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Do Contrato Social de Rousseau

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Rousseau, Jean-Jacques: “Do contrato social ou princípios do direito político”. São Paulo, Schwarcz, 2011. Penguin Classics Companhia das letras.
Contexto histórico da época.
“Do Contrato Social” foi escrito no século XVIII por Jean-Jacques Rousseau. Contemporâneo de Voltaire, Hume, Diderot e D’Alembert, os chamados iluministas. Rousseau uniu-se aos enciclopedistas (Diderot e D’Alembert), procurou analisar as razões das desigualdades sociais, para ele, o ser humano é naturalmente bom, mas a sociedade o corrompe, gerando desigualdades sociais, escravidão e tirania. Sua filosofia política “Do Contrato Social” foi uma das obras que influenciaram diretamente a revolução francesa (apesar de morrer antes dela, em 1778).
Livro I
Tema deste primeiro livro. (p.55)
“O homem nasceu livre, e em toda parte vive acorrentado.” (p.55).
“Enquanto o povo é constrangido a obedecer, e obedece, faz muito bem; assim que pode se livrar do julgo, se livra, faz melhor ainda.” (p.55).
“A ordem social é um direito sagrado, que serve de base a todos os outros.” (p.55).
Das primeiras sociedades. (p.55)
“A mais antiga de todas as sociedades e a única natural é a família.” (p.55).
“Sua primeira lei é zelar por sua própria conservação, seus primeiros cuidados são os que ele deve a si mesmo.” (p.56).
“A diferença está em que, na família, o amor do pai pelos filhos o recompensa pelos cuidados que dedica a estes, enquanto, no estado, o prazer de comandar supre esse amor que o chefe não tem por seus povos” (p.56).
Do direito do mais forte. (p.58)
“O mais forte nunca será forte o bastante para ser sempre o amo se não transformar sua força em direito e a obediência em dever.” (p.58).
“Já que o mais forte sempre tem razão, trata-se de agir de modo a ser sempre o mais forte. Ora, o que é um direito que perece quando a força cessa? Se temos de obedecer por força, não precisamos obedecer por dever, e se não somos mais forçados a obedecer, não temos mais a obrigação de fazê-lo. Vê se, portanto que a palavra direito não acrescenta nada à força.” (p.58).
Da escravidão. (p.59)
“Ora, um homem que se faz escravo de outro não se dá, ele se vende, pelo menos para sua subsistência.” (p.58).
“Renunciar à sua liberdade é renunciar à sua qualidade de homem, aos direitos da humanidade, e até a seus deveres.” (p.60).
“O vencedor tem o direito de matar o vencido, este pode resgatar sua vida à custa da sua liberdade, um acordo tanto mais legítimo por ser proveitoso a ambos.” (p.60-61).
“A guerra não é, portanto uma relação entre homem e homem, mas uma relação entre Estado e Estado, na qual os indivíduos são inimigos apenas acidentalmente, não como homens, nem mesmo como cidadão, mas como soldados, não como membros da pátria, mas como seus defensores.” (p.61-62).
“O direito do escravo é nulo, não só porque é ilegítimo, mas porque é absurdo e não significa nada, As palavras escravidão e direito são contraditórias, excluem-se mutuamente.” (p.63).
Que é sempre preciso remontar a uma primeira convenção. (p.64)
“Sempre haverá uma grande diferença ente subjugar uma multidão e governar uma sociedade.” (p.64).
“Esse homem, mesmo que houvesse subjugado a metade do mundo, não passa de uma particular; seu interesse, separado do dos outros, não passa de um interesse privado.” (p.64).
Do pacto social. (p.65)
“Suponho que os homens tenham chegado ao ponto em que os obstáculos que prejudicam a sua conservação no estado de natureza prevalecem por sua resistência sobre as forçar que cada indivíduo pode empregar para se manter nesse estado. Então, esse estado primitivo não pode mais subsistir e o gênero humano pereceria se não mudasse sua maneira de ser” (p.65).
“Até que, sendo o pacto social violado, todos voltam a seus primeiros direitos e retomam a sua liberdade natural, perdendo a liberdade pactuada pela qual renunciaram àqueles.” (p.65-66).
Do soberano. (p.67)
“É contra a natureza do corpo político o soberano se impor uma lei que não possa infringir. [...] ele se encontra então no caso de um individuo contratando consigo mesmo, com o que se vê que não há nem pode haver nenhuma espécie de lei fundamental obrigatória para o corpo do povo, nem mesmo o contrato social.” (p.68).
“Por conseguinte, a potência soberana não tem nenhuma necessidade de garantia em relação a seus súditos, porque é impossível que o corpo queira prejudicar todos os seus membros.” (p.69).
Do estado civil. (p.70).
“Essa passagem do estado de natureza ao estado civil produz no gomem uma mudança notável, ai substituir em sua conduta o instinto pela justiça e ao dar às suas ações a moralidade que antes lhes faltava.” (p.70).
“A partir do que precede, poder-se-ia acrescentar à conquista do estado civil a liberdade moral, a única coisa capaz de tornar o homem verdadeiramente senhor de si.” (p.71).
Do domínio real. (p.71)
“O direito do primeiro ocupante, embora mais real que o do mais forte, só se torna um verdadeiro direito depois do estabelecimento do direito e propriedade.” (p.71).
“Todo homem tem naturalmente direito a tudo o que lhe é necessário; mas o ato positivo que o torna proprietário de um bem o exclui de todo o resto. Estabelecido à parte que lhe cabe, ele deve se limitar a ela e não tem mais nenhum direito à comunidade.” (p.72).
“Em vez de destruir a igualdade natural, o pacto fundamental substitui por uma igualdade moral e legítima a desigualdade física que a natureza possa ter imposto aos homens e que, podendo ser desiguais em força ou em gênio, todos eles se tornem iguais por convenção e de direito.” (p.74).
Livro II
Que a soberania é inalienável. (p.77)
“Somente a vontade geral pode dirigir as forças do Estado de acordo com a finalidade da sua instituição, que é o bem comum.” (p.77).
“A soberania, que é um exercício da vontade geral, nunca pode ser alienada e que o soberano, que é um ser coletivo, só pode ser representado por si mesmo. O poder pode ser transmitido, não a vontade.” (p.77). 
Que a soberania é indivisível. (p.78)
“Pela mesma razão que é inalienável, a soberania é indivisível. Porque a vontade ou é geral, ou não é. (p.78).
“Como nossos políticos não conseguem dividir a soberania em seu princípio, dividem-na em seu objeto. Eles a dividem em força e vontade, em poder legislativo e poder executivo.” (p.78).
“Se examinássemos do mesmo modo as outras divisões, veríamos que todas as vezes que acreditamos a ver a soberania dividida nós nos enganamos, que os direitos que tomamos por partes dessa soberania lhe são, todos, subordinado se sempre supõem vontades supremas, que esses direitos põem em execução.” (p.79).
Se a vontade geral pode errar. (p.80)
“Todos sempre querem o próprio bem, mas nem sempre o veem. Nunca se corrompe o povo, mas muitas vezes ele é enganado, e é somente então que ele parece querer o que é ruim.” (p.80).
“Para ser de fato o enunciado da vontade geral, é importante que não haja opinião parcial no Estado e que cada cidadão opine somente de acordo com seu entendimento.” (p.81).
Dos limites do poder soberano. (p.82)
“Se o Estado ou uma Cidade não são mais que uma pessoa moral cuja vida consiste na união de seus membros, e se o mais importante de seus cidadãos é o de sua própria conservação, ele necessita de uma força universal e compulsória para mover e dispor cada parte da maneira mais conveniente ao todo.” (p.82).
“A vontade geral, para ser verdadeiramente geral, deve sê-lo tanto em objetivo como em sua essência, que ela deve partir de todos para se aplicar a todos e que perde sua retidão natural quando tende a algum objetivo individual e determinado.” (p.83).
“Uma vontade particular não pode representar a vontade geral, a vontade geral, por sua vez, muda de natureza se tem um objetivo particular, e não pode, como vontade geral, se pronunciar nem sobre um homem sem sobre um fato.” (p.84).
“O que é portanto, exatamente, um ato de soberania? Não é uma convenção do superior com o inferior, mas uma convenção do corpo com cada um dos seus membros, convenção legítima, porque tem como base o contrato social; equitativa, por ser comum a todos; útil, por não poder teroutro objeto senão o bem geral; e sólida, por ter como garantia a força pública e o poder supremo.” (p.84-85).
Dos direitos de vida e de morte. (p.86)
“Todo homem tem direito de arriscar sua vida para conserva-la” (p.86).
“O tratado social tem por fim a conservação dos contratantes. Quem quer o fim quer também os meios, e esses meios são inseparáveis de alguns riscos, inclusive algumas perdas. Quem quer conservar sua vida à custa dos outros deve dá-la também por eles quando necessário.” (p.86).
“Graças a essa condição que ele viveu até então em segurança e que sua vida não é mais um benefício da natureza, mas um dom condicional do estado.” (p.86).
“A pena de morte infligida aos criminosos pode ser encarada mais ou menos a partir do mesmo ponto de vista. É para não ser vítima de um assassino que aceitamos morrer se nos tornamos um.” (p.86).
Da lei. (p.88)
“Pelo pacto social demos existência e vida ao corpo politico. Trata-se agora de lhe dar movimento e vontade pela legislação. Porque o ato primitivo pelo qual esse corpo se forma e se une ainda não determina nada do que ele deve fazer para se conservar” (p.88).
“São necessárias portanto convenções e leis para unir os direitos aos deveres e circunscrever a justiça a seu objeto” (p.88). 
Do legislador. (p.91)
“Os chefes das republicas é que fazem a instituição, e só depois é que a instituição forma os chefes das repúblicas.” (p.92).
“Aquele que comanda os homens não deve comandar as leis, aquele que comanda as leis também não deve comandar os homens; do contrário, suas leis, ministras das suas paixões, muitas vezes não fariam mais quer perpetuar suas injustiças.” (p.93).
“Quem redige as leis não tem ou não deve ter nenhum direito legislativo, e o próprio povo não pode, mesmo que queira, abrir mão desse direito intransferível, porque, conforme o pacto fundamental, somente a vontade geral obriga os particulares e só se pode garantir que uma vontade particular é conforme à vontade geral depois de tê-la submetido ao livre sufrágio do povo.” (p.93-94).
Do povo. (p.96)
“O legislador sábio não começa redigindo leis boas em si, mas examina antes se o povo ao qual ele as destina está apto a suportá-las.” (p.96).
“Existe para as nações, como para os homens, um tempo de maturidade que é necessário aguardar antes de submetê-las às leis.” (p.97).
“Nem sempre é fácil reconhecer a maturidade de um povo, e se o legislador fizer isso antes do tempo, seu trabalho fracassará.” (p.97).
Livro III
Do governo em geral. (p.111)
“No corpo político conseguimos distinguir a força e a vontade. Esta ultima com o nome de poder legislativo, a primeira com o nome de poder executivo. Nada é feito ou deve ser feito sem o concurso deles.” (p.111).
“O poder legislativo pertence ao povo” (p.111).
“O poder executivo não poder pertencer à generalidade do povo, como legislador ou soberano, porque esse poder consiste em atos particulares que não são da alçada da lei, nem por conseguinte do soberano, cujos atos são necessariamente leis.” (p.111-112).
“O que é portanto o governo? Um corpo intermediário estabelecido entre os súditos e o soberano para sua mútua correspondência, encarregado da execução das leis e da manutenção da liberdade, tanto civil quanto política.”(p.112).
“Com frequência, o melhor governo em si se tornará o mais vicioso se suas relações não forem alteradas segundo os defeitos do corpo político a que pertence.” (p.117).
Do princípio que constitui as diversas formas de governo. (p.117)
“Ora, sendo a força total do governo sempre a do Estado, ela não varia; daí se segue que, quanto mais ele usa essa força sobre seus próprios membros, menos lhe resta para agir sobre todo o povo. Logo, quanto mais numeroso o número de magistrados, mais fraco o governo.” (p.117).
“Numa legislação perfeita, a vontade particular ou individual desse ser nula, a vontade de corpo, própria do governo, grandemente subordinada e, por conseguinte, a vontade geral ou soberana sempre dominante e regra única de todas as outras.” (p.118).
“Quanto mais o povo é numeroso, mais a força repressora tem de aumentar.” (p.119).
Divisão dos governos. (p.120)
 “O soberano pode, em primeiro lugar, pôr o governo nas mãos de todo o povo ou da maior parte do povo, de sorte que haja mais cidadãos magistrados do que simples cidadãos. Dá-se a essa forma de governo o nome de democracia.” (p.120).
“Ou pode restringir o governo a um pequeno número, de sorte que haja mais simples cidadãos do que magistrados. Essa forma tem o nome de aristocracia.” (p.120).
“Enfim, ele pode concentrar todo o governo nas mãos de um só magistrado, das quais todos os outros recebam seu poder. Esta terceira forma é a mais comum, e se chama monarquia ou governo régio.” (p.120).
Da democracia. (p.121)
“Não é bom que aquele que faz as leis as execute, nem que o corpo do povo desvie sua atenção da perspectiva geral para dirigi-la aos objetos particulares. Nada é mais perigoso do que a influencia dos interesses privados nos negócios públicos, e o abuso das leis pelos governos é um mal menor que a corrupção do legislador, consequência infalível das perspectivas particulares.” (p.121-122).
“Um povo que não abusasse nunca do governo não abusaria tampouco da independência; um povo que governasse sempre bem não precisaria ser governado.” (p.122).
“Nunca existiu verdadeira democracia nem nunca existirá.” (p.122).
“Se houvesse um povo de Deus, ele se governaria democraticamente. Um governo tão perfeito assim não convém aos homens.” (p.123).
Da aristocracia. (p.123)
“Há três tipo de aristocracia: natural, eletiva e hereditária. A primeira só convém a povos simples; a terceira é o pior de todos os governos. A segunda é o melhor: é a aristocracia propriamente dita.” (p.124).
“Além da vantagem da distinção dos dois poderes, (a aristocracia eletiva) tem a de escolha de seus membros, porque no governo popular todos os cidadãos nascem magistrados, mas este os limita a um pequeno numero e eles só se tornam magistrados por eleição.” (p.124).
“Mas se a aristocracia exige algumas virtudes a menos que o governo popular, também exige outras que lhe são próprias, como a moderação entre os ricos e o contentamento entre os pobres, porque parece que uma igualdade rigorosa estaria deslocada nela. Uma igualdade assim não foi observada nem mesmo em Esparta.” (p.125).
“De resto, se essa forma comporta certa desigualdade de fortuna, é para que em feral a administração dos negócios públicos seja confiada aos que melhor podem consagrar a ela todo o seu tempo, mas não, como pretende Aristóteles, para que os ricos sejam preferidos. Ao contrario, é importante que uma escolha oposta ensine às vezes ao povo que há no mérito dos homens razões de preferência mais importantes que a riqueza.” (p.125-126).
Da monarquia. (p.126)
“Ao contrário das outras administrações, em que um ser coletivo representa um indivíduo, nesta um indivíduo representa um ser coletivo.” (p.126).
“Assim, a força do povo, a vontade do príncipe, a força publica do Estado, a força particular do governo, tudo corresponde ao mesmo móvel, todas as instancias da maquina estão na mesma mão.” (p.126).
“Os melhores reis querem poder ser maus, se assim lhes aprouver, sem deixar de ser os senhores. [...] O interesse pessoas deles é, primeiro, que o povo seja fraco, miserável e que nunca possa resistir a eles.” (p.127).
“É o que Maquiavel fez ver com evidência. Fingindo dar lições aos reis, ele as deus, e grandes, aos povos. O príncipe de Maquiavel é o livro dos republicanos.” (p.127).
Luidgi Silva Almeida – 1º período direito 2012

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