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PRECONCEITO, ESTEREÓTIPO E DISCRIMINAÇÃO Prof.ª Ma. Lauany Câmara Chermont Pinheiro ■ O preconceito no Brasil é expressado continuamente não apenas pelas atitudes e práticas cotidianas das diversas comunidades, mas, principalmente, por meio da estrutura social que efetivamente exclui as populações sócio –historicamente discriminadas, estratificando de maneira desigual as classes, os grupos, os indivíduos. Este capítulo objetiva apresentar uma visão geral do preconceito que há no cotidiano para primeiro entender o fenômeno e então propiciar uma reflexão ancorada na realidade, Estereótipo Se insere no campo das relações de dominação, exploração, segregação e isolamento; sendo, portanto, compreendido a partir de vários ângulos, e considerando-se múltiplos aspectos acerca de suas características. inferências acerca da probabilidade de ocorrência de certos comportamentos. Tais inferências podem ser descaradas ou sutis e são cognitivas, já o afeto advindo dessa inferência é denominado preconceito (Fiske e Taylor, 2008). O estereótipo é uma atribuição de crenças que se faz a grupos ou pessoas (conscientes ou inconscientes). Generalizar a partir de similaridades percebidas, sem focar nas diferenças estereótipo pode ser considerado como sendo o componente cognitivo do preconceito. Ou seja, um componente pre-atitudinal O estereótipo reduz a necessidade de atenção e processamento de informação do indivíduo. Assim, o indivíduo economiza energia e pode estar atento a outras questões na interação. Ele categoriza e simplifica um mundo social complexo. Outra função do estereótipo está em organizar a maneira como vamos interagir com nosso grupo social ou qualquer outro grupo (Smith e Bond, 1999). Preconceito o estereótipo é a base do preconceito. 1. conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; 2. julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste; 3. suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões, etc. Seguindo o fluxo descrito antes, o preconceito é a atitude relacionada a crenças com relação ao objeto. Para se caracterizar como um preconceito, é necessariamente negativo. Caso o afeto seja positivo, caracteriza-se por ser uma atitude. O preconceito, componente afetivo, tem relação e interage com a cognição. Sabe-se também que as respostas afetivas são mais rápidas e mais intensas que as respostas cognitivas e que elas vêm de uma cognição avaliada, internalizada ao longo de anos (muitas vezes inconscientemente) e que podem gerar comportamentos. Discriminação comportamo-nos de maneira discriminatória com grupos sociais por sermos guiados pela lei do menor esforço – só não agimos assim quando algo no ambiente não nos permite. As manifestações da discriminação se apresentam em todas as dimensões das relações de exploração, especialmente nos mundos do trabalho. Ainda comentando acerca de questões relativas à orientação sexual, pesquisar somente as telenovelas da Rede Globo no período de 1974 a 2007. Ao todo, foram encontradas 27 telenovelas com personagens homossexuais. Nota-se que há um aumento no número de homossexuais nas novelas e que seus papéis afeminados (beirando o bobo da corte) se transformaram ao longo dos anos. Todavia, o afeto entre os personagens ainda é um tabu, como, por exemplo, um beijo (Resende, 2008). Identidade Social A identidade “nos caracteriza como grupo e nos distingue de outros” (Kimble et al., 2002, p. 483) e apresenta três componentes básicos: a) a percepção de fazer parte de um grupo social (consciente e cognitivo); b) a avaliação da importância de pertencer a este grupo; e c) o sentimento relativo a esse pertencimento, que pode variar, por exemplo, de vergonha a orgulho (Tajfel, 1972 apud Kimble et al., 2002). Como reduzir o preconceito e a discriminação? ■ É preciso evitar o reforço quando ele ocorre atitudes de reflexão, é possível incitar a formulação autônoma de escolhas, além dos estereótipos. Entretanto, “quando a reflexão é impedida, pode-se gerar sofrimento de diversas ordens e mecanismos defensivos, fundamentalistas e apartheid, sendo um dos mais comuns a busca de parâmetros fixos de identidade” (Sawaia, 2002, p. 120-121). ■ Reflexão crítica é um dos instrumentos para a redução do preconceito e da discriminação. A dificuldade é que essa reflexão deve partir do sujeito, já que, como vimos, apresentar informações não é suficiente para se reduzir o preconceito, visto que ele é muito arraigado – mas é um processo que pode e deve auxiliar, que deve vir em paralelo. Agrega- se ainda a possibilidade de diálogo. Grupos com menos poder preferem falar sobre suas diferenças e o grupo com mais poder prefere falar sobre o que há em comum entre os grupos. ■ A literatura demostra que apelar para o componente afetivo é mais eficaz que para o cognitivo. Até porque as barreiras são menos claras em termos afetivos e, como ambos os componentes caminham juntos, mudando-se o afeto, muda-se também a cognição ligada a ele (Chaiken, Wood e Eagly, 1996; Devine, 1995; Fishbein e Ajzen, 1975). ■ Outra possibilidade, ainda nessa linha, é, em um processo de recrutamento e seleção, haver um peso grande para que pessoas diferentes sejam selecionadas, valorizando-se e destacando-se a diferença que elas possuem. ■ Educação tem um papel base no processo de mudança e de elaboração do pensamento crítico. ■ Dessa maneira, apelamos para que todos os atores sociais envolvidos nesse processo mantenham-se ligados nos três níveis de análise aqui proposto, tanto no individual, do que você e eu podemos fazer, no grupal, na sua instituição de vínculo, ou social, no questionamento e revisão do que está sendo exposto ou imposto (Caldart, 2001; Freire, 1977). ■ Dados do 15º Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam que duas em cada três vítimas de feminicídio em 2020 são mulheres negras, o que representa 61,8% das mortes. Das demais vítimas, 36,5% são brancas, 0,9% amarelas e 0,9% indígenas. O feminicídio é respaldado pela Lei 13.104/2015, que agrava um homicídio cometido contra uma mulher como resultado ou em conjunto de violência doméstica e familiar ou como fruto da discriminação de gênero (ALMA PRETA JORNALISMO, 2021). ■ As mulheres ganham cerca de 20% menos do que os homens no Brasil e a diferença salarial entre os gêneros segue neste patamar elevado mesmo quando se compara trabalhadores do mesmo perfil de escolaridade e idade e na mesma categoria de ocupação. É o que mostra levantamento da consultoria IDados, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE (G1,2022). https://g1.globo.com/tudo-sobre/ibge/ Vídeos ■ https://youtu.be/LUHpzdh8e1Y ■ https://youtu.be/_d_n-z3s8Lo ■ https://youtu.be/EC-IywB3dEA https://youtu.be/LUHpzdh8e1Y https://youtu.be/_d_n-z3s8Lo REFERÊNCIAS ■ ALMA PRETA JORNALISMO. Feminicídio: a cada três mulheres mortas no Brasil em 2020, duas eram negras. Disponível em: <https://almapreta.com/sessao/cotidiano/duas-a-cada-tres-vitimas-de- feminicidio-no-brasil-sao-mulheres-negras> Acesso em: 15 out. 2022. ■ CÂMARA DOS DEPUTADOS. Brasil é o país que mais mata população LGBTQIA+; CLP aprova Seminário sobre o tema. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/atividade- legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/clp/noticias/brasil-e-o-pais-que-mais-mata-populacao- lgbtqia-clp-aprova-seminario-sobre-o-tema#:~:text=Gilson%20Dobbin%2FCLP- ,A%20Comiss%C3%A3o%20de%20Legisla%C3%A7%C3%A3o%20Participativa%20aprovou%2C%20nest a%20ter%C3%A7a%20(24),n%C3%BAmero%20de%20assassinatos%20dessa%20popula%C3%A7%C3% A3o.> Acesso em: 15 out. 2022. ■ G1. Mulheres ganham em média 20,5% menos que os homens no Brasil. Disponível em: <https://g1.globo.com/dia-das-mulheres/noticia/2022/03/08/mulheres-ganham-em-media- 205percent-menos-que-homens-no-brasil.ghtml> Acesso em: 15 out. 2022. ■ PEREZ-NEBRA, A. R.; JESUS, J. G. Preconceito, estereótipo e discriminação In: TORRES, C. V.;NEIVA, E. R. Psicologia social: principais temas e Vertentes. Porto Alegre : Artmed, 2011.