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Transcrição 19-02-2013

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19/02 
 
 Relembrando: 
Na aula passada foi abordada a discussão do Alain Touraine sobre as possibilidades de 
democracia na América Latina, exatamente é um texto de um pouco de transição porque a 
gente veio construindo esse Estado Moderno, principalmente esse Estado Democrático de 
Direito, visa vir uma observação egocêntrica, ou pelo menos do Atlântico Norte, os Estados 
Unidos, eventualmente o Canadá, mas o Canadá pertencendo à comunidade britânica 
acompanha e acompanhou de alguma forma muito proximamente as mudanças todas na 
Inglaterra e de qualquer forma todas as discussões que a gente viu sobre a perspectiva do 
Estado, teoria da constituição, os tópicos que a gente discute e vocês vão ler as matrizes do 
direito, common law, civil law, todos elas estão baseadas nesse direito, nessa visão do 
Atlântico Norte, seja nos Estados Unidos, seja na Inglaterra. 
E é claro que de alguma maneira a gente tem chamado atenção que no momento que 
a América Latina, ou principalmente com o fim do colonialismo mais forte, mais explícito após 
a II Guerra Mundial quando de alguma forma a relação colonial foi vista negativamente. As 
colônias europeias foram se tornando independentes, no movimento final de resistência do 
império colonial representada pela França até meados do final da década de 60 e Portugal até 
meados da década de 70, surgiram então uma série de discussões sobre o destino da 
democracia na América Latina, tanto é que se a gente acompanhar ao longo das histórias do 
vários países que compõe a América Latina, há uma sucessão de caudilhos, de períodos de 
exceção democrática, de líderes carismáticos, Perón, Vargas e outros que apareceram pela 
América Latina e na vizinhança do fim desse mundo bipolar, do mundo comunista, ou seja, os 
pensadores quando começam na União Soviética a tal da Glasnost e Perestroika, que eram 
sinais de abertura que se deram ao longo da década de 80, vários pensadores começaram a 
pensar as possibilidades e então nesse mundo unipolar, ou seja, colocado apenas por uma 
ideologia, por apenas uma única potência, se as possibilidades da democracia seriam iguais 
aquelas democracias que se tinham como modelo nos países centrais. 
Houve uma série de teorias que falaram uma nova divisão do sistema mundo, a teoria 
dos sistemas mundos, ficou um primeiro mundo, um segundo mundo, surgiu a ideia de um 
terceiro mundo. Então você teria certa hierarquia entre os países de acordo com o grau de 
desenvolvimento econômico, tecnológico. Evidentemente países centrais, hoje comunidade 
europeia e os Estados Unidos ocupariam o primeiro mundo, o segundo mundo seria 
representado pelo bloco das ex-nações, ou ainda na época pela União Soviética e pelos seus 
países satélites e o terceiro mundo seriamos nós, ou seja, aqueles países que estavam em vias 
de desenvolvimento, e isso então criava do ponto de vista da economia e das relações 
internacionais, certa facilidade, você separava em 03 blocos, onde o primeiro mundo é claro 
que lidera e é claro que essa liderança se dava no plano econômico, no plano político, no plano 
jurídico, ou seja, todos nos seguimos a tentativa ou almejávamos chegar a esse primeiro 
mundo, mesmo sabendo que estávamos lá no terceiro mundo. 
E o Touraine então fez uma discussão sobre as possibilidades dessa democracia 
centrada num modelo eurocêntrico que é um modelo individualista. A gente tem chamado 
atenção que no século XIX não só a construção desse Estado Nação mas a construção dessa 
político, dessa democracia baseada no individuo, ou seja, o individuo passou a ser o centro 
19/02 
 
dessa vida política e a manifestação desse individuo através do voto, através da sua 
participação na democracia, na vida política é que o Estado e Sociedade se movimentam. Não 
são mais comunidades, não são mais cidades, não são mais grupos, não são mais famílias, é a 
vontade do individuo. 
É claro que a gente também acompanhou que esse individuo não é igualmente 
potente em todas essas nações de primeiro mundo, a gente viu uma discussão de diversas 
estratégias de atingir a igualdade, ou seja, na visão Tocqueviliana, na visão economicista de 
bem-estar-social. O Estado de bem-estar-social que surgia a partir da década de 30, ele surge 
no sentido de diminuir a diferença das classes sociais, diminuir as igualdades sociais, mas 
dentro ainda do ideal do liberalismo, ele não pode eliminar as desigualdades, ele propõe 
diminuir, aproximar as classes, mas continua ainda havendo a possibilidade de você ter uma 
hierarquia, certa desigualdade, que é claro que na perspectiva mais clássica norte-americana, a 
desigualdade se dá a partir das diferenças individuais. Quer dizer que no mundo igualitário, 
idealmente pensado todos tem igual oportunidade, mesmo que alguns comecem um pouco 
mais adiante por conta de berço, por conta das heranças que já começam de algum lugar, 
numa cidade que se apresentaria na forma de um paralelepípedo, ou seja, todos podem atingir 
o topo. Numa representação de uma sociedade individualista igualitária, nós temos essa 
possibilidade de qualquer um que comece de qualquer lugar pode chegar até o topo. 
 
 
Isso pode ser representado dentro de uma visão muito estreita, muito simplificada, a 
posição de Barak Obama, ele se fez sozinho, é a figura do self-made man norte americano 
ideal, não só negro, mas misturado, então ele seria um rafi, ele não é nem americano, nem 
etiópio, africano, ele é um afro-americano-havaiano, então ele tinha pra dar errado no sistema 
norte americano, ou brasileiro também. Mas é claro que em função do seu desempenho e do 
conjunto de ações afirmativas desenvolvidas pelo governo norte americano, inclusive na 
universidade de Haward, Barak Obama pode ingressar em Haward, ele pode ser editor da 
Haward Law Review, ele pode ser senador indireto pelo estado de Illinois e presidente da 
república e reeleito, ou seja, dentro de uma sociedade individualista e igualitária, essa é a 
representação do Estado de bem-estar-social. 
O problema que se colocou para pensadores de que Alain Tourraine vem falando é que 
outras sociedades, o modelo de organização social não é individualista igualitário, é um 
modelo que a gente poderia chamar de hierárquico. Esse modelo significa que nem todos que 
estão na base podem chegar até o topo, porque não há lugar no topo para todos que estão na 
base, é uma pirâmide. E, além disso, você tem uma outra teoria que vem ainda da idade 
média, que nesse modelo hierárquico, nessa pirâmide, ela é de alguma maneira estamental, 
isso quer dizer que só há mobilidade dentro do seu estamento. Não necessariamente essa 
divisão é dada de um ponto de vista econômico. Por exemplo, na sociedade indiana, o que 
organiza os estamentos não é o dinheiro, é a pureza, dentro do sentido religioso hindu. 
Alain Tourraine ficou pensando as possibilidades desse individualismo ou dessa relação 
como ficou colocada para as sociedades da América Latina, aonde de alguma maneira, a 
19/02 
 
revolução igualitária, ou a revolução francesa, a ideia do ideal de liberdade, igualdade e 
fraternidade, não necessariamente ocorreu, nós não temos na nossa sociedade esse momento 
revolucionário, nem nas outras sociedades da América Latina. A sociedade que chegou mais 
próxima efetivamente um movimento revolucionário é a mexicana, mas ainda sim o resultado 
dela não foi tão igualitário assim. 
 Representação Democrática 
 Esse texto é mais ou menos denso e ele faz uma discussão que também se faz com 
relação às possibilidades democráticas, que é a ideia de representação. Porque de alguma 
forma há pessoas e a gente vai ver autores que criticam, mas a crítica é bem interessante, a 
ideia de que o modelo da democracia representativa, inspirada ainda em Montesquieu é a 
única forma para você dar conta de ter uma República Democrática em sociedades de mundo 
amplas, no sentido não só espacial, mas no sentido demográfico. 
 Sociedades com uma populaçãomuito grande é impossível você imaginar uma 
democracia grega, a ideia da árvore, tá todo mundo lá sentado, discutindo, tentando chegar a 
algum consenso. É necessário que você tenha a ideia de representação, que você tenha a ideia 
de algum representante que receba o poder de determinadas coletividades e represente essa 
coletividade nessa instancia de deliberação. É o movimento estudantil, que têm o centro 
acadêmico, que tem o diretório, ele tem representação, aí de repente a UNE fala alguma coisa 
em nome dos estudantes com toda a propriedade democrática. Vocês podem não se sentir 
representados naquilo que o presidente da UNE fala em nome dos estudantes universitários, 
mas ele fala. Porque há toda uma estrutura democrática de representação aonde ocupar ou 
não ocupar essas instancias seria você abrir mão ou não de exercer o poder. 
Então dentro da teoria política clássica, como a gente define, você não pode reclamar 
de falta de representatividade, por exemplo, do DCE da UFF, “a mais eu não tenho nada haver 
com ele”, não tem nada haver com ele porque vocês não exercem o poder de vocês como 
indivíduos, como cidadãos, como estudantes, dentro desse sistema a ideia de representação 
política pode ser intimamente a ideia de interesse, e aí você pode dizer “mas eu não me 
interesso por isso”, isso significa que a democracia representativa leva a um determinado 
paradoxo, se eu não tenho interesse, eu tenho autonomia de não cumprir uma determinada 
deliberação de um modelo de representação democrática que não seja direta que seja 
representativa, uma democracia que não seja contra a vontade de que foi representado? Eu 
tenho autonomia de fazer alguma coisa? Essa é uma discussão que trabalha na ideia das 
minorias. 
Um dos problemas da teoria democrática, na verdade sempre tem dois, mas todo 
mundo só fala de um, é a ideia da tirania da maioria sobre a minoria, o problema da 
democracia clássico é esse, uma maioria pode impor a sua vontade a sua minoria, mesmo que 
haja uma representação, vamos imaginar que a gente promova algum tipo de votação e tem 
uma relação de 17 a 13, a posição dos 17 pode se sobrepor a dos 13? Isso ainda fica razoável, 
os 13 podem se reunir e resistir a essa maioria pequena de 17 a 13, mas e se fossem 27 a 3? 
Esses 3 estariam necessariamente submetidos a vontade da maioria? Esses 3 perderiam 
alguma autonomia? Perderiam a sua identidade? 
19/02 
 
Ai surgem algumas discussões que dentro dessa ideia de idealismo político de 
Maquiavel, surge uma ideia de que a identidade passa a ser extremamente importante. 
Identidade pode ser o meu eu, eu ter direito de discordar, eu ter direito de pensar numa coisa 
diferente, numa opção sexual, uma opção de vida, uma opção por ser celibatário. Ou seja, 
varias discussões que trabalham uma ideia de identidade e esse cientista político uso um 
termo advocacy que é provocador para a gente pensar qual é o papel, se isso tem haver com o 
direito, com advogados, mas de qualquer forma tem não porque se trata de uma questão 
necessariamente legal, do ponto de vista de aplicação de um código, de aplicação de uma lei, 
mas tem haver com duas questões que são trabalhadas de alguma forma. 
A primeira é que do ponto de vista de uma política democrática, o conflito, o descenso, 
faz parte da política, ou seja, é fundamental entender que do ponto de vista da política na 
sociedade contemporânea o conflito não pode ser visto como de alguma forma vários 
antropólogos chamam a atenção que a sociedade brasileira tem uma aversão ao conflito, o 
conflito aqui pra nós é visto como algo que está fora da norma, é como se o conflito 
representasse nessa situação da sociedade piramidal, o conflito sempre ficasse visto como 
uma ruptura desses estamentos. Quando você tem alguém querendo sair do seu lugar e entrar 
pra outro lugar, a questão do sem terra. Os sem terra desejam passar de um estamento para 
outro, seja por um processo de ocupação, por um processo de reinvindicação, por um 
processo de demanda de políticas públicas, que o governo então cumpra com a constituição, 
de vida a função social da propriedade, desaproprie o latifúndio improdutivo e promova a 
justiça social, tá tudo escrito na constituição, quer dizer, o que o movimento sem terra faz é na 
verdade, apertar, ultrapassar, ou seja, o que ele faz é promover o conflito. Ele explicita o 
conflito, é claro que o conflito já existe, existe um latifundiário dono de um local improdutivo, 
existe um grupo de pessoas desprovido dos meios de produção. Então a ideia de uma política 
democrática, uma ideia de uma recomendação para compreensão do Estado democrático de 
direito, é a ideia da legitimidade do conflito, o conflito passa a ser legitimo e não o conflito 
passa a ser ilegítimo ou indesejável pela sociedade. E de alguma forma o direito tem como um 
dos seus objetivos que é exatamente pacificar a vida social. Como vocês vem em Kelsen, ele 
está compondo uma perspectiva sobre o direito que são exatamente aquelas condições de 
dever ser de uma sociedade pacificada na lei e até o momento que a sociedade concreta não 
seja pacificada é exatamente a tarefa do direito pacificar, organizar a sociedade. Porque do 
ponto de vista legal, a sociedade está toda arrumadinha, quer dizer, tudo aquilo que não deve 
ser feito está previsto em lei, então devido a sansão. Se alguém faz é porque o direito ainda 
não chegou lá. É claro que a política, a própria visão do direito em sociedades da common law, 
o conflito não é visto como ruim, a ordem surge após a explicitação do conflito, então a forma 
de você numa sociedade individualista e igualitária atingir a ordem, é exatamente você 
explicitar a disputa entre as pessoas. E a partir dessa explicitação, qual é a diferença que eu 
tenho com ele, a gente poder dizer, conversar, discutir e eventualmente a gente poder brigar e 
depois de uma conciliação seja por nós mesmos, seja pelo Estado a gente voltar para nossa 
vida social com o conflito resolvido, uma nova ordem vai surgir, uma nova discussão vai ser 
feita. Então a ideia da legitimidade do conflito passa a ser fundamental para a gente poder 
pensar a ideia de representação democrática. 
O outro elemento que os autores trazem e essa bastante interessante, é a gente 
pensar nessa ideia de inclusão democrática. A gente vai voltar atrás depois nos textos sobre 
19/02 
 
Brasil, mas de qualquer maneira o que interessa ficar aqui, é que o Brasil paradoxalmente a 
despeito da nossa avaliação sobre a efetividade, sobre o resultado da nossa democracia, foi 
um dos países que mais cedo ampliou a sua base representativa democrática, ou seja, 
estendeu o voto, o Brasil, como a gente viu na Inglaterra, trabalhava com o voto censitário, ou 
seja, proprietários é que votavam até a década de 20/30, a maioria dos países só tem 
efetivamente uma grande mudança nesse principio de inclusão democrática no início do 
século XX, porque a constituição de 1891 estendeu o voto a praticamente todos os homens 
alfabetizados, as mulheres também foram eleitoras no Brasil, como um dos 3 primeiros países 
do mundo a dar o voto as mulheres. Demos à pouco tempo o voto aos analfabetos, ou seja, 
nós fizemos uma grande inclusão na base democrática, ou seja, a nossa base democrática é 
ampliada. O problema entra no sentido da nossa representatividade, a pergunta que surge, ou 
seja, mas efetivamente nós conseguimos que essa representatividade seja acompanhada pelas 
identidades ou pelo sentido de afinidade entre o representante e o representado? As 
demandas dos representantes são aquelas demandas dos representados? Quer dizer, os 
nossos representantes tem uma relação com a quem representam, são as nossas demandas? E 
aí surge essa noção de advocacy que fica como distribuída a ideia de falar pelos representados 
dentro dos grupos de identidade, por vários setores da sociedade. É como se você dissesse que 
a política de ações afirmativas no Brasil nãoestá exclusivamente na pauta do movimento 
negro, até porque no caso das cotas não são só para negros, são para índios, para alunos de 
escola pública, ou seja, você tem todo um conjunto de setores de atores da sociedade que não 
necessariamente precisam morar na floresta amazônica para defender uma política ambiental 
menos predatória, você não precisa ser paraense para ser contra Belo Monte, você não precisa 
morar lá no Amazonas para falar do problema das usinas do Rio Madeira, você pode fazer uma 
ideia de se relacionar com esse modelo de representação e esse modelo de representação 
significar que você está usando sua voz para fazer reinvindicações. 
Eu não gosto muito, mas eu tenho achado bem interessante esse modelo de abaixo 
assinado pela internet, está provocando certo problema de legitimidade da representação. É 
claro que o Renan Calheiros é representante dos senadores, tanto é que ele foi eleito pelos 
senadores com ampla maioria, mas essa representação com um outro grupo de identidade, o 
cidadão, nação popular, está rompido. Ele tem uma representação, ou seja, ele é 
representante dos interesses dos senadores e normalmente interesses não tão republicanos 
assim, mas ele tem essa representação, ele só não tem a representação de certos interesses 
de outra identidade que não é senadora, que é o cidadão, e nós cidadãos estamos dizendo 
para eles que o Renan Calheiros não nos representa. 
O que leva então a uma discussão que está no texto que é exatamente o que 
movimenta essa reinvindicação, esse movimento reivindicatório, que grupos fazem em nome 
de outros, é claro que 1,6 milhão de assinaturas foram obtidas porque alguém fez um processo 
de representação, alguém deu inicio a uma petição online, essa petição online saiu em redes, 
etc. Então nós temos algumas questões interessantes sobre essa participação e esse conceito 
de advocacy frente a uma ideia de interesses e perspectivas. 
Aí surge uma discussão interessante que no mundo moderno, ou teoricamente nesse 
primeiro mundo, nessas sociedades onde teoricamente padrão de consumo atingido é 
acessível a todos, uma sociedade individualista, não uma sociedade hierárquica, onde parte da 
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sociedade está excluída do acesso a bens e serviços, passa a ter uma discussão interessante, 
não é só mais uma ideia de conflito de interesses, por exemplo, que orienta a sociedade norte 
americana hoje, porque de alguma forma é uma discussão entre democratas e republicanos 
sobre por exemplo o sistema de saúde que o presidente Obama quer introduzir ou agora a 
discussão que ele quer fazer sobre o desarmamento, não é mais uma discussão sobre conflitos 
de interesses, porque o Obama está propondo como desarmamento não é proibir vender 
arma é dizer que quem pretende comprar uma arma pode ser questionado a ter uma ficha 
pregressa de que ele tem condições de ter arma. Então não é necessariamente um conflito de 
interesses, passa a ser um conflito de perspectivas, ou seja, como é que a gente entende esse 
exercício do poder e a gente passa a não mais funcionar por interesses mas por perspectivas, o 
que a gente acha que é bom, o que é mal, o que é certo, por exemplo, ao invés da gente 
discutir a questão da assistência a saúde imaginando se o SUS funciona, se não funciona e por 
isso eu tenho um plano de saúde, eu não vou para um posto de saúde que seja exatamente a 
ideia de interesses, a gente voltar a pensar será que realmente faz sentido a gente abandonar 
a saúde pública e apostar tudo na saúde privada? Será que na medida que todo mundo vai 
ficando velho e todo mundo tiver com uma série problemas que precise de CTI, que precise 
internações, o sistema privado de saúde vai dar conta? Ou seja, são questões que estão 
colocadas em qual é a perspectiva então que a gente tem da vida social e aí surgem perguntar 
interessantes, quando a gente imaginou a ideia do Estado de bem-estar-social ou a ideia do 
mercado, a gente vai ter que uma hora pensar não necessariamente com os interesses, pensar 
com a ideia de perspectiva, vale para esse reflexo social, saúde, previdência, vale para 
economia, vale para diversas coisas, universidade, porque faz sentido a gente ampliar o acesso 
de todas as camadas sociais a universidade pública, como que o mercado do trabalho vai 
reagir? Ele vai selecionar? Como que ele vai fazer essa inclusão, ou seja, as perspectivas 
passam a ser bastante interessantes. 
E se você foge um pouco da ideia de conflitos de interesses para trabalhar com a ideia 
de conflitos de perspectiva, você passa a ter alguns problemas que está colocado na ideia de 
poder e economia para discutir representação política e representados. Voltamos a ideia que 
falamos anteriormente, as nossas câmaras legislativas, aonde os nossos representantes estão, 
nós não consideramos representados e nem eles consideram nossos representantes. Eles 
passam a ter um mandato, e ao obter um mandato eles têm uma delegação quase que como 
uma procuração com amplos poderes e de alguma forma irrevogável, porque nós damos ao 
parlamentar e só quem pode caçar o mandato do parlamentar é o poder legislativa, ou seja, o 
mandato é dado pelo povo mas o povo não pode caçar o mandato que ele deu, ou seja, é uma 
delegação sempre unilateral, isso aqui é uma discussão que surgiu em 2006 quando STE que 
estava presidido pelo ministro Marcos Aurélio Mello, ele fez uma releitura da lei eleitoral 
brasileira onde o objetivo era acabar o troca-troca de partidos quando haviam questões de 
grande interesse do presidente da república, do poder executivo, vários parlamentares 
mudavam para a base aliada, para a base de sustentação do governo, isso aconteceu com 
Sarney, com FHC, com Lula e aí chegou um momento que aí chegou a ideia de que o candidato 
eleito não poderia mudar de partido, estava chegando a ponto de que o processo eleitoral que 
acabava em outubro/novembro, antes de você dar posse aos parlamentares, a bancada do 
congresso já era outra. E aí o TSE disse que o eleitor não mais votava em candidatos, o eleitor 
votava em partidos e isso então teria ao mesmo tempo como objetivo aumentar a relação 
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entre representantes e representados, mas por outro lado esconder a representação ou essa 
relação de representação para trabalhar com uma discussão de partido. Então o que isso era 
pensado do ponto de vista de uma política, a ideia de que no partido e não no representante é 
que haveria a disputa ideologia. É o partido que deveria ter uma cara, uma cara, um conteúdo, 
então o momento em que eu dissesse que eu sou representante/filiado ao PV, eu deveria estar 
dizendo um monte de coisa, a hora que eu dissesse que votava no PSDB, estaria dizendo um 
monte de coisa. Se eu voto no PSD, outra coisa, no PT outra coisa, etc. A ideia então que você 
passaria a ter nesses partidos uma ideia de representantes que seria então, esses advocates, 
que seria então atores que defendem causas e como defendem causas, eles defendem e aí a 
ideia de que a militância aí pode ser apaixonada mas ela tem que ser inteligente e aí o que ele 
está querendo dizer com isso é que esse sujeitos tem que de alguma forma cada vez mais se 
qualificar, se capacitar, conhecer. Não basta ser apaixonado, não basta ser só militante, eles 
precisam ser inteligentes, e essa inteligência não necessariamente precisa ser legal, é uma 
inteligência instrumental, eu preciso ter elementos, dados, eu tenho que conhecer e no 
momento que eu conheço, ou que eu mais conheço eu posso defender apaixonadamente uma 
determinada causa, mais autonomia eu tenho para exercer determinado poder e isso coloca 
toda uma discussão contemporânea a que está pensada do ponto de vista da política do 
primeiro mundo que seria como é que esses grupos de interesses tem trabalhado nesse 
primeiro mundo, ou seja, como as pessoas tem se organizado no sentido de defender causas e 
essas causas passam a ser defendidas não só apaixonadamente mas comgrande inteligência, 
com grande competência, e consequentemente com grande conhecimento, isso então é o que 
a gente viu do texto do nosso Luís Felipe Miguel. 
Coronelismo Enxada e Voto 
Agora nós vamos começar dando uma olhada no Brasil, mesmo esse texto do Miguel 
sendo um cientista político brasileiro e tudo que eu falei até agora está informado por essa 
trajetória da vida política global, primeiro mundista, etc e tal, nós temos 02 textos que são 
interessantes pensar e um deles é do Victor Nunes Leal que ele tem uma trajetória 
interessante porque ele além de jurista, advogado, ele foi por muito tempo um cientista 
político, professor de ciência política da UNB, ele teve uma forte vinculação com Juscelino 
Kubitschek, ou seja, todo o trajeto de construção de Brasília e ocupou o STF durante 09 anos 
sendo cassado pelo AI-5 em 1969. Ele falou e escreveu e esse foi o grande livro que ele 
trabalhou porque ele propôs algumas questões interessantes do ponto da observação 
histórica, ou seja, ele fez um resgate de alguma maneira da nossa trajetória democrática de 
participação política, principalmente num país que ele acompanhou na década de 50 dessa 
transposição de um país que era eminentemente agrário, até principalmente até a II Guerra 
Mundial, para um país que após a II Guerra Mundial tem como objetivo a industrialização, a 
modernização, uma transição de um país que deixou de ser rural para ser urbano. 
E ele de alguma forma nesse processo, ele percebe que mesmo tendo chegado à 
década de 60 quase moderno, ou seja, indústria comunista se instalou na década de 50, a SCN 
na década de 40, a paisagem principalmente do interior de São Paulo muda de ser um grande 
cafezal para ser um grande parque industrial, que se chamavam industrias de base, o Brasil 
passou a ter uma indústria que era chamada de indústria de construir indústria, se você 
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precisava de um forno, de um grande guindaste, você tinha que ter uma indústria que 
construísse essas peças para construir indústria. 
Então esse processo de industrialização produziu não só essa modernização do parque 
industrial brasileiro, mas também produziu essa grande e forte imigração para as cidades, as 
cidades então apareceram como espaços capazes de absorver esse fluxo imigratório não só 
para trabalhar nas industrias mas para trabalhar no setor de serviços frente a essa renda 
gerada das industrias, etc e tal. 
A gente tem que olhar para trás tentando perceber o que foi algo que se conheceu 
como coronelismo. E o coronelismo é interesse porque ele coloca dessa forma, essa é a 
definição dele, que seria o “resultado da superposição de formas desenvolvidas do regime 
representativo a uma estrutura econômica e social inadequada. Não é, pois, mera 
sobrevivência do poder privado, cuja hipertrofia constituiu fenômeno típico de nossa história 
colonial.” O que o nosso Victor Nunes Leal tenta chamar atenção com isso que o coronel do 
interior é alguém que não surgiu do nada. Esse coronel é coronel na historia do Brasil mesmo, 
é um coronel que foi do exercito na época da consolidação do império lá por volta de 1830 
aonde a nossa monarquia vendeu o título de patente militar mesmo, ou seja, você 
dependendo da sua posição social, do seu poder econômico, comprava o título de tenente, de 
capitão, de major e coronel, o único cargo na força nacional que ficou reservado aos cargos de 
carreira foram os generais. Os generais eram efetivamente pessoas de carreira, porém na 
guarda nacional do império, todos os outros cargos eram compráveis e evidentemente o topo 
eram os coronéis, então dentro de uma hierarquia que associava recursos econômicos e 
interesses, você tinha uma posição. Esses coronéis então eram coronéis de fato e aí o que ele 
chama atenção do poder privado seria isso, esses coronéis eram latifundiários, eram 
fazendeiros, eram donos de recursos privados que de alguma forma entraram dentro da 
ordem pública, ou seja, eles utilizavam recursos privados da mesma forma que você podia usar 
para comprar com mais dificuldade um título de nobreza, quem não tinha uma certa estirpe, 
ou não tinha uma genealogia favorável e virar um barão, um visconde, um marquês, virava um 
coronel. Você não precisava dizer qual era sua origem, não precisava provar a sua idoneidade. 
Você tinha dinheiro e comprava o título. 
E o que ele chama atenção é que no século XX e ele publicou isso 1975, é que esse 
coronelismo contemporâneo, esse coronelismo do final do século XX, ele trabalho que o 
coronel passou a ser alguém que não mais comprou uma patente militar, esse coronel passou 
a ser alguém que passa a trabalhar claramente numa privatização do regime representativo. O 
coronel passou a ser cacique político, ele não se tornou como era na época um cacique 
econômico. É claro que esse cacique político só pode ter uma sobrevivência e aí a gente pode 
perguntar se isso já acabou ou não, só pode chegar ao final do século XX em função de uma 
estrutura social e econômica inadequada. Então essa imagem da sociedade brasileira como 
uma pirâmide estametal é extremamente associada. Ele ocupa o espaço mais alto e passa a 
comandar os estamentos inferiores e esses estamentos inferiores que apresentam barreiras 
claras em relação a base, também tem uma estrutura econômica, os acessos a bens e serviços 
são exprimidos de forma desigual ao longo dessa pirâmide. E é claro que isso é complicado 
porque o regime representativo democrático universal deveria ser capaz de romper isso. Por 
19/02 
 
exemplo, quantos negros tem hoje no congresso nacional? No senado? Quantos índios? Ou 
seja, você não tem uma divisão dessa representatividade dessa forma. 
O que ele chama atenção é isso, essa palavra que ele fala resíduos, e aí a gente pode 
imaginar se isso é resíduo ou se isso é estruturante, e aí a gente vai ver no texto do Edson 
Nunes se isso seria resíduo ou não. O que ele chama atenção é exatamente aquilo que eu já 
falei aqui, por outro lado o nosso sistema político representativo democrático ele é amplo, ou 
seja, nós temos uma grande base representativa. Por exemplo, o Lula sempre teve muito mais 
voto que o próprio PT. Ou seja, isso é uma questão interessante pensar claro 
representativamente. A gente continua votando numa pessoa, num representante, na ideia de 
um salvador da pátria. 
O que o nosso Victor Nunes Leal fala é como que esse coronel e se no momento 
histórico lá do primeiro império, período da regência, ele se instituiu dentro da monarquia 
através da ideia da guarda nacional e através dessa participação da vida privada na vida 
pública, como é que ele sobreviveu no segundo século da nossa independência, no século XX, 
como ele trabalhou como ele conseguiu se perpetuar como essa ideia do coronelismo se fez 
perpetuou, o Victor Nunes Leal chega atenção pelo uso e construção de um sistema de 
reciprocidade que ele não diz, mas eu poderia dizer que é um sistema de reciprocidade 
assimétrico, em que sentido? Porque a ideia de reciprocidade em si não pode ser vista como 
algo ruim, inclusive há uma teoria contemporânea de uma escola francesa que trabalha de 
uma forma muito interessante, apesar de eu não concordar 100% com ela de que a coesão 
social se dá exatamente por um processo de reciprocidade. A gente vive em sociedade porque 
a gente espera que vai ter vantagem em fazer as coisas junto com os outros, porque no 
momento que eu ajudar alguém, quando eu precisar esse alguém vai me ajudar, é uma ideia 
clássica do sistema de previdência social. Os trabalhadores do presente contribuem para pagar 
a geração dos trabalhadores anterior, ou seja, no sistema de previdência pública guarda o 
dinheiro da sua contribuição para pagar a sua aposentadoria daqui a 30 anos, a sua 
contribuição de hoje é usada para pagar o beneficio dos trabalhadores que estão aposentados, 
que estão em licença, etc e tal, então você tem um sistema de reciprocidade, aonde uma 
geração é solidáriacom a geração anterior, não necessariamente essa geração é solidária 
entre nós. Nós temos um salto geracional. 
Então a reciprocidade em si não é necessariamente ruim. A base do coronelismo 
funciona é que ele troca uma série de favores que na verdade depende das verbas públicas 
pelo voto que seria uma dimensão privada do individuo. Então o que é o sistema do 
coronelismo contemporâneo, o coronel político é aquele que tem um conjunto de eleitores 
que segue a sua orientação, ele mantém esse conjunto de eleitores sobre sua orientação em 
troca de a quem eles votam, bem deve ser votado e o que esse coronel faz, ele devolve para 
esse conjunto de eleitores, uma série de políticas públicas que deveriam ser dadas 
independentes dessa troca de votos. 
Cidades como São Gonçalo você tem um grupo de representantes, deputados, 
vereadores que se organizam em cima dos famosos centros sociais, centro de saúde, centro da 
ação social, você tem deputados que montam centros de beneficência e quando você vê a 
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organização desse centro de beneficência tem toda uma cadeia de representantes políticos, de 
parlamentares políticos que funciona dentro desse esquema. 
Num determinado momento, principalmente quando esses coronéis surgiram, o nosso 
autor chama atenção que a lei orgânica do município, ou seja, aonde a gente vive, aonde a 
gente teoricamente procura acesso a esses bens e serviços públicos era regida pelo poder 
legislativo estadual, o que ele chama atenção é que essa estratégia de que eram os deputados 
estaduais que fariam as leis orgânicas municipais, ele entende que isso seria bom porque isso 
cercearia esse poder político local com as influencias do poder político local no município. Eu 
não sei se isso é bom ou mal, eu tenho pra mim que infelizmente a gente teria que fazer uma 
aposta no que foi feito e eu não sei se isso foi melhor ou pior em fazer o contrario, ou seja, 
todo o poder no município, todas as decisões no município, eu não sei quanto demoraria, ou 
enquanto tempo isso poderia ser novo, o que eu posso dizer é que foi isso que aconteceu em 
1988. 
A constituição de 88 em sua concepção inicial, foi uma concepção claramente 
municipalizante e descentralizante, ou seja, a ideia da descentralização, a ideia da 
municipalização foi uma reinvindicação que a sociedade fez em 1988, eu diria que hoje a gente 
está correndo no caminho inverso, a gente gradativamente foi percorrendo o caminho da 
recentralização, a gente volta cada vez mais a ter de novo o poder agora não mais legislativo 
estadual, mas a gente poderia colocar aqui o legislativo federal cada vez mais regendo a vida 
de todos. Inclusive isso está evidente numa lei que está sendo discutida, que é exatamente o 
fundo de participação dos municípios, mas o que é mais interessante ainda é pensar porque 
que a gente tem que se preocupar com esse modelo de dinheiro que o cidadão paga para a 
união (impostos) e a união repassa para estado, repassa para município, se são esses dois que 
atendem o cidadão. A gente paga imposta que vai pra união, ela arrecada tudo, fica com uma 
parte e repassa pro estado. 
Essa ideia dessa centralização tem alguns modelos que mudam de nome com o tempo, 
mas de qualquer maneira a gente pode imaginar que o “filhotismo” hoje em dia tem outro 
nome, isso mudou? Ou seja, uma característica do coronelismo era quem indicava que ia ser o 
que, quem ia ser o vereador, quem ia a ser o delegado, etc e tal, é a ideia do filhotismo, do 
nepotismo. A ideia do “mandonismo” do coronelismo é algo muito claro, ou seja, o coronel se 
apropriava das relações de poder, ele fazia parte nesse primeiro período da guarda nacional, 
realmente o monopólio da força física em nome do Estado estava nesse momento com o 
coronel. O coronel é que tinha arma, ele que tinha acesso a esse mandonismo. Eu não tenho 
nenhuma dúvida que em vários lugares modernos, os coronéis continuem mandando e há 
coronéis de vários tipos, com ideias de relação com o poder. E a ideia do “personalismo” é 
uma outra característica também do coronelismo que é quando você simplesmente trabalha 
na figura do coronel a decisão e não mais na estrutura dos serviços públicos, é o coronel que 
define quem vai ter vaga no hospital, o coronel é quem define quem vai ser operado em 
primeiro lugar, o coronel interfere quem vai ser transportado, quem vai ter vaga na escola, o 
coronel é alguém que não trabalha na inclusão e universalização do acesso ao Estado e dos 
serviços públicos. Então o coronel de alguma forma, ele tem uma estrutura dentro dessa 
definição do Victor Nunes Leal, algo que ele ataca a organização do Estado e ele ataca de uma 
maneira muito perversa porque ele traz o Estado para a esfera do privado, ele não ataca para 
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destruir o Estado como tal, ele não é um anarquista, ele não quer acabar com o Estado, o que 
ele faz é se apropriar do Estado de acordo com o seu interesse privado, então de alguma 
maneira ele faz esse processo e esse processo a gente pode ficar brincando se hoje terceiro 
milênio a gente conseguiu superar esse coronelismo e aí pra minha sorte, esse fim de semana 
o jornal O Globo trouxe uma matéria que mostra a bancada dos vereadores da câmara 
municipal do Rio de Janeiro e é muito interessante para a gente imaginar essa democracia, 
essa representatividade, tudo isso que a gente vem falando. 
 
Do lado esquerdo é a distribuição por bancadas, então como eles dizem você tem 5 
vereadores que são eleitos, que se apresentam pela bancada religiosa, o que independente da 
crença religiosa de qualquer um de vocês significa uma forma de operar particularizadamente 
para quem é irmão, ou seja, os irmãos defendem os irmãos, os que não são irmãos são 
inimigos. 6 vereadores entram numa bancada que eles colocaram numa classificação chamada 
de hereditária, esses vereadores são filhos de alguém. Essas relações são relações coronelistas. 
Apadrinhados políticos, quando um vereador ou um coronel não pode ser eleito diretamente, 
então 6 são colocados claramente como afilhados políticos de alguém, publicamente pessoas 
que fazem campanha associada a alguma figura local, a alguma figura de expressão política. 
Bancada assistencialista, esse é o pessoal que tem centro de saúde. Esses centros não 
funcionam com recursos próprios, são emendas parlamentares que esses vereadores, 
deputados, senadores, conseguem para financiar ações sociais. O mais interessante, é que se 
declara que 2 vereadores vem de áreas de milícia. Politicamente não é uma questão de 
burrice, é exatamente uma discussão que tá colocada na prática interesse, o sujeito que vota 
no representante da milícia não é burro, ele está maximizando seus interesses, a milícia dá a 
segurança que o Estado não dá, a milícia dá gatonet, tvnet a preço de custo, porque eu não 
vou votar em miliciano? Eu tenho televisão, ar condicionado, telefone, água de graça, gato de 
luz, gasto 30 reais com todos os serviços que eu preciso ter, eu vou votar contra um cara 
desses? Existem ainda outros 23 eleitores por diferentes bandeiras. São 51 no total, a maioria 
ganha, a maioria coronelista ganha, 28 vereadores da cidade do Rio de Janeiro seria frutos da 
ideia do Victor Nunes Leal, a ideia do coronelismo, 23 estão de fora. Agora o que é mais 
interessante é a sobreposição em relação ao poder de fato, é que todos os 28 estão vinculados 
à situação, não tem nenhum que esteja de fora, isso é um problema duplo, como é que o 
governo nessa situação se apoia e se eles fossem oposição não ia ter problema. (intervalo aula) 
19/02 
 
 
A GRAMÁTICA POLÍTICA DO BRASIL 
A primeira metade da década de 90, entretanto se pautou em dois movimentos 
interessantes, no movimento nacional do Brasil ser a reconsolidação da constituição de 88, 
começou a surgir o que se chamou de ativismo judicial, ou a judicialização da política. Todas 
essas promessas que estavam escritas no texto constitucional, ela teve que serregulamentada 
e ela teve que ser em muitos casos questionada ou validada no universo judicial. 
E ai o Supremo trabalhou largamente numa discussão de constitucionalizar de 
inconstitucionalizar principalmente leis que haviam sido promulgadas antes da constituição de 
88, que no processo constituinte não foram revogadas automaticamente como a teoria 
caosbitiana dizia que tinha que ser, ou seja, o momento constituinte revoga tudo anterior e 
nasce um novo ordenamento jurídico. Só que ao nosso modo de ver toda a legislação anterior 
de 88 ultrapassou a constituição de 88 e aí o Supremo evidentemente começou a depurar o 
que é que foi recepcionado do ordenamento jurídico anterior pela constituição de 1988 ou 
não. 
O exemplo mais recente e mais claro disso é a lei de imprensa, era uma lei da década 
de 70, em plena ditadura, censura, mas entre outras coisas com o obrigatoriedade do diploma 
de jornalismo para ser jornalista e evidentemente isso tudo não estava numa lei só. E aí 
quando começou-se a discutir principalmente televisão, censura, programas com uma certa 
permissividade, chegou até passar filme pornô na rede aberta. Começou uma discussão sobre 
censura, horário nas novelas da Globo e aí começou-se a discutir se tinha censura e aí um 
grupo resolver dizer que na Lei de Imprensa existia censura branca, ou seja, o Estado/governo 
deveria dizer e classificar faixa etária, horária, etc e tal, porque na lei da ditadura que tinha 
censura prévia de fato que continuava vigendo e aí o Supremo disse que isso era 
inconstitucional e aí caiu a censura e toda a lei. 
Como esse processo foi mais ou menos acontecendo, isso no Brasil então teve esse 
processo que se chamou de judicialização da política e uma série de efeitos desse crescimento 
que a gente pode avaliar pro bem e pro mal do próprio universo jurídico. A estrutura do 
judiciário teve que crescer para dar conta da efetivação dos direitos sociais que foram 
prometidos pela constituição de 1988. Vocês ainda são frutos desse processo que começou em 
88. Esse desejo em serem magistrados vem exatamente dessa valorização dos direitos sociais 
dentro do Estado. Então esse primeiro período, da primeira metade da década de 90, lei 
orgânica da AGU, lei orgânica do MP, lei orgânica da Defensoria Pública, quer dizer, o judiciário 
ficou em um outro lugar, ou seja, o Estado cresceu para dar conta desses direitos sociais 
prometidos na constituição de 88. 
No mundo global entretanto, a primeira metade da década de 90 foi exatamente a 
metade onde o efeito do fim do mundo bipolar fez surgir, ou fez acelerar uma discussão pelo 
neoliberalismo, por outra definição do lugar do Estado, o fim do Estado do bem-estar-social e 
da necessidade do Estado de bem-estar-social, surgiu uma outra teoria política que já estava 
mais ou menos gestada pelo Reagan que era a ideia do neoliberalismo e uma ideia da redução 
19/02 
 
do tamanho do Estado, ou seja, o Estado deveria reduzir ao máximo a sua intervenção na 
economia e na sociedade. 
E aí nós ficamos num momento interessante, por um lado nós estávamos prometendo 
que trabalhando no sentido de ampliar a responsabilidade do Estado perante os direito sociais, 
ou seja, junto a sociedade e por outro lado toda uma ideologia que vinha dizendo que havia de 
se reduzir todo o tamanho do Estado, isso evidentemente fez com que a primeira metade da 
década de 90 no Brasil não é a toa que tenha sido uma metade politicamente interessante, 
Collor assumiu o governo claramente em um momento inicial sem nenhuma chance, quando 
Fernando Collor de Mello governante de Alagoas, postulou sua candidatura a presidência da 
República de 1988, ninguém levava a menor fé, ou seja, como é que o governador do Alagoas 
sem nenhuma expressão política poderia chegar até lá e o que se provou na eleição de 88/89 
foi extremamente interessante, porque uma série de expressões politicas históricas foram 
derrotadas na passagem do 1º para o 2º turno, Mario Covas não foi, Brizola não foi, quem foi 
pro segundo turno, Lula e Collor. Algo impensável no desenho político até então e a vitória do 
Collor significou uma ruptura com qualquer lógica política que vinha desse sistema do café 
com leite, aquela coisa daí pra trás, surgiu uma nova coisa. 
Não é a toa que foi um governo meteórico, por quê? Porque a grande alavanca 
eleitoral do Collor foi uma acusação contra o Estado, contra os servidores públicos, a bandeira 
do Collor para ser eleito era uma caça aos marajás, ou seja, no Estado é que estavam todos os 
problemas do Brasil e ele ia fazer a redenção desse Estado no Brasil e ele evidentemente, não 
diria que foi conscientemente, mas de qualquer forma nesse meio ele estava dizendo que o 
mercado é que vai dar conta da desigualdade do Brasil. E aí ele realmente entrou por conta 
desse mercado, só que entre outras coisas, foi de mau jeito. Mas de qualquer forma ele 
conseguiu desagradar todo mundo, ele conseguiu desagradar da esquerda a direita, então é 
claro que ele caiu em desgraça, foi cassado, hoje é senador, mas de qualquer forma essa figura 
deu lugar a um mandato tampão de um mineiro, voltou então Itamar Franco, mineiro e 
perfeitamente aceitável por todas as bandeiras do país e com as contradições desse momento, 
ele conseguiu resolver de uma maneira bastante interessante, o problema crônico do Brasil 
que era a inflação. 
O governo do Itamar Franco ao contrário do Collor, que congelou, reindexou todos os 
preços. Naquele momento ao invés do preço subir todo dia, era o seu dinheiro que aumentava 
todo dia. Então, o preço nas notas estava calculado em URV (unidade real de valor). Porque o 
seu dinheiro estava inflacionado ao invés dos preços. Uma ideia tão boa que deu certo. 
Acabou a inflação e quem estava felizmente como ministro da economia era FHC. Ele não é o 
pai do Plano Real, ele foi eleito presidente e junto com um economista de São Paulo, Bresser, 
implementou o que se chamou da reforma da parede do Estado, ela teve como objetivo nessa 
segunda metade da década de 90, de transforma segundo o Bresser, fez uma avaliação da 
situação do Estado brasileiro e principalmente de uma crítica digamos interessante ao 
funcionamento do Estado brasileiro e do modelo burocrático. Ele critica claramente o estado 
democrático, ou seja, Webber na ideia da racionalidade democrática, nesse sistema de 
organizar as instituições de acordo com o seus fins, ou seja, ele faz uma critica clara ao modelo 
democrático do Estado e propõe então o que ele chama de modelo gerencial. 
19/02 
 
Esse Estado gerencial é totalmente diferente do Estado conhecido na época da 
constituinte. Então através, salvo engano, da emenda constitucional 19, todo o capítulo do 
Estado da constituição de 88, se não me engano, no art. 17 em diante, mas a organização do 
Estado, ele é todo ou praticamente todo alterado pela emenda constitucional 19, o Estado 
passa a ser outro, surge a ideia de um principio, desse modelo gerencial que muito se fala, da 
eficiência. E esse é um grande discurso para se defender o modelo gerencial, é como se o 
modelo burocrático pudesse não ser eficiente. Porque não estava escrito num dos princípios 
da eficiência, transparência, impessoalidade, legalidade, universalidade, são os princípios, e aí 
ele botou lá, eficiência. Então você fica pensando, quer dizer que até 1997 eu não precisava 
ser eficiente para o setor público? Quer dizer que essa eficiência surgiu com a emenda 
constitucional 19? 
Então a ideia é que isso tudo está dentro de uma concepção que por um lado 
pretendia mudar esse ranço dessas relações do coronelismo havia mantido ao longo da 
história do império e da república brasileira, como a gente viu no Victor Nunes Leal, o coronel 
da primeira república, mantem-se até lá. Por um lado essa ideia do principio da eficiência e da 
reforma da parede do Estado e do modelo gerencial tentariam romper com essa discussão e 
por outro lado a diminuiçãodo tamanho do Estado proposta também nesse plano diretor da 
reforma da parede do Estado atendia a perspectivas internacionais do Estado do 
neoliberalismo. Então você transferia por mercado uma série de atividades que até então 
eram executadas na esfera do Estado. 
Então na segunda metade dessa década de 90, houve tudo que a gente ouviu falar, das 
privatizações. Se na década de 50 a industrialização do Brasil tinha sido fomentada pelo 
Estado, CSN, Petrobras, Furnas e várias outras, na segunda metade da década de 90 acaba por 
fazer então toda a privatização das atividades produtivas que estavam dentro da esfera do 
Estado. Tudo passa para a esfera privada, com exceção do monopólio do petróleo, Petrobras 
não foi privatizada. Vale do Rio Doce, CSN foram privatizadas. Ficando dentro do Estado 
basicamente ainda com a Eletrobrás, o setor energético tem algumas empresas que 
pertencem ao Estado e a Petrobras. E todas as outras empresas foram colocadas dentro da 
esfera da iniciativa privada. 
Mas é claro que isso do ponto de vista desse discurso do plano diretor da reforma da 
parede do Estado, ele não era suficiente para defender teoricamente o porquê das mudanças, 
em nenhum momento e aí é interessante, em nenhum texto pelos políticos do PSDB 
defendiam o estado mínimo, eles até defendiam que o Brasil estava seguindo a ideia do Estado 
mínimo do Reagan, até porque paradoxalmente ou de acordo com a nossa cultura, nós não 
queremos uma diminuição do tamanho do Estado, todos vocês querem um emprego no 
Estado, seria um contra censo você querer um Estado mínimo, o jornal que mais vende no 
Brasil é a folha de concurso. 
A ideia desse Estado que é a união, estado e município, se a gente somar quanto do 
percentual da força de trabalho formal no país que trabalha no país, o Estado é o maior 
empregador disparado, maior que a indústria ou o setor de serviços. Ganha em importância 
esse setor chamado Estado e essa discussão precisou ser vendida com uma roupagem mais 
teórica que não ficasse só nessa de uma adesismo a uma ideologia internacional, uma 
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ideologia principalmente de direito, o que incomodava a esquerda do PSDB. E o Bresser 
encontrou a tese do Edson Nunes, que tinha escrito na década de 80 numa universidade dos 
Estados Unidos e publicou pela Escola Nacional de Administração Pública, esse texto que de 
alguma maneira deu um fundamento teórico, conceitual para a reforma proposta pela Estado, 
o modelo gerencial não era necessariamente um modelo que estava a serviço ou replicava o 
mercado, era um modelo que rompia o que ele chamou então dessa ideia desses 4 gramáticas 
políticas do Brasil. Seja a relação que se tentava era modernizar o Brasil, ou seja, colocar o 
Brasil em condições e possibilidades de acompanhar a globalização, porque nesse momento a 
globalização está absolutamente inevitável, todos estavam voltados para o mundo global, que 
estava sendo regido pela tese da lógica de mercado. Eu já falei aqui várias vezes, nesse período 
histórico se dizia que havíamos chegado ao fim da história, o mercado é que tinha respondido 
a tese de Marx, que haveria uma evolução das forças produtivas que atingiriam certo patamar 
onde a igualdade seria alcançada. Só que Marx achava que era a sociedade comunista e esses 
autores acham que não, era o capitalismo. 
Então pra gente atingir a ideia com o capitalismo do terceiro milênio, seria então você 
romper ou discutir o que o Edson Nunes chamou de A Gramática Política do Brasil. E ele foi 
extremamente de alguma forma feliz porque ele situou nisso num momento histórico que do 
ponto de vista do Estado é também extremamente interessante que foi o período Vargas e 
como a gente tá sempre percorrendo essa visão histórica, se de alguma maneira na década de 
30 nas sociedades centrais, no famoso primeiro mundo, o Estado de bem-estar-social teve seu 
nascedouro, Keynes com a crise norte americana possibilitou uma mudança de ideal liberal 
econômico no Brasil, a década de 30 fez uma coisa diferente, fez uma coisa muito parecida do 
ponto de vista do papel do Estado, mas invés de jogar para a sociedade como foi no Estado de 
bem-estar-social, ela trouxe todo mundo para a sociedade e fez algumas coisas interessantes 
para a gente pensar. 
O primeiro que o nosso autor chama atenção, é que de alguma forma essa reforma da 
década de 30 e chega até 40 e eu acho que continua de lá para cá, não rompeu a ideia do 
clientelismo e do personalismo, é como a gente viu naquela estrutura da bancada da 
Assembleia de Vereadores da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, não está rompido, ou seja, 
o padrão assistencialista continua sendo uma boa forma de você atingir o Estado e ocupar um 
espaço público, e personalismo, o filho, o irmão, o afilhado político, ou seja, o Estado continua 
funcionando não de acordo com o critério de competência, de universais, etc e tal, isso 
continua fazendo com que a gente não tenha nunca certeza que quem tá na administração de 
alguma órgão público se está lá porque que está. Na verdade a gente se pergunta quem é que 
indicou, não é a competência, é o QI de coeficiente de inteligência, é o QI de quem indicou. 
Outra questão que ele chama atenção e aí essa é a definição política que diferencia o 
Estado de bem-estar-social brasileiro, o que aconteceu na década de 30, porque que eu diria 
que nós não promovemos o Estado de bem-estar-social, é porque na década de 30 o sistema 
de inclusão num mundo econômico que foi adotado pelo governo Vargas foi o modelo 
corporativo que foi claramente copiado daqui que acontecia tanto na Itália quando na Áustria, 
quanto na Alemanha, ou seja, Estado em determinado momento eu não posso universalizar 
todos os direitos sociais, eu não tenho como dar assistência para todos, previdência para 
todos, garantir direitos sociais para todos, eu tenho que trabalhar isso então por setores da 
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sociedade. Quais são os setores? São as corporações, as antigas corporações de oficio. Fica 
claro então como o Estado de Vargas se organizou através de sindicatos, por exemplo, de 
metalúrgicos, de comerciários, de portuários, bancários e por aí vai. E em cima de cada uma 
dessas corporações, foi criado uma estrutura, primeiro de caixas, de auxilio, de pecúlio. Depois 
foi criado sistemas de previdência e aí vai. 
No Rio de Janeiro antigamente, todas essas profissões tinham um sistema de saúde 
extremamente desenvolvido, o hospital dos bancários na Lagoa Rodrigo de Freitas, aquele 
prédio bonito que fica perto da hípica, atendia só bancários. O hospital de Ipanema era dos 
comerciários. Ou seja, todos os sistemas que hoje a gente chama de seguridade social eram 
feitos por núcleos de corporação de ofício, os sindicatos se organizavam estadualmente, 
regionalmente, nacionalmente, e trabalhavam ao jeito deles, contrato de trabalho coletivo, 
algumas categorias ganhavam. O sindicato dos portuários no inicio da década de 60, os 
trabalhadores que eram sindicalizados não trabalhavam, todos os sindicalizados do porto 
vendiam/contratavam taifeiros terceirizados para trabalhar nos portos e viviam da renda 
desses alugueis. Essa ideia do corporativismo no Brasil seguiu sem grandes problemas até 
1964, quem promoveu uma ruptura com esse sistema de seguridade social, gostando ou não, 
foram os militares, criaram o instituto nacional de aposentadoria e previdência social. Pegou 
todos esses fundos que garantiam previdência para grupos profissionais e universalizou, pela 
primeira vez trabalhadores rurais tiveram direito a aposentadoria, gostemos ou não foram os 
militares que promoveram isso. 
Se você fosse um artesão, você teria algum hospital para te atender? Você teria 
alguma carteira de trabalho? Uma profissão? Não, e você certamente não seria atendido em 
nenhum desses hospitais corporativos, vocês seriam atendidos na época naquilo que se 
chamava Santa Casa de Misericórdia e era o único lugar que te atenderia se vocênão tivesse a 
carteira profissional relativo as suas funções. Nunca antes, os militares haviam conseguido 
fazer com que você fosse atendido em qualquer hospital, você não precisava mais ter uma 
carteira de trabalho para ser atendido. Você, doente, acidentado, deveria ser atendido. 
Então o corporativismo no Brasil, aparentemente está superado. De qualquer forma 
formalmente está, ele se universalizou, etc. O que que a gente está fazendo em substituição 
desse modelo corporativista é na verdade trabalhando cada vez mais com o mercado, ou seja, 
esse corporativismo veio para cá, o mercado está então abocanhando cada vez mais serviços 
de saúde, de previdência. 
Uma outra dimensão que o Edson Nunes chama atenção que aconteceu na década de 
30, era que pra bloquear o efeito do coronelismo, lembra que uma questão que o Victor Nunes 
Leal chamou atenção é a capacidade do coronel de interferir e deturpar a máquina pública 
local, ou seja, mesmo que seja da prefeitura, que seja algo do Estado, era o coronel que se 
apropriava através da indicação do filhotismo e do mandonismo, ele indicava quem ia ser o 
chefe da secretaria de saúde, o chefe do escritório da previdência, ou seja, o coronel local é 
que trabalhava e se apropriava desses setores públicos de acordo com seus interesses locais. 
Na década de 30, o governo Vargas conseguiu romper com essa dimensão do coronelismo que 
já existia naquela época bastante consolidado, a ideia do insulamento burocrático, e que que 
se fez então? Você criou uma situação dentro do aparelho do Estado do qual para você ocupar 
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cargos ou funções públicas, você tinha que ser concursado. Então a ideia do concurso público 
surge não necessariamente como a melhor forma de arregimentar a mão-de-obra para 
atender as necessidades da sociedade, ela surge como uma forma de você romper com o 
aspecto nefasto do coronelismo local. Ou seja, o chefe do posto não seria mais indicado pelo 
miliciano, teria que ser alguém concursado. É claro que a gente deu volta e voltou a ser 
indicado pelo miliciano, pelo coronel, por quê? Porque o SUS não dá mais conta, aí você cria 
agora uma cooperativa de saúde e aí você terceiriza, você faz uma UPA e a UPA tem uma OS, e 
OS é uma entidade privada e quem é que manda na OS? É o coronel local, ou seja, a gente deu 
a volta e voltou pro mesmo lugar. 
Mas em tese essa ideia do insulamento burocrático tinha essa virtude, eu não tenho 
certeza que o concurso público é a melhor forma para garantir essa isenção, mas de qualquer 
maneira é uma ideia. 
E a 4º gramática política que o Edson Nunes identificou e foi produto também do 
período Vargas, é a ideia da universalização de procedimentos, que também deve ser vista 
como algo do ponto de vista da teoria burocrática, não é o que está escrito na teoria 
burocrática, a racionalidade burocrática de Weber quer dizer que a burocracia deveria 
corresponder a melhor forma de cada instituição atingir os seus fins. A burocracia não é 
simplesmente uma questão de organização rígida, ela é a melhor forma de atingir o fim 
daquela instituição, o que não quer dizer, por exemplo, que um juizado especial em 
Copacabana tenha que ter o mesmo procedimento necessariamente que o juizado especial em 
uma comunidade na Amazônia que está a 12 horas de barco de Manaus. Ou seja, talvez esse 
juizado especial da cidade de Maleis, que é uma cidade no meio do rio Amazonas, não deva ser 
a mesma burocracia do juizado especial em Copacabana, só que para não deixar mais uma vez 
esse funcionamento da máquina pública lá em Maleis sob a possibilidade do controle do 
coronel, aí você diz que tem que ser igual para todos. 
É claro que o resultado dessas gramáticas políticas tem uma polarização entre aquilo 
que a gente viu o tempo todo como sendo modelo de construção dos Estados-Nação do 
primeiro mundo, que é a ideia de construir primeiro a nação, primeiro você constrói a 
identidade nacional primeiro você diz quais são os franceses, aonde é que eles estão e aí você 
constrói a nação para a nação construir o Estado. A ideia de todos os contratos sociais seja ele 
roussoniano, a ideia do State Building, nós construímos o Estado, o Estado é que tem o 
formato e é na verdade o grande fundamento para a reforma do aparelho do Estado. Nós não 
reformamos a sociedade, nós não atendemos os desejos da sociedade, nós simplesmente 
reformamos o Estado conforme ele havia sido pensado e aqui é o que o nosso autor faz a 
crítica, ou pelo menos é o desenho, que ele junta como esse Estado acaba por se relacionar 
com a sociedade, que no fundo é o mecanismo que está colocado. Ele trabalha em um plano 
da pessoalidade e no da impessoalidade e coloca de uma forma bastante interessante, a ideia 
do partidos políticos, porque afinal de contas, pelo menos em termos da teoria política como a 
gente vê, a teoria do Estado, o Estado é organizado na relação com a sociedade através da 
representação política, como a gente viu, é esse representante político, é esse representante 
que vai fazer a lei, que vai ocupar o poder executivo, é o único legal que o representante não 
tem relação direta com a sociedade é o judiciário e aí a gente pode pensar porque que será 
que no nosso caso o único poder do Estado que não tem relação direta com o a sociedade é 
19/02 
 
judiciário, coisa que não acontece na Common Law norte americana, lá o judiciária também 
tem a mesma estreita relação de representatividade com a sociedade. 
E aí ele trabalha com a ideia de uma impessoalidade que tem interessantes 
perspectivas, a primeira é a perspectiva de que todos os indivíduos não são iguais 
participantes, então é como se a gente modelo da pirâmide e do paralelepípedo, aqui nós 
teríamos claramente que dar conta de que todos os indivíduos não são iguais participantes, o 
sujeito que tem nível superior não deve ir para a delegacia, ele tem direito a prisão especial. 
Essa é a ideia de que você está trabalhando dentro do corporativismo, magistrados são um, 
deputados são um, senadores são outro, etc e tal. E a ideia do insulamento burocrático, ou 
seja, eu tenho que separar essa ideia de que o Estado então tem que ter setores especiais para 
atender esses participantes que não são iguais, do mesmo lado o Estado tem que trabalhar 
não só com relação aos indivíduos que são efetivamente iguais, ou seja, todos que estão aqui 
tem que ser tratados igualmente, porém diferente dos da outra faixa da pirâmide. E aí você 
tem a ideia do universalismo dos procedimentos, ou seja, se é uma comunidade pode entrar 
baixando o rodo, a polícia não tem nenhum problema em cobrar arrego, taxas, foi na classe 
média já é muito diferente. Niterói é muito fácil de ver isso, a faculdade de direito tem ao lado 
uma comunidade de favela e tem um bairro de classe média, quando tem confusão na favela é 
um camburão cheio de homens com metralhadora, a 20/50 metros deles são 2 PM’s a paisana 
tem arma, sem nada, que ficam andando tomando teoricamente conta da ordem pública, a 
ordem pública de um lado é militarizada, a ordem pública de outro já é a paisana. 
E aí você trabalha num discurso que é interessante, que é o discurso de defesa da 
economia de mercado e a ideia de que na verdade tudo acontece como se fosse isso aqui, 
então nós temos na versão do professor que foi meu orientador de mestrado, o Kant de Lima, 
ele chama que o direito brasileiro tem um paradoxo. O que o Kant faz e propõe e eu tenho 
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plena concordância com ele, é que a sociedade de direito brasileiro tem um paradoxo que é o 
que ele chama de uma pirâmide encastalhada num paralelepípedo, a pirâmide e o 
paralelepípedo andam juntos e hora o nosso sistema aciona a pirâmide e hora o 
paralelepípedo. Isso casa como uma luva para essa avaliação. O que acontece então, na hora 
que nos interessa determinada coisa nós somos iguais, na hora que nos interessa outra coisa, 
nós somos diferentes, então nós fazemos esse jogo que aparentementeé um paradoxo, que 
um outro antropólogo, Roberto da Matta, chama de distinção entre indivíduo, interesse que é 
igualitário, é universal, que vem do primeiro mundo, da revolução francesa e pessoa que é 
esse sujeito que ocupa esse “você sabe com quem está falando?”. Deu para perceber que isso 
não está dissociado de uma perspectiva jurídica e não está dissociado de uma perspectiva de 
mundo, esse esforço todo que a gente faz nesses primeiros semestre, é para vocês 
entenderem que mesmo que vocês leem uma lei que aparentemente pode ser razoavelmente 
iníqua como é o código civil, ou agora a discussão da lei orgânica da magistratura, quer dizer, 
não está discutindo apenas o melhor funcionamento do aparelho judiciário, nós estamos 
discutindo como determinadas coisas permanecem ou não, como a gente vai manter 
magistrados aqui ou não, se você vai ter essas barreiras ou não, se você vai discutir foro 
privilegiado para exercício de função, cargo vitalício. Você pode pensar que não tem nenhum 
efeito prático, concreto, mas simbolicamente quer dizer muita coisa, um cargo vitalício. E você 
discute ou não discute isso. Esse então é o modelo que eu acho que explica e funciona 
bastante bem na ponte com esses outros lugares, da economia política, da teoria política, da 
antropologia e principalmente da organização do Estado que como direito, ele funciona, no 
nosso caso brasileiro, não pare garantir exclusivamente a pessoalidade ou impessoalidade, 
mas para garantir essa discussão, esse modelo. E aí a pergunta é, quando a gente vai 
efetivamente conseguir acabar com essa ponta da pirâmide. Ou pelo menos fazer a teoria 
portuguesa, que surgiu com a ideia do trapézio, não deu mesmo pra igualar, então que tenha a 
ponta. A base é maior que o topo, mas o topo não é uma ponta, e aí o que você fica discutindo 
é alargar a parte de cima do trapézio, até ele se tornar igual a base. Na pirâmide teria que fazer 
um novo desenho. Na trapezoidal você pode sonhar em se tornar um retângulo, na pirâmide 
não.

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