrangeira. 
Ou seja, com exceção da existência de tratados e convenções internacionais que o Brasil 
seja signatário, crimes militares cometidos tanto dentro quanto fora do território nacional serão 
processados e julgados pela Justiça Militar brasileira. Nesse sentido, do ponto do magistério de 
Silvio Martins Teixeira9, essa ampla extraterritorialidade “justifica-se com o fato de os crimes 
militares, que se destinam à defesa do País (CF, art. 142), e poderem ser, por inteiro, cometidos 
em outros países e, até mesmo em benefício destes que não teriam, assim, qualquer interesse 
na punição de seus autores. Daí, não ser entregue à justiça estrangeira o processo e o 
julgamento dos crimes militares”. 
9 TEIXEIRA, Sílvio Martins. Código Penal Militar Explicado. 1996 –Pág 52 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
28 
Territorialidade e extraterritorialidade 
A Territorialidade é a aplicação da lei 
penal ao crime praticado no território 
nacional e a extraterritorialidade retrata a 
aplicação da lei ao crime praticado fora do 
território brasileiro. 
No CP, a territorialidade da aplicação 
da lei encontra-se no art. 5º e a 
extraterritorialidade (alguns casos) no art. 
7º. A extraterritorialidade da aplicação da 
lei é exceção no CP, e umaregra no CPM. 
A lei penal militar aplica-se ao crime 
MILITAR praticado dentro e fora do 
território nacional, sem prejuízo de 
tratados e convenções internacionais (art. 
7º). 
EXEMPLOS: 
• Um Sgt do Exército no Haiti, em
serviço, agride uma civil haitiana. 
• Um Cap PM, em missão de paz
em Angola, divulga informações
privilegiadas a um estrangeiro, causando
prejuízo à administração militar (art. 326
violação de sigilo funcional).
No intuito de se evitar o “bis in idem”,
ou dupla punição pelo mesmo ramo do
direito público, o art. 8º determina que a
eventual pena aplicada no estrangeiro
atenua a pena no Brasil se diversa e, nela
é computada, se idêntica.
Fonte: apostila de direito penal militar
prof. Rogério disponível em:
www.fatimasoares.com.br
Lugar do Crime 
Conforme preconiza o Código Penal 
Militar, o lugar do crime se relaciona a 
sistema misto de interpretação, 
conforme a norma abaixo transcrita: 
“Art. 6º - Considera-se praticado o fato, 
no lugar em que se desenvolveu a 
atividade criminosa, no todo ou em 
parte, e ainda que sob forma de 
participação, bem como onde se 
produziu ou deveria produzir-se o 
resultado. Nos crimes omissivos, o fato 
considera-se praticado no lugar em que 
deveria realizar-se a ação omitida. 
EXEMPLO: 
O Soldado Mesquita, do Exército 
brasileiro, durante treinamento militar 
nas matas de Foz do Iguaçu, faz um 
disparo a esmo que atravessa a fronteira 
da Argentina e atinge, mortalmente, 
naquele país, um nacional argentino. 
Segundo o art. 6º do CPM, o local do 
crime será tanto aquele em que se deu 
a ação criminosa (houve o disparo) 
quanto aquele que ocorreu o resultado 
(atingiu a vítima, levando-a a óbito). 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
29 
São três as teorias que gravitam em torno do assunto: 
Teoria da Atividade: lugar do crime é aquele em que se iniciou a execução 
da conduta típica; 
Teoria do resultado: lugar do crime é aquele em que se produziu o 
resultado da ação/omissão; 
Teoria da Ubiquidade: lugar do crime é tanto aquele em que se iniciou sua 
execução, como aquele em que ocorreu o resultado. 
No que tange ao lugar do crime, o CPM adotou um sistema misto (Jorge César de Assis). 
Crimes comissivos –Teoria da Ubiquidade. 
Crimes omissivos (realizados por omissão) – Teoria da Atividade 
Nos crimes omissivos, o CPM adota a teoria da atividade, já que 
considera praticado o fato no lugar em que deveria realizar-se a ação que 
foi omitida – art. 6º). 
Saiba mais... 
 Programa Jurídico Saber Direito do STF 1
Vídeo Aula - Justiça Militar. 
 Texto: O princípio da territorialidade e
extraterritorialidade no Código Penal Militar - 
Territorialidade e Extraterritorialidade - Autor 
Paulo Tadeu Rodrigues Rosa - Publicado em 
04/2015. 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
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7 - PESSOA CONSIDERADA MILITAR 
O Código Penal Militar, para fins de aplicação 
do Direito Penal Militar definiu, em 1969, o conceito de 
Militar no Art. 22: 
Art. 22. É considerado militar, para efeito da 
aplicação deste Código, qualquer pessoa que, em 
tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às forças 
armadas, para nelas servir em posto, graduação, ou 
sujeição à disciplina militar. 
E os militares das Policias Militares e Bombeiros Militares Estaduais? 
Segundo ensinamento de Cícero Robson Coimbra Neves e Marcelo Streifinger10, no 
artigo acima “a palavra “incorporada” dá o mote interpretativo adequado, impondo que sempre 
que houver grafado o elemento típico “militar” deve-se entender pessoa incorporada às Forças 
Armadas e, por extensão arrimada no art. 42 da Constituição Federal, às Polícias Militares e 
Corpos de Bombeiros Militares, ou seja, militares da ativa das Forças Militares Federais e 
Estaduais. Assim, hoje, não é somente o art. 22 do CPM, mas também a Constituição Federal 
que identificam os militares nacionais, sendo eles tanto os integrantes das Forças Armadas 
(militares) quanto os integrantes da Polícias e Bombeiros Militares (militares estaduais). 
Vejamos, então, o Artigo 42 da CRFB/98: 
Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições 
organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal 
e dos Territórios. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998). 
Ainda alerta os autores que, realizando uma “interpretação teleológica com base 
exatamente no art. 22, todos os tipos penais que possuam a palavra “militar” abarcam apenas 
os militares da ativa, já que essa, inequivocamente, foi a intenção do legislador”. 
10 Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves, 
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 153. 
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Neste sentido crimes que viriam expressamente a 
palavra “militar” só poderiam ser cometidos por militares da ativa 
(excluindo, assim, os militares da reserva e reformados): 
 
 
EXEMPLOS: 
Art. 137 - Provocar o militar, diretamente, país estrangeiro a declarar 
guerra ou mover hostilidade contra o Brasil ou a intervir em questão 
que respeite à soberania nacional. 
Art. 136. Praticar o militar ato de hostilidade contra país estrangeiro, 
expondo o Brasil a perigo de guerra. 
Art.140. Entrar ou tentar entrar o militar em entendimento com país 
estrangeiro, para empenhar o Brasil à neutralidade ou à guerra: 
Todavia, existe uma exceção, podendo militares da reserva figurarem como sujeitos 
ativos de crimes que possuam a palavra “militar” em seu tipo penal. 
O Art. 12 do CPM equipara militares da reserva ou reformados, que se encontram 
empregados em serviços na administração militar, a militares da ativa para fins de aplicação da 
lei penal militar. Vejamos então o Art. 12 do CPM: 
Art.12. O militar da reserva ou reformado, empregado na 
administração militar, equipara-se ao militar em situação de atividade, 
para o efeito da aplicação da lei penal militar. 
 
8- CONCEITO DE SUPERIOR 
 
O conceito de superior funcional vem elencado no Art. 22 do CPM: 
Art. 24. O militar que, em virtude da função, exerce autoridade sobre outro de igual posto 
ou graduação, considera-se superior, para efeito da aplicação da lei penal militar. 
O Código Penal Militar aplica dois conceitos para superior que são: superior funcional e 
superior hierárquico. A definição de superior funcional “em virtude da função” vem claramente 
descrita no Art. 24 do CPM. A definição de superior hierárquico não se encontra no CPM, e cada 
instituição militar define em regulamentação própria a definição hierárquica através de postos 
(oficiais) e graduações (praças). 
 
 
Sargento, você saberia definir hierarquia? Que tal aprender? 
 
 
O Art. 12, § 1° do Estatuto dos Policiais Militares do Estado do Rio de Janeiro define 
como se dará a ordenação hierárquica na PMERJ: 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
32 
“A hierarquia policial-militar é a ordenação da autoridade em níveis diferentes, dentro da 
estrutura da Polícia Militar. A ordenação se faz por postos ou graduações; dentro de um mesmo 
posto ou de uma mesma graduação se faz pela antiguidade no posto ou na graduação. O 
respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento à sequência de autoridade. ” 
Segundo Cícero Robson Coimbra Neves e Marcelo Streifinger11, o conceito de superior 
funcional “somente entrará em voga, primeiro havendo igualdade hierárquica e, segundo, quando 
um par exercer, em razão da função, autoridade sobre outro. ” 
E completa o ensinamento12: 
“Para sedimentar nossa explanação, tomemos os seguintes exemplos: se um soldado 
agride a um primeiro-tenente teremos a possibilidade do crime capitulado no art. 157 do CPM 
(violência contra superior), em função da superioridade hierárquica do ofendido em relação ao 
sujeito ativo; contudo, também haverá o mesmo delito se um primeiro-tenente agredir outro militar 
do mesmo posto,estando este na função de Comandante de Companhia daquele, 
estabelecendo-se a superioridade funcional. 
É bom esclarecer que a superioridade funcional sempre se sobrepõe à antiguidade. 
Assim, imaginemos, por exemplo, que um coronel da Polícia Militar, promovido a esse posto no 
ano de 2005, agrida outro coronel promovido em 2006. Apesar de o primeiro ser mais antigo do 
que o segundo, em razão do maior tempo no posto, se o coronel mais moderno for o Comandante 
Geral haverá o crime de violência contra superior (art. 157 do CPM). 
9 – DO CRIME 
9.1 Crimes omissivos impróprios 
Como já comentamos anteriormente, existem alguns tipos penais que preveêm a 
ocorrência de um crime quando o agente deixa de realizar determinação ação que o legislador 
imputou diretamente a ele. São os chamados crimes por omissão. 
Por exemplo: 
Omissão de lealdade militar 
 Art. 151. Deixar o militar ou assemelhado de levar ao conhecimento 
do superior o motim ou revolta de cuja preparação teve notícia, ou, 
estando presente ao ato criminoso, não usar de todos os meios ao seu 
alcance para impedi-lo: 
 Pena - reclusão, de três a cinco anos. 
Condescendência criminosa 
11 Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves, 
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 161 
12 Idem, ibidem, Pág. 161 e .162. 
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 Art. 322. Deixar de responsabilizar subordinado que comete 
infração no exercício do cargo, ou, quando lhe falte competência, não 
levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: 
 Pena - se o fato foi praticado por indulgência, detenção até seis 
meses; se por negligência, detenção até três meses. 
Nos crimes acima, foram especificados pelo legislador que quando um militar deixasse 
de realizar determinadas ações, como levar ao conhecimento de seu superior um crime de motim 
ou de responsabilizar um subordinado, estaria cometendo um delito. 
Reparem que ambos os delitos não ocorrem por uma ação perpetrada pelo agente, mas 
por uma omissão, ou seja, ele deixa de realizar algo que a lei especificou literalmente como sua 
obrigação. Tais delitos são conhecidos por crimes omissivos próprios, ocorrendo quando há uma 
previsão direta na lei responsabilizando a omissão desses sujeitos 
Porém, existe uma outra modalidade de crimes omissivos, chamada de crimes omissivos 
impróprios ou comissivos por omissão. 
Nos crimes omissivos impróprios, determinadas pessoas, que a doutrina denominou 
como “agentes garantidores”, deveriam, por obrigação legal (não necessariamente penal), tomar 
providências para evitar um resultado danoso que possa ser consumado devido a sua omissão. 
A previsão dos crimes omissivos impróprios consta no art. 29, §2º do Código Penal 
Militar, que diz: 
 Art. 29. O resultado de que depende a existência do crime somente é 
imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou 
omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
[...] 
§ 2º A omissão é relevante como causa quando o omitente devia
e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem 
tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; a quem, de 
outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; e a 
quem, com seu comportamento anterior, criou o risco de sua 
superveniência. 
Podemos apresentar como exemplos de agentes garantidores, os quais a lei incumbiu 
por obrigação (DEVER) de cuidado, proteção e vigilância: os policiais, os bombeiros, os pais, os 
guarda-vidas etc. 
Dessa forma, a lei especificou no texto acima que, caso uma determinada ocorrência 
venha a suceder, onde os agentes garantidores possam realizar uma ação a fim de evitar o 
resultado (PODER AGIR) mas não o façam, responderão pelo próprio resultado. 
Em outras palavras, os agentes garantidores ao se omitirem responderão por um delito 
que outrem tenha cometido, como se o tivessem realizado. 
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34 
Então, vejamos abaixo a decisão jurisprudencial sobre o caso de um bombeiro militar de 
serviço, na praia de Copacabana, que não teria, mesmo sendo possível fazê-lo, socorrido uma 
vítima de afogamento: 
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 0033924-82.2009.8.19.0001 
RECORRENTE: XXXXXX 
RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO 
RELATOR: DES. JOSÉ AUGUSTO DE ARAUJO NETO 
HOMICÍDIO SIMPLES. CRIME COMISSIVO POR OMISSÃO. 
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO INTERPOSTO PELA DEFESA TÉCNICA, 
POSTULANDO A IMPRONÚNCIA DO ACUSADO. PLEITO 
INCONSISTENTE. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 
1. Havendo nos autos suficientes indícios de que o
recorrente – bombeiro militar atuante como guarda-vidas na praia de 
Copacabana – deixou de prestar socorro a banhista que estava se 
afogando, provocando, com sua omissão, a morte da vítima, é de se 
manter a pronúncia, tal como posta pelo 
juízo a quo., a fim de que o réu seja julgado pelo Júri, juiz natural da 
causa. 
2. Recurso desprovido.
Reparem que o crime o qual o bombeiro militar respondeu não foi o de prevaricação, 
mas o de homicídio simples, julgado no Tribunal do Júri, como se ele tivesse tido a intenção de 
matar a pessoa afogada. Isso decorre, tendo em vista a sua omissão ter sido considera como 
um nexo causal direto da morte da vítima. De igual forma, uma mãe, que é agente garantidora 
perante seu filho, sabendo que a criança é agredida costumeiramente pelo padrasto, não toma 
providências, vindo o menor, em dado momento, devido às agressões, a óbito. Essa mãe 
responderá juntamente com o padrasto pelo crime de homicídio doloso. 
Finalmente, em relação ao serviço policial militar, responderia por roubo um policial que, 
devendo e podendo, não atendesse a um assalto que soubesse estar em andamento. Assim, 
como agente garantidor, a omissão desse policial seria considerada relevante como a própria 
causa do crime. 
9.2 Do crime consumado e da tentativa 
A doutrina divide a ação criminosa em várias fases. Essas fases, ou caminho, são 
percorridas pelo agente que busca efetivar o delito pretendido, recebendo o nome de iter criminis. 
O iter criminis é divido em: 
a) Cogitação – o indivíduo pensa em cometer o delito;
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
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b) Atos preparatórios – o indivíduo começa a se preparar para cometer o delito;
c) Execução – o indivíduo parte para executar o delito; e
d) Consumação – o indivíduo consegue atingir integralmente seu objetivo criminoso.
Durante essas fases, pode-se ou não chegar à consumação do crime, que é o resultado
finalístico pretendido com a ação delituosa. Assim, se a intenção final do autor do delito é tirar a 
vida de alguém, a consumação do crime ocorre quando a vítima, definitivamente, deixa de viver. 
Já no roubo, a consumação se dá quando o agente tira para si, ou para outrem, coisa alheia 
móvel, utilizando-se, para isso, da violência ou grave ameaça. Nesse sentido, aponta o CPM: 
Art. 30. Diz-se o crime: 
Crime consumado 
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua 
definição legal; 
 Todavia, o crime pode, por algum motivo alheio à vontade daquele que o está 
cometendo, não se consumar. Ou seja, não reunir todos os elementos para sua definição. Por 
exemplo, no crime de homicídio, após alguém disparar com uma arma de fogo três vezes em 
direção da vítima e acertá-la, ela não morre graças ao atendimento médico. A vítima, nesse caso, 
somente não morreu por um motivo alheio à vontade de seu agressor, qual seja, o atendimento 
médico. Diz-se, desse modo, que o crime foi tentado. Nessa hipótese, o mesmo artigo 30 do 
CPM prevê: 
 Tentativa 
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por 
circunstâncias alheias à vontade do agente. 
E qual o tratamento dado pela legislação nos casos de crimes 
tentados? 
Em casos de tentativa, prevê o CPM: 
Art. 30 [...] 
 Pena de tentativaParágrafo único. Pune-se a tentativa com a pena correspondente 
ao crime, diminuída de um a dois terços, podendo o juiz, no caso de 
excepcional gravidade, aplicar a pena do crime consumado. 
Dessa feita, no caso de crimes tentados, como o mal causado à vítima é inferior ao 
daquele que ocorreria no crime consumado, a pena, consequentemente, também é menor, 
sendo diminuída de um a dois terços. Repare que o CPM prevê que, a depender do caso em 
concreto, quando o juiz entender que há uma gravidade excepcional, mesmo nos crimes tentados 
a pena pode ser a mesma aplicada a do crime consumado. 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
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9.3 Do crime doloso e culposo 
Os crimes podem ser dolosos ou culposos. Essa diferenciação de culpabilidade é 
importante para configurar, principalmente, as penas aplicadas. Segundo Cirino dos Santos13, “o 
dolo, conforme conceito generalizado, é a vontade consciente de realizar um crime”. Já a culpa, 
para Cícero Coimbra14, refere-se “a não observância do dever objetivo de cuidado, materializada 
por conduta causadora de um resultado típico, relevante penalmente”. 
Desse modo, prevê o Código Penal Militar sobre os institutos da culpabilidade: 
 Art. 33. Diz-se o crime: 
 Culpabilidade 
 I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco 
de produzi-lo; 
 II - culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela, 
atenção, ou diligência ordinária, ou especial, a que estava obrigado em 
face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou, 
prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia 
evitá-lo. 
 Excepcionalidade do crime culposo 
 Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode 
ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica 
dolosamente. 
Nesse contexto, a lei prevê dois tipos de dolo: 
a) O dolo direto, que se traduz quando o agente quer realizar uma ação, visando um
determinado resultado, sendo este definido como crime.
Exemplo: “A” quer matar “B”. Para isso, “A” efetua um dispara no coração de “B”,
sabedor que aquela sua ação representará a sua morte. A ação de “A” está definida
na legislação penal como sendo uma conduta criminosa e que será sancionada com
uma pena.
b) O dolo indireto, quando o agente, mesmo sem ter a intenção de realizar a conduta
delituosa, pode prever seu resultado. Não obstante, mesmo tendo consciência que
o resultado poderá acontecer, o agente assume o risco, aceitando-o como possível
ou provável, não se eximindo de realizar aquela conduta. 
Exemplo: Um policial, em uma operação realizada em uma favela, sabedor de que a 
maioria das residências são feitas de madeira, ao ouvir um tiro ao longe, aponta seu 
fuzil e, mesmo sem ter seu agressor na mira, realiza vários disparos naquela direção. 
13 Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves, 
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 856. 
14 Idem, p. 471. 
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Um dos disparos transfixa um casebre, acertando, em seu interior, uma pessoa 
inocente, levando-a a óbito. 
Nesse exemplo, apesar da intenção do policial não ser a de querer matar aquele 
indivíduo, ao realizar os disparos naquelas circunstâncias poderia prever qual seria 
seu resultado, mas, mesmo assim, assumiu integralmente o risco. 
Em relação aos crimes culposos, estes se configuram quando o agente não quer ou 
tampouco assume o risco de produzir o resultado. Porém, mesmo assim, esse resultado ocorre 
por uma inobservância de um dever de cuidado que esse agente deveria ter tomado 
anteriormente. As espécies de modalidade culposa são a imprudência, a negligência e a 
imperícia. 
A primeira modalidade, denominada imprudência, ocorre pela ação precipitada e sem 
cuidado do agente em realizar algo com a devida cautela. Assim, um policial que ao revistar 
alguém com o dedo no gatilho, realiza um disparo acidental e fere o indivíduo revistado, age com 
imprudência. 
Já a negligência ocorre por displicência, por omissão, pela preguiça ou pelo desinteresse 
em tomar determinadas cautelas que lhe eram exigíveis. O motorista da viatura policial que tem 
como dever realizar a manutenção de primeiro escalão, porém, por preguiça, não a faz, saindo 
com o veículo com o pneu sem condições de transitar, e por causa disso ocasiona um acidente, 
matando alguém, incorre no homicídio culposo devido a sua negligência. 
E, por último, temos a imperícia, caracterizada pela falta de conhecimentos técnicos em 
realizar determinado ato referente a sua profissão. Dessa maneira, um policial que retira da 
reserva um armamento que não sabe utilizar e, devido a isso, fere um companheiro de serviço 
por um disparo acidental, comete uma lesão corporal culposa na modalidade da imperícia. 
Por fim, o parágrafo único do artigo 33, do CPM, dispõe que os crimes culposos são uma 
exceção, somente existindo quando houver estrita previsão legal. 
Exemplo: 
Homicídio culposo 
Art. 206. Se o homicídio é culposo: 
Pena - detenção, de um a quatro anos. 
Portanto, caso a lei não preveja a modalidade culposa de algum crime, esse somente 
poderá ser cometido de forma dolosa. 
9.4 Excludentes de criminalidade (ilicitude) 
O Código Penal Militar enumera cinco excludentes de ilicitude em seu artigo 42, sendo 
elas: 
I - estado de necessidade; 
II - legítima defesa; 
III - estrito cumprimento do dever legal; 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
38 
IV - exercício regular de direito; 
V – ação de comandante de navio, aeronave ou praça de guerra, na iminência de perigo ou grave 
calamidade, que se utiliza de meios violentos para obrigar subordinados a executarem serviços 
e manobras urgentes, salvar a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o terror, a desordem, a 
rendição, a revolta ou o saque. 
As excludentes de ilicitude representam uma ressalva jurídica para que os militares 
possam executar sua função mesmo que, ocasional e comprovadamente, venham retirar direitos 
de outros indivíduos realizando uma conduta tipificada como criminosa. 
9.4.1 Estado de necessidade 
A primeira excludente prevista na legislação é o estado de necessidade, que ocorre 
quando o agente militar pratica o fato para preservar direito seu ou alheio, de perigo certo e atual, 
que não provocou, nem podia de outro modo evitar, desde que o mal causado, por sua natureza 
e importância, seja consideravelmente inferior ao mal evitado, e o agente não era legalmente 
obrigado a enfrentar aquele perigo. 
Por exemplo, um policial que se vê, em uma operação, cercado e encurralado por 
marginais, arromba a porta de uma residência e nela permanece abrigado para se salvar, não 
responderá pela invasão de domicílio ou pelos danos. 
9.4.2 Legitima defesa 
Na legítima defesa, o agente deve estar sob risco de perigo atual e iminente, agindo de 
forma moderada a repelir a injusta agressão que estejam realizando contra ele. Caso o perigo 
não seja atual e iminente, não se configura a legítima defesa. Se o agente agir de forma 
imoderada, responderá pelo excesso doloso ou culposo, de acordo com os artigos 45 e 46 do 
CPM: 
Excesso culposo 
Art. 45. O agente que, em qualquer dos casos de exclusão de crime, 
excede culposamente os limites da necessidade, responde pelo fato, 
se este é punível, a título de culpa. 
Excesso escusável 
Parágrafo único. Não é punível o excesso quando resulta de escusável 
surpresa ou perturbação de ânimo, em face da situação. 
Excesso doloso 
Art. 46. O juiz pode atenuar a pena ainda quando punível o fato por 
excesso doloso. 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
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9.4.3 Estrito cumprimento do dever legal 
O estrito cumprimento do dever legal como excludente de ilicitude ocorre quando o 
agente, por força de um dever imposto em lei, retira direitos de outras pessoas. Essa ação, assim 
como na legítima defesa, deve ser moderada e exclusivamente conforme a lei determina.Exemplo clássico é o caso do carrasco, que ao cumprir a pena capital realiza uma 
conduta típica de matar alguém. Porém, tal conduta não é considerada ilícita, já que ele tem 
como dever legal realizar aquela ação de executar a sentença judicial de morte. Da mesma 
maneira, temos o policial que aborda alguém devido à existência de uma fundada suspeita, 
restringindo, mesmo que temporariamente, o direito de ir e vir de uma pessoa, além de 
constrangê-la publicamente. A fundada suspeita que ocasiona uma abordagem de forma técnica 
(moderada), faz com que o policial não cometa qualquer crime, devido à excludente de ilicitude. 
9.4.4 Exercício regular do direito 
No caso do exercício regular do direito, a lei cria uma excludente para que determinados 
agentes possam realizar algumas ações sem que respondam criminalmente por elas. 
É o exemplo do médico que, ao operar uma pessoa, realiza cortes em seu corpo, o que, 
em tese, configuraria o crime de lesão corporal. Ou um lutador de boxe, que mesmo aplicando 
diversos socos contra seu adversário, lhe causando sérias lesões corporais, também estará 
amparado pela essa excludente de criminalidade. 
Finalmente, no âmbito castrense, podemos tomar como exemplo o treinamento em um 
curso de operações especial, cujos instrutores submetem, de forma técnica, os alunos a 
constrangimentos e sofrimentos físicos ou mentais, porém, óbvio, sem que ocorram abusos. 
9.4.5 Emprego de violência contra subordinados na iminência de 
perigo ou calamidade 
Por fim, o Código Penal Militar prevê uma excludente inexistente no Código Penal 
comum, devido a sua própria natureza. É a possibilidade do comandante de um navio, aeronave 
ou praça de guerra necessitar, devido à iminência de perigo ou calamidade, cometer violência 
contra seus subordinados a fim de evitar um mal maior. 
Em que pese não haver previsão de quais meios violentos possam ser executados contra 
os subordinados, entende-se que até mesmo a violência que cause morte, caso seja necessária 
e proporcional naquela situação, poderá ser realizada. 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
40 
10 - PENAS PRINCIPAIS E ACESSÓRIAS 
O Código Penal Militar em seu título “DAS PENAS” 
classifica as sanções aplicadas em penas principais e 
acessórias. Neste Tópico veremos cada uma delas. 
10.1 Penas principais 
O art. 55 do Código Penal Militar faz previsão das seguintes penas principais: morte, 
reclusão, detenção, prisão, impedimento, suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou 
função e reforma. 
Penas principais 
Art. 55. As penas principais são: 
a) morte;
b) reclusão;
c) detenção;
d) prisão;
e) impedimento;
f) suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função;
g) reforma.
PENA DE MORTE – A pena capital de morte, prevista através de 
fuzilamento (Art. 56 do CPM), não entra em conflito com a Constituição Federal, haja vista que 
em seu Art.5º, inciso XLVII, é previsto que tal pena possa ser executada em casos de guerra. 
São exemplos de crime punidos com pena de morte os crimes de traição, previsto no art. 355, 
de favor ao inimigo, previsto no art. 356, entre outros do CPM. 
RECLUSÃO E DETENÇÃO – São penas privativas de liberdade que, para o CPM, não 
guarda muitas distinções umas das outras. Sua principal diferença é que, conforme o art. 58: “o 
mínimo da pena de reclusão é de um ano, e o máximo de trinta anos; o mínimo da pena de 
detenção é de trinta dias, e o máximo de dez anos.”. 
PRISÃO – Diferencia-se da reclusão e detenção com relação ao cumprimento, conforme 
o art. 58 do CPM.
IMPEDIMENTO – a pena de Impedimento, conforme o art. 63 do CPM: “sujeita o 
condenado a permanecer no recinto da unidade, sem prejuízo da instrução militar” Esta pena 
restritiva de liberdade somente é aplicada ao crime de Insubmissão, previsto no art. 183 do CPM. 
SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DO POSTO, GRADUAÇÃO, CARGO OU FUNÇÃO - 
Esta pena está prevista no art 64 do CPM, que diz: “A pena de suspensão do exercício do posto, 
graduação, cargo ou função consiste na agregação, no afastamento, no licenciamento ou na 
disponibilidade do condenado, pelo tempo fixado na sentença, sem prejuízo do seu 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
41 
comparecimento regular à sede do serviço. Não será contado como tempo de serviço, para 
qualquer efeito, o do cumprimento da pena. ” 
REFORMA – sujeita o militar à situação de inatividade, sendo prevista no art. 65 do CPM. 
Dessa forma, o militar condenado a esta pena deverá receber vencimentos proporcionais ao 
tempo de serviço não podendo mais retornar à ativa. 
10.2 Penas acessórias 
Agora vamos falar das penas acessórias, previstas no art. 98, do CPM: 
Penas Acessórias 
Art. 98. São penas acessórias:
I a perda de posto e patente; 
II a indignidade para o oficialato; 
III a incompatibilidade com o oficialato; 
IV a exclusão das forças armadas; 
V a perda da função pública, ainda que eletiva; 
VI a inabilitação para o exercício de função pública; 
VII a suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela; 
VIII a suspensão dos direitos políticos. 
Como o nome sugere, as penas acessórias dependem da aplicação de uma pena 
principal. Agora, falaremos um pouco de cada uma delas: 
A PERDA DO POSTO E DA PATENTE; A INDIGNIDADE PARA O OFICIALATO; E A 
INCOMPATIBILIDADE COM O OFICIALATO 
Essas três penas acessórias são consideradas 
inconstitucionais, uma vez que, conforme a Constituição Federal, os 
oficiais militares, tanto das Forças Armadas quanto das Polícias e 
Bombeiros Militares, possuem a vitaliciedade assegurada, de acordo 
com os artigos 142, §3º, incisos VI e VII, concomitante com o art. 42, 
§1º:
Art. 142, VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato 
ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de 
paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra; 
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022 
42 
Art. 142, VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de 
liberdade superior a dois anos, por sentença transitada em julgado, será submetido ao 
julgamento previsto no inciso anterior. 
 
Art. 42, § 1º - Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; 
e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, 
§ 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores. 
 
EXCLUSÃO DAS FORÇAS ARMADAS – prevista no art. 102 do CPM. Esta pena 
acessória deve constar expressamente da sentença que condena a praça à pena privativa de 
liberdade superior a dois anos. 
Por força também do parágrafo 4º, do art. 125, da Constituição Federal, na Justiça Militar 
Estadual, a exclusão da praça das forças armadas ou auxiliares dependerão de decisão do 
Tribunal, não funcionando como pena acessória. 
 
PERDA DE FUNÇÃO PÚBLICA – Incorre na perda de função pública o civil, o militar da 
reserva ou reformado nos casos de condenação por crime militar a qual se manifeste por 
aplicação desta pena acessória, conforme Art. 103 do CPM. 
 
INABILITAÇÃO DA FUNÇÃO PÚBLICA – Essa pena acessória impede que o civil, o 
militar da reserva ou o reformado - quando condenados à pena principal de reclusão por mais de 
quatro anos em virtude de crime praticado com abuso de poder ou violação do dever militar ou 
inerente à função pública – assumam funções públicas pelo período de dois a vinte anos. 
 
SUSPENSÃO DO PÁTRIO PODER, TUTELA OU CURATELA – Tal pena acessória 
deriva-se da impossibilidade fática de que o sujeito que cumpre uma pena restritiva de liberdade, 
ou uma medida de segurança, ambas superior a dois anos, teriam de exercitar seu poder familiar, 
de tutela ou de curatela. 
 
SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS – Prevê a proibição do exercício dos direitos 
políticos, em votar e ser votado, durante a execução da pena

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